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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

KÁTIA SIMONE LOPES DA SILVA

A ARTE URBANA COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA NAS ESCOLAS E SUA


CONTRIBUIÇÃO NA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

SANTA MARIA DO PARÁ – PA


2022
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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

KÁTIA SIMONE LOPES DA SILVA

A ARTE URBANA COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA NAS ESCOLAS E SUA


CONTRIBUIÇÃO NA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial para a
obtenção do título de Graduação em Artes
Visuais

SANTA MARIA DO PARÁ – PA


2022
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A ARTE URBANA COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA NAS ESCOLAS E SUA


CONTRIBUIÇÃO NA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

Katia Simone Lopes Silva1


Declaro que sou autora deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por
mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e
assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais.
(Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO

DA SILVA, Kátia Simone Lopes. A arte urbana como estratégia metodológica nas escolas e sua
contribuição na aprendizagem dos alunos. 2022. 14 fls. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação:
Licenciatura Plena em Artes Visuais) – Centro Universitário FAVENI. 2022.

A presente pesquisa procura investigar os processos de aprendizagem por meio dos estudos das
intervenções urbanas, considerando o campo de estudos da cultura visual. Em sua abordagem, a
pesquisa traz questões e reflexões sobre as práticas educativas que utilizam modos de intervir no espaço
público e na escola em processos de aprendizagem e metodologias que envolvam a compreensão crítica
da cultura visual. Pensar o espaço urbano como um suporte para as práticas de intervenção, com a
inserção de alunos dentro de um projeto artístico, é uma oportunidade de colocá-los dentro da essência
do meio em que vivem, provocando neles uma abordagem reflexiva e crítica em torno das questões que
rodeiam a sociedade, gerando discussões e reflexões sobre pertencimento dos indivíduos ao espaço
público, como construtores destes próprios espaços. Todo aluno deve ser estimulado em todos os
sentidos existentes no ensino da Arte, instigando a curiosidade, expressividade, emoções e gestos de
acordo com as situações em se encontra em cada momento. Para os alunos, a Arte adquire um caráter
fundamental, pois apresenta uma linguagem sensorial, cultural e cognitiva no desenvolvimento dos
mesmos. O papel da Arte nesse sentido possibilita para que façam leituras e releituras significativas, para
possam melhor compreendê-la e melhorá-la.

Palavras-chave: Arte Urbana. Aprendizagem. Escola.

1 INTRODUÇÃO

A escola é uma instituição de reprodução social e, por meio dela, os alunos


adquirem determinados conhecimentos que a sociedade considera valiosos. Por que
nem todos os alunos conseguem se apropriar deles? Existem relações sociais que não
são dadas só pela posse de dinheiro, mas pelos conhecimentos socialmente
transmitidos e valorizados. O que a escola transmite? A escola, que deveria ser um

1Discente graduando do curso de Licenciatura em Artes Visuais do Centro Universitário FAVENI. E-mail:
katiaslteixeira@gmail.com
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ambiente de acolhimento e de promoção do aluno, torna-se um ambiente de


estranhamento para aqueles oriundos de classes desfavorecidas, pois estes estão
submetidos a uma condição que não lhes é familiar. “Não é a condição de classe que
determina o indivíduo, mas o sujeito que se autodetermina a partir da tomada de
consciência, parcial ou total, da verdade objetiva de sua condição de classe
(BOURDIEU, 2007, p. 189).
É importante que o professor busque formas de promover e estimular a produção
crítica dos alunos, sendo necessário que instigue aspectos rotineiros durante a
dinâmica referente ao andamento da aula, que possam ser refletidos e recolocados em
práticas de outras maneiras. O desafio do professor é executar um bom plano de ação
que gere resultados esperados, gerando um aprendizado significativo ao aluno,
procurando meios de trabalhar com a diversidade que cada aluno traz consigo.
A arte aliada a educação, é uma poderosa ferramenta que pode ser usada tanto
para a alienação das massas, quanto como auxílio da libertação de um povo. Ela está
presente em todas as grandes transformações sociais.
Partindo do entendimento de que vivemos em um mundo cada dia mais plural e
da busca por uma educação intercultural em que a escola seja um espaço de
comunicação e aprendizagem entre pessoas, grupos, conhecimentos, valores e
tradições, tem-se como objetivo central para esta pesquisa instigar alunos dos anos
finais do ensino fundamental a desenvolver um trabalho artístico numa perspectiva em
que eles possam pensar a escola como espaço possível de construção de visualidades
artísticas e questionadoras, por meio de uma proposta de ensino baseada em
linguagens artísticas contemporâneas. A presente pesquisa procura investigar os
processos de aprendizagem por meio dos estudos das intervenções urbanas,
considerando o campo de estudos da cultura visual. Em sua abordagem, a pesquisa
traz questões e reflexões sobre as práticas educativas que utilizam modos de intervir no
espaço público e na escola em processos de aprendizagem e metodologias que
envolvam a compreensão crítica da cultura visual.

2 CONCEITO DE ARTE URBANA


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Entendemos por Arte Urbana as manifestações artísticas realizadas e expostas


nas cidades em vias públicas e locais de grande circulação. Embora o a cultura Hip Hop
seja o estilo predominante atualmente da Arte Urbana é necessário ter a consciência,
de que o conceito de arte urbana é algo muito amplo, e que não se trata de uma
manifestação recente, que registros históricos comprovam a sua existência em períodos
civilizatórios anteriores ao nosso.

Graças à conservação ocasionada pelo encobrimento da cidade de Pompéia


pelas lavas do vulcão Vesúvio, se tem um registro muito bem preservado das
inscrições sobre os muros desta cidade, em que se viam desde anúncios de
pequenos estabelecimentos, recados de amor até manifestações políticas.
Assim se constata que a atividade de inscrição sobre as paredes das cidades
era prática usual (FERREIRA, 2010, p. 2).

Entretanto, quando tratamos deste tema, temos a impressão de estarmos


falando sobre algo novo e polêmico que ainda não foi aceito e entendido pela
sociedade. A Arte Urbana tem como característica principal ser um espaço
extremamente democrático e aberto, que abriga as mais diversas opiniões ideologias,
orientações sexuais e religiosas. Se por um lado corremos o risco de presenciarmos
uma espécie de caixa de pandora, onde as ideias racistas, homofóbicas e fascistas
circulem livremente pela cidade, é louvável que destaquemos o contrário, que a grande
maioria das manifestações ocorram em solidariedade com as minorias e com as
classes menos favorecidas. Como educadora tenho de ter a consciência de que estas
manifestações continuarão a acontecer com ou sem o meu consentimento, cabendo a
mim a tarefa de destacar e ensinar os valores universais, de solidariedade e respeito às
diferenças.
Pensar o espaço urbano como um suporte para as práticas de intervenção, com
a inserção de alunos dentro de um projeto artístico, é uma oportunidade de colocá-los
dentro da essência do meio em que vivem, provocando neles uma abordagem reflexiva
e crítica em torno das questões que rodeiam a sociedade, gerando discussões e
reflexões sobre pertencimento dos indivíduos ao espaço público, como construtores
destes próprios espaços. A valorização de práticas cotidianas é fundamental para a arte
urbana, uma vez que aquelas podem se mostrar por meio desta, modificando os
espaços públicos, alterando sua carga simbólica. Como espaço de representação, a
obra de arte é também um agente na produção do espaço, adentrando-se nas
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contradições e conflitos presentes naquele espaço.

3 A HISTÓRIA DA ARTE NA EDUCAÇÃO

O ensino da Arte começou a entrar em vigor no século XX, onde o ensino


técnico, baseado em exercícios de copia de livros didáticos e outros tipos desenhos
prontos, o professor nesse momento era o transmissor dos códigos aos alunos. O
ensino nesse período era baseado em disciplinas chamadas de Desenhos, Trabalhos
Manuais e Música (CUNHA, 2012).
Segundo Zagonel (2008 apud CUNHA, 2012) nesse ensino Tradicionalista eram
valorizados apenas os chamados “dons artísticos”, para desenvolver no aluno
habilidades como artesanato, afazeres domésticos e hábitos de organização. Com o
movimento da Escola Nova, no século XX, divulgada um pouco mais a diante, através
do então denominado Manifesto da Escola Nova, em 1932, a participação de grandes
educadores que queriam educação igualitária para todos foi ganhando notoriedade.
Na década de 30, as primeiras escolas especialistas em Artes para crianças e
adolescentes foram criadas. Nelas valorizava-se a aprendizagem livre e acreditava-se
na expressão criativa, mas com o governo de Getúlio Vargas, o objetivo de livre
expressão foi suspenso, pois o Estado Novo valorizava cópias de estampas e desenhos
geométricos para que o ensino artístico entrasse nos padrões estabelecidos pelo
governo na época. Somente o ensino da Música se tornou obrigatório nas escolas.
No ano de 1948 foi criada a primeira Escolinha de Artes do Brasil, situada no Rio
de Janeiro. Nela começaram uma ideia nova de metodologia pensando na criatividade
e na livre expressão, abrindo assim, caminhos para que outras escolas também
tivessem a mesma iniciativa. (CUNHA, 2012).
A Lei 5.692, criada em 1971, trouxe a Educação Artística no currículo como uma
atividade educativa e não como uma disciplina. A única com caráter humano e criativo,
onde tinha conteúdos de Artes Plásticas, Educação Musical, Artes Ciências. Nas
escolas tinham professores qualificados, porém não poderiam lecionar devido a falta de
diploma em nível superior exigido para cada disciplina. Mostra-se que nesse momento,
os professores estavam enfrentando dificuldades para entender a relação de teoria e
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prática dessas aulas (BRASIL, 2001).


O governo em meio a essa questão decidiu abrir cursos de licenciatura em
Educação Artística com pouco tempo de duração, porém esses cursos não ofereciam a
especialização de uma matéria específica, mas oferecia todas juntas, causando assim,
um declínio na eficiência das aulas, pois seguiam documentos oficiais, livros didáticos,
que não explicavam fundamentos, metodologias ou bibliografias.
“Perdidos”, os professores sonhavam com objetivos inatingíveis, sem entender,
mas separados por faixa etária, envolvendo atividades múltiplas, contendo dança,
música, e exercícios plásticos.
Nesse ano foram mantidos os padrões curriculares de meados do século XX,
onde o ensino-aprendizagem era baseado na aprendizagem reprodutiva e no fazer
expressiva dos alunos. (CUNHA, 2012).
Na década de 80, com a constituição do Movimento Arte-Educação, resultou a
mobilização de grupos de professores de Artes, criando discussões sobre o
aprimoramento que reconhecia sua insuficiência de competência na área.
Com isso as ideias foram se espalhando por todo o país, criando associações de
arteeducadores, com o objetivo de propor novas ações educativas no ensino de Arte
(BRASIL, 2001).
Atualmente, conforme ressaltam os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
2001), e a Lei 9.394/96, o ensino de Artes passou a ser considerada um componente
do currículo, e deixando de ser denominado de Educação Artística para ser chamado
Artes, pois houve um reconhecimento do valor do ensino de tal área.

4 ARTE URBANA: FORMAS DE INTERVIR

Arte urbana é o termo utilizado para designar os movimentos artísticos


relacionados às intervenções visuais realizadas em espaços públicos. Ela ocorre sobre
uma realidade preexistente e possui características e configurações específicas, com o
objetivo de alterar ou acrescentar algo no espaço urbano, ou seja, ressignificar esses
espaços, permitindo que a população se aproprie daquele determinado espaço. Dessa
forma, “as obras de arte urbana são, de certa forma, fruto ou produto do território, mas,
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ao mesmo tempo, incide sobre este mesmo território, ressignificando-o” (MARZADRO,


2013, p. 12).
Considerar a arte urbana, no sentido contemporâneo, é pensar o efêmero, um
produto de pouca duração e uma arte sem valor financeiro imediato. É pensar o espaço
público como suporte para a intervenção, como estado de ser e estar no mundo. Essas
intervenções exercem um impacto sobre o social, já que fazem parte da paisagem
urbana e são visíveis às pessoas que por ali passam. “É um lugar compartilhado no
cotidiano, criador de raízes, laços de pertencimento e símbolos. É através do
conhecimento desses símbolos que podemos restituir toda a riqueza de valores que
dão sentido aos lugares e aos territórios de vida” (RIBEIRO, 2009, p. 26).
Intervir artisticamente nesses espaços é transformar o espaço urbano em poesia,
poesia visual, trata-se de observar a cidade, as ruas e olhar determinado espaço ou
objeto como possibilidade de transformação, colocar uma poesia no caminho das
pessoas, transformando não só a cidade, mas também as pessoas. Um poste cinza é
apenas um poste cinza, porém, quando se cola um lambe-lambe ou qualquer outra
forma de se expressar nele, aquele poste já não é mais só um poste cinza. Enquanto
função poste, ele é só um objeto, as pessoas simplesmente passam por ele, mas
quando sofre uma intervenção, ele passa a ser observado de outra forma.
A cidade é repleta de elementos invisíveis, de pessoas à margem da sociedade,
em meio a prédios abandonados. A arte urbana tem um viés também de trazer luz, cor,
renovação para as ruas das cidades. Esse tipo de produção artística aparece no
cotidiano das ruas, se inscreve na própria realidade, surge para interagir com o meio
urbano, misturando-se à rotina de uma cidade. A arte urbana acentua a democratização
do fazer artístico, com as suas mais variadas formas de se expressar. É um processo
de comunicação, de vozes e discursos.

Cabe observar que, atualmente nas artes visuais, a linguagem da intervenção


urbana precipita-se num espaço ampliado de reflexão para o pensamento
contemporâneo. Importante para o livre crescimento das artes, a linguagem das
intervenções instala-se como instrumento crítico e investigativo para elaboração
de valores e identidades das sociedades. Aparece como uma alternativa aos
circuitos oficiais, capaz de proporcionar o acesso direto e de promover um
corpo-a-corpo da obra de arte com o público, independente de mercados
consumidores ou de complexas e burocratizantes instituições culturais (BARJA,
2008, p. 216).
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A arte urbana permite uma possibilidade de elementos que a arte nas galerias ou
museus não proporcionam diretamente ou gratuitamente, como nas ruas. Como
possibilita um diálogo entre pessoas das mais diferentes classes sociais, trata-se de um
espaço vivo, estabelecendo uma relação orgânica com o lugar e as pessoas que ali
habitam ou que por ali passam, é interativo. As intervenções urbanas surgem como
novas formas e meios de se produzir arte, no sentido de negação dos espaços
destinados a ela, como museus e galerias. É uma forma de se manifestar, usando a rua
como esse espaço. É um processo direto do artista com o espaço, podendo ou não ter
a mediação de um curador, utilizandose de novos valores e práticas estéticas.
As intervenções são efêmeras porque acompanham a respiração da cidade. A
arte urbana permite o trânsito livre de diversas linguagens mudando o movimento da
cidade, provocando o olhar, comunicando um pensamento. Além disso, a arte urbana
fomenta o imaginário, demarca território, influencia o mapa mental e afetivo que
transeuntes estabelecem na cidade. Uma diferença importante entre fazer arte urbana
nas ruas e arte num espaço como museus ou galerias, é que, na arte urbana nas ruas,
o diálogo é mais amplo, por haver uma visualização maior de uma parcela significativa
da população que raramente ou nunca frequenta esses outros espaços.
Nesse sentido, a arte urbana estabelece uma relação com o espaço público e
com as pessoas que passam por esses locais. Essas mensagens se propagam pelas
ruas da cidade, transmitindo opiniões, reflexões, questionando experiências e
retratando demandas contemporâneas. É provocadora.
A arte urbana necessita das pessoas que habitam a cidade, mesmo que de
passagem, é necessário o olhar dessas pessoas, pois são elas que percebem que algo
foi mudado, ressignificado naquele espaço urbano. A interação é mais importante que o
resultado final, é um processo artístico que ganha vida com o olhar de quem passa pela
intervenção, percebe aquele movimento e acaba se envolvendo no processo artístico.
Ao ressignificar o espaço urbano, a arte urbana produz um lugar imaginário, produzindo
novos valores simbólicos, mudando a dinâmica constante que as grandes cidades
apresentam. Ela pode sensibilizar tanto o espaço quanto as pessoas.
A arte urbana tem um viés libertário e transgressor, por fugir dos padrões
culturais que decidem o que é e o que não é arte, e por causar um certo desconforto
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visual. Neste sentido, a autonomia que o artista urbano tem, tanto no que diz respeito à
obra que foi produzida, quanto ao local em que será exposta, institui, na arte urbana,
um viés marginal. Portanto, é importante refletir sobre o local onde se faz uma
intervenção, pensando no público que vai ser atingido e na mensagem que se pretende
passar, a ação do intervir tecendo diálogo entre as pessoas e o local.

5 CONTRIBUIÇÃO DA ARTE URBANA NA APRENDIZAGEM DE ALUNOS

Com o fim do Regime Militar e a conquista da democracia, ampliou-se o número


de universidades que preparam futuros arte educadores. A educação que antes era
tecnicista e profissionalizante vem abrindo espaços para temáticas mais humanas, que
incentivem o lado criativo do aprendiz. Mesmo com notáveis avanços podemos notar
um longo caminho que deve ser trilhado para consolidar de vez a importância da
disciplina de arte nas escolas. Infelizmente muitos destes avanços correm o risco de
serem perdidos, já que a realidade das escolas, por vezes, é desestimulante com
períodos únicos ou reduzidos e materiais escassos, com professores que muitas vezes
nem estão habilitados para lecionar essa disciplina.
Mesmo com todas as adversidades possíveis é notável e louvável perceber que
existam educadores empenhados em fornecer uma didática qualificada de trabalhar a
Arte de forma reflexiva e construtiva. São estes os professores que fazem com que em
minha prática docente continue trabalhando tais aspectos construtivos e interativos na
sala de aula.
Segundo Porcher (1973, p. 47):

Dentro de cada criança, como dentro de cada antiga criança existem imensas
virtualidades sensoriais, aptidões emotivas, possibilidades de felicidades
sensíveis. O educador que não faz tudo que pode, agora, no plano da educação
escolar – que é o plano mais geral e decisivo – para exaltar e realizar essas
virtualidades, que deixa passar o momento oportuno, quer por indiferença por
cansaço ou por negligencia, contribui para manter a banalidade do mundo, a
mediocridade do homem, a insignificância da vida. Bem entendido, tudo isto é
condizente com uma ordem que está sendo mantida: nivelamento integrador,
em todos os sentidos. (PORCHER, 1973, p. 47).

Ao contrário de outras disciplinas do currículo, a arte possibilita que trabalhemos


em outros círculos fora do meio escolar, como, por exemplo, hospitais, centros de
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vivências, asilos, entre outros. Esse leque de possibilidades ajuda a amenizar o déficit
escolar, na construção de um olhar mais livre sobre a Arte.
Convém também observar que a visão transmitida pela escola é sempre a visão
determinada pelas classes dominantes. Não interessa que as pessoas elaborem sua
visão de mundo, com base na realidade concreta em que vivem. Importa, sim, a
padronização do pensar, segundo os ditames da lógica de produção industrial. Todos
devem ver o mundo de maneira como querem os dominantes, para que a atual situação
se mantenha inalterada. Se cada um começasse a formular o seu pensamento de
acordo com a sua situação existencial pode ser que descobrisse determinados
verdades que o fizessem lutar pela alteração dessa situação.
Todo aluno deve ser estimulado em todos os sentidos existentes no ensino da
Arte, instigando a curiosidade, expressividade, emoções e gestos de acordo com as
situações em se encontra em cada momento.
Conforme Bouro (2003), o primeiro passo nessa direção é favorecer a
autoconfiança, a capacidade de enfrentar desafios, o autoconhecimento e a imaginação
criadora, a fim de resgatar a criança inventiva. É fundamental que o ensino da Arte
estabeleça um trabalho significativo compromissado com a qualidade e, por meio de um
processo ativo, que vincule os sujeitos aos objetos de conhecimento levando-os a uma
construção de sentido.
Para os alunos, a Arte adquire um caráter fundamental, pois apresenta uma
linguagem sensorial, cultural e cognitiva no desenvolvimento dos mesmos. O papel da
Arte nesse sentido possibilita para que façam leituras e releituras significativas, para
possam melhor compreendê-la e melhorá-la.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta pesquisa foi possível realizar um estudo que sobre a arte urbana e
sobre a possibilidade de intervenção do espaço urbano. A utilização da arte urbana
como possiblidade de expressão artística dentro das linguagens da arte, busca formas
de ressignificar uma parte do espaço urbano onde cada aluno mora.
Esta ação pode ser desenvolvida como forma de expressão para que o aluno
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possa ter condições técnicas de proporcionar possibilidades de dialogar com o seu


espaço urbano de forma simples e segura, haja vista a necessidade de distanciamento
social.
Entendemos que as relações estabelecidas com a arte nos espaços urbanos e
nas redes sociais são formas de manter relações sociais por meio da mesma,
construindo, assim, possibilidades de diálogos que implicam a ação e a reflexão dos
alunos sobre determinado espaço e para esse espaço urbano.
Nesse sentido, a arte constitui-se como uma importante ferramenta de
expressão, diálogo e reflexão sobre a realidade ao nosso redor. Com uma proposta de
trabalho com intervenções urbanas, mais especificamente, por meio da linguagem
urbana, é possível desenvolver trabalhos artísticos capazes de estimular reflexões
sobre o olhar urbano, contribuindo para que os alunos possam se tornar observadores
capazes de refletir e ressignificar sua visão de mundo.
O referencial metodológico foi embasado dentro de uma perspectiva da cultura
visual e procurou trabalhar uma forma de atuar em ensino, por meio de estudos sobre a
imagem. Nesta linha de pensamento, percebemos a necessidade de trabalhar uma
alfabetização visual, por meio da qual os alunos possam ampliar sua percepção das
imagens que estão em torno da sociedade ao seu redor, contribuindo, assim, para
desenvolver uma compreensão crítica da sociedade em que vivem.
Neste sentido, a pesquisa corrobora as contribuições dos estudos da cultura
visual. Há de se garantir que todos os estudantes, no meio escolar, possam ampliar seu
discurso imagético pelo acesso à gramática visual, em que, assim, o estudante se sinta
estimulado a prosseguir no desenvolvimento de sua própria capacidade de expressão
visual mediante a orientação básica de produção da linguagem artística.
Destaca-se também nessa pesquisa a importância da cultura visual como
ferramenta pedagógica no desenvolvimento de leitura e reflexão a respeito das
imagens, juntamente com um trabalho artístico como linguagem urbana, para a
formação do aluno como ser que interage e faz parte da construção da sociedade.
Nesse sentido, o processo de ensino aprendizagem possibilita uma proposta
educativa artística, por meio da qual o aluno pode reconhecer e conhecer o espaço
urbano, podendo criar um diálogo e levantar questões a todos que frequentam os
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ambientes por eles escolhidos. Cabe ao professor, em diálogo com os alunos, buscar
trazer as experiências deles para ampliar os processos educativos de forma
participativa. O repertório dos alunos é fundamental para que juntos, professor e aluno,
possam organizar outros discursos e a construção do processo artístico. Se o professor
propõe e demonstra possibilidades e provoca o aluno a refletir sobre formas de olhar e
fazer, percebendo e ressignificando os espaços urbanos que fazem parte do seu
cotidiano, ele pode conseguir que os alunos, por meio de suas próprias experiências,
consigam criar diálogos com a realidade ao seu redor.
Assim, a forma de se expressar ganha sentido para o aluno, pois, além de poder
desenvolver um senso crítico da realidade ao seu redor, ele se torna uma pessoa ativa
no processo de aprendizagem. Isso porque a prática de arte desenvolvida está
diretamente ligada às experiências e aos conhecimentos do aluno, despertando uma
percepção e uma reflexão críticas por parte de cada um deles, nas suas relações com a
sociedade em que estão inseridos.
Com esta pesquisa, foi possível perceber a importância de uma ação educativa
que trabalha a necessidade de perceber e refletir sobre as imagens que nos rodeiam,
apontando possibilidades de desenvolver trabalhos artísticos em espaços que reflitam e
constroem saberes e experiências, por parte dos alunos, que produzem reflexões a
respeito da sociedade em que vivem.
Espera-se que a pesquisa possa contribuir para futuros trabalhos de artes e de
outras áreas, podendo ser utilizada de acordo com cada contexto em particular e com a
relação que cada um estabelece com a sua própria realidade

7 REFERÊNCIAS

BARJA, Wagner. Intervenção/terinvenção: a arte de inventar e intervir diretamente


sobre o urbano, suas categorias e o impacto no cotidiano. Revista Ibero-americana de
Ciência da Informação (RICI), v.1 n.1, p. 213-218, jul/dez. 2008

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas / Introdução, organização e


seleção Sergio Miceli. São Paulo. Perspectiva, 2007.

BUORO, Anamelia Bueno. O Olhar em Construção: uma experiência de ensino e


aprendizagem da arte na escola. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
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BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases Nacional n°9394/96. Brasilia, MEC, 1996. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 set 2022.

CUNHA, J. M. J. Ensino de artes: dificuldades, experiências e desafios. Revela:


Periódico de Divulgação Científica da FALS. Ano VI, 2012. Disponível em:
http://www.fals.com.br/revela14/art_exp05_14.pdf. Acesso em: 02 out 2022.

FERREIRA, Maria Alice. Arte Urbana no Brasil: expressões da diversidade


contemporânea. In: ANAIS VIII. Encontro Nacional de História da Mídia - UNICENTRO,
Guarapuava, PR, 2010.

MARZADRO, F. Espaço público arte urbana e inclusão social. Revista NAU Social, 4(6),
169-183. 2013

PORCHER, Louis. Educação Artística: luxo ou necessidade? 3. ed. São Paulo. Sammus
Editorial Ltda., 1973.

RIBEIRO, M. T. F. Compreendendo a complexidade socioespacial contemporânea: o


território como categoria de diálogo interdisciplinar. Introdução. In: RIBEIRO, M. T. F.;
MILANI, C. R. S. (org.) Salvador: EDUFBA, p. 21-36, 2009.

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