Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
REMOTO
Resumo:
Abstract:
1. Introdução
1
Doutor em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-
USP/2019). Professor substituto do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e professor de Arte do Governo do Estado da Paraíba.
Antônio Coelho Dantas, da rede estadual de ensino do Governo do Estado da Paraíba
e localizada na cidade de Nova Palmeira, com uma população em torno de 5000
habitantes, na região do Seridó Oriental Paraibano, estando a 250 km da capital João
Pessoa.
Foi desenvolvido durante os três primeiros bimestres letivos de 2021, sob a
forma de ensino remoto, em virtude dos protocolos instaurados pela pandemia da
COVID-19. O Projeto versou por interlocuções com diversos eixos transversais, por
meio de práticas artísticas-pedagógicas, como:
• Discussões sobre direitos humanos e diversidade;
• Atitudes direcionadas à promoção do protagonismo juvenil;
• Sustentabilidade;
• Inclusão digital;
• Educação inclusiva;
• Atividades artísticas e poéticas;
• Estratégias de combate à evasão escolar e busca ativa;
• Competências Socioemocionais;
• Temas Transversais.
Suas ações tiveram forte cunho interdisciplinar, com enfoque na área de
Linguagem e suas Tecnologias, e, também nos conceitos da área de Ciências
Humanas Sociais e Aplicadas. Constituiu-se num convite à reflexão sobre a atual
situação de risco à vida humana, imposta pela pandemia da COVID-19 que, além de
afetar drasticamente vários setores da sociedade, provocou uma mudança ainda em
construção nos processos de ensino e aprendizagem, sob a forma de ensino remoto
ou híbrido. Entre todos os outros problemas gerados por esta situação e pelas
complexidades políticas vividas, a sala de aula precisou reinventar-se, diante do
isolamento social. E a internet demonstrou ser uma das alternativas para que a
Educação continuasse a funcionar: lives, podcasts, reuniões em videoconferência,
exposições virtuais, museus digitais on-line e ferramentas tecnológicas.
A partir deste contexto e do impacto das mudanças em nosso cotidiano, além
de pela necessidade de encontrar novos rumos e restaurar a esperança em dias
melhores, vimos nesta oportunidade e por meio do envolvimento com a Arte, registrar
e resgatar nossos saberes, nossos conhecimentos diários, nossa ancestralidade, de
acordo com as histórias de vidas de cada um; reavivar as memórias; refletir sobre
nossa identidade social e poética; perceber nossas experiências que se
movimentaram como processos de resistência para nossa existência.
Nesta situação problema, a escolha desta temática como intervenção para qual
a interferência da escola se apresenta como possível e plausível solução para motivar
os debates sobre as questões relativas para a qual a Arte/Educação, como um lugar
de pesquisas, relatos, vivências, trocas e práticas artísticas autorais entre alunos e
professores.
O tema foi trabalhado e articulado dentro do processo de ensino e
aprendizagem e explicitado por intermédio de ações em três eixos norteadores, a
partir das referências da Abordagem Triangular no Ensino das Artes e Culturas Visuais
de Ana Mae Barbosa (2010). A metodologia aplicada compreendeu o contato com a
produção visual de diversos artistas contemporâneos; a interpretação em forma de
produções artísticas dos alunos com técnicas e materiais acessíveis; a observação e
a apreciação das produções nos murais virtuais; estimulou a socialização via oralidade
crítica e construtiva; a opinião por meios de comentários em registros escritos; o
aprimoramento das técnicas fotográficas como registro visual, em confluência com as
habilidades socioemocionais e as competências adquiridas e a educação digital, na
interação pelas interfaces das ferramentas tecnológicas utilizadas.
Este projeto proporcionou, de modo muito positivo, um processo criativo e
educacional dos alunos, por meio de uma imersão em várias linguagens artísticas que
promoveram o protagonismo, de forma autoral e crítica. Revelou resultados
qualitativos para uma melhoria no processo de ensino e aprendizagem no formato
remoto, chegando a um patamar que minimizou a evasão escolar, e consolidou a
participação ativa, mesmo mediante problemas tecnológicos enfrentados, como o uso
de dispositivos eletrônicos ineficazes por parte dos alunos e o acesso sem condições
isonômicas ao sinal de internet, pois boa parte do público reside na zona rural.
As estratégias metodológicas foram desenvolvidas entre atividades síncronas
e assíncronas, com aulas expositivas e dialogadas, via videoconferência pela
plataforma Google Meet, e incluíram reflexões em grupo, leituras e análises de
imagens e textos com aportes artísticos, consolidados e experienciados, por sua vez,
em atividades práticas individuais e coletivas. Os encontros por séries do Ensino
Médio eram de 50 minutos e uma vez por semana. Alternarmos várias atividades nos
encontros. Em um deles, aconteceu a imersão nas obras dos artistas, leitura de
imagem, contextualização e discussão das propostas. E na semana seguinte, a
socialização, com um riquíssimo espaço de oralidade para aprimorar a escuta e a fala,
bem como apreciar e valorizar a produção individual e a coletivo, sistematizar os
conceitos, afinar os olhares e valorizar as competências e habilidades.
Foram organizados oito murais interativos na plataforma do Padlet, como
exposição virtual e apresentação cultural sobre a temática em estudo, seguidos de
socialização e leitura das produções de cada aluno, via videoconferência no Google
Meet e atendimentos individuais, via WhatsApp. Incrivelmente e surpreendentemente,
foi possível criar momentos de ensino e aprendizagem significativos e com progressos
exitosos na troca de conversas pelo aplicativo.
Para ilustrar este relato, utilizaremos alguns prints de tela dos murais, que
exemplificaram o processo criativo dos alunos, deixando também os links de acesso
ao público, por meio dos/as quais eles compartilharam e socializaram suas produções.
Selecionamos alguns trabalhos, que revelam a riqueza e diversidade artística
via processos criativos. É importante ressaltar e dar os devidos créditos aos alunos,
visto que para muitos foram as primeiras realizações desta natureza, ou seja, nenhum
dos alunos tivera, até então, uma experiência anterior. Ainda sem domínio das
interfaces, a cada produção, eles enviavam os registros fotográficos das produções
artísticas via WhatsApp particular do professor que, ao lançar no mural interativo, eram
alimentados com a foto autoral, nome e série. A interação, nos primeiros momentos,
ocorria com curtidas nas publicações. Meses depois, quando todos foram se
familiarizando em realizar login e tiveram seus e-mails institucionais construídos, é
que a interação foi contemplada com as postagens de comentários, como pequenos
textos de opinião ou relatos do processo.
O primeiro trabalho que ilustraremos aqui, foi uma proposta de imersão ao trabalho
da professora e artista Élida Tessler, do Departamento de Artes Visuais e do Programa
de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRGS, intitulado “Você me dá uma palavra?”.
Nele, a artista pede para que o interlocutor escreva, num prendedor de roupas de
madeira, uma palavra de sua língua materna. As palavras são expostas em um único fio,
que já exibiu suas memórias por diversas exposições nacionais e internacionais.
Essa imersão no trabalho, idealizada pela professora Rosa Iavelberg, da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, consiste em convidar os alunos
a escolherem uma lista de palavras que expressem os sentimentos, as angústias, as
dores, os medos, as tensões e tudo que nos privou, neste momento, de confinamento
social. Neste caso, materializadas em um varal não convencional, e que de certa forma,
apresentasse sua primeira identidade dentro do Projeto Fotografando Saberes.
Na apresentação da proposta, realizamos uma leitura de imagem dos trabalhos
da artista Élida Tessler; explicitamos como realizar a escolha de materiais que
estivessem a disposição nos domicílios para a produção do varal, enfatizando no
cumprimento dos protocolos da COVID-19; definimos as orientações básicas para o
registro fotográfico e que muitas vezes foram afinadas nas trocas de conversas pelo
WhatsApp; apresentamos a ferramenta tecnológica do Padlet como mural interativo para
a construção da exposição virtual e a socialização na aula seguinte.
Selecionamos alguns trabalhos do primeiro mural (vide figura 1), que
apresentam narrativas significativas que, embora com seus conteúdos
autobiográficos, muito mais nos aproximaram do que nos distanciaram, visto que são
retratos do coletivo da sociedade, os quais, em alguns aspectos, reconhecemos como
retratos do cotidiano ou como preces esperançosas por dias melhores.
Figura 1 - "Você me dá uma palavra?" - imersão na obra de Elida Tessler. Print de tela do meet,2021
Destacamos o trabalho da aluna Maria da Guia (vide figura 2), cujo varal foi
construído com ovos de galinha caipira. Verificamos nitidamente uma preocupação
estética, que não podemos afirmar absolutamente se foi inconsciente ou intencional,
desde a organização dos ovos enfileirados e o forro do fundo com um pano de prato, até
na escolha das tampinhas de garrafas plásticas da mesma cor, como base para os ovos,
destacando a palavra AMOR, ao escrevê-la no ovo de única cor diferente dos demais.
Na socialização do meet, foi perguntado como ela adquiriu os ovos e de onde partiu essa
ideia. E ela nos disse que estava tímida em nos revelar, mas relatou que: “eu olhei pela
casa e vi que o que eu mais tinha eram os ovos das galinhas que eu crio.” A partir desta
fala, abriu-se a oportunidade de falarmos sobre a arte do cotidiano. Era fundamental que,
na socialização, além de fortalecer o espaço da oralidade, fossem evidenciados estes
elementos fundantes da linguagem visual e assim, validado o processo criativo dos
alunos.
No trabalho do aluno Nando Soares (vide figura 3), vemos que as palavras-chave
foram substituídas por objetos de identificação social: carteira de identidade, título de
eleitor, carteira do CPF e embalagem para guardar. Na socialização foi questionado
sobre o reflexo na foto da identidade e o último prendedor que faltava um objeto. E ele
nos disse: “O reflexo foi de propósito para que minha identidade não fosse revelada, mas
também, assim pudesse ser de qualquer pessoa. E o último prendedor, vazio, no qual
faltava o objeto era para representar o dia de amanhã que ainda não está construído.”
No trabalho de Eliane Santos (vide figura 4), ela nos relatou que o uso do pisca-
pisca não era só um resgaste das lembranças das luzes nas festas de fim de ano, mas
também uma antecipação do desejo de que este momento chegasse logo com um
período de paz. E esclareceu que o sapatinho de bebê trançado com lã na ponta de seu
varal, simbolizava a vida nova que estava para chegar na família dela com o nascimento
da sobrinha. Era a certeza de dias melhores e de renovação.
A atividade seguinte, intitulada de “Selfie sombreada” (vide figura 6), teve como
objetivo uma aproximação do retrato convencional, mas ainda sem revelar a identidade.
Nesta oportunidade, discutimos conceitos sobre iluminação, sobre a trajetória do sol no
céu, como se formam as sombras e as silhuetas, sobre ângulos e a incidência da luz.
Figura 7 – Autorretrato na técnica do boneco graveto - imersão na obra do Véio. Print de tela, 2021
Figura 10 – Bate papo com o aluno Juvenal, 3ºEJA. Print de tela do WhatsApp,2021
4. Referências