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ANTEPROJETO DE UMA ACADEMIA DE GINÁSTICA VENTILADA PARA

NATAL/RN

LAYS MEDEIROS SILVA


TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
UFRN CT DARQ
NATAL 2018.2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA
GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

LAYS MEDEIROS SILVA

ANTEPROJETO DE UMA ACADEMIA DE GINÁSTICA


VENTILADA PARA NATAL/RN

Natal - RN
2018.2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBICatalogação de Publicação na
Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT

Silva, Lays Medeiros.


Anteprojeto de uma academia de ginástica ventilada para
Natal/RN / Lays Medeiros Silva. - Natal, 2018.
79f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande


do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientadora: Glauce Lilian Alves de Albuquerque.

1. Academia de ginástica - Monografia. 2. Arquitetura


esportiva - Monografia. 3. Arquitetura bioclimática -
Monografia. 4. Eficiência energética - Monografia. I.
Albuquerque, Glauce Lilian Alves de. II. Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 725.85

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344


LAYS MEDEIROS SILVA

ANTEPROJETO DE UMA ACADEMIA DE GINÁSTICA


VENTILADA PARA NATAL/RN

Trabalho Final de Graduação apresentado ao


curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), como requisito para obtenção do
título de Arquiteto e Urbanista.

Orientadora: Prof. Dra. Glauce Lilian Alves de


Albuquerque

Natal - RN
2018.2
LAYS MEDEIROS SILVA

ANTEPROJETO DE UMA ACADEMIA DE GINÁSTICA VENTILADA PARA NATAL/RN

Trabalho Final de Graduação apresentado ao


curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), como requisito para obtenção do
título de Arquiteto e Urbanista.

Orientadora: Prof. Dra. Glauce Lilian Alves de


Albuquerque

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________
Prof. Dra. Glauce Lilian Alves de Albuquerque Orientadora
(Orientadora)

_______________________________________
Prof. Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega
(Avaliador Interno)

_______________________________________
Arq. Luciano Luiz Paiva de Barros
(Avaliador Externo)

Aprovação em ___ de dezembro de 2018


AGRADECIMENTOS
Passei os cinco anos do curso de arquitetura questionando a minha escolha.
Hoje, prestes a me formar, sei que o meu real “problema” não era com a arquitetura,
e sim com o fato de ter interesse em muitas outras áreas para ter que escolher
apenas uma.
Apesar disso, ela me conquistou com a sua diversidade, me permitindo
vivenciar um pouco de tudo aquilo que desperta a minha curiosidade. Daí veio a
decisão de projetar uma academia de ginástica, tipo de ambiente que considero
como se fosse minha segunda casa por já fazer parte da minha vida há cerca de dez
anos.
Inclusive, agradeço inicialmente pela existência da minha academia. Sem ela
eu não teria superado os momentos de tensão durante a fase de elaboração deste
trabalho e tido condições mentais de reorganizar as ideias na cabeça para então
poder seguir em frente.
Segundamente, não posso deixar de expressar gratidão pela maior
experiência que a universidade me proporcionou, que foi ter estudado um ano fora
do país. Foi um período de muito amadurecimento, amizades e aprendizados. Sem
essa oportunidade eu não seria nem metade do que sou hoje. O intercâmbio me
ensinou a ser menos exigente e deixar a vida fluir mais naturalmente, reduzindo as
expectativas e tirando proveito das situações que de alguma forma não aconteceram
como era esperado ou desejado. Ensinamentos que sem dúvida levarei para sempre
comigo.
Por fim, seguindo a famosa sequência, não posso deixar de agradecer a
Deus, meus pais, meus amigos (de dentro e fora do curso) e a todos os professores
que fizeram parte desses anos de graduação.
“ Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.”
Fernando Pessoa
- “Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro.
RESUMO
SILVA, Lays Medeiros. Anteprojeto de uma academia de ginástica ventilada para
Natal/RN. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 2018, 79p.

Frente à notória ascensão do mercado fitness na economia do país e do


município de Natal (RN), junto à necessidade de explorar o conforto térmico em
ambientes destinados à prática de atividades físicas e promover a redução de
gastos energéticos em edifícios comerciais, despertou-se o interesse em
desenvolver o anteprojeto de uma academia de ginástica para a cidade com ênfase
no uso de sistemas passivos de climatização. Para atingir esse desígnio, foi
necessário definir o que é considerado uma situação de conforto térmico em um
ambiente voltado para a prática de exercícios, estudar o que são sistemas passivos
de climatização e suas vantagens e compreender o que define o porte de uma
academia de ginástica. O equipamento foi locado em Ponta Negra, bairro com alto
potencial paisagístico, infraestrutura consolidada e uma legislação mais restritiva
quanto à verticalização na região próxima à praia, favorecendo o aproveitamento da
ventilação natural. Para embasar a proposta, foram realizadas sobretudo pesquisas
teóricas e estudos de referência diretos e indiretos. O resultado geral compilou em
uma edificação modular de 2.109,58 m², com traços contemporâneos, uso de
materiais arrojados como a madeira e vegetação abundante.

Palavras-Chave: arquitetura esportiva; academia de ginástica; arquitetura


bioclimática; eficiência energética.
ABSTRACT
SILVA, Lays Medeiros. Anteprojeto de uma academia de ginástica ventilada para
Natal/RN. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 2018, 79p.

Faced with the notorious rise of the fitness market in the country's economy
and in the city of Natal (RN), associated with the need of exploring thermal comfort in
physical activities environments and reducing the energy demand in commercial
buildings, the idea of creating a fitness center with an emphasis on the use of
passive air conditioning systems emerged. To accomplish this goal it was necessary
to define what is considered a thermal comfort situation in an environment focused
on exercises practice, to study what are passive systems of climatization and its
advantages and to understand what defines the size/capacity of a fitness center. In a
study level, the equipment has been placed in Ponta Negra, a neighborhood with
high landscaping potential, consolidated infrastructure and restrictive verticalization
laws near the beach area, favouring the use of natural ventilation. To support this
project, theoretical researches, direct and indirect reference studies were need. The
overall result compiled into a 2.109,58 m² modular building, with contemporary
features, daring materials such as wood and abundant vegetation.

Keywords: sports architecture; fitness center; bioclimatic architecture; energy


efficiency.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Desempenho térmico dos iglus………….………..…………………………...18
Figura 2: Casa de Taipa no sertão do Ceará……….………..………………………….19
Figura 3: Zoneamento bioclimático brasileiro……….……...…………………………...21
Figura 4: Carta bioclimática de Natal…………...….………..…………………………...23
Figura 5: Configuração da malha urbana influenciando no fluxo de ar……….……...24
Figura 6: Trocas térmicas entre o corpo e o ambiente…………….…………………...26
Figura 7: Mulher suada após prática de atividade física……….………..………….....29
Figura 8: Entrada principal da Academia Pulse Health & Fitness……….…….……..31
Figura 9: Vista da recepção…………………………………………….…….…….……..32
Figura 10: Salão de musculação…………………...………………….…….…….……..32
Figura 11: Vista do átrio central……………………………..…………….....…….……..33
Figura 12: Iluminação natural no átrio central……………………………....…….…….33
Figura 13: Perspectiva da Academia Hi-fit……………………………….....…….……..34
Figura 14: Salão de Musculação…………………....…………………….....…….……..35
Figura 15: Vista superior do complexo WM Fitness…………...……….....…….…….36
Figura 16: Salão de Musculação………….…………..…..…………….....…….……….36
Figura 17: Sala de aula multiuso………………………..…..…………….....…….……..36
Figura 18: Pista de caminhada………………………..…..………...…….....…….…….37
Figura 19: Elementos de paisagismo………………………..…..……….....…….……..37
Figura 20: Vista da fachada principal………………………..…..……….....…….……..38
Figura 21: Painel vazado visto do interior………………………..…...….....…….…….38
Figura 22: Integração com a natureza……………………...…...…….........…….……..38
Figura 23: Perspectiva da Casa Brise……………………...…...…….........…….……..39
Figura 24: Átrio da Casa Brise……………………...…...……………..........…….……..40
Figura 25: Cobertura verde……………………..…...…...…………….........…….……..40
Figura 26: Traços contemporâneos da Casa Brise……………………..…….….…….40
Figura 27: Carta solar de Natal…...………………………...………….........…….……..42
Figura 28: Rosa dos ventos de Natal……………...……………………..…….….…….42
Figura 29: Zona Especial de Interesse Turístico 01 (ZET-1)................…….….……..42
Figura 30: Localização do terreno…………………………………..........…….….…….46
Figura 31: Características físicas do terreno……………….……..........…….….……..47
Figura 32: Insolação e ventilação no terreno………............................…….….……..47
Figura 33: Registro de barreiras no entorno do terreno….……………………......…..48
Figura 34: Fluxograma geral………………………………...……………………...…….53
Figura 35: Fluxograma específico dos ambientes…………………….…………...…...53
Figura 36: As características de uma janela……..…………………………..…...…….55
Figura 37: Evolução da proposta em vista de topo....……..………………..…......…..55
Figura 38: Zoneamento horizontal da proposta três.………………………..…...…….57
Figura 39: Zoneamento da proposta três a partir da volumetria……….…..…...…….58
Figura 40: Zoneamento horizontal final da edificação.………………………..…....….59
Figura 41: Zoneamento geral final do terreno.………………………..…...……………60
Figura 42: Zoneamento da proposta final a partir da volumetria.…………….……….60
Figura 43: Vista da entrada do bloco 1……………………..…………..……….……….62
Figura 44: Vista da entrada do bloco 2.……………………………….……..….……….63
Figura 45: Castelo D'água modelo TBL 15004 da Faz Forte.…………….……..…….64
Figura 46: Gráfico comparativo entre lajes em concreto armado e protendido.…….65
Figura 47: Detalhamento de telhado verde com sistema Alveolar……………..……..66
Figura 48: Forro de Pinus.…………….……..……………………………………………67
Figura 49: Piso Intertravado 16 faces Oterprem……………………..…………..……..67
Figura 50: Aplicação de placas de concreto em calçadas……………..………..…….68
Figura 51: Piso laminado Durafloor cor Carvalho Gante da linha Sense…………….68
Figura 52: Camadas do sistema hidropônico de Jardim Vertical………...……….…..69
Figura 53: Modelo de ventilador Elefant usado em ambientes esportivos………......71

LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Variáveis de conforto térmico……….…………...…………………………...26
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Tabela 1: Número de trocas de ar e suas funções…………………….…...29
Tabela 2: Prescrições urbanísticas para a ZET-1……………………..….……….…...44
Tabela 3: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor funcional...49
Tabela 4: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor
administrativo……………………………………………………………………………….50
Tabela 5: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do apoio técnico......50
Tabela 6: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor de
serviços………………………………………………………………………………………51
Tabela 7: Programa de necessidades e pré-dimensionamento da área externa.......51
Tabela 8: Resumo das áreas……...………………………………………………………52
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO………….…………………………………………………...13
1. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA ARQUITETURA………………….17
1.1. O pioneirismo da Arquitetura Vernacular no bioclimatismo……….....18
1.2. Conceitos da Arquitetura Bioclimática………………………………..20
2. CONFORTO TÉRMICO EM ACADEMIAS DE GINÁSTICA............. 25
3. REFERÊNCIAS PROJETUAIS………………………………….....…..30
3.1. Academia Pulse Health & Fitness.....………… ………….…………..31
3.2. Academia Hi-Fit……………………………………………………....33
3.3. Academia Wm Fitness...…………………………………………...….35
3.4. Fábrica e Escritório DESINO Eco….…………………………………37
3.5. Casa Brise………......…...…………………………………………….38
4. CONDICIONANTES PROJETUAIS…………………………………...41
4.1. Universo de Estudo e Recortes Espaciais...............................………...41
4.2. Condicionantes Legais………………..…….........................................43
4.3. Análise do terreno………...………..……....………………………….45

5. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ DIMENSIONAMENTO...49

6. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA.………….….……………....54

6.1. Conceito………………………………………..……………………...54

6.2. Estudos volumétricos e zoneamento..…….…………………………..55


6.3. Partido arquitetônico..…..…………..………………………………...61
7. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO ……….………..….. 62
7.1. Dados gerais do edifício..……………………………. ……………… 62
7.2. Reservatório de água...………………………………………………...63
7.3. Sistema de proteção e combate a incêndio……………….…………….65
7.4. Sistema construtivo e cobertura………………………………………...65
7.5. Escolhas materiais……………………………………………………...67
7.6 Taxa de renovação de ar e soluções alternativas de conforto…......……..70
CONSIDERAÇÕES FINAIS.…...……………………………………………. 72
REFERÊNCIAS.…...………………………………...…….…………………. 73
APÊNDICES.…...………………………………...………..….……………… 77
Apêndice A - Resultados do cálculo da taxa de renovação de ar…….………...77
INTRODUÇÃO
No ano de 2013, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o excesso de peso atingia
56,9%, ou 82 milhões de pessoas no Brasil (SALES, 2015). O IBGE divulgou ainda
que no ano de 2017, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD), 62,1% dos brasileiros com 15 anos ou mais não praticaram qualquer esporte
ou atividade física em 2015 (SALES, 2015). Apesar destes resultados terem apontado
a pouca prática de exercícios físicos e os descuidos com a saúde física, essa realidade
se apresenta hoje de uma maneira diferente com o sucesso das academias de
ginástica no país.
O Brasil foi, em 2017, o segundo maior mercado de academias em número de
estabelecimentos, contando com 34.509 unidades e ficando atrás apenas dos
Estados Unidos, sendo também o quarto maior contingente de praticantes de
atividade física de forma orientada em uma academia com 9,6 milhões de usuários
(crescimento de 21,5% em relação à 2016) e o décimo em faturamento com 2,1
bilhões de dólares (MUNAIER, 2017). Os dados mostram que mesmo diante de uma
crise econômica que assola a economia do país, o mercado fitness tem potencial e
continua em crescimento com cada vez mais adeptos.
Em Natal, Rio Grande do Norte, essa tendência também se confirma. Os três
maiores shoppings da cidade (Midway Mall, Natal Shopping e Norte Shopping)
contemplam franquias de academias de ginástica em seu interior que foram abertas
em não mais do que três anos e apresentam um intenso fluxo de alunos nos horários
de pico. Quanto às academias de bairro, são em sua maioria empreendimentos locais
de pequeno e médio porte. Só no bairro de Capim Macio funcionam hoje o total de
sete estabelecimentos. Em relação às de grande porte, existem atualmente a
BodyTech, famosa rede nacional, e a Pulse, montadas na região central da cidade
visando classes mais altas e com a proposta de serem mais que um simples espaço
com aparelhos para musculação.
Para a arquiteta Patrícia Totaro, especialista em projetos esportivos, os clientes
enxergam a academia como um local de lazer e para isso é preciso transformá-la em
um local atraente, que vai concorrer com a praia, o parque, o cinema, o bar...Segundo
arquiteta, “...a arquitetura da academia é peça fundamental para encantar e
proporcionar conforto ao aluno” ( TOTARO, 2007, p.1). Infelizmente, com o mercado
13
fitness a todo vapor e a abertura de tantos estabelecimentos em Natal nos últimos
anos, critérios relacionados a promoção do conforto ao aluno não têm sido levados
em consideração.
A partir de uma observação pessoal feita pela autora em seis academias da
cidade, sendo duas delas localizadas em shoppings, constatou-se um problema.
Notou-se como é comum a utilização de sistemas de ar-condicionado split para resfriar
os ambientes, assim como encontrar janelas fechadas (quando existentes) durante os
horários de funcionamento do local, resultando em espaços com temperaturas
altamente contrastantes com o exterior, sem renovação do ar e que reúnem
aglomerações de pessoas suando o dia inteiro. Sem contar que, nos horários de maior
insolação, os aparelhos dificilmente dão conta de resfriar um ambiente onde as usuais
fachadas de vidro encontram-se desprotegidas. É uma sensação de extrema
dependência do sistema, que caso precise ser desligado ou quebre afetará
diretamente no conforto térmico dos usuários por não haverem alternativas eficientes
previstas. Mas, mesmo enquanto ligados, podem trazer uma série de malefícios
também.
Diante da ascensão do setor fitness na economia e com base nas observações
feitas, esse trabalho parte do seguinte questionamento: Como tornar as academias
de ginástica em ambientes menos insalubres?
O fato da autora ser frequentadora de academias de ginástica há dez anos,
conduziu à escolha do tema, que foi motivada pelo contato direto com a problemática
identificada. Quem pratica atividades físicas está sujeito à uma série de alterações no
organismo como o aquecimento corporal e a variação da frequência cardíaca e
respiratória. Dessa forma, o uso da refrigeração artificial, apesar de tornar ambientes
quentes mais suportáveis, pode prejudicar a saúde dos usuários de academia ou não
ser confortável para eles. Por isso, surge a necessidade de explorar o conforto
ambiental de outra perspectiva, levando em consideração essas condições
específicas de quem encontra-se em atividade intensa.
Fora a preocupação com a salubridade dos ambientes e com o conforto das
pessoas, o arquiteto deve ter em mente também o seu papel social de respeitar a
saúde do planeta, preocupando-se com o esgotamento dos recursos naturais e
minimizando impactos ambientais sempre que possível. “No quesito consumo de
energia em Edifícios Comerciais, estima-se que o uso do ar-condicionado represente

14
de 30% a 40% do consumo total de energia” (LOPES, S/D). Dessa forma, acredita-se
que adotar sistemas passivos de climatização em academias de ginástica, ou seja,
aquelas estratégias “obtidas fundamentalmente a partir das potencialidades do clima
do local e de características da envoltória e da massa construtiva das edificações…”
(GODINI,2018), além de ser vantajoso para o usuário, podendo garantir a qualidade
do ar e a temperatura ideal para a prática de atividades físicas, é interessante também
do ponto de vista do consumo energético, permitindo a redução da carga térmica
interna sem gastos de energia.
Visto isso, o objetivo geral deste trabalho consiste em elaborar o anteprojeto
de uma academia de ginástica utilizando sistemas passivos de climatização para a
promoção do conforto térmico. Para atingir esse objetivo geral, foram traçados os
seguintes objetivos específicos: i) definir o que é considerado uma situação de
conforto térmico em um ambiente voltado para a prática de exercícios; ii) estudar o
que são sistemas passivos de climatização e suas vantagens; e iii) compreender o
que define o porte de uma academia de ginástica.
A nível de estudo, o equipamento foi locado em Ponta Negra, bairro de Natal
com alto potencial paisagístico, infraestrutura consolidada e uma legislação mais
restritiva quanto à verticalização na região próxima à praia, favorecendo o
aproveitamento da ventilação natural.
Além disso, para alcançar as metas estabelecidas foi preciso buscar uma
metodologia que fundamentasse o processo investigativo e projetual, auxiliando na
definição das etapas a serem seguidas durante a elaboração do trabalho. Para isso,
fez-se um paralelo entre a versão 6.1 do sistema de “solução criativa de problemas”
(em inglês, CPS - CREATIVE PROBLEM SOLVING), desenvolvida por Isaksen,
Treffinger e Dorval (2010), e Silva (1998).
Como resultado, tem-se uma estruturação textual em duas partes: uma teórica,
voltada principalmente para a investigação da problemática e construção de
repertório, e outra operacional, contemplando o processo projetual em si.
A primeira parte contém todo o embasamento teórico necessário para o
desenvolvimento da proposta de projeto, onde é possível compreender o que são
sistemas passivos de climatização e suas vantagens, explorar as condições de
conforto térmico em ambientes destinados à prática de atividades físicas e ver as

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obras de relevância nacional e/ou internacional que serviram como referência para o
projeto, seja no aspecto funcional, formal ou estrutural.
A segunda parte inicia-se com a preparação da ação projetual, onde são
apresentadas as informações a respeito do universo de estudo e das limitantes que
influenciaram no desenvolvimento da proposta, e finaliza com a apresentação do
anteprojeto em si, onde encontra-se todo o processo de concepção até o memorial
descritivo, que engloba a descrição geral do equipamento e suas principais
especificações técnicas.

16
1. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA ARQUITETURA
Nas últimas décadas do século XX, fatores como a crise do petróleo, o
crescimento populacional, as preocupações com o clima global e o esgotamento dos
recursos naturais fizeram com que a eficiência energética ganhasse importância e
entrasse em pauta na agenda mundial.

No Brasil, após a crise energética de 2001, a eficiência energética se


estabeleceu como meta no país, resultando na publicação de leis e normas referentes
ao desempenho térmico e iluminação natural em edificações, uma vez que elas são
responsáveis por 42% de toda energia consumida no país (LAMBERTS; DUTRA e
PEREIRA, 2014).

Em relação ao consumo total de energia elétrica em edificações no país, o setor


comercial ocupou em 2011 o segundo lugar, ficando atrás apenas do setor residencial
(EPE, 2012), tendo o ar condicionado (47%) e a iluminação artificial (22%) como as
maiores fontes de gastos (ELETROBRÁS, 2007). Como esses gastos estão
intimamente ligados à promoção do conforto de um ambiente, se previstos
corretamente durante a fase projetual é possível reduzi-los, sendo este atualmente
um dos grandes desafios dos arquitetos.

Diante desse quadro, os conceitos da bioclimatologia aplicada à arquitetura


tiveram sua importância resgatada, pois além de buscarem o conforto térmico dos
usuários, atuam diretamente na redução do consumo energético por priorizarem o uso
dos sistemas passivos de climatização, que são aqueles capazes de promover o
aquecimento ou resfriamento de ambientes a partir do aproveitamento das
potencialidades do clima e de características da envoltória e da massa construtiva das
edificações.

Apesar da relevância desses conceitos na atualidade, em razão da ausência


de energia elétrica e de tecnologias mais avançadas que pudessem suprir as
necessidades de conforto ambiental, as civilizações mais antigas já demonstravam ter
essa preocupação de adequar suas construções às características climáticas locais,
tendo sido alguns de seus conhecimentos transmitidos de geração para geração e
caracterizando aquilo que hoje recebe o nome de Arquitetura Vernacular.

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1.1. O pioneirismo da Arquitetura Vernacular no bioclimatismo
O termo “vernacular” representa para a arquitetura aquela construção com
técnicas e materiais originários de uma região específica, refletindo as singularidades
de um povo e de um lugar (FERREIRA, 1999). Ela é considerada simples e isenta de
estrangeirismos, cujos conhecimentos tradicionais foram sendo transmitidos ao longo
dos anos

Segundo Teixeira (2017), a Arquitetura Vernacular responde satisfatoriamente


às exigências climáticas do meio onde se situa. É por isso que geralmente as casas
construídas em climas frios são compactas, com pouquíssimas aberturas para o
exterior, enquanto casas situadas em regiões desérticas com alta variação de
temperatura entre os dias e as noites possuem paredes espessas. Em climas
tropicais, o uso da varanda e telhados com grandes beirais é recorrente.

O uso de matérias-primas disponíveis no local também é uma forte


característica desse tipo de arquitetura. Os iglus (Figura 1), por exemplo, são abrigos
feitos de gelo em zonas extremamente frias, com o único material encontrado em
abundância em um clima tão hostil. Fora a abundância, outro fator que justifica seu
emprego são suas propriedades térmicas, atuando como um bom isolante térmico ao
conservar o calor no interior.

Figura 1: Desempenho térmico dos iglus

Fonte: #Refúgio Mental, 2017.


No Brasil, devido a grande extensão territorial, surgiram tipologias
diferenciadas, cada qual carregando as particularidades de sua região. Para Agnol e
Almeida (2016), os materiais e técnicas utilizados na Arquitetura Vernacular brasileira
18
são variados, sendo a madeira e o barro os mais frequentes. As autoras destacam
ainda a casa de taipa (Figura 2), modelo popular em várias regiões, sobretudo no
interior do Nordeste. Esta técnica carrega consigo o estigma de ser anti-higiênica,
mas, quando utilizada corretamente, ela demonstra ser bastante resistente e
econômica, de qualidade social e ambiental, adequando-se às necessidades dos
lugares de clima árido (ALMEIDA, 2007).

Figura 2: Casa de Taipa no sertão do Ceará

Fonte: Natural Fotografias, 2008.

Por utilizar materiais encontrados no próprio local e se adequar às condições


climáticas, as construções vernaculares são consideradas sustentáveis,
apresentando baixo impacto ambiental. Em consequência do seu caráter primitivo,
não fazendo uso de tecnologias avançadas, demonstram ser também
economicamente viáveis.

Apesar de suas vantagens, esse modelo hoje é criticado por ser repetitivo,
informal e pouco inovador. Acontece que a Arquitetura Vernacular é normalmente
produzida por povos que dispõem de um nível tecnológico bem menos avançado,
nível este que inclui não só os aspectos especificamente construtivos, mas também
os referentes aos transportes, comunicação, etc (TEIXEIRA, 2017). Por isso, existe
uma certa resistência quanto ao seu uso. Em consequência, os exemplos tradicionais
dessa arquitetura ainda vivos são mais comumente encontrados nos interiores.

19
Com o avanço da tecnologia, apareceram novos materiais como o aço, o
concreto e o vidro, assim como novas soluções de iluminação e condicionamento
artificial, fazendo com que os métodos mais antigos entrassem em desuso
principalmente nos centros urbanos, onde a tradição acabou perdendo o lugar para
edifícios mais novos, mais caros e não necessariamente mais eficientes. A arquitetura
se internacionalizou, deixando de lado as especificidades que cada lugar apresenta.

Com a retomada dos conceitos bioclimáticos diante da problemática energética


vivenciada, a Arquitetura Bioclimática passou a atuar nos centros urbanos com traços
semelhantes aos da Arquitetura vernacular, oferecendo diretrizes projetuais que
respeitam as exigências climáticas do meio, porém sem ser primitiva, adequando-se
às tecnologias avançadas e orientando a maneira mais eficiente de usá-las.

1.2. Conceitos da Arquitetura Bioclimática


Entende-se por BIOCLIMATOLOGIA ou BIOCLIMATISMO o estudo dos climas
(climatologia) para a utilização de elementos e fatores climáticos que promovam o
bem-estar dos seres vivos. O bioclimatismo aplicado à Arquitetura iniciou-se
oficialmente na década de sessenta com os irmãos Olgyay, considerados os primeiros
a adotar a expressão “Projeto Bioclimático” (BOGO et al., 1994).

A chamada Arquitetura Bioclimática busca associar a bioclimatologia a


elementos construtivos, fornecendo orientações de como estruturar o projeto
arquitetônico de acordo com as características do clima de cada local, otimizando a
utilização dos sistemas passivos e promovendo assim condições de conforto
ambiental com gastos energéticos mínimos.
A partir desta compreensão, antes de dar início à proposta arquitetônica
propriamente dita, é importante que o arquiteto conheça inicialmente o
comportamento do clima em seu universo de estudo, para então poder identificar
quais estratégias projetuais são mais apropriadas.
A fim de orientar nesse processo, a NBR 15220-3 (ABNT, 2005) estabeleceu
um zoneamento bioclimático (Figura 3), subdividindo o Brasil em oito zonas
diferenciadas, definindo as características principais de cada uma e indicando suas
respectivas diretrizes construtivas, como o dimensionamento de janelas, o
sombreamento necessário e o tipo ideal de paredes e coberturas.

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Figura 3: Zoneamento bioclimático brasileiro

Fonte: ABNT, 2005.

A cidade de Natal/RN, por exemplo, universo de estudo deste trabalho,


pertence a Zona Bioclimática 8 juntamente com outras cidades, tendo como principais
diretrizes construtivas o uso de aberturas grandes e sombreadas, o uso de paredes e
coberturas leves e refletoras e o uso de ventilação cruzada permanente durante todo
o ano, sendo esta última apontada como a estratégia de condicionamento térmico
passivo de maior potencial (ABNT, 2005).
Apesar da norma ser bem informativa e orientativa, suas diretrizes são
destinadas às habitações unifamiliares e de interesse social. Lamberts, Dutra e
Pereira (2014) justificam que isso se deve ao maior potencial de utilização de sistemas
passivos do setor residencial. Nos setores comerciais, considerando suas

21
especificidades e necessidades de agradar o público, é mais recomendável a
integração entre sistemas passivos e ativos (de preferência os mais econômicos) a
fim de aumentar a eficiência energética sem comprometer o conforto dos usuários.
Assim, as diretrizes da norma podem sim servir de base para o projeto de uma
edificação comercial, desde que se atente para as exigências de cada tipo de uso.
Holanda (1976), baseado em sua atuação como arquiteto durante oito anos no
Nordeste, também fornece em forma de roteiro uma série de soluções arquitetônicas
consideradas por ele como primordiais para se construir no clima quente e úmido
dessa região. As orientações dele coincidem com as da NBR 15220-3, ressaltando a
importância da ventilação cruzada e da proteção da edificação da radiação solar direta
a partir do sombreamento. Fazer uso do pé-direito alto, vazar os muros, criar espaços
contínuos e trazer o verde para dentro são algumas de suas recomendações.
Outra ferramenta útil na compreensão do comportamento climático de cidades
são as cartas bioclimáticas. Elas permitem a visualização das condições térmicas ao
longo do ano em determinado local e a aplicação de estratégias de acordo com as
zonas estabelecidas. A carta bioclimática de Natal (Figura 4), por exemplo, indica que
uma arquitetura com boa ventilação natural pode resolver os problemas de
desconforto causado por calor em 83,5% das horas do ano (LAMBERTS, DUTRA e
PEREIRA, 2014).
Em pesquisa realizada por Pedrini e Trindade (2010), foi possível confirmar
também por meio de simulações termo-energéticas que as soluções de
sombreamento e orientação adequados de edifícios no clima quente e úmido de Natal
refletem diretamente na diminuição do consumo de energia com ar-condicionado,
tendo sido o sombreamento responsável pela maior parcela da economia gerada.

22
Figura 4: Carta bioclimática de Natal

Fonte: Produzido pela autora, com base em Lamberts (S/D).

Para que sejam obtidos resultados satisfatórios, os conceitos da Arquitetura


Bioclimática devem ser considerados durante todo o processo projetual, abrangendo
desde o estabelecimento do partido arquitetônico e a análise do terreno até as
escolhas formais e materiais.
Além dos estudos macroclimáticos, que são os relacionados ao
comportamento do clima na região onde o edifício será construído, Grigoletti (2005)
defende que a abordagem de um projeto bioclimático deva considerar também a
escala mesoclimática e a microclimática.
A escala mesoclimática corresponde ao entorno da edificação, como o bairro
e construções vizinhas, por exemplo. Em relação a essa escala, a autora indica a
verificação das condicionantes legais, que limitam questões como o gabarito e recuos,
e o registro de possíveis barreiras próximas que possam interferir na ventilação e
insolação direta da edificação a ser projetada (Figura 5).
Já a escala microclimática corresponde ao lote e a edificação, onde Lamberts,
Dutra e Pereira (2014) atentam para a análise das características físicas do terreno
(dimensões, orientação, topografia e vegetação existente) e da função da edificação.
Segundo eles, a análise da função é importante pois define parâmetros como a
vestimenta mais provável que os usuários utilizarão nos ambientes, suas atividades e
os horários críticos de uso, sendo primordial na escolha de estratégias bioclimáticas.
Edificações de uso residencial, comercial e público são distintos do ponto de vista da

23
dependência do clima. Em museus, por exemplo, mesmo quando situados em climas
frios, a radiação solar é indesejável pois pode danificar as obras de arte, enquanto em
residências no mesmo local o aproveitamento da radiação pode ser interessante para
tornar o ambiente termicamente confortável no período de inverno.
Após estudadas todas as escalas, é possível começar a pensar na orientação
solar adequada dos compartimentos, nas escolhas materiais, decisões formais, na
localização das aberturas e proteções solares, no sentido das águas da cobertura nos
elementos a serem explorados ou evitados, entre outras soluções.
No final de cada proposta projetual, o ideal é que sempre sejam feitas
simulações para avaliar o desempenho do edifício, verificando a eficácia das decisões
tomadas durante o processo e realizando alterações caso necessário. Mas, a falta de
ferramentas de simulação acessíveis à grande maioria dos arquitetos ainda inviabiliza
o sucesso da arquitetura bioclimática (TRINDADE, 2006). Os programas que
oferecem a análise completa do desempenho energético em edificações, por
exemplo, são escassos e de alta complexidade, requerendo normalmente uma
pessoa treinada para sua operação.

Figura 5: Configuração da malha urbana influenciando no fluxo de ar

Fonte: Bittencourt e Cândido, 2010.

24
2. CONFORTO TÉRMICO EM ACADEMIAS DE
GINÁSTICA
Na Arquitetura, quando se trata em proporcionar o máximo de satisfação
possível ao usuário de uma edificação, prevendo espaços com condições ambientais
satisfatórias que o permitam sentir-se confortável, e ao mesmo tempo economizar
energia, o conforto térmico é sem dúvidas um dos principais critérios a ser
considerado na hora de projetar.

A sensação de conforto ou desconforto proporcionada pelo corpo humano


ainda é considerada a melhor solução para avaliar o desempenho térmico de
edificações (LABCON, S/D), embora não seja um processo tão simples por envolver
uma série de fatores de natureza não apenas física e fisiológica, mas como também
psicológica.

A Organização Americana dos Engenheiros da área de Aquecimento,


Refrigeração e Ar-condicionado (ASHRAE do inglês American Society of Heating,
Refrigerating and Air-Conditioning Engineers) define o conforto térmico como uma
condição mental que expressa satisfação com o ambiente. O homem é um ser
homeotérmico, ou seja, sua temperatura interna tende a se manter constante
independente das condições climáticas. Entretanto, sempre existem trocas térmicas
entre o ser humano e o meio (Figura 6). Quando esse balanço não é estável, isto é,
quando há diferenças entre o calor produzido pelo corpo e o calor perdido para o
ambiente, tem-se o desconforto térmico.

Essas trocas de calor entre o corpo e o meio são influenciadas pelas variáveis
de conforto térmico, que podem ter natureza ambiental, pessoal ou outras (Quadro 1).
A nível de estudo, as disciplinas de conforto ambiental consideram apenas seis
dessas variáveis como as principais: as quatro variáveis ambientais, que são a
temperatura do ar, movimento do ar, umidade relativa do ar e a radiação térmica, e a
vestimenta e a atividade metabólica, que são chamadas de variáveis pessoais por não
depender do meio.
Tem-se a neutralidade térmica quando o calor produzido pelo corpo é igual ao
calor perdido para o ambiente, e apesar dela ser uma condição para se obter conforto
térmico, não garante a sensação de conforto em si. É possível encontrar pessoas
reclamando do desconforto térmico mesmo quando as condições ambientais são
25
favoráveis se estiverem estressadas, por exemplo. Por outro lado, pessoas podem
estar satisfeitas em condições desfavoráveis se estiverem muito motivadas ou já
habituadas.

Figura 6: Trocas térmicas entre o corpo e o ambiente

Fonte: Lamberts, S/D.

Quadro 1: Variáveis de conforto térmico

Fonte: Produzido pela autora, com base em LABCON (S/D).

Além disso, devido às especificidades biológicas de cada pessoa é improvável


que todos os ocupantes de um mesmo ambiente se sintam confortáveis termicamente.
Por isso, a arquitetura busca criar condições de conforto para o grupo, ou seja,
condições nas quais a maioria sinta-se confortável.

26
Em meio a tantos fatores e variáveis que podem influenciar no conforto térmico,
alguns pesquisadores fizeram tentativas de estabelecer índices para predizer
situações de conforto ou desconforto de um grupo. Dentre eles, destaca-se Fanger
(1972). Através de um trabalho experimental, Fanger criou um banco de dados com
avaliações de pessoas de diferentes nacionalidade, idades e sexos, onde o Voto
Médio Predito (PMV do inglês Predicted Mean Vote) consiste em um valor numérico
que traduz a sensibilidade humana ao frio e ao calor (negativo para frio, positivo para
calor e zero para conforto térmico).

Embora este índice continue sendo o mais utilizado mundialmente entre


pesquisadores e projetistas e adotado em normas internacionais de conforto térmico
como a ISO 7730 (1994) e a norte-americana ASHRAE 55 (2010), seu uso tem sido
questionado por não se aplicar adequadamente a regiões de clima tropical e a
edificações naturalmente ventiladas.

A análise de cartas psicrométricas ainda é o método mais utilizado no Brasil


por considerar a ventilação natural e permitir ajustes em função de diferentes
estratégias projetuais, tendo como desvantagem apenas o fato de desconsiderar a
influência das variáveis pessoais.

Estudos que buscam otimizar o conforto e a eficiência energética em ambientes


destinados a prática esportiva encontram dificuldades para estabelecer uma situação
de conforto térmico. Até o momento, não há normas direcionadas a centros fitness
(ZHAI et al., 2015). A ASHRAE 55 e ISO 7730, além de apresentarem as limitações
vistas acima, foram desenvolvidas com foco nas atividades sedentárias, sendo útil
apenas para ambientes como escritórios, por exemplo.

Na ausência de normas que estabeleçam padrões de conforto para


instalações esportivas, o Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM)
recomenda manter a temperatura do ar em todos os espaços voltados para a prática
de atividades físicas entre 20 e 22 ºC, com umidade relativa em níveis inferiores a
60%. Já a Associação Internacional Fitness (IFA) recomenda que as academias que
oferecem atividades aeróbicas, treinamento com pesos, cardio e pilates tenham
temperaturas entre 18 e 20 °C.

27
Trazendo esses dados para a realidade do Brasil, nota-se que essas
temperaturas são consideradas baixas aqui, principalmente para cidades de clima
quente e úmido como Natal, onde a temperatura média nos meses de verão é de 27°C
e de 24°C no inverno¹. Possivelmente, as condições recomendadas por essas normas
só seriam atingidas no Nordeste em espaços climatizados artificialmente.

Diante da inexistência de dados que comprovem a coerência dessas


recomendações, alguns pesquisadores (JONES, HSIEH e HASHINAGA, 1986;
REVEL e ARNESANO, 2014; GUÉRITÉE e TIPTON, 2014; ZHAI et al., 2015)
buscaram verificar como se dá a influência das variáveis ambientais durante a prática
de exercícios físicos, e conseguiram comprovar que o movimento de ar é essencial
para a satisfação térmica, enquanto a radiação e a umidade podem ser indesejáveis.

Acontece que durante a prática de exercícios é gerado calor pelo metabolismo.


Diante da situação de stress térmico, o organismo ativa mecanismos
termoreguladores para manter a temperatura interna do corpo constante. Nesse caso,
ocorre a vasodilatação, provocando o aumento da temperatura da pele devido às
perdas de calor por convecção e radiação. O suor produzido pelos poros é outro
mecanismo ativado, que se acumula na pele quando não consegue ser
completamente evaporado (Figura 7).

O vento quando em velocidade e em contato com a pele acelera as perdas de


calor por convecção e a evaporação do suor, compensando o ganho térmico causado
pelo exercício e promovendo a sensação de conforto. Já a radiação térmica aumenta
ainda mais a temperatura da pele, enquanto a umidade do ar dificulta o processo de
perda de calor por evaporação. Apesar disso, o ar muito seco também pode gerar
desconforto de outras naturezas, como ressecamento das mucosas, irritação da pele
e dos olhos e geração de eletricidade estática. Deve-se atentar também para quando
o ar tiver temperaturas superiores a 34°C, tornando a ventilação ineficiente na
promoção do resfriamento da pele (BOWEN, 1981 apud BITTENCOURT e CÂNDIDO,
2010).

__________________________________________________________________
¹ Disponível em: https://pt.climate-data.org/location/2030/
28
Figura 7: Mulher suada após prática de atividade física

Fonte: Saboridades, 2013.

Lamberts, Dutra e Pereira (2014) destacam ainda que o uso abundante do


movimento de ar em academias de ginástica além de ser vantajoso (do ponto de vista
do resfriamento), também é importante para a higiene do local. Para garantir a
qualidade do ar de um ambiente, é necessário que existam trocas de ar. A ASHRAE
(2005) indica para ginásios esportivos a média de cinco a trinta trocas por hora,
enquanto Garde et al (2001 apud LABCON, S/D) correlacionam essa taxa com
três funções diferentes da ventilação:

Tabela 1: Número de trocas de ar e suas funções

Fonte: GARDE et al, 2001 apud LABCON, S/D.

29
3. REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Conforme apresentado, um projeto que busca gastos energéticos mínimos e
ao mesmo tempo o conforto de seus usuários deve levar em conta tanto as
especificidades do clima quanto as do uso proposto.
Tanto para academias de ginásticas quanto para o clima de Natal, a ventilação
natural demonstra ser a estratégia passiva de maior potencial, sendo importante para
garantir a qualidade do ar do ambiente e o resfriamento da edificação e do usuário.
No entanto, é importante prever equipamentos de baixo consumo para suprir ou
potencializar essa condição quando necessário, pois a velocidade do vento pode
oscilar em determinadas horas do dia e épocas do ano.
Já a radiação térmica e a radiação solar direta, devem ser evitadas sempre que
possível, pois comprometem o conforto do praticante de atividade física e aumentam
a carga térmica da edificação, gerando mais calor para o ambiente.
As diretrizes projetuais apontadas em tópicos anteriores, como as da NBR
15220-3 (ABNT, 2005) e de Holanda (1976), são adequadas à essas condições e
deverão ser consideradas na hora de projetar. Porém, a fim de expandir o repertório,
serão apresentados a seguir os estudos de referência considerados relevantes para
o desenvolvimento da proposta no ponto de vista funcional, formal, material e
estrutural, mantendo sempre como foco os conceitos bioclimáticos.
Foram ao todo escolhidos cinco projetos, sendo três deles referentes a
academias de ginástica situadas em Natal/RN e outros dois de diferentes usos
localizados no Vietnã, país de clima tropical úmido semelhante ao Brasil cujas
estratégias bioclimáticas adotadas podem servir de base para o projeto. Para os três
primeiros foi possível realizar a análise in loco (estudo direto), quanto aos demais as
informações foram obtidas unicamente através de pesquisas online (estudos
indiretos).

30
3.1. Academia Pulse Health & Fitness
A Pulse Health & Fitness é uma das maiores e mais conceituadas academias
de ginástica de Natal (RN), contando com aproximadamente dois mil alunos ativos.
Ela se localiza no bairro de Lagoa Nova, região central da cidade, em um lote em
declive, situada no cruzamento entre as ruas Aloísio Bezerra e Dr. José Gonçalves.
A edificação projetada no ano de 2014 pelo escritório RoccoVidal Perkins+Will
possui quatro andares e aproximadamente 4.200 metros quadrados de área
construída, tendo como diferencial no setor o fato de contemplar espaços de
convivência como restaurante, brinquedoteca, loja de suplementos e salão de beleza,
além de oferecer uma extensa e diversificada grade de aulas com atividades voltadas
a todas as idades e perfis de alunos. Musculação, ergometria, spinning, ginástica,
dança, lutas, treinamento funcional, cross training e yoga são algumas das
modalidades oferecidas.
A entrada da principal da academia acontece pela rua Aloísio Bezerra, onde
situa-se a chamativa fachada com o painel de brise-soleil de madeira e uma marquise
de concreto que se abre para a rua (Figura 8). O usuário tem acesso à recepção por
um deque de madeira, para onde voltam-se também as entradas de dois espaços
comerciais: um salão de beleza e uma lanchonete de comida saudável.

Figura 8: Entrada principal da Academia Pulse Health & Fitness

Fonte: Pulse Health & Fitness, 2017.

31
Ao entrar, tem-se logo de cara um balcão de recepção e uma parede de vidro
ao fundo (Figura 9), apresentando um pouco do que está por vir. Ainda neste nível da
recepção, encontra-se o salão da musculação (Figura 10), dividido em áreas de
equipamentos e de pesos livres, identificados pela diferença de pisos (piso
amadeirado e borracha de 15mm, respectivamente). O pé-direito duplo, a parede
espelhada também dupla e as lajes em concreto aparente são elementos que chamam
atenção e dão identidade ao ambiente.

Figura 9: Vista da recepção Figura 10: Salão de musculação

Fonte: Daniel Ducci. Fonte: Pulse Health & Fitness, 2017.

No pavimento superior está localizada a sala de spinning, o setor administrativo


(diretoria, avaliação física, reunião e administração) e o mezanino do salão de
musculação, onde ficam os equipamentos destinados às atividades cardiovasculares
e alongamento.
No quarto e último pavimento superior encontram-se mais três salas de aula
(sala de ginástica e dança, sala de lutas e sala de cross training) e um terraço,
pensado para ser um espaço multiuso e permitir a prática de atividades ao ar livre. A
sala de lutas é forrada de tatames, enquanto a sala de ginástica e dança possui piso
vinílico e espelhos.
No andar abaixo do nível da recepção encontram-se os vestiários masculino e
feminino, um pátio central com jardim, loja de suplementos, brinquedoteca,
estacionamento, bicicletário e toda a parte técnica e restrita da academia, como a
oficina de reparo de equipamentos e a área destinada aos funcionários (copa e
vestiários).

32
O átrio é o grande organizador e integrador do projeto, conectando
visualmente os quatro níveis da academia. É neste átrio onde também estão
localizados os sanitários individuais, a escada cascata em concreto aparente e os
elevadores. Além disso, é o espaço melhor iluminado naturalmente.

Figura 11: Vista do átrio central Figura 12: Iluminação natural no átrio central

Fonte: Daniel Ducci, 2014. Fonte: Pulse Health & Fitness, 2017.

Considerando os aspectos bioclimáticos, apesar dos ambientes serem todos


climatizados a partir do uso de ar condicionados tipo split, não fazendo uso da
ventilação natural, percebe-se a intenção do projetista em diminuir a carga térmica da
edificação e aproveitar a iluminação natural, com soluções de sombreamento, uso de
cores claras e vidros reflexivos nas fachadas.
As contribuições deste projeto para este trabalho incluem os aspectos
estruturais, funcionais, que servirão de base para a elaboração do programa de
necessidades e estabelecimento dos fluxos, e as escolhas materiais.

3.2. Academia Hi-Fit


A Hi-fit é uma academia de ginástica de médio porte localizada na Av. Odilon
Gomes de Lima, no bairro de Capim Macio. Ela conta com aproximadamente 900
alunos matriculados e oferece além da musculação as modalidades de dança,
funcional, lutas e spinning.
A edificação encontra-se dividida em três pavimentos: subsolo, térreo e
pavimento elevado. No térreo, por onde é dado o acesso principal, tem-se o balcão
de recepção, uma pequena sala administrativa, escada de acesso ao pavimento
superior, dois vestiários (um feminino e um masculino) e duas salas de aulas: a de

33
spinning, com capacidade para 12 alunos, e outra maior de multiuso, onde ocorrem
as aulas de funcional e dança. No pavimento superior, é onde está situado o salão de
musculação e mais duas pequenas salas que dão apoio à ele: a sala de avaliação
física e outra sala administrativa. Por fim, no subsolo, cujo acesso é dado pela escada
localizada externamente à academia ou pelo elevador, tem-se um grande tatame,
onde são ministradas as aulas de luta, uma lanchonete, dois banheiros (um feminino
e um masculino), uma sala de pilates e espaços comerciais (uma loja de roupas e
uma clínica odontológica).
O que chamou atenção na visita à Hi-fit é que ela se situa em uma região
extremamente ventilada e o projeto soube aproveitar essa potencialidade, como é
possível perceber com as suas grandes aberturas dispostas na fachada principal e
nas duas laterais (Figura 13). Para complementar a ventilação cruzada, é feito o uso
de ventiladores, principalmente no salão de musculação (Figura 14), onde as
atividades são intensas e com uma maior aglomeração de pessoas. A marquise,
destacada pela cor azul, atua como o único elemento de sombreamento dessas
aberturas, protegendo-as nas horas de sol a pino.

Figura 13: Perspectiva da Academia Hi-fit

Fonte: HI-FIT Academia, 2014.

34
Figura 14: Salão de Musculação

Fonte: Registrado pela autora.

3.3. Academia WM Fitness


A WM Fitness é um complexo horizontal composto por quatro blocos localizado
no bairro de Candelária, no cruzamento da Av. Sen. Salgado Filho e a Rua Militão
Chaves.
A academia de ginástica, situada no bloco identificado pelo numeral um (Figura
15), tem aproximadamente 1000 alunos matriculados e oferece além da musculação
as modalidades de dança, funcional, lutas e spinning. Seus espaços encontram-se
divididos em recepção, salão de musculação (Figura 16), área de vestiários (com
armários e banheiros), sala administrativa e duas salas de aula, sendo uma de
spinning e outra de uso multifuncional (Figura 17), onde ocorrem as demais aulas.
Externamente, tem-se uma varanda com mesas e lanchonete.
Os outros três blocos, apesar de não serem administrativamente ligados à
academia de ginástica, oferecem atividades consideradas complementares. O bloco
número dois, por exemplo, contempla lojas de roupa e clínicas de estética. Já o
terceiro, trata-se de um galpão onde são ministrados treinos de luta por outra
academia especializada na modalidade.

35
Figura 15: Vista superior do complexo WM Fitness

Fonte: GOOGLE MAPS, 2018.

Figura 16: Salão de Musculação Figura 17: Sala de aula multiuso

Fonte: wmfitnessrn, 2018. Fonte: wmfitnessrn, 2018.

Durante a visita, notou-se uma ventilação natural extremamente agradável na


área externa aos blocos. Mesmo com essa potencialidade, todos os ambientes da
academia são resfriados por ar condicionados modelo split. Quanto à iluminação,
apesar das janelas serem bem horizontais e de peitoril elevado, permitindo a entrada
da iluminação natural, às quatro horas da tarde as luzes já se encontravam acesas.

36
A pista de caminhada que rodeia o lote, o uso abundante de vegetação e os
espaços de convivência estabelecidos na área externa foi o grande diferencial
identificado nesse local, permitindo uma maior interação dos usuários com o exterior
(Figura 18 e 19).

Figura 18: Pista de caminhada Figura 19: Elementos de paisagismo

Fonte: wmfitnessrn, 2018. Fonte: wmfitnessrn, 2017.

3.4. Fábrica e Escritório DESINO Eco


O escritório Ho Khue Architects foi o responsável pelo projeto da fábrica da
Desino Garmet and Accessory no Vietnã, país de clima semelhante ao Brasil. O
principal objetivo dos arquitetos era promover um espaço de trabalho confortável e de
qualidade para os funcionários em um edifício com baixo custo de refrigeração,
contando com o uso da iluminação e ventilação natural e a criação de espaços verdes
para gerar temperaturas interiores agradáveis (MARTINO, 2018).
As paredes que compõem as fachadas (Figura 20) foram revestidas por painéis
vazados que permitem a ventilação natural em todo o edifício, além de terem sido
envoltas por plantas trepadeiras, que reduzem tanto a incidência de luz do sol quanto
de calor na edificação, atuando como um sistema de resfriamento passivo.
O uso de jardins no interior da edificação, o pé direito duplo e a permeabilidade
dos painéis vazados garantem espaços aconchegantes e sombreados fortemente
integrados com natureza (Figura 21 e 22), aspectos marcantes que contribuíram para
a escolha deste projeto como referência formal deste trabalho.

37
Figura 20: Vista da fachada principal

Fonte: ArchDaily, 2018.

Figura 21: Painel vazado visto do interior Figura 22: Integração com a natureza

Fonte: Hiroyuki Oki. Fonte: Hiroyuki Oki.

3.5. Casa Brise


A Casa Brise (Figura 23) é um projeto residencial desenvolvido pelo escritório
MIA Design Studio no ano de 2018 (CAVALCANTE, 2018) e ela reflete não apenas a
cultura de uma família vietnamita moderna, mas também a adaptação ao clima tropical
úmido da região, protegendo os moradores das altas temperaturas.

38
Pensando em conectar o estilo de vida dos clientes com a natureza, os
arquitetos decidiram começar a projetar o edifício a partir de um grande vazio no meio
(Figura 24). Este átrio, com água, iluminação zenital e plantas nativas, cria uma
ligação entre os espaços da casa e promove a ventilação natural, mantendo os
ambientes frescos.
A casa encontra-se voltada para o nascer do sol, recebendo a luz suave e direta
do início da manhã, mas também a luz forte e agressiva do meio do dia
(CAVALCANTE, 2018). Para resolver esse problema, foi criada uma cobertura verde
(Figura 25), que reduz o calor proveniente da luz solar em seu maior ângulo de
incidência, e brises verticais, para deixar a luz do sol da manhã entrar na casa sem
comprometer a ventilação. O jogo de sombras foi uma característica incluída no
projeto, aceitando a regra da natureza e brincando com ela.
Os traços contemporâneos esteticamente agradáveis presentes nas formas
retas, simples e limpas da edificação (Figura 26), alinhados às estratégias de
adequação ao clima, são características marcantes a serem aproveitadas.

Figura 23: Perspectiva da Casa Brise

Fonte: Hiroyuki Oki.

39
Figura 24: Átrio da Casa Brise Figura 25: Cobertura verde

Fonte: Hiroyuki Oki. Fonte: Hiroyuki Oki.

Figura 26: Traços contemporâneos da Casa Brise

Fonte: Hiroyuki Oki.

40
4. CONDICIONANTES PROJETUAIS
Respeitando as considerações de Grigoletti (2005), que defende a
abordagem do projeto bioclimático em três escalas, a macroclimática, mesoclimática
e microclimática, o presente capítulo tem como objetivo tratar das principais
diretrizes norteadoras para o desenvolvimento do anteprojeto e encontra-se
subdividido em três tópicos, apresentando primeiramente o universo de estudo onde
o lote está inserido e seu entorno imediato (escala macroclimática), depois fazendo
uma revisão da legislação atuante sobre o recorte espacial escolhido e o tipo de uso
estabelecido (escala mesoclimática), e, por fim, apresentando as características
físicas do terreno, a partir principalmente da análise da topografia, da ventilação, da
insolação e do registro de barreiras próximas (escala mesoclimática e
microclimática).

4.1. Universo de Estudo e Recortes Espaciais


O universo de estudo deste trabalho compreende a cidade de Natal, capital
do estado do Rio Grande do Norte, de clima tropical quente-úmido e com
temperaturas médias de 27°C nos meses de verão e 24°C no inverno, conforme já
mencionado.
Para adotar estratégias de projeto compatíveis com o clima da cidade, é
preciso considerar também a geometria solar e a predominância dos ventos (Figura
27 e 28). A incidência solar diária nas testadas Norte/Sul revela ser constante e
indireta, enquanto é parcial e direta em Leste, no turno da manhã, e Oeste, no turno
da tarde. Quanto aos ventos, a ventilação vinda do Sudeste predomina com maiores
velocidades ao longo do ano. Apesar disso, regiões mais próximas do mar sofrem
ainda influência das brisas marítima e terrestre, constituindo-se normalmente em
áreas mais potencialmente ventiladas.
Segundo ainda observações feitas entre outubro de 2002 e julho de 2018 pela
estação meteorológica do aeroporto de Natal, a velocidade média do vento é maior
de agosto a novembro, porém não difere muito dos demais meses (máxima
registrada de 7.2 m/s e mínima de 5.14 m/s). Quanto à variação ao longo do dia, os
ventos demonstram ser sempre mais fortes no período da tarde, o que é
interessante já que também é o turno onde a temperatura do ar costuma ser maior.

41
Visto isso, o recorte espacial escolhido para ser trabalhado é a ZET-1 (Figura
29), no bairro de Ponta Negra, Região Administrativa Sul da cidade. O potencial
paisagístico e ambiental do local, em razão da proximidade com o mar, aliado ao
gabarito limitado das edificações foram aspectos que contribuíram para essa
decisão, visto que influenciarão positivamente nas questões de conforto térmico. O
fato de possuir infraestrutura consolidada, fácil acesso e área disponível compatível
com o provável tamanho do projeto também agregou na escolha.

Figura 27 - Carta solar de Natal Figura 28- Rosa dos ventos de Natal

Fonte: Ricardo Marques. Fonte: INPE/CRN, 2009.

Figura 29 - Zona Especial de Interesse Turístico 01 (ZET-1)

Fonte: Produzido pela autora com base em SEMURB (2016).

42
Apesar do bairro ser reconhecido principalmente pelo seu potencial turístico,
marcado sobretudo pela presença da praia e da zona hoteleira, também apresenta
caráter residencial, contando com um total de 26.406 habitantes (SEMURB, 2012),
além de ser frequentado pela população da cidade, atraída principalmente pelas
inúmeras opções de comércio e lazer oferecidas.

4.2. Condicionantes Legais


Definido o universo de estudo e o recorte espacial a ser trabalhado, faz-se
necessário estudar as prescrições referentes a eles e ao uso da edificação a ser
projetada. Os instrumentos legais que servirão de base para esse estudo serão o
Plano Diretor (NATAL, 2007), a Lei n°3.607 (NATAL, 1987), o Código de Obras e
Edificações (NATAL, 2004) e o Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico
estadual (CBM/RN, 2002). Outro instrumento normativo importante para o
desenvolvimento do projeto é a NBR 9050 (ABNT, 2015), que trata da acessibilidade
em edifícios.
O Plano Diretor de Natal (2007) trata-se, no âmbito urbano, de um
instrumento básico na política de desenvolvimento sustentável da cidade,
fornecendo diretrizes para que a relação das edificações a serem projetadas sejam
harmoniosas com o entorno em termos sociais e ambientais. Ele propõe um
macrozoneamento que divide o município em zona adensável, de adensamento
básico e de proteção ambiental, cada qual com suas respectivas prescrições de uso
e ocupação do solo, definidos a partir do cálculo das taxas de ocupação e
permeabilidade, do coeficiente de aproveitamento, recuos e gabarito.
Apesar do macrozoneamento considerar o bairro de Ponta Negra como uma
zona de adensamento básico, o recorte espacial no qual deseja-se trabalhar é
definido pelo plano como uma área especial de controle de gabarito, com normas
próprias de uso e ocupação do solo.
Visando à proteção cênico-paisagística da enseada de Ponta Negra e Morro
do Careca, a Lei n° 3.607 (NATAL, 1987) regulamenta o uso do solo e prescrições
urbanísticas da ZET-1. O gabarito máximo permitido nessa zona é de 2 (dois)
pavimentos ou 7,50m (sete metros e meio) medidos em qualquer ponto do terreno.
As demais prescrições urbanísticas estão contidas na tabela abaixo, tendo sido a
categoria “comércio varejista” definida pela norma a que demonstrou ser mais

43
adequada ao uso proposto por abranger empreendimentos do tipo casas de banho e
fisioterapia.
Considerando que a edificação proposta será uma academia de ginástica, o
Código de Obras e Edificações (NATAL, 2004), responsável por estabelecer normas
que disciplinam a elaboração de projetos bem como toda e qualquer obra de
construção, ampliação, reforma ou demolição a fim de garantir a segurança, conforto
e saúde dos usuários, faz algumas indicações para esse uso.

Tabela 2 - Prescrições urbanísticas para a ZET-1.

Fonte: Produzido pela autora com base em SEMURB (2009).

Em conformidade com os Anexos I e III desta Lei, a quantidade de vagas de


estacionamento necessárias para esse tipo de empreendimento é de 1 (uma) a cada
60m² de área de edificação, onde desse total 2% deve ser reservado às pessoas
portadoras de deficiência física (com mínimo de 1 vaga) e 5% aos idosos, conforme
determinado pela NBR 9050 (ABNT, 2015). Área de embarque, desembarque e lixo
também são exigidos.
Vale ressaltar ainda o comprometimento do código com a arquitetura
bioclimática ao impor que toda edificação deve ser projetada para atender aos
critérios mais favoráveis de insolação, ventilação natural e iluminação, devendo os
ambientes de uso prolongado disporem de aberturas com superfícies não inferiores
a 1/6 da área do compartimento e a 1/8 para aqueles de uso transitório. No caso de
corredores e halls com área inferior a 5m², depósitos, despensa e compartimentos
de uso justificável essas exigências são dispensáveis.
Para o Código de Segurança e Prevenção contra incêndio e pânico estadual
(CBM/RN, 2002), as academias de ginástica se enquadram na categoria de
ocupação tipo “reunião pública”. Nessa categoria, considerando que a edificação
terá altura máxima de 7,5m e área construída superior a 750m², indica-se a
44
instalação de dispositivos de prevenção fixa (hidrantes) e móvel (extintores de
incêndio), chuveiros automáticos (sprinkler) nas circulações e área comuns,
Iluminação de emergência, sinalização, escada convencional e instalação de
hidrante público.
O documento enfatiza ainda para edificações nessa categoria a necessidade
de ventilação natural, para que haja renovação de ar, saídas de emergência com
largura mínima de dois metros e vinte centímetros (2,20m) em ambientes com mais
de 100 lugares e escadas com largura mínima de um metro e sessenta centímetros
(1,60m) caso haja mais de um pavimento, sendo obrigatória a utilização de guarda-
corpo. No que diz respeito ao cálculo da lotação máxima, considera-se uma pessoa
em pé para cada 0,50m² e uma sentada para cada 0,70 m².
Sobre os parâmetros técnicos da NBR 9050 (ABNT, 2015) de acessibilidade a
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos serão consideradas no
projeto principalmente as indicações gerais de circulação horizontal, vertical e o
dimensionamento de vestiários e equipamentos sanitários. Os demais critérios
presentes na norma serão consultados mediante a necessidade.
Com base nisso, adota-se a largura mínima de 0,90m para corredores,
variando conforme a extensão deste, portas de rota acessível com vão livre de
0,80m, um banheiro acessível masculino e um feminino com entrada independente
dos sanitários coletivos e com dimensões mínimas de 1.50m x 1.70m, uma cabine
de vestiário para Pessoa em Cadeira de Rodas (PCR) integrada ao banheiro coletivo
de cada gênero, e piso tátil de alerta orientando as entradas e patamares para
pessoas com deficiência visual ou baixa visão. Em relação a circulação vertical,
deve existir além da escada outra alternativa para vencer desníveis, como rampa,
elevador ou plataforma elevatória. No caso de rampas, deve-se utilizar a inclinação
entre 5% e 8,33%.

4.3 Análise do Terreno


O terreno escolhido para o projeto, atualmente desocupado, encontra-se
próximo à praia de Ponta Negra, estando uma de suas testadas voltada para a Rua
Coronel Inácio Vale e outra para o oceano Atlântico (Figura 30). Seu entorno é
predominado por hotéis, pousadas, restaurantes e algumas edificações de uso
residencial, como casas e apartamentos.

45
Figura 30 - Localização do terreno

Fonte: Produzido pela autora com base em Google maps (2018).

Com uma área total de 4.411,93m², sua geometria é irregular e a soma de


das dimensões do lote resulta em um perímetro de 222m. A topografia é acidentada
e se caracteriza por um desnível de 15 metros, que vai do ponto mais elevado, na R.
Cel. Inácio Vale, ao ponto mais baixo, próximo a extensão de areia da praia (Figura
31).
Quanto às questões de insolação e ventilação, faz-se necessário analisar a
trajetória do sol, a influência dos ventos predominantes e o registro de barreiras
próximas a fim de identificar as potencialidades do terreno, o que influenciará na
definição dos primeiros zoneamentos, aberturas e soluções de envoltória (Figura
32).
Com base na carta solar de Natal, foi visto que o trajeto em que o sol se
apresenta de maneira mais intensa é no sentido Leste-Oeste (nascente-poente),
valendo ressaltar a existência de pequenas variações na angulação deste percurso
de acordo com a estação do ano, sendo elas máximas no verão e no inverno.
Quanto ao vento, através de uma visita ao local realizada às 10h da manhã,
constatou-se que, a partir da observação do movimento de uma fita (levada para o
experimento) e da vegetação do entorno, o vento predominante era realmente
proveniente do Sudeste. Além do mais, na parte mais elevada do terreno, essa
ventilação era mais perceptível, por sofrer menos influência das barreiras do entorno
imediato.

46
Figura 31 - Características físicas do terreno

Fonte: Produzido pela autora.

Figura 32 - Insolação e ventilação no terreno

Fonte: Produzido pela autora.

47
Em relação à existência de barreiras físicas que possam comprometer
ventilação e a iluminação natural, a restrição de gabarito aliado às características
topográficas da região favorecem o aproveitamento desses fatores e não causam
grandes interferências (Figura 33). Quanto à vegetação, existem no terreno
atualmente apenas as de pequeno porte (gramíneas e arbustos), não interferindo no
comportamento dos ventos ou formando áreas sombreadas.
Por fim, como academias de ginástica apresentam horários de funcionamento
extensos, abrindo geralmente nas primeiras horas da manhã e fechando no fim da
noite (5h às 23h, por exemplo), as questões de conforto térmico devem ser
pensadas para todos os turnos. Em razão do desalinhamento do terreno em relação
ao norte, é provável que todas as fachadas da edificação fiquem expostas a
radiação solar. Sendo assim, para melhor aproveitamento dos ventos e das brisas
sem comprometer a temperatura interna, é importante que existam aberturas
devidamente sombreadas.

Figura 33 - Registro de barreiras no entorno do terreno

Fonte: Produzido pela autora.

48
5. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ -
DIMENSIONAMENTO
A fim de preparar a ação projetual, o programa de necessidades da academia
de ginástica e o pré-dimensionamento das áreas foram construídos com base nos
estudos de referência realizados diretamente e nas condicionantes legais, estando
representado abaixo em forma de tabela e fluxograma, conforme é indicado na
literatura de Silva (1998).
Para melhor organizar esse processo, optou-se ainda por dividir o projeto em
5 setores principais, a partir dos quais foi feita a distribuição dos ambientes, sendo
eles: funcional, serviços, administrativo, apoio técnico e área externa. Além disso,
procurou-se trabalhar os valores das áreas internas em módulos de três, a fim de
facilitar o lançamento da estrutura.

Tabela 3: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor funcional

Funcional

Ambiente Quantidade Área (m²) Área total (m²)

Salão de musculação 1 216 216

Cardio 1 72 72

Alongamento 1 36 36

Sala de aula 1 1 72 72
(multiuso)

Sala de aula 2 1 72 72
(multiuso)

Sala de spinning (20 1 36 36


pessoas)

Total (m²) = - - 504

Fonte: Produzido pela autora.

49
Tabela 4: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor administrativo

Administrativo

Ambiente Quantidade Área (m²) Área total (m²)

Recepção 1 36 36

Avaliação física 1 18 18

Administração 1 18 18

Reunião 1 27 27

Diretoria 1 27 27

Sala funcionários 1 18 18

Sala de controle 1 9 9

Total (m²) = - - 153

Fonte: Produzido pela autora.


Tabela 5: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do apoio técnico

Apoio técnico

Ambiente Quantidade Área (m²) Área total (m²)

Depósitos 3 9 27

Oficina 1 18 18

Total (m²) = - - 45

Fonte: Produzido pela autora.

50
Tabela 6: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor de serviços

Serviços

Ambiente Quantidade Área (m²) Área total (m²)

Vestiários 2 36 72

WC PNE 2 4,5 9

Lanchonete 1 36 36

Nutricionista 1 9 9

Brinquedoteca
(Espaço kids) 1 36 36

Loja 1 36 36

Casa de gás 1 6 6

Casa de lixo 1 6 6

Gerador 1 6 6

Total (m²) = - - 216

Fonte: Produzido pela autora.

Tabela 7: Programa de necessidades e pré-dimensionamento da área externa

Área externa

Ambiente Quantidade Área (m²) Área total (m²)

Terraço 1 108 108

Total (m²) = - - 108

Fonte: Produzido pela autora.


51
Tabela 8: Resumo das áreas

Setor Área

Funcional 504

Administrativo 153

Serviços 216

Apoio técnico 45

Área externa 108

Total = 1026

Fonte: Produzido pela autora.

A partir da análise das tabelas acima, observa-se que, a área útil prevista para
o projeto é de 1.026m². Somando a esse valor 15% (153,90m²) de área destinada à
circulação (horizontal e vertical) e mais 20% de área de parede (205,20m²), obtém-se
uma estimativa de 1385,10m² de área construída.
Visto isso, com base no cálculo da quantidade de vagas para este uso
estabelecido no Código de Obras do município, o estacionamento deverá ter no
mínimo 23 vagas, das quais uma será exclusivamente destinada a portadores de
deficiência e outra a idosos.
Com o objetivo de facilitar o entendimento de como os diferentes ambientes da
academia estão relacionados entre si foram feitos dois fluxogramas. O primeiro
consiste em um zoneamento mais geral, mostrando a relação que cada setor tem com
os acessos e os demais setores (Figura 34). Enquanto que o segundo é mais
específico, considerando também os ambientes (Figura 35).
A área funcional se caracteriza como a principal zona do projeto por contemplar
os espaços considerados primordiais em uma academia de ginástica, se relacionando
assim de maneira direta com os demais setores, que dão apoio a ela. A área externa,
em forma de terraço, foi pensada para atuar como um espaço de convivência,
podendo englobar usos relacionados a prática de atividade física ou simplesmente
como um espaço destinado a reunião de alunos.

52
Figura 34: Fluxograma geral

Fonte: Produzido pela autora

Figura 35: Fluxograma específico dos ambientes

Fonte: Produzido pela autora

53
6. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA
Concluída a fase da programação arquitetônica, a ação projetual em si tem seu
início com os estudos preliminares, a partir da adoção do conceito e da realização de
estudos de planta baixa e de volumetria será construído o partido arquitetônico.
Tomando como base a literatura de Silva (1998), é nesse momento onde
ocorrerá o ajuste entre a forma e o seu contexto. O objetivo principal agora é
demonstrar a viabilidade do programa de necessidades frente às características do
terreno e demais condicionantes, que podem ser entendidas como legislações e
outras exigências que limitam o trabalho do arquiteto.

6.1. Conceito
A ideia central do projeto gira em torno da promoção do conforto térmico dos
usuários de uma academia de ginástica de maneira passiva, tendo a ventilação natural
como principal estratégia.
Para cumprir com esse objetivo, busca-se a permeabilidade entre os ambientes
e o contato com o exterior, não podendo desconsiderar a segurança e privacidade do
espaço. O controle do conforto nos ambientes também é uma característica desejável,
a fim ajustar as condições de acordo com a necessidade.

A partir desse pensamento, decidiu-se fazer uma analogia com janelas. Há


muito simbolismo por detrás das janelas e do elo que elas permitem entre a
privacidade de um local reservado e a imensidão do mundo. Ela pode ser robusta,
principalmente quando fechada, mas ao mesmo tempo transmitir a ideia de
transparência e permeabilidade quando aberta, permitindo o contato visual com o
exterior. Além disso, ela é geralmente controlável, possibilitando ajustes de acordo
com as preferências do usuário.

Resumindo, ela carrega consigo as características que se deseja ver no projeto


(Figura 36): Robustez, permeabilidade, transparência, aproveitamento do potencial
cênico, segurança, controle, conforto e privacidade.

54
Figura 36: As características de uma janela

Fonte: Produzido pela autora

6.2. Estudos volumétricos e zoneamento


A topografia do terreno escolhido é acidentada, com desníveis consideráveis
em duas direções. Para que o movimento de terra e as dificuldades com as questões
de acessibilidade fossem as menores possíveis, decidiu-se trabalhar nas áreas mais
planas. Sendo assim, a partir da elaboração de três diferentes planos de massa
(Figura 37) buscou-se distribuir o programa em dois blocos principais dispostos em
níveis diferentes, fazendo proveito da natureza do terreno. A intenção é que exista um
terceiro volume que atue como um elemento de conexão entre esses blocos e que ao
mesmo tempo esteja voltado para a praia, assumindo também a função de principal
ponto de contemplação da paisagem.

Figura 37: Evolução da proposta em vista de topo

Fonte: Produzido pela autora


55
Desde o início do processo projetivo, a maior preocupação foi dispor os
ambientes de maneira em que aqueles mais vulneráveis e de maior permanência
fizessem um melhor proveito da ventilação natural. Os vestiários e a parte de apoio
técnico (depósitos e oficina) foram considerados os de menor vulnerabilidade.

Em todas as três propostas o bloco 2 foi situado na parte mais elevada do


terreno e o bloco 1 localizado em um nível inferior, de modo que o setor funcional,
principal área onde ficam as salas de aula e o salão de musculação, ficasse o mais
próximo possível da área mais plana do terreno, onde se pretende colocar o
estacionamento. Além disso, esse setor é considerado o mais vulnerável em termos
de conforto térmico por contemplar ambientes destinados à prática de atividades
metabólicas intensas, sendo por isso interessante dispor de aberturas em diferentes
faces que permitam a circulação cruzada dos ventos e brisas.

Durante a concepção, a primeira ideia foi descartada por não oferecer uma
solução formal interessante, sobretudo no bloco 2, e por impossibilitar a entrada de
ventilação natural em boa parte do setor administrativo. Na segunda, decidiu-se
alongar os blocos, deixando a forma menos compacta e liberando mais as faces da
parte administrativa.

A terceira proposta foi um aperfeiçoamento da segunda, gerando um resultado


esteticamente mais interessante que o anterior e mais eficiente no quesito conforto
ambiental. A consequência dessas alterações foi o distanciamento do setor
administrativo em relação ao setor funcional. Nesse caso, ambos setores terão
acessos independentes situados em níveis diferentes do terreno (Figura 38 e 39).
Apesar disso, o terceiro volume, que corresponde ao terraço, interligará esses
espaços internamente. Essa solução foi apresentada à pré-banca no mês de
setembro, onde foram indicadas alterações no zoneamento e na forma.

56
Figura 38: Zoneamento horizontal da proposta três

Fonte: Produzido pela autora

57
Figura 39: Zoneamento da proposta três a partir da volumetria

Fonte: Produzido pela autora

Para um melhor desempenho acústico, as salas de aula deveriam se encontrar


distanciadas umas das outras. Para um melhor aproveitamento do potencial cênico e
da ventilação, seria interessante que todos os ambientes destinados à prática de
atividades físicas intensas tenham ao menos uma fachada voltada para o mar,
devendo se atentar para a criação de áreas de sombra de vento na definição da nova
forma.

Com base nessas observações, foi desenvolvida a quarta e última proposta


(Figura 40, 41 e 42). A ideia de se trabalhar com dois blocos em diferentes níveis do
terreno interligados por um terceiro volume foi mantida. Porém, por questões de limite
de gabarito e adaptação da forma o máximo possível às características naturais do
terreno, eles agora se encontram escalonados entre si, gerando a necessidade de
criar uma escada/rampa no terraço (elemento responsável por interligá-los
internamente).

Outra mudança relevante é a criação de um segundo terraço, que diferente do


primeiro, não tem como principal função conectar os blocos e sim servir como área de
convivência e extensão da lanchonete.

Com a nova redistribuição dos ambientes deixou de existir um acesso exclusivo


para funcionários. Agora, os dois acessos, localizados em diferentes níveis do terreno,
são destinados ao público e contarão com vagas de estacionamento próximas.

58
Figura 40: Zoneamento horizontal final da edificação

Fonte: Produzido pela autora

59
Figura 41: Zoneamento geral final do terreno

Fonte: Produzido pela autora

Figura 42: Zoneamento da proposta final a partir da volumetria

Fonte: Produzido pela autora

60
6.3. Partido arquitetônico
O partido arquitetônico é um produto do estudo preliminar, sendo considerado
a “síntese das características principais do projeto” (SILVA, 1998, p. 100). Ele é a
descrição dos traços elementares da proposta desenvolvida pelo arquiteto,
contemplando suas escolhas funcionais, tecnológicas e estéticas.
Com base nesse caráter de união de informações, o partido se desenvolveu
fundamentado nos conceitos de robustez, permeabilidade, transparência,
aproveitamento do potencial cênico, segurança, controle, conforto e privacidade.

A limitação de gabarito no recorte espacial aliada à necessidade de aproveitar


a ventilação natural influenciou na forma, que tendeu a ser mais horizontal e alongada.
Daí surgiu também a necessidade de vencer grandes vãos com lajes pouco espessas
que pouco impactassem na altura total da edificação, sobretudo no salão de
musculação, levando à escolha da laje lisa protendida, que atuando juntamente ao
conjunto de pilares em concreto armado garantem a robustez e segurança desejada
ao projeto.

A adoção do pé-direito duplo no salão de musculação e a criação do mezanino


tornam o ambiente visualmente permeável, além de favorecer a circulação dos ventos.
Da mesma forma acontece com a criação dos terraços e a ideia de fazer um teto
jardim com pista de caminhada, que além de maximizar o contato do usuário com o
exterior, valorizando a vista para o mar e proporcionando um maior conforto térmico,
permite uma maior integração entre os diferentes setores da academia.

A transparência, conforto, privacidade e controle das condições ambientais são


também conseguidos a partir da definição de grandes aberturas protegidas por brises
móveis nas fachadas.

61
7. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO
A função do memorial é descrever a proposta arquitetônica, fazendo uso da
linguagem textual e de imagens, justificando assim as escolhas funcionais, técnicas e
estéticas. Esses aspectos serão abordados nos tópicos a seguir como forma de
complemento às pranchas gráficas, que compõem o segundo volume do trabalho.

7.1. Dados gerais do edifício


A academia de ginástica desenvolvida em forma de anteprojeto é composta por
dois volumes gerais situados em níveis diferentes do terreno (Figura 43 e 44). O
primeiro reúne duas salas de aula e um amplo salão destinado às atividades
cardiovasculares e alongamento. Já o segundo encontra-se dividido em dois
pavimentos, contemplando o salão de musculação, com pé-direito duplo, sala de
spinning, vestiários, área administrativa, depósitos e a parte de serviços (lanchonete,
loja e nutricionista). Esse último apresenta ainda um teto jardim utilizável com pista de
caminhada na cobertura e ambos blocos se encontram interligados por meio de um
terraço.
O edifício possui uma área total construída de 2.109,58 m², com coeficiente de
aproveitamento de 0,32. Foram destinadas ao todo 28 vagas para carros, 15 vagas
para motocicletas e 10 vagas para bicicletas.

Figura 43 - Vista da entrada do bloco 1

Fonte: Produzido pela autora.

62
Figura 44 - Vista da entrada do bloco 2

Fonte: Produzido pela autora.

7.2. Reservatório de água


Para o calcular o volume do reservatório foi importante conhecer primeiramente
a capacidade máxima de pessoas na edificação, para que assim fosse possível
estipular o consumo médio diário e, por fim, aplicando-se as margens de segurança
do abastecimento, chegar ao volume total e as dimensões necessárias.
Apesar do Código de Segurança e Prevenção contra incêndio e pânico
estadual (CBM/RN, 2002) considerar uma pessoa em pé para cada 0,50m² e uma
sentada para cada 0,70m² no cálculo da lotação máxima de uma edificação do tipo
reunião pública, o Relatório de Inteligência do setor Fitness elaborado pelo SEBRAE
(2017) aponta que para calcular a capacidade máxima operacional em academias de
ginástica o mercado trabalha normalmente com uma razão que pode variar entre 1
- 1,7 clientes por metro quadrado.
Sabendo que o setor funcional da academia (Salas de aula, Salão de
musculação, área de alongamento e cardio) tem um total de 576m², utilizando a razão
de 1,7 clientes por metro quadrado estima-se um público geral de aproximadamente
1000 pessoas (clientes e funcionários). Dessa forma, conforme ensinado na disciplina
de instalações hidráulicas, para calcular o consumo diário de água em edificações de
uso público ou comercial considera-se o valor de 50 litros por pessoa, chegando-se
assim ao total de 50.000 litros por dia.
63
A NBR 5626 (ABNT,1998) recomenda ainda que o reservatório seja
dimensionado levando-se em consideração uma possível interrupção no
abastecimento de água. Portanto, para cobrir dois dias sem esse abastecimento,
dobrou-se o valor anteriormente calculado, resultando em 100.000 litros.
Os reservatórios devem conter também uma reserva de incêndio, tendo sido
esta estabelecida para dois hidrantes com consumo de 180l/min (litros por minuto)
durante um período de 30 minutos ininterruptos, conforme exigido pelo Código de
segurança e prevenção contra incêndio e pânico do estado do Rio Grande do Norte.
Dessa forma, acresceu-se o valor equivalente a 10.800 litros de água, totalizando o
volume final em 110.800 m³.
O castelo d’água foi a melhor opção de reservatório a ser adotada por conta
das grandes dimensões necessárias para atingir o volume calculado e das
características do edifício: horizontal e com áreas molhadas distantes uma das outras.
Sendo assim, o fornecimento de água deverá ser feito a partir da distribuição
da rede pública de água pelos ramais prediais que abastecem o castelo d’água, locado
na parte frontal do lote. Recomenda-se ainda que este seja fabricado em aço carbono
e revestido por uma pintura que garanta a sua impermeabilidade e acentue sua
resistência contra oxidação. O modelo considerado no projeto foi o TBL 15004 da Faz
Forte, com capacidade para 150.000 litros e 13,30 m de altura (Figura 45).

Figura 45 - Castelo D'água modelo TBL 15004 da Faz Forte

Fonte: Faz Forte Caixas D’água de Grande Porte, 2017.

64
7.3. Sistema de proteção e combate a incêndio
O edifício contará com um sistema de prevenção fixa (dois hidrantes),
prevenção móvel (extintores de incêndio), chuveiros automáticos (sprinkler) nas
circulações e área comuns, iluminação de emergência, sinalização, escada
convencional e instalação de hidrante público, conforme estabelece o Código de
Segurança e Prevenção contra Incêndio e pânico do Rio Grande do Norte para
edificações do tipo reunião pública com altura entre seis e quinze metros e área
construída superior a 750m².

7.4. Sistema construtivo e cobertura


Em razão da natureza do projeto, que exige grandes vãos livres, e das
especificidades do recorte espacial, que apresenta restrição de gabarito, o sistema
estrutural adotado foi o de laje plana lisa em concreto protendido.
Esse sistema apresenta como principal vantagem a ausência de vigas e a
redução no número de pilares acarretando em um melhor aproveitamento dos vãos e
do pé-direito, menores gastos com fôrmas e armaduras, significativa diminuição na
altura total do prédio e consequentemente um menor peso total da estrutura,
minimizando custos com as fundações. A espessura de laje exigida para os vãos de
seis metros existentes no projeto é de 15 centímetros (figura 46).

Figura 46 - Gráfico comparativo entre lajes em concreto armado e protendido

Fonte: SCHIMID, 2009.

65
Os pontos negativos desse sistema é que ele requer mão de obra qualificada
para a sua execução. Além disso, considerando a natureza do projeto, é importante
que sejam realizados cálculos que prevejam as vibrações nas lajes, para que assim
sejam feitas as adaptações necessárias.
O edifício também segue a modulação estrutural de 6m por 6m, com paredes
em alvenaria simples e tijolos cerâmicos de 8 furos com função apenas de vedação.
Os pilares serão executados em concreto armado, em sua maioria retangulares
e pré-dimensionados em 40x20cm. Algumas exceções se deram por questões
estéticas, como os das fachadas (40x60cm).
Em relação ao tipo de cobertura, para proporcionar um maior conforto térmico
ao usuário e respeitar a restrição de gabarito decidiu-se trabalhar com o teto jardim
(ou telhado verde).
Além do benefício estético, o telhado verde funciona como isolante térmico nas
coberturas das edificações, melhoraram a qualidade do ar e minimizam o efeito das
ilhas de calor nas cidades. Eles podem ser de três tipos: extensivo, intensivo e semi-
intensivo. O escolhido para o projeto foi o extensivo, que é o mais simples,
comportando plantas rasteiras de pequeno porte.
Independentemente do tipo escolhido, os sistemas empregados em coberturas
verdes variam bastante. Caso a montagem seja feita diretamente sobre a laje, como
é o caso neste projeto, é necessário aplicar todas as camadas representadas no
detalhamento abaixo (Figura 47). Vale salientar que no projeto a laje da cobertura foi
representada com 30 cm de espessura, que correspondem aos 15 cm da laje
estrutural mais as cinco camadas componentes do sistema alveolar (desconsiderando
a altura a vegetação).

Figura 47 - Detalhamento de telhado verde com sistema Alveolar

Fonte: Estúdio Concreto, 2018.


66
Para o extenso terraço responsável pela conexão entre os dois blocos
componentes da edificação, por questões estéticas e de gabarito foi escolhida a laje
impermeável, devendo ela ter uma leve inclinação de 1% que permita o escoamento
da água.

7.5. Escolhas materiais


Em todas as três salas de aula deverá ser utilizado forro do tipo lambri em Pinus
maciço (Figura 48), com aplicação de verniz. Os forros de madeira apresentam no
geral boa durabilidade, estética agradável e bom desempenho quanto ao conforto
térmico e acústico. A Pinus apresenta como vantagem o fato de ser uma madeira de
reflorestamento e ter menor custo em relação às outras. Para os demais ambientes
deverá ser utilizado o forro de gesso acartonado pintado com tinta látex branca, por
ser um material que oferece resistência, durabilidade, versatilidade, fácil instalação e
um menor custo em relação aos demais.
Em relação a pavimentação e pisos, para a da área de circulação de veículos
indica-se o intertravado, que consiste em conjunto de blocos pré-fabricados de
concreto, apresentando como principais vantagens o baixo custo, alta durabilidade,
propriedades antiderrapantes e a capacidade de permitir que parte da água da chuva
infiltre por suas juntas, evitando o acúmulo de água (Figura 49).

Figura 48 - Forro de Pinus Figura 49: Piso Intertravado 16 faces Oterprem

Fonte: habitissimo, 2018. Fonte: Leroy Merlin, 2018.

Especifica-se para as calçadas e passeios, incluindo a pista de caminhada


localizada na cobertura, o sistema de placas de concreto retangulares pré-fabricadas
por ser um material de superfície lisa e antiderrapante, com juntas mais espaçadas,
de rápida instalação e fácil manutenção (Figura 50).

67
Figura 50: Aplicação de placas de concreto em calçadas

Fonte: Votorantim Cimentos, 2017.

Para a área funcional da academia, adota-se o cimento queimado polido nas


salas de aula e o piso tipo laminado da marca Durafloor cor Carvalho Gante da linha
Sense (Figura 51) nos demais ambientes (incluindo as recepções), indicando-se ainda
a instalação de borracha preta de 15mm na área de pesos livres.

Figura 51: Piso laminado Durafloor cor Carvalho Gante da linha Sense

Fonte: Ferraz Pisos, 2017.

Nos banheiros, vestiários, área administrativa e área de serviços propõe-se o


uso do porcelanato interno Cimento Esmaltado Acetinado (60x60cm) na cor Munari
Marfim da marca Eliane. Já o porcelanato natural externo modelo Portland Stone Ash
(60x60cm) da Portobello é o mais indicado para o terraço localizado no bloco 2 por
68
ser um ambiente mais exposto às intempéries em razão da cobertura em pergolado.
Para o outro terraço, que se encontra mais protegido por ser lajeado, adota-se o piso
laminado mencionado anteriormente. Para os depósitos, indica-se o cimento
queimado em função alta durabilidade e baixo custo.
Quanto às escolhas materiais para as paredes, externamente optou-se por
fazer uso do sistema do jardim vertical em algumas daquelas consideradas mais
expostas à radiação solar devido ao seu ótimo desempenho como isolante térmico e
acústico, além da vantagem de purificar o ar e embelezar o projeto com vegetação.
Esse jardim deverá ser instalado no modelo hidropônico, com irrigação
automática, pois apesar do alto custo inicial ele evita problemas de infiltração ou
danificação do edifício por permitir o crescimento das plantas sem que essas
encostem diretamente na parede, facilitando também o processo de manutenção.
Esse sistema é composto ao todo por quatro camadas: ripas de metal, painéis
impermeáveis, painéis duplos de tecido sintético e a camada de vegetação (Figura
52).

Figura 52: Camadas do sistema hidropônico de Jardim Vertical

Fonte: VERTICAL GARDEN, 2018.

Nos muros laterais que delimitam o terreno, foi proposta a pedra rachinha por
também ser um material que isola bem o calor e mantém sua superfície com
temperaturas amenas.
Internamente, adota-se para as áreas molhadas o mesmo porcelanato aplicado
no piso e tinta acrílica cor branco gelo nos demais ambiente.

69
7.6 Taxa de renovação de ar e soluções alternativas de conforto
Para o cálculo da taxa de renovação de ar nos ambientes onde são praticadas
atividades metabólicas intensas na academia foi utilizada uma planilha em excel
fornecida pelo Laboratório de Conforto Ambiental (LABCON) da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), onde foram inseridos dados relacionados ao azimute
das fachadas, dimensões das aberturas, peitoril e o volume das salas.

No geral, os resultados obtidos foram satisfatórios, com taxas de renovação


acima de 100 TAH (trocas de ar por hora) ou próximos a esse valor na maioria dos
meses e nos períodos de maior insolação (manhã e tarde). A sala de aula 2 foi a que
demonstrou ser a mais ventilada, enquanto o salão de musculação surpreendeu
negativamente. Porém, por esse último ser um ambiente com pé direito duplo e janelas
de peitoril diferenciado, os resultados foram fruto de uma adaptação, pois a planilha
não permite inserir tais informações. Nesse caso, foi considerada a altura total de dois
metros e peitoril de 1,10 m para uma abertura ao invés de duas aberturas
diferenciadas de 1 m de altura cada e com peitoril de 1,10 m uma e 4,10 m a outra.
Os gráficos detalhados gerados para cada ambiente encontram-se disponíveis no
Apêndice A.
Foi possível perceber ainda com base nos resultados que projetar uma
edificação cujo o conforto térmico dos usuários dependa exclusivamente de um fator
natural como o vento é um desafio, pois o mesmo sofre muitas oscilações de direção
e intensidade ao longo do dia e do ano. Por isso, é interessante que o arquiteto preveja
soluções alternativas/complementares, e que de preferência essas causem pouco
impacto no consumo energético.
Pensando nisso, indica-se a instalação de ventiladores da marca Elefant nas
áreas funcionais do projeto (salas de aula, salão de musculação e área de atividades
cardiovasculares). Esses equipamentos apresentam como diferencial a inovadora
tecnologia de grande vazão e baixa velocidade (HVLS), deslocando um volume de ar
maior e garantindo a melhoria da sensação térmica nos ambientes devido ao diâmetro
diferenciado das pás (Figura 53). O baixo consumo elétrico também é outra vantagem.
As dimensões desses ventiladores não são informadas previamente pelo
fabricante, devendo o projeto arquitetônico ser analisado pela empresa. Porém, o
maior ventilador Elefant pode ventilar uma área de até 1.600 m².

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Nos demais ambientes da academia cujo pé-direito baixo não contribuiu para a
instalação de um modelo como esse, indica-se os convencionais ventiladores de
parede.

Figura 53: Modelo de ventilador Elefant usado em ambientes esportivos

Fonte: Elefant, 2018.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi projetar uma academia de ginástica que fizesse
proveito da ventilação natural, uma potencialidade do clima de Natal, proporcionando
maior conforto térmico aos usuários com menores gastos energéticos.

A grande dificuldade enfrentada durante a fase de elaboração da proposta


foram as exigências impostas pela legislação local e físicas do sítio, que limitaram o
processo criativo, refletindo fortemente nas decisões formais. Apesar disso, o
programa de necessidades inicial foi mantido e o resultado final atingido foi satisfatório
do ponto de vista plástico e funcional.

Outro grande desafio encontrado para quem trabalha com ventilação natural é
conseguir conciliar a questão do conforto acústico, pois na medida em que se busca
o máximo de integração com o exterior e permeabilidade entre os ambientes internos,
o isolamento do som é comprometido.

Por fim, ao trabalhar com essa temática, foi percebido um preconceito existente
com a ideia de academias naturalmente ventiladas, que inclusive são raridades não
apenas na cidade como em todo o país. Os empreendimentos mais reconhecidos
fazem uso do conceito de climatização artificial para atrair seus clientes, atrelando
isso ao fator de maior promoção de conforto.

Dessa forma, se espera que os estudos aqui realizados contribuam


positivamente para o ramo da arquitetura comercial e esportiva, mostrando a
relevância de considerar em projetos as necessidades de conforto térmico ideais para
cada tipo de ambiente e as questões bioclimáticas, despertando a atenção para a
eficiência energética, assunto tão em pauta na atualidade.

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APÊNDICES
Apêndice A - Resultados do cálculo da taxa de renovação de ar

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