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NATAL/RN
Natal - RN
2018.2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBICatalogação de Publicação na
Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT
Natal - RN
2018.2
LAYS MEDEIROS SILVA
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________
Prof. Dra. Glauce Lilian Alves de Albuquerque Orientadora
(Orientadora)
_______________________________________
Prof. Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega
(Avaliador Interno)
_______________________________________
Arq. Luciano Luiz Paiva de Barros
(Avaliador Externo)
Faced with the notorious rise of the fitness market in the country's economy
and in the city of Natal (RN), associated with the need of exploring thermal comfort in
physical activities environments and reducing the energy demand in commercial
buildings, the idea of creating a fitness center with an emphasis on the use of
passive air conditioning systems emerged. To accomplish this goal it was necessary
to define what is considered a thermal comfort situation in an environment focused
on exercises practice, to study what are passive systems of climatization and its
advantages and to understand what defines the size/capacity of a fitness center. In a
study level, the equipment has been placed in Ponta Negra, a neighborhood with
high landscaping potential, consolidated infrastructure and restrictive verticalization
laws near the beach area, favouring the use of natural ventilation. To support this
project, theoretical researches, direct and indirect reference studies were need. The
overall result compiled into a 2.109,58 m² modular building, with contemporary
features, daring materials such as wood and abundant vegetation.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Variáveis de conforto térmico……….…………...…………………………...26
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Tabela 1: Número de trocas de ar e suas funções…………………….…...29
Tabela 2: Prescrições urbanísticas para a ZET-1……………………..….……….…...44
Tabela 3: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor funcional...49
Tabela 4: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor
administrativo……………………………………………………………………………….50
Tabela 5: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do apoio técnico......50
Tabela 6: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor de
serviços………………………………………………………………………………………51
Tabela 7: Programa de necessidades e pré-dimensionamento da área externa.......51
Tabela 8: Resumo das áreas……...………………………………………………………52
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO………….…………………………………………………...13
1. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA ARQUITETURA………………….17
1.1. O pioneirismo da Arquitetura Vernacular no bioclimatismo……….....18
1.2. Conceitos da Arquitetura Bioclimática………………………………..20
2. CONFORTO TÉRMICO EM ACADEMIAS DE GINÁSTICA............. 25
3. REFERÊNCIAS PROJETUAIS………………………………….....…..30
3.1. Academia Pulse Health & Fitness.....………… ………….…………..31
3.2. Academia Hi-Fit……………………………………………………....33
3.3. Academia Wm Fitness...…………………………………………...….35
3.4. Fábrica e Escritório DESINO Eco….…………………………………37
3.5. Casa Brise………......…...…………………………………………….38
4. CONDICIONANTES PROJETUAIS…………………………………...41
4.1. Universo de Estudo e Recortes Espaciais...............................………...41
4.2. Condicionantes Legais………………..…….........................................43
4.3. Análise do terreno………...………..……....………………………….45
6. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA.………….….……………....54
6.1. Conceito………………………………………..……………………...54
14
de 30% a 40% do consumo total de energia” (LOPES, S/D). Dessa forma, acredita-se
que adotar sistemas passivos de climatização em academias de ginástica, ou seja,
aquelas estratégias “obtidas fundamentalmente a partir das potencialidades do clima
do local e de características da envoltória e da massa construtiva das edificações…”
(GODINI,2018), além de ser vantajoso para o usuário, podendo garantir a qualidade
do ar e a temperatura ideal para a prática de atividades físicas, é interessante também
do ponto de vista do consumo energético, permitindo a redução da carga térmica
interna sem gastos de energia.
Visto isso, o objetivo geral deste trabalho consiste em elaborar o anteprojeto
de uma academia de ginástica utilizando sistemas passivos de climatização para a
promoção do conforto térmico. Para atingir esse objetivo geral, foram traçados os
seguintes objetivos específicos: i) definir o que é considerado uma situação de
conforto térmico em um ambiente voltado para a prática de exercícios; ii) estudar o
que são sistemas passivos de climatização e suas vantagens; e iii) compreender o
que define o porte de uma academia de ginástica.
A nível de estudo, o equipamento foi locado em Ponta Negra, bairro de Natal
com alto potencial paisagístico, infraestrutura consolidada e uma legislação mais
restritiva quanto à verticalização na região próxima à praia, favorecendo o
aproveitamento da ventilação natural.
Além disso, para alcançar as metas estabelecidas foi preciso buscar uma
metodologia que fundamentasse o processo investigativo e projetual, auxiliando na
definição das etapas a serem seguidas durante a elaboração do trabalho. Para isso,
fez-se um paralelo entre a versão 6.1 do sistema de “solução criativa de problemas”
(em inglês, CPS - CREATIVE PROBLEM SOLVING), desenvolvida por Isaksen,
Treffinger e Dorval (2010), e Silva (1998).
Como resultado, tem-se uma estruturação textual em duas partes: uma teórica,
voltada principalmente para a investigação da problemática e construção de
repertório, e outra operacional, contemplando o processo projetual em si.
A primeira parte contém todo o embasamento teórico necessário para o
desenvolvimento da proposta de projeto, onde é possível compreender o que são
sistemas passivos de climatização e suas vantagens, explorar as condições de
conforto térmico em ambientes destinados à prática de atividades físicas e ver as
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obras de relevância nacional e/ou internacional que serviram como referência para o
projeto, seja no aspecto funcional, formal ou estrutural.
A segunda parte inicia-se com a preparação da ação projetual, onde são
apresentadas as informações a respeito do universo de estudo e das limitantes que
influenciaram no desenvolvimento da proposta, e finaliza com a apresentação do
anteprojeto em si, onde encontra-se todo o processo de concepção até o memorial
descritivo, que engloba a descrição geral do equipamento e suas principais
especificações técnicas.
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1. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA ARQUITETURA
Nas últimas décadas do século XX, fatores como a crise do petróleo, o
crescimento populacional, as preocupações com o clima global e o esgotamento dos
recursos naturais fizeram com que a eficiência energética ganhasse importância e
entrasse em pauta na agenda mundial.
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1.1. O pioneirismo da Arquitetura Vernacular no bioclimatismo
O termo “vernacular” representa para a arquitetura aquela construção com
técnicas e materiais originários de uma região específica, refletindo as singularidades
de um povo e de um lugar (FERREIRA, 1999). Ela é considerada simples e isenta de
estrangeirismos, cujos conhecimentos tradicionais foram sendo transmitidos ao longo
dos anos
Apesar de suas vantagens, esse modelo hoje é criticado por ser repetitivo,
informal e pouco inovador. Acontece que a Arquitetura Vernacular é normalmente
produzida por povos que dispõem de um nível tecnológico bem menos avançado,
nível este que inclui não só os aspectos especificamente construtivos, mas também
os referentes aos transportes, comunicação, etc (TEIXEIRA, 2017). Por isso, existe
uma certa resistência quanto ao seu uso. Em consequência, os exemplos tradicionais
dessa arquitetura ainda vivos são mais comumente encontrados nos interiores.
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Com o avanço da tecnologia, apareceram novos materiais como o aço, o
concreto e o vidro, assim como novas soluções de iluminação e condicionamento
artificial, fazendo com que os métodos mais antigos entrassem em desuso
principalmente nos centros urbanos, onde a tradição acabou perdendo o lugar para
edifícios mais novos, mais caros e não necessariamente mais eficientes. A arquitetura
se internacionalizou, deixando de lado as especificidades que cada lugar apresenta.
20
Figura 3: Zoneamento bioclimático brasileiro
21
especificidades e necessidades de agradar o público, é mais recomendável a
integração entre sistemas passivos e ativos (de preferência os mais econômicos) a
fim de aumentar a eficiência energética sem comprometer o conforto dos usuários.
Assim, as diretrizes da norma podem sim servir de base para o projeto de uma
edificação comercial, desde que se atente para as exigências de cada tipo de uso.
Holanda (1976), baseado em sua atuação como arquiteto durante oito anos no
Nordeste, também fornece em forma de roteiro uma série de soluções arquitetônicas
consideradas por ele como primordiais para se construir no clima quente e úmido
dessa região. As orientações dele coincidem com as da NBR 15220-3, ressaltando a
importância da ventilação cruzada e da proteção da edificação da radiação solar direta
a partir do sombreamento. Fazer uso do pé-direito alto, vazar os muros, criar espaços
contínuos e trazer o verde para dentro são algumas de suas recomendações.
Outra ferramenta útil na compreensão do comportamento climático de cidades
são as cartas bioclimáticas. Elas permitem a visualização das condições térmicas ao
longo do ano em determinado local e a aplicação de estratégias de acordo com as
zonas estabelecidas. A carta bioclimática de Natal (Figura 4), por exemplo, indica que
uma arquitetura com boa ventilação natural pode resolver os problemas de
desconforto causado por calor em 83,5% das horas do ano (LAMBERTS, DUTRA e
PEREIRA, 2014).
Em pesquisa realizada por Pedrini e Trindade (2010), foi possível confirmar
também por meio de simulações termo-energéticas que as soluções de
sombreamento e orientação adequados de edifícios no clima quente e úmido de Natal
refletem diretamente na diminuição do consumo de energia com ar-condicionado,
tendo sido o sombreamento responsável pela maior parcela da economia gerada.
22
Figura 4: Carta bioclimática de Natal
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dependência do clima. Em museus, por exemplo, mesmo quando situados em climas
frios, a radiação solar é indesejável pois pode danificar as obras de arte, enquanto em
residências no mesmo local o aproveitamento da radiação pode ser interessante para
tornar o ambiente termicamente confortável no período de inverno.
Após estudadas todas as escalas, é possível começar a pensar na orientação
solar adequada dos compartimentos, nas escolhas materiais, decisões formais, na
localização das aberturas e proteções solares, no sentido das águas da cobertura nos
elementos a serem explorados ou evitados, entre outras soluções.
No final de cada proposta projetual, o ideal é que sempre sejam feitas
simulações para avaliar o desempenho do edifício, verificando a eficácia das decisões
tomadas durante o processo e realizando alterações caso necessário. Mas, a falta de
ferramentas de simulação acessíveis à grande maioria dos arquitetos ainda inviabiliza
o sucesso da arquitetura bioclimática (TRINDADE, 2006). Os programas que
oferecem a análise completa do desempenho energético em edificações, por
exemplo, são escassos e de alta complexidade, requerendo normalmente uma
pessoa treinada para sua operação.
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2. CONFORTO TÉRMICO EM ACADEMIAS DE
GINÁSTICA
Na Arquitetura, quando se trata em proporcionar o máximo de satisfação
possível ao usuário de uma edificação, prevendo espaços com condições ambientais
satisfatórias que o permitam sentir-se confortável, e ao mesmo tempo economizar
energia, o conforto térmico é sem dúvidas um dos principais critérios a ser
considerado na hora de projetar.
Essas trocas de calor entre o corpo e o meio são influenciadas pelas variáveis
de conforto térmico, que podem ter natureza ambiental, pessoal ou outras (Quadro 1).
A nível de estudo, as disciplinas de conforto ambiental consideram apenas seis
dessas variáveis como as principais: as quatro variáveis ambientais, que são a
temperatura do ar, movimento do ar, umidade relativa do ar e a radiação térmica, e a
vestimenta e a atividade metabólica, que são chamadas de variáveis pessoais por não
depender do meio.
Tem-se a neutralidade térmica quando o calor produzido pelo corpo é igual ao
calor perdido para o ambiente, e apesar dela ser uma condição para se obter conforto
térmico, não garante a sensação de conforto em si. É possível encontrar pessoas
reclamando do desconforto térmico mesmo quando as condições ambientais são
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favoráveis se estiverem estressadas, por exemplo. Por outro lado, pessoas podem
estar satisfeitas em condições desfavoráveis se estiverem muito motivadas ou já
habituadas.
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Em meio a tantos fatores e variáveis que podem influenciar no conforto térmico,
alguns pesquisadores fizeram tentativas de estabelecer índices para predizer
situações de conforto ou desconforto de um grupo. Dentre eles, destaca-se Fanger
(1972). Através de um trabalho experimental, Fanger criou um banco de dados com
avaliações de pessoas de diferentes nacionalidade, idades e sexos, onde o Voto
Médio Predito (PMV do inglês Predicted Mean Vote) consiste em um valor numérico
que traduz a sensibilidade humana ao frio e ao calor (negativo para frio, positivo para
calor e zero para conforto térmico).
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Trazendo esses dados para a realidade do Brasil, nota-se que essas
temperaturas são consideradas baixas aqui, principalmente para cidades de clima
quente e úmido como Natal, onde a temperatura média nos meses de verão é de 27°C
e de 24°C no inverno¹. Possivelmente, as condições recomendadas por essas normas
só seriam atingidas no Nordeste em espaços climatizados artificialmente.
__________________________________________________________________
¹ Disponível em: https://pt.climate-data.org/location/2030/
28
Figura 7: Mulher suada após prática de atividade física
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3. REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Conforme apresentado, um projeto que busca gastos energéticos mínimos e
ao mesmo tempo o conforto de seus usuários deve levar em conta tanto as
especificidades do clima quanto as do uso proposto.
Tanto para academias de ginásticas quanto para o clima de Natal, a ventilação
natural demonstra ser a estratégia passiva de maior potencial, sendo importante para
garantir a qualidade do ar do ambiente e o resfriamento da edificação e do usuário.
No entanto, é importante prever equipamentos de baixo consumo para suprir ou
potencializar essa condição quando necessário, pois a velocidade do vento pode
oscilar em determinadas horas do dia e épocas do ano.
Já a radiação térmica e a radiação solar direta, devem ser evitadas sempre que
possível, pois comprometem o conforto do praticante de atividade física e aumentam
a carga térmica da edificação, gerando mais calor para o ambiente.
As diretrizes projetuais apontadas em tópicos anteriores, como as da NBR
15220-3 (ABNT, 2005) e de Holanda (1976), são adequadas à essas condições e
deverão ser consideradas na hora de projetar. Porém, a fim de expandir o repertório,
serão apresentados a seguir os estudos de referência considerados relevantes para
o desenvolvimento da proposta no ponto de vista funcional, formal, material e
estrutural, mantendo sempre como foco os conceitos bioclimáticos.
Foram ao todo escolhidos cinco projetos, sendo três deles referentes a
academias de ginástica situadas em Natal/RN e outros dois de diferentes usos
localizados no Vietnã, país de clima tropical úmido semelhante ao Brasil cujas
estratégias bioclimáticas adotadas podem servir de base para o projeto. Para os três
primeiros foi possível realizar a análise in loco (estudo direto), quanto aos demais as
informações foram obtidas unicamente através de pesquisas online (estudos
indiretos).
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3.1. Academia Pulse Health & Fitness
A Pulse Health & Fitness é uma das maiores e mais conceituadas academias
de ginástica de Natal (RN), contando com aproximadamente dois mil alunos ativos.
Ela se localiza no bairro de Lagoa Nova, região central da cidade, em um lote em
declive, situada no cruzamento entre as ruas Aloísio Bezerra e Dr. José Gonçalves.
A edificação projetada no ano de 2014 pelo escritório RoccoVidal Perkins+Will
possui quatro andares e aproximadamente 4.200 metros quadrados de área
construída, tendo como diferencial no setor o fato de contemplar espaços de
convivência como restaurante, brinquedoteca, loja de suplementos e salão de beleza,
além de oferecer uma extensa e diversificada grade de aulas com atividades voltadas
a todas as idades e perfis de alunos. Musculação, ergometria, spinning, ginástica,
dança, lutas, treinamento funcional, cross training e yoga são algumas das
modalidades oferecidas.
A entrada da principal da academia acontece pela rua Aloísio Bezerra, onde
situa-se a chamativa fachada com o painel de brise-soleil de madeira e uma marquise
de concreto que se abre para a rua (Figura 8). O usuário tem acesso à recepção por
um deque de madeira, para onde voltam-se também as entradas de dois espaços
comerciais: um salão de beleza e uma lanchonete de comida saudável.
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Ao entrar, tem-se logo de cara um balcão de recepção e uma parede de vidro
ao fundo (Figura 9), apresentando um pouco do que está por vir. Ainda neste nível da
recepção, encontra-se o salão da musculação (Figura 10), dividido em áreas de
equipamentos e de pesos livres, identificados pela diferença de pisos (piso
amadeirado e borracha de 15mm, respectivamente). O pé-direito duplo, a parede
espelhada também dupla e as lajes em concreto aparente são elementos que chamam
atenção e dão identidade ao ambiente.
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O átrio é o grande organizador e integrador do projeto, conectando
visualmente os quatro níveis da academia. É neste átrio onde também estão
localizados os sanitários individuais, a escada cascata em concreto aparente e os
elevadores. Além disso, é o espaço melhor iluminado naturalmente.
Figura 11: Vista do átrio central Figura 12: Iluminação natural no átrio central
Fonte: Daniel Ducci, 2014. Fonte: Pulse Health & Fitness, 2017.
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spinning, com capacidade para 12 alunos, e outra maior de multiuso, onde ocorrem
as aulas de funcional e dança. No pavimento superior, é onde está situado o salão de
musculação e mais duas pequenas salas que dão apoio à ele: a sala de avaliação
física e outra sala administrativa. Por fim, no subsolo, cujo acesso é dado pela escada
localizada externamente à academia ou pelo elevador, tem-se um grande tatame,
onde são ministradas as aulas de luta, uma lanchonete, dois banheiros (um feminino
e um masculino), uma sala de pilates e espaços comerciais (uma loja de roupas e
uma clínica odontológica).
O que chamou atenção na visita à Hi-fit é que ela se situa em uma região
extremamente ventilada e o projeto soube aproveitar essa potencialidade, como é
possível perceber com as suas grandes aberturas dispostas na fachada principal e
nas duas laterais (Figura 13). Para complementar a ventilação cruzada, é feito o uso
de ventiladores, principalmente no salão de musculação (Figura 14), onde as
atividades são intensas e com uma maior aglomeração de pessoas. A marquise,
destacada pela cor azul, atua como o único elemento de sombreamento dessas
aberturas, protegendo-as nas horas de sol a pino.
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Figura 14: Salão de Musculação
35
Figura 15: Vista superior do complexo WM Fitness
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A pista de caminhada que rodeia o lote, o uso abundante de vegetação e os
espaços de convivência estabelecidos na área externa foi o grande diferencial
identificado nesse local, permitindo uma maior interação dos usuários com o exterior
(Figura 18 e 19).
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Figura 20: Vista da fachada principal
Figura 21: Painel vazado visto do interior Figura 22: Integração com a natureza
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Pensando em conectar o estilo de vida dos clientes com a natureza, os
arquitetos decidiram começar a projetar o edifício a partir de um grande vazio no meio
(Figura 24). Este átrio, com água, iluminação zenital e plantas nativas, cria uma
ligação entre os espaços da casa e promove a ventilação natural, mantendo os
ambientes frescos.
A casa encontra-se voltada para o nascer do sol, recebendo a luz suave e direta
do início da manhã, mas também a luz forte e agressiva do meio do dia
(CAVALCANTE, 2018). Para resolver esse problema, foi criada uma cobertura verde
(Figura 25), que reduz o calor proveniente da luz solar em seu maior ângulo de
incidência, e brises verticais, para deixar a luz do sol da manhã entrar na casa sem
comprometer a ventilação. O jogo de sombras foi uma característica incluída no
projeto, aceitando a regra da natureza e brincando com ela.
Os traços contemporâneos esteticamente agradáveis presentes nas formas
retas, simples e limpas da edificação (Figura 26), alinhados às estratégias de
adequação ao clima, são características marcantes a serem aproveitadas.
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Figura 24: Átrio da Casa Brise Figura 25: Cobertura verde
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4. CONDICIONANTES PROJETUAIS
Respeitando as considerações de Grigoletti (2005), que defende a
abordagem do projeto bioclimático em três escalas, a macroclimática, mesoclimática
e microclimática, o presente capítulo tem como objetivo tratar das principais
diretrizes norteadoras para o desenvolvimento do anteprojeto e encontra-se
subdividido em três tópicos, apresentando primeiramente o universo de estudo onde
o lote está inserido e seu entorno imediato (escala macroclimática), depois fazendo
uma revisão da legislação atuante sobre o recorte espacial escolhido e o tipo de uso
estabelecido (escala mesoclimática), e, por fim, apresentando as características
físicas do terreno, a partir principalmente da análise da topografia, da ventilação, da
insolação e do registro de barreiras próximas (escala mesoclimática e
microclimática).
41
Visto isso, o recorte espacial escolhido para ser trabalhado é a ZET-1 (Figura
29), no bairro de Ponta Negra, Região Administrativa Sul da cidade. O potencial
paisagístico e ambiental do local, em razão da proximidade com o mar, aliado ao
gabarito limitado das edificações foram aspectos que contribuíram para essa
decisão, visto que influenciarão positivamente nas questões de conforto térmico. O
fato de possuir infraestrutura consolidada, fácil acesso e área disponível compatível
com o provável tamanho do projeto também agregou na escolha.
Figura 27 - Carta solar de Natal Figura 28- Rosa dos ventos de Natal
42
Apesar do bairro ser reconhecido principalmente pelo seu potencial turístico,
marcado sobretudo pela presença da praia e da zona hoteleira, também apresenta
caráter residencial, contando com um total de 26.406 habitantes (SEMURB, 2012),
além de ser frequentado pela população da cidade, atraída principalmente pelas
inúmeras opções de comércio e lazer oferecidas.
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adequada ao uso proposto por abranger empreendimentos do tipo casas de banho e
fisioterapia.
Considerando que a edificação proposta será uma academia de ginástica, o
Código de Obras e Edificações (NATAL, 2004), responsável por estabelecer normas
que disciplinam a elaboração de projetos bem como toda e qualquer obra de
construção, ampliação, reforma ou demolição a fim de garantir a segurança, conforto
e saúde dos usuários, faz algumas indicações para esse uso.
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Figura 30 - Localização do terreno
46
Figura 31 - Características físicas do terreno
47
Em relação à existência de barreiras físicas que possam comprometer
ventilação e a iluminação natural, a restrição de gabarito aliado às características
topográficas da região favorecem o aproveitamento desses fatores e não causam
grandes interferências (Figura 33). Quanto à vegetação, existem no terreno
atualmente apenas as de pequeno porte (gramíneas e arbustos), não interferindo no
comportamento dos ventos ou formando áreas sombreadas.
Por fim, como academias de ginástica apresentam horários de funcionamento
extensos, abrindo geralmente nas primeiras horas da manhã e fechando no fim da
noite (5h às 23h, por exemplo), as questões de conforto térmico devem ser
pensadas para todos os turnos. Em razão do desalinhamento do terreno em relação
ao norte, é provável que todas as fachadas da edificação fiquem expostas a
radiação solar. Sendo assim, para melhor aproveitamento dos ventos e das brisas
sem comprometer a temperatura interna, é importante que existam aberturas
devidamente sombreadas.
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5. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ -
DIMENSIONAMENTO
A fim de preparar a ação projetual, o programa de necessidades da academia
de ginástica e o pré-dimensionamento das áreas foram construídos com base nos
estudos de referência realizados diretamente e nas condicionantes legais, estando
representado abaixo em forma de tabela e fluxograma, conforme é indicado na
literatura de Silva (1998).
Para melhor organizar esse processo, optou-se ainda por dividir o projeto em
5 setores principais, a partir dos quais foi feita a distribuição dos ambientes, sendo
eles: funcional, serviços, administrativo, apoio técnico e área externa. Além disso,
procurou-se trabalhar os valores das áreas internas em módulos de três, a fim de
facilitar o lançamento da estrutura.
Funcional
Cardio 1 72 72
Alongamento 1 36 36
Sala de aula 1 1 72 72
(multiuso)
Sala de aula 2 1 72 72
(multiuso)
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Tabela 4: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor administrativo
Administrativo
Recepção 1 36 36
Avaliação física 1 18 18
Administração 1 18 18
Reunião 1 27 27
Diretoria 1 27 27
Sala funcionários 1 18 18
Sala de controle 1 9 9
Apoio técnico
Depósitos 3 9 27
Oficina 1 18 18
Total (m²) = - - 45
50
Tabela 6: Programa de necessidades e pré-dimensionamento do setor de serviços
Serviços
Vestiários 2 36 72
WC PNE 2 4,5 9
Lanchonete 1 36 36
Nutricionista 1 9 9
Brinquedoteca
(Espaço kids) 1 36 36
Loja 1 36 36
Casa de gás 1 6 6
Casa de lixo 1 6 6
Gerador 1 6 6
Área externa
Setor Área
Funcional 504
Administrativo 153
Serviços 216
Apoio técnico 45
Total = 1026
A partir da análise das tabelas acima, observa-se que, a área útil prevista para
o projeto é de 1.026m². Somando a esse valor 15% (153,90m²) de área destinada à
circulação (horizontal e vertical) e mais 20% de área de parede (205,20m²), obtém-se
uma estimativa de 1385,10m² de área construída.
Visto isso, com base no cálculo da quantidade de vagas para este uso
estabelecido no Código de Obras do município, o estacionamento deverá ter no
mínimo 23 vagas, das quais uma será exclusivamente destinada a portadores de
deficiência e outra a idosos.
Com o objetivo de facilitar o entendimento de como os diferentes ambientes da
academia estão relacionados entre si foram feitos dois fluxogramas. O primeiro
consiste em um zoneamento mais geral, mostrando a relação que cada setor tem com
os acessos e os demais setores (Figura 34). Enquanto que o segundo é mais
específico, considerando também os ambientes (Figura 35).
A área funcional se caracteriza como a principal zona do projeto por contemplar
os espaços considerados primordiais em uma academia de ginástica, se relacionando
assim de maneira direta com os demais setores, que dão apoio a ela. A área externa,
em forma de terraço, foi pensada para atuar como um espaço de convivência,
podendo englobar usos relacionados a prática de atividade física ou simplesmente
como um espaço destinado a reunião de alunos.
52
Figura 34: Fluxograma geral
53
6. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA
Concluída a fase da programação arquitetônica, a ação projetual em si tem seu
início com os estudos preliminares, a partir da adoção do conceito e da realização de
estudos de planta baixa e de volumetria será construído o partido arquitetônico.
Tomando como base a literatura de Silva (1998), é nesse momento onde
ocorrerá o ajuste entre a forma e o seu contexto. O objetivo principal agora é
demonstrar a viabilidade do programa de necessidades frente às características do
terreno e demais condicionantes, que podem ser entendidas como legislações e
outras exigências que limitam o trabalho do arquiteto.
6.1. Conceito
A ideia central do projeto gira em torno da promoção do conforto térmico dos
usuários de uma academia de ginástica de maneira passiva, tendo a ventilação natural
como principal estratégia.
Para cumprir com esse objetivo, busca-se a permeabilidade entre os ambientes
e o contato com o exterior, não podendo desconsiderar a segurança e privacidade do
espaço. O controle do conforto nos ambientes também é uma característica desejável,
a fim ajustar as condições de acordo com a necessidade.
54
Figura 36: As características de uma janela
Durante a concepção, a primeira ideia foi descartada por não oferecer uma
solução formal interessante, sobretudo no bloco 2, e por impossibilitar a entrada de
ventilação natural em boa parte do setor administrativo. Na segunda, decidiu-se
alongar os blocos, deixando a forma menos compacta e liberando mais as faces da
parte administrativa.
56
Figura 38: Zoneamento horizontal da proposta três
57
Figura 39: Zoneamento da proposta três a partir da volumetria
58
Figura 40: Zoneamento horizontal final da edificação
59
Figura 41: Zoneamento geral final do terreno
60
6.3. Partido arquitetônico
O partido arquitetônico é um produto do estudo preliminar, sendo considerado
a “síntese das características principais do projeto” (SILVA, 1998, p. 100). Ele é a
descrição dos traços elementares da proposta desenvolvida pelo arquiteto,
contemplando suas escolhas funcionais, tecnológicas e estéticas.
Com base nesse caráter de união de informações, o partido se desenvolveu
fundamentado nos conceitos de robustez, permeabilidade, transparência,
aproveitamento do potencial cênico, segurança, controle, conforto e privacidade.
61
7. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO
A função do memorial é descrever a proposta arquitetônica, fazendo uso da
linguagem textual e de imagens, justificando assim as escolhas funcionais, técnicas e
estéticas. Esses aspectos serão abordados nos tópicos a seguir como forma de
complemento às pranchas gráficas, que compõem o segundo volume do trabalho.
62
Figura 44 - Vista da entrada do bloco 2
64
7.3. Sistema de proteção e combate a incêndio
O edifício contará com um sistema de prevenção fixa (dois hidrantes),
prevenção móvel (extintores de incêndio), chuveiros automáticos (sprinkler) nas
circulações e área comuns, iluminação de emergência, sinalização, escada
convencional e instalação de hidrante público, conforme estabelece o Código de
Segurança e Prevenção contra Incêndio e pânico do Rio Grande do Norte para
edificações do tipo reunião pública com altura entre seis e quinze metros e área
construída superior a 750m².
65
Os pontos negativos desse sistema é que ele requer mão de obra qualificada
para a sua execução. Além disso, considerando a natureza do projeto, é importante
que sejam realizados cálculos que prevejam as vibrações nas lajes, para que assim
sejam feitas as adaptações necessárias.
O edifício também segue a modulação estrutural de 6m por 6m, com paredes
em alvenaria simples e tijolos cerâmicos de 8 furos com função apenas de vedação.
Os pilares serão executados em concreto armado, em sua maioria retangulares
e pré-dimensionados em 40x20cm. Algumas exceções se deram por questões
estéticas, como os das fachadas (40x60cm).
Em relação ao tipo de cobertura, para proporcionar um maior conforto térmico
ao usuário e respeitar a restrição de gabarito decidiu-se trabalhar com o teto jardim
(ou telhado verde).
Além do benefício estético, o telhado verde funciona como isolante térmico nas
coberturas das edificações, melhoraram a qualidade do ar e minimizam o efeito das
ilhas de calor nas cidades. Eles podem ser de três tipos: extensivo, intensivo e semi-
intensivo. O escolhido para o projeto foi o extensivo, que é o mais simples,
comportando plantas rasteiras de pequeno porte.
Independentemente do tipo escolhido, os sistemas empregados em coberturas
verdes variam bastante. Caso a montagem seja feita diretamente sobre a laje, como
é o caso neste projeto, é necessário aplicar todas as camadas representadas no
detalhamento abaixo (Figura 47). Vale salientar que no projeto a laje da cobertura foi
representada com 30 cm de espessura, que correspondem aos 15 cm da laje
estrutural mais as cinco camadas componentes do sistema alveolar (desconsiderando
a altura a vegetação).
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Figura 50: Aplicação de placas de concreto em calçadas
Figura 51: Piso laminado Durafloor cor Carvalho Gante da linha Sense
Nos muros laterais que delimitam o terreno, foi proposta a pedra rachinha por
também ser um material que isola bem o calor e mantém sua superfície com
temperaturas amenas.
Internamente, adota-se para as áreas molhadas o mesmo porcelanato aplicado
no piso e tinta acrílica cor branco gelo nos demais ambiente.
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7.6 Taxa de renovação de ar e soluções alternativas de conforto
Para o cálculo da taxa de renovação de ar nos ambientes onde são praticadas
atividades metabólicas intensas na academia foi utilizada uma planilha em excel
fornecida pelo Laboratório de Conforto Ambiental (LABCON) da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), onde foram inseridos dados relacionados ao azimute
das fachadas, dimensões das aberturas, peitoril e o volume das salas.
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Nos demais ambientes da academia cujo pé-direito baixo não contribuiu para a
instalação de um modelo como esse, indica-se os convencionais ventiladores de
parede.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi projetar uma academia de ginástica que fizesse
proveito da ventilação natural, uma potencialidade do clima de Natal, proporcionando
maior conforto térmico aos usuários com menores gastos energéticos.
Outro grande desafio encontrado para quem trabalha com ventilação natural é
conseguir conciliar a questão do conforto acústico, pois na medida em que se busca
o máximo de integração com o exterior e permeabilidade entre os ambientes internos,
o isolamento do som é comprometido.
Por fim, ao trabalhar com essa temática, foi percebido um preconceito existente
com a ideia de academias naturalmente ventiladas, que inclusive são raridades não
apenas na cidade como em todo o país. Os empreendimentos mais reconhecidos
fazem uso do conceito de climatização artificial para atrair seus clientes, atrelando
isso ao fator de maior promoção de conforto.
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REFERÊNCIAS
AGNOL, Bruna; ALMEIDA, Caliane. Patrimônio Vernáculo: Contribuições para
uma arquitetura mais sustentável. 5º Seminário Internacional de Construções
Sustentáveis. IMED, 2016.
_________. Instalação predial de água fria. NBR 5626, Rio de Janeiro: ABNT, 1998.
CAVALCANTE, Lis. Casa Brise / MIA Design Studio. Archdaily: 3 de maio de 2018.
Disponível em: <www.archdaily.com.br/br/893538/casa-brise-mia-design-
studio?ad_source=myarchdaily&ad_medium=bookmark-show&ad_content=current-
user>. Acesso em: julho de 2018.
ISAKSEN, S.G.; TREFFINGER, D.J.; DORVAL, K.B. Creative Problem Solving (CPS
Version 6.1™) - A Contemporary Framework for Managing Change. Sarasota, FL: Center
for Creative Learning, Inc, 2010.
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ISO 7730. Moderate Thermal Environments - Determination of the PMV and PPD
Indices and Specification of the Conditions for Thermal Comfort. Geneva:
International Standards Organization, 2nd ed. 1994.
JONES, B.W.; HSIEH, K.; HASHINAGA, M. The effect of air velocity on thermal
comfort at moderate activity levels. ASHRAE, 1986.
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______________________. SEMURB (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Urbanismo). Anuário de Natal 2016. Natal, RN: 2016.
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