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CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
NATAL, RN
2022
MARIA HELENA APOLINÁRIO SOARES
NATAL, RN
2022
Esta obra está licenciada com uma licença Creative Commons Atribuição 4.0
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
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Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Prof.ª Dra. Verônica Maria Fernandes de Lima
Orientadora
____________________________________________________
Prof.ª Dra. Anna Rachel Baracho Eduardo Julianelli
Membro interno
____________________________________________________
Prof.ª Ma. Miss Lene Pereira da Silva
Membro externo
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço à minha família, em especial aos meus pais, por todo
apoio e ensinamentos que sempre me deram, especialmente durante todo o período
do curso. O suporte, amor e esforços de vocês foram fundamentais nessa caminhada,
para que eu conseguisse ingressar e concluir este curso.
À minha orientadora, Profa. Dra. Verônica Lima, por todas as orientações que
contribuíram grandiosamente para o desenvolvimento do trabalho, pelo aprendizado
ao longo do processo e pela compreensão e confiança que depositou neste trabalho
e em mim.
Os cursos d’água tiveram uma forte atuação no processo de expansão das cidades.
Após um período de intenso crescimento e modernização, os rios urbanos foram
degradados como consequência desse processo e passaram a ser indesejados pela
população por serem vistos como responsáveis pela ocorrência de inundações e pela
condição insalubre da cidade. Em Natal/RN, o Riacho do Baldo passou por processo
similar e optaram por sua canalização com a intenção de solucionar os problemas
com as enchentes e melhorar a saúde da população, o que impacta o fluxo natural
hídrico e o ambiente urbano até hoje. Desse modo, tendo em vista os estudos e as
discussões atuais em prol da recuperação e valorização dos corpos d’água, este
trabalho objetiva elaborar diretrizes para futuras propostas de intervenção para o
sistema de espaços livres públicos do entorno do canal do Baldo, respeitando as
formas preexistentes de uso e apropriação do espaço urbano por seus usuários, de
forma a contribuir para a vitalidade urbana. Para tanto, foi desenvolvida a análise
morfológica urbana do entorno do canal do Baldo, foram levantados os espaços livres
públicos e estudados seus atributos e suas características para definir diretrizes e
ações que ordenarão esses espaços como um sistema, de forma a valorizar a
presença do Baldo no ambiente urbano e a fortalecer o vínculo da população com este
espaço.
Watercourses had a strong role in the process of city expansion. After a period of
intense growth and modernization, urban rivers were degraded as a result of this
process and became unwanted by the population as they were seen as responsible
for the occurrence of floods and the unhealthy condition of the city. In Natal/RN, the
Baldo’s stream went through a similar process and they opted for its channeling with
the intention of solving problems with floods and improving the health of the population,
which impacts the natural flow of water and the urban environment until today. Thus,
in view of the current studies and discussions in favor of the recovery and
enhancement of water bodies, this work aims to elaborate guidelines for future
intervention proposals for the system of public open spaces around the Baldo’s canal,
respecting the preexisting forms of use and appropriation of urban space by its users,
in order to contribute to urban vitality. To this end, an urban morphological analysis
was carried out around the Baldo’s canal, public open spaces were surveyed and their
attributes and characteristics were studied to define guidelines and actions that will
order these spaces as a system, in order to enhance the presence of Baldo in the
urban environment and to strengthen the link between the population and this space.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 130
INTRODUÇÃO
Ainda no século XIX, com a adoção de políticas apoiadas nas ideias higienistas,
muitos rios foram canalizados, drenados etc., com a justificativa que era necessário
impedir a proliferação de agentes causadores de enfermidades provenientes de
fatores ambientais. Esses projetos descaracterizavam os leitos e as margens dos rios,
colocando em desarmonia a relação entre as cidades e suas frentes d’água.
1
Notícia disponível em: https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2022/07/08/chuva-volta-a-
alagar-ruas-de-natal-e-agrava-situacao-de-areas-afetadas-da-capital-e-outras-cidades-do-rn.ghtml.
Acesso em: 27 out. 2022.
12
maior parte do canal apresenta aspectos de abandono, como falta de mobiliário e
manutenção da vegetação, pavimentação e estrutura do canal.
Todavia, nos últimos anos, o tratamento dado aos corpos d’água urbanos vem
mudando na tentativa de recuperar a relação harmoniosa entre estes e as cidades.
Diversas cidades realizaram intervenções de forma a reincorporar os corpos d’água à
paisagem e à dinâmica urbana, como a revitalização do rio Cheonggyecheon, em
Seul, na Coreia do Sul, e o Projeto Beira Rio, no município de Piracicaba, São Paulo,
Brasil.
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de forma a contribuir para a vitalidade urbana. Sob essa ótica, foram definidos os
seguintes objetivos específicos: compreender as frentes d'água e os demais espaços
livres públicos enquanto integrantes de um sistema e como podem contribuir para a
vitalidade urbana; Entender como os usuários utilizam as áreas livres públicas no
entorno do canal do Baldo no seu cotidiano a fim de respeitar os costumes e atividades
desenvolvidas no local; Entender como espaços públicos livres do entorno do canal
do Baldo se relacionam entre si, olhando os mesmos como um sistema; Elaborar
diretrizes para futuras propostas de intervenção que contribuam para a vitalidade
urbana da área.
Portanto, o cenário atual motiva o estudo da área para que sejam pensadas
diretrizes que embasem propostas com o objetivo de melhorar o espaço para usufruto
da população a fim de torná-lo mais agradável e atrativo para o desenvolvimento de
atividades de lazer, esportivas, sociais, entre outras necessidades, incentivando seu
uso pela população.
O primeiro capítulo, “Os espaços livres públicos”, objetiva entender o que são
espaços livres públicos, como se caracterizam e sua importância para as cidades,
assim como, a assimilação dos espaços livres públicos como um sistema e seus
efeitos para as cidades. Também aborda o conceito de vitalidade urbana.
14
O terceiro capítulo, “Conhecendo a área de estudo”, inicia abordando as
principais transformações urbanas que ocorreram no Canal do Baldo e seu entorno,
após, consulta as prescrições urbanísticas incidentes, analisa morfologicamente a
área com base em Panerai (2006), assim como analisa os espaços livres identificados,
resultando em sua classificação e seleção dos espaços para compor um sistema de
acordo com a metodologia de Tardin (2008).
Por fim, o quarto capítulo, “Diretrizes e ações para o canal do baldo e seu
entorno”, identifica os problemas e as potencialidades da área e depois indica as
diretrizes e as ações para ordenar os espaços livres públicos como um sistema.
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1 OS ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS
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evidentemente não o estamos restringindo à expressão oral, atos, gestos,
formas de apresentação e até mesmo a simples presença é portadora de
sentido e de comunicação. Por isso, espaços públicos convidam à
observação e a vivência da alteridade. Por último, como espaços de
comunicação, de visibilidade, além de permitirem a observação são
portadores de reflexividade: observamos e somos observados. A
simultaneidade das ações transforma atos, comportamentos e formas de
apresentação em informação, em interpelação e em diálogo (GOMES, 2018,
p. 118).
Lima (2008) ressalta a importância dos espaços públicos, que desde a Grécia
antiga, quando eram relacionados à religião e à democracia, são palco da
expressividade das relações humanas que passam por transformações provocadas
por mudanças sociais ao longo dos anos, tendo autores como Hannah Arendt (2001),
Jurgen Habermas (1984) e Richard Sennett (1976) contribuído para o entendimento
do conceito e de suas transformações.
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Segundo Magnoli (1982), os espaços livres são os não edificados: quintais,
jardins, ruas, avenidas, praças, parques, rios, matas, mangues, praias
urbanas, ou simples vazios urbanos. Sua localização, acessibilidade e
distribuição formam um complexo sistema de conexões com múltiplos papéis
urbanos: atividades do ócio, circulação urbana, conforto, conservação e
requalificação ambiental, drenagem urbana, imaginário e memória urbana,
lazer e recreação, dentre outros. Podem ser públicos ou privados
(CUSTÓDIO, MACEDO, et al., 2009, p. 5).
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conservação, porém, as praças e os bosques também estão incluídos (CARNEIRO,
MESQUITA, 2000, apud LIMA, MEDEIROS, 2016).
Apesar das diversas funções desempenhadas pelos espaços livres, que são
relevantes para o funcionamento e para a qualidade de vida nas cidades, o que se
percebe, na maioria dos casos, são áreas subutilizadas ou que não possuem uma
função exata dentro do espaço urbano, o que decorre em abandono tanto pela
população, quanto pelo poder público. Dito isso, também é importante considerar,
dentro deste contexto, que a crescente violência urbana “acelerou o processo de
internalização das atividades comunitárias” (LIMA, 2008, p. 141).
Tardin (2008) observou que, “ao analisar a realidade urbana das grandes
cidades na atualidade como cidades estendidas, transformadas e fragmentadas, se
comprova que o espaço livre sofreu um longo processo de desintegração para
adequar-se à ocupação urbana” (TARDIN, 2008, p. 53). Dito isto, à exceção dos que
já possuem funções determinadas, os espaços livres são tidos como “sobra”,
assumindo uma posição passiva dentro do planejamento urbano e sendo reservados
para posterior ocupação ou para a proteção ambiental. Esta postura “conduziu à
insularidade destes espaços, devido a suas escassas relações com os assentamentos
e com as infra-estruturas, e a sua apresentação como um fato isolado, com lógicas
intrínsecas e desvinculadas entre si, que destacam seu caráter residual” (p. 54).
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– Controle sobre as dinâmicas. Corresponde à presença de elementos
que são a fonte dos recursos necessários para a conformação do meio.
Cada elemento do sistema possui uma margem, que é a fronteira que
o separa dos elementos adjacentes. Duas margens combinadas geram um
boundary zone ou zona de fronteira, que pode ser entre espaços livres ou
entre espaços livres e estrato construído (TARDIN, 2008, p. 46).
Além disso, este sistema, por ser dinâmico, varia com o passar do tempo. “Os
espaços livres podem passar de não ocupados a ocupados, de espaços com água a
espaços secos, de espaços explorados a espaços abandonados, etc.” (TARDIN,
2008, p. 48). Por esse motivo, é possível identificar, na atualidade, as marcas
adquiridas das modificações e ações que foram incorporadas ao longo dos anos,
sendo analisadas e apropriadas como “estratégia de intervenção no território”
(TARDIN, 2008, p. 48).
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Ao tratar dos elementos biofísicos, importantes para a manutenção e a
sustentabilidade do território, o sistema de espaços livres apresenta como
contribuição “tanto a possibilidade de preservar os processos naturais, como a
oportunidade de promover a interseção entre ecologia e meio urbano no projeto
territorial” (TARDIN, 2008, p. 50), haja vista que a ecologia constitui um componente
essencial no processo de proposição e elaboração de intervenções urbanísticas
(TARDIN, 2008).
Nos anos setenta, como reação às consequências trazidas pela explosão das
cidades, como a queda na qualidade de vida urbana, a degradação dos espaços livres
e o crescimento acelerado e desordenado, muitos trabalhos foram concebidos para a
melhoria da qualidade de vida coletiva nos espaços livres públicos urbanos e para a
valorização da paisagem (TARDIN, 2008). Ainda nos anos setenta, foram
incorporadas ideias de teor ambiental e ecológico em iniciativas que se preocupavam
com a “integração entre as distintas instâncias da paisagem” (p. 41). Seguindo esta
perspectiva, a busca pelo desenvolvimento urbano sustentável passou a constar em
muitos planos urbanísticos, “e a proposta do sistema de espaços livres, presente em
diversos deles, representa um mecanismo de ordenação que tenta integrar a
ocupação urbana e o respeito aos recursos do território” (p. 41).
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(CUSTÓDIO, MACEDO, et al., 2009). Ademais, Tardin (2008) ressalta a importância
de “preservar os rasgos físicos significativos dos espaços não ocupados” (TARDIN,
2008, p. 53) para assegurar e beneficiar a qualidade visual e a identidade do território,
servindo também para a ordenação do sistema de espaços livres.
O arranjo dos espaços livres públicos dentro da estrutura urbana “pode facilitar
ou dificultar o potencial de deslocamento das pessoas na cidade”, influenciando na
eficiência desses espaços (HILLIER, HANSON, 1984, apud CASTRO, FREITAS,
SILVEIRA, 2016, p. 127). Outro fator que contribui para a compreensão do espaço
livre público é a união da facilidade de acesso com ações efetivas de orientação
espacial, que apontam aspectos relevantes para o usuário como “sinalizações
diversas, comunicação, apropriação do espaço e integração ou exclusão espacial”
(MATIAS, COSTA, 2016, p. 91).
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que envolvem o planejamento e o projeto das cidades, os espaços livres públicos
passam a ser mais valorizados e, consequentemente, apropriados pela população.
Além da busca por segurança, outro motivo para o não uso dos espaços
públicos está na baixa qualidade dos projetos, que não consideram as mudanças
sociais. Devem ser incorporados aspectos que favoreçam as interações do coletivo,
como a priorização de ocupação dos espaços pelos pedestres, ao invés dos veículos
(GEHL, GEMZØE, 2002, apud SANTANA, ELALI, 2016).
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Outra questão abordada pelos estudos voltados para o funcionamento dos
espaços públicos, é a percepção dos usuários, que pode ser influenciada pelos
sentidos (visão, audição, tato, olfato, cinestesia) e pela memória (individual e coletiva)
relacionada ao espaço, assim como, influencia as relações que esses usuários têm
nele e com ele (SANTANA, ELALI, 2016).
É preciso atentar, porém, para a escala dos espaços livres e a relação que
estabelecem com o espaço edificado. Se a dimensão do espaço for maior do que a
capacidade de ser plenamente apropriado, pode transmitir a sensação de estar vazio,
deserto, o que pode acarretar atos de vandalismo e, assim, afastar as pessoas dos
espaços livres públicos, prejudicando a vitalidade. “Com isso, temos nessas áreas o
efeito oposto do desejado para a geração e manutenção de vitalidade urbana:
espaços vazios, desvitalizados, perigosos, degradados, abandonados” (SABOYA,
2016, n.p.).
Outro fator que Saboya (2017a) considera importante para a vitalidade urbana
é a acessibilidade, definida como “maior ou menor facilidade com que locais e pessoas
são acessados pela população” (SABOYA, 2017a, n.p.). Por isso, o autor propõe a
implantação de sistemas de transportes eficientes, amplos e seguros que promovam
o acesso à cidade e às experiências enriquecedoras que os espaços urbanos
oferecem. Também conclui que a vitalidade de um espaço é influenciada pelos
seguintes fatores: a distância que ele está de outros espaços e a sua posição dentro
do conjunto, no sentido de quanto mais “central” ele for, mais será utilizado como
caminho no percurso entre os espaços.
Todos esses fatores exercem forte influência nas relações que as pessoas
estabelecem com o espaço público e entre si, assim como, nas experiências por elas
vividas, se positivas ou não. Portanto, implicam na vitalidade deste espaço. Se de
forma oportuna, contribuem para a intensificação do uso do espaço pelas pessoas
voltado para o desenvolvimento de diversas atividades, sejam sociais, coletivas,
recreativas, comerciais ou outras.
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2 AS FRENTES D'ÁGUA E AS CIDADES
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Somando-se a isso, a água é um “elemento estruturante e ativo da criação e
transformação da paisagem” (COSTA, 2014, p. 20). De acordo com o autor, a água e
seu ciclo influenciam o desenvolvimento e o modo como os humanos ocupam o
território. Dessa forma, a paisagem é suscetível às mudanças decorrentes da ação
humana e da natureza, sendo notável a influência da água.
O Brasil é um país que possui uma extensa rede de rios perenes, uma das
maiores do mundo (REBOUÇAS, 2006, apud GORSKI, 2008). Os rios e córregos
possuem um importante papel no cotidiano das comunidades ribeirinhas que utilizam
sua água na habitação, para atividades de lazer, deslocamento, lavagem de roupas e
para pesca (GORSKI, 2008).
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Apesar de estar longe da consciência de boa parte da população, a água é um
recurso limitado, que vem sendo desperdiçado em diversas atividades realizadas pela
sociedade ao longo dos anos, como na agricultura, na indústria, nas residências e até
em decorrência da falta de manutenção da rede de distribuição, que resulta em
vazamento na tubulação. Somando-se a isto, as ações de rebaixamento dos lençóis
freáticos, que objetivam liberar espaço para os subsolos de edifícios, bombeiam e
despejam a água dentro das bocas de lobo integrantes do sistema de drenagem das
vias (GORSKI, 2008).
É comum, para a população que vive nas grandes cidades, a exposição aos
problemas decorrentes da escassez qualitativa e quantitativa da água. Além do
despejo de produtos químicos vindos das atividades do setor agrícola, os rios sofrem
com a contribuição de esgoto sem tratamento e de lixo decorrentes de um sistema
falho de saneamento urbano no Brasil. Esta situação de escassez qualitativa significa
uma ameaça ao ambiente, à saúde pública e à economia (REBOUÇAS, 2006, apud
GORSKI, 2008).
30
O aumento da população durante a segunda metade do século XX, tendo em
vista a falta de investimentos em planejamento e infraestrutura por parte da gestão,
trouxe impactos negativos para a qualidade de vida urbana, incidindo sobre a água, o
ar e o solo, que sofreram com a deterioração (GORSKI, 2008). Baptista e Cardoso
(2016) acrescentam às causas, além do aumento populacional, a sua concentração,
principalmente nas grandes cidades, a partir de meados do século XX, em áreas
inundáveis, às margens dos rios, consideradas zonas de risco. Como consequência,
prejudicou gravemente a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos, assim como,
acarretou danos socioeconômicos.
Gorski (2008) destaca que a drenagem urbana é um ponto que merece muita
atenção quando se trata de poluição, pois age como um dos principais agentes
difusores, além de ser a responsável pela situação dramática de muitas áreas
urbanizadas durante o período de chuvas. Tucci (2003, apud GORSKI, 2008, p. 50)
descreve como acontece o processo de poluição difusa: “as chuvas captam a poluição
do ar, varrem a superfície das áreas urbanizadas contaminadas por componentes
orgânicos e metais, carreiam resíduos sólidos e lixo urbanos, e transportam o esgoto
despejado indevidamente na tubulação de drenagem”.
No geral, Tucci (2006, apud GORSKI, 2008) critica a postura assumida pelo
planejamento urbano no Brasil frente aos recursos hídricos, por ser uma visão restrita
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que resulta na realização de ações para infraestrutura da cidade, de modo
desorganizado e descontextualizado. Um exemplo disso, é a prática de canalizar os
cursos d’água que, como não há uma avaliação prévia dos impactos da obra, tem
como efeito o aumento da vazão e consequentes inundações, com mais frequência.
Dowbor (2005, apud GORSKI, 2008, p. 43), concorda que a ausência de planejamento
e de uma visão ampla gera ações de caráter emergencial, como “a canalização de
trecho local de córrego, que, ao socorrer um bairro, penaliza o próximo a jusante”.
Tucci (2006, apud GORSKI, 2008), assim como Canholi (2005, apud GORSKI,
2008), propõem a substituição de medidas tradicionalmente utilizadas no Brasil
(implantação de galerias, canalização, tamponamento e retificação de córregos) por
outras que as consideram alternativas, “tais como o incremento de sistemas de
infiltração, reservatórios de retenção e detenção, restauração de áreas de várzea e
de meandrização dos leitos dos córregos e restauração da mata ciliar” (p. 45).
Saraiva (1999, apud GORSKI, 2008) alerta que os aspectos a ser levados em
consideração na avaliação de cursos d’água devem ser escolhidos de acordo com os
fatores inerentes ao caso em questão, como o escopo do projeto, os problemas que
afetam os sistemas fluviais e os elementos que integram a paisagem. A partir de vários
estudos do final da década de 1960 até a década de 1990, que a autora conseguiu
levantar, foi possível elencar as principais motivações reconhecidas na percepção,
avaliação e preferência da população pelas paisagens fluviais:
Alvim (2003, apud GORSKI, 2008) cita o TVA – Tenessee Valley Authority, nos
Estados Unidos, em 1933, como exemplo, onde se considerou o rio associado à sua
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bacia hidrográfica enquanto unidade de planejamento e gestão para resolução de
conflitos envolvendo recursos hídricos.
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Com o intuito de controlar as enchentes e as doenças que acreditavam ser
transmitidas por meio da água, os higienistas indicavam soluções para rápida
evacuação das águas pluviais e servidas, como a construção de sistemas de
esgotamento sanitário e drenagem pluvial, através de redes de tubulação
subterrâneas, e a canalização de rios e córregos, que resultaram no declínio do papel
da água na paisagem urbana (BAPTISTA, CARDOSO, 2016).
Quando se trata do Brasil, foi a partir da metade do século XX, no geral, que
“se ampliaram os conflitos entre desenvolvimento, sociedade e meio físico, e a
poluição e a dificuldade de acesso às áreas ribeirinhas foram expulsando a prática de
esportes e lazer para longe das várzeas” (GORSKI, 2008, p. 28).
Além disso, a implantação das ferrovias, a partir do século XIX, também trouxe
impactos para os cursos d’águas ao alterar a configuração de seus leitos e desmatar
suas margens (LANDIM, 2004, apud GORSKI, 2008). No geral, essa foi a medida
tomada nos casos que havia conflito com os recursos hídricos. Porém, no início do
século XX até a década de 1930, houve propostas diferentes guiadas pelas questões
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preservacionistas que buscavam a proteção desses recursos naturais, no entanto
esses projetos não seguiram adiante tendo em vista que se tratava de uma política
onerosa por conta dos altos custos das desapropriações e também existia uma grande
demanda por terrenos nas cidades (MARCONDES, 1999, apud GORSKI, 2008).
Tais planos de recuperação dos rios urbanos, no geral, extrapolam seus limites
e apresentam uma abordagem ampla e complexa que abrange melhorias para a área
urbana, para os sistemas ambientais, proporcionando o incentivo das funções sociais
na região dos cursos d’água e seu entorno, além do poder de atração de fluxos
econômicos (BAPTISTA, CARDOSO, 2016). As atuais iniciativas que objetivam a
valorização dos cursos d’água podem ser desenvolvidas “em termos simbólicos
(valores culturais), cênicos, topoceptivos (orientabilidade e identificabilidade),
bioclimáticos, afetivos e sociológicos” (MELLO, 2008, apud BAPTISTA, CARDOSO,
2016, p. 136).
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Costa (2014) explica que essas iniciativas de intervir em frentes d’água vieram
de um movimento que iniciou nos Estados Unidos da América (EUA), por volta da
década de 1960, com o propósito de criar imagens voltadas ao turismo de massa,
cultural e lazer. Contudo, o autor destaca o caráter complexo da intervenção e a
importância de considerar a participação social durante todo o processo, pensando na
busca pela redução das desigualdades socioterritoriais e na melhoria da qualidade do
ambiente humano, e de contar com parcerias entre o setor público e investidores
privados, além de promover a articulação entre os diversos atores envolvidos e seus
interesses.
Ademais, Silva e Pinto (2007) verificaram que os rios estabelecem relação com
a cidade em pelo menos três níveis de escala: as zonas ribeirinhas, a cidade como
todo e a região que contém o sistema rio-cidade e a própria bacia hidrográfica. Sendo
assim, é relevante que sejam consideradas pelas propostas de intervenção que
envolvam as frentes d’água. Outrossim, os autores indicam sete princípios a serem
seguidos pelas intervenções:
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Também foram aprovados e apresentados dez princípios ou estratégias para o
desenvolvimento de projetos de qualidade de intervenção em frentes d’água na
conferência mundial "Waterfront Expo", ocorrida em Liverpool, na Inglaterra, em 2008,
de competência das Nações Unidas Urban 21 e com o apoio do "International Centre
Cities on Water", de Veneza (COSTA, 2014):
Caracterizada como uma área pantanosa com baixios lamacentos, e forte mau
cheiro, a região de Back Bay, em seus trechos inundáveis, recebia a água advinda
das cheias que carregava esgoto (SPIRN, 1995, apud MORAIS, 2017). Em 1875, foi
criada a comissão de parques de Boston que propuseram a concepção de um sistema
linear de parques com o intuito de dispor à população um espaço de qualidade e
saudável, diferente da vida tumultuada na cidade. Para tanto, atribuíram este trabalho
a Olmsted (MORAIS, 2017).
Em Back Bay, o plano tinha como objetivo principal o controle sanitário e das
enchentes, com um parque central chamado Fens. O Back Bay Fens, concluído em
1879, foi “criado pela dragagem dos baixios de maré em uma bacia e ajardinado com
plantas tolerantes às periódicas mudanças no nível da água” e foi concebido de forma
a “armazenar temporariamente as águas das chuvas, sem provocar com isso a
inundação das áreas adjacentes” (MORAIS, 2017, p. 55).
Uma eclusa controlava o fluxo da maré para dentro e para fora do Fens,
permitindo uma circulação regenerativa da água. Um novo sistema de
canalização subterrânea interceptava o esgoto vindo do córrego Stony e o
desviava diretamente para o rio Charles. Desta forma, os baixios de maré da
Back Bay transformaram-se num atrativo parque (SPIRN, 1995, p. 38, apud
MORAIS, 2017, p. 55).
43
do esgoto deveria ser diferente da de águas fluviais e fechada a fim de não sofrer com
a poluição do ar e do sol, além de ser conduzida para o mar. Também ressaltava o
relevante papel das várzeas no controle das cheias, o que minimizava seus prováveis
impactos à área adjacente (GORSKI, 2008).
44
Figura 4 – Planta do projeto Novo Arrabalde.
Fonte: Francisco R. Saturnino de Brito (1943, v. V, est. II, p. 58), apud BERTONI, 2015.
De grande extensão e sujeita à variação das marés, Brito identificou que seria
essencial a transformação da área com ênfase no saneamento, pensando na higiene
da população. Sendo assim, levantou a necessidade de drenagem do terreno para
dessecar a camada superior do solo. Ademais, a área composta por mangues e áreas
alagáveis praticamente era igual à área dos terrenos secos, sem considerar os morros
(Figura 5). Desse modo, o aterro das áreas úmidas foi fundamental para atingir a área
necessária para implantação do projeto (CASAGRANDE, 2011).
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Figura 5 – Relação entre os terrenos úmidos e secos na área de implantação do
projeto Novo Arrabalde.
46
Figura 6 – O uso de soluções sustentáveis em Woodlands.
Fonte: Landscape Architecture, nº 7, vol. 95, julho de 2005, p. 64, apud GORSKI, 2008.
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2.3 ALGUMAS INTERVENÇÕES RECENTES
Após uma breve abordagem acerca da relação entre cursos d’água, cidade e
sociedade, serão apresentadas algumas intervenções recentes que têm em comum a
presença de um corpo d’água. A escolha dos casos procurou encontrar situações que
tivessem alguma relação com o objetivo deste trabalho e sua especificidade, para
extrair informações de forma a direcionar ideias e soluções para serem incorporadas
na proposta que será desenvolvida adiante. Cada caso estudado tem a sua dimensão,
complexidade e local, suas soluções seguem essa especificidade e indicam como a
água foi incorporada pelo projeto.
O Plano de Revitalização do Rio Los Angeles foi escolhido por ser um projeto
com alta complexidade que abarca uma área extensa ao longo de um rio canalizado,
como o Baldo se encontra atualmente. Nesta situação, interessa saber quais
estratégias e soluções foram utilizadas e qual foi o tratamento dado ao rio e à estrutura
do canal. Como este projeto não foi totalmente executado, buscou-se outro caso já
realizado, envolvendo algum curso d’água canalizado.
O rio Los Angeles nasce no vale de São Fernando, percorre a cidade de Los
Angeles no sentido noroeste/sudeste e desemboca em Long Beach Harbor, no
Oceano Pacífico. Com 94,45 km de extensão, sendo os primeiros 51,5 km, localizados
dentro da área urbanizada de Los Angeles, onde o rio atravessa por meio de um canal
de concreto desenvolvido para controle de inundação nos períodos mais chuvosos
(COSTA, 2014).
52
Figura 11 – Ilustração da proposta de inserção de ciclovias e pistas de caminhadas.
Fonte: Mia Lehrer & Associates, Landscape Architecture, apud GORSKI, 2008.
53
Figura 12 – Trecho do córrego Pirarungáua tamponado.
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educação ambiental, que reforçava a importância e a dependência do corpo d’água
com sua mata ciliar (FREITAS, FRANCO, 2019).
O Parque Futuro, visto na Figura 15, está localizado na área central de Belém,
próximo da estação das Docas e do mercado Ver-o-Peso, e faz parte do projeto Porto
Futuro, que vai contemplar, em outra etapa, a revitalização de sete galpões cedidos
pela Companhia Docas do Pará.
55
Figura 15 – Vista aérea do Parque Futuro.
56
Figura 16 – Localização dos equipamentos no parque.
57
Figura 17 – Ponte sobre o lago do Parque Futuro.
58
Figura 19 – Fonte de água interativa.
2.3.4 Considerações
59
O Parque Futuro apresenta uma estrutura diversificada: praça de alimentação,
espaço pet, parque infantil, academia ao ar livre, restaurante e outros. Esse conjunto
de equipamentos torna o parque dinâmico atraindo um grande público. A água foi
incorporada ao projeto sendo mais um atrativo e se relaciona com o visitante de forma
diferente. Com o lago artificial consiste em uma relação mais estática, principalmente
para contemplação, já a fonte interativa permite uma relação mais dinâmica.
60
3 CONHECENDO A ÁREA DE ESTUDO
61
O núcleo urbano inicial de Natal era delimitado por duas cruzes, uma ao Norte
e a outra ao Sul, tradicional em povoações fundadas por portugueses e espanhóis.
Até 1700, existiam apenas duas ruas em Natal, a da Cadeia e a chamada O Caminho
do Rio de Beber Água (as atuais ruas Santo Antônio e Conceição). O tão mencionado
rio “era o antigo Rio Tiuru, Tissuru, da Cruz ou do Baldo”, que se localizava perto do
limite sul da cidade, como é evidenciado na Figura 21 (NESI, 2020, p. 19).
62
Figura 22 – Vista para o Baldo.
63
A partir da segunda metade do século XIX, se tornaram constantes os surtos
epidêmicos na cidade, decorrentes das péssimas condições de higiene, da deficiência
dos serviços de infraestrutura e pela presença de equipamentos, vistos como
insalubres, na área central da cidade, como matadouro, hospital e cemitério. Ademais,
o significativo aumento populacional devido à migração motivada pelas secas agravou
a condição insalubre da cidade (FERREIRA, 2008).
A região onde o Baldo estava localizado era pantanosa e fazia parte do terreno
da “Empreza Tracção, Força e Luz Electricas”. Na vizinhança, existiam o matadouro
e o forno de incineração de lixo, o que, somando ao seu uso coletivo como balneário
e até como bebedouro para os animais, agravava a insalubridade das águas do Baldo,
tornando-o uma ameaça à saúde pública (FERREIRA, 2008).
Atualmente, o Riacho do Baldo está canalizado por toda sua extensão e tem
um papel importante para a drenagem da cidade, contemplando vários bairros e
escoando as águas para o Rio Potengi. Ademais, o Plano Diretor de Drenagem e
Manejo de Águas Pluviais de Natal (2009) caracteriza a área como de baixa qualidade
64
ambiental, como consequência das ações antrópicas que prejudicaram o Riacho e a
Lagoa Manoel Felipe (PINHEIRO, 2018).
A Praça Ecológica do Pôr do Sol não foi contemplada pela obra realizada pela
Prefeitura. Trata-se de uma pequena praça, não acessível, sem equipamentos, com
alguns bancos e árvores (Figura 27). Além disso, não há uma conexão com o Parque,
pois a Rua Ilíria Tavares Galvão intersecciona a área. Esses fatores a tornam
esquecida e pouco frequentada.
66
Figura 27 – Praça Ecológica do Pôr do Sol.
Fonte: https://www.instagram.com/cidadedacriancanatal/.
67
Por estar contornado por vias, o Canal assume a função de canteiro central da
Av. Juvenal Lamartine, porém, em determinado ponto é interseccionado pela R. Des.
Régulo Tinoco (Figuras 29 e 30). Além da ruptura física, também há uma diferenciação
no tratamento dado à pavimentação do passeio, sendo que, em 2021, a Prefeitura do
Natal realizou obras de melhorias na iluminação e na pavimentação do passeio
somente no trecho entre a Av. Prudente de Morais e a R. Des. Régulo Tinoco2. Desse
modo, a iluminação do trecho após a R. Des. Régulo Tinoco é insuficiente, o que torna
o espaço menos atrativo para ser utilizado pela população. Tanto que, a partir de
observação in loco da área, é possível constatar que quem caminha na região não
utiliza esse canteiro que se liga ao Viaduto.
Figura 29 – Vista aérea do trecho do Canal interceptado pela R. Des. Régulo Tinoco.
69
foi tanta que derrubou um muro da Companhia de Energia do Rio Grande do Norte
(COSERN), além de ter invadido imóveis na região4. Esse conjunto de fatores, em
certos pontos conflitantes, como a ocupação em uma área sensível, já bastante
impactada por ações antrópicas que, muitas vezes, ignoraram a dinâmica natural do
sistema hídrico, torna uma área frágil.
Figura 31 – Trecho do Canal do Baldo sob o viaduto fechado por muro e cerca.
Mais adiante, do outro lado da via, o Canal segue seu percurso por dentro do
terreno da COSERN, por isso, nesse trecho, não existe o fluxo livre de pessoas (Figura
32). Portanto, esse é outro ponto de ruptura do Canal que, além das vias, se faz por
muros (Figura 33). Já ao lado da Estação de Tratamento de Esgoto, é possível
acessar e visualizar o Canal por meio da Av. Gov. Juvenal Lamartine, porém, percebe-
se que não há um tratamento dado ao espaço, pois a pavimentação do passeio está
danificada e a vegetação sem manutenção. No cruzamento da Av. Gov. Juvenal
Lamartine e da Av. Gov. Rafael Fernandes existe a Praça Rio Grande do Norte (Figura
71
Figura 34 – Praça Rio Grande do Norte sem manutenção e mobiliário.
No trecho mais próximo do Rio Potengi, o Canal está dentro dos limites da
comunidade do Passo da Pátria, definida como Área Especial de Interesse Social
(AEIS) pela Lei Complementar Nº 44, de 23 de dezembro de 2002. Nessa área, a
estrutura do Canal é precária, sem manutenção, não acessível e sem passeio o
contornando como em alguns trechos (Figura 35). As margens são ocupadas por
algumas construções e estacionamento (Figuras 36 e 37). O canal se apresenta mais
aberto e natural, pois na maior parte a estrutura de concreto desaparece, o que dá
mais visibilidade à água e à vegetação. Ademais, a seção da água é mais larga nesse
trecho, apesar de apresentar uma coloração mais escura. Outro ponto a destacar é a
região de encontro do Canal com o Rio Potengi, onde desagua (Figura 38).
72
Figura 35 – Estrutura do Canal precária e não acessível.
73
Figura 37 – Presença de construções nas margens do Canal.
74
3.3 ANÁLISE DA ÁREA
Deste modo, a área definida abrange os bairros de Alecrim, Cidade Alta, Barro
Vermelho e Tirol, localizados na Região Administrativa Leste de Natal/RN, conforme
ilustra a Figura 39. Destaca-se que o Canal do Baldo é um dos limites dos referidos
bairros.
Para a área, o Plano permite o gabarito máximo de 140 metros. Sobre esse
ponto, importante ressaltar que o gabarito permitido para esta área, situada em zona
adensável, aumentou de 90 metros, segundo o Plano Diretor de Natal (2007), para
140 metros. Desse modo, intensificou a tendência de verticalização e adensamento
sobre a área.
76
legislação específica e seus limites devem ser atualizados quando forem
regulamentadas. Enquanto isso, encontra-se vigente a AEIS da Comunidade
do Passo da Pátria e adjacências, com seus limites definidos no Anexo I da
Lei Complementar nº 044, de 23 de dezembro de 2002, contudo ainda não
foi regulamentada;
3. Área Especial Costeira e Estuarina – AECE (Mapa 19 do Anexo III): a Orla
Fluvial do Estuário Potengi-Jundiaí;
4. Áreas Especiais com Potencial de Risco Natural - Alagamento e Inundação
Fluvial (Mapa 12 do Anexo III): na área de estudo encontram-se alguns
pontos de alagamento marcados na Figura 40;
5. Áreas Especiais de Operação Urbana – AEOU (Mapa 5 do Anexo III):
referentes à projetos urbanos, coordenados pelo Poder Público, em parceria
com a iniciativa privada e outros agentes, com a finalidade de promover
transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e valorização
ambiental, considerando a singularidade das áreas envolvidas. Contempla
os bairros de Alecrim e Cidade Alta. E, segundo o § 2º do Art. 110 do Plano,
também pode incluir as áreas adensáveis adjacentes aos eixos
estruturantes, como as avenidas Rio Branco, Deodoro da Fonseca e
Prudente de Morais;
6. Mancha de Interesse Social – MIS: engloba os bairros de Barro Vermelho,
Alecrim e Cidade Alta. Região com predominância de renda familiar até 3
salários mínimos, passível de atenção especial pelas políticas urbanas e
ambientais, visando a melhorias de ordem social, urbanística e ambiental.
77
Figura 40 – Incidência de áreas especiais na área de estudo.
78
As diferentes hierarquias de vias foram identificadas, em número aproximado e
de forma bem distribuída, pela área de estudo. A maior extensão do Canal do Baldo
é contornada por vias coletoras, como a Av. Gov. Juvenal Lamartine e a Rua Mermoz,
e estruturais, como a Av. Prudente de Morais e a Rua Olinto Meira. Assim, como são
vias que ligam regiões da cidade, o acesso à área é facilitado, estimulando o fluxo de
pessoas.
79
Mapa 1 - Hierarquia viária
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CAERN 2005
ANUÁRIO NATAL 2021 80
Em relação aos usos identificados na área (Mapa 2), ocorre a predominância
do uso residencial no Passo da Pátria, ao norte do Canal, e na região delimitada pelas
Av. Prudente de Morais, Av. Gov. Juvenal Lamartine e Rua Olinto Meira. Já no trecho
entre a Rua Olinto Meira e a Av. Governador Rafael Fernandes, predomina o uso de
serviço, onde estão localizadas a sede da COSERN e a Estação de Tratamento de
Esgoto do Baldo (ETE). Este uso também é relevante na área entre a Av. Prudente
de Morais, a Av. Gov. Juvenal Lamartine e a Rua Ceará Mirim, onde existem muitos
estabelecimentos de saúde, como o Hospital Memorial São Francisco.
81
Mapa 2 - Uso do solo
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USO DO SOLO
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ANUÁRIO NATAL 2021 82
Mapa 3 - Gabarito das edificações
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ANUÁRIO NATAL 2021 83
Mapa 4 - Topografia
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FONTE
CAERN 2005
ANUÁRIO NATAL 2021 84
3.3.3 Análise e classificação do sistema de espaços livres
Este tópico se concentra nos espaços livres, sua identificação e análise, a fim
de conhecer suas particularidades e, por fim, selecionar uma amostra, para os quais
serão propostas diretrizes e ações. Antes, contudo, é importante retomar a definição
de espaços livres exposta no Capítulo 1 (p. 9):
85
Mapa 5 - Espaços livres identificados
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CAERN 2005
ANUÁRIO NATAL 2021 86
Como exposto no primeiro capítulo, Raquel Tardin (2008) propõe trabalhar com
os espaços livres enquanto um sistema para integrá-los entre si e com seu entorno,
sob aspectos funcionais, ecológicos e estéticos, se transformando em uma poderosa
ferramenta capaz de potencializar a atuação do arquiteto/urbanista no território.
1. Atributos biofísicos
1.1. Cobertura vegetal: sua composição, a fim de saber se está preservada
ou não;
1.2. Hidrologia: se pode sofrer com inundações e deslizamentos (foram
considerados os pontos de alagamentos informados pelo Plano Diretor
de Natal de 2022);
1.3. Declividade: se pode sofrer com desmoronamentos.
2. Atributos perceptivos
2.1. Elementos cênicos: os componentes naturais que fazem parte da
identidade visual dos espaços livres, como as singularidades do relevo,
da vegetação e da hidrografia;
2.2. Áreas de emergência visual: referentes aos elementos que compõem os
espaços livres, especificamente o relevo e a hidrografia, e que podem
ser vistos a partir do percurso pelas vias;
2.3. Fundos cênicos: referentes às visuais mais amplas permitidas a partir
dos espaços livres e todos os elementos mais significativos da paisagem
que conseguem abarcar;
2.4. Marcos históricos: são espaços com interesse histórico-cultural e que,
geralmente, são testemunhas da história do lugar.
3. Acessibilidade: capacidade de acesso a partir das vias. Quanto mais
acessível, maior a probabilidade de que um espaço livre seja ocupado.
4. Vínculos de planejamento existentes: parâmetros de proteção a que estão
submetidos os espaços livres e que indicam maior ou menor probabilidade
de permanecerem não ocupados.
87
Quadro 2 – Ficha dos atributos do espaço livre 01
ESPAÇO LIVRE 01 R. Beira Canal | Tv. Gardênia Canal do Baldo
88
Quadro 4 – Ficha dos atributos do espaço livre 03
ESPAÇO LIVRE 03 Av. Gov. Rafael Fernandes, s/n, Cidade Alta Estacionamento de veículos da COSERN
89
Quadro 6 – Ficha dos atributos do espaço livre 05
ESPAÇO LIVRE 05 Tv. Ocidental de Baixo, 01, Alecrim Espaço livre de uso comum da comunidade do Passo da Pátria
90
Quadro 8 – Ficha dos atributos do espaço livre 07
ESPAÇO LIVRE 07 Av. Gov. Juvenal Lamartine | Av. Gov. Rafael Fernandes Canal do Baldo
91
Quadro 10 – Ficha dos atributos do espaço livre 09
ESPAÇO LIVRE 09 Av. Rio Branco | R. Cap. Silveira Barreto | R. Mermoz Canteiro entre a Av. Rio Branco e a Rua Mermoz
92
Quadro 12 – Ficha dos atributos do espaço livre 11
ESPAÇO LIVRE 11 Av. Rio Branco | Av. Deodoro da Fonseca | R. Mermoz Praça Carlos Gomes
93
Quadro 14 – Ficha dos atributos do espaço livre 13
ESPAÇO LIVRE 13 Av. Deodoro da Fonseca | R. Ernani da Silveira Espaço livre sob o Viaduto do Baldo
94
Quadro 16 – Ficha dos atributos do espaço livre 15
ESPAÇO LIVRE 15 Av. Deodoro da Fonseca | Av. Gov. Juvenal Lamartine | Rua Mermoz Espaço livre sob o Viaduto do Baldo
95
Quadro 18 – Ficha dos atributos do espaço livre 17
ESPAÇO LIVRE 17 Rua Dr. Serquiz Farkatt, s/n, Barro Vermelho Terreno murado com portão
96
Quadro 20 – Ficha dos atributos do espaço livre 19
ESPAÇO LIVRE 19 R. Ernani da Silveira | Av. Gov. Juvenal Lamartine | R. Des. Régulo Tinoco Canteiro entre a Av. Gov. Juvenal Lamartine e a R. Ernani da Silveira
97
Quadro 22 – Ficha dos atributos do espaço livre 21
ESPAÇO LIVRE 21 Rua José de Alencar | Rua Mermoz Praça Tauapiranga
98
Quadro 24 – Ficha dos atributos do espaço livre 23
ESPAÇO LIVRE 23 Rua Alonso de Almeida, s/n, Barro Vermelho Terreno murado com portão
99
Quadro 26 – Ficha dos atributos do espaço livre 25
ESPAÇO LIVRE 25 R. José Barreira Lima Verde, s/n, Tirol Estacionamento com muro, grade e portão
100
Quadro 28 – Ficha dos atributos do espaço livre 27
ESPAÇO LIVRE 27 R. José Barreira Lima Verde, s/n, Tirol Terreno murado
101
Quadro 30 – Ficha dos atributos do espaço livre 29
ESPAÇO LIVRE 29 Rua Afrânio Peixoto, s/n, Barro Vermelho Terreno murado com portão
102
Quadro 32 – Ficha dos atributos do espaço livre 31
ESPAÇO LIVRE 31 Av. Gov. Juvenal Lamartine, s/n, Tirol Terreno delimitado por cercas de arame farpado
103
Quadro 34 – Ficha dos atributos do espaço livre 33
ESPAÇO LIVRE 33 Av. Prudente de Morais, Tirol Canteiro central da Av. Prudente de Morais
104
Quadro 36 – Ficha dos atributos do espaço livre 35
ESPAÇO LIVRE 35 R. Ilíria Tavares Galvão, 978, Tirol Área de lazer do Condomínio Residencial Pôr do Sol
105
Quadro 38 – Ficha dos atributos do espaço livre 37
ESPAÇO LIVRE 37 Av. Gov. Juvenal Lamartine | R. Ilíria Tavares Galvão | Rua Palmira Carlos Rego Parque Ney Aranha Marinho
106
Quadro 40 – Ficha dos atributos do espaço livre 39
ESPAÇO LIVRE 39 R. Palmira Carlos Rego, s/n, Tirol Espaço livre sem uso definido
107
Quadro 42 – Ficha dos atributos do espaço livre 41
ESPAÇO LIVRE 41 Av. Rodrigues Alves, Tirol Cidade da Criança
108
Quadro 44 – Ficha dos atributos do espaço livre 43
ESPAÇO LIVRE 43 Rua Alberto Maranhão, 569, Tirol Espaço livre sem uso definido
ATRIBUTOS ATRIBUTOS
ACESSIBILIDADE VÍNCULOS DE PLANEJAMENTO
DO SUPORTE BIOFÍSICO PERCEPTIVOS
Vegetação: não possui cobertura vegetal. Fundo Cênico: o posteamento da rua, as edificações vizinhas de 1 Acessibilidade média. A Rua Alberto A área está localizada em zona adensável,
a 2 pavimentos, os edifícios de alto gabarito e algumas árvores no Maranhão é coletora, asfaltada e sua com coeficiente de aproveitamento máximo
Hidrologia: pouco exposto às inundações e entorno. capacidade de tráfego é média. de 5,0 e gabarito máximo permitido de 140
aos deslizamentos. metros.
109
Com essas informações, os espaços puderam ser classificados em espaços
âncora, espaços de referência e demais espaços livres, compreendidos segundo
Tardin (2008) como:
▪ Espaços âncora: são bem avaliados com respeito aos atributos biofísicos e
que possuem uma notável significação visual, embora possam apresentar
distintos graus de acessibilidade. Por suas características e pela extensão
que ocupam, constituem espaços-chave do sistema;
▪ Espaços de referência: são aqueles que obtiveram uma avaliação mediana
com relação aos atributos do suporte biofísico e perceptivos. Isto indica que
são espaços que podem possuir a cobertura vegetal menos preservada, ou
sem vegetação, sendo medianas ou baixas as possibilidades de sofrerem
risco de inundação, deslizamento ou desmoronamento;
▪ Demais espaços livres: são espaços sem atributos biofísicos e perceptivos
relevantes, com alta probabilidade de ocupação, sobretudo se possuem uma
boa acessibilidade.
Já os espaços 1, 7, 13, 15, 18, 30, 37 e 41, apresentam boa cobertura vegetal
e notáveis atributos perceptivos, que se destacam em relação ao entorno,
configurando-se em espaços de características ímpares. Em função disso, torna-se
necessário sua proteção frente à ocupação urbana. Dessa forma, foram classificados
como espaços âncora.
Quanto aos espaços restantes, seus atributos perceptivos não são notáveis,
mas apresentam, no geral, boa cobertura vegetal. Ademais, muitos já desempenham
função no espaço urbano (canteiros, praças e parques) e os demais, por sua cobertura
vegetal e sua relação aos demais espaços, também podem desempenham funções
importantes de forma a contribuir para o sistema e para a cidade em si, além de alguns
110
serem suscetíveis a alagamentos, tornando necessária sua proteção, portanto, foram
classificados como espaços referência, mantendo-os livres.
111
Mapa 6 - Classificação dos espaços livres identificados
I
G
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CLASSIFICAÇÃO DOS
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RU
PO
A
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AV
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ESPAÇOS LIVRES
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ANUÁRIO NATAL 2021 112
Mapa 7 - Classificação dos espaços livres selecionados
I
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MA 4344
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FONTE
CAERN 2005
ANUÁRIO NATAL 2021 113
4 DIRETRIZES E AÇÕES PARA O CANAL DO BALDO E SEU ENTORNO
Problemas Potencialidades
A falta de área permeável ao redor do Facilidade de acesso à área e sua
canal, contornado por vias asfaltadas. conexão às outras partes da cidade.
Falta de conexão (permeabilidade Existência de bons equipamentos
visual) entre o canal e a Lagoa Manoel (Parque Ney Aranha Marinho e Cidade
Felipe, impedindo a assimilação da da Criança) com boa infraestrutura e bem
relação entre os corpos d’água. utilizados pela população.
Falta de conexão dos trechos do Os elementos naturais incorporados à
canal, separados por vias, o que paisagem: a água do canal e a vegetação
fragiliza sua identidade e sua dos espaços livres, incluindo o rio
importância como elemento de Potengi que pode ser visto a partir do
destaque na cidade. canal no Passo da Pátria.
Problemas na infraestrutura da maioria Visuais abrangentes a partir dos espaços
dos espaços livres públicos, como livres que favorecem a apreensão e a
iluminação insuficiente em alguns apreciação da paisagem.
pontos, falta de mobiliário e
manutenção da vegetação, da
pavimentação e da estrutura do canal
em alguns trechos.
114
O trecho do canal localizado sob o Existência de muitos espaços livres
viaduto não é acessível à população. distribuídos pela área.
Distanciamento da população com o Diversidade de usos na área contribuindo
corpo d’água (Baldo). para a vitalidade urbana.
4.2 DIRETRIZES
Diretrizes projetuais:
115
▪ Limitação da ocupação dos espaços livres, de modo a preservar a
permeabilidade do solo necessária à manutenção dos processos naturais;
▪ Regulamentação da AEIS da comunidade do Passo da Pátria para contribuir
para o bom funcionamento do sistema de espaços livres e para assegurar a
permanência da comunidade na área;
▪ Incentivo às atividades comerciais, de forma a estimular a promoção de
oportunidades de emprego;
▪ Promoção de atividades voltadas para a temática de educação ambiental;
▪ Promoção de políticas de assistência social em benefício às pessoas em
situação de vulnerabilidade social.
4.3 AÇÕES
116
Figura 42 – Jardim de chuva.
117
Figura 43 – Biovaletas.
118
Figura 44 – Espaço pet.
119
Figura 45 – Faixa elevada.
Fonte: Betonart.
121
Figura 47 – Praça alagável.
122
10. Ampliação do passeio do canteiro central da Av. Gov. Juvenal Lamartine
(espaços 18 e 30), por meio da criação de um piso suspenso para
pedestres para caminhadas, contemplação e outras atividades, como na
Figura 49. O passeio existente será transformado em ciclovia, que se
conecta com a da Av. Gov. Juvenal Lamartine, através da faixa elevada
proposta para interligar o canteiro ao espaço 34, segue o contorno do Canal
até se ligar à ciclofaixa da Av. Deodoro da Fonseca. Esta ciclovia é uma
opção que se distancia do fluxo de veículos da Av. Gov. Juvenal Lamartine
e se aproxima da área verde do canal, em comparação à ciclovia existente.
Ademais, biovaletas são propostas para servir como separação entre o
passeio do canal e a pista de rolamento de veículos, e para absorver e
infiltrar as águas pluviais, reduzindo o contingente de escoamento e
poluentes recebido pelo canal;
11. Conexão do Parque Ney Aranha Marinho com o trecho do canal, situado
entre a Av. Prudente de Morais e a R. Des. Régulo Tinoco, através de faixa
elevada;
123
12. Troca da pavimentação dos passeios a margem do canal e do parque por
material permeável como o concreto permeável, além da preferência pelo
seu uso nos novos passeios a serem implantados;
13. Para o Parque Ney Aranha Marinho, é importante a manutenção constante
da sua infraestrutura. Ademais, propõe-se a sua conexão com a Praça
Ecológica do Pôr do Sol e com o espaço 39, através do nivelamento e
uniformização da pavimentação, assim como do mobiliário, e da ampliação
dos caminhos existentes no parque para abarcar estes espaços, criando
uma identidade para a área. Quanto ao canal, neste trecho, propõe-se a
retirada da estrutura de concreto e recuperação de suas margens com a
plantação de vegetação, como no caso do Córrego Pirarungáua (Figura
50), além de inserção de pontes retas, algumas mais largas funcionando
como deck, substituindo as pontes arqueadas atuais que dificultam a
travessia. Ademais, no trecho do parque próximo ao espaço 39, propõe-se
a inserção de parque infantil e espaço pet para incentivar a permanência
das pessoas nesse trecho. Para o espaço 39, é proposto a criação de um
parque, aproveitando a vegetação existente, com a inserção de mobiliário
nos espaços entre as árvores, como bancos, mesas, postes de iluminação,
lixeiras, floreiras, parque infantil e uma quadra de futebol. Já para a praça
ecológica, propõe-se a inserção de cobertura vegetal (arbustos e
gramíneas) onde o solo está exposto, além da troca da pavimentação dos
passeios existentes por um piso drenante. Assim como deve ser substituído
o piso do parque, onde for possível. Também se propõe a inclusão de
jardins de chuva, mobiliário (bancos, mesas, postes de iluminação, lixeiras,
floreiras e quiosque) e um ponto de apoio ao ciclista;
124
Figura 50 – Margens do Córrego Pirarungáua recuperadas com vegetação.
125
Mapa 8 - Mapa de ações para os espaços livres selecionados
I
G
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MAPA DE AÇÕES
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RU
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A Inserção de árvores, arbustos e gramíneas,
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AV
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AÍ manutenção do piso da praça e da quadra
esportiva e inclusão de mobiliário (mesas
RU
AS com bancos, postes de iluminação, lixeiras,
R. J
ÃO jardineiras, parque infantil e academia ao ar
FE livre).
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de vegetação. Adequação da vegetação existente, inserção de piso
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drenante no passeio e de biovaletas. Inclusão de mobiliário como
4
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bancos, postes de iluminação, lixeiras e jardineiras na Praça Rio
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Grande do Norte.
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Ampliação das margens do canal e AV
piso drenante nos passeios, jardins de
chuva e mobiliário (bancos, postes de
1:5.000
FA
aumento da sua cobertura vegetal. 7 .
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GO iluminação, lixeiras e floreiras).
Inserção de árvores, jardins de chuva, V.
passeio com piso drenante, pontes e JU
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mobiliário (bancos, lixeiras, postes de NA Inserção de árvores, arbustos, gramíneas, piso
0 50 100 200 300 m
L
iluminação e jardineiras). drenante em novos passeios e nos existentes,
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AC AR rampas devido aos desníveis dos pisos, jardins
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VE TO iluminação, lixeiras, floreiras, parque infantil e
IRA DO quiosque).
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RR O 11
E TO Inserção de árvores e arbustos, mobiliário (bancos,
RU
postes de iluminação, lixeiras e jardineiras), caminhos
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13 com piso drenante, jardins de chuva, ponto de apoio
DU
Inserção de árvores, arbustos e biovaletas. para ciclistas, posto de policiamento e área livre para
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eventos e realização de atividades.
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14 Inserção de árvores, arbustos, gramíneas, piso
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Inserção de árvores, arbustos, gramíneas, piso drenante em novos
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drenante em novos passeios e nos existentes,
RU
passeios e nos existentes, rampas devido aos desníveis dos pisos,
NA
18 rampas devido aos desníveis dos pisos, jardins
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jardins de chuva e mobiliário (bancos, mesas, postes de iluminação, 17 de chuva e mobiliário (bancos, mesas, postes de
DA
lixeiras, floreiras, parque infantil, espaço pet e academia ao ar livre).
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iluminação, lixeiras e floreiras).
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19 20 21
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Inserção de árvores, arbustos, jardins de
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chuva e mobiliário composto por bancos,
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Retirada do muro existente, expansão do leito do curso d'água, LHO
LEGENDA OE postes de iluminação, lixeiras e floreiras.
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inserção de praça alagável, jardins de chuva, caminhos com IS C
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piso drenante e mobiliário (bancos, lixeiras, iluminação etc.). R. L AC
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23 AV JOS Manutenção da sua estrutura e
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NDE conexão com o canal, através da
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Área de estudo
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Praça de alimentação IRA UV RDE
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Canal do Baldo 29
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Inserção de árvores, arbustos, gramíneas, piso NE 31 32
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drenante nos passeios, jardins de chuva e mobiliário 33
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(bancos, postes de iluminação, lixeiras, floreiras, 34
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Espaços âncora parque infantil, espaço pet e academia ao ar livre). ILÍR
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Espaços referência TI PR VÃO
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Escalonamento da estrutura de contenção do canal CA .
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com inserção de vegetação. Inserção de um piso
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suspenso para pedestres, ciclovia e biovaletas. A
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Troca da pavimentação por piso drenante.
Ciclovia 38 40 LAGOA MANOEL 41
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39
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Criação de parque, aproveitando a vegetação
AV.
Faixas elevadas
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existente, com inserção de mobiliário como
bancos, mesas, postes de iluminação, lixeiras,
OD
floreiras, parque infantil e quadra de futebol. 42
Conexão dos espaços a partir
AR
RU
AA
da elevação da via e troca da Inserção de arbustos e gramíneas, piso drenante
NID
LBE
RTO
pavimentação por piso drenante
nos passeios, jardins de chuva, mobiliário MA 4344
AVE
(bancos, mesas, postes de iluminação, lixeiras, RAN
HÃO
floreiras e quiosque) e ponto de apoio ao ciclista.
Para além dos espaços selecionados, para os quais foram elaboradas ações,
é importante salientar que os demais espaços de referências também apresentam
atributos que os qualificam, sendo vantajoso sua incorporação ao sistema proposto.
A cobertura vegetal dos espaços 4, 14, 29, 31, 32, 38 e 40 é bem preservada e podem
ser qualificados como praças, bosques, áreas voltadas para esportes e lazer e outras
áreas verdes. Ademais, os espaços 31 e 38 podem ser agregados aos espaços
lindeiros (34 e 39) para expandir sua área.
127
Passo da Pátria. Portanto, a qualificação do espaço pode potencializar seu uso atual,
fomentando sua utilizando pela população. Assim, a inserção desses espaços no
sistema o enriqueceria ainda mais, proporcionando mais benefícios para a cidade e
seus moradores. Entretanto, como são espaços privados, seria necessária sua
aquisição pelo poder público local.
Outra área especial estabelecida pelo Plano Diretor, que incide na área de
estudo, é a Área Especial Costeira e Estuarina – AECE que deverá ser ordenada por
meio de elaboração de um Plano de Gestão Integrada da Orla Marítima e do Comitê
Gestor da Orla. Tendo em vista a importância de preservar e conservar os processos
e os elementos naturais, como a Lagoa Manoel Felipe e o canal que deságua no Rio
Potengi, sugere-se a inclusão dessas áreas no plano de gestão e no debate do comitê
proposto, ou a criação de um comitê específico para, posteriormente, elaborar o plano
de gestão.
128
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda resta muito a fazer para mudar a visão de que os corpos d’água são
obstáculos ao desenvolvimento urbano e causadores de desastres naturais. Para
alcançar a reconciliação entre as cidades e seus corpos d’água, é preciso entender
que a ocupação urbana deve respeitar a dinâmica dos processos naturais, que estão
presentes desde a formação da cidade.
129
REFERÊNCIAS
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no crescimento. Cienc. Cult., São Paulo, v. 65, n. 2, p. 06-09, junho 2013.
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130
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KLEBA, Ana. O que são águas pluviais e por que elas merecem sua atenção.
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(1599-1999). Natal: Prefeitura do Município. Coleção Natal 400 anos, 1999, v. 7.
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