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CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
NATAL-RN
2019
Bruno de Andrade Bezerra Barbosa
Natal-RN
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
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Prof. Dr. Paulo Eduardo Vieira Cunha – Orientador
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Profa. MSc. Amanda Bezerra de Sousa – Coorientadora
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Profa. Dra. Joana Darc Freire de Medeiros – Examinadora interna
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Profa. MSc. Giovana Cristina Santos de Medeiros – Examinadora interna
Natal-RN
2019
RESUMO
O crescimento urbano intenso ocorrido nas últimas décadas, muitas vezes realizado
sem planejamento adequado, afeta as condições naturais de drenagem das bacias
hidrográficas, uma vez que consequentemente ampliam as áreas impermeáveis e o volume e
velocidade dos escoamentos superficiais. As medidas de drenagem urbana tradicionais,
representadas pelos canais, galerias e outras estruturas, por transferirem as vazões excedentes
para áreas a jusante, não são suficientes para a solução desta problemática. Desse modo,
outras medidas alternativas de drenagem urbana passaram a ser difundidas, as quais priorizam
ampliar as áreas permeáveis ou amortecer as vazões afluentes. O objetivo desse trabalho foi
simular a implantação de algumas medidas alternativas de microdrenagem urbana em um
loteamento situado em Ceará-Mirim – RN, comparando os volumes totais escoados com e
sem essas medidas. Para a realização das simulações utilizou-se softwares de desenho e
modelagem específicos da área de drenagem. Ao todo seis cenários de simulação foram
considerados: área aproximadamente 100% impermeável; área 20% permeável; área 40%
permeável; área com cisternas, área com trincheiras de infiltração e área aproximadamente
100% permeável. O cenário que simulou o uso de trincheiras de infiltração foi o mais
eficiente entre os demais cenários, promovendo reduções no escoamento próximas de 30%.
Verificou-se, portanto, que estas medidas permitiram consideráveis reduções dos escoamentos
e ainda com a vantagem de algumas delas possibilitarem a recarga do aquífero local.
ABSTRACT
The strong urban growth unfolded in recent decades, often achieved by without proper
planning, impacts natural conditions of watersheds drainage, since it enlarges impermeable
areas and surface runoff volume and speed. Traditional urban drainage techniques,
represented by tunnels, sewers and other structures given that exceeding flow is transferred to
downstream areas, are not enough to settle such problem. Therefore, other alternative
techniques of urban drainage became widespread, which prioritize expanding permeable areas
or dampen tributary flows. This study aims to simulate and implement alternative techniques
of urban micro-drainage in an allotment located in Ceará-Mirim, RN, Brazil, comparing the
total volume discharged with and without such techniques. In order to conduct the
simulations, design and modeling software related to the drainage field were used. In total,
following six simulation scenarios were considered: approximately 100% waterproof area;
20% permeable area; 40% permeable area; area with cisterns; area with infiltration trenches
and approximately 100% permeable area. The scenario used for simulating cisterns emerging
as the most efficient one compared to the others, promoted a reduction of surface runoff of
approximately 30%. In conclusion, structural compensatory techniques related to urban
drainage allowed considerable reduction in surface runoff with the advantage of some of them
enabling recharge of the local aquifer.
INTRODUÇÃO
REVISÃO DA LITERATURA
As técnicas compensatórias estruturais para controle na fonte atuam sobre os lotes com
o objetivo de ampliarem a área de infiltração e percolação das águas pluviais e/ou
promoverem o armazenamento temporário delas em reservatórios ou telhados. Baptista et. al.
(2015) destacaram e comentaram sobre os seguintes dispositivos:
Cisterna: Dispositivo que capta as águas de chuvas que incidem nas áreas
impermeáveis, principalmente de telhados, e as reservam, seja para posterior
lançamento em um tempo mais lento no sistema de drenagem ou para o seu consumo,
desde que se façam a captação, o armazenamento e a utilização adequadamente;
Telhado armazenador: Telhado com a função de reservar a água da chuva, podendo ser
vazado ou preenchido com britas, cascalho ou até mesmo solo e vegetação (telhado
verde). Requerem condições climáticas locais adequadas e reforço das estruturas das
edificações nas quais serão instalados.
Pavimento poroso: Pavimento revestido por materiais que permitem uma maior
facilidade de percolação da água de chuva, tais como blocos vazados ou concreto e
asfalto sem material fino em suas composições. Normalmente são assentados sobre
uma base de material granular com filtros geotêxteis. Vale salientar que, por questões
de resistência estrutural e manutenção, recomenda-se que sobre estes pavimentos
circulem apenas veículos leves. (ARAÚJO et. al., 2000);
CENÁRIOS SIMULADOS
Cenários Descrição
aplica-se uma medida estrutural de controle na fonte que prioriza o amortecimento dos picos
de vazão por intermédio da reservação e consumo das águas de chuva. No quinto cenário
aplica-se outra medida estrutural de controle na fonte, mas que prioriza a infiltração e
posterior recarga do aquífero. O sexto cenário simula a situação de pré-urbanização cuja área
do lote encontra-se muito próximo de ser 100% permeável, o que servirá também de
parâmetro de comparação para os demais cenários.
Foi considerado que os lotes dos cenários 04 e 05 (Figura 05) contam com edificações
residenciais unifamiliares, de um pavimento, em baixo padrão, com área coberta total de 56
m². Esse valor adotado para a área residencial seguem as recomendações da NBR 12721/06
para um projeto-padrão de edificações desse tipo. Os dispositivos desses dois cenários captam
as águas incidentes somente na cobertura das edificações, as demais áreas impermeáveis
permanecem contribuindo com os escoamentos superficiais.
Para a modelagem das cisternas, admitiu-se que elas possuem diâmetro de 3,40 m e
altura de 1,80 m o que corresponde a área total de 9,08 m² e volume de 16 m³, que é a
capacidade recomendada pelo Projeto 1 Milhão de Cisternas (P1MC) para atender ao
consumo de água de uma família. Ao todo foi prevista uma cisterna por lote residencial.
As trincheiras de infiltração contam com 1 metro de profundidade, 0,70 m de largura e
8 m de comprimento, e estão localizadas nas laterais das edificações. Elas possuem cobertura
vegetal na superfície e são preenchidas por areias com seixos de boas possibilidades de
infiltração, que se adequam às características locais. Ao todo, foram previstas duas trincheiras
em cada lote residencial, nos recuos laterais de cada residência.
As estimativas destas vazões foram obtidas a partir das características das chuvas
intensas da região, ou seja, converteram-se os dados de chuva em dados de vazão. O Manual
de Drenagem de Natal (2009) permite que sejam dimensionados os dispositivos de
microdrenagem a partir do método racional (Equação 01), para áreas de bacias hidrográficas
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com até 1 km². Portanto, haja vista que a área do loteamento, obtida a partir do levantamento
topográfico, é de aproximadamente 422.550 m² (0,42 km²), adotou-se esse método para o
dimensionamento dos dispositivos.
𝑄 = 0,278 ∙ 𝐶 ∙ 𝑖 ∙ 𝐴 (1)
No qual:
Q é a vazão máxima afluente (m³/s);
C é o coeficiente de escoamento superficial direto;
𝑖 é a intensidade média da chuva de projeto (mm/h);
A é a área de estudo (km²);
O tempo de retorno adotado para todos os cenários foi de 5 anos, para assim ser
considerada a condição mais extrema do intervalo sugerido pelo Manual de Drenagem de
Natal -RN para os dispositivos de microdrenagem, que é de 2 a 5 anos.
Chuva de projeto
502,47 ∙ 𝑇𝑟 0,1431
𝑖 = (2)
(𝑡 + 10,80)0,606
No qual:
𝑖 é a intensidade pluviométrica (mm/h);
Tr é o período de retorno em anos;
t é a duração do período da chuva (min);
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Tempo de concentração
0,385
𝐿³
𝑡𝑐 = 57 ⋅ ( ) (3)
𝑆
Em que:
𝑡𝑐 é o tempo de concentração (min);
L é o comprimento do curso d’água principal (km)
S é declividade do curso d’água principal (m/m);
Vale salientar que foram escolhidas sarjetas simples pelo fato do loteamento
apresentar um grande número de vias secundárias, o que viabiliza considerar que o
escoamento pode atingir a crista da rua em precipitações de grandes intensidades. As bocas-
de-lobo do tipo guia e sem depressão foram escolhidas por representarem a condição mais
desfavorável dentre as demais opções de projeto, assim otimiza-se o projeto. As galerias
foram consideradas de concreto em virtude deste ainda ser um dos materiais mais adotado nas
obras de infraestrutura.
O tempo de espera de dreno corresponde ao número de horas que deve ser esperado,
após a chuva para que se abra o dreno da cisterna (EPA, 2010). Determinou-se porosidade
igual a 30% e condutividade hidráulica igual a 36 mm/h, pois, de acordo com Baptista et.
al.(2015), esses valores são representativos do material escolhido para o preenchimento das
trincheiras. O fator de colmatação de 50% serve como fator de segurança indicando que a
trincheira pode vir a colmatar até pela metade. A rugosidade superficial é a mesma adotada
para canais de leito pedregoso com vegetação.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por sua vez, as vazões escoadas nos lotes não residenciais para os cenários 02 e 03
sofreram uma redução, respectivamente, de aproximadamente 7,64% e 22,40% em
comparação com a vazão escoada para o cenário 01 (𝑄𝑐𝑒𝑛á𝑟𝑖𝑜 01−𝐿𝑜𝑡𝑒𝑠 𝑛ã𝑜 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑑𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑖𝑠 =
1441.80 l/s) e também estão distantes da redução do escoamento obtida pelo cenário 06 de
pré-urbanização. Os valores exatos das vazões encontram-se na Tabela 06, a seguir.
Tabela 06 – Comparações entre as vazões escoadas nas áreas de lotes não residenciais
Situação Cenário 02 Cenário 03 Cenário 06
Vazões após aplicação das técnicas -
1331.69 1118.81 258.49
𝑸𝒄𝒆𝒏á𝒓𝒊𝒐𝒔−𝑳𝒐𝒕𝒆𝒔 𝒏ã𝒐 𝒓𝒆𝒔𝒊𝒅𝒆𝒏𝒄𝒊𝒂𝒊𝒔 (l/s)
Avaliando-se o sistema como um todo, isto é, incluindo todo o volume que é escoado
para o coletor principal, as vazões de picos sofreram os percentuais de redução expostos na
Tabela 07 em comparação com a vazão total escoada no cenário 01 (𝑄𝑐𝑒𝑛á𝑟𝑖𝑜 01−𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 =
5488.44 𝑙/𝑠). Percebe-se que as vazões dos cenários que simularam as técnicas
compensatórias concentram-se em aproximadamente 17% e estão com valores distantes da
redução promovida para situação hipotética do cenário 06 (pré-urbanização).
Redução do escoamento
5.63% 16.98% 17.33% 17.47% 69.40%
(comparação com cenário 01)
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS