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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

BRUNO DE ANDRADE BEZERRA BARBOSA

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE MEDIDAS NÃO


CONVENCIONAIS DE MICRODRENAGEM URBANA
APLICADAS A UM LOTEAMENTO

NATAL-RN
2019
Bruno de Andrade Bezerra Barbosa

Avaliação do impacto de medidas não convencionais de microdrenagem urbana aplicadas a


um loteamento

Trabalho de Conclusão de Curso na


modalidade Artigo Científico, submetido ao
Departamento de Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como parte dos requisitos necessários para
obtenção do Título de Bacharel em Engenharia
Civil.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Eduardo Vieira


Cunha
Coorientadora: Profa. MSc. Amanda Bezerra
de Sousa

Natal-RN
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Barbosa, Bruno de Andrade Bezerra.


Avaliação do impacto de medidas não convencionais de
microdrenagem urbana aplicadas a um loteamento / Bruno de
Andrade Bezerra Barbosa. - 2019.
19f.: il.

Artigo (Graduação)-Universidade Federal do Rio Grande do


Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil,
Natal, 2019.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Eduardo Vieira Cunha.
Coorientadora: Profa. MSc. Amanda Bezerra de Sousa.

1. Drenagem urbana - Artigo. 2. Técnicas compensatórias -


Artigo. 3. Escoamento superficial - Artigo. I. Cunha, Paulo
Eduardo Vieira. II. Sousa, Amanda Bezerra de. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 624

Elaborado por Raimundo Muniz de Oliveira - CRB-15/429


Bruno de Andrade Bezerra Barbosa

Avaliação do impacto de medidas não convencionais de microdrenagem urbana aplicadas a


um loteamento

Trabalho de conclusão de curso na modalidade


Artigo Científico, submetido ao Departamento
de Engenharia Civil da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte como parte dos
requisitos necessários para obtenção do título
de Bacharel em Engenharia Civil.

Aprovado em 22 de novembro de 2019:

___________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Eduardo Vieira Cunha – Orientador

___________________________________________________
Profa. MSc. Amanda Bezerra de Sousa – Coorientadora

___________________________________________________
Profa. Dra. Joana Darc Freire de Medeiros – Examinadora interna

___________________________________________________
Profa. MSc. Giovana Cristina Santos de Medeiros – Examinadora interna

Natal-RN
2019
RESUMO

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE MEDIDAS NÃO CONVENCIONAIS DE


MICRODRENAGEM URBANA APLICADAS A UM LOTEAMENTO

O crescimento urbano intenso ocorrido nas últimas décadas, muitas vezes realizado
sem planejamento adequado, afeta as condições naturais de drenagem das bacias
hidrográficas, uma vez que consequentemente ampliam as áreas impermeáveis e o volume e
velocidade dos escoamentos superficiais. As medidas de drenagem urbana tradicionais,
representadas pelos canais, galerias e outras estruturas, por transferirem as vazões excedentes
para áreas a jusante, não são suficientes para a solução desta problemática. Desse modo,
outras medidas alternativas de drenagem urbana passaram a ser difundidas, as quais priorizam
ampliar as áreas permeáveis ou amortecer as vazões afluentes. O objetivo desse trabalho foi
simular a implantação de algumas medidas alternativas de microdrenagem urbana em um
loteamento situado em Ceará-Mirim – RN, comparando os volumes totais escoados com e
sem essas medidas. Para a realização das simulações utilizou-se softwares de desenho e
modelagem específicos da área de drenagem. Ao todo seis cenários de simulação foram
considerados: área aproximadamente 100% impermeável; área 20% permeável; área 40%
permeável; área com cisternas, área com trincheiras de infiltração e área aproximadamente
100% permeável. O cenário que simulou o uso de trincheiras de infiltração foi o mais
eficiente entre os demais cenários, promovendo reduções no escoamento próximas de 30%.
Verificou-se, portanto, que estas medidas permitiram consideráveis reduções dos escoamentos
e ainda com a vantagem de algumas delas possibilitarem a recarga do aquífero local.

Palavras-chave: drenagem urbana, técnicas compensatórias, escoamento superficial.

ABSTRACT

IMPACT ASSESSMENT OF UNCONVENTIONAL URBAN MICRO-DRAINAGE


TECHNIQUES APPLIED TO AN ALLOTMENT

The strong urban growth unfolded in recent decades, often achieved by without proper
planning, impacts natural conditions of watersheds drainage, since it enlarges impermeable
areas and surface runoff volume and speed. Traditional urban drainage techniques,
represented by tunnels, sewers and other structures given that exceeding flow is transferred to
downstream areas, are not enough to settle such problem. Therefore, other alternative
techniques of urban drainage became widespread, which prioritize expanding permeable areas
or dampen tributary flows. This study aims to simulate and implement alternative techniques
of urban micro-drainage in an allotment located in Ceará-Mirim, RN, Brazil, comparing the
total volume discharged with and without such techniques. In order to conduct the
simulations, design and modeling software related to the drainage field were used. In total,
following six simulation scenarios were considered: approximately 100% waterproof area;
20% permeable area; 40% permeable area; area with cisterns; area with infiltration trenches
and approximately 100% permeable area. The scenario used for simulating cisterns emerging
as the most efficient one compared to the others, promoted a reduction of surface runoff of
approximately 30%. In conclusion, structural compensatory techniques related to urban
drainage allowed considerable reduction in surface runoff with the advantage of some of them
enabling recharge of the local aquifer.

Keywords: urban drainage, compensatory techniques, surface runoff.


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INTRODUÇÃO

O processo de urbanização provoca inevitavelmente impactos nas condições naturais


de drenagem das bacias hidrográficas. Algumas das consequências desse processo são a
impermeabilização do solo e a eliminação de parte da vegetação o que acabam por
influenciarem na velocidade e volume do escoamento superficial, nos processos erosivos e na
quantidade de água a ser infiltrada no solo. Por sua vez, essas interferências podem ser
potencialmente agravadas caso o crescimento urbano aconteça sem devido planejamento.
No Brasil, a taxa de urbanização teve crescimento intenso nas últimas décadas. De
acordo com o mais recente censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2010), 84,36% da população brasileira reside em área urbana, enquanto
que na década de 1980 essa porcentagem era de 67,59% e na década de 1940, 31,24%. No
entanto, os investimentos em drenagem urbana ainda são muito deficientes. Dados do último
diagnóstico do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS de 2017, mostram
que apenas 1.555 dos 3.732 municípios participantes realizaram algum investimento neste
setor, dos quais 59 declararam menos de R$ 1.000,00 investido (SNIS, 2017).
É comum que, por falta desse investimento e da intensa densificação das cidades, as
populações dos centros urbanos estejam sujeitas à calamidades em período de precipitações
mais intensas, tais como os riscos de inundações, alagamentos, desabamentos de edificações,
erosões, entre demais mazelas (TUCCI, 2001). De acordo com JAH et. al. (2012), a
ocorrência de inundações tem aumentado em todo o mundo ao longo das décadas, tendo sido
registrado o total de 178 milhões de afetados com esse problema apenas em 2010.
Historicamente, as soluções tomadas para se reduzir os problemas da drenagem urbana
muitas vezes apresentam caráter localizado, no qual a principal preocupação é a de se retirar
de maneira rápida e mais eficiente possível o excesso de água da chuva e transferir tais vazões
para jusante da área afetada, muitas vezes sem o correto manejo. Desse modo, nesta visão
denominada higienista (TUCCI, 2008), priorizam-se ações de cunho mais estrutural tais como
a execução de projetos e obras de construção de canais e de galerias de águas pluviais.
No entanto, essas intervenções costumam ser onerosas tanto do ponto de vista
econômico, em face da necessidade constante de expansão do sistema de drenagem,
(CANHOLI, 2014); quanto social, uma vez que podem facilitar a ocupações de áreas de riscos
de inundações por gerarem uma falsa ideia de que as mesmas são seguras, sobretudo nos
municípios sem Plano Diretor de Desenvolvimento em suas legislações (BAPTISTA et. al.,
2015).
Foi então que, posteriormente, a partir dos anos 1970, principalmente na Europa e
América do Norte, outras técnicas de drenagem urbana passaram a ser difundidas, prezando-
se a sustentabilidade. Os princípios dessas técnicas baseiam-se na interferência mínima no
ciclo hidrológico local valorizando o armazenamento e infiltração das águas pluviais nos
próprios locais de ocorrência da precipitação. Tais técnicas, conhecidas por alternativas
podem ser introduzidas de forma integrada à paisagem urbana, tanto individualmente como
em conjunto, assumindo o caráter de paisagens multifuncionais. (BAHIENSE, 2013).
Este trabalho irá propor a implantação de medidas não convencionais de drenagem
urbana em um loteamento no município de Ceará-Mirim – RN, bem como a simulação das
mesmas utilizando softwares específicos de drenagem, de modo a comparar as vazões
efluentes por cada medida adotada, verificando a capacidade de atenuação dos picos de cheia
após o processo de urbanização do loteamento.
______________________
Bruno de Andrade Bezerra Barbosa, graduando em Engenharia Civil, UFRN
Amanda Bezerra de Sousa, Profa. MSc. Engenharia Sanitária, UFRN
Paulo Eduardo Vieira Cunha, Prof. Dr. do Departamento de Engenharia Civil, UFRN
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REVISÃO DA LITERATURA

REDE DE MICRODRENAGEM TRADICIONAL

Um sistema tradicional de microdrenagem urbana deve ser capaz de captar e conduzir


satisfatoriamente as águas pluviais durante e imediatamente após as chuvas, através de
condutos pluviais até um coletor principal - galerias ou canais abertos (naturais ou não)
(TUCCI, 2005).
Normalmente, os primeiros dispositivos responsáveis pelo recebimento das águas
pluviais, devido ao abaulamento da rua, são o meio-fio e as sarjetas. Para realizar o seu
dimensionamento, alguns parâmetros são necessários, destacando-se a declividade transversal
da via pública, obtida em função do tipo de via; a altura da guia e a altura de água na guia.
Fixando-se estes três, é possível determinar a capacidade hidráulica das sarjetas em função
exclusivamente da declividade longitudinal da via, a partir da aplicação da fórmula de
Manning. (AZEVEDO NETTO, 1998).
Caso a vazão escoada seja superior à capacidade hidráulica das sarjetas, havendo
inundações maiores que o tipo de via consiga suportar, é necessário a captação dessa vazão
excedente, utilizando-se as bocas-de-lobo. Estes dispositivos, portanto, captam as águas das
sarjetas e as conduzem até às galerias, conectando os escoamentos da superfície com os das
tubulações subterrâneas. Há diversos tipos de bocas-de-lobo (de guia, com grelha e
combinada), sendo a escolha deste tipo influenciada pela sua posição na sarjeta e pela
topografia do terreno. (MIGUEZ et al. 2015).
Nas conexões entre as bocas-de-lobo e galerias são previstos poços de visitas para que,
além de receber as águas pluviais, seja possível verificar também as condições das tubulações
e realizar a manutenção das mesmas. Além disso, sempre que houver a troca de diâmetros
e/ou de sentido das tubulações da galeria no traçado, o poço-de-visita é um dispositivo
indispensável (AZEVEDO NETTO, 1998).
As galerias subterrâneas são tubulações geralmente de formato circular,
tradicionalmente em concreto, ou também em Polietileno de Alta Resistência (PEAD). De
acordo com Azevedo Netto (1998), as galerias deverão apresentar um recobrimento mínimo
de 1,0 m, a fim de evitar problemas estruturais, e velocidades entre 0,75 m/s e 5 m/s, se forem
de concreto. Já para as tubulações em PEAD, as velocidades podem ser superiores a 5 m/s e
os recobrimentos são menores, entre 0,30 m e 0,60 m, pois essas tubulações são mais
resistentes ao peso do fluxo de veículos, desde que sejam adequadamente instaladas (TIGRE-
ADS, 2017).

MEDIDAS ALTERNATIVAS DE DRENAGEM URBANA

A partir do momento em que se perceberam os limites das soluções clássicas e com


isso a necessidade do desenvolvimento sustentável para a drenagem urbana, passou-se a
considerar a bacia hidrográfica como base de estudo e a pensar globalmente a gestão da
drenagem urbana.
Assim, outras abordagens sobre as águas urbanas passaram a ser disseminadas em
alguns países, Baptista et. al (2015) e Miguez et. al destacam as seguintes: os Sistemas de
Drenagem Urbana Sustentável (Sustainable Urban Drainage Systems – SUDS), no Reino
Unido; a Urbanização de Baixo Impacto (Low Impact Development – LID), nos Estados
Unidos e o Projeto Urbano Sensível à Água (Water Sensitive Urban Design - WSUD), na
Austrália.
Todas essas concepções se diferem pelo modo de abordagem das suas intervenções no
sistema de drenagem, no entanto, elas têm em comum o fato de incorporarem as tecnologias
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compensatórias em suas soluções e possibilitarem a reinserção dos cursos d’água à paisagem


urbana, interferindo o mínimo possível nas demais características naturais. (BAPTISTA et.
al, 2015).
As técnicas compensatórias têm por objetivo principal permitirem o controle do
escoamento superficial através da infiltração e/ou retenção das águas pluviais. Com isso, o
lançamento dessas águas para as galerias ou rios se dá de maneira mais lenta e distribuída no
tempo, se comparadas com o sistema tradicional, e ainda, possivelmente, com melhor
qualidade do que as lançadas pelos sistemas tradicionais.
Vale salientar que as medidas alternativas não surgiram com o intuito de abandonar
por completo todas as medidas tradicionais, mas sim de haver uma combinação entre ambas,
agregando aos sistemas de drenagem tradicionais as propostas sustentáveis e assim otimizá-
los (MIGUEZ et. al., 2015). Entretanto, como afirmam Butler e Davies (2011), em algumas
situações, a instalação prévia desses dispositivos pode tornar desnecessária a construção de
estruturas tradicionais.
Para avaliar se as técnicas sustentáveis de drenagem urbana estão sendo
satisfatoriamente aplicadas, comparam-se os hidrogramas de pré-desenvolvimento e de pós-
desenvolvimento da área em análise. Se a diferença entre os dois casos for pequena, isto
indica que as interferências da urbanização na área estão sendo minimizadas, ou seja, que os
picos de vazões estão sendo amortizados pelos dispositivos implantados (CANHOLI, 2014).

TIPOS DE TÉCNICAS ALTERNATIVAS (COMPENSATÓRIAS) DE DRENAGEM

Baptista et. al. (2005) dividem as técnicas compensatórias de drenagem urbana em


dois grandes grupos: técnicas compensatórias não estruturais e estruturais (Figura 01).
As primeiras apresentam caráter mais preventivo do que corretivo. Basicamente elas
visam o controle da ocupação do solo, promovendo a regulamentação das áreas de riscos e de
procedimentos de controle na fonte a serem adotados. Elas são exemplificadas pelos
instrumentos legislativos, tais como zoneamento da cidade; pelas ações de educação
ambiental; pelos seguros de inundação, dentre outras medidas. (MIGUEZ et. al., 2015).
Já as técnicas compensatórias estruturais são representadas pelas obras de engenharia
hidráulicas e hidrológicas executadas diretamente na bacia hidrográfica. Essas técnicas, a
depender da sua área de implantação na bacia, podem ser classificadas em: distribuídas ou
para controle na fonte; lineares e para controle centralizado (Figura 01).

Figura 01 – Classificações das técnicas compensatórias

Fonte: Baptista et al. (2015). (Adaptado pelo autor)


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As técnicas compensatórias estruturais para controle na fonte atuam sobre os lotes com
o objetivo de ampliarem a área de infiltração e percolação das águas pluviais e/ou
promoverem o armazenamento temporário delas em reservatórios ou telhados. Baptista et. al.
(2015) destacaram e comentaram sobre os seguintes dispositivos:

 Poço de infiltração: Microrreservatório escavado verticalmente no solo, de formato


geralmente circular, que pode ter sua abertura totalmente preenchida com materiais
porosos ou não;

 Vala de infiltração: Depressão linear, de pequena declividade que e atua semelhante a


um canal. Ela promove a desaceleração do escoamento superficial e também a
infiltração das águas pluviais em terrenos que apresentem uma boa capacidade de
infiltração;

 Cisterna: Dispositivo que capta as águas de chuvas que incidem nas áreas
impermeáveis, principalmente de telhados, e as reservam, seja para posterior
lançamento em um tempo mais lento no sistema de drenagem ou para o seu consumo,
desde que se façam a captação, o armazenamento e a utilização adequadamente;

 Telhado armazenador: Telhado com a função de reservar a água da chuva, podendo ser
vazado ou preenchido com britas, cascalho ou até mesmo solo e vegetação (telhado
verde). Requerem condições climáticas locais adequadas e reforço das estruturas das
edificações nas quais serão instalados.

As técnicas compensatórias estruturais lineares são aquelas executadas junto aos


logradouros, áreas de estacionamento, ou a outras áreas de porte de drenagem considerável.
Alguns dos dispositivos que se enquadram nessas condições são:

 Pavimento poroso: Pavimento revestido por materiais que permitem uma maior
facilidade de percolação da água de chuva, tais como blocos vazados ou concreto e
asfalto sem material fino em suas composições. Normalmente são assentados sobre
uma base de material granular com filtros geotêxteis. Vale salientar que, por questões
de resistência estrutural e manutenção, recomenda-se que sobre estes pavimentos
circulem apenas veículos leves. (ARAÚJO et. al., 2000);

 Trincheira de infiltração: Microrreservatório escavado linearmente no solo e


preenchido com algum material granular, podendo ou não ser coberta com grama ou
outro revestimento. Ela dispõe de uma manta geotêxtil envolvendo o material de
enchimento para evitar a entrada de finos na estrutura e consequentemente o risco de
colmatação (MIGUEZ et. al., 2015).

As técnicas estruturais para controle centralizado estão normalmente associadas a


áreas de drenagem de porte bem mais significativo (BAPTISTA et. al., 2015). Elas são
representadas principalmente pelos seguintes dispositivos:

 Bacias de retenção: Recebem e armazenam as águas durante as precipitações, porém


mantêm uma lâmina permanente de água após o período de chuva;

 Bacias de detenção: Reservam as águas pluviais apenas nos períodos chuvosos


servindo de outros usos em períodos secos.
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MATERIAIS E MÉTODOS − METODOLOGIA

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área analisada trata-se de um loteamento residencial horizontal situado na zona de


expansão urbana do município de Ceará-Mirim – RN, às margens da BR-406. Este município
situa-se a aproximadamente 30 km da capital, estando inserido na Região Metropolitana de
Natal, cujo espraiamento da sua mancha urbana tem sido intenso nos últimos anos (FRANÇA,
2017). Na Figura 02 há um mapa com a localização desse loteamento, destacando também a
posição, aproximada, do Rio do Mudo e o contorno do loteamento.
Com relação às características da ocupação da gleba, a mesma está subdividida em
1081 lotes residenciais de 200 m² que, juntamente com as áreas destinadas ao sistema viário,
áreas verdes e circulação para pedestres, atinge, aproximadamente, uma área total de 42,25
hectares. A disposição desses lotes pode ser conferida na Figura 03.
No entanto, foi utilizado 37,52 hectares (88,80%) da área do terreno para as
simulações deste trabalho, tendo em vista que com esta fração da área foi possível inserir cada
dispositivo entre duas curvas de nível, o que é fundamental para que os softwares realizem o
processamento de dados adequadamente.
Com base nas curvas de nível do local, tem-se que a declividade média do terreno é de
aproximadamente 4%, sendo o lado mais alto situado na cota altimétrica de 74 metros, no
limite norte do empreendimento (BR-406) e o lado mais baixo no limite sul do terreno,
próximo ao Rio do Mudo, com cota altimétrica de 25 m. O intervalo aproximado das demais
cotas altimétricas está indicado na ilustração da Figura 04.
De acordo com levantamentos sobre o solo da região de Ceará-Mirim, realizados pelo
Serviço Geológico do Brasil – CPRM (2005), conclui-se que na área do loteamento
predominam solos com características arenosas.

Figura 02 – Localização do loteamento

Fonte: Adaptado do Google Earth (2019)


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Figura 03 – Planta baixa do loteamento

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)


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Figura 04 – Declividade do terreno

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

CENÁRIOS SIMULADOS

As medidas não convencionais de drenagem urbana escolhidas para realização das


simulações nos softwares de drenagem são as listadas no Quadro 01.

Quadro 01 – Resumo dos cenários

Cenários Descrição

01 Área 100% impermeável


02 Área 20% Permeável
03 Área 40% Permeável
04 Uso de cisternas
05 Uso de trincheiras de infiltração
06 Área 100% permeável
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

No primeiro cenário tem-se uma situação de quase completa impermeabilização do


terreno, que servirá de parâmetro de comparação para os demais cenários. No segundo e
terceiro cenários avaliam-se técnicas não-estruturais a fim de representar medidas legislativas
que restringem a porcentagem de áreas impermeáveis de ocupação do lote. No quarto cenário
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aplica-se uma medida estrutural de controle na fonte que prioriza o amortecimento dos picos
de vazão por intermédio da reservação e consumo das águas de chuva. No quinto cenário
aplica-se outra medida estrutural de controle na fonte, mas que prioriza a infiltração e
posterior recarga do aquífero. O sexto cenário simula a situação de pré-urbanização cuja área
do lote encontra-se muito próximo de ser 100% permeável, o que servirá também de
parâmetro de comparação para os demais cenários.
Foi considerado que os lotes dos cenários 04 e 05 (Figura 05) contam com edificações
residenciais unifamiliares, de um pavimento, em baixo padrão, com área coberta total de 56
m². Esse valor adotado para a área residencial seguem as recomendações da NBR 12721/06
para um projeto-padrão de edificações desse tipo. Os dispositivos desses dois cenários captam
as águas incidentes somente na cobertura das edificações, as demais áreas impermeáveis
permanecem contribuindo com os escoamentos superficiais.

Figura 05 – Posicionamento dos dispositivos alternativos no lote

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

Para a modelagem das cisternas, admitiu-se que elas possuem diâmetro de 3,40 m e
altura de 1,80 m o que corresponde a área total de 9,08 m² e volume de 16 m³, que é a
capacidade recomendada pelo Projeto 1 Milhão de Cisternas (P1MC) para atender ao
consumo de água de uma família. Ao todo foi prevista uma cisterna por lote residencial.
As trincheiras de infiltração contam com 1 metro de profundidade, 0,70 m de largura e
8 m de comprimento, e estão localizadas nas laterais das edificações. Elas possuem cobertura
vegetal na superfície e são preenchidas por areias com seixos de boas possibilidades de
infiltração, que se adequam às características locais. Ao todo, foram previstas duas trincheiras
em cada lote residencial, nos recuos laterais de cada residência.

TRAÇADO E MODELAGEM DAS MEDIDAS TRADICIONAIS

Foi utilizado nesse trabalho o Sistema UFC, desenvolvido pelo Laboratório de


Hidráulica Computacional da Universidade Federal do Ceará. Esse sistema é composto por
diversos módulos, sendo o oitavo deles (UFC8) o voltado para a drenagem urbana. Dentre
suas vantagens destaca-se a possibilidade de otimizar os procedimentos do traçado e
dimensionamento hidráulico das redes dos sistemas de microdrenagem tradicional. No
entanto, foi necessária a definição de alguns parâmetros, discutidos nos itens a seguir.

Quantificação das vazões máximas

As estimativas destas vazões foram obtidas a partir das características das chuvas
intensas da região, ou seja, converteram-se os dados de chuva em dados de vazão. O Manual
de Drenagem de Natal (2009) permite que sejam dimensionados os dispositivos de
microdrenagem a partir do método racional (Equação 01), para áreas de bacias hidrográficas
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com até 1 km². Portanto, haja vista que a área do loteamento, obtida a partir do levantamento
topográfico, é de aproximadamente 422.550 m² (0,42 km²), adotou-se esse método para o
dimensionamento dos dispositivos.

𝑄 = 0,278 ∙ 𝐶 ∙ 𝑖 ∙ 𝐴 (1)
No qual:
Q é a vazão máxima afluente (m³/s);
C é o coeficiente de escoamento superficial direto;
𝑖 é a intensidade média da chuva de projeto (mm/h);
A é a área de estudo (km²);

Os valores de coeficientes de escoamento superficial direto adotados para os lotes


deste trabalho constam no Quadro 02 e foram baseadas nos valores recomendados por TUCCI
(1995) de acordo com o tipo de cobertura de solo. Na simulação de situações de coberturas
permeáveis o valor desse coeficiente foi de 0,10 enquanto que para simulação de situações de
coberturas impermeáveis o valor adotado foi de 0,95. Para os arruamentos,
independentemente do cenário simulado, o valor adotado para esse coeficiente foi de 0,95.

Quadro 02 – Resumo dos cenários


Cenários Coeficiente de escoamento adotado
01 0,95
02 (20% x 0,10) + (80% x 0,95) ≅ 0,80
03 (40% x 0,10) + (60% x 0,95) ≅ 0,60
04 0,95
05 0,95
06 0,10
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

O tempo de retorno adotado para todos os cenários foi de 5 anos, para assim ser
considerada a condição mais extrema do intervalo sugerido pelo Manual de Drenagem de
Natal -RN para os dispositivos de microdrenagem, que é de 2 a 5 anos.

Chuva de projeto

A intensidade média da chuva de projeto foi determinada utilizando-se a equação de


chuvas intensas de Natal (Equação 02), disponível no Manual de Drenagem Urbana de Natal
(NATAL, 2009), em virtude desta ser a cidade mais próxima a Ceará-Mirim com existência
de Curvas IDF e também pelo fato do software utilizado para o pré-dimensionamento dos
dispositivos deste trabalho empregar também a equação de Natal.

502,47 ∙ 𝑇𝑟 0,1431
𝑖 = (2)
(𝑡 + 10,80)0,606
No qual:
𝑖 é a intensidade pluviométrica (mm/h);
Tr é o período de retorno em anos;
t é a duração do período da chuva (min);
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Tempo de concentração

Existem diversas equações empíricas para se determinar o tempo de concentração.


Silveira (2005) fez uma análise de 23 fórmulas empíricas de tempo de concentração e afirma
que a fórmula de Kirpich (Equação 03) verifica-se muito na prática de hidrologia do Brasil
podendo ser usada com bons resultados, inclusive para bacias rurais de médio e grande porte.
Logo, empregou-se esta formulação neste trabalho.

0,385
𝐿³
𝑡𝑐 = 57 ⋅ ( ) (3)
𝑆
Em que:
𝑡𝑐 é o tempo de concentração (min);
L é o comprimento do curso d’água principal (km)
S é declividade do curso d’água principal (m/m);

Dimensões e características dos dispositivos

No projeto de um sistema de drenagem é necessária a definição de algumas


características (Tabela 01) a cerca das sarjetas, bocas-de-lobo, galerias e tubos de ligações:

Tabela 01 – Dados de entrada para preenchimento das informações dos


dispositivos convencionais no UFC8
Dispositivo Tipo Parâmetro requerido
Profundidade - 0,15 m
Sarjeta Simples Largura superficial - 3,50 m
Coeficiente de Rugosidade - 0,017
De Guia sem Altura da abertura - 0,15 m
Boca-de-lobo
depressão Comprimento da abertura -1,00 m
Seção - circular
Galerias e tubos
De Concreto Diâmetro mínimo - 0,30 m
de ligação
Recobrimento mínimo - 1,00 m
Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Vale salientar que foram escolhidas sarjetas simples pelo fato do loteamento
apresentar um grande número de vias secundárias, o que viabiliza considerar que o
escoamento pode atingir a crista da rua em precipitações de grandes intensidades. As bocas-
de-lobo do tipo guia e sem depressão foram escolhidas por representarem a condição mais
desfavorável dentre as demais opções de projeto, assim otimiza-se o projeto. As galerias
foram consideradas de concreto em virtude deste ainda ser um dos materiais mais adotado nas
obras de infraestrutura.

MODELAGEM DAS MEDIDAS NÃO CONVENCIONAIS

Para simular o comportamento das medidas não convencionais utilizou-se a


plataforma Storm Water Management Model – SWMM, versão 5.00.22, desenvolvida pela
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (U.S. Environmental Protection Agency
– EPA). O manual do usuário do SWMM (EPA, 2010), afirma que este software permite
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acompanhar a evolução da quantidade de escoamento dentro de cada sub-bacia bem como a


vazão e altura de escoamento em cada tubulação, em um dado período de simulação.
Vale salientar que para conseguir modelar estes escoamentos, a plataforma aplica e
resolve a equação da continuidade e a equação dinâmica (equações unidimensionais de Saint-
Venant), que se baseiam respectivamente nos princípios da conservação de massa e da
quantidade de movimento, cabendo ao usuário a definição do nível de sofisticação que deseja
para solucionar as equações: quer seja pelo modelo de fluxo em regime uniforme, pelo
modelo da onda cinemática ou pelo modelo da onda dinâmica (EPA, 2010)..
O modelo hidráulico de onda dinâmica é, dentre os possíveis níveis de resolução,
aquele que utiliza completamente as equações unidimensionais de Saint-Venant, permitindo
obter resultados mais precisos e completos (EPA, 2010). Dessa forma, este foi o modelo
adotado para as resoluções desse trabalho.
Com relação às medidas compensatórias de controle na fonte, o SWMM as
denominam de Dispositivos de Baixo Impacto (LID) e exige o fornecimento de alguns dados
de entrada, que são definidos por “camadas”. Cada camada é constituída por um conjunto de
características afins necessárias, de modo que, com essas informações, possa ser executado o
balanço hídrico. As Tabelas 02 e 03 apresentam, respectivamente, os parâmetros adotados
para as cisternas e para as trincheiras de infiltração, de acordo com o tipo de camada.

Tabela 02 – Dados de entrada para preenchimento das


informações das camadas das cisternas
Valor
Tipo de Camada Parâmetro requerido
fornecido
Armazenamento Altura da cisterna 1,80 m
Dreno Tempo de espera de abertura 240 h
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

Tabela 03 – Dados de entrada para preenchimento das informações


das camadas das trincheiras de infiltração
Valor
Tipo de Camada Parâmetro requerido
fornecido
Profundidade de armazenamento 1,0 m
Superfície Fração de cobertura vegetal 0,70
Rugosidade superficial 0,035
Altura 1,0 m
Porosidade 30%
Armazenamento
Condutividade hidráulica 36 mm/h
Fator de colmatação 0,50
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

O tempo de espera de dreno corresponde ao número de horas que deve ser esperado,
após a chuva para que se abra o dreno da cisterna (EPA, 2010). Determinou-se porosidade
igual a 30% e condutividade hidráulica igual a 36 mm/h, pois, de acordo com Baptista et.
al.(2015), esses valores são representativos do material escolhido para o preenchimento das
trincheiras. O fator de colmatação de 50% serve como fator de segurança indicando que a
trincheira pode vir a colmatar até pela metade. A rugosidade superficial é a mesma adotada
para canais de leito pedregoso com vegetação.
16

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao todo, obteve-se 160 subáreas de contribuição, das quais 81 correspondem a


arruamentos, 13 a lotes não residenciais e 66 a lotes residenciais. As vazões escoadas por cada
área de contribuição para cada cenário simulado estão detalhadas na Tabela 04.
Nos lotes correspondentes aos arruamentos, as vazões máximas escoadas apresentaram
valores iguais em virtude do coeficiente de escoamento adotado ter sido o mesmo,
independentemente do cenário simulado.
Os dispositivos das técnicas estruturais de controle na fonte foram inseridos apenas
nos lotes residenciais, por esse motivo a vazão escoada pelos lotes não residenciais para as
simulações dos cenários 04 e 05 apresentaram os mesmos resultados do cenário 01.

Tabela 04 – Valores das vazões escoadas por área de contribuição

Descrição das Área Vazão Escoada (l/s)


Nº de
áreas de simulada Cenário Cenário Cenário Cenário Cenário Cenário
subdivisões
contribuição (ha) 01 02 03 04 05 06
33 quadras de
166 lotes 66 23.10 3292.53 3093.47 2683.7 2341.61 2333.63 666.69
residenciais
5 quadras de
lotes não 13 8.45 1441.80 1331.69 1118.81 1441.80 1441.80 258.49
residenciais
Arruamentos 81 5.96 754.11 754.11 754.11 754.11 754.11 754.11

Total 160 37.52 5488.44 5179.27 4556.62 4537.52 4529.54 1679.29


Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

A plataforma SWMM permite visualizar os resultados também a partir de gráficos. O


Gráfico 01 apresenta o hidrograma para cada um dos cenários obtido nesse software.

Gráfico 01 – Hidrogramas representativos de cada cenário


Vazão (l/s)
6000
5500
5000
4500
4000
3500 Cenário 01
3000 Cenário 02
2500 Cenário 03
2000 Cenário 04
1500 Cenário 05
1000 Cenário 06
500
0 Tempo (min)
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)
17

Primeiramente, é importante reforçar que os hidrogramas obtidos apresentaram esses


formatos, pois o SWMM aplica uma análise mais completa das equações de Saint-Venant,
utilizando o modelo de onda dinâmica nas suas resoluções, sendo assim, é possível
acompanhar as vazões escoadas no loteamento ao longo de todo o intervalo considerado, e
não apenas os picos dessas vazões.
A partir desse gráfico percebe-se que o tempo de concentração ficou compreendido
entre 10 e 12 min, independentemente do cenário simulado. Essa proximidade nos valores de
tempo de concentração ocorre em virtude da adoção da fórmula de Kirpich (Equação 03) que
considera apenas as distâncias percorridas pelas águas escoadas e a diferença de altitude do
terreno, não contemplando as características relacionadas com a cobertura do mesmo.
O baixo valor do tempo de concentração está condizente com as características do
loteamento, pois, para bacias pequenas, tais como a analisada nesse trabalho, os tempos de
concentração também são pequenos, em virtude das distâncias percorridas pelas águas
escoadas serem menores do que as de bacias maiores.
Comparando-se as vazões escoadas nos lotes residenciais para o cenário 01
(𝑄𝑐𝑒𝑛á𝑟𝑖𝑜 01−𝐿𝑜𝑡𝑒𝑠 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑑𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑖𝑠 = 3292.53 l/s) com as vazões escoadas nestes mesmos lotes para
os demais cenários (Tabela 05) tem-se que as vazões de pico reduziram-se em
aproximadamente 30% ao empregar as técnicas compensatórias. Porém apresentam-se
distantes do resultado previsto para o cenário 06 de pré-urbanização, que resultou 79.75%.

Tabela 05 – Comparações entre as vazões escoadas nas áreas de lotes residenciais


Cenário Cenário Cenário Cenário Cenário
Situação
02 03 04 05 06
Vazões após aplicação das
3093.47 2683.70 2341.61 2333.63 666.69
técnicas - 𝑸𝒄𝒆𝒏á𝒓𝒊𝒐𝒔 (l/s)
Redução do escoamento
(comparação com 6.05% 18.49% 28.88% 29.12% 79.75%
𝑸𝒄𝒆𝒏á𝒓𝒊𝒐 𝟎𝟏−𝑳𝒐𝒕𝒆𝒔 𝒓𝒆𝒔𝒊𝒅𝒆𝒏𝒄𝒊𝒂𝒊𝒔 )

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

Por sua vez, as vazões escoadas nos lotes não residenciais para os cenários 02 e 03
sofreram uma redução, respectivamente, de aproximadamente 7,64% e 22,40% em
comparação com a vazão escoada para o cenário 01 (𝑄𝑐𝑒𝑛á𝑟𝑖𝑜 01−𝐿𝑜𝑡𝑒𝑠 𝑛ã𝑜 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑑𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑖𝑠 =
1441.80 l/s) e também estão distantes da redução do escoamento obtida pelo cenário 06 de
pré-urbanização. Os valores exatos das vazões encontram-se na Tabela 06, a seguir.

Tabela 06 – Comparações entre as vazões escoadas nas áreas de lotes não residenciais
Situação Cenário 02 Cenário 03 Cenário 06
Vazões após aplicação das técnicas -
1331.69 1118.81 258.49
𝑸𝒄𝒆𝒏á𝒓𝒊𝒐𝒔−𝑳𝒐𝒕𝒆𝒔 𝒏ã𝒐 𝒓𝒆𝒔𝒊𝒅𝒆𝒏𝒄𝒊𝒂𝒊𝒔 (l/s)

Redução do escoamento (comparação


7.64% 22.40% 82.07%
com 𝑸𝒄𝒆𝒏á𝒓𝒊𝒐 𝟎𝟏−𝑳𝒐𝒕𝒆𝒔 𝒏ã𝒐 𝒓𝒆𝒔𝒊𝒅𝒆𝒏𝒄𝒊𝒂𝒊𝒔 ) (l/s)

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)


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Avaliando-se o sistema como um todo, isto é, incluindo todo o volume que é escoado
para o coletor principal, as vazões de picos sofreram os percentuais de redução expostos na
Tabela 07 em comparação com a vazão total escoada no cenário 01 (𝑄𝑐𝑒𝑛á𝑟𝑖𝑜 01−𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 =
5488.44 𝑙/𝑠). Percebe-se que as vazões dos cenários que simularam as técnicas
compensatórias concentram-se em aproximadamente 17% e estão com valores distantes da
redução promovida para situação hipotética do cenário 06 (pré-urbanização).

Tabela 07 – Comparações entre as vazões escoadas para todo o sistema


Cenário Cenário Cenário Cenário Cenário
Situação
02 03 04 05 06
Pós-aplicação das técnicas 5179.27 4556.62 4537.52 4529.54 1679.29

Redução do escoamento
5.63% 16.98% 17.33% 17.47% 69.40%
(comparação com cenário 01)

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

CONCLUSÕES

Dentre os cenários propostos neste trabalho, os que utilizaram as técnicas


compensatórias estruturais de controle na fonte destacaram-se como os mais eficientes em
termos de reduções percentuais das vazões de pico. A intervenção que adotou trincheiras de
infiltração como medida alternativa permitiu o melhor resultado, reduzindo em 29,12% as
vazões de pico das áreas onde foram inseridas e em 17,47% o volume escoado do loteamento
como um todo.
Por sua vez, os cenários 02 e 03, que simulavam as medidas não-estruturais,
evidenciaram que, ao dobrar o percentual de área permeável dos lotes, o volume escoado pôde
ser reduzido em até um terço.
Estas constatações contribuem para disseminar a aplicação de técnicas compensatórias
de drenagem em lotes urbanos, tendo em vista que, mesmo sendo adotadas em pequenas
escalas e individualmente, como foi feito neste trabalho, essas medidas promoveram impactos
positivos para a região do loteamento, pois reduziram a geração dos escoamentos e
permitiram a recarga do aquífero local.
Como formas de ampliação deste trabalho, pode-se sugerir a simulação de outros
cenários que avaliem a atuação conjunta de duas ou mais medidas compensatórias e também
insiram outras técnicas não exclusivamente de controle na fonte, permitindo que áreas como
as dos arruamentos possam também contribuir mais consideravelmente para a redução do
volume escoado no sistema como um todo.

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