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Faculdade de Engenharia
Rio de Janeiro
2020
ANÁLISE DOS MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE GERAÇÃO DE
LIXIVIADO POR RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO ATERRO
SANITÁRIO DE NOVA IGUAÇU
Rio de Janeiro
2020
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/B
Victor Martins Bhering Dominoni
Aprovado em:
Banca Examinadora:
_________________________________________________
Profª. Dra. Elisabeth Ritter
Faculdade de Engenharia - UERJ
_________________________________________________
MSc. Manuella Suellen Vieira Galindo
ALTA GEOTECNIA
_________________________________________________
Prof. Dr. Roberto Bressan Nacif
Faculdade de Engenharia - UERJ
Rio de Janeiro
2020
AGRADECIMENTOS
Meu principal objetivo foi alcançado, mas não chegaria até aqui sem o apoio
de muitas pessoas que foram determinantes para o meu sucesso às quais faço os
seguintes agradecimentos:
Primeiramente, a Deus por me guiar até aqui e ter me sustentado diante de
tantos obstáculos iluminando sempre o meu caminho.
Aos meus queridos pais, Claudio e Maria Guiomar, e minha irmã, Claudia,
pelo amor, incentivo, paciência, conselhos e apoio incondicional.
A minha tia, Ana Maria, a minha madrinha, Nilza Maria, e a minha avó, Maria
Auxiliadora, por terem sido, praticamente, cada uma, como uma segunda mãe para
mim nesta jornada.
À minha orientadora Elisabeth Ritter, pelas sábias lições que me foram
passadas, pelas conversas, pelas dúvidas sanadas, pela disponibilidade para me
atender sempre que necessário e, principalmente, pela competência na orientação
desta pesquisa.
Ao Professor Fernando Marques pela maestria que conduzia suas aulas e
por ser um dos principais responsáveis por despertar meu interesse pela geotecnia.
Aos demais professores do curso de engenharia civil da UERJ, também, aos
quais sempre serei grato pelo conhecimento que me ensinaram.
Aos demais queridos amigos da graduação, que sem o apoio deles a
faculdade não teria a mesma graça. Obrigado pelos grandes momentos de
companheirismo, de cooperação, de estudo, de tensão e, sobretudo, de
descontração, pelas farras e festas, pelas bagunças e pela contagiante alegria.
À toda a equipe da ALTA GEOTECNIA, empresa responsável pela minha
primeira experiência profissional, pela incrível receptividade e tratamento enquanto
estive na empresa. Em especial aos engenheiros Álvaro Viana, Manuella Galindo,
Jéssica Castello e Luis Alves pelo auxilio na obtenção dos dados e desenvolvimento
este trabalho.
Por fim, desejo externar os mais sinceros agradecimentos a todos aqueles
não mencionados que também contribuíram de alguma forma para a realização
deste trabalho e para a minha formação acadêmica.
“Se cheguei até aqui foi porque me apoiei no ombro dos gigantes”
Issac Newton
RESUMO
In the last few years, in the face of unrestrained generation and increased
concern for the environment, the fate of abrasive waste has become a major problem
for society. As in Brazil, a common solution is to dispose of this material in landfills,
develop studies related to the estimation of fundamental demonstrative leachate. An
estimate of the leachate volume allows dimensioning the drainage, accumulation,
effluent treatment systems and assess possible contamination plumes in sanitary
areas. Given these facts, the objective of this work is to analyze the methods of
estimating leachate generation that can be used in studies compared with the results
measured in situ in a landfill in the municipality of Nova Iguaçu. For that, two
estimation methods were used, the water balance and the Swiss method, in four
supposed scenarios, where several parameters were compared with the results
measured in the field. At the end of this work, it was possible to verify the
advantages, disadvantages and restrictions of each method and scenario used.
Resíduos Especiais
pH Potencial hidrogeniônico
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
OBJETIVOS ................................................................................................................ 5
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 6
1.1 GERAÇÃO DE LIXIVIADO ............................................................................ 6
1.1.1 Processo de decomposição dos resíduos ................................................. 6
1.1.2 Principais fatores de influência na geração do lixiviado ........................ 11
1.2 MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE GERAÇÃO DE LIXIVIADO .................... 25
1.2.1 Balanço Hídrico ............................................................................................ 25
1.2.2 Método Suíço ............................................................................................... 32
1.2.3 Método Racional .......................................................................................... 33
1.2.4 Comparativo entre os métodos .................................................................... 34
2 APLICAÇÃO A UM ATERRO REAL ........................................................... 36
2.1 ATERRO SANITÁRIO DE NOVA IGUAÇU ................................................. 36
2.1.1 Breviário ....................................................................................................... 36
2.1.2 Clima ............................................................................................................ 40
2.1.3 Propriedades relacionadas aos resíduos ..................................................... 42
2.1.4 Sistema de drenagem de efluentes .............................................................. 45
2.1.5 Sistema de drenagem pluvial ....................................................................... 47
2.2 VALE 1 ......................................................................................................... 49
2.2.1 Balanço Hídrico ............................................................................................ 51
2.2.2 Método Suíço ............................................................................................... 52
2.2.3 Análise dos resultados ................................................................................. 52
2.3 VALE 3 ......................................................................................................... 52
2.3.1 Balanço Hídrico ............................................................................................ 57
2.3.2 Método Suíço ............................................................................................... 60
2.3.3 Análise dos resultados ................................................................................. 61
2.4 VALE 4 ......................................................................................................... 62
2.4.1 Balanço Hídrico ............................................................................................ 65
2.4.2 Método Suíço ............................................................................................... 66
2.4.3 Análise dos resultados ................................................................................. 67
2.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................ 68
CONSIDERAÇÕES FINAIS E TRABALHOS FUTUROS ......................................... 73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 74
INTRODUÇÃO
3
situ, o comportamento de sistemas compostos de impermeabilização, a migração de
contaminantes, entre outros.
Um aterro sanitário deve ser projetado e operado de forma a controlar a
emissão de contaminantes para o meio ambiente, com a finalidade de reduzir a
possibilidade de poluição das águas superficiais e subterrâneas do solo e do ar, e
eliminar impactos adversos na cadeia alimentar.
Os poluentes podem ser provenientes dos resíduos ou de produtos
secundários da decomposição. O lixiviado, efluente resultante das águas que infiltram
nas células e da decomposição dos resíduos, também conhecido como percolado ou
chorume, pode atingir as águas superficiais ou subterrâneas formando plumas de
contaminação.
Ademais, o lixiviado, juntamente com o biogás, também produto da
biodegradação dos resíduos, são responsáveis por reduzir a estabilidade nos taludes
dos aterros. Como eles geram pressões neutras que aumentam a pressão interna
criam um ‘‘efeito airbag’’ que expande o volume de vazios e, consequentemente,
pioram a estabilidade e facilitam a formação de linhas de ruptura nas células do
aterro.
A estimativa do volume de lixiviado permite dimensionar adequadamente
sistemas de drenagem, acumulação e tratamento de efluente em um aterro. E,
também, caso ocorra algum tipo de infiltração no solo, essa estimativa pode auxiliar
na avaliação da contaminação e na remediação das áreas impactadas.
Além disso, KAMIJI e OLIVEIRA (2019) analisaram as rupturas em aterros
sanitários brasileiros dos últimos 25 anos e verificaram que as principais causas estão
associadas ao projeto e à aspectos operacionais, em especial à inobservância de
diretrizes de projeto e, principalmente, à ineficiência do sistema de drenagem.
Diante desses argumentos, fica evidente a importância de se desenvolver
estudos para aumentar a precisão da estimativa de geração de lixiviado. Entretanto,
ainda há carência de métodos capazes de estimar com eficiência esses valores.
Portanto, calcular a geração de lixiviado ainda é um processo desafiador,
principalmente, por se tratar de um material de composição irregular e de existir uma
gama elevada de fatores que interferem na sua produção.
4
OBJETIVOS
Objetivo geral
Objetivos específicos
5
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
6
Tratabilidade de Lixiviados de Aterros Sanitários para as Condições Brasileiras”,
executado pelo Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (PROSAB), esse
liquido possui elevados e variantes valores de DBO (demanda bioquímica de
oxigênio) e DQO (demanda química de oxigênio). Além de metais pesados, nitritos,
nitratos, nitrogênio amoniacal, cloretos, diversos sais e componentes perigosos
oriundos dos inúmeros materiais dispostos pela população de forma aleatória e pouco
controlada.
Durante o processo de degradação da matéria orgânica contida nos resíduos
sólidos ocorrem transformações resultantes da combinação de processos bioquímicos
e físicos. A decomposição da matéria orgânica contida nos resíduos ocorre através de
dois processos: com presença de oxigênio (decomposição aeróbia) e com a ausência
de oxigênio (decomposição anaeróbia).
O processo inicia-se na etapa aeróbica quando a massa de lixo está exposta,
em contato com o ar, com o oxigênio presente nos poros da massa de resíduos
difundindo-se pelas camadas superiores, possibilitando a atividade de
microrganismos aeróbios. Mesmo com a brevidade desse período, que dura poucas
semanas (2 a 8 semanas), dependendo da forma de operação do aterro, a disposição
de resíduos contínua sobre as camadas já aterradas, praticamente interrompe a
acumulação de ar atmosférico nos interstícios. Em casos de falta de recobrimento ou
compactação ineficiente, tende a tornar essa etapa mais longa. Dessa forma,
conjuntamente consumido pelos microrganismos aeróbios e exaurido pelas
sucessivas operações de recobrimento do aterro, que impossibilitam a sua difusão
pelas várias camadas, o oxigênio esgota-se propiciando condições para a
fermentação anaeróbia.
A etapa de decomposição anaeróbica ocorre de forma lenta e gradual
produzindo elementos como ácidos orgânicos, gases, principalmente, o sulfídrico e a
amônia. E na decomposição aeróbica, a matéria orgânica inicia um processo
acelerado de oxidação progressiva e dessa degradação são liberados gases, dióxido
de carbono (CO2) e metano (CH4), e produzidos fósforo, potássio, sais minerais de
nitrogênio, dentre outros e, principalmente, lixiviado.
7
1.1.1.1 Fase aeróbica
9
Figura 2 - Fases da biodegradação dos RSU em um aterro sanitário.
Fonte: CASSINI, COELHO e PECORA (2014).
Em termos práticos, contudo, esses estágios não são tão claramente definidos.
Devido ao aterramento constante de resíduos sólidos novos, existe uma grande
variabilidade na idade do material disposto, e, dessa forma, é possível encontrar
todos os estágios ocorrendo ao mesmo tempo em um único aterro.
Após a fase de transição prossegue-se para a fase ácida, nela as reações
iniciadas na fase de transição são aceleradas com a produção de quantidades
significativas de ácidos orgânicos e pequenas quantidades de gás hidrogênio.
Primeiramente, na acidogênese acontece conversão microbiológica dos compostos
resultantes da primeira etapa em compostos intermediários com baixa massa
molecular, como o ácido acético (CH3COOH) e pequenas concentrações de outros
ácidos mais complexos (MARQUES, 2012). Depois, na acetogênese ocorre a
transformação dos ácidos orgânicos da acidogênese em compostos apropriados para
os microrganismos metanogênicos (CANDIANI e MOREIRA, 2015).
Por fim, na fermentação metânica fase de fermentação do metano predominam
microrganismos estritamente anaeróbios, denominados metanogênicos, que
convertem ácido acético e gás hidrogênio em metano e gás carbônico. A formação do
metano e dos ácidos prossegue simultaneamente, embora a taxa de formação dos
ácidos seja reduzida consideravelmente. No início da metanogênese existe a
10
produção 0 a 45% de metano, porém essa geração é extremamente instável.
Posteriormente, ocorre a metanogênese estável, produzindo metano na proporção de
50 a 70% e de gás carbônico na proporção de 30 a 50%.
11
tenderiam a se coincidir no tempo. Essa defasagem varia em função do sistema
drenante empregado, do material de cobertura e da profundidade do aterro.
12
peso seco e da massa de água, o método tradicional é a secagem em estufa, na qual
a amostra é mantida com temperatura entre 105 °C e 110 °C, até que apresente peso
constante, o que significa que ela perdeu a sua água por evaporação. Assim, a massa
de água é determinada pela diferença entre o peso da amostra e o peso seco. Dessa
forma, temos:
𝑃𝑇 − 𝑃𝑆 𝑃𝐴
𝑤= . 100 = . 100
𝑃𝑆 𝑃𝑆
(Equação 1.0)
Onde:
w = Teor de água (%);
𝑃𝑇 = Peso da amostra (Kg);
𝑃𝑆 = Peso seco (Kg);
𝑃𝐴 = Peso da água (Kg).
A partir dessa taxa pode ser calculado o volume de água proveniente do
material de cobertura que pode vir a infiltrar nas células do aterro. Entretanto,
usualmente, não são computados esses valores por serem pouco expressivos se
comparados com alguns dos demais fatores. No que concerne as parcelas de
volumes desviados, isto é que não conseguem alcançar as células de disposição,
destacam-se:
13
Evapotranspiração – é soma da evaporação da água pela superfície de
solo mais a transpiração da vegetação, passando para a atmosfera no estado de
vapor. É praticamente impossível distinguir esses dois processos, pois são
simultâneos. A evapotranspiração é alterada por aspectos como: presença de
vegetação, nível de maturidade das plantas, tipo de folha, porcentagem de cobertura
vegetal do solo, tipologia do solo, radiação solar, umidade, temperatura e vento.
14
De fato, a presença de água é importante para o primeiro passo da degradação
anaeróbia, além de promover a diluição de agentes inibidores e facilitar a distribuição
de microrganismos e nutrientes na massa de RSU. De acordo com CHRISTENSEN e
KJELDSEN (1989), verificou-se um crescimento exponencial nas taxas de produção
de gás quando o teor de umidade foi elevado para 60%. Assim, pode-se observar que
a disponibilidade hídrica é capaz de interferir na geração do lixiviado, não somente de
maneira direta pelo volume de água disponibilizada, mas também acelerando o
processo de decomposição.
Cidade / País
Materiais Bangkok Pekin Nairobi Hong New York Istanbul Atenas Cochabamba
Tailândia China Kenia Kong USA Turquia Grecia Bolívia
Metal 1 1 3 3 5 2 4 1
Papel 25 5 12 3 22 10 19 2
Plástico - 1 5 - - 3 7 3
Borracha,
couro e 7 1 - 7 3 6 4 1
madeira
15
Têxteis 3 - - 10 - 3 - -
Matéria
44 45 74 15 20 61 59 71
orgânica
Vidro 1 1 4 10 6 1 2 1
Outros 19 46 2 22 46 14 5 21
Fonte: Adaptado de CARVALHO (1999).
16
Portanto, a elevação do nível de oxigênio intensifica a geração de lixiviado, pois
aumenta a capacidade de degradação na fase aeróbica. Porém, essa maior
concentração de oxigênio torna a etapa inicial mais longa, impedindo o começo do
processo da metanogênese, que somente se inicia após o nível de oxigênio baixar
dentro do aterro.
17
Nutrientes: os microrganismos que atuam na degradação anaeróbia dos
RSU requerem a presença de nutrientes como enxofre, cálcio, magnésio, zinco,
cobre, cobalto, molibdênio, selênio e, principalmente, nitrogênio e fósforo. As
necessidades nutricionais das populações microbianas são específicas e usualmente
estabelecidas de forma empírica a partir da composição química das células
microbianas (CHERNICHARO, 1997). Esses nutrientes são encontrados na maioria
dos aterros. Contudo, nos casos em que há limitação de nutrientes para a degradação
anaeróbia, o fósforo é o elemento limitante mais comum (WARITH e SHARMA, 1998).
18
a temperatura limite de 65ºC) dentro das células do aterro acelera o processo de
decomposição dos RSU e, consequentemente, aumenta a produção de lixiviado.
21
MCBEAN, ROVERS e FARQUHAR (1995), quanto mais estável for a temperatura,
melhor será para o desenvolvimento dos microrganismos. Logo, mais eficiente será o
processo de degradação.
Além disso, o aumento da profundidade do aterro favorece o aumento da
umidade geral do aterro (disponibilidade hídrica), logo, como explicado anteriormente,
corroborando para uma maior geração de lixiviado.
Porém, aterros muito profundos tendem a apresentar bolsões de gases e de
lixiviado, resultantes do acúmulo de materiais incólumes, de uma forte compactação
nas células de disposição e de um sistema de drenagem ineficiente. Esses bolsões
constituem um grave problema nos aterros, pois aumentam o liquido dentro das
células, favorecendo o surgimento de afloramentos nos taludes e de linhas de ruptura.
23
1.1.2.8 Quadro demonstrativo
PRECIPITAÇÃO ↑AUMENTO -
ESCOAMENTO
↓REDUÇÃO -
SUPERFICIAL
EVAPOTRANSPIRAÇÃO ↓REDUÇÃO -
DISPONIBILIDADE
HÍDRICA UMIDADE NATURAL
↑AUMENTO -
DOS RESÍDUOS
RETENÇÃO DE ÁGUA NA
CAMADA DE ↓REDUÇÃO -
COBERTURA
24
UMIDADE NATURAL DO
MATERIAL DE ↑AUMENTO -
COBERTURA
TEOR DE UMIDADE DO
↑AUMENTO -
ATERRO
OXIGÊNIO ↑AUMENTO -
pH ideal para a
pH * decomposição ente
COMPOSIÇÃO 6,6 e 7,3.
GRAVIMÉTRICA COMPOSTOS A BASE DE
↓REDUÇÃO -
ENXOFRE
NUTRIENTES ↑AUMENTO -
AGENTES INIBIDORES ↓REDUÇÃO -
Aumento de 1 a 3 anos,
ESTÁGIO DE DEGRADABILIDADE * depois disso, a curva de
geração se inverte.
PROFUNDIDADE DO ATERRO ↑AUMENTO -
Proposto por Fenn, em 1975, o método do balanço hídrico foi uma adaptação
do “balanço hídrico” publicado pelo C. W. Thorntwaite em 1955, estudo conhecido sob
a denominação de “Teoria de Thornthwaite”, aplicado no campo da conservação do
solo e da água. Entretanto, é possível inferir que essa teoria se baseia nos mesmos
25
princípios da “Lei da conservação das massas” postulada por A. L. Lavoisier em 1785.
Onde, segundo ele, “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’’. Ou seja,
quando as substancias reagem, nenhuma matéria é perdida ou criada, apenas
transformada devido a reações físicas e químicas.
Para o entendimento do balanço hídrico aplicado em aterros sanitários é
necessário bom conhecimento dos seus conceitos básicos e da terminologia do
método.
O balanço hídrico é baseado na relação existente entre a precipitação, a
evapotranspiração, o escoamento superficial e o armazenamento da água no solo. A
precipitação representa a recarga de água do sistema, enquanto a evapotranspiração
representa a combinação entre a evaporação que ocorre na superfície do solo e a
transpiração das plantas. O escoamento superficial representa o fluxo superficial da
água diretamente na área de interesse. A capacidade de armazenamento representa
a quantidade de água que pode ficar retida no solo e nos resíduos sólidos nos casos
dos aterros sanitários (FENN, 1975).
Esse sistema pode ser empregado para aterros sanitários quando se dispõe
dos dados necessários e quando a dimensão e a complexidade do aterro justificarem
o esforço do cálculo. A Tabela 6 apresenta as condições básicas para a utilização do
método do balanço hídrico.
26
Segundo LINS (2003), esse método permite estimar o fluxo de lixiviado,
baseado em um fluxo unidimensional, na conservação de massa e nas características
de transmissão e retenção da cobertura do solo.
A parcela referente à água intrínseca ou umidade natural dos resíduos, deve
ser considerada de maneira direta no cálculo e estimada com base nos resultados de
ensaios e na experiência do operador, como uma porcentagem do volume de
disposição. Para tanto, é necessário considerar uma homogeneidade na composição
do volume da disposição e, dessa forma, definindo um material típico para todo o
aterro.
Por outro lado, a parcela sólida deve ser desprezada, ainda que represente
uma quantia significativa, já que a mesma é de difícil obtenção e depende do estágio
de degradabilidade dos resíduos.
Portanto, pode-se escrever o balanço hídrico, pela Equação 2.0 a seguir:
27
água intrínseca da disposição pode ser estimada como uma porcentagem do volume
recebido, como mencionado anteriormente.
Na parcela da descarga, os índices de evapotranspiração podem ser
determinados através de boletins meteorológicos. A evaporação é medida com
tanques evaporimétricos, onde se obtém uma lâmina de água que evaporou de uma
determinada área, enquanto a transpiração é medida com tanques vegetados.
Combinando esses resultados, tem-se o valor da evapotranspiração. Por outro lado, o
escoamento superficial (runoff) é calculado pelos fluxogramas das Figura 5 e Figura 6,
dependendo da tipologia do material de cobertura. Esses fluxogramas foram
desenvolvidos com parâmetros obtidos empiricamente, por ROCCA, em 1993, e estão
explicitados na Tabela 7.
28
Figura 5 - Fluxograma para cálculo do volume de água escoado.
Fonte: Adaptado de IOANA NICOLETA FIRTA e ARMANDO CASTILHOS.
29
Figura 6 - Fluxograma para cálculo do volume de água escoado para solos argilosos
(continuação).
Fonte: Adaptado de IOANA NICOLETA FIRTA e ARMANDO CASTILHOS.
30
Figura 7 - Fluxograma para cálculo do volume de água absorvida ou retida pela camada de
cobertura.
Fonte: adaptado de IOANA NICOLETA FIRTA e ARMANDO CASTILHOS.
PER . A
Q=
T
Onde: (Equação 2.1)
Q = Vazão de percolado gerado (L/s);
PER = Quantidade de percolado gerado (mm);
A = Área total do aterro (m²) ou Área da bacia de contribuição (m²);
31
T = Número de segundos em cada mês.
1.2.2 Método Suíço
P.A’.K
Q=
T
(Equação 2.2)
Onde:
Q = Vazão média do percolado (L/s);
P = Precipitação mensal (mm);
A’ = Área total do aterro (m²);
T = Número de segundos em cada mês;
k = Coeficiente empírico adimensional e dependente do grau de compactação dos
RSU, que pode ser obtido da
Tabela 9.
PESO ESPECÍFICO
DOS RESÍDUOS
TIPO DE ATERRO
URBANOS
K
COMPACTADOS
Aterros
fracamente 0,4 a 0,7 ton/m³ 0,25 a 0,50
compactados
32
Aterros
fortemente Acima de 0,7 ton/m³ 0,15 a 0,25
compactados
Fonte: ROCCA (1981).
Assim, neste modelo desconsidera-se grande parte dos fatores que influenciam
na geração do lixiviado. Em comparação com o balanço hídrico, o escoamento
superficial, o volume da evapotranspiração, a umidade natural dos resíduos e a
retenção de água na camada de cobertura são desconsiderados.
Para a execução dos cálculos, a precipitação é obtida a partir de boletins
meteorológicos, a área do aterro é um dado conhecido dos seus operadores, o tempo
varia conforme o período de estudo e o coeficiente de permeabilidade vai depender
dos resultados dos pesos específicos, obtidos mês a mês.
Qv = 𝐶. 𝑖. A′
(Equação 2.3)
Onde:
Qv = Vazão superficial máxima (L/s ou m³/s);
C = coeficiente de escoamento superficial (runoff), que é a relação entre o pico de
vazão e a chuva média sobre a área receptora;
i = Intensidade média da chuva (l ou m³);
A’ = Área da bacia de contribuição (m²);
33
Com o objetivo de se obter a parcela da precipitação que se infiltra, deve-se
subtrair do volume total precipitado sobre a área do aterro, o volume escoado, que é
calculado pelo método racional dentro do mesmo intervalo de tempo. Desse
resultado, subtrai-se a parcela de água evapotranspirada. Tem-se, então, a seguinte
Equação (2.4):
A
Q = (P − ES − EV)
T
(Equação 2.4)
Onde:
Q = Vazão de percolado gerado (L/s);
P = Precipitação mensal (mm);
ES = P x C = Escoamento superficial (mm);
C = coeficiente de escoamento superficial (runoff) – adimensional, (considerado igual
a 0,3 no estudo de LINS (2003);
EV = Evapotranspiração (mm);
A = Área da bacia de contribuição (m²);
T = Número de segundos em cada mês;
34
da estimativa da geração de lixiviado, considera-se a hipótese de o Método Suíço
obter resultados mais verossímeis.
PRECIPITAÇÃO ✔ ✔ ✔
ESCOAMENTO
CLIMÁTICOS E ✔ ✔ -
SUPERFICIAL
HIDROLÓGICOS
EVAPOTRANSPIRAÇÃO ✔ ✔ -
TEMPERATURA - - -
COMPOSIÇÃO
- - -
GRAVIMÉTRICA
COMPACTAÇÃO DOS
- - ✔
RESÍDUOS
RETENÇÃO DE ÁGUA NA
✔ - -
CAMADA DE COBERTURA
UMIDADE NATURAL DO
MATERIAL DE - - -
CARACTERÍSTICOS
COBERTURA
DA OPERAÇÃO
ESTÁGIO DE
- - -
DEGRADABILIDADE
PROFUNDIDADE DO
- - -
ATERRO
TEOR DE UMIDADE DO
- - -
ATERRO
35
2 APLICAÇÃO A UM ATERRO REAL
2.1.1 Breviário
36
Em 2001, prevendo o encerramento do antigo lixão de Marambaia, em função
da diminuição de sua vida útil e visando dar prosseguimento ao processo de
disposição final dos resíduos da região de forma ambientalmente correta, foi
desenvolvido um projeto para a implantação de um aterro sanitário em Nova Iguaçu.
37
Figura 9 - Área selecionada para a implantação do Aterro Sanitário de Nova Iguaçu (2001).
Fonte: BORTOLAZZO (2010).
A CTR está situada no distrito de Vila da Cava, Município de Nova Iguaçu
localizado na Baixada Fluminense, a cerca de 10 km do centro urbano da cidade,
entre as coordenadas UTM 7.492.000 a 7.492.200 Norte e 656.000 e 656.800 Leste.
O Aterro Sanitário de Nova Iguaçu tornou-se a primeira CTR licenciada no
Estado do Rio de Janeiro, sendo considerada uma referência em tratamento de
resíduos no cenário nacional. Além disso, é também a primeira do mundo a ter um
projeto de mitigação de gases de efeito estufa e venda de crédito de carbono
aprovado através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), da ONU. É
composta por: aterro sanitário bioenergético, laboratório, viveiro de mudas, estação
de tratamento de chorume (ETC), unidade de beneficiamento de resíduos da
construção civil (RCC), unidades de tratamento de biogás e de resíduos de serviços
de saúde (RSS).
A CTR é constituída por quatro vales, como pode ser observado na Figura 10,
sendo três (Vales 1, 3 e 4) licenciados para receber resíduos domiciliares e um para
resíduos da construção civil (Vale 2) que vem sendo empregado apenas como
depósito de materiais de construção e maquinário. Na Figura 11 são mostrados cada
vale em detalhe.
38
Figura 10 - Subdivisão operação do aterro em Nova Iguaçu (2010).
Fonte: Adaptado de BORTOLAZZO (2010).
Figura 11 - Vistas aéreas do aterro em Nova Iguaçu em fevereiro de 2017. a) Vale 1 (jusante),
b) Vale 1 (montante), c) Vale 2 e d) Vales 4 e 3, respectivamente.
Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
39
2.1.2 Clima
O aterro está situado em uma região de clima tropical com inverno seco e
chuvas intensas no verão, conforme pode ser observado pela Tabela 12, onde os
dados apresentados representam o comportamento da chuva e da temperatura ao
longo do ano e as médias climatológicas são valores calculados a partir de um série
de dados de 30 anos de observação.
A temperatura média anual mínima e máxima correspondem a 20,16°C e
27,50°C, respectivamente. Além disso, a temperatura mínima do mês mais frio é
cerca de 17ºC, enquanto que a máxima do mês mais quente é aproximadamente de
30ºC.
Dessa forma, pode-se observar historicamente dois períodos bem definidos,
uma estação chuvosa entre os meses de outubro a março, com índices pluviométricos
médios de 290,16mm e um período seco, com uma precipitação média de 107,16mm
ocorrendo entre os meses de abril a setembro.
Fonte: https://www.climatempo.com.br.
500,000 mm
450,000 mm
400,000 mm
Índice Pluviométrico
350,000 mm
300,000 mm
250,000 mm
200,000 mm
150,000 mm
100,000 mm
50,000 mm
,000 mm
jun/16
fev/17
jan/19
jan/16
fev/16
set/16
jan/17
jun/17
set/17
jan/18
fev/18
jun/18
set/18
fev/19
jun/19
set/19
ago/16
ago/17
mai/18
ago/18
abr/19
ago/19
abr/16
mai/16
nov/16
dez/16
abr/17
mai/17
nov/17
dez/17
abr/18
nov/18
dez/18
mai/19
nov/19
dez/19
jul/16
out/16
jul/17
out/17
jul/18
out/18
jul/19
out/19
mar/16
mar/17
mar/18
mar/19
Data da leitura
Figura 12 - Gráfico dos índices pluviométricos de Nova Iguaçu pelo pluviômetro da CTR.
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
A Figura 13 faz um comparativo das precipitações de cada mês nos últimos 4
anos, também através dos dados do pluviômetro na CTR. Desse modo, os resultados
ratificam que a região possui dois períodos bem definidos em termos pluviométricos.
500,000 mm
450,000 mm
2016 2017 2018 2019
Índice Pluviométrico
400,000 mm
350,000 mm
300,000 mm
250,000 mm
200,000 mm
150,000 mm
100,000 mm
50,000 mm
,000 mm
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Meses
41
Figura 13 - Gráfico comparativo de cada mês dos índices pluviométricos de Nova Iguaçu
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
120,00
100,00
Índice de Evaporação (mm)
80,00
60,00
40,00
20,00
,00
ago-17
abr-16
ago-16
abr-17
abr-18
ago-18
abr-19
ago-19
mai-16
jul-16
nov-16
dez-16
mai-17
nov-17
dez-17
mai-18
mai-19
out-16
jul-17
out-17
jan-18
jul-18
nov-18
dez-18
out-18
jul-19
nov-19
dez-19
out-19
jan-16
fev-16
mar-16
jun-16
set-16
jan-17
fev-17
mar-17
jun-17
set-17
fev-18
mar-18
jun-18
set-18
jan-19
fev-19
mar-19
jun-19
set-19
Data da leitura
42
condomínios, shoppings, supermercados, hotéis e outros estabelecimentos de grande
porte, que representam regularmente cerca de 45% do volume total de resíduos.
Segundo dados da CTR, ao longo deste tempo, as taxas de recebimento
mensais tiveram alguns incrementos e, atualmente, giram em torno de 120.000
toneladas por mês. Entretanto, o aterro possui capacidade para atender demandas
diárias de até 5.000 toneladas.
Como pode ser observado na Figura 15, cerca de 30% desse volume total
tratam-se de resíduos domiciliares e 14% de resíduos de varrição. No entanto, 47%
dos resíduos são classificados como “outros”, que inclui a categoria denominada de
“grandes geradores”, onde são englobados resíduos de papelão, lodo, madeira,
domiciliares, entre outros. Desse modo, evidencia-se a impossibilidade de se
determinar com maior exatidão a real proporção de cada tipo de resíduo disposto.
43
retaludamento do Vale 3 que se encerrou em agosto de 2018. Por fim, o material
voltou a ser depositado nas células do Vale 4.
A partir da massa de resíduos recebidos no referido período e o volume
ocupado dentro da célula, é possível estimar uma massa específica relativa, referente
a tal intervalo, e compará-la com os demais meses, de modo a estimar uma eficiência
de compactação por parte da operação. A massa de resíduos recebidos no referido
período é obtida através da balança de pesagem, enquanto que o volume ocupado
pela célula é definida pelo levantamento topográfico que é triangulado e transformado
em curvas de nível. A comparação entre os meses de outubro e novembro de 2019 é
apresentada pela Figura 16.
É importante ressaltar que este método não considera os recalques e demais
deslocamentos ocorridos nas camadas inferiores, de modo que as massas
específicas devem ser relativizadas e não tomadas como exatas. Além disso, após a
pesagem dos resíduos ocorre uma separação em que parte do entulho é recolhido
para ser reaproveitado. Essa massa recolhida passou a ser descontada do somatório
das massas de resíduos dispostos apenas no ano de 2019, fato que justifica os altos
valores das massas específicas encontradas nos anos anteriores, conforme a Figura
17. Portanto, considerando apenas o ano de 2019, tem-se uma massa específica dos
resíduos inicial média de 1,04ton/m³.
Figura 16 - Vista do aterro, com a disposição de novembro na cor marrom e as built de outubro
na cor cinza.
44
Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
1,60
1,50 1,45
1,48
Massa específica [ton/m³]
1,40 1,34
1,38 1,36
1,30 1,32
1,27 1,25
1,23 1,22 1,19
1,20 1,18
1,17 1,21
1,10 1,10 1,15
1,07
1,00 1,00
0,93 0,95 0,93 0,97
0,90
0,80
45
Figura 18 - Perfil esquemático dos drenos de camada.
Fonte: Autoria própria.
47
Figura 21 - Dispositivos da drenagem pluvial na CTR-NI: a) Descida hidráulica de concreto na
face frontal do Vale 1. b) Canaleta de concreto na face frontal do Vale 1. c) Descida hidráulica no
Vale 1. d) Canaleta no Vale 1. e) Descida hidráulica em colchão drenante na face frontal do Vale
3. f) Descida hidráulica em colchão drenante na face frontal do Vale 4.
Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
Incialmente, grande parte dos dispositivos eram construídos por meio de
terraplanagem no resíduo sobreposto pela própria manta e, em menor escala,
principalmente em trechos com disposição mais antiga, como no Vale 1, podem ser
observados ainda alguns dispositivos construídos em concreto. No entanto, com a
expansão do aterro e elevação das cotas e declividades, no Vale 3, esses dispositivos
foram substituídos por descidas construídas em colchão drenante, que possuem,
dentre outras vantagens, a quebra de energia, a redução da velocidade de fluxo, e a
flexibilidade. Tal medida vem progressivamente se estendendo aos demais trechos do
48
maciço e, atualmente, a quase totalidade do Vale 4 também é composta por descidas
construídas em colchão drenante.
Vale ressaltar que o Vale 1 se encontra, predominantemente, coberto por
geomembrana para impedir a infiltração das águas pluviais. Além disso, os demais
vales encontram-se recobertos por um material argiloso, com exceção apenas das
áreas onde estão ocorrendo a disposição de resíduos, que apenas recebem material
de cobertura ao fim desse processo. Ademais, na face dos taludes acabados vem
sendo implementada vegetação como cobertura, pois atenuam as contribuições de
águas pluviais e aumentam a parcela de água evapotranspirada, através da
transpiração das plantas, reduzindo a geração de lixiviado.
2.2 VALE 1
O Vale 1 possui uma área de 98.057,94m², valor estimado pelo autor a partir de
uma poligonal traçada na planta baixa do Vale 1 (Figura 22). Além disso, ele possui
uma área da bacia de contribuição de 158.445,10m², segundo dados da empresa que
presta consultoria para a CTR.
Ele foi o primeiro vale a receber resíduos, sua operação se iniciou em fevereiro
de 2003. Entretanto, sua disposição foi cessada em julho de 2013. Ele conforma um
maciço de resíduos com mais de 50m de espessura em seus pontos centrais e
apresenta elevações no platô de montante para jusante, variando de 83m a 76m.
Em fevereiro de 2014, o Vale 1 foi quase em sua totalidade, coberto por
geomembrana. Vale ressaltar que apenas o acesso ao platô superior não foi coberto e
que em alguns períodos parte da geomembrana foi danificada e substituída, expondo
o vale à infiltração pluvial. Essa técnica de impermeabilização foi adotada para
minimizar a geração de lixiviado. Entretanto, essa prática não é recomendada, pois ao
se impedir o a entrada de água no aterro, inibe-se o processo de degradação
aeróbica dentro da célula.
49
Figura 22 - Área do Vale 1 (sem escala).
Fonte: Autoria própria.
50
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
51
2.2.2 Método Suíço
Como foi observado pela Tabela 13, apesar do balanço hídrico e do método
suíço terem estimado vazões de lixiviado nulas, as mesmas não ocorreram. De fato,
conforme mencionado anteriormente, de acordo com FARQUHAR e ROVERS (1973),
a biodegradação lenta dura dezenas de anos. Além disso, segundo
TCHOBANOGLOUS, THEISEN e VIGIL (1993), a maturação do aterro, fase em que
as taxas de geração de metano e lixiviado se tornam desprezíveis, acontece em
média após 30 a 40 anos. Assim, como a última disposição no Vale 1 ocorreu em
julho de 2013, é de se esperar que o aterro continue apresentando geração de
lixiviado mesmo coberto por geomembrana.
Vale ressaltar que, como o acesso ao platô superior não fui coberto e parte da
geomembrana foi danificada e substituída, expondo o vale à infiltração pluvial, de fato,
uma parcela de água infiltrou nas células do aterro. Entretanto, devido à ausência de
informações precisas da área exposta e do tempo de exposição, não é possível
quantificar esse volume.
2.3 VALE 3
O Vale 3 possui uma área de 86.623,75m², valor estimado pelo autor a partir de
uma poligonal traçada na planta baixa do aterro (Figura 23). Além disso, ele possui
uma área da bacia de contribuição de 163.197,84m², segundo dados da empresa que
presta consultoria para a CTR.
52
Figura 23 - Área do Vale 3 (sem escala).
Fonte: Autoria própria.
53
Tabela 14 - Volume de disposição mensal recebido pelo Vale 3.
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
54
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
55
Figura 26 - Detalhe do dreno de face (Sem Escala).
Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
57
Tabela 17 - Índices de evaporação mensais.
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
58
Tabela 18 - Volume de escoamento superficial nos Vales 3 e 4.
Tabela 19 - Volume e variação do volume de água retida no solo de cobertura nos Vales 3 e 4.
59
Tabela 20 - Vazões de lixiviado estimadas pelo balanço hídrico e vazões medidas no Vale 3.
60
Tabela 21 - Vazões de lixiviado estimadas pelo método suíço e vazões medidas no Vale 3.
Cenário 3: K = 0,25
Cenário 4: K = 0,15
Fonte: Autoria própria.
Tabela 22 - Resultados anuais do comparativo entre o volume estimado e medido para o Vale 3.
2.4 VALE 4
O Vale 4 possui uma área de 181.436,36m², valor estimado pelo autor a partir
de uma poligonal traçada na planta baixa do Vale 4 (Figura 29). Além disso, ele
possui uma área da bacia de contribuição de 255.851,30m², segundo dados da
empresa que presta consultoria para a CTR.
Durante o período em estudo, o Vale 4 recebeu disposição em dois períodos,
entre janeiro de 2016 e julho de 2017 e, depois, entre setembro de 2018 e dezembro
62
de 2019, totalizando trinta e cinco meses. Os volumes de disposição mensais
recebidos pelo Vale 4 podem ser visualizados na Tabela 24.
63
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
64
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
Tabela 25 - Vazões de lixiviado estimadas pelo balanço hídrico e vazões medidas no Vale 4.
65
Cenário 1: A* = Área da bacia de contribuição
Cenário 2: A* = Área do aterro
Fonte: Autoria própria.
Tabela 26 - Vazões de lixiviado estimadas pelo método suiço e vazões medidas no Vale 4.
66
Cenário 3: K = 0,25
Cenário 4: K = 0,15
Fonte: Autoria própria.
Tabela 27 - Resultados anuais do comparativo entre o volume estimado e medido para o Vale 4.
De uma maneira geral, pode-se concluir que o Vale 1 apresenta uma situação
atípica que foge ao alcance de qualquer método de estimativa analisado. Entretanto,
a análise desse mostrou-se proveitosa, para ratificar o conceito de que o lixiviado não
é fruto somente da parcela de água que infiltra nas células do aterro, mas também
resultado dos processos de biodegradação dos resíduos sólidos dispostos.
68
Além disso, pode-se constatar que as estimativas através do método suíço
foram mais adequadas para o Vale 3 e as estimativas através do balanço hídrico
foram melhores para o Vale 4. Portanto, é plausível inferir que o método suíço
apresente resultados mais aceitáveis para aterros com dimensões reduzidas e o
balanço hídrico obtenha estimativas melhores para aterros com áreas mais extensas.
Contudo, é questionável a validade dos resultados das medições no Vale 3,
pois, as vazões medidas nesse vale encontram-se muito próximas das encontradas
no Vale 1, conforme ilustra a Figura 30. Isso porque o Vale 1 possui uma área
equivalente e adjacente ao Vale 3, portanto, sujeito às mesmas condições climáticas,
mas que ficou coberto por geomembrana no período estudado. Dessa forma, duas
situações distintas podem explicar esse fato, ou a geomembrana do Vale 1 não
apresentou a capacidade de impermeabilização prevista ou ocorreu a colmatação dos
drenos do Vale 3. Diante da constatação dos resultados verificados após a
implantação dos drenos de face, deduz-se que a última situação apresenta maior
probabilidade de ocorrência.
35000
Vale I
Vazão de Chorume [m³/mês]
30000
Vale III
Vazão de Chorume [m³/mês]
25000 Vale IV
Vazão de Chorume [m³/mês]
20000
15000
10000
5000
69
Outro ponto conclusivo é em relação à preponderante influência do índice
pluviométrico no volume de lixiviado gerado, que pode ser claramente observado na
Figura 31. Dessa forma, pode-se notar que no período seco (abril a setembro),
usualmente tem-se uma geração de lixiviado reduzida, assim como no período úmido
(outubro a março), invariavelmente, tem-se uma geração de lixiviado elevada.
40.000 500
Indíce Pluviométrico
Volume de lixiviado gerado [m³]
20.000 250
200
15.000
150
10.000
100
5.000
50
0 0
jan/16
set/16
jan/17
set/17
jan/18
set/18
jan/19
set/19
mai/17
nov/19
mai/16
mai/18
mai/19
jul/16
nov/16
jul/17
nov/17
jul/18
nov/18
jul/19
mar/16
mar/17
mar/18
mar/19
70
à formação da praça de operação, ocorre a entrada facilitada do volume precipitado e
do oxigênio, componente necessário para o processo de degradação aeróbico.
Convém notar ainda, a melhora observada no sistema de drenagem pluvial no
aterro, visto que, analisando as precipitações mensais e vazões de lixiviado geradas
pelos vales nos meses de janeiro de 2017 a dezembro de 19, é possível, através de
uma retroanálise pelo método suíço, conhecer o histórico de variação do coeficiente K
para cada um dos vales. Assim, conforme mostrado na Figura 33, o parâmetro é
sensível à precipitação e acaba assumindo valores bem elevados para justificar a
geração registrada em campo, mesmo em meses de seca. Porém, devido à utilização
da vegetação como cobertura da face dos taludes acabados e às melhorias
realizadas na rede de drenagem, nota-se um aumento da regularidade das vazões de
saída do percolado e a redução significativa das contribuições das águas pluviais,
causando um maior equilíbrio nos coeficientes retroanalisados.
30.000 160000
RSU (t) - total Vale III Vale IV
120000
20.000
100000
(m³/mês)
15.000 80000
60000
10.000
40000
5.000
20000
0 0
jan/16
set/16
jan/17
set/17
jan/18
set/18
jan/19
set/19
mai/16
nov/16
mai/17
jul/17
nov/17
mai/18
nov/18
mai/19
nov/19
jul/16
jul/18
jul/19
mar/16
mar/17
mar/18
mar/19
71
medições são provocados pela ação isolada ou combinada de vários fatores que
influenciam o processo de medição, envolvem o próprio sistema adotado, o seu
procedimento, a ação de grandezas de influência e o operador. Já os erros relativos
às estimativas decorrem da falta de informações precisas ou da ausência de
embasamento teórico capaz de atender o caso específico.
12 400
350
10
300
Valor de K retroanalisado
Pluviometria (mm)
250
6 200
150
4
100
2
50
0 0
jan/17
fev/17
jun/17
set/17
jan/18
fev/18
jun/18
set/18
jan/19
fev/19
jun/19
set/19
ago/17
ago/18
abr/19
ago/19
abr/17
mai/17
jul/17
nov/17
dez/17
abr/18
mai/18
mai/19
jul/18
nov/18
dez/18
jul/19
nov/19
dez/19
mar/17
out/17
mar/18
out/18
mar/19
out/19
Assim, vale destacar alguns desse possíveis erros que podem ser os
responsáveis pela discrepância entre os valores estimados e os medidos, tais como:
73
Os resíduos fazem parte do cotidiano da sociedade, representando um aspecto
crítico pelos impactos que podem causar ao meio ambiente, requerendo especial
atenção para sua destinação final. Dessa forma, devido ao consumismo exacerbado e
ao crescimento populacional, a consequente intensificação da geração de resíduos
tornou-se pauta recorrente de discussões no mundo. Esse aumento acentuado tem
impulsionado a construção e ampliação de aterros sanitários por todo o país, tornando
cada vês mais importante o desenvolvimento de estudos para a quantificação do
lixiviado.
Entretanto, como se pode observar neste trabalho, a quantificação do lixiviado
não é um processo trivial, pois os aterros sanitários funcionam como um sistema
trifásico em que a parte sólida, devido aos processos de biodegradação passam para
o estado líquido e gasoso. Além disso, o processo como um todo depende de
aspectos climáticos e hidrológicos, relativos às condições dos resíduos e
característicos da operação. Cada aspecto desses desencadeia uma série de fatores,
onde em muitos casos, a mensuração da sua influência ainda necessita ser alvo de
pesquisas mais aprofundadas.
Dessa forma, desenvolver estudos nos moldes de uma análise de
sensibilidade, ou seja, avaliar a geração de lixiviado procurando estimar o resultado
final de acordo com oscilações das variáveis determinantes, seria de suma
importância para propor novas metodologias de estimação de lixiviado ou aprimorar
as já existentes.
Assim, por se tratar de um processo científico, para o balanço hídrico esses
estudos poderiam contribuir na melhor avalição dos fatores já considerados e,
possivelmente, na adição de outras parcelas computando os demais fatores. No caso
do método suíço, por ser um processo empírico, estudos práticos poderiam ser
desenvolvidos para estreitar as faixas de utilização do coeficiente de permeabilidade e
aumentar o número de subdivisões para esse coeficiente e, assim, alcançar valores
de grau de compactação dos resíduos mais elevados.
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Germany – but UK and Ireland Show Fastest Increase. Copenhague, Dinamarca,
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aterro de Nova Iguaçu.
79