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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Tecnologia e Ciências

Faculdade de Engenharia

VICTOR MARTINS BHERING DOMINONI

ANÁLISE DOS MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE GERAÇÃO DE


LIXIVIADO POR RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO ATERRO
SANITÁRIO DE NOVA IGUAÇU

Rio de Janeiro
2020
ANÁLISE DOS MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE GERAÇÃO DE
LIXIVIADO POR RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO ATERRO
SANITÁRIO DE NOVA IGUAÇU

Projeto final apresentado como


requisito parcial para obtenção do
título de Graduado em Engenharia
Civil, à Faculdade de Engenharia da
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.

Orientadora: Profª. Dra. ELISABETH RITTER

Rio de Janeiro
2020
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/B
Victor Martins Bhering Dominoni

ANÁLISE DOS MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE GERAÇÃO DE


LIXIVIADO POR RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO ATERRO
SANITÁRIO DE NOVA IGUAÇU

Projeto final apresentado como


requisito parcial para obtenção
do título de Graduado em
Engenharia Civil, à Faculdade
de Engenharia da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro.

Aprovado em:
Banca Examinadora:

_________________________________________________
Profª. Dra. Elisabeth Ritter
Faculdade de Engenharia - UERJ

_________________________________________________
MSc. Manuella Suellen Vieira Galindo
ALTA GEOTECNIA

_________________________________________________
Prof. Dr. Roberto Bressan Nacif
Faculdade de Engenharia - UERJ

Rio de Janeiro
2020
AGRADECIMENTOS

Meu principal objetivo foi alcançado, mas não chegaria até aqui sem o apoio
de muitas pessoas que foram determinantes para o meu sucesso às quais faço os
seguintes agradecimentos:
Primeiramente, a Deus por me guiar até aqui e ter me sustentado diante de
tantos obstáculos iluminando sempre o meu caminho.
Aos meus queridos pais, Claudio e Maria Guiomar, e minha irmã, Claudia,
pelo amor, incentivo, paciência, conselhos e apoio incondicional.
A minha tia, Ana Maria, a minha madrinha, Nilza Maria, e a minha avó, Maria
Auxiliadora, por terem sido, praticamente, cada uma, como uma segunda mãe para
mim nesta jornada.
À minha orientadora Elisabeth Ritter, pelas sábias lições que me foram
passadas, pelas conversas, pelas dúvidas sanadas, pela disponibilidade para me
atender sempre que necessário e, principalmente, pela competência na orientação
desta pesquisa.
Ao Professor Fernando Marques pela maestria que conduzia suas aulas e
por ser um dos principais responsáveis por despertar meu interesse pela geotecnia.
Aos demais professores do curso de engenharia civil da UERJ, também, aos
quais sempre serei grato pelo conhecimento que me ensinaram.
Aos demais queridos amigos da graduação, que sem o apoio deles a
faculdade não teria a mesma graça. Obrigado pelos grandes momentos de
companheirismo, de cooperação, de estudo, de tensão e, sobretudo, de
descontração, pelas farras e festas, pelas bagunças e pela contagiante alegria.
À toda a equipe da ALTA GEOTECNIA, empresa responsável pela minha
primeira experiência profissional, pela incrível receptividade e tratamento enquanto
estive na empresa. Em especial aos engenheiros Álvaro Viana, Manuella Galindo,
Jéssica Castello e Luis Alves pelo auxilio na obtenção dos dados e desenvolvimento
este trabalho.
Por fim, desejo externar os mais sinceros agradecimentos a todos aqueles
não mencionados que também contribuíram de alguma forma para a realização
deste trabalho e para a minha formação acadêmica.
“Se cheguei até aqui foi porque me apoiei no ombro dos gigantes”
Issac Newton
RESUMO

DOMINONI, Victor: RITTER, Elisabeth (orientadora). Análise aos métodos de


estimativa de geração de lixiviados por resíduos sólidos urbanos no aterro sanitário
de Nova Iguaçu, 2020. Projeto Final (Graduação em Engenharia Civil) - Faculdade
de Engenharia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020.

Nos últimos anos, diante da geração desenfreada e da crescente


preocupação com o meio ambiente, a destinação dos resíduos sólidos tornou-se um
problema relevante para a sociedade. E como no Brasil a solução usual é a
destinação desse material em aterros sanitários, desenvolver estudos relativos à
estimativa de lixiviado mostram-se fundamentais. A estimativa do volume de lixiviado
permite dimensionar adequadamente sistemas de drenagem, acumulação,
tratamento de efluente e avaliar possíveis plumas de contaminação em aterros
sanitários. Diante desses fatos, o objetivo deste trabalho é analisar os métodos de
estimativa de geração de lixiviado aplicados ao aterro em estudo comparando-os
com os resultados medidos in situ em um aterro sanitário no munícipio de Nova
Iguaçu. Para tanto, foram utilizados dois métodos de estimativa, o balanço hídrico e
o método suíço, em quatro cenários supostos, onde variou-se alguns parâmetros
para comparação com os resultados medidos em campo. Ao final deste trabalho, foi
possível constatar vantagens, desvantagens e limitações de cada método e cenário
empregado.

Palavra-chave: Aterro Sanitário; Lixiviado; Balanço Hídrico; Método Suíço.


ABSTRACT

DOMINONI, Victor; RITTER, Elisabeth (advisor). Analysis of the methods of urban


solid waste generation leisure in the Nova Iguaçu Sanitary, 2020. Final Project
(Degree in Civil Engineering), Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2020.

In the last few years, in the face of unrestrained generation and increased
concern for the environment, the fate of abrasive waste has become a major problem
for society. As in Brazil, a common solution is to dispose of this material in landfills,
develop studies related to the estimation of fundamental demonstrative leachate. An
estimate of the leachate volume allows dimensioning the drainage, accumulation,
effluent treatment systems and assess possible contamination plumes in sanitary
areas. Given these facts, the objective of this work is to analyze the methods of
estimating leachate generation that can be used in studies compared with the results
measured in situ in a landfill in the municipality of Nova Iguaçu. For that, two
estimation methods were used, the water balance and the Swiss method, in four
supposed scenarios, where several parameters were compared with the results
measured in the field. At the end of this work, it was possible to verify the
advantages, disadvantages and restrictions of each method and scenario used.

Key-Words: Sanitary Landfill; Leachate; Hydric Balance; Swiss method.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Fluxograma do processo de decomposição anaeróbia dos RSU. .............. 9


Figura 2 - Fases da biodegradação dos RSU em um aterro sanitário. ...................... 10
Figura 3 - Variações químicas do biogás e do lixiviado ao longo do tempo. ............. 19
Figura 4 - Gráfico da curva típica da geração de biogás/lixiviado ao longo do tempo.
.................................................................................................................................. 21
Figura 5 - Fluxograma para cálculo do volume de água escoado. ............................ 29
Figura 6 - Fluxograma para cálculo do volume de água escoado para solos argilosos
(continuação)............................................................................................................. 30
Figura 7 - Fluxograma para cálculo do volume de água absorvida ou retida pela
camada de cobertura................................................................................................. 31
Figura 8 - Lixão de Marambaia, situação antes da desativação e da recuperação
ambiental da área. ..................................................................................................... 37
Figura 9 - Área selecionada para a implantação do Aterro Sanitário de Nova Iguaçu
(2001). ....................................................................................................................... 38
Figura 10 - Subdivisão operação do aterro em Nova Iguaçu (2010). ........................ 39
Figura 11 - Vistas aéreas do aterro em Nova Iguaçu em fevereiro de 2017. a) Vale 1
(jusante), b) Vale 1 (montante), c) Vale 2 e d) Vales 4 e 3, respectivamente........ 39
Figura 12 - Gráfico dos índices pluviométricos de Nova Iguaçu pelo pluviômetro da
CTR. .......................................................................................................................... 41
Figura 13 - Gráfico comparativo de cada mês dos índices pluviométricos de Nova
Iguaçu ....................................................................................................................... 42
Figura 14 - Gráfico dos índices de evaporação de Nova Iguaçu. .............................. 42
Figura 15 - Tipologia dos resíduos recebidos em novembro de 2019 na CTR. ........ 43
Figura 16 - Vista do aterro, com a disposição de novembro na cor marrom e as built
de outubro na cor cinza. ............................................................................................ 44
Figura 17 - Histórico das massas específicas dos resíduos na CTR-NI. ................... 45
Figura 18 - Perfil esquemático dos drenos de camada. ............................................ 46
Figura 19 - Perfil esquemático do dreno vertical. ...................................................... 46
Figura 20 - Lagoas de lixiviado existentes na CTR-NI em outubro de 2019. ............ 47
Figura 21 - Dispositivos da drenagem pluvial na CTR-NI: a) Descida hidráulica de
concreto na face frontal do Vale 1. b) Canaleta de concreto na face frontal do Vale 1.
c) Descida hidráulica no Vale 1. d) Canaleta no Vale 1. e) Descida hidráulica em
colchão drenante na face frontal do Vale 3. f) Descida hidráulica em colchão
drenante na face frontal do Vale 4. ........................................................................... 48
Figura 22 - Área do Vale 1 (sem escala). .................................................................. 50
Figura 23 - Área do Vale 3 (sem escala). .................................................................. 53
Figura 24 - Início da disposição do Vale 3 em agosto de 2017. ................................ 54
Figura 25 - Seção esquemática dos drenos de face. ................................................ 55
Figura 26 - Detalhe do dreno de face (Sem Escala). ................................................ 56
Figura 27 - Execução de drenos de face no trecho inferior do Vale 3. ...................... 56
Figura 28 - Execução de drenos de face no trecho inferior do Vale 3. ...................... 57
Figura 29 - Área do Vale 4 (sem escala). .................................................................. 63
Figura 30 - Gráfico vazões de lixiviado medidas em cada vale. ................................ 69
Figura 31 - Gráfico correlação entre o volume de lixiviado gerado e o índice
pluviométrico. ............................................................................................................ 70
Figura 32 - Gráfico correlação entre o volume de lixiviado medido e a massa de
disposição. ................................................................................................................ 71
Figura 33 - Gráfico retroanálise do valor de K (método suíço). ................................. 72
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Umidade dos componentes do RSU. ....................................................... 12


Tabela 2 - Estimativa da composição gravimétrica dos RSU por cidade. ................. 15
Tabela 3 - Estimativa da composição gravimétrica dos RSU coletados no Brasil em
2008. ......................................................................................................................... 16
Tabela 4 - Classificação do lixiviado segundo a idade do aterro. .............................. 20
Tabela 5 - Relação dos fatores que influenciam na produção de lixiviado. ............... 24
Tabela 6 - Condições básicas para a utilização do método do balanço hídrico. ....... 26
Tabela 7 - Valores do coeficiente de escoamento superficial (C´). ........................... 28
Tabela 8 - Umidade do solo (mm H2O/m de solo). ................................................... 30
Tabela 9 - Valores de k para aplicação do método suíço. ......................................... 32
Tabela 10 - Comparação dos fatores considerados nos métodos de estimativa de
lixiviado. .................................................................................................................... 35
Tabela 11 - Cenários considerados na estimativa do lixiviado em cada vale. ........... 36
Tabela 12 - Médias mensais de temperatura e precipitação para Nova Iguaçu. ....... 40
Tabela 13 - Vazões de lixiviado medidas no Vale 1. ................................................. 50
Tabela 14 - Volume de disposição mensal recebido pelo Vale 3. ............................. 54
Tabela 15 - Vazões de lixiviado medidas no Vale 3. ................................................. 54
Tabela 16 - Índices pluviométricos mensais. ............................................................. 57
Tabela 17 - Índices de evaporação mensais. ............................................................ 58
Tabela 18 - Volume de escoamento superficial nos Vales 3 e 4. .............................. 59
Tabela 19 - Volume e variação do volume de água retida no solo de cobertura nos
Vales 3 e 4. ............................................................................................................... 59
Tabela 20 - Vazões de lixiviado estimadas pelo balanço hídrico e vazões medidas no
Vale 3. ....................................................................................................................... 60
Tabela 21 - Vazões de lixiviado estimadas pelo método suíço e vazões medidas no
Vale 3. ....................................................................................................................... 61
Tabela 22 - Resultados anuais do comparativo entre o volume estimado e medido
para o Vale 3. ............................................................................................................ 62
Tabela 23 - Volume de disposição mensal recebido pelo Vale 4. ............................. 63
Tabela 24 - Vazões de lixiviado medidas no Vale 4. ................................................. 64
Tabela 25 - Vazões de lixiviado estimadas pelo balanço hídrico e vazões medidas no
Vale 4. ....................................................................................................................... 65
Tabela 26 - Vazões de lixiviado estimadas pelo método suiço e vazões medidas no
Vale 4. ....................................................................................................................... 66
Tabela 27 - Resultados anuais do comparativo entre o volume estimado e medido
para o Vale 4. ............................................................................................................ 68
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRELPE Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais

AEA Agência Europeia do Ambiente

CIWMB California Integrated Waste Management Board

DBO Demanda bioquímica de oxigênio

DQO Demanda química de oxigênio

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo

ISWA Internacional Solid Waste Association

pH Potencial hidrogeniônico

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

PROSAB Programa de Pesquisa em Saneamento Básico

RSU Resíduos sólidos urbanos


LISTA DE SÍMBOLOS

A Área total do aterro


ACOB Volume de água absorvida ou retida pela camada de
cobertura
ARS Água intrínseca da disposição do mês
A Área da bacia receptora da chuva
α Coeficiente de sazonalidade
C Coeficiente de escoamento superficial
C` Coeficiente de escoamento superficial corrigido
CH3COOH Ácido acético
CH4 Metano
CO2 Dióxido de carbono
CTR Central de Tratamento de Resíduos
ES Escoamento superficial
ETC Estação de tratamento de chorume
EV Evapotranspiração
H2 Hidrogênio
H2O Água
H2S Sulfeto de hidrogênio
I Intensidade média da chuva
MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
N2 Azoto
NH4 Nitrogênio Amoniacal
O2 Oxigênio
ONU Organizações das Nações Unidas
P Precipitação mensal
𝑃𝐴 Peso da água
𝑃𝑆 Peso seco
𝑃𝑇 Peso da amostra
PEAD Polietileno de alta densidade
PER Quantidade de percolado gerado
Q Vazão de percolado gerado
Qv Vazão superficial máxima
RCC Resíduos da construção civil
RSS Resíduos de serviços de saúde
T Número de segundos em cada mês
w Teor de água
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
OBJETIVOS ................................................................................................................ 5
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 6
1.1 GERAÇÃO DE LIXIVIADO ............................................................................ 6
1.1.1 Processo de decomposição dos resíduos ................................................. 6
1.1.2 Principais fatores de influência na geração do lixiviado ........................ 11
1.2 MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE GERAÇÃO DE LIXIVIADO .................... 25
1.2.1 Balanço Hídrico ............................................................................................ 25
1.2.2 Método Suíço ............................................................................................... 32
1.2.3 Método Racional .......................................................................................... 33
1.2.4 Comparativo entre os métodos .................................................................... 34
2 APLICAÇÃO A UM ATERRO REAL ........................................................... 36
2.1 ATERRO SANITÁRIO DE NOVA IGUAÇU ................................................. 36
2.1.1 Breviário ....................................................................................................... 36
2.1.2 Clima ............................................................................................................ 40
2.1.3 Propriedades relacionadas aos resíduos ..................................................... 42
2.1.4 Sistema de drenagem de efluentes .............................................................. 45
2.1.5 Sistema de drenagem pluvial ....................................................................... 47
2.2 VALE 1 ......................................................................................................... 49
2.2.1 Balanço Hídrico ............................................................................................ 51
2.2.2 Método Suíço ............................................................................................... 52
2.2.3 Análise dos resultados ................................................................................. 52
2.3 VALE 3 ......................................................................................................... 52
2.3.1 Balanço Hídrico ............................................................................................ 57
2.3.2 Método Suíço ............................................................................................... 60
2.3.3 Análise dos resultados ................................................................................. 61
2.4 VALE 4 ......................................................................................................... 62
2.4.1 Balanço Hídrico ............................................................................................ 65
2.4.2 Método Suíço ............................................................................................... 66
2.4.3 Análise dos resultados ................................................................................. 67
2.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................ 68
CONSIDERAÇÕES FINAIS E TRABALHOS FUTUROS ......................................... 73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 74
INTRODUÇÃO

O descarte de maneira indevida e a falta de um gerenciamento eficiente dos


resíduos sólidos são responsáveis por inúmeros problemas ambientais. Entre os
principais estão: contaminação de solos e de águas superficiais e subterrâneas,
proliferação de vetores de doenças, assoreamento de mananciais, deslizamentos de
encostas, enchentes e degradação de espaços geográficos. Assim, dispor e gerir
adequadamente os resíduos sólidos tornou-se um desafio mundial, especialmente
para o Brasil, onde há carência de investimentos e uma gerência ineficaz nesse setor.
Entre os diversos tipos de resíduos sólidos destacam-se os urbanos, os
industriais, os da construção civil, os de serviços de saúde, os portuários e
aeroportuários, os rejeitos e estéreis de mineração, e os lodos de estações de
tratamento de esgoto e água. De um modo geral, os resíduos sólidos urbanos (RSU)
representam a parcela mais significativa do material descartado e são aqueles
gerados nas residências, nos estabelecimentos comerciais, nos logradouros públicos
e nas diversas atividades desenvolvidas nas cidades.
Segundo estimativas da Organics News Brasil, baseadas em estudos da
Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(ABRELPE), são necessários investimentos de R$7,5 bilhões para encerrar a
operação de lixões e aterros controlados no Brasil. Conforme o relatório Panorama
dos Resíduos Sólidos no Brasil 2016, publicado pela ABRELPE, o valor representa
pouco mais da metade dos R$13,5 bilhões que o país deve gastar até 2022 com a
manutenção dos lixões existentes, tratamentos de saúde e recuperações ambientais.
Para se ter uma ideia mais clara do cenário nacional, os números referentes à
geração de RSU em 2017 revelaram um total anual de aproximadamente 78,4
milhões de toneladas. Além disso, o montante coletado foi de 71,6 milhões de
toneladas, o que registrou um índice de cobertura de coleta de 91,2% para o país, e
que evidencia que 6,9 milhões de toneladas de RSU não foram objeto de coleta e,
consequentemente, tiveram destino impróprio.
O índice de disposição final dos RSU coletados demonstrou que apenas
59,1%, ou seja, 42,3 milhões de toneladas foram enviadas para aterros sanitários. Os
40,9% que constituem mais de 29 milhões de toneladas de RSU tiveram disposição
1
em locais inapropriados, lixões ou aterros controlados, que não possuem o conjunto
de sistemas e medidas necessários para proteção do meio ambiente contra danos e
degradações.
Em termos mundiais, um relatório do Banco Mundial (What a Waste: A Global
Review of Solid Waste Management) revelou que no ano de 2017 foram gerados ao
todo 1,3 bilhões de toneladas de RSU. E o mais preocupante é que, segundo esse
estudo, o volume deve aumentar para 2,2 bilhões de toneladas em 2025.
Diante desses fatos, medidas vêm sendo tomadas nos últimos anos para
combater o problema da disposição inadequada e da geração desenfreada. No
cenário nacional, a criação da Lei Nº 12.305/2010 instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos,
bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de
resíduos sólidos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos
instrumentos econômicos aplicáveis.
Em suma, essa lei tornou obrigatória a disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos em até quatro anos. Ainda determinou que os materiais
passíveis de reaproveitamento ou reciclagem não podem mais ser encaminhados
para a disposição final. Dessa forma, para dispor somente rejeitos em aterros
sanitários, o município deve possuir um bom sistema de gerenciamento de resíduos
sólidos, incluindo coleta seletiva e tratamento de resíduos orgânicos afim de minimizar
a disposição final.
Assim, oito anos depois da PNRS, os sinais de avanços foram claros,
entretanto, as metas estipuladas não foram cumpridas. Na parte do combate à
disposição irregular, houve significativa evolução. No entanto, o fim dos lixões,
previsto para 2014, não ocorreu e foi prorrogado para 2021. Quanto ao
reaproveitamento e reciclagem de resíduos, o desenvolvimento foi pouco expressivo e
o Brasil ainda se encontra longe de índices de países desenvolvidos.
Segundo dados do relatório Highest recycling rates in Austria and Germany –
but UK and Ireland show fastest increase, publicado em 2013, pela Agência Europeia
do Ambiente (AEA), cerca de 35% de todo o lixo gerado nas cidades desse continente
foi reciclado e ainda gerou receita. A engenheira portuguesa Rosa Novaes, formada
em gestão de resíduos, afirmou no 4º Seminário Internacional de Engenharia em
2
Saúde Pública no ano de 2013 que a boa gestão de resíduos sólidos da União
Europeia rende 1% do PIB do bloco. Ela enfatiza ainda que quando as metas
pretendidas pela comunidade europeia forem atingidas, o número de empregos
gerados deve chegar a 2,4 milhões de pessoas com rendimento de 200 bilhões de
euros por ano. Em países como Áustria, Alemanha, Bélgica, Holanda e Suíça, as
taxas de reciclagem são superiores a 60%, segundo a AEA. Exemplos que deveriam
inspirar o Brasil que recicla uma taxa muito aquém do seu real potencial.
Com efeito, a Internacional Solid Waste Association (ISWA) iniciou uma
campanha para fechar os 50 maiores lixões a céu aberto do mundo até 2030. A
iniciativa tem como base o “Roadmap for Closing Waste Dumpsites” (Roteiro para
Encerrar os Aterros de Lixo), um manual produzido pela ISWA em 2016 para orientar
os governos a colocarem em prática medidas que encerram os lixões, conforme suas
necessidades políticas, econômicas, sociais, tecnológicas e ambientais.
Dessa forma, é notória a crescente preocupação da sociedade com a
destinação dos resíduos sólidos. E, também, que as baixas taxas de
reaproveitamento e reciclagem acabam por aumentar o volume de material que é
disposto em aterros sanitários. Além disso, os índices de produção de resíduos
sólidos, que são elevados e ainda crescentes, atrelados à política nacional de
utilização de aterros sanitários, mais do que justificam a importância de desenvolver
estudos vinculados a área.
Os aterros sanitários são obras excepcionais da construção civil, pois eles
quebram o paradigma convencional de construção e operação. Um aterro mantém um
processo de construção, ao longo da sua vida útil que varia no mínimo entre 10 e 25
anos. Além disso, essa separação em etapas se torna inevitável devido ao alto custo
de implantação que acaba por dividir o projeto final em subprojetos e também por
causa de estruturas provisórias necessárias para prover a estabilidade do maciço e a
drenagem das águas superficiais. Adicionalmente, nesse tipo de construção essas
etapas se associam devido a fatores extraordinários que acabam por promover
alterações constantes na concepção do projeto.
Alguns dos desafios no projeto de aterros sanitários são a análise de
estabilidade e a previsão de compressibilidade, a determinação da permeabilidade in

3
situ, o comportamento de sistemas compostos de impermeabilização, a migração de
contaminantes, entre outros.
Um aterro sanitário deve ser projetado e operado de forma a controlar a
emissão de contaminantes para o meio ambiente, com a finalidade de reduzir a
possibilidade de poluição das águas superficiais e subterrâneas do solo e do ar, e
eliminar impactos adversos na cadeia alimentar.
Os poluentes podem ser provenientes dos resíduos ou de produtos
secundários da decomposição. O lixiviado, efluente resultante das águas que infiltram
nas células e da decomposição dos resíduos, também conhecido como percolado ou
chorume, pode atingir as águas superficiais ou subterrâneas formando plumas de
contaminação.
Ademais, o lixiviado, juntamente com o biogás, também produto da
biodegradação dos resíduos, são responsáveis por reduzir a estabilidade nos taludes
dos aterros. Como eles geram pressões neutras que aumentam a pressão interna
criam um ‘‘efeito airbag’’ que expande o volume de vazios e, consequentemente,
pioram a estabilidade e facilitam a formação de linhas de ruptura nas células do
aterro.
A estimativa do volume de lixiviado permite dimensionar adequadamente
sistemas de drenagem, acumulação e tratamento de efluente em um aterro. E,
também, caso ocorra algum tipo de infiltração no solo, essa estimativa pode auxiliar
na avaliação da contaminação e na remediação das áreas impactadas.
Além disso, KAMIJI e OLIVEIRA (2019) analisaram as rupturas em aterros
sanitários brasileiros dos últimos 25 anos e verificaram que as principais causas estão
associadas ao projeto e à aspectos operacionais, em especial à inobservância de
diretrizes de projeto e, principalmente, à ineficiência do sistema de drenagem.
Diante desses argumentos, fica evidente a importância de se desenvolver
estudos para aumentar a precisão da estimativa de geração de lixiviado. Entretanto,
ainda há carência de métodos capazes de estimar com eficiência esses valores.
Portanto, calcular a geração de lixiviado ainda é um processo desafiador,
principalmente, por se tratar de um material de composição irregular e de existir uma
gama elevada de fatores que interferem na sua produção.

4
OBJETIVOS

Objetivo geral

Em face da importância de se saber estimar o volume de lixiviado, o objetivo


principal deste trabalho é comparar os resultados dos métodos usuais e explicar as
considerações realizadas em cada modelo, assim como as possíveis restrições à
suas aplicações. Além disso, será aplicado a um aterro real, analisando os valores de
geração de lixiviados previstos pelos modelos matemáticos e comparando com os
valores obtidos em campo.

Objetivos específicos

Os objetivos específicos visam explicar, sem quantificar, como os seguintes


aspectos influenciam na geração de lixiviado:

i) Climáticos e hidrológicos – fatores naturais ou não que exercem


influência no clima e no ciclo da água da região do aterro.

ii) Relativos às condições dos resíduos – fatores inerentes aos resíduos


dispostos nas células do aterro e sua tipologia.

iii) Característicos da operação – fatores determinados pela metodologia


(material utilizado, logística empregada, procedimento técnico) de
execução do aterro.

5
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 GERAÇÃO DE LIXIVIADO

Nos aterros sanitários ocorrem diferentes processos biológicos, físicos e


químicos que afetam constantemente a composição do lixiviado, exercendo, assim,
influência sobre as suas características. Esses processos são influenciados por uma
série de fatores (QASIM; CHIANG, 1994, classificados em três grupos principais:
 Climáticos e hidrológicos – pluviometria, escoamento superficial,
evapotranspiração e temperatura;
 Relativos às condições dos resíduos – umidade natural dos resíduos,
volume da disposição e composição gravimétrica;
 Característicos da operação – compactação dos resíduos, material de
cobertura, estágio de degradabilidade, profundidade do aterro e teor de umidade do
aterro.
É difícil definir um lixiviado típico, pois sua composição varia muito de acordo
com esses fatores. Além disso, o lixiviado frequentemente contém altas
concentrações de uma variedade de substâncias que podem causar interferências
nas análises, comprometendo a comparação dos resultados (HO, BOYLE; HAM,
1974).

1.1.1 Processo de decomposição dos resíduos

O processo de decomposição dos resíduos possui como subproduto o biogás e


o lixiviado. Conforme apresentado por CANDIANI e MOREIRA (2015), o biogás é
formado de metano e gás carbônico em proporções em torno de 50% para cada um e
outros gases com teores muito baixos. Segundo o livro ‘‘Estudos de Caracterização e

6
Tratabilidade de Lixiviados de Aterros Sanitários para as Condições Brasileiras”,
executado pelo Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (PROSAB), esse
liquido possui elevados e variantes valores de DBO (demanda bioquímica de
oxigênio) e DQO (demanda química de oxigênio). Além de metais pesados, nitritos,
nitratos, nitrogênio amoniacal, cloretos, diversos sais e componentes perigosos
oriundos dos inúmeros materiais dispostos pela população de forma aleatória e pouco
controlada.
Durante o processo de degradação da matéria orgânica contida nos resíduos
sólidos ocorrem transformações resultantes da combinação de processos bioquímicos
e físicos. A decomposição da matéria orgânica contida nos resíduos ocorre através de
dois processos: com presença de oxigênio (decomposição aeróbia) e com a ausência
de oxigênio (decomposição anaeróbia).
O processo inicia-se na etapa aeróbica quando a massa de lixo está exposta,
em contato com o ar, com o oxigênio presente nos poros da massa de resíduos
difundindo-se pelas camadas superiores, possibilitando a atividade de
microrganismos aeróbios. Mesmo com a brevidade desse período, que dura poucas
semanas (2 a 8 semanas), dependendo da forma de operação do aterro, a disposição
de resíduos contínua sobre as camadas já aterradas, praticamente interrompe a
acumulação de ar atmosférico nos interstícios. Em casos de falta de recobrimento ou
compactação ineficiente, tende a tornar essa etapa mais longa. Dessa forma,
conjuntamente consumido pelos microrganismos aeróbios e exaurido pelas
sucessivas operações de recobrimento do aterro, que impossibilitam a sua difusão
pelas várias camadas, o oxigênio esgota-se propiciando condições para a
fermentação anaeróbia.
A etapa de decomposição anaeróbica ocorre de forma lenta e gradual
produzindo elementos como ácidos orgânicos, gases, principalmente, o sulfídrico e a
amônia. E na decomposição aeróbica, a matéria orgânica inicia um processo
acelerado de oxidação progressiva e dessa degradação são liberados gases, dióxido
de carbono (CO2) e metano (CH4), e produzidos fósforo, potássio, sais minerais de
nitrogênio, dentre outros e, principalmente, lixiviado.

7
1.1.1.1 Fase aeróbica

A fase I do processo de degradação microbiana denomina-se fase aeróbia.


Nessa breve etapa, na presença de oxigênio molecular ou, até mesmo, incorporado a
elementos minerais, como nitratos e sulfatos, os microrganismos, compostos por
bactérias, fungos e leveduras, desenvolvem-se rapidamente.
Imediatamente após a cobertura dos resíduos, ainda se nota a presença de
oxigênio (ar) aprisionado no interior da célula confinada. Devido às condições
adequadas para o crescimento de microrganismos aeróbios, ou seja, aqueles que se
utilizam de oxigênio para a decomposição da matéria orgânica, se dá início a primeira
fase de decomposição da matéria orgânica. A decomposição aeróbia dura
aproximadamente entre 2 a 8 semanas, consumindo rapidamente o escasso oxigênio
presente. Os lixiviados gerados nessa fase apresentam elevadas concentrações de
sais de alta solubilidade. Durante essa fase, ocorre uma grande formação de gás
carbônico (CO2) e hidrogênio (H2), principalmente se a umidade no interior da massa
de resíduos for baixa (FERREIRA, 2006).

1.1.1.2 Fase anaeróbica

Identificada por uma sucessão de reações complexas e interdependentes, a


etapa anaeróbia é a mais demorada do processo de degradação dos RSU,
abrangendo as fases de hidrólise, acidogênica, acetogênica e metanogênica (Figura
1). Nessa etapa, o desenvolvimento dos microrganismos acontece sem a presença do
oxigênio, iniciando-se imediatamente após o exaurimento do oxigênio residual
presente na camada interior do aterro.
Na fase aeróbica o oxigênio (O2) é consumido gerando gás carbônico (CO2),
água e calor. Então, inicia-se a hidrolização dos resíduos depositados, nela o material
é transformado em um substrato que passa a ser consumido pelos microrganismos.
Eles podem ser anaeróbios, facultativos ou, até mesmo, aeróbios, por isso muitos
autores divergem sobre a ordem e a divisão das etapas no processo degradação dos
RSU. Assim, uma outra subdivisão em fases adotada é a de transição, ácida,
fermentação metânica e de maturação (Figura 2).
8
Dessa forma, a transição corresponde a passagem entre a fase aeróbica e a
ácida, onde ocorre a hidrólise do material. Em seguida, a ácida equivale as fases
acidogênica e acetogênica, a fermentação metânica equipara-se as metanogênicas
(instável e estável) e, por último, tem-se a maturação. Essa última fase, acontece em
média após 30 a 40 anos, quando as taxas de geração de metano tornam-se
desprezíveis (TCHOBANOGLOUS, THEISEN, e VIGIL 1993).

Figura 1 - Fluxograma do processo de decomposição anaeróbia dos RSU.


Fonte: PROSAB (CASTILHOS, 2003).

9
Figura 2 - Fases da biodegradação dos RSU em um aterro sanitário.
Fonte: CASSINI, COELHO e PECORA (2014).

Em termos práticos, contudo, esses estágios não são tão claramente definidos.
Devido ao aterramento constante de resíduos sólidos novos, existe uma grande
variabilidade na idade do material disposto, e, dessa forma, é possível encontrar
todos os estágios ocorrendo ao mesmo tempo em um único aterro.
Após a fase de transição prossegue-se para a fase ácida, nela as reações
iniciadas na fase de transição são aceleradas com a produção de quantidades
significativas de ácidos orgânicos e pequenas quantidades de gás hidrogênio.
Primeiramente, na acidogênese acontece conversão microbiológica dos compostos
resultantes da primeira etapa em compostos intermediários com baixa massa
molecular, como o ácido acético (CH3COOH) e pequenas concentrações de outros
ácidos mais complexos (MARQUES, 2012). Depois, na acetogênese ocorre a
transformação dos ácidos orgânicos da acidogênese em compostos apropriados para
os microrganismos metanogênicos (CANDIANI e MOREIRA, 2015).
Por fim, na fermentação metânica fase de fermentação do metano predominam
microrganismos estritamente anaeróbios, denominados metanogênicos, que
convertem ácido acético e gás hidrogênio em metano e gás carbônico. A formação do
metano e dos ácidos prossegue simultaneamente, embora a taxa de formação dos
ácidos seja reduzida consideravelmente. No início da metanogênese existe a
10
produção 0 a 45% de metano, porém essa geração é extremamente instável.
Posteriormente, ocorre a metanogênese estável, produzindo metano na proporção de
50 a 70% e de gás carbônico na proporção de 30 a 50%.

1.1.2 Principais fatores de influência na geração do lixiviado

O lixiviado é produto de uma série de reações químicas, envolvendo os


resíduos dispostos no aterro, o ar atmosférico e a água. Entretanto, conforme
anteriormente mencionado, a complexidade da quantificação desse processo decorre
da influência de aspectos climáticos e hidrológicos, relativos às condições dos
resíduos e característicos da operação. Entre os principais fatores de influência na
geração do lixiviado estão: a disponibilidade hídrica, a composição gravimétrica, a
temperatura interna, o estágio de degradabilidade, a profundidade do aterro, o volume
de disposição e a compactação dos resíduos.

1.1.2.1 Disponibilidade hídrica

A disponibilidade hídrica é definida como o resultado da soma dos volumes de


água que contribuem para o acumulo de liquido dentro das células de disposição
menos os volumes que são desviados, ou seja, sofrem escoamento,
evapotranspiração ou acabam retidos. Entre as principais parcelas que contribuem
para o acúmulo de líquido, destacam-se:
 Precipitação – é fator mais significativo para a geração do lixiviado,
tendo influência direta na quantidade e na qualidade do lixiviado gerado, além de
proporcionar a entrada de oxigênio dissolvido na água, favorecendo a degradação do
material orgânico. Os efeitos da precipitação em aterros sanitários podem, em parte,
ser compreendidos através de longos períodos de monitoramento. De fato, ao realizar
a sobreposição dos gráficos de pluviometria e de geração de lixiviado de um aterro é
possível determinar um tempo padrão de percurso da água desde a infiltração nas
células até o momento em que o liquido é drenado. Em outras palavras, sem essa
defasagem entre os gráficos os pontos de máximos e mínimos de ambos os gráficos

11
tenderiam a se coincidir no tempo. Essa defasagem varia em função do sistema
drenante empregado, do material de cobertura e da profundidade do aterro.

 Umidade natural dos resíduos – os materiais dispostos nas células dos


aterros, ainda que aparentemente apenas sólidos, possuem água intrínseca em sua
composição. Esse volume aquoso caracteriza a umidade natural dos resíduos.
Entretanto, estimar esse valor é extremamente difícil devido à heterogeneidade da
composição dos resíduos. Existe uma grande variação nos valores de umidade entre
os diferentes componentes do RSU, sendo a matéria orgânica responsável pelos
maiores valores encontrados. Segundo KNOCHENMUS (1998), o teor de umidade do
RSU é basicamente o resultado de altas porcentagens de lixo orgânico (resíduos
alimentares e poda) e o seu valor tende a aumentar com o incremento do conteúdo
orgânico do material. A Tabela 1 expressa a umidade usual de alguns materiais em
porcentagem. Vale ressaltar que quando se trata de RSU, a umidade pode ser
expressa tanto em base seca, quando o denominador é a massa seca, quanto em
base úmida, quando o denominador é a massa úmida.

Tabela 1 - Umidade dos componentes do RSU.


Umidade (%)
Componentes Base Base
seca úmida
Metais 19,6 16,4
Papel 74,8 42,8
Vidro 5,9 5,57
Plástico 41,5 29,3
Borracha 24,5 19,6
Têxteis 55 35,5
Pedra 12,6 11,2
Madeira 69,8 41,1
Matéria
47 32
Orgânica
Fonte: CARVALHO (1999).

 Umidade natural do material de cobertura – é definida como a massa de


água contida na camada de cobertura dividida pela massa de solo seco,
multiplicando-se por 100, obtém-se o valor em porcentagem. Para determinação do

12
peso seco e da massa de água, o método tradicional é a secagem em estufa, na qual
a amostra é mantida com temperatura entre 105 °C e 110 °C, até que apresente peso
constante, o que significa que ela perdeu a sua água por evaporação. Assim, a massa
de água é determinada pela diferença entre o peso da amostra e o peso seco. Dessa
forma, temos:
𝑃𝑇 − 𝑃𝑆 𝑃𝐴
𝑤= . 100 = . 100
𝑃𝑆 𝑃𝑆

(Equação 1.0)
Onde:
w = Teor de água (%);
𝑃𝑇 = Peso da amostra (Kg);
𝑃𝑆 = Peso seco (Kg);
𝑃𝐴 = Peso da água (Kg).
A partir dessa taxa pode ser calculado o volume de água proveniente do
material de cobertura que pode vir a infiltrar nas células do aterro. Entretanto,
usualmente, não são computados esses valores por serem pouco expressivos se
comparados com alguns dos demais fatores. No que concerne as parcelas de
volumes desviados, isto é que não conseguem alcançar as células de disposição,
destacam-se:

 Escoamento superficial – a partir da precipitação, uma parcela desse


volume é retida em depressões do terreno e parte infiltra diretamente. Após o solo
alcançar sua capacidade de absorver a água, ou seja, quando os espaços nas
superfícies retentoras tiverem sido preenchidos, é formada uma película laminar
ocorrendo o escoamento superficial do volume restante. Assim, reduzindo a parcela
de água que infiltra nas células. Dentre os aspectos que influenciam o escoamento
superficial estão: os climáticos (ligados à intensidade e duração da chuva e à
precipitação antecedente) e os fisiográficos (ligados à área de contribuição, à
topografia da região, à forma da bacia, à permeabilidade e à capacidade de infiltração
do material de cobertura).

13
 Evapotranspiração – é soma da evaporação da água pela superfície de
solo mais a transpiração da vegetação, passando para a atmosfera no estado de
vapor. É praticamente impossível distinguir esses dois processos, pois são
simultâneos. A evapotranspiração é alterada por aspectos como: presença de
vegetação, nível de maturidade das plantas, tipo de folha, porcentagem de cobertura
vegetal do solo, tipologia do solo, radiação solar, umidade, temperatura e vento.

 Retenção de água na camada de cobertura – o solo com grande


capacidade de reter umidade propicia uma rápida saturação da zona permeável e, por
consequência, o escoamento na superfície ocorrerá com maior intensidade, e a
infiltração será minimizada, uma vez atingida a capacidade de campo.

Por fim, a disponibilidade hídrica representa o teor de umidade geral do aterro


sendo calculada como a soma de todas as parcelas acima, considerando as que
contribuem para geração de lixiviado, como positivas, e as que não contribuem, como
negativas. De acordo com REINHART e AL-YOUSFI (1996), entre todos os fatores
que afetam a degradação em um aterro, o teor de umidade geral foi identificado como
o mais crítico.
Conforme relatado por CHRISTENSEN e KJELDSEN (1989), quando o
conteúdo de umidade dos resíduos é de cerca de 20%, a produção de gás do aterro
diminui radicalmente, assim como à geração de lixiviados. No entanto, o início de um
período de dormência e seca não significa que os resíduos no aterro não sejam mais
capazes de gerar gás e lixiviado.
Segundo SOUZA (2011), o fluxo de água através do corpo do aterro é
fundamental para que a decomposição dos resíduos aconteça, acelerando a
estabilização biológica, além de carrear, para fora de sua massa, os gases e os
compostos solúveis em água, que ainda possam estar presentes, mesmo após a sua
estabilização e inertização. Todo esse processo, quando controlado, pode acelerar a
degradação dos resíduos, conduzir à estabilização biológica da matéria orgânica,
propiciando ainda a liberação de enorme quantidade de gás hoje em dia
comercialmente explorável.

14
De fato, a presença de água é importante para o primeiro passo da degradação
anaeróbia, além de promover a diluição de agentes inibidores e facilitar a distribuição
de microrganismos e nutrientes na massa de RSU. De acordo com CHRISTENSEN e
KJELDSEN (1989), verificou-se um crescimento exponencial nas taxas de produção
de gás quando o teor de umidade foi elevado para 60%. Assim, pode-se observar que
a disponibilidade hídrica é capaz de interferir na geração do lixiviado, não somente de
maneira direta pelo volume de água disponibilizada, mas também acelerando o
processo de decomposição.

1.1.2.2 Composição gravimétrica

A composição física ou gravimétrica define o percentual dos diversos


componentes presentes no lixo. Ela é determinada por aspectos geográficos,
climáticos, culturais e, principalmente, sociais da população. Desse modo, é de se
esperar que regiões mais ricas apresentem um menor percentual de material
orgânico. Como consequência de uma menor manipulação de alimentos, ou seja,
maior utilização de alimentos semiprontos. As Tabela 2 e Tabela 3 mostram
estimativas da composição gravimétrica dos resíduos por cidade no mundo e no
Brasil, respectivamente.
Segundo WARITH e SHARMA (1998), a variação na composição gravimétrica
afeta a constituição química do material que, por sua vez, influencia a biodegradação
dos resíduos através de fatores como o teor de oxigênio, pH, presença de sulfatos,
nutrientes, toxinas, temperatura e teor de umidade.

Tabela 2 - Estimativa da composição gravimétrica dos RSU por cidade.

Cidade / País
Materiais Bangkok Pekin Nairobi Hong New York Istanbul Atenas Cochabamba
Tailândia China Kenia Kong USA Turquia Grecia Bolívia
Metal 1 1 3 3 5 2 4 1
Papel 25 5 12 3 22 10 19 2
Plástico - 1 5 - - 3 7 3
Borracha,
couro e 7 1 - 7 3 6 4 1
madeira

15
Têxteis 3 - - 10 - 3 - -
Matéria
44 45 74 15 20 61 59 71
orgânica
Vidro 1 1 4 10 6 1 2 1
Outros 19 46 2 22 46 14 5 21
Fonte: Adaptado de CARVALHO (1999).

Tabela 3 - Estimativa da composição gravimétrica dos RSU coletados no Brasil em 2008.


Resíduos Participação (%) Quantidade (t/dia)
Materiais recicláveis 31.9 58,536.40
Metais 2.9 5,293.50
Aço 2.3 4,213.70
Alumínio 0.6 1,079.90
Papel, papelão e tetrapak 13.1 23,997.40
Plástico total 13.5 24,847.90
Plástico filme 8.9 16,399.60
Plástico rígido 4.6 8,448.60
Vidro 2.4 4,388.60
Matéria orgânica 51.4 94,335.10
Outros 16.7 30,618.90
Total 100 183,481.50
Fonte: Relatório de Pesquisa do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada:
Diagnóstico dos Resíduos Sólidos Urbanos (2012).
Dessa forma, tais fatores abióticos são ditos intervenientes por influenciarem
diretamente as características e produção do lixiviado. A seguir, é feita uma breve
descrição sobre os mesmos:
 Oxigênio: conforme mencionado anteriormente, o oxigênio é
fundamental para que as bactérias aeróbicas possam se desenvolver e, assim,
promover a degradação dos RSU. Logo, uma maior concentração de oxigênio
possibilita uma melhor degradação inicial, na etapa aeróbica.
Entretanto, BARLAZ e HAM (1993) apontam que é raro o aparecimento de
lixiviado oriundo diretamente da fase aeróbia, porque o resíduo normalmente ainda
não atingiu a capacidade de campo. Porém, isto pode acontecer caso haja caminhos
preferenciais ou vazios por onde a água de chuva pode passar rapidamente.
Este lixiviado é normalmente composto por material particulado arrastado pelo
escoamento líquido, sais solúveis e pequenas quantidades de matéria orgânica
solúvel (MCBEAN, ROVERS e FARQUHAR, 1995). Todavia, a compactação dos
resíduos pode expulsar matéria orgânica liquefeita, mesmo que ainda não digerida.

16
Portanto, a elevação do nível de oxigênio intensifica a geração de lixiviado, pois
aumenta a capacidade de degradação na fase aeróbica. Porém, essa maior
concentração de oxigênio torna a etapa inicial mais longa, impedindo o começo do
processo da metanogênese, que somente se inicia após o nível de oxigênio baixar
dentro do aterro.

 pH: o potencial hidrogeniônico é uma escala logarítmica que mede o


grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade do meio. Sua relevância no processo de
decomposição se dá uma vez que as arqueas metanogênicas somente sobrevivem
em meios neutros, mais especificamente em uma estreita faixa de pH, entre 6,6 e 7,3.
Encontradas em ambientes com ausência de oxigênio e abundância de matéria
orgânica, as arqueas metanogênicas são seres anaeróbios obrigatórios que liberam
metano como resíduo metabólico. Por isso, elas são fundamentais na etapa
metanogênica no processo de degradação dos resíduos.
Quando uma população de arqueas metanogênicas apresenta-se em
quantidade suficiente e as condições ambientais no interior do sistema de tratamento
ou disposição final são favoráveis, elas utilizam os ácidos intermediários tão
rapidamente quanto eles são formados (CHERNICHARO, 1997).

 Compostos a base de enxofre: sulfatos, sulfitos e entre outros são


utilizados como aceptores de elétrons durante a oxidação de compostos orgânicos,
reduzidos a sulfeto por meio da ação de bactérias sulforredutoras (CHERNICHARO,
1997).
Na presença de elevadas concentrações de sulfato, as bactérias
sulforredutoras passam a competir pelos substratos disponíveis com as bactérias
fermentativas, acetogênicas e arqueas metanogênicas; assim, a produção de metano
decresce de forma acentuada (WARITH e SHARMA, 1998).
A redução dos sulfatos também ocasiona a precipitação de metais pesados sob
a forma de sulfetos, havendo a possibilidade de esses elementos ficarem retidos na
massa de RSU ou serem eliminados dos lixiviados por filtração.

17
 Nutrientes: os microrganismos que atuam na degradação anaeróbia dos
RSU requerem a presença de nutrientes como enxofre, cálcio, magnésio, zinco,
cobre, cobalto, molibdênio, selênio e, principalmente, nitrogênio e fósforo. As
necessidades nutricionais das populações microbianas são específicas e usualmente
estabelecidas de forma empírica a partir da composição química das células
microbianas (CHERNICHARO, 1997). Esses nutrientes são encontrados na maioria
dos aterros. Contudo, nos casos em que há limitação de nutrientes para a degradação
anaeróbia, o fósforo é o elemento limitante mais comum (WARITH e SHARMA, 1998).

 Agentes inibidores: além dos efeitos inibidores relacionados ao oxigênio,


hidrogênio e sulfato, acredita-se que a presença de sais, sulfetos, metais pesados e
outros compostos específicos possa ocasionar a inibição da metanogênese. Cátions,
incluindo o sódio, potássio, cálcio, magnésio e amônia, estimulam a degradação
anaeróbia quando se encontram em baixas concentrações, além de serem inibidores
em elevadas concentrações (WARITH e SHARMA, 1998).

1.1.2.3 Temperatura interna

As variações sazonais de temperatura, teor de umidade disponível,


profundidade e idade dos resíduos podem afetar a temperatura na massa de RSU.
Assim, em pequenas profundidades e próximo à camada de cobertura final, a
temperatura dos RSU varia com maior intensidade. Temperaturas continuamente
mais elevadas são observadas em profundidades maiores e em locais onde há
umidade disponível. Estudos demonstraram que, em aterros profundos que possuem
fluxo de água moderado, temperaturas de 30 a 40ºC são esperadas, mesmo em
climas temperados (WARITH e SHARMA, 1998).
A atividade enzimática das bactérias depende estreitamente da temperatura.
Alterações bruscas na temperatura causam desequilíbrio nas culturas envolvidas,
principalmente nas bactérias formadoras do metano. Em torno de 10ºC, essa
atividade encontra-se bem reduzida. Por outro lado, acima de 65ºC, essas enzimas
são destruídas pelo calor (CASTILHOS, 2003). Dessa forma, a elevação do calor (até

18
a temperatura limite de 65ºC) dentro das células do aterro acelera o processo de
decomposição dos RSU e, consequentemente, aumenta a produção de lixiviado.

1.1.2.4 Estágio de degradabilidade

A qualidade do lixiviado depende da idade do aterro, sendo o seu potencial


poluidor inversamente proporcional ao tempo de aterramento. A qualidade das
substâncias químicas presentes nos RSU é finita, e a qualidade do lixiviado alcança
uma maior diversidade de componentes depois de dois a três anos, seguindo-se um
gradual declínio (FERREIRA, 2006).
Os valores das concentrações de DBO e DQO tendem a diminuir com o
passar dos anos. O decréscimo na concentração da DBO pode ser atribuído à
combinação da diminuição dos contaminantes orgânicos passíveis de lixiviação e à
queda na biodegradação dos compostos orgânicos. Normalmente, lixiviados de
aterros novos possuem valores altos de DBO e DQO, que diminuem
progressivamente por anos até se estabilizarem, conforme a Figura 3.

Figura 3 - Variações químicas do biogás e do lixiviado ao longo do tempo.


(I) Aeróbica, (II) Transição, (III) Ácida, (IV) Fermentação Metânica e (V) Maturação.
19
Fonte: SANTOS (2011).

O lixiviado pode ser definido em 3 classificações de acordo com a idade do


aterro. A Tabela 4 apresenta essas tipologias assim como as características de seus
principais parâmetros. Quanto mais antigo for o aterro, menor será a concentração de
composto orgânicos e maior a concentração de nitrogênio amoniacal. Lixiviado de
aterro considerado antigo possui, geralmente, alta contaminação por amônia que é
proveniente da hidrólise e fermentação do nitrogênio contido na fração biodegradável
do substrato dos resíduos (CHEUNG, CHU e WONG, 1997).
Com relação a influência do estágio de degradabilidade no volume de
produção de lixiviado é necessário entender que, devido à variabiliade de composição
dos RSU, é difícil precisar o tempo de degradação que maximize a geração de
lixiviado.
As substâncias contaminantes atingem seus picos de concentração em
diferentes tempos no aterro sanitário. Em sua maioria, os compostos orgânicos
degradam mais rapidamente que os inorgânicos ou os orgânicos recalcitrantes (DE
WALLE e CHIAN, 1977).
Tabela 4 - Classificação do lixiviado segundo a idade do aterro.

Fonte: Adaptado de VASQUEZ, JEFFERSON e JUDD (2004).

Segundo CHRISTENSEN & KJELDSEN (1989), pode-se classificar a maior


parte dos compostos encontrados nos lixiviados de RSU (mais de 97%) de acordo
com uma das quatro categorias: matéria orgânica, compostos orgânicos específicos,
macrocomponentes inorgânicos e metais pesados. Essa classificação baseia-se no
estado de estabilização dos lixiviados.
Como foi mostrado anteriormente, de uma maneira geral, a maior parte da
composição gravimétrica dos RSU é de origem orgânica. Além disso, conforme
20
FARQUHAR e ROVERS (1973), há modelos que consideram até 3 categorias
diferentes nas quais a biodegradação rápida ocorre em 1 a 3 anos e a lenta, em
dezenas de anos.
Logo, como os compostos orgânicos possuem biodegradação rápida, a
geração de lixiviado é modificada com o passar do tempo, conforme o gráfico da
Figura 4, sendo o ponto de máximo usual entre 1 a 3 anos.

Figura 4 - Gráfico da curva típica da geração de biogás/lixiviado ao longo do tempo.


Fonte: Adaptado de CIWMB (2004).
1.1.2.5 Profundidade do aterro

A espessura da massa de resíduos aterrados possui significativa importância


na diversidade de substâncias encontradas no lixiviado captado em profundidades
distintas do aterro. Já que o lixiviado tende a se deslocar para os pontos mais baixos
do aterro pela ação da gravidade e, consequentemente, em células mais profundas, o
trajeto do líquido é mais extenso. Assim, o lixiviado entra em contato com um maior
número de materiais. Portanto, nas camadas mais profundas do aterro, a variabilidade
de composição do lixiviado tende a aumentar.
Segundo ELK (2007), aterros sanitários com elevada altura de células e com
um sistema eficiente de impermeabilização da camada de cobertura propiciarão o
predomínio da atividade anaeróbia, responsável pela formação do metano.
A espessura do aterro também interfere na temperatura da massa de resíduos
devido ao isolamento térmico. Dessa forma, quanto maior a profundidade da célula,
menos propenso a variações de temperatura estarão os resíduos. De acordo com

21
MCBEAN, ROVERS e FARQUHAR (1995), quanto mais estável for a temperatura,
melhor será para o desenvolvimento dos microrganismos. Logo, mais eficiente será o
processo de degradação.
Além disso, o aumento da profundidade do aterro favorece o aumento da
umidade geral do aterro (disponibilidade hídrica), logo, como explicado anteriormente,
corroborando para uma maior geração de lixiviado.
Porém, aterros muito profundos tendem a apresentar bolsões de gases e de
lixiviado, resultantes do acúmulo de materiais incólumes, de uma forte compactação
nas células de disposição e de um sistema de drenagem ineficiente. Esses bolsões
constituem um grave problema nos aterros, pois aumentam o liquido dentro das
células, favorecendo o surgimento de afloramentos nos taludes e de linhas de ruptura.

1.1.2.6 Volume de disposição

Como dito anteriormente, o lixiviado é produto do processo de degradação dos


resíduos, dessa forma, é intuitivo inferir que o aumento do volume de disposição
contribua para o aumento do volume de lixiviado. Além disso, a água intrínseca dos
resíduos também contribui para o incremento desse volume.

1.1.2.7 Compactação dos resíduos

A compactação dos resíduos ocorre durante a operação do aterro sendo


realizada, concomitantemente, com a disposição de novos resíduos, de acordo com a
metodologia de operação e os equipamentos disponíveis. Os principais maquinários
utilizados pelos operários são a retroescavadeira, a pá mecânica, o trator esteira e,
embora em menor escala, o rolo compactador pé de carneiro.
Os principais fatores de influência na compactação dos resíduos são: o grau de
decomposição dos mesmos, a dissipação das poropressões dos líquidos e dos gases
e a consolidação dos resíduos devido à sobreposição de novas camadas. Além disso,
segundo KAVAZANJIAN (1995), é importante destacar que o peso específico
geralmente aumenta com a profundidade em consequência da compressão e
recalques devido à sobrecarga das camadas superiores.
22
LANDVA e CLARK (1990) encontraram pesos específicos in situ entre 7 e
14kN/m³ em vários aterros de resíduos sólidos do Canadá, apresentando um elevado
conteúdo orgânico, superior a 50%. Já KNOCHENMUS, WOJNAROWICZ e VAN
IMPE (1997) obtiveram valores variando de 5 a 10KN/m³ para alguns aterros na
Bélgica. Enquanto que FASSETT, LEONARDO e REPETTO (1994) apresentaram
valores de peso específico variando desde 3 até 9KN/m³ por camada que tenha
recebido uma pequena compactação, 5 a 8KN/m³ para compactação moderada, e 9 a
10,5KN/m³ por camada com compactação boa.
Com relação à influência da compactação dos resíduos no processo de
degradação, GUEDES (2007) menciona que a mesma é um fator importante, na
medida em que quanto maior for a densidade alcançada, maior será a geração de
biogás por unidade de volume. Entretanto, BIDONE e POVINELLI (1999) afirmam que
é possível que exista um peso específico ótimo associado a um teor de umidade que
favoreça o processo de metanogênese.
Conforme mencionado anteriormente, a compactação dos resíduos pode
expulsar matéria orgânica liquefeita, mesmo que ainda não digerida. Porém, a
compactação contribui para o aumento da densidade da massa de resíduos,
reduzindo a presença de oxigênio dentro das células do aterro, provocando
encurtamento da fase aeróbia.
Além disso, o aumento da compactação dos resíduos reduz o índice de vazios,
fundamental para que o líquido possa escoar por dentro das células e fornecer
nutrientes e oxigênio para os microrganismos decompositores. Portanto, quanto mais
compactados os materiais dispostos, menos volume de lixiviado será produzido e
mais devagar será o processo de maturação do aterro.

23
1.1.2.8 Quadro demonstrativo

Na Tabela 5 é possível verificar como os principais fatores que influenciam na


geração de lixiviado impactam na variação do seu volume.

Tabela 5 - Relação dos fatores que influenciam na produção de lixiviado.

RELAÇÃO QUE PROVOCA


FATORES DE INFLUÊCIA NA GERAÇÃO DE
AUMENTO NA GERAÇÃO DE CONDIÇÕES ESPECIAIS
LIXIVIADO
LIXIVIADO

PRECIPITAÇÃO ↑AUMENTO -
ESCOAMENTO
↓REDUÇÃO -
SUPERFICIAL
EVAPOTRANSPIRAÇÃO ↓REDUÇÃO -
DISPONIBILIDADE
HÍDRICA UMIDADE NATURAL
↑AUMENTO -
DOS RESÍDUOS
RETENÇÃO DE ÁGUA NA
CAMADA DE ↓REDUÇÃO -
COBERTURA

24
UMIDADE NATURAL DO
MATERIAL DE ↑AUMENTO -
COBERTURA
TEOR DE UMIDADE DO
↑AUMENTO -
ATERRO
OXIGÊNIO ↑AUMENTO -
pH ideal para a
pH * decomposição ente
COMPOSIÇÃO 6,6 e 7,3.
GRAVIMÉTRICA COMPOSTOS A BASE DE
↓REDUÇÃO -
ENXOFRE
NUTRIENTES ↑AUMENTO -
AGENTES INIBIDORES ↓REDUÇÃO -

Aumento até 65ºC, quando


TEMPERATURA INTERNA DAS CÉLULAS *
as bactérias são destruídas.

Aumento de 1 a 3 anos,
ESTÁGIO DE DEGRADABILIDADE * depois disso, a curva de
geração se inverte.
PROFUNDIDADE DO ATERRO ↑AUMENTO -

VOLUME DE DISPOSIÇÃO (PARCELA SÓLIDA) ↑AUMENTO -

COMPACTAÇÃO DOS RESÍDUOS ↓REDUÇÃO -


Fonte: Autoria própria.

1.2 MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE GERAÇÃO DE LIXIVIADO

Atualmente, existem três modelos principais de estimativa: Balanço Hídrico,


Método Suíço e Método Racional. Cada um desses métodos desconsideram alguns
fatores relevantes afim de tentar simplificar os cálculos. Dessa forma, cada modelo se
aplica melhor ou apresenta resultados mais verossímeis em situações distintas. No
presente trabalho o método racional será apresentado nesta revisão, mas não será
utilizado na aplicação a um aterro real.

1.2.1 Balanço Hídrico

Proposto por Fenn, em 1975, o método do balanço hídrico foi uma adaptação
do “balanço hídrico” publicado pelo C. W. Thorntwaite em 1955, estudo conhecido sob
a denominação de “Teoria de Thornthwaite”, aplicado no campo da conservação do
solo e da água. Entretanto, é possível inferir que essa teoria se baseia nos mesmos
25
princípios da “Lei da conservação das massas” postulada por A. L. Lavoisier em 1785.
Onde, segundo ele, “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’’. Ou seja,
quando as substancias reagem, nenhuma matéria é perdida ou criada, apenas
transformada devido a reações físicas e químicas.
Para o entendimento do balanço hídrico aplicado em aterros sanitários é
necessário bom conhecimento dos seus conceitos básicos e da terminologia do
método.
O balanço hídrico é baseado na relação existente entre a precipitação, a
evapotranspiração, o escoamento superficial e o armazenamento da água no solo. A
precipitação representa a recarga de água do sistema, enquanto a evapotranspiração
representa a combinação entre a evaporação que ocorre na superfície do solo e a
transpiração das plantas. O escoamento superficial representa o fluxo superficial da
água diretamente na área de interesse. A capacidade de armazenamento representa
a quantidade de água que pode ficar retida no solo e nos resíduos sólidos nos casos
dos aterros sanitários (FENN, 1975).
Esse sistema pode ser empregado para aterros sanitários quando se dispõe
dos dados necessários e quando a dimensão e a complexidade do aterro justificarem
o esforço do cálculo. A Tabela 6 apresenta as condições básicas para a utilização do
método do balanço hídrico.

Tabela 6 - Condições básicas para a utilização do método do balanço hídrico.


Cobertura com solo de 60 cm de
1
espessura e inclinação entre 2 a 4%.
Área de cobertura reservada para
2
recobrimento com vegetação.
Infiltração no aterro proveniente
3
somente de precipitação incidente.
Características hidráulicas do lixo e
4
do material de cobertura uniformes.
Adição de umidade se dá somente
5
após o fechamento de trincheira.
Movimento de água somente no
6
sentido vertical.
Fonte: Adaptado de FENN (1975).

26
Segundo LINS (2003), esse método permite estimar o fluxo de lixiviado,
baseado em um fluxo unidimensional, na conservação de massa e nas características
de transmissão e retenção da cobertura do solo.
A parcela referente à água intrínseca ou umidade natural dos resíduos, deve
ser considerada de maneira direta no cálculo e estimada com base nos resultados de
ensaios e na experiência do operador, como uma porcentagem do volume de
disposição. Para tanto, é necessário considerar uma homogeneidade na composição
do volume da disposição e, dessa forma, definindo um material típico para todo o
aterro.
Por outro lado, a parcela sólida deve ser desprezada, ainda que represente
uma quantia significativa, já que a mesma é de difícil obtenção e depende do estágio
de degradabilidade dos resíduos.
Portanto, pode-se escrever o balanço hídrico, pela Equação 2.0 a seguir:

PER = (P + ARS ) − (ES + EV + ACOB )


(Equação 2.0)
Onde:
PER = Quantidade de percolado gerado (mm);
P = Precipitação mensal (mm);
ARS = Água intrínseca da disposição do mês (mm);
ES = Escoamento superficial (mm);
EV = Evapotranspiração (mm);
ACOB = Volume de água absorvida ou retida pela camada de cobertura (mm).

Por definição, a fórmula acima subdivide-se no somatório das parcelas


positivas, as quais se denominam “carga”, e no somatório das parcelas negativas, as
quais se denominam “descarga”. Dessa forma, a carga é responsável pela geração de
lixiviado, enquanto a descarga reduz seu volume.
Na parcela da carga, a precipitação pode ser obtida diretamente por meio de
boletins meteorológicos, sendo que fatores como intensidade e regime de chuvas não
são considerados devido à dificuldade de precisar suas influências. Por sua vez, a

27
água intrínseca da disposição pode ser estimada como uma porcentagem do volume
recebido, como mencionado anteriormente.
Na parcela da descarga, os índices de evapotranspiração podem ser
determinados através de boletins meteorológicos. A evaporação é medida com
tanques evaporimétricos, onde se obtém uma lâmina de água que evaporou de uma
determinada área, enquanto a transpiração é medida com tanques vegetados.
Combinando esses resultados, tem-se o valor da evapotranspiração. Por outro lado, o
escoamento superficial (runoff) é calculado pelos fluxogramas das Figura 5 e Figura 6,
dependendo da tipologia do material de cobertura. Esses fluxogramas foram
desenvolvidos com parâmetros obtidos empiricamente, por ROCCA, em 1993, e estão
explicitados na Tabela 7.

Tabela 7 - Valores do coeficiente de escoamento superficial (C´).

Fonte: ROCCA (1993).


Dessa forma, a parcela restante correspondente ao volume de água
absorvida ou retida pela camada de cobertura que pode ser determinada pelo
fluxograma da Figura 7, conforme a água disponível. Esse fluxograma foi
desenvolvido com parâmetros obtidos empiricamente, por ROCCA, em 1993, e estão
explicitados na Tabela 8.

28
Figura 5 - Fluxograma para cálculo do volume de água escoado.
Fonte: Adaptado de IOANA NICOLETA FIRTA e ARMANDO CASTILHOS.

29
Figura 6 - Fluxograma para cálculo do volume de água escoado para solos argilosos
(continuação).
Fonte: Adaptado de IOANA NICOLETA FIRTA e ARMANDO CASTILHOS.

Tabela 8 - Umidade do solo (mm H2O/m de solo).

Fonte: ROCCA (1993).

30
Figura 7 - Fluxograma para cálculo do volume de água absorvida ou retida pela camada de
cobertura.
Fonte: adaptado de IOANA NICOLETA FIRTA e ARMANDO CASTILHOS.

Uma vez determinadas as parcelas de carga e de descarga, pode-se calcular


seu somatório para determinar a quantidade de lixiviado gerado. A vazão de lixiviado
pode ser determinada pela Equação 2.1, uma vez determinadas a área considerada e
o período de estudo. Alguns autores divergem sobre qual área considerar para
estimar a vazão de lixiviado. Assim, neste trabalho foram considerados as duas
hipóteses em questão, ou seja, a área total do aterro e a área da bacia de
contribuição.

PER . A
Q=
T
Onde: (Equação 2.1)
Q = Vazão de percolado gerado (L/s);
PER = Quantidade de percolado gerado (mm);
A = Área total do aterro (m²) ou Área da bacia de contribuição (m²);
31
T = Número de segundos em cada mês.
1.2.2 Método Suíço

O método suíço de determinação da vazão de lixiviado gerado pelo aterro é um


modelo empírico, baseado nos estudos de Hans-Jürgen Ehrig sobre lixiviado,
precipitação e compactação do aterro, conforme descrito por Corrêa Sobrinho (2000).
Esse método estima a vazão de lixiviado produzido de maneira simplória.
Dessa forma, considera-se apenas a precipitação média, a área de contribuição, o
tempo de precipitação e um coeficiente empírico, arbitrado em função do peso
específico dos resíduos e, também, pelo conhecimento prático do projetista.
O volume de líquidos lixiviados pode ser avaliado, para os casos mais simples,
pela Equação 2.2, (ROCCA, 1981), a seguir:

P.A’.K
Q=
T
(Equação 2.2)
Onde:
Q = Vazão média do percolado (L/s);
P = Precipitação mensal (mm);
A’ = Área total do aterro (m²);
T = Número de segundos em cada mês;
k = Coeficiente empírico adimensional e dependente do grau de compactação dos
RSU, que pode ser obtido da

Tabela 9.

Tabela 9 - Valores de k para aplicação do método suíço.

PESO ESPECÍFICO
DOS RESÍDUOS
TIPO DE ATERRO
URBANOS
K
COMPACTADOS
Aterros
fracamente 0,4 a 0,7 ton/m³ 0,25 a 0,50
compactados

32
Aterros
fortemente Acima de 0,7 ton/m³ 0,15 a 0,25
compactados
Fonte: ROCCA (1981).

Assim, neste modelo desconsidera-se grande parte dos fatores que influenciam
na geração do lixiviado. Em comparação com o balanço hídrico, o escoamento
superficial, o volume da evapotranspiração, a umidade natural dos resíduos e a
retenção de água na camada de cobertura são desconsiderados.
Para a execução dos cálculos, a precipitação é obtida a partir de boletins
meteorológicos, a área do aterro é um dado conhecido dos seus operadores, o tempo
varia conforme o período de estudo e o coeficiente de permeabilidade vai depender
dos resultados dos pesos específicos, obtidos mês a mês.

1.2.3 Método Racional

Segundo MARTINS JR. (1977), este método é empregado para estimar a


vazão máxima de escoamento de determinada área sujeita a uma intensidade
máxima de precipitação, em um determinado tempo de concentração. De um modo
geral, este método é indicado para áreas menores que 500ha.
O cálculo da vazão superficial pelo método racional baseia-se em três
parâmetros: área da bacia de contribuição; intensidade e duração das chuvas; e,
coeficiente de escoamento, de acordo com a seguinte Equação 2.3:

Qv = 𝐶. 𝑖. A′
(Equação 2.3)
Onde:
Qv = Vazão superficial máxima (L/s ou m³/s);
C = coeficiente de escoamento superficial (runoff), que é a relação entre o pico de
vazão e a chuva média sobre a área receptora;
i = Intensidade média da chuva (l ou m³);
A’ = Área da bacia de contribuição (m²);

33
Com o objetivo de se obter a parcela da precipitação que se infiltra, deve-se
subtrair do volume total precipitado sobre a área do aterro, o volume escoado, que é
calculado pelo método racional dentro do mesmo intervalo de tempo. Desse
resultado, subtrai-se a parcela de água evapotranspirada. Tem-se, então, a seguinte
Equação (2.4):
A
Q = (P − ES − EV)
T
(Equação 2.4)
Onde:
Q = Vazão de percolado gerado (L/s);
P = Precipitação mensal (mm);
ES = P x C = Escoamento superficial (mm);
C = coeficiente de escoamento superficial (runoff) – adimensional, (considerado igual
a 0,3 no estudo de LINS (2003);
EV = Evapotranspiração (mm);
A = Área da bacia de contribuição (m²);
T = Número de segundos em cada mês;

Segundo descrito por LINS (2003), em termos práticos, a equação do método


racional pode ser aplicada para estimar a geração de lixiviados em aterros de RSU,
uma vez que envolve variáveis de rápido e fácil acesso. Mesmo desconsiderando-se
algumas variáveis como a umidade natural dos resíduos e do material de cobertura e
perdas de umidade com os gases e pelas reações químicas, a confiabilidade e a
precisão do método não são prejudicadas, visto que as parcelas desconsideradas não
são tão significativas quando comparadas com as variáveis utilizadas no método.

1.2.4 Comparativo entre os métodos

Na Tabela 10, apresentada a seguir, é possível observar a presença dos


fatores de influência em cada método. Assim, verifica-se que o Balanço Hídrico possui
uma maior gama de fatores computados, tornando-o, supostamente, um método mais
preciso que os demais. Todavia, diante de inúmeras incertezas que tangem o cálculo

34
da estimativa da geração de lixiviado, considera-se a hipótese de o Método Suíço
obter resultados mais verossímeis.

Tabela 10 - Comparação dos fatores considerados nos métodos de estimativa de lixiviado.

BALANÇO MÉTODO MÉTODO


CLASSIFICAÇÃO FATORES DE INFLUÊCIA
HÍDRICO RACIONAL SUÍCO

PRECIPITAÇÃO ✔ ✔ ✔
ESCOAMENTO
CLIMÁTICOS E ✔ ✔ -
SUPERFICIAL
HIDROLÓGICOS
EVAPOTRANSPIRAÇÃO ✔ ✔ -
TEMPERATURA - - -

UMIDADE NATURAL DOS


✔ - -
RESÍDUOS
RELATIVOS ÀS
CONDIÇÕES DOS
RESÍDUOS VOLUME DA DISPOSIÇÃO - - -

COMPOSIÇÃO
- - -
GRAVIMÉTRICA
COMPACTAÇÃO DOS
- - ✔
RESÍDUOS

RETENÇÃO DE ÁGUA NA
✔ - -
CAMADA DE COBERTURA

UMIDADE NATURAL DO
MATERIAL DE - - -
CARACTERÍSTICOS
COBERTURA
DA OPERAÇÃO
ESTÁGIO DE
- - -
DEGRADABILIDADE
PROFUNDIDADE DO
- - -
ATERRO

TEOR DE UMIDADE DO
- - -
ATERRO

Fonte: Autoria própria.

35
2 APLICAÇÃO A UM ATERRO REAL

O aterro de Nova Iguaçu foi escolhido para servir de estudo pela


disponibilidade na obtenção de dados e sobretudo por apresentar áreas de disposição
com características bem distintas. Assim, o trabalho analisa essas áreas, doravante
denominadas de Vales 1,3 e 4, propondo quatro cenários de estudo para cada vale,
conforme a Tabela 11.

Tabela 11 - Cenários considerados na estimativa do lixiviado em cada vale.

Fonte: Autoria própria.

2.1 ATERRO SANITÁRIO DE NOVA IGUAÇU

2.1.1 Breviário

Desde o final da década de 80 até fevereiro de 2003, os municípios de Nova


Iguaçu e Mesquita utilizavam o Lixão de Marambaia (Figura 8) para disposição final
dos resíduos sólidos urbanos coletados. O lixão situava-se na região leste do
município de Nova Iguaçu, próximo a Duque de Caxias, ocupando uma área de
aproximadamente 200.000m².

36
Em 2001, prevendo o encerramento do antigo lixão de Marambaia, em função
da diminuição de sua vida útil e visando dar prosseguimento ao processo de
disposição final dos resíduos da região de forma ambientalmente correta, foi
desenvolvido um projeto para a implantação de um aterro sanitário em Nova Iguaçu.

Figura 8 - Lixão de Marambaia, situação antes da desativação e da recuperação ambiental da


área.
Fonte: FELIPETTO (2006).

Assim, foi então concebida a licença de concessão à empresa responsável


para desenvolver a CTR (Central de Tratamento de Resíduos) em um terreno de
cerca de 1,2 milhões m² de área cedido pela prefeitura de Nova Iguaçu, apresentado
na Figura 9, e explorar o potencial do biogás proveniente da decomposição dos
resíduos sólidos por um período estimado de 20 anos.

37
Figura 9 - Área selecionada para a implantação do Aterro Sanitário de Nova Iguaçu (2001).
Fonte: BORTOLAZZO (2010).
A CTR está situada no distrito de Vila da Cava, Município de Nova Iguaçu
localizado na Baixada Fluminense, a cerca de 10 km do centro urbano da cidade,
entre as coordenadas UTM 7.492.000 a 7.492.200 Norte e 656.000 e 656.800 Leste.
O Aterro Sanitário de Nova Iguaçu tornou-se a primeira CTR licenciada no
Estado do Rio de Janeiro, sendo considerada uma referência em tratamento de
resíduos no cenário nacional. Além disso, é também a primeira do mundo a ter um
projeto de mitigação de gases de efeito estufa e venda de crédito de carbono
aprovado através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), da ONU. É
composta por: aterro sanitário bioenergético, laboratório, viveiro de mudas, estação
de tratamento de chorume (ETC), unidade de beneficiamento de resíduos da
construção civil (RCC), unidades de tratamento de biogás e de resíduos de serviços
de saúde (RSS).
A CTR é constituída por quatro vales, como pode ser observado na Figura 10,
sendo três (Vales 1, 3 e 4) licenciados para receber resíduos domiciliares e um para
resíduos da construção civil (Vale 2) que vem sendo empregado apenas como
depósito de materiais de construção e maquinário. Na Figura 11 são mostrados cada
vale em detalhe.

38
Figura 10 - Subdivisão operação do aterro em Nova Iguaçu (2010).
Fonte: Adaptado de BORTOLAZZO (2010).

Figura 11 - Vistas aéreas do aterro em Nova Iguaçu em fevereiro de 2017. a) Vale 1 (jusante),
b) Vale 1 (montante), c) Vale 2 e d) Vales 4 e 3, respectivamente.
Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

39
2.1.2 Clima

O aterro está situado em uma região de clima tropical com inverno seco e
chuvas intensas no verão, conforme pode ser observado pela Tabela 12, onde os
dados apresentados representam o comportamento da chuva e da temperatura ao
longo do ano e as médias climatológicas são valores calculados a partir de um série
de dados de 30 anos de observação.
A temperatura média anual mínima e máxima correspondem a 20,16°C e
27,50°C, respectivamente. Além disso, a temperatura mínima do mês mais frio é
cerca de 17ºC, enquanto que a máxima do mês mais quente é aproximadamente de
30ºC.
Dessa forma, pode-se observar historicamente dois períodos bem definidos,
uma estação chuvosa entre os meses de outubro a março, com índices pluviométricos
médios de 290,16mm e um período seco, com uma precipitação média de 107,16mm
ocorrendo entre os meses de abril a setembro.

Tabela 12 - Médias mensais de temperatura e precipitação para Nova Iguaçu.

Mês Minima (°C) Máxima (°C) Precipitação (mm)

Janeiro 22° 29° 422

Fevereiro 23° 30° 350

Março 22° 29° 286

Abril 21° 28° 164

Maio 19° 26° 105

Junho 18° 26° 65

Julho 17° 25° 104

Agosto 18° 26° 101

Setembro 19° 26° 104

Outubro 20° 28° 229

Novembro 21° 28° 269

Dezembro 22° 29° 185

Fonte: https://www.climatempo.com.br.

A Figura 12 apresenta um histórico mês a mês das precipitações verificadas


pelo pluviômetro na CTR. Assim, a precipitação média mensal é igual a 138,7mm no
período de janeiro/2016 até dezembro/2019, e o total médio anual é igual a
40
1854,11mm para 2016, 1292,35mm para 2017, 1753,80mm para 2018 e 1727,30mm
para 2019.

500,000 mm
450,000 mm
400,000 mm
Índice Pluviométrico

350,000 mm
300,000 mm
250,000 mm
200,000 mm
150,000 mm
100,000 mm
50,000 mm
,000 mm
jun/16

fev/17

jan/19
jan/16
fev/16

set/16

jan/17

jun/17

set/17

jan/18
fev/18

jun/18

set/18

fev/19

jun/19

set/19
ago/16

ago/17

mai/18

ago/18

abr/19

ago/19
abr/16
mai/16

nov/16
dez/16

abr/17
mai/17

nov/17
dez/17

abr/18

nov/18
dez/18

mai/19

nov/19
dez/19
jul/16

out/16

jul/17

out/17

jul/18

out/18

jul/19

out/19
mar/16

mar/17

mar/18

mar/19
Data da leitura

Figura 12 - Gráfico dos índices pluviométricos de Nova Iguaçu pelo pluviômetro da CTR.
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
A Figura 13 faz um comparativo das precipitações de cada mês nos últimos 4
anos, também através dos dados do pluviômetro na CTR. Desse modo, os resultados
ratificam que a região possui dois períodos bem definidos em termos pluviométricos.

500,000 mm

450,000 mm
2016 2017 2018 2019
Índice Pluviométrico

400,000 mm

350,000 mm

300,000 mm

250,000 mm

200,000 mm

150,000 mm

100,000 mm

50,000 mm

,000 mm
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Meses

41
Figura 13 - Gráfico comparativo de cada mês dos índices pluviométricos de Nova Iguaçu
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

Em relação à evapotranspiração, a CTR não dispõe de equipamentos para


determinar os índices de transpiração, dessa forma, para realização dos cálculos,
serão considerados apenas os efeitos da evaporação. O gráfico do histórico de
evaporação no aterro pode ser observado na Figura 14. É válido salientar que no
intervalo entre os dias 8 e 30 de outubro não ocorreram medições, por motivos
desconhecidos. Além disso, durante o período em estudo, a metodologia de medição
foi alterada. Com base no gráfico, é possível supor que, aproximadamente, em
meados de 2017, a medição deixou de ser realizada através de Tanques de Classe A
e passou a ser executada mediante Evaporímetros de Piche.

120,00

100,00
Índice de Evaporação (mm)

80,00

60,00

40,00

20,00

,00
ago-17
abr-16

ago-16

abr-17

abr-18

ago-18

abr-19

ago-19
mai-16
jul-16

nov-16
dez-16

mai-17

nov-17
dez-17

mai-18

mai-19
out-16

jul-17

out-17

jan-18

jul-18

nov-18
dez-18
out-18

jul-19

nov-19
dez-19
out-19
jan-16
fev-16
mar-16

jun-16

set-16

jan-17
fev-17
mar-17

jun-17

set-17

fev-18
mar-18

jun-18

set-18

jan-19
fev-19
mar-19

jun-19

set-19

Data da leitura

Figura 14 - Gráfico dos índices de evaporação de Nova Iguaçu.


Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

2.1.3 Propriedades relacionadas aos resíduos

Este aterro é responsável por receber resíduos de Nova Iguaçu, Mesquita,


Nilópolis, Queimados, São João de Meriti, além de grandes geradores, que são

42
condomínios, shoppings, supermercados, hotéis e outros estabelecimentos de grande
porte, que representam regularmente cerca de 45% do volume total de resíduos.
Segundo dados da CTR, ao longo deste tempo, as taxas de recebimento
mensais tiveram alguns incrementos e, atualmente, giram em torno de 120.000
toneladas por mês. Entretanto, o aterro possui capacidade para atender demandas
diárias de até 5.000 toneladas.
Como pode ser observado na Figura 15, cerca de 30% desse volume total
tratam-se de resíduos domiciliares e 14% de resíduos de varrição. No entanto, 47%
dos resíduos são classificados como “outros”, que inclui a categoria denominada de
“grandes geradores”, onde são englobados resíduos de papelão, lodo, madeira,
domiciliares, entre outros. Desse modo, evidencia-se a impossibilidade de se
determinar com maior exatidão a real proporção de cada tipo de resíduo disposto.

Figura 15 - Tipologia dos resíduos recebidos em novembro de 2019 na CTR.


Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

Quanto ao local de disposição dos resíduos, no período em estudo, o processo


ocorreu alternadamente entre os Vales 3 e 4. Dessa forma, no intervalo de janeiro de
2016 até julho de 2017, os resíduos foram dispostos no Vale 4. Depois, iniciou-se o

43
retaludamento do Vale 3 que se encerrou em agosto de 2018. Por fim, o material
voltou a ser depositado nas células do Vale 4.
A partir da massa de resíduos recebidos no referido período e o volume
ocupado dentro da célula, é possível estimar uma massa específica relativa, referente
a tal intervalo, e compará-la com os demais meses, de modo a estimar uma eficiência
de compactação por parte da operação. A massa de resíduos recebidos no referido
período é obtida através da balança de pesagem, enquanto que o volume ocupado
pela célula é definida pelo levantamento topográfico que é triangulado e transformado
em curvas de nível. A comparação entre os meses de outubro e novembro de 2019 é
apresentada pela Figura 16.
É importante ressaltar que este método não considera os recalques e demais
deslocamentos ocorridos nas camadas inferiores, de modo que as massas
específicas devem ser relativizadas e não tomadas como exatas. Além disso, após a
pesagem dos resíduos ocorre uma separação em que parte do entulho é recolhido
para ser reaproveitado. Essa massa recolhida passou a ser descontada do somatório
das massas de resíduos dispostos apenas no ano de 2019, fato que justifica os altos
valores das massas específicas encontradas nos anos anteriores, conforme a Figura
17. Portanto, considerando apenas o ano de 2019, tem-se uma massa específica dos
resíduos inicial média de 1,04ton/m³.

Figura 16 - Vista do aterro, com a disposição de novembro na cor marrom e as built de outubro
na cor cinza.

44
Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

1,60
1,50 1,45
1,48
Massa específica [ton/m³]

1,40 1,34
1,38 1,36
1,30 1,32
1,27 1,25
1,23 1,22 1,19
1,20 1,18
1,17 1,21
1,10 1,10 1,15
1,07
1,00 1,00
0,93 0,95 0,93 0,97
0,90
0,80

Figura 17 - Histórico das massas específicas dos resíduos na CTR-NI.


Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

2.1.4 Sistema de drenagem de efluentes

Em relação à drenagem de lixiviado, todos os vales possuem sistemas de


drenagem no revestimento de fundo compostos por rachão, tubos de PEAD
(Polietileno de Alta Densidade) perfurados sobrepostos a geomembrana. Além disso,
à medida que as células são preenchidas, a cada 5m, novos sistemas de drenagem,
denominados drenos de camada, são implantados com pedra rachão e geotêxtil,
conforme ilustra o perfil esquemático exposto pela Figura 18.
No que tange à drenagem vertical, os poços são formados por uma tela
metálica preenchida com rachão e contendo tubos de PEAD no centro, conforme
ilustrado pela Figura 19. É válido destacar que os drenos de fundação são divididos
em principais e secundários, dispostos em desenho conhecido como “espinha de
peixe”, de forma que os drenos secundários alimentam os principais. Esses, por sua
vez, são conectados aos drenos verticais que são ligados a drenagem no
revestimento de fundo, formando um único sistema para escoar o lixiviado das células
do aterro.

45
Figura 18 - Perfil esquemático dos drenos de camada.
Fonte: Autoria própria.

A totalidade do lixiviado gerado é direcionado para as cinco lagoas de


armazenamento existentes, ilustradas na Figura 20. Duas delas recebem diretamente
o efluente produzido por cada um dos vales e três servem como pulmões para
armazenamento do excesso não tratado pela ETC. Ainda existem outros três
dispositivos que são integrados ao sistema de tratamento, sendo uma caixa para
retenção de materiais sólidos, uma lagoa para equalização e a outra para tratamento
biológico.

Figura 19 - Perfil esquemático do dreno vertical.


Fonte: Autoria própria.
46
Figura 20 - Lagoas de lixiviado existentes na CTR-NI em outubro de 2019.
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

2.1.5 Sistema de drenagem pluvial

No que concerne à rede de drenagem pluvial existente, destaca-se a presença


de dispositivos de descidas hidráulicas, canaletas longitudinais sub-horizontais, leiras
de barramento perimetral, manilhas de concreto para travessias e caixas de
passagem. Os referidos dispositivos são responsáveis por direcionar todo aporte
pluvial para as cotas mais baixas dos aterros. A Figura 21 apresenta a distribuição
dos diferentes dispositivos pelo aterro.

47
Figura 21 - Dispositivos da drenagem pluvial na CTR-NI: a) Descida hidráulica de concreto na
face frontal do Vale 1. b) Canaleta de concreto na face frontal do Vale 1. c) Descida hidráulica no
Vale 1. d) Canaleta no Vale 1. e) Descida hidráulica em colchão drenante na face frontal do Vale
3. f) Descida hidráulica em colchão drenante na face frontal do Vale 4.
Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
Incialmente, grande parte dos dispositivos eram construídos por meio de
terraplanagem no resíduo sobreposto pela própria manta e, em menor escala,
principalmente em trechos com disposição mais antiga, como no Vale 1, podem ser
observados ainda alguns dispositivos construídos em concreto. No entanto, com a
expansão do aterro e elevação das cotas e declividades, no Vale 3, esses dispositivos
foram substituídos por descidas construídas em colchão drenante, que possuem,
dentre outras vantagens, a quebra de energia, a redução da velocidade de fluxo, e a
flexibilidade. Tal medida vem progressivamente se estendendo aos demais trechos do

48
maciço e, atualmente, a quase totalidade do Vale 4 também é composta por descidas
construídas em colchão drenante.
Vale ressaltar que o Vale 1 se encontra, predominantemente, coberto por
geomembrana para impedir a infiltração das águas pluviais. Além disso, os demais
vales encontram-se recobertos por um material argiloso, com exceção apenas das
áreas onde estão ocorrendo a disposição de resíduos, que apenas recebem material
de cobertura ao fim desse processo. Ademais, na face dos taludes acabados vem
sendo implementada vegetação como cobertura, pois atenuam as contribuições de
águas pluviais e aumentam a parcela de água evapotranspirada, através da
transpiração das plantas, reduzindo a geração de lixiviado.

2.2 VALE 1

O Vale 1 possui uma área de 98.057,94m², valor estimado pelo autor a partir de
uma poligonal traçada na planta baixa do Vale 1 (Figura 22). Além disso, ele possui
uma área da bacia de contribuição de 158.445,10m², segundo dados da empresa que
presta consultoria para a CTR.
Ele foi o primeiro vale a receber resíduos, sua operação se iniciou em fevereiro
de 2003. Entretanto, sua disposição foi cessada em julho de 2013. Ele conforma um
maciço de resíduos com mais de 50m de espessura em seus pontos centrais e
apresenta elevações no platô de montante para jusante, variando de 83m a 76m.
Em fevereiro de 2014, o Vale 1 foi quase em sua totalidade, coberto por
geomembrana. Vale ressaltar que apenas o acesso ao platô superior não foi coberto e
que em alguns períodos parte da geomembrana foi danificada e substituída, expondo
o vale à infiltração pluvial. Essa técnica de impermeabilização foi adotada para
minimizar a geração de lixiviado. Entretanto, essa prática não é recomendada, pois ao
se impedir o a entrada de água no aterro, inibe-se o processo de degradação
aeróbica dentro da célula.

49
Figura 22 - Área do Vale 1 (sem escala).
Fonte: Autoria própria.

Em relação à geração de lixiviado, em todos os vales a vazão é calculada pelo


mesmo processo. A vazão é medida por um operário com o auxílio de um balde que
cronometra o tempo necessário para enche-lo, em seguida, divide-se o volume do
balde pelo tempo cronometrado para se obter a vazão de efluente. Os valores das
vazões medidas mês a mês encontram-se na Tabela 13.

Tabela 13 - Vazões de lixiviado medidas no Vale 1.

50
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

2.2.1 Balanço Hídrico

Para a realização das estimativas anuais de geração de lixiviado pelo balanço


hídrico no Vale 1, deve-se primeiramente determinar o valor da precipitação por meio
de boletins meteorológicos. Assim, uma vez que o vale permaneceu,
predominantemente, coberto por geomembrana durante todo o período em estudo,
pode-se dizer que o valor do escoamento superficial representa a totalidade do
volume precipitado.
Além disso, como a cobertura da geomembrana impede que, através da
evapotranspiração, a camada de cobertura troque gases com o a ambiente externo,
praticamente, a totalidade do volume de água evapotranspirado retorna à camada de
cobertura ao condensar no interior da geomembrana. Diante desse fato, o volume de
evapotranspiração deve ser considerado nulo, assim como as variações de saturação
na camada de cobertura.
Em relação à umidade natural dos resíduos, a mesma é de difícil estimativa,
ademais, considerando os dados de composição gravimétrica pouco conclusivos,
optou-se por desconsiderar essa parcela, por mais que ela seja representativa. Dessa
forma, todas as parcelas que compõem a formula do balanço hídrico (Equação 2.0)
são nulas e, por conseguinte, a vazão de lixiviado estimada também.

51
2.2.2 Método Suíço

Pelo método suíço, a vazão de lixiviado é estimada a partir do produto da


precipitação e do coeficiente de permeabilidade do aterro e como o Vale 1
permaneceu coberto durante o período em estudo, conforme a Equação 2.2, a vazão
de lixiviado estimada deve ser nula.

2.2.3 Análise dos resultados

Como foi observado pela Tabela 13, apesar do balanço hídrico e do método
suíço terem estimado vazões de lixiviado nulas, as mesmas não ocorreram. De fato,
conforme mencionado anteriormente, de acordo com FARQUHAR e ROVERS (1973),
a biodegradação lenta dura dezenas de anos. Além disso, segundo
TCHOBANOGLOUS, THEISEN e VIGIL (1993), a maturação do aterro, fase em que
as taxas de geração de metano e lixiviado se tornam desprezíveis, acontece em
média após 30 a 40 anos. Assim, como a última disposição no Vale 1 ocorreu em
julho de 2013, é de se esperar que o aterro continue apresentando geração de
lixiviado mesmo coberto por geomembrana.
Vale ressaltar que, como o acesso ao platô superior não fui coberto e parte da
geomembrana foi danificada e substituída, expondo o vale à infiltração pluvial, de fato,
uma parcela de água infiltrou nas células do aterro. Entretanto, devido à ausência de
informações precisas da área exposta e do tempo de exposição, não é possível
quantificar esse volume.

2.3 VALE 3

O Vale 3 possui uma área de 86.623,75m², valor estimado pelo autor a partir de
uma poligonal traçada na planta baixa do aterro (Figura 23). Além disso, ele possui
uma área da bacia de contribuição de 163.197,84m², segundo dados da empresa que
presta consultoria para a CTR.

52
Figura 23 - Área do Vale 3 (sem escala).
Fonte: Autoria própria.

Durante o período em estudo, o Vale 3 recebeu resíduos durante treze meses


a partir de agosto de 2017, conforme a Tabela 14. Em dezembro de 2019, ele
apresentava elevações no platô de montante para jusante, variando de 112m a 101m.
Entretanto, a cota de base não é nula e é variável em todo o aterro em função da
topografia da área.
No que tange à cobertura, tanto o Vale 3 quanto o Vale 4 possuem nos
trechos já finalizados predominância vegetal, vide Figura 27. De um modo geral, tem
sido observado que apenas os trechos recentemente dispostos apresentam cobertura
composta por solos locais e que o plantio de grama vem avançando constantemente
sobre essas áreas.

53
Tabela 14 - Volume de disposição mensal recebido pelo Vale 3.

Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

Conforme observado na Tabela 14, a vazão de lixiviado gerada pelo Vale 3


teve um aumento significativo a partir de agosto de 2017, quando o processo de
disposição voltou a ser realizado em seu platô superior, conforme a Figura 24. A partir
de novembro do mesmo ano, deu-se início ao retaludamento da sua face frontal e os
níveis de lixiviado continuaram a aumentar. No entanto, a partir de fevereiro de 2018,
tais valores foram caindo consideravelmente, mesmo com a continuidade da
disposição, conforme a Tabela 15.

Figura 24 - Início da disposição do Vale 3 em agosto de 2017.


Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

Tabela 15 - Vazões de lixiviado medidas no Vale 3.

54
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

Em julho de 2019, foram observados diversos indícios de que a drenagem do


Vale 3 não estaria funcionando de forma efetiva, tais como: valores de vazão de
lixiviado muito reduzidos e pontos de afloramento de chorume nas bermas. Diante
disso, foram executados drenos de face para reduzir a pressão dentro do maciço, à
medida que promovem a drenagem do efluente.
Os drenos de face são compostos de rachão sobreposto por material argiloso
envolvido por geotêxtil, para selagem do dreno evitando a infiltração das águas
pluviais, conforme ilustrado na Figura 26. Além disso, os drenos de face são
conectados às caixas de passagem e tubos de PEAD, para que o lixiviado seja
direcionado para as lagoas (Figura 25).

Figura 25 - Seção esquemática dos drenos de face.


Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

55
Figura 26 - Detalhe do dreno de face (Sem Escala).
Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

Nas Figuras 27 a 28, é possível observar os dispositivos já executados,


inclusive com cobertura vegetal no patamar inferior do Vale 3 e nota-se, ainda, os
demais trechos em construção e a construir. Vale ressaltar que, após a
implementação dos drenos de face, a vazão de lixiviado aumentou aproximadamente
70m³/dia, durante metade do mês de novembro. Assim, esses resultados mostram
que, de fato, estava ocorrendo o acumulo de efluente no interior do maciço.

Figura 27 - Execução de drenos de face no trecho inferior do Vale 3.


Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
56
Figura 28 - Execução de drenos de face no trecho inferior do Vale 3.
Fonte: Relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

2.3.1 Balanço Hídrico

Para a realização das estimativas mensais de geração de lixiviado pelo


balanço hídrico no Vale 3, foram determinados os valores da precipitação e da
evapotranspiração por meio de boletins meteorológicos, conforme as Tabelas 16 e 17.
Vale salientar que, na evapotranspiração, por falta de equipamentos de medição da
transpiração das plantas na CTR, considerou-se somente a evaporação.

Tabela 16 - Índices pluviométricos mensais.

Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.
57
Tabela 17 - Índices de evaporação mensais.

Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

Para o cálculo do escoamento superficial, seguiu-se o fluxograma da Figura 6,


pelo fato do aterro possuir solo predominantemente argiloso como cobertura. Com
isso, foram obtidos os resultados do escoamento superficial para os Vale 3 e 4, vide
Tabela 18. Deve-se observar ainda que, nos meses em que a parcela que infiltra no
maciço menos o volume da evapotranspiração for negativa, a geração de lixiviado é
nula.
O cálculo da variação de água na camada de cobertura depende de uma
condição inicial do solo e para todos os casos em estudo foi considerado o solo
totalmente saturado. Em seguida, foi feita uma análise mês a mês para determinar
sua variação. Dessa forma, nos meses em que a parcela que infiltra no maciço menos
o volume da evapotranspiração for positiva e maior que a diferença entre o volume
armazenado e a capacidade de campo, a diferença entre o volume armazenado e a
capacidade de campo fica armazenada no solo e o restante do saldo da parcela
infiltração menos evapotranspiração gera percolação. Caso seja menor, o volume de
água torna-se insuficiente para saturar o solo de cobertura e, assim, a percolação é
nula. Agora, se a parcela que infiltra no maciço menos o volume da evapotranspiração
for negativa, o solo perde água para a atmosfera e a percolação é nula. O volume de
água retido na camada de cobertura e suas respectivas variações podem ser
observados na Tabela 19.

58
Tabela 18 - Volume de escoamento superficial nos Vales 3 e 4.

Fonte: Autoria própria.

Tabela 19 - Volume e variação do volume de água retida no solo de cobertura nos Vales 3 e 4.

Fonte: Autoria própria.

Por fim, como afirmado anteriormente, a umidade natural dos resíduos é de


difícil estimação e será desprezada sua influência nos cálculos. Portanto, com a área
total do aterro e a área da bacia de contribuição, finalmente, é possível executar os
cálculos do balanço hídrico, conforme a Equação 2.0. Os resultados das vazões de
lixiviado estimadas mês a mês comparadas com as vazões medidas encontram-se na
Tabela 23.

59
Tabela 20 - Vazões de lixiviado estimadas pelo balanço hídrico e vazões medidas no Vale 3.

Cenário 1: A* = Área da bacia de contribuição


Cenário 2: A* = Área do aterro
Fonte: Autoria própria.

2.3.2 Método Suíço

Na execução do método suíço utilizou-se os dados da precipitação presentes


na Tabela 16 e, como já é conhecida a área total do aterro, pode-se realizar os
cálculos para determinar a vazão estimada mês a mês no cenário 3, considerando o
coeficiente de permeabilidade igual a 0,25 e, também no cenário 4, considerando o
coeficiente de permeabilidade igual a 0,15. Esses resultados são mostrados na
Tabela 21.

60
Tabela 21 - Vazões de lixiviado estimadas pelo método suíço e vazões medidas no Vale 3.

Cenário 3: K = 0,25
Cenário 4: K = 0,15
Fonte: Autoria própria.

2.3.3 Análise dos resultados

Os resultados anuais do volume estimado e medido de lixiviado para o Vale 3


podem ser observados na Tabela 22, assim como o saldo desses volumes, de forma
que, quando o volume estimado for maior que o medido, as células encontram-se
assinaladas em verde e, caso contrário, as células encontram-se assinaladas em
vermelho. Pode-se verificar ainda a porcentagem do erro, resultado do saldo dos
volumes dividido pelo volume medido.
Diante desses resultados, utilizando-se o método do balanço hídrico, pode se
constatar que em nenhum caso proposto foi obtida uma aproximação razoável.
Entretanto, o método suíço obteve estimativas mais próximas às verificadas em
campo. Como se induz que tenha ocorrido a colmatação dos drenos do Vale 3, é
61
provável que durante o ano de 2019 tenha ocorrido acúmulo de lixiviado no maciço.
Assim, é possível que a estimativa para o cenário 4 tenha obtido um valor
extremamente próximo da realidade para o ano de 2019, como ocorreu para o ano de
2016. Já o cenário 3 exibe resultados mais conservadores, obtendo uma margem de
erro próxima a 20% para os anos de 2017 e 2018. Porém, para os anos de 2016 e
2019 a margem de erro foi muito elevada.

Tabela 22 - Resultados anuais do comparativo entre o volume estimado e medido para o Vale 3.

Cenário 1: A* = Área da bacia de contribuição


Cenário 2: A* = Área do aterro
Cenário 3: K = 0,25
Cenário 4: K = 0,15
Fonte: Autoria própria.

2.4 VALE 4

O Vale 4 possui uma área de 181.436,36m², valor estimado pelo autor a partir
de uma poligonal traçada na planta baixa do Vale 4 (Figura 29). Além disso, ele
possui uma área da bacia de contribuição de 255.851,30m², segundo dados da
empresa que presta consultoria para a CTR.
Durante o período em estudo, o Vale 4 recebeu disposição em dois períodos,
entre janeiro de 2016 e julho de 2017 e, depois, entre setembro de 2018 e dezembro
62
de 2019, totalizando trinta e cinco meses. Os volumes de disposição mensais
recebidos pelo Vale 4 podem ser visualizados na Tabela 24.

Figura 29 - Área do Vale 4 (sem escala).


Fonte: Autoria própria.

Tabela 23 - Volume de disposição mensal recebido pelo Vale 4.

63
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

Nos períodos de disposição no vale 4, é possível observar que após julho de


2017, conforme cessou a disposição de resíduos no vale, a geração de lixiviado foi
decrescendo, gradualmente, até setembro de 2018, quando voltou a ocorrer a
disposição e os índices de geração voltaram a subir, conforme a Tabela 24. Esse vale
tem previsão de receber resíduos até julho de 2020, quando se iniciará o
retaludamento do Vale 1 que deve culminar na cota do platô do Vale 3. Em dezembro
de 2019, o maciço do Vale 4 apresentava elevações no platô de montante para
jusante, variando de 122m a 105m. Entretanto, conforme mencionado anteriormente,
a cota de base não é nula e é variável em todo o aterro em função da topografia da
área.

Tabela 24 - Vazões de lixiviado medidas no Vale 4.

64
Fonte: Adaptado com base em dados dos relatórios da empresa que presta consultoria para a CTR.

2.4.1 Balanço Hídrico

Para a realização das estimativas mensais de geração de lixiviado pelo balanço


hídrico no Vale 4, seguiu-se o mesmo processo adotado no Vale 3. Dessa forma,
foram utilizados os dados já conhecidos da precipitação (Tabela 16), da
evapotranspiração (Tabela 17), do escoamento superficial (Tabela 18), do volume de
água retida no solo de cobertura e da variação do volume de água retida no solo de
cobertura (Tabela 19).
Assim, uma vez determinadas a área total do aterro e a área da bacia de
contribuição, finalmente, pode-se executar os cálculos do balanço hídrico. A Tabela
25 exibe os resultados das vazões de lixiviado estimadas mês a mês comparadas
com as vazões medidas.

Tabela 25 - Vazões de lixiviado estimadas pelo balanço hídrico e vazões medidas no Vale 4.

65
Cenário 1: A* = Área da bacia de contribuição
Cenário 2: A* = Área do aterro
Fonte: Autoria própria.

2.4.2 Método Suíço

Na execução do método suíço utilizou-se os dados da precipitação presentes


na Tabela 16 e, como já é conhecida a área total do aterro, pode-se realizar os
cálculos para determinar a vazão estimada mês a mês no cenário 3, considerando o
coeficiente de permeabilidade igual a 0,25 e, também no cenário 4, considerando o
coeficiente de permeabilidade igual a 0,15. Esses resultados são mostrados na
Tabela 26.

Tabela 26 - Vazões de lixiviado estimadas pelo método suiço e vazões medidas no Vale 4.

66
Cenário 3: K = 0,25
Cenário 4: K = 0,15
Fonte: Autoria própria.

2.4.3 Análise dos resultados

Os resultados anuais do volume estimado e medido de lixiviado para o Vale 4


podem ser observados na Tabela 27, assim como o saldo desses volumes, de forma
que quando o volume estimado for maior que o medido as células encontram-se
assinaladas em verde, caso contrário, células encontram-se assinaladas em
vermelho. Pode-se verificar ainda, a porcentagem do erro, resultado do saldo dos
volumes dividido pelo volume medido. Da mesma forma como ocorreu no Vale 3.
Diante desses resultados, pode se constatar que em nenhum caso proposto
utilizando-se o método do suíço conseguiu apresentar uma aproximação razoável.
Entretanto, o balanço hídrico obteve estimativas mais próximas as obtidas em campo.
Na estimativa para o cenário 2, foram encontrados valores, extremamente, próximos
da realidade para o ano de 2016 e um resultado próximo para o ano de 2019. Já para
os anos 2017 e 2018, foi verificada uma margem de erro próxima a 50%. Entretanto,
no ano de 2017, a estimativa foi subdimensionada enquanto que em 2018 foi
conservadora. O cenário 1 somente conseguiu apresentar resultados concebíveis
67
para os anos de 2016 e 2017, ainda que com aproximações distantes dos volumes
medidos. Nos demais anos, a margem de erro foi muito elevada.
Vale destacar que, como observado na Tabela 25, o método do balanço
hídrico, normalmente, obtém valores inferiores aos medidos no período seco e valores
mais elevados para os meses úmidos. Dessa forma, no somatório anual esse saldo é
balanceado.

Tabela 27 - Resultados anuais do comparativo entre o volume estimado e medido para o Vale 4.

Cenário 1: A* = Área da bacia de contribuição


Cenário 2: A* = Área do aterro
Cenário 3: K = 0,25
Cenário 4: K = 0,15
Fonte: Autoria própria.

2.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES

De uma maneira geral, pode-se concluir que o Vale 1 apresenta uma situação
atípica que foge ao alcance de qualquer método de estimativa analisado. Entretanto,
a análise desse mostrou-se proveitosa, para ratificar o conceito de que o lixiviado não
é fruto somente da parcela de água que infiltra nas células do aterro, mas também
resultado dos processos de biodegradação dos resíduos sólidos dispostos.

68
Além disso, pode-se constatar que as estimativas através do método suíço
foram mais adequadas para o Vale 3 e as estimativas através do balanço hídrico
foram melhores para o Vale 4. Portanto, é plausível inferir que o método suíço
apresente resultados mais aceitáveis para aterros com dimensões reduzidas e o
balanço hídrico obtenha estimativas melhores para aterros com áreas mais extensas.
Contudo, é questionável a validade dos resultados das medições no Vale 3,
pois, as vazões medidas nesse vale encontram-se muito próximas das encontradas
no Vale 1, conforme ilustra a Figura 30. Isso porque o Vale 1 possui uma área
equivalente e adjacente ao Vale 3, portanto, sujeito às mesmas condições climáticas,
mas que ficou coberto por geomembrana no período estudado. Dessa forma, duas
situações distintas podem explicar esse fato, ou a geomembrana do Vale 1 não
apresentou a capacidade de impermeabilização prevista ou ocorreu a colmatação dos
drenos do Vale 3. Diante da constatação dos resultados verificados após a
implantação dos drenos de face, deduz-se que a última situação apresenta maior
probabilidade de ocorrência.

35000
Vale I
Vazão de Chorume [m³/mês]
30000
Vale III
Vazão de Chorume [m³/mês]
25000 Vale IV
Vazão de Chorume [m³/mês]

20000

15000

10000

5000

Figura 30 - Gráfico vazões de lixiviado medidas em cada vale.


Fonte: Autoria própria.

69
Outro ponto conclusivo é em relação à preponderante influência do índice
pluviométrico no volume de lixiviado gerado, que pode ser claramente observado na
Figura 31. Dessa forma, pode-se notar que no período seco (abril a setembro),
usualmente tem-se uma geração de lixiviado reduzida, assim como no período úmido
(outubro a março), invariavelmente, tem-se uma geração de lixiviado elevada.

40.000 500
Indíce Pluviométrico
Volume de lixiviado gerado [m³]

Indíce Pluviométrico (mm)


450
35.000
Total Gerado [m³] 400
30.000
350
25.000
300

20.000 250

200
15.000
150
10.000
100
5.000
50

0 0
jan/16

set/16

jan/17

set/17

jan/18

set/18

jan/19

set/19
mai/17

nov/19
mai/16

mai/18

mai/19
jul/16

nov/16

jul/17

nov/17

jul/18

nov/18

jul/19
mar/16

mar/17

mar/18

mar/19

Figura 31 - Gráfico correlação entre o volume de lixiviado gerado e o índice pluviométrico.


Fonte: Autoria própria.

Outro ponto interessante de se destacar é a correlação entre o volume de


lixiviado gerado e a massa de disposição (Figura 32). A figura citada evidencia a
influência da disposição de resíduos no volume de lixiviado gerado, entre agosto de
2017 e agosto de 2018, quando ocorreu uma queda progressiva no volume de
lixiviado medido no Vale 4, que deixou de receber resíduos em suas células, e houve
um aumento nos índices de geração no Vale 3, que passou a receber a disposição.
Além disso, é possível notar uma relação direta entre a massa de disposição e
o volume de lixiviado gerado, apesar do fator mais relevante para análise da geração
de lixiviado ser o índice pluviométrico.
De fato, quando acontece a disposição de material, há a entrada de água
proveniente da umidade natural dos resíduos nas células do aterro, bem como, devido

70
à formação da praça de operação, ocorre a entrada facilitada do volume precipitado e
do oxigênio, componente necessário para o processo de degradação aeróbico.
Convém notar ainda, a melhora observada no sistema de drenagem pluvial no
aterro, visto que, analisando as precipitações mensais e vazões de lixiviado geradas
pelos vales nos meses de janeiro de 2017 a dezembro de 19, é possível, através de
uma retroanálise pelo método suíço, conhecer o histórico de variação do coeficiente K
para cada um dos vales. Assim, conforme mostrado na Figura 33, o parâmetro é
sensível à precipitação e acaba assumindo valores bem elevados para justificar a
geração registrada em campo, mesmo em meses de seca. Porém, devido à utilização
da vegetação como cobertura da face dos taludes acabados e às melhorias
realizadas na rede de drenagem, nota-se um aumento da regularidade das vazões de
saída do percolado e a redução significativa das contribuições das águas pluviais,
causando um maior equilíbrio nos coeficientes retroanalisados.

30.000 160000
RSU (t) - total Vale III Vale IV

Massa de disposição (t/mês)


140000
25.000
Volume de lixiviado medido

120000
20.000
100000
(m³/mês)

15.000 80000

60000
10.000
40000
5.000
20000

0 0
jan/16

set/16

jan/17

set/17

jan/18

set/18

jan/19

set/19
mai/16

nov/16

mai/17
jul/17

nov/17

mai/18

nov/18

mai/19

nov/19
jul/16

jul/18

jul/19
mar/16

mar/17

mar/18

mar/19

Figura 32 - Gráfico correlação entre o volume de lixiviado medido e a massa de disposição.


Fonte: Autoria própria.

Por fim, o presente trabalhou buscou confrontar os resultados teóricos com os


obtidos em campo, entretanto, alguns erros inerentes ao processo de medição e de
estimativa podem justificar a divergência nos valores encontrados. Os erros devido às

71
medições são provocados pela ação isolada ou combinada de vários fatores que
influenciam o processo de medição, envolvem o próprio sistema adotado, o seu
procedimento, a ação de grandezas de influência e o operador. Já os erros relativos
às estimativas decorrem da falta de informações precisas ou da ausência de
embasamento teórico capaz de atender o caso específico.

12 400

350
10

300
Valor de K retroanalisado

Pluviometria (mm)
250

6 200

150
4

100

2
50

0 0
jan/17
fev/17

jun/17

set/17

jan/18
fev/18

jun/18

set/18

jan/19
fev/19

jun/19

set/19
ago/17

ago/18

abr/19

ago/19
abr/17
mai/17

jul/17

nov/17
dez/17

abr/18
mai/18

mai/19
jul/18

nov/18
dez/18

jul/19

nov/19
dez/19
mar/17

out/17

mar/18

out/18

mar/19

out/19

Pluviometria (mm) Vale I Vale III Vale IV

Figura 33 - Gráfico retroanálise do valor de K (método suíço).


Fonte: Autoria própria.

Assim, vale destacar alguns desse possíveis erros que podem ser os
responsáveis pela discrepância entre os valores estimados e os medidos, tais como:

 Na avaliação dos índices climáticos (pluviometria e evapotranspiração),


esse último com maior probabilidade devido à mudança de método de medição.

 Na delimitação da área da bacia de contribuição e na área ocupada por


cada vale.
72
 Na estimação do coeficiente de escoamento, visto que parte do maciço
está coberto com vegetação, fato não considerado, e o aterro não possui inclinações
uniformes.

 Na mensuração da vazão medida, pois a mesma está sujeita aos erros


inerentes ao processo de medição. Além disso, como a vazão gerada não é constante
ao longo do dia e há indícios da colmatação dos drenos no Vale 3, é difícil precisar a
confiabilidade desse resultado.

 Na consideração da condição inicial de saturação da camada de


cobertura, dado cuja a informação não estava disponível e falta de condições para
realização de ensaios no solo.

 Na desconsideração da contribuição da umidade natural dos resíduos


nos cálculos do balanço hídrico, posto que não havia dados conclusivos sobre a
gravimetria do material recebido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E TRABALHOS FUTUROS

73
Os resíduos fazem parte do cotidiano da sociedade, representando um aspecto
crítico pelos impactos que podem causar ao meio ambiente, requerendo especial
atenção para sua destinação final. Dessa forma, devido ao consumismo exacerbado e
ao crescimento populacional, a consequente intensificação da geração de resíduos
tornou-se pauta recorrente de discussões no mundo. Esse aumento acentuado tem
impulsionado a construção e ampliação de aterros sanitários por todo o país, tornando
cada vês mais importante o desenvolvimento de estudos para a quantificação do
lixiviado.
Entretanto, como se pode observar neste trabalho, a quantificação do lixiviado
não é um processo trivial, pois os aterros sanitários funcionam como um sistema
trifásico em que a parte sólida, devido aos processos de biodegradação passam para
o estado líquido e gasoso. Além disso, o processo como um todo depende de
aspectos climáticos e hidrológicos, relativos às condições dos resíduos e
característicos da operação. Cada aspecto desses desencadeia uma série de fatores,
onde em muitos casos, a mensuração da sua influência ainda necessita ser alvo de
pesquisas mais aprofundadas.
Dessa forma, desenvolver estudos nos moldes de uma análise de
sensibilidade, ou seja, avaliar a geração de lixiviado procurando estimar o resultado
final de acordo com oscilações das variáveis determinantes, seria de suma
importância para propor novas metodologias de estimação de lixiviado ou aprimorar
as já existentes.
Assim, por se tratar de um processo científico, para o balanço hídrico esses
estudos poderiam contribuir na melhor avalição dos fatores já considerados e,
possivelmente, na adição de outras parcelas computando os demais fatores. No caso
do método suíço, por ser um processo empírico, estudos práticos poderiam ser
desenvolvidos para estreitar as faixas de utilização do coeficiente de permeabilidade e
aumentar o número de subdivisões para esse coeficiente e, assim, alcançar valores
de grau de compactação dos resíduos mais elevados.

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