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Aprovada por:
____________________________________________
Prof. Marcelo Gomes Miguez, D.Sc.
____________________________________________
Prof. José Paulo Soares de Azevedo, Ph.D.
____________________________________________
Prof. Jorge Henrique Alves Prodanoff, D.Sc.
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AGRADECIMENTOS
Registro aqui a minha gratidão ao amigo Willian Aquino Pereira, não só pelo auxílio
nos assuntos pertinentes a transportes, mas, principalmente, pela força nos momentos de
incerteza e pela confiança que deposita em mim e à Penha, porque nós mulheres
sabemos que ao lado de um grande homem tem sempre uma grande mulher.
Agradeço também ao Wallace Fernandes Pereira por ser um dos meus grandes
incentivadores e por acreditar sempre no meu potencial.
Agradeço ao conselheiro Jorge Henrique Prodanoff que antes mesmo de saber que
participaria da banca já se preocupava em contribuir para a qualidade deste trabalho.
iii
de viabilidade e à Diana Marinho, pela solicitude em me receber e pelos dados
elucidativos.
Aos meus colegas de turma, principalmente a Rafaela Galvão Rodrigues, amiga antiga,
dupla de projeto final de graduação e Camila Lopes de Oliveira, agora também colega
de trabalho, por serem minhas amigas de todas as horas. Aos meus amigos do
Laboratório de Hidráulica Computacional, todos sem exceção, pelos momentos
agradáveis e alegres, no meio de tanta correria e preocupação, mas em especial ao Luiz
Paulo Canedo de Magalhães, pelas suas sugestões e ao Felipe de Araújo, pela ajuda na
confecção das manchas de inundação para esta dissertação.
Por fim, gostaria de registrar os meus agradecimentos aos meus colegas de trabalho da
SERLA, por terem sido meus companheiros na conclusão desta dissertação,
principalmente ao meu chefe, Luiz Paulo Vianna.
iv
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
Fevereiro/2008
v
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
February/2008
vi
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1
1.1. Objetivo ......................................................................................................... 1
1.2. Motivação ...................................................................................................... 2
1.3. Estruturação dos capítulos ............................................................................. 2
vii
4.4.5. Danos materiais a veículos ................................................................ 78
4.4.6. Deseconomias relativas ao sistema de transportes ............................ 79
7. RECOMENDAÇÕES........................................................................................... 105
viii
ÍNDICE DE FIGURAS
ix
Figura 5.3 - Degradação do rio Joana............................................................................. 86
Figura 5.4 - Rede viária do município do Rio de Janeiro............................................... 89
Figura 5.5 - Mapa com o posicionamento do conjunto de obras proposto..................... 90
Figura 5.6 - Mancha de inundação com TR = 10 anos, para cenário sem intervenções 92
Figura 5.7 - Mancha de inudnação com TR = 10 anos, para cenário com o conjunto
de intervenções proposto ................................................................................................ 93
Figura 5.8 - Sobreposição da malha de células e de setores censitários......................... 94
x
ÍNDICE DE QUADROS
xi
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
1. INTRODUÇÃO
1.1. OBJETIVO
1
Quando os dilúvios carreiam elementos férteis em regiões de plantação, propiciam o cultivo após a passagem das cheias, assim
como ocorria às margens do Rio Nilo, por volta de 4000 a.C., cujas inundações permitiram aos egípcios o desenvolvimento
econômico através da agricultura.
2
Desastre é definido por resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável),
causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e conseqüentes prejuízos econômicos e sociais. (MINISTÉRIO DO
PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO, 1998).
1
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
1.2. MOTIVAÇÃO
A intenção desta dissertação é prover o Poder Público de uma ferramenta prática e ágil
para auxiliar os governantes na tomada de decisões e na priorização de investimentos na
drenagem urbana ou na solicitação de pedidos de financiamento de verba junto a bancos
internacionais como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e BIRD
(Banco Mundial) ou a bancos nacionais de fomento, como o BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social).
Esta dissertação, além desta breve introdução, conta com outros seis capítulos. O
capítulo dois apresenta um panorama geral das alterações antrópicas no processo físico
das enchentes e as conseqüências destas em bacias urbanas, as medidas utilizadas para
redução dos impactos das inundações, assim como qualificação dos prejuízos segundo a
classificação encontrada na literatura.
2
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
3
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
A urbanização promovida pelo homem, no intuito de adaptar o meio físico para seu
conforto, pode produzir resultados negativos como efeitos colaterais contra seu próprio
bem estar, que geram perdas materiais e causam problemas sociais de diversas
magnitudes. À medida que a ação antrópica desenha as cidades, modifica o sistema de
drenagem natural que por conseqüência intensifica o cenário das inundações. Com base
nisto, este capítulo se destinará a apresentar temas relativos às cheias urbanas e seus
prejuízos.
As cheias urbanas aqui abordadas se referem a qualquer acúmulo de água nas ruas e
avenidas de áreas ocupadas, que atinjam a população transeunte e/ou moradora do local
em questão, e causem transtornos e prejuízos, independente da causa ser uma forte
chuva ou um sistema de drenagem ineficiente. Portanto, será utilizada como sinônimo
de enchentes ou inundações3.
Como a mais significativa alteração no balanço hídrico promovida por ações antrópicas
ocorre na parcela de escoamento superficial (figura 2.1), nota-se a relevância das ações
supracitadas nas conseqüências das cheias urbanas. Segundo LEOPOLD (1968), essas
alterações podem ser drásticas, verificando-se, numa bacia urbanizada, para os casos
3
Inundação é o transbordamento de água da calha normal de rios, mares, lagos e açudes, ou acúmulo de água por drenagem
deficiente, em áreas não habitualmente submersas. Podem ser classificadas segundo seu processo evolutivo: enchentes ou
inundações graduais, enxurradas ou inundações bruscas, alagamentos e inundações litorâneas. Alagamento é o acúmulo de água no
leito das ruas e no perímetro urbano por fortes precipitações pluviométricas, provocadas por sistemas de drenagem deficiente.
Enchente é a elevação do nível de água de um rio, acima de sua vazão normal. (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO E
ORÇAMENTO, 1998)
4
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
extremos, um pico de cheia até seis vezes maior do que o pico desta mesma bacia em
condições naturais.
Quando se deseja executar obras no sistema pluvial urbano para promover melhorias no
desenvolvimento de uma região, a opção tradicional é retificar e/ou canalizar os cursos
d’água. Porém, atualmente esta medida vem sendo criticada como solução única, pois
agrava o cenário das cheias, uma vez que com a canalização as águas ficam retidas
menos tempo nas calhas dos rios (figura 2.2) e tendem a transferir as enchentes para
jusante.
5
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
6
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
acelera os processos erosivos que contribuem para o assoreamento dos cursos d'água,
que promove uma redução da seção e geram extravasamento das águas para vazões
anteriormente suportadas dentro das calhas dos rios.
(a) (b)
Figura 2.4 - Problemática dos resíduos sólidos no sistema de drenagem - (a) Acúmulo de detritos na seção
sob pontes e (b) Resíduos da construção civil nos dispositivos de drenagem urbana (TUCCI, 2005).
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Lixo:
Entope bueiros e galerias e degrada
a qualidade da água. Facilita a
proliferação de vetores e de
Canalização:
doenças de veiculação hídrica.
Aumento da velocidade do
escoamento, transferência da cheia
para jusante e menor capacidade Ocupação das várzeas:
de retenção das águas pluviais nas Maiores picos, elevação do limite da
calhas dos rios. área de inundação.
CHEIAS URBANAS
Favelização e desmatamento:
Maiores picos e volumes, maior Impermeabilização do solo:
erosão, maior assoreamento de rios e Maiores picos e vazões.
canais.
Construção inadequada de aterros,
pontes e travessias:
Impedem a fluidez do escoamento,
principalmente nas enchentes.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Chuvas intensas e/ou duradouras podem causar alagamento temporário com incidentes
de pequena proporção, promover um colapso de serviços de infra-estrutura ou, até
mesmo, causar perdas de vidas humanas, devido a acidentes ou propagação de doenças
de veiculação hídrica.
Muitas vezes, mesmo após o término do evento chuvoso, o contágio pela ingestão
poderá acontecer, caso não se jogue fora os alimentos que tiveram contato com as águas
contaminadas ou caso não se tome às devidas providências de limpeza de reservatórios
de abastecimento domiciliar que tenham sido atingidos pelas águas das inundações. Isso
comprova que as conseqüências das cheias urbanas podem perdurar por algum tempo
após as fortes chuvas.
4
A dengue não foi considerada porque pode estar relacionada a qualquer acúmulo de água parada, independente de haver um evento
chuvoso que cause inundações ou não.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Além dos danos à saúde humana, existem os danos à saúde psicológica da população,
devido ao “stress” causado pelas situações enfrentadas nos momentos das enchentes.
Para PENNING-ROSWELL e CHATTERTON (1977) podem ser identificados dois
tipos de ansiedade: a ansiedade gerada pela possibilidade de uma inundação acontecer
(threat anxiety) e a ansiedade durante o evento de inundação (event anxiety). A
primeira é recorrente e pode aparecer a qualquer momento em uma situação de risco,
pelo fato de se estar ocupando uma área potencialmente inundável. Está relacionada,
também, ao desconforto com a freqüência das enchentes. Já o segundo tipo de ansiedade
é por evento, que pode ser mais intensa que a anterior, mas tem curta duração.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Após a passagem da cheia, o cenário instalado é de muita sujeira por causa dos
sedimentos e lixos carreados pelas águas da chuva. Os logradouros, as residências e os
estabelecimentos comerciais ficam cobertos por lama. A limpeza destes locais retarda o
restabelecimento da rotina. Para reestabelecer a ordem, cidadãos despendem horas de
trabalho limpando o que contribui para as deseconomias provenientes de inundações.
Quanto à limpeza dos logradouros, é preciso contar com remanejamento de
trabalhadores de companhias urbanas de limpeza (garis) e do maquinário utilizado para
o recolhimento de sedimentos e lixo para um mutirão de limpeza.
A população urbana atingida pela inundação contabiliza perdas de bens, como móveis e
eletrodomésticos, e danos a edificação de suas propriedades que podem até
comprometer a situação financeira familiar.5 Muitos cidadãos afetados freqüentemente
pelas enchentes sofrem com empobrecimento progressivo, pois utilizam suas economias
para repor, ainda que parcialmente, os prejuízos causados pelas inundações. Para
agravar a situação, muitos imóveis sofrem uma desvalorização no mercado por estarem
situados em locais que sofrem constantemente com enchentes.
Ainda neste contexto, não se pode deixar de mencionar as residências que ficam
comprometidas em maiores dimensões após a passagem de uma cheia. Os cidadãos
desabrigados e desalojados6 representam um alto custo para a sociedade e para si
próprios.
5
Nas avaliações econômicas de investimentos do setor, quanto maior o padrão de vida dos habitantes, maior o custo dos estragos
provocados pelas cheias, por mais socialmente injusto que possa parecer, uma vez que valores podem significar igualmente para os
tomadores de decisão e podem representar diferenças significantes no patrimônio dos atingidos. Por exemplo, proporcionalmente,
R$ 1.000,00 representam mais no patrimônio de uma família de baixa renda do que no de uma família de classe média.
6
Desabrigado refere-se a pessoa cuja habitação foi afetada por dano ou ameaça de dano e que necessita de abrigo, enquanto que
desalojado, a pessoa que foi obrigada a abandonar temporária ou definitivamente sua habitação, em função de evacuações
preventivas, destruição ou avaria grave, decorrentes do desastre e que, não necessariamente, carece de abrigo. (MINISTÉRIO DO
PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO, 1998).
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Custos extras com atividades emergenciais também devem ser contabilizados nos
prejuízos causados pelas cheias. Ressalva-se que os custos normais de salários, por
exemplo, não estão relacionados ao evento chuvoso e, portanto, não devem ser incluídos
nas deseconomias das enchentes. Os serviços emergenciais incluem resgate e evacuação
dos atingidos, que mobilizam principalmente o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil,
além, de assistência a desabrigados e desalojados e atendimentos hospitalares.
Por último, tem-se o impacto mais drástico das enchentes, o risco de morte iminente nas
fortes chuvas, devido a alta probabilidade de afogamentos, colisões de veículos,
choques elétricos ou deslizamentos de terra.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
CHEIAS URBANAS
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Os prejuízos das enchentes dependem de uma série de variáveis. Essas variáveis aqui
apresentadas no quadro 2.1 evidenciam o grau de complexidade existente na tentativa
de auferir seus custos. (SALGADO, 1995; MESSNER et al., 2007)
Características da inundação
Altura de inundação
Velocidade do escoamento
Duração do evento
Freqüência das inundações
Taxa de elevação do nível d'água
Características da área atingida
Potencial para gerar carga de poluentes (matéria orgânica,
sedimentos e detritos)
Topografia
Tipo de ocupação (uso do solo)
Perfil sócio-econômico
A duração de uma cheia interfere diretamente na rotina dos cidadãos das regiões
alagadas. A permanência das águas aumenta os danos, a possibilidade de transmissão de
doenças e, principalmente, o número de desalojados e desabrigados.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
A freqüência de inundações pode ser vista por dois pontos de vista: quando se tem um
longo período entre as cheias ou quando se tem inundações freqüentes. Um longo
período sem inundações faz com que as pessoas que ocupam áreas de riscos esqueçam
que estão suscetíveis e deixem de se prevenir. Já quando se tem períodos curtos entre as
cheias, é possível que danos anteriores não tenham sido devidamente reparados e por
isso, os prejuízos podem ser potencializados.
Uma taxa de crescimento de nível d’água elevada reduz o tempo disponível para
alerta e dificulta os atendimentos emergenciais, além de aumentar os danos a bens
móveis que poderiam ser transferidos para locais mais altos.
A carga de poluentes incorporada nas águas das enchentes, seja devido a presença de
organismos patogênicos ou de substâncias tóxicas, intensifica os riscos à saúde da
população. O transporte de sedimentos e detritos também piora o quadro de danos
das enchentes, pois atrapalham a fluidez das águas das chuvas.
Outro fator que está diretamente relacionado com a magnitude dos danos é o tipo de
ocupação do solo. Uma região com muito comércio terá um determinado tipo de
prejuízo, diferente de uma área residencial. Áreas residências com características
distintas (região com muitas casas ou com muitos prédios) ou com poderes aquisitivos
desiguais também vão sofrer prejuízos distintos. A densidade populacional também irá
interferir na intensidade dos danos, assim como a sazonalidade da ocupação (áreas
turísticas, por exemplo).
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Os prejuízos diretos se referem às perdas causadas pelo contato direto com a água da
inundação e com os detritos, seja no momento da inundação ou após o término do
fenômeno. Enquanto que são considerados indiretos aqueles resultantes da interrupção
de atividades econômicas ou demais perdas que não tiveram contato direto com as
águas das inundações.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
TANGÍVEIS INTANGÍVEIS
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Projetos de drenagem não podem garantir uma proteção completa contra as enchentes,
por ser economicamente inviável; portanto, especialistas projetam considerando riscos
de inundações aceitáveis para cada situação. Esse risco é entendido na Engenharia de
Recursos Hídricos como a probabilidade de um determinado evento chuvoso ser
igualado ou superado.
Os projetistas têm uma gama de medidas técnicas que permitem diminuir os danos
causados pelas enchentes e devem aliá-las a ações de cunho social, econômico e
administrativo. Para proteger a população recomenda-se que estudos analisem qual deve
ser a medida ou conjunto de medidas com maior eficiência frente aos benefícios e
custos marginais e ao risco de inundação aceitável.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
WALESH (1989 apud CANHOLI, 2005) abordou as medidas estruturais sob a seguinte
ótica de classificação, as que seguem um “conceito de canalização” e um “conceito de
reservação”. O conceito de canalização trata da prática mais tradicional de projetos de
drenagem, exercida por anos em todo o mundo, que visa a remoção rápida dos
escoamentos. Já o conceito de reservação refere-se a um conceito mais moderno de
drenagem, que busca aproximar as soluções de drenagem às respostas naturais das
bacias, tendo como fundamento incrementar o processo de infiltração e conter
temporariamente o escoamento para amortecer os picos de vazão. A figura 2.8
apresenta, de forma esquemática, as diferenças entre esses conceitos no hidrograma da
bacia.
Figura 2.8 - Ilustração esquemática dos conceitos de canalização e reservação (CANHOLI, 2005)
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
As bacias de retenção são reservatórios que contêm água em períodos secos e que são
projetados para um aumento do nível d’água durante ou imediatamente após as chuvas e
podem ter outras finalidades como recreacionais, paisagísticas, entre outras. As bacias
de detenção são áreas normalmente secas durante o período de estiagem. A figura 2.9
ilustra o perfil destes reservatórios e permite visualizar seus funcionamentos, já a figura
2.10 mostra exemplo de reservatório de detenção com uso esportivos em épocas de
estiagem.
N.A.
N.A. enchentes Válvula de
permanente controle
Bacia de Retenção
N.A.
enchentes
Bacia de Detenção
Figura 2.9 - Perfil esquemático das bacias de detenção e retenção (CANHOLI, 2005)
Figura 2.10 - Bacia de detenção com fins esportivos, Porto Alegre/RS (TUCCI, 2005)
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
O custo destas obras pode ser elevado e implicar no uso de grandes espaços livres,
podendo vir a ser inviável em áreas densamente povoadas, que necessitem de
desapropriação para implantação destes sistemas. É ideal para bacias que possuem áreas
livres, como praças ou quadras esportivas, que possam acolher estes reservatórios.
Os reservatórios in situ são de grande valia para o amortecimento das cheias quando
locados de forma distribuída na bacia, nos pontos críticos de geração de escoamento.
Uma desvantagem da reservação em áreas particulares é que, devido aos custos, os
proprietários podem não realizar adequadamente a manutenção, o que prejudicaria o
funcionamento do sistema.
O objetivo destes reservatórios é retardar o escoamento das águas pluviais para a rede
de drenagem, reduzindo, assim, o pico das cheias e permitindo a distribuição da vazão
no tempo. No entanto, é preciso cautela na operação destes dispositivos, pois existe a
possibilidade de ampliação dos picos de cheia a jusante devido a possibilidade de
simultaneidade dos diversos hidrogramas afluentes (DEBO, 1989, apud CANHOLI,
2005).
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
A canalização e a retificação dos rios foram práticas bastante comuns durante anos, pois
promovem um aumento de eficiência de escoamento e, como neste período não se
enxergava a bacia hidrográfica como uma unidade, não havia uma preocupação de
análise do comportamento destes dispositivos a jusante. Estas medidas aceleram a
velocidade das águas que, retiradas mais rapidamente de um ponto, vão se acumular em
outro, mais adiante, com maior intensidade. Isto é, ou causam novos transtornos ou
agravam os alagamentos em uma outra área, sem efetivamente solucionar os problemas
das inundações.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Os diques são estruturas laterais de terra com enrocamento ou de concreto que permitem
uma proteção localizada a regiões ribeirinhas. Sua performance é reduzir a seção de
escoamento para uma dada vazão de cheia, confinando o fluxo no leito do rio, o que
pode provocar em um aumento de velocidade e na transferência das cheias para jusante,
como mostra a figura 2.11.
Figura 2.11 - Ilustração dos efeitos dos diques em uma bacia hidrográfica (COSTA e TEUBER, 2001)
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Existem dispositivos que além de reduzir as vazões de pico para o sistema de drenagem,
permitem a recarga dos aqüíferos e até mesmo um possível aproveitamento das águas
reservadas para usos secundários. Estes dispositivos compõem parte da visão moderna
de combate a cheias urbanas e são implantados a fim de promover um aumento de
áreas de infiltração e percolação8 nas bacias, minimizando os efeitos negativos da
urbanização. Como exemplo, tem-se superfícies de infiltração, valetas ou valos de
infiltração, bacias de percolação e pavimentos permeáveis.
8
Infiltração é o processo de transferência do fluxo da superfície para o interior do solo e percolação refere-se ao escoamento através
da camada não saturada do solo até o lençol freático (zona saturada).
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Controle de
enchentes
Controle de
Recreação
enchentes
Controle de Paisagem
Recreação
enchentes Outros usos
Controle de Paisagem
Recreação Controle de
enchentes Outros usos
Paisagem qualidade da
qualidade da Mananciais
água urbanos
(water harvesting)
Figura 2.12 - Evolução da utilização de obras de detenção em centros urbanos (CANHOLI, 2005)
De acordo com ASCE (2001), não há uma BMP pré-determinada para cada situação. É
preciso avaliar diversos fatores para decidir qual BMP (em alguns casos, quais BMPs) é
apropriada para cada local. Além disso, cada BMP tem vantagens e desvantagens que
precisam ser consideradas. Os principais fatores que devem ser levados em
consideração para a escolha de uma BMP são a disponibilidade de espaço, os tipos de
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Uma maneira de minimizar os danos causados pelas cheias urbanas é através de seguros
contra inundações, que permite a indivíduos ou a empresas uma proteção econômica
para eventuais perdas físicas. RIGHETTO e MENDIONDO (2004) analisaram a
pretensão de pequenos comerciantes do centro de São Carlos, São Paulo, quanto aos
seguros contra enchentes e concluíram que o prêmio que eles estariam dispostos a pagar
é baixo em relação ao total de mercadorias a serem seguradas e, em alguns casos, em
relação às perdas sofridas pela enchente.
No Brasil, esta prática é mais comum quando se trata de seguros sobre veículos, que
quando são contratos compreensivos, ou seja, incluem casos de incêndio, roubo, furto e
colisão, também garantem a cobertura para sinistros ocasionados por alagamentos.
As construções a prova de enchentes (flood-proofing) são soluções adotadas
isoladamente por habitações localizadas nas áreas de risco a fim de reduzir os danos
potenciais às estruturas e aos bens móveis. Para que esta medida seja eficaz em caso de
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
As modificações nas construções para evitar a entrada da água nas partes internas
podem ser dividas em: permanentes (diques, comportas no acesso a residências, pilotis,
bombas para esgotamento de áreas internas, muretas, fechamentos de aberturas com
alvenaria, etc.), de contingência (amparos, vedações dos esgotos com registros nas
tubulações de saída e tampões rosqueáveis nos ralos internos, paredes móveis, etc.) e
emergenciais (sacos de areia, enchimentos de terra, barreiras de lenha). A figura 2.13
apresenta uma ilustração com alguns exemplos de flood-proofing.
Figura 2.13 - Exemplos de soluções adotadas em construções a prova de enchentes (LIMA, 2003)
29
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Um mapa de alerta deve ser preparado para dar assistência à este sistema, contendo as
cotas em cada esquina da área de risco, fazendo referência às cotas da régua linimétrica
instalada no curso d’água (TUCCI, 2005). Este mapa deve ser divulgado através de
Programas Preventivos junto à população para auxiliar na convivência com a inundação
durante sua ocorrência, pois quando o alerta for dado informando o nível d’água, a
população terá ciência de sua situação e poderá tomar às devidas providências.
FASE DE ALERTA
FASE DE MONITORAMENTO
Envio do alerta para os meios de
comunicação e para as autoridades
Envio de dados em tempo real
competentes, como Defesa Civil,
via telemetria
Corpo de Bombeiros, Administrações
municipais, etc.
Centro de Análise:
- Recepção e processamento dos dados;
- Previsão de níveis de enchentes com
antecedência através de modelagem
matemática; Ações de mitigação dos danos das
- Avaliação da situação. enchentes, como isolamento de ruas e áreas
de risco e remoção da população e
transferência de bens móveis para local
seguro. Atendimento à emergências.
FASE DE MITIGAÇÃO
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Tem alto risco de inundação.Trata-se de uma região que deve ficar liberada para funcionar
Zona de hidraulicamente e, portanto, deve ficar desobstruída.
passagem de
cheias
(Faixa 1) Em áreas já ocupadas não deve ser permitida nenhuma nova construção nessa faixa e as edificações
já existentes devem ser realocadas.
Zona com Os usos do solo para esta faixa devem ser: áreas de lazer, habitações com mais de um piso, áreas de
restrições indústrias e comércio, como estacionamento, armazenamento de equipamentos e maquinários de
(Faixa 2) fácil remoção e serviços básicos, como linhas de transmissão, ruas e pontes desde que corretamente
projetadas. (WRIGHT-MCLAUGHEIN ENGINEERS CONSULTANTS, 1969, apud VANNI,
2004)
São atingidas apenas por cheias excepcionais, com período de retorno de 50 a 100 anos.
Zona de baixo
risco (Faixa 3) Existe uma pequena possibilidade desta faixa sofrer com os danos causados pelas inundações,
portanto não necessita de regulamentação quanto às cheias. Pode ser ocupada por residências ou
estabelecimentos em geral.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Esses mapas, definidos por TUCCI (2005) como mapas de planejamento, ilustram áreas
atingidas pelas enchentes de acordo com o tempo de retorno desejado. A elaboração de
manchas de inundação para cenários distintos de medidas de combate a enchentes
auxilia o tomador de decisão na identificação da medida mais adequada para mitigar os
prejuízos do local em questão.
Os níveis de inundação podem ser obtidos a partir de modelos hidráulicos, que segundo
MESSNER et al. (2007) podem ser agrupados nas seguintes categorias:
- Modelos de células de armazenamento: ex. FLOODSIM, Lisflood;
- Modelos 1D: ex. ISIS, Mike 11, HEC-RAS;
- Modelos 2D: ex. Telemac2, Mike 21, RisoSurf, TrimR2D.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Diferentemente do perigo, que é inerente a uma determinada situação, o risco pode ser
reduzido ou até mesmo controlado, alterando-se sua probabilidade de ocorrência ou
gerenciando suas conseqüências (ZONENSEIN, 2007). Por esta razão, a análise de risco
é relevante para a administração dos impactos das cheias urbanas.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
RISCO
Probabilidade: Conseqüências:
chance de ocorrência do perigo resultado da interação entre
(Tr, por exemplo) exposição e vulnerabilidade
Vulnerabilidade: Exposição:
características que potencializam quantidade de elementos que
os danos a um sistema podem ser afetados pelo perigo
Susceptibilidade: Valor:
propensão a um elemento importância do elemento
(pessoa, bem) a ser afetado (econômica, por exemplo)
Figura 3.1 - Relação entre os componentes que definem o risco (ZONENSEIN, 2007)
A quantificação dos prejuízos pode ser feita tomando como base duas linhas principais,
a saber: a sintética e a histórica9. A abordagem sintética descreve danos potenciais e não
danos reais, ao contrário da abordagem histórica, cujos prejuízos refletem um
determinado evento ocorrido. Os danos potenciais são mensurados através da definição
de padrões representativos da área em estudo como, por exemplo, estabelecimento de
tamanho, componentes do conteúdo e padrão de acabamento típicos para propriedades
residenciais de uma dada região.
Para HANDMER (1986, apud SALGADO, 1995) algumas das vantagens do tipo de
abordagem sintética são: a estimativa dos prejuízos para qualquer cheia, em bases
9
MACHADO et al. (2005) classificou as abordagens de forma distinta dos demais autores. Para eles, a avaliação dos danos pode ser
elaborada através de uma avaliação a priori, com construção de cenários dos problemas causados pelas enchentes, ou através de
uma avaliação a posteriori, que toma por base inventários dos prejuízos dos locais afetados.
37
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
TORTEROTOT (1993, apud LIMA, 2003) sugeriu, para evitar tendenciosidade nos
dados pesquisados com famílias e empresas sinistradas, que o evento de cheia
importante não devesse ser nem muito recente, para evitar que os prejuízos fossem
superestimados e para que todos os danos pudessem ser percebidos, nem muito antigo
(com mais de cinco ou seis anos de ocorrência), para que não houvesse esquecimento ou
mudança das pessoas sinistradas.
MACHADO et al. (2005) apresentam uma outra abordagem para avaliação dos
impactos das enchentes, as metodologias conceituais, como métodos de avaliação
contingente e hedônica. Estas técnicas de valoração ambientais têm como princípio a
“hipótese de que o controle de inundações é um bem para o qual existe uma certa
38
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
demanda na sociedade, conduzindo uma disposição a pagar pelo mesmo”, por isso pode
ser refletido pelo preço de mercado. A vantagem principal destes métodos é “a
capacidade de incorporar à estimativa de prejuízos causados por inundações tanto danos
tangíveis quanto intangíveis”.
A elaboração de pesquisas pode reunir dados para caracterizar a região em estudo, como
as propriedades residenciais, por exemplo, ou para levantar dados históricos de
enchentes. Levantamento de campo junto a população requer tempo e dinheiro para ser
realizada, portanto recomenda-se que as pesquisas busquem coletar ambas as
informações (Mc BEAN et al., 1988; DUTTA e TINGSANCHALI, 2003).
39
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Um ponto positivo deste tipo de coleta de informações é que esta retrata os danos reais
para a bacia em estudo de forma abrangente. No entanto, caracterizar os danos desta
maneira pode ser inviável quando se trata de bacias grandes e com alta taxa de
concentração urbana (SALGADO, 1995). Uma alternativa seria o levantamento por
amostragem e com uma prévia delimitação da área em estudo em setores homogêneos, a
partir de cartografia de inundação, como aconselha TORTEROTOT (1993, apud LIMA,
2003) e USACE (2006), pois acreditam que desta forma é mais provável se obter dados
mais precisos.
Devido ao tempo e aos recursos que consomem, USACE (2006) recomendou o uso de
entrevistas apenas para quantificação de danos à indústrias, setores comerciais e
instituições, que não possuem tantas informações disponíveis na bibliografia e que não
podem ser observados de forma padronizada devido às grandes variações dentre essas
unidades.
TORTEROTOT (1993, apud LIMA, 2003) alerta que a coleta de dados pode tomar
rumos diferentes dependendo da maneira como é concedida a entrevista (por telefone,
correio ou entrevista direta) ou da amostragem das pessoas e/ou organismos
interrogados. USACE (2006) chamou atenção para a elaboração do questionário em si.
Alertou para o tamanho do questionário, pois pesquisas longas podem ter sua qualidade
comprometida e chamou a atenção também para perguntas não bem definidas, que
podem levar a questões não respondidas ou a respostas incorretas, acabando por sugerir
que seja feito um teste da pesquisa em uma escala menor para saber como está
funcionando na prática, antes de começar de fato a sua pesquisa.
Pesquisa junto a especialistas pode ser uma maneira de mensurar os impactos causados
pelas enchentes. A essência deste tipo de levantamento é reunir uma equipe de
especialistas em cada assunto em questão, para coletar informações de caracterização e
dimensionamento dos danos. Por exemplo, profissionais da área da construção civil
podem avaliar os possíveis danos causados às propriedades, de acordo com a altura de
inundação.
40
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Segundo SALGADO (1995), a quantificação dos danos desta maneira tem um caráter
subjetivo e depende da experiência do profissional. Uma sugestão para minimizar isto é
estabelecer um índice médio das informações recebidas.
41
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Profundidade
Profundidade
(a) (c)
Descarga Danos
(b) (d)
Probabilidade
Figura 3.2 - Gráficos conceituais da inter-relação das funções hidrológicas, hidráulicas e econômicas
(PENNING-ROSWELL e CHATTERTON, 1977)
Devido a demanda, diversos softwares foram desenvolvidos, ao longo dos anos, por
diferentes países, para auxiliar a avaliação dos danos causados pelas enchentes, a citar:
42
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
43
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Uma das técnicas usadas para calcular danos diretos às propriedades residenciais é
através de fórmulas de custo agregado. JAMES e LEE (1971) desenvolveram uma
equação simplificada para o cálculo dos danos, incluindo estrutura, conteúdo e áreas
adjacentes, como jardins. Os autores consideraram que os custos dos prejuízos têm um
crescimento praticamente linear com a altura de inundação. Na equação apresentada, os
custos dos danos diretos seriam estimados relacionando o valor de mercado das
propriedades da área atingida, com a altura de inundação e um fator multiplicador,
determinado pela análise de eventos históricos de cheias. Essa metodologia foi utilizada
no Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê - Bacia
Superior do Ribeirão dos Meninos (DAEE, 1999) para quantificar os danos diretos às
edificações.
44
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
embasamento destas equações pode não garantir uma quantificação consistente quando
aplicadas em eventos futuros.
Onde: $DRc = Danos diretos ao conteúdo; $DRs = Danos diretos à estrutura; FH = Altura de inundação (m);
FA = Área inundada (m2) e C = Tempo de limpeza total – homem/ dias/residência
45
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
LIMA (2003) e MACHADO et al. (2005) elaboraram curvas de prejuízo para setores
habitacionais aplicando questionários junto a moradores de área inundadas no
município de Itajubá em Minas Gerais, para servir de referência empírica, ao mesmo
tempo em que buscaram generalizações, como distinção por classe sócio-econômica,
para garantir a aplicabilidade destas curvas em outros locais.
Existe uma discussão, levantada por alguns autores, sobre se os elementos danificados
pelas enchentes devem ser contabilizados pela reposição ou pela restauração da
condição pré-inundação dos bens. A primeira idéia tomar-se-ia como base o preço de
um novo objeto similar. No entanto, esta maneira pode superestimar os danos reais, uma
vez que a depreciação dos bens atingidos seria negligenciada.
Muitos autores sugerem que a mensuração dos itens para condições pré-inundação pode
ser feita considerando a depreciação sobre o valor do item novo. Como não é
46
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
USACE (2006) propõe que a análise econômica dos conteúdos das residências avalie as
perdas pela disponibilidade a pagar pelos seus bens antigos, por exemplo, quanto uma
família pagaria por uma televisão da mesma marca, modelo e idade que a sua, e que
estivesse funcionando tão bem quanto. Porém, reconhecem que esta estimativa
conceitual pode ser impraticável. Ainda segundo esta publicação, experiências passadas
mostraram como razoável a estimativa de valor dos conteúdos através da razão valor de
conteúdos e valor de estrutura.
47
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
CANHOLI (2005) sugeriu que na ausência de informações, deve-se usar alguns valores
típicos, cotados em Janeiro de 2004: para áreas industriais, R$ 200,00/m², por evento de
inundação e para áreas comerciais, cerca de R$ 300,00/mês para escritórios e R$
600,00/mês para lojistas, por unidade de negócio (valores estimados considerando
quanto os proprietários estariam dispostos a pagar para ficarem livre das cheias).
57,1
Danos/m² (R$/m²)
Danos/m² (R$/m²)
250 60 53,58
211,67 216,67 218,43 48,35
196,92
200 179,57
40 34,46
150 117,15
100
20
10,57
50 5,17
0 0
0-0,5 0,5-1,0 1,0-1,5 1,5-2,0 2,0-2,5 2,5-3,0 0-0,5 0,5-1,0 1,0-1,5 1,5-2,0 2,0-2,5 2,5-3,0
80 70,69
Danos/m² (R$/m²)
62,5 62,88
60
40
20 12,01 11,85
0
0-0,5 0,5-1,0 1,0-1,5 1,5-2,0 2,0-3,0
48
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
DUTTA et al. (2003) modelaram as perdas causadas ao tráfego para a Bacia do Rio
Ichinomiya, no Japão, através do desvio do trânsito, utilizando informações de
origem/destino. Os resultados deste modelo mostraram que os custos com atrasos são
significantemente maiores que os custos com combustíveis e que o custo total relativo a
interrupção do tráfego é baixo se comparados com o custo total das cheias urbanas,
ficando em torno de 4% neste estudo. Os autores atribuem a curta duração da inundação
e ao fato de poucas vias principais terem sido inundadas.
49
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
DAEE (1999) adotou alguns valores específicos, revisados em CANHOLI (2005), para
quantificação dos custos com a redução da velocidade e pelo tempo perdido nas
principais vias da Bacia do Alto Tietê.
50
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Mas, como a área estudada possuía sistema de alerta de enchentes, o autor ponderou que
apenas 10% dos veículos seriam danificados. URS (2005) também considera a mesma
premissa de determinar o número de veículos atingidos pelas enchentes através do
número de veículos por propriedade.
51
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Alguns autores interpretam a morte por conseqüência das enchentes como um dano
intangível que não deve ser valorados por questões sócio-religiosas. No entanto,
GRIGG et al. (1975, apud SALGADO, 1995) classificam este prejuízo como tangível
direto, uma vez que existe respaldo jurídico de indenizações “para questões relacionadas
à morte de pessoas por negligência médica, acidentes de trânsito, etc.”. Compartilhando
da mesma linha de pensamento, MISHAN (1976) apresenta expressões para o cálculo
do valor econômico da vida de uma pessoa, analisando, no presente, a sua esperada
renda futura.
52
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
KATES (1965, apud GRIGG e HELWEG, 1975) propõem, então, que a avaliação
destes prejuízos seja feita considerando um percentual sobre os danos diretos, de acordo
com o tipo de ocupação, conforme mostra o quadro 3.3.
Quadro 3.3 - Porcentagem sobre os danos diretos, para cálculo dos danos indiretos
Percentual sobre os
Tipo de ocupação
danos diretos
Residencial 15
Comercial 35
Industrial 45
Utilidades 10
Equipamentos Públicos 34
Agricultura 10
Rodovias 25
Ferrovias 23
Fonte: KATES, 1965 (apud GRIGG e HELWEG, 1975)
Segundo DAEE (1999), “levantamentos realizados no Brasil, por VIEIRA (1970) e pela
COPLASA, para DAEE (1969), os danos indiretos obtidos são da ordem de 20% dos
danos diretos totais”.
LEZCANO (2004) propõe uma metodologia que permite avaliar o efeito da implantação
das medidas de combate a cheias sobre o valor de mercado dos imóveis em áreas de
risco. Para calcular esses benefícios econômicos utilizou a metodologia de avaliação
hedônica, através de equações de regressão múltipla, considerando variáveis estrutural,
locacional, de infra-estrutura, ambiental e de inundação (tempo de recorrência). A
aplicação do modelo na Bacia do Rio Atuba, na Região Metropolitana de Curitiba,
Paraná, gerou resultados satisfatórios, sendo observada uma valorização de,
aproximadamente, 17% nos preços das propriedades com a alteração do tempo de
recorrência dos projetos de drenagem de 10 para 100 anos.
SALGADO (1995) formulou uma rotina de cálculo para o custo com limpeza de
logradouros, mas que necessita algumas informações muito difíceis de serem obtidas,
53
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
principalmente no Brasil, onde não existe uma cultura de registro de dados. Segundo ele
através da taxa de detritos a serem removidos após um evento e do custo de limpeza,
incluindo serviços de coleta, carga e transporte dos detritos, seria possível quantificar
este prejuízo.
Para cálculo do custo de limpeza de residências o autor supracitado propõe que seja
estimado através do tempo gasto neste serviço em função da altura de inundação e da
renda média dos moradores da região. PENNING-ROSWELL e CHATTERTON
(1977) assumem um tempo de 20 horas por residência, para limpeza de pequenas alturas
de inundação e 15 horas por cômodo, para inundações mais severas. URS (2005)
utilizou o valor de $ 4.000,00 (dólar australiano) por domicílio para quantificar os
custos com limpeza de residências, baseado nos valores encontrados em sua pesquisa.
54
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
É preciso tomar cuidado para que não haja dupla contagem quando custos indiretos são
incorporados. (SMITH, 1994)
Danos Intangíveis
SALGADO (1995) propõe que “os benefícios associados à redução destes prejuízos
deva ser considerada na avaliação do projeto, pelo menos de forma qualitativa”.
55
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
4. METODOLOGIA PROPOSTA
Número de fatores e/ou nível de detalhe Número de fatores e/ou nível de detalhe Número de fatores e/ou nível de detalhe
(a) (b) (c)
Figura 4.1 - Gráficos conceituais que representam os efeitos do aumento do número de variáveis na
confiabilidade, no custo e na facilidade de tomada de decisão
56
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
como ilustra a figura 4.2. A partir de um determinado ponto, o ganho com a qualidade
passa a não justificar o custo, além do mais, o nível de detalhes cresce, dificultando a
tomada de decisão.
Qualidade
Decisão
Custo
Facilidade
O presente estudo também considerará apenas a altura de inundação nos seus cálculos;
porém, irá auferir, de forma objetiva, uma quantidade mais abrangente de prejuízos.
Para isso, entretanto, aproximações e premissas far-se-ão necessárias para tornar
aplicável e funcional a metodologia proposta, conforme discriminadas na seqüência.
O objetivo da presente dissertação é avaliar os custos dos prejuízos das cheias urbanas,
para fomentar estudos de viabilidade de projetos de drenagem, através da análise de
cenários sem e com intervenções, podendo também envolver um estudo comparativo
das possíveis soluções de melhoria para região. Para tal, busca elaborar uma modelagem
matemática para gerar as curvas nível-prejuízo, ou seja, relacionar as alturas de
57
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
inundação com os prejuízos causados pelas cheias em áreas urbanizadas, usando como
ferramenta base o mapeamento das áreas inundáveis dos distintos cenários.
Evento máx.
provável
TR 100
Evento de
projeto
Danos ($)
TR 10
Área sob a curva probabilidade x danos
representa o valor esperado anual
Evento que começam
os danos
TR 2
Probabilidade
Figura 4.3 - Exemplo de curva probabilidade x danos e do cálculo do valor esperado anual (VEA)
O VEA expressa os custos com enchentes distribuídos ao longo dos anos, baseado na
média dos danos potenciais anuais causados por eventos de diversas magnitudes.
58
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Quanto mais eventos para caracterizar o VEA, melhor, mas este nível de detalhes pode
não ser ideal, como já discutido anteriormente. Para a elaboração da curva são
necessários, no mínimo (QUEENSLAND GOVERNMENT, 2002):
59
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
n
Bt − Ct n
BLt
VPL = ∑ = ∑ (1 + i ) (Eq. 4.1)
t =0 (1 + i ) t t =0
t
Sempre que VPL for positivo, a execução do projeto é viável. Na escolha de alternativas
de projeto, a preferência é do que apresentar o maior VPL, “desde que as vidas úteis dos
projetos sejam iguais ou tenham sido devidamente ajustadas” (SALGADO, 1995).
A taxa interna de retorno (TIR) é a taxa que iguala a zero o valor presente líquido de um
projeto. Este método de análise econômica representa a rentabilidade média do recurso
investido no projeto durante a sua vida útil. A fórmula de cálculo da TIR é:
n
Bt − Ct
∑ (1 + r )
t =0
t
= 0 (Eq. 4.2)
60
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
61
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Estas manchas podem ser manchas históricas ou manchas construídas na prática, onde
se identificam pontos críticos e níveis de alagamentos, comum nas Defesas Civis e
Corpos de Bombeiro de áreas sujeitas a inundação. No entanto, a utilização deste tipo de
informação limita a possibilidade de análise de investimentos em projetos de drenagem,
uma vez que não se consegue avaliar a melhoria conseguida pela implantação de
projetos em cenários futuros. No entanto, estas manchas servem para uma análise mais
expedita dos prejuízos.
Este modelo hidrodinâmico foi escolhido por esta dissertação, para gerar as alturas de
inundação em bacias urbanas, por entre outras razões, a sua capacidade de representar o
espaço urbano, o escoamento superficial de eventos chuvosos nestas áreas e, portanto,
as cheias na bacia.
Portanto, o MODCEL é adequado para aplicação na proposta desta dissertação que tem
como objetivo comparar os custos das enchentes para cenários distintos: sem e com
62
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
intervenções no sistema de drenagem. A área de estudo e sua rede de drenagem são sub-
divididas em células de escoamento, que formam um mosaico representativo do espaço
modelado. Esta divisão em células reúne áreas com características hidrológicas e
hidráulicas semelhantes.
As células e seus tipos de ligação são divididas por tipos, em função das suas
características, permitindo ao modelador simular a realidade do escoamento das chuvas
nas bacias urbanas. O tipo de células define as características do armazenamento da
água e a possibilidade de recebimento de água de chuva ou não. Já o tipo de ligação
define qual relação hidráulica será utilizada para simular o escoamento entre as células
comunicadas pela ligação.
63
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
A figura 4.6 mostra a representação por células de uma dada região, exemplificando os
tipos de células de escoamento existentes em uma situação típica da paisagem urbana,
mostrando a capacidade do MODCEL de modelar topograficamente a bacia.
Célula de
Encosta
Células de Planície
Célula de
Vertedouro
Figura 4.6 - Ilustração da divisão e troca d’água entre as células em um corte da bacia
Os tipos de ligações entre as células obedecem a leis hidráulicas especificas para assim
reproduzir no modelo o tipo de escoamento desejado pelo modelador. As principais
ligações existentes no modelo são:
64
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
• Ligação Tipo Bueiros. Esta ligação possibilita a troca de vazões entre células
superficiais e células subterrâneas (tipo galeria). As equações utilizadas
representam o escoamento em um vertedouro, ao redor da borda do bueiro,
quando livre, ou como orifício, através das frestas da grade do bueiro, quando
afogado.
• Ligação Tipo Galeria, com escoamento à superfície livre ou sob pressão.
• Ligação Tipo Entrada de Galeria, que representa a transição de escoamento
entre trechos de canais e entradas de galerias, usualmente com contração do
escoamento.
• Ligação Tipo Saída de Galeria. Representa a transição entre saídas de galerias
e trechos de canais, usualmente com expansão do escoamento.
• Ligação Tipo Descarga de uma Galeria em Rio, funcionando como
vertedouro, livre ou afogado, ou orifício, para galerias que chegam a um rio em
cota superior ao fundo deste, por uma das margens.
• Ligação Tipo Laboratório, através de equação cota x descarga obtida em
modelo, para o caso de soleiras ou estruturas especiais calibradas em
laboratório/modelo reduzido.
• Ligação Tipo Bombeamento, simulando o bombeamento de vazões entre duas
células, a partir de uma cota de partida.
• Ligação Tipo FLAP, funcionando como este tipo de comporta de sentido único
de escoamento.
Mesmo onde a topografia do solo urbano é plana, as células apresentam uma diferença
de cotas provocadas pelas áreas construídas. A cota da rua, tomada como fundo da
célula tem um desnível até a cota da calçada, após se vencer a altura do meio fio. Da
calçada até o interior das construções, usualmente encontram-se alguns degraus, pois
casas e portarias dos prédios não ficam ao nível do calçamento. Portanto, não é
65
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
- nível das ruas: é tomado como o fundo das células urbanas, ocupa um dado
percentual da área de armazenamento da célula e abrange apenas a área das próprias
calçadas;
- nível das calçadas: é considerada a uma determinada altura a partir do nível das ruas.
Após a definição deste valor, entra-se com os dados no modelo, para que este
compreenda esta diferença de cotas e considere ocupando outro percentual da área de
armazenamento da célula. Neste patamar encontram-se também as áreas de praças,
parques, jardins, quintais, estacionamentos, entre outras, que não correspondam a
edificações.
- nível das edificações: é determinado com um valor acima do nível das calçadas.
Supõe-se a existência de degraus entre a calçada e a edificação. É considerado
ocupando o percentual restante da área de armazenamento da célula, que
complementa os percentuais adotados nos dois primeiros níveis citados acima.
66
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
0,35
0,15
67
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
A figura 4.7 mostra que para alturas de inundação (h) de 0 à 0,15m, as águas ficam
concentradas nas ruas, para 0,15 ≤ h ≤ 0,50m, as calçadas ficariam submersas e as águas
chegariam às soleiras das construções. Somente para h ≥ 0,50m é que as construções
seriam atingidas, passando a contabilizar prejuízos.
Nesta faixa, a água fica restrita às ruas, portanto, só afeta a passagem de veículos
0 ≤ h < 0,15 nas vias, pois com o acúmulo das águas há uma tendência natural de redução da
velocidade por questões de segurança.
A inundação ultrapassa o meio fio e afeta a rotina dos transeuntes. Será a partir da
0,15 ≤ h < 0,30 altura de submersão de 15 cm que se considerará a população sujeita a doenças de
veiculação hídrica. A situação do tráfego só tende a piorar.
0,30 ≤ h < 0,50 É nesta faixa que inicia os danos materiais aos veículos.
0,75 ≤ h < 1,00 Os danos têm um crescimento significativo a partir desta faixa de inundação.
68
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
O cálculo dos custos das doenças de veiculação hídrica considerará apenas o custo
médio de tratamento do enfermo. O tempo perdido de trabalho por afastamento em
razão da doença não será considerado, uma vez que já seria um desdobramento da
própria doença, sendo um efeito de cunho indireto, de grande variabilidade e difícil
mensuração.
Para suprir a falta de dados relativos a quantidade de doentes se optou por utilizar, como
medida alternativa, a porcentagem de população, atingida pela inundação em uma altura
de lâmina d’água superior a 15 cm, que tenha acesso inadequado a esgoto sanitário e à
coleta de lixo. Este dado é obtido pelo Censo do IBGE. Apesar desta premissa
superestimar a quantidade de enfermos, pode ser adotada, pois considera que estas
pessoas estão sujeitas a este tipo de situação, devido ao quadro em que se encontram.
69
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
tx.incid./100.000Hab.
20
15
10
10
0
0
75│76│77│78│79│80│81│82│83│84│85│86│87│88│89│90│91│92│93│94│95│96│97│98│99│00│01│02
75│76│77│78│79│80│81│82│83│84│85│86│87│88│89│90│91│92│93│93│95│96│97│98│99│00│01│02
Figura 4.8 - Incidência da leptospirose no município do Rio de Janeiro, no período de 1975 a 2002
CD = P x TD x CT (Eq. 4.3)
Neste cálculo, o número de doentes está estimado conforme população sem coleta de
lixo ou esgotamento sanitário adequados, provavelmente superestimando os casos de
enfermos, mas não considera transeuntes não locais, que poderiam ser afetados, e
considera apenas a diarréia como doença incidente, o que minimiza os eventuais
exageros.
70
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Prejuízos a edificação
Por se tratar de uma análise sintética dos danos a enchentes, definiu-se que os danos aos
componentes da construção seriam estimados através de um imóvel padrão, residencial,
unifamiliar, de 1 pavimento, de acordo com SALGADO (1995).
Os valores dos custos unitários básicos (CUB) devem ser divulgados mensalmente pelos
Sindicatos da Indústria da Construção Civil, em todo o país, em R$/m² para os
diferentes projetos-padrão definidos pela Norma. Para relacionar este indicador (CUB)
com outras informações da região, buscou-se relaciona-lo com a classe sócio-
econômica, definida pelo Critério de Classificação Econômica Brasil (ABEP, 2003). A
renda média familiar da área em estudo é obtida através do Censo Demográfico, do
IBGE.
71
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Quadro 4.3 - Características principais dos projetos-padrão de residência unifamiliar (NBR 12721/2005),
separados de acordo com as classes propostas por ABEP (2003)
72
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
10
Lembrando que a área inundada construída corresponde a 60% da área total inundada, devido a premissa adotada neste trabalho,
que considera como padrão de urbanização, este percentual como média de ocupação das edificações.
73
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
74
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
OBS.: Este trabalho adotou como critério de majoração do valor final, 15%, para
atender itens não listados, como roupas, gêneros alimentícios, utensílios
domésticos, peças de decoração, etc.
Vale ressaltar que esta aproximação é válida, em termos médios, embora se esteja
desconsiderando que residências com grande histórico de inundações tendem a
modificar a disposição de seus conteúdos de forma que, pelos menos os mais valiosos,
não sejam atingidos por determinados eventos, assim como um dia tenham sido.
Os valores de danos aos conteúdos devem ser informados em R$/m², assim como os
danos a edificação. Por isso, deve-se dividir o valor total dos itens danificados pela
metragem quadrada do imóvel padrão adotado para orçamento (B1 ou B2), 106,44 m²,
como informa o quadro 4.3.
Como os dados orçados se referem aos conteúdos de um imóvel padrão de classe média
(B1 ou B2), para adequá-lo às demais classes econômicas utiliza-se um fator
multiplicador baseado na pontuação adotada em ABEP (2003), apresentados no quadro
4.6. Cabe ao projetista decidir se os itens orçados caracterizam melhor as posses de uma
família de classe média B1, que tem uma renda média maior, ou B2, então, adotar o
fator multiplicador adequado.
75
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
A expansão dos custos para toda a área em estudo deverá ser feita segundo a fórmula:
⎛ 0,50 x CCIP ⎞
CRC = ⎜ x Fm ⎟ x AIC (Eq. 4.5)
⎝ AIP ⎠
As residências que são invadidas pelas águas de inundação necessitam de limpeza e por
causa disso os moradores podem perder horas de trabalho, por questões de higiene e
saúde. O quadro a seguir (quadro 4.7) estabelece uma relação de tempo para limpeza
por pessoa, por metro quadrado, de acordo com a altura de inundação, baseados nos
valores sugeridos por PENNING-ROSWELL e CHATTERTON (1977).
11
Lembrando que a área inundada construída corresponde a 60% da área total inundada, devido a premissa adotada neste trabalho,
que considera como padrão de urbanização, este percentual como média de ocupação das edificações.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
O custo relacionado a perda de horas de trabalho devido à limpeza das residências pode
ser regido pela seguinte expressão:
⎛ RMF ES ⎞
CLR = ⎜ x ⎟ x TL x AIC (Eq. 4.6)
⎝ MR NH ⎠
Assim como em IPEA/ANTP (1997), em cálculos que tenham a renda como parâmetro
utiliza-se o fator Encargos Sociais. O valor de 1,9502 é uma estimativa média do total
de impostos e contribuições obrigatórias pagos pelo empregador que incidem sobre os
salários. O número de horas também é o mesmo adotado no estudo do IPEA/ANTP
(1997), que representa 8 horas por dia, durante 21 dias úteis, média de dias úteis ao
longo dos meses do ano.
12
Lembrando que a área inundada construída corresponde a 60% da área total inundada, devido a premissa adotada neste trabalho,
que considera como padrão de urbanização, este percentual como média de ocupação das edificações.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Quadro 4.8 - Relação entre danos materiais aos veículos e altura de inundação
Altura de
Danos materiais a veículos Custo dos danos
inundação
limpeza do motor de arranque
revisar alternador
limpeza da parte interna (lavagem dos bancos, painéis de portas,
carpetes e troca de forrações)
50 a 75 cm óleo de freio + óleo de motor + óleo de caixa de marcha (drenar, R$ 2.075,00
limpar e colocar novos)
danos a parte elétrica de um modo geral (motor dos vidros
elétricos, faróis,...)
filtro de ar
calço hidráulico
75 a 100 cm R$ 4.915,00
óleo de direção hidráulica
Para lâminas d’água inferiores a 100 cm, os custos dos prejuízos representam os custos
com reparos dos itens listados. Quando a altura de inundação chega a 100 cm em um
veículo, considerou-se perda total. Para manter coerência com os demais cálculos, o
valor deste dano refere-se ao valor de um veículo novo depreciado em 50%.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Pode-se acreditar que exista uma superestimativa no cálculo dos danos a veículos, uma
vez que se está considerando todos estacionados ao nível da rua. Mas por outro lado,
não se está considerando os veículos que trafegam pela bacia, nem os possíveis veículos
estacionados na bacia, que não pertencem aos moradores. Sem deixar de mencionar que
os danos foram orçados tomando como padrão veículos populares de pequeno porte.
Portanto, há uma compensação, que tende a minimizar os eventuais exageros.
Para as finalidades deste estudo, é razoável adotar como simplificação, que todos os
veículos são automóveis. Cogitou-se estimar o volume dos tipos de veículos através da
porcentagem da frota de veículos do estado ou município em questão. Porém, segundo
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
ANTP/RJ, esta premissa agregaria mais erros do que assumir que todos os veículos são
automóveis.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
1,26643
CTC = {[ (0,09543 + − 0,00029v) x ( P x 0,718) ] x E} x VMH x h (Eq. 4.8)
v
⎛ RSM x ES x FA x HP ⎞
CTT = ⎜ ⎟ x NP x VMH x h (Eq. 4.9)
⎝ NH ⎠
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Este capítulo visa mostrar uma aplicação da metodologia proposta e mostrar sua
potencialidade como ferramenta para análise de viabilidade econômica de projetos,
quando aplicada para comparar cenários sem e com intervenções de combate a
enchentes.
A cidade do Rio de Janeiro foi escolhida para abrigar o local de estudo por sofrer
periodicamente com as enchentes, principalmente as causadas pelas chuvas intensas,
típicas de verão. A sua própria geografia confere problemas de drenagem. É cercada por
cadeias montanhosas, íngremes em suas cabeceiras, plana em seu leito, com uma
distância relativamente pequena entre o mar e suas montanhas, e ainda sofre com a
influência da maré. Para agravar a situação, os impactos provocados pelo crescimento
urbano contribuíram para a intensificação da susceptibilidade da cidade e para o
aumento na freqüência das inundações.
A escolha pela Bacia Hidrográfica do Rio Joana, localizada na Zona Norte do Rio de
Janeiro, se deve a duas importantes razões: por esta bacia ser sub-bacia de uma das mais
relevantes bacias da cidade, a Bacia do Canal do Mangue (figura 5.1) e pela facilidade
na obtenção dos dados, já que a Bacia do Rio Joana já foi objeto de diversos estudos do
Laboratório de Hidráulica Computacional, COPPE/UFRJ, inclusive contando com
modelação matemática hidrológica/hidrodinâmica já disponível.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
O Rio Joana nasce junto ao Pico do Andaraí Maior, nas encostas do Grajaú, numa
altitude de aproximadamente 600 m, numa área de mata densa e de vegetação arbustiva
com gramíneas. Neste trecho inicial denomina-se Rio Perdido. Ainda nas encostas do
Grajaú, o Rio Perdido recebe em sua margem direita, o Rio Jacó, passando a se chamar
Rio Joana.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Ora em galeria, ora a céu aberto, passando por alguns trechos sob pontes, o Rio Joana
segue seu percurso junto às principais ruas da bacia. Sua foz localiza-se em frente à
Estação do Metrô de São Cristóvão, encontrando-se com o Rio Maracanã, que dá
origem ao Canal Maracanã e que deságua no Canal do Mangue.
As principais favelas que se localizam nas encostas da bacia do Rio Joana são: Nova
Divinéia (Grajaú); Andaraí, Arrelia e Parque João Paulo II (Andaraí); e Morro dos
Macacos (Vila Isabel).
A bacia do rio Joana conta com duas importantes áreas vegetadas para amortizar as
cheias: a Reserva Florestal do Grajaú, com área de 55 ha e o Parque Recanto Trovador,
antigo Jardim Zoológico da cidade. Mas, infelizmente, estes áreas são insuficiente para
conter os efeitos da transformação antrópica na drenagem natural da bacia,
principalmente nos períodos de chuvas intensas.
Nas áreas de ocupação formal da bacia não existe nenhum local com risco de
deslizamento, por ser uma região onde a ocupação está consolidada há anos.
Atualmente, os problemas de deslizamentos na cidade do Rio de Janeiro se concentram
nos locais de Assentamentos Precários (favelas e comunidades carentes), mas nas
encostas da bacia do Rio Joana, não existe nenhum local com risco iminente de
deslizamento, segundo avaliação da GEO-Rio. Algumas intervenções para conter
eventuais problemas já foram realizadas, como a construção de uma canaleta no Morro
do Andaraí, que capta água das encostas e direciona para o rio.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
A média da precipitação total anual da bacia do Rio Joana é 1245 mm, sendo o mês de
Janeiro o de com maior precipitação média mensal (185 mm), conforme dados
coletados da série de 1977-2006, do posto pluviométrico do Grajaú, do Sistema Alerta-
Rio, da GEO-RIO (Órgão da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro).
Vila Isabel é o bairro mais heterogêneo da bacia em termos de ocupação urbana, pois
apresenta uma parte significativa de sua área com ocupação tipicamente residencial, e
uma outra parte com ocupação tipicamente comercial.
Segundo dados coletados no IPP (Instituto Pereira Passos), órgão da Prefeitura do Rio
de Janeiro, pode-se concluir que a bacia é altamente urbanizada, exceto pelo bairro do
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Grajaú, que ainda possui muita grande área de floresta ainda preservada, conforme
consta no quadro 5.1.
* Estas informações se referem a parte do bairro do Maracanã que faz parte da Bacia do Rio
Joana (45,21% do total).
O rio Joana e seus afluentes, com exceção do rio Perdido, encontram-se bastante
degradados. A contaminação destes rios por esgotos sanitários pode ser facilmente
percebida pela cor e o odor da água desses cursos d’água e comprovada pela figura 5.3.
a. O acúmulo de resíduos sólidos na calha do rio Joana também pode ser notado, e é
ilustrado pela figura 5.3.b que mostra um pedaço de orelhão e tubos velhos sobre um
ponto assoreado deste rio por sedimentos e detritos grosseiros em geral.
(b)
(a)
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Por ser uma bacia hidrográfica em uma área antiga da cidade, pode-se afirmar que o
sistema de drenagem natural da Bacia do Rio Joana foi completamente transformado
pelas intervenções da urbanização. Os principais rios foram canalizados e as ruas
passaram a contar com a rede de drenagem pluvial, ou seja, as alterações foram nos
âmbitos da macro, meso e microdrenagem.
13
As favelas da região fizeram parte do projeto Favela-Bairro da Prefeitura do Rio de Janeiro, que entre outras melhorias, teve a
implantação de rede de drenagem pluvial.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
A renda média mensal dos responsáveis pelos domicílios é mais alta nos bairros do
Grajaú e do Maracanã, conforme apresenta o quadro 5.3. O IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) relativo à dimensão Renda é, segundo IBGE (2000), de 0,9
para a Região Administrativa de Vila Isabel.
Quadro 5.3 - Dados referentes a renda média mensal dos chefes de família
Renda Média Mensal Total (R$) Renda Média por Salários
Bairros
(2000) Mínimos
Andaraí 1.774,71 10 a 14
Grajaú 2.229,92 15 a 19
Vila Isabel 1.868,36 10 a 14
Maracanã 2.377,60 15 a 19
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
5.1.6. Transportes
As principais vias da Bacia do Rio Joana são algumas das mais movimentadas vias do
município do Rio de Janeiro, como Av. Professor Manuel de Abreu, Boulevard 28 de
Setembro, Rua Barão do Bom Retiro, Rua Teodoro da Silva, Rua Visconde de Santa
Isabel e parte da Rua São Francisco Xavier.
A figura 5.4, a seguir, apresenta a rede viária do Município do Rio de Janeiro e sua
classificação em hierarquias (vias locais, coletoras, arteriais e estruturais). O círculo
chama atenção para área em estudo, permitindo visualizar que não passa nenhuma via
estrutural (ou expressa) pela Bacia do Rio Joana.
Vias Estruturais
Vias Arteriais Primárias
Vias Arteriais Secundárias
Vias Coletoras
Vias Locais
Fonte: CET-RIO
Figura 5.4 - Rede Viária do Município do Rio de Janeiro
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Reservatórios de praças
Reservatórios de lotes
Reflorestamento
Calha antiga
Calha nova
Reservatórios de encostas
Figura 5.5 -Mapa com o posicionamento do conjunto de obras proposto (D’ALTÉRIO, 2004)
Quadro 5.5 - Orçamento das obras propostas para a bacia do Rio Joana
Custo da obra
Tipo de obra Local
(Nov/2007)
Reservatórios de Encosta Recanto do Trovador, Rio Jacó, Rio Perdido, Rio Andaraí R$ 11.091.393,33
As alterações nas manchas de inundação da situação atual (sem projeto) para a situação
futura (com projeto) são resultados das atenuações das cheias promovidas pelas obras
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Como diversas funções utilizam dados do Censo do IBGE como parâmetros, estes
foram definidos através da interseção da malha de células, definidas pelo MODCEL,
com a malha de setores censitários, definida pelo IBGE para a Região Administrativa
em questão, Vila Isabel, apresentada na figura 5.8, elaborada por ZONENSEIN (2007).
Ao utilizar as informações agregadas por setores censitários diminui-se os erros de
cálculos frente ao uso desses dados como médios para a toda a bacia.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Figura 5.6 - Mancha de inundação com TR = 10 anos, para o cenário sem intervenções
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Figura 5.7 - Mancha de inundação com TR = 10 anos, para o cenário com o conjunto de intervenções proposto
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Aplicando a função prejuízo para edificação, proposta na equação 4.5, resultada nos
valores apresentados no quadro 5.6, a seguir.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Os resultados da aplicação da equação 4.6, que calcula os danos aos conteúdos das
propriedades residenciais, podem ser verificados no quadro 5.7.
Considerando a posse de veículos por domicílio para a bacia do Rio Joana igual a da sua
área de influência, Região Administrativa de Vila Isabel, 0,7 veículo/domicílio, aplica-
se a metodologia proposta. Os resultados encontram-se no quadro 5.9, a seguir.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Uma vez definido o custo dos prejuízos por evento (quadro 5.12), é necessário o cálculo
do valor esperado anual (VEA), pois é este valor que será considerado na avaliação
econômica das intervenções propostas.
Quadro 5.12 - Quadro resumo dos custos das cheias nas situações atual e futura para a cheia de projeto
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
CUSTOS BENEFÍCIOS
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Os resultados obtidos com a aplicação das funções prejuízo elaboradas pela presente
dissertação apontam os danos às propriedades como os mais significativos,
representando cerca de 70% do total.
Os danos aos veículos podem estar superestimados (cerca de 25% dos custos totais) seja
devido aos valores orçados ou pela premissa de assumir que todos estão estacionados ao
nível da rua.
Os custos associados às doenças de veiculação hídrica são irrelevantes para este estudo,
pois a bacia do rio Joana é bem assistida de infra-estrutura básica. Os valores com este
prejuízo pode ficar significativo em bacias com saneamento e coleta de lixo precários,
portanto não deve ser ignorado.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
Os custos com limpeza de residências estão relativamente altos, mas pode-se ter a ver
com o fato da bacia do rio Joana ser uma bacia de classe média, pois a renda média
familiar é utilizada como principal parâmetro deste cálculo.
Para uma análise mais expedita sugere-se a mensuração apenas dos danos à
propriedades acrescida de um fator de majoração que englobe os demais parâmetros.
Porém, para uma análise mais apurada todos os prejuízos com funções prejuízo
elaboradas por esta dissertação devem ser considerados.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
6. CONCLUSÕES
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
A partir dos resultados que são apresentados, pode-se dizer que esta meta proposta pela
dissertação foi alcançada. Entretanto, considera-se que a metodologia proposta demanda
ainda estudos posteriores, para o adequado ajuste da formulação, dadas as muitas
incertezas que envolvem o tema.
103
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
De um modo geral, como conclusões obtidas por este trabalho, pode-se dizer que as
aproximações consideradas garantem uma modelagem simples, fácil, mas de grande
abrangência, que pode vir a ser uma ferramenta útil para tomadores de decisão, em
situações relativas a levantamento de empréstimos, por exemplo, junto a bancos de
fomento, como BNDES e BID, a fim de viabilizar a implantação de projetos de controle
de cheias. Todas as proposições assumidas por esta dissertação estão fundamentadas,
em sua maioria, em publicações, estudos e pesquisas consolidadas e, algumas, utilizadas
por governos estrangeiros, como se pôde perceber na revisão bibliográfica. Essa
situação, cujo desenvolvimento dos trabalhos desta dissertação sempre manteve como
premissa básica, é o que traz segurança em relação aos resultados obtidos, enquanto
uma etapa seguinte a este trabalho, envolvendo a verificação do modelo proposto para
uma cheia cujos prejuízos tenham sido quantificados, não é conduzida.
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
7. RECOMENDAÇÕES
As hipóteses adotadas, que garantem que a abordagem sintética dos prejuízos das
enchentes seja facilmente aplicada, também agregam incertezas, que merecem ser
abordadas e consideradas em estudos futuros.
Existem alguns pontos da metodologia que sugerem mais dúvidas e que seriam
recomendáveis de se avaliar em estudos futuros, a começar pelos danos ao sistema de
transportes, que são citados, em geral, como muito importantes, em trabalhos de
avaliação de riscos, e aparecem aqui com pouco destaque.
Um outro ponto que merece uma abordagem futura é o cálculo de danos materiais á
veículos. O valor desta parcela parece estar superestimado; no entanto, somente uma
análise mais apuradas com base em dados históricos pode elucidar esta dúvida,
permitindo comparações e ajustes.
Os prejuízos causados por doenças de veiculação hídrica também devem ser analisados
através de um levantamento de campo, para garantir a aplicabilidade da função prejuízo
proposta, mesmo porque os resultados encontrados no estudo de caso são pouco
significativos, por se tratar de uma bacia formalmente instalada, com atendimento
próximo do ideal no que concerne à infra-estrutura básica, podendo ter uma resposta
diferente em regiões menos favorecidas. Estas revisões propostas poderão indicar a
possibilidade de retirar algumas das parcelas de cálculo, no caso mais extremo, ou a
necessidade de revisar a formulação proposta, se o levantamento histórico mostrar ser
importante um aspecto que parece pouco relevante a partir da previsão feita.
Sugere-se para ser objeto de um estudo futuro, a análise do benefício que pode advir de
um conjunto qualquer de obras propostas recai sobre a própria valorização de imóveis, a
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Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
partir da redução do risco nas áreas afetadas por estas obras, e que não foi investigado
neste trabalho, assim como LEZCANO (2004). Nesta mesma linha de raciocínio, além
do retorno social de valorização do espaço urbano, que é um tipo de benefício a ser
considerado, a própria valorização dos imóveis pode gerar um aumento nos valores
cobrados de IPTU, o que pode ser importante na avaliação econômica, fazendo retornar
parte do investimento feito, na forma de maior arrecadação por parte do Poder Público.
E, portanto, ao ser elucidado devem ser incluídos na parcela de benefícios, no momento
da análise de viabilidade econômica.
106
Avaliação Econômica dos Prejuízos Causados pelas Cheias Urbanas
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