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IMPLEMENTAÇÃO METODOLÓGICA PARA QUANTIFICAÇÃO DOS PREJUÍZOS

DECORRENTES DE CHEIAS URBANAS APLICADA AO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DE


MERITÍ

Roberto Motta Gomes

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE


PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Aprovada por:

____________________________________
Prof. Flávio Cesar Borba Mascarenhas, D.Sc.

____________________________________
Prof. Marcelo Gomes Miguez, D.Sc.

____________________________________
Prof. José Paulo Soares de Azevedo, Ph.D.

____________________________________
Prof. Paulo Canedo de Magalhães, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL


AGOSTO DE 2004
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

GOMES, ROBERTO MOTTA


Implementação metodológica para
quantificação dos prejuízos decorrentes de
cheias urbanas aplicada ao município de São
João de Meriti. [Rio de Janeiro] 2004.
X, 101 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc.,
Engenharia Civil, 2004)
Tese – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, COPPE.
1. Modelação Matemática, 2. Cheias Urbanas,
3. Controle de Cheias, 4. Prejuízos.
1.COOPE/UFRJ II. TÍTULO (série)

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Agradecimentos:

Aproveito a oportunidade deste espaço disponível na tese para agradecer a alguns dos
colaboradores deste trabalho. Refiro-me a alguns, pois seria impossível citar todas as pessoas
que colaboraram durante este longo período. Foram mais de três anos, ocorreram diversas
mudanças em minha vida, dentre estas estão o longo tempo que eu morei em Salvador e a
morte de alguém muito especial na minha vida, o meu avô, Euvaldo, que sempre contribuiu
com a minha vida tanto no lado profissional quanto no lado emocional.

A minha avó, Elza, e a meus pais, Irene e Guilherme, agradeço pelo carinho e atenção que
sempre dedicaram a mim. A torcida sem cobranças e o apoio de vocês foram essenciais não
só para este trabalho, mas para toda a minha formação intelectual e espiritual.

Manifesto minha gratidão e admiração à COPPE/UFRJ e seu excelente corpo docente e


discente. Tenho orgulho de ter feito minha graduação na UFRJ e ter tido a oportunidade de
complementar minha formação na COPPE que é reconhecida nacional e internacionalmente
pela sua qualidade.

Na COPPE gostaria de homenagear alguns professores. O professor José Paulo foi quem me
recebeu e me deu o primeiro incentivo no mestrado. No decorrer do curso tive a oportunidade
de assistir aulas de diversas disciplinas com o professor Paulo Canedo, excelente pessoa que
mostrou em vários momentos a hombridade e o caráter que possui. Inclusive, foi no decorrer
de uma das suas disciplinas que surgiram a idéia e os primeiros passos deste trabalho.

Depois de escolhido o esboço inicial do trabalho, entrei em contato com os professores


Marcelo Miguez e Flavio Mascarenhas que juntamente com o professor Paulo Canedo me
orientaram nesta longa empreitada. Todos me auxiliaram bastante e se mostraram, sobretudo,
grandes amigos.

Outros amigos se destacaram, dentre eles: Rodrigo Campos que foi quem me explicou os
primeiros passos no uso do modelo matemático; Denis Araújo que muito me incentivou e
Carlos D’Altério que me tirou algumas dúvidas finais. Em especial, agradeço, ao meu grande
amigo Marcelo Martins que esteve ao meu lado durante todo este tempo, lutando também com
sua própria tese. Dividimos juntos as angústias da corrida contra o tempo ao tentar conciliar
trabalho e estudo. Também foram muitas as satisfações decorrentes de cada etapa concluída.

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Agradeço também a minha namorada, Mileni Britto, que foi a pessoa que mais me incentivou
nestes momentos finais. Foi com ela que fiz toda a revisão gramatical deste trabalho. Não
existe uma frase sequer neste texto que não tenhamos lido juntos. Mileni, realmente, devo
muito deste trabalho a você.

Aos amigos e colegas da PETROBRAS, em especial ao meu gerente Paulo Sérgio.

Enfim, agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente neste trabalho.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

IMPLEMENTAÇÃO METODOLÓGICA PARA QUANTIFICAÇÃO DOS PREJUÍZOS


DECORRENTES DE CHEIAS URBANAS APLICADA AO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DE
MERITÍ

Roberto Motta Gomes

Agosto/2004

Orientador: Flávio Cesar Borba Mascarenhas

Programa: Engenharia Civil

A crescente urbanização nas últimas décadas vem trazendo diversos problemas


relacionados à infra-estrutura urbana. A ocupação desordenada mostra-se como uma das
principais causas de enchentes. A Baixada Fluminense é um exemplo clássico desse
crescimento urbano acelerado e desordenado, portanto uma área que sempre aparece como
vítima de enchentes e dos prejuízos oriundos desses acontecimentos.
Assim, este trabalho se propôs a avaliar, na área de estudo, as diversas influências de
cada local nos demais em termos de alagamento, utilizando-se uma modelagem matemática de
células, a fim de possibilitar um planejamento futuro de soluções através do diagnóstico obtido.
A metodologia desenvolvida consiste em identificar o quanto cada ponto da bacia afeta
os demais. Tenta-se verificar os efeitos provindos da retirada da chuva de pequenos grupos da
bacia sucessivamente, fazendo-se a análise em relação aos demais. Assim, através de uma
curva profundidade de alagamento x percentual do prejuízo tanto à construção quanto ao
conteúdo, define-se o custo ou prejuízo daquela região.
Neste contexto, tendo como estudo de caso o município de São João de Meriti/RJ,
simulou-se a região com uma chuva com tempo de recorrência de 20 anos e assim
quantificaram-se todos os custos associados a este evento chuvoso, tais como o prejuízo total
na região simulada e o prejuízo de cada um dos 28 grupos nos quais a região foi dividida. Os
resultados obtidos permitem concluir que com um determinado número de simulações é
possível determinar o custo anual esperado de cada ponto da bacia com relação às enchentes.

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Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the
degree of Master of Science (M.Sc.)

METHODOLOGICAL IMPLEMENTATION FOR THE QUANTIFICATION OF DAMAGES


CAUSE BY URBAN FLOODS IN THE MUNICIPAL DISTRICT OF SÃO JOÃO DE MERITÍ

Roberto Motta Gomes

Agosto /2004

Advisor: Flávio Cesar Borba Mascarenhas

Department: Civil Engineering

In the last decades, the growing urbanization is bringing several problems related to the
urban infrastructure. The disordered occupation is one of the main causes of floodings. Baixada
Fluminense is a typical example of that accelerated and disordered urban growth, therefore is
an area that suffers from inundations and damages associated with those events.
This work evaluates, for the chosen area of study, the several influences of each local
domain on the others, in terms of flooding, by using a mathematical modeling of cells, in order to
make possible future planning and solutions based on the obtained diagnosis.
The developed methodology consists of identifying the influences of each area of the
basin on the others; in other words, how each area affects elsewhere. It is been made an
attempt to verify the effects of the rain accumulation in successively small groups of the basin,
by the analysis in relation to the others. Therefore through a flooding depth x percentual
damage curve, both construction and the content, it is defined the cost or damage of that area.
In this context, a case study in the municipal district of São João de Merití in the metropolitan
area of Rio de Janeiro was carried out with a 20 recurrence time rain simulation and costs
associated to this rainy event were quantified, as well as the global damage in the simulated
area and in each one of the 28 local groups in which the area was subdivided. The results allow
the assessment, with a certain number of simulations, of the expected annual cost in each area
of the basin concerning the inundations.

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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO _____________________________________________________________2
1.1 Considerações Gerais __________________________________________________2
1.2 Objetivos _____________________________________________________________4
1.3 Motivação _____________________________________________________________5
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA__________________________________________________7
3 METODOLOGIA DO TRABALHO ____________________________________________14
3.1 Análise da região______________________________________________________14
3.2 Definição das avaliações a serem realizadas ______________________________15
3.3 O modelo matemático __________________________________________________15
3.3.1 Introdução ________________________________________________________15
3.3.2 Breve histórico do modelo matemático de células de escoamento ________16
3.3.3 Concepção geral___________________________________________________18
3.4 Aplicação do modelo de células como ferramenta para as análises propostas__21
4 ESTUDO DE CASO________________________________________________________23
4.1 INTRODUÇÃO ________________________________________________________23
4.2 a origem do município _________________________________________________23
4.3 Evolução e características da urbanização ________________________________25
4.4 Características Geográficas e Geológicas_________________________________26
5 ÁREA DE ESTUDO________________________________________________________28
5.1 Introdução ___________________________________________________________28
5.2 Os canais ____________________________________________________________28
5.3 Pôlder _______________________________________________________________29
5.4 Canal auxiliar _________________________________________________________31
5.5 O reservatório pulmão _________________________________________________33
5.6 As encostas e morros__________________________________________________34
5.7 Resíduos sólidos______________________________________________________35
5.8 A situação urbanística local_____________________________________________37
5.9 O Rio Sarapuí_________________________________________________________38
5.10 Dados globais da bacia do Sarapuí ______________________________________39
6 APLICAÇÃO DO MODELO NA BACIA DE ESTUDO_____________________________43
6.1 Introdução ___________________________________________________________43
6.2 Calibração do Modelo__________________________________________________43
6.3 Condições iniciais e de contorno ________________________________________44
6.3.1 Obtenção da chuva de projeto _______________________________________46

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7 ANÁLISE E COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS_______________________________49


7.1 Introdução ___________________________________________________________49
7.2 Situação Atual ________________________________________________________50
7.3 IDENTIFICAÇÃO DE POSSÍVEIS “CAUSADORES” DE ALAGAMENTOS ________53
7.4 VALORAÇÃO DOS PREJUÍZOS__________________________________________69
8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS _________________________________81
8.1 Conclusões __________________________________________________________81
8.2 Recomendações ______________________________________________________83
9 BIBIOGRAFIA____________________________________________________________85
Anexo A: Método do Soil Conservation Service __________________________________89
Anexo B: Fotos da região simulada____________________________________________ 95

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1- Zonas hidrológicas de uma bacia hidrográfica....................................................10


Figura 3.1 – Representação da seção transversal para modelo............................................20
Figura 4.1 – Crescimento populacional ao longo do tempo em São João de Meriti...........25
Figura 5.1 – Exemplo da situação atual de canais de drenagem. .........................................29
Figura 5.2 - Situação atual de conservação do Pôlder Alberto de Oliveira adjacente ao
Sarapuí..........................................................................................................................................30
Figura 5.3 – Situação atual do canal auxiliar ...........................................................................31
Figura 5.4 – Visão geral da situação atual do reservatório pulmão......................................33
Figura 5.5 – Exemplo da situação atual das encostas do município....................................35
Figura 5.6 – Vala funcionando como coletora de resíduo sólido na região.........................37
Figura 5.7 – Vista do Município de São João de Meriti...........................................................37
Figura 5.8 – Foto do Rio Sarapuí proximo a Baía de Guanabara..........................................39
Figura 5.9 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Sarapuí............................................40
Figura 7.1 – Visão geral da área simulada................................................................................51
Figura 7.2 - Comparação das manchas de Inundação da prefeitura x simulada ..............52
Figura 7.3 – Mapa com os grupos .............................................................................................56
Figura 7.4 – Cotagrama da célula 164 (célula mais a jusante do grupo 18).........................59
Figura 7.5 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 18 ....................................................60
Figura 7.6- Cotagrama da célula 203 (célula representativa do grupo 12). ..........................61
Figura 7.7 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 12 ....................................................61
Figura 7.8 – Cotagrama da célula 155 (representativa do grupo 20). ...................................62
Figura 7.9 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 20 ....................................................63
Figura 7.10 – Cotagrama da célula 251 (representativa do grupo 5) ....................................64
Figura 7.11 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 5 ....................................................64
Figura 7.12 – Cotagrama da célula 193 (representativa do grupo 17). .................................65
Figura 7.13 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 17 ..................................................66
Figura 7.14 – Cotagrama da célula 145 (representativa do grupo 24) ..................................66
Figura 7.15 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 24 ..................................................67
Figura 7.16 – Cotagrama da célula 67 (representativa do grupo 28) ....................................68
Figura 7.17 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 28 ..................................................68
Figura 7.18 – Percentual de prejuízo nas residências de baixo padrão ...............................71
Figura 7.19 – Percentual de prejuízo ao conteúdo de baixo padrão .....................................72
Figura 7.20 – Custo por metro quadrado para as construções de baixo padrão................73
Figura 7.21 – Custo por metro quadrado para o conteúdo de baixo padrão.......................73
Figura 7.22 – Distribuição espacial do prejuízo normalizado...............................................79

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LISTA DE TABELAS

Tabela 6.1 – Dados para geração das condições de contorno a partir do Método do Soil
Conservation Service..................................................................................................................45

Tabela 6.2 – Estação pluviométrica de Bangu (fonte: Plano Diretor de Recursos Hídricos
da Bacia do Rio Iguaçu/Sarapuí, Laboratório de Hidrologia, COPPE/UFRJ).......................47

Tabela 6.3 – Estação pluviométrica de São Bento (fonte: Plano Diretor de Recursos
Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu/Sarapuí, Laboratório de Hidrologia, COPPE/UFRJ) .......47

Tabela 6.4 – Equação de chuvas intensas de Nova Iguaçu (fonte: Plano Diretor de
Recursos Hídricos da Bacia do Iguaçu/Sarapuí, Laboratório de Hidrologia, COPPE/UFRJ)
.......................................................................................................................................................48

Tabela 6.5 – Equação de chuvas intensas de Xerém (fonte: Plano Diretor de Recursos
Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu/Sarapuí, Laboratório de Hidrologia, COPPE/UFRJ) .......48

Tabela 7.1 – Tamanho em área de cada um dos grupos. .......................................................54

Tabela 7.4 – Prejuízo ao conteúdo nos 29 cenários simulados.............................................76

Tabela 7.5 – Prejuízo normalizado nos 29 cenários ................................................................77

Tabela 7.6 – Separação por classes do prejuízo normalizado...............................................79

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

As chuvas são fenômenos naturais que fazem parte do ciclo hidrológico e por isso não podem
ser evitadas, e nem devem, pois é através desta que toda a água é renovada.

As inundações decorrentes de chuvas intensas são um fenômeno que vêm acompanhando a


civilização desde seus primórdios. Um exemplo deste fato vem da história da civilização Persa,
habitante da Mesopotâmia, que se situava entre os rios Tigre e Eufrates. Historiadores relatam
as periódicas elevações das águas destes rios ocasionando inundações em habitações.

No entanto, no decorrer da história da humanidade, o homem procurou sempre se estabelecer


próximo a um rio, de forma a facilitar a captação deste recurso indispensável para existência da
vida, que é a água. Em conseqüência disto, o crescimento das civilizações se deu
principalmente às margens de rios.

Apesar de existirem estudos e observações no campo da hidrologia ao longo dos tempos, esta
somente foi reconhecida como uma ciência recentemente, e por isso não era considerada
como decisiva para os projetos urbanísticos de novas cidades. Até os dias de hoje, por ter boa
parte de suas teorias baseada principalmente em eventos ocorridos e observados, a hidrologia
não é considerada ciência, e assim não raro observam-se cidades devastadas por eventos
extremos de chuvas, e percebe-se que os fatores hidrológicos da bacia hidrográfica foram
legados a segundo plano.

Não obstante, com a industrialização, a população que vivia no campo migrou para as cidades
rapidamente, resultando em uma urbanização sem um planejamento adequado, principalmente
nos países em desenvolvimento como o Brasil. Esta urbanização não planejada causou a
ocupação das áreas de calha dos rios, muitas vezes chegando até a calha menor, e acarretou
alterações significativas nas características de funcionamento das bacias hidrográficas. A
diminuição das áreas de infiltração tanto pela compactação dos terrenos naturais quanto pela
impermeabilização causada pelas construções diversas, a diminuição do comprimento dos rios
e canais e o assoreamento destes, o desmatamento das áreas de encostas e mata ciliar, a
falta de tratamento adequado do lixo urbano, dentre outros fatores, juntos maximizam os
fenômenos naturais de enchentes citados anteriormente. Desta forma, um mesmo evento de

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chuva que antes não causava grandes complicações, agora já é sentido como se fosse de
maior intensidade. É como se passasse a ter uma indução de cheia artificial.

O Brasil apresentou, ao longo das últimas décadas, um crescimento significativo da população


urbana, formando-se o que se chama de regiões metropolitanas. A parcela de população
urbana brasileira é de 80%, próximo à saturação. O processo de urbanização acelerado
ocorreu depois da década de 60, gerando uma população urbana praticamente sem infra-
estrutura.

A ocupação urbana não-controlada no Brasil mostra-se como uma das principais causas das
enchentes, devido à impermeabilização das superfícies e do sistema de drenagem pluvial.
Tucci (1997) estimou em seis vezes o aumento da vazão média de cheia no rio Belém em
Curitiba, após a sua urbanização.

Para solucionar este problema, diversas prefeituras têm construído grandes estruturas, que
além de provocarem impacto visual no cenário urbano, na sua grande maioria apenas
transferem o problema para locais mais a jusante. Desta forma, à medida que o escoamento se
desloca para jusante é acrescido de novos aumentos de volume devido à urbanização,
resultando em acréscimos significativos na vazão máxima. O controle tem sido realizado a fim
de canalizar o escoamento nos trechos de baixa capacidade de fluxo, agravando ainda mais o
problema a jusante. Esta filosofia equivocada tem resultado em custos muito altos para a
sociedade.

A tendência moderna no estudo da drenagem urbana é a busca da manutenção das condições


de pré-desenvolvimento dos escoamentos em bacias urbanas. Busca-se, então solucionar os
problemas decorrentes da urbanização, a utilização de dispositivos de acréscimo de infiltração,
como: (i) pavimentos permeáveis; (ii) lotes de detenção; (iii) utilização de parques e
estacionamentos como reservatórios de detenção/contenção em períodos críticos.

A Baixada Fluminense, localizada no Estado do Rio de Janeiro, é vítima do crescimento urbano


desordenado. Não são raros os casos de enchentes e o governo tenta realizar intervenções
para combater os seus efeitos desde a década de 30. Foram construídos pôlders, canais,
comportas e estações de bombeamento, visando, principalmente, recuperar as áreas alagadas
e combater a enfermidades provocadas pelas chuvas.

Em fevereiro de 1988, houve uma grande cheia na baixada fluminense causando perdas
materiais e humanas bastante significativas. Este evento despertou a atenção do Governo do

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Estado do Rio de Janeiro que decidiu criar um programa emergencial de reestruturação da


infraestrutura urbana das áreas afetadas, com ênfase em obras de macrodrenagem,
denominado Reconstrução-Rio.

O Reconstrução-Rio obteve financiamento do banco Mundial (BIRD) e da caixa econômica


federal (CEF). Uma importante intervenção construída durante este programa foi o reservatório
do Gerecinó, localizado em uma vasta área do Exército que estava sendo utilizada apenas
para treinamento militar. Isso foi possível devido a um convênio entre a Fundação
Superintendência de Rios e Lagos e o Exército (Kelman e Magalhães, 1997).

Porém, nem sempre as intervenções feitas alcançam o êxito esperado. As dificuldades são
muitas, principalmente quando se trata de uma área economicamente desprivilegiada como é o
caso do município de São João de Meriti. Alguns desses problemas serão discutidos no
trabalho.

1.2 OBJETIVOS

O presente trabalho tem como escopo principal avaliar a utilização do Modelo de Células
(Miguez, 2001) como ferramenta para o gerenciamento de recursos hídricos, além do escopo
natural característico do modelo, ou seja, como um instrumento de estudo hidrodinâmico das
cheias.

Assim, busca-se avaliar em determinada área de estudo as diferentes influências de cada local
ou sub-bacia hidrográfica nas cheias como um todo, e possibilitar o planejamento de soluções
de acordo com o diagnóstico obtido.

Desta forma, procura-se identificar as regiões causadoras de inundações e as regiões que


sofrem o processo, implantando o princípio do usuário inundador-pagador, isto é, haveria uma
cobrança sob os locais que fossem os principais causadores de inundação e esta seria
realizada após a obtenção do custo da inundação nos diversos pontos da bacia e a
identificação do usuário ou região responsáveis. Além desta cobrança, estuda-se a
possibilidade de utilizar-se mecanismo de compensação sobre o IPTU dos usuários
prejudicados na bacia.

Com a utilização do modelo matemático/numérico (Miguez, 2001, Mascarenhas e Miguez,


2002), será obtida a mancha de inundação no cenário atual do município, que servirá de

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parâmetro de análise do resultado a ser comparada com a mancha de inundação fornecida


pela prefeitura de São João do Meriti. Com esta informação, associada ao trabalho realizado
por Salgado (1995), quantifica-se a inundação economicamente e o prejuízo ao longo dos
trechos da bacia.

Como parte do estudo, deverá ser realizada uma pesquisa junto à prefeitura para a obtenção
das condições de urbanização e sócio-econômicas da população da área. Além da
confirmação dos dados fornecidos através de uma visita ao local que servirá como mais uma
fonte de dados na utilização do modelo numérico.

Aproveitar-se-á a visita “in situ” para identificar possíveis fenômenos que propiciem o aumento
da ocorrência e da magnitude dos eventos de alagamento.

Para avaliar os impactos da cheia e as regiões causadoras e receptora das inundações, a


região em estudo será sub dividida em 28 agrupamentos, genericamente chamados de grupos,
de acordo com as características de escoamento dos locais, aproximando-se de uma sub
bacia. Assim, procurar-se-á identificar o peso de cada um destes grupos sobre o nível de
alagamento de vários pontos da bacia. Após esta identificação e com os custos da inundação
nos diversos locais, pode-se traçar o planejamento para a compensação e também para
intervenções estruturais, balizando-as em um estudo que direcione e otimize os investimentos
públicos, além de indicar o crescimento e urbanização.

1.3 MOTIVAÇÃO

A tentativa do controle de inundações vem sendo feita pelos governos há muito tempo, mas
apesar dos diversos programas de ações, as enchentes continuam ocorrendo e a população
continua sofrendo os seus efeitos. Isso é resultado não só da falta de continuidade dos
programas, mas de diversos outros fatores como falta de envolvimento da sociedade com os
mesmos, devido à falta de informações adequadas, falta de planejamento e zoneamento
urbanos, falta de ferramentas de gestão, falta de programas de educação etc.

Para buscar modificar este cenário, é necessário um programa em nível estadual voltado para
a educação da população que é, na verdade, quem vivencia os desabamentos, soterramentos,
as perdas de bens, as destruições de suas casas, endemias e, até mesmo, mortes. Um
primeiro passo seria conscientizar a população da importância de não deixar o lixo em locais
que venham a restringir o escoamento dos rios. Também é importante que seja feito o

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reassentamento da população ribeirinha, população carente, que por falta de melhor


alternativa, invade as margens dos rios.

O município de São João de Meriti é o de maior densidade populacional do estado do Rio de


Janeiro. Por outro lado, tem também os mais baixos indicadores sociais. Sua formação
geológica, caracterizada por diversos morros em forma de “meia laranja” e a ocupação
desordenada do solo urbano levam a um ambiente de grande fertilidade e de características
peculiares dentro de um estudo de enchentes, portanto considerou-se o local bastante
enriquecedor para a realização deste trabalho. Da mesma forma, observa-se o cunho sócio-
econômico e ambiental, e o gerenciamento de recursos hídricos, dentro de um manejo
adequado das questões da bacia hidrográfica.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Os estudos em sistemas de drenagem urbana surgem, primeiramente, devido à necessidade


encontrada pelo homem em melhorar as condições de vida da população urbana.

Até o século passado, as condições higiênicas inadequadas dos locais de grande concentração
populacional eram motivo de propagação das pestes, o que acarretava em altos índices de
mortalidade da população.

No século XIV a peste negra atingiu a Europa e dizimou um terço da população de forma
bastante rápida. Universidades foram fechadas, e aqueles que tinham como se isolar, em
locais de pouca, ou nenhuma concentração urbana, o fizeram na tentativa de se salvar da
peste (NRC, 1991). Em 1665 novamente houve receio da tão temida peste. As doenças eram
veiculadas através da água e por isso era tão difícil conter a propagação.

Nesta época, não havia tratamento de esgoto, este escoava pelas ruas estreitas, com pequeno
espaço para radiação solar. Grande parte da contaminação da água era através do próprio
esgoto.

Houve, então, uma preocupação inicial com água. Esta era a de tornar a água segura para
consumo humano e retirar da fonte o esgoto que era produzido pela população. A este período
dá-se o nome de higienista. No Brasil, ainda há muitas cidades que se encontram neste estágio
(Tucci, 1995).

A fim de evitar a contaminação das fontes pelo esgoto, a estratégia utilizada era a de alargar as
margens, remetendo o fluxo para jusante. Acontece, que a solução encontrada não foi
satisfatória, já que com o grande aumento populacional, este tipo de estratégia apenas
transferia o problema para as partes mais baixas da cidade, tornando-as inadequadas em
termos higiênicos.

Há várias doenças de veiculação hídrica. O abastecimento precário de água e a exposição da


população à água que não é própria para consumo, normalmente, causa diarréia. A malária, a
dengue, a esquistossomose e outras, estão relacionadas com o ambiente e à disposição da
água. Há ainda, a leptospirose, que é transmitida através da urina do rato nas águas de

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inundação. Quando o gerenciamento da água em ambientes urbanos é inadequado, a


incidência dessas doenças aumenta significativamente, atingindo grande parte da população.

Tucci (1995), em seu artigo sobre Gerenciamento de drenagem urbana, faz uma correlação
entre o aumento da população e o aumento das inundações na área em questão, devido a não
proporcionalidade entre o aumento da capacidade de escoamento através de condutos, canais
e as impermeabilizações das superfícies e o aumento populacional.

A partir do século XX, mais especificamente no final dos anos 60 e início dos anos 70,
começaram as concentrações de esforços para o controle ambiental. A preocupação em
garantir a saúde da população não era mais o único alvo, havia também a preocupação com o
meio ambiente. A esse período dá-se o nome de ambiental. Hoje em dia, essa idéia está muito
mais difundida e já há diversos projetos que visam o que chamamos de desenvolvimento
sustentável (Tucci, 2001a).

Nos Estados Unidos, o marco deste processo é o Clean Water Act que criou os mecanismos
institucionais para o investimento no tratamento de esgoto das cidades. Na França, os comitês
de bacias trataram deste processo com grande investimento público. Mais recentemente, em
1992, o Brasil foi sede de um encontro internacional, a ECO 92, neste evento comissões de
vários países como Argentina, Equador, Guiana, França, Rússia, Espanha, Países Baixos,
Argélia, Japão, Estados Unidos, Canadá e Brasil, escreveram um documento de compromisso,
A Carta da Terra, no qual evidenciavam a sua preocupação com a situação global do nosso
planeta e a devastação ambiental.

Neste processo, então, muda-se a concepção da drenagem das cidades. Enquanto antes o
objetivo era o de transferência de escoamento para jusante, a nova concepção é a de controle
na fonte da drenagem com recuperação das condições de infiltração e armazenamento do
volume excedente, definidos através de medidas institucionais.

Portanto, as novas tendências em termos econômicos visam o desenvolvimento sustentável.


Nesse sentido, uma grande quantidade de projetos de controle de enchentes vem sendo
planejada com o objetivo claro de restauração ambiental (FIELD et al., 2000), envolvendo a
adoção de um conjunto de práticas e ações conhecidas internacionalmente como “Best
Management Practices” (BMP) ou melhores práticas de gerenciamento (MPG).

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Então, visando reduzir a vazão drenada superficialmente, melhorar a qualidade da água e


contribuir para o aumento da recarga de água subterrânea são concebidos diversos
mecanismos tendo por base a preocupação ambiental.

Há vários estudos recentes com este enfoque, dentre estes podem-se citar os pavimentos
permeáveis, os reservatórios em lotes, a utilização dos parques e praças como reservatórios de
amortecimento, o reflorestamento, os valos de infiltração, as trincheiras de infiltração, etc.

Pavimento permeável é um dispositivo de infiltração onde o escoamento é desviado através de


uma superfície permeável para dentro de um reservatório de pedras localizado sob a superfície
do terreno (Urbonas e Stahre, 1993). Urbonas (1993), menciona, ainda, que não existem
limitações para o uso do pavimento permeável, exceto quando a água não pode infiltrar devido
à baixa permeabilidade do solo ou ao alto nível do lençol freático. Araujo (2000), então, em seu
artigo sobre o tema propôs a utilização deste tipo de pavimento em estacionamentos.

Os reservatórios em lote seriam pequenos reservatórios em nível domiciliar com o objetivo de


retardar e diminuir o pico do hidrograma da vazão efluente em cada lote. O efeito somado de
diversos micro-reservatórios seria desta forma similar a de um grande reservatório. Tucci, em
seu artigo (2001b), explanou sobre as vantagens do controle na fonte que são as reduções da
quantidade de material sólido gerado, da rede de drenagem do loteamento e da distribuição da
manutenção entre os usuários. Despontam também como uma oportunidade de o seu
proprietário utilizar as águas da chuva para consumo próprio, de forma não-potável, tornando-
se um empreendimento economicamente atraente e aumentando a oferta global de água no
sistema de abastecimento (CANEDO et al., 2003).

Projetos de parques esportivos e áreas de estacionamento podem ser bem aproveitados


quando levam em consideração critérios de freqüência com que se formam as lâminas em suas
superfícies, o tempo de esvaziamento e a altura da lâmina. Desta forma, estes locais podem
ser utilizados para reter parte do volume de escoamento superficial gerado pela própria
superfície ou por áreas adjacentes. Segundo AMEC (2001) essas áreas devem ter capacidade
para armazenar uma cheia de 25 anos de recorrência. Vertedores de emergência devem ser
previstos para cheias de maior tempo de recorrência, tendo como diretriz não causar impactos
significativos à jusante.

Já nas ações de reflorestamento, é possível obter resultados quantitativos benéficos em termos


hidrológicos, se estas ações forem realizadas em áreas estratégicas, obtém-se diminuição do
escoamento superficial devido ao favorecimento do processo de infiltração, e,

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conseqüentemente, o aumento do escoamento de base. De acordo com OTTONI (1995) pode-


se dividir uma bacia em 3 zonas hidrológicas:
Zona de Reforço de umidade

Zona de dinâmica

Zona de contribuição

Figura 2.1- Zonas hidrológicas de uma bacia hidrográfica.

Podem-se citar alguns locais em que intervenções feitas com o objetivo de restauração
ambiental foram concluídas com sucesso. Por exemplo, estudos realizados por JEFFREY
(1965) demonstram que intervenções localizadas nas nascentes do rio Saskachewann no
Canadá, em apenas 12,6% da área da bacia de drenagem, localizada na zona de reforço de
umidade, são responsáveis por transformar 80% da precipitação incidente em escoamento de
base. E aqui no Brasil, em São Paulo, na estação experimental de Cunha, existem bacias,
totalmente cobertas por vegetação, que chegam a transformar 71% da precipitação em vazão
de base (CICCO,1984).

Outra intervenção com o objetivo de controle na fonte são os valos de infiltração. Estes são
dispositivos de drenagem lateral, muitas vezes utilizados paralelos às ruas, estradas,
estacionamentos e conjuntos habitacionais. Eles concentram o fluxo das áreas adjacentes e
criam condições para infiltração ao longo do seu comprimento. Devem ter volume suficiente
para não ocorrer transbordamento, enquanto não ocorre toda a infiltração, funcionando como
um reservatório de detenção, na medida em que a vazão que escoa para a vala seja maior do
que a sua capacidade de infiltração. Nos períodos com pouca precipitação ou de estiagem, ele
é mantido seco. Esse dispositivo é de grande aplicação para o tratamento da qualidade do
escoamento superficial, permitindo remoção de até 80% dos sólidos em suspensão (AMEC,
2001).

As trincheiras de infiltração têm seu princípio de funcionamento no armazenamento da água


por tempo suficiente para sua infiltração no solo, tendo bom desempenho na redução dos
volumes escoados e das vazões máximas de enchentes. Estas estruturas são constituídas por
valetas preenchidas por seixos (brita ou outro material granular), com uma porosidade em torno
de 35%. Um filtro de geotêxtil é colocado envolvendo o material de enchimento, sendo

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recoberto por uma camada de seixos, formando uma superfície drenante. Além da função
estrutural, o geotêxtil impede a entrada de finos na estrutura, reduzindo o risco de colmatação,
podendo ainda funcionar como filtro anticontaminante (CRUZ, ARAÚJO e SOUZA apud
BALADES et al., 1998).

No Brasil, a preocupação com a qualidade da água de drenagem ainda não é satisfatória,


talvez porque a maioria de nossos cursos d'água ainda receba esgoto doméstico "in natura".
Teoricamente, tem-se um sistema de esgotamento sanitário tipo separador absoluto, isto é,
todo esgoto sanitário vai para uma rede que só recebe esgoto sanitário e água de infiltração.
Porém, na prática não é bem isso o que ocorre. Em muitos casos há uma mistura de águas
pluviais e esgoto. O sistema de drenagem deveria receber apenas águas pluviais.

Na região metropolitana do Rio de janeiro, onde se encontra o município do estudo de caso, as


intervenções para combates de enchentes se deram no final do século XIX, patrocinadas pelo
governo federal e, com maior ênfase no município de São João de Meriti, em 1930 (Kelman e
Magalhães, 1997). Estas visavam o controle das doenças veiculadas através da água e
recuperar áreas alagadiças. Novamente, pode-se perceber que a motivação para a melhoria
das condições de drenagem urbana advém da necessidade da melhoria das condições da
água para consumo humano devido às endemias que atingem a população. Nota-se, então, a
coincidência de concepção adotada com a da fase higienista, conforme já mencionado.

As estruturas hidráulicas projetadas na época vislumbravam a ocorrência de inundações de


menor intensidade, pois eram voltadas para uso agrícola, já que o desenvolvimento urbano
ainda era bem menos acentuado.

A situação do município hoje é bem diferente. A ocupação urbana aumenta de maneira


significativa as áreas impermeáveis de uma bacia, alterando as características de volume e
qualidade do ciclo hidrológico. Como resultado, tem-se aumento das enchentes urbanas e
degradação das águas pluviais. Portanto, as estruturas hidráulicas implantadas na década de
30 se tornaram insuficientes, ficaram subdimensionadas.

O caótico processo de urbanização do município fez com que a população ocupasse o leito
maior dos rios, desmatasse as encostas e, ainda, com a falta de recolhimento adequado do lixo
o processo de assoreamento dos rios fosse intensificado. Além disso, a impermeabilização da
bacia aumenta o escoamento superficial.

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Com o aumento da discus são no Brasil e pela ”pressão” imposta pela comunidade científica
para a implementação de um sistema sustentável de drenagem urbana, surgiram recentemente
a partir de alguns municípios, planos diretores urbanos que contemplam medidas sustentáveis
para a redução do volume de água na bacia.

Belo Horizonte foi o primeiro deste processo e no seu plano de desenvolvimento de 1996
previu que toda área tida como permeável poderia ser impermeabilizada, desde que
compensada por uma detenção de 30 l/m 2 (PMBH,1996). Tinha-se, portanto, um avanço em
termos de plano diretor urbano. Porém, a legislação previa uma exceção, a construção do
reservatório de detenção dependeria do parecer de um engenheiro. Infelizmente, a exceção
virou regra e praticamente nenhuma detenção foi construída (Tucci, 2001a).

Em São Paulo, através da lei no 13.276 de 05/01/2002, Tornou-se obrigatório a execução de


reservatórios para as águas coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou
não, que tenham área impermeabilizada superior a 500 m 2.

O Município de Porto Alegre elaborou em 2002 o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e


Ambiental da cidade. O plano diretor contemplava os seguintes aspectos: os novos
empreendimentos (loteamentos) deveriam manter as vazões pré-existentes aos projetos (em
torno do 20,8 l/s.km2), a necessidade da construção de um reservatório de amortecimento que
terá o seu volume em função da área impermeável ou medidas para a redução da área
impermeável do lote de maneira que se tenha uma redução do escoamento superficial.

No município do Rio de janeiro, o decreto de número 23940 de 30 de janeiro de 2004, já se


utilizando da nova tendência que é o desenvolvimento sustentável, obriga que todo novo
empreendimento que possua mais de 500 m 2 de área impermeável tenha um reservatório com
o objetivo de retardar o escoamento para o sistema de drenagem.

Com a situação atual em que se encontram o gerenciamento dos recursos hídricos e o nível do
desenvolvimento sustentável da bacia, tornou-se necessário uma política coerente dos gastos
públicos, já que os recursos financeiros não são infinitos. Desta forma deve-se associar a cada
inundação um custo financeiro e um ranking dos projetos que poderão ser adotados.

Existem vários critérios de análise para a escolha do melhor projeto. Dentre estes, pode-se
citar: análise pelo custo mínimo, análise benefício custo, análise multiobjeto.

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A análise pelo custo mínimo, utilizada com mais freqüência na análise de projetos de micro
drenagem ou em projetos de pequeno porte, possibilita a escolha da melhor alternativa sem
que seja necessária a quantificação dos benefícios. Nesta abordagem, alternativas de mesma
eficiência, isto é, dimensionadas com igual tempo de recorrência, são comparadas
selecionando-se a de custo mínimo (Salgado, 1995).

Nos Estados Unidos, a seleção e análise de projetos de recursos hídricos baseiam-se no


chamado critério da eficiência econômica através da análise benefício custo, e segundo
BRAGA (1987), este critério já é utilizado desde 1936, estabelecendo que os benefícios,
independentemente de quem os recebe, devem superar os custos para que o projeto possa ser
aceito (Salgado, 1995).

Para estimar os prejuízos gerados por um dado evento chuvoso, Salgado (1995) implementou
funções prejuízos de forma que para cada nível de inundação de uma determinada área se
associasse um prejuízo causado pela mesma.

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3 METODOLOGIA DO TRABALHO

3.1 ANÁLISE DA REGIÃO

A metodologia deste trabalho parte de uma análise inicial da região de interesse associada à
coleta de dados básicos relevantes para o conhecimento do local, isto é, dados topográficos,
dados pluviométricos, manchas de inundação, etc. Além de uma visita “in situ” que será
detalhada em capítulo a parte.

Parte do material utilizado para o desenvolvimento do trabalho foi obtido junto ao Laboratório
de Hidráulica Computacional da COPPE-UFRJ. Destaca-se o conjunto de mapas na escala
1:10000, vôo 1996, de parte da bacia do município de São João de Merití que abrange o Pôlder
Alberto de Oliveira – Mapas: 238-F; 260-B, 260-D, 261-A, 261-B; Conjunto de mapas na escala
1:2000, vôo 1996, abrangendo parte da área constituinte da bacia de contribuição para o pôlder
Alberto de Oliveira – Mapas : 238-F-III-4, 261-A-I-3, 261-A-I-6, 261-A-II-1, 261-A-II-2, 261-A-II-
3, 261-A-II-4, 261-A-II-5, 261-A-II-6, 261-A-B-1 e os relatórios do HICON (1993) e Nova
Baixada (2002) da área em estudo. Os mapas foram obtidos por meio magnético, o que
melhora a qualidade das informações e, por consegüinte, facilita a utilização das mesmas.

Além dos dados citados acima, foram obtidos, junto ao Laboratório de Hidrologia da
COPPE/UFRJ, os relatórios do Projeto Iguaçu e as características físicas para cada sub-bacia
afluente ao rio Sarapuí e ao canal Auxiliar.

A partir do relatório do Projeto Iguaçu, obteve-se um outro conjunto de 4 Postos Pluviométricos


(Postos de Xerém, Bangú, São Bento, Nova Iguaçú), dois dos quais coincidentes com os
informados nos relatórios disponibilizados, que dispunha de equações ou curvas IDF,
localização e peso para ponderação de sua importância sobre a área de projeto.

Com a disponibilização das características físicas para cada sub-bacia afluente ao rio Sarapuí
e ao canal Auxiliar, foi possível calcular os hidrogramas de vazões de projeto, para o tempo de
recorrência de 20 anos, a partir do Método do Soil Conservation Service. Este método
apresenta-se de forma detalhada no apêndice A.

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Utiliza-se também o relatório HICON de novembro de 1998, que determinava valores médios
para as oscilações máximas e mínimas da maré.

Utilizam-se ainda mapas aerofotogramétricos de escala 1:2000, cujo vôo data de 1996, para
descrever as células de planície que compõe o mosaico da área urbana. Esta situação, apesar
de não ser a ideal, não inviabiliza os resultados obtidos, visto que a área cuja representação
corresponde à situação encontrada em 1996 abrange a parte mais urbanizada da região, e
conseqüentemente, menos propícia a grandes mudanças em suas características físicas, como
o grau de ocupação e de impermeabilização e as cotas das ruas.

3.2 DEFINIÇÃO DAS AVALIAÇÕES A SEREM REALIZADAS

Serão feitas análises a partir da simulação de um evento chuvoso com tempo de recorrência de
20 anos, estudando-se a área do município de São João de Meriti.

Haverá a identificação das áreas mais sofridas com as cheias e serão escolhidos alguns
pontos críticos para que sejam feitas avaliações mais detalhadas.

A região será dividida em grupos a fim de identificar quanto cada um destes grupos afeta o
alagamento total. Também serão identificados os maiores causadores de alagamento, ou seja,
as regiões que mais contribuem para as enchentes no local. Isto permitirá que seja feita uma
análise de prejuízos gerados por cada um destes. Assim, após a análise de todos os dados
será possível, partindo-se da metodologia desenvolvida por Salgado (1995), verificar o quanto
cada região afeta as demais em termos econômicos.

Para a elaboração destes procedimentos será necessária a escolha de um modelo matemático


que seja capaz de representar o escoamento sobre a bacia como um todo.

3.3 O MODELO MATEMÁTICO

3.3.1 Introdução

A matemática é uma ferramenta muito importante para várias áreas de conhecimento humano,
dentre elas a engenharia que se utiliza de diversos modelos matemáticos para analisar
fenômenos físicos e tentar desenvolver projetos adequados diante destes.

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Assim trabalha-se com o fenômeno de escoamento hidráulico. Tenta-se, através de modelos


matemáticos, desenvolver estudos de engenharia que possam prever catastrofes, a fim de
minimizar os efeitos por elas provocados, ou, até mesmo, evitar que estes ocorram trazendo
prejuízos para o governo e a população.

Para este trabalho, torna-se imprescindível, a compreensão dos fenômenos hidráulicos, já que
se depende da análise e avaliação de como ocorrem as trocas de água em diferentes áreas,
quais trechos da bacia hidrográfica retêm água e quais conduzem o fluxo, como é feita a
distribuição do escoamento nos diferentes canais e outras características do escoamento.

A ferramenta utilizada para os estudos aqui propostos é o modelo de células concebido pelo
professor Marcelo Miguez (COPPE – UFRJ). Este modelo que se baseia em equações
clássicas da hidráulica tem a vantagem de analisar a bacia como um todo e de tratar o
problema bi-dimensionalmente.

A seguir, será apresentado um breve histórico do modelo, as equações principais, as


simplificações adotadas pelo modelo, e alguns pontos de relevância para o entendimento do
mesmo.

3.3.2 Breve histórico do modelo matemático de células de escoamento

O modelo de células de escoamento já era utilizado na representação de grandes planícies


rurais alagáveis há muitos anos, em uma modelação bi-dimensional não em relação às
equações de escoamento, mas em relação à situação física de planícies. A concepção original
deste modelo surgiu com os trabalhos de Zanobetti, Lorgeré, Preissman e Cunge (1970), para
o delta do rio Mekong.

Miguez, ao defender sua tese (1994), utilizou o estudo de um projeto de construção de


barragens para regularização de cheias que tinha como objetivo proteger as atividades de
agricultura no Vietnã (Zamobetti et al), e aplicou no Brasil, ao Pantanal Mato-Grossense.

Mais tarde, Miguez e Mascarenhas (1999- Projeto Joinville) adaptaram, em primeira versão,
este trabalho à aplicações em bacias urbanas, observando as diferenças entre o contexto
urbano e o contexto rural, fazendo as modificações necessárias para que este pudesse, então,
ser aplicado de forma eficaz.

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Essas modificações provocaram o aumento do número de tipos de células e dos tipos de


ligações entre estes. Esse modelo, já adaptado, foi utilizado na cidade de Joinville, em Santa
Catarina. Os resultados obtidos foram bastante satisfatórios, o que motivou diversos novos
estudos de escoamento em outras áreas urbanas com problemas de enchentes, utilizando-se
deste modelo matemático, que continuou sendo aprimorado com o desenvolvimento das
pesquisas.

Recentemente, com a aplicação na bacia do Canal do Mangue, na cidade do Rio de Janeiro, o


modelo se tornou ainda mais confiável devido ao grande detalhamento do estudo nesta região
e as diversas implementações que foram feitas, inclusive com a utilização de modelos físicos. É
importante ressaltar que, com base neste, foi desenvolvido um projeto de atenuação de
enchentes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (através da COPPETEC) e pela
Fundação Rio-Águas, órgão da prefeitura do Rio de Janeiro.

Outra importante aplicação utilizando-se o Modelo de Células foi desenvolvida por Rodrigo
Campos (2002). Em seu trabalho, foi implementada metodologia para incorporação da análise
dos resíduos sólidos na simulação dos eventos de cheias.

Em outubro de 2003, foi incorporado ao modelo de células um modelo hidráulico mais robusto.
Este novo modelo hidráulico-hidrológico, tem a finalidade de representar melhor a infiltração e
substituir o método Racional para a previsão do escoamento superficial (CANEDO,2003).

Agora, com a utilização do modelo no município de São João de Meriti, devido à características
peculiares da área, tornou-se necessária a implementação de novos tipos de ligações entre
células para possibilitar, por exemplo, a caracterização de uma comporta tipo “flap” e a
possibilidade de bombeamento.

Desta forma, verifica-se o desenvolvimento do modelo ao longo do tempo, com a


implementação de novos tipos de ligações entre células e a adequação de equações
hidráulicas para as diversas situações modeladas. É claramente percebido que o modelo vem
crescendo e sendo adaptado ao longo do tempo e que está continuamente em
aperfeiçoamento e melhoramento. O modelo de células vem sendo desenvolvido no LHC
(Laboratório de Hidráulica Computacional), em associação com o Laboratório de Hidrologia -
COPPE/UFRJ.

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3.3.3 Concepção geral

A concepção do modelo matemático de células parte do princípio de que uma bacia pode ser
subdividida em um conjunto de compartimentos homogêneos, interligados, chamados de
células de escoamento, que se integram no plano da bacia urbana em um arranjo capaz de
reproduzir os padrões de escoamento, dentro ou fora do sistema de drenagem, a partir das
interações entre as células modeladas, formando uma rede de fluxo bidimensional em até dois
layers, com possibilidade de escoamento em várias direções nas zonas de inundação, bem
como entre superfície e galerias a partir de relações unidimensionais de troca.

A base do modelo matemático utiliza as equações do balanço de massa (equação 3.1) e de


leis hidráulicas capazes de representar fisicamente o escoamento entre células. De acordo com
os resultados obtidos por Mascarenhas e Miguez (Water International Resources, 2002), pode-
se conceber para paisagens urbanas, um arranjo de células, capaz de representar a
diversidade da realidade física modelada. O modelo matemático em questão permite que cada
célula de escoamento definida dentro da bacia em estudo possa se comunicar com sua vizinha
a partir de uma série de relações hidráulicas para trocas de vazões. O balanço de massa para
uma célula de ordem “i” é escrita na forma:

dZi
Asi = Pi + ∑ Qi,k (3.1)
dt k

Onde:
• Qi, k - vazão entre as células i e k, vizinhas entre si;

• Zi - cota do nível d’água no centro da célula i;

• AS i - área superficial do espelho d’água na célula i;

• Pi - vazão relativa à parcela de chuva ocorrida sobre a célula i e disponível para


escoamento;
• t - variável independente relativa ao tempo.

Na versão atual do modelo que vem sendo utilizado nos projetos e pesquisas em andamento, a
transformação da chuva que cai sobre cada célula em vazão de entrada nestas células se dá
pela utilização de conceitos do método racional, baseando-se, portanto, no uso do coeficiente
de escoamento superficial direto (run-off).

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Entretanto, como opção de modelação hidrológica para conversão da chuva em vazão, sobre
cada uma das células modeladas, foi desenvolvida em outubro de 2003 uma nova versão do
modelo de células, que consiste no uso de uma formulação que utiliza o conceito de abstração
inicial de parte da chuva, simulando efeitos de interceptação vegetal e retenção em
depressões, e considera a existência de um a taxa de infiltração média constante respeitando
as hipóteses de Rubin (Canedo de Magalhães, P. in: Viera da Silva, R.C., 1989). Entretanto,
esta versão está ainda em fase de testes e, embora com ganhos qualitativos na fidelidade de
representação do fenômeno físico, tem -se ainda uma série de dificuldades para a
determinação e ajuste de vários novos parâmetros, não tão freqüentes na literatura técnica
especializada como aqueles encontrados para o coeficiente de escoamento superficial direto.

O modelo matemático é composto por um conjunto de células, cada célula apresenta como um
dos dados de entrada a sua área alagável. Para se definir o volume de água sobre a superfície
da célula considera-se que a superfície livre é horizontal. Assim, o volume da célula pode ser
facilmente calculado por Vi = A Al x ( Z i - Z0i ) , sendo: Zi a cota atual na célula; Z0i a cota do

fundo da célula, e AAL a área alagável da célula. A vazão entre duas células adjacentes, em
qualquer tempo, é apenas função dos níveis d'água no centro dessas células, ou seja,
Qi, k = Q (Z i , Z k ) ;

Admitindo-se um esquema topológico constituído por grupos formais, a comunicação entre as


células dá-se apenas entre as de mesmo grupo, ou de grupos imediatamente posterior ou
anterior.

Todas as ligações entre células são regidas por equações unidimensionais clássicas da
hidráulica, como, por exemplo, a equação dinâmica de Saint-Venant, completa ou simplificada,
vertedouros livres ou afogados, a equação de escoamento através de orifícios (a equação de
escoamento sobre vertedouros), e equações de escoamento através de bueiros. Nos rios, ou
córregos, a equação de Saint-Venant é utilizada completa, ou seja, considerando-se os efeitos
da inércia.

As seções transversais de escoamento são tomadas como seções retangulares equivalentes,


simples ou compostas, como ilustradas na figura 3.1.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Seção Real

Seção do modelo

Figura 3.1 – Representação da seção transversal para modelo

Ao se referir a escoamento, o modelo trabalha com a possibilidade de dois “layers”, isto é, duas
camadas, uma superficial, ao nível das ruas e outra subterrânea, ao nível das galerias. Há uma
influência recíproca entre essas duas camadas, baseando-se nas equações já mencionadas
anteriormente, ou seja, uma pode vir a trocar água com a outra. A camada subterrânea pode
vir a trabalhar com o escoamento típico de superfície livre, ou com o escoamento pressurizado,
já que com o acréscimo de água as galerias podem vir a ficar afogadas, trabalhando sob
pressão, o que modifica a equação de troca de vazão entre as células.

As equações fundamentais que governam os escoamentos em corpos d’água são deduzidas a


partir da aplicação dos princípios básicos de leis de conservação de três grandezas da
Mecânica do Continuo: energia, massa e quantidade de movimento. O modelo matemático
utilizado tem como uma de suas ferramentas fundamentais a equação do balanço de massa,
que é equivalente à equação da continuidade devido à incompressibilidade da água no sistema
adotado.

As entradas de água podem ocorrer devido à precipitação direta sobre a área da célula ou
devido à vazões de células vizinhas. Já as saídas de água, são decorrentes apenas da perda
de água para outras células, já que se podem desprezar os efeitos da evaporação, por serem
objetos de nosso estudo eventos chuvosos com intervalos curtos de tempo. O volume que fica
armazenado na célula varia em função do nível de água que é considerado horizontal.

Ao estudar-se uma área urbanizada, nos deparamos com a dificuldade de cada célula ter
características muito diferenciadas de acordo com a área em que fora construída. Mesmo em
terrenos planos essa individualização aparece. Desta forma, torna-se necessário utilizar um
padrão de urbanização, que se baseia no comportamento médio de áreas urbanizadas, e
consideramos que este pode ser aplicado em qualquer célula de planície.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Este padrão distingue três níveis cujas áreas de abrangência devem ser determinadas para a
região de estudo de células:
• nível das ruas;
• nível das calçadas;
• nível das edificações.

3.4 APLICAÇÃO DO MODELO DE CÉLULAS COMO FERRAMENTA PARA AS


ANÁLISES PROPOSTAS

Após a conclusão do levantamento de dados, faz-se a tradução dos dados levantados para
aplicação do modelo matemático. Para isso, foi realizada uma análise dos mapas em escala
1:2000 e 1:10.000 disponíveis, de forma a se estudar a topografia da região, caracterizando o
padrão de comportamento do escoamento da cheia. Dividiu-se, então, a área em estudo
através de células de escoamento e fez-se a determinação das leis de descarga hidráulica com
suas vizinhas.

Realiza-se um diagnóstico preliminar das condições atuais, utilizando-se como ferramenta


computacional o Modelo de Células desenvolvido por Miguez (2001), a fim de direcionar futuros
esforços de órgãos públicos competentes para a questão da drenagem urbana.

Com base em um relatório HICON de novembro de 1998, que determinava valores médios
para as oscilações máximas e mínimas da maré, foi estabelecida a condição de contorno de
jusante, representativa da maré. Define-se, então, uma senóide média, passível de utilização
indiscriminada para todos os cenários de simulação, considerando a média das preamares na
cota 0,75 m e a média das baixa-mares na cota - 0,25 m.

Para a modelagem, a área do município de São João de Meriti foi dividida em células que
compartimentam o escoamento hidráulico, de forma a se obter a formação de uma rede de
células receptoras e fornecedoras de vazão. A divisão feita foi a seguinte: 468 células de
escoamento internas, das quais 54 células referem-se ao Rio Sarapuí, e ao seu Canal Auxiliar,
e 20 condições de contorno. A construção do esquema topológico que integra a rede de células
é feita após o término da divisão, mostrando as suas interações com as células vizinhas e com
as condições de contorno, localizadas nas fronteiras da área modelada. A partir das
características destas células e das condições de ligação entre elas, levantadas em carta, e
após as visitas de campo para reconhecimento local que definirão parâmetros e condições de
contorno, o Modelo de Células é utilizado.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Desta forma, é obtido um diagnóstico da situação atual das inundações no município de São
João de Meriti. Com o objetivo de verificar ou determinar a influência nas enchentes de cada
área do trecho em estudo do município, as células de escoamento foram agrupadas em 28
conjuntos, que chamarmos a partir de agora de grupos, representando assim determinada
região.

Para analisar a influência deste grupo no total de inundacoes da região, é realizada uma
simulação considerando que nas células que constituem o grupo em questão não ocorrem
precipitacões. Desta forma, espera-se quantificar a importância deste grupo de células para a
inundação dos diversos pontos da bacia. Assim, os esforços serão direcionados de forma a
corrigir os problemas em sua fonte, ou seja, verificar os locais causadores das cheias. A
metodologia também possibilita que sejam atribuídas taxas ou impostos para os locais
causadores das cheias ou até isençao dos mesmos para os locais que sofrem as
conseqüências das cheias sem serem os maiores causadores destas.

Com os resultados obtidos a partir da ferramenta matemática, as células são agrupadas, sendo
definido o peso de cada grupo na mancha de inundação total da região. A partir do peso de
cada grupo na inundação, utilizam-se as equações matemáticas que foram definidas por
Salgado (1995) para quantificar economicamente o prejuízo que aquele grupo causa.

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4 ESTUDO DE CASO

4.1 INTRODUÇÃO

Como estudo de caso para o trabalho foi escolhido o município de São João de Meriti por
apresentar graves problemas de drenagem e cheias constantes, principalmente ao longo do rio
Sarapuí.

Este município sofreu também um crescimento urbano desordenado, tendo passado por uma
série de mudanças no decorrer de sua história. Antes da urbanização, era uma área alagadiça
e de manguezais, para que sua drenagem fosse realizada, o rio Sarapuí foi transformado em
um canal, a fim de que este escoasse mais rápido para a Baía de Guanabara.

4.2 A ORIGEM DO MUNICÍPIO

As terras que compõem, hoje em dia, o município de São João de Meriti já foram grandes
manguezais junto às margens dos rios Meriti, Sarapuí e Salgado, com morros arredondados e
grandes matas.

São João de Meriti foi uma área de grande imigração. As pessoas vinham por motivos
variados, uns vinham em busca de ouro, madeira ou de terras, e outros eram fugitivos de
guerra ou por motivos religiosos.

Juntamente com o progresso do século passado, chegam à Meriti as conseqüências da


civilização. Chegam as estradas de ferro (ligada à existência do carvão vegetal como fonte de
energia) e o desmatamento. Este, de forma predatória, trouxe o assoreamento dos rios e
desaparecimento das matas.

O rio Meriti já não podia mais ser utilizado como meio de navegação. Seus riachos começaram
a secar junto com o “progresso”, conseqüência de uma visão arcáica de que a natureza possui

23
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

infinita capacidade de renovação e de que tudo suporta. Mas não existe progresso verdadeiro
às custas da natureza, somente se obtém êxito quando este ocorre junto com a ela, refletindo
sobre os seus limites e avaliando a sua capacidade de renovação. Em decorrência desse
¨progresso¨, apareceram as doenças, as febres palustres e a cólera, dizimando grande parte
da população.

Mais tarde, com o fim da escravidão, escasseiam -se os recursos de mão de obra disponível e
as grandes fazendas vão sendo fracionadas em sítios e chácaras, surgindo na região
pequenos proprietários que acabam por desenvolver atividades da fruticultura e hortigranjeiros,
com a finalidade de abastecer a cidade do Rio de Janeiro.

O processo de desenvolvimento deste século, o inchaço populacional e a exploração


imobiliária pelo aumento constante do metro quadrado do solo na capital, acabam levando
grandes contingentes populacionais para estas terras.

Já com o final da Segunda Guerra, junto ao fim da era Vargas, vem também a seca no
nordeste, a mecanização do campo e como conseqüência o êxodo rural. As capitais não
suportam as grandes massas trabalhadoras, que são empurradas para a periferia. As fazendas
fracionadas em sítios e chácaras, transformam-se em áreas de loteamentos, de grilagem e
ocupações irregulares. A Estação de Meriti, vira o 8º Distrito em 1931 com o nome de Duque
de Caxias e São Matheus vira 7º Distrito com o nome de Nilópolis, todos desmembrados de
Meriti que pertencia a Nova Iguaçu. Mais tarde, o 8º Distrito é transformado em município
levando consigo São João de Meriti, que é transformado em seu 2º Distrito. São João de Meriti,
em 1947, emancipa-se de Duque de Caxias e, na mesma lei, Nilópolis de Nova Iguaçu.

24
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

4.3 EVOLUÇÃO E CARACTERÍSTICAS DA URBANIZAÇÃO

Em 1795, a região contava com 216 habitações e com uma população que evoluiu ao longo
destes dois últimos séculos. Contava, nos meados do século XIX, com 1.730 habitantes,
evoluindo para 8.255, até 1920. Segundo os resultados do censo 2000 (IBGE), a população
residente total é de 449.562 habitantes, o que corresponde a um crescimento de 1.036% no
período entre 1940 e 2000.

Crescimento Populacional ao longo do Tempo em São João de Meriti

500000

450000

400000
Número de Habitantes

350000

300000

250000

200000

150000

100000

50000

0
1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Tempo (anos)

POPULAÇÃO

Figura 4.1 – Crescimento populacional ao longo do tempo em São João de Meriti

Observando estes dados acima, é perceptível que este aumento esteve fora dos parâmetros
normais do crescimento vegetativo populacional de uma determinada comunidade. Este alto
crescimento se explica pelo grande processo migratório, cujos valores superaram o
crescimento natural da população, alcançando índices acima da média brasileira.

Outro aspecto bastante interessante é o elevado grau de urbanização atual do município que
conta com uma densidade populacional de aproximadamente 12.445 habitantes/km 2, que é
bastante elevado quando comparado com os municípios adjacentes como: Nova Iguaçu 1.477
hab/km 2, Duque de Caxias 1.536 hab/km 2, Belford Roxo 4.991 Hab/km 2 e Nilópolis 8.087

25
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

hab/km 2 (CIDE,1996).

Os indicadores demográficos para o município de São João de Meriti apontam para um


acréscimo de mais de 0,40% ao ano da população, entre 1991 e 1996, podendo ser
considerada como uma das mais baixas do Estado. Uma análise da taxa bruta de natalidade
revela um constante decréscimo de 24,1/1.000 habitantes em 1985 para 22,3/1.000 habitantes
em 1996. A taxa bruta de mortalidade, apesar de também ter sofrido uma redução, não foi
suficiente para absorver as diferenças, passando de 7,3/1.000 habitantes para 7,1/1.000
habitantes no mesmo período. No tocante a taxa liquida de migração, esta se manteve em
torno de 1,17%. Destaca-se, ainda, a taxa de mortalidade infantil na cidade, que passou dos
40,9 mortes/1000 nascidos vivos em 1995 para 26,7 mortes/1000 nascidos vivos no final dos
anos 90.

O crescimento populacional em uma dada região nem sempre é acompanhado por moradias
de boa qualidade para as faixas mais pobres, que se vêem obrigadas a ocupar loteamentos
irregulares, principalmente às margens de rios e em encostas de morros.

O incremento da população residente verificado nesse período, em sua maioria de baixa renda,
foi acompanhado pelo aumento do número de domicílios localizados no município, porém todos
com edificação própria ou oriundos de favelas e loteamentos. A maior parte destes estão
localizados na malha urbana, onde se concentra a maioria da população.

4.4 CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS E GEOLÓGICAS

O município de São João de Meriti com área total de 34.9 km 2, apresenta como destaques em
sua paisagem dois tipos de unidades de relevo: as colinas e as grandes baixadas litorâneas.
As primeiras, denominadas pelo RADAMBRASIL como Unidade Colinas e Maciços Costeiros,
distribuem-se ao longo da faixa costeira fluminense, caracterizando-se por apresentar uma
área topográfica definida, com reduzidos valores altimétricos em relação às outras unidades da
Serra dos Órgãos.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

As colinas de São João de Meriti têm suas superfícies bastante descaracterizadas por terem
sido submetidas a vários processos de escavações de material argiloso para utilização em
obras de construções civis. Após as escavações, a aparência original das Colinas, embora
aparentemente mantidas, apresentaram imensas cicatrizes e sulcos em acelerado processo de
erosão em suas superfícies.

A grande ocupação urbana na Baixada Fluminense tem-se refletido na área do município


através da exploração desordenada de seus solos, cujos efeitos são visualizados na forma de
superfícies erodidas e desprotegidas, causando carreamento de materiais pelas águas para os
pontos mais baixos da topografia.

Depois de verificada a situação do município, decidiu-se fazer uma visita ao local para uma
análise mais realista das condições da área do ponto de vista hidráulico. As análises e
verificações desta visita encontram-se detalhadas no próximo capítulo.

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5 ÁREA DE ESTUDO

5.1 INTRODUÇÃO

Para uma melhor análise da situação atual, foi realizado um reconhecimento “in situ” no qual as
verdadeiras condições das estruturas relevantes ao escoamento da água podem ser
analisadas.

Neste capítulo será vista a situação de cada uma destas estruturas e seu atual estado de
conservação. Este capítulo encontra-se ilustrado com diversas fotos para facilitar o
entendimento e no Anexo B apresenta-se uma maior quantidade de ilustrações.

5.2 OS CANAIS

Os canais ou valões, como são comumente chamados, são estruturas que têm como função o
deslocamento rápido do fluxo de água em excesso em uma certa região.

O municpio de São João de Meriti, assim como vários outros municípios pobres do Brasil, sofre
com a ineficiência de ação do poder público para suprir as necessidades básicas da população.
Um exemplo característico é a deficiente coleta de lixo e tratamento de esgoto, e, ainda, do
sistema de drenagem na região de São João de Meriti. Assim, são freqüentes os casos em que
ocorre a incorporação do lixo urbano ao escoamento, vindo este a reduzir ainda mais a
capacidade de funcionamento do sistema de drenagem da bacia, o que agrava ainda mais o
quadro de inundações encontrado. A figura 5.1, de um canal do município de São João de
Meriti, se enquadra claramente no problema narrado.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Figura 5.1 – Exemplo da situação atual de canais de drenagem.

Na figura 5.1, percebe-se que o resíduo sólido funciona como uma barragem, represando o
escoamento e dificultando a passagem deste até o canal auxiliar.

5.3 PÔLDER

O Pôlder ou dique é uma estrutura que tem a função de barrar o escoamento entre dois locais.
Ele consiste na construção de um canal auxiliar ao curso d´água principal, fazendo uma
separação, através de de um barramento, a fim de impedir o fluxo direto do curso d´água
principal para a área a ser protegida.

Há também a necessidade de implantar uma área destinada à reservação temporária das


vazões que contribuem ao canal auxiliar, impedindo que haja uma elevação muito grande dos
níveis de água do canal, e conseqüentemente , extravazamento para a área a ser protegida
durante a passagem de uma cheia.

Após a passagem da onda de cheia no rio principal, o canal auxiliar permite a descarga das
águas armazenadas no reservatório, escoando-as através de um sistema de comportas e/ou
através de bombeamento.

Os efeitos indesejáveis de um evento de cheia podem ser amenizados por obras diversas de
controle de enchentes. A instalação de pôlderes em áreas baixas assoladas por inundaçõe é
apenas uma delas.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

É interessante ressaltar que diques oferecem segurança às áreas abrigadas até a vazão
definida no projeto, mas por outro lado estão vinculadas a rotinas de inspeção e manutenção
para assegurar a integridade física da estrutura. O colapso por erosão e desestabilização do
dique pode levar a sérios prejuíz os, bem maiores que os da cheia natural que se pretendia
evitar.

Na margem direita do rio Sarapuí existe um pôlder que foi concebido com a finalidade de barrar
possíveis elevações das águas do rio, evitando que a elevação deste cause o alagamento das
regiões baixas com grande periodicidade. O pôlder em questão é composto por um sistema de
4 conjuntos de comportas do tipo FLAP instaladas ao longo do canal auxiliar. Estas comportas
têm como característica o fato de só possibilitarem a descarga quando o nível do rio Sarapuí
está abaixo do nível do canal auxiliar, permitindo o escoamento das águas do pôlder para o rio
e impedindo o fluxo contrário.

A figura 5.2 denuncia uma situção absurda, em que não há a menor preocupação com a
conservação do pôlder adjacente ao rio Sarapuí. Nota-se que o pôlder está repleto de
ocupações irregulares que utilizam parte de material do dique, rebaixando-o, assim, a cotas
inferiores às de projeto, ou seja, o pôlder pode vir a ser vertido em um tempo de recorrência
menor do que o de projeto.

Figura 5.2 - Situação atual de conservação do Pôlder Alberto de Oliveira adjacente ao


Sarapuí.

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O pôlder Alberto de Oliveira, localiza-se na margem direita do rio Sarapuí, em um ponto


próximo à sua confluência com o rio Iguaçú, pouco à montante do seu deságüe na baía de
Guanabara.

5.4 CANAL AUXILIAR

A comuinicação do canal auxiliar com o rio Sarapuí se dá de duas formas. Através do


extravasamento do rio Sarapuí por cima da cota de coroamento do pôlder, fato este já ocorrido
segundo relato de moradores da área, e através de comportas tipo FLAP. Esta última seria a
forma correta de comunicação, isto é, a forma prevista no projeto inicial.

Figura 5.3 – Situação atual do canal auxiliar

A primeira estação de comportas FLAP está situada nas proximidades da confluência com o
valão Alberto de Oliveira, sendo formada por 04 comportas de 1,50 m de diâmetro. As duas
estações de comportas seguintes localizam-se nas proximidades das linhas de transmissão
que cruzam a área em estudo, sendo constituídas por 2 conjuntos de 04 comportas de 1,00 m
de diâmetro. A última estação está localizada nas proximidades da av. Kennedy, sendo
composta por 03 comportas de 1,50 m de diâmetro. Informações mais recentes indicaram que
esta última estação encontra-se de forma totalmente irregular, aberta, permitindo o livre fluxo
nos dois sentidos de escoamento entre o canal auxiliar e o rio Sarapuí, o que descaracteriza
completamente o projeto inicial.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Iniciativas do governo para implementar projetos realmente significativos em áreas pobres,


como o municpio de São João de Meriti são dificultosas, mas o que é ainda mais complicado é
manter a continuidade ao trabalho implementado, uma vez que a manutenção destes projetos
é primordial para que a obra inicial não seja em vão e se dê continuidade ao trabalho
implementado.

O projeto do pôlder de Sâo João de Meriti foi elaborado de forma tecnicamente correta e teria
condições de atender às aspirações iniciais se tivesse sido bem conservado, mas não o foi. As
obras realizadas pelo Reconstrução-Rio na bacia do rio Sarapuí praticamente esgotaram o que
poderia ser feito em termos de redução de seus níveis de enchente. O rio foi dragado desde
sua foz até as proximidades da Av. Automóvel Clube, trecho submetido à influência direta da
maré. A análise do perfil de linha d’água revelou a necessidade de dragagens complementares
nas proximidades da ponte da Av. Presidente Kennedy e no estirão entre a Av. Automóvel
Clube e a fábrica da Bayer. Daí para montante, o grande amortecimento de cheias propiciado
pela barragem de Gericinó, também construída pelo Reconstrução-Rio, praticamente dispensa
a realização de obras complementares na calha do rio, restando apenas a necessidade de
dragagem de limpeza e manutenção da calha.

A realidade dessa obra hoje é a de total depreciação. Casas foram construídas acima do dique,
lixo e esgoto estão sendo jogados nas valas constantemente, há desmatamento das encostas,
e não tem havido nenhuma ação sistemática do poder público para conter tudo isso.

Devido à coleta precária do lixo e a inexistência do tratamento do esgoto no município, o canal


auxiliar tornou-se um ambiente perfeito para o crescimento das macrófilas (vegetação),
assoreamento do canal e o conseqüente entupimento das comportas.

Ao despejar lixo e esgoto sem tratamento nas valas canais há um encaminhamento natural
destes para o canal auxiliar. O esgoto fornece nutrientes para que as plantas se desenvolvam
no canal, enquanto que a areia acumulada fornece fixação para que as mesmas cresçam de
maneira desordenada, além de obstruírem as comportas, juntamente com o lixo.

O desmatamento das encostas também é um fator prejudicial, já que propicia o transporte de


resíduos até o canal auxiliar, além de provocar vários outros danos que serão mencionados
mais detalhadamente em item posterior. Tudo isso somado à falta de conservação e
manutenção, leva à extrema ineficiência das comportas atualmente, com grande perda de
carga em seu funcionamento.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

5.5 O RESERVATÓRIO PULMÃO

O Reservatório pulmão tem como finalidade armazenar o excesso de água causado por um
evento chuvoso intenso sobre a área protegida pelo pôlder . No local em estudo, o reservatório
pulmão se encontra adjacente ao canal auxiliar com cotas baixas, de maneira que possa
exercer a sua função de acumular o excesso de água provocado por chuvas intensas.

O crescimento urbano no município de São João de Meriti foi extremamente acelerado, como já
foi mencionado anteriormente. Esse crescimento desordenado fez com que houvesse uma
necessidade de procura de novos locais para construção de residências, como um dos últimos
locais desocupados na região era a área prevista no projeto Reconstrução-Rio como
reservatório pulmão, esta foi ocupada e o reservatório pulmão encontra-se hoje com diversas
obras residenciais. Em muitos casos, para que essas obras ocorressem houve a necessidade
de que aterramentos fossem feitos, reduzindo o volume de armazenagem do reservatório, o
que faz com que as cheias voltem a ocorrer.

É correto, dizer que a eficiência da utilização do reservatório pulmão está diretamente


relacionada à manutenção da capacidade de armazenagem do mesmo. A situação torna-se
ainda mais crítica quando se percebe que parte do material utilizado no aterramento vem do
próprio pôlder.

A figura 5.4 (ampliada no anexo B) ilustra a situação atual do reservatório. Nesta figura pode-se
ver a precariedade do que ainda resta do reservatório. Ao fundo, podemos perceber as
construções residenciais, citadas anteriormente, muitas delas construídas sobre aterramentos
no reservatório, outras são construídas de forma semelhante a de palafitas, o que demonstra
algum conhecimento da população de que a área em questão é de freqüente alagamento.

Figura 5.4 – Visão geral da situação atual do reservatório pulmão

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

O reservatório pulmão é um elemento fundamental do sistema de contenção de cheias, já que


este, quando bem conservado, possibilita grandes reduções nos alagamentos nas regiões
baixas e no canal auxiliar adjacente ao pôlder. No caso inverso, quando não conservado, a
retenção da cheia na área interna do pôlder, sem espaço para armazenamento, pode vir a
constituir uma situação mais crítica que a da cheia original.

Este é apenas mais um exemplo da situação crítica em que se encontra o município. Percebe-
se a necessidade urgente de medidas do poder público a fim de conter o crescimento
desordenado e irregular nesta área que é de tamanha importância no que diz respeito ao
controle das cheias.

5.6 AS ENCOSTAS E MORROS

Encostas são grandes geradoras de sedimentos e por isto são regiões que devem apresentar
uma cobertura vegetal. A retirada da cobertura vegetal provoca, dentre outros problemas, o
aumento na velocidade de escoamento das águas superficiais e a diminuição da infiltração das
águas pluviais, o que provoca aumento e adiantamento no pico das cheias.

O aumento e o adiantamento do pico da cheia geram uma série de transtornos na bacia, já que
modificam o seu sistema natural de drenagem, gerando um desequilíbrio no processo de
cheias. Há um conseqüente aumento da área de inundação e da freqüência de alagamentos
nas planícies da bacia. Além disso, há uma alteração na produção de sedimentos sólidos pela
bacia.

Modificar o uso do solo significa quebrar o equilíbrio sedimentológico da bacia hidrográfica, e,


por conseguinte, provocar maiores volumes de resíduos sólidos acompanhando o escoamento.
O grande problema ocasionado por estes resíduos está ligado às alterações na drenagem na
bacia, principalmente com respeito a assoreamento e entupimento, agravando cada vez mais o
quadro de enchentes nas áreas urbanas.

A situação das encostas no município de São João de Meriti se encontra ilustrada na figura 5.5.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Figura 5.5 – Exemplo da situação atual das encostas do município

A figura 5.5 retrata a situação das encostas na região como um todo. Nesta figura pode-se
observar o completo desmatamento destas encostas e a fragilidade das mesmas em relação à
erosão. Esse quadro resulta em enchentes cada vez mais constantes e com conseqüências
cada vez mais desastrosas para a população.

5.7 RESÍDUOS SÓLIDOS

A definição catalogada em dicionário da palavra resíduo o identifica como sendo o que resta de
qualquer substância, porém ao se utilizar esta palavra para a realidade da hidrologia, ela ganha
um significado um pouco mais específico e ao mesmo tempo muito mais abrangente.

Resíduos sólidos, para a realidade hidrológica, são todos os restos sólidos não só de pequenas
substâncias, mas todo e qualquer material que venha a afetar a capacidade de escoamento do
fluxo de água, ou seja, lixo urbano, areia oriunda de erosões, restos de vegetação, sobra de
materiais de construção e outros.

O aparecimento de resíduos sólidos se torna relevante para a hidrologia porque afeta de


maneira significativa a capacidade de escoamento na bacia, já que desencadeia uma série de
restrições ao escoamento. A combinação da presença dos sedimentos originados pela erosão
do solo da bacia juntamente com o acréscimo de lixo são fatores agravantes dos malefícios
que as cheias urbanas causam à população.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Perdas materiais e humanas, assim como grandes prejuízos à comunidade em geral, ocorrem
devido a pouca capacidade do sistema de drenagem da bacia em escoar as águas superficiais
que inundam a planície urbana. Ao se depositarem no fundo do leito dos rios, os resíduos
sólidos, reduzem a área de escoamento da calha, assoreando-a e fazendo com que o fluxo
seja encaminhado a uma nova seção molhada que seja capaz de comportar a vazão afluente.
A partir daí, a calha secundária é ocupada com maior freqüência, inundando vastas regiões
das planícies marginais ao rio.

Também são identificadas deficiências no funcionamento da rede de drenagem quando os


resíduos sólidos encontrados no escoamento ficam presos em objetos presentes na calha do
rio, tais como contrações da seção transversal, septos que dividem seções, troncos de árvores
ou tubulações cruzando a seção transversal, barrando o fluxo e criando verdadeiros diques nas
calhas, e, também, quando obstruem os dispositivos constituintes da rede, principalmente as
bocas-de-lobo.

O município de São João de Meriti encontra suas encostas em estado avançado de


devastação e possui um sistema de coleta de lixo bastante precário, segundo relato da
população. Esses fatores conjugados geram uma grande quantidade de resíduos sólidos com
as conseqüências desastrosas relatadas anteriormente.

Para o bom funcionamento de um sistema de drenagem, é fundamental que exista um bom


sistema de coleta de resíduos sólidos. No entanto foi percebido exatamente o contrário na
região. Diversos locais funcionavam como depósito de lixo e muitos canais funcionam como
verdadeiros coletores de lixo. A figura 5.6 exemplifica o descrito acima.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Figura 5.6 – Vala funcionando como coletora de resíduo sólido na região

5.8 A SITUAÇÃO URBANÍSTICA LOCAL

Como ilustrado em cada item deste capítulo, percebe-se que o município não conseguiu
efetuar as mudanças em infra-estrutura nescessárias para contrapor os efeitos desastrosos do
crescimento urbano.

Como já descrito no capítulo anterior, São João de Meriti apresentou um crescimento absurdo
de 1940 a 2000, o que acarretou em uma ocupação completamente desordenada. A figura 5.7
evidencia a situação da ocupação atual.

Figura 5.7 – Vista do Município de São João de Meriti

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

A figura 5.7 é uma vista panorâmica do município de São João de Meriti, e evidência a situação
de ocupação desordenada em que o município se encontra. Não há quase vegetação, os
morros estão sem proteção contra erosão e a população mais pobre se instala em condições
de sub-habitação em áreas de pouca ou nenhuma estrutura urbana. O município apresenta,
ainda, deficiência no sistema de abastecimento de água tratada, no tratamento de esgotos
sanitários, no sistema de drenagem pluvial e na coleta de lixo.

5.9 O RIO SARAPUÍ

Não obstante a todos os problemas no município, o rio principal da Bacia, o Sarapuí, também
apresenta uma série de transtornos, o que prejudica ainda mais a fragilizada rede de drenagem
da região.

Os maiores problemas de inundações com relação aos níveis do rio Sarapuí localizam-se do
seu trecho baixo até a confluência com o rio da Prata, que já foi confinado por diques marginais
e hoje apresenta cotas de coroamento insuficientes.

A situação em que o rio se encontra hoje é precária. O rio está assoreado, devido a deficiente
coleta de lixo em toda a bacia e não só no município de São João do Meriti. Este fato implica
numa redução drástica na capacidade de fluxo do curso d’água do rio, inclusive foi observado
que este tem extravasado por cima do Pôlder Alberto de Oliveira, com alguma freqüência. A
figura 5.8 ilustra o rio Sarapuí nas proximidades da baia de Guanabara.

O rio Sarapuí, com exceção do estirão contido dentro do campo de provas do exército, em
Gericinó, atravessa regiões densamente habitadas e ocupadas, via de regra, em processos
descontrolados carecendo de infra-estrutura urbana adequada, encontrando-se, portanto, com
nível alto de poluição devido a total falta de tratamento de esgoto na bacia, tornando-se assim
um veiculador de doenças infecto-contagiosas. Esta poluição implica em prejuízos ainda
maiores para o Estado, pois após um evento chuvoso a parcela da população que entra em
contato direto com as águas deste rio adoece, fazendo que os hospitais públicos funcionem
acima da sua capacidade.

Os canais de drenagem da bacia do Iguaçu-Sarapuí estarão sempre condenados a uma vida


útil reduzida, enquanto não se conseguir equacionar os problemas de coleta domiciliar de lixo e
limpeza urbana dos municípios. Ficou demonstrado que grande parte do material dragado,
durante as obras do projeto Reconstrução-Rio, tem sua origem ligada aos resíduos sólidos

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

urbanos. O lixo, ao atingir os cursos d’água, se transforma em substrato para fixação de


vegetação e barragem para reter sedimentos, dando origem a verdadeiras ilhas no leito dos
rios. A vegetação, por sua vez, é continuamente alimentada pelos nutrientes propiciados pelos
esgotos domésticos, apresentando crescimento acelerado e de difícil controle.

Figura 5.8 – Foto do Rio Sarapuí próximo à baia de Guanabara

Neste item, já que o rio Sarapuí influencia a ocorrência de enchentes no município de São João
do Meriti, notou-se que para um tratamento mais adequado aos estudos das enchentes na
região deve-se fazer uma coleta de dados global da bacia. Assim, no próximo item, serão
apresentadas as principais características da bacia do rio citado.

5.10 DADOS GLOBAIS DA BACIA DO SARAPUÍ

A bacia do rio Iguaçu-Sarapuí apresenta uma área de drenagem de 726 km 2, dos quais 168
km 2 representam a sub-bacia do Sarapuí, e abriga todo o Município de Belford Roxo e parte
dos Municípios do Rio de Janeiro, Nilópolis, São João de Menti. Nova Iguaçu e Duque de
Caxias, inseridos na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Limita-se ao norte com a bacia
do rio Paraíba do Sul, ao sul com a bacia dos rios Pavuna/Meriti, a leste com a bacia dos rios
Saracuruna e Inhomirim/Estrela e a oeste com a bacia do rio Guandu e outros afluentes da
baía de Sepetiba. A figura 5.9 situa a bacia do rio Sarapuí.

As nascentes do rio Iguaçu encontra-se na Serra do Tinguá, a uma altitude de


aproximadamente 1000 m. O seu curso desenvolve-se, predominantemente, no sentido
sudeste, com uma extensão total de cerca de 43 km, desaguando na baía de Guanabara. Seus
principais afluentes são os rios: Tinguá, Pati e Capivari pela margem esquerda e Botas e
Sarapuí pela direita.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Nem sempre o rio Sarapuí pertenceu à bacia do rio Iguaçu, isso somente tornou-se realidade
no início deste século, após grandes obras de saneamento na Baixada Fluminense, que
resultaram na retificação dos seus cursos médio e inferior e no desvio de sua foz para o curso
inferior do rio Iguaçu. Ambos os rios apresentavam-se, anteriormente, bastante sinuosos.

A fisiografia da bacia Iguaçu-Sarapuí é caracterizada principalmente por duas unidades de


relevo: a Serra do Mar e a Baixada Fluminense, com um forte desnível de cerca de 1600
metros, do ponto mais alto da serra (o pico do Tinguâ) até a planície. O clima da bacia é quente
e úmido com estação chuvosa no verão, com temperatura média anual em tomo dos 22 0C e
precipitação média anual em tomo de 1700 mm. Os rios descem as serras em regime
torrencial, com forte poder erosivo, alcançando a planície, onde perdem velocidade e
extravasam de seus leitos em grandes alagados.

São João
de Meriti

Rio Sarapuí

Figura 5.9 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Sarapuí

Ao norte da bacia, encontram-se a Serra do Tinguá e a Serra de Madureira/Mendanha, locais


que apresentam maior predominância de área vegetal remanescente. Na Serra do Tinguá tem-

40
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se um trecho considerável bastante preservado, onde se encontra a Reserva Biológica do


Tinguá. A área florestada ocupa 20% da bacia. Na parte central da bacia predomina o uso
pecuário.

Mas é na Baixada que concentra-se a área urbana da bacia, a população é


predominantemente pobre, milhões de pessoas vivem em níveis baixíssimos de qualidade de
vida, com rendas que não chegam a um salário mínimo. Falta saneamento básico, educação e
infra-estrutura urbana, e nem mesmo a coleta de lixo é feita de forma satisfatória. A grande
maioria das residências não possui esgotamento sanitário e o abastecimento de água também
está longe de cobrir toda a região.

Em 1996, já havia cerca de 180 mil pessoas vivendo na área inundável da bacia, onde as
condições socio-ambientais são as mais precárias (COPPE/UFRJ,1996). O lixo e o esgoto das
casas são despejados nos rios e valas a céu aberto.

As condições naturais da bacia, com relação ao relevo, clima, hidrografia e vegetação, são
bastante frágeis. O processo de ocupação desta bacia, em especial, deveria ter sido bastante
programado e analisado para que não causasse um grande desequilíbrio. A ocupação da bacia
foi feita de forma não planejada e não ordenada, conforme já relatado anteriormente. Assim,
verifica-se graves problemas sociais e ambientais na área, principalmente os relacionadas às
inundações frequentes.

Estudos geomorfológicos foram realizados e estes demonstram que a região era coberta por
florestas, que tinham como característica principal a contenção dos processos erosivos e a
regularização do ciclo hidrológico, mas estas foram destruídas com os constantes
desmatamnetos o que levou ao agravamento de inundações dos terrenos.

O problema de inundações na Baixada não é recente e requer uma ação conjunta de poder
público e sociedade para ser resolvido. É necessário cuidado para que não ocorra com as
áreas ainda sem ocupação o mesmo tipo de ocupação desorganizada de outrora. Além disso,
é preciso tentar recuperar as áreas que foram ocupadas de forma irregular a fim de reverter, ou
ao menos minimizar, esta situação de forte desequilíbrio ambiental em que se encontram.

A população em 1996 na bacia Iguaçu-Sarapuí, já era de mais de dois milhões de habitantes, e


estava concentrada na área urbana, que ocupava menos de 40% de sua extensão total. Os
restantes 60% eram áreas rurais, incluindo 20% de florestas nativas bem preservadas, nos
maciços do Tinguá e do Mendanha (SERLA-COPPE/UFRJ, (1994)).

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Percebe-se, então, que a bacia ainda apresentava condições razoáveis para um planejamento
de uso da terra que permitiria, minimamente promover o controle das enchentes e, sob uma
perspectiva mais abrangente, buscar a melhoria da qualidade sócio-ambiental, no sentido de,
pelo menos, reverter o quadro atual de “calamidade pública”, com os graves problemas de
insalubridade, indigência, carência de infra-estrutura, poluição, além dos altíssimos índices de
violência (com um assassinato a cada três horas, em média).

A cada dia a situação de ocupação da bacia se agrava tornando-se cada vez mais difícil
reverter o quadro de “calamidade pública” da região.

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6 APLICAÇÃO DO MODELO NA BACIA DE ESTUDO

6.1 INTRODUÇÃO

Neste capitulo serão apresentadas algumas premissas básicas utilizadas na modelagem da


região do município de São João de Meriti. Como visto no capítulo anterior, a região em
questão é fortemente urbanizada e com alto grau de impermeabilização. As encostas, na sua
maioria, encontram-se desmatadas ou ocupadas de forma irregular, muitas vezes em situação
de risco para as próprias comunidades. Associada aos resíduos sólidos provindos das
encostas desmatadas está a incorporação do lixo no escoamento superficial que entopem o já
debilitado sistema de drenagem da região.

Freqüentemente a rede de macro drenagem extravasa para eventos de chuvas intensas e,


nestas ocasiões, as ruas funcionam como canais passando a complementar a rede de macro
drenagem. Para a simulação na região, optou-se por inserir a micro-drenagem em toda a
região, porém com efeitos diminutos devido à precária rede existente. Na região, é habitual a
rede de micro-drenagem entupir rapidamente e, por conseqüência, ocorre das ruas verterem
diretamente para as valas, em vez da situação que seria natural, em que o rio extravasa para
as ruas.

Apesar de a região apresentar uma série de dificuldades com relação às exatas dimensões dos
canais e da existência ou não da micro-drenagem na região, é possível, mesmo sem conhecer
perfeitamente a rede de drenagem, partindo-se de hipóteses aproximadas, modelando-se o
padrão das cheias observadas de forma a calibrar o modelo, pode-se minimizar os efeitos da
cheia, corrigindo as suas causas.

6.2 CALIBRAÇÃO DO MODELO

Para a calibração do modelo de células para a situação atual da bacia em estudo, devido à
inexistência de medições de parâmetros hidráulicos e hidrológicos, optou-se por realizar a
comparação dos resultados apresentados no estudo atual com outros existentes realizados
para o local, apesar de esta não ser a metodologia ideal para a calibração de um modelo
matemático. Considerou-se assim, que para fins de verificação de uma metodologia, objetivo
desta tese, este procedimento pode ser considerado suficiente.

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A partir de visitas realizadas junto à Prefeitura do Município de São João do Meriti, foram
obtidos mapas dos locais de inundação, que foram utilizados para a calibração do modelo, de
forma a verificar se os locais de inundação apresentados como resultado da simulação
correspondem ao levantamento realizado pela Prefeitura local.

Segue-se, portanto um modelo de calibração qualitativa por ser o objetivo do trabalho avaliar a
metodologia dos estudos e validar a utilização do modelo matemático como ferramenta de
apoio ao gerenciamento de recursos hídricos. Há uma grande dificuldade de obtenção de
dados de leituras de réguas ao longo do trecho em estudo que pudessem validar as
simulações, o que torna extremamente difícil uma calibração quantitativa.

Dadas as incertezas associadas ao processo de calibração desenvolvido, esta modelação não


deve ser adotada como referência para projetos práticos de engenharia, sendo, entretanto, útil
na avaliação qualitativa do processo e adequada aos objetivos acadêmicos estabelecidos.

Com isso, foram realizadas diversas simulações que indicaram os seguintes resultados como
os melhores parâmetros de calibração:

• Coeficiente de manning do rio Sarapuí = 0,04;


• Coeficiente de manning das valas = 0,04;
• Coeficiente de manning das galerias principais = 0,05;
• Coeficiente de manning da micro-drenagem = 0,05;
• Coeficiente de manning das ruas e ligações de planície = 0,07;
• Coeficiente de vertimento frontal = 0,10;
• Coeficiente de vertimento lateral = 0,013;
• Coeficiente de orifício = 0,1 a 0,2;
• Coeficiente de run-off = 0,52 a 0,77.

6.3 CONDIÇÕES INICIAIS E DE CONTORNO

As condições iniciais são adotadas para caracterizar o estado inicial da região modelada. Nos
contornos da região modelada, onde há interação destas com áreas não modeladas, são
necessárias condições de contorno que fechem o modelo.

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Como condição inicial da modelagem considerou-se todas as células de planície (ruas, praças,
jardins, casas, etc) com profundidade de água igual a zero (seco), com exceção do reservatório
pulmão que foi inserido com uma leve lamina d’água.

A maior parte dos contornos do modelo são naturalmente fechados pelas cumeadas dos
morros que a cercam. Porém, como não foi modelada toda a bacia do rio Sarapuí, existem
condições de contorno nas entradas de águas provindas deste rio principal e de todos os seus
afluentes na margem esquerda na área simulada.

Como, entretanto, as células só começam a ter escoamento quando se inicia a chuva, é


necessário definir como condição de contorno na cabeceira das valas uma vazão equivalente à
vazão de base das mesmas.

A jusante do rio Sarapuí foi inserida a condição de maré na Baia de Guanabara. A condição de
contorno da maré foi obtida com base no relatório HICON de novembro de 1998 (item 4.2
Estudo dos níveis d’água a jusante das comportas). Este estudo determinava valores médios
para as oscilações máximas e mínimas da maré. No relatório, utilizava-se como condição de
contorno uma senóide média considerando a média das preamares na cota + 0,75 m e a média
das baixa-mares na cota - 0,25 m.

Com as cartas na escala 1:10.000 foram retirados os dados necessários para gerar as
condições de contorno utilizadas na modelagem da região. No total foram inseridas vinte
condições de contorno, sendo treze geradas a partir do Método do Soil Conservation Service, e
seus respectivos hidrogramas de vazões de projetos para o tempo de recorrência de 20 anos.
Os procedimentos envolvidos neste cálculo são mostrados no anexo A.

Tabela 6.1 – Dados para geração das condições de contorno a partir do Método do Soil
Conservation Service.
Canal L (Km) L (m) H1 H2 Dh (m) Tc (hs) Tc (min) A (Km2)
Prata 15,0 15.000,00 0,6 155,0 154,4 3,10 185,97 9,80
Dona Eugênia 22,0 22.000,00 1,5 550,0 548,5 2,96 177,67 16,80
Peri-Peri 4,0 4.000,00 3,0 22,0 19,0 1,51 90,52 2,50
V. Distinção 5,0 5.000,00 0,0 30,0 30,0 1,64 98,25 2,40
V. Redentor 2,4 2.400,00 0,0 12,0 12,0 1,00 59,89 1,10
V. Alex Magno 2,0 2.000,00 -0,4 12,0 12,4 0,80 47,98 0,40
V. São Bento 5,2 5.200,00 -0,6 22,0 22,6 1,91 114,58 1,30
V. Sta. Tereza 4,4 4.400,00 -1,2 24,0 25,2 1,51 90,66 2,20
V. S.E. Furnas 2,2 2.200,00 -1,3 15,0 16,3 0,80 48,11 1,10
V. Gaspar Ventura 7,0 7.000,00 -1,8 30,0 31,8 2,36 141,78 5,50
V. Kennedy G. Freire 5,8 5.800,00 -2,0 10,0 12,0 2,77 165,95 2,90
Cont 66 0,8 815,00 2,0 10,0 8,0 0,34 20,11 0,54
Cont 83 0,7 675,00 7,2 15,0 7,8 0,27 16,33 0,33

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Sendo:
L : comprimento do rio.
H1: cota mínima da sub-bacia
H2: cota máxima da sub-bacia
Dh: variação da cota na sub-bacia
Tc: tempo de concentração
A: área da sub-bacia

Não foi esquecida a inserção das condições de contorno do efeito do reservatório de


amortecimento do Gerecinó. Segundo o relatório 0308-RE-0410_HS-003/0 da hidroconsult
(1991), a vazão máxima efluente deste reservatório para um tempo de recorrência de 20 anos
é de 33,7 m 3/d.

Como, entretanto, as células do modelo só começam a ter escoamento quando se inicia a


chuva, foi necessário definir como condição de contorno na cabeceira das valas uma vazão de
base. Desta forma foram inseridas seis vazões de base no início de cada uma das valas,
completando assim as vinte condições de contorno utilizadas.

6.3.1 Obtenção da chuva de projeto

Para a obtenção das chuvas de projeto foi adotado o estudo de chuvas intensas na bacia do rio
Iguaçu/Sarapuí, realizado pelo laboratório de Hidrologia da COPPE / UFRJ, Plano Diretor de
Recursos Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu-Sarapuí, de novembro de 1994. Foram utilizados
neste estudo os postos pluviográficos de Nova Iguaçu e de Xerém, e os postos pluviométricos
de Bangu e de São Bento. Estes postos foram escolhidos por representarem as características
das chuvas intensas na região e por possuírem histórico adequado para o estabelecimento das
equações de chuvas intensas.

As tabelas 6.2 e 6.3 apresentam as chuvas intensas de Bangu e de São Bento para tempos de
duração de 1 h a 15 h e tempos de recorrência de 5, 10, 20, 50 e 100 anos.

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Tabela 6.2 – Estação pluviométrica de Bangu (fonte: Plano Diretor de Recursos


Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu/Sarapuí, Laboratório de Hidrologia, COPPE/UFRJ)

Tabela 6.3 – Estação pluviométrica de São Bento (fonte: Plano Diretor de Recursos
Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu/Sarapuí, Laboratório de Hidrologia, COPPE/UFRJ)

As equações de chuvas intensas de Nova Iguaçu e de Xerém foram estabelecidas associando-


se a intensidade da chuva à sua duração, para cada tempo de recorrência. Foram ajustadas
equações do tipo:

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A
i=
(t + t 0 ) b
Onde:
§ i – intensidade, em mm/h
§ t – duração da precipitação, em min.
§ A, t0 e b – parâmetros ajustados para cada tempo de recorrência.

As tabelas 6.4 e 6.5 apresentam os parâmetros das equações de chuvas intensas de Nova
Iguaçu e de Xerém para os tempos de recorrência de 5, 10, 20, 50 e 100 anos.

Tabela 6.4 – Equação de chuvas intensas de Nova Iguaçu (fonte: Plano Diretor de
Recursos Hídricos da Bacia do Iguaçu/Sarapuí, Laboratório de Hidrologia,
COPPE/UFRJ)

Tabela 6.5 – Equação de chuvas intensas de Xerém (fonte: Plano Diretor de Recursos
Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu/Sarapuí, Laboratório de Hidrologia, COPPE/UFRJ)

A distribuição espacial para ponderação das chuvas dos postos foi feita com o emprego das
curvas de redução ponto-área desenvolvidas pela SERLA/SONDOTÉCNICA, “Procedimentos
para Reavaliação das Vazões e Linhas d’água para os Projetos de Macrodrenagem das
Bacias” (maio de 1991), a partir do estudo dos temporais ocorridos no Rio de Janeiro em 1966
e 1967.

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7 ANÁLISE E COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS

7.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo far-se-á a exposição e correspondente análise dos resultados alcançados a


partir da simulação de um evento chuvoso com tempo de recorrência de 20 anos. Foi estudada
uma área de 27,9 km 2, sendo que destes, 22,9 km 2 na área do município de São João do Meriti,
o que corresponde a 66% do município, e o restante abrangeu área dos municípios
circunvizinhos, com o Duque de Caxias. Com esse objetivo foram utilizadas 468 células.

Para facilitar o entendimento dos resultados aqui obtidos, estes serão divididos em três partes
principais:

• Na primeira parte, houve a preocupação em expor a situação atual do município de São João
de Meriti em termos de mapeamento de áreas mais sofridas com alagamentos. Estes
resultados foram comparados com os já conhecidos pela prefeitura local e, por conseguinte,
convalidados pelos mesmos.

Este primeiro tópico, então, identifica as áreas que mais sofrem alagamentos. A partir daí,
foram escolhidos alguns pontos críticos aos quais são atreladas as suas características
básicas e, de forma bastante sucinta, o porquê da sua escolha.

• Complementando o item anterior, cujo objetivo principal era identificar os pontos que mais
sofrem com os alagamentos, este item tem por objetivo, identificar os possíveis “causadores”.
Assim, a região estudada foi dividida em 28 grupos, a fim de identificar a participação de cada
grupo no alagamento total. Para isso, foram realizados 29 cenários de estudo. No primeiro,
apenas ratificou-se o que fora exposto anteriormente, ou seja, evento chuvoso em toda a
bacia sem priorizar nenhum grupo em relação a outro. Nos cenários subseqüentes, a
abordagem foi um pouco diferente. Priorizou-se em cada momento a observação de um
grupo em relação aos demais, isto é, retirando-se qualquer evento chuvoso daquele grupo, a
fim de observar-se o que ocorreria aos demais em decorrência desta considerção.

Para facilitar a identificação do efeito de um grupo nos demais, foi elaborada um tabela que
mostra a influência da retirada da chuva de um determinado grupo na célula representativa

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dos demais grupos. Esta tabela será apresentada em termos percentuais, de forma a poder
ser extrapolada para qualquer evento chuvoso, com qualquer tempo de recorrência.

Além disso, também foram feitos, nesta etapa, cotagramas de alguns locais, mostrando o
efeito da retirada da chuva em determinados grupos. Nestes podem ser identificados a
redução do pico de alagamento, e também as possíveis mudanças no tempo de
concentração deste em função da retirada ou não de determinado grupo.

• Como última análise, foi feita a valoração dos prejuízos de todos os cenários citados, isto é,
verificou-se o quanto a retirada de cada grupo afeta os demais em termos econômicos.

7.2 SITUAÇÃO ATUAL

Esta primeira fase dos resultados é fundamental, pois é a partir desta que serão gerados todos
os demais resultados.

A figura 7.1, apresentada na próxima página, ilustra toda a área analisada, e será de grande
valia para auxiliar o entendimento acerca da região. Nesta figura, serão identificados alguns
pontos que servirão de referências para localização.

A figura 7.2, também apresentada nas páginas seguintes, ilustra as manchas de inundação
tanto a apresentada pela Prefeitura, quanto a resultante da simulação em decorrência de uma
cheia com tempo de recorrência de 20 anos.

A simulação detectou diversos locais sujeitos a inundações. Na figura 7.2 estão ilustradas as
manchas de inundação apresentadas pela prefeitura de São João e as manchas simuladas
pelo modelo.

Pode-se perceber que as duas manchas apresentam uma área coincidente razoavelmente
elevada, sendo que as áreas relacionadas ao modelo apresentam normalmente áreas maiores
devido ao tamanho das células e as manchas apresentadas pela prefeitura ilustram pontos
mais localizados e com um detalhamento maior.

Outro ponto interessante que pode ser identificado, é que as manchas da prefeitura estão
localizadas na sua maioria nas proximidades do rio Sarapuí, enquanto que as da simulação
estão mais bem distribuídas dentro da área simulada.

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Figura 7.1 – Visão geral da área simulada

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Figura 7.2 – Comparação das manchas de inundação da prefeitura x simulada

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Nas figuras anteriores fica claro que o modelo apresentou resultados coerentes e bem
aproximados com os relatados pela prefeitura. Desta forma, deve-se notar que,
qualitativamente, o modelo atende às expectativas iniciais.

É interessante ressaltar que todos os locais no mapa da prefeitura que são identificados como
alagáveis, nos resultados da simulação, indicaram um alagamento relativamente elevado,
porém algumas regiões apresentaram alagamentos menores que 0,5 m, assim não aparecem
no mapa de alagamento (figura 7.2).

Existem algumas regiões alagáveis na área simulada que se encontram fora do município de
São João de Meriti e por este motivo não estão identificadas nas manchas de alagamento que
foram fornecidas pela prefeitura de São João de Meriti.

Nas figuras anteriores (7.1 e 7.2) foram identificados os locais que mais alagam na região e no
próximo item tentar-se-á identificar as regiões que mais afetam estes locais. Esta próxima
análise será feita através de cotagramas.

7.3 IDENTIFICAÇÃO DE POSSÍVEIS “CAUSADORES” DE ALAGAMENTOS

Para identificar o efeito de cada região no contexto total da área estudada, como já dito na
introdução deste capítulo, a região foi dividida em 28 grupos, conforme a figura 7.3.

Na confecção de cada grupo, tentou-se identificar células com mesmas características tais
como células da região alta e células das regiões baixas. Como a região possui 27,9 km 2, cada
grupo possui em média aproximadamente um milhão de metros quadrados.

O menor grupo em área é o grupo 24, que é composto por células da região baixa que
apresentam um elevado grau de alagamento. Neste grupo todas as células possuem mais de
0,6 m de cota de alagamento. A área deste grupo é de cerca de 170.000 m 2.

Em geral os menores grupos em termos de área estão localizados na parte baixa da área em
estudo, enquanto que os maiores grupos em termos de área estão na parte mais elevada do
município.

Seguindo esta lógica, o grupo com maior é o grupo 18. Este grupo apresenta como
característica principal o fato de ser composto por células de encosta a montante do canal

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Alberto de Oliveira. A área deste grupo é de quase 2,5 milhões de metros quadrados. A tabela
7.1 ilustra o tamanho de cada um dos grupos utilizados.

Tabela 7.1 – Tamanho em área de cada um dos grupos.


Grupo Área (m2)
1 1.109.167,50
2 1.023.600,80
3 1.238.997,90
4 550.171,50
5 344.069,90
6 1.202.917,40
7 274.135,10
8 1.399.350,20
9 781.901,00
10 1.474.158,30
11 493.481,90
12 688.630,70
13 1.253.897,60
14 525.347,50
15 945.716,00
16 1.170.750,80
17 610.665,10
18 2.497.078,70
19 553.201,60
20 575.945,20
21 278.378,30
22 587.303,00
23 943.841,80
24 169.886,00
25 1.968.695,70
26 1.367.471,00
27 1.711.153,00
28 907.778,50

Pode-se verificar que o somatório dos grupos é um pouco menor que a área total simulada.
Esta diferença se deve ao fato de que existem algumas células que não pertencem a nenhum
grupo, tais como algumas células referentes ao pôlder, ao rio Sarapuí, aos canais etc.

Após a apresentação dos grupos utilizados no estudo, é fundamental analisar a influência de


cada um destes na área total e identificar possíveis locais como os maiores causadores do
alagamento.

Como já descrito na introdução deste capítulo, foram simulados 29 cenários, sendo o cenário
“zero” o mesmo utilizado na primeira parte do estudo, ou seja, chuva igual em todas as células
do modelo. Já nos 28 cenários subseqüentes na simulação é retirada a chuva de um
determinado grupo.

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Para facilitar o entendimento do procedimento utilizado têm-se os seguintes exemplos: no


cenário “um”, tira-se a chuva do grupo um e verifica-se as modificações no resultado geral; no
cenário “dois”, tira-se a chuva do grupo dois e faz-se as mesmas verificações e assim por
diante até o cenário “vinte e oito”.

Para facilitar a identificação do efeito de um grupo nos demais, a tabela 7.2, que será
apresentada nas páginas seguintes, mostra a influência da retirada da chuva de um
determinado grupo na célula representativa dos demais grupos. O critério de seleção para
escolha da célula representativa de determinado grupo foi em função da célula que mais alaga
no grupo. A tabela é apresentada em termos percentuais, de forma a poder ser extrapolada
para outros eventos chuvosos.

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Figura 7.3 – Mapa com os grupos

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7.2 - Tabela de influências.

celula 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
Cenário 268 270 217 260 251 213 212 208 222 244 205 203 201 199 232 183 193 164 178 155 172 150 142 145 130 134 125 67
0 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
1 100% 28% 12% 15% 7% 2% 2% 0% 2% 2% 0% 0% 0% 2% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
2 0% 43% 0% 18% 7% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
3 0% 0% 98% 11% 6% 19% 16% 0% 18% 18% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
4 0% 0% 0% 16% 19% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
5 0% 0% 0% 0% 75% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
6 0% 0% 2% 0% 0% 40% 35% 0% 37% 30% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
7 0% 0% 0% 0% 2% 2% 2% 0% 3% 4% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
8 0% 0% 0% 0% 0% 1% 2% 80% 2% 3% 0% 32% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
9 0% 0% 0% 0% 3% 1% 1% 0% 7% 13% 0% 1% 0% 3% 2% 0% 1% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
10 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 14% 0% 1% 0% 30% 0% 0% 29% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 0%
11 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 11% 0% 0% 100% 23% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
12 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 2% 0% 28% 1% 24% 0% 0% 4% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
13 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 2% 0% 4% 0% 57% 100% 33% 0% 33% 3% 0% 1% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 2% 0% 3%
14 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 2% 0% 1% 0% 23% 0% 0% 10% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
15 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 98% 0% 12% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 0%
16 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 80% 0% 0% 4% 0% 0% 0% 0% 6% 0% 7% 0% 6%
17 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 0% 14% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
18 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 0% 10% 0% 0% 1% 9% 0% 8% 0% 7%
19 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 60% 0% 5% 0% 1% 0% 0% 1% 0% 3%
20 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 16% 13% 0% 0% 2% 0% 3% 0% 3%
21 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 49% 0% 1% 1% 0% 2% 0% 1%
22 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 32% 0% 100% 2% 2% 0% 3% 0% 2%
23 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 87% 4% 0% 5% 0% 5%
24 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 2% 0% 1%
25 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 9% 100% 10% 0% 7%
26 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 8% 1% 10% 0% 6%
27 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 12% 0% 12% 100% 9%
28 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 8% 0% 9% 0% 7%

57
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Com base na tabela 7.2 que mostra percentualmente a redução do pico da enchente nos
grupos e, por conseguinte, a influência do grupo na região simulada, tira-se as seguintes
conclusões.

O grupo que mais influência nos demais é o grupo 1, pois quando retira-se a chuva deste há
diminuição no pico de dez outros grupos vizinhos. Porém há de se observar que estes grupos
não estão em áreas preocupantes em termos de alagamento.

Torna-se interessante citar o que ocorre não só com o grupo 1, mas também com os grupos
11, 13, 18, 22, 25 e 27. Estes grupos são totalmente responsáveis pelo alagamento em sua
própria superfície por não possuírem áreas acima de si.

O maior grupo do estudo, o 18, afeta apenas 5 grupos a jusante mas os locais afetados o são
de forma preocupante, pois possuem um elevado nível de alagamento. Assim sendo,
destaca-se a importância deste nas enchentes da região.

Os grupos 3, 5, 6, 8, 15, 16, 19 e 23 apesar de não serem os únicos responsáveis pelo seu
próprio alagamento, são os principais. Vale destacar uma peculiaridade de dois destes
grupos: do grupo 23, que mesmo não possuindo áreas contribuintes acima dele, recebe
águas provenientes do alto alagamento do grupo de jusante (24); e do grupo 5 que só afeta a
si próprio.

Ao contrário dos grupos supracitados, existem também os grupos de jusante que quando
retirada a chuva sob estes a influência sobre o seu próprio alagamento não é significativa.
Este é o caso dos grupos 7, 9, 24, 26 e 28.

É notório que nos dois menores grupos, o 7 e o 24, por se tratarem de grupos pequenos e
localizados na parte baixa da região, estes não são os responsáveis pelas suas enchentes, já
que retirando-se a chuva sobre estes a redução de seus picos será de apenas 2% e 1%,
respectivamente. Claramente estes grupos também não influenciam de maneira significativa
praticamente nenhum outro ponto da bacia.

Os grupos mais a jusante no modelo (24, 26 e 28) que apresentam também grandes
enchentes são também os grupos que sofrem a influência de um maior número de grupos, de
10 a 12.

58
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Os grupos 4, 10, 12, 14, 17 e 20 são locais que sofrem grande influência de outras regiões e
que ao mesmo tempo também são responsáveis por boa parte do seu próprio alagamento.

O grupo 21, apesar de estar localizado na parte baixa e de ser um grupo pequeno, não
apresenta grande alagamento e é o maior responsável pelo seu próprio alagamento. Este
fato ocorre, pois este grupo apesar de estar localizada em uma parte baixa, não recebe fluxo
diretamente de nenhum grupo de montante.

Finalmente, o grupo 2 é afetado apenas por si próprio e o grupo 1.

Após observar cuidadosamente os dados da tabela de redução de picos, nota-se a


conveniência em ser feita uma análise mais detalhada de alguns pontos. Para efetivação
desta, foram utilizados os cotagramas. Estes evidenciam a relação cota de alagamento
versus tempo, com isto pode-se analisar os efeitos no tempo de concentração e na
permanência do alagamento com a retirada da chuva nos grupos.

O primeiro cotagrama escolhido para análise é o da célula 164, que é o representativo do


grupo 18. Como já citado anteriormente, este pertence a uma região de cabeceira do canal
Alberto de Oliveira e possui um nível alagamento elevado. Este cotagrama está ilustrado na
figura 7.4 e, a seguir é apresentado na figura 7.5 um detalhe no mapa com destaque do
grupo 18.

Cotagrama da Célula 164 (representativa do grupo 18)

10,4
Tc = 5,7 hs

10,3

10,2

10,1

10
Cota (m)

9,9

9,8

9,7

9,6

9,5
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00
Tempo (horas)

Situação Atual Retirada do grupo 18

Figura 7.4 – Cotagrama da célula 164 (célula mais a jusante do grupo 18)

59
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Canal Auxiliar
Canal Alberto de Oliveira

Figura 7.5 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 18

Observa-se neste cotagrama, como já comentado anteriormente, que retirando-se a chuva do


grupo o alagamento nesta região será “zero”. O tempo de pico deste local, que está perto de
uma das extremidades da bacia é de 5,7 horas e o nível de alagamento na região chega a
0,69 m.

Outro ponto de interesse para o estudo é o da célula 203 (representativa do grupo 12). Esta é
uma região intermediária em termos de cota na região. Por esse motivo este local ao mesmo
tempo em que está na cabeceira do sistema de drenagem do canal Vila Rosali, também
recebe contribuições de outros grupos tais como 8, 11 e 13. O cotagrama deste interessante
ponto no sistema de drenagem é apresentado na figura 7.6 e sua localização na figura 7.7.

60
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Cotagrama da Célula 203 (representativa do grupo 12)

8,6
Tc = 5,7 hs
8,5

8,4

8,3

8,2
Cota (m)

8,1

7,9

7,8

7,7

7,6
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00
Tempo (horas)

Situação Atual Retirada do grupo 8 Retirada do grupo 11 Retirada do grupo 12 Retirada do grupo 13

Figura 7.6- Cotagrama da célula 203 (célula representativa do grupo 12).

Rio Sarapuí

Canal Vila Rosali

Grupo 13

Grupo 11

Figura 7.7 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 12

61
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Como esperado este local sofre influência de diversos grupos e o cenário no qual se percebe
uma maior redução no pico é o que se retira a chuva do grupo 13, que tem toda a sua vazão
direcionada para o sistema de drenagem do canal Vila Rosali, afogando-o e piorando muito a
eliminação do excesso de água da região. Mas o hidrograma que sofre um maior retardo no
tempo de pico, é o que se retira a chuva do próprio grupo. Neste caso o tempo de pico será
adiado em uma hora (6,7 horas).

Esta região sofre bastante com enchentes apesar de estar localizado em uma cota
relativamente alta. Isto se deve principalmente a baixíssima declividade do local em relação
aos pontos mais baixos do município.

Mais um local que merece destaque na região é o grupo 20. Este grupo abrange boa parte
das margens do canal Alberto de Oliveira e é afetado por alguns grupos, tendo seu ponto
crítico na célula 155 na margem direita do canal. O cotagrama local é apresentado na figura
7.8 e o detalhe no mapa com a localização do grupo, está na figura 7.9.

Cotagrama da Célula 155 (representativa do grupo 20)

5,6

5,55

5,5

5,45

5,4
Cota (m)

5,35

5,3

5,25

5,2

5,15
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00
Tempo (horas)

Situação Atual Retirada do grupo 18 Retirada do grupo 20 Retirada do grupo 22

Figura 7.8 – Cotagrama da célula 155 (representativa do grupo 20).

62
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Canal Auxiliar

Canal Alberto de Oliveira

Figura 7.9 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 20

Apesar do maior grupo da região ser o grupo 18, este não afeta de maneira significativa a
redução do pico de alagamento no local, visto que o fluxo de água provindo desta região
possui um tempo de concentração maior que o dos grupos mais próximos. Realmente, com a
retirada deste grupo percebe-se uma redução significativa do volume escoado e no tempo de
permanência do alagamento, mas não na cota do alagamento final.

O grupo 22 é o que mais afeta o local, comprovando mais uma vez a forte influência das
encostas próximas no alagamento de uma região. Com a retirada da chuva das encostas
mais próximas (grupo 22) houve também um retardo significativo no tempo de pico, o que
mais uma vez comprova a rápida chegada das águas provindas destas encostas.

Agora que já foram tratados exemplos nas encostas e na parte intermediária da área
modelada, tratar-se-á dos pontos mais a jusante e que são afetados por uma grande região.
Na parte baixa, junto ao Sarapuí ou ao Canal auxiliar foram selecionados 4 exemplos. Um no
trecho inicial da área modelada (grupo 5), um no início do canal auxiliar (grupo 17), um ponto
na junção do canal Alberto de Oliveira com o canal auxiliar (grupo 24) e, finalmente, um ponto
no final da área simulada no reservatório pulmão (grupo 28).

Assim, a próxima figura 7.10 ilustra o cotagrama da célula 251 que representa o grupo 5. O
detalhe do grupo 5 se ilustra na figura 7.11.

63
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Cotagrama da Célula 251 (representativa do grupo 5)

9,25

9,2

9,15
Cota (m)

9,1

9,05

8,95
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00
Tempo (horas)
Situação Atual Retirada do grupo 1 Retirada do grupo 2 Retirada do grupo 3
Retirada do grupo 4 Retirada do grupo 5

Figura 7.10 – Cotagrama da célula 251 (representativa do grupo 5)

Rio Sarapuí

Figura 7.11 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 5

64
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Espera-se que um local localizado na parte baixa seja influenciado por diversos grupos na
cheia. Mas, apesar de vários locais afetarem na cheia local, o primeiro aspecto que é
percebido no gráfico da figura 7.10, é que o maior causador do alagamento é a própria
região. Vê-se também que esta não é uma área crítica em termos de alagamento já que o
nível da cheia ficou abaixo de 0,25 m.

A figura 7.12 indica a variação do nível da cheia na célula 193 (grupo 17).

Cotagrama da Célula 193 (representativa do grupo 17)

4,7

4,6

4,5

4,4
Cota (m)

4,3

4,2

4,1

3,9
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00
Tempo (horas)

Situação Atual Retirada do grupo 10 Retirada do grupo 14 Retirada do grupo 15 Retirada do grupo 17

Figura 7.12 – Cotagrama da célula 193 (representativa do grupo 17).

A primeira observação a ser feita é que são quatro grupos os que mais afetam esta região e
que o grupo 10 é o que mais interfere no alagamento local. Percebe-se também que todos
estes grupos estão nas vizinhanças, o que mais uma vez indica o caráter local das influências
nesta região. A figura 7.13 mostra o detalhe do grupo 17.

65
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Rio Sarapuí

Grupo 15

Grupo 10

Figura 7.13 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 17

A figura 7.14 representa a cheia na célula 145 (grupo 24) e a figura 7.15 mostra o detalhe
desta região.

Cotagrama da Célula 145 (representativa do grupo 24)

2,9

2,8

2,7

2,6

2,5
Cota (m)

2,4

2,3

2,2

2,1

2
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00
Tempo (horas)
Situação Atual Retirada do grupo 16 Retirada do grupo 18 Retirada do grupo 25
Retirada do grupo 26 Retirada do grupo 27 Retirada do grupo 28 Retirada do grupo 24

Figura 7.14 – Cotagrama da célula 145 (representativa do grupo 24)

66
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Canal Auxiliar

Vala Alberto de Oliveira

Figura 7.15 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 24

Este ponto da bacia que apresenta severos problemas de enchente é afetado por um
conjunto enorme de grupos, mas o que chama mais atenção é que dos 5 grupos que mais
afetam no alagamento, apenas dois estão a montante, na cabeceira do canal Alberto de
Oliveira. Os outros três grupos são os que influenciam mais no trecho final do canal auxiliar,
dificultando que a água escoe e saia do local.

Para finalizar as análises dos cotagramas foi destacado o reservatório pulmão, que é o local
que mais recebe contribuições de outros grupos. A figura 7.16 ilustra este exemplo final e a
figura 7.17 ilustra o detalhe do grupo 28.

67
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Cotagrama da Célula 67 (representativa do grupo 28- Reservatório pulmão)

2,8

2,7

2,6

2,5
Cota (m)

2,4

2,3

2,2

2,1

2
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00
Tempo (horas)
Situação Atual Retirada do grupo 16 Retirada do grupo 18 Retirada do grupo 25
Retirada do grupo 26 Retirada do grupo 27 Retirada do grupo 28

Figura 7.16 – Cotagrama da célula 67 (representativa do grupo 28)

Reservatório Pulmão

Canal Auxiliar

Figura 7.17 – Detalhe ilustrando a localização do grupo 28

Nota-se que realmente esta área recebe contribuição dos mais diversos grupos e que o
cotagrama nos indica que todas estas regiões têm um tempo de chegada aproximadamente
igual, o que ocasiona uma piora com relação ao nível do pico de cheia na região. O tempo de
pico para o evento simulado neste local é de 9 horas.

68
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Percebe-se que retirando a chuva sobre este grupo, a cheia chega ao local cerca de poço
mais de uma hora depois do que chegaria na simulação da chuva sobre toda a bacia.

Nesta etapa foram feitas análises qualitativas da influência de cada grupo nos demais. Para
aperfeiçoar os estudos e para quantificar estas influências, na próxima seção do trabalho
serão calculados os prejuízos decorrentes de cada grupo.

7.4 VALORAÇÃO DOS PREJUÍZOS

De posse dos dados já comentados acima, torna-se oportuno fazer uma análise quantitativa
dos prejuízos causados pelos eventos chuvosos na região em questão a fim de tornar o estudo
mais amplo e aplicável.

Para a obtenção destes valores foi utilizada a metodologia definida por João Carlos Matoso
Salgado em sua tese “Avaliação Econômica de projetos de drenagem e de controle de
inundações em bacias urbanas” (1995).

Esta metodologia parte da utilização de curvas de altura de inundação x prejuízo. Estas


funções exprimem o valor monetário do prejuízo associado a cada altura de inundação. Para
permitir regionalizações, o valor dos prejuízos é colocado como percentagem do valor da
edificação ou conteúdo. Definem-se, ainda, padrões de urbanização médio para cada célula.

O prejuízo direto às propriedades residenciais inclui os prejuízos à edificação e ao conteúdo.


Prejuízos à edificação compreendem os prejuízos a todos os componentes da construção,
enquanto que os prejuízos ao conteúdo referem-se aos prejuízos ao mobiliário, aparelhos de
cozinha, aparelhos eletrodomésticos, roupas da casa e pessoais, brinquedos, alimentação,
produtos de limpeza etc.

Para a quantificação dos prejuízos à edificação e ao conteúdo, utilizam-se as funções altura de


inundação x prejuízo expresso com fração do valor monetário global do item. A expressão para
cálculo do prejuízo direto de uma residência é dada pela equação 7.1, a seguir.

69
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

P = ∑∑ N si ∑{ f j (UEsi , HMi ).AMi .V (UEks )}


ni ns 2
(7.1)
i=1 s=1 j=1

onde:
P - prejuizo direto a uma residência;
i - identificação da célula;
ni - número total de células;
s - identificação da parcela de uso do solo;
ns - número de parcelas de uso do solo na célula;
N - quantidade de unidades econômicas inundadas na parcela de uso do solo i, da célula
k.
j - identificação da incidência do prejuízo;
j = 1, edificação
j = 2, conteúdo
fj - função altura de inundação x prejuízo relativa ao indice j;
UE - unidade econômica representativa da parcela do uso do solo i, da célula k;
HM - altura média da inundação na célula;
AM - área média da unidade econômica representativa da parcela do uso do solo i, da
célula k;
V - valor monetário médio da unidade econômica UE, relativa ao índice j (R$/m 2).

Com relação à tese do Salgado foram feitas pequenas implementações para melhor atingir o
objetivo deste trabalho. Por exemplo, Salgado considerava para cálculo do prejuízo, patamares
de 25 cm, isto é, considerava que um alagamento de 25 cm causaria o mesmo prejuízo que um
alagamento de 40 cm. Já neste estudo, não foi feita tal consideração, mas sim, foram criadas
equações de tendência com os mesmos pontos adotados por Salgado, de forma que qualquer
variação no patamar do alagamento causa também uma variação no prejuízo.

Também foi definido um patamar inicial abaixo do qual não é considerado nenhum prejuízo, já
que os alagamentos só atingem as residências após ter alagado as ruas e as áreas mais
baixas. Neste trabalho considerou-se o patamar inicial para valoração do prejuízo na
construção como sendo de 0,21 m e no conteúdo de 0,24 cm. A figura 7.18 ilustra as linhas de
tendências adotadas.

Estes valores iniciais para computação do prejuízo foram definidos através da equação de
tendência, observando-se o ponto a partir do qual o prejuízo fica maior que zero.

70
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Percentual do prejuizo à construção de baixo padrão

20%

Percentual do prejuizo em relação ao custo da residência (%)


18%

16%

14%

12%

6 5 4 3 2
10% y = -0,3214x + 2,4443x - 7,4501x + 11,565x - 9,5627x + 3,9922x - 0,5144
2
R = 0,999
8%

6%

4%

2%

0%
0 0,5 1 1,5 2 2,5
Alagamento (m)

Percentual do prejuizo definido por Salgado Linha de tendência adotada no estudo

Figura 7.18 – Percentual de prejuízo nas residências de baixo padrão

Vale ressaltar que a curva acima é apenas uma das várias curvas utilizadas no estudo de
Salgado, pois este considerava alagamentos em locais de vários tipos de padrões de
construção. No caso da área simulada (São João de Meriti), foi considerado que os locais que
sofrem alagamento apresentam um baixo padrão de construção e dividem-se em pequenos
lotes. Portanto, as demais curvas de prejuízo tornam-se desnecessárias.
Outra curva desenvolvida por Salgado e pertinente ao estudo refere-se ao prejuízo do
conteúdo de residências de baixo padrão, conforme figura 7.19.

71
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Percentual do prejuizo ao conteúdo de uma residência de baixo padrão

90%

Percentual do prejuizo em relação ao custo do conteúdo de


80%

70%

60%
uma residência (%)

50%

2
y = -0,1181x + 0,561x + 0,1596
40% 2
R = 0,9475

30%

20%

10%

0%
0 0,5 1 1,5 2 2,5
Alagamento (m)

Percentual do prejuizo definido por Salgado Linha de tendência adotada no estudo

Figura 7.19 – Percentual de prejuízo ao conteúdo de baixo padrão

Lembrando que se entende por conteúdo das residências todo e qualquer bem presente em
uma residência possível de valoração, isto é, eletrodomésticos, moveis etc. Vale observar que
para o cálculo do prejuízo não se considera o preço da compra de um aparelho novo e sim as
perdas decorrentes dos reparos dos bens danificados quando possível.

Definido os percentuais de prejuízos que determinado patamar de alagamento causa às


construções e aos conteúdos, torna-se necessário valorá-los. As figuras 7.20 e 7.21 mostram
as curvas elaboradas por Salgado e seu valor para o lote padrão utilizado na região de São
João do Meriti.

72
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

2
Equação do Custo por m definida por Salgado para construções de baixo padrão

450

400

350
Valor da residência padrão (45 m2 ) = 248,98 R$/m2
Reais por metro quadrado

300

250

200

150

100

50

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
metro quadrado de área construida

Custo do metro quadrado segundo o estudo do Salgado

Figura 7.20 – Custo por metro quadrado para as construções de baixo padrão

2
Equação do Custo por m definida por Salgado para o conteúdo das residências de baixo padrão

80

70

60
2 2
Valor do conteúdo padrão (45 m ) = 40,18 R$/m
Reais por metro quadrado

50

40

30

20

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Conteúdo por metro quadrado de área construida

Custo do metro quadrado segundo o estudo do Salgado

Figura 7.21 – Custo por metro quadrado para o conteúdo de baixo padrão

73
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Com base em todas as equações apresentadas e com os resultados dos 29 cenários de


simulação foram calculados os prejuízos causados em cada um dos cenários. A tabela 7.3
apresenta os resultados finais para a área simulada com relação ao prejuízo à construção.

Todos os custos desenvolvidos por Salgado foram referenciados para data de dezembro de
1994, por isso torna-se necessário o uso de índices de forma a atualizar os custos. Existem
vários indicadores que podem ser utilizados para a atualização dos prejuízos. Abaixo estão
listados alguns multiplicadores que servem para atualizar os custos para junho de 2004.

Correção pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) = 2,31


Correção pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) = 2,87
Correção pelo IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) = 2,89
Correção pelo IPC-FIPE (Índice de Preços ao Consumidor) = 2,05
Correção pelo IPCA (Índice de preços ao consumidor amplo) = 2,25
Correção pela variação do custo da casa popular = 1,41
Correção pelo Dólar comercial = 3,13

Num primeiro momento pode parecer muito conservador atualizar os custos da casa popular
com um incremento de apenas 41% num período de aproximadamente 10 anos, no entanto,
vale ressaltar que durante este período houve troca dos materiais utilizados a época por
materiais menos nobres e, além disso, houve um empobrecimento da população de forma
geral o que fez com que essas pessoas construíssem casas mais simples.

Neste trabalho, utilizou-se para a correção do preço da construção o índice de correção pela
casa popular, e para a correção do preço do conteúdo das residências o IPCA.

74
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Tabela 7.3 – Prejuízo à construção nos 29 cenários simulados.


Cenários Prejuízo a Diferença em Diferença em Reais
construção (R$) Reais (dez 1994) (junho 2004)
0 (chuva em toda a área simulada) 75.394.102,81 0,00 0,00
1 (retirada da chuva no grupo 1) 70.985.020,16 -4.409.082,65 -6.216.806,54
2 (retirada da chuva no grupo 2) 73.391.939,27 -2.002.163,54 -2.823.050,59
3 (retirada da chuva no grupo 3) 70.363.891,26 -5.030.211,55 -7.092.598,29
4 (retirada da chuva no grupo 4) 73.508.757,94 -1.885.344,87 -2.658.336,26
5 (retirada da chuva no grupo 5) 75.194.636,42 -199.466,39 -281.247,61
6 (retirada da chuva no grupo 6) 69.184.105,26 -6.209.997,55 -8.756.096,55
7 (retirada da chuva no grupo 7) 75.240.116,53 -153.986,28 -217.120,66
8 (retirada da chuva no grupo 8) 71.843.731,59 -3.550.371,22 -5.006.023,42
9 (retirada da chuva no grupo 9) 74.353.721,30 -1.040.381,51 -1.466.937,93
10 (retirada da chuva no grupo 10) 74.291.158,85 -1.102.943,96 -1.555.150,99
11 (retirada da chuva no grupo 11) 74.323.886,65 -1.070.216,16 -1.509.004,79
12 (retirada da chuva no grupo 12) 75.095.372,59 -298.730,22 -421.209,61
13 (retirada da chuva no grupo 13) 70.532.149,74 -4.861.953,07 -6.855.353,82
14 (retirada da chuva no grupo 14) 74.777.023,18 -617.079,62 -870.082,27
15 (retirada da chuva no grupo 15) 73.829.942,21 -1.564.160,60 -2.205.466,45
16 (retirada da chuva no grupo 16) 73.218.521,41 -2.175.581,40 -3.067.569,77
17 (retirada da chuva no grupo 17) 74.741.538,56 -652.564,25 -920.115,59
18 (retirada da chuva no grupo 18) 69.433.038,97 -5.961.063,84 -8.405.100,02
19 (retirada da chuva no grupo 19) 73.881.713,70 -1.512.389,11 -2.132.468,64
20 (retirada da chuva no grupo 20) 74.568.458,78 -825.644,03 -1.164.158,08
21 (retirada da chuva no grupo 21) 75.387.836,93 -6.265,88 -8.834,89
22 (retirada da chuva no grupo 22) 73.848.309,15 -1.545.793,66 -2.179.569,06
23 (retirada da chuva no grupo 23) 73.775.884,97 -1.618.217,84 -2.281.687,16
24 (retirada da chuva no grupo 24) 75.382.136,02 -11.966,79 -16.873,18
25 (retirada da chuva no grupo 25) 68.285.326,60 -7.108.776,21 -10.023.374,45
26 (retirada da chuva no grupo 26) 73.014.247,28 -2.379.855,53 -3.355.596,30
27 (retirada da chuva no grupo 27) 72.046.262,92 -3.347.839,89 -4.720.454,24
28 (retirada da chuva no grupo 28) 74.463.950,06 -930.152,75 -1.311.515,38

Na tabela 7.3 pode-se verificar o quanto à retirada da chuva de um determinado grupo afeta os
prejuízos à construção da região. No caso o cenário de referencia caracteriza-se por
apresentar chuva em todos os grupos com um tempo de recorrência de 20 anos (cenário zero).
Para atualização dos custos, como já dito anteriormente, utilizou-se a variação do custo da
casa popular no período de dezembro de 1994 até junho de 2004. Esse índice foi calculado
pela variação do custo da casa popular (baixo padrão) em relação às duas datas supracitadas
(IBGE).

A retirada da chuva do grupo 25 é a que maior causa impacto nos prejuízos totais a
construção. O que acarreta uma redução nos prejuízos em mais de dez milhões de reais.

Já o grupo que causa o menor impacto no prejuízo à construção é o grupo 21 que diminui o
prejuízo em cerca de nove mil reais.

75
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

A tabela 7.4 é semelhante à tabela anterior, só que mostra os prejuízos ao conteúdo e utilizou
como índice de correção nos custos o IPCA, como já mencionado.

Tabela 7.4 – Prejuízo ao conteúdo nos 29 cenários simulados.


Cenários Prejuízo ao Diferença em Reais Diferença em Reais
conteúdo (R$) (dez 1994) (junho 2004)
0 (chuva em toda a área simulada) 42.946.203,09 0,00 0,00
1 (retirada da chuva no grupo 1) 40.449.867,90 -2.496.335,19 -5.625.927,00
2 (retirada da chuva no grupo 2) 41.251.590,27 -1.694.612,82 -3.819.105,73
3 (retirada da chuva no grupo 3) 39.992.118,80 -2.954.084,29 -6.657.544,50
4 (retirada da chuva no grupo 4) 41.511.797,20 -1.434.405,89 -3.232.683,99
5 (retirada da chuva no grupo 5) 41.511.797,20 -1.434.405,89 -3.232.683,99
6 (retirada da chuva no grupo 6) 39.846.697,13 -3.099.505,96 -6.985.277,60
7 (retirada da chuva no grupo 7) 42.669.255,31 -276.947,78 -624.150,17
8 (retirada da chuva no grupo 8) 40.876.471,49 -2.069.731,60 -4.664.501,37
9 (retirada da chuva no grupo 9) 42.018.546,99 -927.656,10 -2.090.634,90
10 (retirada da chuva no grupo 10) 41.988.660,71 -957.542,38 -2.157.988,86
11 (retirada da chuva no grupo 11) 42.218.963,84 -727.239,25 -1.638.960,57
12 (retirada da chuva no grupo 12) 42.646.017,10 -300.185,99 -676.521,52
13 (retirada da chuva no grupo 13) 39.684.537,69 -3.261.665,40 -7.350.732,21
14 (retirada da chuva no grupo 14) 42.250.789,47 -695.413,62 -1.567.235,95
15 (retirada da chuva no grupo 15) 41.433.564,23 -1.512.638,87 -3.408.995,66
16 (retirada da chuva no grupo 16) 41.280.499,01 -1.665.704,08 -3.753.954,83
17 (retirada da chuva no grupo 17) 42.217.597,94 -728.605,15 -1.642.038,87
18 (retirada da chuva no grupo 18) 39.540.806,11 -3.405.396,98 -7.674.656,40
19 (retirada da chuva no grupo 19) 42.131.155,74 -815.047,35 -1.836.851,45
20 (retirada da chuva no grupo 20) 42.542.857,43 -403.345,66 -909.009,84
21 (retirada da chuva no grupo 21) 42.874.907,00 -71.296,09 -160.678,19
22 (retirada da chuva no grupo 22) 42.042.125,32 -904.077,77 -2.037.497,04
23 (retirada da chuva no grupo 23) 41.596.880,81 -1.349.322,28 -3.040.933,24
24 (retirada da chuva no grupo 24) 42.895.131,70 -51.071,39 -115.098,29
25 (retirada da chuva no grupo 25) 39.233.675,34 -3.712.527,75 -8.366.829,20
26 (retirada da chuva no grupo 26) 41.109.825,76 -1.836.377,33 -4.138.596,78
27 (retirada da chuva no grupo 27) 40.626.205,95 -2.319.997,14 -5.228.518,44
28 (retirada da chuva no grupo 28) 42.285.448,71 -660.754,38 -1.489.125,31

Mais uma vez, o grupo que mais afeta os custos totais da região é o grupo 25. A redução no
prejuízo com a retirada deste grupo chega a oito milhões de reais.

Já o grupo que menos afeta os prejuízos ao conteúdo é o grupo 24. Como já comentado no
início deste capítulo, este é o menor grupo em termos de área. A seguir, na tabela 7.5, é
realizada uma análise dos prejuízos totais corrigidos pelas áreas de cada um dos grupos a fim
de que possa ser feita uma comparação mais realista.

76
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Tabela 7.5 – Prejuízo normalizado nos 29 cenários


Cenários Prejuízo total (R$) Diferença em Reais Área do grupo Diferença
(junho 2004) afetado dividida pela
área do grupo
0 166.859.831,32 0,00 --------- ---------
1 157.123.192,16 -9.736.639,16 1.109.167,5 -8,8
2 161.647.376,66 -5.212.454,66 1.023.600,8 -5,1
3 155.601.974,17 -11.257.857,15 1.238.997,9 -9,1
4 162.178.982,76 -4.680.848,56 550.171,5 -8,5
5 164.556.071,41 -2.303.759,91 344.069,9 -6,7
6 153.733.431,37 -13.126.399,95 1.202.917,4 -10,9
7 166.252.214,28 -607.617,03 274.135,1 -2,2
8 158.935.486,34 -7.924.344,98 1.399.350,2 -5,7
9 164.084.898,29 -2.774.933,03 781.901,0 -3,5
10 163.954.545,58 -2.905.285,74 1.474.158,3 -2,0
11 164.325.419,19 -2.534.412,13 493.481,9 -5,1
12 166.015.359,46 -844.471,86 688.630,7 -1,2
13 155.405.529,28 -11.454.302,04 1.253.897,6 -9,1
14 165.009.215,85 -1.850.615,47 525.347,5 -3,5
15 162.521.544,07 -4.338.287,25 945.716,0 -4,6
16 161.443.618,80 -5.416.212,52 1.170.750,8 -4,6
17 164.912.382,47 -1.947.448,85 610.665,1 -3,2
18 153.653.121,55 -13.206.709,76 2.497.078,7 -5,3
19 163.578.145,91 -3.281.685,41 553.201,6 -5,9
20 165.126.955,86 -1.732.875,46 545.825,8 -3,2
21 166.750.468,93 -109.362,38 278.378,3 -0,4
22 163.405.512,60 -3.454.318,72 587.303,0 -5,9
23 162.675.599,75 -4.184.231,57 943.841,8 -4,4
24 166.770.947,48 -88.883,84 169.886,0 -0,5
25 151.601.792,74 -15.258.038,58 1.968.695,7 -7,8
26 160.914.942,99 -5.944.888,33 1.367.471,0 -4,3
27 158.868.181,11 -7.991.650,21 1.711.153,0 -4,7
28 164.616.652,26 -2.243.179,05 907.778,5 -2,5

A partir da tabela 7.5 pode-se ter um parecer mais realista dos efeitos causados por cada uma
das regiões no prejuízo causado. Assim, percebe-se que a região que mais afeta
monetariamente o prejuízo de maneira geral da área simulada é a do grupo 6. A retirada da
chuva nesta região causa um impacto de quase onze reais por metro quadrado, ou seja, se
fosse possível retirar a chuva de um metro quadrado nesta região diminuiria as perdas da
população no município em onze reais.

Pode até parecer pouco, mas quando se fala em um quilometro quadrado a economia para a
população pode chegar a onze milhões de reais, ou seja, retirando a chuva de apenas 3,5 %
da área simulada tem-se uma redução de 6,6 % no prejuízo.

É claro que é impossível retirar por completo a chuva de uma determinada área, mas pela
tabela 7.5, percebe-se que os grupos que mais reduzem os prejuízos por metro quadrado são

77
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

os grupos em áreas mais elevadas e que, por conseguinte, afetam um maior número de
regiões dentro da área simulada.

Estes resultados induzem que seria importante intervir nestas regiões de maneira a diminuir o
coeficiente de run-off e, conseqüentemente, aumentar as taxas de infiltração nestas regiões
e/ou amortecer suas vazões efluentes. Exatamente com relação aos resultados obtidos até o
presente momento esta sendo desenvolvida uma tese por Martins que, utilizando reservatórios
em lotes nestas regiões como mecanismo de aumento da infiltração, tentará verificar o efeito
de medidas possíveis de minimização dos prejuízos.

Outro resultado interessante é o fato de que as regiões que menos influenciam na diminuição
dos prejuízos estão justamente entre as áreas que sofrem grandes alagamentos, ou seja, o
que se identifica aqui neste estudo é que quem causa os maiores prejuízos podem ser os que
menos são afetados pelas inundações.

Por esse motivo acredita-se que o governo deve criar meios de incentivar os proprietários das
regiões mais a montante da bacia a construírem lotes ou trincheiras ou qualquer outro meio de
aumentar a infiltração em seu terreno. Já nas regiões de jusante, devem-se fazer obras no
sentido de escoar o excesso de água o mais rápido possível para o mar, neste caso deve-se
proceder com obras estruturais.

É evidente que cada área deve ser analisada particularmente antes da efetivação destas
medidas, mas este estudo já evidencia pelo menos que se deve sempre examinar
cuidadosamente as encostas próximas, pois muito provavelmente estas são uma das grandes
responsáveis pelo alagamento das regiões mais próximas do seu entorno.

A tabela 7.6 apresenta os grupos em ordem decrescente de influência direta nos prejuízos e
estes estão separados em quatro faixas. Os que afetam muito pouco o prejuízo, com uma
redução de até 2,5 reais por metro quadrado; os que afetam pouco, com uma redução de até 5
reais por metro quadrado; os que afetam moderadamente, com uma redução de até 7,5, e,
finalmente, o grupo dos “vilões”, ou seja, os que causam maiores estragos em relação aos
cofres públicos após um evento chuvoso de grande magnitude. Na tabela foi indicado ainda o
alagamento médio do grupo no cenário atual. Em seguida é apresentada a figura 7.22 que
mostra a distribuição espacial das faixas de prejuízo.

78
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Tabela 7.6 – Separação por classes do prejuízo normalizado


Alagamento Alagamento
Redução do médio nas áreas médio na área
Grupo prejuizo/m2 "alagaveis" Cota média total
6 -10,9 0,56 12,75 0,18
13 -9,1 0,27 17,67 0,09
3 -9,1 0,35 14,12 0,11
1 -8,8 0,29 18,69 0,10
4 -8,5 0,30 9,96 0,16
25 -7,8 0,30 8,73 0,06
5 -6,7 0,17 9,31 0,17
19 -5,9 0,26 4,85 0,15
22 -5,9 0,22 8,00 0,04
8 -5,7 0,49 12,41 0,15
18 -5,3 0,49 15,34 0,09
11 -5,1 0,35 18,80 0,07
2 -5,1 0,20 12,72 0,12
27 -4,7 0,23 4,73 0,09
16 -4,6 0,27 12,40 0,13
15 -4,6 0,19 7,03 0,15
23 -4,4 0,25 5,53 0,09
26 -4,3 0,50 3,15 0,37
9 -3,5 0,27 9,00 0,23
14 -3,5 0,25 7,43 0,16
17 -3,2 0,40 5,13 0,19
20 -3,2 0,22 8,71 0,16
28 -2,5 0,70 2,23 0,65
7 -2,2 0,31 9,00 0,31
10 -2,0 0,25 7,31 0,21
12 -1,2 0,40 7,57 0,20
24 -0,5 0,76 2,00 0,70

Figura 7.22 – Distribuição espacial do prejuízo normalizado

79
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Entende-se por áreas alagáveis os locais de cota mais baixa dentro de cada uma das células,
desta forma as encostas e os pontos mais elevados de cada uma das células não são
considerados.

Finalmente, é percebido que os locais que apresentam as maiores cotas e os menores


percentuais de áreas alagáveis (áreas de alto declive) são justamente os que causam os
maiores danos financeiros para a região.

Entre os grupos que causam os maiores efeitos na quantificação dos prejuízos não há nenhum
com cota média abaixo de 8,00 m, já no outro extremo, nos grupos que causam os menores
efeitos, apenas o grupo 7 possui cota maior que 8,00 m.

A mesma comparação pode ser feita com relação ao alagamento médio em relação à área
total. Entre os grupos que causam os maiores impactos quantitativos no prejuízo não há
nenhum com alagamento médio maior que 20 cm e no outro extremo da tabela ocorre
exatamente o contrário, ou seja, nenhum grupo possui alagamento médio menor que 20 cm.

Este trabalho também pode ser útil na elaboração de leis que possam incentivar aos
proprietários dos lotes a fazerem pequenas modificações em seus terrenos de maneira a
minimizar os efeitos danosos das enchentes. Por exemplo, observando-se a tabela 7.6 o
seguinte cálculo pode ser feito: um morador com um terreno de 100 m2 localizado no grupo 6
deveria ressarcir o município em mil e noventa reais para uma chuva com um tempo de
recorrência de 20 anos. Já um outro morador com um terreno exatamente igual, mas no grupo
24 deveria arcar com apenas 50 reais.

Com este simples exemplo fica bastante claro que não se deve incentivar a construção de
reservatórios em lotes de maneira indiscriminada em toda a bacia, pois haverá regiões em que
o seu custo de manutenção será até maior do que os ganhos na diminuição do prejuízo das
enchentes.

É importante lembrar, que no exemplo exposto anteriormente, o custo do prejuízo nos terrenos
estão referenciados a um tempo de recorrência de 20 anos. Desta forma, o valor esperado
anual de quanto uma determinada região causa é bem menor. Para a elaboração do valor
esperado do prejuízo anual, deve-se simular o modelo de células para diversos tempos de
recorrência, calcular os prejuízos de cada cenário e, então, aplicar uma análise estatística
simples para cada grupo (174 simulações).

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS

8.1 CONCLUSÕES

A análise e o encaminhamento das soluções das questões de Drenagem Urbana têm sido um
dos maiores desafios dos planejadores e administradores dos grandes centros urbanos do
mundo, além de se tratar de um problema com extremo cunho social. A baixada fluminense é
uma região com ocupação desordenada e com cotas muito baixas, onde o efeito da maré
dificulta a capacidade de escoamento dos rios e canais.

Desta forma, no presente trabalho, procurou-se avaliar a área de estudo e as influências de


cada local nas cheias da região. Para isso tentou-se identificar as possíveis regiões
causadoras de inundações a fim de planejar melhor projetos que visassem soluções para as
cheias e também tentar minimizar os prejuízos decorrentes destas.

Ao longo do texto foram apresentadas diversas conclusões, porém algumas se destacam e


serão listadas a seguir, baseando-se no conjunto de resultados obtidos:

• O cenário da área em estudo evidencia uma ocupação desordenada que influencia


bastante na situação de alagamento da região trazendo grandes prejuízos para a mesma.
Cabe buscar soluções no contexto de ocupação urbana para evitar que este processo se
agrave ainda mais. Tão importante quanto as obras a serem realizadas está a busca da
conscientização da população da região e seu conseqüente envolvimento com a tentativa de
soluções. Assim, torna-se necessário que haja programas de educação ambiental vinculados
às escolas, universidades, centros comunitários, instituições governamentais e meios de
comunicação, incluindo noções de preservação dos diversos setores do meio ambiente,
conscientização dos efeitos nocivos do destino inadequado do lixo, treinamento para as
situações de emergência, promoção de amplas campanhas de conscientização através da
mídia, inclusão de disciplinas ambientais nos ensinos fundamental e médio.

• Constatou-se, ainda, na visita “in loco” as precárias condições dos moradores do


município em questão. Devido a estas condições, descartou-se a hipótese cogitada como de
um dos objetivos deste trabalho, a de implementar o princípio do usuário inundador-pagador.
Acredita-se que seriam impraticáveis tais medidas em uma região tão carente e com tamanha
falta de recursos. Muitos moradores não têm condições de ao menos arcar com suas
obrigações tributárias, como, por exemplo, o IPTU.

81
Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

• Hoje há várias leis preocupadas em incentivar os proprietários à construção de


reservatórios em lotes, tais leis são extremamente válidas, porém após o término deste
trabalho, conclui-se que tais reservatórios não devem ser recomendados de maneira
indiscriminada para toda a bacia. Assim, torna-se importante ressaltar novamente duas
indicações apresentadas nos resultados, a de que as regiões mais elevadas da bacia em sua
maioria têm contribuições com o uso de tais reservatórios e que nas regiões de jusante esses
reservatórios não devem ter efeitos benéficos significativos.

• No que diz respeito ao zoneamento de áreas de risco, a regulamentação do uso da terra


ou zoneamento de áreas inundáveis passa pelo estabelecimento do risco de inundação das
diferentes cotas das áreas ribeirinhas. Não se deve permitir a habitação nas áreas de maior
risco, estas áreas podem ser utilizadas para recreação, desde que o investimento seja
compatível e que a área não se danifique, como parques e campos de esportes. Já para as
áreas de menor risco, permite-se as construções com precauções especiais. Além disso, são
efetuadas recomendações quanto aos sistemas de esgoto cloacal, pluvial e viário. Esta
regulamentação deve ficar contida dentro do Plano Diretor da cidade.

• Com relação aos resultados obtidos através da simulação, ficou claro o forte impacto
dos efeitos locais de alagamento. Esta forte influência é bem ilustrada na matriz de influências
apresentada no capítulo anterior. Em diversos casos os principais causadores do alagamento
são a própria região e as encostas próximas. As influencias locais vão diminuindo à medida
que se afasta da região para jusante. Vale ressaltar que este forte efeito local no alagamento
ocorreu em um modelo utilizando redes de micro-drenagem.

• Com relação aos prejuízos, foi clara a maior influência das regiões mais elevadas da
bacia (maiores declives), mesmo quando estas regiões não estão tão impermeabilizadas
quanto às de jusante. Desta forma, fica notório que se deve atentar para estas áreas e criar
maneiras de diminuir (reflorestamento, reservatórios de detenção, etc) e em muitos casos
retardar o fluxo de água. Salienta-se que as regiões mais elevadas da região de estudo são as
menos ocupadas do município e, por este motivo, seriam locais, ainda, com uma certa
flexibilidade na implementação de intervenções de contenção das cheias.

• Já nas regiões que possuem uma pequena declividade, normalmente nas partes baixas
da bacia, o fluxo não deve ser retido, e sim, deve-se tentar eliminá-lo através de medidas
estruturais tais com o: bombeamento, alargamento de canais, retirada de lixo, etc. Essa questão
foi indicada nos resultados dos grupos mais a jusante.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

• A utilização do modelo matemático (Miguez e Mascarenhas,2002), teve como um dos


objetivos gerar a lâmina de água em cada um dos locais da área simulada que é um dos dados
de entrada para a análise econômica do prejuízo segundo as equações de Salgado (1995).
Além disso, também propiciou fazer um zoneamento da região, com as manchas de
alagamento e as áreas de risco. Estas informações permitiram que fossem quantificados
economicamente inundação e prejuízo ao longo dos trechos da bacia para eventos chuvosos
com tempo de recorrência de 20 anos (escolhido para este estudo).

8.2 RECOMENDAÇÕES

Algumas recomendações surgem a partir das observações realizadas e das conclusões


estabelecidas. Dentre estas, destacam-se as que a seguir são apresentadas:

A inexistência de uma base de dados sobre inundações e suas conseqüências sociais e


econômicas foi a principal dificuldade para elaboração deste trabalho. Visando preencher esta
lacuna, recomenda-se a execução de um amplo levantamento em campo em bacias urbanas
com histórico de inundações, a fim de caracterizar as inundações e suas conseqüências em
diversos cenários.

A falta de educação e conscientização da população local ficou evidente nas fotos tiradas na
visita “in loco” que ilustraram o problema da inadequação do lixo urbano. Em muitos locais
(principalmente nas encostas e valas) o lixo é despejado seqüencialmente formando
verdadeiros lixões a céu aberto que só são dispersos com o impacto das chuvas que os
carrega para o sistema de drenagem piorando ainda mais a já caótica rede de drenagem.
Recomenda-se que a prefeitura de São João de Meriti implemente o mais rápido possível um
planejamento de coleta de lixo domiciliar e limpeza das valas de drenagem da região.

A metodologia aplicada para a definição dos prejuízos causados por cada uma das regiões foi
considerada satisfatória. No entanto, recomenda-se simular a implantação de medidas diversas
de controle nas regiões indicadas como “vilãs”. Ao invés de simplesmente omitir a chuva local,
para se ter uma visão mais realista e adequada da modificação dos padrões de alagamento,
pode-se almejar, com a introdução de medidas de engenharia, a obtenção da percepção dos
ganhos reais em relação aos prejuízos hoje causados, estendendo as medidas a diversas
regiões e aplicando-as para vários tempos de recorrência a fim de fornecer o verdadeiro

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

prejuízo anual, e servir futuramente como instrumento na definição de leis de incentivo a


reservatórios em lotes.

O poder público deve incentivar algumas regiões da bacia a possuírem reservatórios de lotes,
com isto implementar um zoneamento de uso de reservatórios em lotes associado a
intervenções nas áreas públicas tais como os reservatórios em praças em paisagens multi-
funcionais.

Seria interessante que, assim como foi desenvolvida uma tabela com a redução dos picos de
alagamento por cada um dos grupos, fosse feita uma tabela com a redução percentual do
tempo de permanência do alagamento, para dados níveis pré-estabelecidos, em função da
retirada da chuva em cada um dos grupos. Outra contribuição ao estudo seria a implementação
de uma metodologia a fim de normalizar, em função da área, os efeitos de cada um dos grupos
em termos do alagamento total.

Recomenda-se também utilizar esta mesma metodologia com uma pequena modificação, em
vez de simular a retirada total da chuva em cada um dos grupos, retirar percentuais diferentes
a fim de observar se a redução será proporcional ou não à retirada de chuva, isto é, se há ou
não linearidade. Desta forma, pode-se otimizar os gastos públicos na atenuação das cheias
urbanas. Pode-se associar uma redução da chuva de projeto a atuação de uma dada obra de
engenharia, associando custos aos percentuais de redução da chuva. Com isto ter-se-á duas
curvas, uma redução da chuva versus custo e outra redução da chuva versus benefício, assim
poder-se-á atingir um ponto ótimo de investimentos em termos de drenagem urbana.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

ANEXO A: MÉTODO DO SOIL CONSERVATION SERVICE

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Método do Soil Conservation Service para o Cálculo de Vazões de Projeto

A metodologia do Soil Conservation Service é resumidamente mostrada a seguir.

O primeiro objetivo que se impõe é o de se obter um hietograma de projeto, que corresponda à chuva efetiva que
cai sobre a bacia, isto é, aquela que efetivamente gera escoamento superficial. Para conseguir este intento, usou-se a
metodologia do Soil Conservation Service, que pode ser acompanhada em detalhes no livro Design of Small Dams –
A Water Resources Technical Publication of The United States Department of The Interior and Bureau of
Reclamation, primeira edição de 1960.

Para elucidar este procedimento, apresenta-se, em resumo, a sequência de passos relativos ao mesmo:

§ Determinação do tempo de duração da simulação: este tempo tem que ser, no mínimo, maior
que o tempo de concentração da bacia, de forma que toda a área de drenagem possa
contribuir para o exutório.

§ Determinação do intervalo de tempo de cada passo da simulação. Recomenda-se que este


intervalo seja definido entre um terço e um quinto do tempo de concentração.

§ Aplicação da fórmula que relaciona a intensidade da chuva com a sua duração, para cada ponto na escala do
tempo, a partir do instante inicial, acrescendo um intervalo de tempo por vez. Chamando cada intervalo de
tempo de ∆t, aplica-se a fórmula, então, seqüencialmente, para:

t = 1. ∆t ,
t = 2. ∆t ,
t = 3. ∆t ,
t = 4. ∆t ,
t = 5. ∆t ,
t = 6. ∆t , ...
e assim sucessivamente até chegar ao tempo total simulado.
Sabe-se que um dos princípios que regem o comportamento das chuvas estabelece que a intensidade diminui à
medida que o tempo de duração da chuva aumenta. Assim, a intensidade calculada para t = 1. ∆t é certamente maior
que a intensidade calculada para t = 2. ∆t. Entretanto, o volume total precipitado até t = 2. ∆t, que é igual a V2 = i 2 .
2. ∆t , é, por sua vez, maior que o volume precipitado até t = 1. ∆t, que é igual a V1 = i 1 . ∆t. Como conseqüência,
pode-se obter o valor da chuva que caiu entre 1. ∆t e 2. ∆t , pela simples subtração de V2 por V1 . Pode-se seguir este
procedimento para determinar a precipitação individual em cada intervalo de tempo, a partir dos cálculos dos
volumes acumulados.

Ao fim deste processo, tem-se um hietograma com feição não usual, com alturas de chuva decrescentes desde o
primeiro intervalo de tempo até o último. Para contornar esta característica, o método aqui proposto assume uma
reordenação das primeiras alturas de chuva, de forma que os seis primeiros intervalos de tempo são rearrumados na
seguinte ordem: 6, 4, 3, 1, 2, 5.

O hietograma obtido no item anterior ainda não pode ser considerado definitivo para o cálculo. Afinal, sabe-se

que parte da água infiltra -se, parte evapora e apenas o que sobra é que realmente escoa superficialmente. Para

achar então a parcela da chuva efetiva, propõe-se o seguinte procedimento:

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

§ Determinação do parâmetro chamado “curve number (CN)”, que responde pelo tipo de solo e ocupação do
mesmo, bem como pelas suas características hidrológicas. A quantificação deste parâmetro se faz a partir de
uma série de valores pré-tabelados, para diferentes tipos de solo e diferentes condições hidrológicas e de
ocupação.

§ Com este parâmetro, pode-se obter o valor de S, que é a máxima diferença potencial entre a chuva P ,
acumulada, e a chuva efetiva Pe, também acumulada, no início do evento chuvoso, conforme a relação a seguir:

S=
(1000 − 10.CN ) .25,4 (A.1)
CN
sendo:
S - dado em mm.

§ Destaca-se também que o fator Ia, que pode ser expresso como uma fração de 20 % de S, fisicamente significa a
parcela de chuva que ocorre antes do início do escoamento superficial, consistindo, principalmente, das parcelas
de intercepção, infiltração e armazenamento superficial.

§ Com o valor obtido para S, pode-se então calcular a chuva efetiva acumulada, conforme a equação a seguir:

Pe =
(P − 0,2.S ) 2 (A.2)
P + 0,8.S

onde:
Pe – Chuva efetiva acumulada até um dado intervalo de tempo;
P – Chuva total acumulada até um dado intervalo de tempo;

§ Para obter, por fim, o hietograma de projeto para a chuva efetiva, basta desacumular os valores obtidos no item
acima para cada passo de tempo.

Vazão de Projeto:
Existem vários métodos para avaliação das vazões superficiais de projeto para uma dada área, destacando-se, de
forma geral:

§ Fórmulas empíricas, várias delas, cada uma respondendo por uma bacia particular. Estas fórmulas não são
gerais, mas podem, eventualmente, ser extrapoladas para regiões similares, com muito cuidado na
caracterização destas semelhanças. É um procedimento restrito.

§ Estudo de freqüência de vazões de cheia, o que pressupõe a existência de séries históricas. Esta suposição,
normalmente, não condiz com a realidade brasileira: mesmo em grandes rios nem sempre há registros
históricos de séries de vazões.

§ Uso do Método Racional, que relaciona a vazão máxima com a intensidade da chuva que cai para uma dada
duração e recorrência, com a área de drenagem da bacia e com um coeficiente que responde pela cobertura

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

vegetal da bacia e tipo, uso e condições do solo, de forma a se avaliar a parcela da chuva que escoa
superficialmente. Este é um método simples e bastante difundido, mas seus melhores resultados referem-se a
pequenas bacias. Também não propicia um hidrograma de cheia, embora o mesmo possa ser construído, com
base em suposições complementares.

§ Uso do Método do Hidrograma Unitário, em que, a partir dos dados de postos de medição de chuva e descarga,
sintetiza-se um hidrograma de vazões correspondente a uma chuva de intensidade unitária para uma dada
duração. A seguir, basta multiplicar este hidrograma de vazões pelo hietograma da chuva de projeto. Este é, sem
dúvida, o método mais preciso, pois a resposta que a bacia dá a uma entrada de chuva qualquer é obtida a partir
do próprio comportamento da bacia em outros eventos.

§ Uso do Método do Hidrograma Unitário Sintético, em que, ou a partir de relações empíricas pré-definidas,
obtidas com base em parâmetros físicos, geralmente topográficos, procura-se caracterizar uma bacia. O
hidrograma unitário sintético é usado em bacias sem dados medidos de chuva e vazão. Aqui, como no item
anterior, também sintetiza -se um hidrograma de vazões, considerando uma chuva de intensidade unitária para
uma certa duração. Este resultado também é multiplicado pelo hietograma da chuva de projeto, para obtenção
da vazão de projeto. O resultado aqui obtido não é tão preciso como o que se obtém para o item anterior, mas é
bastante prático devido a ausência de dados, permitindo um detalhamento bastante significativo nesta situação.
Esta abordagem, assim como a anterior, se prestam para bacias maiores, onde suposições mais simples não
condizem com a variabilidade presente em áreas mais extensas.

Para bacias com maior diversidade, sugere-se a construção de um hidrograma unitário, ou de um hidrograma
unitário sintético, dependendo da disponibilidade de dados. Usualmente estes dados não são fartos e, assim sendo, o
caminho mais prático acaba sendo, em boa parte das vezes, a construção do hidrograma unitário sintético, a partir
das informações físicas da bacia, que são correlacionadas ao seu funcionamento, em termos de resposta de
escoamento

A figura A.1 mostra o hidrograma proposto, conforme o método do “Soil Conservation Service”.

Figura A.1: Hidrograma Unitário Sintético.

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Drenagem Urbana e Gerenciamento de Recursos Hídricos em São João do Meriti - Roberto Motta Gomes

Para a construção deste hidrograma, toma-se:

td
tp = + 0,6. t c
2

tb = 2,67. t p (A.3)

0,208. A
qp =
tp

onde:
tp é o tempo de pico, em h;
tb é o tempo de base, em h;
q p é a vazão de pico em m3 /s;
A - área de drenagem em km2 .

Com o hietograma de projeto e a hidrógrafa unitária de projeto para a bacia pode-se, então, facilmente obter a
vazão de projeto. Para tal finalidade, aplica-se o hietograma sobre a hidrógrafa unitária sintética, de forma que,
agora, a resposta unitária da bacia é multiplicada pela chuva de projeto.

Para exemplificar o procedimento, suponha-se que o hietograma da chuva efetiva de projeto tem 8 intervalos de
tempo, cada um com uma altura de chuva pe, portanto de pe1 até pe8. Suponha-se também que a hidrógrafa unitária
tenha 4 intervalos de tempo com vazões de q1 a q4. Assim, ter-se-á a planilha de cálculo apresentada no quadro A.1,
mostrado na seqüência.

Quadro A.1: Cálculo da vazão de projeto afluente ao reservatório.

Vazões de Projeto Afluentes

QA1 pe1.q1
QA2 pe1.q2+pe2.q1
QA3 pe1.q3+pe2.q2+pe3.q1
QA4 pe1.q4+pe2.q3+pe3.q2+pe4.q1
QA5 pe2.q4+pe3.q3+pe4.q2+pe5.q1
QA6 pe3.q4+pe4.q3+pe5.q2+pe6.q1
QA7 pe4.q4+pe5.q3+pe6.q2+pe7.q1
QA8 pe5.q4+pe6.q3+pe7.q2+pe8.q1
QA9 pe6.q4+pe7.q3+pe8.q2
QA10 pe7.q4+pe8.q3
QA11 pe8.q4
QA12 0

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ANEXO B: FOTOS DA REGIÃO SIMULADA

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Fotos da região simulada:

Nesta seção do trabalho, serão apresentadas mais algumas fotos tiradas durante as três visitas
ao município de São João de Meriti.

1 – Situação das encostas, desmatadas e com lixo a céu aberto.

Foto 1 – Exemplo de uma encosta coberta com lixo

Foto 2 – Encosta localizada no grupo 18

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Foto 3 – Exemplo de desmatamento nas encostas da região

Foto 4 – Precariedade de algumas construções na região das encostas

2. – Situação das valas assoreadas, com lixo, vegetação e restrições

Foto 5 – Situação da vala com um exemplo de restrição

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Foto 6 – Vala próxima a área do reservatório pulmão

Foto 7 – Vala na divisa dos municípios de São João de Meriti e Duque de Caxias

Foto 8 – Foto próxima das linhas de transmissão

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Foto 9 – Marcelo Martins observando as obras nesta região próxima ao canal auxiliar

Foto 10 – O canal auxiliar coberto por vegetação

Foto 11 – Moradora próxima de uma vala mostrando a elevação da água em sua casa

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Foto 12 – Vala funcionando como depósito de lixo

Foto 13 – Canal assoreado

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3 – Situação do reservatório pulmão aterrado e com moradias

Foto 14 – Reservatório Pulmão aterrado

Foto 15 – Novas construções na área do reservatório pulmão

Foto 16 – Casa elevada para evitar os alagamentos na região do “reservatório pulmão”

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Foto 17 – Visão geral da situação atual do reservatório pulmão

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