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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


ENGENHARIA AMBIENTAL

JOSÉ MARCOLINO NETO E PEDRO RIBEIRO CARNEIRO DA CUNHA PEREIRA

MEDIDAS ESTRUTURAIS SUSTENTÁVEIS PARA MICRODRENAGEM NA SUB-


BACIA DO JAGUARÉ

São Paulo
2020
2

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

JOSÉ MARCOLINO NETO E PEDRO RIBEIRO CARNEIRO DA CUNHA PEREIRA

MEDIDAS ESTRUTURAIS SUSTENTÁVEIS PARA MICRODRENAGEM NA


SUB-BACIA DO JAGUARÉ

Trabalho de Formatura apresentado à Escola


Politécnica da Universidade de São Paulo para a
obtenção do diploma de Engenheiro Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Joaquin Ignacio Bonnecarrere


Garcia

São Paulo
2020
3

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste


trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins
de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Catalogação-na-publicação

Neto, José
MEDIDAS ESTRUTURAIS SUSTENTÁVEIS PARA MICRODRENAGEM
NA SUB- BACIA DO JAGUARÉ / J. Neto, P. Pereira -- São Paulo, 2020.
79 p.

Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São


Paulo. Departamento de Engenharia de Hidráulica e Ambiental.

1.Microdrenagem 2.Jaguaré I.Universidade de São Paulo. Escola


Politécnica. Departamento de Engenharia de Hidráulica e Ambiental II.t.
III.Pereira, Pedro
4

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos Professores que tivemos durante a graduação, por não desistirem
da educação pública e servirem de inspiração a tantos alunos. Em especial
agradecemos ao Professor Joaquin e o Filipe por toda atenção dada a nós ao longo
deste trabalho.

Eu, Pedro, agradeço aos meus pais, Ricardo e Mona Lisa, e minha irmã Giovanna
por sempre terem me apoiado ao longo da minha trajetória, e minha namorada Julia,
que conheci graças a esta Universidade e que esteve ao meu lado nos momentos
mais difíceis da graduação. Agradeço em especial minha avó, Maria Thereza, por me
ter sido uma das principais responsáveis em possibilitar meu estudo na Poli, e ao meu
avô, Lincoln, que sempre foi e sempre será meu maior exemplo de estudo e trabalho.

Eu, José, sou grato a minha família, aos meus pais, Marcos e Roseli, e meus irmãos
Lucas e Ornella, que estiveram presentes e apoiaram minha graduação do início ao
fim, sempre me orientando, e me permitindo e ajudando a estudar e trabalhar com
tranquilidade nos momentos mais difíceis e de maior estresse da jornada. E em
especial, Jéssica Yumi, companheira e verdadeira, qual sempre me incentivou a
estudar e focar na graduação nos momentos de desestímulo e pressão, e sempre me
mostrou que devo dar valor às coisas que conquisto, mas com pés no chão.

Agradecemos também aos colegas de nossa turma, Ana, André, Gabriela, Isabella,
Leonardo, Luca, Maria Cecília e Thomas, os quais se tornaram imprescindíveis ao
longo dessa caminhada, de altos e baixos, responsáveis por essa conquista, sempre
aprendendo juntos e compartilhando conhecimento em trabalhos, grupos e estudos.
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RESUMO

NETO, José Marcolino; PEREIRA, Pedro Ribeiro Carneiro Da Cunha. Medidas


estruturais sustentáveis para microdrenagem na sub-bacia do Jaguaré. 2020.
77f. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Ambiental), Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2020.

As enchentes em grandes centros urbanos brasileiros são recorrentes nos dias de


hoje. No entanto, o problema tem origem no passado: a urbanização desordenada e
um planejamento que não conseguiu prever adequadamente a ocupação do solo
nesses lugares. Esses eventos são devidos à ocorrência de precipitações de extrema
intensidade ou uma drenagem urbana ineficiente. A proposição de uma drenagem
urbana planejada e eficiente é a solução para este problema que tem consequências
graves para a população. O objetivo deste estudo é elaborar um projeto para a
microdrenagem da sub-bacia afluente ao córrego Jaguaré, avaliando a utilização de
medidas estruturais sustentáveis. Foram propostas alternativas passíveis de
implementação, baseadas em medidas estruturais sustentáveis por meio do
reconhecimento e tratamento da sub-bacia do Córrego Jaguaré na Av. Kenkiti
Simomoto e da modelagem hidrológica e hidráulica considerando as estruturas de
microdrenagem. Os métodos utilizados para elaborar o presente estudo foram uma
revisão bibliográfica de medidas estruturais sustentáveis (Low Impact Development -
LID), seleção da área de estudo, modelagem hidrológica e hidráulica por meio do
software PCSWMM e simulação e avaliação da eficácia das medidas de
microdrenagem propostas na sub-bacia. No modelo da sub-bacia foram
implementados uma série de LIDs (pavimentos permeáveis, células de biorretenção,
coberturas verdes, e calha de telhado com cisterna vertical modular) em que
avaliamos a drenagem da sub-bacia com e sem essas LIDs para chuvas de período
de retorno (TR) de 10, 25 e 50 anos. Para cada cenário foi feita a comparação da
mancha de inundação e do hidrograma do exutório. Obteve-se uma redução da vazão
de pico do exutório de 12% para chuva de TR de 10 anos, e de 4% para TR de 25 e
50 anos. Já a mancha de inundação foi reduzida em 20% para chuva de TR de 10
anos, 19% para TR de 25 anos e 12% para TR de 50 anos. Com os resultados,
conclui-se que a situação da sub-bacia é crítica e que as LIDs amenizam, mas não
solucionam o problema. No entanto, considerando os efeitos obtidos na drenagem em
conjunto com benefícios ambientais e estéticos auferidos, as medidas são
amplamente recomendadas. Foi calculado um cenário adicional considerando uma
chuva de período de retorno de 5 anos em que foi obtido uma redução de 25% na
área inundada.

Palavras-chave: microdrenagem, Jaguaré, LID, medidas estruturais sustentáveis,


Kenkiti
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ABSTRACT

NETO, José Marcolino; CUNHA PEREIRA, Pedro Ribeiro Carneiro. Sustainable


structural measures for microdrainage in the Jaguaré sub-basin. 2020. 75f.
Bachelors Dissertation (Environmental Engineering), 2020. 77f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Engenharia Ambiental), Universidade de São Paulo, São Paulo,
2020.

Floods in large Brazilian urban centres are recurring today. However, the problem has
its origins in the past: disorderly urbanization and planning that failed to adequately
predict land use in these places. These events are due to the occurrence of extreme
rainfall or inefficient urban drainage.Planned and efficient urban drainage is the
solution to this problem that brings serious consequences to the population.

The objective of this thesis is to elaborate a micro-drainage project through the use of
sustainable structural measures for a sub-basin affluent to the Jaguaré stream.
Alternatives were proposed that could be implemented, based on sustainable
structural measures through the recognition and treatment of the Jaguaré Stream sub-
basin at Av. Kenkiti Simomoto and hydrological and hydraulic modelling considering
micro-drainage structures.

The methods used to prepare the present study were a bibliographic review of
sustainable structural measures (Low Impact Development - LID), selection of the
study area, hydrological and hydraulic modelling using the PCSWMM software and
simulation and evaluation of the effectiveness of the proposed micro-drainage
measures in the sub-basin.

In the sub-basin model, a series of LIDs (permeable pavements, bioretention cells,


green roofs, and rooftop disconnections) were implemented, in which we evaluated
the drainage of the sub-basin with and without these LIDs for rains of return period
(TR) of 10, 25 and 50 years. For each scenario, the flooded area in the sub-basin and
the hydrograph at the outlet have been compared. The proposed LIDs yielded a 12%
peak flow reduction at the sub-bacin’s outlet of 12% for a 10 year return period rain,
and 4% for 25 and 50 year return period. The flood area was reduced by 20% for 10-
year return period rain, 19% for a 25-year return period and 12% for 50-year return
period. An additional scenario was calculated considering a 5-year return period that
obtained a 25% reduction in the flood area. With the results, it has been concluded
that the sub-basin’s situation is critical and that the LIDs mitigate but do not solve the
problem. However, considering the effects obtained on drainage along with the
environmental and aesthetic benefits obtained, the measures are widely
recommended. An additional scenario was calculated considering a 5-year return
period that obtained a 25% reduction in the flood area.

Key Words: micro-drainage, Jaguaré, LID, sustainable structural measures, Kenkiti


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LISTA DE FIGURAS

Figura 1-Objetos visuais do SWMM. Fonte: United States Environmental Protection Agency.

Storm water management model user 's manual version 5.1. ................................................ 20

Figura 2-Célula de Biorretenção ao lado de uma avenida em Maryland (EUA). .................... 23

Figura 3-Célula de Biorretenção e suas camadas. ................................................................. 24

Figura 4-Cobertura Verde ........................................................................................................ 25

Figura 5-Telhado verde de manutenção extensiva sobre a laje de um hotel ......................... 25

Figura 6-Escoamento em cobertura tradicional e em telhado verde ...................................... 26

Figura 7-Trincheira de infiltração ............................................................................................. 27

Figura 8 - Seção transversal de um pavimento permeável sem infiltração. ........................... 28

Figura 9 -Pavimento permeável de concreto poroso............................................................... 29

Figura 10-Calha de telhado com cisterna vertical modular. .................................................... 30

Figura 11-Bairro do Jaguaré na cidade de São Paulo ............................................................ 31

Figura 12- Imagem de satélite com bairro do Jaguaré (São Paulo, SP) destacado em

vermelho ................................................................................................................................... 32

Figura 13-Sub-bacias e seções da Bacia do Córrego Jaguaré............................................... 32

Figura 14-Sub-bacia JE13........................................................................................................ 33

Figura 15- Sub-bacia JE13 no Google Maps Satélite ............................................................. 33

Figura 16-Google Street View da Avenida Kenkiti Simomoto. ................................................ 34

Figura 17-Avenida Kenkiti (trecho amarelo) e exutório definido para bacia (cubo vermelho), e

exutório do Rio Pinheiros (cubo verde).................................................................................... 36

Figura 18-Trechos 1 (esquerda) e 2 (direita). .......................................................................... 37

Figura 19-Trechos 3 (principal) e 4 (pequeno). ....................................................................... 38

Figura 20-Todos os trechos (amarelo) e exutório da bacia (cubo vermelho .......................... 38

Figura 21-Vista aérea da bacia do Kenkiti. .............................................................................. 39

Figura 22-Bacia do Kenkiti com condutos ............................................................................... 41


8

Figura 23-Bacia do Kenkiti com condutos e divisão por sub-bacias ....................................... 42

Figura 24-Modelo MDT com bacia e curvas de nível sobrepostas ......................................... 43

Figura 25-Modelo MDT com a bacia, condutos e nós sobrepostos ........................................ 44

Figura 26-Perfil vertical do Trecho 1 ........................................................................................ 45

Figura 27-Perfil vertical do Trecho 2. ....................................................................................... 45

Figura 28-Perfil vertical do Trecho 3. ....................................................................................... 46

Figura 29-Perfil vertical do Trecho 4. ....................................................................................... 46

Figura 30-Perfil vertical do primeiro nó do trecho 1 ao exutório da bacia do Kenkiti (trechos 1

e 3 juntos) ................................................................................................................................. 47

Figura 31-Perfil vertical do primeiro nó do trecho 2 ao exutório da bacia do Kenkiti (trecho 2

e 3 juntos). ................................................................................................................................ 47

Figura 32-Camada de transects no modelo da sub-bacia. ..................................................... 48

Figura 33-Exemplo dos dados do terreno representado pela transect. .................................. 48

Figura 34-Tela de inserção de dados do terreno no canal irregular. ...................................... 49

Figura 35-Rede de drenagem com a representação do terreno (em rosa) e condutos (em

amarelo).................................................................................................................................... 50

Figura 36-Hietograma para TR de 2 anos. ............................................................................. 52

Figura 37-Hietograma para TR de 10 anos. ............................................................................ 53

Figura 38-Hietograma para TR de 25 anos ............................................................................. 53

Figura 39-Hietograma para TR de 50 anos ............................................................................. 53

Figura 40-Hidrograma do exutório do cenário sem LID .......................................................... 55

Figura 41-Manchas de inundação com TR de 10 anos........................................................... 55

Figura 42- Manchas de inundação com TR de 25 anos.......................................................... 56

Figura 43-Manchas de inundação com TR de 50 anos ........................................................... 56

Figura 44-Vista 3D do ponto de alagamento do trecho 1 ........................................................ 57

Figura 45-Vista 3D do ponto de alagamento do trecho 2 ........................................................ 57

Figura 46- Vista 3D do ponto de alagamento dos trechos 3 e 4 ............................................. 58


9

Figura 47-Área preta representa a aplicação de LID de pavimento permeável na Avenida

Kenkiti Simomoto. ..................................................................................................................... 60

Figura 48-Área azul representa a aplicação da LID de células de biorretenção na Avenida

Kenkiti Simomoto. ..................................................................................................................... 61

Figura 49-Área roxa indicando áreas de cobertura verde, na Avenida Kenkiti Simomoto ..... 62

Figura 50-Área em vermelho representa a área total criada antes da redução a 7% ............ 64

Figura 51-Hidrograma do exutório da sub-bacia para TR de 10 anos. ................................... 65

Figura 52-Hidrograma do exutório da sub-bacia para TR de 25 anos. ................................... 66

Figura 53-Hidrograma do exutório da sub-bacia para TR de 50 anos .................................... 66

Figura 54-Impacto percentual das LIDs no exutório ................................................................ 67

Figura 55-Comparação da mancha de inundação com LIDs (vermelho) com cenário base

(azul) para TR de 10 anos........................................................................................................ 68

Figura 56-Comparação da mancha de inundação com LIDs (vermelho) com cenário base

(azul) para TR de 25 anos........................................................................................................ 68

Figura 57-Comparação da mancha de inundação com LIDs (vermelho) com cenário base

(azul) para TR de 50 anos........................................................................................................ 69

Figura 58-Impacto percentual das LIDs na área inundada ..................................................... 69

Figura 59-Impacto percentual das LIDs na área inundada no trecho 3. ................................. 70

Figura 60- Comparação da mancha de inundação com LIDs (vermelho) com cenário base

(azul) para TR de 5 anos. ......................................................................................................71

Figura 61- Impacto percentual das LIDs na área inundada, incluindo o TR de 5 anos. ...... 72

Figura 62- Impacto percentual das LIDs na área inundada no trecho 3 incluindo o TR de 5

anos. .................................................................................................................................... .72


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

API Application programming interface


CHI Computational Hydraulics International
CN Curve Number
DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica
EPA United States Environmental Protection Agency
FCTH Fundação Centro Tecnológico
Hidraúlica
HU Hidrograma Unitário
LID Low Impact Development
MDT Modelo Digital de Terreno
PCSWMM Personal Computer Storm Water Management Model
ReCESA Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em
Saneamento Ambiental
SWMM Storm Water Management Model
TR Período de Retorno
11

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13

1.1 O Problema ........................................................................................................ 13

1.2 As Consequências ............................................................................................ 13

1.3 Solução .............................................................................................................. 14

1.4 Objetivo .............................................................................................................. 14

1.5 Justificativas ..................................................................................................... 14

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 16

2.1 Contexto histórico ............................................................................................ 16

2.2 Contexto histórico Kenkiti de alagamentos .................................................. 17

2.3 Medidas de Drenagem ...................................................................................... 17

2.3.1 Medidas não estruturais ............................................................................ 17

2.3.2 Medidas estruturais ................................................................................... 18

2.3.2.1 Medidas estruturais sustentáveis ......................................................... 18

2.4 Storm Water Management Model (SWMM) .................................................... 18

2.4.1. Conceitualização do SWMM..................................................................... 18

2.4.1.2. Compartimentos ambientais ................................................................. 18

2.4.2.2. Objetos visuais ....................................................................................... 19

2.4.2.3. Objetos não visuais ............................................................................... 21

2.5 Potenciais medidas de drenagem para implementação.............................. 22

2.6.1. Células de Biorretenção e Jardins de Chuva ........................................ 22

2.6.2. Coberturas Verdes .................................................................................... 24

2.6.3. Trincheiras de Infiltração ......................................................................... 26

2.6.4. Pavimento Poroso ..................................................................................... 27

2.6.5. Calha de telhado com barris de chuva ................................................... 29

3. PLANO DE ABORDAGEM...................................................................................... 31
12

3.1. Área a ser estudada ......................................................................................... 31

3.2. Modelagem hidráulica e hidrológica – PCSWMM........................................ 35

3.4. Seleção da Área de Estudo ............................................................................ 35

3.5. Delimitação da Sub-bacia do Kenkiti ............................................................ 39

3.7. Modelagem Hidrológica .................................................................................. 50

3.8. Calibração do modelo .................................................................................... 54

3.9. Análise de alternativas .................................................................................... 58

3.9.1. Pavimento Permeável ............................................................................... 59

3.9.2. Células de Biorretenção ........................................................................... 60

3.9.3. Coberturas Verdes .................................................................................... 61

3.9.4. Calha de telhado com cisterna vertical modular .................................. 63

4. RESULTADOS ......................................................................................................... 65

5. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 73

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 75


13

1. INTRODUÇÃO

O Trabalho de Formatura da Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo tem como objetivo a aplicação dos conceitos aprendidos
durante as disciplinas de Hidrologia, Drenagem, Geoprocessamento, Saneamento e
Hidráulica, para assim, elaborar um projeto de microdrenagem sustentável.

1.1 O Problema

As enchentes em grandes centros urbanos brasileiros são recorrentes nos


dias de hoje. No entanto, o problema tem origem no passado: a urbanização
desordenada e um planejamento que não conseguiu prever adequadamente a
ocupação do solo nesses lugares. Fatores como políticas públicas ineficientes,
escassas ou inexistentes, condições socioeconômicas vulneráveis, falta de leis de
zoneamento e ocupação do solo, infraestrutura precária ou não revigorada, são
apenas alguns dos influenciadores do panorama visto hoje.
E as enchentes têm duas grandes causas: eventos de precipitação de
extrema intensidade e atípicos, ou uma drenagem urbana insuficiente que não é
capaz de escoar toda a água de eventos não tão atípicos.
A drenagem urbana eficiente e planejada é a solução pois é um processo de
gerenciamento do escoamento superficial urbano que evita este problema, que tem
consequências graves para a população.

1.2 As Consequências

Quando há um volume de chuva suficiente que sature o sistema de


microdrenagem, ocorrem as vazões de pico. Ou seja, a água que deveria estar sendo
infiltrada no solo, está acima dele, e não há por onde essa água escapar. Então, o
que acontece é o acúmulo de água em movimento na superfície, gerando o
escoamento superficial. Em casos nos quais o evento de chuva é muito intenso, por
um período razoável de tempo, o nível da água nas calçadas e pavimentos, começa
a subir, o que tem diversos efeitos para a população do local.
Dentre os efeitos negativos, existe a enchente, que carreia desde partículas
14

de sujeira a automóveis de grande porte; a poluição difusa, advinda da mistura da


água com os resíduos presentes no centro urbano; a disseminação de doenças, visto
que a água é suja e entra em contato dérmico direto com os transeuntes do local; as
perdas materiais, por lares que são destruídos e estacionamentos que são alagados;
e o pior de todos, a morte de pessoas que acabam sendo carregadas pelas
enchentes, e acabam se afogando inevitavelmente no percurso da correnteza da
água.

1.3 Solução

Segundo Ribeiro (2010), nos grandes centros urbanos, é preciso investir em


infraestrutura dos sistemas de microdrenagem com o intuito de minimizar o fluxo das
águas pluviais e consequentemente os impactos ocasionados devido a esse excesso,
em períodos de tempo curtos.
A microdrenagem urbana é definida pelo sistema de condutos pluviais a nível
de loteamento ou de rede primária urbana (RAMOS et. al., 1999). Ou seja, para que
as soluções de microdrenagem sejam efetivas, devem estar integradas ao sistema já
existente de infiltração e condução de água, com um planejamento que vise não a
substituição das infraestruturas que já existem, mas a integração entre elas.
Para tal, é necessário que haja um entendimento profundo sobre o contexto
da região da sub-bacia, a fim de implementar medidas que sejam factíveis aos
critérios legais, ambientais, econômicos e técnicos. E para esta tarefa, será
necessária a utilização de ferramentas atuais e de alta confiabilidade, como o Google
Earth e o software PCSWMM.

1.4 Objetivo

Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo elaborar um projeto


para microdrenagem da sub-bacia afluente ao córrego Jaguaré, avaliando a utilização
de medidas estruturais sustentáveis.

1.5 Justificativas
15

Para cumprir o objetivo, são propostas as alternativas passíveis de


implementação, baseadas em revisão bibliográfica de medidas estruturais
sustentáveis, reconhecimento e tratamento da sub-bacia do Córrego Jaguaré na Av.
Kenkiti Simomoto e da modelagem hidrológica e hidráulica considerando as
estruturas de microdrenagem.
Em seguida, foi feita uma análise detalhada das medidas estruturais
sustentáveis que podem aumentar o potencial de drenagem atual da bacia,
verificando quais delas são possíveis de implementação na área através de critérios
como:
1) área requerida para implementação;
2) viabilidade de execução (restrições).
Vale ressaltar que apenas uma medida ou apenas uma obra provavelmente
não solucionará o problema, mas um conjunto delas funcionando de forma integrada
entre si e holística com o espaço da sub-bacia, pode amenizar significativamente o
problema.
Com o apoio do software de modelagem, foram simuladas situações críticas
de escoamento superficial para o entendimento da dinâmica da bacia e seus padrões:
principais pontos de alagamento, tamanho das manchas de inundação na área, sua
vazão de pico, entre outros parâmetros.
Considerando todos esses aspectos, foi realizada uma análise e revisão das
medidas estruturais sustentáveis a serem implementadas, propondo ao projeto as
mais factíveis de implementação com visão de longo prazo.
Para a elaboração do projeto, foi estruturado o Trabalho de Formatura do
seguinte modo: Revisão Bibliográfica, onde estão fundamentadas as bases de
conhecimento e de aprofundamento dos temas referentes ao projeto; a Metodologia,
onde estão explicitadas as ferramentas e subsídios utilizados, assim como a maneira
que foram implementados; Resultados, onde foram apresentados e analisados os
resultados da modelagem; e Conclusão, onde foi resumida a proposta do projeto e
suas consequências.
16

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo será apresentado todo o levantamento teórico que embasam as


metodologias, análises e decisões tomadas no trabalho, como artigos, livros,
pesquisas e literatura reconhecida, todas devidamente referenciadas ao longo do
documento.

2.1 Contexto histórico

O processo de criação de centros urbanos começa no século XVII e XIX, junto


com o início da Revolução Industrial. Nessa época, começaram a ser construídas
fábricas nas cidades, e houve a migração de muitas pessoas do rural para o urbano.
Nessa transição, a necessidade de cuidar da saúde do trabalhador e dos cidadãos,
torna-se obrigação do Estado, e é quando começam a surgir preocupações com as
condições sanitárias como um todo, nesses locais. Com esse contexto, surgem as
primeiras medidas de drenagem, como a macrodrenagem, com medidas estruturais
que visam escoar o volume de chuvas a fim de se evitar o acúmulo de água, através
de obras como canalizações e reservatórios (PINHEIRO e SANTOS, 2019).
Com a crescente urbanização e migração de parcela da população significativa
do campo para a cidade, as soluções para saneamento e drenagem precisaram de
maior complexidade e robustez, visando melhorar o sistema e melhorar as condições
da população. Surgem então o Método Racional, que foi utilizado desenvolver uma
relação matemática entre as chuvas e o escoamento superficial e, assim, se contrapor
aos métodos empíricos anteriormente empregados no dimensionamento dos
condutos pluviais (TOMAZ, 2013)
No entanto, como a metodologia data do século XIX e na época não havia
preocupação relevante com o meio ambiente ou impactos socioeconômicos, no que
se refere a obras de macrodrenagem, o resultado foi impacto ambiental. Torna-se
necessário, portanto, um novo modelo (Pinheiro e Santos, 2019). Este modelo seria
o de hidrologia urbana.
Tem origem nos países desenvolvidos, que, dispondo de instrumentos
tecnológicos
mais sofisticados para a aferição de dados e para simulações via modelagem
hidrológica e hidráulica, passam a buscar a mitigação dos impactos da
urbanização
17

sobre o ciclo hidrológico (Pinheiro e Santos, 2019).

Com o avanço das tecnologias e desenvolvimento de softwares cada vez mais


robustos, as modelagens tornam-se mais complexas e assertivas, e conseguem
incluir mais parâmetros e variáveis em suas simulações, resultando em projetos mais
precisos e realistas.
Dentre as novas abordagens sobre saneamento e drenagem que existem hoje,
pode-se destacar o Low Impact Development (LID), o qual se refere a sistemas e
práticas que visam imitar processos naturais de infiltração, evapotranspiração ou uso
de água pluvial com o objetivo de proteger qualidade da água e de seu habitat
aquático associado. As LIDs empregam princípios como preservação e recriação de
paisagens naturais, a fim de minimizar a impermeabilização e facilitar a drenagem
urbana.

2.2 Contexto histórico Kenkiti de alagamentos

Dentre as regiões com planejamento inadequado ou não revitalizado, está a


da bacia do Jaguaré, onde se localiza a Avenida Kenkiti Simomoto. É um local que
possui uma drenagem ineficiente, e como será apresentado no trabalho, com grande
área impermeável.
Quanto ao seu histórico, vale ressaltar alguns episódios recentes de
alagamento na avenida, dois ao mínimo noticiados nos últimos 11 anos. Um deles em
2009, noticiado pelo G1, e outro em 2012, noticiado pelo Jornal de Brasília. Em ambos
episódios, a Avenida Kenkiti Simomoto alagou, porém, ainda estava transitável.

2.3 Medidas de Drenagem

2.3.1 Medidas não estruturais

Segundo a Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em


Saneamento Ambiental (ReCESA), são descritas como aquelas medidas que o
homem usa para conviver com o curso de água. Ou seja, medidas que exigem
legislação, manutenção, e educação, a fim de minimizar os impactos decorrentes da
impermeabilidade. Como exemplo, pode-se citar a própria Lei 12.526/2007, de
educação da população quanto ao não descarte de resíduos em vias públicas e
18

sistemas de alerta para inundações.

2.3.2 Medidas estruturais

Para a ReCESA, são descritas como aquelas medidas que o homem usa para
modificar o curso de água. Geralmente são medidas que envolvem projetos e obras,
como estruturas hidráulicas, bacias de retenção, e canalizações.

2.3.2.1 Medidas estruturais sustentáveis

As medidas estruturais sustentáveis, ou Medidas Compensatórias (MC), são


segundo a ReCESA, tecnologias alternativas de drenagem, que buscam neutralizar
os efeitos da urbanização sobre os processos hidrológicos, com benefícios para a
qualidade de vida e a preservação ambiental. Elas começam a surgir na década de
70 na Europa e nos Estados Unidos, sendo consideradas medidas LID.

2.4 Storm Water Management Model (SWMM)

Para modelar a sub-bacia do ponto de vista hidrológico e hidráulico e


posteriormente quantificar o impacto das possíveis medidas de microdrenagem
propostas, será utilizado o Storm Water Management Model (SWMM) desenvolvida
pela United States Environmental Protection Agency (EPA). O SWMM é um modelo
de simulação dinâmico de precipitação e escoamento superficial usado tanto para
chuvas pontuais como chuvas contínuas. Delimitada a área da sub-bacia, é possível
simular a quantidade e qualidade do escoamento superficial gerado. O modelo ainda
conta com uma frente voltada para canalização para simulação da vazão, e altura de
escoamento superficial que é direcionado para um sistema de condutos e anexos
hidráulicos-hidrológicos.

2.4.1. Conceitualização do SWMM

2.4.1.2. Compartimentos ambientais


19

O SWMM abstrai um sistema de drenagem como uma série de fluxos de água


e matéria entre quatro compartimentos ambientais: compartimento atmosférico,
compartimento superficial, compartimento de água subterrânea e o compartimento de
transporte. O compartimento atmosférico, que é representado por hidrômetros, gera
precipitação e deposita poluentes no compartimento superficial que é representado
pelas sub-bacias. Recebida a precipitação, esse compartimento direciona o fluxo na
forma de escoamento superficial e cargas de poluentes para o compartimento de
transporte e infiltração para o compartimento de água subterrânea, representado por
objetos de aquíferos. O compartimento de transporte possui uma rede de elementos
de transporte como canais, tubulações, bombas e reguladores, e unidades de
armazenamento e tratamento que transportam a água para emissários ou instalações
de tratamento. Os fluxos de entrada neste compartimento podem ser provenientes de
hidrogramas pré-determinados pelo usuário além das entradas mencionadas
anteriormente. Vale ressaltar que não é necessário que todos os compartimentos
estejam presentes em um modelo do SWMM. É possível modelar somente um desses
compartimentos usando hidrogramas definidos pelo usuário como entrada do modelo.

2.4.2.2. Objetos visuais

O SWMM faz uso de uma série de objetos visuais que são utilizados para
representar o sistema de drenagem de águas pluviais. Ao todo são nove objetos:
hidrômetros, sub-bacias, nós de junção, nós de saída, nós divisores, unidades de
armazenamento, condutos, bombas e reguladores, representados na Figura 1.
20

Figura 1-Objetos visuais do SWMM. Fonte: United States Environmental Protection


Agency. Storm water management model user 's manual version 5.1.

Fonte: Autores (2020).

Os hidrômetros fornecem dados de precipitação para as sub-bacias na


região de estudo. As principais entradas para esse objeto incluem dados de
intensidade, duração e frequência e séries históricas de precipitação. Ainda é possível
inserir dados de chuva pré-determinados pelo usuário.
As sub-bacias são áreas de terra cuja topografia e sistema de drenagem
direcionam o escoamento superficial para um ponto de saída comum denominado
exutório. O exutório de uma sub-bacia pode ser tanto um nó do sistema de drenagem
como outra sub-bacia. Dividiu-se a sub-bacia em sub-áreas permeáveis e
impermeáveis, sendo que estas são divididas em áreas com e sem armazenamento
de depressão. O escoamento de uma sub-área pode ser encaminhado para outra
subárea (e.g. escoamento superficial infiltrar na camada superior do solo em uma
zona permeável para uma área impermeável) ou então várias subáreas podem ter um
ponto comum de drenagem. Pode-se modelar a infiltração por meio de modelos como
a infiltração de Horton e Curve Number (CN).
No SWMM há três tipos de nós: nós junção, de saída e nós divisores de
vazão. Os nós de junção são os pontos em que os sistemas de drenagem se juntam.
No SWMM, ele pode representar a confluência de canais de superfície livre, poço de
21

visita, ou junções de tubulação. Os nós de saída são os pontos finais de um sistema


de drenagem. Somente um trecho pode ser ligado a um nó de saída, sendo possível
que a saída seja encaminhada para a superfície de uma sub-bacia. Nós divisores de
vazão desviam a vazão de entrada para um conduto específico de uma maneira
prescrita.
Os condutos são canais ou tubos que movem a água entre nós em um
sistema de transporte. No SWMM é possível escolher a forma da seção transversal
do conduto como uma forma retangular, trapezoidal ou alguma forma irregular
definida pelo usuário. O modelo utiliza a equação de Manning para expressar a vazão
nesse objeto.

2.4.2.3. Objetos não visuais

Somado aos objetos visuais que são dispostos em um mapa, o SWMM faz
uso de uma série de classes de objetos não visuais para descrever características e
processos adicionais dentro de uma área de estudo. Os exemplos mais pertinentes
dessa classe são o hidrograma unitário (HU), os transects, o uso do solo e os
controles LID.
O HU estima a parcela da infiltração e vazão de entrada no sistema de
drenagem dependente da precipitação. Um conjunto de HU possui até três
hidrogramas, para respostas de curto, intermediário e longo prazo. Um grupo de HU
pode possuir até 12 conjuntos de HU, um para cada mês do ano. O SWMM considera
cada HU como um objeto separado e designa um nome para cada HU assim como o
nome do hidrômetro que alimenta os dados de precipitação.
Os transects representam os dados geométricos que descrevem como a cota
do terreno varia ao longo de uma linha traçada no modelo. Esse elemento é
extremamente importante para a representação do terreno no modelo porque irá
influenciar o tamanho e forma das manchas de inundação.
Os usos do solo no SWMM podem ser caracterizados como residencial,
comercial, industrial, solo exposto etc. O uso do solo é essencial na modelagem para
levar em conta a variação espacial no acúmulo de poluentes e taxas de escoamento
superficial na sub-bacia. O SWMM permite ao usuário definir uma combinação de
usos de solo de tal maneira a resultar em características de permeabilidade
constantes ao longo de uma sub-bacia, ou então é possível definir uma série de sub-
22

bacias com uma mesma classificação de uso de solo.


Por fim, os controles LID se tratam do último objeto não visual do SWMM. Os
controles LID são práticas de baixo impacto projetados para capturar o escoamento
superficial e promover alguma forma sua detenção, infiltração e evapotranspiração.
O SWMM considera os controles LIDs como uma propriedade de uma dada
sub-bacia, recebendo um tratamento similar aos aquíferos, por exemplo. É possível
modelar explicitamente oito tipos genéricos de controle LID: células de biorretenção,
jardins de biorretenção, coberturas verdes, trincheiras de infiltração, pavimentos
permeáveis contínuos, cisternas, e calhas de telhado com reservatório.

2.5 Potenciais medidas de drenagem para implementação

Dentro de Medidas Estruturais Sustentáveis, existem várias opções. Para o


presente trabalho, existe uma limitação da medida selecionada como ideal, estar
presente como opção disponível para simulação no software PCSWMM, pois só
assim será possível a análise e conclusão de qual medida será a melhor para a sub-
bacia, através de embasamento técnico e quantitativo. Elas são as já citadas:
(i) células de biorretenção;
(ii) jardins de chuva ou de biorretenção;
(iii) coberturas verdes;
(iv) trincheiras de infiltração;
(v) pavimentos permeáveis e;
(vi) calha de telhado com reservatório.
Vale ressaltar que os objetivos das medidas são os mesmos: reduzir os
picos de vazão em eventos de precipitação e diminuir o fluxo gerado pelo
escoamento superficial, a fim de amenizar o efeito das enchentes e melhorar o
conforto urbano.

2.6.1. Células de Biorretenção e Jardins de Chuva

O sistema de biorretenção une as funções paisagísticas às de drenagem.


Consiste basicamente em uma camada de vegetação em uma depressão, com
camada subterrânea de solo e de uma camada drenante, onde a água da chuva infiltra
23

e pode ser escoada até a rede de drenagem ou para o próprio subsolo (TROWSDALE
& SIMCOCK, 2011).
Sua principal função é reter a água e diminuir o pico de cheia, ao trazer
características semelhantes ao período pré-desenvolvimento, de condições naturais
de infiltração. Se mostra como uma solução eficaz em áreas urbanas onde o espaço
verde é muitas vezes limitado, como na Figura 2.

Figura 2-Célula de Biorretenção ao lado de uma avenida em Maryland (EUA).

Fonte: Ecological Landscape Alliance.

Uma das possíveis estruturas do sistema de biorretenção é a apresentada


(Figura 3), com camadas de vegetação, armazenamento de água, substrato, solo,
filtro, pedra britada e eventualmente um conduto perfurado permeável.
24

Figura 3-Célula de Biorretenção e suas camadas.

Fonte: Lyngso Garden.

No que se refere à manutenção, as células de biorretenção precisam ser


cuidadas, aparando a vegetação e evitando o acúmulo de resíduos que pode culminar
na colmatação. Recomenda-se a utilização de plantas nativas e de fácil manuseio
para menor custo.
Das vantagens apresentadas por essa LID além da detenção de água, podem
ser citadas a redução das ilhas de calor, a estética, e a valorização imobiliária.

2.6.2. Coberturas Verdes

Segundo Melo (2011), coberturas ou telhados verdes representam uma


estrutura verde de retenção de água, e são compostas basicamente por 6 camadas
(Figura 4).
1. Impermeabilizante - Acima da laje para evitar infiltração
2. Protetora - Proteção mecânica
3. Drenante - Regula a retenção e drenagem
4. Filtrante (opcional) - Evita o carreamento de partículas finas e
substratos para camadas drenante (geotêxteis ou membranas
filtrantes)
5. Substrato - Solo com nutrientes para a vegetação
6. Cobertura Vegetal - formada preferencialmente por espécies nativas
25

Figura 4-Cobertura Verde

Fonte: Melo, T.A.T. (2011).

Quanto à sua manutenção, podem ser de dois tipos: extensiva ou intensiva.


A primeira, exige menor manutenção e possui vegetação mais leve, de menor porte e
adaptável ao clima local. Já a segunda, tem uma função paisagística mais forte, com
variações de vegetação que exigem maior manutenção e uma camada mais espessa
de substrato, resultando em mais custos (MACIVOR & LUNDHOLM, 2010) A Figura
5 ilustra um exemplo de telhado verde e sua função paisagística em uma estrutura de
hotel.

Figura 5-Telhado verde de manutenção extensiva sobre a laje de um hotel


26

Fonte: Thermo House.

Entre suas vantagens, pode-se destacar a regulação do microclima que


ameniza a temperatura ambiente e minimiza gastos com dispositivos de regulação
térmica. Já no que se refere ao manejo de águas pluviais, vale ressaltar que tal
estrutura, além de ser permeável e infiltrar parte da água, diminui a velocidade do
escoamento superficial e aumenta a taxa de evaporação da superfície devido a
evapotranspiração (CUNHA, 2004), como representado na Figura 6.

Figura 6-Escoamento em cobertura tradicional e em telhado verde

Fonte: Cunha, (2004).

2.6.3. Trincheiras de Infiltração

É um sistema linear de retenção de água, onde sua camada de superfície é


preenchida por material granular graúdo (Figura 7) e é separada do solo por um
geotêxtil, a fim de evitar a entrada de partículas finas e elementos contaminantes
(SOUZA, 2002). planejadas para valetas ou superfícies bastante planas, visto que sua
infiltração é pouco eficiente em declividade, que no caso, deve ser limitada a 15%
(NEW YORK STATE, 2015).
27

Figura 7-Trincheira de infiltração

Fonte: Aquafluxus

2.6.4. Pavimento Poroso

O pavimento poroso ou permeável é uma medida estrutural que funciona


como substituta da estrutura já existente, como as calçadas e ruas. A grande diferença
é que o pavimento poroso é composto por várias camadas que têm a função de
infiltração e retenção da água. Ou seja, a sua estrutura permite que uma parcela da
água seja retida em vez de ser escoada e se acumular na superfície.
Consequentemente, isso amortece os picos de cheia e diminui a altura da lâmina da
água em eventos com precipitações intensas (FERGUSON, 2005).

Sobre a estrutura do pavimento permeável, é composta por 4 sub-estruturas,


representadas na Figura 8:
1. Revestimento poroso
2. Filtro de agregados
3. Reservatório
4. Subsolo ou rede de drenagem
28

Figura 8 - Seção transversal de um pavimento permeável sem infiltração.

Fonte: Adaptado de EISENBERG, LINDOW, SMITH, (2015).

O revestimento poroso pode ser basicamente de três tipos: blocos


intertravados vazados, concreto poroso (representado na Figura 9), ou asfalto poroso.
O primeiro consiste de blocos vazados que possuem grama em seu interior, o
segundo e o terceiro são semelhantes, são parecidos com o concreto/asfalto comum,
no entanto há uma retirada de fração de areia fina da mistura dos agregados do
pavimento, criando uma maior quantidade de vazios de 18 a 25% (BERNUCCI et. al.,
2008).
Segundo Coutinho (2011), o filtro de agregados é uma camada subjacente ao
revestimento poroso, que determina a capacidade de infiltração do pavimento poroso.
O reservatório tem a função armazenagem da água infiltrada, e portanto deve ser
composta por material de elevada porosidade ou por pedras graúdas que possibilitem
uma entrada de volume grande de água. Por último, a camada mais inferior é o próprio
solo do local, que deve ser permeável para que haja uma absorção devido a diferença
de gradiente e que minimize a saturação da reserva do pavimento. É importante
ressaltar que dependendo da estrutura de pavimento permeável, é necessária
também a manta geotêxtil, a fim de prevenir o carreamento de areia fina para outras
camadas.
Quanto às suas restrições, precisa que o local seja plano, com declividades
variando entre 0 e 10%, segundo estudos experimentais de Lllgen et. al. (2006), mas,
de acordo com Schueler (1987), preferencialmente abaixo de 5%. Outra restrição é o
solo ser relativamente permeável, e a distância do pavimento ao lençol freático, que
não pode ser menor que 1 m.
Para manutenção, é recomendado o jateamento de ar sobre a superfície para
29

prevenir entupimento dos poros e colmatação, e também a varrição periódica do local


e das vias, a fim de deixar a superfície sem obstrução para infiltração (TUCCI, 2005).

Figura 9 -Pavimento permeável de concreto poroso

Fonte: Civilização Engenheira.

2.6.5. Calha de telhado com barris de chuva

Consiste basicamente de calhas, que direcionam o escoamento advindo das


coberturas (como telhados das casas), para um reservatório. Assim, a chuva que
escoaria pelo solo, é retida em uma cisterna ou barril de chuva, como na Figura 10,
onde é possível deter a água, amortecer o pico de cheia, e como vantagem, utilizar
esse acúmulo para desfrutar como água de reúso. Sendo assim, seu
dimensionamento e estimativa de custos basicamente dependem da capacidade de
armazenamento que se deseja obter, e os custos do barril.
No que se refere à manutenção do sistema, consiste basicamente na limpeza
periódica das calhas, a fim de evitar o acúmulo de folhas e outros resíduos que podem
prejudicar o desempenho do escoamento ou até ocasionar um entupimento.
Vale ressaltar que existem outras alternativas de armazenamento de água
associada a calha, como outras LIDs, mas que seriam mais difíceis de serem
utilizadas como água de reúso. Ou seja, podem existir jardins de biorretenção em vez
de cisternas para receber a água da cobertura.
30

Figura 10-Calha de telhado com cisterna vertical modular.

Fonte: ECycle
31

3. PLANO DE ABORDAGEM

3.1. Área a ser estudada

Na cidade de São Paulo, o bairro do Jaguaré fica localizado na zona Oeste


(Figura 11), fazendo divisa com a cidade de Osasco, sendo pertencente à
subprefeitura da Lapa. Segundo a Prefeitura de São Paulo (2020), sua área total
corresponde a 6,6 km2, com uma população de 49.863 pessoas (censo de 2010),
resultando em uma densidade demográfica de 7.555 hab/km 2. Na Figura 12, é
possível observar com mais detalhes o bairro em uma imagem por satélite.

Figura 11-Bairro do Jaguaré na cidade de São Paulo

Fonte: Rodrigo C. Braga.


32

Figura 12- Imagem de satélite com bairro do Jaguaré (São Paulo, SP) destacado em
vermelho

Fonte: Google Maps (2020).

Para facilitar o estudo da bacia, ela é subdividida em 26 sub-bacias


respeitando critérios de topografia e uso e ocupação do solo (Figura 13). No presente
estudo, a sub-bacia selecionada é a JE13 (Figuras 14 e 15), que contém a Avenida
Kenkiti Simomoto.

Figura 13-Sub-bacias e seções da Bacia do Córrego Jaguaré

Fonte: FCTH
33

Figura 14-Sub-bacia JE13

Fonte FCTH

Figura 15- Sub-bacia JE13 no Google Maps Satélite

Fonte: Autores (2020).

Observa-se que é um local bem urbanizado e impermeável, com muitas


residências e comércios próximos às avenidas paralelas à Avenida Escola Politécnica.
34

Possui em sua extremidade norte também, a favela Vila Nova Jaguaré.


Sobre a Avenida Kenkiti Simomoto em si, possui características simples em
toda sua extensão. Tem início na Avenida Escola Politécnica, e final em uma rotatória
que é o encontro de três outros trechos, Avenida Bolonha, Rua Engenheiro Vitor
Freire, e Rua Três Arapongas. A Avenida Kenkiti possui dois sentidos, e entre eles,
ilhas gramadas, como visto na Figura 16. Suas calçadas são estreitas, e possui
elevação quase constante em todo o trecho de 935 m, ou seja, é praticamente plana,
com variação de 2 m altura no máximo, como pode-se verificar na imagem abaixo.
Quanto aos trechos das ruas Engenheiro Victor Freire e Rua Três Arapongas,
assim como a grande maioria das ruas a montante da Avenida Kenkiti, possuem um
perfil semelhante: ruas bem apertadas, tortuosas, e com calçadas bem estreitas, com
pouquíssima ou nenhuma vegetação, ou seja, impermeável.

Figura 16-Google Street View da Avenida Kenkiti Simomoto.

Fonte: Autores (2020).


35

3.2. Modelagem hidráulica e hidrológica – PCSWMM

Para modelagem hidráulica e hidrológica de nossa sub-bacia será utilizado o


PCSWMM, desenvolvido pela Computational Hydraulics International Water (CHI). O
software é de domínio privado, no entanto o grupo conseguiu uma licença acadêmica
para seu uso neste trabalho. Este software foi escolhido para esse modelo tanto pela
interface de fácil manuseio quanto pela oportunidade dos integrantes aprenderem a
utilizar um software profissional, utilizado no mercado por diversas empresas e
entidades públicas.

3.4. Seleção da Área de Estudo

Para a determinação da área a ser abrangida pelo projeto, foi decidido que o
enfoque do trabalho seria na sub-bacia do Jaguaré, referente à área da Av. Kenkiti
Simomoto. Para que a solução apresentada fosse mais precisa e localizada, decidiu-
se focar e delimitar uma área menor, permitindo maior detalhamento para a área e
resolução do problema de alagamentos e enchentes especificamente na avenida.
Além disso, ao excluir elementos e informações pouco relevantes para o projeto,
permitiu-se que o arquivo como um todo ficasse mais leve, com processamento mais
rápido, e com maior detalhamento e rigor dos próximos procedimentos a serem
mencionados.
Como citado, o software utilizado foi o PCSWMM. Para o início do projeto,
foram necessárias informações da rede de microdrenagem da bacia. Os dados com
papel essencial foram o de cadastros de boca de lobo, de galerias, e de curva de
nível. Com esses arquivos da bacia JE13, provenientes do FCTH, foi possível ter uma
ótima noção do tamanho e grau de refinamento com qual seria possível trabalhar na
bacia.
O primeiro passo então, foi definir o exutório da nova sub-bacia, pois assim, é
possível definir quais serão os caminhos dos escoamentos superficiais a serem
considerados para o projeto de drenagem localizada. Para tal, foi selecionado o início
da Avenida Kenkiti Simomoto, no ponto cruzamento com a Avenida Escola
Politécnica. Após a coleta do volume do exutório dessa sub-bacia, a água prossegue
para o sistema de macrodrenagem do Jaguaré com exutório no Rio Pinheiros,
36

representado pelo cubo verde na Figura 17. Esse trecho, da Avenida Escola
Politécnica ao Rio Pinheiros, não é parte do objeto de estudo.

Figura 17-Avenida Kenkiti (trecho amarelo) e exutório definido para bacia (cubo
vermelho), e exutório do Rio Pinheiros (cubo verde).

Fonte: Autores (2020).

Para a delimitação e o recorte em si, foram selecionados três grandes trechos,


baseados nos cadastros de galerias, que formam a figura de um “Y”. O critério para
escolha desses trechos foi baseado no sentido de escoamento da água para o
exutório mencionado. São as ruas e avenidas principais localizadas a montante da
Avenida Kenkiti. Existe ainda um quarto trecho, na Avenida Jaguaré, cuja inclinação
escoa a água para a Avenida Kenkiti.
O trecho 1 é o da Avenida Bolonha (trecho esquerdo da Figura 18), com
extensão de 932 metros. Seu início é na praça Henrique Dumont Villares e término é
no início da Avenida Kenkiti. Nota-se que no início dele há uma pequena ramificação,
para a Rua Marselha em ambos sentidos.
O trecho 2 é o da Rua Engenheiro Vitor Freire (trecho direito da Figura 18),
37

com extensão de 883 metros. Seu início é na Rua Tiagem e término é no início da
Avenida Kenkiti. Nota-se que no início dele há uma pequena ramificação, para a Rua
Marselha.

Figura 18-Trechos 1 (esquerda) e 2 (direita).

Fonte: Autores (2020).

O trecho 3 é o principal. Contém a Avenida Kenkiti (trecho principal da Figura


19), e o volume pluvial no início deste trecho provém da soma dos volumes escoados
pelos trechos 1 e 2. Sua extensão é a mais longa, com 935 metros. Seu início é na
rotatória que une a Avenida Bolonha, a Rua Engenheiro Vitor Freire e a Avenida
Kenkiti e seu término é no cruzamento entre a Avenida Kenkiti e a Avenida Escola
Politécnica, que seria o próprio exutório da sub-bacia.
O trecho 4, como mencionado, é um pequeno trecho da Avenida Jaguaré,
perpendicular à Avenida Kenkiti (Figura 19), de aproximadamente 113 metros.
Na Figura 20, é possível identificar todos os trechos acima mencionados,
assim como o exutório da bacia, representado pelo cubo vermelho.
38

Figura 19-Trechos 3 (principal) e 4 (pequeno).

Fonte: Autores (2020).

Figura 20-Todos os trechos (amarelo) e exutório da bacia (cubo vermelho


39

Fonte: Autores (2020).

3.5. Delimitação da Sub-bacia do Kenkiti

A próxima etapa foi delimitar a área da sub-bacia. Foi contornado as áreas de


influência de escoamento que continham os trechos 1, 2, 3 e 4. Então, utilizando os
dados de curva de nível, foi traçado cuidadosamente, respeitando o critério de
perpendicularidade a cada curva. A nova sub-bacia traçada será denominada
doravante como bacia do Kenkiti, representada em vermelho na Figura 21.

Figura 21-Vista aérea da bacia do Kenkiti.

Fonte: Autores (2020).


40

3.6. Modelagem da rede de drenagem

Com a bacia do Kenkiti delimitada, foi possível obter um panorama geral da


situação do projeto. A etapa seguinte consistiu em traçar adequadamente a rede de
drenagem.
Primeiro foi definido o modelo de infiltração. O modelo selecionado foi o Curve
Number (CN-SCS). Foi adotado um CN de 80, valor utilizado pelo FCTH na
modelagem do JE13. Os dados de cadastro obtidos mencionados anteriormente,
eram incompletos e sem todas as informações necessárias para as simulações de
drenagem. Os dados possuíam apenas uma noção de onde eram localizados os
condutos e elementos de microdrenagem, como pontos discretos no mapa, sem as
informações como ligação entre elementos e condutos, altura da geratriz do conduto,
diâmetro do conduto, entre muitas outras. Portanto, foi requerido o traçado do zero,
utilizando os dados de cadastro apenas como guias e orientações de onde estariam
localizados os principais elementos de drenagem na bacia.
Para construir a nova rede de drenagem, o primeiro passo foi criar os nós,
baseando sua localização nos cadastros e trechos previamente selecionados. No
total, foram criados 49 nós. Em seguida, foi feito o traçado da rede em si, ligando os
nós através de condutos, seguindo os trechos 1, 2 e 3. Com esses elementos criados,
foi possível obter a primeira visualização da rede de drenagem a ser trabalhada,
representado em amarelo na Figura 22.
41

Figura 22-Bacia do Kenkiti com condutos

Fonte: Autores (2020).

Depois foi feita a subdivisão da bacia do Kenkiti, com 1 nó correspondendo a


1 sub-bacia. Foi necessário isolar cada nó em uma sub-bacia tanto para a inserção
dos dados de precipitação em cada nó do modelo, como para a implementação e
análise de LIDs. Essa subdivisão resultou no mapa da Figura 23, com o total de 49
sub-bacias, dentro da bacia do Kenkiti.
42

Figura 23-Bacia do Kenkiti com condutos e divisão por sub-bacias

Fonte: Autores (2020).

Em seguida, foi necessário elaborar o Modelo Digital de Terreno (MDT), ou


seja, montar uma camada no modelo que representasse a realidade topográfica da
bacia do Kenkiti. Para que isso fosse possível, foram extraídos do GeoSampa
arquivos no formato .laz, convertidos posteriormente em formato .las, e utilizou-se o
software ArcGis para transformar esse arquivo em .tif. Feito isso, o arquivo MDT
estava pronto para ser utilizado no PCSWMM. Este arquivo assemelha-se a um
“formato 3D”, onde se torna mais fácil e visual a identificação do relevo do terreno
(Figuras 24 e 25), pois até então o único arquivo visual que fora utilizado para relevo
43

eram as curvas de nível. Com o MDT adicionou-se a respectiva cota de cada nó do


modelo e posteriormente formou-se os transects, para representação do relevo do
modelo (que será explicado mais adiante).

Figura 24-Modelo MDT com bacia e curvas de nível sobrepostas

Fonte: Autores (2020).


44

Figura 25-Modelo MDT com a bacia, condutos e nós sobrepostos

Fonte: Autores (2020).

Com o arquivo MDT, foi possível identificar a cota de cada ponto do terreno.
O passo seguinte foi efetivamente dimensionar os elementos de drenagem em todos
seus parâmetros. Para isso, utilizou-se de restrições de projeto normalmente seguidas
microdrenagem, apresentadas abaixo:
● Recobrimento mínimo: 0,6 m
● Velocidade máxima: 5m/s
● Declividade superficial (slope): > 0
● Profundidade máxima do nó: 3 m
● Distância máxima entre nós de 100 m
● N de manning: 0.017
● Diâmetro mínimo: de 0,3 m e máximo de 1,5 m
Respeitando tais restrições, os perfis dos principais trechos finais foram esses
representados pela Figura 26 (trecho 1), Figura 27 (trecho 2), Figura 28 (trecho 3),
Figura 29 (trecho 4), Figura 30 (trechos 1 e 3) e Figura 31(trechos 2 e 3).
45

Figura 26-Perfil vertical do Trecho 1

Fonte: Autores (2020).

Figura 27-Perfil vertical do Trecho 2.

Fonte: Autores (2020).


46

Figura 28-Perfil vertical do Trecho 3.

Fonte: Autores (2020).

Figura 29-Perfil vertical do Trecho 4.

Fonte: Autores (2020).


47

Figura 30-Perfil vertical do primeiro nó do trecho 1 ao exutório da bacia do Kenkiti


(trechos 1 e 3 juntos)

Fonte: Autores (2020).

Figura 31-Perfil vertical do primeiro nó do trecho 2 ao exutório da bacia do Kenkiti


(trecho 2 e 3 juntos).

Fonte: Autores (2020).

Por fim, para a representação do terreno do sistema de drenagem foi


necessário criar os transects da sub-bacia, etapa necessária para a visualização das
manchas de inundação do modelo. Por meio do MDT, foi utilizada a ferramenta
transect creator dentro das opções de Vertical Detail do PCSWMM. Essa função cria
uma nova camada no modelo correspondente aos transects (representado pelos
elementos laranjas e cinzas na Figura 32), que possuem os dados de perfil do terreno
ao longo de uma seção (Figura 33).
48

Figura 32-Camada de transects no modelo da sub-bacia.

Fonte: Autores (2020).

Figura 33-Exemplo dos dados do terreno representado pela transect.

Fonte: Autores (2020).


49

Formado os transects, para representação do terreno foi necessário traçar um


canal aberto de seção irregular paralelo ao conduto que representa a galeria. A forma
da seção é dada inserindo os dados de terreno provenientes do transect que cruza o
respectivo conduto (Figura 34).

Figura 34-Tela de inserção de dados do terreno no canal irregular.

Fonte: Autores (2020).

Após inserir os dados do transect no perfil do canal irregular, é necessário


atribuir o inlet e outlet offset do canal correspondente a profundidade do nó a montante
e jusante, respectivamente. Na Figura 35, é possível visualizar e rede de drenagem
com a representação do terreno (em rosa) e condutos (em amarelo).
50

Figura 35-Rede de drenagem com a representação do terreno (em rosa) e condutos


(em amarelo).

Fonte: Autores (2020).

Com as transects feitas, obteve-se a representação completa do perfil


transversal do terreno de acordo com as alturas dos pontos do MDT, trazendo uma
representação fidedigna da bacia do Kenkiti.

3.7. Modelagem Hidrológica

Para a modelagem das chuvas que seriam aplicadas na bacia, foi utilizada a
Equação de precipitações intensas para São Paulo, provenientes do relatório de
Precipitações Intensas do Estado de São Paulo, produzido pelo Departamento de
51

Águas e Energia Elétrica (DAEE) e pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica


e Recursos Hídricos (FCTH). Tais dados são provenientes de estudos e metodologias
de grande confiabilidade, visto que as previsões resultadas pela equação são
baseados em amostras coletadas ao longo de 66 anos (de 1933 a 2011) de
precipitações. Em seguida, apresenta-se os dados da Estação e Período de Dados.
● Nome da estação / Entidade: Observatório IAG – E3-035R / DAEE
● Autor: Martinez e Piteri (2015)
● Coordenadas geográficas: Lat. 23°39’S; Long. 46°38’W
● Altitude: 780 m
● Duração da estação: 1933-
● Períodos de dados: 1933-1936, 1938, 1940-1945, 1948-1961, 1963-
1973, 1975, 1977-1982, 1984-1998, 2001-2005, 2008-2009, 2011 (66
anos)
A equação final utilizada para elaborar os hietogramas das chuvas com
Período de Retorno de 10, 25 e 50 anos foi:

(1)
● para 10< t <1440 min.
● Onde:
○ i: intensidade da chuva, correspondente à duração t e período de
retorno T, em mm/min;
○ t: duração da chuva em minutos;
○ T: período de retorno em anos.
A metodologia utilizada para organização da precipitação calculada foi a de
Blocos Alternados, com uma chuva de duração de 3 horas e discretização em
intervalos de 10 minutos, totalizando 180 minutos.
Para o presente trabalho, utilizou-se chuvas de TR de 2 anos para calibração
do modelo e TR de 10, 25 e 50 anos para o estudo das medidas de microdrenagem.
Para o período de 180 minutos, na chuva de TR de 2 anos obteve-se 53 mm de chuva
acumulado, TR de 10 anos obteve-se 85 mm de chuva acumulado, TR de 25 anos
obteve-se 101 mm de chuva acumulado e para TR de 50 anos obteve-se 113 mm de
chuva acumulado. Os hietogramas resultantes baseados na equação estão
apresentados nas Figuras 36 (TR de 2 anos), Figura 37 (TR de 10 anos), Figura 38
(TR de 25 anos) e Figura 39 (TR de 50 anos)
52

Figura 36-Hietograma para TR de 2 anos.

Fonte: Autores (2020).


53

Figura 37-Hietograma para TR de 10 anos.

Fonte: Autores (2020).

Figura 38-Hietograma para TR de 25 anos

Fonte: Autores (2020).

Figura 39-Hietograma para TR de 50 anos


54

Fonte: Autores (2020).

3.8. Calibração do modelo

Para a averiguar se tais medidas estavam condizentes com algo que


realmente representasse a realidade da bacia, foram simulados eventos de
precipitação. A hipótese para calibração do modelo foi de que para chuva com TR de
2 anos, nenhuma sub-bacia alagaria. Essa hipótese foi adotada uma vez que essa
chuva corresponde a 53 mm é de relativa baixa intensidade e bastante comum.
Considerando o que se observa na realidade, é razoável supor que o modelo não
alague para chuva de TR de 2 anos. A partir dos resultados, a calibração em si seria
consequência de pequenos ajustes manuais de diâmetros dos condutos, inclinação
dos trechos, profundidade dos nós etc. dentro das restrições de dimensionamento
mencionados anteriormente.
Nas simulações do modelo proposto e calibrado, a hipótese foi satisfeita: em
TR de 2 anos a bacia não alaga e não gera manchas de inundação. Ou seja, foi
possível prosseguir para o próximo passo: gerar os hidrogramas de exutório para as
chuvas de TRs maiores, apresentados na Figura 40.
55

Figura 40-Hidrograma do exutório do cenário sem LID

Fonte: Autores (2020).


Com as chuvas mencionadas simuladas, foram obtidas as manchas de
inundação representadas na Figura 41 (TR de 10 anos), Figura 42 (TR de 25 anos)
e Figura 43 (TR de 50 anos).

Figura 41-Manchas de inundação com TR de 10 anos.

Fonte: Autores (2020).


56

Figura 42- Manchas de inundação com TR de 25 anos.

.
Fonte: Autores (2020).
Figura 43-Manchas de inundação com TR de 50 anos

Fonte: Autores (2020).

Para melhor visualização, foram geradas figuras 3D nos principais pontos de


alagamento, representados na Figura 44 (ponto de alagamento do trecho 1), Figura
45 (ponto de alagamento do trecho 2) e Figura 46 (ponto de alagamento do trechos 3
57

e 4).
Figura 44-Vista 3D do ponto de alagamento do trecho 1

Fonte: Autores (2020).

Figura 45-Vista 3D do ponto de alagamento do trecho 2

Fonte: Autores (2020).


58

Figura 46- Vista 3D do ponto de alagamento dos trechos 3 e 4

Fonte: Autores (2020).

3.9. Análise de alternativas

Para definir quais alternativas dentre as disponíveis no SWMM que seriam


utilizadas, foram selecionados alguns critérios, a fim de considerar os fatores mais
relevantes para a tomada de decisão.
Os critérios adotados na análise serão:
1. área requerida para implementação;
2. viabilidade de execução (restrições).
O principal a ser considerado na aplicação das LIDs, não é apenas qual, mas
sim, onde. Nem todas LIDs são compatíveis em todos os locais da bacia. Portanto,
em seguida serão retomadas as LIDs selecionadas com sua respectiva justificativa,
posição na bacia e parâmetros adotados.
Um ponto importante a ser evidenciado é de que a escolha de apenas uma
LID não resolve o problema da bacia do Kenkiti. Os alagamentos são grandes e a
área é extremamente urbanizada e impermeável, portanto, o que será sugerido a
seguir, será a integração de todas as LIDs, entendendo a microdrenagem como um
problema que exige uma solução holística e complexa.
Vale destacar que para utilização dessas LIDs não foi considerada a
existência de lençol freático na região ou a permeabilidade do solo, e que os valores
59

utilizados para parâmetros foram baseados em outras referências que contemplam a


realidade brasileira e paulistana (clima, umidade, solo, etc).

3.9.1. Pavimento Permeável

Esta LID possui algumas restrições, e uma delas é a declividade superficial.


Para o pavimento permeável é recomendado que tal declividade seja inferior a 5%,
como já citado anteriormente, para que sua eficácia seja maior.
Tal medida foi aplicada na área de asfalto da Avenida Kenkiti Simomoto por
completo, inclusive em um pedaço de lote privado correspondente ao estacionamento
de uma rodoviária. Além de respeitar a restrição de declividade superficial, que no
objeto de estudo é de 2%, a avenida é uma reta de aproximadamente 935 m,
significando uma maior facilidade de implementação dessa medida estrutural, devido
maior facilidade de entrada e saída de máquinas, por exemplo. Outro fator é a grande
área ocupada pelo asfalto, que de impermeabilizante se transformará em um
elemento de infiltração e drenagem. No total, somando as áreas, foi aplicada a
solução em 26.400 m2 de terreno (Figura 47).
Tratando-se do software de simulação, utilizou-se os seguintes
parâmetros, baseados no Estudo de Concepção de Controle de Inundações na Bacia
do Córrego Anhangabaú, realizado pelo FCTH, que compreendem a realidade de
medidas aplicadas no Brasil e que foram baseadas em bibliografia nacional:
Camada Superficial
● Altura do armazenamento superficial = 2,54 mm;
● Fração da cobertura vegetal = 0;
● n de Manning = 0,03, Ferguson (2005), para superfícies com pavimentos
permeáveis.
● Declividade superficial = 2 %.
Camada do Pavimento
● Espessura da camada de pavimento = 50 mm;
● Índice de vazios = 0,67;
● Fração da superfície impermeável = 0;
● Permeabilidade do pavimento asfáltico = 5760 mm/h;
● Fator de colmatação = 0, que ignora o processo de colmatação.
Camada de Armazenamento
60

● Altura da camada de armazenamento = 250 mm:


● Índice de vazios = 0,67;
● Condutividade = 10-5 mm/h;
● Fator de colmatação = 0, que ignora o processo de colmatação

Figura 47-Área preta representa a aplicação de LID de pavimento permeável na


Avenida Kenkiti Simomoto.

Fonte: Autores (2020).

3.9.2. Células de Biorretenção

No caso da Avenida Kenkiti, já existe uma estrutura de ilhas de jardim,


posicionada entre os dois sentidos da avenida. No entanto, essas estruturas
existentes possuem uma função mais estética do que funcional, pois não estão
integradas à rede de drenagem. A sugestão para o projeto, é redesenhar e
reestruturar essas ilhas, a fim de substituí-las por células de biorretenção. Para os
trechos a montante, a célula de biorretenção não seria interessante, devido à falta de
espaço (as ruas são muito estreitas e as calçadas também). No total, somando as
áreas, existe potencial de utilizar as células de biorretenção em 8.951m 2 (Figura 48).
Para o PCSWMM, utilizou-se os parâmetros também baseados no Estudo de
Concepção de Controle de Inundações na Bacia do Córrego Anhangabaú, realizado
pelo FCTH, que, assim como as de pavimento permeável, compreendem a realidade
de medidas aplicadas no Brasil e que foram baseadas em bibliografias de referência:
Camada Superficial
● Altura do armazenamento superficial = 300 mm
● Fração da cobertura vegetal = 0,3
● n de Manning, valor a adotar = 0,04, Porto (2006) para álveos naturais,
andamento tortuoso
● Declividade superficial = 2 %
61

Solo
Os valores dos parâmetros a seguir correspondem aos valores típicos
sugeridos por Rawls et al. (1983) para solos arenosos:
● Porosidade da camada de substrato = 0,437
● Capacidade de campo = 0,062
● Ponto de murcha = 0,024
● Condutividade hidráulica do solo saturado (ks) = 120,4 mm/h
● Potencial matricial do substrato = 49 mm
● Grossura do solo = 200 mm
Armazenamento
● Altura valor a adotar = 200 mm
● Índices de vazios = 0,67
● Condutividade = 0,5 mm/h
● Fator de entupimento = 0

Figura 48-Área azul representa a aplicação da LID de células de biorretenção na


Avenida Kenkiti Simomoto.

Fonte: Autores (2020).

3.9.3. Coberturas Verdes

Os telhados verdes se encaixam muito bem nas estruturas apresentadas na


Avenida Kenkiti. São grandes áreas impermeáveis de laje de lotes privados, como a
da fábrica de blindagem, da igreja, do CEU (Centro Educacional Unificado), dentre
outros comércios e estabelecimentos.
62

Uma restrição importante, ressaltada por Melo (2011), é a necessidade de


declividade superficial ser maior que 4%.
Camada Superficial
● Altura do armazenamento superficial = 5,08 mm
● Fração da cobertura vegetal = 0,1
● n de Manning = 0,15
● Declividade superficial: valor adotado = 7,5 %
Solo
● Espessura = 200 mm
● Porosidade (fração) = 0,68
● Capacidade de campo = 0,467
● Ponto de murcha = 0,26
● Condutividade hidráulica = 114 mm/h
● Gradiente da curva de condutividade hidráulica = 5,94
● Sucção capilar = 290,07 mm
Drenagem
● Espessura da camada drenante = 30 mm
● Índices de vazios = 0,60
● Rugosidade = 0,05

No total, foram selecionados 18 telhados, que resultaram em 38.452 m 2 de


cobertura de telhado verde (Figura 49).

Figura 49-Área roxa indicando áreas de cobertura verde, na Avenida Kenkiti


Simomoto

Fonte: Autores (2020).


63

3.9.4. Calha de telhado com cisterna vertical modular

A estrutura de calha com cisterna é relativamente simples para


implementação. O projeto propõe que sejam instaladas nos Trechos 1 e 2 da bacia do
Kenkiti, pois são lotes com bastante número de casas e com grande quantidade de
área de telhados. Além disso, por serem ruas estreitas e com grande declividade
(chegando a 15% em trechos bem críticos), não são passíveis de implementação nem
de pavimentos permeáveis nem de jardins de biorretenção. Como as casas do local
são mais simples e a população em sua maioria não é de alta renda, a proposta mais
econômica seria a de calhas com cisternas do que telhados verdes.
Superfície
● Altura do armazenamento superficial = 100 mm
● n de Manning = 0.014
● Declividade superficial = 1%
Dreno de laje
● Capacidade de vazão = 0, que ignora o extravasamento do receptor do
volume conduzido pela calha.
Para escolher a área sobre a qual seria submetida a LID, foram feitas
aproximações, e chegou-se a duas considerações importantes.
A primeira foi sobre a área de telhados. Como contar o número de casas ou
até calcular individualmente a área de cada casa seria inviável, a decisão foi de
selecionar algumas áreas com mais casas, calcular a área total delas, e fazer uma
aproximação de que 70% dessa área seria de telhado, baseado em uma amostra
menor realizada anteriormente.
A segunda foi sobre a contribuição de cisternas. A área média de cada telhado
é de 120 m2, segundo medições realizadas nas casas a montante da Avenida Kenkiti.
Fazendo alguns cálculos, notou-se que consequentemente, uma chuva de TR de 10
anos, de 85 mm acumulados, resultaria em 10.200 L (120 m 2 x 85 L/m2) a serem
escoados pelo telhado no período de 3h.
Uma cisterna é a quantidade ideal por casa, por fatores econômicos e
estéticos, e de área ocupada. Modelos apresentados anteriormente, de Cisterna
Vertical Modular, exigem R$1.800 de investimento e são capazes de armazenar 1.000
L.
Como calculado, teoricamente seriam necessárias cerca de 10 cisternas por
64

casa para deter todo volume gerado pela chuva de TR de 10 anos, no entanto, como
a restrição imposta é de 1 cisterna por casa, será adotado um fator de redução de
90%, ou seja, a LID irá captar apenas 10% da água escoada no telhado. Portanto, o
segundo fator de consideração é considerar o volume total escoado sendo 10% do
volume total “captado” pelo telhado.
Conclusão: no modelo, a área total considerada será de 7% do total das áreas
vermelhas da Figura 50, resultando em 3.818 m2 de calhas de telhado com cisternas
verticais modulares.

Figura 50-Área em vermelho representa a área total criada antes da redução a 7%

Fonte: Autores (2020).


.
65

4. RESULTADOS

Para a análise do desempenho da rede de drenagem, foram simuladas


diversas combinações de cenários, com duas variáveis: 3 períodos de retorno e 4
medidas LIDs implementadas. Ao final, foram simulados 6 cenários: a microdrenagem
na sub-bacia com e sem as LIDs propostas e considerando os períodos de retorno de
10, 25 e 50 anos apresentados na Figura 51 (TR de 10 anos), Figura 52 (TR de 25
anos) e Figura 53 (TR de 50 anos). Para cada cenário, foi feita a comparação da
mancha de inundação e do hidrograma do exutório (Figura 54)

Figura 51-Hidrograma do exutório da sub-bacia para TR de 10 anos.

Fonte: Autores (2020).


66

Figura 52-Hidrograma do exutório da sub-bacia para TR de 25 anos.

Fonte: Autores (2020).

Figura 53-Hidrograma do exutório da sub-bacia para TR de 50 anos

Fonte: Autores (2020).


67

Figura 54-Impacto percentual das LIDs no exutório

Fonte: Autores (2020).

Considerando os hidrogramas acima, notou-se que as LIDs tiveram um


impacto positivo para todos os períodos de retorno considerados. Notou-se que as
LIDs tiveram maior impacto nas chuvas de período de retorno menor.
Com intuito de quantificar as variações apresentadas no hidrograma foi feito
o cálculo da variação percentual da vazão média (como reflexo do volume total
reduzido) e da vazão de pico. Por meio da Figura 54 notou-se que as LIDs foram mais
eficazes em diminuir a vazão média do que a vazão de pico para todos os períodos
de retorno considerados.
68

Figura 55-Comparação da mancha de inundação com LIDs (vermelho) com cenário


base (azul) para TR de 10 anos.

Fonte: Autores (2020).

Figura 56-Comparação da mancha de inundação com LIDs (vermelho) com cenário


base (azul) para TR de 25 anos

Fonte: Autores (2020).


69

Figura 57-Comparação da mancha de inundação com LIDs (vermelho) com cenário


base (azul) para TR de 50 anos

Fonte: Autores (2020).

Figura 58-Impacto percentual das LIDs na área inundada

Fonte: Autores (2020).


70

Analisou-se as manchas de inundação por meio das Figuras 55, 56 e 57 e


percebeu-se que foram obtidos resultados mais expressivos. Pela análise quantitativa
do impacto percentual na mancha de inundação (Figura 58), como era esperado, foi
obtido uma maior diminuição para as chuvas de período de retorno menor. No entanto,
diferente do hidrograma, as diminuições percentuais para a mancha estão mais
próximas entre um período de retorno e outro. Acredita-se que isso pode estar
relacionado ao fato das LIDs terem sido mais eficazes em diminuir a vazão média do
que a vazão máxima (Figura 59), causando um impacto maior no volume total de água
recebida pela galeria do que a vazão de pico.

Figura 59-Impacto percentual das LIDs na área inundada no trecho 3.

Fonte: Autores (2020).

Na figura 59, é interessante notar uma diminuição relativa da mancha maior


no trecho 3, mais a jusante, para todos os períodos de retornos considerados. Isso é
reflexo dessa área possuir três tipos de LIDs diferentes - pavimento permeável,
telhado verde, e célula de biorretenção, em comparação com os trechos 1 e 2, que
possuem apenas a calha com reservatório. Tal resultado é satisfatório dado que essa
é a zona mais crítica da bacia tanto por estar mais a jusante, e consequentemente
receber mais vazão, assim como pela característica plana do terreno.
71

Apesar de chuvas de período de retorno relativamente altas (10 anos ou mais)


realmente causarem grandes prejuízos pela grande área de inundação mesmo com a
implementação das LIDs, é importante ressaltar que para o TR de 5 anos (Figura 60),
isso não é verdade. Nota-se que as LIDs têm impacto muito relevante para as chuvas
de menor volume, como pode-se verificar na Figura 61. No trecho 3 por exemplo, a
Avenida Kenkiti Simomoto, houve uma redução de 99% da área da mancha, como
representado no gráfico da Figura 62. Ou seja, As LIDs efetivamente resolvem o
problema para chuvas com período retorno igual ou menor a 5 anos.

Figura 60- Comparação da mancha de inundação com LIDs (vermelho) com cenário
base (azul) para TR de 5 anos.

Fonte: Autores (2020).


72

Figura 61- Impacto percentual das LIDs na área inundada, incluindo o TR de 5 anos.

Fonte: Autores (2020).

Figura 62- Impacto percentual das LIDs na área inundada no trecho 3 incluindo o TR
de 5 anos.

Fonte: Autores (2020).


73

5. CONCLUSÃO

Com os resultados obtidos das simulações e análises hidráulico-hidrológicas


realizadas no software PCSWMM, conclui-se que a situação da sub-bacia é crítica e
mesmo com todas as LIDs propostas aplicadas, não resolve completamente o
problema das enchentes na região, destacando-se a Avenida Kenkiti Simomoto,
trechos 3 e 4, como locais críticos de alagamentos e de alta periculosidade. Em suma,
as LIDs com certeza amenizam o problema, mas não o resolvem.
A bacia de Kenkiti no geral tem área reduzida, o que diminui a área aplicável
de LIDs, e os trechos a montante, por possuírem declividade superficial alta,
restringem a aplicação de alguns tipos de LIDs. Dado o cenário, foi necessário
implementar no modelo a utilização de LIDs em lotes privados também, como
comércios e residências.
A impressão inicial meses atrás era de que uma LID poderia resolver o
problema da bacia, no entanto, as simulações provaram o contrário. Com os
resultados obtidos ao longo do projeto, foi constatado que a melhor solução para a
bacia seria a de implementar todas as LIDs em conjunto, e não apenas uma, pois
mesmo com 4 medidas propostas juntas, o problema ainda permanece grande.
Com isso, houve um aprendizado simples, mas valiosos. As LIDs podem ser
muito efetivas para eventos de precipitação típicos, de baixo volume, mas quando se
trata de volumes de chuvas históricas, de período de retorno de 10 anos ou mais, as
LIDs “saturam”, ou seja, não são capazes de absorver, reter, deter e/ou armazenar
depois de certa quantidade de volume infiltrado.
As simulações realizadas com as LIDs propostas não apresentaram uma
redução que extinguisse as manchas de inundação previstas na bacia do Kenkiti para
períodos de retorno maiores que dez anos, tanto na própria Avenida Kenkiti Simomoto
quanto em algumas áreas a jusante. Porém, considerando seus efeitos de redução
dos escoamentos superficiais em nível local, bem como outros benefícios ambientais
e estéticos, as medidas LIDs propostas são altamente recomendadas.
Sobre o projeto como um todo, a parte mais desafiadora foi a construção da
rede de drenagem. Com a falta de arquivos e alguns dados de cadastro das bacia, foi
necessário construir a rede baseado em critérios de restrição de projeto, que poderiam
não necessariamente representar a realidade da bacia, além da dificuldade de
implementar e modificar vários dados manualmente, a fim de calibrar corretamente o
74

modelo. Portanto, para recomendação principal, aconselha-se que para projetos que
envolvem simulações de cheias e de drenagem, verificar de antemão a qualidade e
quantidade de dados disponíveis da região antes de definir o local de realização do
projeto em si.
75

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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