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Enchentes
Um estudo da Bacia do Canal do Mangue
Edgar Richter
Rio de Janeiro
Junho 2014
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Enchentes
Um estudo da Bacia do Canal do Mangue
Edgar Richter
Rio de Janeiro
Junho 2014
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Richter, Edgar
Enchentes – Um estudo da Bacia do Canal do Mangue / Edgar Richter – 2014
ix, 92f + anexos: il (algumas color), grafs, tabs; enc
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Centro Federal de Educação Tecnológica
Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ, 2014
Bibliografia: f.53-55
1.Enchentes 2.Medidas estruturais 3.Medidas não estruturais I.Título
iv
DEDICATÓRIA
Ao meu querido filho Bernardo, sempre zeloso e preocupado com os meus horários e
trabalhos acadêmicos. Sempre me lembrando, durante esta caminhada, que é necessário
manter uma vida regrada e saudável para sustentar corpo e mente.
Ao meu querido filho Raphael, sempre atento e preocupado com o meu desempenho
acadêmico. Sempre me apresentando novas metodologias de aprendizado, para que esta
caminhada se tornasse mais branda e menos desgastante.
Não sei como agradecer tanta dedicação, paciência e compreensão pelos momentos em
que me fiz ausente do convívio familiar, ou quando fui vencido pelo cansaço e apresentei
sinais de descontrole emocional. Mas desejo que saibam que admirei e admiro, que valorizei
e valorizo, cada palavra de incentivo recebida de vocês durante esta caminhada.
Dedico e agradeço a vocês este título de Gestor Ambiental, que ora busco conquistar.
Recebam toda a minha gratidão e admiração por tudo que fizeram por mim e, finalmente,
recebam um agradecimento especial por fazerem parte da minha vida de forma tão próxima,
ativa e carinhosa. Amo vocês ! ! !
Do esposo e pai,
Edgar Richter
v
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, acima de tudo e todos, agradeço a Deus, por sua infinita bondade e
misericórdia, que possibilitaram a concretização deste meu projeto de vida.
À Professora Doutora Maria José Paes Santos, não apenas pela sua disponibilidade de
participar da banca examinadora deste Trabalho de Conclusão de Curso, mas pela sua
incansável dedicação e preocupação em transmitir conhecimento de altíssimo nível científico
aos alunos do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do CEFET/RJ, através de
material ricamente ilustrado que apresenta regularmente aos mesmos em sala de aula.
Ao Professor Doutor Marcelo Borges Rocha, por aceitar o compromisso de ser o meu
orientador neste Trabalho de Conclusão de Curso, independente da sua sempre requisitada e
lotada agenda de compromissos de participação em eventos acadêmicos e científicos no
CEFET/RJ e no Brasil. Pela sua postura de educador, acima da postura de professor, pois
desde o primeiro período do curso conquistou o meu respeito e admiração exatamente pela
seriedade e dedicação com as quais conduz a sua missão no magistério público, sempre
ressaltando, acima de tudo, a questão da Educação Ambiental como a possível e viável
solução para sanar ou minimizar os problemas do meio ambiente global, gerados por ações
antrópicas e eventuais interesses políticos.
Edgar Richter
vi
RESUMO
ABSTRACT
In recent years, the occurrence of disasters, such as floods, flooding, landslides and
mudslides, has done a large number of victims and material losses. This scenario is becoming
increasingly common due to uncontrolled growth of large urban centers, and due to climate
changes that the planet is going through, and part of them have been caused by urban sprawl
itself, which is directly and mainly related to the occupation risk areas, lack of infrastructure,
excessive soil sealing, filling in normally flooded areas, among others. The floods, a natural
phenomenon that every water body is subject cyclically, has boosted mainly by anthropogenic
activities practiced in urban areas. The topography of the city of Rio de Janeiro, formed by
coastal plains between mountains, favors both the occurrence of heavy precipitation from
orographic effect, the high flow velocities. The effect of the tide reduces the hydraulic
capacity of the channels. Landfills sea and mangroves, exacerbates the occurrence of floods,
the increase in the generation of sediment concentration of launch points and prolongation of
channels over the landfills with low slope. The management of macrodrainage requires an
integrated treatment system, the watershed level, considering the nature of the flooding and
the physical and socioeconomic characteristics of each region. This work aims to demonstrate
the importance of structural and nonstructural measures, environmental and legal solutions, to
minimize the effects caused by urban floods, based on the specific problems of the Mangue
Canal Basin.
SUMÁRIO
Anexos ......................................................................................................................... 56
1
1.0 Introdução
Este trabalho tem como objetivos estudar a evolução da ocupação urbana da região
pertencente à Bacia do Canal do Mangue, através do seu histórico regional, descrever a sua
condição geoambiental, apontar os seus problemas hidráulicos e hidrológicos específicos e,
diante dos dados apresentados, analisar as soluções propostas para minimizar os efeitos
causados pelas enchentes na região, particularmente nos bairros da Tijuca, Praça da Bandeira
e Maracanã, onde está localizado o CEFET/RJ, baseadas no projeto estrutural do Plano
Diretor de Manejo de Águas Pluviais da Cidade do Rio de Janeiro, ressaltando a importância
das medidas estruturais envolvidas no processo e apresentar opções não estruturais
complementares às primeiras.
2
2.0 Desenvolvimento
2.1 Enchentes
"Enchente é um fenômeno natural que ocorre nos cursos de água em regiões urbanas e
rurais. Ela consiste na elevação dos níveis de um curso de água, seja este de pequena (córrego,
riacho, arroio, ribeirão) ou de grande (rio) dimensão." (SANTOS, 2007, p. 96).
Entretanto, uma enchente pode se transformar em inundação a partir do momento em
que ocorre o extravasamento da água de um rio. Na verdade não existe rio sem ocorrência de
enchente. Todos têm sua área naturalmente inundável e este fenômeno não significa,
necessariamente, sinônimo de catástrofe. Porém, quando o homem ultrapassa os limites das
condições naturais de uma bacia hidrográfica, então as enchentes podem se transformar em
inundações e passam a ser um problema social, econômico e/ou ambiental para a região. A
inundação torna-se um problema catastrófico principalmente quando a área inundável da
bacia hidrográfica apresenta uma ocupação irregular, como a construção de moradias às
margens dos seus cursos hídricos. Ela pode ser provocada devido a um excesso de chuvas ou
devido a uma obstrução que impede a passagem da vazão de enchente, como por exemplo, um
bueiro mal dimensionado ou entupido por descarte irregular de lixo (SANTOS, 2007).
"Além das precipitações das chuvas, em determinadas regiões a fusão da neve
acumulada no inverno também dá origem às inundações cíclicas na primavera." (RIOS, 2000,
p. 11).
De acordo com pesquisa realizada por Santos (2007), as ocorrências mais frequentes
de enchentes estão relacionadas com grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, onde
as mesmas provocam sérios problemas à sociedade. No entanto, este tipo de problema ocorre
em muitos outros locais, com registros de danos econômicos, sociais e ambientais
significativos e muitas vezes irreversíveis.
Rios (2000) entende que o conceito de enchente, cheia ou inundação pode ser
estendido a eventos artificiais desencadeados por atividades antrópicas, tais como rupturas de
barragens, diques e pontes, e também às canalizações subdimensionadas. Este conceito se
3
natureza da drenagem a montante das zonas inundáveis. As altas declividades das vertentes e
dos cursos de água reduzem o tempo de resposta da bacia às precipitações, gerando elevadas
vazões a jusante. As vazões máximas são proporcionais às declividades da rede de drenagem
e às alturas onde ocorrem as precipitações na bacia. As velocidades dos escoamentos são
igualmente proporcionais às declividades. Quanto maior a declividade maior a velocidade e,
portanto, maior a capacidade destrutiva dos escoamentos.
A capacidade de escoamento da seção de um rio representa a vazão que ela pode
escoar. Ela depende da rugosidade do leito e das margens, do perímetro da seção
molhada, da área da seção transversal e da declividade do rio. [...] a cobertura
vegetal nas vertentes atrasa o tempo de resposta da bacia, além de reduzir os
volumes escoados no sistema de drenagem. [...] A permeabilidade dos solos
influencia na geração de escoamentos superficiais, mas seu papel passa a ser
secundário em caso de chuvas intensas, quando o solo é rapidamente saturado na
camada superficial, podendo tornar-se quase impermeável, principalmente em
vertentes de elevada declividade e com pouca cobertura vegetal (SANTOS,
2007, p. 97-98).
A retenção de água a montante das áreas de risco de inundação é de fundamental
importância na redução das vazões máximas ao longo da bacia. Ela pode ocorrer de forma
natural, devido à interceptação da água precipitada pela cobertura vegetal, devido à infiltração
da água no solo ou devido ao armazenamento da água nas depressões naturais ou áreas planas
situadas ao longo dos cursos de água da bacia.
A falta de fatores contribuintes naturais para exercer a função de retenção de água
citada no parágrafo anterior, devido à degradação ambiental causada pelas intervenções
antrópicas realizadas na bacia, pode ser solucionada, ou pelo menos minimizada, por medidas
estruturais, como a construção de reservatórios de detenção, que objetivam restituir o
amortecimento dos picos de cheia e o retardo no tempo de concentração da bacia, função
anteriormente exercida pela natureza.
Para a Bacia do Canal do Mangue, os reservatórios de pé de morro, estrategicamente
construídos no meio ou no final dos declives da bacia, representam a melhor solução
estrutural para minimizar parte dos problemas das cheias rápidas, geralmente resultado de
chuvas de efeito orográfico e causadas pela grande declividade dos rios que nascem nos
maciços regionais, recaem na bacia impermeabilizada e tendem a carrear todos os sedimentos
bacia abaixo. Cabem, ainda, outras medidas estruturais e não estruturais a jusante destes
reservatórios, para complementar as soluções propostas para o controle das enchentes e
inundações locais.
6
Quadro 01: Grandes enchentes no mundo – Fonte: World Almanac Book 1995-1997.
Pelos dados a seguir comprova-se não somente o aumento da frequência destes eventos, mas
também a intensidade cada vez maior dos mesmos.
1941 – Porto Alegre (RS) – A enchente de 1941 foi a maior registrada na cidade de Porto
Alegre. Durante os meses de abril e maio a precipitação somou 791 mm. Deixou 70 mil
flagelados sem energia elétrica e água potável. As águas do Guaíba alcançaram a cota recorde
de 4,75 metros, com um tempo de recorrência de 370 anos. As cheias que ocorrem no Lago
Guaíba são causadas por fatores ambientais inter-relacionados, principalmente pelas chuvas
intensas que ocorrem nas cabeceiras dos rios afluentes, juntamente com o efeito de
represamento decorrente do Vento Sul no Estado. O centro da cidade ficou debaixo da água e
os barcos se tornaram o principal meio de transporte de Porto Alegre em maio daquele ano.
Após esta data, o Arroio Dilúvio foi canalizado, o Muro da Mauá foi construído e um sistema
de drenagem foi instalado, para evitar a repetição do problema. A cidade não teve mais
enchentes de tais proporções.
2004, a barragem rompeu-se por uma falha de construção, atingindo parte dos territórios e
moradores dos municípios de Alagoa Nova, Areia e os sítios urbanos das cidades de Alagoa
Grande e Mulungu, onde o desastre assumiu maior dimensão.
2010 – Angra dos Reis (RJ) – As fortes chuvas do dia 1º de janeiro transformaram um dos
principais paraísos turísticos do Estado do Rio de Janeiro num cenário de terror. O
deslizamento de uma encosta atingiu uma pousada e sete casas na Ilha Grande, na Baía de
Angra dos Reis, matando 19 pessoas. No continente, outras 11 pessoas morreram em outro
único desmoronamento de terra no Morro da Carioca, no Centro Histórico da cidade, que
ficou literalmente isolada por vários dias, deixando um saldo de 52 mortes e um grande
número de nativos e turistas desabrigados e desalojados.
2010 – Estado de Alagoas – Em Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, toda a parte
baixa da cidade, onde está o centro comercial e principais prédios públicos, foi inundada e
destruída pela enchente. Em todo o Estado registraram-se 27 óbitos e 53.000 desabrigados.
2011 – Estado do Rio de Janeiro (Região Serrana) 2 – Em menos de 24 horas choveu o que
costuma chover em um mês na Zona Serrana do Estado do Rio de Janeiro. Não só as cidades
______________
2 Anexo 2: registros fotográficos da tragédia da Região Serrana do RJ (2011).
9
ficaram debaixo de água como o solo das encostas cedeu, causando deslizamentos que
passaram por cima do que estava no caminho, gerando mais de 900 óbitos e deixando cerca de
35 mil pessoas desalojadas e desabrigadas.
2013 – Estado de Minas Gerais – As mesmas chuvas que causaram mortes e estragos de
ordem material, além de deixar milhares de desabrigados no mês de dezembro, no estado do
Espírito Santo, também deixaram 51 municípios do Estado de Minas Gerais em estado de
calamidade pública, com um saldo de 22 mortes e aproximadamente 12.000 pessoas
desabrigadas e desalojadas.
Setembro de 1711 – Primeiro registro de grande enchente na Cidade do Rio de Janeiro, com
dados oficiais desconhecidos ou perdidos ao longo dos séculos.
04 de abril de 1756 – Um grande temporal, precedido por ventos fortes, atingiu o Rio de
Janeiro na parte da tarde. Foram três dias consecutivos de fortes chuvas, que provocaram
enchentes e inundações em toda a cidade e desabamentos de casas, fazendo inúmeras vítimas
fatais. Até o dia 06 de abril, canoas ainda navegavam do Valongo até a Sé.
17 de março de 1906 – Uma das maiores enchentes que castigaram a cidade. Naquele dia,
choveu 165 mm em 24 horas. O Canal do Mangue sofreu transbordamento, houve
desmoronamentos com mortes nos morros de Santa Teresa, Santo Antônio e Gamboa.
19 de maio de 1959 – Temporal que causou grandes transtornos a cidade, porém sem
registros oficiais.
11 de janeiro de 1966 – Ocorreu uma das maiores enchentes da história da cidade, com uma
chuva de 237 mm em 24horas. Deslizamentos provocaram o desabamento de dois prédios no
Bairro de Laranjeiras e de 2.500 barracos nas favelas, deixando aproximadamente 36.000
desabrigados e 250 óbitos.
20 de janeiro de 1967 – Fortes chuvas deixaram 200 mortos e 300 feridos, provocando vários
deslizamentos isolados na cidade.
12
18 a 21 de fevereiro de 1988 – Uma das maiores enchentes deste século, com 430 mm nas
primeiras 24 horas. Houve vários deslizamentos, com 289 mortos, 734 feridos e 18.560
desabrigados. Prejuízos materiais de US$ 935 milhões.
13
07 de maio de 1990 – Chuva de 103 mm em 24 horas, provocou mortes nos bairros da Glória
e do Maracanã.
09 de junho de 1994 – Enchente no Bairro do Jardim Botânico, com chuva de cerca de 100
mm em 24 horas, interrompeu o acesso à Zona Sul da cidade.
14 de fevereiro de 1996 – Após dois dias de chuva ininterrupta, um forte temporal de 200
mm em 08 horas, comparável às Águas do Monte de 1811, provocou um grande número de
óbitos e enormes estragos de ordem material e ambiental na região de Jacarepaguá. Houve
rompimento de uma represa na região da Freguesia, que devastou um condomínio de mansões
e riscou do mapa a então sede campestre da Caixa Econômica Federal, deixando para trás um
rastro de destruição nunca registrado na região. Vários veículos, alguns ainda com passageiros
no seu interior, foram literalmente tragados por rios que cortam o bairro.
05 de abril de 2010 – Um forte temporal caiu sobre a cidade no final da tarde, causando a
morte de 95 pessoas e deixando centenas de desabrigados. As Figuras 02 e 03 mostram a
Praça da Bandeira, cujo nível da água neste dia chegou a atingir a cota de 1,60 metros. As
Figuras 04 e 05 ilustram, respectivamente, o transbordamento do Rio Maracanã, em frente
ao CEFET/RJ, e a Avenida Maracanã no dia seguinte ao temporal.
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Figura 02: Praça da Bandeira antes do anoitecer Figura 03: Praça da Bandeira após o anoitecer
Fonte: acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias Fonte: acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias
Figura 04: Av. Maracanã as 23h45min Figura 05: Av. Maracanã no dia 06/04/2010
Fonte: Youtube (autor desconhecido) Fonte: acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias
12 de janeiro de 2011 – Estado do Rio de Janeiro (Região Serrana) – Neste dia choveu o que
costuma chover em um mês na zona serrana do Rio. Não só as cidades ficaram debaixo de
água como o solo das encostas cedeu, causando deslizamentos que passaram por cima do que
estava no seu caminho, gerando mais de 900 óbitos e deixando cerca de 35 mil pessoas
desalojadas e desabrigadas.
25 de abril de 2011 – Chuvas intensas, que caíram no início da noite, provocaram enchentes
e deslizamentos em vários pontos da cidade. A região da Praça da Bandeira, Tijuca e
Maracanã, que recebeu 274 mm em 09 horas, mais uma vez sofreu as consequências da falta
de infraestrutura local. Saldo de uma morte e dezenas de desabrigados, além dos prejuízos
materiais. A Figura 06 ilustra o campus do CEFET/RJ, ainda alagado, um dia após as fortes
chuvas do dia 25 de abril de 2011.
15
Inicialmente, o termo tijuca deriva do tupi guarani clássico (tiyug - líquido podre,
lama, charco, pântano, atoleiro). Segundo Gontijo (2011 apud OLIVEIRA, 2009), este
significado vem dos diversos rios e cursos de água que nascem no topo do Maciço da Tijuca e
percorrem a região das terras baixas até desaguarem no Canal do Mangue. Neste local, a
história da formação da Tijuca se consolidou através das construções do homem e das grandes
marcas deixadas pela urbanização. Tudo começou com o plantio de cana-de-açúcar, café e
chá na região da Floresta da Tijuca, antes mesmo dela se transformar neste paraíso ambiental
que hoje está consolidado como Unidade de Conservação, uma vez que é um Parque
Nacional, protegido pela Lei Federal nº 9.985/00, o Parque Nacional da Tijuca.
A Tijuca nasceu e se desenvolveu, inicialmente, às margens do Rio Trapicheiro, em
uma área onde os jesuítas edificaram, de 1582 a 1585, a igreja de São Francisco Xavier,
justamente entre o Rio Trapicheiro e o Morro da Babilônia, no então Engenho Velho,
propriedade dos padres jesuítas. Com o decreto de expulsão da Companhia de Jesus do Brasil
em 1759, o território se transformou e os bens da ordem religiosa foram sequestrados e
incorporados aos bens públicos. Segundo relato de Azevedo e Ribeiro (2009), logo surgiram
chácaras e fazendas de abastadas famílias brasileiras que procuravam a região para fugir do
calor e das epidemias que assolavam o centro da cidade.
Os engenhos e grandes sesmarias margeavam a Cidade do Rio de Janeiro e o cultivo
do café e do chá nos morros tijucanos recebeu grande destaque naquela época. O plantio da
cana-de-açúcar demandava mudanças de infraestrutura e uma ação antrópica na região gerou
grande impacto ambiental já na época, pois o Rio Trapicheiro teve seu curso desviado a fim
de melhor abastecer o Engenho Velho. Ainda segundo Azevedo e Ribeiro (2009), mesmo
após a expulsão da Companhia de Jesus, a ocupação portuguesa no recôncavo da Guanabara
continuava sendo promovida pelos jesuítas que ainda detinham a função de abastecer a zona
central da cidade com vários produtos alimentícios.
Cardoso (1984) relata que mais tarde, já no final do Século XIX, a área ocupada pelos
grandes cafezais sofreu um grande incêndio, provocado por um longo período de seca, que
tornou todas as fazendas e engenhos de café improdutivos. Após este triste evento, em 1861
iniciou-se uma grande intervenção do homem no Maciço da Tijuca, conduzida sob a direção
17
do Major Manuel Gomes Archer, que durante 13 anos plantou mais de 80 mil árvores nativas
e exóticas na região. Esta intervenção foi concluída pelo administrador Thomás Nogueira da
Gama, que durante 25 anos recuperou as matas do Sumaré e das Paineiras, tudo isto por
encomenda do Imperador Pedro II, que foi, portanto, o grande responsável pelo processo de
reflorestamento de toda a área da Floresta da Tijuca, a qual, pela sua atual condição
ambiental, reforça a teoria de que é possível promover a recuperação de áreas degradadas,
seja por incêndio ou outro evento, a partir de decisões políticas.
Além destas peculiaridades, Oliveira (2009) afirma que a Tijuca ainda guarda
remanescentes da época da escravidão, como regiões onde são encontrados antigos sítios
arqueológicos, senzalas desativadas e até mesmo construções da época em que o óleo de
baleia e a argila eram o elemento de liga para as pedras portuguesas que contribuíram para a
edificação dos engenhos e casarios daquela época.
Foi às margens do Rio Maracanã, nome atribuído à existência de uma maritaca
denominada Ara maracana, hoje quase não mais vista na região, que muitas áreas da Grande
Tijuca foram nascendo. Segundo relato de Oliveira (2009), ele chegou até mesmo a ser
navegável, fato que pode ser comprovado por um cais que até hoje é encontrado nos fundos
do casarão da Rua Garibaldi esquina com Rua Conde de Bonfim.
A Figura 07 ilustra um trecho do Rio Maracanã, retificado e canalizado entre 1902 e
1906, em registro fotográfico datado de 1912.
Até hoje encontra-se, em lugares como Usina e Muda, casas que ainda mantêm nos
fundos, pequenos degraus onde as lavadeiras, no passado, desciam até o Rio Maracanã para
lavar roupas e usar as suas águas, ainda limpas (informação verbal)4.
O Rio Maracanã é um importante contribuinte da Bacia do Canal do Mangue, e
durante muitos anos forneceu água para a Cidade do Rio de Janeiro. Chegou, inclusive, a
abastecer as represas que hoje se encontram no interior do Parque Nacional da Tijuca.
Outro importante rio da região foi o Andaraí Pequeno, atualmente denominado Rio
Joana. Este rio também foi um importante contribuinte para a formação histórica da Tijuca.
Seu nome tem origem tupi, que significa Rio dos Morcegos. Segundo Oliveira (2009), a
região do então denominado Rio Andaraí Grande era formada pelos bairros da Tijuca,
Andaraí, Vila Isabel, Aldeia Campista e antiga Freguesia do Engenho Velho.
Às margens do Rio Joana surgiram muitos empreendimentos, principalmente
pequenos trapiches, e grandes fábricas têxteis e de papel. Azevedo e Ribeiro (2009) relatam
que a formação e ocupação urbana do local se desenvolveram em razão das vilas operárias
que foram construídas por estas empresas, que mais tarde deram início à ocupação das
encostas e morros do local.
O Rio Trapicheiro, que também nasce no Maciço da Tijuca e atualmente deságua no
Rio Maracanã e no Canal do Mangue, teve a sua maior contribuição histórica para o bairro da
Tijuca na área da Praça Saenz Peña, onde, segundo Oliveira (2009), também são encontrados
antigos vestígios de escadas de acesso às áreas de lavagem de roupa.
A Figura 08 mostra um trecho do Rio Trapicheiro, no passado, nas proximidades da
atual Praça Saenz Peña, observando-se, ao fundo, o Maciço da Tijuca, local da sua nascente.
Estes três rios tijucanos, são hoje os principais contribuintes da Bacia do Canal do
Mangue, onde está localizada a Praça da Bandeira. Neste local, além dos rios Maracanã,
Joana e Trapicheiro, também deságuam o Rio Comprido, que nasce no Alto do Sumaré e
percorre toda a Avenida Paulo de Frontin, o Rio Papa Couve, ou Coqueiros, que nasce no
Morro da Coroa no Catumbi e passa por debaixo do sambódromo e deságua no Canal do
Mangue, e o próprio Canal do Mangue, que de acordo com relato de Oliveira (2009), era
formado basicamente de brejos, várzeas, pântanos, lagunas, manguezais, que faziam ligação
com a Baía de Guanabara pelo antigo estuário de São Diogo, que recebia todos os dejetos da
área central da cidade.
A ocupação e desenvolvimento da área da Praça Saenz Peña foi estimulada pela
construção da antiga Fábrica de Chitas, que é um tecido de algodão com estampas de cores
fortes, geralmente florais, e tramas simples. Segundo pesquisa de Azevedo e Ribeiro (2009), o
Largo da Fábrica das Chitas ficava localizado no entroncamento do Caminho do Andaraí
Pequeno, hoje Rua Conde de Bonfim e a Travessa do Andaraí, que foi aberta em 1820 nos
terrenos das Chácaras do Barão de Bonfim, de Izabel Martins e de Dona Maria Bibiana de
Araújo, que levava à Fábrica. Esta travessa, que posteriormente passou a ser chamada de Rua
da Fábrica de Chitas, é atualmente a Rua Desembargador Isidro.
Os antigos e extintos cinemas da região também fazem parte da história do bairro da
Tijuca, em particular os que marcaram o desenvolvimento socioeconômico da Praça Saenz
Peña. Lá foi construído o famoso Cinema Olinda, o maior do Brasil, com espaço para 3.500
pessoas, que ficava localizado onde hoje encontra-se o atual Shopping 45.
Pelo histórico regional da Bacia do Canal do Mangue observa-se que o crescimento
imobiliário local desordenado, gerando excesso de impermeabilização do solo, a falta de um
planejamento público adequado às demandas socioambientais da região, a crescente ocupação
das áreas de risco, a infraestrutura deficiente e o aterro de áreas normalmente inundáveis,
entre outros, degradou drasticamente o meio ambiente local, alterando e comprometendo
diretamente também o sistema hidráulico-hidrológico da sua macrodrenagem.
Todas estas ações antrópicas que vem sendo executadas há séculos na Bacia do Canal
do Mangue, tendo como consequência direta a degradação ambiental citada acima, são a
causa responsável pelo expressivo aumento da frequência das enchentes e inundações na
bacia, as quais atualmente só não tem efeito mais catastrófico sobre a mesma devido ao
processo de reflorestamento da Floresta da Tijuca deflagrado no ano de 1861 pelo então
Imperador Pedro II.
20
Ainda segundo Canholi e Graciosa (2011, p. 05-08), não são raros os casos de bairros
que tiveram sua geografia modificada para dar espaço ao desenvolvimento urbano. A própria
Praça da Bandeira é um exemplo disso: antiga área de manguezal, a região servia como
depósito de sedimentos que vinham dos morros e encostas. Dessa forma, a vegetação ajudava
a reduzir a velocidade da água e permitia sua penetração no solo, abastecendo o lençol
freático. O não desempenho da função ambiental da vegetação de manguezal, que existia no
local, tem promovido históricas enchentes e prejuízos a todos que moram, trabalham ou
simplesmente transitam regularmente pela região. O Quadro 02 apresenta a localização e
extensão de todos os cursos de água pertencentes à Bacia do Canal do Mangue.
Quadro 02: Cursos de água da Bacia do Canal do Mangue – Fonte: Instituto Pereira Passos
615m
590m
300m
710m
Figura 09: Mapa cartográfico contendo as cotas das nascentes dos rios Maracanã, Trapicheiro e Joana
Fonte: Setor de Cartografia da Fundação Rio-Águas
Esta condição de alta declividade faz com que na época de chuvas os rios da bacia
carreguem barro, lama e outros produtos de erosão para uma baixada com declividade quase
nula, na região do antigo manguezal, que no passado conseguia absorver esta condição e
levava as águas dos rios da bacia para a Baía de Guanabara.
______________________________________________________________
5
Revista Rio-Águas; artigo Águas passadas, problema presente.
23
Antes da urbanização local, toda a água da bacia passava por um processo de retenção
e infiltração natural, no qual as velocidades de escoamento eram menores devido à presença
de recortes e vegetação no solo.
Ainda segundo os dados publicados pela Fundação Rio-Águas (2002), várias
intervenções foram realizadas na Bacia do Canal do Mangue ao longo dos anos, alterando
significativamente a configuração original da sua macrodrenagem. Em 1857 aconteceu a
construção do Canal do Mangue, com uma extensão de 2.800 metros, como medida de
saneamento básico, acumulando esgoto e doenças sanitárias. A obra fez com que a região
perdesse a sua drenagem natural e concentrasse as vazões, intensificadas pela construção de
canais e galerias que aceleraram a velocidade da água. Entre 1902 e 1906, os rios Maracanã,
Joana e Comprido foram retificados e canalizados, e entre 1920 e 1922, com a construção da
Avenida Maracanã e Estrada de Ferro Central do Brasil, as águas do Rio Joana, que antes
desembocavam na Baia de Guanabara, foram desviadas para o Rio Maracanã, aumentando a
sua vazão. Na década de 1990, no projeto Rio Cidade, várias galerias de macrodrenagem
foram implantadas no bairro da Tijuca. A Figura 10 mostra o diagrama unifilar dos rios da
Bacia do Canal do Mangue, com as suas respectivas galerias de contribuição.
Figura 10: Diagrama unifilar dos cursos hídricos da Bacia do Canal do Mangue
Fonte: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro / PDMAP / Hidrostudio Engenharia
24
Medidas Função
Definir taxas de permeabilidade para as áreas
não edificadas, tanto maiores quanto forem
as taxas de ocupação;
Uso e Ocupação Aumento da infiltração no escoamento das águas
pluviais e impedir a ocupação de áreas de risco.
do Solo
Prever áreas estratégicas de conservação e
preservação para a contenção de cheias;
Legais Controle das áreas de risco e aumento do tempo
de retenção das águas pluviais.
Fomentar a implementação de Infraestrutura
Incentivos Fiscais
Verde na propriedade privada.
Código de Obras Promover reservatórios de reuso de água
Estatuto Intervenção em áreas consolidadas:
da redução de densidade
Cidade e aumento de permeabilidade.
Elaboração de um PDDU eficiente;
Complementares Fiscalização;
Desapropriação de construções irregulares.
Campos Esportivos Redução da vazão de escoamento superficial em
Gramados grandes áreas, aumento da permeabilidade do solo
Praças (infiltração e percolação), retendo uma
e porcentagem do volume de água recebido e
Jardins gerando evapotranspiração.
Telhados Verdes
Jardins de Chuva
Valas de Infiltração Redução da vazão de escoamento superficial em
Ambientais Canteiros Pluviais pequenas áreas, aumento
Biovaletas da permeabilidade do solo (infiltração e
Pavimentos e Calçadas percolação), facilitando a drenagem.
Permeáveis
Grades Verdes
Evitar desmatamentos;
Não descartar lixo nos rios;
Complementares
Incentivar o aumento de áreas verdes;
Promover a revitalização dos rios.
30
Jardins de Chuva
Os jardins de chuva são depressões topográficas, existentes ou feitas especialmente
para receber o escoamento da água pluvial proveniente de telhados e demais áreas
impermeabilizadas limítrofes. O solo, geralmente tratado com composto e demais insumos
que aumentam sua porosidade, age como uma esponja absorvendo a água, enquanto
microrganismos no solo removem os poluentes difusos trazidos pelo escoamento superficial.
Valas de Infiltração
As valas de infiltração são dispositivos lineares (comprimento extenso em relação à
largura e profundidade) que recolhem o excesso superficial para concentrá-lo e promover sua
infiltração no solo de forma natural.
Canteiros Pluviais
Os canteiros pluviais são muito parecidos com os jardins de chuva, porém
compactados em locais menores, os canteiros podem compor a paisagem de edificações,
praças, parques, residências, centros comerciais e empresariais, indústrias, entre outros locais.
Biovaletas
As biovaletas são semelhantes aos jardins de chuva, porém normalmente longitudinais
e nelas existem depressões com vegetação ou barreira artificial que limpam a água da chuva
enquanto a valeta a dirige para os jardins de chuva ou sistemas convencionais de drenagem.
São ligadas em série de células, para que a água transborde de uma para outra, e neste
transbordamento retarde a velocidade do escoamento, favorecendo a sedimentação de
particulados que se encontram na água da chuva.
pavimentos permeáveis podem ser construídos com vários materiais, incluindo o betão, o
asfalto e ainda estruturas plásticas tipo grelha, preenchidas com solo, cascalho e grama.
Grades Verdes
As grades verdes são uma combinação das diversas infraestruturas verdes citadas
anteriormente, que acabam por formar uma rede de mudanças sustentáveis para setores
urbanos inteiros. Desse modo, é possível que as soluções técnicas mais eficazes se integrem,
aumentando o desempenho geral do sistema.
mostram a relação entre vazão e tempo, foram calculados por meio da metodologia do Soil
Conservation Service, de acordo com os critérios estabelecidos no Plano Diretor de Manejo
de Águas Pluviais da Cidade do Rio de Janeiro, elaborado pela Prefeitura no ano de 2010. As
simulações hidrológicas foram realizadas a partir do software HEC-HMS (Hydrologic
Engineering Center – Hydrologic Modeling System), sendo considerado um período de
recorrência das chuvas de 25 anos. A Figura 12 apresenta a topologia da Bacia do Canal do
Mangue, utilizada para a simulação hidráulico-hidrológica HEC-HMS, e a Figura 13 mostra
uma tela do software para elaboração da respectiva modelagem hidráulico-hidrológica.
Figura 12: Mapa da topologia da Bacia do Canal do Mangue, usado para simulação no software HEC-HMS
Fonte: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro / PDMAP / Hidrostudio Engenharia
2.3.1.2.1.2 Hidrogramas
Figura 15: Hidrograma simulado pelo HEC-HMS para a Foz do Rio Maracanã
Fonte: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro / PDMAP / Hidrostudio Engenharia
Figura 16: Hidrograma simulado pelo HEC-HMS para a Foz do Rio Joana
Fonte: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro / PDMAP / Hidrostudio Engenharia
Figura 17: Hidrograma simulado pelo HEC-HMS para a Foz do Rio Trapicheiro
Fonte: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro / PDMAP / Hidrostudio Engenharia
37
M-22 Rio Maracanã, Av. Edson Passos x R. Pontes Castelo 1 95.00 23.80 0 95.00 23.80 0
M-21 Rio Maracanã, Av. Edson Passos x R. Eduardo Xavier 1 90.00 23.80 0 90.00 23.80 0
M-20 Rio Maracanã, Av. Edson Passos x R. Conde de Bonfim 3 81.00 29.70 0 81.00 29.70 0
M-19 Rio Maracanã, Av. Edson Passos x R. São Rafael 4 240.00 34.40 0 240.00 34.40 0
M-18 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Santa Carolina 6 300.00 37.70 0 300.00 37.70 0
M-16 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Dona Delfina 20 92.00 73.40 0 92.00 73.40 0
M-15 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Dona Delfina 20 132.00 73.40 0 132.00 73.40 0
M-13 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Barão de Mesquita 23 171.80 78.10 0 171.80 78.10 0
M-10 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Deputado Soares Filho 106 62.60 80.20 17.6 62.60 47.30 0
M-9 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Severino Brandão 106 108.40 80.20 0 108.40 47.30 0
M-8 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. São Francisco Xavier 106 141.90 80.20 0 141.90 47.30 0
M-7 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. São Francisco Xavier 106 202.90 80.20 0 202.90 47.30 0
M-6 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Prof. Eurico Rabelo 106 79.70 80.20 0.5 79.70 47.30 0
M-5 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Prof. Eurico Rabelo 106 59.50 80.20 20.7 59.50 47.30 0
M-4 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Mata Machado 25 17.40 81.00 63.6 55.60 49.60 0
M-3 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Mata Machado 25 83.10 81.00 0 83.10 49.60 0
M-1 Rio Maracanã, Foz no Canal do Mangue 69 124.60 193.90 69.3 124.60 63.30 0
38
J-6 Rio Joana, Av. Prof. Manoel de Abreu x Rua Eurico Rabelo 45 58.60 99.80 41.2 89.81 85.40 0
T-15 Jusante do RT-1, Rua Heitor Beltrão 62 15.50 41.80 26.3 15.50 15.40 0
T-14 Entrada da galeria, Rua Silva Ramos 62 7.20 41.80 34.6 19.60 15.40 0
T-2' Braço direito do Rio Trapicheiros, Rua Barão de Iguatemi 65 13.70 31.40 17.7 13.70 13.70 0
da geometria das suas seções, a exemplo da travessia da Rua Mata Machado sobre o Rio
Maracanã. A Figura 18 ilustra as intervenções estruturais propostas para a Bacia do Canal do
Mangue.
Para maior eficiência da macrodrenagem da bacia, além das duas reservações, no Alto
Grajaú e na Praça Niterói, o Rio Joana terá seu curso desviado para a Baía de Guanabara e
receberá, através de uma galeria de derivação, uma parte da vazão do Rio Maracanã, pela Rua
Felipe Camarão. Desta forma, o Rio Joana terá a sua foz devolvida para a Baía de Guanabara,
como o era antes do processo de urbanização da região.
Esse desvio foi estudado pela primeira vez em 1993, e desde então alternativas de
traçado vêm sendo discutidas. O traçado aprovado pelo Plano Diretor de Manejo de Águas
41
Pluviais da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro prevê um desvio com um sistema de túnel
extravasor e galeria com desemboque na Baía de Guanabara, próximo à foz do Canal do
Mangue. O túnel, já em construção, tem seção de 38 m², com 2.400 m de extensão e
capacidade de vazão de 100 m³/s, enquanto que o trecho em galeria terá 800 m de extensão e
irá percorrer a Rua São Cristóvão até a Baía de Guanabara, de maneira a completar um total
de 3.200 m de extensão de desvio. A Figura 19 ilustra o desvio do Rio Joana (túnel
extravasor) e a derivação do Rio Maracanã (galeria Felipe Camarão). Observa-se ainda na
Figura 19, os reservatórios de amortecimento do Rio Joana (Alto Grajaú e Praça Niterói), do
Rio Maracanã (Praça Varnhagen) e do Rio Trapicheiro (Heitor Beltrão e Praça da Bandeira).
m³/s a mais de vazão. A Figura 20 ilustra o reservatório offline da Praça da Varnhagen, com a
derivação do Rio Maracanã para o Rio Joana, direcionada para a galeria Felipe Camarão.
Figura 20: Reservatório offline da Praça Varnhagen, junto ao Rio Maracanã, com derivação para o
Rio Joana, via Rua Felipa Camarão – Fonte: Revista Infraestrutura Urbana maio 2013 / Editora Pini
água aos rios e permitir a coleta dos sedimentos. Portanto, além da detenção, as obras de
reservação trarão outros benefícios à região, como o controle da poluição e a redução de
sedimentos na bacia.
A Figura 21 apresenta o hidrograma das vazões afluente e efluente de um reservatório
de detenção, podendo observar-se o amortecimento do pico de cheia e o retardo do tempo de
concentração introduzidos pelo processo de detenção.
Além dos reservatórios online, está prevista a construção de três reservatórios offline
junto às calhas dos rios nas suas cotas intermediárias: um na Praça Niterói, junto ao Rio
Joana, com profundidade de 26 m e capacidade para armazenar 75.000 m³ de água; um na
Praça Varnhagen, junto ao Rio Maracanã com profundidade de 22 m e volume de 45.000 m³,
e um junto ao Rio Trapicheiro, na Avenida Heitor Beltrão, com um volume de 70.000 m³ e
profundidade de 25 m. Este último tem por objetivo amortecer os picos de cheia que atingem
a região da Praça da Bandeira e os picos de cheia do braço direito do Rio Trapicheiro. As
Figuras 23, 24 e 25 mostram os diagramas dos três reservatórios offline descritos acima, com
os seus respectivos sistemas de bombeamento.
Figura 25: Reservatório offline na Avenida Heitor Beltrão, junto ao Rio Trapicheiro
Fonte: Revista Infraestrutura Urbana maio 2013 / Editora Pini
Os reservatórios offline são profundos e tamponados, para onde a água das enchentes é
desviada por uma estrutura hidráulica, um vertedouro ou uma soleira invertida, e só retorna ao
rio com o auxílio de bombas. Também retém sedimentos, só que de outra natureza,
decorrentes da presença de lixo no escoamento e da eventual presença de esgoto, proveniente
de ligações irregulares do sistema de esgoto na rede de drenagem.
Estes reservatórios substituem o amortecimento natural que a Bacia do Canal do
Mangue promovia antes de ser urbanizada, porque a água retida só é liberada quando a calha
do rio estiver com a sua vazão condizente para não sofrer transbordamento.
M-22 Rio Maracanã, Av. Edson Passos x R. Pontes Castelo 1 95.00 23.80 0 95.00 23.80 0
M-21 Rio Maracanã, Av. Edson Passos x R. Eduardo Xavier 1 90.00 23.80 0 90.00 23.80 0
M-20 Rio Maracanã, Av. Edson Passos x R. Conde de Bonfim 3 81.00 29.70 0 81.00 29.70 0
M-19 Rio Maracanã, Av. Edson Passos x R. São Rafael 4 240.00 34.40 0 240.00 34.40 0
M-18 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Santa Carolina 6 300.00 37.70 0 300.00 37.70 0
M-16 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Dona Delfina 20 92.00 73.40 0 92.00 73.40 0
M-15 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Dona Delfina 20 132.00 73.40 0 132.00 73.40 0
M-13 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Barão de Mesquita 23 171.80 78.10 0 171.80 78.10 0
M-10 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Deputado Soares Filho 106 62.60 80.20 17.6 62.60 47.30 0
M-9 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Severino Brandão 106 108.40 80.20 0 108.40 47.30 0
M-8 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. São Francisco Xavier 106 141.90 80.20 0 141.90 47.30 0
M-7 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. São Francisco Xavier 106 202.90 80.20 0 202.90 47.30 0
M-6 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Prof. Eurico Rabelo 106 79.70 80.20 0.5 79.70 47.30 0
M-5 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Prof. Eurico Rabelo 106 59.50 80.20 20.7 59.50 47.30 0
M-4 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Mata Machado 25 17.40 81.00 63.6 55.60 49.60 0
M-3 Rio Maracanã, Av. Maracanã x R. Mata Machado 25 83.10 81.00 0 83.10 49.60 0
M-1 Rio Maracanã, Foz no Canal do Mangue 69 124.60 193.90 69.3 124.60 63.30 0
Atualmente se ocorrer uma vazão a montante (afluente), da ordem de 81,00 m³/s nesta
seção M-4 (TR = 25 anos), a vazão a jusante (efluente ou de restrição) será de 17,40 m³/s,
gerando um déficit de 63,60 m³/s, a ser lançado para fora da calha do rio. Isto acontece em
virtude da altura da ponte em relação à seção, que ocasiona uma altura livre de escoamento
48
muito restritiva. Esta seção deverá ser replanejada, de modo a comportar a vazão afluente a
este trecho que, após todas as intervenções na bacia, poderá chegar ao máximo de 49,60 m³/s,
para um TR = 25 anos. Propõe-se para esta seção, manter a mesma cota de fundo, altura e
declividade, e alterar a geometria para uma seção retangular, de mesma largura de topo que a
seção atual. A seção atual está esquematizada na Figura 27, que apresenta também a seção
proposta. A extensão longitudinal desta travessia é de 50m e a capacidade de vazão de projeto
da seção proposta é de 55,60 m³/s.
Figura 27 – Seção atual e proposta para a travessia do Rio Maracanã sob a Rua Mata Machado
Fonte: XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos – Maceió - AL – Novembro 2011
49
Quadro 08 – Eficiência das intervenções propostas: redução das vazões de pico segundo modelo HEC-HMS
Fonte: Fonte: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro / PDMAP / Hidrostudio Engenharia
3.0 Conclusões
benefício ao meio ambiente, além de somar resultados positivos para o controle das enchentes
e inundações locais.
- A seleção das alternativas não estruturais mais adequadas para a Bacia do Canal do
Mangue vai depender de fatores como o risco admitido, expresso pelo período de recorrência
(TR) adotado pelo projeto estrutural, da eficiência hidráulica das obras estruturais, da
disponibilidade de áreas para a implantação de medidas não estruturais, das características
geológico-geotécnicas da região, das interferências de outros sistemas urbanos, como o viário,
o ferroviário e o metroviário, e da relação custo-benefício destas alternativas.
- Os gestores ambientais não devem jamais permitir que o sistema os force a tomar
decisões irresponsáveis, como a liberação de áreas de risco para assentamentos, em nome do
política e socialmente justo, para que amanhã não se sintam cúmplices de covardias praticadas
contra pessoas inocentes, menos esclarecidas e desavisadas.
53
Referências bibliográficas
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas; NBR 6023, ago. 2002; Informação e
documentação, Referências, Elaboração; Rio de Janeiro; 1 norma; Válida a partir de 29 set.
2002; 24 p.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas; NBR 10.520, ago. 2002; Informação e
documentação, Citações em documentos, Apresentação; Rio de Janeiro; 1 norma; Válida a
partir de 29 set. 2002; 07 p.
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[...] e dá outras providências; Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil; Brasília,
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54
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Rio de Janeiro – Causas e soluções – Estudo de caso: Bacia do Canal do Mangue”; In:
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CARDOSO, E.D. et al; História dos bairros – Tijuca – Grupo de Pesquisa em Habitação
do Solo Urbano – PUR – UFRJ; Rio de Janeiro; Editora João Fortes Engenharia / Index
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OLIVEIRA, Lili Rose Cruz; Tijuca de Rua em Rua, 1ª edição; Rio de Janeiro; Editora
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RIOS, Jorge Luiz Paes; Aula sobre enchentes; disciplina Mecânica dos Fluídos e Hidráulica;
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RIOS, Jorge Luiz Paes; Controle de Enchentes, edição única; Rio de Janeiro; Editora do
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ROCHA, Marcelo Borges; Aula sobre enchentes; disciplina Saneamento Ambiental; Curso
Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental; CEFET/RJ; 2011.
THE WORLD ALMANAC AND BOOK OF FACTS; World Almanac Book 1995-1997,
edição anual; New York; Editora World Almanac Book; 1995-1997; 3 v.
56
Anexos
Anexo 1: registros fotográficos das maiores enchentes do Brasil
Figura 34: Estragos causados pela cheia do Rio Una, em Água Preta - PE (2010)
Fonte: Guga Matos / AE
Figura 35: Parte baixa da cidade arrasada pela enxurrada do Rio Mandaú, em Rio Largo - AL (2010)
Fonte: Thiago Sampaio / Agência Alagoas
60
Figura 39: Centro de Manaus atingido pela cheia do Rio Negro - AM (2012)
Fonte: Acervo do Jornal do Brasil
62
Figura 44: Resgate de um bebe na região de Lages, Município de Baixo Guandu – ES (2013)
Fonte: 5º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação da Força Aérea Brasileira (Esquadrão Pantera)
Figura 46: Bairro inundado pela cheia do Rio Doce na Cidade de Governador Valadares – MG (2013)
Fonte: Lalo Almeida / Folhapress
Figura 48: Rio Grande transborda e inunda o Distrito de Manoel de Moraes, no Município de
Santa Maria Madalena (12 de janeiro de 2011) – Fonte: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Figura 49: Rio Grande transborda e inunda o Distrito de Manoel de Moraes, no Município de
Santa Maria Madalena (12 de janeiro de 2011) – Fonte: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
67
Figura 51: Casas atingidas por queda de barreira no centro de Nova Friburgo
(12 de janeiro de 2011) – Fonte: Marcos de Paula / AE
68
Figura 52: O ginásio Pedro Jahara, o "Pedrão", no centro de Teresópolis, transformou-se em abrigo
para famílias atingidas pelas chuvas (12 de janeiro de 2011) – Fonte: Carlos Ivan / Agência O Globo
Figura 53: Detalhe do ginásio Pedro Jahara, o "Pedrão", no centro de Teresópolis, abrigando famílias
vitimadas pelas chuvas (12 de janeiro de 2011) – Fonte: Carlos Ivan / Agência O Globo
69
Figura 54: Crianças dormem em um ginásio esportivo utilizado como abrigo para as vítimas dos
deslizamentos de terra em Teresópolis (13 de janeiro de 2011) – Fonte: Bruno Domingos / Reuters
Figura 56: Moradores buscam sobreviventes e resgatam pertences depois que suas casas foram
soterradas em bairro de Nova Friburgo (12 de janeiro de 2011) – Fonte: Jadson Marques / AE
70
Figura 57: Homens do Corpo de Bombeiros buscam por moradores que foram soterrados em
deslizamento de terra em Nova Friburgo (12 de janeiro de 2011) – Fonte: Marcos de Paula / AE
Figura 58: Moradores em busca de sobreviventes após desabamento de casas, provocado por
deslizamento de terra em Nova Friburgo (12 de janeiro de 2011) – Fonte: Jadson Marques / AE
71
Figura 60: Corpos das vítimas de deslizamento de terra após fortes chuvas no bairro do Caleme,
em Teresópolis (12 de janeiro de 2011) – Fonte: Paulo Cezar / Agência O Globo - AP Photo
Figura 61: Vítimas de deslizamento de terra no bairro Vale do Cedro, em Nova Friburgo, veladas
em cima de uma mesa de sinuca de um bar (12 de janeiro de 2011) – Fonte: Jadson Marques / AE
72
Figura 63: Caixões com os corpos das vítimas dos deslizamentos de terra no cemitério de
Nova Friburgo (15 de janeiro de 2011) – Fonte: Felipe Dana / AP Photo
73
Figura 80: Rio Grande transborda e inunda Santa Maria Madalena - RJ (2011)
Fonte: Marcos de Paula / AE
Figura 81: Deslizamento de terra provocado por chuvas em Nova Friburgo – RJ (2011)
Fonte: Marcos de Paula / AE
84
Figura 84: Alagamento na Av. Brasil, causado por falta de drenagem pluvial (2012)
Fonte: Genilson Araújo / Agência O Globo
Figura 85: Alagamento em Santo Antônio de Pádua - RJ, causado pelo transbordamento
do Rio Pomba (2012) – Fonte: Fabrício Mansur / Arquivo pessoal
85
Figura 86: Km 120 da BR-356 (Itaperuna-Campos) interrompida pela cheia do Rio Muriaé (2012)
Fonte: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT)
Figura 87: Rua Morais e Silva esquina com Rua Ibituruna, no Bairro do Maracanã (2013)
Fonte: Severino Silva / Agência O Dia
86
Figura 89: Morador ilhado no 2º andar da sua residência no bairro da Pavuna (2013)
Fonte: Thiago Lara / Agência O Dia/Estadão Conteúdo
87
O desenvolvimento urbano das cidades brasileiras tem sido realizado sem considerar o
impacto potencial das inundações. As consequências desta omissão têm sido o aumento do
prejuízo médio anual devido às enchentes urbanas.
Com o objetivo de reduzir esses impactos e permitir um melhor planejamento da
ocupação do solo urbano, em harmonia com os processos naturais do ciclo hidrológico, são
apresentadas a seguir as seguintes recomendações de ações: