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PROPOSTA DE RESTAURAÇÃO
ECOLÓGICA FLUVIAL DE UM TROÇO
DA RIBEIRA DAS VINHAS, CASCAIS
Júri:
Março de 2010
UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
Lisboa
2010
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“Copyright” Todos os direitos reservados a Amandine dos Santos Gameiro da FCT/UNL
e da UNL.
A Faculdade de Ciências e Tecnologia e a Universidade Nova de Lisboa têm o direito,
perpétuo e sem limites geográficos, de arquivar e publicar esta dissertação através de
exemplares impressos reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer
outro meio conhecido ou que venha a ser inventado, e de a divulgar através de
repositórios científicos e de admitir a sua cópia e distribuição com objectivos
educacionais ou de investigação, não comerciais, desde que seja dado crédito ao autor
e editor.
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“There is a phenomena resiliency in the mechanisms of the earth.
A river or lake is almost never dead. If you give it the slightest chance...
then nature usually comes back.”
Rene Dubos
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AGRADECIMENTOS
Os meus sinceros agradecimentos às professoras Dr.ª Paula Sobral e Dr.ª Maria Teresa Calvão,
as minhas orientadoras, pela inteira disponibilidade, apoio e incentivo ao longo de todo o
trabalho, também pela disposição de confiança e pelo entusiasmo. Agradeço também pela
cedência das fotos utilizadas neste trabalho.
Agradeço também à Agência Cascais Natura, por todo o apoio e disponibilidade para me
ajudarem. Em especial ao Vasco e à Susana.
Os meus sinceros agradecimentos ao professor e mestre Dr. Eugénio Sequeira, pela sua
simpatia e disponibilidade, que me deu uma grande motivação para fazer este trabalho.
Uma especial dedicação às pessoas que estiveram presentes nestes últimos meses e que
fizeram também parte da “mudança”... Ao Afonso, Isabel, Sílvia, Joana, Guilherme e todos os
que estiveram de alguma forma presentes. Um grande abraço.
Quero também agradecer aos meus colegas e amigos de curso, que me encorajaram ao longo
destes meses, em especial, para a Joana, Miguel, Jorge.... Pelo entusiasmo e motivação. E
claro, sempre pela ecologia!
Um especial agradecimento ao Akli Benali, à Teresa Simas e à prof.ª Júlia Seixas, por todo o
incentivo, trabalho, apoio e tempo que dedicaram no meu trabalho inicial.
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SUMÁRIO
As zonas ripícolas são consideradas como um dos habitats biofísicos mais complexos do
planeta, pela sua biodiversidade, dinamismo, produtividade primária e importante função de
corredor ecológico exercida pela integração do leito e das margens do rio com a vegetação
ribeirinha. Juntamente com os rios e as zonas húmidas estão entre os ecossistemas mais
ameaçados do mundo.
A contaminação das águas por efluentes, a regularização e canalização das linhas de água, com
a consequente artificialização do leito natural, a construção de barragens, a introdução de
espécies exóticas e o corte da vegetação ribeirinha, entre outras actividades humanas, incidem
de modo decisivo sobre a integridade dos ecossistemas aquáticos e semi-terrestres. Em
paralelo, as preocupações ambientais por parte do público e da comunidade científica em
relação à degradação dos sistemas ribeirinhos têm vindo a aumentar.
Este estudo constitui uma base para futuras investigações na área da requalificação de cursos
de água através da criação de casos de estudo de referência em Portugal, a partir dos quais se
possam desenvolver e implementar metodologias e técnicas em cursos de água degradados,
tanto ao nível local como ao nível regional.
vi
vii
ABSTRACT
The riparian areas are among the most complex biophysical habitats in the world. Their
biodiversity, dynamism, primary productivity provides an important greenway function
through the interactions of the instream channel and streambank and the riparian vegetation.
Due to increased pressures, particularly from human activities, rivers and wetlands are among
the most endangered ecosystems in the world.
The water contamination by waste water inputs, the stream channelization and regulation and
the consequent artificialization of the streambank, the dam construction, and the introduction
of exotic species and the clearing of the riparian vegetation, among other human activities
affect decisively the aquatic and semi-aquatic ecosystems integrity. The recognition of the
degradation of riparian systems is reflected in the increased environmental concern from the
scientific community as well and raised public awareness towards the state of these
ecosystems.
Therefore, the ecological restoration of water courses assumes an important role and stream
and river rehabilitation projects have been increasing, as well as the scientific knowledge in
this area.
This work proposes a stream requalification project for a stretch of the Ribeira das Vinhas, in
Pisão de Cima, Cascais. This project is focused on the naturalization of the floodplain and
margin vegetation, considers the development of the native species and the use of
bioengineering techniques for the bank and channel water course.
This proposal is a contribution for future investigations in water courses requalification and the
creation of case-study scenarios in Portugal, from which we can learn in order to develop, and
implement methodologies and techniques on other degraded water courses, locally and
regionally.
viii
ix
ÍNDICE DE MATÉRIAS
Agradecimentos .............................................................................................................................. iv
Sumário ........................................................................................................................................... vi
Abstract .......................................................................................................................................... vii
Índice de matérias ............................................................................................................................ x
Índice de figuras ............................................................................................................................. xii
Índice de tabelas ........................................................................................................................... xiv
1. CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1. Enquadramento geral ....................................................................................................... 1
1.2. Objectivos e âmbito ......................................................................................................... 2
1.3. Organização da dissertação .............................................................................................. 3
2. CAPÍTULO II – A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE LINHAS DE ÁGUA .................................. 5
2.1. Introdução ............................................................................................................................ 5
2.2. O Estado da arte da restauração ecológica .......................................................................... 7
2.3. A importância dos ecossistemas ribeirinhos ...................................................................... 14
2.4. Enquadramento legislativo ................................................................................................ 19
2.5. Caracterização das linhas de água e dos processos fluviais ............................................... 22
2.6. A restauração ecológica de linhas de água ........................................................................ 28
2.6.1. O contexto da bacia hidrográfica e considerações à escala local .................................. 28
2.6.2. Príncipios de engenharia natural no revestimento dos taludes .................................... 32
2.6.3. As propriedades técnicas da vegetação ......................................................................... 34
2.6.4. Espécies eficazes no âmbito da engenharia natural ...................................................... 39
2.7. Principais técnicas de recuperação da vegetação ribeirinha ............................................. 43
2.8. Planeamento e implementação de um projecto de restauração ecológica ...................... 47
3. CAPÍTULO III – CARACATERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DA RIBEIRA DAS VINHAS E
DO TROÇO EM ESTUDO.................................................................................................................. 59
3.1. Introdução .......................................................................................................................... 59
3.2. Caracterização geral da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas ..................................... 59
3.2.1. Enquadramento no Parque Natural Sintra-Cascais e no Concelho de Cascais .............. 59
3.2.2. Enquadramento biogeográfico ...................................................................................... 60
3.2.3. Caracterização biofísica .................................................................................................. 60
3.2.4. Qualidade e estado ecológico dos cursos de água......................................................... 77
3.3. Caracterização da zona de intervenção ............................................................................. 81
3.3.1. Localização ..................................................................................................................... 81
x
3.3.2. Enquadramento no projecto da Cascais Natura ............................................................ 82
3.3.3. Enquadramento histórico-cultural e arquitectura ......................................................... 84
3.3.4. Caracterização biofísica .................................................................................................. 84
3.3.5. Caracterização da paisagem e ordenamento................................................................. 89
3.3.6. Caracterização da vegetação.......................................................................................... 93
4. CAPÍTULO IV – METODOLOGIA: PROPOSTA DE PROJECTO DE REQUALIFICAÇÃO ................. 99
4.1. Introdução ...................................................................................................................... 99
4.2. Metodologia.................................................................................................................... 99
4.3. Organização .................................................................................................................. 100
4.4. Identificação de problemas e oportunidades ............................................................... 101
4.5. Desenvolvimento de metas e objectivos ...................................................................... 102
4.5.1. Definição das condições futuras desejadas .................................................................. 102
4.5.2. Identificação da escala dos processos .......................................................................... 103
4.5.3. Identificação das condicionantes da restauração ........................................................ 104
4.5.4. Definição das metas e objectivos ................................................................................. 104
4.6. Desenho das alternativas da restauração .................................................................... 105
4.6.1. Factores a considerar no desenho das alternativas ..................................................... 106
4.6.2. Descrição das alternativas de restauração ................................................................... 107
4.7. Monitorização e avaliação do projecto ........................................................................ 125
4.7.1. Monitorização do progresso perante os objectivos ..................................................... 125
4.7.2. Razões para avaliar os esforços da restauração ........................................................... 132
5. CAPÍTULO V – DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 135
5.1. Discussão e considerações finais...................................................................................... 135
5.2. Recomendações e desenvolvimentos futuros ................................................................. 138
5.3. Nota final .......................................................................................................................... 140
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 141
xi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.1. Perspectivas de conservação e gestão para sistemas fluviais (adaptado de Boon,
1992 in Moreira et al., 2004). .................................................................................................. 8
Figura 2.2. Perda de espécies devido à canalização/rectificação dos rios (Binder, 1998). ......... 10
Figura 2.3. Esquematização das funções desempenhadas pela vegetação ripícola na paisagem
(Saraiva, 1999)........................................................................................................................ 15
Figura 2.4. Secção transversal de um corredor ripícola (FISRWG, 1998). ................................... 15
Figura 2.5. Funções dos corredores na paisagem (adaptado de FISRWG,1998). ....................... 16
Figura 2.6. a) Paisagem com (A) elevado e (B) reduzido grau de conectividade; b) relação de
conectividade entre a zona interior e bordadura (adaptado de FISRWG, 1998)................... 18
Figura 2.7. Os aspectos morfológicos do rio determinam as funções ecológicas do rio (Binder,
1998). ..................................................................................................................................... 23
Figura 2.8. Esquema dos níveis de leito de um rio (adaptado de Christofoletti, 1981 e FISRWG,
1998, in Durlo e Sutili, 2005). ................................................................................................. 25
Figura 2.9. a) Variação das características de um curso de água ao longo do seu perfil
longitudinal; b) Exemplo de um perfil longitudinal (Durlo e Sutili, 2005). ............................ 26
Figura 2.10. O papel da vegetação nos processos hidrológicos e erosivos do solo (adaptado de
Coppin e Richards, 1990 in Raus, 2008).. ............................................................................... 31
Figura 2.11. a) Evolução de um rio rectificado num rio renaturalizado, através da remoção das
construções das margens e promovendo a modificação natural do leito do rio; b) Propostas
para a transformação de um perfil regularizado num perfil “naturalizado” (Binder, 1998). 36
Figura 2.12. Perfil de uma galeria ripícola (Dreher e Heringa, 1998). ......................................... 39
Figura 2.13. Formação de um ribeiro com meandrização (Binder, 1998). ................................. 48
Figura 3.14. Enquadramento da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas (parte analisada no
presente estudo), no PNSC e no Concelho de Cascais. .......................................................... 59
Figura 3.15. Regime pluviométrico e temperaturas do PNSC (Baltazar e Martins, 2005). ......... 61
Figura 3.16. Gráfico termopluviométrico de: (a) Sintra/Pena; (b) Cabo da Roca (Baltazar e
Martins, 2005). ....................................................................................................................... 62
Figura 3.17. Carta de altimetria da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ........................... 63
Figura 3.18. Carta de declives da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. .............................. 64
Figura 3.19. Carta de exposição de vertentes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ...... 65
Figura 3.20. Carta geológica da bacia da Ribeira das Vinhas. ..................................................... 66
Figura 3.21. Carta de solos da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ................................... 68
Figura 3.22. Carta da capacidade do uso do solo da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.. 69
Figura 3.23. Carta de ordenamento da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ..................... 71
Figura 3.24. Carta de condicionantes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas……………..…..72
Figura 3.25. Carta de condicionantes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas………………….73
Figura 3.26. Carta de vegetação actual da Ribeira das Vinhas………………………………………………...75
Figura 3.27. Perfil longitudinal da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ............................. 76
Figura 3.28. Despejo de resíduos na linha de água (Pisão de Cima, Cascais)…………………………...79
Figura 3.29. Zonas de leito canalizado e construções urbanas próximas da linha de água
(Cascais)…………………………………………………………………………………………………………………………....80
Figura 3.30. Construções em cima da linha de água (Cascais)………………………………………………...80
Figura 3.31. Localização da zona de intervenção, Pisão de Cima, Alcabideche (Cascais)…….…..82
xii
Figura 3.32. Ribeira que atravessa a Quinta do Pisão, Pisão de Cima (Cascais)………………………. 83
Figura 3.33. Zona adjacente à Ribeira que atravessa a Quinta do Pisão, Pisão de Cima
(Cascais)…………………………………………………………………………………………………………………………... 84
Figura 3.34. Cartas de altimetria da zona de intervenção. ......................................................... 85
Figura 3.35. Carta de declives (%) da zona de intervenção......................................................... 85
Figura 3.36. Carta de exposição de vertentes da zona de intervenção. .................................... 86
Figura 3.37. Carta geológica da zona de intervenção. ................................................................ 87
Figura 3.38. Carta de solos da zona de intervenção. .................................................................. 88
Figura 3.39. Carta de ocupação do uso do solo da zona de intervenção.................................... 89
Figura 3.40. Carta de unidades de paisagem da zona de intervenção........................................ 90
Figura 3.41. Carta de ordenamento da zona de intervenção. .................................................... 91
Figura 3.42. Carta de condicionantes da zona de intervenção. .................................................. 92
Figura 3.43. Carta da vegetação actual do troço de intervenção. .............................................. 94
Figura 3.44. Regeneração natural de freixos e ulmeiros na zona adjacente à Ribeira que
atravessa a Quinta do Pisão, Pisão de Cima (Cascais)…………………………………………………………95
Figura 4.45. Metodologia proposta para o local de estudo. ..................................................... 100
Figura 4.46. Muro de pedra que separa a linha de água e a zona de várzea na Quinta do Pisão,
Pisão de Cima (Cascais)……………………………………………………………………………………………………..109
Figura 4.47. Zona de várzea e crescimento espontâneo de freixo………………………………………...110
Figura 4.48. Plantação individual e directa de árvores (Raus, 2008)……………………………………….112
Figura 4.49. Modelação do terreno do talude erosionado (Durlo e Sutili, 2005)………………….…114
Figura 4.50. Utilização de árvores inteiras como medida preventiva de margens erodidas (Durlo
e Sutili, 2005)………………………………………………………………………………………………………………….…115
Figura 4.51. Parede com pedras, troncos e estacas vivas (Durlo e Sutili, 2005)………………….…..116
Figura 4.52. Esquema de uma parede de faxinas (Raus, 2008)…………………………………………….…116
Figura 4.53. Esquema de faxinas vivas (adaptado de Schiechtl e Stern, 1997)…………………..……117
Figura 4.54. Muro de vegetação com: (a) estacas; (b) e plantas; c) em perspectiva (adaptado de
Venti et al., 2003)……………………………………………………………………………………………………………...118
Figura 4.55. Exemplo de uma soleira simples (Durlo e Sutili, 2005)……………………………………....120
Figura 4.56. Perspectiva em corte de uma soleira simples para criação de habitat piscícola
(Bastien-Daigle et al., 1991 in Melanson et al., 2006)…………………………………………………….….120
Figura 4.57. Representação da alternativa “A” da proposta de restauração…………………………. 124
Figura 4.58. Diferença entre os perfis de investimento na investigação, construção, manutenção
e monitorização de projectos convencionais e de engenharia natural (adaptado de Coppin e
Richards, 1990 in Allen e Leech, 1997)…………………………………………………………………..………….128
Figura 4.59. Localização da linha de bordadura verde (greenline vegetation): (a) no leito de
cheia; (b) para um caudal reduzido (Winward, 2000)………………………………………………………..131
Figura 4.60. Esquema da medição dos transectos na linha de bordadura verde (adaptado de
Winward, 2000)………………………………………………………………………………………………………………..132
xiii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2.1. Perspectivas de gestão para os sistemas fluviais (adaptado de Moreira et al., 2004).
.................................................................................................................................................. 8
Tabela 2.2. Aspectos a ter em conta na análise de diversos factores que causam a instabilidade
nos taludes (Freitas, 2006). .................................................................................................... 28
Tabela 2.3. Os princípios da recuperação e restauro de corredores fluviais (adaptado de
Wasserwirtschaft, 1980 in Saraiva, 1999). ............................................................................. 29
Tabela 2.4. Sumário de estudos sobre larguras de Buffer Strips (adaptado de Perrow e
Wightman, 1993 in Valle, 1998). ............................................................................................ 30
Tabela 2.5. Principais objectivos da engenharia natural (adaptado de Schiechtl, 1991). .......... 32
Tabela 2.6. Vantagens e desvantagens do uso da vegetação como material de construção face
aos materiais inertes (Fernandes, 1987)................................................................................ 33
Tabela 2.7. Principais vantagens e desvantagens das técnicas de engenharia natural. ............. 34
Tabela 2.8. Efeitos hidrológicos e mecânicos da vegetação na estabilidade dos taludes
(adaptado de Durlo e Sutili, 2005). ........................................................................................ 34
Tabela 2.9. Propriedades e capacidades técnicas e biológicas da vegetação (adaptado de
Florineth e Molon, 2004). ...................................................................................................... 36
Tabela 2.10. Espécies de vegetação ripícola mediterrânicas (adaptado de Prada e Arizpe, sem
data). ...................................................................................................................................... 40
Tabela 2.11. Habitats e agrupamentos vegetais característicos dos ecossistemas ripícolas em
Portugal (adaptado de Alves et al., 1995). ............................................................................. 41
Tabela 2.12. Principais técnicas de restauração de linhas de água (FISRWG, 1998). ................. 43
Tabela 2.13. Principais técnicas de técnicas de revegetação e/ou criação do habitat ripícola. . 44
Tabela 2.14. Estratégias fundamentais de recuperação fluvial (adaptado de Saraiva et al.,
2004). ..................................................................................................................................... 46
Tabela 2.15. Processo de desenvolvimento de um plano de restauração fluvial (adaptado de
FISRWG, 1998). ...................................................................................................................... 49
Tabela 2.16. Principais procedimentos da etapa de organização num plano de restauração
fluvial. ..................................................................................................................................... 50
Tabela 2.17. Principais procedimentos da etapa de identificação de problemas/oportunidades
num plano de restauração fluvial. ......................................................................................... 51
Tabela 2.18. Factores a considerar na etapa de desenho de alternativas no plano de
restauração fluvial.................................................................................................................. 53
Tabela 2.19. Métodos de análise de suporte no desenho de alternativas no plano de
restauração fluvial.................................................................................................................. 53
Tabela 2.20. Desenvolvimento de um Plano de Monitorização (adaptado de FISRWG, 1998). . 55
Tabela 3.21. Informação digital disponibilizada pela Agência Cascais Natura. .......................... 62
Tabela 3.22. Área (%) das classes de altimetria na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ... 64
Tabela 3.23. Área (%) das classes de declive na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ....... 65
Tabela 3.24. Área (%) das classes de exposição de vertentes na bacia hidrográfica da Ribeira
das Vinhas. ............................................................................................................................. 66
Tabela 3.25. Área (%) ocupada por cada tipo de formação geológica na bacia hidrográfica da
Ribeira das Vinhas. ................................................................................................................. 67
Tabela 3.26. Área (%) ocupada por cada tipo de solo na bacia hidrográfica da Ribeira das
Vinhas. .................................................................................................................................... 68
xiv
Tabela 3.27. Área (%) ocupada por cada classe de capacidade de uso do solo na bacia
hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ........................................................................................ 69
Tabela 3.28. Área (%) ocupada por cada classe de ordenamento do território na bacia
hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ........................................................................................ 71
Tabela 3.29. Área (%) ocupada por cada condicionante de ordenamento do território na bacia
hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ........................................................................................ 74
Tabela 3.30. Área (ha e %) ocupada pela vegetação dominante na bacia hidrográfica da Ribeira
das Vinhas. ............................................................................................................................. 76
Tabela 3.31. Valores do índice biótico BMWP e caracterização dos locais de amostragem para
os locais de amostragem da Ribeira das Vinhas (adaptado de Vieira et al., sem data). ....... 78
Tabela 3.32. Valores dos parâmetros da análise da qualidade da água na Ribeira das Vinhas
(Cascais Natura, 2009b)…………………………………………………………………………………………………..….81
Tabela 3.33. Espécies vegetais encontradas no biótopo pinhal da zona de estudo por tipo de
estrato vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009)……………………………………………………….…..95
Tabela 3.34. Espécies vegetais encontradas no biótopo carrascal da zona de estudo por tipo de
estrato vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009)…………………………………………………………...96
Tabela 3.35. Espécies vegetais encontradas no biótopo juncal/prado vivaz da zona de estudo por
tipo de estrato vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009)……………………………………………....96
Tabela 3.36. Espécies vegetais encontradas no biótopo freixial da zona de estudo por tipo de
strato vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009)…………………………………………………………..…97
Tabela 4.37. Aspectos a considerar em termos de organização no projecto de restauração do
local de estudo…………………………………………………………………………………………………………………..100
Tabela 4.38. Considerações na identificação de problemas e oportunidades na restauração
fluvial……………………………………………………………………………………………………………………………......101
Tabela 4.39. Descrição das condições ecológicas, sócio-culturais e económicas desejadas a
atingir com a intervenção proposta desejada…....................................................................102
Tabela 4.40. Descrição dos diversos elementos a considerar a diferentes escalas dos
processos…………………………………………………………………………………………………………………….…....103
Tabela 4.41. Principais condicionantes na identificação e implementação das metas e objectivos
da restauração…………………………………………………………………………………………………………………..104
Tabela 4.42. Metas e objectivos da restauração…………………………………………………………………..…105
Tabela 4.43. Aspectos a considerar na gestão das causas e tratamento dos sintomas…………...106
Tabela 4.44. Principais características das alternativas da restauração…………………………….….…107
Tabela 4.45. Exigências específicas na plantação de herbáceas e gramíneas a utilizar……….…..112
Tabela 4.46. Exigências específicas das plantas dos estratos arbóreo e arbustivo, durante a
plantação………………………………………………………………………………………………………………………..…113
Tabela 4.47. Tabela dos custos unitários e totais das medidas a aplicar na Alternativa “A” do
projecto de restauração e dos recursos materiais e humanos necessários………………………. 121
Tabela 4.48. Preço unitário por tipo de planta e por origem do fornecedor……………………….... 123
Tabela 4.49. Frequências de amostragem dos elementos de qualidade para os programas de
monitorização de vigilância nas diferentes categorias de meios hídricos (DQA, Directiva
2000/60/CE)……………………………………………………………………………………………………………….….….126
Tabela 4.50. Elementos de qualidade para a classificação do estado ecológico dos rios (DQA,
Directiva 2000/60/CE)……………………………………………………………………………………………….….…...127
xv
Tabela 4.51. Medidas de monitorização das estruturas de engenharia natural implementadas…
………………………………………………………………………………………………………………………………………..129
Tabela 4.52. Indicadores para a monitorização de vegetação ripícola (adaptado de Winward,
2000; Innis et al., 2000; Burton et al., 2008)………………………………………………………………….…130
xvi
xvii
1. CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
Nos últimos 20 anos a restauração de linhas de água tornou-se um tema importante, atraindo
os interesses de muitas disciplinas e crescendo dramaticamente a nível internacional
(Ormerod, 2004; Smith et al., 2008; Dufour e Piégay, 2009).
A maioria dos projectos de restauração focalizam-se num único troço de um ribeiro ou rio,
apesar da bacia hidrográfica ser a unidade espacial mais apropriada para a restauração de
sistemas fluviais. No entanto, pouca ou nenhuma monitorização é feita após a implementação
das medidas de restauração e a avaliação do processo é na maioria das vezes omitida bem
como a integração noutros projectos. Isto reflecte que o sucesso da restauração necessita que
os processos chave, isto é, as interacções ao longo do corredor fluvial e as funções ecológicas
devem ser considerados. A restauração das zonas ribeirinhas implica um esforço e uma
integração multidisciplinar: a ecologia da paisagem, a fitoecologia, a hidrologia, a
geomorfologia fluvial, a geografia física, a limnologia e a conservação da natureza. Estas
interacções são muitas vezes ignoradas, o que revela a falta de abordagens baseadas em
processos nas práticas existentes bem como o facto das estratégias à escala da bacia
hidrográfica serem mais difíceis de implementar devido a condicionantes sócio-políticos e
financeiros (Wohl et al., 2004).
A importância multi-funcional das galerias ripícolas e dos sistemas fluviais, tanto em termos
ecológicos como sócio-económicos, induz igualmente à necessidade de uma atitude pró-activa
por parte da sociedade, autarquias, agentes económicos, técnicos e cidadãos, ou seja, de
todos os agentes envolvidos que dependem directa e indirectamente dos serviços destes
ecossistemas. A reabilitação de ecossistemas ribeirinhos deve ser integrada com os
instrumentos de planeamento, uma vez que deve ser vista globalmente e não como uma
intervenção isolada e pontual (Saraiva et al., 2004).
Dado o conhecimento do estado ecológico dos cursos de água e zonas ripícolas da bacia
hidrográfica da Ribeira das Vinhas, pretende-se elaborar um projecto de requalificação de um
troço da ribeira, que poderá ser utilizado como um potencial caso de estudo de referência.
Este troço está localizado em Pisão de Baixo, situada na Freguesia de Alcabideche, no Concelho
de Cascais. A área de intervenção está enquadrada no projecto da Agência Cascais Natura.
O presente trabalho tem como objectivo principal a elaboração de um projecto de
requalificação do curso de água e zona adjacente das margens e taludes, nomeadamente da
2
regeneração da floresta ripícola e do bosque de carvalhos. Um dos objectivos passa também
pela implementação de medidas um com impacte ambiental reduzido, através do recurso a
técnicas de engenharia natural e da utilização de materiais locais e naturais.
O caso de estudo do presente trabalho divide-se em duas partes. No capítulo três faz-se a
caracterização da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas e do troço de intervenção para o
projecto de requalificação enquanto no capítulo quatro se define uma metodologia e a
proposta de requalificação ribeirinha propriamente dita.
3
4
2. CAPÍTULO II – A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE LINHAS DE ÁGUA
2.1. Introdução
5
As tecnologias ecológicas e a engenharia ecológica terão um papel significativo nas sociedades
sustentáveis. Precisamos de adequar abordagens que resolvam os problemas ambientais não
apenas para o bem-estar humano mas também para proteger ribeiras, rios, lagos, zonas
húmidas, florestas e savanas. Precisamos de trabalhar simbioticamente com a natureza onde
usamos as suas funções para serviços públicos, reconhecendo também a necessidade de
conservação da natureza. A ideia de conservação da natureza é tão importante que necessita
de ser uma meta de engenharia e não apenas um possível resultado (Mitsch e Jorgensen,
2004).
Actualmente, a restauração de ribeiras e rios tem sido um dos aspectos mais intrigantes da
restauração ecológica da paisagem. Em termos históricos, tanto nos países desenvolvidos
como em desenvolvimento, houve sempre uma tentativa de controlo no funcionamento
destes ecossistemas. Os seus valores ecológicos, hidrológicos e paisagísticos sempre foram, de
uma forma geral, menosprezados perante o seu valor económico e hoje em dia, assiste-se
ainda à deterioração progressiva da qualidade da água e à degradação destes ecossistemas.
Hoje em dia, a afectação dos rios e ribeiras passa cada vez mais pela aplicação de métodos e
técnicas que visam a sua renaturalização e a conservação das suas funções ecológicas e
geomorfológicas, muitas vezes através da remoção de barragens, da remeandrização das
6
linhas de água, da estabilização das margens e da reabilitação do ecossistema ripícola. A
renaturalização dos rios exige a criação de novos conceitos de engenharia hidráulica, um novo
planeamento da ocupação territorial bem como o desenvolvimento e implementação de
metodologias e técnicas inovadoras aplicadas à restauração dos ecossistemas.
A importância da conservação da estrutura e funções das linhas de água e das galerias ripícolas
é hoje em dia cada vez mais reconhecida. Os rios são sistemas de transição entre os
ecossistemas terrestres e os sistemas aquáticos, sendo a sua estrutura e composição
fundamentalmente terrestres devido ao facto de poucas vezes no ano serem inundadas e
geralmente por certos períodos (Lastra, 2003).
Uma das tendências actualmente identificadas na gestão ambiental dos sistemas fluviais
consiste na definição de estratégias para a sua conservação e valorização, numa perspectiva
integrada de gestão de bacias hidrográficas. São diversas as opções de gestão a aplicar, entre
as quais a preservação das situações de elevado valor ecológico, a recuperação e o restauro de
troços que apresentem graus de degradação susceptíveis de serem intervencionados e a
7
criação de zonas húmidas. São diversos os autores que têm vindo a desenvolver a investigação
relativa a processos e estratégias de recuperação ecológica de sistemas fluviais, juntamente
com medidas que visam a sua conservação e valorização, tendo em conta o conhecimento do
funcionamento e estrutura dos ecossistemas aquáticos e ripícolas (vide Gore, 1985; Boon,
1992; NRC, 1992; Perrow e Wightman, 1993; Adams et al., 1998; Moreira et al., 2004).
O quadro de opções a equacionar como alternativas para a gestão dos sistemas fluviais pode
ser, segundo Boon (1992 in Moreira et al, 2004), representado através de um eixo que
apresenta um gradiente de situações de rios, desde a situação natural até à situação de
degradados (Figura 2.1).
Figura 2.1. Perspectivas de conservação e gestão para sistemas fluviais (adaptado de Boon, 1992 in
Moreira et al., 2004).
Tabela 2.1. Perspectivas de gestão para os sistemas fluviais (adaptado de Moreira et al., 2004).
8
Nas situações em que o nível de degradação é tal que não viabiliza
Abandono
um processo de recuperação
Valorização Melhoramento de um atributo estrutural ou funcional
Retorno parcial, estrutural ou funcional a um estado de pré-
Reabilitação ou recuperação
perturbação
Retorno total, estrutural e funcional a um estado de pré-
Restauro
perturbação
Conjunto de acções para evitar, reduzir ou compensar os efeitos
Mitigação
de danos ambientais
Nos últimos 20 anos a restauração de linhas de água tornou-se um tema importante, atraindo
os interesses de muitas disciplinas e crescendo dramaticamente a nível internacional
(Ormerod, 2004; Smith et al., 2008; Dufour e Piégay, 2009). As metas são invariavelmente
multifuncionais, mas existe uma crescente responsabilidade nas iniciativas de restauração no
sentido de aumentar a conservação da biodiversidade e garantir a protecção dos bens,
serviços e funções ecológicas que os rios asseguram. Para Ormerod (2004), a restauração deve
ser centrada nos organismos pelo que as espécies-chave, as comunidades de que fazem parte
e as funções ecológicas que asseguram devem ser os principais “juízos do sucesso” da
restauração.
9
necessidade da restauração/recuperação de linhas de água é hoje em dia reconhecida pelos
organismos governamentais e por muitos stakeholders como um complemento essencial da
conservação e gestão dos recursos naturais. No entanto, os rios e as ribeiras continuam a ser
deteriorados como resultado da pressão pelas actividades humanas (Karr e Chu, 1999).
Figura 2.2. Perda de espécies devido à canalização/rectificação dos rios (Binder, 1998).
Tendo em conta que a restauração dos rios é cada vez mais vista como um teste para as
ciências hidrológicas e ecológicas, é imperativo o nosso esforço em melhorar o estado e a
percepção da ciência da restauração (Wohl et al., 2004). No entanto, muitos dos projectos de
restauração falham: (i) na inclusão de um modelo conceptual sólido dos ecossistemas fluviais;
(ii) no conhecimento claro e articulado dos processos dos ecossistemas; (iii) no
reconhecimento de múltiplas escalas temporais e espaciais dos rios; e (iv) na monitorização a
longo-prazo do sucesso ou insucesso dos objectivos dos projectos após a sua conclusão
(Pedroli et al., 2002).
As implicações da restauração ainda são ambíguas porque existe apenas uma pequena
percentagem dos projectos e esforços são avaliados e praticamente não é efectuada nenhuma
análise e reconhecimento de esforços no contexto político, não sendo reconhecida esta
10
actividade como prioritária face ao actual estado dos ecossistemas. Smith e Merenlender
(2008) sugerem que a restauração pode ser mais eficaz considerando toda a bacia hidrográfica
como uma combinação de esforços sociais e ecológicos que interagem para produzir as
condições hidrológicas.
Para Bernhardt et al. (2005), no que diz respeito aos esforços das nações nesta matéria, pouco
é sabido acerca dos resultados da restauração devido ao facto da monitorização e avaliação
posteriores aos projectos serem extremamente limitadas.
Segundo o estudo efectuado por Smith e Merenlender (2008) relativamente ao estado da arte
e as lições retiradas da restauração ecológica da bacia hidrográfica do Rio Russo (Califórnia):
(i) a restauração deve incluir a interacção de esforços sociais e ecológicos para garantir as
condições da bacia no sentido de criar ecossistemas sustentáveis e políticas com
equidade;
(ii) deve ser feita uma maior investigação nas causas da degradação ambiental e estas
causas devem ser compreendidas num contexto social, particularmente em termos de
directivas políticas e incentivos económicos que motivam os usos particulares da água e
solo;
(iii) os fundos devem estar direccionados para modificar as forças motrizes sociais da
degradação ambiental, focando-se nas alterações mais significativas à escala da bacia
hidrográfica, particularmente em termos de conservação do solo e água bem como na
gestão, política e educação;
(iv) a prática da restauração deve também incluir os esforços para proteger os habitats das
actividades nefastas e ao longo da zona ripária associada aos usos do solo. A redução da
expansão bem como a conversão agrícola nos solos a montante reduzem a procura da
água e protegem os habitats ripícolas.
11
altamente valorizados pelo público. À medida que a prática da restauração de rios aumenta, a
necessidade de desenvolver uma base científica é óbvia, como é evidenciado através do
número de grupos de trabalho e iniciativas políticas da parte dos governos, as organizações
não-governamentais e em termos de investigação académica.
Para Malasson (1993, in Saraiva, 2004) a ecologia da paisagem ribeirinha é uma área disciplinar
que se insere no contexto de outros saberes científicos: a ecologia da paisagem, a fitoecologia,
a hidrologia, a geomorfologia fluvial, a geografia física, a limnologia e a conservação da
natureza.
Isto reflecte que o sucesso da restauração necessita que os processos chave - as interacções ao
longo do corredor fluvial (de montante a jusante), os declives, as planícies aluviais, os lençóis
freáticos – devem ser considerados (Sear, 1994; Angermeier, 1997; Frissell, 1997; Poff et al.,
1997; Stanford e Ward, 1992; Graf, 2001; Palmer et al., 2004b in Wohl et al, 2004). A
importância destas interacções é significativamente biofísica: a água, os sedimentos, o calor, a
matéria orgânica, os nutrientes e os químicos movimentam-se desde as zonas mais elevadas,
através de tributários e ao longo de planícies de inundação em concentrações e taxas
variáveis. Estas interacções são muitas vezes ignoradas na restauração de rios e até à data, a
restauração tem sido feita em pequenas zonas ou troços, com pouca ou nenhuma
monitorização e com uma reduzida integração doutros projectos. Isto reflecte que a falta de
abordagens baseadas em processos nas práticas existentes bem como o facto de que as
estratégias compreensivas de restauração que restabelecem as interacções e processos à
escala da bacia hidrográfica são mais difíceis de implementar devido a condicionantes sócio-
políticos e financeiros (Wohl et al., 2004).
12
A restauração ecológica é ainda criticada por muitos conservacionistas e pela maioria dos
economistas, como uma diversão, uma ilusão e um desperdício de dinheiro. De facto, a
restauração é complementar não apenas à conservação da natureza mas também ao
desenvolvimento sustentável e sócio-económico. A conservação, a restauração ecológica e as
políticas de desenvolvimento económico sustentável devem antes de tudo ser planeadas e
executadas em conjunto. Neste sentido, “a restauração ecológica é vista como uma estratégia
que aumenta o capital natural. Investir em restaurar o capital natural não se distancia da
conservação da natureza, mas sim adiciona sentido, relevância e eficácia aos esforços da
conservação” (Aronson et al., 2006). São diversos os estudos recentes que quantificam, de
determinadas formas, os benefícios sociais da restauração ripícola (vide Loomis et al., 2000;
Holmes et al., 2004; Collins et al., 2005), nomeadamente a criação de novos empregos e o
aumento do stock de bens e serviços naturais dos quais muitas economias dependem.
Apesar dos esforços da melhoria da gestão e restauração dos rios nos últimos anos bem como
do aumento dos campos de actuação da investigação, para Newton e Large (2006) ainda
persistem diferenças nos objectivos entre os gestores e os cientistas ambientais. Os gestores
são forçados a ponderar as necessidades da sociedade enquanto os cientistas esforçam-se por
compreender os processos naturais com ou sem a afectação humana (Dufour e Piégay, 2009).
Assim, a importância e a contínua emergência da ciência da restauração é actualmente
reconhecida, mas para estes autores persistem algumas dúvidas, nomeadamente os benefícios
envolvidos e os cenários de referência da restauração. Assim, são dois os aspectos particulares
que a ciência da restauração deve actualmente responder (Dufour e Piégay, 2009):
Por estas razões, torna-se necessário encontrar soluções técnicas e políticas no sentido de
maximizar a integridade dos ecossistemas e o bem-estar humano sem para isso comprometer
as gerações futuras, através da conservação dos valores ecológicos dos corredores fluviais bem
como das suas funções ecológicas e económicas de um modo sustentável. As acções de
restauração são um meio para o atingir, mas apenas um meio e não um objectivo per se.
Palmer et al. (2005) afirmam que para termos sucesso, precisamos não só de um quadro
13
coerente para avaliar o impacto das nossas acções, mas também de uma base sólida a partir
da qual possamos definir objectivos.
A vegetação ribeirinha funciona, no caso de não haver alteração pelo homem, como um
corredor ecológico que permite a existência de um continuum naturale entre os diversos
habitats naturais. Um ecossistema ribeirinho pouco intervencionado ou próximo das condições
naturais é constituído por um mosaico de formações vegetais com uma elevada diversidade
que resulta da combinação de muitos factores, entre eles, os climáticos, geológicos,
pedológicos, topográficos e históricos. Estes ecossistemas constituem meios de migração para
muitas espécies da fauna e flora e têm um papel importante na vida das comunidades
humanas, que utilizam os seus recursos e também neles estabelecem os seus espaços de lazer.
No entanto, estes ecossistemas ripícolas em bom estado de conservação são hoje em dia
escassos devido às perturbações induzidas pelas actividades humanas (Moreira et al., 2004).
Os ecossistemas ribeirinhos são habitats aquáticos de água doce, cujas águas se encontram em
movimento mais ou menos rápido, o que condiciona à partida as comunidades biológicas
capazes de colonizar ou habitar estes meios, quer sejam flutuantes ou nadadoras, que
submersas fixas aos fundos, quer parcialmente emersas e fixas nas margens (Alves et al.,
1995). A aridez, o relevo e a presença de solos deposicionais são os aspectos que mais
influenciam a extensão dos lençóis freáticos e dos ecossistemas ripícolas associados (Jonhson e
McCormick, 1979).
14
Figura 2.3. Esquematização das funções desempenhadas pela vegetação ripícola na paisagem (Saraiva,
1999).
Os corredores são faixas com vegetação de características específicas (que diferem da matriz
do terreno envolvente) que ladeiam os cursos de água (Figura 2.4). O corredor inclui não só o
curso de água e as suas margens, como também, se suficientemente largo, o leito ou planície
de cheia e as zonas adjacentes, ricas em vida selvagem (Valle, 1998). Devido às suas
características os corredores fluviais constituem elementos da paisagem a que tem sido
prestada muita atenção pelo que têm associado ao seu conceito, a perspectiva da conservação
e valorização da paisagem e dos recursos cénicos bem como de recreio.
15
As características estruturais essenciais dos corredores, extensíveis aos corredores fluviais, são
a largura, a conectividade e a qualidade (Forman e Gordon, 1986; Forman, 1997; Saraiva et al.,
1996; Morais 1997). A largura determina a parte do corredor exposta a intrusões físicas,
biológicas e antrópicas, ou ao efeito de orla. A conectividade representa a existência de
interrupções ao longo do corredor, originadas pelos mais diversos factores. A qualidade diz
respeito ao elenco florístico e varia com a conectividade e largura. Segundo Forman e Godron
(1986), as funções de habitat, condutor, filtro, barreira, fonte e destino dos corredores (Figura
2.5), desempenhadas também pelos corredores fluviais, variam com os parâmetros estruturais
de largura e conectividade. Se os corredores apresentarem interrupções de continuidade as
funções de filtro e barreira deixam de se exercer e as restantes podem ficar comprometidas.
16
A diversidade de usos, incluindo o abastecimento e armazenamento de água, produção de
energia, recepção de efluentes, controlo de cheias, produção florestal, extracção de inertes,
agricultura e pastagens, recreio e lazer, movimentação de espécies e habitat, entre outros,
mostra os conflitos e a competitividade existente entre as várias intervenções. Daí que o
planeamento, ordenamento e gestão destes recursos se torne um desafio. De uma forma
geral, nas intervenções efectuadas nos sistemas fluviais, os valores prioritariamente
considerados são os económicos, sendo os valores ecológicos, culturais e estéticos,
minimizados. Os aspectos estéticos e cénicos dos sistemas fluviais, apesar de terem grande
significado, são de difícil avaliação, o que faz com que, na maioria das vezes, sejam totalmente
ignorados (Valle, 1998).
As características ecológicas dos sistemas fluviais são essenciais ao desempenho das suas
funções biofísicas e paisagísticas (Saraiva, 1995), sendo estas:
17
1990 in Marques, 1995). Para além de serem de extrema importância para a dinâmica destes
ecossistemas, o regime e variabilidade das inundações interferem no denominado gradiente
transversal (Malason, 1993), sendo este, segundo Valle (1998) o factor mais significativo na
determinação da estrutura interna e funcionamento dos ecossistemas ripícolas. O gradiente
transversal consiste no fluxo bidireccional de energia, matéria e organismos, perpendicular ao
curso da água. Por outro lado, o gradiente longitudinal é também característico dos
ecossistemas ripícolas (trata-se de um fluxo de energia, matéria e organismos no sentido do
comprimento do curso de água) mas não se verifica tão facilmente devido à possível
fragmentação e descontinuidade apresentadas pelos sistemas fluviais.
Figura 2.6. a) Paisagem com (A) elevado e (B) reduzido grau de conectividade; b) relação de
conectividade entre a zona interior e bordadura (adaptado de FISRWG, 1998).
18
2.4. Enquadramento legislativo
Em Portugal são diversos os instrumentos jurídicos numa abordagem da gestão das linhas de
água. Contudo, estes instrumentos são muitas vezes ignorados ou insuficientemente aplicados.
De seguida enumeram-se os principais instrumentos do ordenamento territorial deste tipo:
O Domínio Público Hídrico (DPH) corresponde a um conceito que está na base da gestão
tradicional dos recursos hídrico, tendo o seu regime sido revisto e unificado em 1971 através
do Decreto-Lei 468/71. Este regime estabelece as noções de leito, de margem e a sua largura
bem como a de Zona Adjacente. Note-se que em 1994 foi revisto pelo Decreto-Lei nº46/94 o
regime de licenciamento das utilizações do domínio hídrico.
A Zona Adjacente corresponde à “área contígua à margem de um rio que se estenda até à linha
alcançada pela maior cheia que se produza no período de um século” (nº1 do Artº 14º),
alterada e definida pelo Decreto-Lei 89/87. A Zona Adjacente sujeita-se assim a restrições de
utilidade pública, para um mais eficaz controlo das edificações nessas zonas e actuação
preventiva em caso de avanço das águas do mar ou cheias extraordinárias dos rios.
A Reserva Ecológica Nacional (REN) foi estabelecida pelo Decreto-Lei nº93/90 e contempla as
zonas costeiras e ribeirinhas, as águas interiores, as áreas de infiltração máxima e zonas
declivosas, constituindo uma estrutura biofísica básica e diversificada que procura assegurar a
protecção de ecossistemas sensíveis e a permanência e intensificação dos processos biológicos
indispensáveis ao enquadramento equilibrado das actividades humanas.
A REN abrange zonas com uma grande interligação dos processos biofísicos com o ramo
terrestre do ciclo hidrológico, nomeadamente os processos de erosão, transporte e
sedimentação. Observa-se uma eventual sobreposição com o domínio público, subjacente aos
critérios de delimitação, principalmente em relação aos leitos dos cursos de água e zonas
ameaçadas pelas cheias.
Sendo assim, e no que respeita à ocorrência de cheias e a protecção destas zonas, a REN é de
uma importância relevante por incluir a delimitação das zonas ameaçadas por cheias,
considerando ainda a protecção das cabeceiras dos cursos de água e zonas de riscos de erosão
elevados.
19
É importante referir que a delimitação deste instrumento é obrigatória no âmbito dos Planos
Regionais, tanto os Municipais como os Especiais de Ordenamento do Território (PDM e PEOT).
A RAN está estabelecida pelo Decreto-Lei nº 196/89 e posteriormente alterado pelo Decreto-
Lei nº274/92, e os seus objectivos visam proteger os solos de maior aptidão agrícola,
garantindo a sua afectação à agricultura bem como um pleno aproveitamento das suas
potencialidades. De um modo geral, aplica-se através da delimitação dos solos de capacidade
de uso muito elevada e elevada (classes A e B), solos de baixas aluvionares e coluviais, entre
outros.
É importante referir que os estatutos da REN, no caso dos leitos de cheia e riscos de ocorrência
de cheias (muitos dos solos agrícolas encontram-se integrados em leitos de cheia), podem
sobrepor-se aos da RAN, podendo tornar mais efectivos os objectivos de protecção destes
solos. Por si só, a RAN pode permitir o alargamento ou sobreposição do contido no DHP.
A Lei da Água (Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro) transpõe para a ordem jurídica nacional a
Directiva Quadro da Água (DQA) e estabelece o enquadramento para a gestão das águas
superficiais, designadamente as águas interiores, de transição, costeiras e subterrâneas.
Nesta Lei da Água nº58/2005, a principal unidade para gestão das bacias hidrográficas passou a
ser a região hidrográfica (anteriormente era a bacia hidrográfica). A região hidrográfica, por
20
definição, corresponde à área de terra e de mar constituída por uma ou mais bacias
hidrográficas contíguas e pelas águas subterrâneas e costeiras que lhes estão associadas. Estas
regiões passam a ser também a unidade principal de planeamento das águas sendo este
concretizado através de três instrumentos: o Plano Nacional da Água, os Planos de Gestão de
Bacia Hidrográfica e os Planos Específicos de Gestão da Água. Destes instrumentos salientam-
se os Planos de Gestão de Região Hidrográfica, que constituem a base de suporte à gestão,
protecção e valorização ambiental, social e económica das águas. Os PGRH terão que ser
obrigatoriamente incorporados nos PDM, funcionando como instrumentos reguladores das
relações entre a Administração e os Cidadãos e Agentes de Desenvolvimento Sócio-
económico, no que concerne à Água.
Os PGRH das diversas regiões hidrográficas ainda não estão finalizados, nomeadamente o
PGRH das Ribeiras do Oeste. No entanto, em termos de fase de elaboração, a implementação
de todas as medidas está calendarizada até 2012.
Os PGRH irão incluir a descrição geral das regiões hidrográficas bem como a caracterização das
pressões naturais e incidências relacionadas com a actividade humana significativas e um
programa de medidas que garanta a prossecução dos objectivos ambientais estabelecidos na
Lei da Água em cada uma das regiões.
É de salientar que Portugal está obrigado pela DQA a atingir o bom estado ecológico das
massas de água de superfície até 2015, traduzido na definição de medidas de conservação e
reabilitação das redes hidrográficas e zonas ribeirinhas. No entanto, em 2008, 37,6 % das
águas superficiais, divididas pelas 15 bacias hidrográficas, apresentavam qualidade “má” (24,7
%) ou “muito má” (12,9 %) (Soares, 2009). Este valor é superior ao valor registado em 2007,
quando as águas com “muito má” e “má” qualidade” somavam 35,8 % e apenas 2,1 % das
massas de água apresentavam uma qualidade “excelente”.
Neste sentido, o desafio que se coloca a Portugal é grande e requer a articulação de meios
entre os vários agentes com responsabilidades na manutenção e melhoria da qualidade dos
recursos hídricos, uma vez que os níveis de degradação e poluição existentes implicam
intervenções que exigem investimentos avultados por parte dos organismos do Estado e
Autarquias.
21
alcançar o bom estado das águas de superfície (...)”. Por seu lado, o artigo 33º da Lei da Água
define as medidas de conservação e reabilitação da rede hidrográfica e zonas ribeirinhas, como
por exemplo através da “reabilitação de linhas de água degradadas e zonas ribeirinhas,
prevenção e protecção contra o efeito de erosão de origem hídrica, renaturalização e
valorização ambiental e paisagístico das linhas de água e das zonas envolventes”, entre outras.
22
Figura 2.7. Os aspectos morfológicos do rio determinam as funções ecológicas do rio (Binder, 1998).
Os processos geomorfológicos
23
Os principais processos fluviais constituem os processos de erosão, transporte e sedimentação,
tanto dos materiais resultantes da erosão das margens e do leito como dos produtos
resultantes da meteorização. Enquanto a meteorização é um processo natural de
fragmentação, desintegração e degradação lenta e contínua das rochas através de forças
exteriores, a erosão é a remoção e transporte de materiais.
A bacia hidrográfica
Para além dos aspectos geomorfológicos é importante o estudo da fisiografia fluvial, que inclui
o estudo da bacia hidrográfica, do canal e do leito do rio. A unidade básica para o estudo e
restauração de qualquer ribeira ou rio começa ao nível da sua bacia hidrográfica (Mitsch e
Jorgensen, 2004). A bacia hidrográfica é uma área definida topograficamente, drenada por um
curso de água ou por um sistema interligado de cursos de água tal que todos os caudais
efluentes sejam descarregados através de uma única saída (Lencastre e Franco, 2006).
Numa bacia hidrográfica podem ocorrer três grandes zonas geomórficas onde ocorrem
fundamentalmente: a erosão, o armazenamento e transporte e a deposição de sedimentos
(Figura 2.7).
A zona de erosão corresponde à zona das cabeceiras das linhas de água e às linhas de água de
ordem mais baixa e, dentro da bacia hidrográfica, às altitudes mais elevadas. Se a bacia se
origina em zonas montanhosas, o curso do rio tende a ser íngreme e recto e os vales são,
muitas vezes, em forma de “V”. As margens têm zonas ripícolas estreitas. A frequência e
duração das cheias variam muito dependendo da precipitação. Os rios de ordem média são as
principais condutas para os sedimentos, nutrientes e água. Nesta zona, os rios tendem a ser
íngremes e a forma do seu canal em “V” ou “U”. Com alguma deposição de sedimentos
grosseiros, forma-se uma planície estreita. Os sedimentos são muitas vezes removidos durante
as grandes cheias, as quais variam e dependem do tamanho e forma da bacia, do declive e da
precipitação local. A zona de deposição corresponde à zona de maior ordem das linhas de água
24
e de menor declive. A deposição de sedimentos é maior do que a erosão e transporte e os
declives do vale são suaves. Estes dois aspectos levam ao desenvolvimento de planícies
extensas e sinuosas e canais meandrizados.
Os canais fluviais
Para Schumm (1972) a distinção dos canais fluviais em termos de mais ou menos rectilíneos ou
sinuosos pode ser feita através do índice de sinuosidade, sendo este a relação entre o
comprimento do canal e o comprimento do vale. O regime de escoamento é também uma
característica importante na classificação das linhas de água, sendo que estes podem
distinguir-se em: regime permanente, intermitente e regime efémero. É de referir que na
região mediterrânica as cheias tendem a ser sazonais, principalmente na Primavera.
O leito do rio
Para o estudo dos processos fluviais e medidas de controlo ou restauração a implementar nos
rios é fundamental o conhecimento do perfil transversal e longitudinal do leito. O estudo do
perfil transversal das várias secções de um rio bem como o regime hidrológico, em frequência
e duração, são aspectos importantes para a restauração da vegetação dos cursos de água.
Segundo Christofoletti (1981) e FISRWG (1998), no leito de um rio é possível distinguir o leito
de vazante, o leito menor, o leito maior e o leito maior excepcional (Figura 2.8).
Figura 2.8. Esquema dos níveis de leito de um rio (adaptado de Christofoletti, 1981 e FISRWG, 1998, in
Durlo e Sutili, 2005).
25
O leito menor e o de vazante correspondem à parte normalmente ocupada pelas águas, o que
impede o surgimento de vegetação. O leito de vazante é marcado pela linha de máxima
profundidade ao longo do canal, o talvegue. O leito maior é caracterizado pela ocupação
sazonal, durante as cheias, e o maior excepcional, somente durante as grandes cheias (Cunha,
2001 in Durlo e Sutili, 2005).
Figura 2.9. a) Variação das características de um curso de água ao longo do seu perfil longitudinal; b)
Exemplo de um perfil longitudinal (Durlo e Sutili, 2005).
Os processos fluviais
Para Mitsch e Jorgensen (2004) a relação entre o rio e as planícies aluvionares é de grande
importância. Se alguma destas componentes é afectada, a outra irá alterar-se porque esta
relação está num constante balanço dinâmico entre a construção e a remoção dos seus
elementos. As planícies aluviais resultam da combinação entre a deposição de materiais
aluviais e a remoção das partículas do solo.
26
São dois os principais processos de deposição de materiais responsáveis pela formação da
maioria das planícies aluviais: a deposição na parte interior das curvas dos rios e a deposição
durante as cheias, nas margens do rio. Segundo Leopold (1964) “à medida que um rio se
movimenta lateralmente, os sedimentos são depositados no limite ou abaixo do nível do leito
máximo nas curvas dos rios, enquanto durante as cheias os sedimentos são depositados tanto
nestas curvaturas do rio como nas planícies aluviais adjacentes”. A degradação das planícies
aluviais ocorre quando a oferta de sedimentos é menor do que a descarga de sedimentos,
condição esta que pode ser causada naturalmente com as alterações no clima ou
artificialmente com a construção de uma barragem a montante (Mitsch e Jorgensen, 2004).
Neste sentido, a compreensão dos mecanismos que determinam a estabilidade dos taludes é
um dos fundamentos para a manutenção dos cursos de água. Com base neste conhecimento
será possível compreender os fenómenos e seleccionar as técnicas apropriadas para contornar
ou minimizar os eventos considerados prejudicais (Durlo e Sutili, 2005).
Para Freitas (2006) diferenciam-se dois tipos de factores (invariáveis ou variáveis no tempo)
que desempenham uma influência activa na estabilidade do talude. Estes factores estão
identificados e descritos na Tabela 2.2.
27
Tabela 2.2. Aspectos a ter em conta na análise de diversos factores que causam a instabilidade nos
taludes (Freitas, 2006).
28
Tabela 2.3. Os princípios da recuperação e restauro de corredores fluviais (adaptado de
Wasserwirtschaft, 1980 in Saraiva, 1999).
Princípio Descrição
O leito do rio, leito de estiagem, margens e leito de cheia constituem
Unidade uma unidade ecológica e funcional que deve ser considerada
globalmente
As paisagens fluviais têm uma variedade específica de estrutura e
biótopos, baseada na manutenção da cadeia trófica dos
Diversidade ecossistemas. As medidas a implementar devem ter em
consideração a diversidade estrutural do rio e das suas margens,
mantendo-a ou aumentando-a
Os processos de erosão e sedimentação e o seu equilíbrio com o
Dinâmica regime de caudal (frequência e duração) determinam as
características dos biótopos
Cada sistema fluvial tem a sua individualidade própria baseada nas
condições naturais e na influência humana na bacia, leito de cheia,
Individualidade
margens e curso de água. Deve-se contrariar a uniformização das
medidas a fim de evitar a monotonia nas paisagens fluviais
O rio e o vale aluvionar constituem biótopos cujas biocenosos se
Continuidade adaptam às condições locais. Devem-se preservar, recuperar ou
restaurara a continuidade dos sistemas fluviais
Deve procurar manter-se as estruturas existentes e ecologicamente
Manutenção orientada
mais desenvolvidas
Deve ter-se em conta a dinâmica e evolução dos processos naturais
quando se aplicam as medidas de intervenção e manutenção.
Desenvolvimento integrado
Qualquer intervenção significa uma perturbação na dinâmica do
sistema
Medidas de concepção naturalista são sempre preferidas em relação
Concepção naturalista a materiais inertes e rígidos. A combinação destes materiais também
pode originar elementos estruturais habitáveis para fauna e flora
Para Fernandes (1995) na gestão dos corredores fluviais devem ser conduzidos pelo menos
dois princípios: o princípio da intervenção mínima e o princípio da área mínima. O primeiro
define que a estabilidade dos sistemas é tanto maior quanto mais próximo do natural são as
suas componentes e funções e quanto mais diversificados são os sistemas integrantes e seus
reguladores. No segundo princípio, qualquer sistema exige uma área mínima para poder
evoluir de uma forma equilibrada, gerando e amortecendo as perturbações associadas à
variabilidade intrínseca das funções e processos naturais.
Para além da aplicabilidade das técnicas nas margens, leitos de cheia e áreas de erosão, é
fundamental definir estratégias de acção, tendo em conta a unidade principal – a bacia
hidrográfica, bem como ao nível local ou do troço. Na escala da bacia hidrográfica, a vegetação
29
constitui a “interface” das interacções entre a precipitação, a infiltração, as forças erosivas da
água que arrastam sedimentos, a geologia, os solos e os processos geomorfológicos.
Regra geral, qualquer tipo de alteração nos usos do solo gera perdas de coberto vegetal numa
escala local ou até mesmo regional (Saraiva et al., 2004). Por outro lado, para estes autores, a
recuperação da vegetação de apenas um troço é raramente bem-sucedida ou sustentável,
numa bacia hidrográfica em alteração dinâmica, embora a escala ser a mais indicada para se
dar início ao processo de recuperação de paisagens numa escala mais vasta. Apenas a
recuperação da galeria arbórea ribeirinha no leito de cheia, a uma escala regional, pode
melhorar a estabilidade destes sistemas de elevada mobilidade (Saraiva et al. 2004).
O troço ideal deve localizar-se geralmente ao nível dos 100-1000 metros do leito do rio,
margens e leitos de cheia. Nesta escala, os processos geomorfológicos tornam-se mais claros
em estudos com recurso a fotografia aérea ou através da cartografia do rio e da geologia da
bacia, numa extensão mais vasta.
A localização da vegetação ripícola vai depender de diversas variáveis de controlo (água, clima,
geomorfologia, uso do solo), o que influência directamente as funções desempenhadas por
estes ecossistemas (Figura 2.3). De acordo com as funções, bem como do objectivo da
restauração das galerias ripícolas, diversos autores (vide Ahola, 1990; Brown et al., 1990;
Berger, 1992) definiram valores para a largura de um buffer, consoante a função que
desempenha num determinado local (Tabela 2.4).
Tabela 2.4. Sumário de estudos sobre larguras de Buffer Strips (adaptado de Perrow e Wightman,
1993 in Valle, 1998).
Função do Buffer Largura Características Referência
(m)
1–2 Cursos de água pequenos Ahola (1989, 1990)
5 – 10 Cursos de água
Remoção de nutrientes 10 – 20 Rios
150 Planícies de cheia de rios Van der Hoek
(1987)
30
19 Cursos de água Peterjohn e Correll
Retenção de sedimentos
(1984)
Estabilidade das margens 30 Cursos de pequena ordem Erman et al. (1977)
10 – 20 Cursos de pequena ordem Karr e Schlosser
Controlo da temperatura da água
(1977)
15 Cursos de água Budd et al. (1987)
Manutenção da diversidade de
20 Cursos de água Dawson (1978)
espécies aquáticas
30 Cursos de pequena ordem Erman et al. (1977)
99 – 169 Rios de terras baixas Brown et al. (1990)
Manutenção da diversidade de
15 Cursos com cotas entre 240 Triquet et al. (1990)
espécies ripícolas
e 430 m
Multi-funções 150 Cursos de água Berger (1992)
Figura 2.10. O papel da vegetação nos processos hidrológicos e erosivos do solo (adaptado de Coppin
e Richards, 1990 in Raus, 2008).
Sempre que não exista vegetação na margem, é necessário proceder a alguma investigação
para compreender a situação. Muitas vezes o que se passa é precisamente uma sequência de
danos; para a sua correcção é decisiva uma identificação precisa das causas da remoção da
vegetação (Saraiva et al., 2004). Para os autores, a análise pericial que determina as causas da
instabilidade de taludes pode requerer um perfil técnico exigente (e.g. a identificação das
31
propriedades estruturais dos solos que constituem a margem e do substrato geológico
subjacente).
Segundo Schiechtl (1991) a bioengenharia (ou engenharia natural) refere-se ao estudo das
propriedades das plantas e a avaliação do seu comportamento, quando utilizadas como
material de construção vivo ou em combinação com outros materiais inertes na arquitectura
da paisagem. Na engenharia natural existem quatro objectivos principais (Tabela 2.5): técnico-
funcionais, ecológicos, paisagísticos e económicos.
Na engenharia natural podem ser utilizados materiais inertes ou vivos. Os materiais inertes
asseguram a estabilidade da estrutura enquanto a vegetação se desenvolve. Exemplos deste
tipo de materiais são: madeira (troncos, barrotes e estacas), pedra, metais (barras de aço,
pregos e arames), geotêxteis, mantas orgânicas e telas impermeáveis. Por outro lado, os
materiais vivos assumem a função de estabilização, anteriormente desempenhada pelos
inertes. Estes materiais são por exemplo estacarias de arbustos autóctones, plantas em torrão
e sementes de herbáceas pioneiras.
32
Na Tabela 2.6 estão descritas as principais vantagens e desvantagens do uso da vegetação
como material de construção face aos materiais inertes.
Tabela 2.6. Vantagens e desvantagens do uso da vegetação como material de construção face aos
materiais inertes (Fernandes, 1987).
Material vegetal
Não se degrada, regenera-se e tem uma capacidade de estabilização crescente;
Desenvolvem o papel protector de modo elástico, absorvendo com facilidade as acções
vantagens agressivas;
São biologicamente e ecologicamente activos;
Possibilitam a valorização paisagística de estruturas;
Não preenchem em todas as situações as exigências de consolidação e segurança
requeridas;
Exigem uma aplicação adaptada e dependente das características do local, não sendo
desvantagens
passíveis de construção em qualquer época do ano;
Atingem a sua eficácia técnica apenas após um certo intervalo de tempo;
Exigem normalmente mais espaço;
Material inerte
São mais estáveis;
São independentes das características do local e de aplicação menos limitada
vantagens temporalmente;
São imediatamente funcionais;
Exigem normalmente pouco espaço;
Tendem a perder a sua eficácia ao longo do tempo devido à corrosão e degradação,
não possuindo capacidade de regeneração;
desvantagens São estruturas rígidas e estáveis relativamente aos agentes agressivos;
Não preenchem quaisquer funções biológicas ou ecológicas;
Constituem elementos estranhos na paisagem;
33
Tabela 2.7. Principais vantagens e desvantagens das técnicas de engenharia natural.
Vantagens Desvantagens
Baixo custo; O período de construção é normalmente limitado
Reduzida manutenção a longo prazo à época de dormência vegetativa;
relativamente às obras de engenharia Disponibilidade de plantas autóctones poderá ser
convencionais; limitada;
Baixo nível de manutenção após a plena Métodos de construção intensivos e
adaptação da vegetação às condições locais; especializados;
Benefícios ambientais ao nível da criação de Dificuldade em encontrar técnicos e operários
nichos ecológicos, melhorias na qualidade da água especializados com os princípios construtivos
e enquadramento na paisagem; destas técnicas, sendo necessário promover uma
Aumento das forças estabilizantes do solo, prévia formação;
derivada do desenvolvimento contínuo das raízes;
As espécies vegetais possuem características que podem ser utilizadas para controlar
tecnicamente alguns processos fluviais, como erosão do fundo e das margens, deslizamentos,
desmoronamentos e transporte de sedimentos (Durlo e Sutili, 2005). A vegetação exerce no
solo uma função estabilizadora intensa e multifuncional, ao nível da protecção contra a acção
de agentes externos (precipitação, temperatura, vento, entre outros) e de agentes internos
(instabilidade, encharcamento, falta de coesão, entre outros), principalmente devido às
características do sistema radicular. No entanto, a existência de vegetação também ocasiona o
aumento do peso sobre o talude e de atrito proporcionado pelo vento sobre a copa
aumentando a tensão sobre o mesmo. Devido à influência da vegetação sobre o ciclo
hidrológico, o teor de humidade do solo e o nível do lençol freático também são alterados. Na
Tabela 2.8 estão representados os principais efeitos da vegetação na estabilização dos taludes,
em termos hidrológicos e mecânicos.
Tabela 2.8. Efeitos hidrológicos e mecânicos da vegetação na estabilidade dos taludes (adaptado de
Durlo e Sutili, 2005).
Efeitos hidrológicos Efeitos mecânicos
34
Cobertura das folhas no solo
Aumento da velocidade e da capacidade de Absorção do impacto mecânico da queda das
armazenamento da água (A/B); gotas, da maquinaria e do pisoteio (B);
Promove a irregularidade e a redução do Protecção do solo de outras forças erosivas
escoamento superficial da água (B); (vento, temperatura, etc.) (B);
Raízes
Melhora infiltração superficial da água no solo Auxílio da criação de agregados do solo, por acção
(A/B); física e biológica (B);
Aumento da porosidade e permeabilidade do solo Aumento substancial da resistência do solo (B);
(A/B); Redistribuição das tensões formadas nos pontos
Remoção de parte da água infiltrada que será críticos (B);
transforma ou evapotranspirada (B); Ancoragem das linhas de ruptura (B);
Aumento da coesão das partículas do solo (A/B); Restrição dos movimentos para suporte do peso
no talude (B).
A) efeito adverso da vegetação; B) efeito benéfico da vegetação
35
Figura 2.11. a) Evolução de um rio rectificado num rio renaturalizado, através da remoção das
construções das margens e promovendo a modificação natural do leito do rio; b) Propostas para a
transformação de um perfil regularizado num perfil “naturalizado” (Binder, 1998).
36
invertebrados tornam o solo mais permeável, originando uma percolação
mais rápida da água, reduzindo a retenção de água à superfície e
movimentos de deslizamento.
Será preferível a plantação alternada de espécies com aparelhos
radiculares aprumados (crescimento vertical e capacidade de penetração
Desenvolvimento
no solo) e de espécies com raízes superficiais (crescimento superficial), de
radicular
modo a que a permeabilidade seja a mais homogénea possível nas
diferentes camadas do solo.
Exprime a estabilidade conjunta do terreno e da raiz e a capacidade da
Resistência ao planta aumentar a capacidade de estabilizar o terreno. Depende das
desenraizamento características pedológicas do local, condições ecológicas (água, luz,
nutrientes), da espécie e da idade da planta.
O coberto vegetal da margem deve ser constituído por espécies com
Elasticidade e
parte aérea flexível, de modo em que em caudal de cheia os fustes se
deformação das plantas
dobrem sobre a margem, diminuindo a velocidade de fluxo nessa zona e o
lenhosas
arrastamento de materiais finos.
A vegetação exerce resistência ao corte devido à estabilização mecânica
do terreno (exercida pelas raízes), ao aumento da coesão capilar
Resistência ao corte
(evapotranspiração) e à criação de agregados de partículas (pela
actividade das raízes e microrganismos).
Propriedades e capacidades biológicas
Todas as plantas, sobretudo as latifólias, possuem a capacidade de se
Capacidade regenerativa regenerarem. Quando cortadas na base conseguem rejuvenescer e
aumentar significativamente a sua taxa de crescimento.
Capacidade das plantas de adaptarem ao ambiente em que vivem, como
Capacidade de adaptação por exemplo, reagindo à força exercida pelo vento e acção abrasiva da
neve.
Capacidade de algumas espécies sobreviverem durante duas a três
Resistência à submersão semanas submersas até dois terços de altura (Alnus glutinosa, Fraxinus
angustifolia e populus alba).
Capacidade de Capacidade de desenvolver gemas de renovo e raízes adventícias a partir
propagação vegetativa as partes do fuste ou das raízes, respectivamente.
De uma forma geral, as plantas a utilizar devem ser espécies pioneiras, devem reproduzir-se
vegetativamente e resistir ao enterramento e deve ser possível encontrá-las perto da zona de
intervenção. Salienta-se a importância das propriedades e capacidades biológicas da
vegetação, nomeadamente da utilização de métodos de propagação vegetativa por
estaca/cortes, dada a facilidade e adaptabilidade das plantas ripícolas e a minimização dos
custos financeiros.
Para Prada e Arizpe (sem data) estas propriedades não são muitas vezes consideradas nas
iniciativas de restauração de ecossistemas, incluindo projectos de recriação de habitats
ripícolas. A utilização de sementes e plantas baratas sem ter em conta a sua origem é
reconhecida como uma grande falha quando consideramos as alterações climáticas que têm
37
surgido na região mediterrânica nas últimas décadas. A prática mostra que a utilização de
plantas que estão adaptadas às condições locais é um dos factores que tem uma influência
positiva no sucesso da florestação e na evolução de novas populações, que crescem e se
desenvolvem dinamicamente num processo de interacção com o seu ambiente (Prada e
Arizpe, sem data). Para estes autores, a variação genética e adaptabilidade da maioria das
árvores ribeirinhas não é conhecida e as regiões de origem ao nível da espécie não estão até
agora determinadas.
De um modo geral e segundo diversos autores (Gray e Leiser, 1982; Begemann e Schiechtl,
1994; Morgan e Rickson, 1995; Florineth e Gerstgraser, 2000), a vegetação possui
características biotécnicas essenciais à estabilidade das margens dos rios. Para o sucesso na
escolha das espécies, além das características biotécnicas, devem ser considerados critérios
ecológicos, fitossociológicos e reprodutivos (Durlo e Sutili, 2005). Para Gray e Leiser (1982),
Morgan e Rickson (1995) e Florineth e Gerstgraser (2000) a escolha das espécies deve recair de
preferência sobre as espécies nativas do local (estão melhor adaptadas às condições edáficas e
climáticas específicas) e devem possuir uma forma de reprodução fácil e de baixo custo. As
plantas com capacidade de reprodução vegetativa são normalmente as ideais, o que não exclui
necessariamente as plantas que só se propagam por semente (Durlo e Sutili, 2005).
A estrutura das comunidades vegetais varia ao longo do contínuo fluvial, tanto em termos
transversais como longitudinais. O padrão espacial que as espécies vegetais adquirem ao longo
do corredor ripícola é dependente de inúmeros factores. Para Saraiva et al. (2004) os factores
que mais influenciam a distribuição das espécies vegetais incluem o relevo e a exposição solar,
a precipitação média anual, bem como os seus valores mínimos e máximos e a sua
distribuição, a frequência das cheias, a humidade do solo (a profundidade até ao nível freático
e a sua variação sazonal), a textura do solo, bem como a espessura dos horizontes, a
constituição química do solo e da água e o padrão espacial das espécies herbívoras. Por
exemplo, as espécies vegetais autóctones estão mais bem adaptadas às características dos
38
solos aluviais. Para o sucesso da estabilização das margens deve ser tido em consideração a
existência de várias zonas com características específicas (Figura 2.12).
A zona mais baixa da margem deve corresponder à existência de gramíneas e ervas associadas
a vegetação de porte arbustivo. De seguida surgirá a zona de árvores de porte pequeno e
médio. A zona mais afastada do leito do rio (onde o declive e o peso da vegetação não será
problema) corresponderá à existência de árvores de grande porte e vegetação que não seja
dependente de uma elevada humidade edáfica. Neste contexto, existem determinadas
espécies (pioneiras) que possuem a capacidade de criar condições para que outras se instalem,
no sentido de virem a formar as comunidades características do local.
39
Tabela 2.10. Espécies de vegetação ripícola mediterrânicas (adaptado de Prada e Arizpe, sem data).
Espécie Nome comum Família
Alnus glutinosa (L.) Gaertn amieiro-comum* Betulaceae
Arbutus unedo L. medronheiro Ericaceaie
Celtis australis L. lódão-bastardo Ulmaceae
Cercis siliquastrum L. olaia, árvore de judas* Fabaceae
Clematis vitalba L. Clematis** Ranunculaceae
Clematis flammula L. Clematis** Ranunculaceae
Coriaria myrtifolia L. coriaria Cornaceae
Crataegus monogyna Jacq. pilriteiro, espinheiro-alvar* Rosaceae
Dorycnium rectum (L.) Ser. erva-mata-pulgas** Leguminosae
Flueggea tinctoria (L.) G.L. Webster tamuxo** Euphorbiaceae
Frangula alnus Mill. sanguinho-da-água** Rhamnaceae
Fraxinus angustifolia Vah l. freixo-de-folhas-estreitas* Oleaceae
Hedera helix L. hera* Araliaceae
Humulus lupulus L. engatadeira** Cannabaceae
Laurus nobilis L. loureiro* Lauraceae
Ligustrum vulgare L. alfenheiro Oleaceae
Liquidambar orientalis Mill. liquidâmbar-oriental Altiginaceae
Lonicera etrusca G. Santi Madressilva** Caprifoliaceae
Lonicera implexa Aiton madressilva** Caprifoliaceae
Myrtus communis L. murta** Myrtaceae
Nerium oleander L. loendro** Apocynaceae
Pistacia lentiscus L. aroeira Anacardiaceae
Platanus orientalis L. plâtano-oriental Plantanaceae
Populus alba L. álamo-branco, choupo-branco* Salicaceae
Populus nigra L. choupo-negro* Salicaceae
Populus tremula L. choupo-tremedor Salicaceae
Prinis mahaleb L. cerejeira-de-santa-lúcia Rosaceae
Prunus spinosa L. abrunheiro-bravo, ameixeira* Rosaceae
Rubus ulmifolius Schott silva* Rosaceae
Salix spp. salgueiro, borrazeira* Salicaeae
Sambucus nigra L. sabugueiro* Caprifoliaceae
Tamarix spp. tamargueira Tamaricaceae
Ulmus minor Mill. negrilho, ulmeiro* Ulmaceae
Viburnum tinus L. folhado** Caprifoliaceae
Vitex agnus-castus L. agnocasto, árvore-da-castidade Verbenaceae
Vitis vinefera subsp. sylvestris (C.C. labrusca, videira-brava* Vitaceae
Gmelin) Hegi
* Espécies existentes em Portugal.
** Espécies existentes em Portugal e na zona Centro.
A seguinte descrição das espécies vegetais ripícolas provem da classificação dos Habitats
Naturais e Semi-naturais de Portugal Continental (Alves et al., 1995). Nesta classificação,
apesar da divisão dos regimes hidrológicos dos cursos de água em cursos de débito
permanente e temporário, tem-se em consideração a existência das flutuações climáticas
anuais pelo que, determinados troços dos cursos, que em situação normal, manteriam o
40
caudal permanente, acabam por secar em anos de fraca pluviosidade. Pretende-se apenas
uma abordagem geral do tipo de espécies encontradas nos habitats ripícolas (Tabela 2.11).
Tabela 2.11. Habitats e agrupamentos vegetais característicos dos ecossistemas ripícolas em Portugal
(adaptado de Alves et al., 1995).
Regime Tipo de comunidade Estrato Descrição e espécies
Habitat
hidrológico
Débito Comunidades dos Juncos, tamargueiras,
permanente leitos de cheia salgueiros, choupos e
amieiros
Comunidades ripícolas Arbóreo Salgueiros, amieiros,
choupos, freixos, ulmeiros,
lodão-bastardo,
sanguinhos, tramazeiras
Arbustivo Loendros, tamargueiras,
Habitats
tamujos, sabugueiros,
dulçaquícolas
silvas, caniços, canas e
de águas
adelfeiras
correntes
Herbáceo Bunhos e tabúas
Comunidades
submersas enraizadas
na vaza
Comunidades
flutuantes
Débito Azevém-baboso, rabaça,
temporário loendro, silva, tamujo
Bosques e Com espécies de folha Bétula, sanguinho-de-
florestas caduca e marcescente água, sabugueiro,
naturais - ripícola tramazeira, negrilho
As comunidades vegetais próprias dos leitos de cheia, os quais podem ficar cobertos por água
durante um certo período do ano e que, em regra, mantêm uma humidade edáfica elevada
mais ou menos constante, dependem precisamente destes altos teores de água no solo e
suportam a cobertura total ou parcial temporária pelas águas das cheias (Alves et al., 1995).
No nosso país, as comunidades dos leitos de cheia mais características são os juncais, os
tamujais, alguns salgueirais, choupais e amieirais, podendo ocorrer também casos de
formações turfosas, depressões húmidas, lagoas e lagoachos de planície e charcos
temporários, em situação marginal a cursos de água, que são periodicamente inundados em
épocas de cheia (Alves et al., 1995).
41
A ocorrência das espécies características das formações arbóreas ripícolas, segundo Alves et al.
(1995) depende das características edáficas e microclimáticas, do regime hídrico do curso de
água, e é fortemente condicionada pelo grau de intervenção humana que se faz sentir num
dado local. O mesmo se passa com as formações arbustivas ripícolas. A vegetação herbácea
ripícola é mais típica de situações de águas paradas embora também possa ocorrer em
margens espraiadas ou em meandros e braços mortos de cursos de água corrente.
Por bosques e florestas naturais entende-se, segundo Alves et al. (1995) pequenos bosques ou
bosquetes, frequentemente situados em encostas declivosas de zonas montanhosas, ou
encaixados em vales fluviais apertados, em terrenos com acessibilidade problemática,
rochosos ou pedregosos, de fraca ou nula aptidão agrícola e silvícola, o que representa o
principal factor responsável pela sua não destruição.
Os bosques e florestas naturais com espécies de folha caduca e marcescente podem constituir-
se ao longo das margens dos cursos de água, de lagos ou outros locais húmidos, formando as
conhecidas “floresta-galeria”. Para Alves et al. (1995) a composição específica destas é muito
idêntica dos bosques e florestas naturais com espécies de folha caduca e marcescentes
aluvionares:
42
2.7. Principais técnicas de recuperação da vegetação ribeirinha
43
No que diz respeito às técnicas de revegetação e/ou criação do habitat ripícola propriamente
dito, listam-se de seguida alguns métodos (Tabela 2.13).
Tabela 2.13. Principais técnicas de técnicas de revegetação e/ou criação do habitat ripícola.
Fonte Classificação Geral Sub-classificação Técnicas
Métodos vegetativos Estacas
Feixes
Banquetas
Esteiras
Tranças
Formas de plantio
Leivas
Métodos germinativos Sementes
Geotêxteis
Hidrosementeira
mudas
Acções preparatórias,
preventivas e de emergência
Deflectores ou espigões
Deflectores longitudinais
Tratamentos na linha de Arranjo de pedras e troncos
água Cilindros inertes
Feixes vivos
Obras longitudinais
Durlo e Sutili, 2004
Trança viva
Remodelação
Revestimento das margens Remodelação da barranca
Revestimentos do leito Plantio de leivas
Plantio em banquetas
Trança viva
Esteira viva
Revestimento com madeira
e blocos de pedra
Outros revestimentos
Cinto basal simples
Obras transversais de Soleira
consolidação Cinto basal saliente
Barragens de consolidação
Obras transversais
Cobertura de salgueiros,
Camada de ramos, Camada de faxinas,
Parede de faxinas, Parede berço com vegetação,
Parede banco de pilha, Troncos mortos,
Pontões, Pontões empaliçados, Pontões de pedras
Pontões cerca de acácias, Pontão de estrutura lenhosa
Árvore acidentada
44
As técnicas de restauração são instrumentos que permitem atingir uma determinada imagem
ou cenário objectivo, pelo que, segundo Lastra (2003), deve ser claro que: não existem
técnicas melhores ou piores bem como adequadas/eficazes ou não; o simples facto de utilizar
uma determinada técnica (mesmo sendo “suave”, “ecológica” e “verde”) não significa que se
realizou uma “restauração”; e ao aplicar as técnicas, tanto “duras” como “suaves”, podem ser
cometidos erros e danificar uma ribeira.
Em 1998 foi editado um guia de restauração fluvial, elaborado pelo grupo de trabalho de
restauração de rios, a Federal Interagency Stream Restoration Working Group (FISRWG), onde
se definiram os princípios, processos e práticas da recuperação destes ecossistemas. Este
documento permitiu uma base científica rigorosa para o desenvolvimento consequente de
técnicas e a sua implementação em campo.
Todas as técnicas de restauração são mais efectivas quando incluídas como uma parte integral
do plano de restauração. Geralmente a combinação de técnicas é necessária no sentido de se
direccionar às condições e aos objectivos desejados. A restauração efectiva irá responder às
metas e objectivos que forem definidos no processo de planeamento (FISRWG, 1998). A
decisão de se optar por um método, em detrimento de outro, é tomada com base nos
processos bem como pela disponibilidade dos meios de construção e manutenção disponíveis
e das limitações no uso dos solos.
No presente trabalho não se pretende a descrição das técnicas listadas na Tabela 2.12 e na
Tabela 2.13 mas dada a sua importância salientam-se as estratégias fundamentais de
recuperação fluvial definidas por Saraiva et al. (2004). Para estes autores as principais
abordagens à recuperação da vegetação de margens e cursos de água e de leitos de cheia
(Tabela 2.14) são a regeneração natural, as técnicas de sementeira, a hidrossementeira e os
geotêxteis, a plantação de árvores para efeitos estéticos ou para recuperação de habitat
natural, e os usos estruturais de espécies lenhosas (engenharia natural).
45
Tabela 2.14. Estratégias fundamentais de recuperação fluvial (adaptado de Saraiva et al., 2004).
Estratégia Descrição
Depende da avaliação precisa do troço e do local e da identificação objectiva dos
problemas.
Parte do pressuposto de que, para colonizar a zona ribeirinha, são garantidas
sementes de plantas autóctones. Contudo, se a zona tiver sido invadida por
A regeneração espécies exóticas, qualquer abordagem não interventiva terá como resultado a
natural expansão das espécies invasoras.
Devem ser consideradas as actividades humanas que possam ser prejudiciais para
o ecossistema ou leito de cheia.
Necessita da participação das entidades e da população, através de um processo
de educação ambiental.
O uso de espécies autóctones exige o conhecimento dos processos de germinação
e utilização de sementes, provenientes de viveiros locais ou da colheita directa no
campo. O conhecimento das etapas de colheita, armazenamento, sementeira,
plantio, drenagem e dormência é fundamental para minimizar os custos e perdas e
garantir que as sementes germinem em boas condições.
As sementeiras podem atingir um bom coberto vegetal a custos reduzidos,
Técnicas de
exigindo um elevado grau de avaliação, planeamento, execução e manutenção,
sementeira
durante os três primeiros anos.
Recomenda-se a cobertura da área semeada com recursos ao uso de fibras
orgânicas e longas (palha, feno, ramos secos) ou outras fontes de celulose Este
mulch arrefece a superfície do solo, aumenta a retenção de água e reduz o impacte
da precipitação e da saturação do sistema capilar do solo durante as chuvas mais
intensas.
As sementeiras são misturadas com uma pasta de celulose e com nutrientes. As
plantas autóctones têm muitas vezes associadas micorrizas ou fungos radiculares,
Hidrossementeira sem os quais o seu estabelecimento terá pouco sucesso.
e geotêxteis É preferível a utilização de materiais geotêxteis biodegradáveis fabricados a partir
de fibras vegetais (casca de coco, juta, cânhamo ou outras fibras de longa
duração).
Plantação de Implicam o controlo da localização e da densidade de árvores e arbustos.
árvores para A eficácia desta estratégia pode ser aumentada se as plantações se efectuarem
efeitos estéticos imediatamente antes da época das chuvas, diminuindo significativamente as
ou para necessidades de rega e aumentando as taxas de sucesso (e.g.. rega gota-à-gota).
recuperação do Convencer os proprietários dos terrenos a garantir usos adequados de métodos de
habitat natural rega pode constituir um enorme desafio.
Utilização de ramos, caules e raízes como elementos estruturais.
Implica uma mão-de-obra muito intensa e quantidades significativas de plantas
Usos estruturais
autóctones, o uso de maquinaria de maior envergadura (para projectos de maior
de espécies
dimensão), um planeamento mais pormenorizado, a envolvência de outras
lenhosas;
disciplinas.
bioengenharia
Vantagem de promover soluções ecológicas e expeditas para os problemas de
erosão.
46
2.8. Planeamento e implementação de um projecto de restauração ecológica
A restauração ecológica é uma actividade que nasce como resposta à degradação dos
ecossistemas, e portanto, os métodos para restaurar dependem do tipo de afectação e a sua
intensidade. A maior ou menor percepção que se tem destes tipos de degradação implica que
se implementem mais ou menos intensamente diferentes tipos de restauração (Lastra, 2003).
47
Figura 2.13. Formação de um ribeiro com meandrização (Binder, 1998).
Na literatura científica são diversas as metodologias definidas por diversos autores acerca do
processo de restauração ecológica de ecossistemas (vide Handel e Ehrenfeld, 1998; Laszlo et
al., 2007; Perrow et al., 2008; Aronson e Clewell, 2008; Comin, 2010). Em relação à
restauração de ecossistemas fluviais, as metodologias são igualmente numerosas (vide Dreher
e Heringa, 1998; FISRWG, 1998; Binder, 1998; Selles, 2001; Hughes e Klemm, 2002; Otto et al.,
2004; Melanson et al., 2006; Schueler, 2005; USDA, 2005; DEMAA, 2007), pelo que não existe
nenhuma metodologia única e adequada.
De uma forma geral, um projecto de restauração inclui uma etapa de organização (da
informação e recursos humanos) e caracterização da zona de estudo (os problemas e
oportunidades a considerar), uma etapa onde se desenvolvem as metas e objectivos, a partir
da qual se definem os cenários ou alternativas de restauração, e por último, a etapa da
implementação da restauração propriamente dita, que inclui a monitorização e a avaliação de
todo o projecto. Uma das metodologias de referência na restauração ecológica, no que diz
respeito à reabilitação de sistemas fluviais, é a metodologia definida pela FISRWG (1998),
representada na Tabela 2.15.
48
Tabela 2.15. Processo de desenvolvimento de um plano de restauração fluvial (adaptado de FISRWG,
1998).
Etapa Principais procedimentos
Definição dos limites
Criação do grupo participativo
Identificar fontes de financiamento
Organização Definir os pontos de contacto e a estrutura de decisão
Facilitar o envolvimento e a partilha de informação entre os
participantes
Documentar o processo
1 Recolha e análise de dados
Definição das condições existentes e causas de perturbação
Comparação das condições existentes com as condições objectivo ou
Identificação de problemas referência
e oportunidades Análise das causas de perturbação
Determinar como as práticas de gestão podem afectar a estrutura e
funções do corredor fluvial
Desenvolver um depoimento dos problemas e oportunidades
Definição das condições futuras desejadas
Desenvolvimento de Identificar a escala dos processos
metas e objectivos Identificar condicionantes e aspectos da restauração
2 Definir metas e objectivos
Selecção e desenho de Utilização de ferramentas de análise de suporte para seleccionar
alternativas de alternativas
restauração
Assegurar fundos para a implementação da restauração
Implementação da Identificar ferramentas para facilitar a implementação
restauração Distribuir responsabilidades da implementação
Instalar as medidas de restauração
3 Monitorização do progresso perante os objectivos
Tendências e recursos prioritários regionais
Monitorização, avaliação e
Actividades na linha de água
gestão adaptativa
Razões para avaliar os esforços da restauração
Modelo conceptual para avaliar a restauração
Cada etapa do plano de restauração fluvial é constituída por diversos procedimentos. Cada um
destes engloba várias medidas ou metodologias. Dada a extensa descrição por parte da
FISRWG (1998) para cada uma destas etapas e respectivos procedimentos, abordam-se de
seguida os principais aspectos a ter em conta num projecto de restauração fluvial. Não se
pretende uma abordagem exaustiva mas sim, no âmbito do presente trabalho, referir os
principais processos para uma posterior análise ao nível do caso de estudo, adequando os
procedimentos de cada etapa.
Organização
49
Os aspectos organizativos de um projecto de restauração são uma etapa importante na
medida em que facilitam a comunicação entre todas as partes envolvidas. e são adequadas
para identificar a motivação comum a todos os agentes, o ponto de partida para iniciar as
acções e definir dos objectivos. Alguns dos procedimentos estão descritos na Tabela 2.16.
Tabela 2.16. Principais procedimentos da etapa de organização num plano de restauração fluvial.
Permite reflectir os processos ecológicos relevantes na área em estudo.
Requer analisar a natureza das perturbações induzidas pelas actividades humanas
Definição dos
(incluindo a magnitude dos impactes) e a organização social das pessoas.
limites do
Inicia-se com a identificação das ribeiras ou áreas de recursos aquáticos que são
projecto
particularmente valorizadas pela comunidade (através de fórum público).
Devem reflectir os interesses e objectivos comunitários.
Deve ser constituído por cidadãos, grupos de interesse públicos, agentes económicos
e administrativos, e outros grupos ou indivíduos interessados na iniciativa de
restauração.
Devem estar envolvidos e ser informados e os seus valores e interesses devem
também incorporar as tomadas de decisão complementando a orientação técnica dos
Grupo agentes responsáveis.
participativo Deve garantir-se um número mínimo de participantes de modo a que exista
representatividade de todos os interesses.
A exclusão de certos interesses comunitários pode por em causa a legitimidade ou o
sucesso da restauração.
Um grupo extenso pode por em causa o processo, por ser impraticável em termos de
organização ou do processo ser longo.
Definição de Requer grupo com experiência técnica ampla, integrando disciplinas de engenharia
um grupo como biológicas/científicas, em particular na ecologia terrestre e aquática, hidrologia,
técnico hidráulica, geomorfologia e transporte de sedimentos.
Crucial para o sucesso da restauração.
Fundos de Devem ser mínimos ou substanciais e provenientes de diversas fontes.
financiamento O agente patrocinador irá certamente influenciar as tomadas de decisão na
restauração.
50
Segundo a FISRWG (1998), apesar da identificação de problemas e oportunidades poder ser
difícil, é a etapa mais importante no desenvolvimento do plano e do processo de restauração.
Os principais processos desta etapa estão na Tabela 2.17.
É importante referir que a condição de referência deve ser similar ao cenário original ou
próximo no qual o corredor fluvial foi nalguma etapa da sua evolução e em que se manteve
relativamente estável, com base em estudos efectuados ou em dados/caracterizações
históricas. No entanto, na maioria dos casos estas condições são desenvolvidas em
comparação com ribeiras ou sítios de referência que são identificados como um estado natural
e potencial do corredor fluvial.
51
A definição dos objectivos de restauração é essencial na orientação do desenvolvimento e
implementação dos esforços de restauração e no estabelecimento dos meios para medir o
progresso e avaliar o sucesso (FISRWG, 1998). Este processo deve integrar os resultados da
avaliação da estrutura e funções existentes e desejadas no corredor fluvial com os principais
valores políticos, económicos, sociais e culturais.
A definição das condições futuras desejadas para o corredor fluvial e zona adjacente deve
representar uma visão comum a todos os participantes e stakeholders. Esta visão deve ser
consistente com uma meta ecológica e global para a estrutura e funções do corredor
restaurado, visando um estado de equilíbrio dinâmico ou condições de funcionamento o mais
próximo possível deste estado.
52
Tabela 2.18. Factores a considerar na etapa de desenho de alternativas de restauração fluvial.
São três as questões críticas a responder nesta etapa:
(i) quais têm sido as implicações das actividades do passado na
Gestão das causas vs gestão da ribeira (análise causa-efeito)?
tratamento dos sintomas (ii) quais são as oportunidades para eliminar, modificar ou
atenuar essas actividades?
(iii) qual seria o resultado da melhora das condições no rio se
estas actividades fossem eliminadas, modificadas ou atenuadas?
Bacia hidrográfica/paisagem Devem ser consideradas as relações entre: riachos e rio; rio e
vs rios e ribeiras corredor; corredor e paisagem; paisagem e região.
Se as causas dos efeitos adversos das actividades podem ser realisticamente eliminadas então
a restauração total do ecossistema pode ser um objectivo viável. No entanto, se estas causas
não podem ser eliminadas, é crítico identificar quais serão as soluções que existem na gestão
das causas ou dos sintomas para alterar as condições do ecossistema e quais são os efeitos
destas soluções no ecossistema.
Como na maioria dos casos não é possível eliminar as actividades humanas que perturbam os
sistemas fluviais, o projecto de restauração deve fornecer as melhores soluções/práticas
possíveis para a manutenção das melhores condições, tendo em consideração aspectos os
aspectos económicos e objectivos sociais.
53
Os resultados (output) dos benefícios não monetários das acções de restauração são mais
difíceis de avaliar: podem ser alterações no valor do habitat, estéticos, populações, e
outros;
Análise
Pretende-se ponderar objectivamente todos os benefícios da restauração em relação aos
custo –
custos;
eficácia
Necessita de uma análise do incremento dos custos;
(ACE)
A ACE e a análise incremental não determina uma solução óptima como a ACB mas fornece
informação que os agentes de decisão podem utilizar para facilitar e suportar a selecção de
uma alternativa;
A restauração de um sistema fluvial envolve sempre determinados riscos,
independentemente da metodologia aplicada, pelo que o projecto poderá falhar;
A identificação dos riscos para cada alternativa é portanto importante para a tomada de
Análise
decisão;
de risco
Particularmente importante para projectos em grande escala que envolvam muitos
recursos e mão-de-obra ou a vida humana possa estar em risco se o projecto “falhar”,
nomeadamente a jusante.
Avaliação O facto de se realizar uma reabilitação do ecossistema não implica que a proposta não
de tenha efeitos adversos ou controversos: podem surgir impactes adversos a curto e a longo-
impacte prazo;
ambiental Estes aspectos devem ser considerados e avaliados para uma tomada de decisão.
A monitorização, a avaliação e a gestão adaptativa são componentes essenciais que devem ser
consideradas de modo a assegurar o sucesso da restauração fluvial (FISRWG, 1998). A
monitorização inclui a pré e pós-monitorização bem como a monitorização durante a fase de
implementação. Assim, fornece a informação necessária, documenta o sucesso da restauração
em termos de estruturas e funções do ecossistema e proporciona uma base de dados ou
passos-chave a serem utilizados em projectos semelhantes (Landin, 1995).
54
Tabela 2.20. Desenvolvimento de um Plano de Monitorização (adaptado de FISRWG, 1998).
Etapa Descrição
Definir a visão, metas e objectivos da restauração
Desenvolver um modelo conceptual
Definir os critérios de performance
Planeamento Definir os parâmetros e métodos de monitorização
Estimativa dos custos
Categorizar a informação
Determinar o nível de esforço e duração da monitorização
Definir responsabilidades,
Implementação e Garantir a qualidade dos dados,
gestão interpretar os resultados,
Gerir a informação
Não intervenção, manutenção ou adição/abandono de elementos do plano;
Resposta aos
Modificação dos objectivos do projecto;
resultados da
Gestão adaptativa;
monitorização
Documentação e divulgação dos resultados.
Para diversos autores (Armitage et al., 2001; Muokta et al., 2002; Korsu, 2004) a monitorização
permite avaliar quer a evolução do ecossistema, com base na relação biota/habitat, quer a
forma como o comportamento da estrutura do canal se reflecte nestas comunidades,
especialmente após o período das cheias. A monitorização anual da ictiofauna permite avaliar
a composição e a estrutura das comunidades, as quais são fortemente determinadas pelos
habitats fluviais e pela vegetação ribeirinha (Paller et al.,2000; Bash e Ryan, 2002; Shields et
al., 2003).
No entanto, a avaliação dos impactos ecológicos em rios urbanos, onde ocorre degradação
química e física, pode ser extremamente difícil, uma vez que alguns dos efeitos dos
contaminantes podem ser amplificados por influências mais fortes de canalizações, perda de
55
vegetação ripária ou outros agentes físicos causadores de impactos (Rogers et al., 2002).
Quando se faz monitorização em sistemas fluviais é frequente comparar troços com diferentes
graus de perturbação com locais o mais natural possível ou menos perturbados, que
correspondem à situação de referência. Esta é a metodologia preconizada pela DQA que
implica a prévia definição da tipologia, uma vez que a comparação só é lícita para o mesmo
tipo de massas de água. No entanto, se não existirem locais de referência, o que é comum em
áreas altamente urbanizadas ou em regiões marcadamente agrícolas, as condições de
referência podem ser seleccionadas a partir de um conjunto de locais que se verifique estarem
ecologicamente menos perturbados (Reynoldson et al., 1997).
No âmbito da monitorização, existem, portanto, vários índices que podem ser utilizados para
caracterizar a qualidade da água e do sedimento, para classificar as zonas ripárias, destinados
a avaliar a qualidade de todo o ecossistema fluvial, e caracterizar o habitat fluvial como um
todo (Innis et al., 2000; Carvalho, 2008). Para Washington (1984) o recurso a esses índices
constitui uma das metodologias mais utilizadas na apresentação de resultados relativos a
questões de gestão ambiental, principalmente porque representam a condensação de
múltiplas informações (e.g. vegetação ripária, qualidade biológica da água, qualidade química
da água) num único valor numérico. Embora os índices tenham algumas limitações associadas,
uma vez que podem reduzir uma grande quantidade de informação num único valor, com a
consequente perda de informação e simplificação conceptual (Verneaux, 1984; Metcalfe,
1989; Charvet, 1995; Charvet, 1999 in Carvalho, 2008), são amplamente utilizados porque
proporcionam informação de forma única, reprodutível e adaptável, utilizando uma escala de
valores universalmente compreensível, o que os torna extremamente importantes para os
gestores.
56
Vários autores sugerem que o sucesso da restauração pode ser baseado nas características da
vegetação (vide Walters 2000; Wilkins et al., 2003), na diversidade de espécies (vide Aarde et
al., 1996; Reay e Norton, 1999; Passel, 2000; McCoy e Mushinsky, 2002) ou através de
abordagens integradas que incluam diversas variáveis (vide Hobbs e Norton, 1996; Neckles et
al., 2002; SER, 2004).
57
58
3. CAPÍTULO III – CARACATERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DA RIBEIRA DAS
VINHAS E DO TROÇO EM ESTUDO
3.1. Introdução
Neste capítulo faz-se uma caracterização geral da parte da bacia hidrográfica da Ribeira das
Vinhas pertencente ao Concelho de Cascais e do troço de intervenção em termos biofísicos e
de cobertura vegetal, informação essencial para fundamentar as propostas de restauração
ecológica da zona a intervencionar bem como para qualquer proposta de ordenamento
territorial e de gestão dos recursos naturais. Numa primeira fase apresenta-se o
enquadramento da zona de estudo em termos de localização no Parque Natural Sintra-Cascais
e no Concelho de Cascais. Segue-se uma caracterização biogeográfica, biofísica e dos valores
florísticos relativa à bacia da Ribeira das Vinhas. No final realiza-se uma caracterização mais
específica de um troço da ribeira definido para uma proposta de requalificação.
A bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas encontra-se dividida entre o Concelho de Sintra e de
Cascais e, consequentemente, uma parte da bacia está dentro das delimitações do Parque
Natural de Sintra-Cascais (PNSC) (Figura 3.14). A bacia insere-se na região denominada pelo
INAG como Bacia Hidrográfica das Ribeiras do Oeste. A área total da bacia é de cerca de 26,2
Km2 (CMS, Plano Municipal de Ambiente), dos quais cerca de 14,5 Km2 pertencem ao Concelho
de Cascais. A Ribeira das Vinhas nasce a 478 m de altitude em pleno PNSC, desaguando em
Cascais, depois de percorrer 27,2 Km.
Figura 3.14. Enquadramento da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas (parte analisada no presente
estudo), no PNSC e no Concelho de Cascais.
59
A rede hidrográfica da bacia da Ribeira das Vinhas inclui várias nascentes na encosta Sul da
Serra de Sintra e é constituída por diversos cursos de água designados pelos nomes dos
topónimos por onde passam (Ribeira do Pisão, Rio da Mula, Ribeira da Penha Longa, Ribeira da
Atrozela, Ribeira dos Marmeleiros e Rio Doce).
O Maciço eruptivo da Serra de Sintra dota os cursos de água desta bacia, de um carácter
torrencial com forte capacidade erosiva. Na secção de montante dentro do Concelho de
Cascais a Ribeira das Vinhas toma o nome de Rio da Mula, existindo nessa secção uma
albufeira para o abastecimento de água do aglomerado de Cascais. Antes de entrar no
Concelho de Cascais juntam-se à ribeira dois tributários, a Ribeira do Pisão e a Ribeira da
Penha Longa.
Reino Holártico
Região Mediterrânica
Província Gaditano-Onubo-Algarviense
Subsector Oeste-Estremenho
Superdistrito Olissiponense
Clima
60
No contexto do presente estudo considerou-se a caracterização bioclimática feita pelo PNSC
pelo facto da região de estudo se situar no seu perímetro.
As temperaturas mais amenas fazem-se sentir junto ao mar, devido essencialmente ao efeito
atenuador desta massa de água sobre as temperaturas extremas (Baltazar e Martins, 2005). As
temperaturas mais baixas da região ocorrem com a proximidade da serra, devido ao efeito da
altitude (Figura 3.15). Os valores da precipitação anual na Serra de Sintra são mais elevados do
que nas áreas circundantes devido ao fenómeno das “chuvas orográficas”.
61
Figura 3.16. Gráfico termopluviométrico de: (a) Sintra/Pena; (b) Cabo da Roca (Baltazar e Martins,
2005).
Fisiografia
Com base nas curvas de nível (espaçamento de 1 m entre curvas) e pontos cotados foi gerada
uma Rede Triangular Irregular que por sua vez serviu de base para a elaboração de um Modelo
62
Digital do Terreno na forma de uma matriz regular de cotas e para a determinação de vários
parâmetros biofísicos: Altimetria, Declives, Orientação das Encostas e Humidade do Solo.
Relativamente ao relevo (Figura 3.17), a bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas apresenta
uma variedade característica da transição entre a Serra e o litoral, ou seja, entre valores de
altitude mais elevada devido à proximidade da Serra de Sintra e valores menos elevados mais
perto da costa.
Os cursos de água, pelo menos os principais, percorrem vales encaixados. De facto, os maiores
valores do declive na bacia hidrográfica em estudo ocorrem ao longo das linhas de água.
Na Tabela 3.22 pode observar-se que a classe de altimetria com maior representatividade é a
classe 100-200 m, que ocupa cerca de 59% da área, seguindo‐se a classe 0-100 m (36%). As
63
classes de altimetria mais elevada (200-400 m) são pouco significativas na bacia,
representando apenas 5% do total, sendo estas áreas características da Serra, no noroeste.
Tabela 3.22. Área (%) das classes de altimetria na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
Altimetria (m) Área (%)
0 – 100 36
100 – 200 59
200 – 300 4
300 – 400 1
Em relação ao declive (Figura 3.18 e Tabela 3.23) verificam-se valores diversificados pelas
diferentes classes ou seja, há uma distribuição relativamente homogénea. A área da bacia
ocupada pelos declives elevados (acentuado e muito acentuado) e baixos (plano e muito
suave) é igual (39%). Os declives médios (suave e moderado) representam cerca de 22% da
bacia hidrográfica.
64
Tabela 3.23. Área (%) das classes de declive na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
Declive (%) Classificação Área (%)
0–5 Plano 24
5–8 Muito suave 15
8 – 12 Suave 14
12 – 15 Moderado 8
15 - 25 Acentuado 16
> 25 Muito acentuado 23
Figura 3.19. Carta de exposição de vertentes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
65
Tabela 3.24. Área (%) das classes de exposição de vertentes na bacia hidrográfica da Ribeira das
Vinhas.
Exposição Valores (°) Área (%)
Norte 0 – 45, 315 – 360 31
Este 45 – 135 15
Sul 135 – 225 26
Oeste 225 – 315 29
Geologia e Litologia
Em relação à geologia (Figura 3.10 e Tabela 3.25), a bacia em estudo apresenta uma
dominância de calcários e margas (41%). Verifica-se a ocorrência de uma zona de granitos na
zona mais a montante da bacia, na Serra de Sintra. Mais para sul existe uma área considerável
correspondente a calcários e margas. A zona mais meridional da bacia, a zona mais urbanizada,
corresponde à Vila de Cascais, situada numa zona de calcários. Na zona intermédia da bacia
hidrográfica é possível encontrar solos de origem calcária e arenitos. Ao longo dos vales dos
rios principais encontram-se aluviões.
66
Tabela 3.25. Área (%) ocupada por cada tipo de formação geológica na bacia hidrográfica da Ribeira
das Vinhas.
Tipo de formação Área (%)
Aluviões 4.3
Areias 0.0
Calcários 16.5
arenitos e margas 0.8
calcários e margas 41.0
arenitos, pelitos e dolomitos 4.6
arenitos, pelitos e conglomerados 4.1
calcários, margas e arenitos 3.2
calcários e arenitos 11.7
rochas vulcânicas 0.0
Granito 8.7
filões e massas de traquibasalto 2.3
filões de rocha alterada ou não identificada 2.4
Outros 0.3
Total 100
Relativamente ao tipo de solos que se encontram na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas,
verifica-se (Figura 3.21) a existência de uma variedade de tipologias de solo, devido à
diversidade de formações geológicas, ao relevo e à proximidade a cursos de água.
67
Figura 3.21. Carta de solos da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
Segundo a classificação de solos da FAO (Tabela 3.26) a bacia hidrográfica é constituída por
cerca de 50% de cambissolos. Os solos do tipo fluviossolos e coluviossolos tomam proporções
reduzidas, de 6.2% e 6.5% respectivamente. Os luvissolos correspondem ao tipo de solo menos
significativo em toda a bacia. A restante área, cerca de 36.3%, corresponde à área social.
Tabela 3.26. Área (%) ocupada por cada tipo de solo na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
Em termos de capacidade do uso do solo (Figura 3.22 e Tabela 3.27) verifica-se que a área em
estudo apresenta na sua maioria solos do tipo E (48.1%). A proporção de solos B e C é
68
semelhante, sendo respectivamente de 11.7% e de 11.3%. Os solos do tipo D correspondem a
cerca de 7.6% do total da bacia da Ribeira das Vinhas. O restante território da bacia é ocupado
pela classe área social (21.3%). Ou seja, a maior percentagem dos solos tem capacidade de
uso muito baixa, com limitações severas.
Figura 3.22. Carta da capacidade do uso do solo da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
Tabela 3.27. Área (%) ocupada por cada classe de capacidade de uso do solo na bacia hidrográfica da
Ribeira das Vinhas.
Tipo de Solo Área (%) Área total (%)
A 0 0
Bs 8.9 11.7
B Bs + Ce 1.4
Bs + Cs 1.3
Ce 2.6 11.3
Ce + Cs 0.7
Ce + Cs + De 0.7
C Ce + De 3.6
Ch + Ee 0.3
Cs 2.1
Cs + Ce + Bs 0.4
69
Cs + Ce + De 0.0
Cs + De 0.9
De 0.7 7.6
De + Ds 0.6
De + Ee 1.1
De + Es 0.1
D
Ds 0.2
Ds + De 0.7
Ds + Ee + Es 3.7
Ds + Es 0.4
Ee 15.8 48.1
Ee + De 4.5
E Ee + Es 24.1
Es 0.1
Es + De 3.6
Área Social 21.3 21.3
Total 100.0 100
Na Figura 3.23 está representada a carta de ordenamento da bacia hidrográfica da Ribeira das
Vinhas. A maior parte do território pertence à classe Cultural Natural com 37,5%, seguida da
zona agrícola, com 9,8% (Tabela 3.28).
70
Figura 3.23. Carta de ordenamento da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
Tabela 3.28. Área (%) ocupada por cada classe de ordenamento do território na bacia hidrográfica da
Ribeira das Vinhas.
Categoria Área (%)
Agrícola (nível1) 8.4
Agrícola (nível2) 1.4
Cultural natural (nível1) 19.6
Cultural natural (nível2) 17.9
Desenvolvimento estratégico 0.0
Equipamento 1.3
Espaço Canal 3.8
Espaço Florestal 7.9
Espaço Industrial 0.3
Protecção e enquadramento 8.1
Turismo e recreio 8.5
Urbanizável 4.2
Urbano 18.5
Total 100
71
As condicionantes do ordenamento do território da bacia da Ribeira das Vinhas estão
representadas são maioritariamente representadas pela área do Parque Natural Sintra-Cascais
e da Rede Ecológica Nacional (Figura 3.24 e Tabela 3.29). O PNSC representa 37.4% em relação
à área total da bacia, constituindo a REN 20.7%. Por sua vez, o Domínio Público Hídrico
constitui a afectação às Ribeiras do Concelho, às bacias de retenção bem como às áreas
adjacentes aos cursos de água e domínio marítimo, representando 7.4% da área total da bacia
da Ribeira das Vinhas (Figura 3.25 e Tabela 3.29).
72
Figura 3.25. Carta de condicionantes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
73
Tabela 3.29. Área (%) ocupada por cada condicionante de ordenamento do território na bacia
hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
Servidão Tipo/Nome Descrição Área (%)
Resolução do Conselho de Ministros
Agrícola RAN 6.4
96/97 de 19 Junho 1997; artº13
Resolução do Conselho de Ministros
Área Protegida PNSC 37.4
1A/2004 de 08/01/2004; artº 20
Arqueologia Sítios Arqueológicos raio 25 m 0.2
Área adjacente da Portaria nº 349/88 de 1 de Junho;
3.3
Ribª das Vinhas artº11, nº5
Ribeira da Castelhana
Linha de água; Artº11 0.0
/ Boqueiros
Ribª das
Vinhas/Marmeleiros/
Linha de água; Artº12 0.2
Penha Longa/do
Algarve
Bacia de Retenção da
Bacia de retenção 0.5
Atrozela
Domínio Público
Bacia de Retenção
Hídrico Bacia de retenção 0.3
dos Marmeleiros
Ribeira das Vinhas Leito de cheia 0.8
Decreto-Lei 89/87 de 26 de
Área contígua aos
Fevereiro; Área adjacente; 100 m 0.2
cursos de água
para cada lado da linha de água
Albufeira do Rio da Decreto-Lei 502/71; Albufeira - zona
1.9
Mula de protecção e limite; 500 m
Domínio público Resolução do Conselho de Ministros
0.1
marítimo 123/98 de 19/10/1998; Artº11
Área total do DHP - 7.4
Resolução do Conselho de Ministros
Ecológico REN 20.7
96/97 de 19 Junho 1997; Artº12
Perímetro Florestal Decreto-Lei de 4 Janeiro de 1929;
Florestal 4.9
da Serra de Sintra Artº13
Património
- - 2.0
edificado
Planos de
- - 0.8
pormenor
POOC - - 1.4
Outros - - 18.9
Total - - 100
Relativamente aos habitats da bacia da Ribeira das Vinhas (Figura 3.26), localizam-se na sua
maioria na zona mais a montante e intermédia da bacia. Na zona mais a jusante da bacia, a
existência de habitats é muito significativa nas zonas adjacentes à Ribeira das Vinhas.
74
Figura 3.26. Carta de vegetação actual da Ribeira das Vinhas.
75
Tabela 3.30. Área (ha e %) ocupada pela vegetação dominante na bacia hidrográfica da Ribeira das
Vinhas.
Vegetação dominante Área(ha) Área (%)
Acacial 7.09 0.78
Azinhal 0.28 0.03
Canavial 3.36 0.37
Carrascal 416.65 45.83
Cercal 19.88 2.19
Culturas anuais 2.07 0.23
Eucaliptal 56.11 6.17
Formação de carvalhiça 39.52 4.35
Freixial 7.78 0.86
Pinhal 214.63 23.61
Prado húmido 3.26 0.36
Prado vivaz nitrófilo 12.01 1.32
Salgueiral 2.56 0.28
Sebe espinhosa 79.65 8.76
Silvado 1.20 0.13
Tojal 23.41 2.58
Ulmal 0.42 0.05
Zambujal 19.21 2.11
Total 909.10 100
Pela observação da Figura 3.27 verifica-se que o troço de intervenção se situa na zona média
do perfil, o que corresponde à zona geomórfica de armazenamento e transporte.
76
3.2.3. Qualidade e estado ecológico dos cursos de água
A maior parte dos rios em Portugal encontra-se num grave estado de conservação ecológica,
tanto em termos de qualidade da água como em termos de ecossistema propriamente dito
(estado e conservação dos habitats naturais associados). Os dados recentemente
disponibilizados no site do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) do
INAG permitem verificar em termos quantitativos e qualitativos o estado da qualidade das
massas de água.
Portugal está obrigado pela Directiva-Quadro da Água (DQA), transposta em 2005 para o
direito nacional pela Lei da Água, a atingir o bom estado ecológico das águas, em 2015. No
entanto, em 2008, 37,6 % das águas superficiais, divididas pelas 15 bacias hidrográficas,
apresentavam qualidade “má” (24,7 %) ou “muito má” (12,9 %) (Soares, 2009).
É de salientar que este valor é superior ao valor registado em 2007, quando as águas com
“muito má” e “má” qualidade” somavam 35,8 % e apenas 2,1 % das massas de água
apresentavam uma qualidade “excelente”. Segundo Soares (2009), no ano passado [2008]
nenhuma das estações de monitorização identificou água de “excelente” qualidade.
No contexto do presente trabalho, o estudo efectuado considera que “as Ribeiras do Oeste
apresentam uma situação preocupante, na medida em que 33,3 % das massas de água
77
apresenta qualidade “muito má” e 50 % tem “má” qualidade” e “as descargas directas nos
recursos hídricos, feitas nomeadamente pelas suiniculturas locais, representam o principal
problema” (Soares, 2009).
Segundo um estudo efectuado sobre a qualidade biológica das Ribeiras do Oeste (Vieira et al.,
sem data) a caracterização destes sistemas hídricos é ainda muito incipiente, quer em termos
hidrológicos, quer biológicos e de qualidade da água. Apesar de esta região possuir uma
elevada concentração industrial, muito diversificada (sobretudo agro-indústria) e uma
densidade elevada de explorações pecuárias e aglomerados populacionais sem tratamento de
esgotos, são escassos os dados sobre a qualidade da água. Para Viera et al. (sem data), a
maioria das bacias hidrográficas apresenta situações de água contaminada e fortemente
contaminada e nesta situação encontram-se as ribeiras das Vinhas e da Lage, bem como os
troços finais da maioria dos outros cursos de água (Tabela 3.31).
Tabela 3.31. Valores do índice biótico BMWP e caracterização dos locais de amostragem para os
locais de amostragem da Ribeira das Vinhas (adaptado de Vieira et al., sem data).
Largur
Largur
Índice Prof. C Uso do a da
Curso de a do O.D Uso do solo
B.M.W.P Médi (µS/c pH solo mata
água leito (mg/l) (marginal)
. a (cm) m) (vale) ripícol
(m)
a (m)
Agricultura,
Pinhal,
Rib.Vinhas matos,
V 1.5 20 0.07 1440 7.8 matos e 1-5
(montante) urbano e
urbano
industrial
Pinhal,
Urbano,
Rib.Vinhas urbano,
IV 1 20 8.0 1040 7.7 agricultura e 5 - 30
(jusante) matos e
matos
agricultura
Relativamente aos recursos hídricos, evidencia-se também o actual cenário de risco de cheias
em zonas ribeirinhas, nomeadamente em meio urbano. Neste contexto, é importante
considerar as potenciais consequências das alterações climáticas nos padrões dos regimes
hidrológicos das ribeiras. As alterações climáticas irão provocar uma redução das chuvas, mas
especialmente uma alteração do seu regime, aumentando as chuvas de Outono Inverno, e
reduzindo na Primavera e Verão, aumentando as temperaturas e portanto a
evapotranspiração, logo, aumentando o superavite de água no Outono e aumentando de
78
forma drástica o Défice da Primavera ao Outono (Santos e Miranda, 2006). Simultaneamente
aumenta a probabilidade de ocorrência de situações extremas como as grandes chuvadas
(muitas vezes torrenciais), conduzindo ao aumento de escoamentos superficiais pontuais com
cheias e as situações de secas sucessivas e extremas, que não são mais que as duas faces da
mesma moeda (Santos e Miranda, 2006; Sequeira, 2004; Sequeira, 2006). Esta situação já se
verifica (Espírito Santo, 1997; Sequeira, 2004; Sequeira, 2006, Sequeira, 2007), pelo que em
2009, foi constatado numa das zonas mais afectadas, Cascais e a Bacia do Rio da Mula
(Sequeira, não publicado).
O estado de degradação da Ribeira das Vinhas é conhecido há muitos anos, como resultado da
ausência de programas de conservação e manutenção das zonas ribeirinhas bem como dos
conflitos legais de usos do solo e água entre proprietários e responsáveis autárquicos da
gestão de linhas de água. Ao longo do curso de água da Ribeira das Vinhas verifica-se a
ocorrência de diversas inconformidades, nomeadamente de despejo de resíduos (Figura 3.28),
da canalização do leito (Figura 3.29), da existência de construções urbanas em Domínio Público
Hídrico (Figura 3.29 e Figura 3.30) e de esgotos ilegais bem como da ausência de coberto
vegetal nas margens, como resultado dos programas de “limpeza” para desobstrução das
linhas de água.
79
Figura 3.29. Zonas de leito canalizado e construções urbanas próximas da linha de água (Cascais).
Desde 2007 que a Agência Cascais Natura organiza um programa de voluntariado de jovens do
Concelho, o Natura Observa, cujo objectivo é a avaliação da qualidade ambiental das ribeiras,
através da caracterização biofísica das margens, identificação das manchas de vegetação ao
longo dos cursos de água e a análise da qualidade da água. Periodicamente ocorrem acções de
monitorização da qualidade da água, limpeza de resíduos e entulhos e reflorestação das
margens e zonas adjacentes.
Segundo o Relatório Natura Observa (Cascais Natura, 2009b) foram detectadas 119
inconformidades na totalidade das ribeiras do Concelho. Na Ribeira das Vinhas foi detectado o
segundo maior número de inconformidades, existindo pontos de elevada preocupação. A
título exemplificativo, nas proximidades do Centro de Apoio Social do Pisão o estado da ribeira
é grave devido às descargas constantes de efluentes orgânicos na ribeira, provenientes desse
Centro. Na ribeira que atravessa a Quinta do Pisão, registaram-se inconformidades como lixo
doméstico e entulho de obras. Para além destas, foram detectadas inconformidades gravosas
80
e bem localizadas, nomeadamente descargas de efluentes e mau cheiro no centro da ribeira,
local de confluência da Ribeira das Vinhas e da Penha Longa (Cascais Natura, 2009b).
Tabela 3.32. Valores dos parâmetros da análise da qualidade da água na Ribeira das Vinhas (Cascais
Natura, 2009b).
3.3.1. Localização
81
Figura 3.31. Localização da zona de intervenção, Pisão de Cima, Alcabideche (Cascais).
A zona de estudo, localizada na Quinta do Pisão em Cascais (Pisão de Baixo), está enquadrada
num projecto da Cascais Natura, o LINEU. A Agência Cascais Natura resulta de uma parceria
entre entidades públicas e privadas e tem por objectivo a preservação e o aproveitamento
lúdico, turístico e pedagógico do património natural de Cascais, assim como a melhoria da
qualidade de vida e promoção do desenvolvimento sustentável junto dos vários agentes
sociais e económicos.
O LINEU é a base de operações da Cascais Natura onde se faz a gestão de diversos projectos
(Eco-Parque do Pisão, Oxigénio, NaturaObserva, Pedra Amarela Campo Base, Caminhos Verdes
de Cascais). Assim, o LINEU é um projecto inovador que inclui infra-estruturas e recursos para
a informação e o conhecimento sobre o património natural de Cascais, no sentido de
promover a educação ambiental, o turismo de natureza e a investigação científica.
82
Na zona de intervenção, e enquadrando o objecto de estudo do presente trabalho, existem
algumas infra-estruturas por restaurar que darão lugar a um Centro de Estudos
Multidisciplinar. Este está projectado para uma programação diversificada para o público em
geral bem como para investigadores de diversas áreas que pretendam desenvolver estudos
sobre a fauna e flora, geologia, entre outros.
Figura 3.32. Ribeira que atravessa a Quinta do Pisão, Pisão de Cima (Cascais).
83
Figura 3.33. Zona adjacente à Ribeira que atravessa a Quinta do Pisão, Pisão de Cima (Cascais).
A designação de “Pisão de Baixo” provém da existência de antigos pisões na zona, sendo estes
mecanismos de moagem movidos a água. A recuperação e musealização deste património
(Azenha da Cartaxa) permitirá evidenciar a importância desta estrutura e actividade para as
indústrias moageiras e de produção de cal da época.
Fisiografia
84
No estudo da fisiografia da zona de intervenção elaboraram-se os mapas de altimetria (Figura
3.34), de declives (Figura 3.35) e de exposição de vertentes (Figura 3.36).
85
Figura 3.36. Carta de exposição de vertentes da zona de intervenção.
Pela observação da Figura 3.34 e Figura 3.35 verifica-se a existência, na secção mais a
montante do troço de intervenção, de uma zona plana mais extensa e portanto com declive
reduzido. As encostas do vale atravessado pela Ribeira apresentam declives mais acentuados,
principalmente na secção mais a jusante. Como a área de estudo é diferenciada em termos de
topografia, pela ribeira se encontrar num vale encaixado, a distribuição da exposição de
vertentes apresenta-se igualmente diversificada (Figura 3.36), no entanto, a
representatividade das encostas expostas às diferentes classes é, de um modo geral,
homogénea.
Geologia e Litologia
86
Figura 3.37. Carta geológica da zona de intervenção.
Na vertente sul existe alguma heterogeneidade devido à existência de uma grande zona de
calcários e margas (Formação de Cresmina), que contrasta com pequenas zonas de arenitos,
pelitos e dolomitos (Formação de Regatão) e de arenitos, pelitos e conglomerados (Formação
de Rodízio). Nesta vertente também existe uma zona considerável de calcários que, na
vertente norte (na margem oposta relativamente ao curso de água), toma toda a sua
expressividade. Assim, esta vertente é dominada por solos calcários designadamente
Formações de Cabo Raso e de Guincho indiferenciadas (calcários recifais e calcários com
Choffatelas e Dasicladáceas). A meio da zona de intervenção há a ocorrência de uma pequena
zona de filões de rocha alterada e/ou não identificada.
No que diz respeito aos solos (Figura 3.38), a zona de intervenção é caracterizada pela
existência de Fluviossolos na zona de linha de água. São solos incipientes, aluviossolos
modernos, calcários de textura mediana (IHERA, 1999), bastante móveis e com fraca
87
capacidade de retenção de água e nutrientes, pouco aptos para desenvolvimento da
vegetação.
O resto da zona de intervenção é formado por solos do tipo Luvissolos (50%), Cambissolos
(30%) e Afloramentos Rochosos (20%).
Os cambissolos (solos litólicos) são solos pouco evoluídos, frequentemente pobres do ponto
de vista químico e em matéria orgânica, de permeabilidade rápida e que evidenciam uma
acentuada erosão.
Através da análise da Carta de capacidade do uso do solo (figura 3.39) verifica-se que na zona
do curso de água existem solos do tipo B, ou seja, solos com limitações moderadas, com um
risco de erosão moderado e susceptível de utilização agrícola moderadamente intensiva.
88
Figura 3.39. Carta de ocupação do uso do solo da zona de intervenção.
No resto da zona ocorrem solos do tipo E, sendo estes solos caracterizados por limitações
muito severas. São solos com um risco de erosão muito elevado, não susceptíveis de utilização
agrícola e com limitações severas a muito severas para pastagens, matos e exploração
florestal, ou servindo apenas como suporte para a vegetação natural, floresta de protecção ou
de recuperação ou mesmo não susceptível de qualquer utilização.
89
Em termos de unidades de paisagem (Figura 3.40) a maior parte da zona de intervenção está
localizada na unidade designada Vales das Ribeiras/Vinhas. A secção mais a montante está
incluída na unidade Abano-Penha Longa. O Vale das Vinhas é caracterizado por possuir ainda
cultivos activos e agropecuária. A unidade do Abano-Penha Longa é caracterizada por
afloramentos rochosos e por uma ocupação dominante de mato.
90
Figura 3.41. Carta de ordenamento da zona de intervenção.
91
Figura 3.42. Carta de condicionantes da zona de intervenção.
A zona de intervenção está inserida no Parque Natural de Sintra-Cascais sob desígnio de Área
Protegida (Artº 20, Resolução do Conselho de Ministros 1A/2004 de 08/01/2004). A zona de
intervenção encontra-se também inserida na Rede Ecológica Nacional (Artº 12 Resolução do
Conselho de Ministros 96/97 de 19 Junho 1997). A secção mais a montante da zona de
intervenção está condicionada igualmente pela Rede Agrícola Nacional (Artº13, Resolução do
Conselho de Ministros 96/97 de 19 Junho 1997).
A linha de água reside em Domínio Público Hídrico sob desígnio da Ribeira das Vinhas e da
Bacia de retenção dos Marmeleiros. Sob Domínio Público Hídrico também está a área
adjacente à Ribeira das Vinhas, de acordo com Artº11 nº5 da Portaria nº 349/88 de 1 de
Junho.
92
3.3.6. Caracterização da vegetação
De uma forma geral, as encostas da ribeira são caracterizadas pela existência de pinheiro-de-
alepo (Pinus halepensis), pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e eucalipto (Eucalytus globulus).
Ocorrem manchas descontínuas e pontuais de espécies autóctones como lentisco (Phillyrea
angustifolia), carvalho-cerquinho (Quercus faginea), sanguinho-das-ribeiras (Frangula alnus),
zambujeiro (Olea europea var. sylvestris) e murta (Myrtus communis). A galeria ripícola
encontra-se muito fragmentada, existindo apenas alguns exemplares de freixos (Fraxinus ssp.),
salgueiros (Salix spp.) choupo-negro (Populus nigra) e pilriteiro (Crateagus monogyna) sendo
nalgumas zonas praticamente inexistente (Cascais Natura, 2009b).
93
Figura 3.43. Carta da vegetação actual do troço de intervenção.
94
Figura 3.44. Regeneração natural de freixos e ulmeiros na zona adjacente à Ribeira que atravessa a
Quinta do Pisão, Pisão de Cima (Cascais).
Na zona de intervenção são reconhecidos (Cascais Natura, 2009a) quatro biótopos: o pinhal, o
carrascal, o juncal/prado vivaz, e o freixial. O pinhal consiste num povoamento de pinheiro-de-
alepo (Pinus halepensis) com cerca de 40 anos e 10 metros de altura, no topo da encosta
(Cascais Natura, 2009a). As espécies encontradas neste biótopo são apresentadas na Tabela
3.33.
Tabela 3.33. Espécies vegetais encontradas no biótopo pinhal da zona de estudo por tipo de estrato
vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009a).
Estrato/Coberto Nome científico Nome comum
Arbóreo Pinus halepensis pinheiro-de-alepo
Phillyrea latifolia aderno-de-folhas-largas
Quercus coccifera carrasco
Olea europaea var. sylvestris zambujeiro
Pistacia lentiscus aroeira
Myrtus communis murta
Coronilla juncea pascoínhas
Rhamnus lycioides espinheiro-preto
Sub-coberto
Rhamnus alaternus sanguinho-das-sebes
Ulex jussiaei tojo-durázio
Daphne gnidium trovisco
Asparagus albus estrepe
Cistus monspeliensis sargaço
Smilax aspera salsaparrilha-bastarda
Lonicera implexa madressilva
Ruscus aculeatus gilbardeira
Vinca difformis vinca
Herbáceo
Arisarum vulgare candeias
- musgos
95
O biótopo carrascal, junto ao estradão florestal, contempla as seguintes espécies (Tabela 3.34):
Tabela 3.34. Espécies vegetais encontradas no biótopo carrascal da zona de estudo por tipo de estrato
vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009a).
Estrato/Coberto Nome científico Nome comum
Quercus coccifera carrasco
Quercus faginea carvalho-cerquinho
Olea europaea var. sylvestris zambujeiro
Arbóreo Pinus halepensis pinheiro-de-alepo
Eucalyptus globulus eucalipto
Cupressus lusitanica cipreste
Cupressus sempervirens cipreste
Phillyrea latifolia aderno-de-folhas-largas
Crataegus monogyna pilriteiro
Laurus nobilis loureiro
Pistacia lentiscus aroeira
Arbustivo
Osyris alba cassia
Asparagus aphyllus espargo-bravo-maior
Asparagus albus estrepe
Rhamnus alaternus sanguinho-das-sebes
Smilax aspera salsaparrilha-bastarda
Rubia peregrina raspa-línguas
Trepadeiras
Rubus ulmifolius silva
Rosa spp. rosa
Herbáceo Vinca difformis vinca
O biótopo juncal/prado vivaz ocorre na planície aluvial, de solos profundos e húmidos e com o
lençol freático próximo da superfície e apresenta as seguintes espécies descritas na Tabela
3.35. Neste biótopo verifica-se ainda a existência de ulmeiros.
Tabela 3.35. Espécies vegetais encontradas no biótopo juncal/prado vivaz da zona de estudo por tipo
de estrato vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009a).
Estrato/Coberto Nome científico Nome comum
Arbóreo Fraxinus angustifolia freixo
Rubus ulmifolius silva
Trepadeiras
Rosa spp. rosa
Scirpoides holoschoenus junça
“Juncal”
Phalaris coerulescens alpista-de-água
Dittrichia viscosa tágueda
Piptatherum miliaceum talha-dente
“Prado vivaz”
Achillea ageratum macela-de-são-joão
Dactylis glomerata panasco
Por último, o biótopo freixial constitui a galeria ripícola, sendo as espécies presentes as
seguintes (Tabela 3.36):
96
Tabela 3.36. Espécies vegetais encontradas no biótopo freixial da zona de estudo por tipo de estrato
vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009a).
Nome científico Nome comum
Fraxinus angustifolia freixo
Frangula alnus amieiro-negro
Ruscus aculeatus gilbardeira
Vinca difformis vinca
Smilax aspera salsaparrilha-bastarda
Rubus ulmifolius silva
Rosa spp. rosa
Phillyrea latifolia aderno-de-folhas-largas
Olea europaea var. sylvestris zambujeiro
Quercus coccifera carrasco
Quercus faginea ssp. broteroi carvalho-cerquinho
Anthirrinum majus bocas-de-lobo
Umbilicus rupestris umbigo-de-vénus
Polypodium cambricum polipódio
Asplenium ceterach douradinha
- musgos
Arundo donax cana-comum
97
98
4. CAPÍTULO IV – METODOLOGIA: PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO DE UM TROÇO DA
RIBEIRA DAS VINHAS, NA QUINTA DO PISÃO, CASCAIS
4.1. Introdução
4.2. Metodologia
A metodologia seleccionada para este trabalho foi baseada na metodologia definida pela
FISRWG (1998). Pretende-se adaptar esta metodologia (Tabela 3.15) seguindo a sua orientação
base em termos de etapas e adequando os seus processos ao caso de estudo. Os principais
pontos a considerar em cada uma das etapas estão descritos no capítulo 2 (secção 2.8).
É importante referir que muitos dos procedimentos não serão considerados, pelo facto de que
o principal objectivo deste trabalho ser a proposta de requalificação do troço relativamente à
vegetação, embora possam ser passos fundamentais na formulação de um projecto de
restauração fluvial. A metodologia proposta para este trabalho está representada na Figura
4.45.
99
Figura 4.45. Metodologia proposta para o local de estudo.
4.3. Organização
Esta é uma etapa considerada na metodologia da FISRWG (1998), mas cujos procedimentos
não estão no âmbito deste trabalho. No entanto, e dada a sua importância, na Tabela 4.37
sugerem-se algumas propostas que não foram consideradas ou que devem ser melhoradas e
que precede a metodologia proposta (Figura 4.45).
100
recuperação. O estado de degradação é igualmente reconhecido.
Reconhecem-se esforços de participação por parte de actividades voluntárias de
ocupação de jovens. Sugere-se o envolvimento de outras faixas etárias, indivíduos ou
grupos especializados na recuperação de ecossistemas, das populações locais e dos
Definição do proprietários dos terrenos. Sugere-se a implementação de métodos participativos
grupo que consigam envolver e cooperar todos estes agentes e que estes tenham um papel
participativo decisivo em termos de objectivos comunitários. Sugere-se o apoio de
especialista/técnico em métodos participativos ou métodos de participação activa.
Definir um número mínimo e diversificado de modo a evitar a exclusão de interesses
comunitários.
Sugere-se o envolvimento de especialistas em hidrologia e hidráulica, geomorfologia
e transporte de sedimentos bem como das áreas de biologia, ecologia terrestre e
Definição do
aquática. Sugere-se a utilização de disciplinas que integrem todas as áreas de
grupo técnico
actuação, a engenharia do ambiente, a engenharia ecológica e engenharia natural,
principalmente devido às suas metodologias e técnicas neste tipo de projectos.
Sugere-se a candidatura a subsídios comunitários. Propõe-se o envolvimento de
grupos não-governamentais (g.e. Quercus, Geota) e institutos especializados (g.e.
Fundos de
ICNB) para possíveis apoios financeiros, técnicos e de voluntariado. Garantir a
financiamento
transparência dos agentes financiadores e que estes sejam representativos dos
interesses comunitários.
Recolha e análise de
A recolha e análise dos dados já foi efectuada e está descrita no capítulo 3 do
dados
presente trabalho, tal como a definição das condições existentes, o que
Definição das
corresponde à caracterização geral da zona de intervenção (secção 3.3).
condições existentes
Coberto vegetal constituído por vegetação autóctone e em equilíbrio;
Espécies exóticas e espécies de carácter invasor controladas;
Curso de água mais próximo das condições naturais, com algum grau de
meandrização e elementos que permitam a renaturalização do leito e
margens;
Estabilização das margens com recurso à vegetação e técnicas de
Definição das bioengenharia;
condições objectivo Criação de habitats para fauna e flora da região e aumento da biodiversidade;
ou referência Bom estado ecológico da água e garantia dos caudais ecológicos mínimos;
Reaproveitamento da zona adjacente ribeira para regeneração natural por
vegetação autóctone;
Integração com os elementos paisagísticos que já existem no local, em
termos histórico-culturais;
Reaproveitamento do edificado para o desenvolvimento sócio-cultural e
ambiental da região, como pólo de atracção para cidadãos e estudantes.
Comparação das Perturbações induzidas pelas actividades humanas: poluição da água por
condições existentes parte das indústrias e urbanização a montante, despejo de resíduos,
101
com as condições alteração e rectificação do curso de água;
objectivo ou Perturbações na vegetação: perda da representatividade da vegetação
referência ripícola nas margens e na planície aluvial, existência de espécies exóticas e de
carácter invasor;
Outros aspectos: inexistência de caudais ecológicos mínimos, abandono e
degradação do edificado (e.g. muro de pedra entre linha de água e planície
aluvial).
As condições futuras desejadas para o troço de intervenção estão descritas na Tabela 4.39.
Pretende-se uma visão geral que inclua condições ecológicas e ambientais, sócio-culturais e
económicas. Esta visão deverá ser consistente com uma meta ecológica e global para a
estrutura e funções do corredor ripícola restaurado.
Tabela 4.39. Descrição das condições ecológicas, sócio-culturais e económicas desejadas a atingir com
a intervenção proposta desejada.
Condições Descrição
Coberto vegetal arbóreo e herbáceo característico de zonas ripícolas e com espécies
autóctones da região, nomeadamente através da existência de um bosque de carvalhos e
de uma floresta ripícola de freixos;
Controlo e inexistência de espécies exóticas e espécies de carácter invasor;
Ecológicas e Curso de água “naturalizado”, isto é, com características o mais próximas de rios
ambientais meandrizados, com margens estabilizadas com vegetação herbácea e arbórea;
Qualidade ecológica da água e garantia dos caudais mínimos ecológicos;
Garantia da conservação e manutenção do espaço intervencionado, através de programas
de sensibilização e participação ambiental, nomeadamente a limpeza de resíduos e a
protecção da zona;
Envolvimento da população local e regional nas actividades de planeamento,
implementação, manutenção, monitorização e conservação;
Existência de um pólo sócio-cultural e histórico da zona intervencionada, através da
inventariação e informação das actividades, estruturas e modos de vida que existiam
Sócio-
antigamente (recuperação do edificado, criação de museu, enquadramento da zona
culturais
ripícola e da várzea em termos de actividades agrícolas, etc.);
Existência de um pólo científico para o desenvolvimento da ciência na região (recuperação
do edificado e criação de um centro de interpretação e de estudos);
Existência de uma zona de eco-turismo (recuperação do edificado e espaços de lazer);
Promover o desenvolvimento sustentável, através da reutilização de recursos do local nas
diferentes tarefas e medidas de intervenção e o desenvolvimento local da população;
Promover a utilização de recursos e a realização de tarefas com o menor impacte
ambiental possível;
Económicas
Envolvimento dos parceiros económicos ou dos financiadores do projecto para a
sensibilização ambiental;
Desenvolvimento de metodologias e técnicas sustentáveis em termos económicos e
ambientais, com possível aplicação noutros troços da bacia hidrográfica;
102
4.5.2. Identificação da escala dos processos
A escala dos esforços de restauração pode variar significativamente, desde a intervenção num
pequeno riacho ou ribeira até à intervenção à escala da bacia hidrográfica. No presente
trabalho pretende-se intervir no troço da ribeira das Vinhas na Quinta do Pisão de Cima, sendo
os processos que ocorrem nesta ribeira os principais elementos e aspectos a intervencionar.
No entanto, estes processos não podem ser considerados de um modo isolado dado
influenciarem os processos à escala da paisagem, isto é, apesar da escala “objectiva” dos
processos ser o próprio troço de intervenção, a escala de “actuação ou influência” será mais
ampla, ao nível da paisagem envolvente. Os diferentes aspectos a considerar nas diferentes
escalas da intervenção estão descritos na Tabela 4.40.
Tabela 4.40. Descrição dos diversos elementos a considerar a diferentes escalas dos processos.
Escala Descrição
É importante que as metas e objectivos reflictam as preocupações e os aspectos prioritários
das populações que vivem na região e perto do local de intervenção, bem como dos
agentes de intervenção e manutenção do local, de modo a suportar a iniciativa da
restauração;
Deve ser promovida a iniciativa da restauração do troço de intervenção e o
reconhecimento geral das oportunidades de recuperação e conservação dos habitats
naturais da região, e a restauração de ribeiras deve ser vista como uma parte importante e
integrada na gestão de ecossistemas;
Deve ser reconhecida a dependência dos processos neste tipo de ecossistemas ao nível da
bacia, desde as condições geomorfológicas e hidrológicas aos aspectos relativos à poluição
Paisagem da água e degradação dos habitats ao longo dos cursos de água. As alterações nos usos do
solo podem ser preocupantes porque podem causar alterações drásticas no sistema fluvial
e adjacente, nos regimes hidrológicos, na configuração do leito e na distribuição das
comunidades.
Os desenvolvimentos futuros devem incluir a gestão dos usos do solo em relação à
manutenção dos regimes hidrológicos, input de nutrientes e poluentes com base no
respeito pelos habitats naturais ou oportunidades de restauração;
A continuidade é um dos principais aspectos nos sistemas fluviais pelo que estes suportam
diferentes áreas e tipos de ecossistemas, sendo uma “ferramenta” de manutenção da
biodiversidade a nível regional porque facilita a migração das espécies e previne o
isolamento das populações de animais e plantas.
Os objectivos de restauração que visam o restabelecimento de múltiplas funções ecológicas
Corredor implicam a consideração da linha de água, da planície fluvial, das encostas adjacentes e de
fluvial áreas buffer que têm o potencial de influenciar directa e indirectamente o curso de água ou
os processos dos usos do solo nas zonas adjacentes.
É a unidade fundamental para o desenho e a manutenção do corredor fluvial. No
estabelecimento de metas e objectivos, cada riacho ou ribeira deve ser avaliado no que diz
Ribeira
respeito à paisagem e às suas características individuais, bem como a sua influência nas
funções e integridade do corredor fluvial.
103
4.5.3. Identificação das limitações e das condicionantes da restauração
Elementos/ Descrição
Limitações
Análise rigorosa das características químicas e físicas da água e das fontes difusas e
pontuais de poluição a montante;
Implementação de medidas preventivas e sensibilização da população e indústrias
existentes a montante relativamente à qualidade da água;
Implementação de zona tratamento de água e análise da tecnologia/métodos
adequada, incluindo a viabilidade financeira;
Técnicos A aplicação de medidas específicas de restauração e engenharia natural implica o
conhecimento nesta área bem como a necessidade de gestão adaptativa no que trata
ao surgimento contínuo de novas técnicas e materiais;
Os responsáveis pela implementação das técnicas de restauração/engenharia natural no
terreno deverão estar actualizados acerca de novas metodologias, ferramentas e
técnicas bem como os técnicos responsáveis pela manutenção da linha de água
propriamente dita e da qualidade da água;
A análise da qualidade da água deve ser representativa da zona de estudo, garantido a
utilização de dados fiáveis e precisos;
Alguns dos dados utilizados para a caracterização da ribeira e zona adjacente
necessitam de uma maior acurácia relativamente à escala do projecto;
A informação utilizada para a caracterização da ribeira e zona adjacente poderá estar
Garantia da
desactualizada, pelo que será necessária a recolha e interpretação de novos dados;
qualidade
Estes últimos aspectos poderão estar limitados à utilização de material específico e a
estudos laboratoriais;
Para isto será necessária a ajuda voluntária e local para a monitorização de
determinados dados; no entanto, o estudo de diversos parâmetros requer pessoal
especializado.
Não Conflitos no uso dos recursos hídricos e do solo;
técnicos Viabilidade financeira.
Para definir metas de restauração realistas e viáveis, serão definidas metas primárias e
secundárias, como suporte à definição dos objectivos da restauração propriamente ditos
(Tabela 4.42).
104
Tabela 4.42. Metas e objectivos da restauração.
Metas e Descrição
objectivos
Estabilizar os taludes mediante a aplicação de técnicas preparatórias e preventivas e
medidas específicas no leito e nas margens;
Construir estruturas que promovam os habitats ripícolas (flora e fauna);
Aplicar técnicas de engenharia natural que utilizem recursos locais e naturais, com o
menor impacte ecológico;
Proporcionar o desenvolvimento da vegetação nas margens mediante a aplicação de
técnicas de sementeira, plantação de árvores e/ou regeneração natural;
Proporcionar o desenvolvimento da vegetação na zona de várzea e nas encostas do
vale, promovendo a regeneração natural e/ou mediante acções de plantação;
Objectivos da
Controlar as espécies exóticas e espécies de carácter invasor mediante a utilização de
restauração
métodos ecológicos e sem recorrer a herbicidas ou semelhantes;
Melhorar a qualidade da água através da implementação de técnicas/métodos
sustentáveis em termos ambientais e económicos (e.g. fito-ETAR) e actuar de forma
preventiva para com os responsáveis das indústrias e urbanizações a montante do
troço de intervenção;
Melhorar a qualidade dos solos nas zonas que se encontrem erosionadas ou sem
cobertura vegetal através da plantação de herbáceas/gramíneas e leguminosas;
Criação de espaços de lazer, enquadrando os valores naturais e a linha de água,
através da formação de acessos e com respectiva informação acerca destes valores;
Estabilização dos taludes
Renaturalização do curso de água
Recuperação e recriação da vegetação autóctone
Metas de
Controlo das espécies exóticas e espécies de carácter invasor
restauração
Melhorar os habitats aquáticos e terrestres
primárias
Melhorar e preservar a qualidade ecológica da água
Melhorar e preservar a qualidade dos solos
Melhorar os aspectos estéticos paisagísticos
Colaboração e mão-de-obra da população local para a implementação das operações
da restauração, e para a monitorização e manutenção do espaço intervencionado,
Metas de com especial atenção para pessoas com necessidades especiais (desempregados,
restauração inserção social);
secundárias Formação das populações locais relativamente a boas práticas de gestão da floresta,
recursos hídricos e galerias ripícolas;
Educação ambiental para as escolas do Concelho;
105
4.6.1. Factores a considerar no desenho das alternativas
No desenho das alternativas devem ser considerados alguns aspectos relativamente às causas
e tratamento dos sintomas das actividades ou condições nefastas (Tabela 4.43).
Tabela 4.43. Aspectos a considerar na gestão das causas e tratamento dos sintomas.
Quais têm sido as implicações das actividades do passado na gestão da ribeira (análise causa-
efeito)?
Regimes hidrológicos alterados (a ribeira seca nos meses mais quentes), gestão insuficiente das
quantidades de água nas cabeceiras da bacia hidrográfica;
Problemas na qualidade da água devido à existência da Unidade de Tratamento da Santa Casa da
Misericórdia a montante do troço; Resíduos encontrados na linha de água e margens;
Problemas na qualidade da água devido à existência de indústria pecuária a montante do troço;
Existência de espécies invasoras;
Existência de espécies não autóctones (e.g. eucalipto) e decréscimo do habitat potencial natural
(carrascal) que “ganham terreno” perante as existentes (e.g. canas);
Fisiografia do terreno alterado para produção agrícola na planície aluvial;
Construção de infra-estruturas para habitação e espaços exteriores, actualmente
abandonados/degradados;
Medidas de gestão mais a montante (cabeçeiras de água), como por exemplo, construção de açudes
ou bacias de retenção; medidas de intervenção ao longo dos cursos de água, para induzir a
infiltração de água nos terrenos, evitar o escoamento superficial e subterrâneo imediato, evitar a
canalização/rectificação dos rios criando zonas com maior sinuosidade;
Renaturalizar as margens dos rios com vegetação ripícola e da região;
Acções de voluntariado para limpeza dos resíduos e despejos e remoção de espécies invasoras;
Aplicação de técnicas de engenharia natural no leito e/ou margens para proporcionar melhorar o
habitat, renaturalizar estas zonas, permitir a infiltração da água no solo;
Recuperação do edificado para projectos de educação ambiental, desenvolvimento da actividade
científica, promover a cultura e história do local;
Plantação de árvores do habitat potencial;
Medidas preventivas na fonte relativamente à poluição da água;
Acções de sensibilização para com os proprietários destas indústrias e com a Santa Casa da
Misericórdia no sentido dos impactes das suas actividades nos ecossistemas;
Medidas depurativas ao longo do curso de água até ao troço, nomeadamente fito-remediação;
Aproveitamento da zona de várzea para diversos usos: educação ambiental, vegetação natural ou
produção agrícola, dependendo dos objectivos.
Qual seria o resultado da melhora das condições no rio se estas actividades fossem eliminadas,
modificadas ou atenuadas?
Melhoria das condições dos regimes hidrológicos durante o ano; garantia de um caudal mínimo nos
meses ou nalguns meses mais críticos; melhoria da qualidade da água;
Criação do habitat potencial natural ao longo do curso de água, margens e zona de várzea; melhoria
nas condições do solo;
Promover a cultura e história, a educação e sensibilização ambiental da população;
Criação de um caso de referência para poder ser aplicado em outras zonas críticas da bacia
hidrográfica; Envolvimento da população;
106
Neste trabalho não se pretende uma análise e aplicação de métodos de avaliação de suporte à
selecção de alternativas. Dado o objectivo deste trabalho e as limitações em termos de tempo
e recursos, serão definidas apenas a alternativa “zero” e uma alternativa propriamente dita,
pelo que não será efectuada nenhuma análise custo-benefício e/ou eficácia, análise de risco ou
avaliação de impacte ambiental. No entanto, serão considerados os benefícios, os riscos, os
custos e os impactes ambientais na sua avaliação.
Alternativas de Descrição
restauração
Não intervenção no local;
As características potenciais e futuras do local serão semelhantes à caracterização
da situação actual (capítulo 3, secção 3.3) com o risco de agravamento dos factores
problemáticos;
Risco do aumento da instabilidade das margens da ribeira bem como da cobertura
0
de vegetação destas zonas;
Risco de aumento da representatividade de espécies exóticas e espécies de carácter
invasor;
Risco de perda de habitats refúgio e migração para espécies, perda de espécies e
biodiversidade;
Contínua degradação da qualidade da água e acumulação de resíduos.
Intervenção no local;
Regeneração natural do bosque de carvalhos e da floresta ripícola, com intervenções
directas sobre o leito e margens de água, bem como da planície aluvial adjacente à
A linha de água;
Aplicação de técnicas de bioengenharia para renaturalização da linha e margens;
Controlo de espécies exóticas e espécies de carácter invasor;
Regeneração natural da vegetação ripícola e plantação de árvores na planície aluvial.
107
2003), cujos preços são relativos a 2003 e para Itália. Isto deve-se ao facto de serem poucos os
estudos/projectos em Portugal e com os respectivos orçamentos. Para além deste manual,
também serão considerados os preços definidos pela AIPIN (2002), também para a Itália.
A. A alternativa “zero”
Na alternativa “zero” não se pretende qualquer tipo de intervenção pelo que o local de estudo
permanecerá ou evoluirá naturalmente. Neste sentido, um cenário futuro para esta zona será
semelhante em termos de caracterização geral (capitulo 3), com o potencial agravamento dos
factores problemáticos.
Caso se opte por não intervencionar, a evolução do coberto vegetal será marcada pelo
aumento da representatividade das espécies exóticas (e.g. eucaliptos) e invasoras (e.g. acácias)
e portanto, pela redução das espécies autóctones e características da região. Isto irá reflectir-
se potencialmente na perda de espécies e da biodiversidade, nomeadamente dos habitats de
refúgio e/ou migração de determinadas espécies.
Com a perda da cobertura vegetal arbórea e herbácea, surge também o risco de perda de solo
produtivo e do aumento do risco de erosão, o que se torna problemático principalmente na
proximidade da linha de água. O estado de degradação e/ou abandono desta linha de água é
evidente e, caso não se actue, os problemas de erosão das margens, da queda do muro de
pedra, da queda de árvores de grande porte e/ou cujas raízes estão nuas devido à acção
erosiva da água, serão evidentes. Caso não se actue também em prol da melhoria da qualidade
da água e do estado ecológico, incluindo as acções de limpeza de resíduos, então não serão
atingidos os objectivos da DQA para 2015 relativamente às águas superficiais. Este facto terá
como consequências óbvias uma maior degradação destes ecossistemas bem como
implicações em termos legais para os responsáveis.
A. A alternativa “A”
108
a) Proposta geral
Relativamente à vegetação e habitats naturais, pretende-se a regeneração natural do bosque
de carvalhos e da floresta ripícola, com intervenções directas sobre o leito e margens de água,
bem como da planície aluvial adjacente à linha de água. Devido à existência de estruturas de
apoio à agricultura que eram utilizadas antigamente (e.g. muro de pedra entre a linha de água
e a zona de várzea), e tendo em conta que um dos objectivos passa pela criação de um pólo
sócio-cultural (e museu) que incida sobre as actividades que eram realizadas antigamente
nesta azenha, pretende-se o enquadramento destas estruturas no projecto de recuperação.
A existência de um muro de pedra que separa a linha de água da zona de várzea (Figura 4.46)
pode ser vista como uma potencial limitação à aplicação de técnicas de engenharia natural, no
entanto, serão aplicadas técnicas preventivas e longitudinais que incidam sobre a estabilização
dos taludes, a recuperação da vegetação e a remoção de elementos “perigosos” no curso de
água, tendo em conta a potencial ocorrência de cheias nos meses críticos. Estes elementos são
por vezes árvores de grande porte bastante instáveis com tendência a cair para o curso de
água e/ou árvores cuja zona de enraizamento foi fortemente erosionada pelas correntes de
água. Outros elementos como pedras grandes e seixos poderão ser removidos ou transferidos
para outros locais ao longo do troço de modo a criar zonas de deposição de sedimentos e
estabilização das margens, bem como de recuperação da vegetação.
Figura 4.46. Muro de pedra que separa a linha de água e a zona de várzea na Quinta do Pisão, Pisão de
Cima (Cascais).
109
Nas margens da ribeira e na planície aluvial (Figura 4.47) pretende-se a regeneração natural da
floresta ripícola, através da sua protecção e manutenção bem como da aplicação de medidas
de protecção e de controlo das espécies exóticas e de carácter invasor. De modo a possibilitar
a entrada de água nesta planície, pretende-se a reabertura de zonas no muro. Esta medida
também permitirá o aumento do efeito de bordadura e a criação de mais zonas de contacto
entre os habitats terrestres e aquáticos.
b) Medidas de intervenção
110
pois estas plantas (principalmente as gramíneas) possuem um sistema radicular fasciculado,
espesso e longo, melhorando as qualidades do solo. O facto da maioria das plantas herbáceas
serem pioneiras das plantas de maior porte é importante devido à capacidade de disponibilizar
nutrientes e matéria orgânica, reter a humidade, descompactar e arejar o solo.
Embora a existência de árvores nas margens seja importante para a estabilização, não devem
ser incentivadas com a mesma intensidade que a vegetação arbustiva e herbácea. O peso das
árvores de grande porte pode ser prejudicial para a estabilidade do talude e podem constituir
uma barreira física, formando barragens temporárias, caso caiam na linha de água. Assim,
devem ser conservadas as árvores que estejam localizadas nas zonas mais afastadas das
margens.
Limpeza do leito
Pretende-se a remoção de materiais da linha de água e das margens, desde resíduos e
despejos intencionais como de pedras e materiais vegetais que estejam a impedir ou dificultar
a livre circulação da água. Estes materiais poderão ser utilizados ou localizados
estrategicamente em zonas adequadas de forma a aumentar a estabilidade das margens.
111
De acordo com a AIPIN (2002), a mistura de sementes a aplicar deverá ser uma quantidade
variável de 30 a 100 g m-2, sendo esta composta por sementes de gramíneas e leguminosas.
Depois de se lançarem as sementes ao solo, estas devem ser ligeiramente cobertas com
terreno. A sementeira deverá ser efectuada no período de actividade vegetativa, tendo o
cuidado de proceder posteriormente a irrigações, adubações e cortes periódicos. As exigências
específicas na plantação da vegetação herbácea estão indicadas na Tabela 4.45.
Esta técnica, segundo a AIPIN (2002) tem um custo médio de 0,93 €/m 2. e para Venti et al.
(2003) tem um custo de aplicação entre 0,41€ a 0,77€ por m2.
112
Para iniciar uma plantação de floresta e arbustos, as plantas lenhosas são cultivadas em
viveiros e escavadas, sem terra, de modo a que as suas raízes fiquem nuas. Estas são depois
plantadas muito cuidadosamente em buracos preparados e em dias sem geada. A distância
entre plantas depende das condições locais. As plantas lenhosas mais sensíveis devem ser
escavadas em conjunto com a terra de envasamento e protegidas com tecido ou juta para
transporte. A plantação pode ser feita durante todo o ano. As exigências específicas das
espécies relativamente à plantação estão descritas na Tabela 4.46.
Tabela 4.46. Exigências específicas das plantas dos estratos arbóreo e arbustivo, durante a plantação.
113
estimular a sua capacidade protectora: a poda proporciona um maior enraizamento e a
diminuição da secção de vazão bem como a retenção de materiais vindos de montante.
Uma das medidas preparatórias é a correcção dos taludes fortemente erosionados através da
modelação “simples” do terreno (Figura 4.49), e consiste em escavar as margens de modo a
que adquiram um declive apropriado. Os critérios mais convenientes a este tipo de
intervenção estão subjacentes ao material que compõe o solo, condições de mistura,
vegetação a instalar, situação de pressão e condições hidráulicas existentes no local.
Nas zonas em que os taludes se assemelham ao perfil original da figura indicada, estes não
permanecerão estáveis por muito tempo devido à acção erosiva da água. A modelação do
terreno pode, na maioria dos casos, ser suficiente para a estabilização da margem porque
diminui o risco de queda/erosão de materiais e proporciona uma inclinação suficiente para a
estabilização da vegetação natural.
Esta modelação do terreno não deve ser feita no período de caudais máximos ou de cheia e
deverá ter em conta a época de propagação da vegetação a instalar. A aceleração da cobertura
superficial da margem será efectuada com a aplicação de cobertura de palha e pela
implementação da própria vegetação, por semente, por sementeira e por estacaria,
dependendo do tipo de espécie.
114
Como medida preparatória, pretende-se também a implementação e fixação adequada de
materiais vários (ramos, troncos, árvores e pedras) nas margens que necessitam de protecção
adicional (Figura 4.50).
Figura 4.50. Utilização de árvores inteiras como medida preventiva de margens erodidas (Durlo e
Sutili, 2005).
Medida aplicada no próprio leito, que se baseia na remoção deste tipo de material e a sua
deposição em locais estratégicos para a correcção de pequenos focos de erosão, para realinhar
o eixo longitudinal do canal e para a modelação e o revestimento das margens.
Muro de vegetação
Para as zonas em que será necessário corrigir a estrutura do muro de pedra, pretende-se o
revestimento da margem com uma combinação de troncos (estacas) de madeira (viva) e
blocos de pedra. Esta medida tem como objectivo a fixação de materiais nas margens de modo
a conseguir o máximo de estabilidade e protecção física imediata. A combinação com estacas
vivas ou o uso de faxinas em associação com o revestimento inerte permite a aceleração e a
garantia da estabilidade bem como proporcionar o crescimento da vegetação e melhor o
aspecto estético da obra.
Devido à existência do muro de pedra entre a linha de água e a zona de várzea, pretende-se a
construção de uma parede com vegetação do tipo representada na (Figura 4.51).
115
Figura 4.51. Parede com pedras, troncos e estacas vivas (Durlo e Sutili, 2005).
Todos os elementos são fixos em conjunto e as estacas de madeira são enraizadas. Com o
tempo o material vegetal vivo desenvolve-se. Segundo Venti et al. (2003) é uma técnica
imediata, eficaz e resistente à pressão da água, o material vegetal utilizado facilmente se
desenvolve (estacas com capacidade vegetativa). As desvantagens decorrem de erros de
ancoramento na margem e da introdução das estacas ou faxinas fora do período de repouso
vegetativo, o que põe em causa toda a estrutura e a estabilidade do talude. Para os mesmos
autores, o custo médio de aplicação desta técnica por m-2 varia entre 46,48 € e 54, 23 €.
Em alternativa, consoante o perfil do leito e a estrutura do muro de pedra, poderá ser utilizada
uma parede de faxinas como representado na seguinte Figura 4.52.
116
A parede de faxinas é um elemento de bioengenharia vertical e é constituída por um conjunto
de faxinas posicionadas verticalmente e fixas a troncos de madeira de 20 – 25 cm com corda. O
comprimento destes troncos é de 3 m dos quais 2/3 estão enterrados no solo (Raus, 2008).
No caso da remoção do muro de pedra que separa a linha de água da planície aluvial, a
intervenção em termos de técnicas de engenharia natural será diferente. Neste caso poderão
ser utilizados os “rolos de faxinas” (Figura 4.53) no talude ou um muro de vegetação “simples”
(Figura 4.54).
O “rolo de faxinas” consiste num conjunto de ramos vivos de salgueiros atados de modo a
formar um feixe com um diâmetro de 0,30 m. Cava-se um canal horizontal onde é colocada a
faxina, crava-se a estaca vertical e por fim enche-se com terra. Apenas os ramos do topo da
faxina ficam à mostra.
O material vegetal a utilizar será espécies com capacidade de reprodução vegetativa (e.g.
salgueiros), arame de ferro (diâmetro de 2/3 mm) e arame de ferro reforçado (diâmetro de
12/16 mm) e estacas de madeira (diâmetro de 8 a 12 cm) para fixação.
Segundo Venti et al. (2003) é uma técnica simples e rápida de aplicar e o material a utilizar tem
uma boa adaptação e desenvolvimento pelo que os resultados a obter serão rápidos. No
entanto, o enraizamento da vegetação é superficial e a estrutura é susceptível aos
movimentos de massas de terra. Para os autores o preço de implementação varia entre 76,0 €
e 27,37€ por m-2.
117
No caso da inexistência do muro de pedra poderá também ser implementando um muro de
vegetação ou grade viva “simples”. Após a correcção da inclinação do talude (Figura 4.49), o
muro de vegetação será construído abrindo valas a uma distância equidistante e introduzindo
as estacas como representado na seguinte (Figura 4.54).
Figura 4.54. Muro de vegetação com: (a) estacas; (b) e plantas; c) em perspectiva (adaptado de Venti
et al., 2003).
Nesta técnica devem ser utilizadas estacas com capacidade de enraizamento ou introduzir
directamente as plantas. No início a protecção da margem não é significativa e depende da
quantidade de estacas utilizadas, que podem ser introduzidas em paralelo ou cruzadas umas
às outras. Quanto maior for o número de estacas maior será o efeito de protecção e o
crescimento vegetativo. De modo a fixar as estacas ao talude podem ser utilizados troncos ou
pedras na base das estacas antes de as introduzir no terreno.
118
O período ideal para a realização da intervenção é durante o repouso vegetativo, embora em
zonas montanhosas possa ser implementada até Abril. No caso de intervenções fora da
estação, torna-se necessário o uso de uma irrigação de recurso.
Segundo a AIPIN (2002), as valas escavadas deverão ter uma profundidade entre os 50- 100
cm, com uma contra inclinação mínima de 10º. Para inclinações de talude entre 25°-30°
aconselha-se uma distância entre as escavações sucessivas de 1-1,5 m, enquanto para
inclinações inferiores a 20° se aconselha uma distância entre os 2-3 m. Portanto, a distância
entre as escavações é variável consoante a inclinação do talude. Nesta técnica devem ser
utilizadas estacas de espécies arbustivas pioneiras, com uma altura de 100 cm (comprimento
superior em 10-20 cm relativamente à profundidade da escavação) e de diâmetro 1-3 cm,
entre as quais se incluem as espécies.
Soleira simples
Ao contrário das restantes medidas, esta é uma técnica de consolidação que tem como
objectivo principal a estabilização e a consolidação do fundo bem como das margens dos
cursos de água, proporcionando um habitat piscícola (Figura 4.55 e Figura 4.56). Corresponde
a uma estrutura de madeira transversal ao eixo longitudinal do rio, com a parte superior
situada ao mesmo nível do fundo do leito. O diâmetro e comprimento do tronco de madeira
são variáveis consoante a largura e volume da água. Estrutura tipicamente simples e fácil de
aplicar, e com custos reduzidos (Durlo e Sutili, 2005).
119
-
Figura 4.56. Perspectiva em corte de uma soleira simples para criação de habitat piscícola (Bastien-
Daigle et al., 1991 in Melanson et al., 2006).
Esta medida permite a redução da velocidade do fluxo de água e de zonas de remanso para os
peixes. No entanto, se não for desenhada adequadamente pode dificultar a passagem dos
peixes e é uma estrutura que necessita de alguma manutenção a longo prazo (Melanson et al.,
2006). Para a permitir a passagem de peixes a altura da soleira deverá situar-se entre os 0,3 –
0,4 m (Venti et al., 2003).
Na Tabela 4.47 estão descritos os custos médios estimados para a aplicação das medidas
propostas (quando aplicável) bem como os recursos materiais e humanos necessários.
120
Tabela 4.47. Tabela dos custos unitários e totais das medidas a aplicar na Alternativa “A” do projecto
de restauração e dos recursos materiais e humanos necessários.
Investimento
Quantidade/
Preço total
Unidade
Custo
(€)
(€)
Medida e descrição Material/Recursos
121
No caso da protecção e renovação da regeneração natural bem como da manutenção do
espaço, é considerado apoio técnico por parte de jardineiros, que garantam a conservação e
gestão do terreno e vegetação pelo menos 2 a 3 vezes por semana. Assim, considera-se o
custo fixo de 1000 € mensais (em part-time), suportado por 2 indivíduos.
As técnicas que necessitam de apoio técnico mais especializado e com utensílios específicos
necessitam de um custo de investimento superior, no entanto trata-se de trabalhos apenas
iniciais. A manutenção das estruturas de engenharia natural (soleira e muros de vegetação)
necessita de um especialista nesta área ou, como resultado da participação voluntária no
projecto, de indivíduos formados para esse fim, mesmo que por regime de voluntariado. O
custo inicial destas técnicas é elevado (devido à utilização de maquinaria pesada e operadores)
mas ao longo do tempo apresenta-se menos custosa.
O custo de investimento no que trata aos diferentes tipos de técnicos varia consoante a
medida/estrutura aplicada e a exigência que cada uma implica em termos de trabalho e
formação. É de referir que a maioria destas medidas e técnicas será implementada e/ou
manuseada com o apoio de voluntários, tendo em conta a participação activa da população
neste tipo de projectos. O preço total corresponde ao custo de investimento e fixo de um ano.
A maioria das medidas aplicadas necessita de ferramentas básicas de apoio que implicam um
custo de investimento inicial de 50 a 70 €, cujo preço inclui alguma manutenção ou reposição
ao longo do ano.
Relativamente aos materiais utilizados, refere-se ainda que os preços indicados são uma
estimativa com base nos preços unitários de cada material e não num orçamento efectuado na
implementação deste tipo de medida num determinado projecto. Este facto pode acarreta
alguma subjectividade e/ou erro, no entanto permite ter uma noção do custo inicial de
investimento.
Por fim, na plantação de árvores, como não existe nenhum viveiro ou acção de propagação
antecipada das plantas a introduzir no terreno e como se considera que a plantação ocorrerá
num futuro próximo, o custo de investimento passa pela obtenção de árvores em raiz nua ou
de plantas em vaso provenientes de viveiros externos. Na Tabela 4.48 estão descritos os
preços unitários por tipo de planta e por tipo de fornecedor.
122
Tabela 4.48. Preço unitário por tipo de planta e por origem do fornecedor.
Laurus nobilis loureiro 65.2 - - Planta em vaso 30 L e perimetro de tronco 8 - 10cm (1)
2 - Planta em vaso 1.5L com 20 a 40 cm (2)
sanguinho-das-
Rhamnus alaternus 4 - - Planta em vaso 3L com 20 - 30 cm altura (1)
sebes
Lonicera implexa madressilva 2.8 - - Planta em vaso 1.3 L com 40 - 60 cm altura (1)
1.5 - - Planta em vaso 1.5L com 15 - 20 cm (2)
Total - - 54 234 -
(1) Viveiros Alfredo Moreira da Silva e Filhos, Lda. Quinta da Revolta, Porto.
(2) Viveiro Florestal do Instituto Superior de Agronomia, Ajuda, Lisboa (ISA, 2010)
(3) Sementes Florestais CENASEF – Parque Florestal, Catálogo 2008/2009. Amarante. Ministério da Agricultura
(4) (Freitas, 2006)
123
que nem todas as plantas serão seleccionadas para plantação. Pretende-se salientar a
importância de uma “gestão sustentável” de plantas autóctones e locais neste tipo de
iniciativas (e.g. programas de recolha e conservação de sementes e propagação e manutenção
de plantas).
b) Conclusão
As medidas de intervenção sugeridas a aplicar no troço de intervenção da Ribeira das Vinhas,
estão representadas na Figura 4.57.
124
4.7. Monitorização e avaliação do projecto de restauração
No caso dos rios, os elementos de qualidade utilizados na definição de estado ecológico são:
elementos de qualidade biológica (flora aquática, invertebrados bentónicos e peixes);
elementos de qualidade hidromorfológica (regime hidrológico, condições morfológicas e
continuidade do rio), e elementos de qualidade físico-química (parâmetros gerais e poluentes
125
específicos). Cada elemento de qualidade possui indicadores operacionais específicos que
permitem a sua avaliação e posterior utilização na definição de estado ecológico ou potencial
ecológico (Tabela 4.49).
Peixes 3 anos
Importa referir que a monitorização preconizada pela DQA tem essencialmente duas
finalidades: avaliar o estado das águas (classificação e apresentação de resultados),
correspondendo neste caso a uma monitorização de vigilância, e diagnosticar problemas
(desenvolvimento de soluções e acompanhamento da evolução resultante dos programas de
medidas aplicados), tratando-se neste caso de uma monitorização operacional. Em certos
casos, pode ser necessário o estabelecimento de uma monitorização de investigação, que visa
complementar as duas monitorizações anteriores no caso de falta de conhecimento sobre as
causas responsáveis pelo não cumprimento de objectivos ambientais e de avaliação da
extensão e impacte da poluição acidental.
126
No caso dos elementos de qualidade para a classificação do estado ecológico, os parâmetros a
monitorizar nos rios estão descritos na Tabela 4.50.
Tabela 4.50. Elementos de qualidade para a classificação do estado ecológico dos rios (DQA, Directiva
2000/60/CE).
Na maior parte dos casos, as agências e entidades privadas não possuem recursos financeiros
e humanos para uma monitorização a longo-prazo e em específico para certos parâmetros e
respectivos métodos. As técnicas de engenharia natural têm a vantagem de serem menos
dispendiosas financeiramente e a longo-prazo, desde a fase de investigação e desenho, na fase
de construção, manutenção e monitorização bem como no restabelecimento das estruturas
(Figura 4.58).
127
Figura 4.58. Diferença entre os perfis de investimento na investigação, construção, manutenção e
monitorização de projectos convencionais e de engenharia natural (adaptado de Coppin e Richards,
1990 in Allen e Leech, 1997).
As estruturas de engenharia natural devem portanto ser “monitorizadas” logo após a sua
construção para verificar as condições de adaptação, desenvolvimento e sobrevivência das
espécies utilizadas, bem como da estabilidade das margens. Para além deste aspecto, as
estruturas propriamente ditas devem ser revistas, verificando as condições de erosão, suporte
e estado dos materiais. Segundo Allen e Leech (1997) as estruturas e medidas devem ser
monitorizadas no mínimo dois anos após a sua implementação e de preferência, após a
ocorrência de um ou dois caudais de cheia. Isto permite verificar a estabilidade das estruturas
e a necessidade de reparação das mesmas.
128
depender dos recursos financeiros e humanos bem como do tipo de análise necessária a
efectuar.
Medidas/Estruturas Descrição
Verificar a efectividade da estabilização das margens e do seu declive;
Verificar a estabilidade das plantações ao longo da margem;
Correcção e Comprovar a germinação das estacarias e seu enraizamento;
estabilidade do Reintegrar a vegetação danificada;
talude Verificar a necessidade de recobrimento com solo e com cobertura verde;
Verificar a integridade das estruturas de madeira/pedra e a existência de
arrastamento de pedras e terra;
Assegurar a estabilidade estrutural garantindo a resistência das pedras e
troncos;
Controlar o potencial desgaste de fundo, assim como o possível arrastamento
Correcção e
da estrutura;
estabilidade no leito
Verificar se a estrutura ocasionou o desgaste da margem oposta ao deflector e
em caso afirmativo proceder ao seu reforço;
Verificar se o redireccionamento da corrente é o correcto.
Verificar a adaptação e o desenvolvimento das plantas ao local;
Averiguar o grau de adaptabilidade das espécies ao local;
Verificar a heterogeneidade florística da faixa ripária;
Estabilidade da Verificar a necessidade de recobrimento com solo e com cobertura verde;
vegetação na Reintegrar a vegetação danificada;
margem e várzea Avaliar e assegurar a continuidade longitudinal da vegetação e a conectividade
com o canal;
Controlar o aparecimento e a proliferação de espécies exóticas e infestantes;
Averiguar o grau de adaptabilidade das espécies ao local;
129
Tabela 4.52. Indicadores para a monitorização de vegetação ripícola (adaptado de Winward, 2000;
Innis et al., 2000; Burton et al., 2008).
No presente trabalho não se pretende uma análise e descrição de cada um dos indicadores da
Tabela 4.52. A título exemplificativo segue-se uma breve descrição do indicador Composição
da Vegetação da Linha de Bordadura (Greenline Vegetation Composition).
Neste contexto, é importante considerar dois elementos de caracterização das zonas ripícolas:
o complexo ripícola (riparian complex) e a linha de bordadura verde (greenline vegetation).
Segundo Winward (2000) um complexo ripícola é definido como uma unidade do território
com um único conjunto de factores bióticos e abióticos, identificados com base na sua
geomorfologia geral, características do substrato, gradiente de fluxo e fluxo de recursos
associados à água e dos padrões gerais de vegetação. Cada complexo ripário é composto por
uma mistura de 6 a 12 tipos de comunidades. A linha de bordadura verde é designada como a
primeira vegetação perene que forma um conjunto linear de tipos de comunidade na ou perto
da borda de água e na maioria das vezes ocorre ligeiramente abaixo do leito de cheia.
130
tendências. Para além disto, existe uma forte inter-relação entre a quantidade e o tipo de
vegetação ao longo da borda de água e da estabilidade das margens (Dunaway et al., 1994;
Kleinfelder et al., 1992; Manning et al., 1989; Weixelman
et al., 1996 in Winward, 2000). A avaliação da vegetação na linha de bordadura verde é uma
boa indicação da capacidade de controlo das forças hidráulicas da água em movimento
(Winward, 2000).
Figura 4.59. Localização da linha de bordadura verde (greenline vegetation): (a) no leito de cheia; (b)
para um caudal reduzido (Winward, 2000).
A medição da linha de bordadura verde é feita segundo uma linha contínua de vegetação em
cada lado da ribeira, mesmo quando a linha de vegetação ocorre acima ou abaixo da borda de
água. Como as actividades que induzem perturbações resultam em mudanças no padrão da
vegetação a avaliação da composição da vegetação na linha de bordadura verde pode fornecer
uma indicação do estado da área ripícola bem como a força da margem no controlo das forças
de erosão da água (estabilidade do talude).
A medição da linha de bordadura verde deve ser feita num complexo ripário. Dependendo do
tamanho deste complexo, uma ou mais amostras podem ser necessárias para fornecer uma
representação adequada. A selecção do local também deve ter em conta a representação das
actividades que mais influenciam o estado da ribeira e vegetação. Também são definidos
transectos que devem ser localizados aleatoriamente e perpendicularmente ao curso de água
(Figura 4.60).
131
Figura 4.60. Esquema da medição dos transectos na linha de bordadura verde (adaptado de Winward,
2000).
Os extremos de cada transecto devem ser permanentemente fixados com estacas e estas
devem estar localizadas o mais afastado da zona ripária de modo a permitir quantificar a
expansão desta zona. É importante garantir que as estacas não sejam danificadas ou perdidas
durante a ocorrência das grandes cheias.
132
rios, as avaliações pós-restauração têm sido geralmente negligenciadas (Kondolf e Micheli,
1995 in FISRWG, 1998). Segundo Holmes (1991) no mesmo estudo, apenas 5 em 100 projectos
de conservação e reabilitação fluvial reportaram medidas pós-restauração.
Os processos de avaliação implicam recursos e tempo e são muitas vezes vistos como um
factor dispensável. Estes processos são abandonados porque o tempo e o dinheiro são gastos
na restauração propriamente dita. No entanto, esta tendência não deve ser aceite e tomada
de ânimo leve por parte dos stakeholders e responsáveis pelos projectos de reabilitação. Os
esforços da restauração devem ser avaliados individualmente e em conjunto pois a falta de
avaliações do sucesso ou fracasso destas iniciativas retarda o desenvolvimento e a melhoria
das técnicas e metodologias de restauração.
Como estamos a lidar com sistemas naturais e dinâmicos, o resultado das nossas acções e
medidas implementadas podem ter consequência inesperadas. Neste sentido, quando
estamos a avaliar um projecto de restauração podem surgir quatro situações:
i) a não – acção: se o progresso da restauração está a decorrer como o esperado,
provavelmente serão atingidas as metas durante um tempo razoável;
ii) a manutenção: se serão necessárias acções físicas para manter o desenvolvimento da
restauração perante os objectivos;
iii) a adição ou o abandono de elementos planeados: se serão necessárias alterações
significativas, o que pode incluir a revisão de todo o plano bem como considerar
alterações no desenho de determinados elementos;
iv) a alteração das metas e objectivos da restauração: se a monitorização indicar que a
restauração não está a progredir de acordo com as metas definidas inicialmente. Neste
caso, os participantes/responsáveis devem decidir quais serão as medidas mais
eficientes para modificar as metas.
133
A gestão adaptativa do projecto de requalificação da zona de intervenção deve assim ter em
consideração os seguintes aspectos:
i) a alteração dos planos com base na percepção e resposta social e técnica e bem como
dos resultados da monitorização;
ii) considerar programas e políticas de restauração e projectos individuais como um
mecanismo de resposta-acção para a melhoria do desenho e planeamento do projecto
de requalificação;
iii) estabelecer avaliações anuais: utilizar os dados de monitorização ou outros dados
relevantes, corrigir acções ou definir opções alternativas e ter em conta os prazos da
monitorização para as correcções necessárias.
134
5. CAPÍTULO V – CONCLUSÕES
A gestão integrada com base nas bacias hidrográficas, a qualidade ambiental dos recursos
hídricos, a conservação e manutenção dos sistemas naturais e a recuperação de sistemas
degradados por impactes antrópicos são temas cada vez mais estudados por parte da
comunidade científica, e a criação de estratégias inovadoras e requer o reforço da
interdisciplinaridade no ensino, investigação e implementação dos domínios que contribuem
para essas actuações. Neste sentido, a realização deste trabalho apresenta potencialidades e
limitações, tanto em termos teóricos como práticos.
O facto de se estar a estudar uma linha de água com um grande potencial paisagístico, tanto
em termos ecológicos com recreativos, é uma das grandes potencialidades do presente
trabalho. É urgente o desenvolvimento de metodologias e técnicas de recuperação e
requalificação de ecossistemas e o facto de surgirem oportunidades para este tipo de estudos
é fundamental para que sejam incentivados os técnicos, os cientistas, a população em geral e
os organismos administrativos.
135
outros troços ribeirinhos do Concelho, a área de intervenção não tinha um estado tão
degradado, implicando uma proposta de requalificação “simples” e com intervenções
localizadas nas margens e planície aluvial e focalizadas da revitalização da vegetação.
A requalificação de ribeiras deve ter como base as características ecológicas dos sistemas
fluviais. A implementação das medidas propostas visa fundamentalmente a estrutura
curvilínea (quando aplicável), a conexão com os sistemas adjacentes, o favorecimento de
condições de refúgio e protecção para espécies, a existência de gradientes para o movimento
e circulação de espécies, os efeitos de orla/bordadura, de filtro e de barreira, o controlo do
desenvolvimento de plantas aquáticas por ensombramento da vegetação de margem e o
controlo da vegetação invasora pela promoção da vegetação autóctone e da cobertura verde.
Assim, o objectivo de obter uma riqueza e diversidade paisagística bem como a valorização
cénica da paisagem serão atingidos.
Analisando os efeitos que se poderão esperar após a implementação das medidas propostas,
nomeadamente a curto prazo, a estabilidade dos taludes e da vegetação será assegurada pelo
material inerte numa fase inicial. A médio e a longo prazo, o material vegetal vai assegurando
a estabilidade à medida que se vai desenvolvendo. Apesar desta capacidade, é importante
garantir alguma manutenção das estruturas e da vegetação, principalmente nos primeiros
anos.
No entanto, é de salientar que em Portugal existe uma enorme escassez deste tipo de estudos
ou sobre as temáticas abordadas no mesmo. Por esse motivo, salvo raras excepções, a maioria
136
da bibliografia utilizada na elaboração deste trabalho é estrangeira, pelo menos no que trata a
aspectos específicos como é o caso da aplicação de técnicas de engenharia natural. Este foi um
dos factores mais limitativos da elaboração da proposta de requalificação.
O facto de ser um estudo que engloba diversas temáticas foi limitativo no processo de
desenvolvimento de uma metodologia integrada e multidisciplinar. Para planear um projecto
de restauração são necessários conhecimentos ao nível da hidrologia, da geomorfologia, dos
sedimentos, da vegetação e dos habitats, da gestão de recursos hídricos, dos instrumentos
legislativos, das metodologias e técnicas existentes em termos de engenharia
natural/ecológica bem como da sua aplicação em termos de física e estrutura. Dado o tempo
limitado deste trabalho bem como dos objectivos definidos, é de prever que o presente estudo
não aborde certas temáticas que seriam fundamentais. Dada a natureza complexa dos
sistemas fluviais, salienta-se o estudo das características hidráulicas e dos regimes hidrológicos
do rio e, igualmente imprescindível, a compreensão dos mecanismos que influenciam a
estabilidade dos taludes (e.g. tipologias de transporte, características do material, velocidade
limite de transporte, tensão limite de erosão, limite do declive, entre outros).
137
estimativa dos custos das medidas propostas. Existem muitos preços tabelados mas em países
onde estas práticas são muito aplicadas e existe legislação em vigor (Itália, Áustria, Alemanha).
Em Portugal, dos projectos de requalificação fluvial ou utilização de técnicas de bioengenharia,
pouco ou nada se sabe acerca dos custos associados.
Ainda sobre a questão orçamental, a principal ideia foi demonstrar sucintamente o custo de
investimento neste tipo de projectos, principalmente se os materiais inertes e vivos não forem
do local/região ou se não existir uma gestão integrada dos recursos naturais.
Fundamental na gestão florestal é o facto que a compra das plantas, seja árvore, arbusto ou
semente, acarreta sempre uma taxa de sobrevivência/germinação pelo que existe o risco de
nem todas as plantas crescerem. A manutenção a longo-prazo é portanto fundamental para
garantir que os objectivos sejam atingidos.
Uma gestão integrada do território implica que a unidade base – a bacia hidrográfica – seja
essencial para se integrar as bandas ripícolas como parte de uma paisagem influenciada pela
hidrologia como um todo. A intervenção local no troço considerado é apenas uma parte do
que se tem de fazer para a melhoria das condições ecológicas dos habitats ripícolas na região.
138
Por exemplo, certamente que noutros troços da ribeira, nomeadamente mais a jusante e nas
zonas mais urbanizadas, o tipo de intervenções terá que ser outro, incluindo a alteração da
forma do leito e a remeandrização dos troços canalizados e, portanto, a envolvência de
técnicos especializados e a criação de um grupo participativo. Para além disto, os aspectos
legislativos e de administração relativamente aos recursos hídricos implicam o estudo rigoroso
e a aplicação de responsabilidades no caso de ilegalidades ao longo do curso de água e zona
adjacente, principalmente devido à existência de vários instrumentos de gestão territorial
(REN, RAN, DPH, PMOT, entre outros). Por outro lado, a garantia da qualidade da água no
Concelho também implica uma gestão pró-activa e inovadora dos recursos hídricos e a
formação/sensibilização da população e das indústrias.
Assim, um dos maiores desafios à recuperação dos rios é a questão institucional e legislativa. É
importante o levantamento da estrutura fundiária para um melhor entendimento com os
proprietários locais, no sentido da sensibilização ao valor dos ecossistemas ribeirinhos, tanto a
nível regional como local. Apesar da maior parte dos rios se encontrar num estado de
degradação, estas condições podem favorecer os interesses económicos dos proprietários pelo
que qualquer plano/projecto poderá encontrar resistências e condicionantes. É fundamental
que à escala regional e local sejam envolvidos os proprietários e os agentes sociais e
económicos e este envolvimento deve ter como base a legislação e o planeamento e
ordenamento do uso do solo.
E para que todos os agentes estejam envolvidos nos processos de conservação e restauração
de ecossistemas, nomeadamente na restauração do estado ecológico das ribeiras e
consequentemente ao nível das suas bacias hidrográficas, é urgente a implementação e
divulgação do sucesso de projectos deste tipo. É necessário que as autarquias e técnicos
apliquem esforços prioritários de conservação e valorização dos ecossistemas, definindo locais
139
potenciais e críticos. As acções e medidas devem ser avaliadas e o sucesso ou fracasso deve ser
divulgado por parte de todos os agentes envolvidos, tendo em vista o conhecimento por parte
da sociedade.
As zonas ribeirinhas têm uma grande capacidade de atracção para fins recreativos o que
coloca a necessidade de prever a ocorrência de problemas de gestão, como sejam os conflitos
entre usos, a competição por recursos, a sobrecarga da procura, a segurança, a degradação da
qualidade estética da paisagem, principalmente em meio urbano ou na sua proximidade.
Por força legislativa europeia, a todas estas necessidades de actuação, é acrescido o esforço
que a DQA obriga, entre outros objectivos, de assegurar o bom estado ecológico das águas
superficiais, o que implica a conservação dos ecossistemas em equilíbrio e a recuperação dos
degradados. Neste aspecto, para o cumprimento das disposições da DQA e, em paralelo, para
atingir as metas e objectivos definidos nos projectos de requalificação ribeirinha, surge a
importância da monitorização ecológica e da avaliação dos esforços da restauração, de modo a
verificar o sucesso ou fracasso das acções e desenvolver técnicas e metodologias inovadoras.
Esta gestão adaptativa é fundamental face à exigência de uma multidisciplinaridade e face à
escassez na publicação dos resultados a curto e longo prazo dos casos de estudo nesta área.
Neste sentido, é urgente prosseguir com uma articulação eficiente dos instrumentos de gestão
de ordenamento territorial, do desenvolvimento da investigação, do esforço da monitorização
e avaliação e do envolvimento e responsabilização mais efectivo dos diversos agentes
envolvidos e da sociedade.
140
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