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Amandine dos Santos Gameiro

Licenciatura em Ciências de Engenharia do Ambiente

PROPOSTA DE RESTAURAÇÃO
ECOLÓGICA FLUVIAL DE UM TROÇO
DA RIBEIRA DAS VINHAS, CASCAIS

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em


Engenharia do Ambiente

Orientador: Paula Sobral, Prof. Doutora, FCT-UNL


Co-orientador: Teresa Calvão, Prof. Doutora, FCT-UNL

Júri:

Presidente: Prof. Doutora Maria Paula Oliveira Sobral


Arguente: Prof. Doutora Maria Teresa Marques Ferreira da Cunha Cardoso
Vogais: Prof. Doutora Maria Teresa Calvão Rodrigues
Mestre José Carlos Ribeiro Ferreira

Março de 2010
UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

Faculdade de Ciências e Tecnologia

Depº de Ciências e Engenharia do Ambiente

Proposta de requalificação fluvial de um troço da


Ribeira das Vinhas, Cascais

Amandine dos Santos Gameiro

Dissertação apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologia da


Universidade Nova de Lisboa para obtenção do grau de Mestre em
Engenharia do Ambiente, perfil Engenharia Ecológica

Dissertação realizada sob a orientação de:


Prof.ª Doutora Paula Sobral
Prof.ª Doutora Teresa Calvão (Co-Orientador)

Lisboa
2010
i
“Copyright” Todos os direitos reservados a Amandine dos Santos Gameiro da FCT/UNL
e da UNL.
A Faculdade de Ciências e Tecnologia e a Universidade Nova de Lisboa têm o direito,
perpétuo e sem limites geográficos, de arquivar e publicar esta dissertação através de
exemplares impressos reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer
outro meio conhecido ou que venha a ser inventado, e de a divulgar através de
repositórios científicos e de admitir a sua cópia e distribuição com objectivos
educacionais ou de investigação, não comerciais, desde que seja dado crédito ao autor
e editor.

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“There is a phenomena resiliency in the mechanisms of the earth.
A river or lake is almost never dead. If you give it the slightest chance...
then nature usually comes back.”

Rene Dubos

iii
AGRADECIMENTOS

No desenvolvimento deste trabalho, de bons e maus momentos, pude contar com a


colaboração e dedicação de muitas pessoas, a quem devo os meus sinceros agradecimentos.
Foram meses de grandes escolhas e momentos, mas também de momentos menos bons, nos
quais a grande paciência e o apoio do Afonso foram muito importantes. Sem ti, nada disto
existiria. Obrigado por tudo.

Os meus sinceros agradecimentos às professoras Dr.ª Paula Sobral e Dr.ª Maria Teresa Calvão,
as minhas orientadoras, pela inteira disponibilidade, apoio e incentivo ao longo de todo o
trabalho, também pela disposição de confiança e pelo entusiasmo. Agradeço também pela
cedência das fotos utilizadas neste trabalho.

Um sincero abraço e agradecimento aos meus pais, por tudo.

Agradeço também à Agência Cascais Natura, por todo o apoio e disponibilidade para me
ajudarem. Em especial ao Vasco e à Susana.

Os meus sinceros agradecimentos ao professor e mestre Dr. Eugénio Sequeira, pela sua
simpatia e disponibilidade, que me deu uma grande motivação para fazer este trabalho.

Ao Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade do Parque Natural Sintra-Cascais e


ao professor João Paulo Fernandes pela informação disponibilizada.

Uma especial dedicação às pessoas que estiveram presentes nestes últimos meses e que
fizeram também parte da “mudança”... Ao Afonso, Isabel, Sílvia, Joana, Guilherme e todos os
que estiveram de alguma forma presentes. Um grande abraço.

Quero também agradecer aos meus colegas e amigos de curso, que me encorajaram ao longo
destes meses, em especial, para a Joana, Miguel, Jorge.... Pelo entusiasmo e motivação. E
claro, sempre pela ecologia!

Um especial agradecimento ao Akli Benali, à Teresa Simas e à prof.ª Júlia Seixas, por todo o
incentivo, trabalho, apoio e tempo que dedicaram no meu trabalho inicial.

iv
v
SUMÁRIO

As zonas ripícolas são consideradas como um dos habitats biofísicos mais complexos do
planeta, pela sua biodiversidade, dinamismo, produtividade primária e importante função de
corredor ecológico exercida pela integração do leito e das margens do rio com a vegetação
ribeirinha. Juntamente com os rios e as zonas húmidas estão entre os ecossistemas mais
ameaçados do mundo.

A contaminação das águas por efluentes, a regularização e canalização das linhas de água, com
a consequente artificialização do leito natural, a construção de barragens, a introdução de
espécies exóticas e o corte da vegetação ribeirinha, entre outras actividades humanas, incidem
de modo decisivo sobre a integridade dos ecossistemas aquáticos e semi-terrestres. Em
paralelo, as preocupações ambientais por parte do público e da comunidade científica em
relação à degradação dos sistemas ribeirinhos têm vindo a aumentar.

A restauração ecológica de linhas de água assume um carácter particularmente relevante


perante o actual estado de degradação destes ecossistemas, pelo que os projectos de
reabilitação fluvial têm vindo a aumentar bem como o conhecimento científico nesta área.

O presente trabalho é uma proposta de requalificação de um troço da Ribeira das Vinhas, em


Pisão de Cima, Cascais. Pretende-se elaborar um projecto que incida sobre a renaturalização
da vegetação das margens e da várzea, promovendo o desenvolvimento das espécies
autóctones e recorrendo a técnicas de engenharia natural no leito e nas margens da linha de
água.

Este estudo constitui uma base para futuras investigações na área da requalificação de cursos
de água através da criação de casos de estudo de referência em Portugal, a partir dos quais se
possam desenvolver e implementar metodologias e técnicas em cursos de água degradados,
tanto ao nível local como ao nível regional.

vi
vii
ABSTRACT

The riparian areas are among the most complex biophysical habitats in the world. Their
biodiversity, dynamism, primary productivity provides an important greenway function
through the interactions of the instream channel and streambank and the riparian vegetation.
Due to increased pressures, particularly from human activities, rivers and wetlands are among
the most endangered ecosystems in the world.

The water contamination by waste water inputs, the stream channelization and regulation and
the consequent artificialization of the streambank, the dam construction, and the introduction
of exotic species and the clearing of the riparian vegetation, among other human activities
affect decisively the aquatic and semi-aquatic ecosystems integrity. The recognition of the
degradation of riparian systems is reflected in the increased environmental concern from the
scientific community as well and raised public awareness towards the state of these
ecosystems.

Therefore, the ecological restoration of water courses assumes an important role and stream
and river rehabilitation projects have been increasing, as well as the scientific knowledge in
this area.

This work proposes a stream requalification project for a stretch of the Ribeira das Vinhas, in
Pisão de Cima, Cascais. This project is focused on the naturalization of the floodplain and
margin vegetation, considers the development of the native species and the use of
bioengineering techniques for the bank and channel water course.

This proposal is a contribution for future investigations in water courses requalification and the
creation of case-study scenarios in Portugal, from which we can learn in order to develop, and
implement methodologies and techniques on other degraded water courses, locally and
regionally.

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ix
ÍNDICE DE MATÉRIAS

Agradecimentos .............................................................................................................................. iv
Sumário ........................................................................................................................................... vi
Abstract .......................................................................................................................................... vii
Índice de matérias ............................................................................................................................ x
Índice de figuras ............................................................................................................................. xii
Índice de tabelas ........................................................................................................................... xiv
1. CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1. Enquadramento geral ....................................................................................................... 1
1.2. Objectivos e âmbito ......................................................................................................... 2
1.3. Organização da dissertação .............................................................................................. 3
2. CAPÍTULO II – A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE LINHAS DE ÁGUA .................................. 5
2.1. Introdução ............................................................................................................................ 5
2.2. O Estado da arte da restauração ecológica .......................................................................... 7
2.3. A importância dos ecossistemas ribeirinhos ...................................................................... 14
2.4. Enquadramento legislativo ................................................................................................ 19
2.5. Caracterização das linhas de água e dos processos fluviais ............................................... 22
2.6. A restauração ecológica de linhas de água ........................................................................ 28
2.6.1. O contexto da bacia hidrográfica e considerações à escala local .................................. 28
2.6.2. Príncipios de engenharia natural no revestimento dos taludes .................................... 32
2.6.3. As propriedades técnicas da vegetação ......................................................................... 34
2.6.4. Espécies eficazes no âmbito da engenharia natural ...................................................... 39
2.7. Principais técnicas de recuperação da vegetação ribeirinha ............................................. 43
2.8. Planeamento e implementação de um projecto de restauração ecológica ...................... 47
3. CAPÍTULO III – CARACATERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DA RIBEIRA DAS VINHAS E
DO TROÇO EM ESTUDO.................................................................................................................. 59
3.1. Introdução .......................................................................................................................... 59
3.2. Caracterização geral da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas ..................................... 59
3.2.1. Enquadramento no Parque Natural Sintra-Cascais e no Concelho de Cascais .............. 59
3.2.2. Enquadramento biogeográfico ...................................................................................... 60
3.2.3. Caracterização biofísica .................................................................................................. 60
3.2.4. Qualidade e estado ecológico dos cursos de água......................................................... 77
3.3. Caracterização da zona de intervenção ............................................................................. 81
3.3.1. Localização ..................................................................................................................... 81

x
3.3.2. Enquadramento no projecto da Cascais Natura ............................................................ 82
3.3.3. Enquadramento histórico-cultural e arquitectura ......................................................... 84
3.3.4. Caracterização biofísica .................................................................................................. 84
3.3.5. Caracterização da paisagem e ordenamento................................................................. 89
3.3.6. Caracterização da vegetação.......................................................................................... 93
4. CAPÍTULO IV – METODOLOGIA: PROPOSTA DE PROJECTO DE REQUALIFICAÇÃO ................. 99
4.1. Introdução ...................................................................................................................... 99
4.2. Metodologia.................................................................................................................... 99
4.3. Organização .................................................................................................................. 100
4.4. Identificação de problemas e oportunidades ............................................................... 101
4.5. Desenvolvimento de metas e objectivos ...................................................................... 102
4.5.1. Definição das condições futuras desejadas .................................................................. 102
4.5.2. Identificação da escala dos processos .......................................................................... 103
4.5.3. Identificação das condicionantes da restauração ........................................................ 104
4.5.4. Definição das metas e objectivos ................................................................................. 104
4.6. Desenho das alternativas da restauração .................................................................... 105
4.6.1. Factores a considerar no desenho das alternativas ..................................................... 106
4.6.2. Descrição das alternativas de restauração ................................................................... 107
4.7. Monitorização e avaliação do projecto ........................................................................ 125
4.7.1. Monitorização do progresso perante os objectivos ..................................................... 125
4.7.2. Razões para avaliar os esforços da restauração ........................................................... 132
5. CAPÍTULO V – DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 135
5.1. Discussão e considerações finais...................................................................................... 135
5.2. Recomendações e desenvolvimentos futuros ................................................................. 138
5.3. Nota final .......................................................................................................................... 140
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 141

xi
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1. Perspectivas de conservação e gestão para sistemas fluviais (adaptado de Boon,
1992 in Moreira et al., 2004). .................................................................................................. 8
Figura 2.2. Perda de espécies devido à canalização/rectificação dos rios (Binder, 1998). ......... 10
Figura 2.3. Esquematização das funções desempenhadas pela vegetação ripícola na paisagem
(Saraiva, 1999)........................................................................................................................ 15
Figura 2.4. Secção transversal de um corredor ripícola (FISRWG, 1998). ................................... 15
Figura 2.5. Funções dos corredores na paisagem (adaptado de FISRWG,1998). ....................... 16
Figura 2.6. a) Paisagem com (A) elevado e (B) reduzido grau de conectividade; b) relação de
conectividade entre a zona interior e bordadura (adaptado de FISRWG, 1998)................... 18
Figura 2.7. Os aspectos morfológicos do rio determinam as funções ecológicas do rio (Binder,
1998). ..................................................................................................................................... 23
Figura 2.8. Esquema dos níveis de leito de um rio (adaptado de Christofoletti, 1981 e FISRWG,
1998, in Durlo e Sutili, 2005). ................................................................................................. 25
Figura 2.9. a) Variação das características de um curso de água ao longo do seu perfil
longitudinal; b) Exemplo de um perfil longitudinal (Durlo e Sutili, 2005). ............................ 26
Figura 2.10. O papel da vegetação nos processos hidrológicos e erosivos do solo (adaptado de
Coppin e Richards, 1990 in Raus, 2008).. ............................................................................... 31
Figura 2.11. a) Evolução de um rio rectificado num rio renaturalizado, através da remoção das
construções das margens e promovendo a modificação natural do leito do rio; b) Propostas
para a transformação de um perfil regularizado num perfil “naturalizado” (Binder, 1998). 36
Figura 2.12. Perfil de uma galeria ripícola (Dreher e Heringa, 1998). ......................................... 39
Figura 2.13. Formação de um ribeiro com meandrização (Binder, 1998). ................................. 48
Figura 3.14. Enquadramento da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas (parte analisada no
presente estudo), no PNSC e no Concelho de Cascais. .......................................................... 59
Figura 3.15. Regime pluviométrico e temperaturas do PNSC (Baltazar e Martins, 2005). ......... 61
Figura 3.16. Gráfico termopluviométrico de: (a) Sintra/Pena; (b) Cabo da Roca (Baltazar e
Martins, 2005). ....................................................................................................................... 62
Figura 3.17. Carta de altimetria da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ........................... 63
Figura 3.18. Carta de declives da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. .............................. 64
Figura 3.19. Carta de exposição de vertentes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ...... 65
Figura 3.20. Carta geológica da bacia da Ribeira das Vinhas. ..................................................... 66
Figura 3.21. Carta de solos da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ................................... 68
Figura 3.22. Carta da capacidade do uso do solo da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.. 69
Figura 3.23. Carta de ordenamento da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ..................... 71
Figura 3.24. Carta de condicionantes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas……………..…..72
Figura 3.25. Carta de condicionantes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas………………….73
Figura 3.26. Carta de vegetação actual da Ribeira das Vinhas………………………………………………...75
Figura 3.27. Perfil longitudinal da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ............................. 76
Figura 3.28. Despejo de resíduos na linha de água (Pisão de Cima, Cascais)…………………………...79
Figura 3.29. Zonas de leito canalizado e construções urbanas próximas da linha de água
(Cascais)…………………………………………………………………………………………………………………………....80
Figura 3.30. Construções em cima da linha de água (Cascais)………………………………………………...80
Figura 3.31. Localização da zona de intervenção, Pisão de Cima, Alcabideche (Cascais)…….…..82

xii
Figura 3.32. Ribeira que atravessa a Quinta do Pisão, Pisão de Cima (Cascais)………………………. 83
Figura 3.33. Zona adjacente à Ribeira que atravessa a Quinta do Pisão, Pisão de Cima
(Cascais)…………………………………………………………………………………………………………………………... 84
Figura 3.34. Cartas de altimetria da zona de intervenção. ......................................................... 85
Figura 3.35. Carta de declives (%) da zona de intervenção......................................................... 85
Figura 3.36. Carta de exposição de vertentes da zona de intervenção. .................................... 86
Figura 3.37. Carta geológica da zona de intervenção. ................................................................ 87
Figura 3.38. Carta de solos da zona de intervenção. .................................................................. 88
Figura 3.39. Carta de ocupação do uso do solo da zona de intervenção.................................... 89
Figura 3.40. Carta de unidades de paisagem da zona de intervenção........................................ 90
Figura 3.41. Carta de ordenamento da zona de intervenção. .................................................... 91
Figura 3.42. Carta de condicionantes da zona de intervenção. .................................................. 92
Figura 3.43. Carta da vegetação actual do troço de intervenção. .............................................. 94
Figura 3.44. Regeneração natural de freixos e ulmeiros na zona adjacente à Ribeira que
atravessa a Quinta do Pisão, Pisão de Cima (Cascais)…………………………………………………………95
Figura 4.45. Metodologia proposta para o local de estudo. ..................................................... 100
Figura 4.46. Muro de pedra que separa a linha de água e a zona de várzea na Quinta do Pisão,
Pisão de Cima (Cascais)……………………………………………………………………………………………………..109
Figura 4.47. Zona de várzea e crescimento espontâneo de freixo………………………………………...110
Figura 4.48. Plantação individual e directa de árvores (Raus, 2008)……………………………………….112
Figura 4.49. Modelação do terreno do talude erosionado (Durlo e Sutili, 2005)………………….…114
Figura 4.50. Utilização de árvores inteiras como medida preventiva de margens erodidas (Durlo
e Sutili, 2005)………………………………………………………………………………………………………………….…115
Figura 4.51. Parede com pedras, troncos e estacas vivas (Durlo e Sutili, 2005)………………….…..116
Figura 4.52. Esquema de uma parede de faxinas (Raus, 2008)…………………………………………….…116
Figura 4.53. Esquema de faxinas vivas (adaptado de Schiechtl e Stern, 1997)…………………..……117
Figura 4.54. Muro de vegetação com: (a) estacas; (b) e plantas; c) em perspectiva (adaptado de
Venti et al., 2003)……………………………………………………………………………………………………………...118
Figura 4.55. Exemplo de uma soleira simples (Durlo e Sutili, 2005)……………………………………....120
Figura 4.56. Perspectiva em corte de uma soleira simples para criação de habitat piscícola
(Bastien-Daigle et al., 1991 in Melanson et al., 2006)…………………………………………………….….120
Figura 4.57. Representação da alternativa “A” da proposta de restauração…………………………. 124
Figura 4.58. Diferença entre os perfis de investimento na investigação, construção, manutenção
e monitorização de projectos convencionais e de engenharia natural (adaptado de Coppin e
Richards, 1990 in Allen e Leech, 1997)…………………………………………………………………..………….128
Figura 4.59. Localização da linha de bordadura verde (greenline vegetation): (a) no leito de
cheia; (b) para um caudal reduzido (Winward, 2000)………………………………………………………..131
Figura 4.60. Esquema da medição dos transectos na linha de bordadura verde (adaptado de
Winward, 2000)………………………………………………………………………………………………………………..132

xiii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2.1. Perspectivas de gestão para os sistemas fluviais (adaptado de Moreira et al., 2004).
.................................................................................................................................................. 8
Tabela 2.2. Aspectos a ter em conta na análise de diversos factores que causam a instabilidade
nos taludes (Freitas, 2006). .................................................................................................... 28
Tabela 2.3. Os princípios da recuperação e restauro de corredores fluviais (adaptado de
Wasserwirtschaft, 1980 in Saraiva, 1999). ............................................................................. 29
Tabela 2.4. Sumário de estudos sobre larguras de Buffer Strips (adaptado de Perrow e
Wightman, 1993 in Valle, 1998). ............................................................................................ 30
Tabela 2.5. Principais objectivos da engenharia natural (adaptado de Schiechtl, 1991). .......... 32
Tabela 2.6. Vantagens e desvantagens do uso da vegetação como material de construção face
aos materiais inertes (Fernandes, 1987)................................................................................ 33
Tabela 2.7. Principais vantagens e desvantagens das técnicas de engenharia natural. ............. 34
Tabela 2.8. Efeitos hidrológicos e mecânicos da vegetação na estabilidade dos taludes
(adaptado de Durlo e Sutili, 2005). ........................................................................................ 34
Tabela 2.9. Propriedades e capacidades técnicas e biológicas da vegetação (adaptado de
Florineth e Molon, 2004). ...................................................................................................... 36
Tabela 2.10. Espécies de vegetação ripícola mediterrânicas (adaptado de Prada e Arizpe, sem
data). ...................................................................................................................................... 40
Tabela 2.11. Habitats e agrupamentos vegetais característicos dos ecossistemas ripícolas em
Portugal (adaptado de Alves et al., 1995). ............................................................................. 41
Tabela 2.12. Principais técnicas de restauração de linhas de água (FISRWG, 1998). ................. 43
Tabela 2.13. Principais técnicas de técnicas de revegetação e/ou criação do habitat ripícola. . 44
Tabela 2.14. Estratégias fundamentais de recuperação fluvial (adaptado de Saraiva et al.,
2004). ..................................................................................................................................... 46
Tabela 2.15. Processo de desenvolvimento de um plano de restauração fluvial (adaptado de
FISRWG, 1998). ...................................................................................................................... 49
Tabela 2.16. Principais procedimentos da etapa de organização num plano de restauração
fluvial. ..................................................................................................................................... 50
Tabela 2.17. Principais procedimentos da etapa de identificação de problemas/oportunidades
num plano de restauração fluvial. ......................................................................................... 51
Tabela 2.18. Factores a considerar na etapa de desenho de alternativas no plano de
restauração fluvial.................................................................................................................. 53
Tabela 2.19. Métodos de análise de suporte no desenho de alternativas no plano de
restauração fluvial.................................................................................................................. 53
Tabela 2.20. Desenvolvimento de um Plano de Monitorização (adaptado de FISRWG, 1998). . 55
Tabela 3.21. Informação digital disponibilizada pela Agência Cascais Natura. .......................... 62
Tabela 3.22. Área (%) das classes de altimetria na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ... 64
Tabela 3.23. Área (%) das classes de declive na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ....... 65
Tabela 3.24. Área (%) das classes de exposição de vertentes na bacia hidrográfica da Ribeira
das Vinhas. ............................................................................................................................. 66
Tabela 3.25. Área (%) ocupada por cada tipo de formação geológica na bacia hidrográfica da
Ribeira das Vinhas. ................................................................................................................. 67
Tabela 3.26. Área (%) ocupada por cada tipo de solo na bacia hidrográfica da Ribeira das
Vinhas. .................................................................................................................................... 68

xiv
Tabela 3.27. Área (%) ocupada por cada classe de capacidade de uso do solo na bacia
hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ........................................................................................ 69
Tabela 3.28. Área (%) ocupada por cada classe de ordenamento do território na bacia
hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ........................................................................................ 71
Tabela 3.29. Área (%) ocupada por cada condicionante de ordenamento do território na bacia
hidrográfica da Ribeira das Vinhas. ........................................................................................ 74
Tabela 3.30. Área (ha e %) ocupada pela vegetação dominante na bacia hidrográfica da Ribeira
das Vinhas. ............................................................................................................................. 76
Tabela 3.31. Valores do índice biótico BMWP e caracterização dos locais de amostragem para
os locais de amostragem da Ribeira das Vinhas (adaptado de Vieira et al., sem data). ....... 78
Tabela 3.32. Valores dos parâmetros da análise da qualidade da água na Ribeira das Vinhas
(Cascais Natura, 2009b)…………………………………………………………………………………………………..….81
Tabela 3.33. Espécies vegetais encontradas no biótopo pinhal da zona de estudo por tipo de
estrato vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009)……………………………………………………….…..95
Tabela 3.34. Espécies vegetais encontradas no biótopo carrascal da zona de estudo por tipo de
estrato vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009)…………………………………………………………...96
Tabela 3.35. Espécies vegetais encontradas no biótopo juncal/prado vivaz da zona de estudo por
tipo de estrato vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009)……………………………………………....96
Tabela 3.36. Espécies vegetais encontradas no biótopo freixial da zona de estudo por tipo de
strato vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009)…………………………………………………………..…97
Tabela 4.37. Aspectos a considerar em termos de organização no projecto de restauração do
local de estudo…………………………………………………………………………………………………………………..100
Tabela 4.38. Considerações na identificação de problemas e oportunidades na restauração
fluvial……………………………………………………………………………………………………………………………......101
Tabela 4.39. Descrição das condições ecológicas, sócio-culturais e económicas desejadas a
atingir com a intervenção proposta desejada…....................................................................102
Tabela 4.40. Descrição dos diversos elementos a considerar a diferentes escalas dos
processos…………………………………………………………………………………………………………………….…....103
Tabela 4.41. Principais condicionantes na identificação e implementação das metas e objectivos
da restauração…………………………………………………………………………………………………………………..104
Tabela 4.42. Metas e objectivos da restauração…………………………………………………………………..…105
Tabela 4.43. Aspectos a considerar na gestão das causas e tratamento dos sintomas…………...106
Tabela 4.44. Principais características das alternativas da restauração…………………………….….…107
Tabela 4.45. Exigências específicas na plantação de herbáceas e gramíneas a utilizar……….…..112
Tabela 4.46. Exigências específicas das plantas dos estratos arbóreo e arbustivo, durante a
plantação………………………………………………………………………………………………………………………..…113
Tabela 4.47. Tabela dos custos unitários e totais das medidas a aplicar na Alternativa “A” do
projecto de restauração e dos recursos materiais e humanos necessários………………………. 121
Tabela 4.48. Preço unitário por tipo de planta e por origem do fornecedor……………………….... 123
Tabela 4.49. Frequências de amostragem dos elementos de qualidade para os programas de
monitorização de vigilância nas diferentes categorias de meios hídricos (DQA, Directiva
2000/60/CE)……………………………………………………………………………………………………………….….….126
Tabela 4.50. Elementos de qualidade para a classificação do estado ecológico dos rios (DQA,
Directiva 2000/60/CE)……………………………………………………………………………………………….….…...127

xv
Tabela 4.51. Medidas de monitorização das estruturas de engenharia natural implementadas…
………………………………………………………………………………………………………………………………………..129
Tabela 4.52. Indicadores para a monitorização de vegetação ripícola (adaptado de Winward,
2000; Innis et al., 2000; Burton et al., 2008)………………………………………………………………….…130

xvi
xvii
1. CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1.1. Enquadramento geral

O actual cenário de degradação de ecossistemas, a perda da biodiversidade, o estado


ecológico dos rios bem como os potenciais efeitos das alterações climáticas nos processos
hidrológicos e ecológicos a nível global e local, leva à necessidade cada vez mais urgente de
conservar, valorizar e restaurar os ecossistemas. Apesar dos avanços significativos no controlo
das fontes de poluição pontual e difusa, os rios e as ribeiras continuam a ser deteriorados
como resultado das pressões pelas actividades humanas (Petts, 1990; Karr e Chu, 1999;
Moreira et al., 2004).

Nos últimos 20 anos a restauração de linhas de água tornou-se um tema importante, atraindo
os interesses de muitas disciplinas e crescendo dramaticamente a nível internacional
(Ormerod, 2004; Smith et al., 2008; Dufour e Piégay, 2009).

Hoje em dia, os grandes desafios passam pelo desenvolvimento de tecnologias e metodologias


que seja inovadoras em termos de engenharia mas que incluem a integração de novas
disciplinas, nomeadamente através da criação de novas soluções que visam restaurar as
funções vitais dos serviços destes ecossistemas, dos quais as actividades humanas dependem
directa e indirectamente (Mitsch e Jorgensen, 2004).

Em muitos países o investimento público em projectos de restauração ecológica tem crescido


significativamente (Bernhardt et al., 2005). No entanto, o conhecimento dos padrões
ecológicos ainda são limitados bem como as implicações sociais associadas à restauração
(Smith e Merenlender, 2008). No que diz respeito aos esforços das nações nesta matéria
pouco é sabido acerca dos resultados da restauração devido ao facto da monitorização e
avaliação posteriores aos projectos serem extremamente limitadas (Bernhardt et al., 2005).
Seja por causa do desconhecimento da totalidade e complexidade dos problemas da
restauração dos rios ou por causa da incapacidade de implementar soluções adequadas, hoje
em dia a restauração ainda não é alternativa para complementar a gestão dos recursos
(Ormerod, 2004). Porém, a restauração dos ecossistemas deve complementar a conservação
da biodiversidade assegurada pelas reservas naturais (Dobson et al., 1997).

A maioria dos projectos de restauração focalizam-se num único troço de um ribeiro ou rio,
apesar da bacia hidrográfica ser a unidade espacial mais apropriada para a restauração de
sistemas fluviais. No entanto, pouca ou nenhuma monitorização é feita após a implementação
das medidas de restauração e a avaliação do processo é na maioria das vezes omitida bem
como a integração noutros projectos. Isto reflecte que o sucesso da restauração necessita que
os processos chave, isto é, as interacções ao longo do corredor fluvial e as funções ecológicas
devem ser considerados. A restauração das zonas ribeirinhas implica um esforço e uma
integração multidisciplinar: a ecologia da paisagem, a fitoecologia, a hidrologia, a
geomorfologia fluvial, a geografia física, a limnologia e a conservação da natureza. Estas
interacções são muitas vezes ignoradas, o que revela a falta de abordagens baseadas em
processos nas práticas existentes bem como o facto das estratégias à escala da bacia
hidrográfica serem mais difíceis de implementar devido a condicionantes sócio-políticos e
financeiros (Wohl et al., 2004).

Neste sentido, é fundamental a criação e divulgação de casos de estudo de referência de modo


a que as metodologias e ferramentas sejam aplicadas, avaliadas e melhoradas, e que sejam
incentivadas as actividades de investigação, para que possam posteriormente ser
implementadas noutros locais. Se os objectivos de conservação e restauração forem locais,
estas metodologias poderão ser aplicadas noutros pontos das ribeiras ou rios. Caso os
objectivos sejam mais amplos, as metodologias e técnicas poderão ser aplicadas ao nível
regional, numa escala ao nível da bacia hidrográfica.

A importância multi-funcional das galerias ripícolas e dos sistemas fluviais, tanto em termos
ecológicos como sócio-económicos, induz igualmente à necessidade de uma atitude pró-activa
por parte da sociedade, autarquias, agentes económicos, técnicos e cidadãos, ou seja, de
todos os agentes envolvidos que dependem directa e indirectamente dos serviços destes
ecossistemas. A reabilitação de ecossistemas ribeirinhos deve ser integrada com os
instrumentos de planeamento, uma vez que deve ser vista globalmente e não como uma
intervenção isolada e pontual (Saraiva et al., 2004).

1.2. Objectivos e âmbito

Dado o conhecimento do estado ecológico dos cursos de água e zonas ripícolas da bacia
hidrográfica da Ribeira das Vinhas, pretende-se elaborar um projecto de requalificação de um
troço da ribeira, que poderá ser utilizado como um potencial caso de estudo de referência.
Este troço está localizado em Pisão de Baixo, situada na Freguesia de Alcabideche, no Concelho
de Cascais. A área de intervenção está enquadrada no projecto da Agência Cascais Natura.
O presente trabalho tem como objectivo principal a elaboração de um projecto de
requalificação do curso de água e zona adjacente das margens e taludes, nomeadamente da

2
regeneração da floresta ripícola e do bosque de carvalhos. Um dos objectivos passa também
pela implementação de medidas um com impacte ambiental reduzido, através do recurso a
técnicas de engenharia natural e da utilização de materiais locais e naturais.

1.3. Organização da dissertação

No primeiro capítulo, a título de enquadramento, faz-se referência à importância da


restauração ecológica de linhas de água face ao actual estado de degradação destes
ecossistemas, nomeadamente das zonas ripícolas. Pretende-se uma breve abordagem das
potencialidades e limitações da aplicação de técnicas de restauração bem como da
necessidade do desenvolvimento de metodologias inovadoras, através de uma abordagem
multidisciplinar.

O estado da arte da restauração ecológica de linhas de água é descrito no segundo capítulo,


que aborda o que se tem feito relativamente à elaboração e implementação das iniciativas de
restauração. Neste capítulo é dada a importância dos ecossistemas ribeirinhos e das galerias
ripícolas, aos instrumentos de gestão territorial associados aos recursos hídricos e ecológicos.
Relativamente à recuperação da vegetação ripária, são abordadas as técnicas de engenharia
natural bem como as propriedades técnicas da vegetação. O planeamento e o modo de
implementação deste tipo de iniciativas são abordados na última parte deste capítulo.

O caso de estudo do presente trabalho divide-se em duas partes. No capítulo três faz-se a
caracterização da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas e do troço de intervenção para o
projecto de requalificação enquanto no capítulo quatro se define uma metodologia e a
proposta de requalificação ribeirinha propriamente dita.

No capítulo cinco são discutidos os principais pontos na elaboração do projecto de


requalificação, a sua importância, potencialidades e limitações. Este capítulo termina com as
considerações finais e desenvolvimento futuros para a consolidação da proposta elaborada.

3
4
2. CAPÍTULO II – A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE LINHAS DE ÁGUA

2.1. Introdução

Os ecossistemas fluviais estão expostos a inúmeras ameaças. As florestas ripícolas e as zonas


húmidas associadas aos rios estão entre os ecossistemas com maior riqueza biológica à face da
Terra (Innis et al., 2000). Nos últimos anos, a perda destas florestas ripícolas foi de cerca de
66% na Europa e 50% nos EUA (NRC, 1995; Comissão Europeia, 1995 in Innis et al., 2000). Ao
longo de muitos séculos estes ecossistemas foram utilizados e explorados com cada vez mais
intensidade, o que levou a uma perda de habitats de fauna e flora, à redução ou mesmo perda
de muitas espécies, a elevados níveis de poluição e à degradação estético-cénica da paisagem
fluvial.

As primeiras acções em prol de uma consciência ambiental consistiam em procurar soluções


que resolvessem os problemas ao nível das fontes pontuais, através do desenvolvimento de
tecnologias “end-of-pipe”. No entanto, com a contínua perda de habitats e degradação da
qualidade da água demonstrou-se que existiam complicações e aspectos a considerar muito
para além do simples controlo das fontes pontuais, e como resultado surgiu o
desenvolvimento dos modelos ambientais e ecológicos para avaliar a capacidade depuradora
dos ecossistemas e relacionar impactes e efeitos das actividades humanas. Estas relações
permitiram determinar as “soluções óptimas” para os problemas ambientais, através do
desenvolvimento de tecnologias ambientais ou “limpas”.

Apesar dos avanços significativos no controlo de fontes de poluição pontual (esgotos


domésticos ou efluentes industriais) e da poluição difusa (agrícola, urbana e da indústria
pecuária), estas ainda constituem um problema recorrente em muitas bacias hidrográficas
(Williams et al., 1997, Mainstone e Parr, 2002).

Hoje em dia, os grandes desafios passam pelo desenvolvimento de tecnologias e metodologias


que seja inovadoras em termos de engenharia mas que incluem a integração de novas
disciplinas, nomeadamente através da criação de novas soluções que visam restaurar as
funções vitais dos serviços destes ecossistemas, dos quais as actividades humanas dependem
directa e indirectamente. O número de soluções possíveis é enorme, mas a estratégia de
gestão ambiental deve ter como objectivo a solução óptima de um ponto de vista económico e
ecológico e devem incluir a aplicação simultânea da tecnologia ambiental, das novas
tecnologias “limpas”, da engenharia ecológica e da restauração de ecossistemas (Mitsch e
Jorgensen, 2004).

5
As tecnologias ecológicas e a engenharia ecológica terão um papel significativo nas sociedades
sustentáveis. Precisamos de adequar abordagens que resolvam os problemas ambientais não
apenas para o bem-estar humano mas também para proteger ribeiras, rios, lagos, zonas
húmidas, florestas e savanas. Precisamos de trabalhar simbioticamente com a natureza onde
usamos as suas funções para serviços públicos, reconhecendo também a necessidade de
conservação da natureza. A ideia de conservação da natureza é tão importante que necessita
de ser uma meta de engenharia e não apenas um possível resultado (Mitsch e Jorgensen,
2004).

Neste sentido, a engenharia e a ecologia devem ser integradas na conservação e restauração


de ecossistemas através de uma abordagem comum. A ecologia, como ciência, é uma
disciplina pouco integrada nos programas e currículos de engenharia (mesmo em engenharia
do ambiente) e por outro lado, aos cientistas e técnicos de ambiente, faltam a capacidade de
resolução de problemas. Assim, a engenharia perde a ciência que poderia solucionar muitos
aspectos ao nível do ambiente e ecologia enquanto os especialistas nesta área, apesar de
serem altamente competentes na gestão de ecossistemas, não são direccionados para
solucionar os problemas através da engenharia.

Actualmente, a restauração de ribeiras e rios tem sido um dos aspectos mais intrigantes da
restauração ecológica da paisagem. Em termos históricos, tanto nos países desenvolvidos
como em desenvolvimento, houve sempre uma tentativa de controlo no funcionamento
destes ecossistemas. Os seus valores ecológicos, hidrológicos e paisagísticos sempre foram, de
uma forma geral, menosprezados perante o seu valor económico e hoje em dia, assiste-se
ainda à deterioração progressiva da qualidade da água e à degradação destes ecossistemas.

Durante muito tempo, a estratégia da engenharia e hidráulica fluvial esteve orientada no


sentido de regularizar o leito dos rios e ribeiras, para que os caudais fossem dirigidos para
jusante através do caminho mais curto e com a maior velocidade de escoamento possível,
através de um perfil regular e das margens impermeabilizadas. Os principais objectivos eram
ganhar terreno para agricultura, urbanização e minimização dos efeitos locais das cheias. A
biodiversidade foi reduzida drasticamente e as cheias de hoje em dia causam prejuízos cada
vez maiores (Binder, 1998).

Hoje em dia, a afectação dos rios e ribeiras passa cada vez mais pela aplicação de métodos e
técnicas que visam a sua renaturalização e a conservação das suas funções ecológicas e
geomorfológicas, muitas vezes através da remoção de barragens, da remeandrização das

6
linhas de água, da estabilização das margens e da reabilitação do ecossistema ripícola. A
renaturalização dos rios exige a criação de novos conceitos de engenharia hidráulica, um novo
planeamento da ocupação territorial bem como o desenvolvimento e implementação de
metodologias e técnicas inovadoras aplicadas à restauração dos ecossistemas.

2.2. O Estado da arte da restauração ecológica de linhas de água

A conservação, valorização e gestão ambiental dos rios e sistemas fluviais constituem, na


actualidade, um importante desafio que importa ter em conta na gestão integrada de recursos
naturais, na óptica de um desenvolvimento sustentável (Moreira et al., 2004). A água é, cada
vez mais, objecto de preocupações crescentes no que respeita à sua utilização e conservação,
no sentido de assegurar, às gerações futuras, a sua disponibilidade espacial e temporal, tanto
para usos humanos, como para o funcionamento saudável dos ecossistemas.

A importância da conservação da estrutura e funções das linhas de água e das galerias ripícolas
é hoje em dia cada vez mais reconhecida. Os rios são sistemas de transição entre os
ecossistemas terrestres e os sistemas aquáticos, sendo a sua estrutura e composição
fundamentalmente terrestres devido ao facto de poucas vezes no ano serem inundadas e
geralmente por certos períodos (Lastra, 2003).

Estruturalmente, os ecossistemas fluviais podem ser divididos em dois subsistemas, o


aquático, propriamente dito e o ripícola. A palavra ripícola provém do latim ripa, que significa
margem, e colere, que significa habitar. Os ecossistemas ripícolas são ecótonos entre as zonas
aquáticas e terrestres, ou seja, zonas de transição entre ecossistemas adjacentes, mantendo
com estes relações funcionais, às escalas espacial e temporal, influenciadas pelo regime
hidrológico e dinâmica geomorfológica do local onde se encontram (Valle, 1998). Para Odum
(1981) a zona ripícola é a “interface entre o recurso mais vital para o homem, nomeadamente
a água, e o seu espaço de vida, a terra”. No entanto, os corredores fluviais e os leitos de cheia
encontram-se entre os ecossistemas mais modificados no mundo industrializado (Petts, 1990).

Uma das tendências actualmente identificadas na gestão ambiental dos sistemas fluviais
consiste na definição de estratégias para a sua conservação e valorização, numa perspectiva
integrada de gestão de bacias hidrográficas. São diversas as opções de gestão a aplicar, entre
as quais a preservação das situações de elevado valor ecológico, a recuperação e o restauro de
troços que apresentem graus de degradação susceptíveis de serem intervencionados e a

7
criação de zonas húmidas. São diversos os autores que têm vindo a desenvolver a investigação
relativa a processos e estratégias de recuperação ecológica de sistemas fluviais, juntamente
com medidas que visam a sua conservação e valorização, tendo em conta o conhecimento do
funcionamento e estrutura dos ecossistemas aquáticos e ripícolas (vide Gore, 1985; Boon,
1992; NRC, 1992; Perrow e Wightman, 1993; Adams et al., 1998; Moreira et al., 2004).

O quadro de opções a equacionar como alternativas para a gestão dos sistemas fluviais pode
ser, segundo Boon (1992 in Moreira et al, 2004), representado através de um eixo que
apresenta um gradiente de situações de rios, desde a situação natural até à situação de
degradados (Figura 2.1).

Figura 2.1. Perspectivas de conservação e gestão para sistemas fluviais (adaptado de Boon, 1992 in
Moreira et al., 2004).

Os conceitos de conservação, preservação, limitação, mitigação bem como de recuperação,


restauro, reabilitação, variam consoante o autor. Moreira et al. (2004) descreveu alguns destes
conceitos (Tabela 2.1) no sentido de verificar que tipo de acções pode ocorrer na intervenção
dos sistemas fluviais.

Tabela 2.1. Perspectivas de gestão para os sistemas fluviais (adaptado de Moreira et al., 2004).

Tipo de gestão do sistema fluvial Descrição


Preservação ou conservação No caso de situações de rios naturais ou seminaturais
Nos usos do solo ou utilização de recursos, no âmbito da bacia
Limitação do uso
hidrográfica de rios de elevada qualidade ecológica
No caso de rios com menor qualidade, regulamentando
actividades como a regularização, captação ou recepção de
Mitigação
efluentes, tendo em conta a protecção de habitats ou outros
valores naturais
Estabelecimento de um processo de reconversão, através de
Recuperação/restauro actuações de recuperação da qualidade da água, do regime
hidrológico e da estrutura de habitats e de zonas ripícolas

8
Nas situações em que o nível de degradação é tal que não viabiliza
Abandono
um processo de recuperação
Valorização Melhoramento de um atributo estrutural ou funcional
Retorno parcial, estrutural ou funcional a um estado de pré-
Reabilitação ou recuperação
perturbação
Retorno total, estrutural e funcional a um estado de pré-
Restauro
perturbação
Conjunto de acções para evitar, reduzir ou compensar os efeitos
Mitigação
de danos ambientais

Nos últimos 20 anos a restauração de linhas de água tornou-se um tema importante, atraindo
os interesses de muitas disciplinas e crescendo dramaticamente a nível internacional
(Ormerod, 2004; Smith et al., 2008; Dufour e Piégay, 2009). As metas são invariavelmente
multifuncionais, mas existe uma crescente responsabilidade nas iniciativas de restauração no
sentido de aumentar a conservação da biodiversidade e garantir a protecção dos bens,
serviços e funções ecológicas que os rios asseguram. Para Ormerod (2004), a restauração deve
ser centrada nos organismos pelo que as espécies-chave, as comunidades de que fazem parte
e as funções ecológicas que asseguram devem ser os principais “juízos do sucesso” da
restauração.

A restauração dos ecossistemas deve complementar a conservação da biodiversidade


assegurada pelas reservas naturais (Dobson et al., 1997). Em primeiro lugar, a proporção dos
rios mundiais designados como reservas é pequena em comparação com os ecossistemas
terrestres: a conservação dos sistemas fluviais requer uma abordagem ambiental mais ampla
envolvendo políticas e legislação para melhorar a qualidade dos rios e a reabilitação para
reparar o que está degradado. Em segundo lugar, grandes extensões dos rios mundiais foram
apropriadas directamente para o uso humano ou afectadas indirectamente pelas actividades
humanas (Ormerod, 2004). Na União Europeia, a Directiva Quadro da Água (DQA; Comissão
Europeia, 2000) engloba estas noções definindo o bom estado ecológico ou bom estado
ecológico potencial dos Estados Membros. Através dos programas de medidas, metas e
objectivos da DQA, a intenção implícita da elaboração desta legislação ao nível europeu é de
melhorar a qualidade dos rios numa determinada direcção, no sentido do equilíbrio ecológico
das massas de água. Para Clarke et al. (2003, in Ormerod, 2004), este aspecto é um dos
maiores catalisadores para a restauração de rios na história da gestão fluvial.

A degradação dos ecossistemas ripícolas e a consequente perda da sua biodiversidade (Figura


2.2) têm uma expressão significativa nos problemas ambientais das últimas décadas. A

9
necessidade da restauração/recuperação de linhas de água é hoje em dia reconhecida pelos
organismos governamentais e por muitos stakeholders como um complemento essencial da
conservação e gestão dos recursos naturais. No entanto, os rios e as ribeiras continuam a ser
deteriorados como resultado da pressão pelas actividades humanas (Karr e Chu, 1999).

Figura 2.2. Perda de espécies devido à canalização/rectificação dos rios (Binder, 1998).

Tendo em conta que a restauração dos rios é cada vez mais vista como um teste para as
ciências hidrológicas e ecológicas, é imperativo o nosso esforço em melhorar o estado e a
percepção da ciência da restauração (Wohl et al., 2004). No entanto, muitos dos projectos de
restauração falham: (i) na inclusão de um modelo conceptual sólido dos ecossistemas fluviais;
(ii) no conhecimento claro e articulado dos processos dos ecossistemas; (iii) no
reconhecimento de múltiplas escalas temporais e espaciais dos rios; e (iv) na monitorização a
longo-prazo do sucesso ou insucesso dos objectivos dos projectos após a sua conclusão
(Pedroli et al., 2002).

Seja por causa do desconhecimento da totalidade e complexidade dos problemas da


restauração dos rios ou por causa da incapacidade de implementar soluções adequadas, hoje
em dia a restauração ainda não é alternativa para complementar a gestão dos recursos
(Ormerod, 2004).

As implicações da restauração ainda são ambíguas porque existe apenas uma pequena
percentagem dos projectos e esforços são avaliados e praticamente não é efectuada nenhuma
análise e reconhecimento de esforços no contexto político, não sendo reconhecida esta

10
actividade como prioritária face ao actual estado dos ecossistemas. Smith e Merenlender
(2008) sugerem que a restauração pode ser mais eficaz considerando toda a bacia hidrográfica
como uma combinação de esforços sociais e ecológicos que interagem para produzir as
condições hidrológicas.

Em muitos países o investimento público em projectos de restauração ecológica tem crescido


significativamente (Bernhardt et al., 2005). No entanto, o conhecimento dos padrões
ecológicos ainda é limitado (Kondolf, 1995, 1997; Downs e Kondolf, 2002 in Smith e
Merenlender, 2008) bem como as implicações sociais associadas à restauração (Gobster e Hull,
2000; Higgs, 2003 in Smith e Merenlender, 2008).

Para Bernhardt et al. (2005), no que diz respeito aos esforços das nações nesta matéria, pouco
é sabido acerca dos resultados da restauração devido ao facto da monitorização e avaliação
posteriores aos projectos serem extremamente limitadas.

Segundo o estudo efectuado por Smith e Merenlender (2008) relativamente ao estado da arte
e as lições retiradas da restauração ecológica da bacia hidrográfica do Rio Russo (Califórnia):

(i) a restauração deve incluir a interacção de esforços sociais e ecológicos para garantir as
condições da bacia no sentido de criar ecossistemas sustentáveis e políticas com
equidade;
(ii) deve ser feita uma maior investigação nas causas da degradação ambiental e estas
causas devem ser compreendidas num contexto social, particularmente em termos de
directivas políticas e incentivos económicos que motivam os usos particulares da água e
solo;
(iii) os fundos devem estar direccionados para modificar as forças motrizes sociais da
degradação ambiental, focando-se nas alterações mais significativas à escala da bacia
hidrográfica, particularmente em termos de conservação do solo e água bem como na
gestão, política e educação;
(iv) a prática da restauração deve também incluir os esforços para proteger os habitats das
actividades nefastas e ao longo da zona ripária associada aos usos do solo. A redução da
expansão bem como a conversão agrícola nos solos a montante reduzem a procura da
água e protegem os habitats ripícolas.

Apesar da inexistência de fundamentos científicos rigorosos e de princípios bem testados, a


restauração de rios é um dos aspectos mais importantes das ciências hidrológicas (Malakoff,
2004). Os rios e ecossistemas ripícolas acarretam um valor ecológico intrínseco e são

11
altamente valorizados pelo público. À medida que a prática da restauração de rios aumenta, a
necessidade de desenvolver uma base científica é óbvia, como é evidenciado através do
número de grupos de trabalho e iniciativas políticas da parte dos governos, as organizações
não-governamentais e em termos de investigação académica.

Para Malasson (1993, in Saraiva, 2004) a ecologia da paisagem ribeirinha é uma área disciplinar
que se insere no contexto de outros saberes científicos: a ecologia da paisagem, a fitoecologia,
a hidrologia, a geomorfologia fluvial, a geografia física, a limnologia e a conservação da
natureza.

Isto reflecte que o sucesso da restauração necessita que os processos chave - as interacções ao
longo do corredor fluvial (de montante a jusante), os declives, as planícies aluviais, os lençóis
freáticos – devem ser considerados (Sear, 1994; Angermeier, 1997; Frissell, 1997; Poff et al.,
1997; Stanford e Ward, 1992; Graf, 2001; Palmer et al., 2004b in Wohl et al, 2004). A
importância destas interacções é significativamente biofísica: a água, os sedimentos, o calor, a
matéria orgânica, os nutrientes e os químicos movimentam-se desde as zonas mais elevadas,
através de tributários e ao longo de planícies de inundação em concentrações e taxas
variáveis. Estas interacções são muitas vezes ignoradas na restauração de rios e até à data, a
restauração tem sido feita em pequenas zonas ou troços, com pouca ou nenhuma
monitorização e com uma reduzida integração doutros projectos. Isto reflecte que a falta de
abordagens baseadas em processos nas práticas existentes bem como o facto de que as
estratégias compreensivas de restauração que restabelecem as interacções e processos à
escala da bacia hidrográfica são mais difíceis de implementar devido a condicionantes sócio-
políticos e financeiros (Wohl et al., 2004).

Em muitas linhas de água urbanas, o potencial para melhorar as condições ecológicas é


limitado, e os benefícios típicos de um projecto de restauração são sociais, sendo necessária a
criação de um sentido de comunidade através da envolvência dos residentes. Até mesmo nas
zonas rurais é necessária a cooperação entre os proprietários e o suporte de outros membros
da comunidade (e agências locais) para implementar e sustentar os projectos de restauração. É
importante relembrar que os projectos de restauração de rios são também um aspecto social,
e muitas vezes, mais do que um aspecto ecológico (Kates et al., 2001; Anderson et al., 2003).
Para além dos aspectos sociais, as condicionantes legislativas e os aspectos políticos são
também factores limitantes na adopção de estratégias de conservação e valorização ecológica
dos valores naturais na paisagem.

12
A restauração ecológica é ainda criticada por muitos conservacionistas e pela maioria dos
economistas, como uma diversão, uma ilusão e um desperdício de dinheiro. De facto, a
restauração é complementar não apenas à conservação da natureza mas também ao
desenvolvimento sustentável e sócio-económico. A conservação, a restauração ecológica e as
políticas de desenvolvimento económico sustentável devem antes de tudo ser planeadas e
executadas em conjunto. Neste sentido, “a restauração ecológica é vista como uma estratégia
que aumenta o capital natural. Investir em restaurar o capital natural não se distancia da
conservação da natureza, mas sim adiciona sentido, relevância e eficácia aos esforços da
conservação” (Aronson et al., 2006). São diversos os estudos recentes que quantificam, de
determinadas formas, os benefícios sociais da restauração ripícola (vide Loomis et al., 2000;
Holmes et al., 2004; Collins et al., 2005), nomeadamente a criação de novos empregos e o
aumento do stock de bens e serviços naturais dos quais muitas economias dependem.

Apesar dos esforços da melhoria da gestão e restauração dos rios nos últimos anos bem como
do aumento dos campos de actuação da investigação, para Newton e Large (2006) ainda
persistem diferenças nos objectivos entre os gestores e os cientistas ambientais. Os gestores
são forçados a ponderar as necessidades da sociedade enquanto os cientistas esforçam-se por
compreender os processos naturais com ou sem a afectação humana (Dufour e Piégay, 2009).
Assim, a importância e a contínua emergência da ciência da restauração é actualmente
reconhecida, mas para estes autores persistem algumas dúvidas, nomeadamente os benefícios
envolvidos e os cenários de referência da restauração. Assim, são dois os aspectos particulares
que a ciência da restauração deve actualmente responder (Dufour e Piégay, 2009):

(i) a crescente complexidade na definição da situação de referência com a introdução de


uma nova compreensão histórica das pressões humanas e do sistema conceptual
desenvolvido e aplicado;
(ii) a substituição progressiva de uma estratégia base de referência por uma estratégia
baseada em objectivos, reflectindo o aumento do conhecimento dos serviços dos
ecossistemas oferecidos pelos sistemas em estudo, incluindo a sustentabilidade.

Por estas razões, torna-se necessário encontrar soluções técnicas e políticas no sentido de
maximizar a integridade dos ecossistemas e o bem-estar humano sem para isso comprometer
as gerações futuras, através da conservação dos valores ecológicos dos corredores fluviais bem
como das suas funções ecológicas e económicas de um modo sustentável. As acções de
restauração são um meio para o atingir, mas apenas um meio e não um objectivo per se.
Palmer et al. (2005) afirmam que para termos sucesso, precisamos não só de um quadro

13
coerente para avaliar o impacto das nossas acções, mas também de uma base sólida a partir
da qual possamos definir objectivos.

2.3. A importância dos ecossistemas ribeirinhos

A vegetação ribeirinha funciona, no caso de não haver alteração pelo homem, como um
corredor ecológico que permite a existência de um continuum naturale entre os diversos
habitats naturais. Um ecossistema ribeirinho pouco intervencionado ou próximo das condições
naturais é constituído por um mosaico de formações vegetais com uma elevada diversidade
que resulta da combinação de muitos factores, entre eles, os climáticos, geológicos,
pedológicos, topográficos e históricos. Estes ecossistemas constituem meios de migração para
muitas espécies da fauna e flora e têm um papel importante na vida das comunidades
humanas, que utilizam os seus recursos e também neles estabelecem os seus espaços de lazer.
No entanto, estes ecossistemas ripícolas em bom estado de conservação são hoje em dia
escassos devido às perturbações induzidas pelas actividades humanas (Moreira et al., 2004).

Os ecossistemas ribeirinhos são habitats aquáticos de água doce, cujas águas se encontram em
movimento mais ou menos rápido, o que condiciona à partida as comunidades biológicas
capazes de colonizar ou habitar estes meios, quer sejam flutuantes ou nadadoras, que
submersas fixas aos fundos, quer parcialmente emersas e fixas nas margens (Alves et al.,
1995). A aridez, o relevo e a presença de solos deposicionais são os aspectos que mais
influenciam a extensão dos lençóis freáticos e dos ecossistemas ripícolas associados (Jonhson e
McCormick, 1979).

Perante o conceito de corredor verde, ou corredor de vegetação, o continuum naturale não é


mais do que o conjunto formado pela continuidade dos elementos da paisagem natural e com
as suas funções próprias de forma a ser atingida uma garantia da qualidade de vida (Valle,
1998). Cabral (1980) define quatro princípios fundamentais deste conceito: a continuidade; a
elasticidade (a capacidade de adaptação à diversidade de situações que caracterizam a vida); a
meandrização (representa a tendência para o aumento das interfaces dos vários elementos da
paisagem e que faz aumentar os fluxos de energia, matéria e organismos); e a intensificação
(para atingir a optimização dos seus recursos). Na Figura 2.3 estão representadas as funções
desempenhadas pela vegetação ripícola na paisagem.

14
Figura 2.3. Esquematização das funções desempenhadas pela vegetação ripícola na paisagem (Saraiva,
1999).

Os corredores são faixas com vegetação de características específicas (que diferem da matriz
do terreno envolvente) que ladeiam os cursos de água (Figura 2.4). O corredor inclui não só o
curso de água e as suas margens, como também, se suficientemente largo, o leito ou planície
de cheia e as zonas adjacentes, ricas em vida selvagem (Valle, 1998). Devido às suas
características os corredores fluviais constituem elementos da paisagem a que tem sido
prestada muita atenção pelo que têm associado ao seu conceito, a perspectiva da conservação
e valorização da paisagem e dos recursos cénicos bem como de recreio.

Figura 2.4. Secção transversal de um corredor ripícola (FISRWG, 1998).

15
As características estruturais essenciais dos corredores, extensíveis aos corredores fluviais, são
a largura, a conectividade e a qualidade (Forman e Gordon, 1986; Forman, 1997; Saraiva et al.,
1996; Morais 1997). A largura determina a parte do corredor exposta a intrusões físicas,
biológicas e antrópicas, ou ao efeito de orla. A conectividade representa a existência de
interrupções ao longo do corredor, originadas pelos mais diversos factores. A qualidade diz
respeito ao elenco florístico e varia com a conectividade e largura. Segundo Forman e Godron
(1986), as funções de habitat, condutor, filtro, barreira, fonte e destino dos corredores (Figura
2.5), desempenhadas também pelos corredores fluviais, variam com os parâmetros estruturais
de largura e conectividade. Se os corredores apresentarem interrupções de continuidade as
funções de filtro e barreira deixam de se exercer e as restantes podem ficar comprometidas.

Figura 2.5. Funções dos corredores na paisagem (adaptado de FISRWG,1998).

Os corredores fluviais correspondem a ecossistemas de elevada produtividade, diversidade,


complexidade e qualidade visual, que podem ser utilizados de múltiplas formas pelas
sociedades humanas (Valle, 1998). Segundo o mesmo autor, os ecossistemas fluviais
funcionam como sistemas abertos, nos quais a variação gradual da fauna e flora, fluxos de
energia e matéria e os gradientes físicos dão forma a uma estrutura dinâmica, no tempo e no
espaço, desde a nascente até à foz, à qual Vannote et al. (1980 in Bindord e Buchenau, 1992) e
Cummins et al. (1984 in Bindord e Buchenau, 1992) chamam de “River Continuum Concept”,
vulgarmente chamado continuum fluvial, na literatura actual.

16
A diversidade de usos, incluindo o abastecimento e armazenamento de água, produção de
energia, recepção de efluentes, controlo de cheias, produção florestal, extracção de inertes,
agricultura e pastagens, recreio e lazer, movimentação de espécies e habitat, entre outros,
mostra os conflitos e a competitividade existente entre as várias intervenções. Daí que o
planeamento, ordenamento e gestão destes recursos se torne um desafio. De uma forma
geral, nas intervenções efectuadas nos sistemas fluviais, os valores prioritariamente
considerados são os económicos, sendo os valores ecológicos, culturais e estéticos,
minimizados. Os aspectos estéticos e cénicos dos sistemas fluviais, apesar de terem grande
significado, são de difícil avaliação, o que faz com que, na maioria das vezes, sejam totalmente
ignorados (Valle, 1998).

As características ecológicas dos sistemas fluviais são essenciais ao desempenho das suas
funções biofísicas e paisagísticas (Saraiva, 1995), sendo estas:

i) Estrutura linear ou curvilínea, relacionada com as características morfológicas da rede


de drenagem;
ii) Elevado grau de conexão com sistemas adjacentes, actuando simultaneamente como
elemento de ligação e separação entre eles;
iii) Favorecimento de condições de refúgio e protecção, constituindo habitats para um
elevado número de espécies;
iv) Existência de gradientes, isto é, de mudanças graduais na composição e abundância de
espécies, o que dá origem a funções condutoras de movimento e circulação de espécies;
v) Efeitos de orla, de filtragem e/ou barreira: funcionam como filtros para sedimentos
transportados pela erosão e como reguladores da temperatura da água;
vi) Existência de relações funcionais com as águas subterrâneas, favorecendo o seu fluxo
ascendente, assim como com a circulação de águas superficiais, controlando as funções
de escoamento e infiltração, a retenção de nutrientes e sedimentos e a protecção
contra a erosão;
vii) Grande tolerância e flexibilidade às modificações cíclicas do regime de caudais do rio;
viii) Controlo do desenvolvimento de plantas aquáticas por ensombramento;
ix) Riqueza e diversidade paisagística e valorização cénica da paisagem.

O regime hidrológico de inundação é o maior responsável pelas mudanças ocorridas nos


ecossistemas ripícolas. As inundações proporcionam inputs de energia e garantem a
regeneração destes sistemas, o transporte de sedimentos e a sua deposição, a erosão das
margens, a manutenção dos níveis de humidade do solo e a dispersão das sementes (Petts,

17
1990 in Marques, 1995). Para além de serem de extrema importância para a dinâmica destes
ecossistemas, o regime e variabilidade das inundações interferem no denominado gradiente
transversal (Malason, 1993), sendo este, segundo Valle (1998) o factor mais significativo na
determinação da estrutura interna e funcionamento dos ecossistemas ripícolas. O gradiente
transversal consiste no fluxo bidireccional de energia, matéria e organismos, perpendicular ao
curso da água. Por outro lado, o gradiente longitudinal é também característico dos
ecossistemas ripícolas (trata-se de um fluxo de energia, matéria e organismos no sentido do
comprimento do curso de água) mas não se verifica tão facilmente devido à possível
fragmentação e descontinuidade apresentadas pelos sistemas fluviais.

Assim, a diversidade, a continuidade, a largura e a sinuosidade do corredor ripícola


representam características de extrema importância na ocorrência dos gradientes transversal
e longitudinal e no desempenho das suas funções (Villa, 1998). A diversidade do sistema
ripícola é importante para o desempenho das suas funções enquanto corredor. A continuidade
é um atributo dos cursos de água, mas não da vegetação ripícola. A galeria pode apresentar-se
em manchas isoladas, ou seja, fragmentada e sem conectividade (Figura 2.6). A largura é
importante relativamente ao efeito de orla. A sinuosidade favorece as interacções com a sua
envolvente devido à maior área de contacto proporcionada pelas curvas.

Figura 2.6. a) Paisagem com (A) elevado e (B) reduzido grau de conectividade; b) relação de
conectividade entre a zona interior e bordadura (adaptado de FISRWG, 1998).

A vegetação ripícola é a ligação entre diferentes habitats e promove a qualidade de outros


sistemas terrestres, aquáticos ou costeiros/marinhos (Prada e Arizpe, sem data). A vegetação
está especificamente adaptada às condições ambientais através de estratégias morfológicas,
fisiológicas e reprodutivas. Em termos gerais, as plantas ripícolas podem ser reconhecidas por
serem altamente adaptadas à tolerância de perturbações físicas (Fabião e Fabião, 2006).

18
2.4. Enquadramento legislativo

Em Portugal são diversos os instrumentos jurídicos numa abordagem da gestão das linhas de
água. Contudo, estes instrumentos são muitas vezes ignorados ou insuficientemente aplicados.
De seguida enumeram-se os principais instrumentos do ordenamento territorial deste tipo:

Domínio Público Hídrico e Zonas Adjacentes

O Domínio Público Hídrico (DPH) corresponde a um conceito que está na base da gestão
tradicional dos recursos hídrico, tendo o seu regime sido revisto e unificado em 1971 através
do Decreto-Lei 468/71. Este regime estabelece as noções de leito, de margem e a sua largura
bem como a de Zona Adjacente. Note-se que em 1994 foi revisto pelo Decreto-Lei nº46/94 o
regime de licenciamento das utilizações do domínio hídrico.

A Zona Adjacente corresponde à “área contígua à margem de um rio que se estenda até à linha
alcançada pela maior cheia que se produza no período de um século” (nº1 do Artº 14º),
alterada e definida pelo Decreto-Lei 89/87. A Zona Adjacente sujeita-se assim a restrições de
utilidade pública, para um mais eficaz controlo das edificações nessas zonas e actuação
preventiva em caso de avanço das águas do mar ou cheias extraordinárias dos rios.

Reserva Ecológica Nacional (REN)

A Reserva Ecológica Nacional (REN) foi estabelecida pelo Decreto-Lei nº93/90 e contempla as
zonas costeiras e ribeirinhas, as águas interiores, as áreas de infiltração máxima e zonas
declivosas, constituindo uma estrutura biofísica básica e diversificada que procura assegurar a
protecção de ecossistemas sensíveis e a permanência e intensificação dos processos biológicos
indispensáveis ao enquadramento equilibrado das actividades humanas.

A REN abrange zonas com uma grande interligação dos processos biofísicos com o ramo
terrestre do ciclo hidrológico, nomeadamente os processos de erosão, transporte e
sedimentação. Observa-se uma eventual sobreposição com o domínio público, subjacente aos
critérios de delimitação, principalmente em relação aos leitos dos cursos de água e zonas
ameaçadas pelas cheias.

Sendo assim, e no que respeita à ocorrência de cheias e a protecção destas zonas, a REN é de
uma importância relevante por incluir a delimitação das zonas ameaçadas por cheias,
considerando ainda a protecção das cabeceiras dos cursos de água e zonas de riscos de erosão
elevados.

19
É importante referir que a delimitação deste instrumento é obrigatória no âmbito dos Planos
Regionais, tanto os Municipais como os Especiais de Ordenamento do Território (PDM e PEOT).

Reserva Agrícola Nacional (RAN)

A RAN está estabelecida pelo Decreto-Lei nº 196/89 e posteriormente alterado pelo Decreto-
Lei nº274/92, e os seus objectivos visam proteger os solos de maior aptidão agrícola,
garantindo a sua afectação à agricultura bem como um pleno aproveitamento das suas
potencialidades. De um modo geral, aplica-se através da delimitação dos solos de capacidade
de uso muito elevada e elevada (classes A e B), solos de baixas aluvionares e coluviais, entre
outros.

É importante referir que os estatutos da REN, no caso dos leitos de cheia e riscos de ocorrência
de cheias (muitos dos solos agrícolas encontram-se integrados em leitos de cheia), podem
sobrepor-se aos da RAN, podendo tornar mais efectivos os objectivos de protecção destes
solos. Por si só, a RAN pode permitir o alargamento ou sobreposição do contido no DHP.

Planos Directores Municipais (PDM)

Os PDM são instrumentos de planeamento territorial estabelecidos pelo Decreto-Lei nº69/90 e


Decreto-Lei nº211/92 que visam a estrutura espacial para o território municipal, a classificação
dos solos e os índices urbanísticos.

É de salientar que a rede hidrográfica e a de drenagem natural constituem uma estrutura de


organização do espaço com expressão relevante ao nível do território municipal pelo que,
segundo Saraiva et al. (sem data), “no contexto do ordenamento do uso do solo a nível
municipal, deveria ser objecto de caracterização específica e de representação destacada nos
elementos componentes destes planos, enquadrando, tanto quanto possível, o conceito de
bacia hidrográfica e a detecção de áreas sujeitas a riscos naturais, nomeadamente cheias”.

Planos de Bacia Hidrográfica (PBH), Lei da Água e DQA

A Lei da Água (Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro) transpõe para a ordem jurídica nacional a
Directiva Quadro da Água (DQA) e estabelece o enquadramento para a gestão das águas
superficiais, designadamente as águas interiores, de transição, costeiras e subterrâneas.

Nesta Lei da Água nº58/2005, a principal unidade para gestão das bacias hidrográficas passou a
ser a região hidrográfica (anteriormente era a bacia hidrográfica). A região hidrográfica, por

20
definição, corresponde à área de terra e de mar constituída por uma ou mais bacias
hidrográficas contíguas e pelas águas subterrâneas e costeiras que lhes estão associadas. Estas
regiões passam a ser também a unidade principal de planeamento das águas sendo este
concretizado através de três instrumentos: o Plano Nacional da Água, os Planos de Gestão de
Bacia Hidrográfica e os Planos Específicos de Gestão da Água. Destes instrumentos salientam-
se os Planos de Gestão de Região Hidrográfica, que constituem a base de suporte à gestão,
protecção e valorização ambiental, social e económica das águas. Os PGRH terão que ser
obrigatoriamente incorporados nos PDM, funcionando como instrumentos reguladores das
relações entre a Administração e os Cidadãos e Agentes de Desenvolvimento Sócio-
económico, no que concerne à Água.

Os PGRH das diversas regiões hidrográficas ainda não estão finalizados, nomeadamente o
PGRH das Ribeiras do Oeste. No entanto, em termos de fase de elaboração, a implementação
de todas as medidas está calendarizada até 2012.

Os PGRH irão incluir a descrição geral das regiões hidrográficas bem como a caracterização das
pressões naturais e incidências relacionadas com a actividade humana significativas e um
programa de medidas que garanta a prossecução dos objectivos ambientais estabelecidos na
Lei da Água em cada uma das regiões.

É de salientar que Portugal está obrigado pela DQA a atingir o bom estado ecológico das
massas de água de superfície até 2015, traduzido na definição de medidas de conservação e
reabilitação das redes hidrográficas e zonas ribeirinhas. No entanto, em 2008, 37,6 % das
águas superficiais, divididas pelas 15 bacias hidrográficas, apresentavam qualidade “má” (24,7
%) ou “muito má” (12,9 %) (Soares, 2009). Este valor é superior ao valor registado em 2007,
quando as águas com “muito má” e “má” qualidade” somavam 35,8 % e apenas 2,1 % das
massas de água apresentavam uma qualidade “excelente”.

Neste sentido, o desafio que se coloca a Portugal é grande e requer a articulação de meios
entre os vários agentes com responsabilidades na manutenção e melhoria da qualidade dos
recursos hídricos, uma vez que os níveis de degradação e poluição existentes implicam
intervenções que exigem investimentos avultados por parte dos organismos do Estado e
Autarquias.

No contexto do presente trabalho, é importante referir que a reabilitação de linhas de água


está consagrada na DQA, através do artigo 4º, em que: “os Estados-membros protegerão,
melhorarão e recuperarão todas as massas de água de superfície, (...) com o objectivo de

21
alcançar o bom estado das águas de superfície (...)”. Por seu lado, o artigo 33º da Lei da Água
define as medidas de conservação e reabilitação da rede hidrográfica e zonas ribeirinhas, como
por exemplo através da “reabilitação de linhas de água degradadas e zonas ribeirinhas,
prevenção e protecção contra o efeito de erosão de origem hídrica, renaturalização e
valorização ambiental e paisagístico das linhas de água e das zonas envolventes”, entre outras.

A reabilitação de ecossistemas ribeirinhos deve ser integrada com os instrumentos de


planeamento, uma vez que deve ser vista globalmente e não como uma intervenção isolada e
pontual. Talvez o maior desafio na recuperação de um rio seja constituído pelos obstáculos
institucionais, tais como a posse dos terrenos, os mecanismos de atribuição de subsídios
agrícolas e certas actividades económicas humanas que se desenvolvem a partir da
modificação de áreas naturais (Saraiva et al., 2004).

2.5. Caracterização das linhas de água e dos processos fluviais

Antes de qualquer planeamento e implementação de um projecto de restauração de uma linha


de água é importante o estudo e análise das características geomorfológicas e hidrodinâmicas
das linhas de água e estruturas associadas: o solo, a água e a vegetação. Estas características
determinam os processos e funções ecológicas ao longo do curso de água (Figura 2.7). Neste
sentido, segue-se a descrição geral das principais características das linhas de água em termos
geomorfológicos.

22
Figura 2.7. Os aspectos morfológicos do rio determinam as funções ecológicas do rio (Binder, 1998).

Os processos geomorfológicos

No meio ribeirinho, os processos geomorfológicos estão constantemente em actividade, pelo


que a paisagem tem um carácter temporário e variável ao longo do tempo. Segundo Durlo e
Sutili (2005), a água é o agente mais importante do relevo (capaz de provocar processos
erosivos). Ao longo dos cursos de água, a água define a paisagem fluvial removendo e/ou
transportando os materiais das zonas mais elevadas para as zonas mais baixas.

23
Os principais processos fluviais constituem os processos de erosão, transporte e sedimentação,
tanto dos materiais resultantes da erosão das margens e do leito como dos produtos
resultantes da meteorização. Enquanto a meteorização é um processo natural de
fragmentação, desintegração e degradação lenta e contínua das rochas através de forças
exteriores, a erosão é a remoção e transporte de materiais.

A compreensão dos processos geomorfológicos, principalmente a geomorfologia fluvial, é


imprescindível para a manutenção dos cursos de água (Durlo e Sutili, 2005). Não é possível o
controlo dos factores abióticos (e.g. temperatura) ou a geologia de um local, no entanto é
possível fazer com que certas características locais sejam controladas através do uso da
vegetação. As intervenções físicas no leito e margens do rio, através de técnicas com recurso à
vegetação, podem alterar as características da linha de água, como é o caso da velocidade da
água e da erosão do leito, e assim controlar os processos fluviais.

A bacia hidrográfica

Para além dos aspectos geomorfológicos é importante o estudo da fisiografia fluvial, que inclui
o estudo da bacia hidrográfica, do canal e do leito do rio. A unidade básica para o estudo e
restauração de qualquer ribeira ou rio começa ao nível da sua bacia hidrográfica (Mitsch e
Jorgensen, 2004). A bacia hidrográfica é uma área definida topograficamente, drenada por um
curso de água ou por um sistema interligado de cursos de água tal que todos os caudais
efluentes sejam descarregados através de uma única saída (Lencastre e Franco, 2006).

Numa bacia hidrográfica podem ocorrer três grandes zonas geomórficas onde ocorrem
fundamentalmente: a erosão, o armazenamento e transporte e a deposição de sedimentos
(Figura 2.7).

A zona de erosão corresponde à zona das cabeceiras das linhas de água e às linhas de água de
ordem mais baixa e, dentro da bacia hidrográfica, às altitudes mais elevadas. Se a bacia se
origina em zonas montanhosas, o curso do rio tende a ser íngreme e recto e os vales são,
muitas vezes, em forma de “V”. As margens têm zonas ripícolas estreitas. A frequência e
duração das cheias variam muito dependendo da precipitação. Os rios de ordem média são as
principais condutas para os sedimentos, nutrientes e água. Nesta zona, os rios tendem a ser
íngremes e a forma do seu canal em “V” ou “U”. Com alguma deposição de sedimentos
grosseiros, forma-se uma planície estreita. Os sedimentos são muitas vezes removidos durante
as grandes cheias, as quais variam e dependem do tamanho e forma da bacia, do declive e da
precipitação local. A zona de deposição corresponde à zona de maior ordem das linhas de água

24
e de menor declive. A deposição de sedimentos é maior do que a erosão e transporte e os
declives do vale são suaves. Estes dois aspectos levam ao desenvolvimento de planícies
extensas e sinuosas e canais meandrizados.

Os canais fluviais

Segundo Christofoletti (1981), os rios podem ser rectilíneos, meândricos ou anastomosados e


resultam do ajuste do canal à sua secção transversal. Esta classificação também depende das
características de cada secção do curso de água podendo um rio, ao longo do seu trajecto,
assumir as três fisionomias. Este aspecto, segundo Schumm (1972), depende principalmente
do tipo de carga detrítica, ou seja, da granulometria e da quantidade de material transportado
pelo curso de água em cada secção ao longo do seu curso.

Para Schumm (1972) a distinção dos canais fluviais em termos de mais ou menos rectilíneos ou
sinuosos pode ser feita através do índice de sinuosidade, sendo este a relação entre o
comprimento do canal e o comprimento do vale. O regime de escoamento é também uma
característica importante na classificação das linhas de água, sendo que estes podem
distinguir-se em: regime permanente, intermitente e regime efémero. É de referir que na
região mediterrânica as cheias tendem a ser sazonais, principalmente na Primavera.

O leito do rio

Para o estudo dos processos fluviais e medidas de controlo ou restauração a implementar nos
rios é fundamental o conhecimento do perfil transversal e longitudinal do leito. O estudo do
perfil transversal das várias secções de um rio bem como o regime hidrológico, em frequência
e duração, são aspectos importantes para a restauração da vegetação dos cursos de água.

Segundo Christofoletti (1981) e FISRWG (1998), no leito de um rio é possível distinguir o leito
de vazante, o leito menor, o leito maior e o leito maior excepcional (Figura 2.8).

Figura 2.8. Esquema dos níveis de leito de um rio (adaptado de Christofoletti, 1981 e FISRWG, 1998, in
Durlo e Sutili, 2005).

25
O leito menor e o de vazante correspondem à parte normalmente ocupada pelas águas, o que
impede o surgimento de vegetação. O leito de vazante é marcado pela linha de máxima
profundidade ao longo do canal, o talvegue. O leito maior é caracterizado pela ocupação
sazonal, durante as cheias, e o maior excepcional, somente durante as grandes cheias (Cunha,
2001 in Durlo e Sutili, 2005).

O perfil longitudinal de um curso de água corresponde à variação do declive ao longo do seu


percurso. O seu conhecimento é especialmente importante para a compreensão e o controlo
dos processos fluviais (Christofoletti, 1981) e a sua representação gráfica é simples, sendo a
perspectiva em corte longitudinal de um curso de água. A altitude é representada no eixo das
ordenadas e, no eixo das abcissas está representado o somatório das distâncias percorridas
pelo curso de água entre cada intervalo de altitudes (Figura 2.9).

Figura 2.9. a) Variação das características de um curso de água ao longo do seu perfil longitudinal; b)
Exemplo de um perfil longitudinal (Durlo e Sutili, 2005).

À medida que a profundidade e a largura do canal aumentam, aumentando a vazão, a


velocidade média da água e a ocorrência de deslizamentos diminuem. A velocidade decresce
devido à diminuição da granulometria do material transportado que influencia a velocidade de
transporte e a densidade de cada material.

Os processos fluviais

Para Mitsch e Jorgensen (2004) a relação entre o rio e as planícies aluvionares é de grande
importância. Se alguma destas componentes é afectada, a outra irá alterar-se porque esta
relação está num constante balanço dinâmico entre a construção e a remoção dos seus
elementos. As planícies aluviais resultam da combinação entre a deposição de materiais
aluviais e a remoção das partículas do solo.

26
São dois os principais processos de deposição de materiais responsáveis pela formação da
maioria das planícies aluviais: a deposição na parte interior das curvas dos rios e a deposição
durante as cheias, nas margens do rio. Segundo Leopold (1964) “à medida que um rio se
movimenta lateralmente, os sedimentos são depositados no limite ou abaixo do nível do leito
máximo nas curvas dos rios, enquanto durante as cheias os sedimentos são depositados tanto
nestas curvaturas do rio como nas planícies aluviais adjacentes”. A degradação das planícies
aluviais ocorre quando a oferta de sedimentos é menor do que a descarga de sedimentos,
condição esta que pode ser causada naturalmente com as alterações no clima ou
artificialmente com a construção de uma barragem a montante (Mitsch e Jorgensen, 2004).

Um dos aspectos mais importantes no estudo do comportamento dos cursos de água é o


transporte de materiais sólidos. O movimento destes materiais na água está relacionado com o
comportamento do fluxo de água. Em condições extremas, por exemplo, com caudais maiores,
os movimentos destes materiais podem traduzir-se em deslizamentos críticos com transporte
de grandes quantidades de materiais e, consequentemente levar à ocorrência de problemas
ecológicos e muitas vezes economicamente prejudiciais.

Neste sentido, a compreensão dos mecanismos que determinam a estabilidade dos taludes é
um dos fundamentos para a manutenção dos cursos de água. Com base neste conhecimento
será possível compreender os fenómenos e seleccionar as técnicas apropriadas para contornar
ou minimizar os eventos considerados prejudicais (Durlo e Sutili, 2005).

A estabilidade dos taludes

A superfície terrestre é o resultado de diversos fenómenos naturais que ocorrem


continuamente com alguma dinâmica e que modelam a paisagem, através de movimentos de
massa (meteorização, erosão e transporte). Para garantir a estabilidade de um talude evitando
os deslizamentos de terra, as medidas a implementar devem passar pela determinação e
controlo dos factores que proporcionam a sua instabilidade.

Para Freitas (2006) diferenciam-se dois tipos de factores (invariáveis ou variáveis no tempo)
que desempenham uma influência activa na estabilidade do talude. Estes factores estão
identificados e descritos na Tabela 2.2.

27
Tabela 2.2. Aspectos a ter em conta na análise de diversos factores que causam a instabilidade nos
taludes (Freitas, 2006).

Aspectos invariáveis Aspectos a analisar


Tipo de rocha que constitui a área de interesse, tanto à superfície como em
Geológicos
profundidade
Permeabilidade das formações rochosas que condiciona o tipo de circulação
Hidrogeológicos
hídrica superficial e subterrânea
Inclinação dos taludes da área de interesse, pois a força que permite o
movimento do deslizamento de terra é a força da gravidade (quanto mais
Morfológicos
inclinada for a superfície topográfica, maior é a instabilidade e a velocidade
com a qual o deslizamento de terra se dará)
Verificar a presença de fracturas ou falhas, de superfícies de estratificação, e
Estruturais
a orientação dos estrados de rocha devido ao efeito da pressão exercitada
Aqueles que possam ser alvo de medições em laboratório mediante
pesquisas precisas e específicas para cada litologia, que nos dão indicações
Geológicos-técnicos
das resistências às solicitações de corte oferecidas pelas rochas aos esforços
direccionais
Aspectos variáveis Aspectos a analisar
Variações de caudal da rede drenante superficial e efectuar levantamentos
Climáticos
das superfícies livres das toalhas aquíferas subterrâneas
Uma vasta cobertura vegetativa constitui um obstáculo natural à acção dos
Vegetativos
agentes atmosféricos
As acções antrópicas, quer sejam activas (escavações, o sobrecarregar dos
Antrópicos taludes ou o desflorestamento), ou passivas (abandono das terras),
desenrolam um papel de aceleração dos processos morfogenéticos

2.6. A restauração ecológica de linhas de água

2.6.1. O contexto da bacia hidrográfica e considerações à escala local

A conservação e o restauro dos corredores fluviais envolvem conhecimentos de


geomorfologia, hidrologia e ecologia. A necessidade de conservar os rios ecologicamente
intactos e recuperar o funcionamento físico e biológico de leitos ecologicamente degradados
levou ao desenvolvimento de métodos de diversas tipologias. Para Wasserwirtschaft (1980, in
Saraiva, 1999) devem ser utilizados princípios (Tabela 2.3) na recuperação e restauro dos
corredores fluviais.

28
Tabela 2.3. Os princípios da recuperação e restauro de corredores fluviais (adaptado de
Wasserwirtschaft, 1980 in Saraiva, 1999).

Princípio Descrição
O leito do rio, leito de estiagem, margens e leito de cheia constituem
Unidade uma unidade ecológica e funcional que deve ser considerada
globalmente
As paisagens fluviais têm uma variedade específica de estrutura e
biótopos, baseada na manutenção da cadeia trófica dos
Diversidade ecossistemas. As medidas a implementar devem ter em
consideração a diversidade estrutural do rio e das suas margens,
mantendo-a ou aumentando-a
Os processos de erosão e sedimentação e o seu equilíbrio com o
Dinâmica regime de caudal (frequência e duração) determinam as
características dos biótopos
Cada sistema fluvial tem a sua individualidade própria baseada nas
condições naturais e na influência humana na bacia, leito de cheia,
Individualidade
margens e curso de água. Deve-se contrariar a uniformização das
medidas a fim de evitar a monotonia nas paisagens fluviais
O rio e o vale aluvionar constituem biótopos cujas biocenosos se
Continuidade adaptam às condições locais. Devem-se preservar, recuperar ou
restaurara a continuidade dos sistemas fluviais
Deve procurar manter-se as estruturas existentes e ecologicamente
Manutenção orientada
mais desenvolvidas
Deve ter-se em conta a dinâmica e evolução dos processos naturais
quando se aplicam as medidas de intervenção e manutenção.
Desenvolvimento integrado
Qualquer intervenção significa uma perturbação na dinâmica do
sistema
Medidas de concepção naturalista são sempre preferidas em relação
Concepção naturalista a materiais inertes e rígidos. A combinação destes materiais também
pode originar elementos estruturais habitáveis para fauna e flora

Para Fernandes (1995) na gestão dos corredores fluviais devem ser conduzidos pelo menos
dois princípios: o princípio da intervenção mínima e o princípio da área mínima. O primeiro
define que a estabilidade dos sistemas é tanto maior quanto mais próximo do natural são as
suas componentes e funções e quanto mais diversificados são os sistemas integrantes e seus
reguladores. No segundo princípio, qualquer sistema exige uma área mínima para poder
evoluir de uma forma equilibrada, gerando e amortecendo as perturbações associadas à
variabilidade intrínseca das funções e processos naturais.

Para além da aplicabilidade das técnicas nas margens, leitos de cheia e áreas de erosão, é
fundamental definir estratégias de acção, tendo em conta a unidade principal – a bacia
hidrográfica, bem como ao nível local ou do troço. Na escala da bacia hidrográfica, a vegetação

29
constitui a “interface” das interacções entre a precipitação, a infiltração, as forças erosivas da
água que arrastam sedimentos, a geologia, os solos e os processos geomorfológicos.

A questão da escala é fundamental para qualquer acção de recuperação do coberto vegetal


e/ou afectação do curso de água. São múltiplos os aspectos que se sobrepõem - a combinação
dos efeitos hidráulicos, as descargas das barragens, de cheias e estiagens, os factores
geomorfológicos, os factores climáticos, as afectações humanas – dificultando assim qualquer
previsão acerca do resultado que uma dada acção terá no curso de água, margens e
vegetação.

Regra geral, qualquer tipo de alteração nos usos do solo gera perdas de coberto vegetal numa
escala local ou até mesmo regional (Saraiva et al., 2004). Por outro lado, para estes autores, a
recuperação da vegetação de apenas um troço é raramente bem-sucedida ou sustentável,
numa bacia hidrográfica em alteração dinâmica, embora a escala ser a mais indicada para se
dar início ao processo de recuperação de paisagens numa escala mais vasta. Apenas a
recuperação da galeria arbórea ribeirinha no leito de cheia, a uma escala regional, pode
melhorar a estabilidade destes sistemas de elevada mobilidade (Saraiva et al. 2004).

O troço ideal deve localizar-se geralmente ao nível dos 100-1000 metros do leito do rio,
margens e leitos de cheia. Nesta escala, os processos geomorfológicos tornam-se mais claros
em estudos com recurso a fotografia aérea ou através da cartografia do rio e da geologia da
bacia, numa extensão mais vasta.

A localização da vegetação ripícola vai depender de diversas variáveis de controlo (água, clima,
geomorfologia, uso do solo), o que influência directamente as funções desempenhadas por
estes ecossistemas (Figura 2.3). De acordo com as funções, bem como do objectivo da
restauração das galerias ripícolas, diversos autores (vide Ahola, 1990; Brown et al., 1990;
Berger, 1992) definiram valores para a largura de um buffer, consoante a função que
desempenha num determinado local (Tabela 2.4).

Tabela 2.4. Sumário de estudos sobre larguras de Buffer Strips (adaptado de Perrow e Wightman,
1993 in Valle, 1998).
Função do Buffer Largura Características Referência
(m)
1–2 Cursos de água pequenos Ahola (1989, 1990)
5 – 10 Cursos de água
Remoção de nutrientes 10 – 20 Rios
150 Planícies de cheia de rios Van der Hoek
(1987)

30
19 Cursos de água Peterjohn e Correll
Retenção de sedimentos
(1984)
Estabilidade das margens 30 Cursos de pequena ordem Erman et al. (1977)
10 – 20 Cursos de pequena ordem Karr e Schlosser
Controlo da temperatura da água
(1977)
15 Cursos de água Budd et al. (1987)
Manutenção da diversidade de
20 Cursos de água Dawson (1978)
espécies aquáticas
30 Cursos de pequena ordem Erman et al. (1977)
99 – 169 Rios de terras baixas Brown et al. (1990)
Manutenção da diversidade de
15 Cursos com cotas entre 240 Triquet et al. (1990)
espécies ripícolas
e 430 m
Multi-funções 150 Cursos de água Berger (1992)

O coberto vegetal desempenha um papel fundamental na estabilidade do leito e dos taludes


das margens (Fernandes, 1995; Schielth, 1996; Saraiva et al., 2004; Durlo e Sutili, 2005) nos
processos hidrológicos e erosivos, como representado na Figura 2.10. A perda desse coberto
vegetal aumenta drasticamente a vulnerabilidade do solo perante as forças erosivas ao nível
da bacia, do troço e até mesmo da secção.

Figura 2.10. O papel da vegetação nos processos hidrológicos e erosivos do solo (adaptado de Coppin
e Richards, 1990 in Raus, 2008).

Sempre que não exista vegetação na margem, é necessário proceder a alguma investigação
para compreender a situação. Muitas vezes o que se passa é precisamente uma sequência de
danos; para a sua correcção é decisiva uma identificação precisa das causas da remoção da
vegetação (Saraiva et al., 2004). Para os autores, a análise pericial que determina as causas da
instabilidade de taludes pode requerer um perfil técnico exigente (e.g. a identificação das

31
propriedades estruturais dos solos que constituem a margem e do substrato geológico
subjacente).

2.6.2. Princípios de engenharia natural no revestimento dos taludes

Segundo Schiechtl (1991) a bioengenharia (ou engenharia natural) refere-se ao estudo das
propriedades das plantas e a avaliação do seu comportamento, quando utilizadas como
material de construção vivo ou em combinação com outros materiais inertes na arquitectura
da paisagem. Na engenharia natural existem quatro objectivos principais (Tabela 2.5): técnico-
funcionais, ecológicos, paisagísticos e económicos.

Tabela 2.5. Principais objectivos da engenharia natural (adaptado de Schiechtl, 1991).


Objectivos Descrição
Consolidação em profundidade de margens fluviais;
Estabilização de vertentes pela acção das raízes;
Técnico-funcionais
Redução dos efeitos erosivos;
Aumento da infiltração e drenagem;
Reposição das condições naturais através da implementação de vegetação
autóctone;
Ecológicos A melhoria das condições micro-climáticas;
A activação do potencial da microflora e microfauna do solo;
A criação de nichos ecológicos e o incremento da biodiversidade;
Diminuição do impacto causado por diversas infra-estruturas;
Restauração da paisagem em zonas afectadas pela actividade humana (aterros,
Paisagísticos
minas, pedreiras, etc.);
Criação e integração de obras com um impacte ambiental reduzido;
Redução de custos na construção (através do reaproveitamento de materiais);
Económicos
Redução de custos de manutenção.

Na engenharia natural podem ser utilizados materiais inertes ou vivos. Os materiais inertes
asseguram a estabilidade da estrutura enquanto a vegetação se desenvolve. Exemplos deste
tipo de materiais são: madeira (troncos, barrotes e estacas), pedra, metais (barras de aço,
pregos e arames), geotêxteis, mantas orgânicas e telas impermeáveis. Por outro lado, os
materiais vivos assumem a função de estabilização, anteriormente desempenhada pelos
inertes. Estes materiais são por exemplo estacarias de arbustos autóctones, plantas em torrão
e sementes de herbáceas pioneiras.

De um modo geral, estes materiais podem ser aplicados em sementeiras e revestimentos,


intervenções estabilizantes, intervenções de suporte e intervenções de correcção hidráulica.

32
Na Tabela 2.6 estão descritas as principais vantagens e desvantagens do uso da vegetação
como material de construção face aos materiais inertes.

Tabela 2.6. Vantagens e desvantagens do uso da vegetação como material de construção face aos
materiais inertes (Fernandes, 1987).

Material vegetal
Não se degrada, regenera-se e tem uma capacidade de estabilização crescente;
Desenvolvem o papel protector de modo elástico, absorvendo com facilidade as acções
vantagens agressivas;
São biologicamente e ecologicamente activos;
Possibilitam a valorização paisagística de estruturas;
Não preenchem em todas as situações as exigências de consolidação e segurança
requeridas;
Exigem uma aplicação adaptada e dependente das características do local, não sendo
desvantagens
passíveis de construção em qualquer época do ano;
Atingem a sua eficácia técnica apenas após um certo intervalo de tempo;
Exigem normalmente mais espaço;
Material inerte
São mais estáveis;
São independentes das características do local e de aplicação menos limitada
vantagens temporalmente;
São imediatamente funcionais;
Exigem normalmente pouco espaço;
Tendem a perder a sua eficácia ao longo do tempo devido à corrosão e degradação,
não possuindo capacidade de regeneração;
desvantagens São estruturas rígidas e estáveis relativamente aos agentes agressivos;
Não preenchem quaisquer funções biológicas ou ecológicas;
Constituem elementos estranhos na paisagem;

Em termos de aplicabilidade, as técnicas de bioengenharia podem ser aplicadas para a


restauração de zonas húmidas (dunas costeiras, rios, ribeiras, lagoas e sapais), intervenções
em zonas montanhosas (controlo da erosão e deslizamentos de terras), no enquadramento
paisagístico de infra-estruturas (auto-estradas, vias férreas, gasodutos), na renaturalização de
minhas, pedreiras e aterros, no controlo da erosão em áreas ardidas e na gestão de
ecossistemas. Na Tabela 2.7 estão indicadas as vantagens e desvantagens relativas à utilização
das técnicas de engenharia natural.

33
Tabela 2.7. Principais vantagens e desvantagens das técnicas de engenharia natural.
Vantagens Desvantagens
Baixo custo; O período de construção é normalmente limitado
Reduzida manutenção a longo prazo à época de dormência vegetativa;
relativamente às obras de engenharia Disponibilidade de plantas autóctones poderá ser
convencionais; limitada;
Baixo nível de manutenção após a plena Métodos de construção intensivos e
adaptação da vegetação às condições locais; especializados;
Benefícios ambientais ao nível da criação de Dificuldade em encontrar técnicos e operários
nichos ecológicos, melhorias na qualidade da água especializados com os princípios construtivos
e enquadramento na paisagem; destas técnicas, sendo necessário promover uma
Aumento das forças estabilizantes do solo, prévia formação;
derivada do desenvolvimento contínuo das raízes;

2.6.3. As propriedades técnicas da vegetação

As espécies vegetais possuem características que podem ser utilizadas para controlar
tecnicamente alguns processos fluviais, como erosão do fundo e das margens, deslizamentos,
desmoronamentos e transporte de sedimentos (Durlo e Sutili, 2005). A vegetação exerce no
solo uma função estabilizadora intensa e multifuncional, ao nível da protecção contra a acção
de agentes externos (precipitação, temperatura, vento, entre outros) e de agentes internos
(instabilidade, encharcamento, falta de coesão, entre outros), principalmente devido às
características do sistema radicular. No entanto, a existência de vegetação também ocasiona o
aumento do peso sobre o talude e de atrito proporcionado pelo vento sobre a copa
aumentando a tensão sobre o mesmo. Devido à influência da vegetação sobre o ciclo
hidrológico, o teor de humidade do solo e o nível do lençol freático também são alterados. Na
Tabela 2.8 estão representados os principais efeitos da vegetação na estabilização dos taludes,
em termos hidrológicos e mecânicos.

Tabela 2.8. Efeitos hidrológicos e mecânicos da vegetação na estabilidade dos taludes (adaptado de
Durlo e Sutili, 2005).
Efeitos hidrológicos Efeitos mecânicos

Copa das árvores


Retenção de água (evaporação), reduzindo a Aumento da força normal, pelo peso da copa e do
precipitação efectiva (B); tronco (A/B);
Redução da força do impacto das gotas da chuva e Protecção do solo do efeito dos raios solares e do
erosão (B); vento (A/B);
Aumento do tamanho das gotas, resultando num Captura das forças dinâmicas do vento e
maior impacto localizado (A); transmissão ao talude pelo tronco e sistema
Redução da infiltração efectiva no talude, devido radical (A);
à evapotranspiração (A/B);

34
Cobertura das folhas no solo
Aumento da velocidade e da capacidade de Absorção do impacto mecânico da queda das
armazenamento da água (A/B); gotas, da maquinaria e do pisoteio (B);
Promove a irregularidade e a redução do Protecção do solo de outras forças erosivas
escoamento superficial da água (B); (vento, temperatura, etc.) (B);
Raízes
Melhora infiltração superficial da água no solo Auxílio da criação de agregados do solo, por acção
(A/B); física e biológica (B);
Aumento da porosidade e permeabilidade do solo Aumento substancial da resistência do solo (B);
(A/B); Redistribuição das tensões formadas nos pontos
Remoção de parte da água infiltrada que será críticos (B);
transforma ou evapotranspirada (B); Ancoragem das linhas de ruptura (B);
Aumento da coesão das partículas do solo (A/B); Restrição dos movimentos para suporte do peso
no talude (B).
A) efeito adverso da vegetação; B) efeito benéfico da vegetação

Para Pflug (1986), a renaturalização de linhas e planos de água a vegetação deve


principalmente: (i) diminuir a energia da corrente; (ii) consolidar e fixar o terreno através de
um desenvolvimento radicular adequado; (iii) sombrear o corpo de água, garantido uma
temperatura mais baixa e o controlo da vegetação infestante; (iv) garantir a diminuição do
risco de erosão ou ruptura das margens e propiciar em simultâneo um nível adequado de
sedimentação; (v) e exigir o mínimo de intervenção e manutenção possíveis. Na Figura 2.11
estão representados exemplos de processos de renaturalização de cursos de água
canalizados/rectilíneos, com recurso à meandrização e vegetação do local.

35
Figura 2.11. a) Evolução de um rio rectificado num rio renaturalizado, através da remoção das
construções das margens e promovendo a modificação natural do leito do rio; b) Propostas para a
transformação de um perfil regularizado num perfil “naturalizado” (Binder, 1998).

A segurança e a durabilidade de um projecto com técnicas de bioengenharia estão


directamente relacionadas com a escolha das espécies de plantas a utilizar na intervenção. A
utilização de espécies menos aptas pode levar a situações de instabilidade nas estruturas
construídas. As plantas possuem características biotécnicas específicas (Tabela 2.9) que lhes
permitem ser utilizadas como material de construção vivo. São estas as características que
fazem das plantas agentes importantes no controlo de fenómenos erosivos.

Tabela 2.9. Propriedades e capacidades técnicas e biológicas da vegetação (adaptado de Florineth e


Molon, 2004).
Tipo de propriedade Descrição

Propriedades, capacidades técnicas e acção estabilizante


Através de cobertura de solo, reduzem o impacto das gotas de chuva,
Protecção contra a
promovem a infiltração e armazenamento no solo. Consequentemente
erosão superficial
reduzem o fluxo à superfície e o transporte sólido.
Através do metabolismo, a vegetação evapotranspira grandes
quantidades de água do solo, aumentando a coesão das partículas no
terreno e a sua estabilidade. As plantas criam um solo estruturado, rico
Regulação do balanço
em húmus e com horizonte de decomposição e as substâncias libertadas
hídrico do solo
originam agregados químicos que também aumentam a coesão das
partículas do terreno. Os microrganismos também têm uma função
estabilizadora no processo de decomposição e mineralização. Os

36
invertebrados tornam o solo mais permeável, originando uma percolação
mais rápida da água, reduzindo a retenção de água à superfície e
movimentos de deslizamento.
Será preferível a plantação alternada de espécies com aparelhos
radiculares aprumados (crescimento vertical e capacidade de penetração
Desenvolvimento
no solo) e de espécies com raízes superficiais (crescimento superficial), de
radicular
modo a que a permeabilidade seja a mais homogénea possível nas
diferentes camadas do solo.
Exprime a estabilidade conjunta do terreno e da raiz e a capacidade da
Resistência ao planta aumentar a capacidade de estabilizar o terreno. Depende das
desenraizamento características pedológicas do local, condições ecológicas (água, luz,
nutrientes), da espécie e da idade da planta.
O coberto vegetal da margem deve ser constituído por espécies com
Elasticidade e
parte aérea flexível, de modo em que em caudal de cheia os fustes se
deformação das plantas
dobrem sobre a margem, diminuindo a velocidade de fluxo nessa zona e o
lenhosas
arrastamento de materiais finos.
A vegetação exerce resistência ao corte devido à estabilização mecânica
do terreno (exercida pelas raízes), ao aumento da coesão capilar
Resistência ao corte
(evapotranspiração) e à criação de agregados de partículas (pela
actividade das raízes e microrganismos).
Propriedades e capacidades biológicas
Todas as plantas, sobretudo as latifólias, possuem a capacidade de se
Capacidade regenerativa regenerarem. Quando cortadas na base conseguem rejuvenescer e
aumentar significativamente a sua taxa de crescimento.
Capacidade das plantas de adaptarem ao ambiente em que vivem, como
Capacidade de adaptação por exemplo, reagindo à força exercida pelo vento e acção abrasiva da
neve.
Capacidade de algumas espécies sobreviverem durante duas a três
Resistência à submersão semanas submersas até dois terços de altura (Alnus glutinosa, Fraxinus
angustifolia e populus alba).
Capacidade de Capacidade de desenvolver gemas de renovo e raízes adventícias a partir
propagação vegetativa as partes do fuste ou das raízes, respectivamente.

De uma forma geral, as plantas a utilizar devem ser espécies pioneiras, devem reproduzir-se
vegetativamente e resistir ao enterramento e deve ser possível encontrá-las perto da zona de
intervenção. Salienta-se a importância das propriedades e capacidades biológicas da
vegetação, nomeadamente da utilização de métodos de propagação vegetativa por
estaca/cortes, dada a facilidade e adaptabilidade das plantas ripícolas e a minimização dos
custos financeiros.

Para Prada e Arizpe (sem data) estas propriedades não são muitas vezes consideradas nas
iniciativas de restauração de ecossistemas, incluindo projectos de recriação de habitats
ripícolas. A utilização de sementes e plantas baratas sem ter em conta a sua origem é
reconhecida como uma grande falha quando consideramos as alterações climáticas que têm

37
surgido na região mediterrânica nas últimas décadas. A prática mostra que a utilização de
plantas que estão adaptadas às condições locais é um dos factores que tem uma influência
positiva no sucesso da florestação e na evolução de novas populações, que crescem e se
desenvolvem dinamicamente num processo de interacção com o seu ambiente (Prada e
Arizpe, sem data). Para estes autores, a variação genética e adaptabilidade da maioria das
árvores ribeirinhas não é conhecida e as regiões de origem ao nível da espécie não estão até
agora determinadas.

De um modo geral e segundo diversos autores (Gray e Leiser, 1982; Begemann e Schiechtl,
1994; Morgan e Rickson, 1995; Florineth e Gerstgraser, 2000), a vegetação possui
características biotécnicas essenciais à estabilidade das margens dos rios. Para o sucesso na
escolha das espécies, além das características biotécnicas, devem ser considerados critérios
ecológicos, fitossociológicos e reprodutivos (Durlo e Sutili, 2005). Para Gray e Leiser (1982),
Morgan e Rickson (1995) e Florineth e Gerstgraser (2000) a escolha das espécies deve recair de
preferência sobre as espécies nativas do local (estão melhor adaptadas às condições edáficas e
climáticas específicas) e devem possuir uma forma de reprodução fácil e de baixo custo. As
plantas com capacidade de reprodução vegetativa são normalmente as ideais, o que não exclui
necessariamente as plantas que só se propagam por semente (Durlo e Sutili, 2005).

Um dos principais factores limitantes nos projectos de restauração ecológica e em acções de


reflorestação é a necessidade de existir atempadamente uma fonte de plantas em
viveiro/estufa para a sua colocação no campo. O planeamento de um projecto de restauração
ribeirinha deve incluir a garantia de que o stock de plantas a utilizar na florestação, seja
através de um fornecedor ou através de estufas próprias, o que depende da dimensão da área
de intervenção, da escala temporal do projecto e das capacidades financeiras dos agentes
envolvidos.

A estrutura das comunidades vegetais varia ao longo do contínuo fluvial, tanto em termos
transversais como longitudinais. O padrão espacial que as espécies vegetais adquirem ao longo
do corredor ripícola é dependente de inúmeros factores. Para Saraiva et al. (2004) os factores
que mais influenciam a distribuição das espécies vegetais incluem o relevo e a exposição solar,
a precipitação média anual, bem como os seus valores mínimos e máximos e a sua
distribuição, a frequência das cheias, a humidade do solo (a profundidade até ao nível freático
e a sua variação sazonal), a textura do solo, bem como a espessura dos horizontes, a
constituição química do solo e da água e o padrão espacial das espécies herbívoras. Por
exemplo, as espécies vegetais autóctones estão mais bem adaptadas às características dos

38
solos aluviais. Para o sucesso da estabilização das margens deve ser tido em consideração a
existência de várias zonas com características específicas (Figura 2.12).

Figura 2.12. Perfil de uma galeria ripícola (Dreher e Heringa, 1998).

A zona mais baixa da margem deve corresponder à existência de gramíneas e ervas associadas
a vegetação de porte arbustivo. De seguida surgirá a zona de árvores de porte pequeno e
médio. A zona mais afastada do leito do rio (onde o declive e o peso da vegetação não será
problema) corresponderá à existência de árvores de grande porte e vegetação que não seja
dependente de uma elevada humidade edáfica. Neste contexto, existem determinadas
espécies (pioneiras) que possuem a capacidade de criar condições para que outras se instalem,
no sentido de virem a formar as comunidades características do local.

2.6.4. Espécies eficazes no âmbito da engenharia natural

Os sistemas fluviais da região mediterrânica, com as suas dinâmicas específicas e condições


ambientais, menos exigentes do que os sistemas envolventes, englobam um mosaico de
habitats com um elevado grau de biodiversidade e servem como meio de migração para
muitas espécies de fauna e flora. Também têm um papel importante na vida das comunidades
humanas, que utilizam os seus recursos e beneficiam destes espaços como lazer (Prada e
Arizpe, sem data). As espécies de vegetação ripícola que se encontram na região mediterrânica
estão listadas na Tabela 2.10.

39
Tabela 2.10. Espécies de vegetação ripícola mediterrânicas (adaptado de Prada e Arizpe, sem data).
Espécie Nome comum Família
Alnus glutinosa (L.) Gaertn amieiro-comum* Betulaceae
Arbutus unedo L. medronheiro Ericaceaie
Celtis australis L. lódão-bastardo Ulmaceae
Cercis siliquastrum L. olaia, árvore de judas* Fabaceae
Clematis vitalba L. Clematis** Ranunculaceae
Clematis flammula L. Clematis** Ranunculaceae
Coriaria myrtifolia L. coriaria Cornaceae
Crataegus monogyna Jacq. pilriteiro, espinheiro-alvar* Rosaceae
Dorycnium rectum (L.) Ser. erva-mata-pulgas** Leguminosae
Flueggea tinctoria (L.) G.L. Webster tamuxo** Euphorbiaceae
Frangula alnus Mill. sanguinho-da-água** Rhamnaceae
Fraxinus angustifolia Vah l. freixo-de-folhas-estreitas* Oleaceae
Hedera helix L. hera* Araliaceae
Humulus lupulus L. engatadeira** Cannabaceae
Laurus nobilis L. loureiro* Lauraceae
Ligustrum vulgare L. alfenheiro Oleaceae
Liquidambar orientalis Mill. liquidâmbar-oriental Altiginaceae
Lonicera etrusca G. Santi Madressilva** Caprifoliaceae
Lonicera implexa Aiton madressilva** Caprifoliaceae
Myrtus communis L. murta** Myrtaceae
Nerium oleander L. loendro** Apocynaceae
Pistacia lentiscus L. aroeira Anacardiaceae
Platanus orientalis L. plâtano-oriental Plantanaceae
Populus alba L. álamo-branco, choupo-branco* Salicaceae
Populus nigra L. choupo-negro* Salicaceae
Populus tremula L. choupo-tremedor Salicaceae
Prinis mahaleb L. cerejeira-de-santa-lúcia Rosaceae
Prunus spinosa L. abrunheiro-bravo, ameixeira* Rosaceae
Rubus ulmifolius Schott silva* Rosaceae
Salix spp. salgueiro, borrazeira* Salicaeae
Sambucus nigra L. sabugueiro* Caprifoliaceae
Tamarix spp. tamargueira Tamaricaceae
Ulmus minor Mill. negrilho, ulmeiro* Ulmaceae
Viburnum tinus L. folhado** Caprifoliaceae
Vitex agnus-castus L. agnocasto, árvore-da-castidade Verbenaceae
Vitis vinefera subsp. sylvestris (C.C. labrusca, videira-brava* Vitaceae
Gmelin) Hegi
* Espécies existentes em Portugal.
** Espécies existentes em Portugal e na zona Centro.

A seguinte descrição das espécies vegetais ripícolas provem da classificação dos Habitats
Naturais e Semi-naturais de Portugal Continental (Alves et al., 1995). Nesta classificação,
apesar da divisão dos regimes hidrológicos dos cursos de água em cursos de débito
permanente e temporário, tem-se em consideração a existência das flutuações climáticas
anuais pelo que, determinados troços dos cursos, que em situação normal, manteriam o

40
caudal permanente, acabam por secar em anos de fraca pluviosidade. Pretende-se apenas
uma abordagem geral do tipo de espécies encontradas nos habitats ripícolas (Tabela 2.11).

Tabela 2.11. Habitats e agrupamentos vegetais característicos dos ecossistemas ripícolas em Portugal
(adaptado de Alves et al., 1995).
Regime Tipo de comunidade Estrato Descrição e espécies
Habitat
hidrológico
Débito Comunidades dos Juncos, tamargueiras,
permanente leitos de cheia salgueiros, choupos e
amieiros
Comunidades ripícolas Arbóreo Salgueiros, amieiros,
choupos, freixos, ulmeiros,
lodão-bastardo,
sanguinhos, tramazeiras
Arbustivo Loendros, tamargueiras,
Habitats
tamujos, sabugueiros,
dulçaquícolas
silvas, caniços, canas e
de águas
adelfeiras
correntes
Herbáceo Bunhos e tabúas
Comunidades
submersas enraizadas
na vaza
Comunidades
flutuantes
Débito Azevém-baboso, rabaça,
temporário loendro, silva, tamujo
Bosques e Com espécies de folha Bétula, sanguinho-de-
florestas caduca e marcescente água, sabugueiro,
naturais - ripícola tramazeira, negrilho

As comunidades vegetais próprias dos leitos de cheia, os quais podem ficar cobertos por água
durante um certo período do ano e que, em regra, mantêm uma humidade edáfica elevada
mais ou menos constante, dependem precisamente destes altos teores de água no solo e
suportam a cobertura total ou parcial temporária pelas águas das cheias (Alves et al., 1995).
No nosso país, as comunidades dos leitos de cheia mais características são os juncais, os
tamujais, alguns salgueirais, choupais e amieirais, podendo ocorrer também casos de
formações turfosas, depressões húmidas, lagoas e lagoachos de planície e charcos
temporários, em situação marginal a cursos de água, que são periodicamente inundados em
épocas de cheia (Alves et al., 1995).

As comunidades ripícolas ou de margem possuem algumas semelhanças com as acima


mencionadas, desempenhando uma importante função ecológica de fixação e manutenção
das margens, bem como de regularização e retenção de águas em picos de cheia, para além de
constituírem habitats próprios para muitas espécies animais. As formações vegetais de
margem podem apresentar porte arbóreo, arbustivo ou herbáceo, consoante a idade e a
situação geográfica e topográfica (Alves et al., 1995).

41
A ocorrência das espécies características das formações arbóreas ripícolas, segundo Alves et al.
(1995) depende das características edáficas e microclimáticas, do regime hídrico do curso de
água, e é fortemente condicionada pelo grau de intervenção humana que se faz sentir num
dado local. O mesmo se passa com as formações arbustivas ripícolas. A vegetação herbácea
ripícola é mais típica de situações de águas paradas embora também possa ocorrer em
margens espraiadas ou em meandros e braços mortos de cursos de água corrente.

Por bosques e florestas naturais entende-se, segundo Alves et al. (1995) pequenos bosques ou
bosquetes, frequentemente situados em encostas declivosas de zonas montanhosas, ou
encaixados em vales fluviais apertados, em terrenos com acessibilidade problemática,
rochosos ou pedregosos, de fraca ou nula aptidão agrícola e silvícola, o que representa o
principal factor responsável pela sua não destruição.

Os bosques e florestas naturais com espécies de folha caduca e marcescente podem constituir-
se ao longo das margens dos cursos de água, de lagos ou outros locais húmidos, formando as
conhecidas “floresta-galeria”. Para Alves et al. (1995) a composição específica destas é muito
idêntica dos bosques e florestas naturais com espécies de folha caduca e marcescentes
aluvionares:

(i) Bosques ripícolas mistos, carpetano-ibérico-leoneses, com Quercus pyrenaica (carvalho-


negral) e Fraxinus angustifolia (freixo);
(ii) Galerias ripícolas termo-mesomediterrânicas, em solos siliciosos, com Fraxinus
angustifolia (freixo), Ranunculus ficaria (ficária) e, por vezes, Tamarix africana
(tamargueira);
(iii) Bosques em galeria, termo-mesomediterrânicos, nas margens de rios de caudal
irregular, em solos siliciosos, de aluviões limosos, a sul do Tejo, com Salix atrocenerea
(borrazeira-preta) e Salix salvifolia spp. australis (borrazeira-branca);
(iv) Salgueirais meso-supramediterrânicos, em solos siliciosos, com Salix lambertiana
(salgueiro-de-casca-roxa) e Salix salvifolia (borrazeira-branca);
(v) Salgueirais de rios tipicamente mediterrânicos, de águas eutrofizadas, com Salix
neotricha;
(vi) Salgueirais, em solos arenosos, com Salix atrocinerea (borrazeira-preta) e Vitis vinifera
spp. sylvestris.

42
2.7. Principais técnicas de recuperação da vegetação ribeirinha

São diversas as técnicas e métodos de recuperação de ecossistemas fluviais (Tabela 2.12),


dependentes fundamentalmente do estado em que o sistema se encontra, do objectivo a que
se pretende chegar e dos recursos disponíveis para planear e implementar um projecto de
restauração fluvial. Na literatura são diversos os estudos desenvolvidos neste sentido bem
como a classificação definida por diferentes autores em termos de técnicas a aplicar na
restauração de ecossistemas fluviais. Não se pretende efectuar uma descrição exaustiva destas
técnicas mas listar os principais métodos a título informativo.

Tabela 2.12. Principais técnicas de restauração de linhas de água (FISRWG, 1998).


Classificação
Técnicas (nome em inglês) Técnicas (nome em português)
Geral
boulder clusters conjuntos de pedras
weirs or sills açudes ou represas
fish passages passagens para peixes
log/brush/rock shelters protecções de pedra, madeira, ramos
Medidas no leito
lunker structures estruturas de estaca
ribeirinho
migration barriers barreiras de migração
tree cover cobertura de árvores
wing deflectors deflectores em asa
grade control measures medidas de controlo do tipo de sedimento
bank shaping and planting modelação das margens e plantação
branch packing rolos de ramos
brush mattresses manta de ramos
coconut fiber roll rolo de fibra de coco
dormant post plantings plantação de postes "dormentes"/inactivos
vegetated gabions gabiões de vegetação
joint plantings plantações conjuntas
Manutenção dos live cribwalls estacaria reticulada
taludes live stakes estacas vivas/lenhosas
live fascines faxinas lenhosas
log, rootwat and boulder -
revetments revestimento com pedras, trocos, raízes
riprap cobertura com pedra
stone toe protection protecção da base com pedra
tree revetments revestimento com árvores
vegetated geogrids geomalha com vegetação
Medidas de sediment basins bacias de sedimentação
gestão da água water level control controlo do nível da água
Medidas de maintenance of hydraulic manutenção das ligações hidráulicas
reconstrução do connections -
canal stream meander restoration restauração dos meandros ribeirinhos
livestock exclusion or exclusão ou gestão do gado
Medidas para o management tampão para florestas ripícolas
corredor ripícola riparian forest buffers inundação para restaurar os habitats
flushing for habitat restoration
Best Management Practices: Melhores Práticas de Gestão: Agricultura, área
Gestão da bacia Agriculture, Forestland and florestal e áreas urbanas
hidrográfica Urban Areas Melhoramento dos regimes de escoamento
Flow Regime Enhancement -

43
No que diz respeito às técnicas de revegetação e/ou criação do habitat ripícola propriamente
dito, listam-se de seguida alguns métodos (Tabela 2.13).

Tabela 2.13. Principais técnicas de técnicas de revegetação e/ou criação do habitat ripícola.
Fonte Classificação Geral Sub-classificação Técnicas
Métodos vegetativos Estacas
Feixes
Banquetas
Esteiras
Tranças
Formas de plantio
Leivas
Métodos germinativos Sementes
Geotêxteis
Hidrosementeira
mudas
Acções preparatórias,
preventivas e de emergência
Deflectores ou espigões
Deflectores longitudinais
Tratamentos na linha de Arranjo de pedras e troncos
água Cilindros inertes
Feixes vivos
Obras longitudinais
Durlo e Sutili, 2004

Trança viva
Remodelação
Revestimento das margens Remodelação da barranca
Revestimentos do leito Plantio de leivas
Plantio em banquetas
Trança viva
Esteira viva
Revestimento com madeira
e blocos de pedra
Outros revestimentos
Cinto basal simples
Obras transversais de Soleira
consolidação Cinto basal saliente
Barragens de consolidação
Obras transversais

Posição relativa ao eixo do


curso de água
Distância entre barragens Perfil de compensação,
Determinação da posição
segurança e economia
das barragens
Sequência para a
estabilização de cursos de
água
Obras transversais de
retenção
Plantação por estaca, Plantação por sementeira/individual,
Raus, Hans. 2008

Cobertura de salgueiros,
Camada de ramos, Camada de faxinas,
Parede de faxinas, Parede berço com vegetação,
Parede banco de pilha, Troncos mortos,
Pontões, Pontões empaliçados, Pontões de pedras
Pontões cerca de acácias, Pontão de estrutura lenhosa
Árvore acidentada

44
As técnicas de restauração são instrumentos que permitem atingir uma determinada imagem
ou cenário objectivo, pelo que, segundo Lastra (2003), deve ser claro que: não existem
técnicas melhores ou piores bem como adequadas/eficazes ou não; o simples facto de utilizar
uma determinada técnica (mesmo sendo “suave”, “ecológica” e “verde”) não significa que se
realizou uma “restauração”; e ao aplicar as técnicas, tanto “duras” como “suaves”, podem ser
cometidos erros e danificar uma ribeira.

Em 1998 foi editado um guia de restauração fluvial, elaborado pelo grupo de trabalho de
restauração de rios, a Federal Interagency Stream Restoration Working Group (FISRWG), onde
se definiram os princípios, processos e práticas da recuperação destes ecossistemas. Este
documento permitiu uma base científica rigorosa para o desenvolvimento consequente de
técnicas e a sua implementação em campo.

Segundo a FISRWG (1998) as técnicas seleccionadas devem ser componentes de um sistema


desenhado no sentido de restaurar funções específicas e valorizar o corredor fluvial. O uso de
uma técnica sem considerar as funções do sistema e os seus valores a curto prazo pode
implicar uma ineficácia na correcção do problema à escala do sistema.

Todas as técnicas de restauração são mais efectivas quando incluídas como uma parte integral
do plano de restauração. Geralmente a combinação de técnicas é necessária no sentido de se
direccionar às condições e aos objectivos desejados. A restauração efectiva irá responder às
metas e objectivos que forem definidos no processo de planeamento (FISRWG, 1998). A
decisão de se optar por um método, em detrimento de outro, é tomada com base nos
processos bem como pela disponibilidade dos meios de construção e manutenção disponíveis
e das limitações no uso dos solos.

No presente trabalho não se pretende a descrição das técnicas listadas na Tabela 2.12 e na
Tabela 2.13 mas dada a sua importância salientam-se as estratégias fundamentais de
recuperação fluvial definidas por Saraiva et al. (2004). Para estes autores as principais
abordagens à recuperação da vegetação de margens e cursos de água e de leitos de cheia
(Tabela 2.14) são a regeneração natural, as técnicas de sementeira, a hidrossementeira e os
geotêxteis, a plantação de árvores para efeitos estéticos ou para recuperação de habitat
natural, e os usos estruturais de espécies lenhosas (engenharia natural).

45
Tabela 2.14. Estratégias fundamentais de recuperação fluvial (adaptado de Saraiva et al., 2004).
Estratégia Descrição
Depende da avaliação precisa do troço e do local e da identificação objectiva dos
problemas.
Parte do pressuposto de que, para colonizar a zona ribeirinha, são garantidas
sementes de plantas autóctones. Contudo, se a zona tiver sido invadida por
A regeneração espécies exóticas, qualquer abordagem não interventiva terá como resultado a
natural expansão das espécies invasoras.
Devem ser consideradas as actividades humanas que possam ser prejudiciais para
o ecossistema ou leito de cheia.
Necessita da participação das entidades e da população, através de um processo
de educação ambiental.
O uso de espécies autóctones exige o conhecimento dos processos de germinação
e utilização de sementes, provenientes de viveiros locais ou da colheita directa no
campo. O conhecimento das etapas de colheita, armazenamento, sementeira,
plantio, drenagem e dormência é fundamental para minimizar os custos e perdas e
garantir que as sementes germinem em boas condições.
As sementeiras podem atingir um bom coberto vegetal a custos reduzidos,
Técnicas de
exigindo um elevado grau de avaliação, planeamento, execução e manutenção,
sementeira
durante os três primeiros anos.
Recomenda-se a cobertura da área semeada com recursos ao uso de fibras
orgânicas e longas (palha, feno, ramos secos) ou outras fontes de celulose Este
mulch arrefece a superfície do solo, aumenta a retenção de água e reduz o impacte
da precipitação e da saturação do sistema capilar do solo durante as chuvas mais
intensas.
As sementeiras são misturadas com uma pasta de celulose e com nutrientes. As
plantas autóctones têm muitas vezes associadas micorrizas ou fungos radiculares,
Hidrossementeira sem os quais o seu estabelecimento terá pouco sucesso.
e geotêxteis É preferível a utilização de materiais geotêxteis biodegradáveis fabricados a partir
de fibras vegetais (casca de coco, juta, cânhamo ou outras fibras de longa
duração).
Plantação de Implicam o controlo da localização e da densidade de árvores e arbustos.
árvores para A eficácia desta estratégia pode ser aumentada se as plantações se efectuarem
efeitos estéticos imediatamente antes da época das chuvas, diminuindo significativamente as
ou para necessidades de rega e aumentando as taxas de sucesso (e.g.. rega gota-à-gota).
recuperação do Convencer os proprietários dos terrenos a garantir usos adequados de métodos de
habitat natural rega pode constituir um enorme desafio.
Utilização de ramos, caules e raízes como elementos estruturais.
Implica uma mão-de-obra muito intensa e quantidades significativas de plantas
Usos estruturais
autóctones, o uso de maquinaria de maior envergadura (para projectos de maior
de espécies
dimensão), um planeamento mais pormenorizado, a envolvência de outras
lenhosas;
disciplinas.
bioengenharia
Vantagem de promover soluções ecológicas e expeditas para os problemas de
erosão.

46
2.8. Planeamento e implementação de um projecto de restauração ecológica

A restauração ecológica é uma actividade que nasce como resposta à degradação dos
ecossistemas, e portanto, os métodos para restaurar dependem do tipo de afectação e a sua
intensidade. A maior ou menor percepção que se tem destes tipos de degradação implica que
se implementem mais ou menos intensamente diferentes tipos de restauração (Lastra, 2003).

Para o autor supracitado, a filosofia da restauração de ribeiras baseia-se em três ideias


principais: as ribeiras formam uma parte do ecossistema fluvial; é necessário compreender o
funcionamento do rio antes de actuar; e mais vale prevenir a degradação que restaurar um
ecossistema degradado. Neste sentido, devem ser definidas condições mínimas para se
restaurar um rio. Em primeiro lugar, deve existir água em condições de qualidade e
quantidade para o desenvolvimento da flora e fauna autóctones. A quantidade de água é
importante para garantir os caudais mínimos e ecológicos. Em segundo lugar, o rio necessita
de espaço (Figura 2.13) para poder funcionar como um ecotóno (os problemas de instabilidade
e degradação dos ecossistemas advêm do confinamento dos canais), sendo a meandrização de
um rio uma meta a considerar no planeamento. Em terceiro lugar, devem ser planeadas
acções de restauração a favor da corrente, promovendo os processos de auto-recuperação da
geomorfologia e favorecer a colonização natural a partir das sementes e ramos que o rio
transporta. Por último, a restauração deve ter como objectivo uma paisagem fluvial o mais
natural possível através da utilização de materiais naturais e cuja origem seja do mesmo rio.

47
Figura 2.13. Formação de um ribeiro com meandrização (Binder, 1998).

Na literatura científica são diversas as metodologias definidas por diversos autores acerca do
processo de restauração ecológica de ecossistemas (vide Handel e Ehrenfeld, 1998; Laszlo et
al., 2007; Perrow et al., 2008; Aronson e Clewell, 2008; Comin, 2010). Em relação à
restauração de ecossistemas fluviais, as metodologias são igualmente numerosas (vide Dreher
e Heringa, 1998; FISRWG, 1998; Binder, 1998; Selles, 2001; Hughes e Klemm, 2002; Otto et al.,
2004; Melanson et al., 2006; Schueler, 2005; USDA, 2005; DEMAA, 2007), pelo que não existe
nenhuma metodologia única e adequada.

De uma forma geral, um projecto de restauração inclui uma etapa de organização (da
informação e recursos humanos) e caracterização da zona de estudo (os problemas e
oportunidades a considerar), uma etapa onde se desenvolvem as metas e objectivos, a partir
da qual se definem os cenários ou alternativas de restauração, e por último, a etapa da
implementação da restauração propriamente dita, que inclui a monitorização e a avaliação de
todo o projecto. Uma das metodologias de referência na restauração ecológica, no que diz
respeito à reabilitação de sistemas fluviais, é a metodologia definida pela FISRWG (1998),
representada na Tabela 2.15.

48
Tabela 2.15. Processo de desenvolvimento de um plano de restauração fluvial (adaptado de FISRWG,
1998).
Etapa Principais procedimentos
Definição dos limites
Criação do grupo participativo
Identificar fontes de financiamento
Organização Definir os pontos de contacto e a estrutura de decisão
Facilitar o envolvimento e a partilha de informação entre os
participantes
Documentar o processo
1 Recolha e análise de dados
Definição das condições existentes e causas de perturbação
Comparação das condições existentes com as condições objectivo ou
Identificação de problemas referência
e oportunidades Análise das causas de perturbação
Determinar como as práticas de gestão podem afectar a estrutura e
funções do corredor fluvial
Desenvolver um depoimento dos problemas e oportunidades
Definição das condições futuras desejadas
Desenvolvimento de Identificar a escala dos processos
metas e objectivos Identificar condicionantes e aspectos da restauração
2 Definir metas e objectivos
Selecção e desenho de Utilização de ferramentas de análise de suporte para seleccionar
alternativas de alternativas
restauração
Assegurar fundos para a implementação da restauração
Implementação da Identificar ferramentas para facilitar a implementação
restauração Distribuir responsabilidades da implementação
Instalar as medidas de restauração
3 Monitorização do progresso perante os objectivos
Tendências e recursos prioritários regionais
Monitorização, avaliação e
Actividades na linha de água
gestão adaptativa
Razões para avaliar os esforços da restauração
Modelo conceptual para avaliar a restauração

Cada etapa do plano de restauração fluvial é constituída por diversos procedimentos. Cada um
destes engloba várias medidas ou metodologias. Dada a extensa descrição por parte da
FISRWG (1998) para cada uma destas etapas e respectivos procedimentos, abordam-se de
seguida os principais aspectos a ter em conta num projecto de restauração fluvial. Não se
pretende uma abordagem exaustiva mas sim, no âmbito do presente trabalho, referir os
principais processos para uma posterior análise ao nível do caso de estudo, adequando os
procedimentos de cada etapa.

Organização

49
Os aspectos organizativos de um projecto de restauração são uma etapa importante na
medida em que facilitam a comunicação entre todas as partes envolvidas. e são adequadas
para identificar a motivação comum a todos os agentes, o ponto de partida para iniciar as
acções e definir dos objectivos. Alguns dos procedimentos estão descritos na Tabela 2.16.

Tabela 2.16. Principais procedimentos da etapa de organização num plano de restauração fluvial.
Permite reflectir os processos ecológicos relevantes na área em estudo.
Requer analisar a natureza das perturbações induzidas pelas actividades humanas
Definição dos
(incluindo a magnitude dos impactes) e a organização social das pessoas.
limites do
Inicia-se com a identificação das ribeiras ou áreas de recursos aquáticos que são
projecto
particularmente valorizadas pela comunidade (através de fórum público).
Devem reflectir os interesses e objectivos comunitários.
Deve ser constituído por cidadãos, grupos de interesse públicos, agentes económicos
e administrativos, e outros grupos ou indivíduos interessados na iniciativa de
restauração.
Devem estar envolvidos e ser informados e os seus valores e interesses devem
também incorporar as tomadas de decisão complementando a orientação técnica dos
Grupo agentes responsáveis.
participativo Deve garantir-se um número mínimo de participantes de modo a que exista
representatividade de todos os interesses.
A exclusão de certos interesses comunitários pode por em causa a legitimidade ou o
sucesso da restauração.
Um grupo extenso pode por em causa o processo, por ser impraticável em termos de
organização ou do processo ser longo.
Definição de Requer grupo com experiência técnica ampla, integrando disciplinas de engenharia
um grupo como biológicas/científicas, em particular na ecologia terrestre e aquática, hidrologia,
técnico hidráulica, geomorfologia e transporte de sedimentos.
Crucial para o sucesso da restauração.
Fundos de Devem ser mínimos ou substanciais e provenientes de diversas fontes.
financiamento O agente patrocinador irá certamente influenciar as tomadas de decisão na
restauração.

Independentemente do número de indivíduos envolvidos é importante que todos os


participantes (e patrocinadores) tenham conhecimento que a fase inicial deste tipo de
projectos tem a duração de 2 a 3 anos (FISRWG, 1998). Não existe a garantia de que um dado
projecto terá sucesso, e em diversos casos um projecto poderá “falhar” simplesmente devido à
falta de tempo para a natureza recuperar por si mesma e para que os métodos de restauração
tenham o efeito desejado. Assim, todos os participantes devem ser informados acerca das
expectativas reais tanto para o projecto como para a sua participação.

Identificação de problemas e oportunidades

50
Segundo a FISRWG (1998), apesar da identificação de problemas e oportunidades poder ser
difícil, é a etapa mais importante no desenvolvimento do plano e do processo de restauração.
Os principais processos desta etapa estão na Tabela 2.17.

Tabela 2.17. Principais procedimentos da etapa de identificação de problemas/oportunidades num


plano de restauração fluvial.

Serão utilizados na identificação dos problemas/oportunidades e das etapas


seguintes, sendo imprescindíveis para a definição de metas e objectivos.
Recolha e São diversos os parâmetros a estudar e monitorizar. Estes definem os dados base de
análise de referência a partir dos quais poderemos comparar e medir as alterações futuras.
dados Os dados base de referência incluem: estrutura e funções existentes no corredor
fluvial e factores de perturbação; análise das condições sociais, culturais e económicas
da zona; e das actividades e condições em termos históricos.
Condições Não existem atributos base ou de referência a estudar.
que melhor São fundamentais os descritores: hidrologia, erosão e sedimentos, vegetação ripícola
caracterizam e do leito de cheia, processos no canal, conectividade, qualidade da água, espécies e
a situação habitats aquáticos e ripícolas críticos e dimensão do corredor.
actual
Comparação Comparação da descrição das condições base de referência com as condições de
das condições referência que representem, da melhor forma possível, o resultado desejado da
existentes restauração. Esta situação de referência deve estar num estado de pré-perturbação
com as em relação ao troço que vai ser intervencionado.
condições
objectivo ou
referência
São o enfoque central para prosseguir com os esforços da restauração e são a base
para a definição dos objectivos específicos da restauração, a partir dos quais se
determina o sucesso ou fracasso do projecto.
Principais
Devem descrever as condições do corredor fluvial, medidas em unidades adequadas e
orientações
relacionadas com processos específicos.
Devem descrever o desvio em relação às condições de referência ou às funções
adequadas para cada condição

É importante referir que a condição de referência deve ser similar ao cenário original ou
próximo no qual o corredor fluvial foi nalguma etapa da sua evolução e em que se manteve
relativamente estável, com base em estudos efectuados ou em dados/caracterizações
históricas. No entanto, na maioria dos casos estas condições são desenvolvidas em
comparação com ribeiras ou sítios de referência que são identificados como um estado natural
e potencial do corredor fluvial.

Desenvolvimento de metas e objectivos

51
A definição dos objectivos de restauração é essencial na orientação do desenvolvimento e
implementação dos esforços de restauração e no estabelecimento dos meios para medir o
progresso e avaliar o sucesso (FISRWG, 1998). Este processo deve integrar os resultados da
avaliação da estrutura e funções existentes e desejadas no corredor fluvial com os principais
valores políticos, económicos, sociais e culturais.

A definição das condições futuras desejadas para o corredor fluvial e zona adjacente deve
representar uma visão comum a todos os participantes e stakeholders. Esta visão deve ser
consistente com uma meta ecológica e global para a estrutura e funções do corredor
restaurado, visando um estado de equilíbrio dinâmico ou condições de funcionamento o mais
próximo possível deste estado.

A definição dos elementos e das condicionantes da restauração permite identificar as


limitações associadas à implementação das metas e objectivos e adquirir a informação
necessária para a integração dos valores ecológicos, sociais, políticos e económicos, incluindo
as limitações técnicas e não técnicas bem como a garantia da qualidade.

A definição das metas e objectivos da restauração é o procedimento principal nesta etapa. Os


objectivos direccionam o âmbito, o desenho e a implementação da restauração e devem
integrar dois grupos de factores: as condições futuras desejadas (condição ecológica de
referência) e os valores sociais, políticos e económicos. A identificação de metas realísticas é
um factor-chave para o sucesso da restauração porque define a base para uma gestão
adaptativa. Metas irrealistas criam expectativas irrealistas e o potencial afastamento de
stakeholders.

Os objectivos da restauração devem suportar as metas e definir especificamente quais são as


condições do corredor fluvial que devem ser modificadas segundo um nível de referência
particular ou uma condição desejada. Estes objectivos são a base para a monitorização do
sucesso do projecto.

Selecção e desenho de alternativas de restauração

A selecção das alternativas de restauração é um processo complexo e tem como objectivo


incorporar os problemas e oportunidades identificadas e acompanhar as metas e objectivos da
restauração (FISRWG, 1998) e devem ser considerados determinados factores (Tabela 2.18).

52
Tabela 2.18. Factores a considerar na etapa de desenho de alternativas de restauração fluvial.
São três as questões críticas a responder nesta etapa:
(i) quais têm sido as implicações das actividades do passado na
Gestão das causas vs gestão da ribeira (análise causa-efeito)?
tratamento dos sintomas (ii) quais são as oportunidades para eliminar, modificar ou
atenuar essas actividades?
(iii) qual seria o resultado da melhora das condições no rio se
estas actividades fossem eliminadas, modificadas ou atenuadas?
Bacia hidrográfica/paisagem Devem ser consideradas as relações entre: riachos e rio; rio e
vs rios e ribeiras corredor; corredor e paisagem; paisagem e região.

É importante considerar o efeito da restauração na paisagem. As


Outras considerações espaciais alternativas devem ser flexíveis: um equilíbrio dinâmico requer
e temporais uma restauração que permita o espaço e tempo para se moldar
às condições desejadas e às perturbações existentes.

Se as causas dos efeitos adversos das actividades podem ser realisticamente eliminadas então
a restauração total do ecossistema pode ser um objectivo viável. No entanto, se estas causas
não podem ser eliminadas, é crítico identificar quais serão as soluções que existem na gestão
das causas ou dos sintomas para alterar as condições do ecossistema e quais são os efeitos
destas soluções no ecossistema.

Como na maioria dos casos não é possível eliminar as actividades humanas que perturbam os
sistemas fluviais, o projecto de restauração deve fornecer as melhores soluções/práticas
possíveis para a manutenção das melhores condições, tendo em consideração aspectos os
aspectos económicos e objectivos sociais.

A partir do momento em que as alternativas de restauração estão definidas, o próximo passo é


analisar a viabilidade dessas alternativas. É preferível aplicar diferentes critérios de análise que
permitem considerar diversos factores. Em geral, a aplicação das seguintes metodologias
analíticas de suporte assegura a selecção da melhor alternativa ou do grupo de alternativas
para a iniciativa de restauração (Tabela 2.19):

Tabela 2.19. Métodos de análise de suporte no desenho de alternativas no plano de restauração


fluvial.
Identifica a solução mais económica para cada resultado (output) não monetário e
económico (custo);
Análise Pode ser utilizada para qualquer escala;
custo - Devem ser avaliados três aspectos: a lista de soluções, as estimativas dos resultados dos
benefício efeitos não monetários (outputs) e económicos (custos);
(ACB) As soluções correspondem às técnicas que complementam os objectivos do plano;
As estimativas dos custos incluem os custos financeiros da implementação e os custos de
oportunidade.

53
Os resultados (output) dos benefícios não monetários das acções de restauração são mais
difíceis de avaliar: podem ser alterações no valor do habitat, estéticos, populações, e
outros;
Análise
Pretende-se ponderar objectivamente todos os benefícios da restauração em relação aos
custo –
custos;
eficácia
Necessita de uma análise do incremento dos custos;
(ACE)
A ACE e a análise incremental não determina uma solução óptima como a ACB mas fornece
informação que os agentes de decisão podem utilizar para facilitar e suportar a selecção de
uma alternativa;
A restauração de um sistema fluvial envolve sempre determinados riscos,
independentemente da metodologia aplicada, pelo que o projecto poderá falhar;
A identificação dos riscos para cada alternativa é portanto importante para a tomada de
Análise
decisão;
de risco
Particularmente importante para projectos em grande escala que envolvam muitos
recursos e mão-de-obra ou a vida humana possa estar em risco se o projecto “falhar”,
nomeadamente a jusante.
Avaliação O facto de se realizar uma reabilitação do ecossistema não implica que a proposta não
de tenha efeitos adversos ou controversos: podem surgir impactes adversos a curto e a longo-
impacte prazo;
ambiental Estes aspectos devem ser considerados e avaliados para uma tomada de decisão.

Monitorização, avaliação e gestão adaptativa

A monitorização, a avaliação e a gestão adaptativa são componentes essenciais que devem ser
consideradas de modo a assegurar o sucesso da restauração fluvial (FISRWG, 1998). A
monitorização inclui a pré e pós-monitorização bem como a monitorização durante a fase de
implementação. Assim, fornece a informação necessária, documenta o sucesso da restauração
em termos de estruturas e funções do ecossistema e proporciona uma base de dados ou
passos-chave a serem utilizados em projectos semelhantes (Landin, 1995).

Directamente associada à monitorização está a avaliação da restauração e a gestão adaptativa.


O projecto deve ser avaliado de modo a assegurar que o seu funcionamento decorra como os
objectivos estipulados e que estes sejam atingidos.

Segundo a FISRWG (1998), o Plano de Monitorização deve: avaliar a performance da iniciativa


de restauração perante os objectivos; fornecer informação que pode ser utilizada para
melhorar as acções da restauração; e fornecer informação acerca do projecto em geral. Este
plano deve ser desenvolvido em conjunto com o planeamento da restauração (Tabela 2.20).

54
Tabela 2.20. Desenvolvimento de um Plano de Monitorização (adaptado de FISRWG, 1998).
Etapa Descrição
Definir a visão, metas e objectivos da restauração
Desenvolver um modelo conceptual
Definir os critérios de performance
Planeamento Definir os parâmetros e métodos de monitorização
Estimativa dos custos
Categorizar a informação
Determinar o nível de esforço e duração da monitorização
Definir responsabilidades,
Implementação e Garantir a qualidade dos dados,
gestão interpretar os resultados,
Gerir a informação
Não intervenção, manutenção ou adição/abandono de elementos do plano;
Resposta aos
Modificação dos objectivos do projecto;
resultados da
Gestão adaptativa;
monitorização
Documentação e divulgação dos resultados.

Os parâmetros a monitorizar dependem do local de estudo, das metas e objectivos, das


condições referência identificadas bem como dos recursos disponíveis. Por exemplo, em
relação ao estado ecológico das massas de água na Europa, e perante os objectivos e medidas
definidas na DQA, estão definidos os parâmetros e a respectiva frequência de monitorização.

Para além da monitorização das estruturas de reabilitação implementadas, requer-se uma


visão e um conhecimento global dos parâmetros funcionais e estruturais de que depende o
bom funcionamento do corredor fluvial (Landin, 1995). É fundamental incluir a monitorização
da componente biológica, de forma a quantificar o efeito da reabilitação na composição e
estrutura das comunidades aquáticas.

Para diversos autores (Armitage et al., 2001; Muokta et al., 2002; Korsu, 2004) a monitorização
permite avaliar quer a evolução do ecossistema, com base na relação biota/habitat, quer a
forma como o comportamento da estrutura do canal se reflecte nestas comunidades,
especialmente após o período das cheias. A monitorização anual da ictiofauna permite avaliar
a composição e a estrutura das comunidades, as quais são fortemente determinadas pelos
habitats fluviais e pela vegetação ribeirinha (Paller et al.,2000; Bash e Ryan, 2002; Shields et
al., 2003).

No entanto, a avaliação dos impactos ecológicos em rios urbanos, onde ocorre degradação
química e física, pode ser extremamente difícil, uma vez que alguns dos efeitos dos
contaminantes podem ser amplificados por influências mais fortes de canalizações, perda de

55
vegetação ripária ou outros agentes físicos causadores de impactos (Rogers et al., 2002).
Quando se faz monitorização em sistemas fluviais é frequente comparar troços com diferentes
graus de perturbação com locais o mais natural possível ou menos perturbados, que
correspondem à situação de referência. Esta é a metodologia preconizada pela DQA que
implica a prévia definição da tipologia, uma vez que a comparação só é lícita para o mesmo
tipo de massas de água. No entanto, se não existirem locais de referência, o que é comum em
áreas altamente urbanizadas ou em regiões marcadamente agrícolas, as condições de
referência podem ser seleccionadas a partir de um conjunto de locais que se verifique estarem
ecologicamente menos perturbados (Reynoldson et al., 1997).

No âmbito da monitorização, existem, portanto, vários índices que podem ser utilizados para
caracterizar a qualidade da água e do sedimento, para classificar as zonas ripárias, destinados
a avaliar a qualidade de todo o ecossistema fluvial, e caracterizar o habitat fluvial como um
todo (Innis et al., 2000; Carvalho, 2008). Para Washington (1984) o recurso a esses índices
constitui uma das metodologias mais utilizadas na apresentação de resultados relativos a
questões de gestão ambiental, principalmente porque representam a condensação de
múltiplas informações (e.g. vegetação ripária, qualidade biológica da água, qualidade química
da água) num único valor numérico. Embora os índices tenham algumas limitações associadas,
uma vez que podem reduzir uma grande quantidade de informação num único valor, com a
consequente perda de informação e simplificação conceptual (Verneaux, 1984; Metcalfe,
1989; Charvet, 1995; Charvet, 1999 in Carvalho, 2008), são amplamente utilizados porque
proporcionam informação de forma única, reprodutível e adaptável, utilizando uma escala de
valores universalmente compreensível, o que os torna extremamente importantes para os
gestores.

Nesta etapa, para além da monitorização, a avaliação de todo o processo de restauração e a


consequente gestão adaptativa são factores fundamentais para o desenvolvimento e melhoria
das técnicas e metodologias de restauração.

A avaliação da restauração é necessária para determinar se o esforço da restauração


corresponde ao cumprimento das metas específicas identificadas durante o planeamento, e
para permitir ajustamentos e reportar o sucesso ou os problemas do resultado do projecto
planeado. Os resultados de um plano de monitorização são uma ferramenta importante para
avaliar o progresso da restauração e informar os responsáveis pelas tomadas de decisão sobre
a necessidade de iniciativas inovadoras e potenciais, no caso do sucesso destes projectos.

56
Vários autores sugerem que o sucesso da restauração pode ser baseado nas características da
vegetação (vide Walters 2000; Wilkins et al., 2003), na diversidade de espécies (vide Aarde et
al., 1996; Reay e Norton, 1999; Passel, 2000; McCoy e Mushinsky, 2002) ou através de
abordagens integradas que incluam diversas variáveis (vide Hobbs e Norton, 1996; Neckles et
al., 2002; SER, 2004).

A envolvência dos stakeholders após a implementação da restauração e a documentação e


publicação da informação de uma forma contínua são passos que devem ser considerados
para avaliar o sucesso ou fracasso da restauração.

Outro aspecto crítico a considerar é a gestão adaptativa de determinadas características do


projecto bem como dos agentes e técnicos envolvidos. A gestão adaptativa envolve um ajuste
na direcção da gestão à medida que um novo tipo de informações se torna disponível. Isto
implica a necessidade do desenvolvimento e divulgação de novas metodologias e técnicas de
restauração e gestão de ecossistemas bem como a necessidade de complementar as falhas
que actualmente existem. Como a restauração é uma ciência relativamente recente,
principalmente em Portugal, acarreta uma incerteza substancial, pelo que a incorporação de
nova informação é fundamental para a melhoria e a continuidade deste tipo de projectos.

57
58
3. CAPÍTULO III – CARACATERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DA RIBEIRA DAS
VINHAS E DO TROÇO EM ESTUDO

3.1. Introdução

Neste capítulo faz-se uma caracterização geral da parte da bacia hidrográfica da Ribeira das
Vinhas pertencente ao Concelho de Cascais e do troço de intervenção em termos biofísicos e
de cobertura vegetal, informação essencial para fundamentar as propostas de restauração
ecológica da zona a intervencionar bem como para qualquer proposta de ordenamento
territorial e de gestão dos recursos naturais. Numa primeira fase apresenta-se o
enquadramento da zona de estudo em termos de localização no Parque Natural Sintra-Cascais
e no Concelho de Cascais. Segue-se uma caracterização biogeográfica, biofísica e dos valores
florísticos relativa à bacia da Ribeira das Vinhas. No final realiza-se uma caracterização mais
específica de um troço da ribeira definido para uma proposta de requalificação.

3.2. Caracterização geral da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas

3.2.1. Enquadramento no Parque Natural Sintra-Cascais e no Concelho de Cascais

A bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas encontra-se dividida entre o Concelho de Sintra e de
Cascais e, consequentemente, uma parte da bacia está dentro das delimitações do Parque
Natural de Sintra-Cascais (PNSC) (Figura 3.14). A bacia insere-se na região denominada pelo
INAG como Bacia Hidrográfica das Ribeiras do Oeste. A área total da bacia é de cerca de 26,2
Km2 (CMS, Plano Municipal de Ambiente), dos quais cerca de 14,5 Km2 pertencem ao Concelho
de Cascais. A Ribeira das Vinhas nasce a 478 m de altitude em pleno PNSC, desaguando em
Cascais, depois de percorrer 27,2 Km.

Figura 3.14. Enquadramento da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas (parte analisada no presente
estudo), no PNSC e no Concelho de Cascais.

59
A rede hidrográfica da bacia da Ribeira das Vinhas inclui várias nascentes na encosta Sul da
Serra de Sintra e é constituída por diversos cursos de água designados pelos nomes dos
topónimos por onde passam (Ribeira do Pisão, Rio da Mula, Ribeira da Penha Longa, Ribeira da
Atrozela, Ribeira dos Marmeleiros e Rio Doce).

O Maciço eruptivo da Serra de Sintra dota os cursos de água desta bacia, de um carácter
torrencial com forte capacidade erosiva. Na secção de montante dentro do Concelho de
Cascais a Ribeira das Vinhas toma o nome de Rio da Mula, existindo nessa secção uma
albufeira para o abastecimento de água do aglomerado de Cascais. Antes de entrar no
Concelho de Cascais juntam-se à ribeira dois tributários, a Ribeira do Pisão e a Ribeira da
Penha Longa.

3.2.2. Enquadramento biogeográfico

A zona em estudo apresenta o seguinte enquadramento biogeográfico, segundo Costa et al.


(1998) e Costa et al. (2002):

Reino Holártico

Região Mediterrânica

Sub-Região Mediterrânica Ocidental

Superprovíncia Mediterrânica Ibero-Atlântica

Província Gaditano-Onubo-Algarviense

Sector Divisório Português

Subsector Oeste-Estremenho

Superdistrito Olissiponense

As formações climáticas para esta região consistiriam em bosques de Quercus suber e de


Quercus faginea. Como etapa sucessional de substituição dominam actualmente matagais de
Ulex.

3.2.3. Caracterização biofísica

Clima

60
No contexto do presente estudo considerou-se a caracterização bioclimática feita pelo PNSC
pelo facto da região de estudo se situar no seu perímetro.

A temperatura e o regime pluviométrico são dos elementos mais importantes na


caracterização do clima por influenciarem directamente o desenvolvimento da vegetação bem
como os mecanismos fisiológicos das plantas e dos animais, e ainda a produtividade do solo.

As temperaturas mais amenas fazem-se sentir junto ao mar, devido essencialmente ao efeito
atenuador desta massa de água sobre as temperaturas extremas (Baltazar e Martins, 2005). As
temperaturas mais baixas da região ocorrem com a proximidade da serra, devido ao efeito da
altitude (Figura 3.15). Os valores da precipitação anual na Serra de Sintra são mais elevados do
que nas áreas circundantes devido ao fenómeno das “chuvas orográficas”.

Figura 3.15. Regime pluviométrico e temperaturas do PNSC (Baltazar e Martins, 2005).

Em termos de análise termopluviométrica foram consideradas duas estações, a do Cabo da


Roca e a de Sintra/Pena. Numa caracterização inicial, tendo em conta um enquadramento no
PNSC e no Concelho de Cascais consideraram-se estas duas estações. No entanto, como o local
de estudo não se situa exactamente na Pena nem no Cabo da Roca, mas sim num local
intermédio, considerou-se a variação verificada nos gráficos da Figura 3.16 entre a Serra e o
mar para uma caracterização climática do local.

61
Figura 3.16. Gráfico termopluviométrico de: (a) Sintra/Pena; (b) Cabo da Roca (Baltazar e Martins,
2005).

Os gráficos relativos às duas estações relevam a influência de um clima de tipo mediterrânico.


Assim, verifica-se uma dicotomia bem marcada entre o Inverno, estação pluviosa, nos meses
mais frios do ano, e o Verão, com escassa precipitação e máximo de temperatura. No entanto,
a precipitação anual (e todos os valores da precipitação mensal) é mais elevada na estação de
Sintra/Pena do que na estação do Cabo da Roca. De facto, na zona da Serra o período seco
está mais amenizado devido à ocorrência, ainda que fraca, de precipitação, ao contrário do
que é usual no clima mediterrânico onde há uma quase ausência de precipitação no Verão.

Os seguintes mapas de caracterização foram elaborados com base na informação digital


fornecida pala Agência Cascais Natura e está indicada na Tabela 3.21.

Tabela 3.21. Informação digital disponibilizada pela Agência Cascais Natura.

Tipo de informação digital Cartas

Ortofotomapas Ortofotomapas de 2007 e Ortofotomapas de 2009

Bacias hidrográficas do Concelho de Cascais


Capacidade do Uso de Solo
Carta de Solos
Carta Geológica
Carta do Concelho e Freguesias
Cursos de Água
Informação em shapefile
Curvas de Nível
Pontos Cotados
Carta de Ordenamento
Carta de Condicionantes
Unidades da Paisagem
Vegetação Actual

Fisiografia

Com base nas curvas de nível (espaçamento de 1 m entre curvas) e pontos cotados foi gerada
uma Rede Triangular Irregular que por sua vez serviu de base para a elaboração de um Modelo

62
Digital do Terreno na forma de uma matriz regular de cotas e para a determinação de vários
parâmetros biofísicos: Altimetria, Declives, Orientação das Encostas e Humidade do Solo.

Relativamente ao relevo (Figura 3.17), a bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas apresenta
uma variedade característica da transição entre a Serra e o litoral, ou seja, entre valores de
altitude mais elevada devido à proximidade da Serra de Sintra e valores menos elevados mais
perto da costa.

Figura 3.17. Carta de altimetria da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.

A bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas constitui um território relativamente diferenciado,


podendo observar-se algumas unidades morfológicas distintas. Na zona noroeste a altitude é
mais elevada, diminuindo progressivamente para sul.

Os cursos de água, pelo menos os principais, percorrem vales encaixados. De facto, os maiores
valores do declive na bacia hidrográfica em estudo ocorrem ao longo das linhas de água.

Na Tabela 3.22 pode observar-se que a classe de altimetria com maior representatividade é a
classe 100-200 m, que ocupa cerca de 59% da área, seguindo‐se a classe 0-100 m (36%). As

63
classes de altimetria mais elevada (200-400 m) são pouco significativas na bacia,
representando apenas 5% do total, sendo estas áreas características da Serra, no noroeste.

Tabela 3.22. Área (%) das classes de altimetria na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
Altimetria (m) Área (%)
0 – 100 36
100 – 200 59
200 – 300 4
300 – 400 1

Em relação ao declive (Figura 3.18 e Tabela 3.23) verificam-se valores diversificados pelas
diferentes classes ou seja, há uma distribuição relativamente homogénea. A área da bacia
ocupada pelos declives elevados (acentuado e muito acentuado) e baixos (plano e muito
suave) é igual (39%). Os declives médios (suave e moderado) representam cerca de 22% da
bacia hidrográfica.

Figura 3.18. Carta de declives da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.

64
Tabela 3.23. Área (%) das classes de declive na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
Declive (%) Classificação Área (%)
0–5 Plano 24
5–8 Muito suave 15
8 – 12 Suave 14
12 – 15 Moderado 8
15 - 25 Acentuado 16
> 25 Muito acentuado 23

Como o território é diferenciado em termos de topografia, a distribuição dos valores da


exposição de vertentes pelas várias classes apresenta-se igualmente diversificada (Figura 3.19
e Tabela 3.24). A representatividade das encostas expostas a Norte, Sul e Oeste é semelhante
(aproximadamente 30%). A exposição Este é a que se encontra menos representada (15%).

Figura 3.19. Carta de exposição de vertentes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.

65
Tabela 3.24. Área (%) das classes de exposição de vertentes na bacia hidrográfica da Ribeira das
Vinhas.
Exposição Valores (°) Área (%)
Norte 0 – 45, 315 – 360 31
Este 45 – 135 15
Sul 135 – 225 26
Oeste 225 – 315 29

Geologia e Litologia

Em relação à geologia (Figura 3.10 e Tabela 3.25), a bacia em estudo apresenta uma
dominância de calcários e margas (41%). Verifica-se a ocorrência de uma zona de granitos na
zona mais a montante da bacia, na Serra de Sintra. Mais para sul existe uma área considerável
correspondente a calcários e margas. A zona mais meridional da bacia, a zona mais urbanizada,
corresponde à Vila de Cascais, situada numa zona de calcários. Na zona intermédia da bacia
hidrográfica é possível encontrar solos de origem calcária e arenitos. Ao longo dos vales dos
rios principais encontram-se aluviões.

Figura 3.20. Carta geológica da bacia da Ribeira das Vinhas.

66
Tabela 3.25. Área (%) ocupada por cada tipo de formação geológica na bacia hidrográfica da Ribeira
das Vinhas.
Tipo de formação Área (%)
Aluviões 4.3
Areias 0.0
Calcários 16.5
arenitos e margas 0.8
calcários e margas 41.0
arenitos, pelitos e dolomitos 4.6
arenitos, pelitos e conglomerados 4.1
calcários, margas e arenitos 3.2
calcários e arenitos 11.7
rochas vulcânicas 0.0
Granito 8.7
filões e massas de traquibasalto 2.3
filões de rocha alterada ou não identificada 2.4
Outros 0.3
Total 100

Relativamente ao tipo de solos que se encontram na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas,
verifica-se (Figura 3.21) a existência de uma variedade de tipologias de solo, devido à
diversidade de formações geológicas, ao relevo e à proximidade a cursos de água.

67
Figura 3.21. Carta de solos da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.

Segundo a classificação de solos da FAO (Tabela 3.26) a bacia hidrográfica é constituída por
cerca de 50% de cambissolos. Os solos do tipo fluviossolos e coluviossolos tomam proporções
reduzidas, de 6.2% e 6.5% respectivamente. Os luvissolos correspondem ao tipo de solo menos
significativo em toda a bacia. A restante área, cerca de 36.3%, corresponde à área social.

Tabela 3.26. Área (%) ocupada por cada tipo de solo na bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.

Tipo de solo (Classificação FAO) Área (%)


Luvissolos 1.5
Cambissolos 49.4
Fluviossolos 6.2
Coluviossolos 6.5
Área Social 36.3
Total 100

Em termos de capacidade do uso do solo (Figura 3.22 e Tabela 3.27) verifica-se que a área em
estudo apresenta na sua maioria solos do tipo E (48.1%). A proporção de solos B e C é

68
semelhante, sendo respectivamente de 11.7% e de 11.3%. Os solos do tipo D correspondem a
cerca de 7.6% do total da bacia da Ribeira das Vinhas. O restante território da bacia é ocupado
pela classe área social (21.3%). Ou seja, a maior percentagem dos solos tem capacidade de
uso muito baixa, com limitações severas.

Figura 3.22. Carta da capacidade do uso do solo da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.

Tabela 3.27. Área (%) ocupada por cada classe de capacidade de uso do solo na bacia hidrográfica da
Ribeira das Vinhas.
Tipo de Solo Área (%) Área total (%)
A 0 0
Bs 8.9 11.7
B Bs + Ce 1.4
Bs + Cs 1.3
Ce 2.6 11.3
Ce + Cs 0.7
Ce + Cs + De 0.7
C Ce + De 3.6
Ch + Ee 0.3
Cs 2.1
Cs + Ce + Bs 0.4

69
Cs + Ce + De 0.0
Cs + De 0.9
De 0.7 7.6
De + Ds 0.6
De + Ee 1.1
De + Es 0.1
D
Ds 0.2
Ds + De 0.7
Ds + Ee + Es 3.7
Ds + Es 0.4
Ee 15.8 48.1
Ee + De 4.5
E Ee + Es 24.1
Es 0.1
Es + De 3.6
Área Social 21.3 21.3
Total 100.0 100

Património natural e paisagístico, ordenamento e condicionantes

Na Figura 3.23 está representada a carta de ordenamento da bacia hidrográfica da Ribeira das
Vinhas. A maior parte do território pertence à classe Cultural Natural com 37,5%, seguida da
zona agrícola, com 9,8% (Tabela 3.28).

70
Figura 3.23. Carta de ordenamento da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.

Tabela 3.28. Área (%) ocupada por cada classe de ordenamento do território na bacia hidrográfica da
Ribeira das Vinhas.
Categoria Área (%)
Agrícola (nível1) 8.4
Agrícola (nível2) 1.4
Cultural natural (nível1) 19.6
Cultural natural (nível2) 17.9
Desenvolvimento estratégico 0.0
Equipamento 1.3
Espaço Canal 3.8
Espaço Florestal 7.9
Espaço Industrial 0.3
Protecção e enquadramento 8.1
Turismo e recreio 8.5
Urbanizável 4.2
Urbano 18.5
Total 100

71
As condicionantes do ordenamento do território da bacia da Ribeira das Vinhas estão
representadas são maioritariamente representadas pela área do Parque Natural Sintra-Cascais
e da Rede Ecológica Nacional (Figura 3.24 e Tabela 3.29). O PNSC representa 37.4% em relação
à área total da bacia, constituindo a REN 20.7%. Por sua vez, o Domínio Público Hídrico
constitui a afectação às Ribeiras do Concelho, às bacias de retenção bem como às áreas
adjacentes aos cursos de água e domínio marítimo, representando 7.4% da área total da bacia
da Ribeira das Vinhas (Figura 3.25 e Tabela 3.29).

Figura 3.24. Carta de condicionantes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.

72
Figura 3.25. Carta de condicionantes da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.

73
Tabela 3.29. Área (%) ocupada por cada condicionante de ordenamento do território na bacia
hidrográfica da Ribeira das Vinhas.
Servidão Tipo/Nome Descrição Área (%)
Resolução do Conselho de Ministros
Agrícola RAN 6.4
96/97 de 19 Junho 1997; artº13
Resolução do Conselho de Ministros
Área Protegida PNSC 37.4
1A/2004 de 08/01/2004; artº 20
Arqueologia Sítios Arqueológicos raio 25 m 0.2
Área adjacente da Portaria nº 349/88 de 1 de Junho;
3.3
Ribª das Vinhas artº11, nº5
Ribeira da Castelhana
Linha de água; Artº11 0.0
/ Boqueiros
Ribª das
Vinhas/Marmeleiros/
Linha de água; Artº12 0.2
Penha Longa/do
Algarve
Bacia de Retenção da
Bacia de retenção 0.5
Atrozela
Domínio Público
Bacia de Retenção
Hídrico Bacia de retenção 0.3
dos Marmeleiros
Ribeira das Vinhas Leito de cheia 0.8
Decreto-Lei 89/87 de 26 de
Área contígua aos
Fevereiro; Área adjacente; 100 m 0.2
cursos de água
para cada lado da linha de água
Albufeira do Rio da Decreto-Lei 502/71; Albufeira - zona
1.9
Mula de protecção e limite; 500 m
Domínio público Resolução do Conselho de Ministros
0.1
marítimo 123/98 de 19/10/1998; Artº11
Área total do DHP - 7.4
Resolução do Conselho de Ministros
Ecológico REN 20.7
96/97 de 19 Junho 1997; Artº12
Perímetro Florestal Decreto-Lei de 4 Janeiro de 1929;
Florestal 4.9
da Serra de Sintra Artº13
Património
- - 2.0
edificado
Planos de
- - 0.8
pormenor
POOC - - 1.4
Outros - - 18.9
Total - - 100

Vegetação e habitats naturais

Relativamente aos habitats da bacia da Ribeira das Vinhas (Figura 3.26), localizam-se na sua
maioria na zona mais a montante e intermédia da bacia. Na zona mais a jusante da bacia, a
existência de habitats é muito significativa nas zonas adjacentes à Ribeira das Vinhas.

74
Figura 3.26. Carta de vegetação actual da Ribeira das Vinhas.

O coberto vegetal actual corresponde à degradação da vegetação clímax como resultado da


acção humana. Os habitats (Tabela 3.30) predominantes são os carrascais (incluindo as
formações mistas, por exemplo carrascal/tojal/prado vivaz) que constituem 45% da área,
seguidos dos pinhais (23.6%).

75
Tabela 3.30. Área (ha e %) ocupada pela vegetação dominante na bacia hidrográfica da Ribeira das
Vinhas.
Vegetação dominante Área(ha) Área (%)
Acacial 7.09 0.78
Azinhal 0.28 0.03
Canavial 3.36 0.37
Carrascal 416.65 45.83
Cercal 19.88 2.19
Culturas anuais 2.07 0.23
Eucaliptal 56.11 6.17
Formação de carvalhiça 39.52 4.35
Freixial 7.78 0.86
Pinhal 214.63 23.61
Prado húmido 3.26 0.36
Prado vivaz nitrófilo 12.01 1.32
Salgueiral 2.56 0.28
Sebe espinhosa 79.65 8.76
Silvado 1.20 0.13
Tojal 23.41 2.58
Ulmal 0.42 0.05
Zambujal 19.21 2.11
Total 909.10 100

Perfil longitudinal da bacia hidrográfica

Num contexto da requalificação fluvial é importante o estudo e análise das características


geomorfológicas da bacia hidrográfica. Neste sentido o perfil longitudinal da bacia em estudo
está representado na Figura 3.27.

Figura 3.27. Perfil longitudinal da bacia hidrográfica da Ribeira das Vinhas.

Pela observação da Figura 3.27 verifica-se que o troço de intervenção se situa na zona média
do perfil, o que corresponde à zona geomórfica de armazenamento e transporte.

76
3.2.3. Qualidade e estado ecológico dos cursos de água

Ao planear a restauração de uma ribeira é necessário seguir determinadas etapas


ordenadamente (Lastra, 2003). Depois de definir um cenário objectivo para a zona a
intervencionar é fundamental diagnosticar a problemática.

A qualidade ecológica das ribeiras é um aspecto fundamental a ter em conta em qualquer


estudo de conservação, mitigação, e restauração de ecossistemas fluviais. Para muitos autores
é um aspecto crítico e constitui uma etapa fundamental em qualquer processo de avaliação
ambiental e implementação de medidas. O objectivo de qualquer acção de conservação ou
restauração depende em parte da qualidade da água e das funções ecológicas associadas. A
definição do estado ecológico das ribeiras vai influenciar todo o planeamento e definição das
estratégias de intervenção bem como a sua implementação em termos de escala temporal, os
aspectos financeiros e sociais. A implementação de medidas num determinado local vai
depender da qualidade ecológica dos cursos de água nesse local, bem como a montante e de
todas as pressões por parte das actividades humanas.

A maior parte dos rios em Portugal encontra-se num grave estado de conservação ecológica,
tanto em termos de qualidade da água como em termos de ecossistema propriamente dito
(estado e conservação dos habitats naturais associados). Os dados recentemente
disponibilizados no site do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) do
INAG permitem verificar em termos quantitativos e qualitativos o estado da qualidade das
massas de água.

Portugal está obrigado pela Directiva-Quadro da Água (DQA), transposta em 2005 para o
direito nacional pela Lei da Água, a atingir o bom estado ecológico das águas, em 2015. No
entanto, em 2008, 37,6 % das águas superficiais, divididas pelas 15 bacias hidrográficas,
apresentavam qualidade “má” (24,7 %) ou “muito má” (12,9 %) (Soares, 2009).

É de salientar que este valor é superior ao valor registado em 2007, quando as águas com
“muito má” e “má” qualidade” somavam 35,8 % e apenas 2,1 % das massas de água
apresentavam uma qualidade “excelente”. Segundo Soares (2009), no ano passado [2008]
nenhuma das estações de monitorização identificou água de “excelente” qualidade.

No contexto do presente trabalho, o estudo efectuado considera que “as Ribeiras do Oeste
apresentam uma situação preocupante, na medida em que 33,3 % das massas de água

77
apresenta qualidade “muito má” e 50 % tem “má” qualidade” e “as descargas directas nos
recursos hídricos, feitas nomeadamente pelas suiniculturas locais, representam o principal
problema” (Soares, 2009).

Segundo um estudo efectuado sobre a qualidade biológica das Ribeiras do Oeste (Vieira et al.,
sem data) a caracterização destes sistemas hídricos é ainda muito incipiente, quer em termos
hidrológicos, quer biológicos e de qualidade da água. Apesar de esta região possuir uma
elevada concentração industrial, muito diversificada (sobretudo agro-indústria) e uma
densidade elevada de explorações pecuárias e aglomerados populacionais sem tratamento de
esgotos, são escassos os dados sobre a qualidade da água. Para Viera et al. (sem data), a
maioria das bacias hidrográficas apresenta situações de água contaminada e fortemente
contaminada e nesta situação encontram-se as ribeiras das Vinhas e da Lage, bem como os
troços finais da maioria dos outros cursos de água (Tabela 3.31).

Tabela 3.31. Valores do índice biótico BMWP e caracterização dos locais de amostragem para os
locais de amostragem da Ribeira das Vinhas (adaptado de Vieira et al., sem data).
Largur
Largur
Índice Prof. C Uso do a da
Curso de a do O.D Uso do solo
B.M.W.P Médi (µS/c pH solo mata
água leito (mg/l) (marginal)
. a (cm) m) (vale) ripícol
(m)
a (m)
Agricultura,
Pinhal,
Rib.Vinhas matos,
V 1.5 20 0.07 1440 7.8 matos e 1-5
(montante) urbano e
urbano
industrial
Pinhal,
Urbano,
Rib.Vinhas urbano,
IV 1 20 8.0 1040 7.7 agricultura e 5 - 30
(jusante) matos e
matos
agricultura

Em termos de classificação do índice biótico BMWP (Biological Monitoring Working Party), as


classes V e IV correspondem a águas fortemente contaminadas (qualidade muito crítica) e
águas muito contaminadas (qualidade crítica), respectivamente.

Relativamente aos recursos hídricos, evidencia-se também o actual cenário de risco de cheias
em zonas ribeirinhas, nomeadamente em meio urbano. Neste contexto, é importante
considerar as potenciais consequências das alterações climáticas nos padrões dos regimes
hidrológicos das ribeiras. As alterações climáticas irão provocar uma redução das chuvas, mas
especialmente uma alteração do seu regime, aumentando as chuvas de Outono Inverno, e
reduzindo na Primavera e Verão, aumentando as temperaturas e portanto a
evapotranspiração, logo, aumentando o superavite de água no Outono e aumentando de

78
forma drástica o Défice da Primavera ao Outono (Santos e Miranda, 2006). Simultaneamente
aumenta a probabilidade de ocorrência de situações extremas como as grandes chuvadas
(muitas vezes torrenciais), conduzindo ao aumento de escoamentos superficiais pontuais com
cheias e as situações de secas sucessivas e extremas, que não são mais que as duas faces da
mesma moeda (Santos e Miranda, 2006; Sequeira, 2004; Sequeira, 2006). Esta situação já se
verifica (Espírito Santo, 1997; Sequeira, 2004; Sequeira, 2006, Sequeira, 2007), pelo que em
2009, foi constatado numa das zonas mais afectadas, Cascais e a Bacia do Rio da Mula
(Sequeira, não publicado).

O estado de degradação da Ribeira das Vinhas é conhecido há muitos anos, como resultado da
ausência de programas de conservação e manutenção das zonas ribeirinhas bem como dos
conflitos legais de usos do solo e água entre proprietários e responsáveis autárquicos da
gestão de linhas de água. Ao longo do curso de água da Ribeira das Vinhas verifica-se a
ocorrência de diversas inconformidades, nomeadamente de despejo de resíduos (Figura 3.28),
da canalização do leito (Figura 3.29), da existência de construções urbanas em Domínio Público
Hídrico (Figura 3.29 e Figura 3.30) e de esgotos ilegais bem como da ausência de coberto
vegetal nas margens, como resultado dos programas de “limpeza” para desobstrução das
linhas de água.

Figura 3.28. Despejo de resíduos na linha de água (Pisão de Cima, Cascais).

79
Figura 3.29. Zonas de leito canalizado e construções urbanas próximas da linha de água (Cascais).

Figura 3.30. Construções em cima da linha de água (Cascais).

Desde 2007 que a Agência Cascais Natura organiza um programa de voluntariado de jovens do
Concelho, o Natura Observa, cujo objectivo é a avaliação da qualidade ambiental das ribeiras,
através da caracterização biofísica das margens, identificação das manchas de vegetação ao
longo dos cursos de água e a análise da qualidade da água. Periodicamente ocorrem acções de
monitorização da qualidade da água, limpeza de resíduos e entulhos e reflorestação das
margens e zonas adjacentes.

Segundo o Relatório Natura Observa (Cascais Natura, 2009b) foram detectadas 119
inconformidades na totalidade das ribeiras do Concelho. Na Ribeira das Vinhas foi detectado o
segundo maior número de inconformidades, existindo pontos de elevada preocupação. A
título exemplificativo, nas proximidades do Centro de Apoio Social do Pisão o estado da ribeira
é grave devido às descargas constantes de efluentes orgânicos na ribeira, provenientes desse
Centro. Na ribeira que atravessa a Quinta do Pisão, registaram-se inconformidades como lixo
doméstico e entulho de obras. Para além destas, foram detectadas inconformidades gravosas

80
e bem localizadas, nomeadamente descargas de efluentes e mau cheiro no centro da ribeira,
local de confluência da Ribeira das Vinhas e da Penha Longa (Cascais Natura, 2009b).

Relativamente à análise da qualidade da água os parâmetros avaliados não são preocupantes


em relação à presença de metais pesados. No entanto, registam-se valores anormais do pH da
água, valores elevados de alcalinidade, bem como valores de dureza extremamente elevados,
e indicadores de presença de calcário e impurezas (Cascais Natura, 2009b), como se verifica na
seguinte Tabela 3.32.

Tabela 3.32. Valores dos parâmetros da análise da qualidade da água na Ribeira das Vinhas (Cascais
Natura, 2009b).

Ponto Ponto Ponto Ponto Ponto Valores Estado


1 2 19 20 21 recomendados
Cloro Livre 0,0 0,1 0,1 0,1 0,1 0,2 – 4,0 Normal
Cloro Total 0,5 0,5 0,5 0,2 0,5 ≤ 4,0 Normal
Ferro 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 ≤ 0,3 Normal
Cobre 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 ≤ 1,3 Normal
Total de Nitratos 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 ≤ 10 Normal
Nitritos 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 ≤ 1,0 Normal
pH 6,0 8,0 6,5 7,0 7,5 6,5 – 8,5 Normal
Alcalinidade 0 720 - 180 240 - -
Dureza Total 180 120 120 180 250 50 - 125 Excessivo
Temperatura 19 19 22 23 20 - -
(ºC)
Oxigénio 71,82 71,82 83,16 86,94 75,6 - Deficiente
Dissolvido

Em termos de oxigénio dissolvido (OD) observa-se um valor médio de 79.38%, o qual se


encontra abaixo dos níveis médios de oxigénio estabelecido para a existência de comunidades
piscícolas (80% de oxigénio saturado).

3.3. Caracterização da zona de intervenção

3.3.1. Localização

A zona de intervenção está localizada na Quinta do Pisão, em Pisão de Baixo, na Freguesia de


Alcabideche, Concelho de Cascais (Figura 3.31). Esta ribeira está inserida na bacia hidrográfica
da Ribeira das Vinhas e desenvolve-se sobre vales encaixados com substrato de origem
calcária. A linha de água é temporária, pelo que se apresenta seca no Verão mas com alguns
mananciais no seu percurso.

81
Figura 3.31. Localização da zona de intervenção, Pisão de Cima, Alcabideche (Cascais).

3.3.2. Enquadramento no projecto da Cascais Natura

A zona de estudo, localizada na Quinta do Pisão em Cascais (Pisão de Baixo), está enquadrada
num projecto da Cascais Natura, o LINEU. A Agência Cascais Natura resulta de uma parceria
entre entidades públicas e privadas e tem por objectivo a preservação e o aproveitamento
lúdico, turístico e pedagógico do património natural de Cascais, assim como a melhoria da
qualidade de vida e promoção do desenvolvimento sustentável junto dos vários agentes
sociais e económicos.

O LINEU é a base de operações da Cascais Natura onde se faz a gestão de diversos projectos
(Eco-Parque do Pisão, Oxigénio, NaturaObserva, Pedra Amarela Campo Base, Caminhos Verdes
de Cascais). Assim, o LINEU é um projecto inovador que inclui infra-estruturas e recursos para
a informação e o conhecimento sobre o património natural de Cascais, no sentido de
promover a educação ambiental, o turismo de natureza e a investigação científica.

82
Na zona de intervenção, e enquadrando o objecto de estudo do presente trabalho, existem
algumas infra-estruturas por restaurar que darão lugar a um Centro de Estudos
Multidisciplinar. Este está projectado para uma programação diversificada para o público em
geral bem como para investigadores de diversas áreas que pretendam desenvolver estudos
sobre a fauna e flora, geologia, entre outros.

Na propriedade em causa existem ainda outros elementos arquitectónicos. Um destes


elementos, a Azenha da Cartuxa (e daí a designação de “Pisão”) dará lugar a um museu da
cultura e história do local, recriando as condições e vivências da época, após a sua recuperação
arquitectónica. Nesta zona também será recuperado um antigo edifício para promoção do
turismo de natureza, pretendendo-se a criação de um local de Eco-Turismo.

Em termos dos recursos naturais e paisagísticos do projecto, a Cascais Natura pretende a


recuperação de todo o espaço natural, nomeadamente da ribeira (Figura 3.32) que atravessa a
propriedade e da vegetação ripícola associada, bem como do coberto vegetal autóctone, como
é o caso do freixial existente na zona adjacente à linha de água (Figura 3.33). A utilização de
técnicas de engenharia natural será prioritária em todo este processo de recuperação,
principalmente nas margens da ribeira e nos taludes em risco de derrocada, diminuindo-se o
impacto ambiental e visual das intervenções (Cascais Natura, sem data).

Figura 3.32. Ribeira que atravessa a Quinta do Pisão, Pisão de Cima (Cascais).

83
Figura 3.33. Zona adjacente à Ribeira que atravessa a Quinta do Pisão, Pisão de Cima (Cascais).

3.3.3. Enquadramento histórico-cultural e arquitectura

Em termos históricos a Quinta do Pisão de Baixo surge da estruturação fundiária do vale da


Ribeira do Pisão, com origem ainda no período medieval. Os seus actuais limites foram
estabelecidos no séc. XIX, na sequência de uma fragmentação das propriedades. Em relação à
ocupação do solo, as margens da ribeira tinham aproveitamento hortícola e nas encostas
ocorria a exploração florestal (Cascais Natura, sem data).

A designação de “Pisão de Baixo” provém da existência de antigos pisões na zona, sendo estes
mecanismos de moagem movidos a água. A recuperação e musealização deste património
(Azenha da Cartaxa) permitirá evidenciar a importância desta estrutura e actividade para as
indústrias moageiras e de produção de cal da época.

As restantes construções resultam da intervenção em dois períodos, na década de 1930, que


inclui uma réplica de um jardim setecentista com azulejaria e estatuária característicos, e na
década de 60, aquando apropriação por um novo dono. Actualmente, estas estruturas
encontram-se bastante degradadas e desprovidas de interesse arquitectónico ou cultural.

3.3.4. Caracterização biofísica

Fisiografia

84
No estudo da fisiografia da zona de intervenção elaboraram-se os mapas de altimetria (Figura
3.34), de declives (Figura 3.35) e de exposição de vertentes (Figura 3.36).

Figura 3.34. Cartas de altimetria da zona de intervenção.

Figura 3.35. Carta de declives (%) da zona de intervenção.

85
Figura 3.36. Carta de exposição de vertentes da zona de intervenção.

Pela observação da Figura 3.34 e Figura 3.35 verifica-se a existência, na secção mais a
montante do troço de intervenção, de uma zona plana mais extensa e portanto com declive
reduzido. As encostas do vale atravessado pela Ribeira apresentam declives mais acentuados,
principalmente na secção mais a jusante. Como a área de estudo é diferenciada em termos de
topografia, pela ribeira se encontrar num vale encaixado, a distribuição da exposição de
vertentes apresenta-se igualmente diversificada (Figura 3.36), no entanto, a
representatividade das encostas expostas às diferentes classes é, de um modo geral,
homogénea.

Geologia e Litologia

Relativamente à geologia da zona de intervenção (Figura 3.37), o leito da linha de água é


caracterizado pela existência de aluviões. No resto da zona dominam as classes “calcários” e
“calcários e margas”.

86
Figura 3.37. Carta geológica da zona de intervenção.

Na vertente sul existe alguma heterogeneidade devido à existência de uma grande zona de
calcários e margas (Formação de Cresmina), que contrasta com pequenas zonas de arenitos,
pelitos e dolomitos (Formação de Regatão) e de arenitos, pelitos e conglomerados (Formação
de Rodízio). Nesta vertente também existe uma zona considerável de calcários que, na
vertente norte (na margem oposta relativamente ao curso de água), toma toda a sua
expressividade. Assim, esta vertente é dominada por solos calcários designadamente
Formações de Cabo Raso e de Guincho indiferenciadas (calcários recifais e calcários com
Choffatelas e Dasicladáceas). A meio da zona de intervenção há a ocorrência de uma pequena
zona de filões de rocha alterada e/ou não identificada.

No que diz respeito aos solos (Figura 3.38), a zona de intervenção é caracterizada pela
existência de Fluviossolos na zona de linha de água. São solos incipientes, aluviossolos
modernos, calcários de textura mediana (IHERA, 1999), bastante móveis e com fraca

87
capacidade de retenção de água e nutrientes, pouco aptos para desenvolvimento da
vegetação.

Figura 3.38. Carta de solos da zona de intervenção.

O resto da zona de intervenção é formado por solos do tipo Luvissolos (50%), Cambissolos
(30%) e Afloramentos Rochosos (20%).

Os Luvissolos são solos evoluídos, que se desenvolvem em climas com características


mediterrânicas, susceptíveis à erosão e com uma fertilidade muito variável.

Os cambissolos (solos litólicos) são solos pouco evoluídos, frequentemente pobres do ponto
de vista químico e em matéria orgânica, de permeabilidade rápida e que evidenciam uma
acentuada erosão.

Através da análise da Carta de capacidade do uso do solo (figura 3.39) verifica-se que na zona
do curso de água existem solos do tipo B, ou seja, solos com limitações moderadas, com um
risco de erosão moderado e susceptível de utilização agrícola moderadamente intensiva.

88
Figura 3.39. Carta de ocupação do uso do solo da zona de intervenção.

No resto da zona ocorrem solos do tipo E, sendo estes solos caracterizados por limitações
muito severas. São solos com um risco de erosão muito elevado, não susceptíveis de utilização
agrícola e com limitações severas a muito severas para pastagens, matos e exploração
florestal, ou servindo apenas como suporte para a vegetação natural, floresta de protecção ou
de recuperação ou mesmo não susceptível de qualquer utilização.

3.3.5. Caracterização da paisagem e ordenamento

Na caracterização da paisagem e dos instrumentos de gestão territorial que abrangem a zona


de intervenção, elaboraram-se os mapas de unidades de paisagem, de ordenamento e de
condicionantes.

89
Em termos de unidades de paisagem (Figura 3.40) a maior parte da zona de intervenção está
localizada na unidade designada Vales das Ribeiras/Vinhas. A secção mais a montante está
incluída na unidade Abano-Penha Longa. O Vale das Vinhas é caracterizado por possuir ainda
cultivos activos e agropecuária. A unidade do Abano-Penha Longa é caracterizada por
afloramentos rochosos e por uma ocupação dominante de mato.

Figura 3.40. Carta de unidades de paisagem da zona de intervenção.

Segundo a Carta de Ordenamento do Território (Figura 3.41) a zona de intervenção está


dividida em duas unidades. Grande parte do curso de água e zona adjacente pertencem à zona
Agrícola de Nível 1 enquanto a zona envolvente (e ainda alguma sobre o curso de água) é zona
de Cultural Natural de Nível 1.

90
Figura 3.41. Carta de ordenamento da zona de intervenção.

Em termos de condicionantes, a zona de intervenção é abrangida por vários instrumentos de


ordenamento do território que limitam os usos e a ocupação (Figura 3.42).

91
Figura 3.42. Carta de condicionantes da zona de intervenção.

A zona de intervenção está inserida no Parque Natural de Sintra-Cascais sob desígnio de Área
Protegida (Artº 20, Resolução do Conselho de Ministros 1A/2004 de 08/01/2004). A zona de
intervenção encontra-se também inserida na Rede Ecológica Nacional (Artº 12 Resolução do
Conselho de Ministros 96/97 de 19 Junho 1997). A secção mais a montante da zona de
intervenção está condicionada igualmente pela Rede Agrícola Nacional (Artº13, Resolução do
Conselho de Ministros 96/97 de 19 Junho 1997).

A linha de água reside em Domínio Público Hídrico sob desígnio da Ribeira das Vinhas e da
Bacia de retenção dos Marmeleiros. Sob Domínio Público Hídrico também está a área
adjacente à Ribeira das Vinhas, de acordo com Artº11 nº5 da Portaria nº 349/88 de 1 de
Junho.

92
3.3.6. Caracterização da vegetação

De uma forma geral, as encostas da ribeira são caracterizadas pela existência de pinheiro-de-
alepo (Pinus halepensis), pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e eucalipto (Eucalytus globulus).
Ocorrem manchas descontínuas e pontuais de espécies autóctones como lentisco (Phillyrea
angustifolia), carvalho-cerquinho (Quercus faginea), sanguinho-das-ribeiras (Frangula alnus),
zambujeiro (Olea europea var. sylvestris) e murta (Myrtus communis). A galeria ripícola
encontra-se muito fragmentada, existindo apenas alguns exemplares de freixos (Fraxinus ssp.),
salgueiros (Salix spp.) choupo-negro (Populus nigra) e pilriteiro (Crateagus monogyna) sendo
nalgumas zonas praticamente inexistente (Cascais Natura, 2009b).

Na Figura 3.43 estão representadas as formações vegetais da zona de intervenção. Ao longo do


curso de água aparecem freixiais, ulmiais e canaviais, formações características de zonas
ripícolas. Na zona envolvente da linha de água as formações são dominadas pelo carrasco
(carrascais). O carrasco associa-se a outras espécies como pinheiros, tojos e carvalho
cerquinho.

93
Figura 3.43. Carta da vegetação actual do troço de intervenção.

O mosaico de vegetação que se encontra actualmente no local corresponde, na sua maioria, às


etapas de degradação das unidades de vegetação clímax que potencialmente seria constituída
por uma floresta de carvalho-cerquinho nas encostas e por freixo (Fraxinus angustifolia) junto
à ribeira (Cascais Natura, 2009a). Destes carvalhais restam apenas pequenos núcleos relíquia.
Começa a verificar-se a regeneração espontânea de freixos e ulmeiros depois do abandono das
práticas agrícolas nos últimos anos (Figura 3.44).

94
Figura 3.44. Regeneração natural de freixos e ulmeiros na zona adjacente à Ribeira que atravessa a
Quinta do Pisão, Pisão de Cima (Cascais).

Na zona de intervenção são reconhecidos (Cascais Natura, 2009a) quatro biótopos: o pinhal, o
carrascal, o juncal/prado vivaz, e o freixial. O pinhal consiste num povoamento de pinheiro-de-
alepo (Pinus halepensis) com cerca de 40 anos e 10 metros de altura, no topo da encosta
(Cascais Natura, 2009a). As espécies encontradas neste biótopo são apresentadas na Tabela
3.33.

Tabela 3.33. Espécies vegetais encontradas no biótopo pinhal da zona de estudo por tipo de estrato
vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009a).
Estrato/Coberto Nome científico Nome comum
Arbóreo Pinus halepensis pinheiro-de-alepo
Phillyrea latifolia aderno-de-folhas-largas
Quercus coccifera carrasco
Olea europaea var. sylvestris zambujeiro
Pistacia lentiscus aroeira
Myrtus communis murta
Coronilla juncea pascoínhas
Rhamnus lycioides espinheiro-preto
Sub-coberto
Rhamnus alaternus sanguinho-das-sebes
Ulex jussiaei tojo-durázio
Daphne gnidium trovisco
Asparagus albus estrepe
Cistus monspeliensis sargaço
Smilax aspera salsaparrilha-bastarda
Lonicera implexa madressilva
Ruscus aculeatus gilbardeira
Vinca difformis vinca
Herbáceo
Arisarum vulgare candeias
- musgos

95
O biótopo carrascal, junto ao estradão florestal, contempla as seguintes espécies (Tabela 3.34):

Tabela 3.34. Espécies vegetais encontradas no biótopo carrascal da zona de estudo por tipo de estrato
vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009a).
Estrato/Coberto Nome científico Nome comum
Quercus coccifera carrasco
Quercus faginea carvalho-cerquinho
Olea europaea var. sylvestris zambujeiro
Arbóreo Pinus halepensis pinheiro-de-alepo
Eucalyptus globulus eucalipto
Cupressus lusitanica cipreste
Cupressus sempervirens cipreste
Phillyrea latifolia aderno-de-folhas-largas
Crataegus monogyna pilriteiro
Laurus nobilis loureiro
Pistacia lentiscus aroeira
Arbustivo
Osyris alba cassia
Asparagus aphyllus espargo-bravo-maior
Asparagus albus estrepe
Rhamnus alaternus sanguinho-das-sebes
Smilax aspera salsaparrilha-bastarda
Rubia peregrina raspa-línguas
Trepadeiras
Rubus ulmifolius silva
Rosa spp. rosa
Herbáceo Vinca difformis vinca

O biótopo juncal/prado vivaz ocorre na planície aluvial, de solos profundos e húmidos e com o
lençol freático próximo da superfície e apresenta as seguintes espécies descritas na Tabela
3.35. Neste biótopo verifica-se ainda a existência de ulmeiros.

Tabela 3.35. Espécies vegetais encontradas no biótopo juncal/prado vivaz da zona de estudo por tipo
de estrato vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009a).
Estrato/Coberto Nome científico Nome comum
Arbóreo Fraxinus angustifolia freixo
Rubus ulmifolius silva
Trepadeiras
Rosa spp. rosa
Scirpoides holoschoenus junça
“Juncal”
Phalaris coerulescens alpista-de-água
Dittrichia viscosa tágueda
Piptatherum miliaceum talha-dente
“Prado vivaz”
Achillea ageratum macela-de-são-joão
Dactylis glomerata panasco

Por último, o biótopo freixial constitui a galeria ripícola, sendo as espécies presentes as
seguintes (Tabela 3.36):

96
Tabela 3.36. Espécies vegetais encontradas no biótopo freixial da zona de estudo por tipo de estrato
vegetal (adaptado de Cascais Natura, 2009a).
Nome científico Nome comum
Fraxinus angustifolia freixo
Frangula alnus amieiro-negro
Ruscus aculeatus gilbardeira
Vinca difformis vinca
Smilax aspera salsaparrilha-bastarda
Rubus ulmifolius silva
Rosa spp. rosa
Phillyrea latifolia aderno-de-folhas-largas
Olea europaea var. sylvestris zambujeiro
Quercus coccifera carrasco
Quercus faginea ssp. broteroi carvalho-cerquinho
Anthirrinum majus bocas-de-lobo
Umbilicus rupestris umbigo-de-vénus
Polypodium cambricum polipódio
Asplenium ceterach douradinha
- musgos
Arundo donax cana-comum

Espécies exóticas e espécies de carácter invasor

Relativamente à existência de espécies invasoras no local de intervenção, estão identificadas


espécies como a figueira-da-índia (Opuntia ficus-indica), as azedas (Oxalis pes-caprae). A
Acácia sp. conhecida pelo seu comportamento invasivo, encontra-se em alguns pontos,
embora com fraca representatividade.

Uma espécie problemática é a cana-comum (Arundo donax) que demonstra um


comportamento “invasor” na medida em que está fortemente representada em termos de
cobertura, nomeadamente nas margens da ribeira.

97
98
4. CAPÍTULO IV – METODOLOGIA: PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO DE UM TROÇO DA
RIBEIRA DAS VINHAS, NA QUINTA DO PISÃO, CASCAIS

4.1. Introdução

O desenvolvimento de um bom plano é um aspecto crítico para qualquer projecto de


restauração, tanto em termos de avaliação como implementação. Um plano de restauração
compreende diversos aspectos, nomeadamente a caracterização do local de intervenção e
situação de referência, a definição de objectivos, os elementos e funções dentro do corredor
ripícola, a identificação de problemas que perturbem ou eliminem essas funções, bem como o
planeamento, implementação e monitorização das actividades da restauração.

Neste sentido, pretende-se a elaboração de um projecto de requalificação para a zona de


estudo. Numa primeira fase, será fundamental a definição da uma estratégia e/ou
metodologia adequada ao caso de estudo, seguida da identificação da situação de referência
para a aplicação desta metodologia. A criação de objectivos bem como dos cenários ou
alternativas de restauração serão as seguintes etapas e incluem a avaliação da aplicação de
diversos métodos e dos recursos disponíveis. Numa última fase, define-se um plano de
implementação, monitorização e avaliação do projecto de restauração.

4.2. Metodologia

A metodologia seleccionada para este trabalho foi baseada na metodologia definida pela
FISRWG (1998). Pretende-se adaptar esta metodologia (Tabela 3.15) seguindo a sua orientação
base em termos de etapas e adequando os seus processos ao caso de estudo. Os principais
pontos a considerar em cada uma das etapas estão descritos no capítulo 2 (secção 2.8).

É importante referir que muitos dos procedimentos não serão considerados, pelo facto de que
o principal objectivo deste trabalho ser a proposta de requalificação do troço relativamente à
vegetação, embora possam ser passos fundamentais na formulação de um projecto de
restauração fluvial. A metodologia proposta para este trabalho está representada na Figura
4.45.

99
Figura 4.45. Metodologia proposta para o local de estudo.

4.3. Organização

Esta é uma etapa considerada na metodologia da FISRWG (1998), mas cujos procedimentos
não estão no âmbito deste trabalho. No entanto, e dada a sua importância, na Tabela 4.37
sugerem-se algumas propostas que não foram consideradas ou que devem ser melhoradas e
que precede a metodologia proposta (Figura 4.45).

Tabela 4.37. Aspectos a considerar em termos de organização no projecto de restauração do local de


estudo.

A área de intervenção deve representar os processos ecológicos relevantes. Se o


objectivo for a conservação da biodiversidade, a escala deverá ser ampla ou regional,
enquanto a boa qualidade da água é uma questão mais localizada.
À escala regional os limites do projecto são portanto a bacia hidrográfica da Ribeira
das Vinhas correspondente à área pertencente ao Concelho de Cascais. À escala local
o projecto propriamente dito localiza-se na Quinta do Pisão, em Pisão de Cima
Definição dos
(Alcabideche, Cascais), propriedade sob tutela da Agência Cascais Natural, cuja área
limites do
corresponde a cerca de 1ha.
projecto
As perturbações induzidas pelas actividades humanas são diversas: poluição da água
por parte das indústrias e urbanização, despejo de resíduos, canalização dos cursos
de água, obras ilegais ao longo do percurso, rede de esgotos, alteração do curso da
água, limpeza da vegetação ripícola, existência de espécies exóticas e invasoras,
pressão pelas actividades agrícolas, entre outras. A Ribeira das Vinhas é uma ribeira
reconhecida por parte da população bem como dos agentes interessados na sua

100
recuperação. O estado de degradação é igualmente reconhecido.
Reconhecem-se esforços de participação por parte de actividades voluntárias de
ocupação de jovens. Sugere-se o envolvimento de outras faixas etárias, indivíduos ou
grupos especializados na recuperação de ecossistemas, das populações locais e dos
Definição do proprietários dos terrenos. Sugere-se a implementação de métodos participativos
grupo que consigam envolver e cooperar todos estes agentes e que estes tenham um papel
participativo decisivo em termos de objectivos comunitários. Sugere-se o apoio de
especialista/técnico em métodos participativos ou métodos de participação activa.
Definir um número mínimo e diversificado de modo a evitar a exclusão de interesses
comunitários.
Sugere-se o envolvimento de especialistas em hidrologia e hidráulica, geomorfologia
e transporte de sedimentos bem como das áreas de biologia, ecologia terrestre e
Definição do
aquática. Sugere-se a utilização de disciplinas que integrem todas as áreas de
grupo técnico
actuação, a engenharia do ambiente, a engenharia ecológica e engenharia natural,
principalmente devido às suas metodologias e técnicas neste tipo de projectos.
Sugere-se a candidatura a subsídios comunitários. Propõe-se o envolvimento de
grupos não-governamentais (g.e. Quercus, Geota) e institutos especializados (g.e.
Fundos de
ICNB) para possíveis apoios financeiros, técnicos e de voluntariado. Garantir a
financiamento
transparência dos agentes financiadores e que estes sejam representativos dos
interesses comunitários.

4.4. Identificação de problemas e oportunidades

Os procedimentos da identificação de problemas e oportunidades estão na Tabela 4.38.

Tabela 4.38. Considerações na identificação de problemas e oportunidades na restauração fluvial.

Recolha e análise de
A recolha e análise dos dados já foi efectuada e está descrita no capítulo 3 do
dados
presente trabalho, tal como a definição das condições existentes, o que
Definição das
corresponde à caracterização geral da zona de intervenção (secção 3.3).
condições existentes
Coberto vegetal constituído por vegetação autóctone e em equilíbrio;
Espécies exóticas e espécies de carácter invasor controladas;
Curso de água mais próximo das condições naturais, com algum grau de
meandrização e elementos que permitam a renaturalização do leito e
margens;
Estabilização das margens com recurso à vegetação e técnicas de
Definição das bioengenharia;
condições objectivo Criação de habitats para fauna e flora da região e aumento da biodiversidade;
ou referência Bom estado ecológico da água e garantia dos caudais ecológicos mínimos;
Reaproveitamento da zona adjacente ribeira para regeneração natural por
vegetação autóctone;
Integração com os elementos paisagísticos que já existem no local, em
termos histórico-culturais;
Reaproveitamento do edificado para o desenvolvimento sócio-cultural e
ambiental da região, como pólo de atracção para cidadãos e estudantes.
Comparação das Perturbações induzidas pelas actividades humanas: poluição da água por
condições existentes parte das indústrias e urbanização a montante, despejo de resíduos,

101
com as condições alteração e rectificação do curso de água;
objectivo ou Perturbações na vegetação: perda da representatividade da vegetação
referência ripícola nas margens e na planície aluvial, existência de espécies exóticas e de
carácter invasor;
Outros aspectos: inexistência de caudais ecológicos mínimos, abandono e
degradação do edificado (e.g. muro de pedra entre linha de água e planície
aluvial).

4.5. Desenvolvimento de metas e objectivos

4.5.1. Definição das condições futuras desejadas

As condições futuras desejadas para o troço de intervenção estão descritas na Tabela 4.39.
Pretende-se uma visão geral que inclua condições ecológicas e ambientais, sócio-culturais e
económicas. Esta visão deverá ser consistente com uma meta ecológica e global para a
estrutura e funções do corredor ripícola restaurado.

Tabela 4.39. Descrição das condições ecológicas, sócio-culturais e económicas desejadas a atingir com
a intervenção proposta desejada.
Condições Descrição
Coberto vegetal arbóreo e herbáceo característico de zonas ripícolas e com espécies
autóctones da região, nomeadamente através da existência de um bosque de carvalhos e
de uma floresta ripícola de freixos;
Controlo e inexistência de espécies exóticas e espécies de carácter invasor;
Ecológicas e Curso de água “naturalizado”, isto é, com características o mais próximas de rios
ambientais meandrizados, com margens estabilizadas com vegetação herbácea e arbórea;
Qualidade ecológica da água e garantia dos caudais mínimos ecológicos;
Garantia da conservação e manutenção do espaço intervencionado, através de programas
de sensibilização e participação ambiental, nomeadamente a limpeza de resíduos e a
protecção da zona;
Envolvimento da população local e regional nas actividades de planeamento,
implementação, manutenção, monitorização e conservação;
Existência de um pólo sócio-cultural e histórico da zona intervencionada, através da
inventariação e informação das actividades, estruturas e modos de vida que existiam
Sócio-
antigamente (recuperação do edificado, criação de museu, enquadramento da zona
culturais
ripícola e da várzea em termos de actividades agrícolas, etc.);
Existência de um pólo científico para o desenvolvimento da ciência na região (recuperação
do edificado e criação de um centro de interpretação e de estudos);
Existência de uma zona de eco-turismo (recuperação do edificado e espaços de lazer);
Promover o desenvolvimento sustentável, através da reutilização de recursos do local nas
diferentes tarefas e medidas de intervenção e o desenvolvimento local da população;
Promover a utilização de recursos e a realização de tarefas com o menor impacte
ambiental possível;
Económicas
Envolvimento dos parceiros económicos ou dos financiadores do projecto para a
sensibilização ambiental;
Desenvolvimento de metodologias e técnicas sustentáveis em termos económicos e
ambientais, com possível aplicação noutros troços da bacia hidrográfica;

102
4.5.2. Identificação da escala dos processos

A escala dos esforços de restauração pode variar significativamente, desde a intervenção num
pequeno riacho ou ribeira até à intervenção à escala da bacia hidrográfica. No presente
trabalho pretende-se intervir no troço da ribeira das Vinhas na Quinta do Pisão de Cima, sendo
os processos que ocorrem nesta ribeira os principais elementos e aspectos a intervencionar.
No entanto, estes processos não podem ser considerados de um modo isolado dado
influenciarem os processos à escala da paisagem, isto é, apesar da escala “objectiva” dos
processos ser o próprio troço de intervenção, a escala de “actuação ou influência” será mais
ampla, ao nível da paisagem envolvente. Os diferentes aspectos a considerar nas diferentes
escalas da intervenção estão descritos na Tabela 4.40.

Tabela 4.40. Descrição dos diversos elementos a considerar a diferentes escalas dos processos.

Escala Descrição
É importante que as metas e objectivos reflictam as preocupações e os aspectos prioritários
das populações que vivem na região e perto do local de intervenção, bem como dos
agentes de intervenção e manutenção do local, de modo a suportar a iniciativa da
restauração;
Deve ser promovida a iniciativa da restauração do troço de intervenção e o
reconhecimento geral das oportunidades de recuperação e conservação dos habitats
naturais da região, e a restauração de ribeiras deve ser vista como uma parte importante e
integrada na gestão de ecossistemas;
Deve ser reconhecida a dependência dos processos neste tipo de ecossistemas ao nível da
bacia, desde as condições geomorfológicas e hidrológicas aos aspectos relativos à poluição
Paisagem da água e degradação dos habitats ao longo dos cursos de água. As alterações nos usos do
solo podem ser preocupantes porque podem causar alterações drásticas no sistema fluvial
e adjacente, nos regimes hidrológicos, na configuração do leito e na distribuição das
comunidades.
Os desenvolvimentos futuros devem incluir a gestão dos usos do solo em relação à
manutenção dos regimes hidrológicos, input de nutrientes e poluentes com base no
respeito pelos habitats naturais ou oportunidades de restauração;
A continuidade é um dos principais aspectos nos sistemas fluviais pelo que estes suportam
diferentes áreas e tipos de ecossistemas, sendo uma “ferramenta” de manutenção da
biodiversidade a nível regional porque facilita a migração das espécies e previne o
isolamento das populações de animais e plantas.
Os objectivos de restauração que visam o restabelecimento de múltiplas funções ecológicas
Corredor implicam a consideração da linha de água, da planície fluvial, das encostas adjacentes e de
fluvial áreas buffer que têm o potencial de influenciar directa e indirectamente o curso de água ou
os processos dos usos do solo nas zonas adjacentes.
É a unidade fundamental para o desenho e a manutenção do corredor fluvial. No
estabelecimento de metas e objectivos, cada riacho ou ribeira deve ser avaliado no que diz
Ribeira
respeito à paisagem e às suas características individuais, bem como a sua influência nas
funções e integridade do corredor fluvial.

103
4.5.3. Identificação das limitações e das condicionantes da restauração

As principais limitações associadas à implementação das metas e objectivos estão descritas na


seguinte tabela (Tabela 4.41).

Tabela 4.41. Principais condicionantes na identificação e implementação das metas e objectivos da


restauração.

Elementos/ Descrição
Limitações
Análise rigorosa das características químicas e físicas da água e das fontes difusas e
pontuais de poluição a montante;
Implementação de medidas preventivas e sensibilização da população e indústrias
existentes a montante relativamente à qualidade da água;
Implementação de zona tratamento de água e análise da tecnologia/métodos
adequada, incluindo a viabilidade financeira;
Técnicos A aplicação de medidas específicas de restauração e engenharia natural implica o
conhecimento nesta área bem como a necessidade de gestão adaptativa no que trata
ao surgimento contínuo de novas técnicas e materiais;
Os responsáveis pela implementação das técnicas de restauração/engenharia natural no
terreno deverão estar actualizados acerca de novas metodologias, ferramentas e
técnicas bem como os técnicos responsáveis pela manutenção da linha de água
propriamente dita e da qualidade da água;
A análise da qualidade da água deve ser representativa da zona de estudo, garantido a
utilização de dados fiáveis e precisos;
Alguns dos dados utilizados para a caracterização da ribeira e zona adjacente
necessitam de uma maior acurácia relativamente à escala do projecto;
A informação utilizada para a caracterização da ribeira e zona adjacente poderá estar
Garantia da
desactualizada, pelo que será necessária a recolha e interpretação de novos dados;
qualidade
Estes últimos aspectos poderão estar limitados à utilização de material específico e a
estudos laboratoriais;
Para isto será necessária a ajuda voluntária e local para a monitorização de
determinados dados; no entanto, o estudo de diversos parâmetros requer pessoal
especializado.
Não Conflitos no uso dos recursos hídricos e do solo;
técnicos Viabilidade financeira.

4.5.4. Definição das metas e objectivos

Para definir metas de restauração realistas e viáveis, serão definidas metas primárias e
secundárias, como suporte à definição dos objectivos da restauração propriamente ditos
(Tabela 4.42).

104
Tabela 4.42. Metas e objectivos da restauração.

Metas e Descrição
objectivos
Estabilizar os taludes mediante a aplicação de técnicas preparatórias e preventivas e
medidas específicas no leito e nas margens;
Construir estruturas que promovam os habitats ripícolas (flora e fauna);
Aplicar técnicas de engenharia natural que utilizem recursos locais e naturais, com o
menor impacte ecológico;
Proporcionar o desenvolvimento da vegetação nas margens mediante a aplicação de
técnicas de sementeira, plantação de árvores e/ou regeneração natural;
Proporcionar o desenvolvimento da vegetação na zona de várzea e nas encostas do
vale, promovendo a regeneração natural e/ou mediante acções de plantação;
Objectivos da
Controlar as espécies exóticas e espécies de carácter invasor mediante a utilização de
restauração
métodos ecológicos e sem recorrer a herbicidas ou semelhantes;
Melhorar a qualidade da água através da implementação de técnicas/métodos
sustentáveis em termos ambientais e económicos (e.g. fito-ETAR) e actuar de forma
preventiva para com os responsáveis das indústrias e urbanizações a montante do
troço de intervenção;
Melhorar a qualidade dos solos nas zonas que se encontrem erosionadas ou sem
cobertura vegetal através da plantação de herbáceas/gramíneas e leguminosas;
Criação de espaços de lazer, enquadrando os valores naturais e a linha de água,
através da formação de acessos e com respectiva informação acerca destes valores;
Estabilização dos taludes
Renaturalização do curso de água
Recuperação e recriação da vegetação autóctone
Metas de
Controlo das espécies exóticas e espécies de carácter invasor
restauração
Melhorar os habitats aquáticos e terrestres
primárias
Melhorar e preservar a qualidade ecológica da água
Melhorar e preservar a qualidade dos solos
Melhorar os aspectos estéticos paisagísticos
Colaboração e mão-de-obra da população local para a implementação das operações
da restauração, e para a monitorização e manutenção do espaço intervencionado,
Metas de com especial atenção para pessoas com necessidades especiais (desempregados,
restauração inserção social);
secundárias Formação das populações locais relativamente a boas práticas de gestão da floresta,
recursos hídricos e galerias ripícolas;
Educação ambiental para as escolas do Concelho;

4.6. Selecção e desenho das alternativas da restauração

Como referido no Capítulo 2, relativamente a esta etapa, a melhor abordagem será


conceptualizar, avaliar e seleccionar soluções generalizadas ou estratégias globais antes do
desenvolvimento das alternativas propriamente ditas.

105
4.6.1. Factores a considerar no desenho das alternativas

No desenho das alternativas devem ser considerados alguns aspectos relativamente às causas
e tratamento dos sintomas das actividades ou condições nefastas (Tabela 4.43).

Tabela 4.43. Aspectos a considerar na gestão das causas e tratamento dos sintomas.

Quais têm sido as implicações das actividades do passado na gestão da ribeira (análise causa-
efeito)?
Regimes hidrológicos alterados (a ribeira seca nos meses mais quentes), gestão insuficiente das
quantidades de água nas cabeceiras da bacia hidrográfica;
Problemas na qualidade da água devido à existência da Unidade de Tratamento da Santa Casa da
Misericórdia a montante do troço; Resíduos encontrados na linha de água e margens;
Problemas na qualidade da água devido à existência de indústria pecuária a montante do troço;
Existência de espécies invasoras;
Existência de espécies não autóctones (e.g. eucalipto) e decréscimo do habitat potencial natural
(carrascal) que “ganham terreno” perante as existentes (e.g. canas);
Fisiografia do terreno alterado para produção agrícola na planície aluvial;
Construção de infra-estruturas para habitação e espaços exteriores, actualmente
abandonados/degradados;

Quais são as oportunidades para eliminar, modificar ou atenuar essas actividades?

Medidas de gestão mais a montante (cabeçeiras de água), como por exemplo, construção de açudes
ou bacias de retenção; medidas de intervenção ao longo dos cursos de água, para induzir a
infiltração de água nos terrenos, evitar o escoamento superficial e subterrâneo imediato, evitar a
canalização/rectificação dos rios criando zonas com maior sinuosidade;
Renaturalizar as margens dos rios com vegetação ripícola e da região;
Acções de voluntariado para limpeza dos resíduos e despejos e remoção de espécies invasoras;
Aplicação de técnicas de engenharia natural no leito e/ou margens para proporcionar melhorar o
habitat, renaturalizar estas zonas, permitir a infiltração da água no solo;
Recuperação do edificado para projectos de educação ambiental, desenvolvimento da actividade
científica, promover a cultura e história do local;
Plantação de árvores do habitat potencial;
Medidas preventivas na fonte relativamente à poluição da água;
Acções de sensibilização para com os proprietários destas indústrias e com a Santa Casa da
Misericórdia no sentido dos impactes das suas actividades nos ecossistemas;
Medidas depurativas ao longo do curso de água até ao troço, nomeadamente fito-remediação;
Aproveitamento da zona de várzea para diversos usos: educação ambiental, vegetação natural ou
produção agrícola, dependendo dos objectivos.
Qual seria o resultado da melhora das condições no rio se estas actividades fossem eliminadas,
modificadas ou atenuadas?
Melhoria das condições dos regimes hidrológicos durante o ano; garantia de um caudal mínimo nos
meses ou nalguns meses mais críticos; melhoria da qualidade da água;
Criação do habitat potencial natural ao longo do curso de água, margens e zona de várzea; melhoria
nas condições do solo;
Promover a cultura e história, a educação e sensibilização ambiental da população;
Criação de um caso de referência para poder ser aplicado em outras zonas críticas da bacia
hidrográfica; Envolvimento da população;

106
Neste trabalho não se pretende uma análise e aplicação de métodos de avaliação de suporte à
selecção de alternativas. Dado o objectivo deste trabalho e as limitações em termos de tempo
e recursos, serão definidas apenas a alternativa “zero” e uma alternativa propriamente dita,
pelo que não será efectuada nenhuma análise custo-benefício e/ou eficácia, análise de risco ou
avaliação de impacte ambiental. No entanto, serão considerados os benefícios, os riscos, os
custos e os impactes ambientais na sua avaliação.

4.6.2. Desenho das alternativas de restauração

As alternativas desenhadas no presente trabalho são duas: a alternativa “zero” e a alternativa


“A”, cujas principais características estão descritas na Tabela 4.44.

Tabela 4.44. Principais características das alternativas da restauração.

Alternativas de Descrição
restauração
Não intervenção no local;
As características potenciais e futuras do local serão semelhantes à caracterização
da situação actual (capítulo 3, secção 3.3) com o risco de agravamento dos factores
problemáticos;
Risco do aumento da instabilidade das margens da ribeira bem como da cobertura
0
de vegetação destas zonas;
Risco de aumento da representatividade de espécies exóticas e espécies de carácter
invasor;
Risco de perda de habitats refúgio e migração para espécies, perda de espécies e
biodiversidade;
Contínua degradação da qualidade da água e acumulação de resíduos.
Intervenção no local;
Regeneração natural do bosque de carvalhos e da floresta ripícola, com intervenções
directas sobre o leito e margens de água, bem como da planície aluvial adjacente à
A linha de água;
Aplicação de técnicas de bioengenharia para renaturalização da linha e margens;
Controlo de espécies exóticas e espécies de carácter invasor;
Regeneração natural da vegetação ripícola e plantação de árvores na planície aluvial.

Segue-se a caracterização de cada uma das alternativas citadas, em termos de medidas


preventivas e preparatórias, medidas de acção sobre as margens e planície aluvial, incluindo os
aspectos sociais e económicos das mesmas.

Nas medidas propostas estão indicados os custos de investimento/aplicação de cada técnica


consoante o Manuale Tecnico di Ingegneria Naturalistica della Provincia di Terni (Venti et al.,

107
2003), cujos preços são relativos a 2003 e para Itália. Isto deve-se ao facto de serem poucos os
estudos/projectos em Portugal e com os respectivos orçamentos. Para além deste manual,
também serão considerados os preços definidos pela AIPIN (2002), também para a Itália.

A. A alternativa “zero”

Na alternativa “zero” não se pretende qualquer tipo de intervenção pelo que o local de estudo
permanecerá ou evoluirá naturalmente. Neste sentido, um cenário futuro para esta zona será
semelhante em termos de caracterização geral (capitulo 3), com o potencial agravamento dos
factores problemáticos.

Caso se opte por não intervencionar, a evolução do coberto vegetal será marcada pelo
aumento da representatividade das espécies exóticas (e.g. eucaliptos) e invasoras (e.g. acácias)
e portanto, pela redução das espécies autóctones e características da região. Isto irá reflectir-
se potencialmente na perda de espécies e da biodiversidade, nomeadamente dos habitats de
refúgio e/ou migração de determinadas espécies.

Com a perda da cobertura vegetal arbórea e herbácea, surge também o risco de perda de solo
produtivo e do aumento do risco de erosão, o que se torna problemático principalmente na
proximidade da linha de água. O estado de degradação e/ou abandono desta linha de água é
evidente e, caso não se actue, os problemas de erosão das margens, da queda do muro de
pedra, da queda de árvores de grande porte e/ou cujas raízes estão nuas devido à acção
erosiva da água, serão evidentes. Caso não se actue também em prol da melhoria da qualidade
da água e do estado ecológico, incluindo as acções de limpeza de resíduos, então não serão
atingidos os objectivos da DQA para 2015 relativamente às águas superficiais. Este facto terá
como consequências óbvias uma maior degradação destes ecossistemas bem como
implicações em termos legais para os responsáveis.

À escala da respectiva bacia hidrográfica, o facto de não se iniciar um projecto potencial e


inovador como a recuperação de um troço referência da ribeira das Vinhas e a definição de um
primeiro caso de estudo para actuar posteriormente noutros locais implica que não se actue
efectivamente na melhoria da qualidade ecológica das zonas ribeirinhas e adjacentes, com a
consequente perda de biodiversidade e potenciais espaços de lazer, devido ao risco da pressão
urbanística sobre estas zonas.

A. A alternativa “A”

108
a) Proposta geral
Relativamente à vegetação e habitats naturais, pretende-se a regeneração natural do bosque
de carvalhos e da floresta ripícola, com intervenções directas sobre o leito e margens de água,
bem como da planície aluvial adjacente à linha de água. Devido à existência de estruturas de
apoio à agricultura que eram utilizadas antigamente (e.g. muro de pedra entre a linha de água
e a zona de várzea), e tendo em conta que um dos objectivos passa pela criação de um pólo
sócio-cultural (e museu) que incida sobre as actividades que eram realizadas antigamente
nesta azenha, pretende-se o enquadramento destas estruturas no projecto de recuperação.

A existência de um muro de pedra que separa a linha de água da zona de várzea (Figura 4.46)
pode ser vista como uma potencial limitação à aplicação de técnicas de engenharia natural, no
entanto, serão aplicadas técnicas preventivas e longitudinais que incidam sobre a estabilização
dos taludes, a recuperação da vegetação e a remoção de elementos “perigosos” no curso de
água, tendo em conta a potencial ocorrência de cheias nos meses críticos. Estes elementos são
por vezes árvores de grande porte bastante instáveis com tendência a cair para o curso de
água e/ou árvores cuja zona de enraizamento foi fortemente erosionada pelas correntes de
água. Outros elementos como pedras grandes e seixos poderão ser removidos ou transferidos
para outros locais ao longo do troço de modo a criar zonas de deposição de sedimentos e
estabilização das margens, bem como de recuperação da vegetação.

Figura 4.46. Muro de pedra que separa a linha de água e a zona de várzea na Quinta do Pisão, Pisão de
Cima (Cascais).

Será considerada a hipótese de remoção deste muro de pedra e os tipos de técnicas de


engenharia natural que poderão ser aplicadas bem como os seus benefícios/custos. À partida
esta medida implica um acréscimo nos custos devido à utilização de maquinaria e técnicos
qualificados.

109
Nas margens da ribeira e na planície aluvial (Figura 4.47) pretende-se a regeneração natural da
floresta ripícola, através da sua protecção e manutenção bem como da aplicação de medidas
de protecção e de controlo das espécies exóticas e de carácter invasor. De modo a possibilitar
a entrada de água nesta planície, pretende-se a reabertura de zonas no muro. Esta medida
também permitirá o aumento do efeito de bordadura e a criação de mais zonas de contacto
entre os habitats terrestres e aquáticos.

Figura 4.47. Zona de várzea e crescimento espontâneo de freixo.

Em termos de enquadramento paisagístico, pretende-se a criação de acessos com recurso a


materiais naturais, provenientes do local e das diversas medidas implementadas (por exemplo,
pedras do muro que são estrategicamente retiradas, troncos de madeira reutilizados).

b) Medidas de intervenção

Protecção da regeneração natural


Pretende-se acelerar a recuperação ou estabilização das margens, pelo que a protecção da
zona de estudo é fundamental. É uma medida passiva porque não implica a alteração das
características físicas do curso de água, nem a aplicação de produtos herbicidas para controlo
específico de determinadas espécies. O principal objectivo da protecção da vegetação natural
é proporcionar o máximo de benefício para a sua estabilização natural nas margens, incluindo
os estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo.

A protecção do estrato herbáceo (incluindo as gramíneas) é fundamental porque é constituído


por plantas pioneiras e de desenvolvimento rápido, que se instalam facilmente em locais
erodidos, pobre em nutrientes e matéria orgânica, bem como por terem uma elevada
capacidade de cobertura superficial. Este aspecto também é importante ao nível dos solos,

110
pois estas plantas (principalmente as gramíneas) possuem um sistema radicular fasciculado,
espesso e longo, melhorando as qualidades do solo. O facto da maioria das plantas herbáceas
serem pioneiras das plantas de maior porte é importante devido à capacidade de disponibilizar
nutrientes e matéria orgânica, reter a humidade, descompactar e arejar o solo.

Relativamente ao estrato arbustivo, apesar de este possuir um desenvolvimento inicial mais


lento, tem uma grande capacidade de adaptação às condições ecológicas, proporcionando um
efeito de protecção intenso e com uma maior permanência. O estabelecimento, crescimento e
reprodução podem ser incentivados através do corte das plantas menos desenvolvidas. A
reprodução pode ser auxiliada pela dispersão intencional das sementes ou propagação por
estaca.

Embora a existência de árvores nas margens seja importante para a estabilização, não devem
ser incentivadas com a mesma intensidade que a vegetação arbustiva e herbácea. O peso das
árvores de grande porte pode ser prejudicial para a estabilidade do talude e podem constituir
uma barreira física, formando barragens temporárias, caso caiam na linha de água. Assim,
devem ser conservadas as árvores que estejam localizadas nas zonas mais afastadas das
margens.

Limpeza do leito
Pretende-se a remoção de materiais da linha de água e das margens, desde resíduos e
despejos intencionais como de pedras e materiais vegetais que estejam a impedir ou dificultar
a livre circulação da água. Estes materiais poderão ser utilizados ou localizados
estrategicamente em zonas adequadas de forma a aumentar a estabilidade das margens.

Estas medidas incluem a verificação da estabilidade das árvores de grande porte ou de


toiçeiras muito próximas da linha de água, porque proporciona uma maior erosão das margens
através da força da corrente.

Sementeira para cobertura vegetal


Pretende-se promover a revegetação das margens nas zonas erodidas e sem cobertura
vegetal, através de sementeiras ou plantação de espécies de crescimento rápido (que
melhorem as condições do local para o estabelecimento futuro de outras espécies). Devem ser
garantidas plantas com capacidade de enraizamento (sistema radical denso e com capacidade
de suporte) e elasticidade na parte aérea.

111
De acordo com a AIPIN (2002), a mistura de sementes a aplicar deverá ser uma quantidade
variável de 30 a 100 g m-2, sendo esta composta por sementes de gramíneas e leguminosas.
Depois de se lançarem as sementes ao solo, estas devem ser ligeiramente cobertas com
terreno. A sementeira deverá ser efectuada no período de actividade vegetativa, tendo o
cuidado de proceder posteriormente a irrigações, adubações e cortes periódicos. As exigências
específicas na plantação da vegetação herbácea estão indicadas na Tabela 4.45.

Tabela 4.45. Exigências específicas na plantação de herbáceas e gramíneas a utilizar.

Material Exigências específicas Espécies a utilizar


vegetal
Herbáceas Proceder à verificação das sementes fornecidas; Mistura de Lolium
Regularizar a superfície do terreno e distribuir terra nas multiflorium, Festuca
zonas destinadas à sementeira. Quando as terras existentes pratensis, Lolium perene,
no local não forem consideradas apropriadas para a Festuca rubra, Poa
sementeira deve-se proceder à colocação de substrato/turfa, pratensis
rica em matéria orgânica e isenta de infestantes; Trifolium repens, Poa
2
Proceder à sementeira, com cerca de 30/35 g/m annua
(1)
Trifolium pratensis.
(1) Segundo mistura de herbáceas leguminosas e gramíneas para cobertura verde, marca Fertiprado Extensivo ®.

Esta técnica, segundo a AIPIN (2002) tem um custo médio de 0,93 €/m 2. e para Venti et al.
(2003) tem um custo de aplicação entre 0,41€ a 0,77€ por m2.

Plantação individual de árvores


Uma das medidas que visa a recuperação da vegetação é a plantação directa e individual de
árvores características de zonas ripícolas, como representado na Figura 4.48.

Figura 4.48. Plantação individual e directa de árvores (Raus, 2008).

112
Para iniciar uma plantação de floresta e arbustos, as plantas lenhosas são cultivadas em
viveiros e escavadas, sem terra, de modo a que as suas raízes fiquem nuas. Estas são depois
plantadas muito cuidadosamente em buracos preparados e em dias sem geada. A distância
entre plantas depende das condições locais. As plantas lenhosas mais sensíveis devem ser
escavadas em conjunto com a terra de envasamento e protegidas com tecido ou juta para
transporte. A plantação pode ser feita durante todo o ano. As exigências específicas das
espécies relativamente à plantação estão descritas na Tabela 4.46.

Tabela 4.46. Exigências específicas das plantas dos estratos arbóreo e arbustivo, durante a plantação.

Material Exigências específicas Exemplos de espécies


vegetal
Proceder à verificação do material vegetal que é fornecido Alnus glutinosa
pelo viveiro; Fraxinus angustifolia
Abrir covas com cerca de 1,0x1,0x1,0m; Quercus sp.
Colocar no fundo da cova uma camada drenante (cascalho),
Árvores de 0,2m;
Abrir uma pequena caldeira logo após a plantação e efectuar
a primeira rega para haver uma melhor compactação e
aderência ao raizame;
Colocar tutores com as devidas precauções.
Proceder à verificação do material vegetal que é fornecido Crataegus monogyna
pelo viveiro; Frangula alnus
Abrir covas com cerca de 0,40x0,40x0,40m; Sambucus nigra
Arbustos
Realizar uma rega antes de a cova estar totalmente cheia
para aderir o solo às raízes;
Regar logo a seguir à plantação;

Após a plantação das árvores é fundamental garantir as condições de humidade e matéria


orgânica para o desenvolvimento da planta a curto e longo prazo. A aplicação de um mulch de
palha é fundamental porque, para além de ser um método simples e acessível, é eficiente e
ecológico. A aplicação de palha permite evitar perdas excessivas de água por evaporação, a
criação de condições de humidade ideais para a planta e para o desenvolvimento da
microbiologia do solo e evita a existência de solo a descoberto, reduzindo o risco de perda de
qualidade de solo e da sua erosão.

Renovação da protecção (da regeneração natural)


Poderão ser necessárias algumas acções de manutenção com o tempo. Após a estabilização do
talude (modelação do terreno), e após cobertura vegetal do solo com herbáceas e gramíneas,
poderá ser necessária a poda da parte aérea das plantas arbustivas e arbóreas de modo a

113
estimular a sua capacidade protectora: a poda proporciona um maior enraizamento e a
diminuição da secção de vazão bem como a retenção de materiais vindos de montante.

Medidas preparatórias e preventivas: correcção do talude


São medidas temporárias que antecedem e/ou complementam as medidas a longo-prazo,
dado que estas necessitam de mais tempo de execução e de recursos e dependem do regime
hídrico.

Uma das medidas preparatórias é a correcção dos taludes fortemente erosionados através da
modelação “simples” do terreno (Figura 4.49), e consiste em escavar as margens de modo a
que adquiram um declive apropriado. Os critérios mais convenientes a este tipo de
intervenção estão subjacentes ao material que compõe o solo, condições de mistura,
vegetação a instalar, situação de pressão e condições hidráulicas existentes no local.

Figura 4.49. Modelação do terreno do talude erosionado (Durlo e Sutili, 2005).

Nas zonas em que os taludes se assemelham ao perfil original da figura indicada, estes não
permanecerão estáveis por muito tempo devido à acção erosiva da água. A modelação do
terreno pode, na maioria dos casos, ser suficiente para a estabilização da margem porque
diminui o risco de queda/erosão de materiais e proporciona uma inclinação suficiente para a
estabilização da vegetação natural.

Esta modelação do terreno não deve ser feita no período de caudais máximos ou de cheia e
deverá ter em conta a época de propagação da vegetação a instalar. A aceleração da cobertura
superficial da margem será efectuada com a aplicação de cobertura de palha e pela
implementação da própria vegetação, por semente, por sementeira e por estacaria,
dependendo do tipo de espécie.

114
Como medida preparatória, pretende-se também a implementação e fixação adequada de
materiais vários (ramos, troncos, árvores e pedras) nas margens que necessitam de protecção
adicional (Figura 4.50).

Figura 4.50. Utilização de árvores inteiras como medida preventiva de margens erodidas (Durlo e
Sutili, 2005).

O objectivo desta medida é a criação de um obstáculo temporário ao fluxo da água, dissipando


a sua energia. Por um lado, diminui a velocidade da água junto à margem e a sua acção erosiva
e por outro, pode permitir a deposição de sedimentos.

Arranjos de pedras e troncos

Medida aplicada no próprio leito, que se baseia na remoção deste tipo de material e a sua
deposição em locais estratégicos para a correcção de pequenos focos de erosão, para realinhar
o eixo longitudinal do canal e para a modelação e o revestimento das margens.

Muro de vegetação

Para as zonas em que será necessário corrigir a estrutura do muro de pedra, pretende-se o
revestimento da margem com uma combinação de troncos (estacas) de madeira (viva) e
blocos de pedra. Esta medida tem como objectivo a fixação de materiais nas margens de modo
a conseguir o máximo de estabilidade e protecção física imediata. A combinação com estacas
vivas ou o uso de faxinas em associação com o revestimento inerte permite a aceleração e a
garantia da estabilidade bem como proporcionar o crescimento da vegetação e melhor o
aspecto estético da obra.

Devido à existência do muro de pedra entre a linha de água e a zona de várzea, pretende-se a
construção de uma parede com vegetação do tipo representada na (Figura 4.51).

115
Figura 4.51. Parede com pedras, troncos e estacas vivas (Durlo e Sutili, 2005).

Todos os elementos são fixos em conjunto e as estacas de madeira são enraizadas. Com o
tempo o material vegetal vivo desenvolve-se. Segundo Venti et al. (2003) é uma técnica
imediata, eficaz e resistente à pressão da água, o material vegetal utilizado facilmente se
desenvolve (estacas com capacidade vegetativa). As desvantagens decorrem de erros de
ancoramento na margem e da introdução das estacas ou faxinas fora do período de repouso
vegetativo, o que põe em causa toda a estrutura e a estabilidade do talude. Para os mesmos
autores, o custo médio de aplicação desta técnica por m-2 varia entre 46,48 € e 54, 23 €.

Em alternativa, consoante o perfil do leito e a estrutura do muro de pedra, poderá ser utilizada
uma parede de faxinas como representado na seguinte Figura 4.52.

Figura 4.52. Esquema de uma parede de faxinas (Raus, 2008).

116
A parede de faxinas é um elemento de bioengenharia vertical e é constituída por um conjunto
de faxinas posicionadas verticalmente e fixas a troncos de madeira de 20 – 25 cm com corda. O
comprimento destes troncos é de 3 m dos quais 2/3 estão enterrados no solo (Raus, 2008).

No caso da remoção do muro de pedra que separa a linha de água da planície aluvial, a
intervenção em termos de técnicas de engenharia natural será diferente. Neste caso poderão
ser utilizados os “rolos de faxinas” (Figura 4.53) no talude ou um muro de vegetação “simples”
(Figura 4.54).

O “rolo de faxinas” consiste num conjunto de ramos vivos de salgueiros atados de modo a
formar um feixe com um diâmetro de 0,30 m. Cava-se um canal horizontal onde é colocada a
faxina, crava-se a estaca vertical e por fim enche-se com terra. Apenas os ramos do topo da
faxina ficam à mostra.

Figura 4.53. Esquema de faxinas vivas (adaptado de Schiechtl e Stern, 1997).

O material vegetal a utilizar será espécies com capacidade de reprodução vegetativa (e.g.
salgueiros), arame de ferro (diâmetro de 2/3 mm) e arame de ferro reforçado (diâmetro de
12/16 mm) e estacas de madeira (diâmetro de 8 a 12 cm) para fixação.

Segundo Venti et al. (2003) é uma técnica simples e rápida de aplicar e o material a utilizar tem
uma boa adaptação e desenvolvimento pelo que os resultados a obter serão rápidos. No
entanto, o enraizamento da vegetação é superficial e a estrutura é susceptível aos
movimentos de massas de terra. Para os autores o preço de implementação varia entre 76,0 €
e 27,37€ por m-2.

117
No caso da inexistência do muro de pedra poderá também ser implementando um muro de
vegetação ou grade viva “simples”. Após a correcção da inclinação do talude (Figura 4.49), o
muro de vegetação será construído abrindo valas a uma distância equidistante e introduzindo
as estacas como representado na seguinte (Figura 4.54).

Figura 4.54. Muro de vegetação com: (a) estacas; (b) e plantas; c) em perspectiva (adaptado de Venti
et al., 2003).

Nesta técnica devem ser utilizadas estacas com capacidade de enraizamento ou introduzir
directamente as plantas. No início a protecção da margem não é significativa e depende da
quantidade de estacas utilizadas, que podem ser introduzidas em paralelo ou cruzadas umas
às outras. Quanto maior for o número de estacas maior será o efeito de protecção e o
crescimento vegetativo. De modo a fixar as estacas ao talude podem ser utilizados troncos ou
pedras na base das estacas antes de as introduzir no terreno.

O uso de algumas espécies vegetais (salgueiros, freixos) favorece a diminuição do conteúdo de


água no terreno, tornando-o mais estável Venti et al. (2003). Esta técnica é utilizada para
estabilizar superficialmente taludes, vertentes e escarpas onde existe acumulação de material
solto, em zonas de erosão e em risco de deslizamento de terras, com uma profundidade de
horizonte de deslizamento não superior a 1,5 m (AIPIN, 2002).

118
O período ideal para a realização da intervenção é durante o repouso vegetativo, embora em
zonas montanhosas possa ser implementada até Abril. No caso de intervenções fora da
estação, torna-se necessário o uso de uma irrigação de recurso.

Segundo a AIPIN (2002), as valas escavadas deverão ter uma profundidade entre os 50- 100
cm, com uma contra inclinação mínima de 10º. Para inclinações de talude entre 25°-30°
aconselha-se uma distância entre as escavações sucessivas de 1-1,5 m, enquanto para
inclinações inferiores a 20° se aconselha uma distância entre os 2-3 m. Portanto, a distância
entre as escavações é variável consoante a inclinação do talude. Nesta técnica devem ser
utilizadas estacas de espécies arbustivas pioneiras, com uma altura de 100 cm (comprimento
superior em 10-20 cm relativamente à profundidade da escavação) e de diâmetro 1-3 cm,
entre as quais se incluem as espécies.

Antes de se iniciarem os trabalhos de construção deve-se proceder à limpeza da área de


intervenção, eliminando as raízes ou outro género de obstáculos. As valas podem ser
realizadas segundo as curvas de nível ou ligeiramente inclinadas de modo a favorecer a
drenagem. Segundo Venti et al. (2003), o custo médio da aplicação de um muro de vegetação
deste tipo varia entre 23,24 e 26,34 € por m-2..

A execução rápida e simples, o suporte em profundidade e a redução do fluxo da água são as


vantagens deste método. No entanto, exige grandes quantidades de material vegetal e, caso
se utilize estacaria de madeira rígida, o crescimento e os resultados podem ser mais lentos
(Venti et al., 2003).

Soleira simples
Ao contrário das restantes medidas, esta é uma técnica de consolidação que tem como
objectivo principal a estabilização e a consolidação do fundo bem como das margens dos
cursos de água, proporcionando um habitat piscícola (Figura 4.55 e Figura 4.56). Corresponde
a uma estrutura de madeira transversal ao eixo longitudinal do rio, com a parte superior
situada ao mesmo nível do fundo do leito. O diâmetro e comprimento do tronco de madeira
são variáveis consoante a largura e volume da água. Estrutura tipicamente simples e fácil de
aplicar, e com custos reduzidos (Durlo e Sutili, 2005).

119
-

Figura 4.55. Exemplo de uma soleira simples (Durlo e Sutili, 2005).

Figura 4.56. Perspectiva em corte de uma soleira simples para criação de habitat piscícola (Bastien-
Daigle et al., 1991 in Melanson et al., 2006).

Esta medida permite a redução da velocidade do fluxo de água e de zonas de remanso para os
peixes. No entanto, se não for desenhada adequadamente pode dificultar a passagem dos
peixes e é uma estrutura que necessita de alguma manutenção a longo prazo (Melanson et al.,
2006). Para a permitir a passagem de peixes a altura da soleira deverá situar-se entre os 0,3 –
0,4 m (Venti et al., 2003).

a) Estimativa dos custos e recursos

Na Tabela 4.47 estão descritos os custos médios estimados para a aplicação das medidas
propostas (quando aplicável) bem como os recursos materiais e humanos necessários.

120
Tabela 4.47. Tabela dos custos unitários e totais das medidas a aplicar na Alternativa “A” do projecto
de restauração e dos recursos materiais e humanos necessários.

Investimento

Custo fixo (€)

Quantidade/

Preço total
Unidade
Custo

(€)

(€)
Medida e descrição Material/Recursos

Protecção da Regeneração Natural


Manutenção da vegetação Jardineiros; - 250 - 3500 (4)
(3)
Remoção de toiças e árvores em risco Utilização de maquinaria 500 - 500
-
Limpeza do leito
Voluntariado Acções de voluntariado - - - -
Transporte de material pesado Utilização de maquinaria 400 - - 400
Sementeira para cobertura vegetal
Preparação do terreno Jardineiros; - (250) - 3500 (4)
(3)
Semear mistura de sementes Mistura FertipradoExtensivo® 60/ha 1 60
Ferramentas várias 50 - - 50
Renovação da protecção natural
Manutenção da vegetação (poda) Jardineiros; - (250) - 3500 (4)
(3)
Ferramentas várias 50 - 50
-
Manutenção do muro de pedra
Correcção da estrutura Técnicos especializados; 200 - - 200
Remoção da estrutura Técnicos especializados, utilização de maquinaria, 700 - - 700
avaliação do projecto
Correcção do talude
Movimentação da terra do talude
Estabilizar a inclinação do talude Técnicos especializados ; 500 - - 500
Fixação de material na margem Ferramentas várias 70 - - 70
Muros de vegetação (com o muro de pedra)
Colocação das pedras, toros e estacas Técnicos especializados; 400 - - 400
Toros tratados (L= 2m, D= 8/10 cm) (1) 5 - 50 250
Toros tratados (L=2m, D=10/12 cm) (1) 6 - 50 300
Terra vegetal (m3) (1) 20 - 20 400
Terra arenosa (m3) (1) 13 - 20 260
Pregos com cavilha (kg) (1) 1.4 - 5 7
-
Muros de vegetação (sem o muro de pedra)
Rolos de faxinas Técnicos especializados; 400 - - 400
Colocação de toros e faxinas Toros tratados (L= 2m, D= 8/10 cm) (1) 5 - 50 250
Muro de vegetação “simples” Arame de ferro (L=500m) 100 - 1 100
Abertura de valas Corda 50 - 1 50
Colocação das estacas e toros Estacas de salgueiros 50 - - 50
Ferramentas várias 50 - - 50
Soleira simples 100 - - -
Colocação dos toros na linha de água Técnicos especializados;
Fixação à margem Toros tratados (L= 2m, D= 8/10 cm)(1) 5 - 20 100
Toros tratados (L=2m, D=10/12 cm)(1) 6 - 20 120
Plantação de árvores
Preparação do terreno Técnicos especializados; 200 - - 200
Plantação das árvores Ferramentas várias 50 - - 50
Tutores Estacas de madeira - - - -
Árvores e arbustos (2) 234 - - 234
Total (sem o muro de pedra) - - - - 7634
Total (com o muro de pedra) - - - 8351
2
(1) Custo/unidade, Divisão de Matas do Parque Florestal de Monsanto para 10 m , preço s/IVA (Martinho, 2005).
(2) Preços calculados na Tabela 4.48.
(3) Custo mensal total para os jardineiros (os custos entre () são repetidos e não constam no valor total final).
(4) Custo anual (os custos entre () são repetidos e não constam no valor total final).

121
No caso da protecção e renovação da regeneração natural bem como da manutenção do
espaço, é considerado apoio técnico por parte de jardineiros, que garantam a conservação e
gestão do terreno e vegetação pelo menos 2 a 3 vezes por semana. Assim, considera-se o
custo fixo de 1000 € mensais (em part-time), suportado por 2 indivíduos.

As técnicas que necessitam de apoio técnico mais especializado e com utensílios específicos
necessitam de um custo de investimento superior, no entanto trata-se de trabalhos apenas
iniciais. A manutenção das estruturas de engenharia natural (soleira e muros de vegetação)
necessita de um especialista nesta área ou, como resultado da participação voluntária no
projecto, de indivíduos formados para esse fim, mesmo que por regime de voluntariado. O
custo inicial destas técnicas é elevado (devido à utilização de maquinaria pesada e operadores)
mas ao longo do tempo apresenta-se menos custosa.

O custo de investimento no que trata aos diferentes tipos de técnicos varia consoante a
medida/estrutura aplicada e a exigência que cada uma implica em termos de trabalho e
formação. É de referir que a maioria destas medidas e técnicas será implementada e/ou
manuseada com o apoio de voluntários, tendo em conta a participação activa da população
neste tipo de projectos. O preço total corresponde ao custo de investimento e fixo de um ano.

A maioria das medidas aplicadas necessita de ferramentas básicas de apoio que implicam um
custo de investimento inicial de 50 a 70 €, cujo preço inclui alguma manutenção ou reposição
ao longo do ano.

Relativamente aos materiais utilizados, refere-se ainda que os preços indicados são uma
estimativa com base nos preços unitários de cada material e não num orçamento efectuado na
implementação deste tipo de medida num determinado projecto. Este facto pode acarreta
alguma subjectividade e/ou erro, no entanto permite ter uma noção do custo inicial de
investimento.

Por fim, na plantação de árvores, como não existe nenhum viveiro ou acção de propagação
antecipada das plantas a introduzir no terreno e como se considera que a plantação ocorrerá
num futuro próximo, o custo de investimento passa pela obtenção de árvores em raiz nua ou
de plantas em vaso provenientes de viveiros externos. Na Tabela 4.48 estão descritos os
preços unitários por tipo de planta e por tipo de fornecedor.

122
Tabela 4.48. Preço unitário por tipo de planta e por origem do fornecedor.

Preço/ unidd Quantidade Preço total


Nome científico Nome comum nota
(€) (unidd) (€)

Alnus glutinosa amieiro 15 3 45 Planta com raiz nua, 200-250 cm (4)


3 16 48 Planta em vaso 4L com 60 a 110 cm (2)
Fraxinus angustifolia freixo - -
6,3 Planta com raiz nua, 200 - 250cm (1)
20 - - Planta com raiz nua, 200 - 250 cm (4)
14,2 - Planta em vaso 7.5L com 200 - 250 cm (1)
Frangula alnus amieiro-negro
4 - - Planta em vaso com 60 a 80 cm (4)
Olea europaea var. zambujeiro 14,2 - Planta em vaso 7.5L com 100 - 150 cm (1)
sylvestris 3 3 9 Planta em vaso 2.5L com 60 - 80 cm (2)
Quercus coccifera carrasco 2.75 (1-5 kg) - - 180 sementes/kg (3)
carvalho-
Quercus faginea 3.85 (1-5 kg) - -
cerquinho 180 sementes/kg (3)

3 6 18 Planta em vaso 1.5L com 40 - 60 cm (2)


Quercus suber sobreiro
20 - Planta em vaso 25L com 100 - 150 cm (2)

Cupressus lusitanica 3 - - Planta em vaso 5L com 30 a 60 cm (2)


cipreste
1 - - Uma unidade/torrão (2)
Cupressus
cipreste 6 - - Planta em vaso 5L com 60 - 80 cm (2)
sempervirens
9.7 - - Planta raiz nua, perímetro de trono 8 – 10cm (1)
Salix babylonica salgueiro-chorão
6.3 - - Planta raiz nua com altura entre 200 – 250 cm (1)
5 12 60 Planta em vaso 5L com 70 – 120 cm (2)
Populus nigra choupo negro 3 3 9 Planta em vaso 2.5L com 60 – 80 cm
2.5 4 10 Planta em vaso 2.5L com 30 – 40 cm altura (2)
Sambucus nigra sabugueiro
4 - - Planta em vaso com 40 a 60 cm (4)
Ulmus glabra ulmeiro-negro 16.9 - - Planta em raiz nua, perímetro de tronco 10 – 12 cm(1)
Ulmus minor Ulmeiro-branco 5 7 35 s.d.
2.2 - - Planta em vaso 1.3 L com 30 - 40 cm (1)
Crataegus monogyna Pilriteiro
4 - - Planta em vaso com 60 a 80 cm (4)

Laurus nobilis loureiro 65.2 - - Planta em vaso 30 L e perimetro de tronco 8 - 10cm (1)
2 - Planta em vaso 1.5L com 20 a 40 cm (2)
sanguinho-das-
Rhamnus alaternus 4 - - Planta em vaso 3L com 20 - 30 cm altura (1)
sebes

Lonicera implexa madressilva 2.8 - - Planta em vaso 1.3 L com 40 - 60 cm altura (1)
1.5 - - Planta em vaso 1.5L com 15 - 20 cm (2)

Ruscus aculeatus Gilbardeira 2 - - Planta em vaso (1.5L com 10 a 20 cm (2)

Total - - 54 234 -
(1) Viveiros Alfredo Moreira da Silva e Filhos, Lda. Quinta da Revolta, Porto.
(2) Viveiro Florestal do Instituto Superior de Agronomia, Ajuda, Lisboa (ISA, 2010)
(3) Sementes Florestais CENASEF – Parque Florestal, Catálogo 2008/2009. Amarante. Ministério da Agricultura
(4) (Freitas, 2006)

São considerados diferentes tipos de fornecedores de árvores e arbustos no sentido de


verificar as diferenças de preço por tipo de planta e por localização, mesmo tendo em conta

123
que nem todas as plantas serão seleccionadas para plantação. Pretende-se salientar a
importância de uma “gestão sustentável” de plantas autóctones e locais neste tipo de
iniciativas (e.g. programas de recolha e conservação de sementes e propagação e manutenção
de plantas).

b) Conclusão
As medidas de intervenção sugeridas a aplicar no troço de intervenção da Ribeira das Vinhas,
estão representadas na Figura 4.57.

Figura 4.57. Representação da alternativa “A” da proposta de restauração.

124
4.7. Monitorização e avaliação do projecto de restauração

O sucesso da reabilitação depende não só do plano de implementação, mas também da


atenção dada à monitorização e à avaliação das medidas preconizadas (FISRWG, 1998). A
monitorização constitui uma etapa fundamental do processo de reabilitação do corredor
fluvial sendo, por isso, importante a avaliação da resposta do ecossistema fluvial após a
intervenção (Heaton et al., 2005). A monitorização do grau de estabilização dos taludes e de
protecção das margens, após o projecto ser implementado, envolve um período intensivo de
avaliação durante os primeiros anos, correspondendo a duas ou mais monitorizações anuais
enquanto a vegetação está ainda a restabelecer-se.

4.7.1. Monitorização do progresso perante os objectivos

Perante os objectivos definidos, de seguida apresentam-se os principais parâmetros e


respectivos indicadores a utilizar na monitorização do troço de intervenção. Serão definidos,
para o caso da qualidade da água, os parâmetros e indicadores estabelecidos pela DQA, no
contexto dos objectivos para 2015 para a qualidade das águas superficiais na União Europeia.
Relativamente às técnicas de engenharia natural aplicadas no projecto, serão definidos os
parâmetros que necessitam de avaliação contínua, de acordo com as características das
estruturas ou medidas. Por fim, serão estabelecidos os parâmetros e respectivos
indicadores/índices a utilizar na monitorização do coberto vegetal para a avaliação do estado
da galeria ripícola.

Segundo a DQA, os programas de monitorização das águas de superfície deverão ser


estabelecidos de forma a permitirem a classificação do estado ecológico, ou quando aplicável
do potencial ecológico, bem como do estado químico. Para todos os programas de
monitorização as frequências de amostragem estabelecidas devem permitir a obtenção de
resultados com um nível aceitável de confiança e precisão e os resultados da monitorização
devem reflectir as alterações provocadas pela actividade humana.

No caso dos rios, os elementos de qualidade utilizados na definição de estado ecológico são:
elementos de qualidade biológica (flora aquática, invertebrados bentónicos e peixes);
elementos de qualidade hidromorfológica (regime hidrológico, condições morfológicas e
continuidade do rio), e elementos de qualidade físico-química (parâmetros gerais e poluentes

125
específicos). Cada elemento de qualidade possui indicadores operacionais específicos que
permitem a sua avaliação e posterior utilização na definição de estado ecológico ou potencial
ecológico (Tabela 4.49).

Tabela 4.49. Frequências de amostragem dos elementos de qualidade para os programas de


monitorização de vigilância nas diferentes categorias de meios hídricos (DQA, Directiva 2000/60/CE).

Elemento de qualidade Indicadores operacionais Frequência de


amostragem
Fitoplâncton 6 meses
Macrófitas e fitobentos 3 anos
1
Elemento de qualidade biológico Invertrebados bentónicos 3 anos

Peixes 3 anos

Regime hidrológico Contínuo

Elemento de qualidade hidromorfológico


2 Continuidade 6 anos

Condições morfológicas 6 anos

Parâmetros gerais 3 meses


3
Elemento de qualidade físico-químico Outros poluentes 3 meses
Substâncias prioritárias 1 mês
(1) A frequência pode ser reduzida com base no conhecimento técnico e na análise pericial;
(2) Para o período de vigência do PGBH o elemento de qualidade deve ser monitorizado pelo menos uma vez.

Em relação à frequência das amostragens para os diferentes indicadores operacionais, e no


sentido das suas medições decorrerem em paralelo com a monitorização de outros
elementos/parâmetros de todo o habitat (e.g. estado da vegetação, estabilidade das
estruturas, entre outros), as medições deverão ser efectuadas em períodos inferiores a 3 anos
(e.g. para macrófitas e fitobentos). Segundo a DQA, a frequência pode ser reduzida com base
no conhecimento técnico e na análise pericial.

Importa referir que a monitorização preconizada pela DQA tem essencialmente duas
finalidades: avaliar o estado das águas (classificação e apresentação de resultados),
correspondendo neste caso a uma monitorização de vigilância, e diagnosticar problemas
(desenvolvimento de soluções e acompanhamento da evolução resultante dos programas de
medidas aplicados), tratando-se neste caso de uma monitorização operacional. Em certos
casos, pode ser necessário o estabelecimento de uma monitorização de investigação, que visa
complementar as duas monitorizações anteriores no caso de falta de conhecimento sobre as
causas responsáveis pelo não cumprimento de objectivos ambientais e de avaliação da
extensão e impacte da poluição acidental.

126
No caso dos elementos de qualidade para a classificação do estado ecológico, os parâmetros a
monitorizar nos rios estão descritos na Tabela 4.50.

Tabela 4.50. Elementos de qualidade para a classificação do estado ecológico dos rios (DQA, Directiva
2000/60/CE).

Elementos de qualidade Parâmetros a monitorizar


Composição e abundância da flora aquática
Composição e abundância dos invertebrados
Elementos biológicos bentónicos
Composição, abundância e estrutura etária da
fauna piscícola
Regime hidrológico
( caudais e condições de escoamento, ligação a
massas de águas subterrâneas)
Elementos hidromorfológicos de suporte dos Continuidade do rio
elementos biológicos Condições morfológicas
(variação da profundidade e largura do rio,
estrutura e substrato do leito do rio, estrutura da
zona ripícola)
Elementos químicos e físico-químicos de suporte
-
dos elementos biológicos
Condições térmicas
Condições de oxigenação
Elementos gerais Salinidade
Estado de acidificação
Condições relativas aos nutrientes
Poluição resultante de todas as substâncias
prioritárias identificadas como sendo
descarregadas na massa de água;
Poluentes específicos
Poluição resultante de outras substâncias
identificadas como sendo descarregadas em
quantidades significativas na massa de água.

Na maior parte dos casos, as agências e entidades privadas não possuem recursos financeiros
e humanos para uma monitorização a longo-prazo e em específico para certos parâmetros e
respectivos métodos. As técnicas de engenharia natural têm a vantagem de serem menos
dispendiosas financeiramente e a longo-prazo, desde a fase de investigação e desenho, na fase
de construção, manutenção e monitorização bem como no restabelecimento das estruturas
(Figura 4.58).

127
Figura 4.58. Diferença entre os perfis de investimento na investigação, construção, manutenção e
monitorização de projectos convencionais e de engenharia natural (adaptado de Coppin e Richards,
1990 in Allen e Leech, 1997).

Ao longo do tempo a estabilidade das estruturas de engenharia natural aumenta, o controlo


da degradação e erosão das margens é atingindo e a cobertura vegetal arbórea, arbustiva e
herbácea vai ficando estabelecida. A questão-chave é garantir que o estabelecimento das
plantas ocorra desde a fase de plantação ou regeneração, o que exige um acompanhamento
por parte dos responsáveis desde a fase inicial de implementação e durante a fase de
manutenção ou reabilitação das estruturas (Allen e Leech, 1997). Nos projectos convencionais
ou com a utilização de materiais inertes este aspecto não é exigido, não sendo necessária a
manutenção das estruturas nos primeiros anos. No entanto, os custos de reparação e
manutenção a longo-prazo de estruturas convencionais e/ou materiais inertes são
significativamente superiores.

As estruturas de engenharia natural devem portanto ser “monitorizadas” logo após a sua
construção para verificar as condições de adaptação, desenvolvimento e sobrevivência das
espécies utilizadas, bem como da estabilidade das margens. Para além deste aspecto, as
estruturas propriamente ditas devem ser revistas, verificando as condições de erosão, suporte
e estado dos materiais. Segundo Allen e Leech (1997) as estruturas e medidas devem ser
monitorizadas no mínimo dois anos após a sua implementação e de preferência, após a
ocorrência de um ou dois caudais de cheia. Isto permite verificar a estabilidade das estruturas
e a necessidade de reparação das mesmas.

Na Tabela 4.51 estão definidos os parâmetros a monitorizar para as estruturas e elementos


implementados através de técnicas de engenharia natural. A frequência e o método vão

128
depender dos recursos financeiros e humanos bem como do tipo de análise necessária a
efectuar.

Tabela 4.51. Medidas de monitorização das estruturas de engenharia natural implementadas.

Medidas/Estruturas Descrição
Verificar a efectividade da estabilização das margens e do seu declive;
Verificar a estabilidade das plantações ao longo da margem;
Correcção e Comprovar a germinação das estacarias e seu enraizamento;
estabilidade do Reintegrar a vegetação danificada;
talude Verificar a necessidade de recobrimento com solo e com cobertura verde;
Verificar a integridade das estruturas de madeira/pedra e a existência de
arrastamento de pedras e terra;
Assegurar a estabilidade estrutural garantindo a resistência das pedras e
troncos;
Controlar o potencial desgaste de fundo, assim como o possível arrastamento
Correcção e
da estrutura;
estabilidade no leito
Verificar se a estrutura ocasionou o desgaste da margem oposta ao deflector e
em caso afirmativo proceder ao seu reforço;
Verificar se o redireccionamento da corrente é o correcto.
Verificar a adaptação e o desenvolvimento das plantas ao local;
Averiguar o grau de adaptabilidade das espécies ao local;
Verificar a heterogeneidade florística da faixa ripária;
Estabilidade da Verificar a necessidade de recobrimento com solo e com cobertura verde;
vegetação na Reintegrar a vegetação danificada;
margem e várzea Avaliar e assegurar a continuidade longitudinal da vegetação e a conectividade
com o canal;
Controlar o aparecimento e a proliferação de espécies exóticas e infestantes;
Averiguar o grau de adaptabilidade das espécies ao local;

Tendo em conta o objectivo do trabalho, é fundamental a delimitação de estratégias


inovadoras na conservação e manutenção dos habitats ripícolas, nomeadamente em termos
da estabilidade e da qualidade da vegetação do local. O desenvolvimento de planos de
monitorização eficientes e eficazes da vegetação ripícola e estabilidade das margens é
fundamental num projecto de reabilitação de rios. Enquanto a DQA estabelece objectivos para
a qualidade da água e as estruturas de engenharia natural têm as suas próprias especificidades
em termos de monitorização, o estudo do estado ecológico da vegetação ripária, dada a sua
natureza dinâmica, é mais complexo e exige a utilização de determinadas metodologias, como
índices e indicadores.

Na Tabela 4.52 estão enumerados alguns parâmetros e índices existentes na literatura


científica relativamente à monitorização do estado da vegetação ripícola.

129
Tabela 4.52. Indicadores para a monitorização de vegetação ripícola (adaptado de Winward, 2000;
Innis et al., 2000; Burton et al., 2008).

Tipo de Indicadores Fonte


indicador
Vegetation Cross-Section Composition
Greenline Vegetation Composition
Indicadores de
Woody Species Regeneration Retirado de Winward,
vegetação
Streambank Stability and Cover 2000
relativamente
Residual Vegetarion Measurement
às margens
Woody Species Regeneration
Woody Species Use
Indicadores de Greenline-to-greenline Channel Width Burton et al., 2006
vegetação Max Water Depth (Thalweg Depth) Henderson et al., 2004
relativamente Water Width Henderson et al., 2004
ao leito Substrate Composition Bunte, 2001
Integrated Riparian Evaluation Guide (IREG) USDA, 1992
Riparian Evaluation and Site Assessment (RESA) Fry et al., 1994
Indicadores da
Habitat Suitability Index (HSI) Schroeder e Allen, 1992
integridade
Butterfly Riparian Quality (BRQ) Nelson e Anderson, 1994
ecológica da
Habitat Integrity (HI) Kleynhans, 1996
zona ripícola
Riparian, Channel and Environmental Inventory (RCE) Petersen, 1992
System for Evaluating Rivers for Conservation (SERCON) Boon et al., 1997

No presente trabalho não se pretende uma análise e descrição de cada um dos indicadores da
Tabela 4.52. A título exemplificativo segue-se uma breve descrição do indicador Composição
da Vegetação da Linha de Bordadura (Greenline Vegetation Composition).

Neste contexto, é importante considerar dois elementos de caracterização das zonas ripícolas:
o complexo ripícola (riparian complex) e a linha de bordadura verde (greenline vegetation).
Segundo Winward (2000) um complexo ripícola é definido como uma unidade do território
com um único conjunto de factores bióticos e abióticos, identificados com base na sua
geomorfologia geral, características do substrato, gradiente de fluxo e fluxo de recursos
associados à água e dos padrões gerais de vegetação. Cada complexo ripário é composto por
uma mistura de 6 a 12 tipos de comunidades. A linha de bordadura verde é designada como a
primeira vegetação perene que forma um conjunto linear de tipos de comunidade na ou perto
da borda de água e na maioria das vezes ocorre ligeiramente abaixo do leito de cheia.

A disponibilidade de água de forma mais ou menos permanente na zona de enraizamento


permite um crescimento robusto de espécies de plantas hidrófitas que desempenham um
papel importante no controlo da força da água. Estas zonas de vegetação têm a capacidade de
recuperar facilmente após perturbações naturais ou induzidas, o que permite a gestão e a
avaliação dos efeitos destas perturbações. Se forem medidas as condições nesta zona durante
3 a 5 anos, podemos obter informações importantes acerca do estado e das futuras

130
tendências. Para além disto, existe uma forte inter-relação entre a quantidade e o tipo de
vegetação ao longo da borda de água e da estabilidade das margens (Dunaway et al., 1994;
Kleinfelder et al., 1992; Manning et al., 1989; Weixelman
et al., 1996 in Winward, 2000). A avaliação da vegetação na linha de bordadura verde é uma
boa indicação da capacidade de controlo das forças hidráulicas da água em movimento
(Winward, 2000).

Relativamente à metodologia, a definição da localização da linha de bordadura verde é um


ponto crítico. Esta linha deve ser localizada onde existem as forças de água mais intensas. De
um modo geral, é localizada de acordo com o leito de cheia (Figura 4.59a) mas no caso de
margens erosionadas poderá localizar-se uns metros abaixo (Figura 4.59b).

Figura 4.59. Localização da linha de bordadura verde (greenline vegetation): (a) no leito de cheia; (b)
para um caudal reduzido (Winward, 2000).

A medição da linha de bordadura verde é feita segundo uma linha contínua de vegetação em
cada lado da ribeira, mesmo quando a linha de vegetação ocorre acima ou abaixo da borda de
água. Como as actividades que induzem perturbações resultam em mudanças no padrão da
vegetação a avaliação da composição da vegetação na linha de bordadura verde pode fornecer
uma indicação do estado da área ripícola bem como a força da margem no controlo das forças
de erosão da água (estabilidade do talude).

A medição da linha de bordadura verde deve ser feita num complexo ripário. Dependendo do
tamanho deste complexo, uma ou mais amostras podem ser necessárias para fornecer uma
representação adequada. A selecção do local também deve ter em conta a representação das
actividades que mais influenciam o estado da ribeira e vegetação. Também são definidos
transectos que devem ser localizados aleatoriamente e perpendicularmente ao curso de água
(Figura 4.60).

131
Figura 4.60. Esquema da medição dos transectos na linha de bordadura verde (adaptado de Winward,
2000).

A medição da composição do tipo de comunidade na linha de bordadura verde é efectuada


segundo o método dos transectos. São estabelecidos alguns transectos (pelo menos 5) de
forma a atravessar toda a zona ribeirinha e cada um deve ser colocado de uma forma aleatória
de modo a ser representativo da área em estudo. Este procedimento deve ser feito com apoio
de fotografia aérea (Burton et al., 2008).

Os extremos de cada transecto devem ser permanentemente fixados com estacas e estas
devem estar localizadas o mais afastado da zona ripária de modo a permitir quantificar a
expansão desta zona. É importante garantir que as estacas não sejam danificadas ou perdidas
durante a ocorrência das grandes cheias.

O tipo de composição da comunidade é obtido considerando o número de “etapas/passos”


encontrados em cada tipo e em todos os transectos, dividindo pelo número total de
“etapas/passos” definidos nos transectos (Winward, 2000):

4.7.2. Razões para avaliar os esforços da restauração

A avaliação do processo de restauração é um factor-chave (FISRWG, 1998; Mitsch e Jorgensen,


2004) mas que muitas vezes é omisso. Apesar dos compromissos definidos na recuperação dos

132
rios, as avaliações pós-restauração têm sido geralmente negligenciadas (Kondolf e Micheli,
1995 in FISRWG, 1998). Segundo Holmes (1991) no mesmo estudo, apenas 5 em 100 projectos
de conservação e reabilitação fluvial reportaram medidas pós-restauração.

Os processos de avaliação implicam recursos e tempo e são muitas vezes vistos como um
factor dispensável. Estes processos são abandonados porque o tempo e o dinheiro são gastos
na restauração propriamente dita. No entanto, esta tendência não deve ser aceite e tomada
de ânimo leve por parte dos stakeholders e responsáveis pelos projectos de reabilitação. Os
esforços da restauração devem ser avaliados individualmente e em conjunto pois a falta de
avaliações do sucesso ou fracasso destas iniciativas retarda o desenvolvimento e a melhoria
das técnicas e metodologias de restauração.

Como estamos a lidar com sistemas naturais e dinâmicos, o resultado das nossas acções e
medidas implementadas podem ter consequência inesperadas. Neste sentido, quando
estamos a avaliar um projecto de restauração podem surgir quatro situações:
i) a não – acção: se o progresso da restauração está a decorrer como o esperado,
provavelmente serão atingidas as metas durante um tempo razoável;
ii) a manutenção: se serão necessárias acções físicas para manter o desenvolvimento da
restauração perante os objectivos;
iii) a adição ou o abandono de elementos planeados: se serão necessárias alterações
significativas, o que pode incluir a revisão de todo o plano bem como considerar
alterações no desenho de determinados elementos;
iv) a alteração das metas e objectivos da restauração: se a monitorização indicar que a
restauração não está a progredir de acordo com as metas definidas inicialmente. Neste
caso, os participantes/responsáveis devem decidir quais serão as medidas mais
eficientes para modificar as metas.

No sentido de envolver todos os participantes nesta fase do projecto, é imprescindível a


documentação e publicação da informação relativa a todo o projecto bem como a avaliação
das medidas implementadas, ou seja, do sucesso ou fracasso do projecto. Será portanto
importante a documentação do plano e dos resultados da monitorização para demonstrar que
foi elaborado, servir de suporte para acções posteriores, documentar pormenores que possam
ser esquecidos, fornecer informação viável e realista a novos participantes e informar os
decisores. Isto implica a gestão adaptativa dos stakeholders.

133
A gestão adaptativa do projecto de requalificação da zona de intervenção deve assim ter em
consideração os seguintes aspectos:
i) a alteração dos planos com base na percepção e resposta social e técnica e bem como
dos resultados da monitorização;
ii) considerar programas e políticas de restauração e projectos individuais como um
mecanismo de resposta-acção para a melhoria do desenho e planeamento do projecto
de requalificação;
iii) estabelecer avaliações anuais: utilizar os dados de monitorização ou outros dados
relevantes, corrigir acções ou definir opções alternativas e ter em conta os prazos da
monitorização para as correcções necessárias.

O importante é que os participantes e responsáveis pela requalificação devem estar dispostos


a reconhecer falhas e problemas bem como um insucesso do projecto, mas que ao mesmo
tempo possam aprender com este. Mesmo que o projecto falhe, acaba por fornecer resultados
experimentais valiosos que podem ser determinantes na elaboração de esforços futuros
noutros projectos semelhantes.

134
5. CAPÍTULO V – CONCLUSÕES

5.1. Discussão e considerações finais

A conservação, valorização e gestão ambiental dos rios e sistemas fluviais constituem na


actualidade, um importante desafio que importa ter em conta na gestão integrada dos
ecossistemas. A emergência da consciencialização da sociedade face aos problemas
ambientais veio questionar muitas das tendências seguidas na artificialização excessiva destes
sistemas naturais, bem como levantar preocupações pela observação de efeitos ou impactes
ecológicos e sociais decorrentes da regularização e canalização dos leitos dos rios e do
desaparecimento da vegetação ribeirinha.

A gestão integrada com base nas bacias hidrográficas, a qualidade ambiental dos recursos
hídricos, a conservação e manutenção dos sistemas naturais e a recuperação de sistemas
degradados por impactes antrópicos são temas cada vez mais estudados por parte da
comunidade científica, e a criação de estratégias inovadoras e requer o reforço da
interdisciplinaridade no ensino, investigação e implementação dos domínios que contribuem
para essas actuações. Neste sentido, a realização deste trabalho apresenta potencialidades e
limitações, tanto em termos teóricos como práticos.

O facto de se estar a estudar uma linha de água com um grande potencial paisagístico, tanto
em termos ecológicos com recreativos, é uma das grandes potencialidades do presente
trabalho. É urgente o desenvolvimento de metodologias e técnicas de recuperação e
requalificação de ecossistemas e o facto de surgirem oportunidades para este tipo de estudos
é fundamental para que sejam incentivados os técnicos, os cientistas, a população em geral e
os organismos administrativos.

Relativamente ao local de intervenção, é de referir que o projecto proposto pela Cascais


Natura é promissor e que a definição de um caso ou local de estudo de referência é
fundamental para a aplicação de metodologias, técnicas e projectos semelhantes noutros
locais do Concelho de Cascais. O estado ecológico das ribeiras do Concelho mostra a
necessidade urgente de agir em termos de conservação e valorização das zonas ribeirinhas,
por um lado devido à crescente pressão urbanística e aos potenciais efeitos das alterações
climáticas nos regimes hidrológicos e nos ecossistemas (tanto a nível local e regional), e por
outro devido ao valor acrescido pelo aumento do capital natural nestas zonas. Relativamente a

135
outros troços ribeirinhos do Concelho, a área de intervenção não tinha um estado tão
degradado, implicando uma proposta de requalificação “simples” e com intervenções
localizadas nas margens e planície aluvial e focalizadas da revitalização da vegetação.

Em relação ao projecto de requalificação do troço proposto, conclui-se que as medidas


apresentam um impacto ambiental reduzido e podem ser aplicadas noutros locais/projectos
semelhantes. A aplicação destas medidas visa fundamentalmente a melhoria dos
ecossistemas, conferindo-lhes uma capacidade de auto-sustentação mediante processos
naturais e com repercussões positivas sobre as características hidrológicas, geológicas, e
hidráulicas bem como sobre os valores florísticos e faunísticos do território. As intervenções
sugeridas proporcionam a melhoria das condições no solo, sobretudo em função da erosão,
que é o principal factor pelo lento e progressivo processo de enfraquecimento dos solos. Para
além deste aspecto, estas medidas visam a melhoria da paisagem baseadas nos princípios da
conectividade, continuidade, elasticidade, meandrização e a intensificação (da biodiversidade).
Assim, permitem o aumento da capacidade de adaptação dos recursos biológicos, o aumento
das interfaces dos vários elementos da paisagem (aumento de fluxos de energia, matéria e
organismos) e a optimização dos seus recursos.

A requalificação de ribeiras deve ter como base as características ecológicas dos sistemas
fluviais. A implementação das medidas propostas visa fundamentalmente a estrutura
curvilínea (quando aplicável), a conexão com os sistemas adjacentes, o favorecimento de
condições de refúgio e protecção para espécies, a existência de gradientes para o movimento
e circulação de espécies, os efeitos de orla/bordadura, de filtro e de barreira, o controlo do
desenvolvimento de plantas aquáticas por ensombramento da vegetação de margem e o
controlo da vegetação invasora pela promoção da vegetação autóctone e da cobertura verde.
Assim, o objectivo de obter uma riqueza e diversidade paisagística bem como a valorização
cénica da paisagem serão atingidos.

Analisando os efeitos que se poderão esperar após a implementação das medidas propostas,
nomeadamente a curto prazo, a estabilidade dos taludes e da vegetação será assegurada pelo
material inerte numa fase inicial. A médio e a longo prazo, o material vegetal vai assegurando
a estabilidade à medida que se vai desenvolvendo. Apesar desta capacidade, é importante
garantir alguma manutenção das estruturas e da vegetação, principalmente nos primeiros
anos.

No entanto, é de salientar que em Portugal existe uma enorme escassez deste tipo de estudos
ou sobre as temáticas abordadas no mesmo. Por esse motivo, salvo raras excepções, a maioria

136
da bibliografia utilizada na elaboração deste trabalho é estrangeira, pelo menos no que trata a
aspectos específicos como é o caso da aplicação de técnicas de engenharia natural. Este foi um
dos factores mais limitativos da elaboração da proposta de requalificação.

O facto de ser um estudo que engloba diversas temáticas foi limitativo no processo de
desenvolvimento de uma metodologia integrada e multidisciplinar. Para planear um projecto
de restauração são necessários conhecimentos ao nível da hidrologia, da geomorfologia, dos
sedimentos, da vegetação e dos habitats, da gestão de recursos hídricos, dos instrumentos
legislativos, das metodologias e técnicas existentes em termos de engenharia
natural/ecológica bem como da sua aplicação em termos de física e estrutura. Dado o tempo
limitado deste trabalho bem como dos objectivos definidos, é de prever que o presente estudo
não aborde certas temáticas que seriam fundamentais. Dada a natureza complexa dos
sistemas fluviais, salienta-se o estudo das características hidráulicas e dos regimes hidrológicos
do rio e, igualmente imprescindível, a compreensão dos mecanismos que influenciam a
estabilidade dos taludes (e.g. tipologias de transporte, características do material, velocidade
limite de transporte, tensão limite de erosão, limite do declive, entre outros).

Relativamente à metodologia utilizada, pretendeu-se adaptar uma metodologia padrão ou


base, completa e integrada, e optar por definir estrategicamente algumas das suas etapas e
procedimentos, garantindo para este trabalho um processo metodológico de requalificação
que abordasse as principais acções a considerar neste tipo de estudos. Importa referir que as
metodologias existentes na literatura acerca desta temática (restauração de ecossistemas,
restauração fluvial, requalificação fluvial, entre outras) são muitas, que variam consoante o
autor, o local e os objectivos dos estudos. O facto de não existir uma metodologia única pode
limitar o processo porque muitos procedimentos são relativos aos locais e condições em que
são feitos ou elaborados. Por exemplo, um plano de monitorização definido por uma
metodologia elaborada noutro país inclui parâmetros e frequências diferentes das estipuladas
para o nosso país, a nível legislativo e metodológico.

Relativamente à estimativa orçamental apresentada, é de referir que os custos médios podem


variar consoante as características da zona, da qualidade, quantidade e origem do material,
dos recursos humanos disponíveis, da necessidade de técnicos especializados e de formação
dos participantes bem como da criação de programas de voluntariado e da envolvência da
população. Deve-se considerar a utilização de materiais locais e se possível, reutilizados da
própria ribeira ou de zonas adjacentes. O facto de existirem poucos estudos (pelo menos
publicados) relativamente a projectos semelhantes em Portugal foi uma limitação para a

137
estimativa dos custos das medidas propostas. Existem muitos preços tabelados mas em países
onde estas práticas são muito aplicadas e existe legislação em vigor (Itália, Áustria, Alemanha).
Em Portugal, dos projectos de requalificação fluvial ou utilização de técnicas de bioengenharia,
pouco ou nada se sabe acerca dos custos associados.

Ainda sobre a questão orçamental, a principal ideia foi demonstrar sucintamente o custo de
investimento neste tipo de projectos, principalmente se os materiais inertes e vivos não forem
do local/região ou se não existir uma gestão integrada dos recursos naturais.

Um dos aspectos críticos foi a elaboração de um plano de plantação de árvores e do respectivo


custo de investimento associado. Os custos associados à obtenção de plantas provenientes de
diversas origens e consoante a espécie, o tipo de planta (árvore ou arbusto, raiz nua, planta
em vaso ou semente) e o tamanho permitem verificar a importância de uma gestão dos
recursos naturais das zonas a implementar este tipo de iniciativas. O facto da não existência de
um viveiro ou fornecedor próprio de plantas implica que o fornecimento das plantas seja
assegurado por viveiros exteriores (que muitas vezes se encontram longe) e que a garantia da
qualidade, da origem, da sobrevivência das plantas ou germinação da estacaria/sementes
esteja em causa. O preço das plantas varia significativamente consoante a origem, o tamanho
e o tipo (em vaso ou raiz nua), o que encarece muito os custos finais. Muitas das espécies nem
estão disponíveis neste tipo de mercado e quando disponíveis, é preciso considerar que são
plantas pequenas ou mesmo em semente, o que retarda o atingir dos objectivos. Neste
sentido, perante a criação de um caso de estudo de referência para a posterior requalificação
de outras zonas da bacia hidrográfica, é urgente a criação de um viveiro e de iniciar a recolha e
conservação das espécies existentes na região.

Fundamental na gestão florestal é o facto que a compra das plantas, seja árvore, arbusto ou
semente, acarreta sempre uma taxa de sobrevivência/germinação pelo que existe o risco de
nem todas as plantas crescerem. A manutenção a longo-prazo é portanto fundamental para
garantir que os objectivos sejam atingidos.

5.2. Recomendações e desenvolvimentos futuros

Uma gestão integrada do território implica que a unidade base – a bacia hidrográfica – seja
essencial para se integrar as bandas ripícolas como parte de uma paisagem influenciada pela
hidrologia como um todo. A intervenção local no troço considerado é apenas uma parte do
que se tem de fazer para a melhoria das condições ecológicas dos habitats ripícolas na região.

138
Por exemplo, certamente que noutros troços da ribeira, nomeadamente mais a jusante e nas
zonas mais urbanizadas, o tipo de intervenções terá que ser outro, incluindo a alteração da
forma do leito e a remeandrização dos troços canalizados e, portanto, a envolvência de
técnicos especializados e a criação de um grupo participativo. Para além disto, os aspectos
legislativos e de administração relativamente aos recursos hídricos implicam o estudo rigoroso
e a aplicação de responsabilidades no caso de ilegalidades ao longo do curso de água e zona
adjacente, principalmente devido à existência de vários instrumentos de gestão territorial
(REN, RAN, DPH, PMOT, entre outros). Por outro lado, a garantia da qualidade da água no
Concelho também implica uma gestão pró-activa e inovadora dos recursos hídricos e a
formação/sensibilização da população e das indústrias.

Assim, neste tipo de projectos, que implicam a envolvência de equipas multidisciplinares e em


que as acções afectam directa e indirectamente a população, as questões sociais e culturais
acabam por ser tão ou mais importantes que as questões ecológicas de conservação e/ou
requalificação. A percepção e a expectativa social acerca do estado dos ecossistemas
determinam se a restauração é uma opção viável em termos de gestão. A participação pública
neste tipo de decisões muitas vezes prioriza a recuperação dos ecossistemas e de como os
benefícios devem ser distribuídos. Assim, se as acções de restauração/requalificação forem
feitas de um modo integrado, as oportunidades e benefícios económicos aumentam, e
melhoram também os aspectos sociais, culturais e fisiológicos do bem-estar humano.

Assim, um dos maiores desafios à recuperação dos rios é a questão institucional e legislativa. É
importante o levantamento da estrutura fundiária para um melhor entendimento com os
proprietários locais, no sentido da sensibilização ao valor dos ecossistemas ribeirinhos, tanto a
nível regional como local. Apesar da maior parte dos rios se encontrar num estado de
degradação, estas condições podem favorecer os interesses económicos dos proprietários pelo
que qualquer plano/projecto poderá encontrar resistências e condicionantes. É fundamental
que à escala regional e local sejam envolvidos os proprietários e os agentes sociais e
económicos e este envolvimento deve ter como base a legislação e o planeamento e
ordenamento do uso do solo.

E para que todos os agentes estejam envolvidos nos processos de conservação e restauração
de ecossistemas, nomeadamente na restauração do estado ecológico das ribeiras e
consequentemente ao nível das suas bacias hidrográficas, é urgente a implementação e
divulgação do sucesso de projectos deste tipo. É necessário que as autarquias e técnicos
apliquem esforços prioritários de conservação e valorização dos ecossistemas, definindo locais

139
potenciais e críticos. As acções e medidas devem ser avaliadas e o sucesso ou fracasso deve ser
divulgado por parte de todos os agentes envolvidos, tendo em vista o conhecimento por parte
da sociedade.

5.3. Nota final

A incorporação de vegetação natural, na regularização e gestão fluvial, requer mais estudos,


compreensão e comunicação relativamente aos complexos processos ribeirinhos. A
necessidade de definir objectivos múltiplos de melhoria da qualidade da água, da regularização
do regime de caudais, da melhoria da estabilidade geomorfológica do leito, da protecção dos
habitats, da biodiversidade e dos valores sócio-culturais e estéticos, implica a criação de
equipas multidisciplinares e da participação activa da sociedade, a par da eliminação das
barreiras institucionais relativas a este tipo de abordagem.

As zonas ribeirinhas têm uma grande capacidade de atracção para fins recreativos o que
coloca a necessidade de prever a ocorrência de problemas de gestão, como sejam os conflitos
entre usos, a competição por recursos, a sobrecarga da procura, a segurança, a degradação da
qualidade estética da paisagem, principalmente em meio urbano ou na sua proximidade.

É preciso assegurar a compatibilização dos instrumentos e planos de ordenamento do


território e conservação da natureza, de forma a motivar os proprietários, a população, as
empresas e as indústrias directa e indirectamente envolvidas na afectação dos cursos de água
e sistemas ripários, contribuindo simultaneamente para o ordenamento do espaço rural ou
urbano e da paisagem.

Por força legislativa europeia, a todas estas necessidades de actuação, é acrescido o esforço
que a DQA obriga, entre outros objectivos, de assegurar o bom estado ecológico das águas
superficiais, o que implica a conservação dos ecossistemas em equilíbrio e a recuperação dos
degradados. Neste aspecto, para o cumprimento das disposições da DQA e, em paralelo, para
atingir as metas e objectivos definidos nos projectos de requalificação ribeirinha, surge a
importância da monitorização ecológica e da avaliação dos esforços da restauração, de modo a
verificar o sucesso ou fracasso das acções e desenvolver técnicas e metodologias inovadoras.
Esta gestão adaptativa é fundamental face à exigência de uma multidisciplinaridade e face à
escassez na publicação dos resultados a curto e longo prazo dos casos de estudo nesta área.

Neste sentido, é urgente prosseguir com uma articulação eficiente dos instrumentos de gestão
de ordenamento territorial, do desenvolvimento da investigação, do esforço da monitorização
e avaliação e do envolvimento e responsabilização mais efectivo dos diversos agentes
envolvidos e da sociedade.

140
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