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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE CIÊNCIAS NATURAIS

DEI-GEOLOGIA

MARCO PAULO NEVES DOS SANTOS CARLOS


(Nº 117130)

RECARGA DE AQUÍFEROS POUCO PROFUNDOS DE


ONDJIVA E ARREDORES

LUANDA

2021

I
MARCO PAULO NEVES DOS SANTOS CARLOS

RECARGA DE AQUÍFEROS POUCO PROFUNDOS DE


ONDJIVA E ARREDORES

Trabalho de Fim de Curso submetido ao


Departamento de Geologia da Faculdade de
Ciências Naturais da Universidade Agostinho
Neto para a obtenção do grau académico de
Licenciado em Geologia.

Área de concentração: Geologia Aplicada.

Orientador

Prof. Doutor Gabriel Luís Miguel

LUANDA

2021

II
Dedico este trabalho à minha família, em especial aos meus queridos avós,
António Camilo Nunes da Costa (in memoriam) e Maria de Lourdes Bartolomeu dos
Santos Carlos (in memoriam).

III
AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus por me guiar pelo bom caminho ao longo desta longa e
encantadora jornada, cheia de altos e baixos, onde, sem dúvida alguma, predominou
a esperança por dias melhores e a perseverança para o alcance de um sonho que
não termina com esta licenciatura; pelo contrário, abrem-se as portas para novas
oportunidades de aprendizado e realizações profissionais.

Aos meus queridos pais, Wladislau Carlos e Dilsa Neves, e ao meu irmão
António Carlos, meus pilares, pela educação e valores morais e cívicos transmitidos,
essenciais na interacção humana, que constitui um dos elementos fundamentais para
o sucesso na vida profissional. Agradecimentos extensivos à toda família, pela
convivência saudável, pela paciência e compreensão em virtude das minhas
ausências, e pelo incentivo contínuo que me permite sonhar mais alto e trabalhar em
prol das minhas aspirações.

À minha namorada, Daisy de Carvalho, aos meus amigos e colegas por todo o
apoio prestado nas horas de maior dificuldade ao longo desta jornada académica, pelo
companheirismo e solidariedade.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Gabriel Luís Miguel, primeiramente por notar em
mim o potencial subaproveitado e me desafiar diariamente a fazer diferente e melhor;
agradeço por todas as oportunidades a mim concedidas para integrar grupos de
investigações, por todas as capacitações profissionais, e por todos os outros aspectos
que moldaram a minha personalidade e que, devagar vão tornando realidade o perfil
profissional que preconizei para mim.

Aos meus professores Irina Miguel, Maria Pereira e Artur Freitas, que de forma
directa e indirecta contribuíram, cada um a seu nível, desde a fase de recolha
bibliográfica até ao domínio de metodologias e softwares integrados que
possibilitaram estruturar este Trabalho de Fim de Curso.

Ao Sr. Mário Teixeira Pires (consultor) e Sr. Anacleto Diogo (Meteorologista)


pelos seus contributos valiosos consubstanciados respectivamente na transferência
de conhecimentos relacionados ao domínio das ferramentas do Software Microsoft

IV
Office, em particular o Excel, amplamente utilizado para análises estatísticas deste
estudo, e no domínio de índices que permitem uma melhor interpretação das
características climáticas da área de estudo deste Trabalho.

Extensivos agradecimentos aos parceiros institucionais,- Governo Provincial do


Cunene; Gabinete para Administração das Bacias Hidrográficas do Cubango, Cunene e
Cuvelai – GABHIC; Centro Para Educação de Ciências da Terra e Sustentabilidade da
UAN – CESSAF; Reitoria da Universidade Mandume Ya Ndemufayo – UMN; Instituto
Nacional de Recursos Hídricos – INRH; Centro Nacional de Investigação Científica –
CNIC; e a Direcção da Empresa CFRL – Sociedade de Construção que desde o início
do planeamento dos trabalhos de campo, inseridos no âmbito da Expedição Científica
ao Cunene – 2021 mostraram-se engajados na promoção de estudos inter e
transdisciplinares dirigidos aos fenómenos hidrológicos extremos que ocorrem na
província do Cunene, em especial na porção abrangida pela Bacia Hidrográfica do
Cuvelai – Etosha.

À Direcção do Instituto Geológico de Angola – IGEO Laboratório Regional Sul, na


pessoa do seu Director Geral, Dr. Sivi Dia Lunda, pela realização das análises de iões
maioritários das amostras de águas recolhidas em Ondjiva e Arredores.

Aos Órgãos de Apoio ao Vice-presidente da República e ao Conselho Nacional


de Águas na pessoa do Digníssimo Secretário Dr. José Ambriz, que, dentre doze (12)
instituições às quais foram solicitados apoios financeiros para a liquidação da factura
referente às análises mencionadas no parágrafo anterior, foi a única que se
disponibilizou a patrocinar e tornar possível a caracterização química das águas
recolhidas na área de estudo.

À Direcção do Laboratório do Departamento de Saúde Ambiental do Instituto


Nacional de Investigação em Saúde – INIS, representado pelo Chefe do departamento
mencionado, Dr. Pembele, por permitir a realização das análises de iões maioritários
das réplicas das amostras de águas recolhidas em Ondjiva e Arredores de forma
gratuita.

À Direcção do Centro Nacional de Investigação Científica - CNIC, na pessoa


do seu Director Geral, Dr. Adérito Cunha e do seu técnico Eng. Muteb Ramang, por

V
respectivamente, permitir a realização das análises de isótopos estáveis das amostras
de águas recolhidas, e por ensinar e monitorar todo o processo através de um curso
com duração de trinta (30) dias, de forma gratuita.

À Direcção do Laboratório de Geotecnia PRONGILA, na pessoa do seu Director


Geral, Eng. Quintino Vinevala, e às Geólogas Carla de Aguiar e Rosa Ngolo, por ter
concedido a oportunidade de realização dos ensaios geotécnicos das amostras de
solos recolhidos em Ondjiva e Arredores, de forma gratuita, e pelo facto de terem
permitido que um estudante sem experiência laboratorial em geotecnia e afins, como
eu, pudesse experimentar novas rotinas que certamente enriqueceu os meus
conhecimentos e despertou em mim o senso de responsabilidade e trabalho em
equipa.

Agradeço também ao Dr. Aleix Capdevilla, especialista e ponto focal do sector


das águas do Banco Mundial em Angola, pela grande oportunidade de me permitir
participar na Expedição Científica ao Cunene realizada em 2019, a qual foi crucial
para a definição do rumo que actualmente percorro.

À Comissão Nacional de Angola para a UNESCO – CNU/Angola, na pessoa do


seu Secretário Permanente, MSc. Alexandre Costa, por todo o suporte e
oportunidades únicas de formações técnicas internacionais e pelos contactos
mantidos com representantes a nível da UNESCO para os Programas das
Geociências e afins.

Aos Administradores comunais, aos Padres Católicos das Casas de Missão das
diferentes localidades de Ondjiva e Arredores, e à população em geral da área de
estudo, pela disponibilidade no esclarecimento de aspectos históricos que muito se
relacionam com a cultura da água das comunidades locais e tornaram possível
inclusive a conceptualização do Projecto EFUNDJA.

VI
‘’Quem semeia entre lágrimas, colherá com alegria’’

- Salmo 126, 5

VII
ÍNDICE

LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIAÇÕES ........................................ XVI


RESUMO.............................................................................................. XX
ABSTRACT ......................................................................................... XXI
1. INTRODUÇÃO ............................................................................... 1
1.1 Problema........................................................................................ 3
1.2 Objectivo Geral .............................................................................. 3
1.3 Objectivos Específicos ................................................................... 4
1.4 Hipótese ......................................................................................... 4
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................... 5
3. METODOLOGIA ............................................................................ 8
4. RESULTADOS ESPERADOS ...................................................... 25
5. PRODUTOS E SERVIÇOS .......................................................... 25
6. ENQUADRAMENTO DA ÁREA DE ESTUDO .............................. 26
6.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA ...................................................... 26

6.1.1 Acessos e Demografia ............................................................................. 28

6.2 CLIMA ............................................................................................ 31


6.3 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ................................................ 37
6.4 SOLOS E VEGETAÇÃO .............................................................. 44
7. INFILTRAÇÃO EFICAZ E RECARGA DOS AQUÍFEROS POUCO
PROFUNDOS ...................................................................................... 56
7.1 Ferramentas de Gestão de Recarga de Aquíferos (MAR – Solutions)
58
8. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................. 60
8.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA SIMPLES DOS PONTOS
INVENTARIADOS ................................................................................ 60
8.2 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E HIDROGEOLÓGICA
PRELIMINAR DA ÁREA DE ESTUDO ................................................. 64

VIII
8.3 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DAS AMOSTRAS DE SOLOS
RECOLHIDAS EM ONDJIVA E ARREDORES ..................................... 68
8.4 DETERMINAÇÃO DA ORIGEM DAS AMOSTRAS DE ÁGUAS
ATRAVÉS DA ANÁLISE DE ISÓTOPOS ESTÁVEIS ........................... 82
8.5 CLASSIFICAÇÃO HIDROQUÍMICA DAS AMOSTRAS DE ÁGUAS
RECOLHIDAS EM ONDJIVA E ARREDORES ..................................... 87
8.6 CÁLCULO DA RECARGA EFECTIVA COM BASE NO BALANÇO
HÍDRICO MENSAL DO SOLO ............................................................. 94
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 104
10. RECOMENDAÇÕES .................................................................. 106
REFERÊNCIAS .................................................................................. 108
ANEXOS ............................................................................................ 111
ANEXO A: FÓRMULAS MATEMÁTICAS UTILIZADAS PARA
DIFERENTES CÁLCULOS................................................................. 111
ANEXO B: RESULTADOS DAS ANÁLISES DE IÕES MAIORITÁRIOS
EFECTUADAS PELO IGEO ............................................................... 113
ANEXO C: RESULTADOS DAS ANÁLISES DOS ISÓTOPOS 2H E 18O
EFECTUADAS PELO CNIC ............................................................... 116
ANEXO D: BOLETINS MODELOS DOS ENSAIOS DE ANÁLISE
GRANULOMÉTRICA DAS AMOSTRAS DE SOLOS ......................... 117
ANEXO E: BOLETIM MODELO DO ENSAIO DE PROCTOR NORMAL
119
ANEXO F: BOLETINS MODELO DO ENSAIO DE PERMEABILIDADE
POR CARGA CONSTANTE ............................................................... 120

IX
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Parte da equipa do trabalho de campo da expedição científica realizada no


Cunene (Julho, 2019). Fonte: Water Security and Drought Resilience in the South of
Angola ......................................................................................................................... 1

Figura 2 - Chimpaca seca, utilizada para o abastecimento comunitário e


abeberamento de gado. .............................................................................................. 3

Figura 3 - Comunidade vulnerável em busca de água para consumo diário (Ondjiva,


Cunene)....................................................................................................................... 5

Figura 4 - Esboço dos principais sistemas aquíferos. ASD- Aquífero Superficial


Descontínuo; APPP -Aquífero Pouco Profundo Principal; APP - Aquífero Profundo
Principal; AMP - Aquífero Muito Profundo. Fonte: SINFIC, 2005. ............................... 8

Figura 5 - Portal do CHRS - apresentação dos dados de precipitação referentes à data


01/01/1983 na área de estudo................................................................................... 12

Figura 6 - Recolha de dados de precipitação diária pelo satélite TRMM através do


Portal Giovanni - NASA ............................................................................................. 13

Figura 7 - Dados da Estação climática de Onjiva - SASSCAL WeatherNet. ............. 14

Figura 8 - Mapa Geológico de Síntese do Bloco UTE-6. Fonte: PLANAGEO, 2019 . 15

Figura 9 - MDE de Ondjiva e Arredores. ................................................................... 16

Figura 10 - Equipa de Trabalho de reconhecimento de campo. ................................ 17

Figura 11 - Realização do Ensaio de Determinação da Massa Específica Aparente do


Solo em Seco. ........................................................................................................... 20

Figura 12 - Localização Geográfica da Área de Estudo. ........................................... 27

Figura 13 - Ligações Viárias mais significativas na província do Cunene. Fonte: Plano


de Urbanização da Cidade de Ondjiva - Caracterização Urbana (SINFIC, 2005) ..... 29

X
Figura 14 - Cidade de Ondjiva distribuída por Bairros. Fonte: Plano Urbanistíco da
Cidade de Ondjiva Vol. III (SINFIC, 2005) ................................................................. 30

Figura 15 - Distribuição Geográfica do Clima Semi-Árido (Classificação climática de


Koopen-Geiger). Fonte: Wikipédia ............................................................................ 31

Figura 16 - Distribuição espacial da precipitação na Bacia Hidrográfica do Cuvelai-


Etosha. Fonte: BGR .................................................................................................. 32

Figura 17 - Quantitativos pluviométricos por estação húmida (Pereira D’Eça / Ondjiva


- 1937-74). Fonte: SINFIC, 2005 ............................................................................... 33

Figura 18 - Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva, p.59, 60). Fonte: Plano de


Urbanização da Cidade de Ondjiva, p. 60.) ............................................................... 34

Figura 19 - Mapa geológico da Bacia Hidrográfica do Cuvelai-Etosha. Fonte: Dill et al.


2012 .......................................................................................................................... 37

Figura 20 - Mapa Geológico da área de estudo. ....................................................... 39

Figura 21 - Modelo Numérico de Terreno de Ondjiva e Arredores apresentando a


distribuição da elevação da área de estudo (em metros). ......................................... 40

Figura 22 - Principais Feições Morfológicas da área de estudo. Fonte: Mendhelson,


2000. ......................................................................................................................... 41

Figura 23 - - Principais feições morfológicas da área de estudo vistas através de


imagem satélite. ........................................................................................................ 42

Figura 24 - Diferença entre as Chanas e Mufitos. ..................................................... 43

Figura 25 - Mapa de Declividade da área de estudo (dado em percentagem - %). .. 44

Figura 26 - Solos predominantemente silto-argilosos de origem fluvial, relacionados


com a drenagem endorreica do rio Cuvelai. .............................................................. 45

Figura 27 - Solos predominantemente arenosos relacionados com a sequência


litoestratigráfica superficial do Grupo Kalahari. ......................................................... 45

XI
Figura 28 - Colophospermum mopane. Fonte: wikipedia .......................................... 47

Figura 29 - Loclização espacial do limite entre os regimes do rio Cuvelai. Mapa


Hipsométrico da Bacia Hidrográfica do Cuvelai. Fonte: SINFIC, 2005. ..................... 50

Figura 30 - Limites da Bacia Hidrográfica do Cuvelai-Etosha. Fonte Luetkmeier et. all,


2017 .......................................................................................................................... 51

Figura 31 - Mapa de Direcção de Fluxo. ................................................................... 52

Figura 32 - Limites da Província Hidrogeológica Delta Cuvelai-Mui-Pereira D'Eça-


Namacunde Marques, 1966). Fonte: SINFIC, 2005. ................................................. 54

Figura 33 - Distribuição dos principais Sitemas Aquíferos da Área de Estud, com


individualização dos Aquíferos Suspensos e Pouco Profundo Principal. Fonte: SINFIC,
2005. ......................................................................................................................... 55

Figura 34 - Esquema das tipologias de recarga (Modificado de Vries & Simmers 2002).
Fonte: Freitas, 2010. ................................................................................................. 57

Figura 35 - Distribuição geoespacial de Pontos de Água inventariados em Ondjiva e


Arredores................................................................................................................... 60

Figura 36 - Distribuição dos pontos de águas inventariados. .................................... 61

Figura 37 - Amostras de águas recolhidas em Ondjiva e Arredores. ........................ 62

Figura 38 - Amostras de solos recolhidos em Ondjiva e Arredores. .......................... 63

Figura 39 - Afloramento AQ4-9 e sua caracterização de detalhe. ............................. 65

Figura 40 - Conglomerados basais. Evidenciais de Desconformidade entre Base e


Topo do AQ4-9. ......................................................................................................... 66

Figura 41 - Zona de extração de inertes AQ2-25, com 23 cacimbas e suas estruturas.


.................................................................................................................................. 67

Figura 42 - Imagem satélite da área de estudo que demonstra a distribuição espacial


das semelhanças geológicas entre os quadrantes da área de estudo. ..................... 68

XII
Figura 43 – Ensaio de Compactação leve em molde pequeno (Proctor Normal). ..... 70

Figura 44 – Concha de Casagrande para a realização do ensaio de determinação dos


Limites de Consistência dos solos. ........................................................................... 70

Figura 45 – Ensaio de Determinação da Densidade Relativa das Partículas Sólidas.


.................................................................................................................................. 70

Figura 46 - Permeâmetros de Carga Constante e Variável. ...................................... 70

Figura 47 - Análise granulométrica por Sedimentação.............................................. 73

Figura 48 - Classificação textural segundo Ferret das amostras de solos recolhidas


em Ondjiva e Arredores. ........................................................................................... 74

Figura 49 - Curvas granulométricas das amostras de solos recolhidas em Ondjiva e


Arredores, produzidas pelo Software Grapher. ......................................................... 76

Figura 50 – Classificação textural das amostras de solos segundo USDA. .............. 77

Figura 51 - Permeâmetro de Carga Constante indicado a vermelho. ....................... 79

Figura 52 - Solo compactado após o término do ensaio de determinação da


permeabilidade. ......................................................................................................... 81

Figura 53 - Liquid Water Isotope Analyser - Los Gatos Research............................. 83

Figura 54 - Preparação das soluções padrão e amostras de águas recolhidas em


Ondjiva e Arredores. ................................................................................................. 85

Figura 55 - Software QUALIGRAF ............................................................................ 88

Figura 56 - Distribuição das 12 amostras de águas pelo Diagrama SAR e classificação


quanto ao risco de salinização. ................................................................................. 93

Figura 57 - Gráfico de Número de Curvas de Escoamento padrão segundo o SCS.


Linha vermelha (condição I); Linha amarela (condição II); Linha azul (condição III).
Fonte: Soil Conservation Services. ......................................................................... 101

XIII
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Descriminação dos Ensaios geotécnicos realizados em laboratório e


respectivas normas utilizadas. .................................................................................. 21

Tabela 2 - Características dos principais agrupamentos de solos regionais. Fonte:


SINFIC, 2005............................................................................................................. 46

Tabela 3 - Principais Comunidades Vegetacionais de Ondjiva e Arredores. Fonte:


SINFIC, 2005............................................................................................................. 48

Tabela 4 - Informação sobre as zonas de extração de inertes utilizadas para o


levantamento geológico. ........................................................................................... 64

Tabela 5 - Equipamentos utilizados para a realização dos ensaios geotécnicos no


Laboratório PRON'GILA ............................................................................................ 69

Tabela 6 - Descriminação do tipo de ensaio realizado por cada amostra ................. 71

Tabela 7 - Amostras submetidas ao ensaio de Determinação do Coeficiente médio de


Permeabilidade. ........................................................................................................ 78

Tabela 8 - Classificação das amostras de solos quanto ao grau de permeabilidade.


.................................................................................................................................. 80

Tabela 9 - Lista de amostras de águas submetidas à análise de isótopos estáveis . 82

Tabela 10 - Lista de amostras de águas analisadas em laboratório e classificadas


quanto à potabilidade ................................................................................................ 90

Tabela 11 - Dados utilizados na construção do gráfico SAR e distribuição por classes.


.................................................................................................................................. 93

Tabela 12 - Planilha de cálculo da Evapotranspiração corrigida utilizando o método de


Thornthwate & Mather (1955).................................................................................... 96

Tabela 13 - Planilha de realização do Balanço Hídrico mensal do solo .................... 99

Tabela 14 - Cálculo da Infiltração eficaz. ................................................................ 102

XIV
ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição da Precipitação pela série de 37 anos hidrológicos. laranja:


anos secos; Verde: anos regulares; azul: anos húmidos. ......................................... 36

Gráfico 2 - Estatística simples referente à classificação Unificada de Solos das


amostras recolhidas em Ondjiva e Arredores. ........................................................... 76

Gráfico 3 - Estatística simples referente à classificação Highway Research Board


(HBR) das amostras recolhidas em Ondjiva e Arredores. ......................................... 76

Gráfico 4 - Leitura do Teor óptimo de água através da Curva de Compactação da


amostra AQ4-9 (2)..................................................................................................... 81

Gráfico 5 - Resultado das análises de isótopos estáveis das amostras de águas na


recta meteórica mundial. ........................................................................................... 86

Gráfico 6 - Distribuição do risco de salinização dos solos por irrigação com base nas
amostras de águas recolhidas em Ondjiva e Arredores. ........................................... 94

Gráfico 7 - Balanço hídrico mensal do solo do ano hidrológico mais húmido da série
considerada - 2010/2011 - com uma Retenção máxima de 6,30mm ...................... 100

XV
LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIAÇÕES

AASHTO – American Association of CESSAF - Centro Para Educação de


State Highway and Transportation Ciências da Terra e Sustentabilidade da
Officials (Associação Americana de UAN
Oficiais de Auto-Estradas e
CNIC – Centro Nacional de
Transportes do Estado)
Investigação Científica
ABNT - Associação Brasileira de
CMB – Chloride-mass Balance
Normas Técnicas
(Balanço de Massa de Cloretos)
AMP - Aquífero Muito Profundo
CTN - Centro Tecnológico Nacional
Principal
DEI - Departamento de Ensino e
APP – Aquífero Profundo Principal
Investigação
APPP - Aquífero Pouco Profundo
ET - Evapotranspiração
Principal
ETP – Evapotranspiração Potencial
ASD – Aquíferos Suspensos
Descontínuos ETP corr- Evapotranspiração Potencial
corrigida
ASTM – American Society for Testing
and Materials (Associação Americana ETP sem corr - Evapotranspiração
para Testagem e Materiais) Potencial sem correcção

BALSEQ - Balanço Hídrico Sequencial ETR – Evapotranspiração Real


Diário
GABHIC - Gabinete para Administração
Cc – Capacidade de Campo das Bacias Hidrográficas do Cubango,
Cunene e Cuvelai
CDR - Climate Data Record (Registo de
dados climáticos) GLDAS - Global Land Data
Assimilation System (Sistema Global
CEB – Cuvelai-Etosha Basin (Bacia do
de Assimilação de Dados Terrestres)
Cuvelai-Etosha

XVI
GPCP- Precipitation Climatology NASA - National Aeronautics and
Project (Projecto climatológico de Space Administration (Administração
Precipitação) Nacional de Aeronáutica e Espaço)

i - Índice de insolação de Thornthwaite NC – Número de Curva

Ie - Infiltração eficaz NE- Nordeste

IGEO – Instituto Geológico de Angola OMS – Organização Mundial da Saúde

INAMET - Instituto Nacional de ONU – Organização das Nações


Meteorologia e Geofísica Unidas

INE – Instituto Nacional de Estatística P - Precipitação

INEA – Instituto Nacional de Estradas PERSIANN - Precipitation Estimation


de Angola from Remotely Sensed Information
using Artificial Neural Networks
INIS – Instituto Nacional de
(Estimativa de Precipitação a partir de
Investigação em Saúde
Informação Sensível à Distância

ISPT - Instituto Superior Politécnico da usando Redes Neuronais Artificiais)

Tundavala
PLANAGEO - Plano Nacional de

KHO-1 – Aquífero Regional Geologia


Ohangwena 1
PMP – Ponto de Murcha Permanente
KHO-2 - Aquífero Regional Ohangwena
Rc - Recursos renováveis
2
Rd- Recarga directa
LNEC - Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (Lisboa, Portugal) Ri - Recarga indirecta

MAR – Managed Aquifer Recarge Rl - Recarga localizada


(Gestão de Recargas de Aquíferos)
Rmáx - Reserva máxima
MDE – Modelo Digital de Elevação
Rp - Recarga potencial

XVII
Rr - Recarga real SW-SM – Areia bem graduada com
silte
SADC- Southern African Development
Community (Comunidade de TDS – Total Dissolved Solid (Total de
Desenvolvimento da África Austral) Sólidos Dissolvidos)

SAR - Sodium Absorption Ratio (Razão TFC – Trabalho de Fim de Curso


de Absorção de Sódio)
TRMM - The Tropical Rainfall
SASSCAL – Southern African Science Measuring Mission (A Missão de
Service Centre for Climate Change and Medição da Chuva Tropical)
Adaptive Land Management (Centro de
UAN – Universidade Agostinho Neto
Serviços Científicos da África Austral
para Mudança Climática e Gestão UCI – university of California, irvine
Adaptativa de Solos) (Universidade da Califórnia, Irvine)

SC – Areia Argilosa UMN – Universidade Mandume Ya


Ndemufayo
SCS – Soil Conservation Services
(Serviços de Conservação de Solos) UNESCO – United Nations for
Education, Science and Culture
SIG – Sistema de Informação
Organization (Organização das Nações
Geográfica
Unidas para a Educação, Ciência e
SM- Areia Siltosa Cultura)

SP – Areia mal graduada USDA – United States Department of


Agriculture (Departamento de
Sp - Superfície útil para infiltração
Agricultura dos Estados Unidos)
SRTM – Shuttle Radar Topography
USGS- United States Geological
Mission (Missão de Topográfica de
Survey (Serviços Geológicos dos
Radar de Vaivém)
Estados Unidos da América)
SUCS – Sistema Unificado de
USSL- United States Salinity
Classificação de Solos
Laboratory (Laboratório de Salinidade
SW- Sudoeste dos Estados Unidos da América)

XVIII
VSLAP - Standard Light Antarctic WEF – World Economic Forum (Fórum
Precipitation (Precipitação Antárctica Económico Mundial)
Ligeira Padrão)

VSMOW - Vienna Standard Mean


Ocean Water (Água Média Oceânica
Padrão de Viena)

XIX
RESUMO

O deficiente e desactualizado conhecimento hidrogeológico de Ondjiva e Arredores


limita a efectiva caracterização dos aquíferos pouco profundos, condicionando a
elaboração de um plano estratégico que visa a realização de recargas subterrâneas
induzidas. Este estudo consiste na caracterização do processo de recarga dos
referidos aquíferos. Situada no Sul semi-árido de Angola, Ondjiva e Arredores
vivenciou em 1999/2000 um dos mais severos episódios de seca dos últimos 37 anos
hidrológicos (1983/1984- 2019/2020), com média de precipitação de 465mm, 2,5
vezes inferior comparado com o ano mais húmido – 2010/2011, com média de
1182,2mm. Propusemo-nos integrar metodologias inovadoras, combinando dados
dos 37 anos hidrológicos obtidos por sensoriamento remoto; levantamento geológico
com inventário de 162 pontos de águas, dos quais 40% são captações de águas
subterrâneas, numa extensão de 15.112,5km2; Balanço Hídrico mensal –
Thornthwaite & Mather (1955); análises isotópicas e de iões maioritários dentre um
total de 25 amostras de águas; ensaios geotécnicos em 13 amostras de solos, obtendo
valores de permeabilidade entre 2,63m/d e 0,039m/d, e recarga máxima de
396,5mm/ano, obtida no ano mais húmido da série, que se processa de forma
episódica por 15 anos húmidos, de origem pluviométrica, onde as águas sofrem
fraccionamento isotópico por evaporação antes de recarregarem os aquíferos, que
litologicamente são constituídos por areias siltosas e arenitos calcários. Cerca de 42%
de 12 amostras de águas apresentam grau moderado de risco de salinização dos
solos e dos aquíferos da região, quando utilizadas para irrigação, sendo o Ca++ o que
mais participa nas reacções químicas, com média de 12,19meq/L.

Palavras-chave: Recarga Pluviométrica, Aquíferos Pouco Profundos, Ondjiva e


Arredores, Balanço hídrico mensal.

XX
ABSTRACT

The deficient and outdated hydrogeological knowledge of Ondjiva and surroundings


restricts the effective characterization of shallow aquifers, conditioning the elaboration
of a strategic plan that aims to realize induced groundwater recharge. This study
consists on the characterization of the recharge process of these aquifers. Located in
the semi-arid south of Angola, Ondjiva and surroundings experienced in 1999/2000
one of the most severe drought episodes of the last 37 hydrological years (1983/1984-
2019/2020), with average precipitation of 465mm, 2.5 times less compared to the
wettest year - 2010/2011, with average of 1182.2mm. We proposed to integrate
innovative methodologies, combining data from 37 hydrological years obtained by
remote sensing; geological survey with inventory of 162 water points, of which 40%
are groundwater abstractions, in an extension of 15,112.5km2; monthly water balance
- Thornthwaite & Mather (1955); isotopic and major ion analyses among a total of 25
water samples; geotechnical tests in 13 soil samples, obtaining permeability values
between 2.63m/d and 0.039m/d, and maximum recharge of 396,5mm/year, obtained
in the wettest year of the series, which is episodic for 15 wet years, of rainfall origin,
where the waters suffer isotopic fractionation by evaporation before recharging the
aquifers, which lithologically are composed of silty sands and calcareous sandstones.
About 42% of 12 water samples present a moderate degree of risk of salinization of
the soils and aquifers of the region, when used for irrigation, with Ca++ being the most
involved in the chemical reactions, with an average of 12.19meq/L.

Keywords: Rainfall Recharge, Shallow Aquifers, Ondjiva and Surroundings, Monthly


Water Balance.

XXI
1. INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Fim de Curso “TFC” para obtenção do grau académico


de Licenciado em Geologia (opção Geologia Aplicada) surge na sequência de estudos
previamente desenvolvidos pelo autor aquando da sua participação na Expedição
Científica realizada na Província do Cunene em 2019, mais especificamente nas
comunas abrangidas pela Bacia Hidrográfica do Cuvelai-Etosha.

A referida expedição está inserida no âmbito do Programa de Caracterização


e Priorização de Intervenção da Resiliência à Seca no Sul de Angola, cuja equipa
responsável pelo trabalho de campo foi constituída por consultores especializados em
Geologia, Hidrogeologia e Engenharia Ambiental, provenientes de instituições
nacionais, nomeadamente, o Gabinete para a Administração das Bacias Hidrográficas
do Cunene, Cubango e Cuvelai –GABHIC, Faculdade de Ciências Naturais da
Universidade Agostinho Neto –UAN e o Instituto Superior Politécnico da Tundavala -
ISPT, liderada pelo Banco Mundial, conforme se observa na Figura 1. Desta, resultou
a apresentação pública do Relatório técnico-científico, elaborado pelo autor, em
representação da Faculdade de Ciências Naturais da UAN referente à etapa de
inventariação de pontos de água e interpretações afins.

Figura 1 - Parte da equipa do trabalho de campo da expedição científica realizada no Cunene (Julho, 2019).
Fonte: Water Security and Drought Resilience in the South of Angola

1
Fruto desta experiência foi possível constatar, in loco, que a carência de
trabalhos actualizados referentes aos estudos hidrogeológicos da cidade de Ondjiva
e Arredores, assim como a diminuta, dispersa e muitas vezes infundada informação
técnico-científica necessária para a garantia do êxito das actividades de prospecção,
pesquisa e exploração de águas subterrâneas e sua gestão integrada, constituem
obstáculos para a aplicação eficaz, segura e sustentável de metodologias que visam
o armazenamento subterrâneo das águas superficiais, disponíveis durante os
episódios cíclicos de inundações e/ou alagamentos, servindo como fonte alternativa
para o abastecimento comunitário durante os períodos de seca.

Segundo o Relatório de Avaliação Rápida dos Recursos Hídricos e Uso da


Água para Angola (Sweco-Groner, 2005), o país possui uma rede hidrográfica rica e
diversificada, com uma drenagem total calculada de aproximadamente 140 Km3, e
insere-se no ranking das drenagens mais elevadas da África Austral, com 83 rios
principais, 47 Bacias Hidrográficas principais e 30 Sub-Bacias; todavia, o referido
documento não faz menção aos recursos hídricos subterrâneos na sua análise. No
entanto, estudos mais recentes, elaborados por via de solicitações do Instituto
Nacional de Recursos Hídricos indicaram a existência de 1100 rios de diferentes
ordens, sendo necessária a sua contínua inventariação e actualização.

Pese embora a sua rica densidade hidrográfica, as províncias da região Sul de


Angola, em particular a província do Cunene, é a mais afectada pelos fenómenos de
secas e inundações sazonais, num contexto em que as mudanças globais,
consubstanciadas nas alterações climáticas, aumento demográfico e o surgimento de
novas áreas urbanas e consequentes assentamentos urbanos desgovernados, têm
forte influência na quantidade, qualidade e distribuição da água cada vez mais
irregular, no tempo e no espaço.

Do ponto de vista hidrológico, a seca vivida entre os anos 2015 e 2019 foi
considerada como o episódio mais seco e severo dos últimos 35 anos (Figura 2). Tal
situação afectou a qualidade de vida de 2,3 milhões de habitantes das províncias da
Huíla, Namibe e Cunene e favoreceu o desemprego, uma vez que a criação de gado
bovino constitui a principal actividade económica da região Sul, e com a seca, 72 mil
cabeças de gado, referentes à província do Cunene, pereceram (ONU News, 2019).

2
Figura 2 - Chimpaca seca, utilizada para o abastecimento comunitário e abeberamento de gado.

No entanto, a chegada da época das chuvas intensas e consequentes


inundações constitui igualmente motivo de grande preocupação devido aos problemas
provocados, tais como a descaracterização de infraestruturas urbanas e campos
agrícolas da região.

1.1 Problema

A impossibilidade de elaboração de um plano estratégico vocacionado para a


realização de recargas subterrâneas induzidas, utilizando as águas superficiais
disponíveis durante os períodos de cheias, em virtude da escassa, infundada,
dispersa e desactualizada informação hidrogeológica nativa de Ondjiva e Arredores.

1.2 Objectivo Geral

Caracterizar o fenómeno de recarga de origem pluviométrica dos Aquíferos


Pouco Profundos de Ondjiva e Arredores.

3
1.3 Objectivos Específicos

1.3.1 Analisar o histórico pluviométrico da área de estudo;


1.3.2 Realizar balanços hídricos mensais do solo da área de estudo;
1.3.3 Determinar as características geotécnicas das formações geológicas
representativas da área de estudo;
1.3.4 Aferir a origem das águas disponíveis para a recarga efectiva dos
aquíferos pouco profundos;

1.4 Hipótese

A caracterização do processo de recarga pluviométrica dos aquíferos pouco


profundos de Ondjiva e Arredores através de um conjunto de metodologias
consubstanciadas na recolha de informações disponíveis nas bases de dados de
satélites, trabalhos de campo, ensaios laboratoriais e aplicação de modelos
matemáticos, servirá de base científica para a compreensão do processo de recarga
natural e estimativa de reservas subterrâneas, e concepção de modelos de recarga
induzida, fazendo recurso às águas superficiais disponíveis durante os episódios de
inundações e alagamentos, para o aumento das reservas subterrâneas, garantindo o
controle de inundações, o abastecimento comunitário em épocas de secas e a
resiliência aos eventos hidrológicos extremos que ocorrem na área de estudo.

A semelhança do que acontece noutras regiões áridas e semi-áridas, espera-


se que as recargas de origem pluviométrica sejam de tipo episódicas, centradas nos
anos tipicamente húmidos da série hidrológica considerada.

4
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Desde meados do século XX, têm sido observadas mudanças significativas na


intensidade e na frequência de eventos climáticos extremos, expondo as
comunidades, com frequência cada vez maior, à ocasiões de crise em virtude da
distribuição irregular da água, no tempo e no espaço (Figura 3).

Figura 3 - Comunidade vulnerável em busca de água para consumo diário (Ondjiva, Cunene).

Os programas de intervenção para a redução dos efeitos indesejados


resultantes dos fenómenos hidrológicos extremos que afectam a área de estudo têm
sido desenvolvidos desde muito antes de 1975, uma época em que a gestão integrada
dos recursos hídricos de Ondjiva e Arredores já constituía motivo de especial atenção
em fóruns científicos nacionais e internacionais, onde inclusive no ano 1964 já haviam
propostas para implementação de sistemas de recarga induzida nos aquíferos pouco
profundos da região, porém muito pouco se conhecia sobre as suas características
hidráulicas.

Segundo Marques (1966), na sua Notícia Explicativa resultante de


investigações inseridas no âmbito do Plano de Coordenação para o Abastecimento
de Águas às Regiões Pastoris do Sul de Angola, em colaboração com a Brigada de

5
Geofísica do Laboratório Nacional de Engenharia Civil – LNEC (Lisboa, Portugal),
identificou e caracterizou o que denominou por Província Hidrogeológica Cuvelai-Mui-
Pereira D’Eça-Namacunde, fazendo recurso à dados hidrogeológicos de poços, e de
campanhas de sondagens eléctricas verticais.

A referida Província Hidrogeológica abrange uma área de cerca de 2000 Km 2


e corresponde aos postos administrativos de Pereira D’Eça, actual cidade de Ondjiva;
Namacunde, e parte de Melunga, actual comuna do Chiedi. Este sistema é constituído
pelo grupo de aquíferos mais superficiais, com profundidades de até a 30 m, formado
por todas as chanas que escoam água das cheias dos cursos endorreicos Mui e
Cuvelai até à Baixa do Etosha, que representa o exutório da Bacia Hidrográfica do
Cuvelai-Etosha, onde se insere a área de estudo.

Segundo projecções concebidas por Hirabayashi et al. (2013) e Trenberth et al.


(2014), eventos extremos de precipitação tornar-se-ão mais intensos e frequentes em
muitas regiões do mundo; todavia, ondas de calor ocorrerão com mais frequência e
terão mais impacto sobre a dinâmica terrestre, ocasionando fenómenos catastróficos
de secas e inundações, sendo considerados desde 2014 pelo Fórum Económico
Mundial como o primeiro ou segundo risco mundial com maior probabilidade de
ocorrência no mundo.

Durante muitos anos pensava-se que as inundações que ocorrem de forma


cíclica na cidade de Ondjiva e Arredores tinham a sua origem na subida das águas do
rio Cunene, que transbordavam pela vasta superfície aplanada do Cuanhama.
Somente após serem realizados trabalhos de levantamento topográfico relativamente
mais recentes é que foi definitivamente comprovado que as cheias regionais eram
exclusivamente originadas dentro da bacia hidrográfica do Cuvelai-Etosha através dos
grandes caudais gerados à montante.

Com base em levantamentos geológicos de campo, Marques (1966) concluiu


que os grés argilo-calcários de coloração branca, também chamados de grés
aquíferos lavados, localizados na base da sequência aluvionar das chanas,
constituíam a única formação com requisitos necessários para o armazenamento e
transmissão de água subterrânea a baixas profundidades. Este apresenta-se em

6
forma lenticular e com extensão meandrizada, ora contínuos, ora interrompidos, os
quais hidraulicamente comportam-se como aquíferos confinados à semi-confinados.

Os ensaios de laboratório produzidos pelo autor supracitado permitiu concluir


que somente precipitações superiores a 35 mm têm influência notável na recarga
deste sistema aquífero, e este fenómeno processa-se ao longo dos contactos entre
as vertentes das chanas com o seu preenchimento aluvionar; esta feição morfológica
é localmente denominada por Mahenene. O mesmo afirma ainda que somente após
30 a 40 dias do primeiro evento de precipitação da estação chuvosa é que se verifica
a primeira subida do nível estático, pois parte da água é utilizada para suprir o défice
hídrico do solo, e só depois desta primeira fase é que o tempo de infiltração reduz
para cerca de 13 a 17 dias até atingir a zona saturada, supondo que a permeabilidade
seja de 1m/d.

Fontes como Chirstelis e Struckmeier (2001), mencionam a existência de


quatro unidades aquíferas que abrangem a área de estudo, sem que se faça
referência à metodologia utilizada para a sua identificação e caracterização. São elas:
(i) Aquífero Suspenso Descontínuo (ASD) e (ii) Aquífero Pouco Profundo Principal
(APPP), os quais correspondem à Província Hidrogeológica identificada por Marques
(1966) e objecto de estudo desta Monografia; (iii) Aquífero Profundo Principal (APP),
que corresponde ao aquífero denominado KHO-1 e (iv) Aquífero Muito Profundo
(AMP) correspondente ao aquífero KHO-2 inserido na formação Olukonda do Grupo
Kalahari, identificados em território namibiano através de uma campanha de
sondagens profundas.

Os referidos aquíferos encontram-se distribuídos em profundidades diferentes


(Figura 4) e o grau de salinidade da água torna-se menor à medida que se aumenta a
profundidade. Actualmente grande parte da água subterrânea utilizada pela população
e pelo gado de Ondjiva e Arredores provém dos aquíferos ASD, APPP, os quais
correspondem aos aquíferos mais estudados em território nacional e, portanto, são
alvos de perfurações e escavações para o abastecimento de água. No entanto, o
aquífero AMP (KHO-2) localizado a mais de 200 metros de profundidade e possui um
grau de salinidade relativamente baixo, o qual detém água em melhores condições
físico-químicas para o consumo humano.

7
Figura 4 - Esboço dos principais sistemas aquíferos. ASD- Aquífero Superficial Descontínuo; APPP -Aquífero
Pouco Profundo Principal; APP - Aquífero Profundo Principal; AMP - Aquífero Muito Profundo. Fonte: SINFIC,
2005.

3. METODOLOGIA

Atendendo à necessidade de responder aos principais desafios apresentados


no desígnio deste estudo e com vista a alcançar os objectivos preconizados,
procedeu-se à utilização de um conjunto de rotinas desenvolvidas por Gabriel Luís
Miguel (2005), aplicadas para a caracterização Hidrogeológica e Ambiental de Luanda
e Arredores, apresentadas abaixo:

1º Recolha bibliográfica, com vista a fortalecer as bases sobre o tema proposto, e


obter a máxima informação disponível sobre os antecedentes históricos,
geológicos, hidrogeológicos e ambientais sobre a área de estudo;

8
2º Aquisição de dados referentes à física da atmosfera (precipitação, temperatura
e humidade relativa) e seu tratamento estatístico, com a finalidade de proceder
à uma análise temporal da variação destes, e compreender a sua influência na
ocorrência cíclica de eventos hidrológicos extremos e consequentemente no
fenómeno de recarga eficaz dos Aquíferos Pouco Profundos de Ondjiva e
Arredores;

3º Trabalho de campo para o reconhecimento da área em estudo, recolha de


amostras de água e litologias diversas, determinação in situ de parâmetros físico-
químicos da água e ensaios geotécnicos;

4º Ensaios de laboratório para a determinação de aspectos sedimentológicos e


parâmetros geotécnicos e hidráulicos das formações geológicas que compõem
os Aquíferos Pouco Profundos de Ondjiva e Arredores;

5º Análises químicas laboratoriais das amostras de água recolhidas de diversas


fontes, para a determinação da concentração dos seus iões maioritários, bem
como a análise de isótopos estáveis de Oxigénio e Hidrogénio;

6º Realização de balanços hídricos mensais para a análise integrada dos


fenómenos e características da área de estudo, de modo a obter resultados
sobre a quantidade de água de origem pluvial que contribui para a recarga dos
Aquíferos Pouco Profundos de Ondjiva e Arredores;

9
3.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Diversas foram as fontes bibliográficas utilizadas para a realização deste


Trabalho de Fim de Curso; desde documentação histórica como Relatórios referentes
à intervenção de diferentes entidades na província do Cunene, em particular na cidade
de Ondjiva, ao longo dos anos, informações obtidas via remota disponíveis em web
sites validados, e ainda anotações pessoais resultantes da análise e interpretação
aquando do trabalho de campo, com vista a fornecer as bases técnicas e científicas
para a resolução do problema proposto para este estudo, promovendo a melhor
adaptabilidade da área de estudo aos efeitos nefastos provocados pelos fenómenos
hidrológicos extremos que aí ocorrem.

Como fonte principal, recorreu-se à Notícia Explicativa sobre a Província


Hidrogeológica Cuvelai-Mui-Pereira D’Eça-Namacunde, relatório produzido por
Marques (1966), inserido no âmbito do Plano de Coordenação para o Abastecimento
de Água às Regiões Pastoris do Sul de Angola, sob a égide dos Serviços Geológicos
de Portugal. Este documento de suma importância serviu de base primária para a
definição da área de estudo e a identificação do problema a ser analisado.

Para além deste, recorreu-se igualmente à análise e recolha de informações


dos três volumes do Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva – Caracterização
Biofísica, os quais detêm informações valiosas que permitiram fazer a caracterização
da área de estudo, desde o ponto de vista ambiental até ao aspecto sócio-económico
e cultural da região em causa.

Para a obtenção de informações referentes à Geologia regional, recorreu-se à


fontes diversas, tais como a Notícia Explicativa da Carta Geológica de Angola à escala
1:1.000.000, elaborada pelo Serviço Geológico de Angola no ano de 1992 (apesar de
não possuir o merecido detalhe requerido no trabalho, tendo em conta a sua escala).
Este, apresenta o enquadramento regional da cidade de Ondjiva no contexto
geológico-tectónico, que tem forte influência sobre a geomorfologia e drenagem, com
forte influência na origem dos eventos de inundações que ocorrem na área de estudo.

10
Sendo a água um recurso natural indispensável à manutenção da vida, ao
desenvolvimento económico e social de uma nação e ao equilíbrio ambiental,
considerando ainda que o processo de desenvolvimento sustentável impõe a
necessidade urgente da gestão integrada dos recursos hídricos de uma nação, o que
implica a adopção de Políticas e Estratégias adequadas ao contexto local, foi
analisado um conjunto de ordenamentos jurídicos, como o Política Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação, e seus instrumentos de Gestão (2011), Plano
Nacional de Águas (2017), os quais compõem o ambiente legislativo no domínio das
águas em Angola, com vista a identificar áreas cinzentas e propor soluções para
garantir a segurança hídrica da região.

3.2 RECOLHA DE DADOS CLIMÁTICOS E SEU TRATAMENTO


ESTATÍSTICO

Para o caso de dados referentes à física da atmosfera, essenciais para o


exercício da caracterização do fenómeno de recarga de origem pluviométrica
(chuvosa), tivemos o apoio do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica –
INAMET, que de forma gratuita, forneceu dados climáticos mensais de séries
hidrológicas desde 1954/1955 à 1973/1974; porém, esta fonte apresenta uma lacuna
no registo de informações desde 1974 até 2012.

No entanto, havendo a necessidade de analisar os fenómenos climáticos mais


recentes, e tendo em conta o défice apresentado no parágrafo anterior, recorreu-se à
obtenção de dados de precipitação diária de uma série de 17 anos hidrológicos
(1983/1984 à 1999/2000), disponíveis através de imagens obtidas do satélite
PERSIANN-CDR (Precipitation Estimation from Remotely Sensed Information using
Artificial Neural Networks – Climate Data Record), desenvolvido pelo Centro de
Hidrometeorologia e Sensoriamento Remoto (em inglês Center for Hydrometeorology
and Remote Sensing – CHRS) da Universidade da Califórnia, Irvine - UCI, o qual
fornece estimativas diárias de precipitação, com resolução de 0,25 graus, entre as
latitudes 60N e 60S, desde 01/01/1983 até 31/12/2015.

11
O referido satélite foi desenvolvido para auxiliar o estudo das mudanças e
tendências de precipitação, com vista a identificar eventos extremos originados pelas
mudanças globais, e é gerado a partir do algoritmo PERSIANN, o qual utiliza dados
da faixa do infravermelho GridSat-B1 e é ajustado utilizando o produto mensal do
Global Precipitation Climatology Project (GPCP).

Assim sendo, através da inserção do ficheiro vectorizado da área de estudo no


portal online do satélite PERSIANN, seguido da selecção da data que se pretende
adquirir os dados, obtém-se uma imagem do tipo raster com uma escala de cores e
uma tabela anexada, os quais apresentam os valores máximos, mínimos e médios de
precipitação da data seleccionada, referente à área inserida, conforme se observa na
Figura 5.

Figura 5 - Portal do CHRS - apresentação dos dados de precipitação referentes à data 01/01/1983 na
área de estudo.

A série de precipitação referente ao período de 2000/2001 à 2018/2019 foi


obtida através do satélite ‘’The Tropical Rainfall Measuring Mission – TRMM’’, sob
égide da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (em inglês National
Aeronautics and Space Administration - NASA), que consiste num satélite de pesquisa

12
em operação desde 1997, projectado para melhorar a compreensão da distribuição e
variabilidade da precipitação nos trópicos como parte do ciclo hidrológico no sistema
climático actual. Este, utiliza microondas e sensores infravermelhos visíveis para a
aquisição dos dados de precipitação diária, com uma resolução de 0,25 graus, entre
35 graus ao norte e 35 graus ao sul do equador.

O resultado é obtido em formato tiff., e csv., os quais permitem analisar tais


dados do ponto de vista de distribuição espacial, bem como a realização de análises
estatísticas com os mesmos. Os referidos dados foram extraídos por via do portal
GIOVANNI - NASA (Figura 6).

Figura 6 - Recolha de dados de precipitação diária pelo satélite TRMM através do Portal Giovanni - NASA

Por fim, os dados de precipitação diária para o ano hidrológico 2019/2020 foram
obtidos através da Plataforma Online SASSCAL WeatherNet – estação de Onjiva
(Station ID: 46943) -, um portal sob égide do Centro da África Austral para Ciência e
Serviços para Adaptação as Alterações Climáticas e Gestão Sustentável dos Solos
(em inglês Southern Africa Science Service Centre for Climate Change and Adaptive

13
Land Management – SASSCAL), o qual fornece dados referentes à parâmetros da
física da atmosfera, em escala anual, mensal e diária (Figura 7).

Figura 7 - Dados da Estação climática de Onjiva - SASSCAL WeatherNet.

3.1 ELABORAÇÃO DA CARTOGRAFIA DA ÁREA DE ESTUDO

Atendendo à necessidade de proceder ao reconhecimento da área de estudo,


realizou-se trabalhos de cartografia topográfica, fazendo recurso aos Sistemas de
Informação Geográfica – SIG, por via do software ArcGis versão 10.5 e Google Earth
Pro, e Modelos Digitais de Elevação – MDE da área de estudo; estes procedimentos
permitiram a melhor compreensão sobre a distribuição espacial das feições afins, que
caracterizam a referida área sob diferentes pontos de vista, e auxiliaram na elaboração
de mapas temáticos, produzidos pelo autor deste Trabalho de Fim de Curso

14
Para o efeito, foi utilizado como mapa base, o Mapa Geológico de Síntese do Bloco UTE-6, como parte do Mapa Geológico
de Angola a escala 1:500.000, sob propriedade do Plano Nacional de Geologia – PLANAGEO (Figura 8).

Figura 8 - Mapa Geológico de Síntese do Bloco UTE-6. Fonte: PLANAGEO, 2019

15
Acto contínuo, recorreu-se ao uso de MDE, por via de imagens SRTM de
resolução 1 arc/segundo, obtidas do Portal Earth Explorer, sob a égide dos Serviços
Geológicos dos Estados Unidos (em inglês United States Geological Survey – USGS),
os quais, em mosaico, compõem o MDE de Ondjiva e Arredores (Figura 9). Deste, foi
possível a determinação de feições que permitiram a análise topográfica, Hidrológica
e Vegetacional da área de estudo e interpretações afins, apresentados nos capítulos
que se seguem.

Figura 9 - MDE de Ondjiva e Arredores.

3.5 TRABALHO DE RECONHECIMENTO DE CAMPO E ENSAIOS IN SITU

Tendo em conta as restrições impostas pelas autoridades sanitárias da


República de Angola face à pandemia da COVID-19 que assola o país desde Março
de 2020, realizou-se apenas uma saída de campo, durante a estação seca
(localmente designada por Cacimbo), com objectivos integrados.

O trabalho de campo decorreu entre os dias 22 de Maio e 07 de Junho, e está


inserido no âmbito da Expedição Científica ao Cunene, 2021, realizada entre os dias
19 de Maio e 09 de Junho, cujo Relatório de Balanço foi disponibilizado em Julho de
2021.

16
A equipa de trabalho, inicialmente composta por cinco integrantes,
nomeadamente Prof. Doutor Gabriel Luís Miguel, Orientador do TFC e Coordenador
Científico da Expedição; MSc. Maria João Pereira, ambos docentes do Departamento
de Ensino e Investigação - DEI de Geologia da Faculdade de Ciências Naturais da
Universidade Agostinho Neto - UAN; e pelos Senhores Marco Carlos - autor deste
TFC -, Denilse Machado e Edson Rita, estudantes finalistas do curso de Geologia –
opção Geologia Aplicada, foi reduzida para apenas três elementos (Figura 10), mesmo
após a aquisição dos bilhetes de passagem de Luanda/Lubango/Luanda, atendendo
à imprevistos e outros aspectos condicionantes que impossibilitaram a participação
da MSc. Maria João Pereira e do Senhor Edson Rita nesta Expedição.

Figura 10 - Equipa de Trabalho de reconhecimento de campo.

A referida etapa foi estruturada tendo como base o Cronograma Harmonizado


das Actividades a Desenvolver em Campo, onde constam detalhes referentes à
aspectos como a repartição da área de estudo tendo em conta critérios
geomorfológicos, sedimentológicos, tectónicos e inclusive logísticos; consta do
referido documento a tipologia de trabalhos de campo a realizar, desde o

17
reconhecimento de feições geomorfológicas, estruturais e litológicas que
testemunham as condições propícias para a recarga/descarga, armazenamento e
circulação de água nas formações geológicas existentes na área de estudo, assim
como a elaboração de um inventário completo de pontos de águas, incluindo a
medição de parâmetros físico-químicos das águas, campanha de amostragem de
águas e materiais sólidos, bem como da mecânica dos solos regionais (Ensaio de
Determinação da Massa Específica Aparente do Solo em Seco).

Equipamentos como hidroníveis de 250 m, sonda de medição de parâmetros


físico-químicos da água, garrafas de polietileno para armazenamento de amostras de
águas, alojamento e transporte para as actividades desenvolvidas em campo, foram
uma cortesia do GABHIC, INRH, CNIC, e Reitoria da UMN, assim como o pagamento
de 54% do preço total do bilhete de passagem de Luanda/Lubango/Luanda, foi
financiado pelo CESSAF.

O plot dos pontos inventariados foi realizado por meio do GPS de marca
Garmin, modelo 62s; a Bússola de marca Konustar, foi utilizada para a medição das
atitudes das camadas e sua orientação espacial.

O procedimento utilizado para a recolha de amostras de águas foi extraído do


Protocolo ‘’Procedimentos para Amostragem de Hidrologia Isotópica’’ (em inglês
Sampling Procedures for Isotope Hydrology, documento produzido pela Agência
Internacional de Energia Atómica, quer para a amostragem de águas destinadas à
realização de análises de iões maioritários, quer para análise de isótopos estáveis de
Oxigénio e Hidrogénio, como parte integrante da metodologia utilizada neste estudo.

A tipologia de amostragem de solos e sedimentos utilizada neste estudo foi a


Amostragem Aleatória simples, extraída do manual “Ensaios Para Controlo de
Terraplanagens” sob autoria de A. Gomes Correia (Laboratório Nacional de
Engenharia Civil – LNEC, Portugal). A amostragem foi realizada com auxílio de pás
escavadoras, portanto, as amostras recolhidas são consideradas amostras alteradas.

O Ensaio de Determinação da Massa Específica Aparente do Solo em Seco,


ou simplesmente Ensaio de Determinação da Densidade in Situ, é um procedimento
que permite calcular a Densidade do solo em campo e, consequentemente, o grau de

18
compactação do solo em análise. Este, foi realizado através do método de Garrafa de
Areia, normalizado pela NBR 7185 de Agosto de 1986, sob a égide da Associação
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Esta Norma aplica-se a todo o tipo de solo
independentemente da sua constituição granulométrica, escaváveis com auxílio de
ferramentas de mão e cuja porosidade natural seja reduzida o suficiente, com vista a
evitar que a areia utilizada para a realização do ensaio penetre nos mesmos. O
material escavado deve ser suficientemente coesivo e firme, de modo que as paredes
da cavidade aberta permaneçam estáveis durante a execução do ensaio, evitando o
colapso das paredes da cavidade e sua deformação. Apraz realçar que o
procedimento de calibração das fracções granulométricas que compõem o referido
Garrafa de Areia, foi realizado pela equipa de trabalho da Expedição Científica ao
Cunene, 2021, no Laboratório de Geotecnia da Empresa CFRL – Sociedade de
Construção, Fornecimentos e Reabilitação, Lda.

3.2 ENSAIOS LABORATORIAIS

3.2.1 Ensaios Geotécnicos em Amostras de Materiais Sólidos Recolhidos

Atendendo à não disponibilização de equipamentos com condições técnicas


adequadas, existentes nos espaços laboratoriais do DEI – Geologia da Faculdade de
Ciências Naturais da UAN, assim como pela falta de cedência de outros, necessários
para a fase de preparação de materiais sólidos para a realização de ensaios in situ,
recorreu-se ao Laboratório de Geotecnia da Empresa CFRL - Sociedade de
Construção, Fornecimentos e Reabilitação, Lda. sito no município de Namacunde
(Cunene), o qual, no âmbito da Cooperação interinstitucional, mostrou-se sempre
disponível para que a equipa de trabalho da Expedição Científica ao Cunene, 2021
(na qual está inserido o Trabalho de Campo) pudesse proceder à preparação de
materiais sólidos para a realização do Ensaio de Determinação da Massa Específica
Aparente do Solo em Seco (Figura 11).

19
Figura 11 - Realização do Ensaio de Determinação da Massa Específica Aparente do Solo em Seco.

Após a etapa de levantamento de campo, as amostras de materiais sólidos


(solos e sedimentos representativos da sequência litoestratigráfica da área de estudo)
foram submetidos à Ensaios geotécnicos e hidráulicos – Análise Granulométrica por
peneiração e sedimentação, Determinação dos Limites de Atterberg (ou Limites de
Consistência dos Solos), Ensaio de determinação da Densidade das Partículas
Sólidas, Ensaio de Compactação leve em molde pequeno (Ensaio de Proctor Normal)
e Determinação da permeabilidade dos materiais, utilizando o Permeâmetro de Carga
Constante, tendo em conta as características granulométricas das amostras
recolhidas.

Os referidos ensaios foram realizados no Laboratório Pro N’Gila, situado em


Luanda, com vista a obter informações de maior detalhe sobre o comportamento
mecânico da litologia que compõe a área de estudo.

20
A Tabela 1 apresenta as Normas utilizadas para os procedimentos dos ensaios
mencionados no parágrafo anterior.

Tabela 1 - Descriminação dos Ensaios geotécnicos realizados em laboratório e respectivas normas utilizadas.

Designação do Ensaio Norma utilizada

Teor de Água NP 84 – 1965 LNEC

Densidade Relativa das Partículas Sólidas NP 83 – 1965 LNEC

Análise Granulométrica de Solos (por LNEC E 196 – 1966


Peneiração e Sedimentação)

Limites de Consistência e Determinação do


NP 143 – 1969 LNEC
Índice de Plasticidade

Ensaio de Compactação tipo Proctor E 197 – 1966 LNEC

Permeabilidade de Solos Granulares (Carga


ASTM D 2434
constante)

3.2.2 Análises Químicas em Amostras de Águas Recolhidas

Parte das amostras de águas recolhidas nas diferentes fontes – chimpacas,


cacimbas, poços e reservatórios - foram submetidas à análises de iões maioritários,
designadamente: Sódio (Na+), Cálcio (Ca2+), Potássio (K+), Magnésio (Mg2+), Cloreto
(Cl-), Sulfato (SO42-), e ainda o metal pesado Cromohexavalente (Cr6+), no Laboratório
Regional Sul do Instituto Geológico de Angola - IGEO, situado na província da Huíla,
e as suas réplicas foram analisadas para o mesmo efeito no Laboratório de Química
e Águas do Departamento de Saúde Ambiental do Instituto Nacional de Investigação
em Saúde – INIS, em Luanda. Os iões maioritários são aqueles que representam
cerca de 99,9% da composição química das águas, sempre com concentrações
superiores a 1 mg/L. Estes, fornecem informações relativas ao tipo de água sua e
qualidade, através das análises de relações iónicas que se estabelecem.

21
Foram igualmente submetidas dez (10) amostras de águas para a análise dos
isótopos Deutério - 2H cuja abundância na natureza é de cerca de 0,015% e 18O, com
0,204%, no Laboratório de Hidrologia Isotópica do Centro Nacional de Investigação
Científica – CNIC (ex Centro Tecnológico Nacional - CTN), situado em Luanda, cujo
objectivo é a determinação da origem das águas recolhidas em diferentes fontes,
delimitação de áreas de recarga e descargas de águas subterrâneas descritas nas
diferentes bibliografias e suas relações hidráulicas com os cursos de águas
superficiais. Para o efeito, a metodologia utilizada foi a Espectrometria de Absorção a
Laser, por meio do equipamento Liquid Water Isotope Analyzer – Los Gatos Research.

A aplicação de isótopos em Hidrologia superficial e subterrânea decorre por


meio do estudo e monitoramento das concentrações dos isótopos que compõem a
molécula de água: hidrogénio (H) e oxigénio (O) – H2O, onde o primeiro elemento
contém três istótopos, nomeadamente prótio - 1H; deutério - 2H e; trítio - 3H; e o
oxigénio possui onze (11) isótopos, desde 12O ao 22O.

As propriedades dos isótopos que tornam a sua utilização atractiva são o seu
fraccionamento e a radioactividade, que quando existe, permite, através da
abundância isotópica e da taxa de decaimento, estimar idades das águas.

O fenómeno de Fraccionamento isotópico caracteriza-se pelas flutuações na


razão de isótopos como resultado de processos naturais, em função da variação da
sua massa atómica.

Este fenómeno pode ocorrer principalmente por meio de reacções físico-


químicas que se processam em: (I) Condições de equilíbrio; (II) Condições de não-
equilíbrio; (III) Difusão molecular; em suma, por meio de factores termodinâmicos e
cinéticos.

22
3.3 REALIZAÇÃO DE BALANÇOS HÍDRICOS MENSAIS

O balanço hídrico do solo consiste num conjunto de procedimentos


contabilísticos vocacionados à análise da distribuição da água pelos diferentes
componentes do ciclo hidrológico. Ao longo dos anos vários foram os modelos de
balanços hídricos desenvolvidos para fins diversos, desde propostas de classificações
climáticas até estimativas de armazenamento de água no solo, constituindo um
elemento essencial na gestão integrada de recursos hídricos, servindo como meio de
promoção da distribuição equânime da água.

O modelo utilizado para o efeito, denominado Balanço Hídrico Mensal, foi


desenvolvido por Thornthwaite & Mather, em 1955, o qual estabelece a relação de
entradas e saídas da água de determinado sistema tendo como dados de entrada a
temperatura mensal (em graus Celcius), a precipitação total (em milímetros) de cada
mês do ano hidrológico balanceado, a evapotranspiração potencial mensal corrigida
através de cálculos previamente realizados através de informações mensais as quais
englobam o número de dias de cada mês e suas respectivas horas máximas de brilho
solar.

Como elementos de saída destaca-se o parâmetro “excedente” que representa


a quantidade de água total disponível para escorrer hipodermicamente ou ainda
infiltrar-se no solo, percolar e por fim atingir a zona saturada e efectivamente
recarregar os aquíferos pouco profundos da área de estudo.

O modelo matemático utilizado como complemento para este tópico foi o


método ‘’Número de Curva’’ desenvolvido pelos Serviços de Conservação de Solos
(SCS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América, que,
mediante tabelas e equações simples, avalia a percentagem de precipitação que
produz escorrência directa, e consequentemente a porção que se infiltra e recarrega
os aquíferos, tendo como factores que integram neste processo os seguintes:

a) Grupo Hidrológico de solos;


b) Utilização dos solos;
c) Pendência;

23
d) Humidade prévia do solo nos últimos cinco dias antes da análise.

Este método é aplicado sob três condições de humidade de solos distintas:

 Condição I – Solo seco: precipitação nos últimos cinco dias inferior ou


igual a 15 mm;
 Condição II – Solo com humidade média: precipitação nos últimos cinco
dias entre 15 a 40 mm;
 Condição III – Solo húmido: precipitação nos últimos cinco dias superior
a 40 mm.

Não obstante a aplicação frequente dos modelos de balanços hídricos mensais


para fins de investigação científica, verifica-se que em regiões de clima árido e semi-
árido, onde os valores de evapotranspiração – ET, geralmente sempre superiores aos
valores de precipitação - P, atribuem um carácter ineficiente aos modelos mensais de
balanços hídricos em virtude da sub-avaliação dos reais volumes de água
provenientes da precipitação disponíveis para a recarga subterrânea eficaz.

Uma das razões dos fracassos dos modelos mensais deve-se precisamente à
diferença entre os valores de P e ET; quando realizado o balanço hídrico, os valores
de escorrência superficial e infiltração são, quase sempre, nulos, o que pode não
corresponder à realidade, uma vez que em algumas regiões de clima árido e semi-
árido o principal tipo de precipitação é de origem frontal e não orográficas, como o
caso de Ondjiva e Arredores, o que significa que podem ocorrer aguaceiros
significativos em curtos espaços de tempo, que não são contabilizados nos modelos
mensais de balanço hídrico do solo.

Com vista a evitar tais constrangimentos no uso dos modelos mensais de


balanço hídrico, Lobo-Ferreira (1981) desenvolveu o modelo de Balanço Hídrico
Sequencial Diário - BALSEQ, cujos trabalhos de maior destaque foram desenvolvidos
por Oliveira et al.(1994) na Península de Setúbal em Portugal, e por Chachadi et al.
(2001) na Índia, mais precisamente na Bacia hidrográfica de Bardez, situada em Goa,
e em Angola, aplicado na Bacia Hidrográfica do Cunene, onde se obteve valores de
recarga subterrânea que variam entre os 13,8 hm3/ano a 90 hm3/ano.

24
Outros modelos de estimativa da recarga subterrânea, como o modelo de
Balanço da Massa de Cloretos (em ingês Chloride-mass Balance – CMB), o qual
consiste num modelo de estimativa directa da recarga de águas subterrâneas e é
frequentemente utilizado em virtude do seu custo reduzido de aplicação. A base
fundamental do método CMB está consubstanciada no facto de o fluxo de água que
atravessa o plano da superfície freática do aquífero pode ser calculado se: (1) o ião
cloreto presente nas águas subterrâneas tiver origem apenas da precipitação e se
infiltra directamente no aquífero, não considerando as recargas do tipo difusas; (2) o
ião cloreto é conservativo no sistema; (3) o fluxo da massa do ião cloreto não se altera
ao longo do tempo; e (4) não há reciclagem ou concentração prévia do ião cloreto na
composição do aquífero em estudo. Este, tem sido amplamente aplicado para a
estimativa da recarga subterrânea na porção namibiana dos aquíferos inseridos na
ára da Bacia hidrográfica do Cuvelai-Etosha, geralmente apresentada como Cuvelai-
Etosha Basin (CEB), onde, segundo literaturas é estimada entre 0,21% a 38,46% da
precipitação média anual da porção namibiana, igual a 350 mm/ano.

4. RESULTADOS ESPERADOS

i. Gerar informações diferenciadas referentes aos aspectos essenciais que


permitem a caracterização do fenómeno de Recarga Pluviométrica dos
Aquíferos Pouco Profundos da área de estudo.

ii. Servir como base para o auxilio no desenho de redes de piezómetros


distribuídos por Ondjiva e Arredores.

5. PRODUTOS E SERVIÇOS

i. Criação de base de dados diários referentes à hidrometeorologia,


aplicáveis para diversos fins;

ii. Difusão do Projecto EFUNDJA - Controle de Inundações, um sistema de


alerta precoce orientado para o controle de eventos de inundações.

25
6. ENQUADRAMENTO DA ÁREA DE ESTUDO

6.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

A província do Cunene, com uma área de 77.151 Km2 e situada na região Sul
de Angola, é limitada a Norte pela província da Huíla, a Sul pela República da Namíbia,
a Oeste pela província do Namibe e a Este pela província do Cuando Cubango.

De acordo com a sua divisão administrativa, a província do Cunene é


constituída por seis municípios, nomeadamente, Cahama, Cuanhama, Cuvelai,
Curoca, Namacunde e Ombadja, com 9786 Km 2, 20529 Km2, 15510 Km2, 8230
Km2,10810 Km2 e 12285 Km2, respectivamente.

A cidade de Ondjiva constitui o lar dos povos Cuanhama, os quais, segundo


fontes históricas, representam o subgrupo étnico mais representativo da região sul de
Angola, e integram o grupo étnico dos Ambós, que se estende até ao território
namibiano. No entanto, em Angola concentram-se, administrativamente, no município
do Cuanhama que engloba as localidades de Ondjiva, Môngua, Evale, Nehone e
Oshimolo.

Do ponto de vista étnico, ao contrário de outros povos em Angola, o povo


Cuanhama nunca teve uma vertente nómada, apesar das pequenas e grandes
transumâncias que eram obrigados a fazer na época seca devido à escassez de água
e pastos.

O carácter sedentário deste povo justifica-se pelo modo de ocupação do


território a que estavam submetidos, em razão da morfologia natural da região,
constituído predominantemente por chanas, onde estabeleciam residência; todavia,
durante os episódios de inundações estas ficavam alagadas e o povo migrava para a
zona dos mufitos, topograficamente mais elevadas, sendo estas as áreas de
estabelecimento dos seus Eumbos (SINFIC, 2005).

No início do século XX, com a ocupação efectiva do sul de Angola pelos


portugueses, por meio do grupo militar dominado pelo General Pereira D’Eça, aos 4
de Setembro de 1915, após a derrota da tribo do Rei Mandume na comuna da

26
Môngua, Pereira D’Eça (actual Ondjiva) passou a ser o local de criação do centro
administrativo e de permanência das tropas portuguesas atendendo à sua importância
estratégica.

A área de estudo – Ondjiva e Arredores – é limitada a Norte pelos limites


administrativos das comunas de Kafima e Evale; a Sul pelo limite administrativo entre
o território Angolano e Namibiano; a Oeste pelo limite da Bacia Hidrográfica do
Cuvelai; e a Este pelo rio Tchimporo. A referida área abrange os municípios de
Cuanhama e Ombadja, precisamente as comunas de Ondjiva, Namacunde, Chiedi,
Ombala-Yo-Mungo, Môngua, Evale e Kafima, numa área total de 15.112,5 Km 2 (Figura
12).

Figura 12 - Localização Geográfica da Área de Estudo.

A referida área de estudo tem os seus extremos limitados a norte pelas


coordenadas geográficas 16°20'28.40"S de latitude e 15°56'44.66"E de longitude; a
este por 16°51'56.96"S e 16°25'0.58"E; a oeste por 16°57'32.60"S e 14°52'13.57"E; e
a sul por 17°23'26.74"S e 15° 7'51.38"E.

27
6.1.1 Acessos e Demografia

O planeamento urbanístico de uma cidade deve garantir que esta seja resiliente
à eventuais fenómenos naturais e situações adversas que deles podem resultar. No
entanto, o crescimento da malha urbana de Ondjiva e Arredores é fortemente
condicionada pela morfologia da área, tendo em conta a susceptibilidade de
ocorrência de riscos geológicos, como as inundações.

Os eixos rodoviários de ligação à província do Cunene correspondem àquelas


que estabelecem a ligação entre as províncias da Huíla, Cuando Cubango e com a
República da Namíbia. Estes eixos são estradas nacionais, tuteladas pelo Instituto
Nacional de Estradas de Angola – INEA.

Conforme se observa na Figura 13, as principais estradas que ligam a província


do Cunene ao resto do território angolano e ainda ao Namibiano, são:

 Lubango – Chibia – Tchivemba – Kahama – Xangongo – Ondjiva –EN 105


(Lubango - Xangongo) e EN 295 (Onconcua – Xangongo - Ondjiva);

 Cuvelai – Ondjiva – EN 120 (Cassinga – Ondjiva – Stª Clara);

 Ondjiva – Namacunde – Stª Clara – EN 120 (Cassinga - Ondjiva – Stª Clara);

 Ondjiva – Anhanca – Nehone – Cafima – Kuando-Kubango – EN 372


(Naulila – Ondjiva – Kaiundo (limite com a província do Kuando-Kubango)
(SINFIC, 2005).

28
Figura 13 - Ligações Viárias mais significativas na província do Cunene. Fonte: Plano de Urbanização da Cidade
de Ondjiva - Caracterização Urbana (SINFIC, 2005)

A cidade estrutura-se e cresce ao longo de três principais vias: a primeira que


estabelece a ligação com Xangongo, a Noroeste, passando pela Môngua; a segunda,
estabelecendo ligação directa com a Namíbia a Sul, passando por Namacunde e
Santa Clara; e a terceira com ligação ao Cuando Cubango, passando por Nehone e
Oshimolo (SINFIC, 2005).

Pese embora a cidade de Ondjiva se desenvolva ao longo das vias


supracitados, esta organiza-se por bairros, com forte influência da organização
colonial portuguesa, sendo eles, desde Oeste à Leste, Okapale, Kakulevale, Kafito I e
II, Castilhos, Bangula I e II, Pioneiro Zeca I e II, Naipalala I e II, e Kachila I, II e III
(Figura 14); todavia, é no bairro Bangula I, o qual representa o centro da cidade, onde
se concentram os principais serviços administrativos

29
Figura 14 - Cidade de Ondjiva distribuída por Bairros. Fonte: Plano Urbanistíco da Cidade de Ondjiva Vol. III
(SINFIC, 2005)

Do ponto de vista demográfico a área de estudo, a qual abrange os municípios


de Cuanhama e Ombadja, albergam cerca de 300.000 habitantes, segundo dados
obtidos do censo habitacional realizado em 2014 pelo Instituto Nacional de Estatística
– INE e apresentado no Plano de Desenvolvimento Provincial do Cunene,
disponibilizado no mesmo ano.

30
6.2 CLIMA

Segundo a classificação climática de Koopen-Geiger, a província do Cunene,


onde se insere a área de estudo, é classificada como semi-árida, também conhecido
como Clima de Estepe, mais precisamente pertencendo à categoria Semi-árido
quente – BSh (Figura 15), uma vez que a precipitação média anual é menor em
relação ao limiar de precipitação (porém, superior à metade deste limite calculado),
com temperatura média anual superior a 18ºC.

Figura 15 - Distribuição Geográfica do Clima Semi-Árido (Classificação climática de Koopen-Geiger). Fonte:


Wikipédia

Segundo o Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva (SINFIC, 2005) os


quantitativos pluviométricos na província do Cunene são fruto da influência de factores
climáticos, planetários e regionais, como a distância ao equador, a orografia, o maior
ou menor afastamento ao oceano, entre outros.

Do ponto de vista de distribuição espacial do fenómeno de precipitação na


província do Cunene, verifica-se a diminuição de Norte para Sul, e de Este para Oeste
(Figura 16), estando as áreas mais chuvosas localizadas no sector Nordeste do
município do Cuvelai, podendo atingir cerca de 800 mm/ano; todavia, o município do
Curoca, situado no sector Sudoeste, apresenta os menores quantitativos
pluviométricos de toda a província.

31
Figura 16 - Distribuição espacial da precipitação na Bacia Hidrográfica do Cuvelai-Etosha. Fonte: BGR

Aquando da elaboração da caracterização Biofísica da Cidade de Ondjiva


(SINFIC, 2005), actividade inserida no Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva,
utilizou-se o período de 1937/1938 – 1974/1975 como referência para a interpretação
dos fenómenos relacionados à física da atmosfera na referida localidade. Assim, o
referido trabalho determina os 600 mm como o quantitativo pluviométrico médio anual
para a cidade de Ondjiva, onde Fevereiro é considerado o mês mais chuvoso, com
145,9 mm, seguido de Janeiro e Março, com 117,3 mm e 110,2 mm, respectivamente;
Dezembro, com quantitativos pluviométricos apreciáveis, em torno dos 102,2 mm, em
constraste evidente com as precipitações de 49,9 mm e 50,7 mm, de Novembro e
Abril, respectivamente.

A precipitação de Ondjiva e Arredores, classificada genericamente como


frontal, está intimamente associada à aguaceiros intensos e localizados, normalmente
em presença de células activas de cumulunimbus, que são muito frequentes durante
a estação chuvosa, especialmente no período mais quente do dia.

32
A título de exemplo, registe-se que os quantitativos diários podem alcançar
valores extremamente elevados, implicando o desencadear de inundações
locais, que serão tanto mais expressivas, quanto as condições pré-existentes
ao nível hidrológico se apresentarem. Desta forma, entre os valores diários
mais elevados registados para a área de Ondjiva contam-se os 206mm de
Março de 1947, os 139mm de Dezembro de 1968 e os 93,5mm de Fevereiro
de 1962 (Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva, SINFIC, 2005, p.59).

A mesma fonte apresenta na Figura 17 a distribuição da precipitação ao longo


dos 37 anos hidrológicos tomados como referência (1937/1938 a 1974/1975), onde é
possível observar a sua variabilidade inter-anual, sendo omissos por ausência de
dados, os dados relativos a 1962-63 (Figura 17).

Figura 17 - Quantitativos pluviométricos por estação húmida (Pereira D’Eça / Ondjiva - 1937-74). Fonte: SINFIC,
2005

Da série de anos considerados verifica-se que em 1946/47, atingiu-se o


máximo registado para Ondjiva com um total de 1151,8mm por estação das
chuvas, apesar de tanto em 1945/46 como em 1947/48, os quantitativos
pluviométricos apenas se cifraram em 424,7mm e 448,6mm, respectivamente.

33
Esta situação atesta de forma clara o padrão de extrema irregularidade
característico dos climas semi-áridos. Com efeito apenas em oito anos, dos
trinta e sete referenciados, se registaram quantitativos anuais superiores a
700mm. Em 71/72, os quantitativos pluviométricos apenas atingiram os
277,7mm, ultrapassando em termos mínimos os 308,4mm de 63-64, definindo
períodos de grave escassez hídrica tanto para o abastecimento de água para
consumo doméstico como para as actividades agropecuárias, apenas
colmatados parcialmente pela presença de captações de abastecimento de
água subterrâneas (Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva, p.59, 60).

O presente documento apresenta os desvios à média entre 1937-74 (Figura


18), no qual se observa a variabilidade pluviométrica caracterizada por anos de
quantitativos superiores em mais de 300mm ao valor médio, como os observados em
1937, 1945, 1947, 1950, 1967 e 1974, enquanto que noutros o défice é superior a
250mm (1939, 1941, 1964, 1970).

Figura 18 - Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva, p.59, 60). Fonte: Plano de Urbanização da Cidade de
Ondjiva, p. 60.)

34
De realçar que, outro aspecto de extrema importância refere-se à identificação
de períodos de seca, onde em dois ou mais anos consecutivos os valores de
precipitação foram inferiores em 1/3 à média, como os correspondentes a 1939-
42, 1948-49, 1952-53, 1955-56, 1958-61 e 1972-73, sendo este factor
particularmente importante quando se associa a um padrão regional que
interfere directamente com o evento cíclico da “efundja” e desta forma
directamente interligado com a disponibilidade de água superficial e
subterrânea” (Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva, p. 60).

De acordo com os dados climáticos da série de 37 anos hidrológicos utilizados


neste Trabalho de Fim de Curso (1983/1984 a 2019/2020), a precipitação média anual
de Ondjiva e Arredores é de 754,69 mm, onde a estação chuvosa situa-se entre os
meses de Setembro e Maio - com maior ocorrência de chuvas entre os meses de
Outubro e Março -, e a estação seca, também conhecida por “Cacimbo”, entre Junho
e Agosto.

A referida série, cuja precipitação média é de 750,4 mm, distribui-se em anos


secos – 7 anos hidrológicos, correspondentes a 18,9% do total de anos –, regulares –
15 anos hidrológicos, correspondentes a 40,5% –, e húmidos -15 anos hidrológicos,
correspondentes a 40,5%. Desta, destacam-se os anos hidrológicos 2010/2011, com
uma precipitação média anual de 1182,2 mm, considerado como o “ano mais húmido
da série”, e 1999/2000, com 465 mm/ano, sendo, portanto, o “ano mais seco da série”
(Gráfico 1).

35
Gráfico 1 - Distribuição da Precipitação pela série de 37 anos hidrológicos. laranja: anos secos; Verde: anos
regulares; azul: anos húmidos.

Ondjiva e Arredores insere-se na vasta superfície da Bacia Sedimentar do


Cuanhama, caracterizada por apresentar uma temperatura média anual (segundo o
período de referência 1937-74) de 23ºC, registando-se os valores mais elevados
durante o período chuvoso, e os mais baixos no período seco. A mesma fonte
apresenta os meses de Junho e Julho como os meses mais frios, com valores médios
de 17,4ºC e 17,1ºC, respectivamente.

As altas temperaturas anuais, a baixa humidade, o vento soprando


frequentemente, e a limitada cobertura vegetal na região desta bacia hidrográfica
influenciam fortemente na evapotranspiração potencial média anual, que pode atingir
valores de cerca de 2500 mm de Setembro à Janeiro, antes da estação chuvosa, que
excede a média de precipitação anual na bacia. Isto significa que a maior parte da
água da chuva perde-se precisamente através da evapotranspiração, o que reduz a
quantidade de água para cerca de 80mm/ano, disponível para o crescimento da
vegetação e inclusive na recarga das águas subterrâneas. As elevadas taxas de
evapotranspiração culminam no ressecamento de rios efémeros e outros sistemas de
armazenamento superficial de água, como as chimpacas, causando a precipitação de
sais e consequentemente o aumento da salinidade dos diferentes corpos de águas,
quer superficiais e subterrâneos.

36
6.3 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA

Do ponto de vista geológico, a cidade de Ondjiva e Arredores encontram-se


inseridos na Bacia Sedimentar Intra-continental do Cuanhama-Etosha, também
conhecida como Bacia Sedimentar do Owambo, de idade Quaternária, a qual constitui
segmento estrutural da Bacia Sedimentar do Kalahari (Figura 19) formada durante o
desenvolvimento tectónico pós-cretácico da África Austral (MOMPER,1982) e parte
integrante da sub-unidade geomorfológica denominada por Depressão Endorreira do
Cuvelai-Lueque (Marques, 1977), igualmente referida em outras bibliografias como
Bacia Endorreira do Cuvelai-Etosha.

Figura 19 - Mapa geológico da Bacia Hidrográfica do Cuvelai-Etosha. Fonte: Dill et al. 2012

37
A referida Bacia Endorreica estabelece uma região que testemunha episódios
de aplanação superficial ocorridos no Terciário médio, e que se encontra recoberta
por espessos depósitos de origem eólico-fluvial, constituídos predominantemente por
areias e argilas, as quais correspondem aos depósitos continentais do andar superior
do Sistema do Kalahari; comumente ocorrem arenitos ferruginosos, silicificados e
calcários recobertos por areias de origem eólica, incluindo areias do Kalahari
redistribuídas.

Com feições morfológicas extremamente planas e margens ligeiramente mais


elevadas do que o seu centro, a Bacia Sedimentar do Cuanhama-Etosha testemunhou
uma história geológica perturbada, como resultado da evolução da Bacia Sedimentar
do Kalahari, sujeita ao longo de centenas de milhares de anos à períodos de forte
actividade tectónica, submersão por oceanos primitivos, recobrimento por glaciares
de grande possança, inundações parciais por rios e atacada por vastos mantos de
areia transportados por acção eólica, predominantemente.

A área de estudo está assente sobre um soco cristalino constituído por rochas
ígneas e metamórficas, como granitos e gnaisses, com idades compreendidas entre
os 2600 e 1700 milhões de anos, correspondentes ao Neo-arqueano superior e Paleo-
proterozóico inferior, respectivamente, concernentes à Era Pré-câmbrica, os quais
afloram na comuna da Mupa, situada a NE do centro de Ondjiva.

Em meados da Era Pré-câmbrica, o continente africano, ainda pertencente ao


Supercontinente Rodínia, experimentou uma série de actividades tectónicas intensas,
que resultaram na formação de vales do tipo rift onde se depositaram espessas
camadas de arenitos com mais de 8000 m de espessura (SINFIC, 2005). O contínuo
desenvolvimento destes vales resultou na fragmentação do Rodínia, o que
consequentemente deu origem à formação de massas oceânicas em razão dos
movimentos distensivos das massas continentais; actualmente a paleo-plataforma
oceânica faz parte da Bacia Sedimentar do Cuanhama-Etosha, onde se insere a área
de estudo, com cerca de 5000 m de espessura de depósitos do Kalahari.

Entre 550 e 300 milhões de anos atrás (Era Paleozóica), a Bacia Sedimentar
do Kalahari vivenciou um intenso período de erosão continental, com maior incidência

38
sobre as cadeias montanhosas originadas aquando da colisão das placas tectónicas
por inversão de sentido da Deriva Continental e formação do supercontinente
Gondwana. Este conjunto de processos e seus efeitos derivados, resultaram na
instalação de uma época glaciar que cobriu o planeta durante o Pérmico, em que o
actual vale do Cunene, também conhecido por Vale Fóssil de Ondjiva, é testemunho
deste período na área de estudo.

O contínuo aumento da temperatura após este período, resultou no aumento


do nível da água do oceano primitivo que cobria a Bacia Sedimentar do Cuanhama-
Etosha há 250 milhões de anos atrás, e consequentes eventos de transgressão
marinha, dando origem à deposição de litologia detrítica de granulometria fina e
rochas de precipitação química.

Conforme observado na Figura 20, na região de Ondjiva e Arredores ocorrem


formações geológicas arenosas do Subgrupo Kalahari Superior, de idades Miocénico-
Pliocénico, na base, e depósitos fluviais e de escoamento superificial (aluviões) de
idade Holocénica no topo da sequência litoestratigráfica regional.

Figura 20 - Mapa Geológico da área de estudo.

39
Segundo Carvalho (1957), a cidade de Ondjiva e seu entorno é caracterizado
por ocorrência de grés argilo-calcários, com eventuais nódulos de calcário de
coloração cinzento claro, que constitui a rocha regional, onde se instalou a rede de
vales e canais de um antigo delta interior, e parte da estrutura estratigráfica da
sequência sedimentar do Kalahari, que possui cerca de 5000 m de espessura na
região abrangida pela área de estudo.

Diniz (1973) afirma que do ponto de vista litoestratigráfico, as camadas


sedimentares superficiais apresentam baixo grau de consolidação, podendo-se
inclusive encontrar materiais não consolidados, com destaque para areias de
granulometria e selecção diversa, associada geralmente às argilas; esta distribuição
está intimamente relacionada com a geomorfologia da Bacia Sedimentar do
Cuanhama-Etosha, caracterizada por ser essencialmente plana, cujas áreas
topograficamente mais elevadas encontram-se a Norte, com 1188 m e vai-se
desvanecendo até ao sul, chegando aos 1097 m (Figura 21).

Figura 21 - Modelo Numérico de Terreno de Ondjiva e Arredores apresentando a distribuição da elevação da


área de estudo (em metros).

40
A paisagem de Ondjiva e arredores é marcada essencialmente por quatro
morfologias típicas, com centenas de paleo-canais, como resultado de um conjunto
Ecango
de fenómenos decorrentes do seu clima semi-árido e alteração no padrão de
drenagem do rio Cunene – aquando da sua captura pelo oceano Atlântico, já no
Quaternário - conforme se observa na Figura 22.

Ecango

Figura 22 - Principais Feições Morfológicas da área de estudo. Fonte: Mendhelson, 2000.

i. Chanas: pequenas depressões correspondentes à paleocanais ou vales


fósseis com cerca de 30 m de profundidade, quase totalmente assoreadas e
que escoam as águas do período de cheias dos cursos dos rios Cuvelai e Mui;
litologicamente são constituídas por depósitos aluvionares de grés argilo-
calcários de coloração cinzento claro de idade Pleisto-Holocénica, e assenta
sobre a espessa sequência da formação Kalahari.

ii. Mufitos: áreas aplanadas que se elevam em relação às Chanas em


aproximadamente 3m; são zonas constituídas por grés argilo-calcários
cinzentos, nunca atingidos pelas águas de inundação que escoam pelas
chanas. A sua cobertura de idade tericária é constituída por areias vermelhas,
onde se desenvolve vegetação de pequeno, médio e grande porte,
desenvolvem-se actividades de criação de gado bovino, principalmente e é
nesta zona onde se constroem as habitações rudimentares (Ehumbos).

41
iii. Ecangos: depressões que se situam no interior dos Mufitos, constituídos
litologicamente por argilas cinzentas escuras. Estima-se que a sua formação
seja semelhante à formação das Dolinas em cenário cársico, visto que
os Mufitos podem ter até 70% do teor em carbonato de cálcio nos seus grés
argilo-calcários (Marques, 1966); deste modo, os Ecangos podem ter-se
formado através da dissolução de áreas pontuais dos Mufitos através da água
da chuva. Porém, existe ainda outra teoria que afirma que os Ecangos são
chanas estanques, que correspondem à uma fase de assoreamento avançado
pós-captura do rio Cunene pelo oceano Atlântico. Existem vários tipos de
Ecangos, aqueles que dispõem de uma abertura que permite a saída de água,
e os totalmente fechados, sem comunicação com outros Ecangos ou Chanas
(Figuras 23 e 24).

Figura 23 - - Principais feições morfológicas da área de estudo vistas através de imagem satélite.

42
Chana

Mufito

Figura 24 - Diferença entre as Chanas e Mufitos.

iv. Mahenene: superfície de contacto entre as chanas e mufitos, que é somente


atingida pelas águas de inundação (efundjas) em situações extremas.

De realçar que, conforme observado no mapa de Declividade (Figura 25), Ondjiva e


Arredores apresenta valores que se encontram entre 0-3% na escala de classificação da
Embrapa, o que representa um relevo extremamente plano.

43
Figura 25 - Mapa de Declividade da área de estudo (dado em percentagem - %).

6.4 SOLOS E VEGETAÇÃO

Atendendo às fácies litológicas e geomorfológicas da região, os solos que


ocorrem em Ondjiva e Arredores são essencialmente de pouca espessura, e
classificam-se em dois grandes grupos pedológicos, relacionados respectivamente,
ao sistema de drenagem endorreira do rio Cuvelai, de origem sedimentar aluvionar de
textura fina, essencialmente constituídos por argilas e siltes (Figura 26); e solos
psamíticos (predominantemente arenoso) de origem eólica, relacionado com a
sequência arenosa superficial do Grupo Kalahari (Figura 27).

44
Figura 27 - Solos predominantemente arenosos
Figura 26 - Solos predominantemente silto-argilosos
relacionados com a sequência litoestratigráfica
de origem fluvial, relacionados com a drenagem
superficial do Grupo Kalahari.
endorreica do rio Cuvelai.

Em função do clima semi-árido quente da área de estudo, observam-se


evidentes processos de salinização dos solos em virtude dos eventos de cheias que
ocorrem na área de estudo e que, seguido do processo de evaporação resulta na
cristalização de sais, influenciando no enfraquecimento da fertilidade dos solos. É
frequente a presença de argilas montmoriloníticas e abundante impregnação de
materiais carbonatados.

45
A tabela 2 apresenta as características dos principais subgrupos de solos que ocorrem em Ondjiva e Arredores, suas
características e susceptíbilidade a alagamentos:

Tabela 2 - Características dos principais agrupamentos de solos regionais. Fonte: SINFIC, 2005.

Unidade Drenagem
Tipo de solo Agrupamento de solos Permeabilidade Alagamento
Morfológica Superficial
Regossolos psamíticos de sedimentos não
Regossolos Mufito
consolidados recentes, pleistocénicos ou do Kalahari Rápida Alta Nunca ocorre
Psamíticos (coroamento)
superior
Psamíticos pardocentos francamente lavados a lavados
Psamíticos
de sedimentos não consolidados recentes, Mufito Rápida Alta Nunca ocorre
Pardocentos
pleistocénicos ou do Kalahari superior
Anídros cinzentos semi-áridos compactos Chana Lenta Muito baixa Frequente
Anídros cinzentos semi-áridos compactos com forte
Ecango Muito lenta Muito baixa Frequente
halomorfismo
Pardo-cinzentos
semi-áridos Anídros pardos ou pardo-acinzentados semi-áridos
Mahenene Lenta Baixa Ocasional
compactos
Anídros pardos ou pardo-acinzentados semi-áridos não Mufito
Rápida Alta Nunca ocorre
compactos (vertente)
Pardo- Anídros pardo-avermelhados semi-áridos compactos Mahenene Lenta Baixa Ocasional
avermelhados
Anídros pardo-avermelhados semi-áridos não
semi-áridos Mufito Rápida Alta Nunca ocorre
compactos

Cromopsâmicos de formações sedimentares recentes, Mufito


Cromopsâmicos Rápida Alta Nunca ocorre
pleistocénicas ou do Kalahari superior (coroamento)

46
A vegetação do Cuvelai-Etosha é caracterizada como Savana Cauducifólia, típica de
regiões áridas e semi-áridas, com gramíneas e árvores de pequeno e grande porte onde se
inserem as plantas que perdem as suas folhas na época de estiagem, com o objectivo de
evitar a perda de água pela transpiração das folhas.

A Colophospermum mopane (Figura 28) representa a espécie mais abundante na


área de estudo, cuja profundidade radicular pode variar entre os 30 e 120 centímetros (cm);
ao passo que as gramíneas apresentam profundidade radicular entre os 20 e 30 primeiros
cm de solo. As árvores, sejam de pequeno ou grande porte variam as suas profundidades
radiculares, sendo o máximo, 2 metros, atingidos pelas Andasonias Digitata.

Figura 28 - Colophospermum mopane. Fonte: wikipedia

47
Não obstante às tipologias de vegetação acima mencionadas, a tabela 3 apresenta os principais grupos de vegetação
predominantes em Ondjiva e Arredores:.

Tabela 3 - Principais Comunidades Vegetacionais de Ondjiva e Arredores. Fonte: SINFIC, 2005.

Grupo de Vegetação Espécies/Categoria Locais de Ocorrência

Margens das chanas; Limites de


Diospyrus mespiliformis (Omunyandi), à qual se associa
Galerias Arbóreas depressões localizadas, principalmente
frequentemente a palmeira da espécie Hyphaene
Ripícolas onde o nível piezométrico é alcançável
ventricosa (Matebeira).
pelas raízes.

Baikiaea plurijuga, Burkea africana, Pterocarpus


angolensis, Cryptosepalum pseudotaxus, Guiburtia
coleosperma, Pteliopsis anisoptera, Dialium engleranum, Preservada nalguns Mufitos do Município
Floresta Seca
Sclerocarya caffra, Sterculia setigera, Ficus do Cuanhama.
gnaphalocarpa, Adansónia digitata e Colophospermum
mopane, entre outras.

Combretum spp., Psorospermum febrifugum, Securidaca


Formação
longipedunculata, Erythrophleum
Secundária de Ondjiva e Arredores
Floresta Seca africanum, e Terminalia prunoides.

48
Formação
Arbustiva Esparsa Arbustos e árvores do tipo Savana arbóreo-arbustiva. Limites dos Ehumbos
com Árvores

Formação
Arbustiva Densa de Colophospermum mopane Mufitos e Mahenenes
Mutiati (ou Mopane)

Formação
Mufitos e Mahenenes amplamente
Arbustiva Esparsa Colophospermum mopane
explorados antropicamente
de Mutiati

Formação
Arbustivas Densas
Acacia kirkii Margens das Chanas
e Esparsa de
Espinheiras

Formação Arbóreo-
Colophospermum mopane, Acacia kirkii, Diospyros Zonas de descarga de águas
Arbustivas Sujeitas
mespiliformis e Hyphaene ventricosa subterrâneas nas Chanas.
a Alagamento

Formações Gramíneas do tipo Themeda, Aristida, Heteropogon,


Herbosas, Com Ou Eragrostis, Pogonarthria, Digitaria, Schmidtia, Loudetia,
Sem Arbustos Willkommia sarmentosa, Eragrostis trichophora,
Dispersos, Sujeitas Chanas e Ecangos
Sporobolus ioclados, Sporobolus coromandelianus,
A Eragrostis rotifera, Eragrostis viscosa, Brachiaria deflexa
e Elytrophorus globularis
Alagamento

49
6.5 HIDROLOGIA SUPERFICIAL E SUBTERRÂNEA

O Cuvelai é um rio endorreico, com cerca de 430km de extensão longitudinal,


e cujo delta interior estende-se por mais de 7000km2. E tem a sua nascente na Serra
do Encoco, a 1450m de altitude e 260km da fronteira entre Angola e Namíbia,
localizada no limite administrativo entre as províncias da Huíla e Cunene. O seu
regime é permanente à semi-permanente nos primeiros 100km, até à comuna do
Evale, a partir de onde se subdivide em múltiplos braços de regime temporário (Figura
29).

Comuna do Evale

Figura 29 - Loclização espacial do limite entre os regimes do rio Cuvelai. Mapa Hipsométrico da Bacia
Hidrográfica do Cuvelai. Fonte: SINFIC, 2005.

A Bacia Hidrográfica do Cuvelai-Etosha (Figura 30), com 159.620 Km2 de área


partilhada entre a República de Angola (52.158 Km 2) e a República da Namíbia
(107.462 Km2), define um sistema particular de canais anastomosados pouco
profundos, correspondentes às chanas; encontra-se, na parte angolana, entre as
bacias hidrográficas dos rios Cunene e Cubango, situados respectivamente à Oeste

50
e Este da área de estudo, dispõe de uma superfície extremamente plana, com
margens ligeiramente mais elevadas em relação ao centro, sendo as áreas mais
elevadas da bacia situadas a norte, onde a paisagem vai se suavizando até a fronteira
entre Angola e Namíbia, onde a drenagem altera-se predominantemente para o
sentido sul (Figura 31) em convergente até à Caldeira do Etosha (em inglês Etosha
pan), a qual constitui o exutório da referida Bacia Hidrográfica.

Figura 30 - Limites da Bacia Hidrográfica do Cuvelai-Etosha. Fonte Luetkmeier et. all, 2017

51
.

Figura 31 - Mapa de Direcção de Fluxo.

O referido sistema drenante, estrutura-se com base em paleo-canais


comunicantes ou isolados em geral de 100-500m de largura e 30-100cm de entalhe
no plano escoante (SINFIC, 2005). As sub-bacias da Bacia Hidrográfica do Cuvelai-
Etosha são subdivididas em: uma sub-bacia composta pelas chanas ocidentais que
apenas apresentam escoamento superficial efectivo durante episódios de cheias, a
qual abrange as localidades de Xangongo, Naulila, Môngua e Cuamato; o sistema
central de chanas que escoam as águas de cheia dos cursos endorreicos Cuvelai e
Mui, com a sua cabeceira implantada em rede de drenagem semi-permanente; a leste
um sistema de mulolas que somente em anos considerados húmidos gera excedentes
hídricos, dando origem à enchentes a partir da convergências das dos rios Cunene e
Tchimporo com o sistema central.

52
Na bordadura oriental da bacia do Cuvelai, identificam-se dois corpos
hidrográficos de actividade hídrica superficial efémera, as mulolas Namolo e
Lupangue, que se enquadram numa extensa superfície que se caracteriza por
apresentar uma vasta constelação de ecangos sem comunicação hídrica superficial
entre si. A primeira poderá em episódios de cheia excepcionais atingir o sistema
escoante do Tchimporo, enquanto que a segunda, num mesmo evento, tenderá a
canalizar as águas superficiais directamente para o Etoshapan.

A Província Hidrogeológica Delta Cuvelai-Mui-Pereira D’Eça-Namacunde


identificada e caracterizada por Marques (1966), com os seus aquíferos suspensos e
pouco profundos, nunca superiores a 30m de profundidade, constituem as principais
fontes de água disponíveis para o consumo humano e realização de actividades afins.

Com cerca de 2000 Km2 de área distribuídos pelas comunas de Ondjiva,


Namacunde, e parte da comuna do Chiedi (Figura 32), esta unidade é formada por
todas as chanas que escoam água disponíveis nos períodos de cheias dos cursos
endorreicos Mui e Cuvelai até à Baixa do Etosha. Maques (1966) aquando da
caracterização da referida província hidrogeológica, identificou níveis consideráveis
de salinização das águas subterrâneas, cuja origem pode estar associada aos
gradientes hidráulicos muito reduzidos, que favorecem um longo tempo de interacção
água-meio, que, por meio da lixiviação das formações rochosas que compõem os
aquíferos desta província, resultam no enriquecimento da água em sais; bem como
do processo de transgressão marinha ocorrida há 250 milhões de anos, através de
um oceano primitivo, pouco profundo, que cobriu a superfície do Cuanhama, e culimou
na precipitação de sais e, consequentemente, salinização dos solos e das águas
subterrâneas de Ondjiva e Arredores.

53
Figura 32 - Limites da Província Hidrogeológica Delta Cuvelai-Mui-Pereira D'Eça-Namacunde Marques, 1966).
Fonte: SINFIC, 2005.

Os níveis piezométricos no Cuvelai são muito variados, podendo em


determinados locais encontrar-se muito próximo à superfície, com o nível dinâmico de
0,2 m abaixo do topo da captação, permitindo assim a captação da água de forma
manual, através da escavação de poços de grande diâmetro e baixa profundidade –
Cacimbas; em outros locais os níveis são mais profundos, ultrapassando os 20m de
profundidade.

Os grés argilo-calcários de coloração branca, também chamados de grés


aquíferos lavados, constituem a rocha-regional da área de estudo, e, segundo
Marques (1966) correspondem à formação de base da sequência aluvionar das
chanas e única formação com características aquíferas à profundidades menores a
30m.

54
Struckmeier (2001) identificaram em território Namibiano, estas e outras
unidades aquíferas, mais profundas, que têm continuidade para Ondjiva e
Arredores. É no interior das Chanas que se encontram os principais aquíferos da
região, descrito em ‘Caracterização Biofísica da Cidade de Ondjiva Vol. II’ como (1)
Aquífero pouco profundo principal (APPP), que corresponde à província
hidrogeológica de Delta Cuvelai-Mui-Pereira D’Eça-Namacunde (Marques, 1966) com
profundidades nunca superiores aos 30m, cuja qualidade da água em muitas
captações construídas não é considerada potável; (2) Aquífero Profundo Principal
(APP), também descrito em muitas bibliografias namibianas como aquífero KHO-1,
inserido no grupo Andoni - areias brancas, areias argilosas de coloração verde clara
argilas verdes, areias vermelhas, e argila vermelha pegajosa, cuja espessura máxima
é de 274m, com profundidades situadas entre os 110 e 160m; e (3) o Aquífero Muito
Profundo (AMP) - KHO-2 inserido no grupo Olukonda com cerca de 175m de
espessura, constituído por areias vermelhas e argila vermelha pegejosa, com
profundidade entre os 120 e 160m; estas sequências são de idade terciária (Figura
33).

Figura 33 - Distribuição dos principais Sitemas Aquíferos da Área de Estud, com individualização dos Aquíferos
Suspensos e Pouco Profundo Principal. Fonte: SINFIC, 2005.

55
7. INFILTRAÇÃO EFICAZ E RECARGA DOS AQUÍFEROS POUCO
PROFUNDOS

Considerando a disponibilidade cada vez mais irregular das águas superficiais,


no tempo e no espaço, numa altura em que a demanda por água em quantidades
suficientes e qualidades adequadas torna-se mais urgente, a população de Ondjiva e
Arredores atribui às águas subterrâneas um papel de extrema importância na
satisfação das suas necessidades pessoais e profissionais diárias.

Deste modo, a caracterização dos processos de infiltração e recarga eficaz dos


seus Aquíferos Pouco Profundos ganha uma relevância necessária atendendo à
grande responsabilidade atribuída às águas subterrâneas. Estes dois processos são
comumente confundidos; Custódio & Llamas (1976) diferenciam-nos explicando que,
enquanto que a infiltração consiste no movimento da água desde a superfície do
terreno até à zona não saturada do perfil do solo, servindo essencialmente para suprir
o défice hídrico do mesmo, a recarga é a parte desta água infiltrada no solo que
realmente atinge a zona saturada do aquífero. Os autores advertem que a recarga
determinada a partir de ensaios de infiltração é denominada Recarga Potencial (Rp),
e a recarga calculada a partir de dados hidrogeológicos é definida como Recarga real
(Rr).

A principal fonte de recarga natural é a água de origem pluviométrica, água


meteórica ou mais simples ainda, a chuva, a qual é considerada como uma fonte de
recarga directa (Rd); todavia, apraz realçar que existem outras fontes de recarga
subterrânea, tais como a recarga indirecta (Ri) que ocorre a partir de depressões
topográficas como leitos de rios ou ainda as tradicionais chimpacas do Cunene; e a
recarga localizada (Rl) que se refere à recarga por meio de fluxos preferenciais como
em juntas e fendas (Figura 34).

56
Figura 34 - Esquema das tipologias de recarga (Modificado de Vries & Simmers 2002). Fonte: Freitas, 2010.

Segundo Marechal et. ela (2009), em climas áridos e semi-áridos, como o caso
da área de estudo, predomina a recarga indirecta, ao passo que em regiões de clima
húmido, a recarga directa é a principal fonte.

Os ensaios produzidos por Marques (1966) permitiram concluir, naquela altura,


que somente precipitações superiores a 35 mm têm influência notável na recarga dos
Aquíferos Pouco Profundos de Odnjiva e Arredores (Província Hidrogeológica de
Delta Cuvelai-Mui-Pereira D’Eça-Namacunde), e cujo fenómeno processa-se ao longo
dos contactos entre as vertentes das chanas com o seu preenchimento aluvionar
através esta feição morfológica é localmente denominada por Mahenene.

Marques (1966) afirma ainda que somente após 30 a 40 dias do primeiro evento
de precipitação da estação chuvosa é que se verifica a primeira subida do nível
estático, pois parte da água infiltrada é utilizada para suprir o défice hídrico do solo, e
só depois desta primeira fase é que o tempo de percolação reduz para cerca de 13 a
17 dias até atingir a zona saturada, supondo que a permeabilidade seja de 1m/d.

57
7.1 Ferramentas de Gestão de Recarga de Aquíferos (MAR –
Solutions)

Embora seja a recarga indirecta predominante na área de estudo, segundo


alguns autores, o que pode soar controverso tendo em conta o objectivo preconizado
para este estudo, urge a necessidade de antes mesmo de aferir a recarga difusa (ou
indirecta) dos Aquíferos Pouco Profundos de Odnjiva e Arredores, caracterizar os
quantitativos pluviométricos que intervêm no processo de recarga natural e assim ter
uma visão holística sobre o funcionamento nativo dos referidos aquíferos, com vista a
posteriormente propor metodologias de Gestão de Recarga de Aquíferos (em inglês
Managed Aquifer Recarge - MAR) mais adequadas à realidade local.

As metodologias aplicadas para a MAR aplicam-se de acordo com os


problemas identificados e objectivos propostos, e devem ser adaptados às condições
existentes na área em estudo; em geral, os objectivos convergem para o tratamento
e armazenamento de água, utilizada para diversos fins.

Através das ferramentas MAR é possível desenvolver estratégias que visam o


aproveitamento de águas superficiais para o aumento das reservas subterrâneas
(Recarga Difusa); para o controle de inundações, que provocam danos humanos e
materiais; para o controle da taxa de erosão, que actua na redução da espessura do
solo para o desenvolvimento da agricultura, que corresponde a um dos principais
modos de subsistência da área de estudo.

Dentre os métodos MAR existentes, destacam-se os seguintes:

I. Métodos de Distribuição
II. Métodos modificadores do interior de canais
III. Infiltração Induzida
IV. Recarga com poços, túneis e perfurações

a) Poços abertos e túneis: utilizados para a recarga de aquíferos livres,


superficiais e de baixa permeabilidade. Segundo Marques (1966), através
de um depósito escavado durante as suas actividades, cujo propósito era

58
funcionar como dispositivo de recarga ao aquífero da província
hidrogeológica, recomendou a construção de furos de recarga no seu
fundo, os quais deveriam ser poços completos. Para tal utilizou dados da
carta de resistividade elaborada pela Brigada de Geofísica do LNEC;

b) Armazenamento de água em Aquíferos e Recuperação (AAR): injecção


directa de água para o interior do aquífero.

59
8. RESULTADOS E DISCUSSÕES

8.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA SIMPLES DOS PONTOS INVENTARIADOS

Para a fase de levantamento de campo, recorreu-se aos dados de diferentes


pontos de água, desde cacimbas, chimpacas, captações de águas subterrâneas e
inclusive de zonas de extração de inertes, inventariados por John Mendhelson no ano
de 2015, e por Marco Carlos em 2019 aquando da sua participação na Expedição
Científica inserida no âmbito do Programa de Caracterização e Priorização de
Intervenção da Resiliência à Seca no Sul de Angola, financiada pelo Banco Mundial.

Ao todo, foram contabilizados 191 pontos de água a serem inventariados,


distribuídos pelas comunas de Ondjiva, Namacunde, Chiedi, Ombala-Yo-Mungo,
Môngua, Evale e Kafima. No entanto, tendo em conta a monotonia das características
físico-químicas das águas inventariadas, dos 191 pontos de águas previstos, foram
inventariados 78 pontos de águas, o que corresponde a 41% do total previsto; todavia,
durante o trabalho de campo foram identificados e inventariados 84 novos pontos de
água, totalizando 162 pontos de água inventariados em campo, o que representa 85%
do total previsto para o inventário deste estudo (Figura 35).

Figura 35 - Distribuição geoespacial de Pontos de Água inventariados em Ondjiva e Arredores..

60
Destes 162 pontos de águas, 66 correspondem à captações de águas
subterrâneas (equivalente a 40%), 43 chafarizes, 22 chimpacas, 14 cacimbas, 7 zonas
de extração de inertes, 5 Reservatórios de água, 3 estações de bombeamento/
dessalinização e 2 zonas alagadas - Chana e Ecango – (Figura 36).

Figura 36 - Distribuição dos pontos de águas inventariados.

Pese embora tenham sido inventariadas 66 captações de águas subterrâneas,


durante tal processo a equipa de trabalho deparou-se muitas vezes com empecilhos
que dificultaram a caracterização destes pontos de águas subterrâneas,
nomeadamente, inexistência de orifícios nas captações que permitam a introdução de
equipamentos para medição dos níveis piezométricos, profundidade do poço e ainda
a recolha de amostras de água para a medição de parâmetros físico-químicos da
água.

Deste modo, apenas 6 captações de águas subterrâneas, das 66 inventariadas,


apresentavam condições técnicas mínimas desejadas na sua construção e permitiram
a medição dos pontos mencionados no parágrafo anterior.

A presente etapa de levantamento de dados de campo previa igualmente a


recolha de um total de 48 amostras de águas de fontes diversas, das quais foram
recolhidas 25 amostras (Figura 37), o que corresponde a 52% do total previsto,

61
justificada não apenas pela homogeneidade de algumas das características físico-
químicas das águas testadas nos pontos inventariados, mas também pelas
dificuldades na recolha das águas nas captações celadas. Destas, 4 correspondem à
águas recolhidas de captações de águas subterrâneas (poços), no universo dos 6
poços, dentre o total de 66 inventariados, que apresentaram condições técnicas para
a recolha de amostras.

Figura 37 - Amostras de águas recolhidas em Ondjiva e Arredores.

Vinte e duas, dentre as 25 amostras, destinam-se à análise de iões maioritários,


e 10 para a análise de isótopos estáveis, com vista a proceder às diferentes
interpretações relativas ao zonamento das diferentes águas tendo em conta a
composição química, à determinação de zonas de recarga e descarga, e ainda
permitir o estabelecimento de relações hidráulicas entre as diferentes fontes de águas
inventariadas.

62
Relativamente aos materiais sólidos, estava previsto no referido Cronograma
Harmonizado, a recolha de 120 amostras alteradas, entre solo e sedimentos,
obedecendo a sequência litoestratigráfica da área de estudo e a tipologia de ensaios
que se pretendiam realizar. No entanto, tendo em conta a homogeneidade litológica,
foram recolhidas quinze amostras de materiais sólidos (Figura 38) correspondentes a
13% do previsto.

Figura 38 - Amostras de solos recolhidos em Ondjiva e Arredores.

Apraz-nos ressaltar que seis das quinze amostras de solos foram recolhidas
durante os seis ensaios de determinação da massa específica aparente do solo em
seco, realizado em campo pelo método de Garrafa de Areia.

63
8.2 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E HIDROGEOLÓGICA
PRELIMINAR DA ÁREA DE ESTUDO

A caracterização da sequência litoestratigráfica representativa da área de


estudo, as suas feições geomorfológicas e tectónicas, constituíram elementos
fundamentais na reconstituição paleoambiental da referida área, o que permitiu
identificar potenciais zonas aquíferas e a interpretação preliminar das relações
hidráulicas que mantêm com outros corpos de água, a exemplo, as chimpacas.

A superfície da região abrangida pela Bacia Sedimentar do Cuanhama é


extremamente plana e não apresenta ampla densidade de afloramentos que
permitissem à equipa de trabalho aceder à informação litoestratigráfica da área de
estudo. Assim sendo, recorreu-se à zonas de extração de inertes, onde foi possível a
execução dos trabalhos de levantamento de dados sedimentológicos, estruturais,
estratigráficos e hidrogeológicos; ao todo, foram realizados levantamentos geológicos
em sete (7) zonas de exposição, com profundidade máxima observada de 18 metros
(Tabela 4).

Tabela 4 - Informação sobre as zonas de extração de inertes utilizadas para o levantamento geológico.

Localização Coordenadas
Referência Designação
Geográfica Geográficas
AQ4-1-9 (Nova 1) Escavação Virgínia Okapale II S 17º 03' 34,7''
E 15º 41' 27,7''
Escavação S 17°10'12.68"
AQ4-9 Cuamato
Representativa E 15°29'51.57"
Escavação Anhanca S 16º 47' 09,7''
AQ2-25 Anhanca
c/ Cacimbas E 15º 52' 59,5''
Escavação c/ S 16°58'33.2"
AQ1-1-1 Ondjiva
Chimpaca E 15°36'35"
AQ1-6-1 Escavação Môngua Môngua S 16º 54' 04,6''
E 15º 30' 40,7''
Escavação Ombala c/ Ombala-Yo- S 17º 04' 53,6''
B1
Chimpaca Mungo E 15º 12' 07,2''

Ombala-Yo- S 17º 04' 46,1''


B2 Escavação 2 Ombala E 15º 08' 35,9''
Mungo

64
De forma geral, em todas as zonas de exposição utilizadas para o levantamento
geológico foram identificadas estruturas sedimentares como canais, superfícies de
contactos rectilíneas e gradacionais, conglomerados basais, descontinuidades e
discordâncias estratigráficas (Figura 39).

Figura 39 - Afloramento AQ4-9 e sua caracterização de detalhe.

Conforme observado acima, o ponto AQ4-9 apresenta feições geológicas e


estratigráficas muito representativas para a área de estudo. Do ponto de vista
litoestratigráfico, é constituído por três unidades, descrito abaixo:

Base: composta por margas compactas de coloração branca, com 4m de


espessura o que evidencia um ambiente sedimentar fluvial, com coluna de água de
espessura reduzida, que, pelo processo de evaporação permitiu a precipitação
química do carbonato de cálcio e deposição de argilas na Bacia Sedimentar do
Cuanhama. Estas margas apresentam diáclases de aproximadamente 3mm de
espessura média, as quais inclinam-se no sentido SE. Foi igualmente identificados
lentes contínuas e evidentes de conglomerados do seio das margas, o que representa,

65
do ponto de vista estratigráfico, a presença de uma descontinuidade denominada por
Paraconformidade ou Diastema, dependendo da extensão e datação desta unidade.

Apraz realçar que nesta formação, através das suas diáclases, verificou-se o
fluxo de água subterrânea para o meio exterior.

Topo: constituído por areias siltosas de coloração vermelha em função da


oxidação do ferro existente na sua composição, medindo cerca de 3m de espessura,
de ambiente sedimentar eólico, com estruturas do tipo rills, fruto da erosão do tipo
sheat wash.

Entre a base e o topo desta zona de extracção de inertes, foi identificado uma
unidade composta por conglomerados basais (Figura 40), o que corresponde à uma
época de interrupção no processo de formação das margas de base e erosão; tal
descontinuidade é classificada como Desconformidade.

Figura 40 - Conglomerados basais. Evidenciais de Desconformidade entre Base e Topo do AQ4-9.

A Figura 41 apresenta o ponto de levantamento geológico AQ2-25, uma zona


de extracção de inertes com um campo de vinte e três (23) cacimbas com
características particulares e escavadas segundo direcções preferenciais. Neste
ponto, foram identificadas três unidades litostratigráficas, sendo a base constituída

66
pelas habituais margas de coloração branca/acinzentada, compactas, com cerca de
8m de espessura, com fissuras nos sentidos SE e SW por onde a água no seu interior
mantém contacto com o meio externo.

Figura 41 - Zona de extração de inertes AQ2-25, com 23 cacimbas e suas estruturas.

Em suma, verificou-se uma semelhança extrema entre as sequências


litostratigráficas e estruturas sedimentares das escavações dos quadrantes I e IV, e
entre o II e II, da zona A, e toda a zona B (Figura 42). Este facto pode significar que,
em virtude dos acidentes tectónicos vivenciados nesta região, de um modo geral os
estratos podem estar inclinados no sentido NE-SW, onde nos quadrantes I e IV
afloram as areias dos mufitos que assentam sobre as argilas e margas, e nos
quadrantes II e III, não se encontram as areias vermelhas dos mufitos, mas sim as
argilas e margas a aflorar.

67
Figura 42 - Imagem satélite da área de estudo que demonstra a distribuição espacial das semelhanças
geológicas entre os quadrantes da área de estudo.

8.3 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DAS AMOSTRAS DE SOLOS


RECOLHIDAS EM ONDJIVA E ARREDORES

Após o tratamento estatístico simples das amostras de solos e sedimentos


recolhidos em Ondjiva e Arredores, adoptou-se que somente treze amostras seriam
submetidas aos ensaios geotécnicos, uma vez que as duas amostras restantes
correspondiam à réplicas.

A Tabela 5 apresenta os equipamentos utilizados para a realização dos ensaios


geotécnicos.

68
Tabela 5 - Equipamentos utilizados para a realização dos ensaios geotécnicos no Laboratório PRON'GILA

Designação do Ensaio Equipamento utilizado

Teor de Água Estufa.

Balança de precisão 0,1g;


Densidade Relativa das Partículas Sólidas Picnómetros graduados;
Fogão eléctrico.

Balança de precisão 0,1g;


Análise Granulométrica de Solos (por Série de Peneiros ASTM;
Peneiração e Sedimentação) Provetas graduadas;
Densímetro

Concha de Casagrande;
Limites de Consistência e Determinação do
Paquímetro; Placa de Vidro;
Índice de Plasticidade
Balança de precisão 0,1g.

Balança de precisão 0,1g;


Ensaio de Compactação tipo Proctor
Molde pequeno; pilão leve

Permeâmetro de carga
Permeabilidade de Solos Granulares constante; Balança de
precisão 0,1g.

Conforme observado na tabela 6, os ensaios de determinação do Teor de Água,


Ensaio de Compactação tipo Proctor Normal (Figura 43), Limites de Consistência e
Determinação do Índice de Plasticidade (Figura 44) Densidade Relativa das Partículas
Sólidas (Figura 45) Análise Granulométrica, e a Determinação da Permeabilidade
(Figura 46), foram realizados pelo autor deste TFC, no laboratório PRON’GILA (tabela
6), sob orientação e supervisão de um técnico destacado para o efeito, num horizonte
temporal de dois (2) meses, atendendo às especificidades a que se pretendiam
alcançar com os resultados obtidos.

69
Figura 44 – Concha de Casagrande para a
Figura 43 – Ensaio de Compactação leve em molde
realização do ensaio de determinação dos Limites
pequeno (Proctor Normal).
de Consistência dos solos.

Figura 45 – Ensaio de Determinação da Figura 46 - Permeâmetros de Carga Constante e


Densidade Relativa das Partículas Sólidas. Variável.

70
Tabela 6 - Descriminação do tipo de ensaio realizado por cada amostra

Limites de Consistência e
Análise Granulométrica
Densidade das Índice de Plasticidade
ID Amostra Local de Recolha Proctor Permeabilidade
Partículas Sólidas

Peneiração Sedimentação IP LL

AQ4-9(1) Z.E.Inertes 1 1 1 1

AQ4-9(2) Z.E.Inertes

1 1 1 1 1 2

AQ4-9(3) Z.E.Inertes

AQ4-9(4) Z.E.Inertes 1 1 1 1

AQ4-9(5) Z.E.Inertes 1 1 1

AQ4-9 (6) Z.E.Inertes 1 1 1

AQ4* Chimpaca 1 1 1 1 1

71
AQ3-20-1 Ecango 1 1 1 1 1 1

AQ3* Chimpaca 1 1 1 1 1 1

AQ2-25 (1) Z.E.Inertes 1 1 1

AQ2-25 (2) Z.E.Inertes 1 1 1 1 1

AQ2-25 (3) Z.E.Inertes

1 1 1 1

AQ2-25 (4) Z.E.Inertes

AQ1-1-1 Z.E.Inertes 1 1 1

B13 Chimpaca 1

TOTAL 13 8 8 12 12 3 4

72
8.3.1 Classificação Textural de solos

A classificação Textural é aquela que se baseia apenas na composição


granulométrica do solo, mais especificamente, nas fracções arenosa, siltosa e argilosa,
obtidas por meio dos ensaios de Análise Granulométrica por Peneiração e por
Sedimentação.

A composição granulométrica pode ser definida como a distribuição dos tamanhos


dos grãos que compõem os solos em percentagem em relação ao peso total da amostra
do solo de acordo com as suas dimensões, onde, para partículas de maiores dimensões
procede-se pelo processo de peneiração (Figura 47), em que o solo é obrigado a passar
por uma série de peneiros de malha quadrada normalizada e cada vez mais apertada
agitado por meio de um agitador mecânico ou força humana, em que o material retido
num determinado peneiro representa a fracção do solo com dimensão superior à da malha
desse peneiro, porém inferior ao do peneiro que lhe precede. A percentagem de fracções
finas no solo (siltes e argilas), foram obtidas através do ensaio de Sedimentação, o qual
é realizado tendo como base a Lei de Stockes (Figura 48).

Figura 47 - Análise Granulométrica por Figura 47 - Análise granulométrica por


Peneiração. Sedimentação.

73
Conforme observado na Figura 49, elaborado por meio do software Triplot,
versão 4.1.2, das treze amostras de solos somente oito foram submetidas ao ensaio
de Análise Granulométrica por sedimentação por se tratarem daquelas mais
representativas para o efeito, correspondendo a 61,53% do total de amostras. O
referido gráfico permite a visualização da distribuição das fracções arenosas, siltosas
e argilosas que compõem os solos, e constata-se que quatro das amostras
submetidas ao referido ensaio classificam-se como Areias, e as restantes quatro
classificam-se como Areias Siltosas.

Figura 48 - Classificação textural segundo Ferret das amostras de solos recolhidas em Ondjiva e Arredores.

8.3.2 Classificação Unificada de solos e Highway Research Board

O Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS ou simplesmente


unificada) proposta em 1948 por Arthur Casagrande foi originalmente adaptada da
então chamada ‘’classificação de Casagrande’’ destinada a classificação de solos

74
para a construção de pistas de aeroportos. Este sistema de classificação designa os
solos através de 14 letras distribuídas por pares, onde a primeira letra designa o
material que compõe o solo e a segunda reflete o estado do solo; Faz recurso à curvas
granulométricas e carta de plasticidade, cujo critério de distinção entre solos
grosseiros e solos finos é a percentagem passada pelo peneiro nº 200 que separa as
areias dos siltes; caso passe mais de 50% por este peneiro o solo é classificado como
fino, e deve-se proceder utilizando a carta de plasticidade; por outro lado, se mais de
50% do solo ficar retido no referido peneiro, o solo é classificado como grosseiro,
seguindo posteriormente outros protocolos estabelecidos.

O Sistema de classificação de Highway Research Board (HBR), também


conhecida como classificação A.A.S.H.T.O, divide os solos em oito (8) grupos, desde
A-1 a A-8 com base na sua granulometria, e assume-se que os solos do grupo A-1
são aqueles que se consideram como os ideais para a construção de vias (mais
grosseiros), e os do grupo A-8 apresentam as piores características por serem solos
finos. A distinção entre solos granulares, siltosos e argilosos nesta classificação faz-
se através da análise granulométrica fazendo recurso à curva granulométrica e carta
de plasticidade. Caso passe mais de 35% do solo pelo peneiro nº 200 o solo é
classificado como fino – siltoso e argiloso (grupos A-4 a A-7) ou orgânicos (A-8)
dependendo de outros parâmetros que intervêm para a sua identificação; se mais de
35% ficar retido no referido peneiro o solo é classificado como granular (grupos A-1 e
A-2).

Conforme observado na Figura 50 e nos gráficos 2 e 3, correspondentes


respectivamente às curvas granulométricas das treze (13) amostras recolhidas em
Ondjiva e Arredores, e à estatística simples relativa às suas Classificações (Unificada
e A.A.S.H.T.O), constata-se que, segundo a classificação Unificada, das treze
amostras de solo, sete (7) são classificadas como Areias Siltosas – SM, três (3)
classificam-se como Areias Argilosas – SC, uma (1) como Areia bem graduada – SW,
uma (1) como areia mal graduada – SP, e uma (1) como Areia bem graduada com
siltes – SW-SM. Complementando, observa-se no gráfico 8 que reflecte a
Classificação Highway Research Board (HBR), onde pode-se constatar que 55% das

75
amostras classificam-se como sendo do grupo A-2-4 (0), o qual corresponde a Areias
siltosas conforme classificação Unificada.

Figura 49 - Curvas granulométricas das amostras de solos recolhidas em Ondjiva e Arredores, produzidas pelo
Software Grapher.

SW-SM A-1b
SP 8% 9%
A-2-7
8% 9%

SW
7% A-2-6
9%
SM A-2-4
54% 55%
A-4
9%
SC
23%
A-3
9%

Gráfico 2 - Estatística simples referente à Gráfico 3 - Estatística simples referente à


classificação Unificada de Solos das amostras classificação Highway Research Board (HBR) das
recolhidas em Ondjiva e Arredores. amostras recolhidas em Ondjiva e Arredores.

76
8.3.3 Classificação Textural segundo USDA

Conforme determinado em laboratório, as amostras de solos recolhidas em


Ondjiva e Arredores classificam-se predominantemente como areias siltosas – SM
(segundo a classificação SUCS) e atendendo à necessidade de classificá-las quanto
às suas características como meio hidrogeológico procedeu-se a projecção dos
resultados das amostras submetidas à análise granulométrica no diagrama produzido
pelos Serviços de Conservação de Solos dos Estados Unidos da América, sendo
consideradas como solos franco-arenosos, inseridos no Grupo B segundo a
classificação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América - USDA
(Figura 51), cuja infiltração é habitualmente considerada como moderada e a
drenagem considerada como boa a moderada.

Figura 50 – Classificação textural das amostras de solos segundo USDA.

77
8.3.4 Determinação do Coeficiente médio de Permeabilidade

Foram submetidas três (3) amostras de solos recolhidos em Ondjiva e


Arredores para a determinação do coeficiente médio de Permeabilidade. As referidas
amostras, correspondem respectivamente às areias vermelhas superficiais dos
mufitos, às areias argilosas de contacto, e às areias bem graduadas siltosas com
carbonatos (margas), representando deste modo a sequência litoestratigráfica da área
de estudo (tabela 7).

Tabela 7 - Amostras submetidas ao ensaio de Determinação do Coeficiente médio de Permeabilidade.

Amostra Descrição
Local de Classificação
submetida visual da Observação
recolha SUCS
ao ensaio amostra

Topo de Ensaio realizado


Areia
Zona de SM – Areia com e sem
AQ4-9 (2) vermelha
Extração de siltosa compactação da
com finos
Inertes amostra

Ensaio realizado
Areia com SC – Areia
AQ3-20-1 Ecango sem
argila preta argilosa
compactação

Areia com SW-SM –


Ensaio realizado
cimento Base de Areia bem
AQ3* sem
carbonatado Chimpaca graduada com
compactação
(margas) siltes

Em função da predominância de fracções grosseiras (areias) na sua


composição granulométrica, as referidas amostras foram classificadas como solos
granulares, e por este motivo, o equipamento utilizado para a determinação do
coeficiente médio de permeabilidade, foi o Permeâmetro de Carga Constante (Figura
52), que, como o próprio nome sugere, dispõe de um reservatório conectado a uma
fonte constante de abastecimento de modo a manter o mesmo volume de água no
seu interior durante a realização do ensaio.

78
Figura 51 - Permeâmetro de Carga Constante indicado a vermelho.

O referido ensaio foi realizado em três alturas, nomeadamente, 182 cm, 162 cm
e 142 cm, com três leituras em cada altura, durante um período de três (3) minutos,
atendendo aos caudais gerados, cujos gradientes hidráulicos foram respectivamente
iguais a 15,44, 13,74 e 12,04.

A tabela 8 apresenta os resultados dos ensaios e classificação das amostras


segundo Mattos Fernandes (2011) quanto ao grau de permeabilidade.

79
Tabela 8 - Classificação das amostras de solos quanto ao grau de permeabilidade.

Grau de
Amostra Coeficiente de Permeabilidade
Classificação Condição
submetida Permeabilidade (Mattos
SUCS do ensaio
ao ensaio Média (m/d) Fernandes,
2011)

SM – Areia Sem 2,63 Médio


AQ4-9 (2)
siltosa compactação

SM – Areia Com 0,039 Baixo


AQ4-9 (2)
siltosa compactação

SC – Areia Sem 2,594 Médio


AQ3-20-1
argilosa compactação

SW-SM – 1,675 Médio


Areia bem Sem
AQ3*
graduada com compactação
siltes

Para o caso da amostra AQ4-9 (2) cujo ensaio foi realizado sob duas condições,
isto é, com e sem compactação da amostra, apraz-nos realçar que, em cumprimento
da norma utilizada para o efeito, a referida amostra foi compactada com o seu teor
óptimo de água – 8,3% para 2500g de solo – (Figura 53), determinado a partir do
ensaio de Proctor Normal (Gráfico 4).

No entanto, não havendo condições técnicas no referido laboratório que


permitissem a comparação da densidade medida in situ e assim compactar as
amostras para a realização do ensaio de Permeabilidade, não foi possível chegar a
um resultado desta natureza por meio da comparação dos resultados do ensaio de
determinação da massa específica aparente do solo em seco.

Marques (1966) estimou, sem mencionar detalhadamente à que litologias se


refere, que a permeabilidade média da província Hidrogeológica por si caracterizada,
era igual a 1m/dia. Os resultados obtidos dos ensaios laboratoriais realizados neste
TFC constatam que os coeficientes médios de permeabilidade das três unidades

80
litoestratigráficas representativas da região, são diferentes, os quais constituem
respectivamente a litologia dos aquíferos suspensos, e a litologia que compõe os
aquíferos pouco profundos.

Figura 52 - Solo compactado após o término do ensaio de determinação da permeabilidade.


Peso volúmico seco, gd (kN/m3)

19,00

18,50

18,00
4 5 6 7 8 9 10 11
Teor de humidade (%)

Gráfico 4 - Leitura do Teor óptimo de água através da Curva de Compactação da amostra AQ4-9 (2)..

81
8.4 DETERMINAÇÃO DA ORIGEM DAS AMOSTRAS DE ÁGUAS
ATRAVÉS DA ANÁLISE DE ISÓTOPOS ESTÁVEIS

Com o propósito de obter mais informações relativamente à origem das


amostras de águas recolhidas em diferentes fontes, em Ondjiva e Arredores, foram
submetidas dez (10) amostras para a análise dos seus isótopos Deutério ( 2H) e 18O

no laboratório de Hidrologia Isotópica do Centro Nacional de Investigação Científica –


CNIC (Tabela 9).

Tabela 9 - Lista de amostras de águas submetidas à análise de isótopos estáveis

Coordenadas
Código da Amostra Local de Recolha
Geográficas

S 16º 31' 51,4''


PM18-2 Chimpaca
E 16º 19' 40,6''

S 16º 35' 37,1''


AQ2-20-1 Chafariz
E 16º 09' 11''

S 16º 31' 33,7''


PM15 Poço
E 16º 19' 38,2''

S 17°10'12.68"
AQ4-9 Chimpaca
E 15°29'51.57"

S 16º 58' 33,2''


AQ1-1-1 Chimpaca
E 15º 36' 35''

S 16º 47' 08,1''


AQ2-25-6 Cacimba
E 15º 52' 57,8''

S 17º 13' 24''


AQ3-10-1 Chimpaca
E 15º 49' 07,4

S 17º 04' 53,6''


B1-2 Chimpaca
E 15º 12' 07,2''

82
S 17º 03' 31,2''
B11 Poço
E 15º 03' 59,3''

S 17º 03' 15,4''


B13 Chimpaca
E 15º 03' 43,2''

As referidas amostras foram analisadas no equipamento Liquid Water Isotope


Analyser (Figura 54), durante um período de aproximadamente nove (9) horas, onde,
mediu-se a notação delta (δ) dos isótopos mencionados no parágrafo anterior (δ2H e
δ18O). Esta notação aumenta na medida em que a concentração isotópica das
espécies aumenta, logo, a interpretação da variação das concentrações isotópicas
pode ser feita através deste parâmetro, onde tal variação de concentrações ocorre em
virtude do processo de fraccionamento isotópico, o qual acontece por factores
essencialmente termo-dinâmicos.

Figura 53 - Liquid Water Isotope Analyser - Los Gatos Research.

83
As soluções padrão utilizadas para o efeito foi o VSMOW – Vienna Standard
Mean Ocean Water e VSLAP – Standard Light Antarctic Precipitation, que constituem
instrumentos de calibração para a padronização e comparação inter-laboratorial de
instrumentos utilizados para medir a composição isotópica dos materiais, neste caso
específico, da água. Estes possuem a composição isotópica bem definida e são
controlados pela Agência Internacional de Energia Atómica.

Adoptou-se, pela média de medições, que a δ2H e δ18O para o padrão VSMOW
é igual a 0‰; logo, quando aplicada a fórmula do fraccionamento isotópico, é possível
fazer-se a interpretação sobre a variação da concentração de determinada espécie
isotópica.

𝒆𝒔𝒑é𝒄𝒊𝒆 𝒊𝒔𝒐𝒕. 𝒓𝒂𝒓𝒂 𝒆𝒔𝒑é𝒄𝒊𝒆 𝒊𝒔𝒐𝒕. 𝒓𝒂𝒓𝒂


( ) 𝒂𝒎𝒐𝒔𝒕𝒓𝒂 − ( ) 𝒑𝒂𝒅𝒓ã𝒐
𝒆𝒔𝒑é𝒄𝒊𝒆 𝒊𝒔𝒐𝒕. 𝒂𝒃𝒖𝒏𝒅𝒂𝒏𝒕𝒆 𝒆𝒔𝒑é𝒄𝒊𝒆 𝒊𝒔𝒐𝒕. 𝒂𝒃𝒖𝒏𝒅𝒂𝒏𝒕𝒆
𝜹= 𝒙 𝟏𝟎𝟑
𝒆𝒔𝒑é𝒄𝒊𝒆 𝒊𝒔𝒐𝒕. 𝒓𝒂𝒓𝒂
( ) 𝒑𝒂𝒅𝒓ã𝒐
𝒆𝒔𝒑é𝒄𝒊𝒆 𝒊𝒔𝒐𝒕. 𝒂𝒃𝒖𝒏𝒅𝒂𝒏𝒕𝒆

Onde:

 Espécie isotópica rara = isótopo em análise (ex.: 2H ou 18O);


 Espécie isotópica abundante = isótopo mais abundante da molécula (ex.: 1H ou
16O).

As amostras foram devidamente preparadas para a realização das análises,


sendo colocadas em frascos de vidro de 2ml, com uma réplica por amostra.
Adiconalmente, foram preparadas três soluções de igualmente 2ml para quatro
padrões, que correspondem respectivamente à água destilada, água enriquecida nos
isótopos em análise, água com composição intermédia (água de controle), ambos
calibrados com base no padrão VSMOW, e água empobrecida nos mesmos, calibrada
pelo padrão VSLAP, a qual foi recolhida em zonas montanhosas dos Alpes franceses,
de clima frio e húmido (Figura 55).

84
Figura 54 - Preparação das soluções padrão e amostras de águas recolhidas em Ondjiva e Arredores.

Após a análise dos referidos isótopos, determinou-se as suas “concentrações”,


e tais valores foram processados fazendo recurso ao software BIMS, e posteriormente
inseridos no gráfico da Recta Meteórica Mundial (gráfico 5), cuja equação é dada por
𝜹 𝟐𝟏𝑯 = (𝟖 × 𝜹 𝟏𝟖𝟏𝑶) + 𝟏𝟎 (‰), para a determinação da origem das águas submetidas à
esta análise.

A referida Recta surge após investigações desenvolvidas por Craig (1961), que,
por meio de uma análise sistemática das águas de precipitação, estabelece uma
correlação linear entre as concentrações de 2H e 18O. Nesta, fazem-se quarto (4)
possíveis interpretações quanto à origem das águas em função da orientação
preferencial dos resultados:

a) Água de precipitação (Linha Meteórica Mundial);


b) Água de precipitação que sofreu evaporação (Linha de Evaporação);
c) Água Salobre – mistura de águas doce e salgada (próximo à origem);
d) Água salgada (na origem).

85
120
δH2 = (8*δO18) + 10
100 R² = 1
80
60
40
δH2

20
δH2 = 4,7895*δO18 - 16,253
0 R² = 0,9984
-10 -5 -20 0 5 10 15

-40
-60
-80
δO18

Água de Chimpaca Água de Captação de Águas Subterrâneas


Água de Chafariz Água de Cacimba
Pontos traçadores da GMWL Linha de
Linear Evaporação
(Água de Chimpaca)
Linear (Pontos traçadores da GMWL)

Gráfico 5 - Resultado das análises de isótopos estáveis das amostras de águas na recta meteórica mundial.

Conforme observado no gráfico acima, as dez (10) amostras submetidas à


análise, independentemente da sua fonte, encontram-se orientadas segundo a Linha
de Evaporação, o que corresponde a uma origem pluviométrica geral, que sofreu o
fraccionamento através do processo de evaporação, tornando-as mais enriquecidas
nos isótopos em análise e consequentemente empobrecidas nos isótopos
considerados como mais leves, em virtude da facilidade de evaporação face aos seus
pesos moleculares.

O processo de evaporação nos corpos de águas superficiais como as cacimbas


e as chimpacas é facilmente entendido em virtude da própria configuração do sistema
– aberto, exposto à radiação solar e consequentemente à evaporação. No entanto,
para as duas amostras de águas subterrâneas que também se encontram na linha de
evaporação, pode-se formular a seguinte conclusão: Considerando que apenas uma
pequena percentagem da precipitação (aproximadamente 20%) alcança a zona
saturada, o sinal meteórico nas águas subterrâneas pode ser significativamente
modificado (Pimentel et. al. 2000;). Neste sentido, os aquíferos suspensos e pouco
profundos são recarregados directamente por água de precipitação, e, por acção da

86
capilaridade, sofrem evaporação na zona vadosa, por se encontrarem próximos à
superfície.

8.5 CLASSIFICAÇÃO HIDROQUÍMICA DAS AMOSTRAS DE ÁGUAS


RECOLHIDAS EM ONDJIVA E ARREDORES

O crescimento demográfico, a expansão do processo de urbanização de


cidades e a demanda cada vez maior por água em quantidades suficientes e
qualidades adequadas, utilizadas para diversos usos, tem influenciado fortemente na
poluição e consequente contaminação dos recursos hídricos, principalmente os
subterrâneos.

O parâmetro “qualidade da água” consiste num conjunto de características


físicas, químicas e biológicas que esta apresenta; os padrões de classificação mais
utilizados pretendem aferir a sua potabilidade e segurança para o consumo humano,
lazer, usos industriais e agrícolas.

Para este sub-capítulo foram utilizados os resultados das análises de iões


maioritários das vinte e duas (22) amostras de águas recolhidas em Ondjiva e
Arredores e analisadas no Laboratório regional sul do IGEO, as quais foram
processadas nos equipamentos abaixo:

I. Espectrómetro de Emissão Óptica com Plasma Indutivamente Acoplado


(ICP-OES): Cálcio, Potássio, Magnésio, Sódio.

II. Cromatógrafo de Iões (ICS): F-, Cl-, SO42-, NO3-.

Conforme apresentado acima, do conjunto de iões que compõem os iões


maioritários da água, por incapacidade técnica dos laboratórios do IGEO e do INIS,
não foi determinada a concentração do ião Bicarbonato (HCO3-).

Para a etapa de sintetização dos dados de análises químicas da água, foi


utilizado o software Microsoft Excel para a elaboração de planilhas de cálculo de

87
parâmetros diversos; foi igualmente utilizado o software QUALIGRAF (Figura 56), que
permite representar os resultados de forma gráfica para melhor caracterização das
águas quanto à sua qualidade para diferentes fins.

Figura 55 - Software QUALIGRAF

8.5.1 Determinação do Coeficiente de Actividade dos Iões Maioritários das


amostras de águas

Tratando-se de análises da composição química de amostras de águas, a


determinação da actividade dos iões presentes na água constitui um elemento de
maior relevância quando comparado com interpretações feitas tendo em conta
simplesmente a concentração destes iões.

O parâmetro actividade é o produto da multiplicação da concentração (em


meq/l) e o coeficiente de actividade (ɣ) do ião analisado em cada amostra. O
coeficiente de actividade é determinado a partir da Lei de Debye-Huckel, que por sua
vez, integra componentes dependentes da força iónica (I), cuja fórmula é apresentada
abaixo, e indica a porção da concentração do ião que efectivamente participa nas
principais reacções químicas.

88
1
𝐼= ∑ 𝑚𝑖 × 𝑍 2 𝑖
2

Onde:

mi: concentração do elemento em mol/L

Zi: carga iónica do elemento

Os resultados obtidos do cálculo da força iónica (I) demonstram que vinte e


uma (21) amostras cumprem com a condição I≤ 0,1 e uma (1) cumpre com a condição
I> 0,1. Deste modo, para a determinação do coeficiente de actividade (ɣ) das amostras
que cumprem com a primeira condição citada foi utilizada a equação apresentada em
a), e para as que cumprem com a condição II foi utilizada a equação em b):

a) Fórmula de Debye-Huckel para I≤ 0,1

−𝐴 × 𝑍𝑖 2 × √𝐼
𝐿𝑜𝑔ɣ =
1 + 𝐵 × 𝑎 × √𝐼

b) Fórmula de Debye-Huckel para I> 0,1

−𝐴 × 𝑍𝑖 2 × √𝐼
𝐿𝑜𝑔ɣ = +𝑏×𝐼
1 + 𝐵 × 𝑎 × √𝐼

Verificou-se, portanto, que o ião cálcio (Ca2+) é o que mais participa nas
reações químicas que podem ocorrer nas amostras de água analisadas, com uma
média geral de 12,19 meq/L, seguido do ião sódio (Na+), com uma média geral de
3,97 meq/L.

89
8.5.2 Classificação quanto ao tipo de água

Das vinte e duas (22) amostras analisadas, tendo como base a classificação
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), vinte (20) são consideradas como
água potável (TDS< 1000 mg/L), e duas (2) são salobres (TDS 1000-5000 mg/L)
(tabela 10).

Tabela 10 - Lista de amostras de águas analisadas em laboratório e classificadas quanto à potabilidade

Classificação
Código da Amostra Origem TDS
OMS

PM18-2 Reservatório 77,1 Água potável


(Tanque)

B12 Chimpaca 362,9 Água potável

B14 Chimpaca 419,2 Água potável

AQ2-20-1 Chafariz 1338,7 Água salobre

PM15 Poço 129,9 Água potável

AQ4-9 Nascente 258,75 Água potável

AQ2-25-2 Cacimba 207,75 Água potável

AQ1-1-1 Chimpaca 136,2 Água potável

AQ2-25-6 Cacimba 335,25 Água potável

AQ2-25-5 Cacimba 128,4 Água potável

AQ3-10-1 Chimpaca 198,7 Água potável

CHIMPACA NOVA Chimpaca 46 Água potável


CAMPO

AQ4-11 Poço 188,25 Água potável

CHIMPACA TALA-A- Chimpaca 156 Água potável


CHIKE

AQ4-4 Chafariz 873,2 Água potável

AQ2-25-4 Cacimba 320,6 Água potável

90
AQ2-25-3 Cacimba 249 Água potável

B1-2 Chimpaca 269,2 Água potável

AQ2-25-1 Cacimba 105,9 Água potável

CHIMPACA KAXILA 2 Chimpaca 2460 Água salobre

B11 Poço 762 Água potável

B13 Chimpaca 417,6 Água potável

O cálculo do coeficiente de erro (e%) para as 22 amostras de águas foi


realizado tendo em conta os clássicos propostos por custodio & Llamas e Logan &
Schoeller, para a determinação dos erros normal e prático, os quais estão
consubstanciados no balanço iónico, expresso pelas equações:

a)Erro normal (Custodio & Llamas)


∑ 𝑐𝑎𝑡𝑖õ𝑒𝑠 − ∑ 𝑎𝑛𝑖õ𝑒𝑠
𝑒(%) = × 100
∑ 𝑐𝑎𝑡𝑖õ𝑒𝑠 + ∑ 𝑎𝑛𝑖õ𝑒𝑠

b)Erro prático (Custodio & Llamas)


∑ 𝑐𝑎𝑡𝑖õ𝑒𝑠 − ∑ 𝑎𝑛𝑖õ𝑒𝑠
𝑒(%) = × 100
1/2 × (∑ 𝑐𝑎𝑡𝑖õ𝑒𝑠 + ∑ 𝑎𝑛𝑖õ𝑒𝑠)

c) Erro prático (Logan & Schoeller)


∑ 𝑎𝑛𝑖õ𝑒𝑠 − ∑ 𝑐𝑎𝑡𝑖õ𝑒𝑠
𝑒(%) = × 100
∑ 𝑐𝑎𝑡𝑖õ𝑒𝑠 + ∑ 𝑎𝑛𝑖õ𝑒𝑠

Destes cálculos, obteve-se coeficientes de erro superiores ao estabelecido para


que se possa considerar os resultados como válidos. No entanto, assumindo que tais
erros, na ordem dos 63% por exemplo, sejam derivados da falta dos resultados
referentes às concentrações do ião Bicarbonato (HCO3-).

91
Considerando que não existam erros analíticos que não estejam relacionados
com a ausência do ião referido no parágrafo anterior, considerou-se a percentagem
do erro normal proposto por custodio & Llamas, correspondente a cada amostra
analisada, como a representação da concentração do ião HCO 3-, estando assim em
situação de equilíbrio iónico e aptos para utilizar os resultados para diferentes
interpretações, tendo sempre em observância o exposto anteriormente.

O fenómeno de salinização dos solos da área de estudo é um aspecto de


extrema importância, pelo que determinou-se a susceptibilidade de salinização destes
pelo uso das amostras de águas para a rega de perímetros reservados para a
agricultura, a qual constitui uma das principais actividades de subsistência da
população local.

Tal situação, para além de contribuir para a estimativa global de perda de 10


hectares de terras aráveis a cinco segundos por salinização dos solos (ONU, 2019),
aumenta o risco de salinização dos aquíferos suspensos e pouco profundos de
Ondjiva e Arredores, por meio da infiltração e recarga destes.

A classificação das águas para fins agrícolas é determinada pela concentração


de alguns iões, tais como o sódio, potássio, cloreto, sulfato e borato, e parâmetros
como os sais dissolvidos, condutividade eléctrica e a concentração total de catiões,
que influenciam de maneira diferenciada no crescimento de cada espécie vegetal.
Dentre os critérios para classificação da água para fins de irrigação, um dos mais
aceites actualmente é a classificação proposta pelo United States Salinity Laboratory
(USSL). Esta classificação baseia-se na razão de adsorsão de sódio (SAR) e na
condutividade elétrica da água.

A figura 57 apresenta os resultados do processamento de doze (12) amostras


do conjunto das vinte e duas (22) outrora analisadas em laboratório (tabela 11).

92
Figura 56 - Distribuição das 12 amostras de águas pelo Diagrama SAR e classificação quanto ao risco de
salinização.

Tabela 11 - Dados utilizados na construção do gráfico SAR e distribuição por classes.


Código da Na Mg CE
Ca (mg/l) SAR Classificação
amostra (mg/l) (mg/l) (μS/cm)
1 AQ3-10-1 81,8 7,96 0,96 264 7,2871 C2 - S1
2 CHIMP
748 11,8 7,74 3280 41,5515 C4 - S4
CAXILA 2
3 CHIMP- TALA-
29,3 11,6 2,19 208 2,0676 C1 - S1
A-CHIKE
4 CHIMP. NOVA
5,17 3,97 1,35 61,3 0,5717 C0 - S1
CAMPO
5 AQ4-1-1 38,9 12,3 1,79 251 2,7413 C2 - S1
6 B13 84 7,02 8,41 556,8 5,0609 C2 - S1
7 B11 64,9 11,1 18,6 1016 2,7653 C3 - S1
8 AQ2-20-1 26,3 6,03 0,63 1784,9 2,7231 C3 - S1
9 PM15 4,83 20,9 5,12 173,2 0,2454 C1 - S1
10 PM18-2 5,44 11,7 1,95 102,8 0,3877 C1 - S1
11 B1-2 10,4 10 000,00 15,6 358,9 0,0286 C2 - S1
12 B14 8,34 19,1 1,34 558,9 0,4972 C2 - S1

93
Conforme observado no gráfico acima, uma (8,3%) pertence a classe C4-S4,
que indica um risco muito elevado de salinização do solo; duas (2) amostras
pertencem à classe C3-S1, correspondente a 16% e apresentam um risco de
salinização elevado. Cinco (5) amostras pertencentes à classe C2-S1 representam
cerca de 41,6% do risco de salinização moderada dos solos caso se utilize este tipo
de águas para a irrigação de campos agrícolas; três das doze amostras pertencem ao
grupo C1-S1 (25%) representam um nível baixo de salinização dos solos, e apenas
uma (8,3%) representa um risco nulo de salinização (gráfico 6).

8% 8%

17%
25%

42%

Nulo Baixo Moderado Elevado Muito elevado

Gráfico 6 - Distribuição do risco de salinização dos solos por irrigação com base nas amostras de águas
recolhidas em Ondjiva e Arredores.

8.6 CÁLCULO DA RECARGA SUBTERRÂNEA EFECTIVA COM


BASE NO BALANÇO HÍDRICO MENSAL DO SOLO

Para este tópico procedeu-se a utilização do modelo mensal desenvolvido por


Thornthwaite & Mather (1955), o qual estabelece as quantidades de entrada e saída
de um determinado meio, como o solo. Os referidos autores estabelecem um
procedimento para a realização do balanço hídrico mensal do solo, onde, em primeira
instância calcula-se a Evapotranspiração Potencial corrigida (ETPcorr.), que

94
corresponde à quantidade máxima de água presente no sistema que se pode
evaporatranspirar.

Os elementos de entrada que configuram o resultado do cálculo deste primeiro


parâmetro são a temperatura mensal, obtida através do satélite Global Land Data
Assimilation System (GLDAS), sob auspício da NASA; o índice de insolação mensal
(i), o número total de dias do mês em análise e por fim, o número de horas de brilho
solar de cada mês.

Conforme observado na tabela 12, para a realização destes cálculos foi


utilizado o ano hidrológico mais húmido da série considerada neste estudo, tendo o
seu início no mês de Setembro de 2010 e término no mês de Agosto de 2011. Neste,
constam os resultados da ETPcorr., cujo maior valor foi atingido no mês de Outubro
de 2010, com 131,2 mm máximos de água do solo que estaria sujeita a
evapotranspirar.

95
Tabela 12 - Planilha de cálculo da Evapotranspiração corrigida utilizando o método de Thornthwate & Mather (1955)

Meses
set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago
Parâmetros

Temperatura
23,39 25,66 25,01 24,33 24,03 23,35 23,17 22,85 19,66 17,49 16,81 19,48
(°C)

i 10,34 11,90 11,44 10,97 10,77 10,31 10,19 9,98 7,95 6,66 6,27 7,84 114,62 a= 2,55

ETP sem corr 98,6 124,9 117,0 109,1 105,7 98,2 96,3 92,9 63,3 47,0 42,5 61,9

nº dias mês 30 31 30 31 31 28,25 31 30 31 30 31 31

nº horas luz 12 12,2 12,5 13 13 12,3 12,1 11,4 11,1 11 11,1 11,3

ETP corr. 98,6 131,2 121,9 122,1 118,3 94,8 100,3 88,3 60,5 43,1 40,6 60,2

Por conseguinte, determinou-se a quantidade de água útil utilizada pelas plantas em 1m2 de solo, também referida como
Reserva máxima (Rmax), fazendo recurso à parâmetros intrínsecos às características geológicas do solo e à vegetação
predominante na área de estudo, correspondentes respectivamente à Capacidade de Campo (Cc), que consiste na quantidade
máxima de água que o solo pode absorver após o excesso ter sido drenado, e ao Ponto de Murcha Permanente (PMP), referente à
condição de humidade limite do solo em que as plantas não mais conseguem absorver a água. Os cálculos deste parâmetro
encontram-se ilustrados abaixo:

96
𝑹𝒎𝒂𝒙 = (𝑪𝒄 − 𝑷𝑴𝑷) × 𝒎

Onde:

Rmax: Reserva máxima (mm)

Cc: Capacidade de campo (%)

PMP: Ponto de Murcha Permanente (%)

m: massa ocupada pelas raízes das plantas no solo (kg)

Para o cálculo do parâmetro Cc recorreu-se à fórmula empírica de Azagra e


Navarro (1966). Para tal, utilizaram-se os resultados da análise granulométrica de
duas amostras de solos recolhidas em Ondjiva e Arredores, sendo eles o mais
arenoso e mais argiloso da referida área.

𝑪𝒄 = 𝟎, 𝟒𝟖 × 𝑨𝒓𝒈𝒊𝒍𝒂(%) + 𝟎, 𝟏𝟔𝟐 × 𝑺𝒊𝒍𝒕𝒆 (%) + 𝟎, 𝟎𝟐𝟑 × 𝑨𝒓𝒆𝒊𝒂 (%) + 𝟐, 𝟔𝟐

I. Solo arenoso representativo (AQ4-9-3) → 𝑪𝒄 = 𝟔, 𝟒%


Dados
% Argila= 2
% Silte= 4,15
% Areia= 93,40

II. Solo mais argiloso representativo (AQ4*) → 𝑪𝒄 = 𝟏𝟑, 𝟓𝟗%


% Argila= 16
% Silte= 10,30
% Areia= 70,5

Valor médio de Cc a utilizar para os cálculos seguintes

6,4% + 13,59%
𝑪𝑐 = ⟹ 𝑪𝒄 = 𝟏𝟎%
2

97
Segundo Israelsen & Hansen (1965), os valores de PMP para solos de textura
arenosa variam entre 2 e 6%; já para solos areno-argilosos este parâmetro varia de 4
a 8%. Admitindo que exista uma distribuição espacial predominante destes dois tipos
de solo pela área de estudo, o valor de PMP utilizado deriva da média dos valores
intermédios dos intervalos apresentados; assim sendo o PMP será igual a 4%.

Conforme mencionado no capítulo referente à vegetação da área de estudo, a


Colophospermum mopane é a espécie mais abundante, cuja profundidade radicular
varia entre 30 e 120 cm, o que corresponde respectivamente aos estados extremos
desta planta - juvenil e senil; todavia, conforme observações de campo, esta espécie
encontrava-se distribuída por todos os seus estados; assim sendo, utilizaremos para
os cálculos a seguir o valor médio do intervalo apresentado (42 cm). O cálculo da
massa ocupada pelas raízes desta planta no solo é apresentado abaixo:

kg
𝒎 = 𝒅𝒆𝒏𝒔𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒐 𝒔𝒐𝒍𝒐 (𝒅𝒎𝟑) × 𝒗𝒐𝒍𝒖𝒎𝒆 𝒐𝒄𝒖𝒑𝒂𝒅𝒐 𝒑𝒆𝒍𝒂𝒔 𝒓𝒂í𝒛𝒆𝒔 𝒅𝒂𝒔 𝒑𝒍𝒂𝒏𝒕𝒂𝒔(𝒅𝒎𝟑) (1)

Dados

Densidade do solo arenoso (AQ4-9-3) = 2,49 kg/dm3

Densidade do solo mais argiloso (AQ4*) = 2,51 kg/dm3

Valor médio a utilizar = 2,5 kg/dm3 (2)

𝑽𝒐𝒍𝒖𝒎𝒆 = á𝒓𝒆𝒂 (𝒎𝟐 ) × 𝒑𝒓𝒐𝒇𝒖𝒏𝒅𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒓𝒂𝒅𝒊𝒄𝒖𝒂𝒍𝒂𝒓 (𝒎)

Dados

Área= 1m2

Profundidade radicular média= 42 cm ~ 0,42 m

𝑽𝒐𝒍𝒖𝒎𝒆 = 𝟏𝒎𝟐 × 𝟎, 𝟒𝟐𝒎 ⟹ 𝒗𝒐𝒍𝒖𝒎𝒆 = 𝟎, 𝟒𝟐𝒎𝟑 ~ 𝟒𝟐𝟎𝒅𝒎𝟑 (3)

Substituindo (2) e (3) em (1):

𝐤𝐠
𝒎 = 𝟐, 𝟓 × 𝟒𝟐𝟎𝒅𝒎𝟑 ⟹ 𝒎 = 𝟏𝟎𝟓𝟎 𝒌𝒈
𝒅𝒎𝟑

Cálculo da Reserva Máxima:


(10% − 4%) × 1050 𝑘𝑔 𝒌𝒈 𝒍
𝑅𝑚𝑎𝑥 = ⟹ 𝑹𝒎𝒂𝒙 = 𝟔𝟑 𝟐 ⟹ 𝟔𝟑 𝟐 ⟹ 𝟔𝟑 𝒎𝒎
100 𝒎 𝒎

98
Uma vez calculados os parâmetros anteriores, realizou-se o balanço hídrico mensal do solo, cujos resultados são
apresentados na tabela 13:

Tabela 13 - Planilha de realização do Balanço Hídrico mensal do solo

Total
Parâmetro Set Oct Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago
(mm/ano)

P 0,7 6,3 125,8 173,8 212,2 259,7 306,3 90,7 6,8 0,0 0,0 0,0 1182,2

ETP corr. 98,6 131,2 121,9 122,1 118,3 94,8 100,3 88,3 60,5 43,1 40,6 60,2 1079,9

ETR 0,7 6,3 121,9 122,1 118,3 94,8 100,3 88,3 60,5 9,3 0,0 0,0 722,5

Déficit 97,9 124,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 33,8 40,6 60,2 357,4

Reserva 0,0 0,0 3,9 55,6 63,0 63,0 63,0 63,0 9,3 0,0 0,0 0,0

Excedentes 0,0 0,0 0,0 0,0 86,5 164,9 206,0 2,4 0,0 0,0 0,0 0,0 459,8

99
Conforme observado na tabela acima e no gráfico 7, o quantitativo
pluviométrico total do ano hidrológico mais húmido da série considerada para este
estudo é de 1182,2 mm/ano, cuja ETR igual a 722,5 mm/ano equivale a cerca de 61%
do total de entrada natural para o sistema, e cerca de 1,6 vezes inferior a este. Fontes
afirmam que em geral, a evapotranspiração na área de estudo pode atingir valores
máximos de até 2500 mm/ano; tendo em conta os valores de ETP corrigida calculados
pelo método Thronthwaite & Mather (1955), verifica-se que o valor obtido igual a
1079,9 mm/ano é cerca de 2,3 vezes inferior ao valor máximo apresentado.

Deste balanço, destacam-se os meses de Setembro a Dezembro de 2010, e


de Maio a Agosto de 2011, os quais encontram-se sob condição de défice hídrico do
solo, uma vez que a ETP é superior a ETR nestes meses; destaca-se ainda o
parâmetro excedente, cujo total anual foi de 459,8 mm/ano de água, como resultado
do somatório dos excedentes produzidos em apenas quatro (4) meses – Janeiro (86,5
mm), Fevereiro (164,9 mm), Março (206 mm) e Abril (2,4 mm) –, quando a P é
suficientemente superior a ETP e permite suprir o défice hídrico do solo e abastecer
quer os corpos de águas superficiais, através da escorrência superficial, quer os
aquíferos em estudo, através da infiltração e recarga efectiva.

350

300

250

ETP
200
P

150 ETR

100

50

0
set oct nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set

Gráfico 7 - Balanço hídrico mensal do solo do ano hidrológico mais húmido da série considerada - 2010/2011 -
com uma Retenção máxima de 63 mm.

100
Face à necessidade de aferir a porção do excedente que gera escorrência
superficial e consequentemente a porção que se infiltra e efectivamente recarrega os
aquíferos suspensos e pouco profundos, recorreu-se ao método ‘’Número de Curva’’
- NC desenvolvido pelos Serviços de Conservação de Solos (SCS) do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos da América, que, mediante a análise de parâmetros
intrínsecos às características da área de estudo, avalia a percentagem de precipitação
que produz escorrência directa, e consequentemente a porção que se infiltra e
recarrega os aquíferos.

Conforme observado nas curvas padrão de Escorrência directa -precipitação


(Figura 57), foram determinados os limiares de escorrência superficial para as três
condições de humidade do solo da área de estudo. Para o efeito, os valores de NC
utilizados para cada mês foi o resultado de uma avaliação da predominância das
condições de humidade do solo no mês em questão.

Figura 57 - Gráfico de Número de Curvas de Escoamento padrão segundo o SCS. Linha vermelha (condição I);
Linha amarela (condição II); Linha azul (condição III). Fonte: Soil Conservation Services.

101
Assim sendo, observa-se que para a condição de humidade I – solo quase seco
(curva destacada a vermelho), cujo NC é 45, é necessário que a precipitação seja
superior a 3’, equivalente a 72,6 mm, para que após suprido o défice hídrico do solo,
começar a gerar escorrência superficial. Analogamente, para a condição de humidade
II – solo parcialmente saturado (curva destacada a amarelo), cujo NC é 65, a
escorrência superficial observa-se quando a precipitação supera os 30,4 mm, uma
vez que o solo já dispõe de humidade que lhe confere esta particularidade. E por fim,
na condição de humidade III – solo saturado (curva destacada a azul), são apenas
necessários 20,32 mm de chuva para que se comece a verificar escorrência
superficial.

Uma vez analisadas estas condições inseridas no balanço hídrico mensal do


solo, determinou-se que dos 459,8 mm/ano de excedente total do ano hidrológico mais
húmido da série estudada, 63,3 mm/ano é a quantidade máxima que escorre
superficialmente e, portanto, 396,5 mm/ano a quantidade máxima que efectivamente
se infiltra e recarrega os aquíferos pouco profundos por cada km 2 de área dos
referidos aquíferos (tabela 14).

Tabela 14 - Cálculo da Infiltração eficaz.

Mês Total
Janeiro Fevereiro Março Abril
Parâmetro (mm/ano)

Excedente
86,5 164,9 206 2,4 459,8
(mm/mês)

Escorrência
Superficial 20,3 20,3 20,3 2,4 63,3
(mm/mês)

Infiltração eficaz
66,2 144,6 185,7 0 396,5
(mm/mês)

No entanto, para aferir o valor da recarga efectiva por área dos aquíferos
suspensos e dos pouco profundos, houve a necessidade de separar a superfície útil
de infiltração de cada um destes. Para tal, recorreu-se ao software ArcGis, onde

102
determinou-se que do total de 15.112,583 Km2 que compõem a área de estudo deste
TFC, 8.867,503 Km2 (58%) são ocupados pelos mufitos, os quais albergam os
aquíferos suspensos, e os restantes 6.425,08 Km2 (42%) são ocupados pelas chanas,
que albergam os aquíferos pouco profundos.

Assim sendo, efectuou-se o cálculo do parâmetro Recursos Renováveis


precedentes da precipitação, o qual é determinado a partir da superfície útil de
infiltração (sp) e pela infiltração eficaz (Ie) determinada anualmente nos parágrafos
anteriores.

𝒎
𝑹𝒄 = 𝑰𝒆 ( ) × 𝒔𝒑(𝒎𝟐 )
𝒂𝒏𝒐

Onde:

Rc: Recursos renováveis (recarga efectiva)

Ie: infiltração eficaz (m/ano)

Sp: superfície útil de infiltração (m2)

Dados

Ie= 396,5 mm/ano ~ 0,39 m/ano

Sp mufitos= 8.867,503 Km2 ~ 8.867.503.000 m2

Sp chanas= 6.425,08 Km2 ~ 6.425.080.000 m2

Recarga dos aquíferos suspensos


𝑚
𝑅𝑐𝑠𝑢𝑠𝑝𝑒𝑛𝑠𝑜𝑠 = 8.867.503.000 𝑚2 × 0,39 ⟹ 𝑹𝒄𝒔𝒖𝒔𝒑𝒆𝒏𝒔𝒐𝒔 = 𝟑𝟒𝟎𝟎 𝒉𝒎𝟑 /𝒂𝒏𝒐
𝑎𝑛𝑜

Recarga dos aquíferos pouco profundos


𝑚
𝑅𝑐𝑝𝑜𝑢𝑐𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑓𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠 = 6.425.080.000𝑚2 × 0,39 = 𝟐𝟓𝟎𝟎 𝒉𝒎𝟑 /𝒂𝒏𝒐
𝑎𝑛𝑜 ⟹ 𝑹𝒄𝒑𝒐𝒖𝒄𝒐 𝒑𝒓𝒐𝒇𝒖𝒏𝒅𝒐𝒔

Recarga Máxima calculada com base nos dados mensais

𝑅𝑐𝑚á𝑥 = 𝑅𝑐𝑠𝑢𝑠𝑝𝑒𝑛𝑠𝑜𝑠 + 𝑅𝑐𝑝𝑜𝑢𝑐𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑓𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠

𝑹𝒄𝒎á𝒙 = 𝟓𝟗𝟎𝟎 𝒉𝒎𝟑 /𝒂𝒏𝒐

103
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Marques (1966) apresenta um modelo conceptual em que a recarga dos


aquíferos pouco profundos, ao qual denominou como Província Hidrogeológica Delta
Cuvelai-Mui-Pereira D’Eça-Namacunde processa-se somente através do contacto
entre as chanas e os mufitos, localmente designado por Mahenene. No entanto, ao
longo deste trabalho foi igualmente tido como importante os aquíferos suspensos, os
quais constituem igualmente a referida província hidrogeológica, cuja recarga é feita
directamente através da sua litologia de cobertura, ou seja, pelas areias vermelhas
dos mufitos, geotecnicamente caracterizadas como areias siltosas – SM, cujo seu
valor máximo de permeabilidade é igual a 2,63 m/d para um ensaio realizado com
compactação da amostra, e do mesmo ensaio sem compactação da amostra obteve-
se o valor mínimo de 0,039 m/d.

O autor supracitado afirma ainda que apenas precipitações de magnitudes


superiores a 35 mm constituem efectiva recarga dos aquíferos da referida Província
Hidrogeológica. No entanto, os valores de precipitação mensal correspondentes ao
ano mais húmido da série balanceada – 2010/2011–, não se aproximam do
pressuposto apresentado e, portanto, não permitem proceder à uma análise
comparativa e validação do mesmo.

A complementaridade dos trabalhos de campo e de laboratório permitiram


caracterizar os aquíferos suspensos e pouco profundo, do ponto de vista geotécnico,
constatando que os primeiros são constituídos por areias siltosas, e o segundo por
areias siltosas bem graduadas (SW-SM) com ligante carbonatado, essencialmente
margoso, os quais comportam-se do ponto de vista hidráulico como, respectivamente,
aquíferos livres e semi-confinados.

Fazendo recurso às tecnologias SIG como complemento do modelo mensal de


balanço hídrico do solo - Thornthwaite & Mather (1955), concluiu-se que a recarga
efectiva dos aquíferos pouco profundos de Ondjiva e Arredores é calculada em 396,5
mm/ano por cada km2 de área, correspondendo à recarga máxima obtida no ano mais
húmido da série hidrológica considerada – 2010/2011 –, a qual se processa de forma
episódica por quinze (15) anos tipicamente húmidos da referida série, considerando

104
apenas uma única posição das superfícies freáticas para a escala global deste estudo.
Apraz realçar que o referido valor de recarga máxima obtida para o ano mais húmido
da série considerada para este estudo não deve ser tomado como referência para
decisões futuras, uma vez que carece de uma análise profunda através do
sequenciamento diário dos dados com vista a aferir a sua precisão.

Comparativamente aos valores de Recarga subterrânea efectiva para a Bacia


Hidrográfica do Cunene - pese embora as diferenças hidrogeológicas que podem
existir entre esta e os aquíferos situados na área de abrangência da Bacia Hidrográfica
do Cuvelai-Etosha – obtidos através da aplicação do modelo BALSEQ desenvolvido
por Lobo-Ferreira (1981) calculados em média para um primeiro cenário em que
“escoamento médio = escoamento calculado”, igual a média de 189,6 mm/ano para o
total da bacia, o que perfaz um total de 90.731 hm3/ano; e calculada para um segundo
cenário em que “escoamento medido ≤ escoamento + recarga calculada”, seria igual
a 13.767 hm3/ano, sendo o valor médio de recarga igual a 130,6 mm/ano. Destes
valores, podemos constatar que os valores de recarga obtidos pelo BALSEQ
correspondem a cerca de duas vezes inferior ao valor de recarga calculado neste TFC
pelo modelo mensal de Thornthwaite & Mather (1955) para o primeiro cenário, e cerca
de três vezes inferior em relação ao segundo cenário. Este facto pode ser justificado
pela extrapolação dos dados do coeficiente de escorrência directa obtidos diariamente
pelo método CN, para dados mensais em função da predominância da das
características de humidade prévia do solo durante os meses do ano hidrológico
balanceado.

Constatou-se igualmente, que o valor de recarga exposto no Plano Nacional de


Águas (2017) para a unidade do Cuvelai, estimada em 18,5 mm, constitui uma
informação genérica e não fundamentada publicamente sobre a série hidrológica
utilizada para a sua determinação.

Conforme também verificado neste estudo, através dos resultados obtidos das
análises dos isótopos 2H e 18O, a recarga dos aquíferos pouco profundos provém da
precipitação chuvosa; todavia, antes desta atingir a zona saturada, passa pelo
processo de fraccionamento isotópico por meio da evaporação, em razão da

105
permanência da água durante tempo considerado na zona vadosa, como resultado
das características da permo-porosidade das formações geológicas que compõem os
aquíferos em estudo.

Por fim, com base nos resultados obtidos das análises de iões maioritários das
amostras de águas recolhidas em Ondjiva e Arredores, conclui-se que estas
apresentam um risco moderado de salinização dos solos e consequentemente dos
aquíferos pouco profundos, quando utilizadas para o exercício da rega de campos
agrícolas, tendo como base de afirmação os resultados obtidos da análise do Índice
de Adsorção de Sódio (SAR) de 12 amostras.

10. RECOMENDAÇÕES

Após a realização deste trabalho e tendo como base os constrangimentos


encontrados seja durante o trabalho de campo, como nas etapas de análises
laboratoriais e interpretações, somos a recomendar o seguinte:

I. Cumprimento das Normas Técnicas para a prospecção, pesquisa e


construção de captações de águas subterrâneas tendo em consideração
a necessidade do contínuo monitoramento destas para fins de
investigação científica e garantia da gestão integrada dos recursos
hídricos (ex. NBR 12212 da ABNT), propiciando qualidade de vida aos
diferentes usuários dos referidos recursos;

II. Criação de uma rede de Piezómetros representativa e que permita o


monitoramento dos principais parâmetros de natureza física e química
que intervêm nos aquíferos suspensos e pouco profundos de Ondjiva e
Arredores;

III. Recolha de amostras de águas de diferentes fontes, a diferentes


altitudes – desde a montante até à jusante da Bacia Hidrográfica do
Cuvelai – durante o período chuvoso com vista a submete-las à análises

106
isotópicas e determinar as relações hidráulicas entre corpos de águas
superficiais, como as chimpacas, e os aquíferos pouco profundos, e para
a determinação do parâmetro “altitude de recarga de aquíferos”;

IV. Continuar a trabalhar na melhoria das variáveis que intervêm no modelo


de Balanço Hídrico Sequencial Diário – BALSEQ, desenvolvido por
Lobo-Ferreira (1981), com vista a obter resultados mais apurados
referentes ao processo de recarga dos aquíferos pouco profundos da
área de estudo, de modo a que estes sejam comparáveis aos resultados
obtidos na Bacia Hidrográfica do Cunene;

V. Proceder à aplicação do modelo químico de Balanço de Massa de


Cloretos (CMB) para a quantificação da recarga dos aquíferos em estudo
utilizando as concentrações do ião cloreto (conservativo) em diferentes
amostras de águas a recolher, com vista a comparar o resultado a obter
com os resultados obtidos por meio de estudo realizados na porção
namibiana do sistema aquífero análogo, admitindo que a recarga
subterrânea corresponda a um intervalo compreendido entre 0,21% e
38,46% da precipitação média anual de 350 mm/ano (Amutenya, 2020),
embora não seja apresentada a série hidrológica utilizada para o efeito;

VI. Institucionalização de testes de proficiência para laboratórios de águas


sedeados em Angola e migrar igualmente para a internacionalização
deste processo em laboratórios da região da SADC.

107
REFERÊNCIAS

AIH-GRA. (s.d.). Estratégias para la Gestión de Recarga de Acuíferos. Lan Gale.

AMUTENYA, S. (2020). IMPROVING GROUNDWATER RECHARGE ESTIMATES


AND GROUNDWATER MANAGEMENT FOR THE CUVELAI-ETOSHA BASIN.
Namíbia.

ANGOP. (4 de Dezembro de 2017). Obras de manutenção das valas de drenagem de


Ondjiva iniciam este mês. Obtido em 2020, de ANGOP: http://angop-
as31.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/reconstrucao-
nacional/2017/11/49/Obras-manutencao-das-valas-drenagem-Ondjiva-
iniciam-este-mes,e3ac0443-d441-40d4-bfcc-645efe32cda6.html

ANGOP. (4 de Dezembro de 2019). Cunene recebe chuva intensa. Obtido em 2020,


de ANGOP:
https://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/sociedade/2019/11/49/Cunene-
recebe-chuva-intensa,a8ce0deb-8060-48de-ace9-06e5c59d2474.html

Assembleia da República de Angola. (2011). Política Nacional de Ciência, Tecnologia


e Inovação. Angola.

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Azagra, A., & Navarro, J. (1996). Hidrologia Florestal - El Ciclo Hidrológico. Espanha.

Camargo, R. d., & Couto, E. d. (2011). Aplicação de modelo de balanço hídrico


BALSEQ para estimativa da Infiltração profunda em regiões cársicas; Luna
Gripp Simões. Brasil.

Carvalho. (1957). Problemas sobre a Sedimentologia das Formações Detríticas do


Baixo Cunene e Cuamato (Angola).

COBA. (2014). Plano Nacional de Águas - Volume I Tomo 11.

Craig, H. (1961). Isotopic Variations in Meteoric Waters.

108
Custódio, & Llamas. (1976). Hidrologia subterrânea. Barcelona.

Diniz. (1973). Características Mesológicas de Angola. Estudos, 2, Missão de


Inquéritos Agrícolas de Angola.

Hirabayashi. (2013). Global flood risk under climate change. Nature Clim Change 3.

Israelsen, & Hansen. (1962). Irrigation principles and practices. 3ª Edição.

Lobo-Ferreira. (1981). Mathematical Model for the Evaluation of the Recharge of


Aquifers in Semiarid Regions with Scarce (Lack) Hydrogeological Data. Lisboa.

Marechal. (2009). Indirect and direct recharges in a tropical forested Watershed: Mule
Hole, India.

Marques, J. M. (1966). Notícia Sobre a Província Hidrogeológica Cuvelai-Mui-Pereira


D'Eça-Namacunde. Direcção dos Serviços de Geologia e Minas.

Miguel, G. L. (2005). Caracterização Hidrogeológica e Ambiental de Luanda e


Arredores. Angola.

Momper. (1982). The Etosha Basin Re-examined.

Oliveira, Moinante, & Lobo-Ferreira. (1997). Cartografia Automática da


Vulnerabilidade de Aquíferos com base na Aplicação do Modelo DRASTIC.

Paralta, E., Oliveira, M., Lubczynski, M., & Fibeiro, L. (2003). Avaliação da Recarga
do Sistema Aquífero dos Gabros de Beja segundo Critérios Múltiplos-
Disponibilidades Hídricas e Agro-ambientais. Cabo Verde.

PDNA. (s.d.). Seca em Angola 2012-2016. Angola.

Pimentel. (2000). Estimativa de recarga da bacia do Rio das Fêmeas através de


métodos manuais e automáticos. Brasil.

RAISON. (2013). A Profile and Atlas of the Cuvelai-Etosha Basin. Whindoek, Namíbia:
John Meinert Pritting Whindoek.

109
Seca no sul de Angola afeta 2,3 milhões de pessoas e tira crianças da escola. (2019).
Obtido de ONU NEWS: https://news.un.org/pt/story/2019/10/1689312

SINFIC. (2005). Caracterização Biofísica da Cidade de Ondjiva. Cunene, Angola.

Struckmeier, C. &. (2001). Groundwater in Namibia - an Explanation to the


Hydrogeological Map. - Unrevised 2nd edition of Technical Cooperation Project
"HYMNAM", prepared by DWA, GSN, NAMWATER & BGR. Namíbia.

Sweco-Groner. (2005). Avaliação Rápida e Uso da Águas para Angola.

Thronthwaite, & Mather. (1955). The water balance Centerton.

Trenberth, K. (2013). Global warming and changes in drought.

UNWATER. (2020). The United Nations World Water Development Report - Facts and
Figures.

USGS. (2007). A Monthly Water-Balance Model Driven By a Graphical User Interface.

Wood, W. (s.d.). Use and Miuse of the Chloride-mass Balance Method in Estimating
Ground Water Recharge.

110
ANEXOS

ANEXO A: FÓRMULAS MATEMÁTICAS UTILIZADAS PARA DIFERENTES CÁLCULOS

Parâmetro Resultado
Variáveis Fórmula
determinado

mi -concentração do elemento em Média de 22


1
Força Iónica mol/L 𝐼 = ∑ 𝑚𝑖 × 𝑍 2 𝑖 amostras de águas =
Zi - carga iónica do elemento 2 0,10

Rmax – reserva máxima


Cc – capacidade de campo
PMP – ponto de murcha 𝑅𝑚𝑎𝑥 = (𝐶𝑐 × 𝑃𝑀𝑃) × 𝑚
Reserva máxima 63 mm
permanente
m – massa ocupada pelas raízes
das plantas
𝐶𝑐 = 0,48 × 𝐴𝑟𝑔𝑖𝑙𝑎(%) + 0,162 × 𝑆𝑖𝑙𝑡𝑒 (%)
Capacidade de Cc – capacidade de campo
campo
+ 0,023 × 𝐴𝑟𝑒𝑖𝑎 (%) + 2,62 10%

Massa ocupada 𝑚
pelas raízes das = 𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑠𝑜𝑙𝑜 105 kg
plantas × 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑜𝑐𝑢𝑝𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑎𝑠 𝑟𝑎í𝑧𝑒𝑠 𝑑𝑎𝑠 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑡𝑎𝑠

111
Volume ocupado
pelas raízes das 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 = á𝑟𝑒𝑎 × 𝑝𝑟𝑜𝑓𝑢𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑐𝑢𝑎𝑙𝑎𝑟
0,42 m3
plantas em 1m2 de
solo
Ie – infiltração eficaz
𝐼𝑒 = 𝐸𝑥𝑐 × 𝐸𝑠
Infiltração eficaz Exc – excedente 396,5 mm/ano
Es – escorrência superficial
a) Aquíferos
suspensos=
Rc- Recursos r 3400 hm3/ano
Recursos Ie – infiltração eficaz 𝑅𝑐 = 𝐼𝑒 × 𝑠𝑝
Renováveis b) Aquíferos
Sp- superfície útil de infiltração
pouco
profundos=
2500 hm3/ano

112
ANEXO B: RESULTADOS DAS ANÁLISES DE IÕES MAIORITÁRIOS EFECTUADAS PELO IGEO

Relatório de Ensaio do IGEO


Nº Refª do Relatório 2021-06-001501

Orgãos de Apoio ao Vice- Pessoa que entregou a amostra e seu


Cliente Marco Paulo e Denilse Machado
Presidente Da República contacto

Quantidade
Data de Recepção da
Categoria da Amostra Água Potável de 22 15/06/2021
Amostras
Amostra

Data do Ensaio 21/06/2021~23/06/2021 Temperatura (ºC) 18 Humidade Relativa (%) 43

GB/T 5750.5-2006 Metódo Padrão de Análise de água potável – Parâmetros Nãometálicos 3.2 Cromatografia de Iões
Método de Ensaio e a sua
HJ776-2015: Determinação de 32 elementos da qualidade da água. Método de espectroscopia de emissão de plasma de
Referência
acoplamento eletromagnético

Nº de Refª do
Modelo do Equipamento ICS 5000+, iCAP 7400 ICP-OES LBG2019004, LBG2019001
Equipamento

Item de Detecção e Parâmetro F-, Cl-, SO42-,NO3-,K, Ca, Na, Mg

113
Código Original da
Nº Código Unificado F-(mg/L) Cl-(mg/L) SO42-(mg/L) NO3-(mg/L) K(mg/L) Ca(mg/L) Na(mg/L) Mg(mg/L)
Amostra

1 IGEO-2021-06-001501 AQ3-10-1 0,383 6,91 35,03 0,626 2,31 7,96 81,8 0,957

2 IGEO-2021-06-001502 CHIMPACA KAZ 0,863 152 1,19 2,72 10,2 11,8 748 7,74

3 IGEO-2021-06-001503 CHIMPACA TAL 0,139 1,43 10,15 1,36 3,99 11,6 29,3 2,19

4 IGEO-2021-06-001504 CHIM CAMPO NOVO 0,059 1,42 1,11 0,695 3,28 3,97 5,17 1,35

5 IGEO-2021-06-001505 AQ4-11 0,238 10,78 25,93 15,04 3,25 12,3 38,9 1,79

Código Original da SO42-


Nº Código Unificado F-(mg/L) Cl-(mg/L) NO3-(mg/L) K(mg/L) Ca(mg/L) Na(mg/L) Mg(mg/L)
Amostra (mg/L)

6 IGEO-2021-06-001506 AQ4-4 0,767 20,9 5,29 0,9 2,91 11,8 39,2 1,88

7 IGEO-2021-06-001507 AQ2-25-1 0,697 2,82 15,4 2,36 1,4 4,29 26,8 0,38

8 IGEO-2021-06-001508 AQ2-25-2 0,321 3,01 24 1,39 1,26 15,7 42,3 1,43

9 IGEO-2021-06-001509 AQ2-25-3 0,328 5,69 24,1 1,56 3,66 62,3 298 7,96

10 IGEO-2021-06-001510 AQ2-25-4 0,707 5,18 57,8 1,11 0,751 6,29 64,6 0,624

11 IGEO-2021-06-001511 AQ2-25-5 0,539 1,92 21,9 0,99 0,638 5,29 31,8 0,438

114
12 IGEO-2021-06-001512 AQ2-25-6 0,426 4,9 0,03 0,72 4,27 3,65 45,4 0,718

13 IGEO-2021-06-001513 B1-3 0,583 50,3 6,02 0,84 2,64 23,4 43,7 2,75

14 IGEO-2021-06-001514 B13 0,402 20,2 0,026 0,74 10,3 7,02 84 8,41

15 IGEO-2021-06-001515 AQ-1-1 0,305 11,5 6,93 4,31 17,5 6,4 364 19,9

16 IGEO-2021-06-001516 AQ4-9 0,799 22,7 5,59 0,75 3 14,8 50,3 2,28

17 IGEO-2021-06-001517 B11 0,189 18,2 1,49 0,77 6 11,1 64,9 18,6

18 IGEO-2021-06-001518 AQ2-20-1 1,12 52,6 1,46 2,34 2,2 6,03 26,3 0,627

19 IGEO-2021-06-001519 PM-15 0,132 0,997 2,84 0,8 1,99 20,9 4,83 5,12

20 IGEO-2021-06-001520 PM-18-02 0,065 1,69 1,61 0,74 1,17 11,7 5,44 1,95

21 IGEO-2021-06-001521 B1-2 0,241 21,5 0,048 84,6 3,96 >10000 10,4 15,6

22 IGEO-2021-06-001522 B14 0,166 1,02 1,34 0,885 1,07 19,1 8,34 1,34

****************************Fim***************************

115
ANEXO C: RESULTADOS DAS ANÁLISES DOS ISÓTOPOS 2H E 18O EFECTUADAS PELO CNIC

Sample
OurLabID Last_Name Submit_Date Project_Purpose Project_Location δ2 H δ18O
ID
Ondjiva e
W-1487 Carlos 19/10/2021 TFC B13 39,4 11,61
Arredores
Ondjiva e
W-1488 Carlos 19/10/2021 TFC B11 -23,7 -1,88
Arredores
Ondjiva e
W-1489 Carlos 19/10/2021 TFC AQ1-1-1 -9,7 1,7
Arredores
Ondjiva e AQ2-20-
W-1490 Carlos 19/10/2021 TFC -45 -5,38
Arredores 1
Ondjiva e
W-1491 Carlos 19/10/2021 TFC B1-2 19,2 7,51
Arredores
Ondjiva e AQ2-25-
W-1492 Carlos 19/10/2021 TFC -52,5 -7,61
Arredores 6
Ondjiva e AQ3-10-
W-1493 Carlos 19/10/2021 TFC 19,3 7,52
Arredores 1
Ondjiva e
W-1494 Carlos 19/10/2021 TFC PM18-2 -44 -5,93
Arredores
Ondjiva e
W-1495 Carlos 19/10/2021 TFC AQ4-9 20 7,18
Arredores
Ondjiva e
W-1496 Carlos 19/10/2021 TFC PM15 -39 -4,6
Arredores

116
ANEXO D: BOLETINS MODELOS DOS ENSAIOS DE ANÁLISE
GRANULOMÉTRICA DAS AMOSTRAS DE SOLOS

117
118
ANEXO E: BOLETIM MODELO DO ENSAIO DE PROCTOR NORMAL

119
ANEXO F: BOLETINS MODELO DO ENSAIO DE PERMEABILIDADE
POR CARGA CONSTANTE

120
121

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