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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

Projecto Científico

MAPEAMENTO LITOESTRUTURAL DA FOLHA Nº 736, ATRAVÉS


DE IMAGENS MULTIESPECTRAIS DE ALTA RESOLUÇÃO - ASTER

Autor: Manuel Augusto Manuel Nopeia


UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

Projecto Científico

MAPEAMENTO LITOESTRUTURAL DA FOLHA Nº 736, ATRAVÉS


DE IMAGENS MULTIESPECTRAIS DE ALTA RESOLUÇÃO - ASTER

Autor: Manuel Augusto Manuel Nopeia

Supervisor: Prof. Doutor Daúd Liace Jamal

Maputo, Julho de 2016


MAPEAMENTO LITOESTRUTURAL DA FOLHA Nº736, ATRAVÉS DE IMAGENS MULTISPECTRAIS
DE ALTA RESOLUÇÃO-ASTER

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Jorge Manuel Nopeia (in memoriam) e Rita


Augusto Chuabo.

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (i)


MAPEAMENTO LITOESTRUTURAL DA FOLHA Nº736, ATRAVÉS DE IMAGENS MULTISPECTRAIS
DE ALTA RESOLUÇÃO-ASTER

AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar quero agradecer a DEUS pai, pelo Dom da vida e pelo acompanhamento que me tem
dado nesta minha peregrinação terrena. Que a sua bênção continue iluminando a minha trajectória, rumo
ao infinito.

Agradeço do modo especial, aos meus pais, por terem dado um sim, a vontade divina ao me conceberem.
Agradeço por terem envelhecido as suas almas e suas vidas em prol da minha educação, do meu
crescimento sociocultural e académico. A minha condição humana é indigna de os recompensar por tudo,
só Deus pode faze-lo por mim.

O presente trabalho foi possível graças ao acompanhamento indispensável e frutífero do Prof. Doutor
Daúd Jamal, meu supervisor e docente, a quem admiro e agradeço por tudo quanto tem feito por mim e
pelos meus colegas. Agradeço de modo particular pela indispensável supervisão no trabalho.

Ao dr. Macuacua e Dra. Fátima Chaúque, ambos da direcção Nacional de Geologia e Minas, vai o meu
muito obrigado pelo acompanhamento durante a elaboração do trabalho.

Ao Professor Lopo Vasconcelos, docente pai, que o conheci nesta academia, quero agradecer por ter-me
concedido a oportunidade de desvendar o real significado do professor, patente em si. Aos membros da
direcção e todos os docentes do Departamento de Geologia da UEM, agradeço pelas capacidades morais
e académico-científicas que fizeram desabrochar em mim ao longo da formação e através das quais a
elaboração deste trabalho foi possível.

O meu agradecimento é extensivo à dona Paula, Sr. Guiamba, Sr. Teófilo, Sr. Raimundo, Sr. Leonel,
dana Atália, dona Leta, dona Lídia, Lúcia, Luisa, Sr. João (in memorian), meu xará Sr. Manuel e todos
os membros do Corpo técnico Administrativo do Departamento de Geologia, por sempre garantirem as
condições necessárias para que o meu processo de aprendizagem decorresse sem sobressaltos e pelo
acompanhamento moral e familiar que me concederam.

Sou muito grato a empresa ENRC (Eurasian Natural Resources Corporation) pela bolsa que me foi
concedida e que foi indispensável durante a minha formação.

Agradeço a Associação Geológico-Mineira de Moçambique e seus colaboradores, por sempre se dispor


em apoiar as nossas intenções e iniciativas como estudantes. Agradeço também a Young Earth Scientists
Network (YES-Mozambique e todos os seus membros e, ao Núcleo de Estudantes de Geologia da UEM

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (ii)


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DE ALTA RESOLUÇÃO-ASTER

(NEGEO) cujas experiências adquiridas sendo membro das mesmas organizações foram o alicerce para
muitos sucessos alcançados.

Ao casal e família Nunes, Adélia da Bernardete Nunes e Durão Nunes, vai o meu especial agradecimento
pelo encorajamento e acompanhamento prestado gratuitamente e os ensinamos que serviram de alicerces
da minha formação. Agradeço a todos os meus docentes do ensino secundário, distrito de Nicoadala,
minha terra natal.

Agradeço aos meus tios, José e Alzira Muchanga e toda a família Muchanga, pelo acompanhamento
familiar que me é por eles oferecido. Quero agradecer ao casal Cumbane, também pelo acompanhamento.

Os meus agradecimentos são extensivos ao colega Zélio Chaúque pelo apoio prestado na revisão do
projecto.

Aos meus colegas e irmãos da academia, Félix, David, Idalina, Deolinda, Veloso, Faustina (da Unitivi)
Celso, Nelta, Guambe, Inácio, e todos outros que souberam, com a sua amizade contribuir positivamente
na minha formação. Aos meus colegas do ensino secundário, em especial ao Ernesto Lapson vai o meu
muito obrigado.

Aos meus colegas da residência, membros do quarto 703 e do 7º piso R8, vai o meu muito obrigado por
completarem a minha existência humana, pela fraternidade partilhada e pelos ensinamentos que deles
aprendi, vai o meu muito obrigado.

Por fim, quero agradecer a todos os que, de forma directa ou indirecta contribuíram na minha formação
académica.

MUITO OBRIGADO, KHANIMANBO, DINOUTAMALELANI, NDINOTENDDA, NOXIKURO

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (iii)


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DECLARAÇÃO DE HONRA

Eu, Manuel Augusto Manuel Nopeia, declaro por minha honra que o presente trabalho é da minha
autoria e que nunca tinha sido apresentado ou submetido a uma outra instituição académica nacional ou
estrangeira, e constitui fruto de minha investigação, sendo que todas as bibliografias consultadas estão
devidamente citadas e referenciadas.

Maputo, Julho de 2016

_____________________________________________

Manuel Augusto Manuel Nopeia

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (iv)


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RESUMO
O território moçambicano apresenta uma diversidade geológica inconfundível. O nível de conhecimento
das características geológicas do País não é de desejar, pois grande parte do território não foi ainda
mapeada a escala de detalhes. O presente trabalho pretende dar um contributo no conhecimento litológico
estrutural da área de estudo, com base em interpretação de imagens de satélite (ASTER e SRTM).

A área de estudo compreende parte dos distritos de Macossa e Maringué, no centro do País. No
mapeamento geológico à escala de 1:250000 desenvolvido pela GTK (2006), esta faz parte da folha 174.
Em termos geotectónicos, a área de estudo pertence ao Complexo de Báruè que faz parte do Cinturão de
Moçambique. É constituída por rochas metassedimentares de idade Mesoproterozóica,
predominantemente gneisses félsicos de alto-médio grau metamórfico, intrusões félsicas metamorfizadas
e rochas sedimentares que bordejam o complexo de Báruè a Este.

O trabalho consistiu no processamento e interpretação de imagens de satélite, ASTER e SRTM, através


de técnicas como combinação de bandas, razão de bandas, e criação de imagens de sombra para imagens
SRTM em particular, que permitiram visualizar os lineamentos. Os resultados foram integrados e
confrontados com os obtidos pelo mapeamento da GTK (2006).

No presente trabalho foram distinguidas novas unidades litológicas não mapeadas anteriormente, tais
como veios de quartzo, gneisse máfico e gneisses estirados. Algumas unidades litológicas foram
redimensionadas espacialmente. Em termos estruturais, cuja análise foi mais extensiva (cobrindo quase
toda imagem ASTER), três domínios foram distinguidos com base no padrão das foliações S1 e nos
traços axiais das dobras. Constatou-se que a área de estudo foi afectada por quatro fases de deformação
associadas aos eventos tectóno-magmáticos Pan-africanos que moldaram o cinturão de Moçambique. A
D1 originou dobras isoclinais com traço axial orientado na direcção NW-SE e NE-SW, paralelamente as
foliações S1. A D2 foi marcada por dobras fechadas a abertas com traços axiais orientados nas direcções
NE-SW (domínios A e C) e NW-SE (domínio B). Por outro lado a D3 que é de natureza quebradiça, é
caracterizada por dois grupos de falhas: as falhas orientadas na direcção NE-SW a N-S e as orientadas
na direcção NW-SE a E-W, que podem ser falhas conjugadas (formadas num mesmo episódio de
deformação). A reactivação das falhas que resultou na formação de falhas silicificadas, provavelmente
relacionadas ao processo de fragmentação do Gondwana, constituiu a última fase de deformação
decorrente na área de estudo (D4).

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (v)


MAPEAMENTO LITOESTRUTURAL DA FOLHA Nº736, ATRAVÉS DE IMAGENS MULTISPECTRAIS
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ÍNDICE
DEDICATÓRIA........................................................................................................................................................ i
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................................. ii
DECLARAÇÃO DE HONRA ................................................................................................................................ iv
RESUMO ................................................................................................................................................................. v
LISTA DE FIGURAS ...........................................................................................................................................viii
ABREVIATURAS ................................................................................................................................................viii
LISTA DE ANEXOS .............................................................................................................................................. xi
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................................... xii
1. GENERALIDADES ....................................................................................................................................... 1
1.1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 1
1.2. OBJECTIVOS .......................................................................................................................................... 2
1.3. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA E RELEVÂNCIA DO PROJECTO............................................ 2
1.4. CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO ......................................................... 3
Localização Geográfica .................................................................................................................................... 3

Clima, Topografia e Hidrologia ....................................................................................................................... 3

1.5. CONCEITOS BÁSICOS.......................................................................................................................... 5


Princípio do Sensoriamento Remoto ................................................................................................................ 5

Espectro Electromagnético (REM) .................................................................................................................. 6

Comportamento Espectral Dos Materiais Geológicos ..................................................................................... 7

Imagens SRTM ................................................................................................................................................ 8

Imagens ASTER............................................................................................................................................... 9

2. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO ....................................................................................................... 10


2.1. GEOLOGIA REGIONAL ...................................................................................................................... 10
2.2. GEOLOGIA LOCAL ............................................................................................................................. 13
Grupo de Chimoio .......................................................................................................................................... 15

Grupo de Macossa .......................................................................................................................................... 15

Rochas Intrusivas ........................................................................................................................................... 16

Cobertura Fanerozóica ................................................................................................................................... 17

Ocorrências Minerais ..................................................................................................................................... 17

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3. MATERIAIS E METODOLOGIAS .......................................................................................................... 19


3.1. MATERIAIS .......................................................................................................................................... 19
3.2. METODOLOGIAS ................................................................................................................................ 19
4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS.................................................................................................. 24
4.1. MAPEAMENTO LITOLÓGICO........................................................................................................... 24
4.2. MAPEAMENTO ESTRUTURAL ......................................................................................................... 34
4.2.1. DEFORMAÇÃO DÚCTIL ............................................................................................................ 34

4.2.2. DEFORMAÇÃO RÚPTIL ............................................................................................................. 39

4.2.3. SÍNTESE DA GEOLOGIA ESTRUTURAL ................................................................................. 43

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................................................................................ 45


5.1. CONTEXTO LITOLÓGICO ................................................................................................................. 45
5.2. CONTEXTO ESTRUTURAL ............................................................................................................... 46
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................................................................. 49
6.1. CONCLUSÕES ...................................................................................................................................... 49
6.2. RECOMENDAÇÕES ............................................................................................................................ 50
ANEXOS ............................................................................................................................................................... 54

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (vii)


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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localização geográfica da área de estudo. ................................................................................ 4
Figura 2. Princípio do sensoriamento remoto........................................................................................... 5
Figura 3. Representação do espectro electromagnético e as suas diferentes faixas. Fonte: Ventureiri,
2007. .......................................................................................................................................................... 6
Figura 4. Esquema ilustrativo das características espectrais das rochas ígneas. Fonte: Ninomiya et al,
2005, citada em Zou, 2013). ...................................................................................................................... 8
Figura 5. Continente Gondwana após a orogenia Pan-africana. MB-Cinturão de Moçambique; ZB-
Cinturão de Zambeze. Área de estudo em azul (Kroner&Stern, 2005, reproduzido de Kusky, 2003). .. 10
Figura 6. Mapa geológico e estrutural da região Noroeste de Moçambique, predominada pelo cinturão
de Moçambique (modificado de GTK, 2006). ........................................................................................ 12
Figura 7. Mapa geológico da área de estudo (adaptado de GTK, 2006). ............................................... 14
Figura 8. Esquema ilustrativo das fases metodológicas levadas acabo para o presente projecto. ......... 23
Figura 9. Composição colorida 321 evidenciando a cobertura vegetal na área de estudo através de cor
vermelha, frequente nas margens dos rios e estruturas geológicas. ........................................................ 25
Figura 10. Imagem de índice de Sílica (band13/band12). As áreas constituídas por rochas ricas em sílica
(polígonos pretos) apresentam um tom claro em detrimento das constituídas de rochas pobres em sílica.
................................................................................................................................................................. 27
Figura 11. Imagem de Índice de máficos, onde áreas constituídas por unidades litológicas enriquecidas
em minerais máficos aparecem destacadas a tom claro, predominantemente na região nordeste da área
de estudo (polígonos pretos). ................................................................................................................... 28
Figura 12. Combinação de razão de bandas 12/13, 11/12 e 13/14, destacando as rochas ricas em minerais
félsicos na região Sul e as menos félsicas na região nordeste, separadas pela linha preta na imagem. .. 29
Figura 13. Composição colorida 732, destacando unidades litológicas estreitas e alongadas (polígonos
pretos) e a cobertura vegetal na área de estudo (cor verde) ao longo dos rios, principais falhas e estruturas.
................................................................................................................................................................. 30
Figura 14. Composição colorida 751 evidenciando as principais unidades litológicas predominantes na
área de estudo. ......................................................................................................................................... 31
Figura 15. Carta litológica da área de estudo obtida através de interpretação de imagens de satélite. .. 33

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (viii)


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Figura 16. Imagem colorida742 destacando a divisão dos domínios estruturais (a). Imagem ampliada
mostrando a zona de cisalhamento inferida através do padrão das foliações, que separa os domínios A e
B (b) e B e C (c). As setas indica o movimento de cisalhamento. .......................................................... 35
Figura 17. Composição colorida 742 ASTER, destacando as características estruturais do domínio B.
Pode se observar as foliações S1 em forma de domo e bacias, evidenciando um padrão de interferência
do tipo 1 (figura ampliada a direita). ....................................................................................................... 37
Figura 18. Composição colorida 742 destacando as características estruturais do domínio C. Pode se
observar clivagens de refração associadas as dobras F2 na figura ampliada da área correspondente ao
domínio à direita. ..................................................................................................................................... 38
Figura 19. Imagen de relevo sombreado (azimute 360 graus e inclinação do sol de 30 graus), destacando
as principais famílias de lineamentos. ..................................................................................................... 40
Figura 20. Composição colorida 751 evidenciando os principais grupos de falhas e sua respectiva
orientação no diagrama de roseta ao lado (principalmente NE-SW e NW-SE). A imagem ampliada a
direita mostra falhas que separam diferentes unidades litológicas, evidenciando um contacto tectónico.
................................................................................................................................................................. 41
Figura 21. Estruturas rúpteis mapeadas na área de estudo. O diagrama de Rosetas no canto superior
direito mostra as principais direcções de orientação das falhas digitalizadas (NE-SW e NW-SE). ....... 42
Figura 22. Mapa estrutural, apresentando a relação entre as estruturas dúcteis e rúpteis presentes na área
de estudo. As setas indicam a direcção do cisalhamento inferido. .......................................................... 44
Figura 23. Carta litoestrutural actualizada da área de estudo, produzida através de interpretação de
imagens de satélite na escala 1:75.000 .................................................................................................... 48

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (ix)


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ABREVIATURAS

SIGLA DEFINICÃO SIGLA DEFINIÇÃO


Advanced Space borne Thermal
ASTER SRTM Shuttle Radar Topography Mission
Emission and Reflection
E Este REM Radiação Electromagnética
ENE Este-Nordeste SW Sudoeste
ESSE Este-Sudeste S Sul
FCC False Color Composite SE Sudeste
MB Mozambique Belt SI Índice de Sílica
MI Índice de Máficos PCA Principal Component Analysis
NE Nordeste VNIR Visible and Near Infrared
NNE Norte-Nordeste WNW Oeste-Noroeste
NNW Norte-Noroeste TIR Thermal Infrared
NW Noroeste SR Remote Sensing
SSE Sul-Sudeste SWIR Short Wave Infrared
SSW Sul-Sudoeste SW Sudoeste
W Weste (Oeste) RGB Red, Green and Blue
WSW Oeste-Sudoeste DNG Direcção Nacional de Geologia

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (x)


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LISTA DE ANEXOS

Anexo 1. Descrição das bandas de Imagens ASTER (Yjima, 2014 e JOGMAC, 2014). ....................... 55
Anexo 2. Características espectrais dos principais tipos de rochas. ........................................................ 56
Anexo 3. Exemplo de uma Imagem SRTM na forma bruta, antes de ser processada. O polígono em azul
corresponde a área de estudo. Regiões mais elevadas, topograficamente, destacadas a tom claro. ........ 57
Anexo 4. Exemplo de uma imagem ASTER completa. Combinação 742. ............................................. 58
Anexo 5. Esquema comparativo entre as bandas do sensor ASTER e LandSat 8. Fonte: Sadeght et al,
2013. ........................................................................................................................................................ 59

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Quadro resumo das estruturas geológicas mapeadas e as respectivas fases de deformação
associadas. ............................................................................................................................................... 47

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (xi)


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DE ALTA RESOLUÇÃO-ASTER

1. GENERALIDADES
1.1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a teledeteção tem sido uma ferramenta incontornável nos trabalhos de mapeamento
geológico-estrutural, a uma escala regional ou mesmo local. A disponibilidade de dados multiespectrais
e de alta resolução, bem como a capacidade das técnicas de processamento de imagens em gerar imagens
melhoradas e de fácil interpretação, fazem do Sensoriamento Remoto, um dispositivo importante e
indispensável no mapeamento de unidades litológicas e estruturas geológicas com um nível de detalhe e
precisão aceitáveis. Esta técnica permite mapear áreas extensas num curto intervalo de tempo, reduzindo
os custos envolvidos.

Ainda que o território moçambicano tenha sido palco de diversos trabalhos de prospecção e pesquisa
geológica, envolvendo mapeamento em escala regional e local, existem áreas pobremente mapeadas, o
que exige mais intervenção investigativa, na produção de cartas geológicas na escala de maior detalhe,
principalmente em regiões muito importantes em termos da sua complexidade litológico estrutural.

A área de estudo engloba a parte ocidental do distrito de Maringué, província de Sofala e a parte oriental
do distrito de Macossa pertencente a província de Manica. No mais recente mapeamento (escala
1:2500000) desenvolvido pela GTK, a área de estudo enquadra-se na carta número 174. Esta região não
foi ainda abrangida pelo progressivo programa de mapeamento a escala de 1:50000, levado a cabo pela
Direcção Nacional de Geologia. A área de estudo faz parte do cinturão de Moçambique e é constituída
por rochas metassedimentares Mesoproterozóicas de alto-médio grau metamórfico do complexo de
Báruè, instruídas por rochas félsicas e máficas relacionadas ao processo magmático Pan-africano (GTK,
2006).

O presente projecto científico visa fazer um mapeamento litológico e estrutural, através de interpretação
de imagens SRTM, ASTER, com intuito de contribuir no conhecimento das características geológicas
estruturais da região.

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (1)


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1.2. OBJECTIVOS
Objectivo Geral

Mapear unidades litológicas e estruturas geológicas existentes na área de estudo (folha número 736), com
recurso em imagens ASTER e SRTM.

Objectivos específicos

 Delimitar as unidades litológicas e geológicas;


 Identificar e delimitar as estruturas geológicas patentes na área de estudo;
 Definir as principais fases de deformação através de padrão de estruturas geológicas;
 Construir uma carta litológico-estrutural na escala 1:75.000;

1.3. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA E RELEVÂNCIA DO PROJECTO


A área de estudo enquadra-se numa região geologicamente importante, afectada por diversos eventos
tectónico-termais responsáveis pela sua actual arquitetura. O recente mapeamento desenvolvido pela
GTK (2006) prossupõe a ocorrência de alguns recursos minerais tais como ouro epitermal, metais básicos
remobilizados do cratão de Zimbabwe e veios pegmatíticos relacionados com intrusões de granitóides
sobre as rochas metassedimentares. Estas características geológicas fazem da área um objecto por estudar
com particular atenção. Ainda que a área de estudo tenha estas características, não foi ainda abrangida
pelo progressivo mapeamento geológico na escala de 1:50000, desenvolvido pela DNG, o que faz crer
que ainda há muitos mistérios por revelar.

O presente projecto será de extrema relevância em termos científicos, pois contribuirá com mais
conhecimento geológico estrutural da área de estudo, subsidiando assim os trabalhos ora desenvolvidos.
Através do projecto, perspectiva-se descobrir e delimitar as unidades e estruturas geológicas ainda não
mapeadas, uma vez que as imagens ASTER, com uma resolução espacial até 15m, permitem visualizar
feições geológicas. Através do presente projecto se poderá distinguir áreas mais promissoras em termos
de ocorrência mineral para mais investigações de detalhes.

Manuel A.Manuel Nopeia Projecto Científico Depto. Geologia-UEM, 2016 (2)


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1.4. CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO


Localização Geográfica
A área de estudo compreende uma parte do distrito de Macossa, na província de Manica e a região
ocidental do distrito de Maringué, pertencente a província de Sofala.

O distrito de Macossa situa-se a nordeste da Província de Manica, fazendo limite a Norte com os distritos
de Tambara e Guro, a Leste pelo distrito de Gorongosa e Maringué, ambos da província de Sofala, a Sul
pelo distrito de Pungué e a Oeste pelo distrito de Báruè. Por outro lado, o distrito de Maringué, do qual
parte da área de estudo pertence, está situado a Norte da província de Sofala, limitando-se a Sul com o
distrito de Gorongosa, a Norte com o distrito de Chemba, a Este com o distrito de Caia e a Oeste com o
distrito de Macossa da província de Manica. O acesso a área de estudo é possível através da estrada
secundária que passa pelo posto administrativo de Canxixe. A área de estudo dista, aproximadamente,
7km a Oeste deste (fig. 1).

Clima, Topografia e Hidrologia


Ambos distritos, que envolvem a área de estudo, são predominados por duas estações climáticas, a
estação seca e a estação chuvosa. A estação chuvosa ou húmida, onde se verificam elevados níveis de
precipitação e altas temperaturas vigora nos meses de Dezembro a Março e Novembro a Abril, nos
distritos de Macossa e Maringué, respectivamente. O período seco e frio vigora nos restantes meses
(Ministério da Administração Estatal, 2005).

O distrito de Macossa é caracterizado por um clima sub-húmido seco, com uma precipitação média anual
de 800 a 1000mm. A área de estudo é atravessada pelos rios Nhaluíro, Sangadze e Mecumbeze, de regime
periódico ou sazonal e alguns deles são classificados de riachos (Ministério da Administração Estatal,
2005).

A topografia da área de estudo tende a decrescer em direcção ao oriente, a partir das zonas altas e
montanhosas a ocidente.

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Figura 1. Localização geográfica da área de estudo.

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1.5. CONCEITOS BÁSICOS


Princípio do Sensoriamento Remoto
Sensoriamento Remoto (SR) refere-se a um conjunto de técnicas destinadas à obtenção de informação
sobre objetos, sem que haja contacto físico com os mesmos (Venturieri, 2007). O sensoriamento remoto
consiste no mapeamento de feições físicas na superfície terrestre através de um sensor, com objectivo de
obter informações diversas sobre tais feições. Sensoriamento remoto depende da diferença espectral
observada na energia reflectida ou emitida pelo objecto em destaque.
O processo consiste na emissão de energia, através do sol ou outros emissores (sensores activos,
acoplados a um satélite), que incide sobre os objectos na superfície terrestre. Parte da energia emitida é
difundida ou absorvida pelas partículas atmosféricas, aquando do seu trajecto ao objecto (fig. 2). Na sua
interação com o objecto a energia electromagnética é reflectida ou parte dela absorvida, dependendo das
características espectrais do mesmo objecto (Venturieri, 2007). A radiação ora emitida ou refletida pelos
objectos na superfície da terra é posteriormente colectada pelo sensor, em forma de radiação
electromagnética. Os dados são dispostos em imagens que são posteriormente processadas e
interpretadas, através de softwares adequados, para a extração de informação necessária.

Figura 2. Princípio do sensoriamento remoto.


(https://www.google.com/search?q=principio+de+sensoriamento+remoto&biw).

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A capacidade de reflectir ou absorver a radiação electromagnética, em uma certa faixa do espectro


electromagnético, que muitos materiais na superfície da terra apresentam constitui o principal factor que
possibilita a aplicação do sensoriamento remoto.

O sensoriamento remoto pode ser aplicado em vários campos da ciência: no monitoramento climático;
na agricultura; geologia; na área militar; uso e ocupação de terra; estudos hidrológicos (Campbell, 1996).

Em geologia, o sensoriamento remoto tem sido uma indispensável ferramenta no mapeamento de


estruturas geológicas (lineamentos, falhas e fracturas), rochas e solos, numa extensa área, garantido assim
o reconhecimento geológico das mesmas em menos tempo, reduzindo os custos envolvidos.

Espectro Electromagnético (REM)


Espectro electromagnético é a representação contínua da radiação electromagnética em termos de
comprimento de onda ou de frequência. O espectro electromagnético está dividido em faixas
representando regiões com certas características específicas em termos de processos físicos (fig. 3),
geradoras de energia em cada faixa ou mecanismos físicos de detecção de energia (Ventureiri, 2007).

Figura 3. Representação do espectro electromagnético e as suas diferentes faixas. Fonte: Ventureiri,


2007.

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Comportamento Espectral dos Materiais Geológicos


Segundo Ventureiri (2007), as propriedades espectrais de minerais e rochas são possíveis de análise
através de perfis espectrais onde são observados gradientes e bandas de absorção, comuns nas regiões do
visível e do infravermelho próximo. As substâncias que garantem diagnosticar os minerais e rochas na
faixa do espectro são os iões Fe2+e Fe3+, o carbonato, a água e a hidroxila, que de forma indirecta, indicam
a concentração dos elementos mais abundantes. Os minerais opacos presentes numa rocha atenuam a
resposta espectral e obliteram feições diagnósticas (Ventureiri, 2007).

Uma vez que a radiação electromagnética não é penetrativa sobre os sólidos, por vezes, a cobertura
vegetal e solos existentes na superfície terrestre, tornam difícil a discriminação das características
espectrais das rochas, actuando assim, como autênticas barreiras à observação das litologias e minerais
(Espinoza, 2006). Por vezes recorre-se a geobotânica para o mapeamento geológico, relacionando a
variação das características espectrais de certa cobertura vegetal com as possíveis litologias. O grau de
intemperismo das rochas, associado a cobertura do solo, também influenciam sobremaneira no
comportamento espectral das rochas. O anexo 2 descreve o comportamento espectral dos principais tipos
de rochas.

As rochas compostas por silicatos, pouco alteradas, não apresentam boas características espectrais na
região dos VNIR a SWIR do espectro electromagnético. Entretanto, tais materiais geológicos apresentam
características espectrais distintivas na região do infravermelho termal (TIR), devido a vibração de Si-O-
Si (Eriksson & Muhongo, 2010). A discriminação de litologias em imagens ASTER é feita através de
medição da energia electromagnética emitida na região dos TIR (fig. 4). Esta radiação emitida depende
da temperatura e da emissividade da rocha (JOCMEC, 2015). O esquema a seguir ilustra as características
espectrais (emissividade) das rochas carbonáticas, ígneas ácidas (c), intermédias (d), básicas (e) e
ultrabásicas (f), que possibilitam a sua identificação numa imagem ASTER. Fonte: (Ninomiya et al, 2005,
citada em Zou, 2013). A seta mostra os pontos de baixa emissividade das rochas.

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Figura 4. Esquema ilustrativo das características espectrais das rochas ígneas. Fonte: Ninomiya et al,
2005, citada em Zou, 2013).

Imagens SRTM
O sensor SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) foi lançado no espaço em Fevereiro de 2000,
através da National Aeronautic and Space Administration (NASA) e National Geospatial Intelligent
Agency (NGA), (https://lta.cr.usgs.gov/SRTM1Arc). SRTM colecta dados de elevação digital, cobrindo
80% da superfície terrestre, e usa dois radares, que captam imagens com 90m de resolução espacial
(https://lta.cr.usgs.gov/SRTM1Arc). O anexo 3 mostra a imagem SRTM, na forma bruta, antes de ser
processada.

Este sistema radar reúne informações que resultam no mapeamento topográfico do globo
(http://www2.jpl.nasa.gov/srtm/missionoverview.html). O objectivo fundamental do sistema SRTM é
obter dados digitais topográficos de alta resolução (modelamento topográfico).

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Imagens ASTER
O Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer (ASTER) é um instrumento de
investigação proposto pelo Ministério de Indústria e Comércio do Japão e foi lançado em 1999, acoplado
a plataforma orbital TERRA (EOS-AM1) da NASA, com objectivo de subsidiar o monitoramento e a
observação da superfície terrestre numa escala local e regional (Espinoza, 2006). As imagens ASTER
(anexo 1) contêm 14 bandas, das quais 3 pertencem a faixa do Infravermelho Próximo e Visível (VNIR),
6 cobrem a zona do Infravermelho de Ondas Curtas (SWIR) e 5 bandas na faixa do Infravermelho Termal
(TIR) do espetro electromagnético, com uma resolução espacial de 15m para VNIR, 30 para SWIR e 90
para TIR (Kujjo, 2010). Em adição, ASTER dispõe também de dados na banda 3B (0.76-0.86µm) que
garantem o cálculo de modelo digital de elevação (DEM) e, consegue capturar radiação emitida pelos
objectos nas suas cinco bandas do TIR (Pour & Hashim, 2011). Os intervalos das bandas ASTER são
mais curtos em relação os das bandas do Landsat ETM+ (anexo 5).

Todas as bandas do ASTER cobrem a mesma área de 60Km2, com uma capacidade de registo
perpendicular à órbita de +/-116Km a partir do nadir e o tempo de revista máxima é de 16 dias (Espinoza,
2006). O anexo 1 mostra as 14 bandas do ASTER, as correspondentes faixas do espectro
electromagnético e sua aplicação.

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2. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO
2.1. GEOLOGIA REGIONAL
A área de estudo enquadra-se no Cinturão de Moçambique. O Cinturão Moçambicano (MB) é uma
estrutura orogênico com direção aproximada N-S, exposta no flanco oriental do Cratão da Tanzânia, que
se estende para Sul a partir do Norte do Quénia, Uganda e Etiópia até Moçambique, onde ocupa o flanco
oriental do Cratão do Zimbabwe (Chaúque, 2010). Segundo Kroner & Stern (2005), o Cinturão de
Moçambique formou-se durante a orogenia Pan-africana que teve lugar nos finais do Neoproterozóico,
há sensivelmente 500Ma (fig.5). Esta orogenia começou com a quebra do supercontinente Rodínia em
vários blocos continentais, durante a primeira metade do Neoproterozóico e as sucessivas colisões e
amalgamação de diversos blocos, culminando com a formação do Gondwana e outros cinturões móveis
(Chaúque, 2010).

Figura 5. Continente Gondwana após a orogenia Pan-africana. MB-Cinturão de Moçambique; ZB-


Cinturão de Zambeze. Área de estudo em azul (Kroner&Stern, 2005, reproduzido de Kusky, 2003).

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A orogenia Pan-africana foi caracterizada por diversas actividades tectónicas, magmáticas e


metamórficas de idade Neoproterozóica a Paleozoico inferior, reflectindo a abertura e fechamento de
grandes oceanos e acrecção e colisão de diferentes blocos crustais (Kroner & Sterm, 2005).

O cinturão de Moçambique (MB) constitui uma das mais importantes orogenias do evento Pan-africano.
Este surgiu como resultado do fechamento do oceano de Moçambique pela colisão dos blocos do
Gondwana Este, constituído por crusta Juvenil a Norte (Escudo Árabe-Núbio) e Oeste, que incluía a
maior parte da África e América do Sul, entre os anos 640 a 530Ma (Chaúque, 2010).

O MB é constituído por gneisses de médio-alto grau metamórfico e alguns granitóides, interpretados


como provenientes de margens deformadas de continentes em colisão. Segundo Kroner & Stern (2005),
os gneisses do alto grau metamórfico e migmatitos no Norte do País são produtos de uma intensa
deformação e metamorfismo, decorrentes durante dois eventos consecutivos: o ciclo moçambicano
conhecido por Lurian (1100-850 Ma) e o ciclo da orogenia Pan-africana (800-550Ma). Em Moçambique
o MB é constituído por complexos gnéissicos Mesoproterozóicos na região nordeste e ocidental do país,
limitada a este por rochas recentes de idade fanerozoica, através de falhas normais (fig. 6).

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Figura 6. Mapa geológico e estrutural da região Noroeste de Moçambique, predominada pelo cinturão
de Moçambique (modificado de GTK, 2006).

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2.2. GEOLOGIA LOCAL


A área de estudo faz parte do Complexo de Báruè que se estende desde a margem oriental do cratão
arqueano do Zimbabwe onde se limita deste por uma zona de cisalhamento sinistral. A parte oriental do
Complexo de Báruè é limitado por um conjunto de falhas de rift e rochas sedimentares do Karro a
recentes e, a Norte é limitado por falhas de empurrão para Norte (fig. 6). As rochas do Complexo de
Báruè são cobertas a Sul por camadas Fanerozóicas (GTK, 2006), que também podem se observar na
área de estudo (fig. 6).

No mapa geológico a escala de 1:1000000, anteriormente desenvolvido por Pinna et al (1987), um


número de unidades lito-estratigráficas foram definidas como parte do Complexo de Báruè, incluindo o
grupo de Nhamatanda, Madzuire, Changara, Canxixe e Matambo. Entretanto, durante o mais recente
projecto de mapeamento territorial, essas unidades não foram individualmente distinguidas nas imagens
radiométricas e aeromagnéticas, razão pela qual foram excluídas do Complexo de Báruè (GTK, 2006).
As unidades litológicas do Complexo de Báruè formam uma série de planaltos, aumentando de altitude
até ao Monte Chimanimane, ao longo do limite com o cratão de Zimbabwe. A região apresenta uma
morfologia ondulada, com inserlbergs formados através das rochas intrusivas (GTK, 2006).

O Complexo de Báruè é constituído por uma variedade de gneisses de alto grau, migmatitos e granitoides,
com intercalações subordinadas de rochas máficas, quartzitos, mármore e rochas calco-silicatadas
associadas (fig. 7), cujos protólitos sedimentares correspondem, aproximadamente, a depósitos duma
sequência turbidítica, da margem continental passiva do Cratão de Zimbabwe (GTK, 2006). A idade das
unidades metassedimentares que compõem o Complexo de Báruè ainda é um objecto de discussão pois,
nos trabalhos desenvolvidos pela GTK, estas unidades são atribuídas ao período Mesoproterozóico.
Entretanto, resultados de datação de zircões obtidos por Chaúque (2010) evidenciam uma idade de
deposição Neoproterozóica para os metassedimentos do Complexo de Báruè, tendo por isso excluído
estas unidades do Complexo de Báruè que, segundo a autora, este é constituído pelas rochas magmáticas
com idade próxima a 1100Ma. O Complexo de Báruè subdivide-se em dois grandes grupos: Grupo de
Macossa e Grupo de Chimoio, ambos intruídos por rochas plutónicas de várias composições. Entretanto,
a área de estudo é fundamentalmente constituída por unidades litológicas pertencentes ao grupo de
Macossa (fig. 7). A divisão destes grupos foi feita com base na origem das unidades litológicas que os
compõem, sendo que o Grupo de Macossa é claramente supracrustal, o que não se pode dizer em relação
ao Grupo de Chimoio onde ainda sobejam incertezas relactivamente à sua origem.

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Figura 7. Mapa geológico da área de estudo (adaptado de GTK, 2006).

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Grupo de Chimoio
O Grupo de Chimoio compreende predominantemente paragneisses psamíticos migmatizados e
metassedimentos pelíticos, rochas siliclásticas e anfibolitos que constituem uma ínfima porção do
complexo (GTK, 2006).

Paragnaisse Migmatitico

Segundo estudo feito pela GTK, estas rochas apresentam baixas assinaturas magnéticas e radiométricas
em comparação com as outras rochas vizinhas. Apresentam uma cor cinzenta clara, com granulometria
fina e estão altamente foliadas. Observam-se também bandamentos que provavelmente representam os
bandamentos da composição primária. Migmatitos com preservação de estruturas primárias são
observados próximo a zona de contacto com a cobertura fanerozoica. São comuns horizontes de calco-
silicatos entre as sequências de gneisses. Assume-se que estas rochas tenham uma origem turbidítica.

Grupo de Macossa
O Grupo de Macossa é subdividido nas seguintes unidades, consideradas ter o mesmo percursor
sedimentar, originalmente depositado num ambiente de mar pouco profundo: Gneisse quartzo-
feldspático, gneisse leucocrático, Meta-arcoses, Gneisse granada-silimanite, Gneisse micáceo e
metagrauvaques, com quartzitos feldspáticos, mármore e gneisse calco-silicato, (Eck et al, 2011).

Meta-arcose

São castanhos avermelhados a cinzento, com granulometria média a grossa, apresentam foliações e
predominam mais na parte ocidental do Complexo de Báruè. Sugere-se que esta unidade tenha origem
vulcânica, o que é evidenciado pela continuidade lateral e a consistência na espessura das camadas.

Gnaisse granada-silimanite, gneisse micáceo e metagrauvaques

São rochas originalmente pelíticas a semipelíticas do complexo de Báruè, principalmente a norte da Serra
da Gorongosa. Os metagrauvaques são cinzentos acastanhados, de granulometria média, compostos por
quartzo, feldspato e biotite, com porfiroblastos de granada. Apresentam estruturas primárias
sedimentares, apesar de terem sido alteradas por processos de deformação. Os gneisses micáceos são de
cor cinzento acastanhado, apresentam assinaturas aeromagnéticas baixas. Conservam as estruturas

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primárias e são constituídos por quartzo, feldspato, biotite, granada, cordierite e silimanite, que
evidenciam a sua origem sedimentar.

Quartzito feldspático

É uma unidade extensiva e contínua, constituindo a parte Norte e central da folha 1733 e 1734 e encontra-
se exposta em uma vasta área devido a fraca inclinação dos estratos, o que torna difícil estabelecer as
suas espessuras e os contactos gradacionais com outras unidades. A maior exposição dos quartzitos
feldspáticos granatíferos encontra-se a noroeste do monte Gorongosa, onde a transição gradacional dos
quartzitos à metagrauvaques e gneisses micáceos foram observadas nas camadas fluviais dos rios
Mudicaoinda e Nhandugue. Também são comuns leucossomas concordantes e diques leucograníticos.
Os quartzitos são constituídos por quartzo, K-feldspato e plagióclase, com abundância de porfiroblastos
de granada. Os principais minerais acessórios são biotite e silimanite.

Gneisse calco-silicato

Ocorrem como bandas espessas intercaladas por paragnaisse psamítico e pelítico do Grupo de Macossa,
geralmente dobradas. A máxima espessura observada das camadas que compõem esta unidade é de
algumas dezenas de metros.

Rochas Intrusivas
Segundo GTK (2006) na área de estudo ocorrem rochas intrusivas de composição variada (félsica a
máfica), que afectaram, principalmente, as rochas metassedimentares do Grupo de Macossa.

Gneisse leucocrático do Monte Tomonda

Os gneisses leucocráticos da área de estudo são cinzentos-claros, de granulometria média-grossa,


compostos por feldspato, quartzo e uma pequena percentagem de micas, comumente apresentando
porfiroblastos de granada, paralelos a foliação. O contacto litológico entre os gneisses leucocráticos e
outras rochas supracrustais não é claro devido à similaridade litológica entre eles.

Granodiorito do Monte Panda


Compreende uma unidade leucocrática, fortemente deformada, na parte ocidental do Complexo de Báruè,
formando inselberg. É composto por plagióclase, quartzo e biotite que constituem os minerais principais.

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Cobertura Fanerozóica
Para além dos metassedimentos do Complexo de Báruè, ocorrem também na parte oriental da área de
estudo rochas sedimentares Fanerozóicas. O limite entre a cobertura fanerozoica e os metassedimentos
do Complexo de Báruè é constituído por falhas de rift. As principais unidades sedimentares Fanerozóicas
que ocorrem na área de estudo são:

Formação de Cádzi

Esta formação é constituída por arenitos arcósicos de cor castanha avermelhada com estratificação
cruzada, calcários e arenitos carbonatados. Próximo do contacto tectónico com as rochas
Mesoproterozóicas afloram camadas sub-horizontais de arenito imaturo. Segundo estudos feitos pela
GTK, os arenitos apresentam grãos sorteados, arredondados à subangulares. As unidades litológicas desta
formação sobrepõem os sedimentos clásticos da formação de Matinde e são sobrepostos por basaltos de
Chueza e formação do Rio Nhavúdezi.

Formação de Chueza

Esta formação é constituída por basaltos que ocorrem na parte noroeste de Lupata, em contacto com os
basaltos inferiores da formação do Rio Mazoe. Os basaltos apresentam estrutura de fluxo de lava com
atitude 330º/34ºNE. Alguns deles apresentam uma textura porfirítica com fenocristais de plagióclase. O
contacto tectónico entre os basaltos de Chueza e as rochas Mesoproterozóicas é representado através de
falhas normais, na parte ocidental da área de estudo (fig. 6).

Ocorrências Minerais
As caraterísticas geotectónicas da área de estudo suscitam a sua importância económica. Trabalhos
desenvolvidos anteriormente revelam ocorrência de diversos tipos de mineralizações associadas aos
eventos tectonotermais que afectaram a área de estudo. Há registo de ocorrência de veios auríferos de
quartzo em paragnaisse migmatizados de idade Mesoproterozóica (GTK, 2006).

Os trabalhos desenvolvidos pela GTK (2006) consideram os metassedimentos e migmatitos do Complexo


de Báruè como potencial fonte de depósitos de ouro controlado por estruturas. Assumindo que essas
rochas metassedimentares sobrepõem o cratão de Zimbabwe através de uma zona de empurrão,
possivelmente tenha ocorrido uma remobilização de metais (GTK, 2006).

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A carta de jazigos e ocorrências minerais na escala 1:1000000 produzida pela Direcção Nacional de
Geologia (2000) revela ocorrências de grafite, prata e fluorite na área de estudo. A última fase de
mineralização do evento Pan-africano, que também afectou a área de estudo, foi caracterizada pela
ocorrência de veios de quartzo e quartzo-sulfídico contendo Fe, Cu e Au (Laechelt, 2004). Para além
dessas mineralizações, ocorrem também na área de estudo, diversos tipos de minerais industriais e
material de construção (Laechelt, 2004).

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3. MATERIAIS E METODOLOGIAS
3.1. MATERIAIS
Para o desenvolvimento do presente trabalho fez-se o uso das seguintes ferramentas:

 Imagem SRTM, adquirida no dia 26 de Janeiro de 2015 através do site da USGS;


 Imagens ASTER fornecida pelo extinto Instituto Nacional de Minas;
 Carta geológico na escala 1:250000, obtida na Direcção Nacional de Geologia (DNG);
 Carta topográfica na escala 1:250000, obtida na CENACARTA;
 Carta de ocorrência minerais na escala 1:1000000, obtida na Direcção Nacional de Geologia.

O programa Envi 5.0 foi usado para o processamento das imagens ASTER e SRTM e, os programas
ArcGIS 10.2.2 foi usado na elaboração dos outputs e os mapas geológicos. O programa QGIS 2.4 foi
usado na produção de Shape files inicial de lineamentos. Fez-se também, o uso do programa Stereonet 8
para a construção dos diagramas de Roseta e interpretação estrutural das imagens de satélite.

3.2. METODOLOGIAS
Para a realização do seguinte projecto foram desenvolvidas diversas etapas de trabalho que culminaram
com a elaboração do documento final. O trabalho consistiu nas seguintes fases: consulta bibliográfica,
aquisição e processamento de imagens de satélite, interpretação das imagens e compilação do relatório
final.

3.2.1. Consulta Bibliográfica

Esta fase consistiu na aquisição e consulta de cartas geológicas e topográficas na escala 1:250000
referente a área de estudo, publicações de trabalhos anteriormente desenvolvidos na área de estudo e
diversos documentos que abordam sobre as principais técnicas de processamento e interpretação de
imagens de satélite (SRTM, ASTER e LANDSAT 8), com principal realce para o mapeamento litológico
e estrutural. Esses dados (artigos e cartas) foram obtidos nas Bibliotecas do Departamento de Geologia e
Direcção Nacional de Geologia e Minas, para além das fontes da internet.

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3.2.2. Aquisição e Processamento de Imagens de Satélite

Esta fase do trabalho consistiu na aquisição de imagens de satélite que foram posteriormente processadas
para a extração de informações geológico-estruturais necessárias. Nesta fase foram obtidos e processados
dois tipos de imagens: Imagens SRTM, ASTER.

Imagens SRTM

A imagem SRTM foi baixada através do site da USGS, no dia 26 de Janeiro de 2015. Esses dados foram
obtidos com o objectivo de mapear os lineamentos. As imagens SRTM foram georreferenciadas na
projecção UTM, zona 36S, Elipsoide de Clarke 1866. Segundo estudos bibliográficos feitos, as principais
estruturas na área de estudo orientam-se na direcção NE-SW, E-W e N-S. Dai que, para melhor
visualização das mesmas foram criadas três imagens de relevo sombreado a partir dos dados SRTM, com
azimute de 270, 315 e 360, para mapear as estruturas geológicas orientadas na direcção preferencial N-
S, NE-SW e E-W, respectivamente e, uma inclinação do sol de 30 graus.

Imagem ASTER

No presente trabalho fez-se o uso de imagem ASTER nível 1A, adquirida no dia 04 de Dezembro de
2009, pelas 19 horas, 50 minutos e 08 segundos. A imagem ASTER foi usada para o mapeamento de
litologias, para além de identificação de algumas feições estruturais através de combinações de bandas
específicas. Para tal, fez-se o pré-processamento da imagem, como forma de garantir a qualidade da
mesma e remover os possíveis erros que podem estar associados a sua natureza, seguido da aplicação de
técnicas de processamento.

Pré-processamento

Todas as imagens ASTER foram georreferenciadas na projecção UTM, zona 36S, Elipsoide de Clarke
1866. Estas imagens foram pré-processadas e processadas através do software ENVI 5.0. As imagens
ASTER são constituídas por 14 bandas agrupadas em VNIR (com três bandas de 15m de resolução
espacial), SWIR (com seis bandas de 30m de resolução espacial) e TIR (com cinco bandas de 90m de

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resolução espacial), tal como foi descrito no capítulo 1. Uma vez estas terem resolução espacial diferente,
fez-se a reamostragem das bandas de SWIR, com 30m de resolução espacial, para 15m de resolução de
modo que se igualem às bandas do VNIR, garantindo assim o uso simultâneo de todas as bandas, através
de algumas combinações. Para melhor destaque das estruturas e outros aspectos geológicos nas imagens,
aplicou-se o Filtro Median 3x3, para algumas combinações. Fez-se o esticamento linear das imagens
ASTER, numa percentagem de 2%. Nesta etapa também foi feito o clip das imagens, técnica que consiste
em recortar a área necessária da imagem, excluindo assim a parte que pode ofuscar as interpretações.
Para tal, usou-se a ferramenta ArGIS 10.2.2.

Processamento

Para o presente trabalho foram usadas três técnicas de processamento de imagem ASTER que garantiram
a extração de informações de âmbito geológico e estrutural nas imagens de satélite. As técnicas de
processamento consistem na transformação de dados multiespectrais em uma imagem que aumenta o
contraste entre os objectos visados ou incrementa a informação da composição dos pixéis na imagem
(Kujjo, 2010). Usou-se a combinação de bandas para obtenção de imagens de cores falsas (FCC), índice
mineral e razão de bandas.

 Combinação de bandas

As imagens brutas de satélite são obtidas em preto e branco. Uma imagem de composição colorida é
gerada atribuindo informações para uma ou mais bandas (Kujjo, 2010). Muitas imagens de composição
colorida foram geradas através de combinação de diversas bandas, atribuindo-lhes as cores vermelha,
verde e azul (RGB).

Foi feita a combinação de bandas 321 para visualização da cobertura vegetal, 732 e 751 pra
discriminação das unidades litológicas. Para a identificação de estruturas geológicas (falhas, foliações,
dobras e contactos litológicos) foram geradas imagens de composição colorida 751 e 742 no sistema
RGB. Também produziu-se a imagem de combinação de bandas 12/13, 11/12 e 13/14 para a
discriminação das principais unidades litológicas.

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 Razão de Bandas

Cada objecto apresenta um padrão de reflectância específico em diferentes faixas do espectro


electromagnético (San et al, ano indeterminado). A técnica de razão de bandas serve para enfatizar ou
exagerar a anomalia criada pelo objecto (Abrams, 1983, citado por San et al, ano indeterminado; Solgi
& Roudsari, 2014). A técnica de razão de bandas consiste na divisão da banda de alta reflectância pela
de baixa reflectância, manifestada pelo mineral (Kujju, 2010). Foram feitas as razões de bandas do TIR
(13/12 e 12/13) para o mapeamento de litologias.

 Índice de minerais

Índice de Mineral é uma técnica de melhoramento de imagem que tem por finalidade, evidenciar a
ocupação espacial de um determinado mineral em uma imagem. Diversos índices de minerais foram
definidos para quartzo, carbonatos e minerais máficos para bandas do TIR, de modo a mapear rochas
(Ninomiya & Fu, 2010). A aplicação dessa técnica é similar a técnica de Razão de Bandas. Pois consiste
na divisão da banda de maior reflectância ou emissividade pela banda de menor refletância ou
emissividade do mineral em destaque ou, aplicação de uma outra fórmula matemática que destaque o
mineral. Esta técnica foi mais usada para o mapeamento litológico, tendo sido usado o índice de sílica e
índice de máficos.

3.2.3. Interpretação dos resultados

A interpretação dos dados consistiu na análise dos resultados obtidos através das técnicas
supramencionadas e o confronto dos mesmos com os trabalhos já desenvolvidos na área do estudo. Esta
fase culminou com a elaboração dos mapas litológicos e estruturais.

3.2.4. Compilação do Relatório Final

Esta constituiu a última fase do trabalho e culminou com a compilação do relatório final, através da
combinação dos resultados obtidos nas fases anteriores do projecto.

O esquema a seguir resume de forma mais clara, as etapas desenvolvidas no presente trabalho.

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DE ALTA RESOLUÇÃO-ASTER

Figura 8. Esquema ilustrativo das fases metodológicas levadas acabo para o presente projecto.

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MAPEAMENTO LITOESTRUTURAL DA FOLHA Nº736, ATRAVÉS DE IMAGENS MULTISPECTRAIS
DE ALTA RESOLUÇÃO-ASTER

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS


4.1. MAPEAMENTO LITOLÓGICO
O Mapeamento litológico consistiu na aplicação de três técnicas de processamento de imagens ASTER:
Índice de minerais; A razão de bandas e a Combinação de bandas (melhor descritas no capítulo anterior).

Como foi descrito no primeiro capítulo, a cobertura vegetal constitui uma barreira na aplicação do
sensoriamento remoto para o mapeamento litológico, uma vez que mascara a informação geológica
presente no terreno. Dai que, foi criada a imagem de composição colorida 321, para perceber a
distribuição espacial da vegetação na área de estudo, que se destaca pela cor vermelha, visto que a
vegetação apresenta alta refletância na banda 3 do sensor ASTER (fig. 9). Através desta imagem (fig. 9),
constata-se que a vegetação é restrita somente nas margens dos principais rios que ocorrem na área de
estudo e ao longo de fracturas e falhas geológicas, o que encoraja a aplicação da técnica no mapeamento
geológico.

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Figura 9. Composição colorida 321 evidenciando a cobertura vegetal na área de estudo através de cor
vermelha, frequente nas margens dos rios e estruturas geológicas.

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Índice de Minerais

Com base nos índices de minerais, obtidos através de operações matemáticas aplicadas às bandas do TIR,
foi possível mapear as áreas abrangidas pelos minerais relacionadas com a ocorrência de um determinado
tipo de litologia. No presente estudo foram usados dois índices de minerais para a identificação de
litologias. Trata-se do índice de sílica (SI), e índice máficos (MI).

Índice de Sílica (SI)

As rochas ricas em sílica mostram baixa emissividade na banda 12 do sensor ASTER e uma alta
emissividade na banda 13. O SI obtém-se, portanto, dividindo a banda 13 da banda 12. Rochas com
elevada percentagem em sílica apresentam valores digitais mais elevados em detrimento das rochas
menos silicatadas. As áreas com tonalidade clara estão relacionadas à ocorrência de rochas félsicas ou
com maior percentagem de sílica. Pode se observar maior predominância destas unidades na zona central
e sudoeste da área de estudo (fig. 10).

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Figura 10. Imagem de índice de Sílica (band13/band12). As áreas constituídas por rochas ricas em sílica
(polígonos pretos) apresentam um tom claro em detrimento das constituídas de rochas pobres em sílica.

Índice Máfico (MI)

O MI é obtido através da razão entre as bandas 12 e 13, contrariamente ao índice de sílica. Na imagem à
cinzento, obtida através deste índice (fig. 11) as áreas que apresentam um relativo enriquecimento em
minerais máficos, destacadas através de um tom claro na imagem, predominam à Nordeste da área de
estudo.

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Figura 11. Imagem de Índice de máficos, onde áreas constituídas por unidades litológicas enriquecidas
em minerais máficos aparecem destacadas a tom claro, predominantemente na região nordeste da área
de estudo (polígonos pretos).

Combinação de Bandas

A técnica de combinação de bandas, consiste na atribuição das cores vermelha, verde e azul às bandas
ASTER, o que permite construir uma imagem colorida que facilita a distinção de materiais geológicos
na superfície, cujas respostas espectrais são destacadas por uma determinada cor (o capítulo anterior dá
mais detalhes sobre este assunto).

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A imagem obtida através de combinação de razões de bandas ASTER 12/13, 11/12, 14/13 permite
observar que as rochas mais ricas em minerais félsicos predominam no quadrante Sudoeste da área de
estudo, destacada pela cor rosa a magenta. Entretanto, as cores vermelha amarelado e acastanhado
provavelmente represente rochas enriquecidas de minerais máficos (Fig. 12).

Figura 12. Combinação de razão de bandas 12/13, 11/12 e 13/14, destacando as rochas ricas em
minerais félsicos na região Sul e as menos félsicas na região nordeste, separadas pela linha preta na
imagem.

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A imagem ASTER 732 a seguir destaca unidades litológicas estreitas e alongados, paralelamente às
foliações S1 (tratados no próximo capítulo) e um relevo positivo. A imagem também descrimina a
cobertura vegetal na área de estudo, evidenciada pela cor verde-clara, ao longo das margens dos rios e
principais estruturas geológicas (falhas e/ou fracturas). Foram, através desta imagem, mapeadas unidades
litológicas orientadas na direcção N-S, que apresentam relevo positivo em imagens de relevo sombreado
e tom claro em imagem de índice de sílica atrás apresentada (região Noroeste da área de estudos).

Figura 13. Composição colorida 732, destacando unidades litológicas estreitas e alongadas (polígonos
pretos) e a cobertura vegetal na área de estudo (cor verde) ao longo dos rios, principais falhas e
estruturas.

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A imagem ASTER 751 descrimina as principais unidades litológicas na área de estudo, que serão
discutidas a seguir. A delimitação de tais unidades foi possível através de observação da diferença de cor
e textura, que são consequência da resposta espectral das diferentes unidades litológicas. Os aluviões são
bem evidenciados na imagem pela sua cor característica (cor branca) e predominam ao longo dos leitos
e margens dos principais rios, orientados na direcção NE-SW (fig. 14).

Figura 14. Composição colorida 751 evidenciando as principais unidades litológicas predominantes na
área de estudo.

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4.1.1. SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS LITOLÓGICAS DA ÁREA

Através das imagens descritas anteriormente observa-se que predominam na área de estudo unidades
litológicas, maioritariamente félsicas. Entretanto, a imagem de índice de máficos (fig. 11), associada a
imagem de combinação das razões de bandas (fig. 12) sugerem uma predominância de rochas de
composição máfica na região nordeste da área de estudo.

Com base no mapeamento desenvolvido pela GTK e as características espectrais observadas nas imagens,
as unidades litológicas delimitadas na imagem de combinação de bandas 751 (fig. 14), foram nomeadas
e descriminadas, culminando com a produção da carta litológica interpretativa apresentado a seguir (fig.
15). A unidade litológica mapeada como gneisse leucocrático do Monte Tomonda, na região nordeste da
área de estudo e que repete-se na região central e sudoeste (fig. 7), não pode assim ser considerada devido
a diferença de respostas espectrais, principalmente no que se refere a índice de minerais máficos, nas
diferentes regiões. Daí que, esta unidade pode ser subdividida em gneisses máficos (na região nordeste)
e gneisses leucocráticos, na parte central e sudoeste da área de estudo (fig. 15).

As unidades litológicas estreitas e alongadas paralelamente as foliações S1, apresentam uma alta
expressão topográfica e provavelmente sejam gneisses félsicos (fig. 15), estirados durante a fase de
deformação que originou as foliações, através das quais estão associadas (veja capítulo seguinte). As
feições litológicas mapeadas na parte Noroeste da área de estudos, alongadas na direcção N-S,
provavelmente sejam diques félsicos ou veios de quartzo, pois são lineares e apresentam relevo positivo
em imagens de relevo sombreado e são enriquecidos em sílica, tal como se pode constatar na imagem de
índice de sílica (fig. 10).

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Figura 15. Carta litológica da área de estudo obtida através de interpretação de imagens de satélite.

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4.2. MAPEAMENTO ESTRUTURAL


Para perceber a evolução estrutural, a área de estudo foi estendida, tendo sido feito o mapeamento duma
área mais alargada, englobando outras regiões da imagem ASTER, cujo mapeamento litológico não foi
realizado. Entretanto, a análise estrutural restringiu-se as regiões dominadas por rochas
Mesoproterozóicas pertencentes ao Complexo de Báruè, excluindo assim os terrenos Fanerozóicos no
extremo oriental da imagem ASTER.

4.2.1. DEFORMAÇÃO DÚCTIL


A deformação dúctil na área de estudo é evidenciada por foliações e diversas gerações de dobras. Para
melhor compreensão dos eventos de deformação a área de estudo foi subdividida em domínios estruturais
(A a C), tomando como base o padrão das foliações e a morfologia das dobras (fig. 16).

O limite entre os domínios estruturais é caracterizado por mudanças bruscas das direcções de orientação
das foliações (S1), sendo por isso inferidas como zonas de cisalhamento. Os domínios A e B limitam-se
através de uma zona de cisalhamento sinistral, com direcção de orientação ESE-WNW. O domínio C
separa-se do domínio B através de uma zona de cisalhamento destral inferida, orientada na direcção NE-
SW (fig. 16a e b). As zonas de cisalhamentos que separam esses domínios estruturais são de natureza
dúctil.

Durante o presente trabalho não foram encontrados indicadores cinemáticos plausíveis, nem fábricas do
tipo S-C que pudessem comprovar existência de extensas zonas de cisalhamento. As zonas de
cisalhamento inferidas e que limitam os domínios estruturais mapeados (A-B e B-C) são de pequena
escala e de natureza dúctil (fig. 16a e b).

A área em que fez-se o mapeamento litológico não é abrangida pelos domínios estruturais A e B.
Entretanto, o reconhecimento das caraterísticas destes domínios contribui positivamente na sua análise
estrutural.

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Figura 16. Imagem colorida 742 destacando a divisão dos domínios estruturais (a). Imagem ampliada mostrando a zona de
cisalhamento inferida através do padrão das foliações, que separa os domínios A e B (b) e B e C (c). As setas indicam o sentido do
movimento de cisalhamento.
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Domínio A

O domínio A localiza-se na região Norte da imagem e é menos representativa na área de estudo. Esse
domínio é caracterizado por foliações S1, orientadas na direção NW-SE. Os traços axiais das dobras F1
são menos evidentes neste domínio. As F2 são caracterizadas por dobras fechadas a abertas, com traços
axiais orientados na direcção NW-SE. Embora não tenham sido mapeados os traços axiais das dobras
primárias (F1), pode se afirmar que o domínio sofreu sucessivas fases de deformação. Entretanto, o
padrão de interferência das dobras é menos evidente e difícil de estimar, devido a fraca representatividade
deste domínio (fig. 16a).

Domínio B

O domínio central B separa-se do domínio anterior (A) através de uma zona de cisalhamento sinistral
inferida, orientada na direcção ESE-WNW. Neste domínio, as foliações S1 apresentam uma direcção de
orientação paralela aos traços axiais das dobras F1. As F1 foram redobradas originando as dobras
fechadas a abertas (F2), cujos traços axiais orientam-se na direcção NW-SE e NE-SW. Neste domínio,
as foliações S1 apresentam-se na forma circular (em forma de domos e bacias), evidenciando claramente
um padrão de interferência de dobras do tipo 1A (fig. 17).

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Figura 17. Composição colorida 742 ASTER, destacando as características estruturais do domínio B.
Pode se observar as foliações S1 em forma de domo e bacias, evidenciando um padrão de interferência
do tipo 1 (figura ampliada a direita).

Domínio C

O domínio C representa a região sul da área de estudo e separa-se do domínio B através de uma zona de
cisalhamento destral, com direcção de orientação NE-SW. Este é o domínio mais representativo da área
sujeita ao mapeamento litológico. Neste domínio, as foliações S1 evidenciam a existência de dobras (F1),
isoclinais (na parte oriental do domínio), com traço axial orientado paralelamente às foliações S1. As F1
foram redobradas, resultando em dobras fechadas a abertas (F2), cujos traços axiais orientam-se na
direcção NNE-SSW e NW-SE, que marcam a segunda fase de deformação.

Na parte oriental da área deste domínio estrutural, são evidentes planos de clivagem orientados na
direcção NE-SW, tendendo para N-S à medida que se aproxima do centro da dobra F2, o que evidencia

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que as mesmas são refractadas, como consequência da diferença de competência entre as unidades
litológicas afectadas pela fase do dobramento F2 (fig. 18).

Figura 18. Composição colorida 742 destacando as características estruturais do domínio C. Pode se
observar clivagens de refração associadas as dobras F2 na figura ampliada da área correspondente ao
domínio à direita.

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4.2.2. DEFORMAÇÃO RÚPTIL


A deformação rúptil na área de estudo é caracterizada por um conjunto de fracturas e falhas descritas
posteriormente.

Lineamentos

Os lineamentos mapeados, através de imagens SRTM, correspondem a fracturas ou falhas (as últimas
serão mais destacadas posteriormente). As falhas são claramente descritas através de combinação de
bandas das imagens ASTER.

A área de estudo é caracterizada por diferentes famílias de lineamentos que se intersectam a ângulos não
superiores a 90 graus, evidenciando fracturas conjugadas. A primeira família, de maior densidade, é
constituída por lineamentos orientados na direção NE-SW predominantes na região Norte e centro da
área de estudo. O segundo conjunto de lineamentos é mais proeminente e apresenta uma orientação
preferencial NW-SE, perpendicularmente ao conjunto anterior. Para além dessas duas principais famílias
existem também lineamentos orientados na direcção E-W e N-S, que são menos frequentes, como se
pode observar nas imagens de relevo sombreado (fig. 19), obtidas através de SRTM.

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Figura 19. Imagem de relevo sombreado (azimute 360 graus e inclinação do sol de 30 graus),
destacando as principais famílias de lineamentos.

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Falhas

As falhas foram mapeadas com recurso a imagens coloridas obtidas através de combinação de bandas do
VNIR e SWIR do sensor ASTER. Dois principais grupos de falhas foram mapeados, tal como se pode
observar na imagem colorida 751. As falhas orientadas na direcção NE-SW a N-S são as mais
predominantes na área em estuda (fig. 20). Esse grupo de falhas é mais frequente na região Sul da
imagem. As falhas pertencentes a este grupo são cortadas por falhas com direcção de orientação NW-
SW a E-W, as quais constituem o segundo grupo de falhas predominantes na área de estudo (fig. 20).

Figura 20. Composição colorida 751 evidenciando os principais grupos de falhas e sua respectiva
orientação no diagrama de roseta ao lado (principalmente NE-SW e NW-SE). A imagem ampliada a
direita mostra falhas que separam diferentes unidades litológicas, evidenciando um contacto tectónico.

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No extremo oriental da área de estudo as unidades Mesoproterozóicas separam-se das rochas


Fanerozóicas através de falhas, classificadas como falhas normais de acordo com a carta geológica 1:
250000 produzida pela GTK, as quais foram claramente mapeadas neste projecto, com base na imagem
colorida 751 (fig. 20). Essas falhas apresentam uma direcção de orientação NNW-SSE a N-S e são
cortadas por falhas orientadas na direcção NE-SW a E-W, anteriormente descritas (fig. 21).

Figura 21. Estruturas rúpteis mapeadas na área de estudo. O diagrama de Rosetas no canto superior
direito mostra as principais direcções de orientação das falhas digitalizadas (NE-SW e NW-SE).

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Falhas silicificadas são evidentes na imagem da figura 20, pela sua forma retilínea a curvilínea, com
relevo positivo. Na imagem de índice de sílica (apresentada no subcapítulo anterior) essas destacam-se
pela sua alta reflectância, evidenciadas pelo tom claro (fig. 10).

4.2.3. SÍNTESE DA GEOLOGIA ESTRUTURAL


Duma forma geral, a área de estudo foi afectada por quatro fases de deformação (D1-D4). A primeira
fase, D1, resultou na formação das dobras fechadas a isoclinais (F1) em todos os domínios estruturais.
As dobras F1 foram redobradas, produzindo dobras fechadas a abertas cujos traços axiais orientam-se na
direcção NE-SW e NW-SE, nos domínios A-C e B, respectivamente, marcando assim a segunda fase de
deformação que, formou o padrão de interferência do tipo 1, que é mais evidente no domínio estrutural
B (fig. 17).

A terceira fase de deformação (D3) é de natureza quebradiça. A D3 originou falhas que cortam todas as
gerações de dobras descritas anteriormente. Entretanto, existem na área de estudo dois principais grupos
de falhas. As falhas orientadas na direção NE-SW a N-S e as orientadas na direcção NW-SE a E-W. Os
dados sugerem que ambos os grupos de falhas originaram-se através do mesmo processo de deformação,
daí serem classificadas como falhas conjugadas.

Observa-se ainda que ocorrem na área de estudo falhas silicificadas (fig. 20) evidenciando um processo
de reactivação das falhas formadas no primeiro regime rúptil, visto que apresentam a mesma direcção de
orientação ou, que tenham resultado do preenchimento por fluídos hidrotermais, marcando assim a última
fase de deformação (D4) decorrente na área de estudo.

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Figura 22. Mapa estrutural, apresentando a relação entre as estruturas dúcteis e rúpteis presentes na
área de estudo. As setas indicam o sentido de movimento do cisalhamento inferido.

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5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


5.1. CONTEXTO LITOLÓGICO
Os resultados obtidos através do presente trabalho corroboram com os obtidos no mapeamento da GTK
(2006) em muitos aspectos, o que revela a capacidade das técnicas de sensoriamento remoto e as imagens
ASTER em particular, no mapeamento litológico e estudos geológicos. Todas as unidades identificadas
no mapeamento da GTK foram também discriminadas no presente trabalho. Ademais, as imagens e as
técnicas usadas no presente trabalho são de óptima resolução, daí que permitiram melhorar a informação
geológica existente e descobrir unidades litológicas anteriormente não discriminadas. Entretanto, as
técnicas aplicadas no presente trabalho apresentaram algumas limitações na discriminação de unidades
litológicas de composição félsica, uma vez essas apresentarem respostas espectrais similar nas imagens
criadas, dai que sugere-se que se apliquem outras técnicas e/ou ferramentas no mapeamento litológico
da área de estudo.

A área de estudo é constituída principalmente por rochas félsicas, facto que pode ser evidenciado pelo
predominante tom claro na imagem do índice de sílica. As rochas sedimentares ocorrem, na sua maioria,
ao longo das margens dos rios e linhas de água e, são principalmente areais quartzosas (aluviões) e os
arenitos arcósicos-carbonáticos e calcários, que afloram no extremo oriental da área de estudo.

Tal como pode ser observado na carta litológica produzida através de interpretação das imagens ASTER
(fig. 15), a unidade litológica mapeada como gneisse leucocrático do Monte Tomonda, na região nordeste
da área de estudo e que repete-se na região central e sudoeste foi redimensionada. Constatou-se no
presente estudo que ocorrem a nordeste da área, rocha com acentuado conteúdo máfico, interpretada
como gneisse máfico associado ao Monte Tomonda (fig. 15). Esta observação diverge com os resultados
apresentados pela GTK que considera a unidade em destaque como o gneisse leucocrático do Monte
Tomonda.

Novas unidades litológicas, anteriormente não identificas, foram mapeadas, tais como gneisses estirados
na direção NW-SE e N-S, paralelamente as foliações (S1), apresentando relevo positivo nas imagens
ASTER (fig. 13 e 14). Essas rochas são mais predominantes na região Sul da área de estudo.

Devido a sua largura de ocorrência, dimensão espacial e a sua expressão morfológica, algumas estruturas
consideradas como falhas silicificadas (fig. 7) no mapeamento da GTK (2006), podem ser veios de
quartzo.

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Algumas unidades litológicas como gneisse leucocrático, gneisse quartzo feldspático e gneisse
leucocrático do Monte Tomonda, igualmente mapeadas no presente trabalho, sofreram um reajuste no
que se refere aos seus limites litológicos, quando comparado com o mapa anterior. Os limites litológicos
são claramente destacados através de contrastes espectrais observados nas diferentes combinações de
bandas (confira o contacto entre os gneisses leucocráticos do Monte Tomonda, gneisses granada-
silmanítico e metarcose do carta geológico interpretativo da Fig. 23)

5.2. CONTEXTO ESTRUTURAL

A área de estudo apresenta uma complexidade estrutural resultante de sucessivas fases de deformação
que caracterizaram a Orogenia Leste Africana na formação do cinturão de Moçambique (Chaúque, 2010).
As imagens ASTER permitiram observar que a deformação das rochas na área de estudo foi mais intensa
na região Sul e central, em relação a região Norte (fig. 13 e 14). Ademais, no presente trabalho foram
identificadas estruturas não mapeadas anteriormente, tanto dúcteis como rúpteis.

Quatro fases de deformação (D1-D4) foram identificadas na área de estudo (tab. 1). A primeira fase, D1,
resultou na formação das dobras fechadas a isoclinais (F1) em todos os domínios estruturais, cujos traços
axiais orientam-se paralelamente as foliações S1. Provavelmente o primeiro evento de deformação (D1)
que originou as dobras F1, cujos traços axiais orientam-se na direção NE-SW e N-S tenha resultado do
evento de compressão Pan-africano na direcção E-W. Esta constatação corrobora com os pressupostos
apresentados por Bene (2004), que associa as estruturas (foliações e clivagens) orientadas na direcção N-
S, mapeadas no Complexo de Báruè a este evento de deformação. As dobras F1 foram sujeitas a uma
segunda fase de deformação que originou a segunda geração de dobras fechadas a abertas, designadas
por F2, com traços axiais orientados na direcção NE-SW nos domínios A e C e, NW-SE no domínio B,
marcando assim a segunda fase de deformação (D2). A fase de deformação D2 resultou na formação do
padrão de interferência de dobras do tipo 1A (fig. 17).

As fases de deformação mapeadas no presente trabalho (D1 e D2) provavelmente sejam correlacionáveis
àquelas obtidas no trabalho desenvolvido por Jamal (2004), na região Nordeste de Moçambique, as quais
designou de D2 e D3, respectivamente.

Durante o presente trabalho não foram encontrados indicadores cinemáticos aplausíveis, nem fábricas do
tipo S:C que pudessem comprovar existência de extensas zonas de cisalhamento. As zonas de

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cisalhamento inferidas e que limitam os domínios estruturais mapeados (A-B e B-C) são de pequena
escala e de natureza dúctil e são evidentes devido a mudança brusca de direcção das foliações (S1), como
se pode observar na imagem obtida através de combinação de bandas 742, da figura 16.

Como se pode observar na carta litoestrutural interpretativa final, na escala 1:75000 (fig. 23), a refracção
das clivagens associadas as dobras F2, destacadas no domínio estrutural C, surgem como consequência
da diferença de competência das rochas (McClay, 1987), neste caso entre os gneisses granada-silmanítico
(menos competente) e gneisse quartzo feldspático (mais competente).

A terceira fase de deformação (D3) é de natureza quebradiça e originou falhas normais que cortam todas
as gerações de dobras descritas anteriormente. Entretanto, existem na área de estudo dois principais
grupos de falhas. As falhas orientadas na direção NE-SW a N-S e as orientadas na direcção NW-SE a E-
W. Pressupõe-se que ambos grupos de falhas tenham sido formadas através do mesmo processo de
deformação, daí serem classificadas como falhas conjugadas.

As falhas silicificadas mapeadas, atribuídas à quarta fase de deformação (D4), provavelmente tenham
resultado da reactivação das falhas mais antigas durante o desmembramento do Gondwana. Pois, segundo
Bene (2004), é bem provável que o processo de fragmentação do continente Gondwana tenha resultado
na reactivação de falhas e fracturas nas unidades Mesoproterozóicas.

Tabela 1. Quadro resumo das estruturas geológicas mapeadas e as respectivas fases de deformação
associadas.

ESTRUTURAS
EVENTO DE ESTRUTURAS DÚCTEIS
RÚPTEIS
DEFORMAÇÃO
Foliações Zona de cisalhamento Traço axial Falhas
Sinistral – NE-SW
D1 S1 NW-SE e NE-SW
Destral WNW-ESSE
NE-SW (B) e NW-
D2
SE (A e C)
NE-SW, N-S
D3 NW-SE a E-W
D4 NW-SE e N-S

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Figura 23. Carta litoestrutural actualizada da área de estudo, produzida através de interpretação de imagens de satélite na escala
1:75.000.

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6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
6.1. CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos através do presente trabalho, conclui-se o seguinte:

 As imagens ASTER evidenciam que a área de estudo é quase uniforme, constituída por rochas
metassedimentares, maioritariamente félsicas. Entretanto, as técnicas aplicadas no presente
trabalho não foram eficazes na discriminação de diferentes unidades félsicas na área de estudo,
uma vez apresentarem resposta espectral similar nas imagens criadas, tais como gneisses
leucocrático do Monte Tomonda e os gneisses granada-silimaníticos, na parte sul da área de
estudo;
 O mapeamento litológico desenvolvido coaduna com os resultados obtidos pela GTK (2006).
Ademais, novas unidades litológicas foram mapeadas, tais como, veios de quartzo, gneisses de
composição máfica e gneisses estirados.
 A área de estudo foi afectada por quatro fases de deformação associados aos eventos tectóno-
magmáticos Pan-africanos que moldaram o cinturão de Moçambique. Algumas dessas fases de
deformação já tinham sido mapeadas nos trabalhos anteriores, desenvolvidos na área de estudo.
A D1 originou dobras isoclinais com traço axial orientado na direcção NW-SE e NE-SW,
paralelamente as foliações S1. A D2 foi marcada por dobras fechadas a abertas com traços axiais
orientados nas direcções NE-SW (domínios A e C) e NW-SE (domínio B). As sucessivas fases
de dobramento criaram um padrão de interferência de dobras do tipo A1 (Domínio B). A D3 é
caracterizada por dois grupos de falhas conjugadas (formados através do mesmo processo de
deformação) que cortam todas as unidades litológicas patentes na área de estudo: as falhas
orientadas na direcção NE-SW a N-S e as orientadas na direcção NW-SE a E-W.
 A reactivação das falhas que resultou na formação de falhas silicificadas constituiu a última fase
de deformação decorrente na área de estudo. Esta fase de deformação relaciona-se ao processo
de fragmentação do Supercontinente Gondwana, nos finais do Neoproterozóico.

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6.2. RECOMENDAÇÕES
O sensoriamento remoto é uma técnica que permite estudar objectos na superfície da terra, sem que haja
um contacto directo com os mesmos, o que faz com que ela careça de auxílio de outras ferramentas
possíveis. Reconhecendo esta realidade, o autor recomenda o seguinte;

 Que se integrem dados geofísicos para confrontar com os resultados ora obtidos;
 Que se desenvolva um estudo de campo na área de estudo para confirmar os resultados obtidos
através da interpretação das imagens;
 Uma vez que as estruturas geológicas (falhas e fracturas) são principais condicionantes na génese
de mineralizações, recomenda-se que se faça uma prospecção geológica na área de estudo para
aprimorar a possível implicação geológica das estruturas ora mapeadas;
 Que se desenvolva um estudo geodinâmico detalhado para desvendar as origens e características
das forças tectónicas que originaram as estruturas geológicas mapeadas;
 Que se faça estudos petrográficos e microtectónicos para melhor descrição das deformações
decorrentes na área de estudo e comprovar os resultados ora obtidos;
 Que se façam estudos geocronológicos para melhor interpretar as fases de deformação mapeadas
no presente trabalho.

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https://lta.cr.usgs.gov/SRTM1Arc. Visto no dia 15 de Fevereiro de 2016, as 16 horas.

http://www2.jpl.nasa.gov/srtm/missionoverview.html. Visto no dia 14 de Fevereiro de 2016, as 11 horas.

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ANEXOS

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Anexo 1. Discrição das bandas de Imagens ASTER (Yjima, 2014 e JOGMAC, 2014).

No da Intervalo do Resolução Aplicação


Zona
Banda Espectro (µm) Espacial (m)
Banda1 0.52-0.60 Identificação de óxidos e minerais de
Banda2 0.63-0.69 ferro;
VNIR 15
Banda3N 0.78-0.86 Identificação da cobertura vegetal.
Banda3B 0.78-0.86 Mapeamento de estruturas geológicas
Banda4 1.60-1.70
Banda5 2.145-2.185
Banda6 2.185-2.225 Identificação e mapeamento de zonas e
SWIR 30
Banda7 2.235-2.365 minerais de alteração.
Banda8 2.295-2.285
Banda9 2.360-2.430
Banda10 8.125-8.475
Banda11 8.475-8.825
TIR Banda12 8.925-9.275 90 Identificação e mapeamento de rochas.
Banda13 10.25-10.95
Banda14 10.95-10.65

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Anexo 2. Características espectrais dos principais tipos de rochas.

TIPO DE ROCHA CARACTERÍSTICAS ESPECTRAIS


Baixa absorção da REM
Ácidas Alta transparência e reflectividade dos minerais félsicos (quartzo e
(%SiO2>66) feldspato) e pouca presença de opacos;
Feições de absorção ligadas a H2O e OH-.
Bandas de absorção de H2O e OH- são menos evidentes; baixa
Intermédias
concentração de minerais máficos e devido ao elevado teor da
Ígnea

(66<%SiO2>52)
magnetite a reflectância tende a diminuir
Apresentam-se geralmente mais reflectidas devido a redução de
Básicas
concentração de opacos; as feições ligadas aos iões de ferro são mais
(52<%SiO>45)
evidentes.
Ultrabásicas Maior reflectância efectiva devido a fraca presença de minerais
(SiO2<45) opacos; as feições férricas e ferrosas são bastantes pronunciadas.
Há maior presença de substâncias opacas como grafite, magnetite ou
Metamórfica material carbonáceo; podem ocorrer bandas de absorção para H2O e
OH-.
Comum a presença de bandas de absorção ligadas aos iões Fe2+e Fe3+,
Sedimentar para além de H2O, OH-e CO32; Os materiais argilosos e carbonos
diminuem a reflectância das rochas

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Anexo 3. Exemplo de uma Imagem SRTM na forma bruta, antes de ser processada. O polígono em azul
corresponde a área de estudo. Regiões mais elevadas, topograficamente, destacadas a tom claro.

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Anexo 4. Exemplo de uma imagem ASTER completa. Combinação 742.

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Anexo 5. Esquema comparativo entre as bandas do sensor ASTER e LandSat 8. Fonte: Sadeght et al,
2013.

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