Minerais de Argila 13 03 3 - 21j

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Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique

Curso: Engenharia Geológica e de Minas

Trabalho para obtenção do grau de licenciatura em engenharia geológica e de minas

Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos na Estação agrária de
Umbelùzi em 2017.

Autora: Imelda Teodomira Chilundo

Código: 2014427

Ano: 4°

Supervisor: Eng. Rudêncio de Rodolfo de Novais Morais

Orientador: Dr. Esnáider Rodríguez Suarez

Maputo, Março de 2018


Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique

Curso: Engenharia Geológica e de Minas

Tema: Impacto da Geologia nos solos da Estação Agrária de Umbelúzi em 2017.

Título: Estudo do impacto dos minerais de argila na EAU no Distrito de Boane em 2017.

Elaborado por: Imelda Teodomira Chilundo - 2014427

Ano: 4°

Supervisor: Eng. Rudêncio de Rodolfo Novais Morais

Orientador: Dr. Esnáider Suarez

Maputo, Março de 2018


Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Dedicatória

À toda minha família, e em especial aos meus pais.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço à Deus por inspirar-me e ser a fortaleza que torna as minhas batalhas
e lutas em provações que me ajudam a crescer academicamente e pessoalmente.

Aos meus pais que sempre me deram todo apoio e suporte nesta longa caminhada estudantil,
muitas vezes acreditando indubitavelmente em mim muito mais do que eu própria.

A DNG (Direcção Nacional de Geologia), pela disponibilidade e atenção em conceder-me


informações válidas para a concretização deste trabalho.

Ao Instituto Nacional de Investigação Agronómica (INIA), pelo fornecimento eficiente de dados,


informações pertinentes e pelo acompanhamento até a execução final do trabalho.

Ao meu supervisor, o Eng. Rudêncio de Rodolfo Novais Morais pela atenção, o


acompanhamento, a dedicação, pelas sugestões e pela contribuição de ideias inovadoras ao longo
da realização deste trabalho.

Ao meu co-supervisor, o Prof. Doutor Esnáider Suarez, pelo acompanhamento no trabalho, pelas
críticas positivas, e pela sua contribuição no melhoramento do trabalho final.

Agradeço ao corpo docente do curso de Engenharia Geológica e de Minas do Instituto Superior


de Tecnologias de Moçambique (ISCTEM) pelos seus ensinamentos e lições. Em particular ao
Professor Eugénio de Azevedo Jr, a engenheira Tatiana Kovalenko e ao falecido Professor
Catedrático Momade Rachide.

Agradeço aos meus amigos, pelo suporte incondicional, moral e pela amizade abnegada.
Agradeço à todos, que directa ou indirectamente contribuíram para a execução e materialização
desta monografia.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Declaração de Honra

O presente trabalho de licenciatura foi concebido na Estação Agrária de Umbelùzi, e


desenvolvido unicamente pela autora e candidata a engenheira geológica mineira, com base nos
conhecimentos técnicos e científicos adquiridos mediante a realização do curso de engenharia
geológica e de minas, e também dos recursos que se encontram referenciados no trabalho para
além da orientação dada pelo supervisor.

Maputo, Março de 2018

Imelda Teodomira Chilundo

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Declaração do Supervisor

Eu, Prof. Rudêncio Rodolfo Novais de Morais, docente no Instituto Superior de Ciências de
Tecnologias de Moçambique, declaro que supervisionei o trabalho de final do curso da estudante
Imelda Teodomira Chilundo, com o código de estudante 2014427 e declaro também que é a
primeira vez que este trabalho é entregue para obtenção de um grau académico numa instituição
educacional.

O supervisor

____________________________________

(Prof. Rudêncio Morais)

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Aprovação do júri

Este trabalho foi aprovado com ____ valores no dia____ de 2018 pelos membros do Júri
examinador do Instituto Superior de Ciências e Tecnologia.

________________________________

(Presidente do Júri)

_________________________________

(Arguente)

_________________________________

(Supervisor)

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Lista de abreviaturas

DINAGECA - Direcção Nacional de Geografia e Cadastro;

DNG – Direcção Nacional de Geologia;

EAU – Estação Agrária de Umbelùzi;

EN – Estrada Nacional;

FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação;

Fa – Solos Aluvionares Argilosos;

FAEF – Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal;

Fag -- Solos Aluvionares com Textura Argilosa;

Fah – Solos Aluvionares Salinos e Sódicos Facilmente Inundáveis;

Faz – Solos Aluvionares Salinos e Sódicos;

Fe – Solos Aluvionares Estuarinos;

Ft – Solos Aluvionares Turfosos;

Fta--Solos Aluvionares Turfosos com Subsolo Argiloso;

Ftc – Solos Aluvionares Argilosos, Calcários e Sódicos;

Fs – Solos Aluvionares Estratificados;

INIA – Instituto Nacional de Investigação Agronómica;

UEM – Universidade Eduardo Mondlane;

MAE – Ministério de Administração Estatal.

PST – Percentagem do Sódio Trocável;

UEM – Universidade Eduardo Mondlane;

USDA– United States Department of Agriculture;

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Resumo

O presente trabalho intitulado ‘’ Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos
solos da Estação Agrária de Umbelùzi’’, enquadra-se no âmbito da licenciatura em Engenharia
Geológica e de Minas.

A Geologia é uma ciência abrangente que abarca muitos ramos, como a Petrologia e a
Mineralogia. Em Geologia, versa-se também a Pedologia embora seja o ramo de ciências de
solo, devido ao estudo de solos que é de carácter comum para ambas ciências. Para responder ao
objectivo desta pesquisa (estudar o impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da
EAU no distrito de Boane) recorreu-se à concatenação de ambas ciências.

Para a colecta de dados realizou-se uma entrevista semiestruturada ao Engenheiro Agrónomo


Jacinto Mafakuser da EAU e fez se a colecta de amostras de solos na área de estudo, analisando-
se posteriormente no laboratório da Estação Agrária de Umbelùzi. Mediante a análise, os
resultados obtidos foram: 67% de areia, 0.15% de silte e 0.14% de argila podendo se apurar que
o total da matéria orgânica, ar e água é de 33%.

Verificou-se, ainda, uma controvérsia entre os resultados apurados na análise laboratorial e as


informações obtidas mediante a bibliografia do INIA. Segundo Benzane (1993), os solos da
EAU são aluvionares constituídos por sedimentos aluvionares depositados pelo rio Umbelúzi, o
que fornece a eles um elevado teor de argila que fortalece a retenção de água e nutrientes,
culminando no aumento da qualidade do solo. Isto contraria os resultados da análise laboratorial
que conferem um carácter arenoso aos solos da EAU.

Para a redução da incerteza, a realização de mais estudos no mesmo âmbito conferiria a


veracidade na informação sobre o impacto de minerais de argila na qualidade dos solos da EAU.

Palavras-chave: Geologia, Solos, Minerais de argila.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Abstract

The present work entitled “Study of the impact of clay minerals on the soil quality of the
Umbelùzi Agrarian Station” fits in the scope of the degree in Geological and Mining
Engineering, whose objective was to study the effects of clay minerals in the UAE. In order to
respond to the intended purpose, samples were collected in the study area and analysed later in
the laboratory of the Faculty of Agronomy and Forest Engineering. By the analysis, the results
obtained were: 67% sand, 0.15% silt and 0.14% clay. It can be verified that the total organic
matter, air and water is 33%, thus refuting the hypothesis of soil fertility being due to its clay
composition because it has a high amount of sand and is thus classified as sandy soil.

The applied methodology was also based on documental, bibliographic research and direct
observation, through a semi-structured interview in order to obtain more comprehensive
information.

With this research, it can be inferred that the geology influences in relation to the types of soil
that predominate in the region of Boane. Since it is verified that the geological history influences
the formation of the soil, it is necessary to study the impact that the minerals of clay present in
the soil give to the agricultural development.

Keywords: Clay minerals; Soil, Geology.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Índice

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................3

1.1. Elementos preambulares ...............................................................................................4

1.2. Enquadramento geográfico dos Libombos .....................................................................5

1.3. Geomorfologia ..............................................................................................................6

1.4. Clima e vegetação .........................................................................................................6

1.5. Geologia Regional (Sul de Moçambique) ......................................................................6

1.6. Principais formações dos Libombos ..............................................................................7

1.7. Descrição da área do estudo ..........................................................................................8

1.7.1. Localização e Habitantes ........................................................................................8

1.7.2. Clima e Hidrologia .................................................................................................9

1.7.3. Geologia económica ............................................................................................. 10

1.8. Geologia local (Umbelúzi) .......................................................................................... 11

1.8.1. A formação de Umbelùzi ..................................................................................... 11

1.8.2. Afloramento na região ......................................................................................... 12

1.8.3. Formações na região de Boane ............................................................................. 13

1.9. Solos e Economia ........................................................................................................ 15

1.10. Problema e Justificativa do tema .............................................................................. 17

1.11. Objectivos do trabalho ............................................................................................. 19

1.11.1. Objectivo geral ................................................................................................. 19

1.11.2. Objectivo específico ......................................................................................... 19

1.12. Hipóteses ................................................................................................................. 20

2. REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................................... 21

2.1. Conceitos Fundamentais ............................................................................................. 21

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

2.1.1. Ciclo Geológico ................................................................................................... 21

2.1.2. Origem dos solos ................................................................................................. 22

2.1.3. Pedologia ............................................................................................................. 23

2.2. Solos ....................................................................................................................... 26

2.3. Minerais de argila .................................................................................................... 30

3. METODOLOGIA DE TRABALHO .................................................................................. 38

3.1. Tipo de pesquisa ......................................................................................................... 38

3.1.1. Consulta bibliográfica .......................................................................................... 38

3.2. Trabalho de Campo ..................................................................................................... 38

3.2.1. Colecta de Amostras ............................................................................................ 38

3.3. Técnica de colecta de dados ........................................................................................ 39

3.3.1. Materiais e Procedimentos de análise de solo ....................................................... 40

3.4. Considerações Éticas ................................................................................................... 40

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 41

4.1. Resultados................................................................................................................... 43

4.1.1. Interpretação dos resultados obtidos na entrevista ao supervisor geral da EAU ..... 45

4.2. Discussões .................................................................................................................. 46

5.1. Conclusões .................................................................................................................. 49

5.2. Recomendações .......................................................................................................... 50

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 51

ANEXO .................................................................................................................................... 54

Anexo 1. Tabela de leitura de temperatura no laboratório....................................................... 54

Anexo 2. ................................................................................................................................ 55

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Lista de Figuras

Figura 1. Mapa ilustrativo do sul de Moçambique………………………………………………..5

Figura 2. Mapa do distrito de Boane. ...........................................................................................9

Figura 3. Mapa da Geologia de Boane. ..................... ……………Erro! Marcador não definido.

Figura 4. Afloramento de Basalto na região. .............................................................................. 13

Figura 5. Mapa dos solos da região de Boane. ........................................................................... 15

Figura 6. Mapa do Distrito de Boane destacando os blocos agrários da EAU ............................. 16

Figura 7. Ciclo geológico. ........................................................... Erro! Marcador não definido.

Figura 8. Evolução e Formação do solo………………………………………………….……... 27

Figura 9. Peso de Areia, silte e Argila…………………………………………………….……. 43

Figura 10. Peso Percentual de Matéria Orgânica e Matéria Mineral………………………….... 44

Figura 11. Teores de Areia, silte e Argila……………………………………………………..... 44

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Lista de Tabelas

Tabela 1. Reservas de argila…………………………………………………………………… 14

Tabela 2. Diferença entre a fase gasosa da atmosfera e do solo………………………………...23

Tabela 3. Os elementos mais comuns da fase sólida no solo, Witt (1946)……………………..26

Tabela 4. Fracções granulométricas do solo……………………………………………………30


Tabela 5. Variedade de minerais de argila e sua influência dos solos……….…………………31

Tabela 6. Capacidade de troca de catiões……………………………………..………………..34

Tabela 7. Constituintes da Fracção da Argila……………………………………………….….37

Tabela 8. Análise de resultados………………………………………………………………….41

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

1. INTRODUÇÃO

O conhecimento geológico é de extrema importância para a sociedade, visto que os processos e


estruturas geológicas detêm consequências directas e indirectas na história e nas actividades de
desenvolvimento de uma região. Uma vez que a Geologia somente com conhecimento teórico é
"cega", isto é, a informação teórica não é por si só suficiente ou capaz de garantir ao estudante
um conhecimento integral dos diversos fenómenos geológicos, há a necessidade de que se façam
estudos práticos, de modo que haja uma conciliação entre a teoria e a prática.

Sendo esta uma ciência de enorme abrangência que se encontra subdividida numa série de
ciências com interligações entre si que contribuíram para o rapidíssimo avanço científico e
tecnológico dos dias actuais, obriga a uma especialização cada vez maior e, consequentemente,
ao aparecimento de novas áreas. Um dos exemplos da abrangência da Geologia afigura-se na
Pedologia, que consiste no objecto de estudo principal desta dissertação.

O presente trabalho explana a respeito da definição da Geologia como uma ciência de enorme
abrangência e a sua evolução ao longo da Cadeia dos Libombos, destacando a região de Boane,
visando contextualizar a formação do solo da Estação Agrária de Umbelúzi com os processos
geológicos ocorridos na região. Tendo em conta que a história do Município de Boane, tem uma
relação intrínseca com os processos de carácter geológico, desde a sua formação até aos dias de
hoje.

O trabalho apresenta uma breve contextualização sobre a Geologia e a Pedologia, visando a


compreensão da relação entre ambas (entendendo-se que a Geologia é uma ciência de enorme
abrangência, tendo como exemplo a Mineralogia e Sedimentologia que a interligam directamente
à Pedologia). Concorrentemente, são também apresentados os vários conceitos de Geologia e
Pedologia, até chegar à linha ténue que correlaciona ambas as ciências, desde a sua formação ao
seu desenvolvimento.

Toma-se a descrição geológica com aspectos fisiográficos (clima, hidrologia e geomorfologia) e


a geologia económica de Boane, atendendo ao facto da região ter como principal actividade de
rendimento a agricultura. É feito o levantamento de aspectos ligados a esta matéria e são

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

apresentados dados de onde se extrapola a importância do sector agrícola. Acto contínuo, a partir
da compreensão de como a Geologia propicia as condições agrícolas da região, foi realizado um
estudo para perceber o impacto que os minerais de argila possuem nos solos da EAU.

1.1. Elementos preambulares

O conhecimento sobre a terra baseia-se numa cronologia de factos que tem levado ao avanço das
ciências e da tecnologia. Segundo Lapidus (1987), a Geologia como ciência tem-se beneficiado
destes avanços, visto que a mesma tem como objectivo principal decifrar toda a evolução
terrestre e todos seus habitantes, desde os registos que se encontram nas rochas mais antigas até
aos dias de hoje.

A Geologia e a Pedologia formam as bases para estudos relacionados com a formação das rochas
e minerais. Sendo o material de origem do solo, a rocha matriz mediante a sua meteorização.
Segundo Lapidus (1987), a Geologia vem do grego Geo = Terra e logos = ciência e define-a
como a ciência da terra, ou seja, é o estudo da terra em termos do seu desenvolvimento como
planeta desde a sua origem.

O conceito inclui a história das formas de vida, seus constituintes, os processos que afectam estes
materiais e os produtos que deles resultam. Outrossim, o autor acima citado esmiúça a Petrologia
e a Mineralogia como ramos da Geologia que estudam fundamentalmente as rochas e os
minerais, respectivamente.

A Pedologia consiste no estudo dos solos no seu ambiente natural (sua origem e formação,
morfologia, e classificação). É considerada uma ciência independente, não constituindo,
portanto, um ramo da Geologia, mas um ramo das ciências do solo. (Mendonça e Brauns, 2007).

Para Sampaio (2006), a fase sólida dos solos é composta de uma fracção mineral e uma orgânica.

Por sua vez, a fracção mineral divide-se em lotes de dimensões que apresentam diferenças em
relação á mineralogia e ao comportamento químico. Perante este acervo de informações, a
possibilidade de tomar decisões correctas no que diz respeito à utilização de um solo é
potenciada. Por exemplo: o pelouro agrícola necessita de informação que versa sobre os solos,
para potenciar as suas actividades agrícolas.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

De salientar que Moçambique é um país essencialmente agrícola e, à luz desta realidade, gravita
o facto de que a agricultura tem um contributo considerável em termos económicos, provindo
cerca de 20% do Produto Interno Bruto deste sector. Reparo para o facto dos níveis de
crescimento deste sector estarem aquém do desejado devido ao baixo uso de insumos e técnicas
agrícolas melhoradas, como é o caso de técnicas de compostagem para tornar solo cada vez mais
fértil (Mosca, 2014 e Sitoe, 2005).

1.2. Enquadramento geográfico dos Libombos

A cadeia dos Libombos, está situada a Oeste da Bacia do Save. Cobre a província de Maputo nos
distritos de Namaacha, Boane e Moamba, junto a fronteira com África do Sul numa extensão de
cerca de 800 km, províncias sul-africanas de KwaZulu-Natal e de Limpopo, atravessa
a Suazilândia na sua parte oriental, no distrito de Lubombo.

Foi formada no Jurássico, na era Mesozoica durante a fragmentação do Gondwana. É coberta por
rochas ígneas (vulcânicas) extrusivas pertencentes ao Super grupo do Karoo (Karoo Superior) da
idade Mesozoica.

Fig. 1. Mapa ilustrativo do sul de Moçambique

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

1.3. Geomorfologia

A geomorfologia das formações do Complexo vulcânico dos Libombos é caracterizada por


altitudes modestas, variando desde algumas dezenas de metros, nos locais onde afloram rochas
basálticas, e a centenas de metros nas formações riolíticas, atingindo altitudes máximas de 801m
no monte Mponduine, próximo da Vila de Namaacha.

O estudo geomorfológico de qualquer região é de vital importância devido à estreita ligação que
tem com os restantes elementos naturais e, em larga medida, por determinar a configuração da
paisagem actual. No distrito de Namaacha consideram-se dois conjuntos morfo-estrutural: a
Cadeia dos Libombos de origem vulcânica bem como as colinas e planícies sedimentares.

1.4. Clima e vegetação

A província do Maputo enquadra-se no clima típico do sul do Save, que é um clima quente e
moderadamente húmido, com a excepção das zonas fronteiriças á oeste onde é modificado pela
influência da altitude (Barca e Tirso, 2000). As temperaturas médias anuais na região onde se
insere a área de estudo, variam entre 22-26˚C e a precipitação média anual entre 600 a 800mm,
sendo alta nos meses de Janeiro a Março e baixa de Maio a Outubro.

1.5. Geologia Regional (Sul de Moçambique)

A cadeia vulcânica dos Libombos encontra-se enquadrada na planície sul de Moçambique,


geologicamente conhecida por bacia sedimentar do sul do Save, que faz parte de uma das mais
largas bacias sedimentares do Meso-Cenozóico (Forest, 1975). Estas bacias estendem-se ao
longo da margem continental passiva da costa oriental de África, desde a bacia da Somália ao
norte até, ao planalto das Agulhas (África do Sul).

O complexo vulcânico dos Libombos é um cinturão (vulcânico) pertencente ao Karoo Superior,


orientado N-S (Assunção e tal, 1962; Afonso e tal, 1998), estendendo-se desde o Pafuri até a
fronteira com a África do Sul e Suazilândia, com um comprimento de cerca de 800Km e uma
largura entre 20-25Km.O interior da bacia é constituído por formações de origem marinha de
idade cretácica.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Destacam-se nesta unidade as formações de Maputo, de Grudja e dos Elefantes (Pinna et al,
1986). Na parte leste da bacia individualizam-se rochas de idade terciária (formações de
Cheringoma, de Jofone e de Mazamba) e de idade Quaternária. O Quaternário é o mais
predominante na bacia do sul, constituído por planícies arenosas interiores ocupando uma vasta
área na região central. Estas planícies são caracterizadas pela ocorrência de areias amarelas.

1.6. Principais formações dos Libombos

O embasamento geológico dos Libombos é da Época Jurássica, da última fase de Karoo-


Stormberg. Este período foi caracterizado essencialmente pela emissão de lavas vulcânicas e
riólitos que constituem os Grandes Libombos, e pelo derramamento de basaltos que formam
depressões do Impaputo – Umbelúzi (Nunes, 1969 Moura,159).

Os Grandes Libombos que ocupam toda a parte ocidental do distrito de Namaacha são
constituídos basicamente por riólitos, mas neles também encontram-se grés e argilitos com
estruturas fósseis que denunciam um carácter extrusivo contaminado por assimilação parcial,
outras rochas turfaces, brechas, tufos, cinza vulcânica, bem como as rochas com o abundante
material sedimentar (Carvalho, 1974,p 2-3).

Os basaltos são de idade idêntica da dos riólitos e ocorrem em regiões planadas e vales, ao
contrário dos riólitos que ocupa as regiões mais altas. Tantos os basaltos e riólitos são cortados
por intrusões, geralmente em forma de dique, cones vulcânicos ou filões de rocha do tipo
pirofilíticas riolíticas, traquitos, doloríticos e basaltos doloríticos (Carvalho, 1974).

O Cretácico está representado na área pelo complexo dos Pequenos Libombos. Litologicamente
são constituídos por riólitos típicos de cor avermelhada-acinzentada ou esverdeado, com
estrutura fluvial, laminar e vesicular ou de brecha vulcânica. Localmente, são jaspoides e
gessosos por provável contaminação. Esta série sobrepõe-se a dos basaltos do Impaputo e tem
uma espessura idêntica (Freitas,1975).

Os basaltos de Movene e Changule, localizados na parte oriental do distrito de Namaacha,


possuem grãos finos e são compactos de textura porfirética, por vezes dolorítica. Os primeiros

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

estão cronologicamente associados ao complexo de riólitos dos Pequenos Libombos e portanto


mais recente que os basaltos de Impaputo.

As formações sedimentares encontram-se com maior ou menor dimensão, representadas em


bacias fluviais tais como as do rio Umbelúzi, e Changalane. Assim como os aluviões, estas são
bastantes heterogêneas, constituídas por sedimentos fluviais não consolidadas possuindo por
vezes níveis de cascalheira de quartzo, riólito, basaltos e outras rochas trazidas pelas correntes de
água e pelo vento da porção mais acidental-Grandes Libombos.

A formação de Tembe (TTsm), que constitui uma das formações sedimentares Terciárias, de
idade atribuída ao Mio- plioceno está representada por algumas pequenas manchas ao longo da
planície aluvial do rio Tembe e dos seus afluentes Changalane e Mahabe.

1.7. Descrição da área do estudo

1.7.1. Localização e Habitantes

O distrito de Boane (Figura 2) está localizado, segundo (MAE, 2014) a sudeste da Província de
Maputo, sendo limitado a Norte pelo Distrito de Moamba, a Sul e Este pelo Distrito da
Namaacha, e a Oeste pela Cidade da Matola e pelo Distrito de Matutuíne. A superfície do distrito
é de 806 km2 e a sua população está estimada em 134 mil habitantes. Com uma densidade
populacional aproximada de 166 hab/km2, prevê-se que o distrito em 2020 venha a atingir os 190
mil habitantes.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

1.7.2. Clima e Hidrologia

O clima da região é sub-húmido e com deficiência de chuva na estação fria. A temperatura média
anual é de 23.7ºC verificando-se que os meses mais frios são os de Junho e Julho e os mais
quentes Janeiro e Fevereiro. A humidade relativa média anual é de 80.5%, variando de um valor
máximo de 86% em Julho á um valor mínimo de 73.5% em Novembro. A pluviosidade média
anual é de 752 mm variando entre os valores médios de 563,6 mm para o período húmido e os
43,6 mm no período seco. O período húmido estende-se de Novembro a Março e o período seco
de Abril á Outubro.

Os cursos de água do distrito de Boane pertencem às bacias hidrográficas dos rios Umbelùzi,

Figura 2. Mapa do distrito de Boane

Tembe e Matola. O distrito é, ainda, atravessado pelos rios Movene e Nwalate, de regime
periódico (afluentes do Umbelùzi). Destes, o mais importante é o rio Umbelùzi, que nasce na
Suazilândia e após 70km de percurso desemboca no Estuário do Espírito Santo, onde também
têm a sua foz, os rios Matola e Tembe (MAE, 2014).

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

1.7.3. Geologia económica

Figura 3. Mapa da Geologia de Boane

A necessidade crescente de materiais de construção na província de Maputo tem reactivado a


exploração de alguns materiais como riólitos, argilas, cascalhos e areia, estes dois últimos em
particular com elevada qualidade.

Boane constitui um dos distritos detentores da maioria de licenças para minas em Maputo. Neste
mesmo distrito destacam-se ocorrências de riólito e rochas ornamentais, como também ocorrem
diatomitos em jazigos lenticulares quantificados em reservas de 1,5 Mton ( Letho e Gonçalves,
2008).

A economia do distrito é ainda reforçada por seis jazigos de areias e uma pedreira, fontes
importantes para o aprovisionamento do sector de construção da província e da cidade de
Maputo. No entanto, no conjunto do distrito existe um total de outras unidades industriais, sendo

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

a pequena indústria local uma alternativa imediata à actividade agrícola, ou um prolongamento


da sua actividade.

Com a aprovação do licenciamento simplificado, a procura da legalização das actividades


económicas vem crescendo, com maior destaque para o ramo comercial (prestação de serviços,
comercio rural e geral).A proximidade de Maputo e dos países vizinhos nomeadamente a
Suazilândia e a África do Sul contribui para uma actividade comercial bastante activa no distrito
de Boane.

Um trampolim para o desenvolvimento, é o facto do distrito localizar-se a passos galopantes da


industrialização, como é o caso de Indústria de Fundição de Alumínio MOZAL.

1.8. Geologia local (Umbelúzi)

A área dos Libombos insere-se nas rochas ígneas de stormberg do Karoo Superior. É
caracterizada por uma sucessão de basaltos e riólitos, em que os riólitos constituem a formação
mais resistente a meteorização em relação aos basaltos, constituindo assim as formações mais
elevadas da cadeia.

As duas séries (ácida e básica) formam uma faixa alongada na direcção N-S, inclinando-se para
leste. Estas séries encontram-se alternadas de oeste a leste resultando na seguinte disposição:
riólitos dos Grandes libombos a oeste, basaltos inferiores de Impaputo, sobrepostos por riólitos
de Pequenos Libombos ocupando uma faixa estreita com afloramentos nas proximidades de
Boane, e no topo temos a ocorrência dos Basaltos de Movene que são bastante alterados.

1.8.1. A formação de Umbelùzi

A formação de Umbelùzi (karoo vulcânico) é constituída por rochas vulcânicas tais como:
dacito, riólitos, basaltos, ignimbritos de alto grau piroclástico, depósito de cinza vulcânico.
Cobrindo a maioria das montanhas dos Libombos em Moçambique sul-westh-ocidental. A Norte
de Massingir representa o cinto estreito alargado em estrutura vulcânica complicada que estende-
se a 20 km de extensão e 100 km de comprimento. Em Suazilândia as espessuras de fluxos
individuais de sucessão de riólito, dividiu-a em Formação de Jozini (abaixo) e Formação de

11
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Mbuluzi (superior), baseado no observado vulcânico, o fluxo cinza caracteriza a origem de


ignimbrito para riólitos da Formação de Jozini (Albino, 2007).

Na parte norte da monoclinal dos Libombos, existem brechas que podem ser litologicamente
divididas em brechas de fluxo de lava, somente composto de fragmentos de riólitos, e brechas
vulcânicas onde fragmentam material, incluem litologicamente rochas vulcânicas diferentes.
Estas brechas são paralelas à tendência de N-S estrutural principal da monoclinal dos Libombos.
No lado oriental dos Libombos existem rochas de riólitos com camada exposta de forma
horizontal, a representar depósito piroclástico de cinza. Em uma pedreira velha, localizado a 6
km norte-oeste da aldeia de Goba aproximadamente, o riólito tabular inclui camadas de material
piroclástico, variando de cinza bem granulada para lapilli.

1.8.2. Afloramento na região

O afloramento descrito, localiza-se ao longo da estrada N-2 de Namaacha e dista-se da estrada a


200 metros e encontra-se no leito do rio Impaputo e tem uma altitude de 50 metros em relação ao
nível médio das águas do mar. O afloramento é constituído por basalto caracterizado por
apresentar uma cor melanocrática, textura afanítica vítrea com uma estrutura compacta ou
maciça. Este basalto encontra-se no leito do rio Impaputo, e apresenta uma meteorização
esferoidal (Albino, 2012).

A rocha é rica em minerais com grande susceptibilidade magnética e estão distribuídos em toda
rocha, algo destacado com ajuda da caneta magnética. No que diz respeito a composição
mineralógica da rocha, não é possível identificar e distinguir os seus minerais
macroscopicamente ou com ajuda da lupa. Porém observa-se cristais maiores de quartzo,
feldspatos e micas, no seio da rocha basáltica. Os basaltos são de idade idêntica á dos riólitos e
ocorrem em regiões planas e vales ao contrário dos riólitos que ocupam as regiões mais altas
(Cumbe, 2007).

12
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Fig.4 Afloramento de Basalto na região

1.8.3. Formações na região de Boane

De acordo com a Direcção Nacional de Geologia (2001), a formação não datada de Boane,
consiste em siltitos arenosos vermelhos acastanhados escuros, friáveis. Esta unidade pode
representar uma fácie continental mais ferruginosa, variedade basal da Formação de Maputo.

1.8.3.1. Depósito de Boane

Esta jazida encontra-se perto de Boane. As formações diatómicas de origem fluvial ocorrem sob
a forma lenticular, com espessuras entre 0,5 m e vários metros, e cobrem uma área de cerca de
três quilómetros quadrados (Direcção Nacional de Geologia, 2001).

Segundo Loncarevic (1984), as pesquisas mineiras efectuadas sobre uma área de um quilómetro
quadrado apuraram 300.000 t, com a seguinte composição média em percentagem (%): —
88, 63; — 2, 48; Fe2O3 — 0, 99; TiO2 — 0, 39; P2O5 — 0,12; CaO — 0,12; MgO — 0,
23; Na2O — 0, 145; K2O — 0, 51. As reservas prognósticas diatómicas podem atingir entre 1 e 2
milhões de toneladas.

1.8.3.2. Depósito de Umbelùzi

De acordo com Tzoney, et al. (1979-1980), numa superfície de 1,5 quilómetros quadrados até a
profundidade de 9 metros, revelaram as seguintes reservas de argilas (Tabela 1), expressas em
toneladas. De acordo com Afonso (2009), este depósito está situado perto da povoação de
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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Umbelùzi, 7km a oeste de Boane e 20 km a sul de Maputo. Trata-se de uma camada argilosa
intercalada entre terra vegetal, areia fina e areia de grão grosso. O depósito argiloso é constituído
por duas qualidades de argila plástica: uma de cor acastanhada-escura e outra de cor preta.

Tabela 1. Reservas de argila.

Reservas de argila em Umbelùzi

C Quantidade (Toneladas)

C1 1 869 000 t

C2 2 185 000 t

D 2 490 000 t

C1 750 000 t

C2 471 000 t

D 386 000 t

Fonte: Tzoney (1979-1980)

As características da argila de Umbelùzi, compreendem 1/3.8 da matéria-prima, com uma


composição química média em percentagem (%) de: SiO2 — 61, 87; Fe2O3 — 5,94; Al2O3 —
16,12; CaO — 0,7; MgO — 1,36; TiO2 — 1,26; Na2O — 1,5; K2O — 2,35.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

1.9. Solos e Economia

Figura 5. Mapa dos solos da região de Boane

O vale do Umbelùzi possui solos com bom potencial agrícola e pecuário, que são explorados por
um vasto tecido de agricultura privada e familiar. Existe uma diferença notável entre as zonas do
distrito em relação à segurança alimentar. A zona sul, mais estável e coberta pela rede de rios,
beneficia de regadios e baixas húmidas e é apta para hortícolas, banana e citrinos. A zona norte,
o potencial existente é mais apropriado para o cajueiro e avicultura, beneficiando a população de
pequenos negócios que o rápido desenvolvimento socioeconómico da região proporciona.

Por possuir solos férteis, a agricultura é a base da economia distrital, tendo como principais
culturas as hortícolas, milho, mandioca, feijão, bananas e citrinos. As espécies de gado
predominantes são os bovinos, ovinos e aves, destinadas para o consumo familiar e
comercialização.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

A (Figura 4) ilustra a disposição da EAU (Estação Agrária de Umbelúzi) e dos seus respectivos
blocos agrários que encontram-se inseridos no Distrito de Boane.

Figura 6. Mapa do Distrito de Boane destacando os blocos agrários da EAU

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

1.10. Problema e Justificativa do tema

É sabido que a Geologia é uma ciência que estuda a crusta terrestre, a matéria que a compõe, o
seu mecanismo de formação, as alterações que ocorrem desde a sua origem e a estrutura que a
sua superfície possui actualmente.

As alterações da crusta terrestre que ocorrem na superfície através de processos geológicos como
a meteorização ou desagregação física das rochas, resultam na formação de solos cujo estudo é
feito na Pedologia, ciência que para além dos sedimentos, estuda outros elementos agregados ao
solo como a matéria orgânica e componentes químicos que conferem fertilidade ao local. Pode-
se, desta forma, dizer que a Pedologia e a Geologia possuem pelo menos um tronco comum
(exemplo: mineralogia e sedimentologia).

É importante e imprescindível estudar a influência da Geologia na Pedologia de modo a perceber


que tipos de rochas estão associados a diferentes tipos de solo. O conhecimento minucioso do
estudo dessa influência poderá ser aplicado para o melhoramento das actividades agrícolas
através do conhecimento dos benefícios que uma determinada rocha oferece aos solos. Também
poderá ser aplicado pelo próprio geólogo na identificação de indicadores de um determinado
mineral.

A acontecer, tal irá permitir que um determinado tipo de solo funcione como guia para encontrar
um determinado tipo de rochas ou minerais, surgindo assim uma oportunidade, uma orientação
aos trabalhadores do sector agrícola no conhecimento das vantagens e melhorias que alguns
minerais podem trazer aos solos, mostrando o quão essa influência pode ser benéfica para as
duas ciências.

De referir, no entanto, que a agricultura desempenha um papel primordial em Moçambique,


sobretudo no âmbito do combate à pobreza, na geração de emprego rural e contribui para a
segurança alimentar familiar, considerada a dimensão integral do território nacional.

Na Estação Agrária de Umbelùzi, localiza-se um dos maiores campos agrícolas de Maputo onde
se formam solos com elevado teor de minerais de argila resultantes da meteorização e a
desagregação das rochas que ocorreu há tempos atrás, proporcionando o desenvolvimento de

17
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

solos ricos em minerais de magnésio e ferro, que consequentemente condicionam o aumento da


produtividade e a fertilidade daqueles solos (Albino, 2012).

Portanto, é cómodo reflectir sobre a génese dos solos e da respectiva fertilidade, tendente a
consciencializar os produtores agrários sobre o uso das técnicas sustentáveis que possam manter
a fertilidade dos solos por um longo tempo, visto que Sampaio (2011), aponta o processo de
meteorização como um processo moroso.

São escassas as informações sobre os solos na área da bacia do rio Umbelùzi. Está, porém,
disponível a descrição da DINAGECA (1997), que pondera que os solos de Umbelùzi (Belo
Horizonte, Campoane, 25 de Setembro e Jossias Tongogara) são resultado de acumulação de
partículas sedimentadas. Acredita-se que esta pesquisa irá incrementar o material disponível
relacionado com solos, cujo propósito é de analisar o efeito dos minerais de argila na qualidade
dos solos da Estação Agrária de Umbelùzi, no distrito de Boane.

Neste contexto surge a seguinte questão de partida: Até que ponto aspectos geológicos como o
conteúdo de minerais de argila são determinantes na qualidade dos solos da EAU, no distrito de
Boane?

18
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

1.11. Objectivos do trabalho

1.11.1. Objectivo geral

 Estudar a relação entre a geologia da região de Boane as características dos solos da


Estação Agrária de Umbelùzi .

1.11.2. Objectivo específico

 Analisar os vários minerais constituintes dos solos da Estação Agrária de Umbelùzi;


 Aferir a contribuição dos minerais de argila na qualidade dos solos da Estação Agrária de
Umbelùzi;
 Desenvolver uma análise comparativa entre as características geológicas e os tipos de
minerais encontrados na Estação Agrária de Umbelùzi.

19
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

1.12. Hipóteses

 H0: Não existência de uma relação entre a geologia da região de Boane e as


características dos solos na Estação Agrária de Umbelùzi.

 H1: Existência de uma relação entre a geologia da região de Boane e as características


dos solos na Estação Agrária de Umbelùzi.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

2. REVISÃO DA LITERATURA

Neste capítulo descreve-se o arcabouço teórico de aspectos peculiares da pedologia, geologia e


agricultura; tendo-se recorrido á vários trabalhos de pesquisas que se debruçam sobre a geologia,
solos, agricultura e outros assuntos relacionados e considerados acérrimos.

2.1. Conceitos Fundamentais

2.1.1. Ciclo Geológico

Segundo Vasconcelos (2005), as rochas que constituem a crusta terrestre estão constantemente a
ser alteradas, isto entende-se como sistema complexo dos processos naturais através dos quais as
rochas passam. Como se sabe, por cima da crusta assentam os oceanos, os lagos, os rios e outros
corpos de água e, por cima ainda, a atmosfera. A zona de contacto entre a crusta e a água + ar é
uma região de intensa actividade, onde ocorre a erosão, processos de alteração das rochas por
acção do ar + água.

A erosão continuamente desagrega as rochas e faz movimentar as partículas resultantes de um


lugar para o outro. Como resultado, a crusta está coberta por uma camada de material solto. A
maioria dos animais e plantas vivem nesta camada ou perto da zona do interface água + ar
(figura 7).

Por uma questão prática, é conveniente considerar a água, o ar, a matéria viva e a cobertura de
material solto como camadas, análogas às camadas internas. Estas camadas são a hidrosfera
(água), a atmosfera (ar), a biosfera (seres vivos) e o rególito (camada de material solto).

As rochas que constituem a crusta terrestre podem ser divididas em três grandes grupos:

Rochas ígneas ou vulcânicas: São aquelas que provêm da solidificação do material rochoso em
fusão (magma) que se formou no interior da terra. As rochas ígneas formam-se mediante o
arrefecimento e cristalização do magma á medida que este migra em direcção á superfície da
terra.

Rochas metamórficas: São rochas que se originaram a partir de outras rochas por acção da
pressão e temperatura, pois o contínuo aumento da temperatura e da pressão pode afectar tanto as

21
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

rochas sedimentares como as ígneas. Por outro lado, as rochas metamórficas podem também
estar sujeitas á elevadas temperaturas e pressões dando origem a outras rochas metamórficas.

Rochas sedimentares: São rochas que provêm da consolidação de sedimentos transportados


pelas águas, gelo ou ar e que se acumularam á superfície da terra, tanto em terra seca como em
meio aquático.

Figura 7. Ciclo geológico

Fonte: Ricardo Montes (2010)

2.1.2. Origem dos solos

De acordo com Montes (2010), o solo é originado pela rocha que sofreu modificações quando
colocada sob novas condições energéticas diferentes das presentes na sua formação ou seja é
produto da meteorização ou pedogénese. Tendo em conta que os solos, como todas as coisas
modificam-se tendendo há um equilíbrio mais estável. Um solo novo tem uma alta taxa de
modificação por unidade de tempo, enquanto os solos mais velhos modificam-se mais
vagarosamente até atingirem talvez um estado de quase equilíbrio.

22
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

2.1.3. Pedologia

Para Witt (1946), a pedologia é a parte da ciência dos solos que trata da origem, morfologia,
distribuição, mapeamento, taxonomia e classificação dos solos. Divide-se em Pedografia, a
descrição sistemática dos solos e a pedogénese, que estuda a origem dos solos.

O mesmo autor pondera que os solos são constituídos essencialmente por três fases:

 A fase sólida, que consiste de matéria orgânica e material mineral;


 A fase líquida, que consiste de água com sais e compostos orgânicos dissolvidos;
 A fase gasosa, constituída principalmente por gases , e .

As interacções entre as três fases determinam as propriedades físicas, químicas e biológicas do


solo. A fase gasosa fornece oxigénio para as raízes e microrganismos. A planta extrai água e
nutrientes da fase líquida. A fase sólida ancora as plantas e serve de nicho dos microrganismos.
A maioria das características químicas do solo depende das interacções entre a fase líquida e a
fase sólida (Witt, 1946).

 Fase gasosa

Tabela 2. Diferença entre a fase gasosa da atmosfera e do solo Witt, (1946).

Ar atmosférico Ar do solo

79% 79%

20.9% <20%

0.03% >> 0.03%

Existe uma grande diferença em conteúdos de oxigénio e gás carbónico. As raízes utilizam
para o metabolismo e libertam . A percentagem de no solo pode ultrapassar 10%; neste
caso as plantas sufocam devido á falta de oxigénio. Esta situação pode ocorrer quando o processo
de difusão entre o ar no solo e o ar atmosférico for limitado; o que pode ser causado por
estruturas densas, formação de crusta superficial que é impermeável; humidade elevada no solo
ou combinações destes factores (Lima et al., 2007).

23
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

 Fase líquida

Em princípio todos os elementos que compõem a fase sólida e gasosa podem ocorrer na solução
do solo. Porém, existem em formas e relações bastante diferentes. Os catiões mais comuns são:
, , , , , e . Elementos na forma de aniões mais comuns são
-, , , , , , e . Ocorrem também
"microelementos" (ou "micronutrientes" que as plantas precisam em quantidades muito
pequenas) como , , , , e (molécula não dissociada).

Em solos "neutros" com pH entre 6 e 7 os iões mais comuns na solução do solo são: ,
( ), , ( , ); em solos salinos , ( , ) e , são
dominantes. Em solos alcalinos (pH> 8.5) dominam , e . Em solos ácidos
ocorrem também e (Lima, et al., 2007).

 Fase sólida

Esta fase é baseada nas propriedades químicas e mineralógicas, constituída de elementos como:

– Matéria orgânica

– Matéria mineral

A matéria orgânica consiste de resíduos vegetais e animais, que ocorrem em vários estágios de
decomposição. O húmus2 é um produto relativamente estável, um material bem decomposto. O
material não decomposto (cobertura morta, folhas) protege a superfície do solo contra erosão
pelo vento e água e contra a radiação solar, evitando flutuações extremas de temperatura e
humidade (Cavararo, 2007).

O húmus funciona como fonte de energia para uma grande parte da fauna do solo. A sua
mineralização (decomposição) é acompanhada da libertação gradual de nutrientes incorporados,
principalmente N (Nitrogénio) e P (Fósforo), mas também K (Potássio) e Mg (Magnésio). O
húmus consiste de polímeros complexos compostos de cadeias de carbono com muitos grupos
activos como carboxilos (-COOH), aminas (-NH2) e hidróxidos (-OH). Esta forma de matéria

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

orgânica é estável e tem uma função importante como reserva de nutrientes na forma adsorvida
(Cavararo, 2007).

 Matéria mineral

Existem vários métodos para classificação dos componentes da fase sólida inorgânica. Esta
classificação é geralmente realizada de acordo com a mineralogia e as propriedades físico-
químicas. É também feita com base no tamanho das partículas, sendo baseada no sistema USDA
(Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América), adoptado em muitos países
inclusive em Moçambique pelo Instituto Nacional de Investigação Agronómica (INIA, 1985).

 Minerais primários e secundários

De acordo com Witt (1946), os minerais do solo fornecem nutrientes para as plantas. Portanto a
fertilidade natural do solo depende em grande parte dos tipos e quantidades de minerais presentes
(Tabela 3). Os tipos e proporções entre vários minerais no solo dependem do material de origem
do solo: a "rocha mãe" (Ing: parent rock, parent material).

____________________________________________________________________________
2
O húmus é o material decomposto e misturado com partículas de material mineral, de tal
maneira que o reconhecimento do material original é impossível (Cavararo, 2007)

25
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Tabela 3. Os elementos mais comuns da fase sólida no solo, Witt (1946).

Matéria orgânica Matéria mineral

Não ou parcialmente decomposta (detritos) Sesquióxidos

Bem decomposta (húmus) Sais; silicatos

Cristalinos: quartzo, piroxenas, (minerais


argila secundários)

2.2. Solos

De acordo com Witt (1946), a ciência do solo é um pelouro que se situa no ponto de encontro de
ciências físicas (físicas, químicas), biológicas (botânica, ecologia, zoologia, microbiologia),
geológicas (mineralogia, geologia, geomorfologia) e agrárias (produção de plantas, tecnologia e
conservação de solos). Do ponto de vista geológico, o solo pode ser entendido como a camada
superficial meteorizada das rochas.

Segundo a Soil Conservation Service (1951), o solo pode ser definido como a colecção de corpos
naturais que ocupam partes da superfície terrestre, que constituem o meio para o
desenvolvimento das plantas e que possuem propriedades resultantes do efeito integrado do
clima e dos organismos vivos, agindo sobre o material de origem e condicionado pelo relevo
durante um certo período de tempo.

Esta definição incorpora todas feições dos solos indicadas nas definições anteriores. Além disso
destaca que as características do solo são condicionadas pelo material de origem que é a rocha
mãe e por vários factores constituintes dos solos, visto que o solo é o resultado das
transformações que ocorrem nas rochas e essas transformações ocorrem lentamente, pois as
condições climáticas e a presença dos seres vivos são os principais responsáveis para a
degradação da rocha até a formação do solo (Figura 8).

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Figura 8. Evolução e Formação do solo.

Fonte: Ricardo Montes (2010)

F
A (figura 8) representa o processo pelo qual a rocha mãe sofre meteorização2. A rocha vai
progressivamente, desde a superfície fragmentando-se e gerando materiais minerais de menor
tamanho (argila e silte) e de maiores tamanho (areia e pedregulho) em profundidade. Neste
estágio são chamados solos jovens.

Mediante a passagem do tempo e a progressão em condições estáveis, os materiais intemperados


vão ficando cada vez mais profundos, tornando o solo mais espesso e, na superfície, matéria
orgânica em decomposição (húmus) vai sendo incorporada obtendo-se assim um solo maduro
pronto para ser cultivado. Porém, todo este processo leva muito tempo para ocorrer, visto que os
solos usados para a agricultura demoram em torno de 3000 a 1200 anos para tornarem-se
produtivos (Lima et al., 2007).

2
Meteorização é o processo de formação de solos, ou seja, associação de fenómenos físicos, químicos e biológicos
que agem sobre a rocha e conduzem á formação de partículas não consolidadas (Lima, et al., 2007).

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

A origem remota dos solos está relacionada com a decomposição da rocha pela acção das
intempéries (Edson, 2012). Apresentando os factores da seguinte forma:

 Natureza da rocha mãe;


 Clima da região;
 Agente intempérico de transporte;
 Topografia da região e Processos orgânicos.

2.2.1. Importância do solo

Geralmente a importância do solo é sempre associada á agricultura, muitas vezes esquece-se que
o solo é o substrato para praticamente todas as actividades. O solo como substrato fora do âmbito
agrícola é de capital importância na construção, especialmente de canais de irrigação e
drenagem, diques, barragens, estradas, edifícios grandes (Witt, 1946).

Alguns usos concretos do material de solo fora do âmbito agrícola são:

 Fonte para material de construção (barro, cimento, tijolos);


 Porcelana;
 Vidro;
 Fonte de energia (turfa, praticamente obsoleto);
 Alguns minerais para uso industrial (caulinite, bentonite, gesso, óxidos de ferro e
alumínio).

Segundo Witt (1946), uma outra maneira de encarar ou distinguir o solo é separar os ramos
‘’puros’’, onde o solo está no centro de atenção; e os ramos ‘’ mistos’’, onde o solo é
considerado como uma parte de um sistema maior a ser estudado de uma forma multidisciplinar.

28
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

2.2.2. Importância do conhecimento de solos

De acordo com Melo e Lima (2007), conhecer o solo a fundo, figurativamente e literalmente é,
portanto um suporte de sustentabilidade. Assim, os estudos pedológicos são fundamentais para
os seguintes benefícios:

 Corrigir a fertilidade natural do solo;


 Conhecer e monitorar o teor dos micros e macros nutrientes;
 Neutralizar sua acidez;
 Identificar solos apropriados para cada cultura;
 Monitorar teores de matéria orgânica;
 Preservá-los contra os perigos da erosão, etc.

2.2.3. Textura de solo

As classes de tamanho das partículas individuais do solo, ou seja, as fracções granulométricas


(Tabela 4), são classificadas conforme o diâmetro. A composição granulométrica do solo é
obtida a partir da análise granulométrica (realizada no laboratório de solos), a qual permite
classificar os componentes sólidos do solo em classes (Blocos, pedras, cascalho, areia, silte e
argila) de acordo com seus diâmetros (Melo e Lima, 2007).

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Tabela 4. Fracções granulométricas do solo.


Blocos grandes > 60 cm

Blocos 20 – 60 cm

Fragmentos de rocha Pedras 6 – 20 cm

Cascalho grosseiro 2 – 6 cm

Cascalho médio 0.6 – 2 cm

Cascalho fino 0.2 – 0.6 cm

Areia muito grossa 1 – 2 mm

Areia grossa 0.5 – 1 mm

Terra fina Areia 0.05 – 2 mm Areia média 0.25 – 0.5 mm

< 2 mm Areia fina 0.1 – 0.25 mm

Areia muito fina 0.05 – 0.1 mm

Silte 0.002 – 0.05 Silte grosso 20 – 50 μm

mm Silte fino 2 – 20 μm

Argila grossa 1 – 2 μm
Argila < 2 μm
Argila fina < 1 μm

Fonte: Lima e Melo (2007).

2.3. Minerais de argila

A argila é o nome dado a um sedimento formado por partículas de dimensões muito pequenas,
abaixo de (4 micrómetros) de diâmetro. Esse sedimento pode ser formado por apenas um mineral
argiloso, mas o mais comum é a miscelânea deles, com predomínio de um. Todos, porém, são
filossilicatos, ou seja, silicatos que formam lâminas, de baixa dureza, densidade relativamente
baixa e boa clivagem em uma direcção. Rochas argilosas como folhelho e siltito são também
incluídas nesse conceito no comércio desses materiais. (Melo e Lima, 2007)

Os minerais de argila (Tabela 5) são normalmente constituídos por silicatos hidratados de


alumínio e ferro podendo conter minerais alcalinos como, o sódio, potássio, e alcalinos terrosos
como, cálcio e magnésio (ITCG, 1997).

30
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Ainda, segundo Branco (2014), estes minerais argilosos são um importante e complexo grupo de
pelo menos 41 silicatos, formados geralmente pelo processo de meteorização da rocha.

Tabela 5. Variedade de minerais de argila e sua influência dos solos

Minerais
Vermiculi Montmorilo
Caulinite Ilite interestratificad Clorite
te nite
os

Tipo 1:1 2:1 2:1:1 (2:2)

Estrutura das camadas


´

Principalmente Nos tetras e


Substituição isomórfica - Principalmente nos tetraedros
nos octaedros octaedros

Expansão - - x xx xxx -

Capacidade de retenção
x x xx xxx xxxx x
de água

Capacidade de adsorção x xx xxx xxxx xxx x

Plasticidade, Coesão,
x x xx xxx xxx x
Pegajosidade

Fonte: Lima e Melo (2007).

31
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

2.3.1. Agentes de formação dos minerais de argila

Segundo Branco (2014), as rochas ígneas são formadas devido as condições físico-químicas
totalmente distintas daquelas existentes na superfície terrestre. O que significa que as rochas que
se vê estão em condições de desequilíbrio termodinâmico, por isso passam por transformações
profundas na presença da água e do ar.

A acção da água corrente, dos ventos, seres vivos e a gravidade desagregam as rochas, este
processo é conhecido como erosão. Os detritos produzidos podem ser transportados e
depositados em outro local, onde futuramente, depois de milhões de anos irão surgir rochas
sedimentares.

A junção da erosão, transporte e deposição constitui a o que se de chama meteorização. E é o


mesmo que forma os minerais argilosos. Portanto, a meteorização é um conjunto de processos
químicos, físicos e biológicos, que associados actuam sobre as rochas expostas ao ar e a água.
Geralmente predomina um desses processos, daí falar-se de meteorização química, meteorização
física e biológica (Branco, 2014).

A meteorização física tem como principal agente as mudanças de temperatura. O quartzo e o


feldspato, dois dos minerais mais comuns nas rochas, têm coeficientes de dilatação muito
diferentes. O quartzo, sob acção do calor do sol, aumenta seu volume três vezes mais que o
feldspato e isso gera tensões nas rochas, o que acaba gerando fracturas. Além disso, em climas
muito frios a água infiltrada na rocha pode congelar e, com isso, dilatar-se, gerando também
fracturas, pois essa força de dilatação é também muito forte.

A meteorização química tem como agente principal a água com elevado teor de gás carbónico
dissolvido e ácidos húmicos que resultam da decomposição de vegetais. Nessas condições, a
água promove uma série de reacções químicas que condicionam a alteração das rochas. O
intemperismo biológico tem uma acção mais moderada e se manifesta através da acção, por
exemplo, de raízes que penetram nas rochas e são também capazes de gerar fracturas. Há
bactérias que podem também ser muito actuantes quando as condições são redutoras.

A intensidade da acção intempérica depende do clima. A meteorização é muito mais acentuada,


por exemplo, em climas húmidos do que em climas secos. Por outro lado, a resistência dos

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

minerais à sua acção também é variável. Olivinas e piroxénios são minerais que se alteram mais
facilmente que as micas, e o quartzo não se altera nem fisicamente nem quimicamente. Mas, ao
fim de um processo de intensa meteorização, restam de uma rocha apenas quartzo (sílica livre) e
argilas. Assim, pode-se dizer, de um modo geral que as argilas são os produtos finais e estáveis
do processo de meteorização das rochas (Branco, 2014).

2.3.2. Características principais das argilas

Branco (2014), afirma que uma das principais características dos minerais de argila são as
dimensões extremamente pequenas de seus cristais o que condiciona que se usem métodos
especiais para os identificar. Sendo alguns destes:

 Análise química quantitativa por fluorescência de raios X ou absorção atómica; Análise


mineralógica por difracção de raios X ou microscopia electrónica de varredura.
 O método mais usado é a difracção de raios X, que fornece um gráfico chamado
difratograma.

A cor é um indicador de caracterização de argilas, visto que diferentes cores são tomadas por
rochas argilosas, como branco, preto, vermelho, roxo, amarelo, verde, cinza e castanho. Ela
depende principalmente da composição química, mas é influenciada também pelas condições
físico-químicas do ambiente de deposição dos sedimentos. Entretanto, ao se analisar a cor de
uma rocha sedimentar é preciso antes de tudo verificar se essa cor é primária ou se decorre de
transformações sofridas pela rocha nos milhões de anos após sua formação. Por Exemplo:
Hematite e goethite são os minerais mais comuns em solos e são estes que imprimem cores
características aos solos. A Hematite (Fe203) livre de Goethite (FeOOH) proporciona solos de
cores vermelhas intensas. Goethite livre de Hematite proporciona solos com coloração bruno-
amarelada e a Hematite associada a Goethite predomina a cor vermelha (Branco, 2014).

2.3.3. Propriedade das argilas

A aplicação industrial das argilas baseia-se fundamentalmente nas suas propriedades físico-
químicas, as quais, por sua vez, derivam de três factores: o reduzido tamanho das partículas
(inferior a 2 micrómetros); a morfologia dos cristais (em lâminas) e as substituições isomórficas

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

que ocorrem nesses minerais. As argilas possuem uma elevada área superficial com ligações
químicas não saturadas, o que lhes permite interagir com diversas substâncias. Por isso, possuem
um comportamento plástico quando misturadas com água e, em alguns casos, são capazes de
inchar, aumentando muito de volume. Para se ter uma ideia da incrível área superficial de uma
argila, 1 grama de sepiolite possui de 100 a 240 metros quadrados de superfície. A caulinite bem
cristalizada, uma das argilas com menor superfície tem mesmo assim 15 metros quadrados por
grama de material (Witt, 1946).

Capacidade de troca de catiónica, o PH= 7,0 de alguns materiais trocadores constituintes


do solo.

Tabela 6. Capacidade de troca de catiões

Material CTC (cmol.kg)


Matéria orgânica 150-400
Vermiculite 100-150
Montmorilonite 80-150
Ilite 20-50
Clorite 10-40
Caulinite 3-15
Óxidos de Fe e Al 4-10

Fonte: Witt (1946)

Outra característica importante é a capacidade de troca de catiões. Iões positivos existentes em


soluções aquosas que entram em contacto com a argila podem facilmente infiltrar-se entre as
lâminas dos minerais argilosos e dali saírem também facilmente, pois suas ligações químicas são
fracas. Eles não penetram na estrutura do mineral, apenas prendem-se às superfícies das
partículas de argila. Ocasionalmente essa troca iónica pode acontecer também em meio não
aquoso.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Essa propriedade tem grande influência na plasticidade das argilas, pois se o catião trocável é o
cálcio as propriedades plásticas serão diferentes das presentes quando o catião é o sódio.
Destacam-se também as argilas por sua enorme capacidade de absorção. As mais absorventes
chegam a reter água numa proporção de mais de 100% do seu próprio peso.

A hidratação e o inchamento são outras importantes propriedades, sobretudo das argilas do


grupo da montmorilonite. A água pode se acumular entre as camadas e, à medida que isso ocorre,
as folhas vão se separando e o volume total vai aumentando (Meira, 2001).

Plasticidade é outra característica fundamental das argilas. Como são formadas de folhas, a água,
ao se introduzir entre elas, funciona como um lubrificante, permitindo que as folhas deslizem
umas sobre as outras. Isso é o que explica a grande dificuldade que tem os motoristas para dirigir
em solo argiloso nos dias de chuva. O solo torna-se extremamente liso e fica muito difícil manter
o veículo alinhado na estrada. Além da água, outros líquidos polares também dão plasticidade às
argilas; já líquidos não polares, como o tetracloreto de carbono, não deixam as argilas plásticas.

Tixotropia é a propriedade que tem o mineral argiloso em pó que está em suspensão em muita
água de se tornar um gel. Isso ocorre, por exemplo, com uma suspensão de 3% de
montmorilonite em água. As argilas que assim se comportam, chamadas de tixotrópicas, quando
amassadas convertem-se em um verdadeiro líquido, mais deixados em repouso, recuperam a
coesão e o estado sólido (Meira, 2001).

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

2.3.4. Minerais de argila cristalinos

Os aluminossilicatos cristalinos contêm uma estrutura em que os átomos de alumínio com


grupos hidróxidos ocorrem numa configuração octaédrica e os átomos de sílica com oxigénio
numa configuração de tetraedros. Basicamente os minerais consistem de uma camada de Al
octaedros ligada com uma ou duas camadas de tetraedros de . Aparentemente os minerais de
argila, são electro neutros, pois todas as cargas positivas são compensadas por cargas negativas,
Isto só poderia acontecer se as lâminas elementares tivessem uma extensão infinita. Na realidade
haverá sempre algumas cargas nas margens das lâminas, que deverão ser compensadas por iões
que não fazem parte da rede cristalina (Sampaio, 2006).

Além disto, durante a formação dos minerais os catiões e/ou nem sempre estão
presentes ou disponíveis em quantidades adequadas para formar respectivamente octaedros e
tetraedros. Nestes casos os iões ou podem ser substituídos por outros catiões dum
tamanho semelhante, sem ruptura ou modificação da estrutura cristalina do material. Este
processo chama-se substituição isomorfa. O termo "isomorfa" refere-se aos raios dos átomos que
determinam o grau em que estes podem se adaptar à rede cristalina (Idem).

2.3.5. Argilas comuns

Trata-se de argilas impuras, com uma mineralogia complexa de caulinite ter-estratificados dos
tipos ilite-montmorilonite e clorite-montmorilonite, montmorilonite e paligorsquite. Podem
incluir também hematite, goethite, lepidocrocite, siderite, calcite, dolomite e matéria orgânica.
Segundo Gomes (1982), a cor vermelha do barro é devida geralmente a óxidos e hidróxidos de
ferro.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Tabela 7. Constituintes da Fracção da Argila

Constituintes da fracção argila Superfície específica(m/g)


Gibbsite 1-2,5
Anatàsio 10
Caulinite 10-30
Goethite 30
Mica hidratada 100-200
Clorite 100-175
Óxidos de ferro 100-400
Sílica-alumina amorfa 200-500
Vermiculite 300-500
Montmorilonite 700-800
Matéria orgânica ± 700*
Fonte: Witt (1946)

A principal aplicação destas argilas envolve o domínio da cerâmica, de produtos estruturais de


construção, nomeadamente no fabrico de tijolos, telhas, louças de barro, etc. Devido às suas
propriedades de plasticidade e endurecimento quando cozidas ou calcinadas. As jazidas argilosas
que estão espalhadas por diversos locais do território moçambicano são de origem residual ou
aluvial de idade quaternária. Todavia, ocorrem com pouca frequência, argilas dos períodos
Karoo, Cretácico e Terciário. Destas concentrações argilosas, uma das mais importantes em
relação ao volume ocorre em Umbelùzi (Albino, 2012).

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

3. METODOLOGIA DE TRABALHO

Este capítulo descreve a área de estudo, o tipo de pesquisa, amostragem e apresenta os materiais
e procedimentos usados com vista ao alcance dos objectivos propostos e responder as hipóteses
pré-definidas.

3.1. Tipo de pesquisa

O presente trabalho é baseado num estudo explicativo. Segundo Alves (2006), nos estudos
explicativos determinam-se as relações existentes entre as diferentes variáveis que influenciam
um fenómeno. Dado o objectivo geral desta pesquisa que se foca no estudo do impacto dos
minerais de argila na qualidade dos solos da EAU, é evidente que esta é uma pesquisa de
natureza explicativa.

3.1.1. Consulta bibliográfica

Esta fase consistiu na pesquisa e obtenção de informação de maior interesse para a área da
Pedologia em diversos manuais de Geologia Geral e Agronomia na FAEF.

Outras pesquisas feitas incluíram análise documental, consulta de artigos, relatórios relacionados
com as áreas de Agronomia no Instituto Nacional de Investigação Agronómica.

3.2. Trabalho de Campo

3.2.1. Colecta de Amostras

3.2.1.1. Amostragem

Chama-se amostragem ao critério de determinação da amostra para ser pesquisada


posteriormente. Amostra é a parte da população (sendo a população todo campo da EAU)
efectivamente seleccionada para a realização do estudo, segundo um processo de selecção
adequada (Pocinho, 2002).

Segundo Bussab e Bolfarine (2005), a amostragem probabilística também é chamada de aleatória


ou casual. A sua importância decorre do fato de que apenas os resultados provenientes de uma
amostra probabilística podem ser generalizados estatisticamente para a população da pesquisa. E
amostragem não representativa, não há como saber se há 95% ou 0% de probabilidade de que os
resultados sejam correctos, e as técnicas de inferência estatística porventura utilizadas terão
validade questionável.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Nesta pesquisa, optou-se pela amostragem representativa. Portanto, a condição primordial para o
uso de amostragem representativa contínua válida, na qual cada parcela da população tem uma
probabilidade maior de zero para ser incluso na amostra.

3.3. Técnica de colecta de dados

Para realização da pesquisa foram utilizadas técnicas e instrumentos de recolha de dados que
permitiram obter a informação necessária e relevante para a pesquisa. Recorreu-se à observação
directa intensiva na EAU, aplicação da entrevista semiestruturada, análise documental e análise
laboratorial.

Especificamente recorreu-se á amostra aleatória simples, com o seguinte procedimento: a


pesquisadora posicionou-se no meio dos campos da EAU e lançou uma pedra em três posições
diferentes, em cada lugar que a pedra caísse, a pesquisadora retirou as coordenadas através do
GPS e recolheu o solo que serviu de amostra, tendo posteriormente juntado as três amostras para
ter um único solo que foi analisado no laboratório da EAU com vista a determinar os parâmetros
físicos e químicos que possam influenciar na qualidade dos solos.

Além do procedimento supracitado, recorreu-se também a entrevista semiestruturada, com


engenheiro Jacinto Malafacusser e para a realização da mesma, foi elaborado um guião
semiestruturado e flexível, para orientar a sua realização, o que permitiu que durante a execução
da entrevista fosse reestruturada alguma questão que não estivesse clara e se introduzisse uma
outra que fosse necessária para obter a informação necessária que permitisse alcançar os
objectivos da pesquisa.

O guião da entrevista integrou questões abertas e fechadas. A entrevista realizou-se no Instituto


Nacional de Investigação Agronómica, tendo tido a duração de quarenta e cinco minutos e foi
usado um caderno de camurça para tirar notas.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

3.3.1. Materiais e Procedimentos de análise de solo

O presente trabalho foi realizado na Estação Agrária de Umbelùzi, no município de Boane, cujas
amostras foram extraídas entre as coordenadas 26° 02’ 00.4” Sul e 032° 11’ 20.1” Este, a uma
altitude média de 47m, 25° 57’ 25,4” e Sul 32° 07’ 50.5” Este, a uma altitude de 52 m, e 26° 13'
22.9" Sul e 032° 06' 09" Este, a uma altitude média de 50 m.

 Pá;
 Enxada;
 Plásticos;
 Luvas;
 Amostra de solo;
 GPS.

3.4. Considerações Éticas

 Durante a realização da entrevista, o engenheiro Jacinto Malafacusser foi informado


sobre os objectivos da pesquisa e assinou o consentimento.
 Antes da materialização do trabalho foi emitida uma credencial para a Estação Agrária de
Umbelúzi, que foi posteriormente aceite permitindo assim a execução do estudo.
 O engenheiro Jacinto Malafacusser assinou uma declaração de honra concordando
previamente com as informações fornecidas.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para a determinação da textura do solo colhida na EAU, recorreu-se ao método de Pipeta de


Robinson, que consiste no tratamento da amostra com hexametafosfato de sódio e carbonato de
sódio. Para destruir os agregados, e consequentemente separar os elementos constituintes destes,
usou-se o agente dispersante hexametafosfato de sódio e carbonato de sódio. A areia é
determinada por crivagem e o limo e a argila pelo método de pipetagem segundo a técnica de
Robinson, baseada na lei de Stokes. Posteriormente calculou-se as fracções de areia, limo e
argila ( Tabela 8).

Tabela 8. Análise de resultados

Pesos (gramas)
Tara Tara + Argila + Limo Tara + Argila Areia
41.090 41.148 41.118 13.358

Pesos Argila (PA) Peso silte (PL)

PA = peso (tara + argila) – peso (tara) PL = peso (tara + argila + limo) – peso (tara + argila)

PA = 41.118 – 41.090 PL = 41.148 – 41.118

PA = 0.028 g PL = 0.03 g

Peso da Areia = 13.358 g

Portanto, previamente pesou-se 20g de solo mas a soma das três fracções não igualam a 20
gramas, isso deve se ao facto do solo conter material orgânica3, água e ar que quando submetido
a 105oC de temperatura na estufa, queima e evapora.

Solo = (matéria orgânica + agua + ar) + Matéria mineral

Solo = (matéria orgânica + agua + ar) + (areia + silte + argila)

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

20 g = (matéria orgânica + agua + ar) + (13.358 + 0.03 + 0.028)

20 g = (matéria orgânica + agua + ar) + 13.416 g

(matéria orgânica + agua + ar) = 20 g -13.416 g

(matéria orgânica + agua + ar) = 6.584

Portanto, como se disse anteriormente, húmus é a junção de material orgânico e mineral, na qual
o reconhecimento dos constituintes é impossível. Isso implica que, é o material bem decomposto
e apto para fornecimento de nutrientes as plantas. A maior quantidade de húmus torna o solo
fértil.

 Teores de areia, silte e argila.

0.15

3
Matéria orgânica – conjunto dos restos vegetais e animais decompostos no solo.

42
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

4.1.Resultados

A (figura 9) representa o peso das fracções: areia, silte e argila em percentagem (%).

Argila Peso de Areia, Silte e Argila Silte


0% 0%

Areia
100%

Figura 9. Peso de Areia, silte e Argila

Como está evidente nos cálculos, o peso de areia, silte e argila é igual a 13.416 gramas, o que
implica que o remanescente no peso total de amostra (20 gramas) é de 6.584 gramas,
correspondente a matéria orgânica, água e ar incorporado no solo. A figura 8 indica a
percentagem correspondente a matéria mineral (areia, silte e argila) e a soma de matéria
orgânica, água e ar.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Peso Percentual de Matéria Orgânica e Matéria Mineral

9%

M. Mineral (Areia,
Limo e Argila)
M. Orgânica + Agua
+ Ar

91%

Figura 10. Peso Percentual de Matéria Orgânica e Matéria Mineral

A (figura 11), corresponde ao teor das fracções granulométricas analisadas no laboratório,


estando os resultados representados em percentagem.

Figura 11. Teores de Areia, silte e Argila

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Mediante as percentagens obtidas nas fracções estudadas, obteve-se cerca de 67% de areia, 0,14
e 0,15 de argila e silte respectivamente, tornando-se evidente a razão pela qual os dois últimos
materiais apresentarem-se em percentagem quase nula na representação gráfica.

Embora este estudo tenha-se concentrado na análise dos minerais do solo, pôde apurar-se que
cerca de 33% representa o total de matéria orgânica, ar e água, visto que a outra percentagem
converte-se num total de 67% (areia, silte e argila), revelando assim que estes solos não
apresentam indicativos da tão elevada fertilidade atribuída aos mesmos.

Em termos do peso, pode-se apurar que os componentes areia, silte e argila correspondem á
13.416 gramas, o que implica que o remanescente para completar os 20 gramas do peso da
amostra, cerca de 6.584 gramas, corresponde a matéria orgânica, água e ar.

4.1.1. Interpretação dos resultados obtidos na entrevista ao supervisor geral da EAU

De acordo com Engenheiro Jacinto Malafacusser, os solos da EAU apresentam uma génese
associada à acção da água, a meteorização e à erosão, sendo os mesmos classificados como
aluvionares, constituídos de sedimentos aluvionares depositados pelo rio Umbelùzi. Estes solos
quando secos apresentam fendas e quando húmidos são escorregadios. Quanto à plasticidade,
apresentam propriedades verticais.

Geralmente a agricultura é a actividade de trampolim ao desenvolvimento, sendo que as culturas


preponderantes na EAU são: milho, batata-doce, citrinos, mandioca, feijões, culturas indígenas,
hortícolas e fruteiras. O desenvolvimento destas culturas deve-se à fertilidade que a geologia
local condiciona aos solos daquela área.

O tipo de argila predominante neste solo é montmorilonite. Devido à sua localização, estes solos
têm a desvantagem de possuir um grande risco de inundação por causa da sua posição
topográfica. Os minerais de argila apresentam uma grande vantagem no que diz respeito a
questão de retenção de água e nutrientes, uma vez que os mesmos proporcionam as plantas a
força necessária para absorver ou armazenar água e ganhar nutrientes, o que resulta num bom
desenvolvimento vegetativo, esses minerais ainda apresentam uma fraca permeabilidade.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

4.2. Discussões

A EAU está inserida na formação dos Libombos, que é caracterizada basicamente por um tipo de
vulcanismo fissural bimodal que originou rochas de dois litótipos, nomeadamente os riólitos e
basaltos que predominam maioritariamente naquela região. Sabe-se ainda que os basaltos são
facilmente meteorizáveis devido à sua composição ferromagnesiana, o que permite uma
transformação mediante a passagem do tempo originando uma rocha sedimentar, nomeadamente
o argilito.

Em face disto, acredita-se que os argilitos retirados dos pontos de amostragem apresentam
percentagens de argila suficientes que levam a crer que os mesmos são provenientes de uma
espécie de basalto com magma empobrecido de minerais ferromagnesianos com uma maior
quantidade de sílica dando assim origem ao riólito, formado a partir da transição para um magma
ácido rico em sílica.

Em detrimento dos resultados obtidos mediante a análise laboratorial, verificou-se uma ínfima
percentagem da montmorilonite (mineral de argila), mesmo Benzane (1993), afirmando que os
campos da EAU estão cobertos de solos aluvionares argilosos ou seja, tem maior percentagem de
granulometria fina. Facto, que se revela contraditório nos resultados apresentados uma vez que a
quantidade de material grosseiro apresenta-se em maior quantidade.

Este cenário pode ser reflexo do menor número de amostras de solo colectadas e à menor
profundidade atingida a partir da superfície do solo. Sendo que para a realização desta
amostragem, as amostras foram colhidas a 20 cm abaixo da camada do solo ou seja no intervalo
recomendado (0 a 50 cm) segundo a classificação de Yasikov (1968).

Verifica-se ainda um paradoxo entre a entrevista semiestruturada realizada com o engenheiro


agrónomo da EAU e os resultados obtidos, uma vez que o mesmo afirmou indubitavelmente que
a EAU apresentava solos ricos em montmorilonite, o que permite assim uma elevada fertilidade
aos solos devido a extrema capacidade de retenção de água que este mineral apresenta,
condicionando assim menores gastos na irrigação e energia, já que o mineral permitirá que a
planta alimente-se dos nutrientes e armazene água por mais tempo em sua raiz.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

O Fa constitui o grupo mais predominante na Estação Agrária de Umbelùzi, sendo estes solos
aluvionares argilosos caracterizados tipicamente por grandes bacias de decantação, comuns nos
vales largos junto aos rios principais (Benzane, 1993). O mesmo autor versa ainda que existem
várias variantes deste tipo de solo que predominam ao longo de Boane, entre eles consistem seis
subgrupos:

 Fa: solos aluvionares argilosos;


 Ft: solos aluvionares turfosos;
 Fta: solos aluvionares turfosos com subsolo argiloso;
 Fs: solos aluvionares estratificados, textura média-grosseira;
 Fe: solos aluvionares estuarinos;
 Fc: solos aluvionares argilosos, calcários e sódicos.

Outrossim, este tipo de solo, de acordo com a sua constituição, está longe de ser argiloso devido
à elevada percentagem de material grosseiro que faz com que o mesmo seja classificado como
cascalhento ou arenoso. Witt (1946), enfatiza que as partículas sólidas dos solos influenciam nas
suas propriedades físicas, assim como no seu comportamento quando manipulados para o
cultivo.

Os resultados obtidos pressupõem indicativos de uma grande quantidade de sílica presente nos
solos, o que condicionará uma baixa capacidade de retenção de água contra a força da gravidade,
drenando rapidamente e promovendo a entrada de ar no solo, o que consequentemente fará com
que estes solos estejam propensos à infertilidade.

Os resultados da análise laboratorial (67% de areia, 0.15% de silte e 0.14% de argila),


demonstram que estes solos têm uma textura franco ou seja uma mistura de areia, silte e argila.
Contudo, verifica-se uma grande quantidade de material grosseiro (0,05 mm e 2 mm) com um
diâmetro muito maior do que o esperado num solo fértil (<0,002 mm).

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Estes factos revelam algo contraditório dado que (Benzane, 1993), enfatiza a fertilidade dos
solos devido a elevada riqueza que os mesmos possuem na montmorilonite e a sua capacidade de
retenção de água. Porém, tudo leva a crer que trata-se de um solo franco-arenoso ou seja
apresenta mais de 45% de material grosseiro.

De acordo com Melo e Lima (2007), o solo é constituído por uma mistura de quatro
componentes:

i) Material inorgânico (pedaços de rochas, pedras e calhaus, areia, silte e argila): os elementos
minerais de maiores dimensões (pedras, areia) facilitam o arejamento do solo e a drenagem de
água em excesso e os de menor dimensão (silte, argila) têm como principal função reter água e
nutrientes no solo durante mais tempo. Portanto, pode apurar-se que existem dúvidas acérrimas
sobre a fertilidade dos solos da EAU, visto que apresentam cerca de 67%, 0.15% e 0.14% de
areia, silte e argila, respectivamente.

ii) Material orgânico (organismos e partes de plantas em diferentes estado de decomposição): a


decomposição da matéria orgânica liberta nutrientes para o solo que podem ser reutilizados pelas
plantas; a presença da matéria orgânica no solo contribui para a retenção de água e nutrientes;

iii) Ar: movimenta-se no espaço poroso permitindo que as raízes tenham acesso ao oxigénio;

iv) Água: com nutrientes dissolvidos, solução fundamental para o crescimento das diferentes
espécies vegetais, também se movimenta no espaço poroso.

Ainda Cavararo (2007), esmiúça que os quatro componentes referidos contribuem na formação
de um solo de boa qualidade (solos férteis). As proporções médias adequadas destes elementos
deverão ser de cerca de 45% para o material mineral, cerca de 5% de matéria orgânica e 25% do
volume poroso deve estar ocupado com ar enquanto os outros 25% devem conter água.

Portanto, como evidenciam os resultados deste estudo, não há compatibilidade com proporções
do solo fértil, dado que o material mineral excedeu a média de (45%) e atingiu 67%, tendo criado
instabilidade a média de outros componentes, tornando assim difícil prever a natureza da
qualidade destes solos.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Pondera ainda Cavararo que os solos nem sempre possuem estas proporções e aponta as
possíveis razões, como é o caso da movimentação amiúde da camada superficial, os desaterros
da construção civil, a falta de rotação de culturas e plantação constante de culturas esgotantes.
Esta frequente movimentação de terras afecta as propriedades do solo, resultando muitas vezes
em ambientes desfavoráveis ao desenvolvimento vegetal.

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1. Conclusões

Realizado o estudo mediante a metodologia aplicada e a interpretação dos resultados obtidos


durante as análises laboratoriais, conclui-se que o conteúdo de argila presente nos solos deriva da
desagregação e meteorização das formações basálticas planadas localizadas em Boane,
rejeitando-se deste modo a hipótese da não existência de uma relação entre a geologia da região
de Boane e as características dos solos na Estação Agrária de Umbelùzi.

Conclui-se ainda que os solos da EAU apresentam 67% de areia, 0.14% de argila e 0,15% de
silte, pressupondo assim uma maior probabilidade da existência de solos aluvionares arenosos,
provenientes da sobreposição sofrida do basalto. Por sua vez, estes basaltos, por apresentarem
minerais ferromagnesianos em sua composição apresentam uma menor resistência ao
intemperismo, enquanto os riólitos devido a presença de minerais félsicos e da sílica tem um
processo de meteorização moroso que origina a areia, resultando assim numa mistura que inibe
as propriedades das argilas posteriormente.

Uma vez que somente foram colhidas três amostras de solo à profundidade de 20 cm, não houve
uma elevada precisão nos resultados, dado que os solos da Estação Agrária de Umbelúzi
caracterizam-se por possuir uma grande profundidade, que nem mesmo a rocha mãe consegue
ser atingida em sondagens a 130 cm.

Os solos ainda apresentam uma textura variável composta de várias classes distintas, o que leva a
constatar que os argilitos analisados foram retirados de zonas superficiais que propiciaram a
ocorrência de solos arenosos empobrecidos dos minerais de argila, facto que justifica a
infertilidade patente naquela área mediante os resultados obtidos na análise laboratorial.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

5.2. Recomendações

Para a comunidade académica (investigadores):

 Desenvolver estudos químicos quer das rochas da região e dos solos existentes de
modo a estabelecer uma consistente relação entre a geologia de Boane e os solos da
região, assim como para com a sua fertilidade.
 Realizar ainda mais estudos do género, utilizando técnicas mais sofisticadas,
equipamentos mais precisos e especializados na colecta de amostra de solos;
 Prosseguir com estudos mais abrangentes sobre o impacto que a geologia da região
tem na formação dos solos, o que permitirá o discernimento das características do
solo consideradas mais importantes para um bom desenvolvimento vegetal e que
servira de guia para a localização de diversos minerais;
 Realizar estudos que versem sobre o mesmo tema, colectando um maior número de
amostras e extraí-las a uma maior profundidade.
 Desenvolver mais estudos associando os solos a sua rocha de origem de modo a
verificar facilmente o determinado tipo de rocha que originou a formação de
determinada classe de solo.

Aos agricultores da EAU:

 Promover boas práticas agrícolas, o que inclui a conservação das propriedades de


solo, através de rotação de culturas, plantio de feijões depois da colheita das culturas
esgotantes, isto porque os feijões entram em simbiose com bactérias do género
Rizóbio, que lhes permite a fixação de nutrientes no solo; repousar o solo, entre
outras.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ALBINO,A.J. (2012). Bases Geo-ambientais para a Gestão da Bacia Hidrográfica do


Rio Umbelùzi-Moçambique. Rio de Janeiro;

 AMARAL, E. (2010). Geologia Geral. 5ed;

 Ametista/Canal-Escola/Minerais-Argilosos-1255.html;
 ALVES, N. A. C. (2006). Investigação por Inquérito. Açores-Portugal;
 ASSUNҪẴO, C. T. (1962). Petrologia das Lavas dos Libombos (subsídios para o seu
conhecimento). Lisboa;
 BENZANE, P. (1993). Série Terra e Àgua. Maputo
 BOLEO, José Oliveira. (1974). Esquema de Umbelúzi, Barragem dos Pequenos
Libombos. Maputo;
 BRANCO, P. de M. (2008). Dicionário de Mineralogia e Gemologia. São Paulo;

 BUSSAB, W. BOLFARINE, H. (2005). Elementos de amostragem. São Paulo: Edgar


Blucher;
 CARLOS, José. (2008). Fundamentos de pesquisa bibliográfica;
 CARVALHO, A. M. G. (1996). Geologia-Morfogénese e Sedimentogénese. Lisboa;
 CAVANE, E. LAXMIDAS, Z. MACUACUA, E. (2015). Métodos e Técnicas de
Investigação Socioeconómico. Moçambique – Maputo;
 CAVARARO, (2007). Manual Técnico de Pedologia. Rio de Janeiro;
 CRESWELL, J. W. (2010). Projecto de Pesquisa: Métodos qualitativos, quantitativos e
mistos. Porto Alegre;
 COSTA, J.B. (1973). Caracterização e Constituição do Solo. Lisboa;
 DINAGECA - Direcção Nacional de Geografia e Cadastro. (1997). Portal do Governo de
Moçambique. Maputo;
 DNG- Direcção Nacional de Geologia. (2001). Notícia explicativa. Maputo;
 FRANCISCO, A. Álvaro. LOPES, H. S. Manuel. MAGALHÃES, Nelson. (2010). O
Impacto da Política Agrária em Moçambique. ORAM, Moçambique;
 GIL, A.C. (2002). Como Elaborar Projectos De Pesquisa. São Paulo;

 GTK, Consertium. (2006). Notícia explicativa. Maputo;


51
Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

 INIA – Instituto Nacional de Investigação Agraria. (1985);


 JORGE, Arsénio. (2013). Impacto do Fundo de Investimento Local na Adopção de
Tecnologias Agrárias: Caso do Distrito de Boane. Moçambique - Maputo;
 KAISER, D. R. (2010). Fundamentos da Ciência do Solo. Rio de Janeiro;
 LAKATOS, E. M. (2003). Fundamentos de Metodologia Científica.5.Ed;
 LAPIDUS. (1987). Noções de geologia;
 LIMA, V. C. LIMA, M. R MELO, V. de F. (2007). O SOLO NO MEIO AMBIENTE:
Abordagem para Professores do Ensino Fundamental e Médio e Alunos do Ensino
Médio. Brasil;
 MAE (Ministério de Administração Estatal). (2014). Perfil do distrito de Boane. Maputo;
 MALUA. (2013). Solos aluvionares. Moçambique;
 MARTINS, M. E. (2006). Introdução a Inferência Estatística; Universidade de Lisboa;
 MEIRA, J. (2001). Argila, o que são, suas propriedades e classificação. Brasil;
 MELLO, F. (2007). Colecção de cores do solo;
 MENDONÇA, M. S. BRAUNS, M. do R. (2007). Manual Técnico de Pedologia. Rio de
Janeiro;
 MOSCA, João. (2014). Agricultura Familiar em Moçambique: Ideologias e Políticas.
Moçambique;

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

 MONTES, Ricardo. (2010). Diferenciação magmática. Brasil;


 NUNES, A. de Figueira. (1969). Carta geológica provisória de Moçambique: Serviços
de Geologia e Mina de Moçambique. Maputo;

 POCINHO, Margarida. (2002). Introdução á Estatística. Brasil;


 POPP, J.H. (2010). Geologia Geral. 6. Ed. Rio de Janeiro;
 SAMPAIO, Elsa P.M. (2006). Mineralogia do solo. Portugal;
 SITOE, Tomás. (2005). Agricultura Familiar em Moçambique: Estratégias de
Desenvolvimento Sustentável. Moçambique;
 SOIL CONSERVATION SERVICE. (1951). The earth and soil
 VASCONCELOS, Lopos . (2005).. Geologia Geral. Moçambique
 WICANDER R. MONROE, J.S. (2009). Fundamentos de Geologia. São Paulo;
 WITT, Hugo. (1946). Constituintes do solo.
 YASIKOV, Vladislav. (1968). Amostragem dos solos

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

ANEXO

Anexo 1. Tabela de leitura de temperatura no laboratório.

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

Anexo 2.itura de temperatura no laboratório.

Anexo 2.

1. Quais são as culturas desenvolvidas na Estação Agrária de Umbelùzi?

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Estudo do impacto dos minerais de argila na qualidade dos solos da EAU

2. A localização da Estação Agrária de Umbelùzi influencia na qualidade dos solos?


3. Quais são as características dos solos da região?
4. As culturas praticadas, são desenvolvidas por serem compatíveis com o solo?
5. Há quanto tempo a agricultura é praticada nessa área?
6. Pode-se afirmar que o solo é fértil?
7. Qual é o principal condicionante da fertilidade deste solo?
8. O que origina a formação deste tipo de solo?
9. Qual é o tipo de argila que mais predomina nestes solos?
10. Quais são as propriedades dos minerais-argila presentes na Estação Agrária de
Umbelùzi?
11. Quais são as vantagens que a utilização deste tipo de solo proporciona?
12. Quais são as desvantagens que a localização deste tipo de solo condiciona?
13. Porquê que estes solos apresentam risco de inundação?
14. Pode se pronunciar sobre a capacidade de retenção da água neste solo?
15. Quais os minerais mais predominantes na Estação Agrária de Umbelúzi?
16. Quais são as desvantagens destes minerais?
17. Tem informação acérrima por acrescentar em relação aos solos ou a produção agrícola?

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