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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE TETE

INSTITUTO TECNOLÓGICO VALE

Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas e Processamento Mineral

ANIVALDO IDELSON VICENTE CHEVANE

GEOMETALURGIA NO PLANEJAMENTO DE LAVRA DE CARVÃO-MOATIZE

Tete, MZ
2018
ANIVALDO IDELSON VICENTE CHEVANE

GEOMETALURGIA NO PLANEJAMENTO DE LAVRA DE CARVÃO-MOATIZE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Engenharia de Minas e Processamento
Mineral do Instituto Superior Politécnico de Tete e do
Instituto Tecnológico Vale, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Mestre em Engenharia
Mineral.

Área de Concentração: Lavra de Minas

Orientador: Prof. Dr. Carlos Enrique Arroyo Ortiz

Tete, MZ
2018

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C527g
Chevane, Anivaldo Idelson Vicente
Geometalurgia no planejamento de lavra de carvão-Moatize/ Anivaldo
Idelson Vicente Chevane - Ouro Preto, ITV, 2018.
114 f.: il.

Dissertação (mestrado) - Instituto Tecnológico Vale, 2018.


Orientador: Carlos Enrique Arroyo Ortiz, Dr.

1. Geometalurgia Carvão. 2. Variograma. 3. Depósitos de Carvão.


4. Qualidade do Carvão. I. Ortiz, Carlos Enrique Arroyo. II. Titulo.

CDD. 23. ed. 622.331

Bibliotecária responsável: Nisa Gonçalves – CRB 2 - 525

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iii | P a g e
Dedico esta obra a minha filha:
Lora Idelson Chevane

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus por contínua saúde e força.


A Vale Moçambique através do Instituto Tecnológico Vale pela concessão da bolsa.
Ao Prof. Dr. Carlos Arroyo que incansavelmente prestou o seu tempo e saber para dar norte a
tese.
A coordenação do curso de lavra, Prof. Dr. Vidal Tores por ter prestado o seu saber e
persistência para as diferentes fazes do curso.
A minha família pelo carinho, em especial a minha esposa Cândida Filipe.
A todos os colegas do curso e todos que direta ou indiretamente contribuíram para que mais um
objetivo fosse materializado.

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“O Executivo perguntou, qual era o segredo para
uma vida bem-sucedida.
- Faça todos os dias uma pessoa feliz – respondeu o
Mestre. E completou:
- Ainda que essa pessoa seja você mesmo.
Depois de um minuto, o Mestre voltou à carga:
- Principalmente se essa pessoa for você mesmo”.
(De Mello, Anthony)

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RESUMO

Este estudo foi proposto justificado pela necessidade buscar entendimento do fundamento
geológico deposicional e pós deposicional para a distribuição das variáveis de qualidade nos
carvões de Moatize com vista a permitir a correta previsão de recuperação de produto tendo em
conta o efeito temporal e local da vida do projeto. Os resultados obtidos mostram que o estudo
variográfico para além de permitir a categorizar os recursos tendo em conta as estruturas que
controlam tal variação e seu grau de incerteza, também permitiram definir identidades
geometalúrgicas distintas em termos de recuperação mássica. Uma análise de sensibilidade por
categoria e por domínio definida a partir da análise multivariada mostrou que para a escala de
curto prazo não é recomendável a aplicação da média de blocos de categorias e blocos distintos,
pois podem resultar em subestimativa ou superestimativa, inviabilizando assim a optimização.

Palavras chaves: Geometalurgia de carvão. Variograma. Depósitos de carvão de Moatize.


Qualidade de carvão de Moatize.

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ABSTRACT

This research has been proposed with objective of understanding the geological and post
geological influence of coal quality variability on Moatize coals to allow better prediction on
coal recovery thought the project life of mine. Based on the results obtained by the variogram
models it was possible not only correctly categorize the resources by considering the factors
that controls the variability and uncertainty associated, also allowed to define Geometallurgical
domains of coal recovery. Sensibility analysis integrating both categories and domains showed
that on short term perspective use of nominal recovery of blocks of different domains and
categories can results on overestimation or underestimation recovery impacting on recovery
optimization.

Key-words: Coal Geometallurgical. Variogram. Moatize coal deposits. Moatize coal quality.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Mapa de localização geográfica da área de estudo (destacado a azul), as principais


vias de acesso e rede de drenagem, modificado. ------------------------------------------------------ 3
Figura 2: Litoestratigrafia do Supergrupo do Karoo de Moçambique ----------------------------- 5
Figura 3: Geologia Regional ---------------------------------------------------------------------------- 7
Figura 4: Estratigrafia detalhada da Formação de Moatize na Área de concessão da Vale
Moçambique ---------------------------------------------------------------------------------------------- 10
Figura 5: Bloco diagrama idealizado da configuração estrutural, editado. --------------------- 12
Figura 6: Países exportadores e importadores no mundo de negócio de carvão 2008 e 2018
(milhões de toneladas) ----------------------------------------------------------------------------------- 14
Figura 7: Distribuição geográfica das reservas provadas, modificado e de idade da formação
de carvão, modificado. ---------------------------------------------------------------------------------- 15
Figura 8: Classificação do Carvão norma ASTM, adaptado. ------------------------------------- 16
Figura 9: Classificação do Carvão in seam. --------------------------------------------------------- 17
Figura 10: Classificação dos grupos macerais e sua reatividade --------------------------------- 19
Figura 11: Fluxo diagrama das principais atividades durante a fase de pesquisa -------------- 20
Figura 12: Classificação de Recursos e Reservas -------------------------------------------------- 21
Figura 13: Fases de evolução do conhecimento geológico --------------------------------------- 22
Figura 14: Composição básica do carvão e bases nas análises, editado. ------------------------ 23
Figura 15: Correlação de estimativa de CSR entre os modelos de Kobe àquela desenvolvida
para a camada Chipanga S2a. -------------------------------------------------------------------------- 28
Figura 16: Variação da densidade do carvão com o grau de incarbonização, editado. ------- 29
Figura 17: Curvas de lavabilidade de carvão-------------------------------------------------------- 30
Figura 18: Elementos de um semi-variograma e seus respetivos parâmetros ------------------ 35
Figura 19: Relação de pares de amostras para categorização de incertezas -------------------- 37
Figura 20: Categorização de nível de incerteza com base no alcance semi-variográfico ----- 38
Figura 21: Bloco ilustrativo da limitação da variância da krigagem na quantificação da
incerteza --------------------------------------------------------------------------------------------------- 38
Figura 22: Uso da regressão linear para estimativa de incertezas incerteza -------------------- 40
Figura 23: Índice de risco ------------------------------------------------------------------------------ 41
Figura 24: Efeito de falhamentos sobre os métodos tradicionais -------------------------------- 42
Figura 25: Integração de estudos geometalúrgicos em várias fases de mineração, adaptado. 44
Figura 26: Fases metodológicas seguidas na pesquisa com destaque a incorporação da
geoestatística para suportar os modelos geometalúrgicos. ----------------------------------------- 46
Figura 27: Tipo e fases adotadas para mineração em Moatize ----------------------------------- 48
Figura 28: Layout da infraestrutura Mina Carvão Moatize --------------------------------------- 48
Figura 29: Uso de geofísica para inferência estrutural--------------------------------------------- 49
Figura 30: Fluxo analítico de análise de amostras de carvão ------------------------------------- 51
Figura 31: Fluxograma simplificado de gestão da base de dados -------------------------------- 52
Figura 32: Mapa geológico da secção 2A ----------------------------------------------------------- 54
Figura 33: Fases do processo de modelagem geológica (cortesia Lino Jeque) ---------------- 55
Figura 34: Esboço de corte de um modelo de blocos secção 4 (cortesia Lino Jeque) -------- 55
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Figura 35: Tendência de variação de qualidade da camada Chipanga S2a --------------------- 56
Figura 36: Foto panorâmica de delimitação de horizontes em campo e com ajuda de geofísica
(cortesia Ernesto Sousa) --------------------------------------------------------------------------------- 57
Figura 37: Definição de produtos para diferentes horizontes com a relação da matéria volátil
e refletância das vitrinites ------------------------------------------------------------------------------- 58
Figura 38: Perfil de variação do grau de incarbonização com a profundidade ----------------- 59
Figura 39: Perfil de variação do grau de incarbonização para norte ----------------------------- 60
Figura 40: Demonstrativo do gradiente de inclinação real e aparente das camadas (cortesia
Lino Jeque) ------------------------------------------------------------------------------------------------ 61
Figura 41: Macro fluxograma de planta de processamento e carvão ---------------------------- 62
Figura 42: Fluxograma do circuito de meio denso ------------------------------------------------- 62
Figura 43: Fluxograma do circuito de espirais ------------------------------------------------------ 63
Figura 44: Fluxograma do circuito de flotação ----------------------------------------------------- 64
Figura 45: Rosin-rammler típico dos carvões de Moatize ---------------------------------------- 65
Figura 46: Distribuição das partículas por tamanho vs. avaliação de cinzas ------------------- 65
Figura 47: Curva de lavabilidade das frações grossas a finas ------------------------------------ 66
Figura 48: Curva de lavabilidade das frações ultrafinas ------------------------------------------- 67
Figura 49: Matriz de efeito principal para os indicadores metalúrgicos recuperação mássica e
cinza no produto. Notar efeito da recuperação (yield) acima da média e com cinza no produto
abaixo da média quando cinza na alimentação (feed ash) for menor 40%, densidade (RD)
menor que 1.7 g/cm3, matéria volátil (VM) acima de 19%, fósforo (phos) acima de 0.100% e
carbono fixo (FC) acima de 42%. --------------------------------------------------------------------- 70
Figura 50: Diagrama ternário de tipos de enxofre e classificação maceral --------------------- 71
Figura 51: Sumário estatístico das variáveis no estágio Raw ------------------------------------- 73
Figura 52: Estatística por horizonte no estágio raw ------------------------------------------------ 74
Figura 53: Sumário estatístico das variáveis no estágio clean coal ------------------------------ 75
Figura 54: Estatística por horizonte no estágio clean coal ---------------------------------------- 76
Figura 55: Correlação estatística da cinza com a densidade e yield ----------------------------- 77
Figura 56: Coeficientes de correlação entre as variáveis com o grade -------------------------- 77
Figura 57: Correlação do grau de incarbonização com a matéria volátil e yield -------------- 78
Figura 58: Coeficientes de correlação entre as variáveis com o grau de incarbonização ----- 79
Figura 59: Mapa de distribuição de amostras para a variável teor de cinza -------------------- 80
Figura 60: Mapa de distribuição de amostras para a variável refletância de vitrinite --------- 80
Figura 61: Histogramas comparativos entre os dados agrupados e desagrupados ------------- 81
Figura 62: Semi-variogramas omnidirecionais para teor de cinza por horizonte -------------- 83
Figura 63: Mapas variográficos de para teor de cinza nos horizontes UCB1, LCUB e LC456
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 83
Figura 64: Semi-variogramas ajustados para a variável teor de cinza (grade) para os
horizontes selecionados --------------------------------------------------------------------------------- 86
Figura 65: Semi-variogramas omnidirecionais do grau de incarbonização por horizonte ---- 87
Figura 66: Mapas variográficos de para grau de incarbonização nos horizontes UCT, UCB1,
UCB3, MCC e LCUB ----------------------------------------------------------------------------------- 88
Figura 67: Semi-variogramas ajustados para a variável refletância (grau de incarbonização)

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por horizonte ---------------------------------------------------------------------------------------------- 90
Figura 68: Semi-variogramas omnidirecionais do fósforo por horizonte ----------------------- 90
Figura 69: Mapas variográficos de para teor de fósforo nos horizontes UCT, LCUT e LCUB
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 91
Figura 70: Semi-variogramas ajustados para a variável fósforo por horizonte ---------------- 92
Figura 71: Função distribuição acumulada dos erros dos modelos variográficos usados ---- 93
Figura 72: Categorizção de Recursos ---------------------------------------------------------------- 95
Figura 73: Base para distinção do carvão fresco das subcategorias de carvão afectado pelos
corpos intrusivos: TC2_A: carvão transicional levemente afectado, TC2_B: carvão
transicional moderadamente afectado e BC: carvão significativamente afectado. ------------- 96
Figura 74: Mapas de variação de raw ash por ply. Nota: os mapas não tem a mesma escala. 98
Figura 75: Mapas de variação de recuperação por ply. Nota: os mapas não tem a mesma
escala de variação ---------------------------------------------------------------------------------------- 99
Figura 76:Validação estatística dos dados estimados sobre os observados com recurso a
função de distribuição acumulada e correlação. ---------------------------------------------------- 100
Figura 77: Domínios geometalúrgicos resultantes da análise multivariada destacando os
domínios de alta recuperação, recuperação moderada e baixa recuperação baixa ------------- 102
Figura 78: Estatísticas dos parâmetros de cinza, reflectância, fósoro e recuperação teórica.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 103
Figura 79: Definição de domínios com a profundidade por domínio geometalúrgico espacial
------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 104
Figura 80: Curvas de análise de sensibilidade de recuperação cam a mudança de categoria e
domínio geometalúrgico. ------------------------------------------------------------------------------- 105

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Classificação dos constituintes do Carvão segundo Stopes .................................... 18


Tabela 2:Estatística da base de dados utilizada ....................................................................... 53
Tabela 3: Tabela de parâmetros usados para o semi-variogramas omnidirecionais e mapas
variográficos para teor de cinza ................................................................................................ 84
Tabela 4: Parâmetros para semi-variogramas experimentais nas direções de maior
continuidade e de menor continuidade para teor de cinza ........................................................ 84
Tabela 5: Parâmetros para semi-variogramas ajustados por horizonte de cinza ..................... 85
Tabela 6: Parâmetros para semi-variogramas experimentais nas direções de maior
continuidade e de menor continuidade para reflectância.......................................................... 88
Tabela 7: Parâmetros para semi-variogramas ajustados por horizonte de reflectância ........... 89
Tabela 8: Parâmetros para semi-variogramas experimentais nas direções de maior
continuidade e de menor continuidade para fósforo ................................................................. 91
Tabela 9: Parâmetros para semi-variogramas ajustados por horizonte de fósforo .................. 92
Tabela 10: Tabela de categoria de Recursos (01_BNL= bnl1+bnl2a+bnl3a;
02_UCS=uct+ucb1+ucb2; 03_MCS=ucb3+mc+lcut; 04_LCS=lcub+lc456) .......................... 94
Tabela 11: Estatística descritiva por categoria de recursos ..................................................... 95
Tabela 12: Tabela de detalhamento de recursos por categoria e por nível de quão afetado por
intrusões .................................................................................................................................... 97

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

adb – Termo em inglês que significa base seco ao ar


AED – Análise exploratória dos dados
ANOVA – Termo em inglês que significa análise de variância
ARD – Termo em inglês que significa densidade relativa aparente
ASTM – Termo em inglês que significa sociedade americana de testagem e materiais
BAR – Termo em inglês que significa índice de basicidade
BLUE – Termo em inglês que significa melhor estimador linear sem viés
BNL – Termo em inglês que significa camada bananeiras da base
CRI – Termo em inglês que significa índice de resistência à reação ao dióxido carbono
CSN – Termo em inglês que significa índice de intumescimento no cadinho
CSR – Termo em inglês que significa resistência de coque após reação com dióxido de carbono
CVRD – Companhia do Vale de Rio Doce, atual Vale
DMC – Termo em inglês que significa ciclones de meio denso
EIA – Termo em inglês que significa Administração de informação sobre energias
FDA – Função distribuição acumulada
FEL – Termo em inglês que significa front end loading
HC-O – Compostos de hidrocarbonetos
HGI – Termo em inglês que significa índice de moabilidade
HQ – Termo em inglês que significa furos de diâmetro menor com recuperação total
ICCP – Termo em inglês que significa comitê internacional de carvão e petrologia orgânica
ICVL – International Coal Joint Venture
IPA – Termo em inglês que significa Independent Project Analysis
ISO – Termo em inglês que significa organização internacional de normalização
JORC – Termo em inglês que significa comitê de associados de reservas minerais
LC – Termo em inglês que significa Chipanga da base
LCS – termo em inglês que significa horizonte Chipanga da base
LD – Termo em inglês que significa furo de largo diâmetro
MC – Termo em inglês que significa Chipanga intermédio
MCS – Termo em inglês que significa horizonte Chipanga intermédio
MF – Termo em inglês que significa fluidez máxima
MV – Termo em inglês que significa matéria volátil
NW – Termo em inglês que significa noroeste
NWE – Termo em inglês que significa noroeste a este
RD – Termo em inglês que significa densidade específica
ROV – Termo em inglês que significa refletância máxima das vitrinites
SAMREC – Termo em inglês que significa Comitê de recursos minerais da África do Sul
SE – Termo em inglês que significa sudeste
SSE – Termo em inglês que significa sudeste a este
SW – Termo em inglês que significa sudoeste
TRM – Termo em inglês que significa total de macerais reativos
UCB – Termo em inglês que significa na base de Chipanga superior
UCS – Termo em inglês que significa horizonte Chipanga do topo
UCT – Termo em inglês que significa topo de Chipanga superior
ZCIT – Zona de convergência intertropical

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1


1.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
1.2 PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................................................ 1
1.3 OBJECTIVOS DA PESQUISA...................................................................................... 2
1.3.1 Geral ........................................................................................................................... 2
1.3.2 Específicos ................................................................................................................... 2
1.4 JUSTIFICATIVAS E RELEVÂNCIA ............................................................................ 2
1.5 GENERALIDADES ...................................................................................................... 2
1.5.1 Localização geográfica e acessos .................................................................................. 2
1.5.2 Hidrografia, Clima e Vegetação................................................................................... 4
1.5.3 Ocorrências de Carvão em Moçambique ..................................................................... 5
1.5.4 Geologia da Região ...................................................................................................... 5
1.5.4.1 Pré-câmbrico ................................................................................................................ 8
a. Suíte de Tete (P2T) ....................................................................................................... 8
b. Granitos de Chacocoma (P2Cgr) .................................................................................... 8
c. Granitos de Mungári (P2MG) ........................................................................................ 8
1.5.4.2 Supergrupo do Karoo .................................................................................................... 9
a. Formação de Moatize (PeM) .......................................................................................... 9
b. Formação de Matinde (PeT) ......................................................................................... 10
c. Formação de Cádzi (PeC) ............................................................................................ 11
d. Diques máficos (JrRmd) .............................................................................................. 11
1.5.4.3 Quaternário ................................................................................................................. 11
1.5.4.4 Esboço Estrutural ........................................................................................................ 11
CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................... 13
2.1 CARVÃO MINERAL ................................................................................................. 13
2.1.1 Definição ................................................................................................................... 13
2.1.2 Gênese, Classificação e Constituição.......................................................................... 15
2.1.3 Pesquisa e obtenção de dados nos depósitos de Carvão .............................................. 19
2.1.4 Classificação de Recursos e Reservas em depósitos de carvão.................................... 21
2.1.5 Caracterização de Carvão ......................................................................................... 22
2.1.6 Propriedades Químicas de Carvão ............................................................................ 24
2.1.6.1 Análises Imediatas ...................................................................................................... 24
2.1.6.2 Análises elementares e análises de cinzas...................................................................... 26
2.1.7 Propriedades Físicas de Carvão................................................................................. 28

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2.1.7.1 Dureza, densidade, granulometria ................................................................................. 28
2.1.8 Variação da qualidade numa camada carvão ............................................................ 32
2.2 MODELAGEM GEOESTATÍSTICA ........................................................................... 33
2.2.1 Modelagem variográfica ............................................................................................ 34
2.2.2 Estimativa de incertezas ............................................................................................ 36
2.2.2.1 Densidade amostral dentro do alcance variográfico........................................................ 37
2.2.2.2 Alcance variográfico ................................................................................................... 38
2.2.2.3 Variância da Krigagem e da Interpolação ...................................................................... 38
2.2.2.4 Erro da Krigagem da média ......................................................................................... 39
2.2.2.5 Tangente do ângulo da regressão linear ......................................................................... 39
2.2.2.6 Eficiência do bloco ...................................................................................................... 41
2.2.2.7 Índice de risco............................................................................................................. 41
2.3 DEFINIÇÃO DE DOMÍNIOS ..................................................................................... 42
2.4 GEOMETALURGIA DO CARVÃO ............................................................................ 43
CAPÍTULO 3 – ESTUDO DE CASO ................................................................................... 45
3.1 METODOLOGIA ....................................................................................................... 45
3.2 MINA CARVÃO MOATIZE ....................................................................................... 47
3.2.1 Sondagem Geológica e aquisição de dados ................................................................. 49
3.2.1.1 Banco de dados ........................................................................................................... 51
3.2.2 Geologia da Secção 2a camada Chipanga .................................................................. 53
3.2.3 Modelagem Geológica ............................................................................................... 54
3.2.4 Estudos analíticos Camada Chipanga Secção 2a........................................................ 55
3.2.5 Efeitos genéticos e pós-genéticos sobre camada Chipanga ......................................... 58
3.2.6 Planta de processamento ........................................................................................... 61
3.2.6.1 Circuito de meio denso ................................................................................................ 62
3.2.6.2 Espirais ...................................................................................................................... 63
3.2.6.3 Flotação...................................................................................................................... 64
3.2.7 Comportamento geometalúrgico dos carvões de Moatize .......................................... 64
3.2.7.1 Granulometria ............................................................................................................. 64
3.2.7.2 Ensaios densimétricos por fração granulométrica........................................................... 66
3.2.7.3 Flotação...................................................................................................................... 67
3.3 DEFINIÇÃO, DETERMINAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS
GEOMETALÚRGICAS ......................................................................................................... 68
3.4 ESTATÍSTICA DESCRITIVA E EXPLORATÓRIA DAS VARIÁVEIS
GEOMETALÚRGICAS ......................................................................................................... 72
3.4.1 Análise exploratória e descrição univariada das variáveis geometalúrgicas ............... 72
3.4.2 Descrição bivariada das variáveis geometalúrgicas ................................................... 76
3.4.3 Análise exploratória de padrão de amostragem ......................................................... 80

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3.4.4 Análise exploratória de padrão espacial .................................................................... 82
3.4.4.1 Variografia do grade por horizonte ............................................................................... 82
3.4.4.2 Variografia do grau de incarbonização por horizonte ..................................................... 86
3.4.4.3 Variografia do fósforo por horizonte ............................................................................. 90
3.4.5 Validação cruzada ..................................................................................................... 93
3.4.6 Estimativa das variáveis geometalúrgicas .................................................................. 93
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSÕES.................................................................. 94
4.1 CATEGORIZAÇÃO DE RECURSOS E MAPAS DE ESTIMATIVA DAS VARIÁVEIS
GEOMETALÚRGICAS ......................................................................................................... 94
4.1.1 Detalhamento por categoria de recursos .................................................................... 96
4.2 MAPAS DE ESTIMATIVA DE VARIÁVEIS GEOMETALÚRGICAS ......................... 98
4.2.1 Raw ash e Recuperação ............................................................................................. 98
4.2.2 Validação das estimativas ........................................................................................ 100
4.3 DOMÍNIOS GEOMETALÚRGICOS ......................................................................... 101
4.3.1 Resultado das estatísticas por domínio .................................................................... 103
4.3.2 Análise de sensibilidade da variável recuperação .................................................... 104
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E SUGESTOES .............................................................. 106
5.1 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 106
5.2 TRABALHOS FUTUROS......................................................................................... 107
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 108

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CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO

1.1 INTRODUÇÃO

A otimização do processo de predição dos teores e das varáveis metalúrgicas depende


muito do conhecimento da natureza geológica e das características intrínsecas do minério do
carvão. A combinação de informações que impactam o seu processamento, a geologia
integrando os conceitos de regionalização sustenta modelos espaciais que contemplam o nível
de incerteza de estimativa associada.
Essa sensibilidade permite uma gestão otimizada em toda cadeia ao longo da vida do
projeto. Lembrando que a geologia do depósito nunca muda, mas sim o nosso entendimento
sobre o depósito.
Os carvões de Moatize devido a sua natureza geológica genética e pós genética, são dos
mais complexos conhecidos do mundo.
Tendo em vista o carácter teórico e prático para a otimização de recursos foi proposto a
avaliação de indicadores metalúrgicos que podem ser categorizados com conhecimento
geológico na mina com vista a produzirem-se domínios e análises de sensibilidades por domínio
com o fim de tornar o processo de previsibilidade do planeamento de curto prazo mais realístico
e otimizado.

1.2 PROBLEMATIZAÇÃO

A previsibilidade da recuperação, ou seja, da curva de produção realística parece ser um


dilema para as minas de carvão, principalmente nos planejamentos de curto prazo. Moatize não
é uma exceção. Este dilema surge por não conhecimento profundo sobre a variabilidade dos
indicadores metalúrgicos 1.3integrando premissas geológicas que determinam tal variabilidade
para a correta categorização e definição de domínios dos depósitos.
O uso de valores médios para definição de orçamentos sem conhecimento
temporal/local desses pressupostos pode a curto prazo tornar os projetos insustentáveis por falta
do conhecimento de incertezas associadas às estimativas bem como das variações regionais do
depósito, para além de injetar fundos para o processo de sondagem incompatíveis à variação
natural do depósito. É por isso fundamental o entendimento integral da distribuição dos teores
e as incertezas associadas às estimativas como forma de garantir previsibilidade e optimização.

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1.3 OBJECTIVOS DA PESQUISA

A presente pesquisa foi proposta tendo em conta os seguintes objetivos:

1.3.1 Geral

Definir domínios geometalúrgicos na Mina de carvão Moatize S2A levando em


consideração os parâmetros operacionais nos processos de lavra e beneficiamento do carvão.

1.3.2 Específicos

• Definir, determinar e quantificar as variáveis críticas para o processo de beneficiamento;


• Estudar a variografia das variáveis críticas para o processo de beneficiamento;
• Definir as zonas de maior índice risco por incertezas de estimativas;
• Definir domínios e modelagem espacial geometalúrgica.

1.4 JUSTIFICATIVAS E RELEVÂNCIA

A relevância deste estudo tem perspectiva acadêmico-teórico e prática. A perspectiva


teórica acadêmica visa buscar entendimento do fundamento geológico deposicional e pós
deposicional para a distribuição das variáveis de qualidade nos carvões de Moatize, caso
específico da camada Chipanga S2A, enquanto a perspectiva prática visa aplicar esse
conhecimento para a correta previsão de recuperação de produto tendo em conta o efeito
temporal e local da vida do projeto.

1.5 GENERALIDADES

1.5.1 Localização geográfica e acessos

O projeto do carvão Moatize situa se a noroeste da República de Moçambique a cerca


de 1100 km da capital Maputo. Está situado de forma estratégica em relação aos principais
portos do centro e norte de Moçambique, aproximadamente a 600 km do porto de Beira e 1000
Km do porto de Nacala respectivamente.
A bacia sedimentar que acomoda os depósitos de carvão na área da concessão da Vale

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Moçambique, devido a sua natureza estrutural e geológica, é subdividida em sub-bacias
denominadas secções (S1, S2A, S2B, S2C, S2D, S3, S4, S5, S6 e S. Central).
A área do projeto localiza se dentro da concessão Vale Moçambique a escassos
quilómetros da vila de Moatize e cerca de 30 km da cidade de Tete. A área está integrada numa
expansão de desenvolvimento de uma segunda cava no triângulo de cavas da S2A, a atual mina
da Vale, à cerca de 9 km e a cerca de 7 km da mina de International Coal Ventures Limited
(ICVL), antes comprada pela internacional Rio Tinto à Riversdale no povoado de Benga.
Pode se chegar a área seguindo a estrada que dá acesso ao complexo mineiro da Vale
Moçambique através da estrada nacional número 7 e seguindo a estrada da Vale Moçambique
após a ponte sobre o rio Rovúbuè. Alternativamente pode se aceder usando a via que vai a vila
de Moatize passando pela ponte sobre o rio Moatize, figura 1.

Figura 1: Mapa de localização geográfica da área de estudo (destacado a azul), as principais vias de acesso e
rede de drenagem, modificado.

LOCALIZAÇÃO E ACESSOS

A outra infraestrutura de destaque é o Aeródromo de Chingodzi que dista cerca de 15


Km da cidade de Tete e cerca de 20 Km do complexo da Mina de Carvão Vale Moçambique.
3|Page
Para além deste, um dos tráfegos rodoviários mais importante do país é dependente da histórica
ponte Samora Machel e a recém-construída ponte Cassuende, ambas sobre o rio Zambeze,
permitindo a movimentação de pessoas e bens, galvanizando a economia interna, bem como,
dos países vizinhos do interland (Zâmbia, Malawi e Zimbabwe).

1.5.2 Hidrografia, Clima e Vegetação

A área de estudo está inserida na Bacia Hidrográfica do Baixo Zambeze, correspondente


a um troço do Rio Zambeze de 650 km, desde a confluência do Rio Luângwa ao Oceano Índico
que desagua em forma de uma larga foz correndo no sentido NW – SE, Jessen & Silva (2008).
A rede fluvial regional é monitorada pelo Rio Zambeze que na sua margem direita aflui
o Rio Rovúbuè, a principal fonte de água em Moatize, correndo no sentido NE – SW (quase
perpendicular ao Rio Zambeze), que por sua vez na sua margem esquerda aflui o Rio Moatize
e a direita, o Rio Morrongoze, figura 1. Os dois últimos são leitos efémeros ocasionalmente
com água semi-corrente. Mais a sul do Rio Zambeze, aflui o rio Muradzi de forma quase
paralelo ao rio Rovúbuè devido à natureza geomorfológica da região.
O Clima é no geral, do tipo Tropical Seco com aumento de precipitações nos meses de
dezembro a março, influenciado pelo movimento da Zona de Convergência Intertropical
(ZCIT), contudo, considera-se muito interior para que esta influência seja pronunciável. Os
distributários da margem esquerda do rio Zambeze contribuem com maior volume de água que
os distributários da margem direita. As diferenças de volumes de água entre as duas margens
devem se a diferenças relativas de clima.
Na margem direita, o clima predominante é tropical seco com temperaturas na ordem
de 35º C e precipitação máxima de 180 mm; a margem esquerda é predominado pelo clima
tropical húmido onde a precipitação está na ordem de 360 mm Portal de Governo da Província
de Tete (2015).
A Vegetação natural da região é do tipo Tropical Seco de montanhas, com
predominância de vegetação rasteira de gramíneas e arbustos com árvores dispersas de porte
médios, caracteristicamente resistentes a estiagens (seleção natural). A elevação média na área
de concessão é de cerca de 140 metros com picos que pode atingir 300 metros.

4|Page
1.5.3 Ocorrências de Carvão em Moçambique

As principais ocorrências de carvão em Moçambique estão associadas ao evento Karoo


que se representa em dois principais episódios; as formações sedimentares onde há ocorrências
de carvão dos períodos carbonífero superior a Jurássico inferior e as formações ígneas dos
períodos correspondentes a Karoo superior a Jurássico inferior. Segundo Paulino (2009), as
formações sedimentares são as mais antigas.
O Karoo sedimentar distribui se geograficamente nas províncias centrais (Manica e
Tete) e norte (Niassa) de Moçambique. A parte ígnea ocorre nas províncias de Maputo e Gaza
a sul, Sofala, Manica e Tete, no centro e Nampula no norte de Moçambique, figura 2.
O Karoo de Tete destaca se ser o mais importante, principalmente a Formação de
Moatize por possuir grandes reservas com carvão de grande potencial metalúrgico e térmico.

Figura 2: Lito estratigrafia do Supergrupo do Karoo de Moçambique

Fonte: Adaptado Paulino (2009) apud Vasconcelos (2009).

1.5.4 Geologia da Região

A área de estudo sob ponto de vista tectónico faz parte do graben de Moatize inserida
no graben do Zambezi. Sob ponto de vista estratigráfico, insere se no Grupo do Karoo Inferior,
Formação de Moatize (PeM) de idade Pérmica Inferior a Médio correspondente ao Grupo Ecca
5|Page
(PeE) do Karoo tipo na África do Sul, GTK CONSORTIUM ( 2006).
Os sedimentos deste graben são continentais e foram depositados sob forte influência
tectónica durante a estabilização da distensão do grande continente Gondwana numa Bacia
sedimentar do tipo graben orientado no sentido NW – SE, assentando discordantemente às
formações Pré-câmbricas e coberto ocasionalmente por depósitos do quaternário, figura 3.
A discordância do Karoo (Fanerozóico) sobre o Pré-câmbrico é marcado por um hiatos1
deposicional nas sub-eras Câmbrico a Devónico, o que faz com que, depósitos sedimentares do
Carbonífero superior e Pérmico assentem-se deposicionalmente às formações ígneas do Meso
e Proterózoico. O período de hiatos é subentendido como contemporânea à formação do Graben
a quando da distensão do continente Gondwana. A deposição e conservação das camadas de
carvão em ambientes do sistema lacustrino parecem estarem associados a um abrandamento da
atividade tectónica durante o Pérmico inferior a médio. Este abrandamento foi sucedido por
reativação tectónica que resultou em deposição de sedimentos grosseiros de sistemas fluviais
durante o Pérmico superior e na fase marginal do início do Triássico. Estudos recentes de
palinologia feitos por Pereira et al. (2014) confirmam também a forte influência climática
durante a deposição desses sedimentos; desde os climas glaciários para a Formação de Vúzi
que é a base de Karoo, passando por climas temperados húmidos na fase intermédia a quando
a deposição da Formação de Moatize e fechando o evento Karoo com climas quentes e áridos
nas Formações de Matinde e Cádzi.
Mapeamento e descrição de fácies em campo feitos por Chevane (2012) também
confirmam esta constatação para Matinde que é evidenciado pela presença frequente de material
carbonático, arcose, anéis de liesegang e ausência total de material orgânico no topo da
Formação. Também há nas formações do topo, contrariamente às formações da base, arenitos
com tons avermelhados, que segundo Selley (1996) sugerem processos diagenéticos acima do
nível freático que para Reading (1996) devem se aos climas quentes e semiáridas. As variações
climáticas e tectónicas teriam efeito na formação e qualidade do carvão.

1 No estudo litoestratigráfico entende se por hiatos a ausência de registo estratigráfico (deposição) em um determinado
tempo geológico.

6|Page
Figura 3: Geologia Regional

Fonte: Adaptado GTK CONSORTIUM (2006). 7|Page


1.5.4.1 Pré-câmbrico

As formações Pré-câmbricas que bordejam e ou são o sôco cristalino do Karoo da área


de estudo fazem parte do Terreno2 do Gondwana Sul, basicamente das Eras Meso a
Neoproterozóico e constituem a fonte importante de proveniência dos sedimentos clásticos
encontrados nas camadas dentro da área em estudo GTK CONSORTIUM (2006).

a. Suíte de Tete (P2T)

As rochas da Suíte3 de Tete constituem, maioritariamente, o sôco cristalino dos


sedimentos depositados durante o evento4 Karoo na Bacia Carbonífera de Moatize GTK
CONSORTIUM (2006); Vasconcelos (1995) e foi atribuída a idade de 1047±29 Ma
CONSORTIUM (2006), constituída basicamente por gabros e leuco-gabros, com anortositos
subordinados e por piroxenites, rochas ricas em ferro e titânio.

b. Granitos de Chacocoma (P2Cgr)

O soco granitoide da Suíte alóctone de Tete é atribuído ao Granito de Chacocoma,


composto basicamente por granitoides de grão grosseiro de cor acinzentada com grão porfirítico
de K-feldspato, associado a rochas gabróicas onde na estrutura subjacente com a Suíte de Tete
os granitoides foram deformados em milonitos e até filonitos em alguns locais CONSORTIUM
(2006).

c. Granitos de Mungári (P2MG)

Os Granitos de Mungári enquadram-se no Complexo5 de Báruè e são compostos por


rochas graníticas ricas em K-feldspato, granatíferas de grão grosseiro, textura equigranular a
raramente porfirítico, intercalados por metassedimentos psamíticos CONSORTIUM (2006).

2
Conjunto de rochas delineadas por uma determinada feição estrutural.
3
Associação de rochas intrusivas ou metamórficas de alto grau, formadas apenas por um tipo de rochas.
4
Sedimentação sincrónica de camadas em extensas áreas.
5 Reunião de rochas de diversos tipos (sedimentares, ígneas ou metamórficas).

8|Page
1.5.4.2 Supergrupo do Karoo

As Formações do Supergrupo6 Karoo na Bacia de Moatize são compostas por


sedimentos detríticos de origem continental basicamente de arenitos, conglomerados, siltitos,
argilitos, xistos argilosos e camadas de carvão. São mapeáveis também e rochas intrusivas
(diques doleríticos) ligadas ao auge do evento Karoo Real (1966). As rochas sedimentares
assentam em discordâncias sobre as rochas do Pré-câmbrico.

a. Formação de Moatize (PeM)

A Formação de Moatize faz parte do Grupo do Karoo Inferior, assenta por


descontinuidade estratigráfica sobre a Formação de Vúzi7 ou constitui cobertura do sôco
cristalino do Pré-câmbrico. É basicamente constituída por uma sequência areno-xisto-
carbonosa, contêm oito (8) camadas de carvão de alto valor metalúrgico intercalado por rochas
pelíticas e areníticas,
A coluna estratigráfica desta Formação coincide parcialmente àquela encontrada na
secção 2A, figura 4 com exceção da parte das camadas do topo que foram erodidas. As fácies
desta Formação evoluem lateralmente a partir de sistema fluvial a lacustrino depositadas em
condições de clima temperado frio. Esta equivale ao Grupo Ecca do Karoo Tipo 8 do Pérmico
Inferior Real (1966). A importação da estratigrafia de Karoo da África do Sul tem sido sombria,
uma vez Pereira et al. (2014), sustentam mais afinidade palinológica do Karoo de Moçambique
àquela observada no Madagáscar.
A natureza geológico-deposicional e estrutural dos sedimentos principalmente na área
de concessão da Vale Moçambique é distinta, por via disso; um detalhamento geológico-
estrutural permitiu definir domínios estruturais denominadas secções9. As camadas de carvão
foram subdivididas em subcamadas com base na sua correlação consistente ao longo de todas
secções da sua assinatura geofísica.

6
Reunião de grupos com características lito estratigráficas inter-relacionadas.
7
Formação da base de deposição do evento Karoo na Bacia Carbonífera de Moatize constituído por sedimentos
fluvioglaciários.
8
Karoo de referência que aflora na África do Sul com sequências estratigráficas completas.
9
Sub bacia sedimentar que se distingue estruturalmente das áreas à volta e geralmente delimitada por falhas
9|Page
Figura 4: Estratigrafia detalhada da Formação de Moatize na Área de concessão da Vale Moçambique

b. Formação de Matinde (PeT)

A Formação de Matinde é constituinte do Grupo do Karoo Inferior e sobrepõe-se a


Formação de Moatize, composta basicamente por argilitos carbonosos, argilitos cinzentos,
siltitos laminares, siltitos maciços, arenitos finos ferruginosos e micáceos, arenitos arcósicos
conglomeráticos, caliche, com troncos silicificados dispersos e pequenas camadas de carvão,
com pouco valor económico Vasconcelos et al. (2009).
Os troncos silicificados sugerem origem autóctone da matéria vegetal que deu origem a
depósitos de carvão.
As suas fácies evoluem lateralmente a partir de sistema fluvial, deltaico a lacustrino, em
clima de transição húmido a intensamente seco e conjuntamente a Formação de Moatize
equivale ao Grupo Ecca do Karoo tipo de idade Pérmico Médio à Superior.

10 | P a g e
c. Formação de Cádzi (PeC)

A Formação10 de Cádzi faz parte do Grupo11 Karoo Superior, basicamente constituída


por arenitos arcósicos conglomeráticos imaturos de estratificação cruzada planar com tons
avermelhados a acastanhados em camadas sub-horizontais.

d. Diques máficos (JrRmd)

Os diques máficos pertencem a Suíte de Rukore, basicamente de doleritos em forma de


diques de orientação geral NNW-SSE, e são interpretados como coqueficadores naturais das
camadas de carvão Real (1966) e enceram a deposição do evento Karoo.

1.5.4.3 Quaternário

As formações do Quaternário consistem fundamentalmente em depósitos aluviais


dispostas ao longo das planícies dos rios, terraços fluviais que se acredita estarem associadas a
antiga planície de inundação do Rio Zambeze GTK CONSORTIUM (2006) e depósitos de
coluvião que se distendem ao longo das vertentes das montanhas.

1.5.4.4 Esboço Estrutural

O arranjo estrutural na área de estudo é complexo. CVRD (2006), desenvolveu um


modelo estrutural que considerou de plausível na base de integração de furos de sondagem,
mapeamento geomagnético e de superfície, mapas de antigas minas subterrâneas da Carbomoc,
imagens satélites, levantamentos topográficos, bulk samples e etc.
Esse estudo com integração de informação da GTK CONSORTIUM (2006), culminou com o
desenho esquemático do arranjo estrutural detalhado na região da concessão da Vale,
concretamente na área de estudo, figura 5.

10
Unidade lito estratigráfica fundamental constituída por um corpo de relativa uniformidade litológica, contínuo e
mapeável em subsuperfície e ou em superfície e fisicamente distinta das formações adjacentes, sobrepostas e subpostas.
11
Associação de duas ou mais Formações com feições ou características comuns.
11 | P a g e
Figura 5: Bloco diagrama idealizado da configuração estrutural, editado.

Fonte: CVRD (2006).

12 | P a g e
CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 CARVÃO MINERAL

2.1.1 Definição

Diferentes bibliografias convergem na definição de carvão como uma rocha sedimentar


orgânico combustível que resulta de acumulação de matéria orgânica nas suas diversas formas
e consequente soterramento progressivo por outros extratos rochosos e consequente
transformação a partir de um processo denominado por incarbonização12. Contudo a definição
mais completa é proposta pela ICCP (1963), pois ao invés de classifica-lo necessariamente
como uma rocha, apenas considera-o como tal ICCP (1963).
Rocha é por definição um agregado de minerais. No lugar do mineral, a composição
essencial do carvão são macerais, sendo os minerais de natureza variada, componentes de
rochas que são heterocomponentes impúrias. Os minerais com exceção de mineralóides (i.e., o
mercúrio), possuem estrutura e composição bem definidas, o que não acontece com os macerais.
Assim na definição mais razoável segundo ICCP (1963), carvão mineral seria “[...]
considerada uma rocha sedimentar combustível, formada a partir de restos vegetais em vários
estágios de preservação por processos que envolvem a acumulação e subsequente compacção
do material soterrado em bacias sedimentares”.
Para além da existência de material orgânico a depositar, a sua preservação e
transformação exigem complexas e harmonizadas condições, desde existência de ambiente
subaquáticos e equilíbrio tectónico. Ambientes subaquáticos permitem que haja transformações
físico-químicas necessárias com participação mínima de oxigênio, o principal agente de
degradação da matéria orgânica.
Essas condições parecem ter sido criadas segundo teorias e pressupostos geológicos, no
período Carbonífero no hemisfério norte e Pérmico no hemisfério sul. As grandes florestas
temperadas nesse período no hemisfério sul, teriam coincidido com condições tectónicas de
formação de bacias interiores do tipo grabens e meio-grabens continentais a quando a distensão
do continente Gondwana.
Esses grabens com água na forma de lagos e ritmos de subsidência favoráveis

12
Grau de concentração de Carbono com a diminuição progressiva de Hidrogénio e Oxigênio devido ao efeito de
temperatura e pressão com o tempo.
13 | P a g e
permitiram a acumulação e preservação de grandes espessuras de turfas e sedimentos límicos
que com o soterramento progressivo e consequente atuação da temperatura e pressão com o
tempo conduziu às transformações químicas e físicas para diferentes estágios de incarbonização
do carvão.
O relatório da BP (2016) na sua última atualização realizada em 2015, descreve que as
maiores reservas de carvão na categoria de provadas distribuem se geograficamente na América
do Norte, Ásia (Austrália inclusa) e Europa, figura 6. Existem também a participação
significativa da América do Sul e África. A África de maneira particular faz parte das regiões
com alto potencial pois, é das regiões menos exploradas. Segundo EIA (2016), a Indonésia e a
Austrália fazem parte dos países mais exportadores enquanto que a China e Estados unidos são
os países mais importadores, figura 6.

Figura 6: Países exportadores e importadores no mundo de negócio de carvão 2008 e 2018 (milhões de
toneladas)

Fonte: EIA (2016).

OS depósitos de carvão em termos do tempo da sua formação, segundo Orem &


Finkelman (2003) datam na sua maioria nos períodos do Carbonífero superior a Pérmico
superior, não obstante as residuais reportados no Devónico e Triássico, figura 7.
A nova era de formação de carvão estaria associada a Cretáceo e Terciário, mas sendo
carvões com baixo potencial metalúrgico ocasionalmente com alto poder metalúrgico devido a
14 | P a g e
coqueificação pós genéticos por intrusões ígneas no caso do evento Karoo.

Figura 7: Distribuição geográfica das reservas provadas, modificado e de idade da formação de carvão,
modificado.

Fonte: Orem & Finkelman (2003); BP (2016).

2.1.2 Gênese, Classificação e Constituição

A matéria orgânica uma vez acumulada e soterrada, passa por diversos processos
diagenéticos que lhe conferem o seu grau de incarbonização. A sua natureza composicional
enquadra se em hidrocarbonetos (HC-O), com cerca de, segundo Nalbandian & Dong (2013)
50% a 98% de carbono, 3% a 13% de hidrogénio, oxigênio e menores quantidades de
nitrogénio. Contêm também água, e graus de minerais inorgânicos que permanecem como
resíduos durante a combustão do carvão conhecidos como cinzas.
A matéria inorgânica é tida como impúria e representa o grade do carvão, enquanto o
estágio de maturação do material orgânico representa o grau de incarbonização do carvão.
Os agentes de incarbonização com a ação de soterramento progressivo são a temperatura
que é catalisador de reações químicas, a pressão que agiliza a libertação da água e gases por
compacção e o tempo de exposição desses fatores no pacote sedimentar.
Alguns autores como Finkelman, et al. (1991) e Thomas (2013), sustentam que pressão
entra na resultante de temperatura e a sua significância de forma isolada é relevante apenas nos
primeiros estágios de incarbonização onde ocorre necessariamente a compacção e consequente
redução de poros e da humidade.
15 | P a g e
Durante o processo de exposição à temperatura e pressão com o tempo, o carvão passa
por diversos estágios de incarbonização. A figura 8, mostra as diferentes fases de
incarbonização recorrendo a terminologia americana ASTM descrita por Riley (2007), sendo
que cada fase reflete composição e constituição diferentes.
A sua classificação pode ser feita a partir da variação da composição e constituição,
como também, de acordo com a sua aplicação. As macro utilizações do carvão são o uso de
carvão como metalúrgico/coque nas indústrias de fundição de ferro e térmico para usinas
termoelétricas na geração de energia.

Figura 8: Classificação do Carvão norma ASTM, adaptado.

Fonte: Riley (2007).

Segundo a recomendação da ECE-UN (1998), pode se usar o valor calorífico para


classificar o grau da incarbonização das lenhites e os carvões sub-bituminosos com refletância
de vitrinites abaixo de 0.6% e a refletância de vitrinite para os carvões betuminosos e antracites,
figura 9.
Na mesma proposta esta organização sugere de forma integrada à classificação para
definir o grau de incarbonização, a classificação do teor que representa o nível de impurezas no
carvão na base de nível de cinzas que são o efeito tanto da singênese como da pós-génese,

16 | P a g e
distinguindo desse modo os carvões de alto, médio, baixo, muito baixo grades, rochas
carbonosas e rochas, figura 9. A natureza da matéria inorgânica pode ser detrítica quando são
transportados aos locais de formação de carvão por agentes naturais de transporte ou
autogenética por precipitação química durante a diagênese.
A escala de alto grade representa melhor carvão com menor teor de cinzas e densidade
específica. Não está claro, contudo, nesta classificação se as classificações são na base carvão
in situ como o título sugere ou carvão após beneficiamento como a apresentação dos dados
mostram.
Figura 9: Classificação do Carvão in seam.

Fonte: ECE-UN (1998).

O aumento progressivo da temperatura e pressão com o tempo para além de desencadear


diminuição progressiva de matéria volátil, humidade e hidrogénio, enquanto aumenta, o
carbono, densidade, poder refletivo e calorífico; também contribuem para rearranjo químico de
estrutura fracas alifáticas à aromáticas.
A base constitucional do carvão são os macerais, cuja sua concentração e tipo depende
do grau de incarbonização e tipo de matéria orgânica associada. Os grandes litotipos propostos
por Stopes (1919) citado por Thomas (2013) são Vitrain, Clarain, Durain e Fusain que se
17 | P a g e
subdividem em subgrupos macerais e macerais, tabela 1.

Tabela 1: Classificação dos constituintes do Carvão segundo Stopes

Litotipo Grupos macerais Macerais


Vitrain Vitrinite Vitrain
Vitrinite Colinite e Telinite
Exinite Sporinite, cutinite, alginite and resinite
Clarain Inertinite Fusinite, micrinite, esclerotinite and semifusinite
Inertinite Fusinite, micrinite, esclerotinite and semifusinite
Vitrinite Colinite e Telinite
Durain Exinite Sporinite, cutinite, alginite and resinite
Fusain Inertinite Fusinite

Fonte: Thomas (2013).

Vitrain caracteriza se pela sua cor preta, com brilho vítreo, fratura conchoidal e clivagem
cúbica, é limpo e sem estrutura ocorrendo em bandas finas ou lentes. O Clarain tem brilho lustre
e finamente laminado com fratura lisa ou irregular com acamação paralela. Durain é de cor de
cinza a preto acastanhado, bandado, sem brilho, granular com superfícies ásperas, é mais dura
que a vitrain e é o maceral mais comum. A Fusain é de cor preta de fuligem, brilho à seda,
friável e fibrosa sendo a sua coerência fina e inconsistente.
Segundo Thomas (2013) nos grupos macerais as vitrinites provêm de material lenhoso,
as exinites ou liptinites provêm de esporos, resinas e cutículas, enquanto que as inertinites
provêm de material de plantas oxidadas. Bustin, et al. (1983), sugeriram um diagrama de
definição de grupos macerais a partir de percentagens de macerais. As vitrinites e as exinites
são reativas, enquanto que as inertinites são não reativas exceto uma porção da semifusinite,
figura 10.
Os carvões de Moatize em função do grau de incarbonização, classificam se como
betuminosos e constituídos por mais de 80% de vitrinites na sua composição maceral. Os
macerais reativos com a participação da semifusinite reativa superam os 85%. Os da secção 4
concretamente, são carvões de betuminosos de baixos voláteis ou peri betuminosos (A) e os da
secção 2A, betuminosos de médios voláteis ou meta betuminosos (B) segundo a classificação
sugerida por ECE-UN (1998), com largo potencial de serem aplicadas tanto nas indústrias
siderúrgicas como nas usinas termoelétricas, sendo esta última aplicação condicional devido ao
18 | P a g e
seu alto valor calorífico e do índice de intumescimento.
Figura 10: Classificação dos grupos macerais e sua reatividade

Fonte: Bustin, et al. (1983).

2.1.3 Pesquisa e obtenção de dados nos depósitos de Carvão

Pela descrição feita por Thomas (2013), o principal objetivo da pesquisa é determinar a
localização, extensão e qualidade dos recursos em um determinado espaço geográfico, junto
aos fatores geológicos restritivos ou facilitadores para o desenvolvimento de uma mina. Esta
atividade é suportada por dados pré-existentes, mapeamento geológico e amostragem, dados
geofísicos e sondagem por perfuração para permitir os estudos de viabilidade do depósito
integrando outros fatores não necessariamente inerentes a geologia do depósito já conhecidos.
As fases descritas por Thomas (2013), são um processo interativo e devem, contudo, ser
antecedidas por um trabalho de cartografia de grande escala para permitir um trabalho de
delimitação de anomalias de áreas potenciais. O trabalho cartografia de grande escala nos
últimos anos passou a ser feita ou financiado de forma estratégica por governos e seus parceiros
principalmente nos países em via de desenvolvimento com o objetivo de conhecer o seu
potencial em recursos minerais e captar investimentos e licenciamentos de forma mais
sustentável que maximize a captura dos dividendos que possam advir da extração de recursos.
As principais fases de pesquisa de depósitos de carvão em particular convergente com outras
literaturas são apresentadas num fluxograma mais integrado por Thomas (2013) na figura 11.

19 | P a g e
Figura 11: Fluxo diagrama das principais atividades durante a fase de pesquisa

Obtenção do Título
de pesquisa

Obtenção de mapas,
Aval. de inf. Geol. Aquisição de novas fotos
planos, fotos aéreas,
existentes aéreas se necessário
imagens satélites, relatórios
geol.
Programação de Prod.demapasfotogramétri
pesquisa no terreno cas e planos

Mapea. e Levantamentos topográficos,


Levantamento
amostragem Geofísico amostragem e geofísica
no terreno pontual

Análises de amostras Aval. de pesquisa no Sondagem de perfuração


em laboratórios terreno e geofísica

Mapeamento Amostragem de furos Sonda. nas zonas de Levantamento topográfico


detalhado e de recuperação total afloramento delim. de de collar de todos furos
amostragens adic. carvão queimado e oxid.

Quant. de reservas in
situ e cálculos de REM

Relat de qualidade com Quantificação de Relat. Geológico


analises proximate, recursos med. incluindo geofísica que
ultimate, de lavabilidade ind. e infer incluindo detalha as espessuras e
e petrografia restrições geológicas história sedimentar

Relatório geológico
Geologia de Carvão
Qualidade de Carvão
E Reservas

Sondagem adicional, Instalação de Sondagem superficial


RC, com recuperação piezómetros para para detalhamento de
de teste. p/ estudos monitoramento de agua afloram. delimitação de
geotécnicos carvão queimado

Tomada de amostras para Contínuo levant topo. Amostragem de furos


estudos geotécnicos de de locais de furos, integrados a
laboratórios piezómetros, etc. amostragem de vol.
para determinar uso

Rel. geotécnicos, de Envio de


qualidade e amostras de
hidrogeologia volume para
testes pilotos
Combinação de resultados
com rel. geológico

Relatório final usado como


base par para posterior
estudo de viabi.

Fonte: Thomas (2013).

20 | P a g e
2.1.4 Classificação de Recursos e Reservas em depósitos de carvão

A classificação dos depósitos de carvão largamente aplicável segue as diretrizes de


SAMREC (2007) e JORC (2014) que se embasam nos princípios de materialidade13,
transparência14 e competência15. Os dois códigos categorizam os depósitos por um lado, em
função do grau do conhecimento geocientífico (fatores geológicos) e por outro, em função de
fatores modificadores (i.e., método e tecnologia de lavra, beneficiamento, viabilidades
económica, social e ambiental, mercado, leis, fatores governamentais e infraestruturas) figura
12.
A natureza de grau de conhecimento geológico depende da técnica a ser adotada pela
“pessoa competente” em função da complexidade do depósito. A técnica mais usada é a malha
de sondagem/densidade amostral, mais pode se categorizar em função do alcance variográfico,
erro de estimativa, variância da krigagem ou de interpolação, desvio padrão de interpolação,
índice de risco, ângulo de regressão linear entre valores estimados e observados, eficiência do
bloco, e teor de corte.

Figura 12: Classificação de Recursos e Reservas

Fonte: JORC (2014).

13 Os relatórios devem conter todas informações relevantes que os investidores e seus assessores profissionais normalmente
necessitam para permitir um julgamento racional e balanceado da mineralização relatada.
14 Permitir que o leitor do relatório receba informação clara, inequívoca e suficiente para compreender e não ser induzido
a erros
15 O relatório deve ser baseado em um trabalho de responsabilidade de pessoa devidamente qualificada e experiente,
sujeita um código de ética profissional que possa ser devidamente monitorado e auditado.
21 | P a g e
O conhecimento geológico e a consequente redução das incertezas geológicas seguem
o fluxo proposto por Ribeiro, et al. (2012), figura 13. O fluxo fundamenta-se no uso da
metodologia front end loading (FEL)16. A FEL1 corresponde a fase da definição do negócio e
de definição do alinhamento estratégico. Fel 2 visa refinar as premissas estudando as opções e
direcionar o projeto, a engenharia conceptual. A FEL3 corresponde a fase onde se desenvolve
a engenharia detalhada, o plano de execução e estimativa do custo Barbosa et al. (2013).

Figura 13: Fases de evolução do conhecimento geológico

Fonte: Ribeiro et al., 2012.

2.1.5 Caracterização de Carvão

A natureza e a caracterização absoluta dos depósitos nunca serão concretamente


conhecidas. A caracterização acaba sendo uma “arte” baseando se em inferências dos resultados
obtidos a partir das amostras extraídas de forma pontual Arroyo (2014).
Para o caso de depósitos de carvão o nível de incerteza aumenta atendendo a grande
heterogeneidade das suas características associadas à sua gênese, tornando um desafio quase

16
Metodologia desenvolvida por Independent Project Analysis (IPA) e que descreve as técnicas, métodos e ferramentas a
serem aplicadas a cada fase de um projeto.
22 | P a g e
impossível tomar amostras que refletem verdadeiramente as características do depósito
(representatividade). A caracterização é feita com objetivo de conhecer o depósito para permitir
a otimização e eficiência de mineração, beneficiamento e uso (comercialização).
A caracterização geológica dos depósitos com foco na metalurgia, ou seja,
beneficiamento passou a ser foco dos empreendimentos mineiros uma vez que é onde se
concentram mais os custos de produção D´Arrigo (2012). Os resultados operacionais mostram
que a mina Carvão Moatize não é uma exceção.
A amostragem para depósitos de carvão é largamente feita por via de furos de sondagem
de diversos tamanhos de diâmetro, canais e amostragem de volume suportada com informações
geofísicas. Das amostras obtidas a partir de processos de sondagem geológica são analisadas
diferentes características químicas, físicas e petrográficas inerentes a composição e constituição
do carvão. Essas características devem ser devidamente reportadas na referência da sua base,
quer seja na base recebida, seco ao ar, seca, seca e livre de cinzas e seca livre de matéria mineral.
A falta de indicação dessas bases pode inutilizar ou gerar interpretações imprecisas na
caracterização e avaliação dos depósitos de carvão. As conversões e correlações de uma base
para outra estão padronizadas em equações disponíveis em várias literaturas (e.g. JORC (2014);
THOMAS (2013); SANDERS et al., (2009) e WARD (1984)). A figura 14, sumariza as bases
mais usadas e a sua significância, na indústria de carvão.

Figura 14: Composição básica do carvão e bases nas análises, editado.

Fonte: Ward (1984).

23 | P a g e
Tanto os procedimentos de tentativa de obtenção de amostras representativas, de
preparação, como das análises são descritos em códigos internacionais sendo os mais
proeminentes as normas ISO e ASTM. Segundo Sanders et al. (2009), o nível e a quantidade
de amostras a serem tomadas dependerá do nível de variabilidade da qualidade na camada. A
variabilidade da qualidade carvão na singênese é largamente controlada pela temperatura e
pressão com o tempo, que por sua vez determina o grau de incarbonização, associado também
a quantidade e tipo da matéria mineral, tipo da matéria vegetal.
A qualidade original pode ser modificada por fatores pós-gênese como a oxidação por
exposição, tectónica (falhamento, dobramentos e cisalhamentos) e intrusões ígneas. A fase mais
crítica é a obtenção de amostras, pois é a fonte geral de imprecisões nos resultados, segundo
Zhu (2014), estatisticamente a amostragem contribui com mais de 80% de resultados não
representativos, seguido por preparação com menos de 15% e remanescente atribuído a análises
associado ao instrumento e ao operador. Os desvios de instrumentação são normalmente
reconhecíveis, sendo os problemas de operador minimizados por repetitividade17 e
reprodutibilidade18.

2.1.6 Propriedades Químicas de Carvão

2.1.6.1 Análises Imediatas

Análises imediatas são os constituintes básicos do carvão. A sua determinação empírica


é por métodos prescritos de teores de humidade, cinzas, matéria volátil e carbono fixo, este
último, calculado por diferença no 100% e geralmente reportados na base seco ao ar.

a. Teor de Humidade

Na caracterização do carvão, a humidade é essencial pois define a base análise da


caracterização complementar, contudo, a sua determinação segundo Sanders et al. (2009), está
longe de ser uma ciência exata. A definição de reservas, sequenciamento e produtos depende
muito da definição correta da humidade.

17 Repectividade consiste segundo Lau (2009), JORC (2014), a precisão de testes feitos em curto espaço de tempo da
mesma amostra, nas mesmas condições de instrumentação, operador e aparatos, com aderência dos diferentes resultados
em 95%.
18 Reprodutibilidade está associada a precisão de testes em condições diferentes e em tempos não rigorosamente específicos
de incrementos da mesma amostra Lau (2009), JORC (2014).
24 | P a g e
Existem basicamente duas formas de humidade, aquela que é inerente a composição do
carvão (humidade inerente) e outra que o carvão adquire na interação com o meio (humidade
superficial). As subclassificações são disponíveis e detalhadas por várias bibliografias e.g.
Sanders et al. (2009), Zhu (2014) e Thomas (2013).
A humidade superficial é removida com a secagem às condições normais de temperatura
e pressão, enquanto que a humidade inerente determina se com secagem um pouco agressiva (a
150 graus Celsius no vacum ou atmosfera nitrogénica).
Ao somatório dessas humidades denomina se por humidade total. Segundo Sanders et
al. (2009), alta humidade é inatrativo para o valor económico do carvão pois para além de
consumir a energia por evaporação durante a combustão, também pode acarretar problemas de
manuseio. A baixa humidade também pode originar muita poeira. A humidade total é função
do tipo de carvão, granulometria e histórico de manuseio.

b. Teor de Cinzas

Cinzas são resíduos inorgânicos dos tecidos vegetais e da matéria mineral que
permanecem após a combustão de carvão Thomas (2013). Classificam se em cinzas de fundo,
escória e cinzas volantes. A determinação de cinzas não significa determinação de matéria
mineral, embora a cinza provenha maioritariamente do conteúdo mineral. Altas cinzas tem a
principal desvantagem de reduzir o valor calorífico do carvão e eficiência nas indústrias de altos
fornos. Na metalurgia (beneficiamento) a cinza é fator chave, pois, correlaciona se diretamente
a densidade do carvão que condiciona a recuperação mássica por meios densimétricos. Segundo
ECE-UN (1998) o limite superior para ser considerado carvão é cerca de 50% de teor cinzas.

c. Matéria Volátil

A matéria volátil (MV) provém maioritariamente da composição de carvão. Tem sido


largamente usado para definir o grau de incarbonização dos carvões por agentes diagenéticos.
Em indústrias de produção de coque, a MV diminui a recuperação de coque. Os carvões
betuminosos de médios e baixos voláteis conjuntamente a outras qualidades definem os carvões
de referência para aplicação metalúrgica. Também é determinado com a perda de massa com
exceção da humidade.

25 | P a g e
d. Carbono fixo

Carbono fixo representa o resíduo após a remoção da humidade, cinzas e gases. É


determinada indiretamente por diferença. No processo físico-químico de separação por flotação
quanto maior for o teor de carbono mais hidrofóbico o material é, permitindo maior recuperação
mássica de finos por aderência destes às bolhas de ar.

2.1.6.2 Análises elementares e análises de cinzas

a. Análises Elementares

As análises elementares de carvão consistem em determinação de carbono e hidrogénio


como produtos gasosos após a combustão completa, o enxofre, nitrogénio e cinzas como todo
e estimativa de oxigênio por diferença. A razão entre o teor de carbono em relação aos outros é
indicador do grau de incarbonização do carvão.
O enxofre pode ser de origem orgânica, inorgânica e formas sulfatada. O enxofre
inorgânico (afinidade inorgânica) pode ser reduzido por processo de beneficiamento, já que está
associado maioritariamente a pirite de densidade alta. A análise de cinzas é distensa a estudo
da composição dos principais óxidos, elementos traços e menores.
Para a indústria metalúrgica o rácio entre óxidos básicos e ácidos (índice de
alcalinidade) pode dar vantagem ou desvantagem ao potencial da aplicação dos carvões.
Outras análises são a clorine e fósforo. Para carvões de Moatize o fósforo alto para
alguns horizontes determina as opções de processamento, já que é difícil controlar o fósforo por
beneficiamento e o limiar de teor de fósforo para indústria de coque é de 0.85% na base seco
ao ar. Fósforo e enxofre tem implicações no mercado do carvão pois torna o aço menos
resistente por permanecer como impureza e por razões ambientais respetivamente. Assim as
indústrias preferem carvões de baixo fósforo e enxofre. Para Stubbles (1986), por outro lado, o
fósforo não é sempre ruim, pois, pode melhorar a fluidez de fundição.
Outras análises incluem a resistência de coque à reação com o dióxido de carbono (CSR)
e o seu índice (CRI) que são função do grau de incarbonização do carvão. A sua estimativa é
geralmente obtida por regressões de outros parâmetros menos onerosos e.g. Díez et al. (2002)
e Barry et al. (1992).

26 | P a g e
Para carvão de Moatize, especialmente para a camada Chipanga da secção 2A foi
desenvolvido uma regressão linear que se ajusta aos valores medidos de CSR e sua relação com
as propriedades relevantes que determinam a sua variação (a matéria volátil, a fluidez, a
refletância máxima das vitrinites, a quantidade de macerais reativos, e a relação entre óxidos
básicos e ácidos que definem o índice de alcanidade). A equação 1 mostra a estimativa de CSR
para a camada Chipanga, Moatize secção 2A.

𝑪𝑺𝑹 = −39.0 + 0.0138 ∗ 𝑉𝑀 + 7.79 ∗ 𝐿𝑜𝑔 (𝑀𝐹) + 71.0 ∗ 𝑅𝑜𝑉 (1)

+ 0.00555 ∗ 𝑇𝑅𝑀 + 0.0683 ∗ 𝑆𝑖𝑂2 + 0.0824 ∗ 𝐴𝑙2𝑂3


− 1.10 ∗ 𝐹𝑒2𝑂3 − 1.08 ∗ 𝐶𝑎𝑂 − 1.04 ∗ 𝑁𝑎2𝑂 − 1.0 ∗ 𝐾2𝑂
.
Onde:
VM – Matéria volátil, MF – Fluidez Máxima, RoV – média das refletâncias máximas das
vitrinites, TRM – total de macerais reativos (vitrinites + semifusinite reativa).

A equação 2: mostra o modelo de estimativa de CSR desenvolvido por Goscinski et al.


(1985)

𝑪𝑺𝑹 = 70.9 ∗ 𝑅𝑜𝑉 + 7.8 ∗ 𝐿𝑜𝑔(𝑀𝐹) − 89 ∗ 𝐵𝐴𝑅 − 32 (2)


.

Fe2O + K2O + Na2O + CaO (3)


𝐵𝐴𝑅 =
SiO2 + Al2O3
.
Onde:
RoV - média das refletâncias máximas das vitrinites,
MF - Fluidez Máxima,
BAR – índice de basicidade.

A correlação de estimativa entre o modelo de Kobe e àquele de regressão linear


desenvolvida para a camada Chipanga na S2A é mostrada na figura 15. O coeficiente de
correlação e a tangente do ângulo de regressão linear (45º), mostra que as estimativas por
equação de Kobe àquela usada na Vale são condicionalmente não-tendenciosos (sem viés).

27 | P a g e
Figura 15: Correlação de estimativa de CSR entre os modelos de Kobe àquela desenvolvida para a camada
Chipanga S2A.

A equação de Goscinski et al. (1985) fundamenta se no facto de que a resistência de


coque dependerá da textura ótica dos componentes definida pela refletância das vitrinites, o
volume de poros no coque (fluidez) e a química das cinzas expressa pelo índice de alcalinidade.
Contudo, a equação de Goscinski et al. (1985) não inclui o potencial reativo do coque (macerais
reativos) e a pressão operacional definida por matéria volátil.

2.1.7 Propriedades Físicas de Carvão

2.1.7.1 Dureza, densidade, granulometria

a. Densidade

A densidade pode ser específica (RD) ou aparente (ARD) e é função do grau de


incarbonização, tipo de carvão, humidade e matéria mineral. Ambas são relativas à densidade
de água sendo a aparente não destrutiva e especifica destrutiva. A homogeneização da amostra
no processo destrutivo para a densidade específica e controle de humidade confere lhe maior
aceitabilidade e uso. A determinação correta da densidade tal como da humidade é fulcral para
a conversão de recursos e reservas volumétricas à mássicas.
Para o processo de beneficiamento por meios densimétricos a densidade é o indicador
chave para previsibilidade de recuperação mássica pois a variação do teor de cinzas está

28 | P a g e
associada a ao conteúdo mineral que tem alta variação de densidade e classificada como rejeito
por processos densimétricos; a densidade da matéria orgânica é relativamente baixa e de baixa
variabilidade.
Preston & Sanders (1993) desenvolveram uma equação empírica da relação de
densidade específica determinada em laboratórios e densidade especifica in situ a partir da
humidade in situ ou densidades na base de diferentes humidades. A equação 4 é a estimativa de
densidade in situ a partir das diferenças de humidade Preston & Sanders (1993). A equação 4 é
largamente usada para estimar volumes das reservas in situ:

RDis = RDad x (100-Mad) / (100 + (RDad x (Mis - Mad)) - Mis) (4)

Onde:
Rdis - Densidade específica in situ, RDad – Densidade especifica na base seco ao ar, Mad -
Humidade na base seco ao ar, Mis – Humidade in situ.

Segundo Williamson, (1967) a densidade tende a diminuir suavemente com o grau de


incarbonização no ritmo de diminuição da humidade. Porém, essa relação é válida até aos
carvões betuminosos de baixos voláteis, a partir da qual a densidade sobe exponencialmente
para antracites e grafites, figura 16.

Figura 16: Variação da densidade do carvão com o grau de incarbonização, editado.

Fonte: Williamson (1967).

29 | P a g e
b. Ensaios de lavabilidade e análises de granulometria

A habilidade de carvão de ser beneficiado por meios densimétricos é feita por testes de
flutua/afunda, ou seja, lavabilidade. Após a cominuição e homogeneização da amostra o carvão
é submerso a um líquido de densidade conhecida. As densidades são incrementos sucessivos de
ordem crescente donde são registadas as recuperações (flutuados) e afundados, figura 17.
Nos flutuados de cada incremento são testadas as qualidades relevantes a cada fração,
geralmente as análises imediatas. Esses resultados se traduzem numa curva de lavabilidade que
permite de forma teórica prever as recuperações e as qualidades a determinadas densidades de
corte que são insumos vitais a metalurgia.
A densidade inicial praticada na indústria para projetos iniciais é de 1.30g/cm3, sendo a
última dependente do comportamento do carvão que geralmente coincide com a recuperação
cumulativa de 100% e com incrementos de 0.05 ou 0.1 g/cm3. Para melhor compreensão da
variação da qualidade com a variação da granulometria na maioria das vezes os testes de
lavabilidade são antecedidos das análises granulométricas, permitindo assim, o teste de
lavabilidade por fração granulométrica. O teste de granulometria é feito com peneiramentos
sucessivos da malha maior até a menor possível. O desenho das plantas de beneficiamento é
largamente guiado por comportamento da granulometria e qualidades em meios de separação
densimétricos.
Figura 17: Curvas de lavabilidade de carvão

Fonte: Thomas, 2013 na cortesia de S. C. Frankland.

30 | P a g e
c. Dureza, moabilidade abrasão e testes adicionais

Segundo Thomas (2013), no mundo comercial moderno, os carvões precisam ser


moídos à pó num processo chamado por pulverização antes de ser alimentados aos fornos. A
facilidade ou dificuldade deste processo acontecer é medido por índice de moabilidade (HGI
em inglês). Carvões de alto índice são relativamente menos duros e requerem pouca energia no
processo de pulverização. Os de baixo índice principalmente abaixo de 50 são prioritariamente
indesejáveis.
O HGI é função direta do grau de incarbonização, desde que se assegure que se trate de
teste material orgânico pois o excesso de material mineral pode dar indicação enganosa de alto
índice Sanders et al. (2009) e segundo Berkowitz (1979) citado por (Thomas, 2013) aumenta
com o grau de incarbonização dos valores baixos das duras lenhites, para máximo dos carvões
menos duros betuminosos médios e baixos voláteis, decrescendo depois com aumento do grau
de incarbonização para as duras antracites.
O teste de abrasão é feito com o objetivo de medir o desgaste de equipamentos
especialmente as moedeiras. O índice de abrasão é determinado pela perda de massa do
equipamento em miligramas de metal causado pelo desgaste após moer determinada quantidade
de carvão.
O drop shatter e drum tumbling também são testes físicos usados para predizer a
facilidade ou dificuldade de quebra do carvão durante o manuseio da mina e na planta de
beneficiamento.
Outros testes são feitos com objetivo de avaliar as propriedades de carvão durante a
combustão (valor calorífico, temperaturas de fusão, contração, solidificação e dilatação,
intumescimento, plasticidade, reflectância e fluorescência dos macerais) que são essenciais para
determinar a potencialidade de uso do carvão nos diferentes propósitos.
De forma particular o índice de intumescimento no cadinho (CSN em inglês) por ser um
teste rápido tem sido largamente utilizado como indicador preliminar da potencialidade de o
carvão ser usado para as indústrias de coque, para além de ser um indicador chave de
reconhecimento preliminar de carvão sem nenhum residual coqueificável por agentes pós-
genéticos como queima por corpos intrusivos ou cisalhamentos e oxidação por exposição a
intemperismo, falhamento/diaclasamento ou água oxigenada.
Deve se considerar, contudo que o CSN é válido no caso de matéria orgânica não
excessiva, pois o excesso de matéria mineral pode indicar falta de capacidade de

31 | P a g e
intumescimento do carvão. Normalmente o teste de CSN é aceitável quando se faz no flutuado
da densidade mínima possível, onde se expurga a influência da participação da maior parte da
matéria mineral.
A refletância máxima da vitrinite é largamente usado como indicador do grau de
incarbonização do carvão e tem pesado muito nas regressões de estimativa de CSR.

2.1.8 Variação da qualidade numa camada carvão

Os agentes singenéticos da variação da qualidade do carvão são a sua exposição à


temperatura e pressão com o tempo. Assim, uma camada de carvão em contínuo soterramento
tenderá por regra geral ter melhores propriedades e incremento do grau de incarbonização na
sua base que no topo, considerando também o tipo de matéria orgânica associada e o grade do
carvão.
Por via disso espera se sempre que numa camada de carvão o perfil vertical tenha menor
continuidade que o perfil horizontal, significa que em regra geral, haverá sempre maior
variabilidade da qualidade de carvão com a profundidade (sentido de mergulho dos estratos
quando forem inclinados) do que espacialmente, ou seja, ao longo da direção dos estratos (o
padrão variográfico singenético).
Contudo o carvão após a sua formação está exposto a fatores pós-genéticos que
interferem no padrão da variabilidade genética do carvão (o padrão variográfico pós-genético).
O padrão variográfico singenético define horizontes enquanto o padrão pós-genético define
domínios de qualidade. Os domínios podem ser diferentes para os diferentes horizontes
conforme a incidência dos fatores pós-deposicionais.
A exposição de uma camada de carvão aos agentes de intemperismo da atmosfera ou
por água subterrânea oxigenada resulta na oxidação do carvão.
A oxidação reduz a qualidade do carvão por alteração das suas propriedades químicas e
físicas. A degradação da matéria mineral por oxidação é mais lenta que a degradação da matéria
vegetal, o que traduz se em aumento proporcional de teor de cinzas e humidade para carvões
oxidados.
A capacidade de flotabilidade que é guiada por hidrofobidade no beneficiamento
diminui consideravelmente para carvões oxidados Thomas (2013) afetando assim a sua
recuperação mássica global.
A oxidação para além de afetar a energia libertada durante a combustão (valor

32 | P a g e
calorífico) por excesso de hidrogênio e oxigênio, também aumenta a vulnerabilidade à
combustão espontânea quando a energia gerada por reação de oxidação é maior àquela
dissipada por condução térmica e ou evaporação.
Em muitos depósitos de carvão é frequente encontrar corpos intrusivos na forma de
soleiras e diques. Esses corpos a quando a sua intrusão, trazem calor que queima as camadas de
carvão na sua área de influência e alteram o padrão da variação espacial dos indicadores
associados ao grau de incarbonização, humidade e cinzas. As intrusões em camadas
sedimentares podem ser detectadas por anomalias magnéticas altas.
A precipitação de minerais na forma de sulfuretos ou óxidos de ferro e carbonatos quer
na forma bandada ou nodular, também impacta na alteração do padrão de variação de qualidade,
principalmente nas cinzas, enxofre e fósforo. As formas mais frequentes são a Pirite (FeS2) e
Apatite (Ca5(PO4)3(F, OH, Cl)) para o caso de carvões de Moatize.

2.2 MODELAGEM GEOESTATÍSTICA

O termo geoestatística surge entre os anos 50/60 com a teorização da aplicação das
variáveis regionalizadas por Matheron (1971), com os seus colaboradores (destacando Krige e
Sichel) quando faziam observações empíricas da continuidade do minério de ouro na África do
Sul, com a constatação de que a dispersão ou concentração de uma variável aleatória é
controlado por processos e fenómenos. Esses processos e fenómenos estão bem estruturados
em termos de sua ocorrência seja no tempo como no espaço, que ajudam não só em termos
teóricos a expressar de forma mais consistente as propriedades estruturais, como também, em
termos práticos a resolver os problemas das estimativas das variáveis regionalizadas a partir
representação de uma população por meio da amostragem.
Na sequência Matheron G. também popularizou a krigagem que se baseia no best linear
unbiased estimator (B.L.U.E), ou seja, melhor estimador linear sem viés, usando premissas da
regionalização das variáveis previstas nos modelos variográficos, ou seja, procura sempre
ajustar a média dos erros entre os valores estimados e reais para que sejam nulas, a assumindo
assim variância mínima de estimação.
A aplicação da teoria das variáveis regionalizadas (geoestatística) surge como
alternativa aos métodos determinísticos de inferência espacial que não se preocupam e associar
o fenómeno físico através de fatores que estão na sua origem, ou seja, variações nas direções
nas quais a variação é privilegiada (anisotropia), mas que simplesmente tem o objetivo de

33 | P a g e
interpolar espacialmente os valores observados assumindo uma combinação linear entre estes
Soares (2006). O enquadramento do fenómeno físico nas estimativas das variáveis
regionalizadas permite estimar a incerteza associado a estimativa, ajudado assim a otimizar as
malhas de sondagem posteriores. A sua aplicação ultrapassa os limites de geologia, sendo que
o mais correto seria o termo aplicação das variáveis regionalizadas que não cria
subentendimento e abrange todas as ciências da terra, como, meteorologia, biologia, pedologia,
agricultura e florestas incluído a própria geologia Soares (2006).
É considerada de variável regionalizada quando uma realização, ou seja, distribuição de
uma variável y (x) é função aleatória (processo/fenómeno) Y (x) e vice-versa, tornando assim
possível a aplicação da teoria probabilística das funções aleatórias para as variáveis
regionalizadas, sendo que, para a hipótese ter um significado real, deve ser possível reconstruir
pelo menos em parte, a lei da distribuição de probabilidade da função aleatória Y (x). As
variáveis aleatórias são caracterizadas por localização e suporte, continuidade/descontinuidade
espacial, anisotropia e transição.

2.2.1 Modelagem variográfica

O variograma (natural), mais corretamente o semi-variograma (para estimativa), é uma


ferramenta básica de suporte às técnicas de geoestatística assumindo a hipótese intrínseca das
variáveis regionalizadas (a estacionaridade), que permite representar quantitativamente a
variação de um fenómeno regionalizado nos espaço Huijbregts (1975), basicamente mede o
grau de dissimilaridade entre pares de observações separados por uma distância h. É
formularmente expresso pela equação 5 como a metade da esperança matemática (E) das
diferenças quadráticas de pares de valores separados a uma distância h em uma certa direção:

1 (5)
γ(h) = E {[Z(u) − Z(u + h)]2 }
2
.

Para um conjunto amostral, {z (u1), z (u2), ..., z (uN)}, o semi-variograma pode ser
estimado pela equação 6

34 | P a g e
𝑁(ℎ) (6)
1
𝛾(ℎ) = ∑ [𝑍(𝑢𝑖 ) − 𝑍(𝑢𝑖 + ℎ)]2
2𝑁(ℎ)
𝑖=1

.
Onde:

𝜸(𝒉) ∶ é o estimador de semi-variograma;


h: é o vetor distância (modulo e direção) entre pares de observação;
N (h): é o número de pares, z (ui) e z (ui+h), separados por h;
z (ui) e z (ui+h): são valores observados nos pontos ui e ui + h.

Calculada a variância com a sua correlação com o espaçamento a uma direção obtém se
o semi-variograma com as características seguintes, figura 18:
Figura 18: Elementos de um semi-variograma e seus respetivos parâmetros

A auto correlação espacial entre pares de amostras separados por uma distância h (lag)
em uma certa direção existe até ao ponto em que observa variância máxima, o patamar (sill)
que é a variância a priori dos dados, cuja equivalente distância é o alcance (range). Até este
ponto um determinado domínio numa dada direção, diz-se haver continuidade da variável em
análise e, portanto, a variável distribui se seguindo um padrão genético estruturado, ou seja,
existe maior similaridade para amostras próximas que aquelas mais afastadas até ao ponto que
não se verifica nenhuma dependência espacial. O maior alcance possível representa a direção

35 | P a g e
de maior continuidade e geralmente a direção perpendicular àquela é a de menor continuidade.
Ambas são geralmente correspondentes a mesmo patamar.
Devido a erros de amostragem mais comumente e raramente, erros analíticos ou mesmo
variabilidade natural da variável em estudo, amostras tiradas a uma distância quase nula não
exibem mesmo valor, fazendo que a variância dessas amostras seja diferente do zero. A esse
fenómeno denomina se efeito pepita (nugget). Para fenómenos totalmente aleatórios, onde não
se verifica estruturação o efeito pepita coincide com a variância máxima. Este efeito, pepita
puro, que é muito raro para casos de mineração pode estar associado segundo Guerra & Salles
(1998), a uma malha de sondagem que não é suficientemente apertada para detectar estruturas,
dando a interpretação de que os pesos das amostras independentemente das distâncias que as
separam são iguais. Nesse caso o recurso de uso da geoestatística para estimativa não agrega
nenhuma vantagem sobre os métodos tradicionais (e.g. distância inversa).
O sumário das regras para ajuste de semi-variograma experimental é apresentada por
Issaks & Srivastava (1989) e Andriotti (2002). Algumas práticas sustentam que o efeito pepita
deve ser 1/3 do patamar, mas Issaks & Srivastava (1989), sustentam que a melhor prática é usar
o semi-variograma omnidirecional (tolerância angular >90º) para ajustar o efeito pepita, e
seguir depois com ajuste de semi-variogramas direcionais (tolerância angular <90º).
O semi-variograma pode se comportar de maneira similar para qualquer direção,
fenómeno que se denomina isotropia. Quando diferentes direções mostram diferentes
características variográficas diz anisotropia. Anisotropia pode ser geométrica quando nas
diferentes direções o semi-variograma exibe mesmo patamar, mas com alcances diferentes;
zonal ou estratigráfica quando o semi-variograma em diferentes direções tiver mesmo alcance
para patamares diferentes; híbrida quando nem o patamar nem o alcance são diferentes para
direções distintas. Os modelos semi-variográficos podem ser com patamar (esféricos,
exponencial, gaussianos e periódicos) ou sem patamar (potencial ou linear) segundo a sua
morfologia.

2.2.2 Estimativa de incertezas

A popularização e aceitação dos métodos de estimativa de recursos recorrendo a


geoestatística é a sua capacidade de fornecer a incerteza associada à sua estimativa. O
conhecimento do nível de incerteza de uma estimativa é de capital importância pois ajuda
otimizar cenários na vida dos projetos mineiros a partir de avaliação de riscos, para além de

36 | P a g e
ajudar a categorizar recursos de maneira mais realística ao conhecimento e fundamentada. O
juízo de considerar incertezas geológicas nas estimativas de recursos e reservas é plena da
pessoa competente segundo norma JORC (2014).
As diversas técnicas de estimativa de incertezas recorrendo a geoestatística são
sumarizadas por Souza (2007).

2.2.2.1 Densidade amostral dentro do alcance variográfico

É uma técnica que intuitivamente demanda o número mínimo de amostras dentro de


uma percentagem sobre o alcance variográfico, pelo facto deste fornecer indicação da
continuidade. É esperado que o nível de incerteza diminua com aumento do número de pares,
após verificada continuidade espacial, figura 19.
Figura 19: Relação de pares de amostras para categorização de incertezas

É uma técnica rápida e largamente difundida, mas peca por ser muito intuitivo na
definição do número mínimo e do percentual de alcance para um determinado nível de
confiança, deixando à sorte a experiência e conhecimento sobre o depósito da pessoa
competente. Maior alcance variográfico como a anisotropia zonal, condiciona o uso desta
técnica.

37 | P a g e
2.2.2.2 Alcance variográfico

Idêntica da primeira sem considerar o número mínimo de amostra, mas adotando


percentagens da variância (patamar), assumindo o acréscimo do nível de incerteza com aumento
da distância, figura 20.

Figura 20: Categorização de nível de incerteza com base no alcance semi-variográfico

2.2.2.3 Variância da Krigagem e da Interpolação

Tentativamente a variância da krigagem (alternativamente desvio padrão da krigagem)


tem sido largamente usando como método para estimar as incertezas associadas as estimativas,
através da função densidade de probabilidade (histograma de variância da krigagem). A
limitação é que provavelmente a variância da krigagem não reflete a variância natural, pois
krigagem assume o princípio de estacionaridade das variáveis regionalizadas suavizando assim
as médias e não é aplicável para casos de amostras isoladas, ou seja, segundo Yamamoto (2001)
a variância da krigagem depende da configuração espacial das amostras, ao passo que a
variância da interpolação depende também da dispersão local dos mesmos. A figura 21 mostra
que dados com configuração idêntica em termos de variância, mas com a variabilidade
significantemente diferentes, ou seja, níveis diferentes de incerteza.

Figura 21: Bloco ilustrativo da limitação da variância da krigagem na quantificação da incerteza

38 | P a g e
Alternativamente usa se desvio padrão da interpolação, ou seja, a raiz quadrada da
variância da interpolação, após alguns autores (ISSAKS & SRIVASTAVA (1989) ;
YAMAMOTO (2001)) questionarem a variância da krigagem como índice de quantificação de
incertezas.

2.2.2.4 Erro da Krigagem da média

Valente (1980) diz que o erro da krigagem média pode ser calculado com um limiar de
95% de probabilidade de acordo com a equação, recomendada pela ONU às instituições de
financiamento internacionais. A equação 7 mostra o erro da krigagem.

∑𝑛𝑖=1 𝜎 2 𝑘𝑖 (7)

𝑛2 √∑𝑛𝑖=1 𝜎 2 𝑘𝑖
Ԑk = 2 ∗ ∗ 100 = 200 ∗
∑𝑛𝑖=1 𝑡𝑘𝑖 ∑𝑛𝑖=𝑘 𝑡𝑘𝑖
𝑛
.

Onde tki e σ²ki são, respetivamente, os valores estimados por krigagem e a variância de
krigagem dos blocos.

2.2.2.5 Tangente do ângulo da regressão linear

A validação cruzada entre os valores medidos e estimados através de uma regressão


linear, que segundo Souza (2007) foi originalmente concebida como teste teórico a ser aplicado
para avaliar a qualidade das estimativas comparados aos valores reais de cada bloco. Esta
técnica para além de fornecer a consistência global entre os valores estimados e reais através
do seu coeficiente de correlação do modelo de regressão tende a 1 (um) e com significância
estatística da correlação (p value <0.05), figura 22.

39 | P a g e
Figura 22: Uso da regressão linear para estimativa de incertezas incerteza

O coeficiente de correlação e a significância indicam apenas a consistência global da


correlação dos valores observados e estimados, mas não diz se existe um viés entre eles. A
figura 22, mostra caso hipotético da validação cruzada dos valores estimados e observados para
a refletância de vitrinite. Nos dois casos (A e B) os coeficientes de correlação e significâncias
estatísticas são iguais, mas a locação gráfica dos dois casos em relação a origem do sistema
cartesiano é diferente.
Uma razão de 1:1, ou seja, ângulo de 45º a partir do eixo das abcissas (caso A), indica
que os dados estimados são tendenciosamente não enviesados, enquanto que, o caso B indicam
que mesmo com grau ótimo de correlação e significância estatística os dados estimados são
tendenciosamente enviesados. Para caso de estimativas de incerteza propõe se que se adote o
coeficiente de correlação e significância estatística que testa a consistência global e o ângulo
em relação a origem do sistema cartesiano que testa o viés de forma simultânea, sendo teste de
viés condição primária a ser satisfeita. Souza (2007) usou a classificação de blocos que se
traduz no nível de incerteza em R-sq ≥ 0.90 como medidos, 0.90> R-sq >0.80 como indicados
e R-sq ≤ 0.80 como inferidos.

40 | P a g e
2.2.2.6 Eficiência do bloco

Proposto por Krige (1996), pode ser determinada pela equação 8, seguinte:

𝑉𝐵 − 𝑉𝐾 (8)
𝐸𝑓𝑖𝑐𝑖ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = , (%)
2VB𝑎
.
Onde
VB é a variância da distribuição dos teores dos blocos e VK é a variância de krigagem

Eficiência ≥ 0.5 como medidos, 0.5 > Eficiência > 0.3 como indicados e Eficiência ≤
0.3 como inferidos.

2.2.2.7 Índice de risco

Fundamenta se no uso da krigagem da indicatriz de minério para classificar o nível de


incerteza, a partir da avaliação da influência da variação da malha da sondagem na sua
qualificação Ribeiro et al. (2012). Portanto, integra a incerteza geológica e a variância da
krigagem, como mostrado na equação 9 e na figura 23.

2 (9)
RI(u)= √[1 − 𝐼𝑘 (𝑢)]2 + [𝑆𝑖𝑘 (𝑢)]2 .

Figura 23: Índice de risco

Onde:
Ik é a krigagem do indicador “minério” para o suporte u e Sik é a respetiva variância de krigagem.

41 | P a g e
RI ≤ 0.6 como medidos, 0.6 < RI < 0.9 como indicados e Eficiência ≥ 0.3 como inferidos.

2.3 DEFINIÇÃO DE DOMÍNIOS

Domínio geológico descreve uma entidade espacial com atributos geológicos ou


geoestatísticos comuns e distinta das suas áreas adjacentes. Os domínios podem ser meramente
estruturais e até em termos qualitativos ou comumente a combinação de ambos. O seu conceito
e seleção dos atributos depende muito da aplicação. A correta delimitação de domínios das
variáveis metalúrgicas por exemplo, pode ajudar a otimizar o processo de beneficiamento.
Para os métodos clássicos de estimativas de recursos, uma correta delimitação de
domínios ajuda por exemplo a que a interpolação por distância inversa se faça dentro de um
determinado domínio para que as amostras próximas de domínios diferentes não tenham
preferência de pesos sobre as amostras distantes pertencentes ao mesmo domínio, evitando
assim a distorção das distâncias de posições por efeitos pós-genéticos, figura 24. No fundo, essa
é a grande fraqueza dos métodos clássicos.

Figura 24: Efeito de falhamentos sobre os métodos tradicionais

42 | P a g e
2.4 GEOMETALURGIA DO CARVÃO

O carvão na sua forma natural apresenta muitas impurezas para sua aplicação. A
valorização do carvão para a especificação do mercado é feita por processos metalúrgicos, que
consiste em redução da matéria inorgânica e concentração da matéria orgânica.
Devido as densidades diferentes entre a matéria orgânica e inorgânica os métodos de
beneficiamento de carvão são densimétricos que traduzem a curva de lavabilidade de cada
domínio de carvão. O processo todo que envolve técnicas da concentração do minério de carvão
rejeitando as impúrias denomina se metalurgia. Existe literatura suficiente das diversas técnicas
de beneficiamento de carvão, sendo o mais completo o livro de Nicol & Swanson (1997).
A otimização do processo de metalurgia depende muito do conhecimento da natureza
geológica e das características intrínsecas do minério do carvão. Segundo Lamberg (2011) a
geometalurgia combina informações metalúrgicas e geológicas para criar um modelo espacial
preditivo para plantas de processamento de minerais. Starkey & Scinto (2010) sustenta que essa
é uma visão limitada do conceito, pois, a não integração do conceito de regionalização e
significância geoestatística na amostragem pode comprometer a acurácia.
Os modelos preditivos em campo têm o dilema de escala necessária de amostragem e
custos associados para chegar ao nível desejado de acurácia, o que leva ao uso de diversos
fatores de correção ao longo de toda cadeia produtiva.
O recurso a uso de fatores de correção para conciliar as previsões dos valores observados
pode mascarar as oportunidades de melhoria dentro dos mesmos fluxos, pois não estão
associadas as características intrínsecas do depósito e a sua resposta a processos de lavra e
beneficiamento.
A Geometalurgia no conceito mais alargado integra todas as premissas de otimização a
partir do conhecimento geológico de como as variáveis metalúrgicas variam no depósito e as
estruturas de controle associadas com as premissas de como essas variáveis se comportam numa
planta de beneficiamento, a magnitude de riscos bem como da maximização de valor para o
mercado. Segundo SGS (2013) a geometalurgia, pode ser feita em qualquer fase mineira, desde
a exploração, estudos de viabilidade até a produção, figura 25.

43 | P a g e
Figura 25: Integração de estudos geometalúrgicos em várias fases de mineração, adaptado.

Fonte: SGS (2013).

44 | P a g e
CAPÍTULO 3 – ESTUDO DE CASO

3.4 METODOLOGIA
A fundamentação para este estudo baseia se no facto de a metodologia aplicada para a
geometalurgia clássica apenas combinar diretamente informações de geologia com as da
metalurgia para criar modelos preditivos sem, no entanto, associar os fenómenos físicos
responsáveis pela variação de teores no depósito.
A proposição metodológica para este estudo é comtemplar informações ligados a
estruturas que controlam a distribuição de variáveis geometalúrgicas, através da geoestatística,
para a correta previsibilidade no tempo e no espaço da vida dos projetos.
Para o efeito foram seguidos os seguintes passos metodológicos, figura 26:

a. Geologia
Esta fase consistiu em organizar a partir de dados existentes duas bases de dados. Uma
base de dados dos furos de sondagem referentes a HQ e LD e outra de dados históricos obtidos
durante a produção.
Estudos de reconciliação entre as duas bases de dados permitiram nos dar visibilidade
entre os valores estimados e os valores obtidos durante o mesmo período. Este estudo permitiu
nos tirar ideia das variáveis que impactam o processamento através de correlações.

b. Geoestatística

Esta fase, que por sinal corresponde a nossa proposta adicional ao processo de geração
de modelos geometalúrgicos consistiu em a partir das variáveis que mostraram ter impacto no
processamento e daquelas sugeridas pela bibliografia fazer o estudo de determinação e
quantificação das variáveis geometalúrgicas por análise de variância (ANOVA) recorrendo ao
estudo de efeito principal e de interação de fatores no programa Minitab.
Após determinação das variáveis geometalúrgicas seguiu-se a análise exploratória dos
dados (AED) com recurso a análise descritiva univariada e bivariada no Minitab, análise de
padrão de amostragem e variografia no programa Isatis.
A análise descritiva nos permitiu ter sensibilidade estatística e estabelecer correlações e
significância estatística entre as variáveis. A análise do padrão de amostrava foi feita com o
objetivo de verificar provável impacto de amostragem preferencial que pudesse enviesar os
dados estatísticos.
45 | P a g e
A variografia consistiu em analisar os semi-variogramas omnidirecionais, mapas
variográficos, semi-variogramas experimentais e por fim o ajuste dos semi-variogramas finais.
Os semi-variogramas omnidirecionais permitiram nos determinar os horizontes que
tinham estruturas e apurar o efeito pepita. Os horizontes que mostraram alguma estruturação
passaram por análises em mapas variográficos para apurar direções preferencias de
continuidade para posterior elaboração dos semi-variogramas experimentais e por fim
determinar os variogramas finais
Com ajuste de semi-variogramas finais seguiu se a validação antes do processo de
estimativa.
Para o processo de estimativa recorreu-se aos blocos operacionais convencionados pela
Engenharia de curto prazo (Planejamento de Curto Prazo).
Os dados estimados foram validados contra os resultados originais com recurso a
funções de distribuição acumulada e correlações.

Figura 26: Fases metodológicas seguidas na pesquisa com destaque a incorporação da geoestatística para suportar os
modelos geometalúrgicos.

Após a validação; com recurso ao alcance variográfico obtido durante a variografia


foram determinadas as diferentes categorias em função do nível de incerteza de cada bloco,
para depois determinar os domínios geometalúrgicos com recurso a análise multivariada

46 | P a g e
integrando as variáveis geometalúrgicas.
c. Metalurgia

Blocos operacionais com dados teóricos e com características adicionais de variografia


foram convertidos a dados práticos por bloco com recurso a algoritmos metalúrgicos obtidos
em escala piloto, após conversão dos dados teóricos para dados pré-tratados. Os algoritmos
usados são os gerados a partir das premissas de desenho das duas plantas por sub-horizontal
praticados na mina Moatize.

3.5 MINA CARVÃO MOATIZE

A Vale Moçambique desenvolveu estudos de pesquisa e viabilidade através da sua


licença concessionária 867C de cerca de 25 000 hectares e após confirmar a sua viabilidade
para desenvolvimento de uma mina começou a produção em 2011.
Durante a fase de pesquisa e de pré-produção foram obtidas várias informações de
qualidade e extensão dos depósitos de carvão. O estudo de viabilidade inicial indicou reservas
de cerca de 1.4 bilhões de toneladas, que permite uma produção anual de 11 Mta (8.5 Mta de
coque e 2.5 Mta de térmico) na base seco ao ar e tempo de projeto estimado de 35 anos de lavra
a céu aberto CVRD (2006).
A lavra foi projetada para ser a céu aberto em bancos com uso de equipamentos
convencionais de grande porte, onde de forma sequenciada se remove se a vegetação e solo
orgânico, perfuração e desmonte do estéril, remoção de estéril e depositada em pilhas
destinadas, lavra e alimentação direta, reabilitação das pilhas e reflorestamento das áreas
mineradas, figura 27. A escolha do método de lavra e a opção de alimentação direta teve em
conta as características geológicas, geotécnicos, morfológicos, bem como, a curva de produção
agressiva viável para o projeto. A abertura de grandes áreas e múltiplas frentes operacionais,
tendo conta a distribuição espacial do depósito, viabilizaria o processo de controle de
variabilidade da qualidade do carvão, tornando assim, fundamental a correta delimitação de
domínios geometalúrgicos.

47 | P a g e
Figura 27: Tipo e fases adotadas para mineração em Moatize

A mina operacional desde 2011 foi feita na secção 2A para camada Chipanga (CH) por
ser possante e com melhor qualidade e com carvão sob aflorante. Em 2016 iniciaram as
atividades de mina para a camada mais a baixo de CH, a camada Sousa Pinto (SP) para a mesma
secção e a camada CH e Bananeiras (BN) para a secção 4. A figura 28 mostra o layout da mina
na atualidade.
Figura 28: Layout da infraestrutura Mina Carvão Moatize

48 | P a g e
3.5.1 Sondagem Geológica e aquisição de dados

A sondagem geológica é processo que antecede toda a cadeia do processo de mineração.


É a partir dela que são obtidas as amostras em profundidade para permitir inferências da
configuração do depósito ao mesmo tempo que estima a distribuição dos teores ao longo do
mesmo. A sondagem propriamente dita é subsidiada pelas informações geofísicas para
delimitação de corpos, figura 29.

Figura 29: Uso de geofísica para inferência estrutural (cortesia VALE)

Na mina de carvão Moatize o processo de sondagem segue duas perspectivas em função


do nível do conhecimento geológico do depósito. A primeira perspectiva ocupa-se em definição
e descoberta da continuidade de depósitos de carvão – a sondagem de longo prazo ou
exploratória, enquanto que, a segunda perspectiva ocupa se no detalhamento para fins de curto
prazo e se restringe em áreas onde no mínimo o depósito é indicado – a sondagem de controle
de qualidade ou de produção.
A sondagem exploratória é feita com sondagem de furos com recuperação de
testemunho para largo diâmetro, 85 a 100 mm (LD) e para diâmetros menores de 61 a 63 mm
(HQ) que seguem fluxos analíticos diferentes. Os furos de diâmetros menores são apenas
tratados a uma granulometria enquanto os LDs são testados a diferentes granulometrias devido
a disponibilidade de massa. Os LDs são usados para ensaios do comportamento do carvão na
planta de processamento de forma direta enquanto que os de HQ passam por um processo de
unificação. Todos passam por um processo de ajuste de profundidade com base em informações
49 | P a g e
geofísicas e descrição em campo.
As amostras obtidas são sujeitas a três estágios de análise. A primeira na sequência
ordenada e o estágio Raw, onde caracteriza preliminarmente o carvão e avaliar a potencialidade
de o furo passar ou não para a fase seguinte.
A fase Raw, é concebido para dar indicação preliminar de presença ou não de carvão
queimado ou oxidado. A humidade, a cinza, a densidade e o CSN são os indicadores testados
com frequência. Carvões queimados terão na regra geral, com cinza abaixo de 50%, CSN não
superior a um e densidades relativamente altas, enquanto o oxidado tenderá ter CSN abaixo de
um mais com humidade alta. Alta concentração da matéria mineral pode refletir em valores
muito baixos de CSN. Esta fase em termos de produção representa a perspectiva de previsão de
qualidade do carvão no estágio bruto.
Após a disponibilidade dos resultados Raw, as amostras são agrupadas em horizontes
específicos e sujeitos a segunda fase, que é o ensaio de flutua/afunda nas densidades de F1.30
a S1.90, e para cada densidade testados a humidade, a cinza, o enxofre, o valor calorífico, o
fósforo e o CSN. Para o caso de LD este ensaio é feito para cada fração granulométrica. Essa
fase na perspectiva de produção representa a previsibilidade de carvão para o processo de
beneficiamento.
A fase posterior é testar a uma densidade escolhida e que representa a qualidade produto
definido a partir do teste flutua/afunda, os parâmetros inerentes a comercialização do carvão
que inclui, as análises imediatas, elementares, enxofre e suas diferentes formas, valor calorífico,
fósforo, análise de cinzas, CSN, dilatometria, plastometria e petrografia. O fluxo diagrama
demonstrativo está na figura 30.

50 | P a g e
Figura 30: Fluxo analítico de análise de amostras de carvão (cortesia VALE)

3.5.1.1 Banco de dados

Os dados de toda a cadeia de sondagem desde a programação até aos resultados


analíticos são captados para o sistema de banco de dados desenvolvido por Acquire para caso
específico do projeto de Moatize. Em cada subfase existe um procedimento específico de
validação seguindo os padrões da indústria de mineração para carvão mineral, figura 31.
51 | P a g e
Figura 31: Fluxograma simplificado de gestão da base de dados (cortesia VALE)

A base de dados utilizado provem da sondagem HQ de 63 mm, nas fases raw e clean
coal. A fase clean coal é a densidade de corte fixada de 1.45 que representa a qualidade do
produto metalúrgico. A fase raw contêm 10341 amostras dos 144 furos, cujas variáveis de
interesse para este estudo neste estágio são o teor de cinza do carvão bruto (raw ash) e densidade
específica, acompanhada de dados de identidade do furo, posição (x, y, z, from e to de cada
amostra), nome do horizonte e espessura. A fase clean coal contêm número de amostras
reduzidas pois os furos reconhecidos como queimados e com todas propriedades extinguidas
são interrompidos nas fases anteriores ao clean coal. São 626 amostras correspondentes a 106
furos que para além das informações descritivas idênticas do estágio anterior contém dados de
recuperação mássica (yield), teor enxofre, teor fósforo, a refletância (RoV) e a matéria volátil,
tabela 2. As amostras resultam da composição de subamostras em função de definição de
horizontes com recurso a perfis geofísicos. Todas as unidades reportadas na base seco ao ar
(adb), exceto especificado.
52 | P a g e
Tabela 2:Estatística da base de dados utilizada

Stage Plies UCT UCB1 UCB2 UCB3 MCC LCUT LCUB LC456 Total
Nr Samples 1017 841 981 1993 2693 972 945 899 10341
Raw Relative density 1017 841 981 1993 2693 972 945 899 10341
Raw Ash 1017 841 981 1993 2693 972 945 899 10341
Nr Samples 60 53 62 80 85 93 97 96 626
Yield 60 53 62 80 85 93 97 96 626
Total Sulfur 60 52 61 79 84 92 96 95 619
Clean Coal
Phosphorous 56 52 62 80 85 90 93 92 610
Reflectance of Vitrinite 60 53 62 80 85 93 97 96 626
Volatile Mater 60 53 62 80 85 93 97 96 626

3.5.2 Geologia da Secção 2A camada Chipanga

A camada Chipanga é envolvida no topo por arenitos arcósicos conglomeráticos, típicos


de ambientes fluviais, no topo e siltitos com predominância de moscovites na base. As camadas
inclinam suavemente para SW-NE com pontos localizados de inclinações íngremes e não
preferências devido a falhamentos, sendo a direção das camadas para o SE-NW.
A região é intensamente perturbada, com falhas e diques doleríticos que aproveitam as
regiões de fraqueza de direção preferencial as da direção das camadas. Uma segunda geração
de falhas de direção da inclinação da camada surge na região conhecida como Xerinda fault
zone que altera o padrão das camadas entre a região centro e norte, figura 32. Na parte nordeste
entre o arenito e a camada Chipanga surge uma grande soleira que afeta o carvão principalmente
nas regiões norte e sul da cava. Os limites nos arenitos e siltitos são tipicamente abruptos e com
laminações ferruginosas, evidenciando mudanças de ambientes deposicionais e eventos de
exposição prolongada e erosões durante o preenchimento da sub-bacia.
A continuidade das camadas sedimentares na direção de inclinação é interrompida de
forma abruta por uma falha regional de sentido SE-NW e que marca a transição das formações
sedimentares do Karoo (Formação de Moatize) e ígneas do Proterózoico (suíte de Tete). A cerca
de 70 metros abaixo de Chipanga onde a transição é o siltito micáceo tem a camada de carvão
de Sousa Pinto, figura 32.

53 | P a g e
Figura 32: Mapa geológico da secção 2A

3.5.3 Modelagem Geológica

Os dados estruturais e de qualidade obtidos a partir são modelados em Vulcan,


recorrendo a interpolação por distância inversa com a devidas ponderações para cada fase e
gerados grids estruturais e de qualidade por cada horizonte definido, figura 33 e 34.

54 | P a g e
Figura 33: Fases do processo de modelagem geológica (cortesia Lino Jeque)

A eficiência do uso de interpolação que é um método tradicional para estimativa de


teores e reservas em detrimento dos métodos geoestatístico ainda não foi determinada.

Figura 34: Esboço de corte de um modelo de blocos secção 4 (cortesia Lino Jeque)

3.5.4 Estudos analíticos Camada Chipanga Secção 2A

Os estudos de viabilidade para o projeto Moatize, propõe que o processo de alimentação


a planta de beneficiamento seja uma alimentação direta para permitir que o ciclo produtivo de
lavra, alimentação, processamento e carregamento por comboios seja contínuo e permitir o
55 | P a g e
ramp up agressivo viável para o projeto.
Esse processo dispensa o processo de homogeneização do carvão antes de ser
alimentada com vista a garantir menor variabilidade e previsibilidade do carvão a ser
processado. Assim, para garantir previsibilidade de alimentação num processo de lavra direta é
proposto um detalhamento de qualidade em mina de opções de lavra e alimentação tendo em
conta também as restrições de mercado – a lavra seletiva.
As opções de lavra e alimentação são feitas em perfil, determinando diferentes
horizontes a partir de das assinaturas geofísicas (densidade e gama), figura 35, acopladas a
variação de qualidade. Existe uma continuidade lateral consistente do comportamento das
assinaturas geofísicas para a maioria das camadas, principalmente para a camada Chipanga
independentemente da secção ainda que qualitativamente distintas. Sendo que a lavra é feita
por equipamentos de grande porte, os horizontes individuais, com algumas premissas de
otimização de processo, são agrupados em horizontes de lavra e processamento a uma espessura
que corresponda a espessura mínima do porte de máquinas de lavra.

Figura 35: Tendência de variação de qualidade da camada Chipanga S2A

56 | P a g e
Os horizontes com restrições especiais como o fósforo e enxofre alto, difíceis de serem
controlados por processos de separação densimétrica são agrupadas onde for possível em um
único horizonte de lavra e processamento para permitir o doseamento posterior durante o
processo de carregamento de produtos para a venda, figura 35 e 36.

Figura 36: Foto panorâmica de delimitação de horizontes em campo e com ajuda de geofísica (cortesia Ernesto
Sousa)

Os horizontes coincidem com algumas características de qualidade principalmente


àqueles associados ao grau de incarbonização, na exceção de locais onde a variação é afetada
pelos fatores pós genéticos (intrusões, falhamentos e oxidação).
A definição das opções de lavra e alimentação são integrados ao estudo de proposta de
definição de produtos para evitar que horizontes que compões produtos diferentes sejam
compostos para lavra e alimentação conjunta. Para o mercado existe uma restrição de
composição de diferentes horizontes em função da variação do grau de incarbonização,
distinguido pela refletância das vitrinites e a matéria volátil, figura 37.

57 | P a g e
Figura 37: Definição de produtos para diferentes horizontes com a relação da matéria volátil e reflectância das
vitrinites

3.5.5 Efeitos genéticos e pós-genéticos sobre camada Chipanga

Como descrito no capítulo 2.1.2, a camada Chipanga da secção 2A sofreu por influência
dos agentes singenéticos (temperatura e pressão com o tempo) aumento progressivo de grau de
incarbonização com aumento da profundidade de soterramento. A taxa de maturação (gradiente
de maturação) depende do grade e do tipo da matéria vegetal associado. Os litotipos
constituintes do topo são basicamente as durains enquanto para a base essencialmente são as
vitrains.
A taxa de maturação média é de cerca 0.13% de RoV/100m de profundidade. Esse
gradiente é similar aquele observado por Vasconcelos (2009) de 0.12% de RoV/100 m de
profundidade, equivalente ao gradiente geotérmico de cerca de 2.13 ºC/100m de profundidade.
O comportamento inicial da curva de grau de incarbonização é perturbado pela oxidação do
carvão nas áreas de exposição, figura 38.
O modelo da variação do grau de incarbonização com o a profundidade para cada
Chipanga é típica da prevalência dos efeitos singenéticos (temperatura e pressão com o tempo)
durante o processo diagenético do pacote sedimentar, com interferência mínima dos agentes
pós-genéticos nas áreas de exposição (oxidação). Espacialmente, ou seja, ao longo da direção
da camada existe uma inclinação aparente suave da camada para sul, fazendo com que a camada
a sul esteja ligeiramente mais profunda que o norte, figura 40, enquanto a inclinação real é para

58 | P a g e
nordeste (NE) cerca de 15 graus.

Figura 38: Perfil de variação do grau de incarbonização com a profundidade

Assim esperava se uma diminuição relativa do grau de incarbonização do Sul para


Norte, que no geral se observa, contudo, uma observação do padrão de variação do Sul para
Norte mostra um comportamento anómala das camadas do topo de Chipanga quando
comparado as da base de Chipanga, figura 39.
Para o lower Chipanga e middle Chipanga a tendência é de diminuição do grau de
incarbonização para o Norte com curva convexa, o que condiz com o perfil de profundidade,
que também diminui para Norte, a convexidade obedece ao incremento local condicionado pelo
dique e que corta as camadas do middle Chipanga e lower Chipanga. Contudo esse facto não se
observa para as camadas de upper Chipanga que mostram uma diminuição e depois incremento
a partir do centro para norte e com curvas côncavas. Tal deve se a excessos de diques no norte
e efeito soleira que tem mais efeito no Sul e que afetam principalmente o topo da camada
Chipanga.

59 | P a g e
Figura 39: Perfil de variação do grau de incarbonização para norte

A concavidade do upper Chipanga deve se a sua maior exposição na região central. O


efeito soleira poderia ser mais evidente com a fixação da variação da profundidade, mas o
número de amostras disponíveis após fixar variação da profundidade é insignificante para
análise.
Intuitivamente quanto ao grau de incarbonização pode se inferir três domínios; do sul,
centro e norte. O domínio sul subdividiria se em dois; um com tendência de incremento de grau
de maturação para o centro nas camadas da base de Chipanga e outro com tendência de
diminuição para o centro nas camadas do topo. O domínio centro também em dois em função
do tipo de concavidade das camadas do topo e convexidade na base e um no Sul. No Norte com
tendência suave para todos os horizontes, figura 40.

60 | P a g e
Figura 40: Demonstrativo do gradiente de inclinação real e aparente das camadas (cortesia Lino Jeque)

3.5.6 Planta de processamento

A infraestrutura de beneficiamento da mina de carvão de Moatize é composta por duas


plantas de capacidade de 4000 t/h cada, sendo uma mímica da outra. O projeto inicial feito
SEDGMAN (2006), indica que a planta é concebida para processar carvão e produzir de forma
simultânea dois produtos, nomeadamente, coque a 10.5% de cinzas e carvão térmico para
exportação e uso doméstico de valor calorífico entre 22 a 27.2 MJ/Kg.
A planta comporta um silo transitório de 500 que recebe carvão do britador primário. O
silo de 500 alimenta dois silos paralelos de 2000 com dois estágios de classificação
granulométrica, que cada alimenta dois módulos dos 4 totais e com capacidade de 1000 t/h
cada, figura 41. Cada módulo comporta dois estágios de separação em meio denso,
espirais/reflux classifiers e micro células de flotação. No processo de meio denso, o primeiro
estágio consiste na separação de fração grosseira (+50x1 mm), onde o rejeito é inicialmente
separado a densidades relativamente elevadas para permitir que a separação nas densidades
mais baixas para obtenção de coque seja feita de forma eficiente sem participação de maior
parte do material com baixo grade.
Os produtos coques obtidos na fase grosseira de separação em meio denso, na fase média
em espirais (1x25 mm) e na fase final de flotação (-25 mm) são juntados numa única correia e
contra pilhados, enquanto, o produto térmico é obtido apenas do sistema de meio denso
SEDGMAN (2006).
61 | P a g e
Figura 41: Macro fluxograma de planta de processamento e carvão (cortesia VALE)

3.5.6.1 Circuito de meio denso

O circuito de meio denso e composto por dois estágios e usa princípio densimétrico de
flutua/afunda. O primeiro estágio de separação em meio denso consiste em separar o rejeito do
produto para essa fração granulométrica a densidades relativamente altas antes do processo de
separação posterior de carvão metalúrgico e térmico a densidades relativamente mais baixas no
circuito de DMC metalúrgico. O meio denso é controlado com suspensão de sólidos de
magnetite de alta dureza e fácil recuperação, figura 42.
Figura 42: Fluxograma do circuito de meio denso

62 | P a g e
3.5.6.2 Espirais

O circuito das espirais fundamenta se no princípio de uso máximo da aceleração


centrífuga. O movimento circular a velocidade e a posição de abertura conhecida dos esperais
o carvão menos denso é lançado para a periferia do disco da espiral e recolhido como produto
e o de menor densidade concentrando se no centro e coletado com rejeito fino, figura 43.

Figura 43: Fluxograma do circuito de espirais

63 | P a g e
3.5.6.3 Flotação

O circuito das micro células de flotação é composto por dois componentes, os


classificadores para os flutuados e sieve-bends para afundados. A flotação usa princípio de
ligações fracas por hidrofobidade, onde o material carbonoso é capturado por afinidade a
oxigénio em formas de bolhas de ar, figura 44.

Figura 44: Fluxograma do circuito de flotação

3.5.7 Comportamento geometalúrgico dos carvões de Moatize

3.5.7.1 Granulometria

A curva granulométrica rosin-rammler após processo de wet tumbing típicas das


camadas de bananeiras e Chipanga da secção 4 com 50 mm de top size são similares com
Bananeiras a produzir mais finos que Chipanga. A camada Chipanga da S4 produz mais finos
quando comparado a mesma camada da secção 2A, sendo o alto grau de incarbonização e alto

64 | P a g e
grade da secção 4, fator importante para as diferenças, como pode ser observado na figura 45.

Figura 45: Rosin-rammler típico dos carvões de Moatize

A distribuição de partículas por tamanho (PSD), figura 46 que é similar para as duas
secções (S4 e S2A), mostra que maior proporção e estimada ao circuito de espirais seguida do
circuito de ciclones de meio denso e no fim células com apenas cerca de 7%. A quantidade de
cinza na alimentação diminui com a diminuição do tamanho das partículas.

Figura 46: Distribuição das partículas por tamanho vs. avaliação de cinzas

65 | P a g e
3.5.7.2 Ensaios densimétricos por fração granulométrica

Os ensaios densimétricos são feitos para replicar a recuperabilidade nos circuitos de dos
dois estágios de meio denso (fração 1x50 mm) e de espirais (fração1x25 mm). A diminuição da
cinza com a diminuição do tamanho das partículas confere aumento significativo da
recuperação nas frações finas a baixos teores de cinza no produto. Contudo não se pode esperar
que se faça cominuição excessiva para garantir maior recuperação. Maior recuperação é
otimizada pela repartição ideal das frações granulométricas por cada circuito, evitando
sobrecarga de um determinado circuito. A sobrecarga de circuito origina perdas operacionais e
desbalança proporcionalmente a cinza no produto a partir do obtido individualmente por cada
circuito, figura 47.
A camada Chipanga na secção 4 representado por UCS (UCT, UCB1 e UCB2) e MCS
(UCB3 e MC) tem melhor recuperação a cinza relativamente mais baixas quando comparado a
camada bananeiras independentemente das frações granulométricas. Isso concorda com o
aumento relativo do grau de incarbonização da camada Chipanga sobre a camada bananeiras
ainda com relativo alto grade da parte basal de Bananeiras em relação ao topo da camada
Chipanga nesta secção.

Figura 47: Curva de lavabilidade das frações grossas a finas

66 | P a g e
3.5.7.3 Flotação

A replicação da flotação é feita em menor escala refletido o macroprocesso da planta


neste circuito que é representada pela fração ultrafina (-25 mm). A curva de flotabilidade é
diferente evidenciando variação grades entre as camadas e dentro delas. A camada Chipanga
da secção 2A por ser de alto grade tem maior flotabilidade que a camada de Sousa Pinto na
mesma secção que é de baixo grade. Dentro da camada Chipanga a base, o lower Chipanga
seam (LCS) tem melhor flotabilidade que o middle Chipanga seam (MCS) e por sua vez melhor
que upper Chipanga seam (UCS). A opções de lavra e alimentação são feitas de tal forma que,
desde que destinados a formar mesmo produto, a janela de flotação seja ótima evitando assim
saturação do sistema ou ausência de flotação. O tipo de floculante a ser usado depende muito
das características intrínsecas da combinação a ser processada.
Entre os horizontes de Sousa Pinto nota se que as amostras extraídas em campo mostram
melhor flotabilidade que àquelas tiradas depois do britador primário. Tal facto deve fazer
sentido uma vez que as amostras nas frentes de lavra são de menor escala e tem melhor
seletividade do que aquelas do processo de lavra normal com alta probabilidade de haver
diluições, contudo, a escala operacional é refletida pelas amostras após britador primário, figura
48.
Figura 48: Curva de lavabilidade das frações ultrafinas

67 | P a g e
3.6 DEFINIÇÃO, DETERMINAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS
GEOMETALÚRGICAS

As variáveis geometalúrgicas são entendidas para fins deste projeto àquelas que fazem
parte da natureza geológica do carvão e que impactam nos processos de obtenção de produto
dentro da especificação e de recuperação mássica de produto. Alarga se á a este domínio as
variáveis que ainda que sem impacto nos indicadores dependentes, devido à natureza geológica
de depósitos de Moatize são críticos para a comercialização, nomeadamente o fósforo e enxofre.
No levantamento bibliográfico antes feito os principais indicadores que tem efeito na
recuperação mássica são a cinza que também se relaciona a sua densidade, o grau de
incarbonização que é definida pela matéria volátil ou refletância de vitrinites e a granulometria
associada.
Os diversos indicadores de qualidade de carvão serão testados sobre a sua influência na
recuperação mássica do produto e sobre a variação de cinzas no produto a partir dos dados de
produção obtidos no ano de 2015 e 2016 na planta de processamento da planta de Moatize 1.
Em regra geral, para carvões de Moatize a maior recuperação se obtém nas
granulometrias mais finas que nas grosseiras. Uma análise mais detalhada indica que tal facto
deve se a concentração da matéria mineral nas frações grosseiras. Sendo a variação de
granulometria altamente influenciada pelo manuseio e de difícil previsibilidade in situ não será
discutida para os modelos variográficos. Mas a sua natureza poderá ser interposta por fatores
correlacionáveis e que se manifestarem significativos.
A determinação da qualidade no estágio de carvão bruto é limitada às análises imediatas
(humidade, cinzas, matéria volátil e carbono fixo) adicionando os parâmetros críticos como o
fósforo e enxofre.
E desejável que durante o beneficiamento do carvão, se obtenha maior recuperação
mássica com menor cinza de produto possível, sendo que, a referência de especificação é de
10.5% de teor de cinzas.
Uma matriz de impacto principal de cada indicador na alimentação para a recuperação
mássica e cinza do produto demonstra que para se obter melhor recuperação com cinza no
produto abaixo de 10.5% deve se assumir domínios por sub-horizontes que tenham cinza na
alimentação abaixo de 35%, com densidade específica abaixo de 1.6 g/cm3 e carbono fixo acima
de 42%. Alta cinza/densidade específica na alimentação implicará cumulativamente em baixa
recuperação e alta cinza no produto.

68 | P a g e
Na verdade, melhor grau de incarbonização que pode ser demonstrada por baixa matéria
volátil e maior carbono fixo em carvões de alto grade (i.e., baixa cinza e densidade), favorece
a recuperação mássica com menor cinzas nos produtos.
A magnitude de impacto de cinza, densidade e carbono fixo é correlacionável para
indicador recuperação mássica. Essa magnitude também se observa para o indicador cinza no
produto, com uma pequena restrição no carbono fixo onde o impacto para redução de cinza só
se observa quando estiver a cima de 42%. Os mais significativos são, a combinação entre
densidade e cinza, figura 49.

69 | P a g e
Figura 49: Matriz de efeito principal para os indicadores metalúrgicos recuperação mássica e cinza no produto. Notar efeito da recuperação (yield) acima da média e com cinza no produto abaixo da média quando cinza na alimentação (feed ash) for menor 40%,
densidade (RD) menor que 1.7 g/cm3, matéria volátil (VM) acima de 19%, fósforo (phos) acima de 0.100% e carbono fixo (FC) acima de 42%.

Main Effects Plot for Yield


Data Means
Feed Ash Feed RD Feed VM
44

42

40
38

36
M ean

34

01_Low(<35) 02_Mid(35-40) 03_High(>40) 01_Low(<1.6) 02_Mid(1.6-1.7) 03_High(>1.7) 01_Low(<18) 02_Mid(18-19) 03_High(>19)


Feed TS Feed Phos Feed FC
44

42

40

38

36
34

01_Low(<0.8) 02_Mid(0.8-1) 03_High(>1) 01_Low(<0.08) 02_Mid(0.08-0.1) 03_High(>0.1) 01_Low(<40) 02_Mid(40-42) 03_High(>42)

Main Effects Plot for Coke Ash


Data Means
Feed Ash Feed RD Feed VM

10.6
10.5

10.4
10.3

10.2
M e an

10.1
01_Low(<35) 02_Mid(35-40) 03_High(>40) 01_Low(<1.6) 02_Mid(1.6-1.7) 03_High(>1.7) 01_Low(<18) 02_Mid(18-19) 03_High(>19)
Feed TS Feed Phos Feed FC
10.6

10.5
10.4

10.3
10.2

10.1
01_Low(<0.8) 02_Mid(0.8-1) 03_High(>1) 01_Low(<0.08) 02_Mid(0.08-0.1) 03_High(>0.1) 01_Low(<40) 02_Mid(40-42) 03_High(>42)

70 | P a g e
A facilidade ou dificuldade de remoção do enxofre e fósforo irá depender da natureza
da sua fonte. Para fins metalúrgicos é classificado em o que tem afinidade orgânica ou
inorgânica. A afinidade não descreve, contudo, a fonte, mas sim, descreve se esses elementos
podem ou não se concentrar no produto ou no rejeito após o processamento.
A matriz da figura 49 mostra que o enxofre tenderá ser alto quando a cinza do produto
for mais baixa, sustentando a sua concentração ou afinidade na matéria orgânica.
O diagrama ternário na figura 50 demonstra que o enxofre nos carvões de Moatize é
essencialmente orgânico com alguma predominância do enxofre pirítico. Apenas o enxofre
pirítico é possível ser reduzido por processos de separação em meios densimétricos.

Figura 50: Diagrama ternário de tipos de enxofre e classificação maceral

A cinza no produto não varia muito com a variação de fósforo embora a recuperação
alta se obtenha com carvões que tem alto teor de fósforo.
Uma análise de interação dos fatores demonstra que o padrão de variação do fósforo
com alta variação cinza na alimentação e com baixa variação de cinza no produto é similar ao

71 | P a g e
que sustenta que o fósforo tem afinidade orgânica que é proporcionalmente invariável tanto
antes do processo como depois de processo.
Devido à alta correlação entre cinzas na alimentação, densidade específica e carbono
fixo e com magnitude de impacto na recuperação mássica e cinza no produto similar, apenas o
modelo variográfico de cinzas na alimentação, matéria volátil/refletância das vitrinites (RoV) e
fósforo serão modelados para delimitação de domínios de qualidade e análise de sensibilidade
geometalúrgica.

3.7 ESTATÍSTICA DESCRITIVA E EXPLORATÓRIA DAS VARIÁVEIS


GEOMETALÚRGICAS

3.7.1 Análise exploratória e descrição univariada das variáveis geometalúrgicas

Com o objetivo de examinar os dados previamente a sua aplicação é apresentada neste


subcapítulo o resumo estatístico de cada variável geometalúrgica com recurso ao software
Minitab bem com a análise variográfica com recurso ao software Isatis:

a. Raw coal global


De forma preliminar foram analisados para cada indicador do no estágio raw para todas
amostras sem distinção de horizontes. Nota se uma similaridade da curva de distribuição da
densidade relativa e cinza, sendo que a recuperação tende a mostrar mesmo padrão de
distribuição, ainda que com menor número de amostras em relação aos dois primeiros,
denotando assim alguma correlação entre as varáveis. Existem a partir da análise de boxplots
correspondentes valores extremos principalmente para densidade e a cinza, figura51. Esses
valores foram posteriormente confirmados nas cartas de controle de valores individuais e de
diferenças entre os pares ordenados por localização.

72 | P a g e
Figura 51: Sumário estatístico das variáveis no estágio Raw

Ainda na figura 51, pode se inferir a partir dos histogramas, a normalidade de dados
para os indicadores, porém, essa hipótese é rejeitada pelo teste de normalidade de Ryan-Joiner
(p-value<0.010). A falta de normalidade é atribuída aos valores extremos, devido a horizontes
que são intercalados por siltitos com valores extremos e valores pontuais devido a influência de
diques. Visto que o padrão espacial visa entender a influência nos mesmos no depósito não
serão expurgados. Os dados para as três variáveis estão ligeiramente skweed positivamente,
pelo que as suas respetivas médias aritméticas estão possivelmente subestimadas.

b. Raw coal por horizonte


Uma análise individualizada por horizonte confirma o comportamento global das
variáveis de densidade, cinza e recuperação. No geral existe uma tendência de diminuição da
densidade com a profundidade, com uma pequena perturbação no MC devido a presença de
intercalações de siltitos (MC27 e MC35), figura 52.

73 | P a g e
Figura 52: Estatística por horizonte no estágio raw

Variable RD RW Yield
Seam 01_UCT 02_UCB1 03_UCB2 04_UCB3 05_MCC 06_LCUT 07_LCUB 08_LC456 01_UCT 02_UCB1 03_UCB2 04_UCB3 05_MCC 06_LCUT 07_LCUB 08_LC456 01_UCT 02_UCB1 03_UCB2 04_UCB3 05_MCC 06_LCUT 07_LCUB 08_LC456
Minimum 1.61 1.53 1.44 1.49 1.32 1.47 1.44 1.34 36.0 25.8 23.6 15.7 18.2 21.9 19.6 13.9 13.9 0.7 19.3 20.6 4.7 22.3 21.8 23.7
Q1 1.74 1.65 1.61 1.57 1.65 1.57 1.56 1.42 45.4 39.4 34.9 31.4 37.0 31.3 31.2 17.3 20.1 22.5 30.5 32.3 20.4 34.6 36.4 53.6
Median 1.82 1.70 1.64 1.65 1.92 1.61 1.59 1.46 48.7 41.7 36.8 35.0 56.5 34.2 33.1 21.4 23.7 26.3 33.4 35.5 26.6 40.5 40.3 63.5
Mean 1.85 1.73 1.67 1.68 1.91 1.63 1.61 1.49 50.1 43.0 37.9 39.0 54.6 35.3 33.3 23.4 23.3 25.3 33.1 34.7 26.1 39.0 39.1 61.4
Q3 1.89 1.79 1.68 1.76 2.13 1.66 1.62 1.53 52.8 45.9 39.1 45.9 69.6 37.8 34.7 28.8 26.2 29.2 35.3 38.2 33.1 43.7 42.7 69.6
Maximum 2.32 2.38 2.27 2.46 2.59 2.03 2.20 1.90 77.3 73.7 64.2 71.4 85.5 61.2 74.1 57.2 36.7 38.5 44.6 44.5 42.1 50.0 52.4 79.6
IQR 0.150 0.135 0.070 0.190 0.480 0.090 0.060 0.110 7.400 6.450 4.200 14.500 32.600 6.500 3.500 11.500 6.053 6.750 4.780 5.940 12.665 9.055 6.340 15.990
SE Mean 0.005 0.004 0.004 0.003 0.005 0.003 0.003 0.003 0.237 0.222 0.181 0.209 0.325 0.200 0.146 0.233 0.542 0.876 0.626 0.526 0.949 0.660 0.585 1.060
StDev 0.148 0.128 0.120 0.146 0.269 0.099 0.091 0.087 7.564 6.448 5.676 9.350 16.852 6.237 4.494 6.972 4.201 6.377 4.926 4.701 8.751 6.362 5.766 10.430
Variance 0.022 0.017 0.014 0.021 0.073 0.010 0.008 0.008 57.213 41.580 32.220 87.425 284.002 38.901 20.194 48.603 17.649 40.664 24.262 22.102 76.573 40.479 33.246 108.730
CoefVar 8.020 7.400 7.180 8.650 14.090 6.090 5.660 5.890 15.110 14.980 15.000 24.010 30.840 17.680 13.480 29.800 17.990 25.170 14.900 13.550 33.490 16.310 14.750 16.980
Skewness 1.470 1.980 2.010 1.380 0.180 1.850 3.120 1.350 1.560 1.270 1.540 0.820 -0.090 1.480 1.350 0.680 0.230 -1.070 -0.100 -0.790 -0.450 -0.500 -0.720 -0.740
Kurtosis 1.900 6.040 5.090 2.340 -1.150 4.230 14.570 2.840 3.220 3.720 3.830 0.210 -1.380 3.750 8.850 -0.320 0.760 3.380 0.530 0.600 -0.410 -0.200 1.300 0.530
Count 1017 841 981 1993 2693 972 945 899 1017 841 981 1993 2693 972 945 899 60 53 62 80 85 93 97 96

A tendência da densidade é diretamente correlacionável ao comportamento do raw ash


é inversamente para a recuperação mássica. Aparentemente a correlação de densidade com a
cinza é mais forte que a com a recuperação mássica (yield). A evidência de valores extremos
na densidade e raw ash concentrados nas camadas do topo provavelmente devido a efeito da
soleira. Os valores extremos das camadas da base, figura 52, devem se a efeitos locais por
influência de diques, falhas e oxidação. Esse efeito não se verifica com a mesma magnitude na
recuperação mássica pois tanto o carvão queimado pelo dique/soleira, meteorizado e
intercalações de siltito são classificados como rejeito durante os ensaios de flutua/afunda e da
flotação muito por causa da sua alta densidade e fraca hidrofobidade.

c. Clean coal global

Os histogramas de enxofre, refletância e matéria volátil parecem apresentar padrão de


distribuição normal sendo a mais perfeita e confirmada pelo teste de Ryan-Joiner o de
refletância das vitrinites (p-value>0.010). A tendência de normalização dos dados de clean coal
quando comparado com o raw coal está associada a diminuição da magnitude de valores
74 | P a g e
extremos, pois no clean coal a parte de impúrias é expurgada durante os ensaios de
flutua/afunda que são os grandes causadores de valores extremos. O histograma de fósforo tem
skweness positivo, no que se prevê alto grau de dificuldade de estimar o seu padrão variográfico.
Uma anamorfose para a escala logarítmica mostrou se com locação e comportamento não
satisfatório. A média aritmética do fósforo aparentemente é subestimada, figura 53.

Figura 53: Sumário estatístico das variáveis no estágio clean coal

d. Clean coal por horizonte

O padrão por horizonte evidencia a característica de incremento de grau de


incarbonização com a profundidade refletida pelo incremente de RoV e correlação inversa da
matéria volátil. O fósforo não se relaciona ao grau de maturação assumindo uma distribuição
não consistente e concentrando se basicamente no middle Chipanga e parcialmente no lower
Chipanga com exceção do horizonte LC456. A natureza da razão de concentração de fósforo
em determinados horizontes, tentativamente, é explicada sem nenhum forte fundamento
académico aplicável e generalizável e.g. Barry et al. (1995; 1997) ao associar a estruturação
75 | P a g e
das vitrinites com a afinidade de remobilização de fósforo. O teor de enxofre decresce no geral
para as camadas da base e aparentemente associado à grade do carvão, figura 54.

Figura 54: Estatística por horizonte no estágio clean coal

3.7.2 Descrição bivariada das variáveis geometalúrgicas

O comportamento das variáveis na análise univariada permitiu inferir algumas


correlações das varáveis. Análise bivariada visa comprovar as suspeitas de forma gráfica e
significância numérica:

a. Correlações com o grade

O grade representa a quantidade de impurezas que é refletida pelo teor de cinzas. A


natureza da variação de cinza está associada a matéria mineral que tem alta densidade conforme
se pode confirmar com o coeficiente de correlação positivo entre cinza e a densidade que é
muito forte. Contudo o melhor ajustamento é com o modelo quadrático, figura 55.

76 | P a g e
Figura 55: Correlação estatística da cinza com a densidade e yield

A recuperação é guiada pela densidade nos ensaios de flutua e afunda, sendo que maior
densidade se obtém menor recuperação e vice-versa. Como a variação de cinza uma relação
direta com a densidade, então a cinza como demostrado terá relação inversa com a recuperação
ainda que com correlação relativamente mais fraca devido a presenças de siltitos carbonosos no
MCC de alta cinza, mas com grande grau de liberação após o processo de cominuição. O
modelo cúbico ajusta se melhor chegando a 77.44% do coeficiente de correlação, figura 56.

Figura 56: Coeficientes de correlação entre as variáveis com o grade

A natureza do enxofre nos carvões de Moatize é orgânico com a predominância de


enxofre pirítico. Apenas o enxofre pirítico correlaciona positivamente com a cinza e densidade,
77 | P a g e
demostrada pela correlação fraca do enxofre total com a cinza, figura 56.
O grade, ou seja, a variação de cinza é muito sensível a efeitos pós-genéticos
principalmente no estágio raw. Pelo facto de os testes das variáveis da matéria volátil e
refletância serem feitas a carvões de alto grade, não se espera alguma correlação com o raw
ash, havendo correlação, seria negativa ou inversa. O fósforo por ser orgânico tenderá a se
concentrar no produto enquanto a cinza no rejeito não se esperando por isso alguma relação
entre o fósforo e o grade.

b. Correlações com o grau de incarbonização

A refletância se correlaciona inversamente as demais variáveis, exceto para a


recuperação, significando que melhor recuperação se obtém em carvões de alto grau de
incarbonização e consequentemente de alto grade (baixa densidade e cinza). A correlação
esperada entre o grade e o grau de incarbonização é ofuscada pelos siltitos no MCC e topo de
Chipanga devido ao efeito soleira, ou seja, condições anómalas de carvões com baixo grade e
alto grau de maturação do carvão. Como se esperava a melhor correlação é demonstrada pelo
efeito de diminuição de matéria volátil com aumento da temperatura e pressão com o tempo
durante a génese e apenas a temperatura durante a pós-gênese, figura 57.

Figura 57: Correlação do grau de incarbonização com a matéria volátil e yield

A distribuição do enxofre orgânico na bacia é quase uniforme, mas devido a variação


não proporcional do enxofre pirítico, sendo maior nos horizontes de menor grade de topo.
Provavelmente devido a maior interferência fluvial nos períodos de abaixamento do
nível de lago que na base, dá a percepção ofuscada de que o grau de incarbonização estaria a
78 | P a g e
condicionar a concentração de enxofre.
Tal como visto nas funções de distribuição acumulada (FDA) de teor de fósforo que
foge da tendência de normalidade vista em outras variáveis, pelos coeficientes de regressão o
padrão de distribuição de fósforo não tem a ver nem com o grade e muito menos com o grau
de incarbonização, com coeficiente de Person a negar categoricamente a relação estatística entre
refletância e fósforo (p-value>0.05), figura 58.

Figura 58: Coeficientes de correlação entre as variáveis com o grau de incarbonização

79 | P a g e
3.7.3 Análise exploratória de padrão de amostragem

Conforme demonstrado na base de dados os dados raw coal contem maior número de
amostras que que o estágio clean coal. Em visão 3D são mostrados os padrões de distribuição
do teor de cinzas e refletância de vitrinites, figuras 59 e 60.

Figura 59: Mapa de distribuição de amostras para a variável teor de cinza

Figura 60: Mapa de distribuição de amostras para a variável reflectância de vitrinite

80 | P a g e
Uma das armadilhas da análise estatística é a maior densidade amostral ou amostragem
preferencial em determinados domínios. Zonas específicas podem ser selecionadas para adensar
a malha de sondagem como alvos prioritários de uma determinada sequência de lavra. Este
facto leva a que a morfologia estatística seja de maior frequência nas zonas mais adensadas,
visto que, não há proporcionalidade nos pesos entre os pares amostrais.
O desagrupamento, é uma técnica estatística que visa atribuir pesos proporcionais a
todas amostras para depois se analisar se os dados estatísticos são ou não influenciados pelos
dados agrupados.
Não foi feita nenhuma amostragem preferencial que possa afetar a análise estatística
pelo que seria inútil fazer o processo de desagrupamento. Uma tentativa de desagrupamento
mostrou efeito dos pesos quase similar para pelo menos raw ash, recuperação e refletância das
vitrinites, fósforo e a análise estatística mostrou se similar àquela mostrada os dados
desagrupados, figura 61.

Figura 61: Histogramas comparativos entre os dados agrupados e desagrupados

81 | P a g e
3.7.4 Análise exploratória de padrão espacial

Com o objetivo de explorar a existência de prováveis anisotropias e apurar as referências


do efeito pepita, à priori, da modelagem variográfica, foram feitas as análises exploratórias a
partir de mapas variográficas das variáveis em estudo e semi-variogramas omnidirecionais.
Análise complementar só prosseguiu para os horizontes que mostraram uma estruturação de
acordo com os variogramas omnidirecionais.

3.7.4.1 Variografia do grade por horizonte

Os semi-variogramas omnidirecionais para o teor de cinzas mostram que existem


anisotropias e que algumas estruturas controlam o padrão da variação do teor de cinzas (grade)
no depósito. Horizontes como UCT, UCB2, UCB3, MCC, e LCUT apresentam variação
totalmente aleatória (efeito pepita puro) que segundo constatado por Guerra & Salles (1998)
pode estar associado a erros de amostragem. Os horizontes UCB1, LCUB e LC456 mostram
anisotropia e com algumas direções preferenciais de continuidade. O horizonte LC456 parece
ter duas estruturas superpostas, comportando dois patamares e dois alcances, figura 62.

82 | P a g e
Figura 62: Semi-variogramas omnidirecionais para teor de cinza por horizonte

Os horizontes que mostraram alguma estruturação, nomeadamente, o UCB1, LCUB e


LC456 foram feitos os respetivos mapas variográficos para apurar as direções preferenciais de
continuidade, figura 63.
Figura 63: Mapas variográficos de teor de cinza nos horizontes UCB1, LCUB e LC456

83 | P a g e
Conforme se pode apurar dos mapas variográficos rotacionado na convenção geologist
plane a azimute N135 e inclinação de 10 graus, existem direções preferenciais de continuidade
para os três horizontes selecionados. Para o UCB1 existem duas direções de alta e baixa
variância (N295/N25) indicando diferentes patamares, mas com alcances similares, típico de
anisotropia estratigráfica. O LCUB mostra hibridade com patamares e alcances diferentes nas
direções N45 que é de maior continuidade e N135 de menor continuidade. O LC456 com
aparência de similaridade nos patamares e alcances diferentes, a anisotropia geométrica nas
direções N115 de maior alcance e N205 de menor alcance. A tabela 3 sumariza os parâmetros
usados para gerar os semi-variogramas omnidirecionais e mapas variográficos.

Tabela 3: Tabela de parâmetros usados para o semi-variogramas omnidirecionais e mapas variográficos para
teor de cinza

Parâmetro Valor Unidade


Mapa variográfico Variograma omnidirecional
UCB1 LCUB LC456
Nº de direções 18 18 18 18 -
Nº de passos 10 10 10 10 -
Largura do apsso 100 200 100 130.23 m
Tolerância do passo 5 5 2 65.12 m
Tolerância angular 1 5 1 90 graus
Nº mínimo de pares por célula 1 1 1 - -
Largura da banda na vertical - - - - m

Após a apurar o efeito pepita a partir de semi-variogramas omnidirecionais e potenciais


direções de continuidade a partir de mapas variográficos foram feitos semi-variogramas
experimentais para direções preferenciais seguido de ajustes. A tabela 4 sumariza os parâmetros
selecionados para semi-variogramas experimentais após testes das diferentes direções
mostradas no mapa variográfico.

Tabela 4: Parâmetros para semi-variogramas experimentais nas direções de maior continuidade e de menor
continuidade para teor de cinza
Regular reference plane Orthogonal plane
Value Value
Parameter UCB1 LCUB LC456 UCB1 LCUB LC456 Unit
Derection N295 N45 N115 N25 N135 N205 degress
Dip 10 10 10 10 10 10 degress
Number of regular directions 2 2 2 2 2 2 -
Tolerance on angle 20 45 45 10 45 45 degress
Lag value 120 127 130 120 127 130 m
Number of lags 10 10 10 10 10 10 -
Tolerance on Distance 50% 50% 50% 50% 50% 50% m
Slicing height - - - - - - m

84 | P a g e
A partir dos semi-variogramas experimentais foram ajustados os modelos variográficos
finais. O resumo das estruturas encontradas para os semi-variogramas ajustados estão na tabela
5.
Tabela 5: Parâmetros para semi-variogramas ajustados por horizonte de cinza
Horizonte Estrutura Modelo Patamar Alcances (m) Rotação
U V W
1 Efeito Pepita 4.15 A 135
UCB1

2 Cúbico 20.00 250 450 40 X 10


3 Esférico 7.00 100 100 100 Z
4 Cúbico 18.00 250 30000 4000
1 Efeito Pepita 8.03 A 135
LCUB

2 Cúbico 10.12 135.83 1018.7 339.57 X 10


3 Cúbico 11.96 12889.36 1074.11 1288.94 Z
1 Efeito Pepita 5.33 A 135
LC456

2 Esférico 7.45 210 50 70 X 10


3 Cúbico 10.37 950 200 100 Z
4 Cúbico 25.47 163 650 326

A figura 64 mostra os semi-variogramas nas direções preferenciais de maior e menor


continuidade. E possível confirmar as anisotropias zonal/estratigráfica para UCB1, híbrida para
LCUB e geométrica para LC456. As direções N295, N135 e N115 para UCB1, LCUB e LC456
são as próximas com a direção da camada (N313 ou N133), enquanto as direções ortogonais
àquelas, estão ao longo da direção da inclinação da camada. Nota se que o UCB1 tem maior
variância na direção próxima à da direção da camada, o que contraria a expectativa de que maior
variância está ao longo dos estratos. O LCUB mostra o comportamento esperado de maior
variância na direção de inclinação, contudo, com maior alcance de continuidade na mesma
direção, tal como, o LC456, embora este, com patamares similares.

85 | P a g e
Figura 64: Semi-variogramas ajustados para a variável teor de cinza (grade) para os horizontes selecionados

3.7.4.2 Variografia do grau de incarbonização por horizonte

O padrão do grau de incarbonização demonstra maior alcance de continuidade quando


comparado com o grade e claramente existem estruturas que controlam o padrão de variação
do grau de incarbonização, figura 65. Efeitos pepitas anómalos podem ser originadas por falta
de reprodutibilidade de amostras próximas devido a amostragem.

86 | P a g e
Figura 65: Semi-variogramas omnidirecionais do grau de incarbonização por horizonte

O padrão de variação da refletância de vitrinite aparenta ser uniforme para todos os


horizontes com mesmas direções de maior continuidade e baixa variância ao longo da direção
da camada e maior variância e menor continuidade na direção de inclinação da camada, figura
66. Esse facto deve sugerir menor sensibilidade aos efeitos pós-génese do grau de
incarbonização quando comparado a sensibilidade do grade.
A tabela 6 sumariza os parâmetros selecionados para semi-variogramas experimentais
após testes das diferentes direções nos horizontes escolhidos a partir do variogramas
omnidirecionais, sendo pequenos ajustes foram sendo feitas em função de cada horizonte.

87 | P a g e
Figura 66: Mapas variográficos de grau de incarbonização nos horizontes UCT, UCB1, UCB3, MCC e LCUB

Tabela 6: Parâmetros para semi-variogramas experimentais nas direções de maior continuidade e de menor
continuidade para reflectância

Regular reference plane Orthogonal plane

Parameter Value Value Unit


Derection N300 N30 degress
Dip 10 10 degress
Number of regular directions 1 1 -
Tolerance on angle 15 90 degress
Lag value 150 150 m
Number of lags 10 10 -
Tolerance on Distance 50% 50% m
Slicing height 10 - m

A partir dos semi-variogramas experimentais foram ajustados os modelos variográficos

88 | P a g e
finais. O resumo das estruturas encontradas para os semi-variogramas ajustados estão na tabela
7.
A figura 67 mostra os semi-variogramas ajustados da refletância e que representa a
variação do grau de incarbonização do carvão. Os alcances e os patamares para o grau de
incarbonização são diferentes, ou seja, anisotropia híbrida para as duas direções preferências e
que representam as direções da camada e direção da inclinação da camada, sendo conforme
esperado maior variância na direção ao longo dos estratos e no geral com menor alcance de
continuidade. O ajuste variográfico ficou largamente afetado pelo número reduzido de amostras
na base de dados de clean coal principalmente na direção de referência N300.

Tabela 7: Parâmetros para semi-variogramas ajustados por horizonte de reflectância

Horizonte Estrutura Modelo Patamar Alcances (m) Rotacão


U V W
1 Efeito pepita 0.00030 A 300
2 Esférico 0.00273 1800 2000 1100 X 10
UCT

3 Cúbico 0.00010 2000 500 600 Z 0


4 Exponencial 0.00005 900 900 900
1 Efeito pepita 0.00070 A 300
UCB1

2 Esférico 0.00017 1345.7308 1345.731 168.0646 X 10


3 Esférico 0.00205 2385.46417 2385.464 922.947 Z 0
1 Efeito pepita 0.00071 A 300
UCB3

2 Exponencial 0.00085 2329.99352 2129.994 40000 X 10


3 Esférico 0.00161 2129.99325 2129.993 600 Z 0
4 Esférico 0.00010 400 400 600
1 Efeito pepita 0.00042 A 300
2 Cúbico 0.00021 3916765.55 3916766 924.2581 X 10
MCC

3 Esférico 0.00106 1728.16854 1728.169 807.2461 Z 0


4 Exponencial 0.00141 2135.3977 2135.398 1098.744
1 Efeito pepita 0.00000 A 300
LCUB

2 Cúbico 0.00000 75 75 75 X 10
3 Esférico 0.00118 412.400092 412.4001 779.5231 Z 0
4 Exponencial 0.00207 3143.93716 3143.937 897.4921

89 | P a g e
Figura 67: Semi-variogramas ajustados para a variável reflectância (grau de incarbonização) por horizonte

3.7.4.3 Variografia do fósforo por horizonte


O padrão de variação de fósforo é muito distinto para diferentes horizontes, com
alcances e patamares diferentes. Alguns horizontes exibem pepita puro (UCB1, UCB2 e
UCB3). Os horizontes de maior fósforo, figura 68 (UCT, MCC, LCUT e LCUB) e que
constituem maior preocupação exibem uma estrutura consistente com alcance variográfico
maior que os outros horizontes. O horizonte LCUB tende a exibir um semi-variograma
potencial.
Figura 68: Semi-variogramas omnidirecionais do fósforo por horizonte

O fósforo tem maior continuidade e menor variância na direção da camada. A maior


90 | P a g e
variância e com menor alcance está na direção ao longo dos estratos. Uma exceção regista se
no UCT cuja continuidade não está clara, figura 69.

Figura 69: Mapas variográficos de teor de fósforo nos horizontes UCT, LCUT e LCUB

A tabela 8 sumariza os parâmetros selecionados para semi-variogramas experimentais


após testes das diferentes direções nos horizontes escolhidos a partir do variogramas
omnidirecionais, sendo pequenos ajustes foram sendo feitas em função de cada horizonte.

Tabela 8: Parâmetros para semi-variogramas experimentais nas direções de maior continuidade e de menor
continuidade para fósforo

Regular reference plane Orthogonal plane

Parameter Value Value Unit


Derection N320 N50 degress
Dip 10 10 degress
Number of regular directions 1 1 -
Tolerance on angle 15 90 degress
Lag value 150 150 m
Number of lags 10 10 -
Tolerance on Distance 50% 50% m
Slicing height 10 - m

A partir dos semi-variogramas experimentais foram ajustados os modelos variográficos


91 | P a g e
finais. O resumo das estruturas encontradas para os semi-variogramas ajustados estão na tabela
9.

Tabela 9: Parâmetros para semi-variogramas ajustados por horizonte de fósforo

Horizonte Estrutura Modelo Patamar Alcances (m) Rotacão


U V W
1 Efeito pepita 0.00000 A 300
UCT

2 Esférico 0.00052 857.2 857.2 207.23 X 10


Z 0
1 Efeito pepita 0.00203 A 300
LCUT

2 Cúbico 0.00332 7111.26 7111.26 1235.94 X 10


Z 0
1 Efeito pepita 0.00014 A 320
LCUB

2 Cúbico 0.00486 5039.39 5039.39 1514.64 X 10


3 Esférico 0.00085 790.145 790.15 846.68 Z 0

A figura 70 mostra os semi-variogramas ajustados para a variável fósforo nas direções


de maior e menor continuidade. O menor número de amostras impactou a análise
principalmente na direção da camada, que como esperado exibe uma menor variância quando
comparado a direção da inclinação das camadas. O UCT exibe uma anisotropia geométrica
atingindo mesmo patamar em alcances diferentes, sendo maior alcance na direção da camada e
menor na direção ao longo dos estratos.

Figura 70: Semi-variogramas ajustados para a variável fósforo por horizonte

92 | P a g e
3.7.5 Validação cruzada
A validação cruzada não é feita necessariamente para validar se o semi-variograma é
correto, mas sim, para testar condicionalmente se os semi-variogramas adotados dão adequada
reprodução dos valores observados.
A metodologia consiste em remoção temporária dos pontos amostrais Z (x) e suas
posições substituídas por estimativas pontuais Z*(x) obtidas por via da krigagem das
informações de vizinhança e do modelo variográfico considerado.
A sua representação é através de mapa de pontos cujo tamanho é representa
proporcionalmente o erro cometido, correlação entre valores estimados e observados e seu
respetivo coeficiente de correlação linear, FDA dos erros cometidos, correlação entre o erro
padronizado e valor estimado.
Não existindo um semi-variograma na prática, perfeito, cabe ao pesquisador ponderar a
consideração ou não dos erros, pois segundo Arroyo (2014), a validação cruzada pode revelar
problemas cuja solução não é imediata. A figura 71 representa os histogramas dos erros após a
validação cruzada.
Figura 71: Função distribuição acumulada dos erros dos modelos variográficos usados

3.7.6 Estimativa das variáveis geometalúrgicas

Com vista a proceder com a estimativa por krigagem foi criado uma malha para blocos
de 100x100x5m, correspondentes a XY e Z respetivamente. A razão de escolha de blocos
regulares com variação de 5m nos bancos é justificada em parte pelo longo alcance ao longo
dos extratos e menor com a profundidade e pela necessidade de regularizar os blocos para
adequá-los ao nível real de seletividade em função do tamanho dos equipamentos e intensidade
de lavra.
93 | P a g e
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSÕES

4.4 CATEGORIZAÇÃO DE RECURSOS E MAPAS DE ESTIMATIVA DAS VARIÁVEIS


GEOMETALÚRGICAS

Existem várias formas que podem ser adoptadas para categorização de recursos, sendo
que o mais adequado é algo virtual e depende muito do pesquisador quanto ao nível de
conhecimento sobre o depósito. Com base no alcance variográfico, que adopta percentagens da
variância (patamar), assumindo o acréscimo do nível de incerteza com aumento da distância,
foi feito a categorização de recursos. Foi adoptado o alcance variográfico do grade (250 m) por
ser mais conservador e de maior correlação com a recuperação mássica, tabela 10 e figura 72.
O recurso ao uso de coeficiente de correlação dos valores observados sobre os estimados
também mostrou resultados similares:

1. Recursos medidos<=a/2=250/2=125; R-sq ≥ 0.90


2. Recursos indicados:125<d<=250; 0.90> R-sq >0.80
3. Recursos inferidos: d>250; R-sq ≤ 0.80

Tabela 10: Tabela de categoria de Recursos (01_BNL= bnl1+bnl2a+bnl3a; 02_UCS=uct+ucb1+ucb2;


03_MCS=ucb3+mc+lcut; 04_LCS=lcub+lc456)

CATEGORIAS 01_BNL 02_UCS 03_MCS 04_LCS TOTAL

01_MEDIDO
8,894,138 26,472,789 43,371,765 14,583,789 93,322,480

02_INDICADO
6,736,013 4,245,510 7,194,448 1,838,442 20,014,412

03_INFERIDO
189,736 444,121 480,052 85,396 1,199,304

TOTAL
15,819,886 31,162,419 51,046,264 16,507,626 114,536,196

94 | P a g e
A categoria dos recursos medidos representa cerca de 82%. Tal facto deve se a malha
de sondagem convencionada no curto prazo de 175x175 m para categorizar recursos como
medido, sendo que o curto prazo trabalha apenas dentro de recurso medido. 82% de recursos
caem na categoria de medido tendo em conta o alcance variográfico do grade de 250 m, o que
resulta em uma densidade amostral provavelmente desnecessária para a variabilidade espacial
dos indicadores geometalúrgicos, tabela 11.

Figura 72: Categorização de Recursos

Tabela 11: Estatística descritiva por categoria de recursos

VariableCATEGORIA Mean SE Mean TrMean StDev Variance Minimum Q1 Median Q3 Maximum IQR Skewness Kurtosis
01_MEDIDO 39.7 0.0703 39.7 9.0180 81.3 15.2 33.7 38.1 46.4 72.4 12.8 0.17 -0.01
RW_ASH 02_INDICADO 40.4 0.1740 40.4 9.2310 85.2 16.5 33.7 39.0 48.2 65.7 14.5 0.12 -0.44
03_INFERIDO 42.9 0.6040 43.0 8.9990 81.0 21.4 35.7 43.0 49.2 60.5 13.6 -0.2 -0.34
01_MEDIDO 33.5% 0.00086 32.5% 0.11036 0.0122 9.2% 26.2% 31.2% 37.0% 76.1% 10.8% 1.44 2.22
YD145 02_INDICADO 32.5% 0.00195 31.6% 0.10366 0.0108 13.5% 26.1% 30.7% 35.2% 73.8% 9.1% 1.52 2.47
03_INFERIDO 30.4% 0.00573 29.3% 0.08531 0.0073 21.4% 24.4% 29.6% 32.4% 61.5% 8.0% 2.14 5.49
01_MEDIDO 1.40 0.00127 1.39 0.16350 0.0267 1.19 1.30 1.33 1.50 1.88 0.20 1.34 0.78
ROV_MX 02_INDICADO 1.36 0.00220 1.34 0.11670 0.0136 1.20 1.30 1.32 1.35 1.88 0.05 2.56 6.52
03_INFERIDO 1.32 0.00254 1.32 0.03790 0.0014 1.25 1.29 1.31 1.34 1.40 0.05 0.27 -0.56
01_MEDIDO 0.079 0.00038 0.076 0.04883 0.002384 0.002 0.045 0.070 0.108 0.281 0.063 0.92 1.1
PHOS 02_INDICADO 0.066 0.00073 0.064 0.03861 0.001490 0.005 0.040 0.064 0.090 0.210 0.050 0.81 0.87
03_INFERIDO 0.075 0.00263 0.074 0.03914 0.001530 0.008 0.047 0.065 0.094 0.180 0.047 0.83 0.48

95 | P a g e
4.4.1 Detalhamento por categoria de recursos

Devido a efeitos pós genéticos que afetam as camadas de carvão, houve necessidade de
subcategorizar o carvão fresco das subcategorias de carvão afetado pelos corpos intrusivos. Este
detalhamento surgiu pelo facto de ter se observado que o efeito de alteração por efeitos de
soleiras e diques, com exceção das zonas mais proximais (até 10 m), está a associado a alteração
de parâmetros de fluidez e de dilatação do carvão e não da resposta geometalúrgica destas
subcategorias quando comparado ao carvão fresco. Esta percepção acabou gerando um ganho
de 36% nos recursos pois foi possível destacar carvão que embora afetado pelo dique, pode ser
reaproveitado, tendo em conta que antes todo recurso naquela categoria era carimbado como
estéril, tabela 12.
Fez-se a categorização com base nos parâmetros de qualidade que se mostraram
sensíveis ao efeito de calor como demostra o fluxograma, figura 73.

Figura 73: Base para distinção do carvão fresco das subcategorias de carvão afetado pelos corpos intrusivos:
TC2_A: carvão transicional levemente afetado, TC2_B: carvão transicional moderadamente afetado e BC:
carvão significativamente afetado.

96 | P a g e
Tabela 12: Tabela de detalhamento de recursos por categoria e por nível de quão afetado por intrusões

CATEGORIAS FRESH TC2_A TC2_B TOTAL


01_MEDIDO 57,792,662 14,582,395 20,947,423 93,322,480
01_BNL 7,725,773 1,168,365 8,894,138
02_UCS 12,247,314 7,897,047 6,328,428 26,472,789
03_MCS 27,299,762 5,922,112 10,149,890 43,371,765
04_LCS 10,519,813 763,236 3,300,740 14,583,789
02_INDICADO 12,883,709 4,457,698 2,673,006 20,014,412
01_BNL 5,588,734 1,147,279 6,736,013
02_UCS 1,716,498 2,046,643 482,369 4,245,510
03_MCS 4,302,533 2,068,614 823,301 7,194,448
04_LCS 1,275,944 342,441 220,057 1,838,442
03_INFERIDO 1,076,008 121,371 1,925 1,199,304
01_BNL 187,811 1,925 189,736
02_UCS 325,124 118,997 444,121
03_MCS 477,678 2,374 480,052
04_LCS 85,396 85,396
TOTAL 71,752,378 19,161,464 23,622,353 114,536,196

97 | P a g e
4.5 MAPAS DE ESTIMATIVA DE VARIÁVEIS GEOMETALÚRGICAS
4.5.1 Raw ash e Recuperação

Figura 74: Mapas de variação de raw ash por ply. Nota: os mapas não têm a mesma escala.

98 | P a g e
Figura 75: Mapas de variação de recuperação por ply. Nota: os mapas não têm a mesma escala de variação

99 | P a g e
Os mapas espaciais de raw ash que são inversamente proporcionais a recuperação
mássica, evidenciam o efeito pós genético no Sul onde tende a ter maior cinza, figura 74, sendo,
que estratigraficamente a cinza decresce com a profundidade. Este efeito é similar ao grau de
maturação que também aumenta para sul onde o efeito da soleira é mais intenso. Este cenário é
como esperado inversamente proporcional para a recuperação mássica, figura 75.

4.5.2 Validação das estimativas


Os mecanismos de validação dos modelos estimados podem ser variados. Todas
convergem no facto de comparar os dados originais ou pontos de amostragem com os dados
estimados. Variam desde a reprodutibilidade da variabilidade espacial ou simplesmente
variografia, correlações ou validações cruzadas, reprodução em gráficos quantil-quantil e ou de
probabilidade. Outra forma é a reprodução das funções de distribuição acumulada (sejam eles
histogramas ou mesmo boxplots) dos valores acumulados dos valores estimados. Na figura 76
estão representados os gráficos da distribuição acumulada de cinco variáveis estimados e dados
originais bem como a correlação de valores de recuperação e cinza.

Figura 76:Validação estatística dos dados estimados sobre os observados com recurso a função de distribuição
acumulada e correlação.

RAW_ASH vs YIELD Histogram of YIELD


100 Histogram of RW_ASH
TI PO 4 TI PO
ESTI MADO
ESTI MADO TI PO
ORI GI NAL ORI GI NAL
ESTI MADO
ORI GI NAL
Mean StDev N
0.04
80 0.3261 0.1054 19514
3 0.3261 0.1621 1118 Mean StDev N
39.80 9.058 19514
43.63 14.14 2449
0.03
RW_ASH

Density

Density

60
2
0.02

40
1
0.01

20

0 0.00
0.0 0.4 0.8 0.00 0.11 0.22 0.33 0.44 0.55 0.66 0.77 18 27 36 45 54 63 72
YIELD YIELD RW_ASH

Histogram of ROV_MX Histogram of T_SULF Histogram of PHOS

TI PO TI PO TI PO
ESTI MADO ESTI MADO ESTI MADO
ORI GI NAL 3 ORI GI NAL 8 ORI GI NAL

3
Mean StDev N Mean StDev N Mean StDev N
1.395 0.1577 19514 0.8700 0.1302 19514 0.07747 0.04761 19514
1.290 0.1196 1118 0.8826 0.1537 1110 0.08889 0.05960 1093

6
2
Density

2
Density

Density

1
1
2

0 0 0
1.08 1.26 1.44 1.62 1.80 1.98 2.16 2.34 0.60 0.72 0.84 0.96 1.08 1.20 1.32 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30
ROV_MX T_SULF PHOS

100 | P a g e
Os valores da variável recuperação, enxofre e fósforo reproduzem se estatisticamente,
embora, os valores estimados tendem a ter menor desvio padrão e consequentemente menor
variância. Este facto deve se ao facto de efeito de suavização durante o processo de estimativa.
Os valores de cinza e refletância tendem a ter aparentemente um viés negativo e positivo
respectivamente, mantendo a tendência de menor variância nos valores estimados. Uma
fragmentação dos parâmetros com viés mostrou que essa tendência deveu se ao facto de durante
a estimativa ter se usado todo data-base disponível incluindo zonas já lavradas para garantir
número de amostras razoáveis para esses parâmetros e na validação ter se usado apenas dados
originais apenas dos blocos disponíveis.
Esse facto originou uma espécie de agrupamento aparente associado a facto a zona
remanescente ter uma tendência de alta cinza e refletância devido a sua sensibilidade a
intensidade dos efeitos de soleira e dique para o sul.

4.6 DOMÍNIOS GEOMETALÚRGICOS

Com base na análise multivariada foi feita a definição de domínios geometalúrgicos


integrando as variáveis de grade e de maturação de carvão. Como é mostrado na figura 77. Os
domínios geometalúrgicos assumiram a curva granulométrica fixa com valores nominal,
máximo de finos e máximo de grosseiros conforme o projeto em função das amostras de furos
de largo diâmetro no processo de unificação que não é objeto de estudo para esta tese.
As zonas ou domínios de alta recuperação já foram lavrados, sobrando apenas 8% dos
blocos sequenciados, baixo yield com 55% e médio com 37%.

101 | P a g e
Figura 77: Domínios geometalúrgicos resultantes da análise multivariada destacando os domínios de alta
recuperação, recuperação moderada e baixa recuperação baixa

102 | P a g e
4.6.1 Resultado das estatísticas por domínio

Como era de se esperar, a cinza e a refletância aumenta gradualmente do domínio de


alta recuperação para a baixa recuperação, sendo o sentido inversamente proporcional para a
recuperação mássica e fósforo, como pode ser observado na figura 78.
Tal deve se ao facto de os blocos de alta recuperação terem sido menos afetados pela
soleira e dique quando comparado ao de baixa recuperação. O efeito do calor aumenta a
maturação de carvão implicando maior refletância do carvão, da mesma forma que quando o
calor é demasiado e rápido carboniza a matéria orgânica aumentando proporcionalmente a
matéria mineral traduzidas em cinza. O fósforo proporcionalmente tem afinidade orgânica19
pelo que tende a se concentrar mais nas zonas de alta recuperação.

Figura 78: Estatísticas dos parâmetros de cinza, reflectância, fósforo e recuperação teórica.

A categorização de domínios visa mostrar as variações espaciais dos indicadores


metalúrgicos. Para dar visibilidade da variação desses indicadores com a profundidade foi feita
uma análise multivariada para apurar os horizontes resultantes entre a curva ótima de variância

19
A afinidade orgânica que aqui se refere não é propriamente química ou que o fósforo seja de proviniência orgânica, mas sim
no sentido de que o fósforo tende a concentrar nas partículas de carvão após lavagem por processos densimétricos, pois, o seu
hospedeiro, a apatite encontra se dispersa em pequenos granulos da composição da parte orgânica do carvão o que torna ele difícil
ser eliminado durante o processamento.
103 | P a g e
e a espessura mínima considerado operacional, figura 79.
Figura 79: Definição de domínios com a profundidade por domínio geometalúrgico espacial

4.6.2 Análise de sensibilidade da variável recuperação

Com o objetivo de analisar a sensibilidade de uso de valores médios de recuperação


(nominal) do depósito para projetar os valores de produção global foram feitas as curvas de
distribuição probabilística dos dados estimados por categoria e por domínio geometalúrgico,
figura 80. Percebe se que a curva de probabilidade nominal pode ser omissa para
sequenciamentos como de curto prazo, gerando problemas na reconciliação dos valores
estimados e dos valores realizados num determinado período. Importante é a demonstração aqui
explícita de que o nível de risco para estimativa por tipo de categoria e por domínio
geometalúrgico devem ser consideradas nos planejamentos de curto prazo, pois não há
reprodução dos valores médios quando se muda de categoria de recursos e para cada domínio
geometalúrgico.

104 | P a g e
Figura 80: Curvas de análise de sensibilidade de recuperação com a mudança de categoria e domínio
geometalúrgico.

Não feito aqui o nível de detalhe para perceber a variação com a estratigrafia, mas pelo
facto de os variogramas terem indicado maior variação ao longo dos estratos remete-nos a
convicção de que deve se considerar também a participação proporcional dos horizontes
individuais nos planos de lavra, principalmente de curto prazo.

105 | P a g e
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES

5.4 CONCLUSÕES

A partir dos resultados apresentados pode se suscintamente concluir que:

• As variáveis de qualidade que determinam a recuperação mássica são àquelas


associadas à grade (cinza) ao grau de incarbonização (refletância) de do carvão. Esse
padrão, contudo, é localmente alterado por efeitos pós genéticos.
• O estudo da variografia não só permitiu constatar maior variabilidade ao longo dos
estratos como também a correta categorização dos recursos em função do nível de
incerteza.
• Durante o estudo variográfico foram identificadas anisotropias com direções
preferencias e de alcances diferentes, com maior variância ao longo dos estratos que na
direção de inclinação. Isso sugere que o uso da malha quadrática, que é o caso de
Moatize curto prazo, pode acarretar custos de sondagem desnecessários.
• A recategorização dos recursos alterados por efeitos pós genéticos, permitiu aumentar
em cerca de 36% de forma condicional os recursos que antes eram considerados como
estéril.
• A análise multivariada permitiu apurar três unidades geometalúrgicas, nomeadamente
de alta (8%), moderada (35%) e baixa recuperação (55%), o que coloca os cenários de
produção mais desafiadores uma vez boa parte que seria de categoria de alta recuperação
foi lavrado no centro e no norte da mina nos primeiros 5 anos.
• As curvas de densidade probabilístico simulados por categoria e por domínio neutraliza
o conceito do uso da média num determinado plano, principalmente de curto prazo.
Sendo desta forma recomendável que cada previsão considere os limites de incerteza da
área e muito mais importante que considere domínio específico. A junção de diferentes
domínios pode dificultar a previsibilidade a curto prazo desta forma a lavra e
processamento e optimização global do recurso como resultado da superestimativa ou
subestimativa.

106 | P a g e
5.5 TRABALHOS FUTUROS

• Estudar a sensibilidade da malha ótima que forneça melhores resultados de estimativa


com menor custo.
• Avaliar o impacto do uso de blocos de 100x100 m adoptados no planejamento de curto
prazo sobre os de 75x75 m, 50x50 m e 25x25 m para captar a variabilidade pontual.

107 | P a g e
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