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Operação de uma central mini-hídrica tendo em conta a

disponibilidade de habitat a jusante

Isabel Maria Franco Pragana

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil
Orientadores
Professor Doutor António Alberto do Nascimento Pinheiro
Doutora Isabel Maria Bento de Matos Boavida

Júri
Presidente: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira
Orientador: Professor Doutor António Alberto do Nascimento Pinheiro
Vogais: Professor Doutor António Bento Franco
Doutor Paulo José de Lemos Branco

Janeiro 2015
Agradecimentos

Esta dissertação constitui o produto final de muita dedicação e empenho ao longo de 5 anos de
formação. Este percurso não seria possível sem o contributo de muitas pessoas que me apoiaram.
Nesta secção, passo a citar o meu agradecimento àqueles que me ajudaram a concluir esta etapa
final, e aos demais que estiveram sempre presentes.

Ao Professor Doutor António Pinheiro, o principal promotor desta dissertação, por todo o
conhecimento transmitido, pela excelente orientação deste trabalho, bem como pela disponibilidade
apresentada ao longo deste ano.

À Doutora Isabel Boavida, um sincero obrigada por todo o apoio, por todos os esclarecimentos, por
todas as horas dispensadas e pelas suas palavras que sempre transmitiram força e persistência.

À Hidrocentrais, S.A., que proporcionou a execução do levantamento topográfico e o acesso a


documentos essenciais para a realização desta dissertação.

Ao Professor Doutor Rui Cortes, pelo apoio prestado na pesca eléctrica no rio Bestança, por todo o
seu contributo na realização das regras fuzzy e pela disponibilidade e acolhimento demostrados por si
e pela sua equipa de trabalho.

Aos meus pais, que constituem o suporte da minha vida. À minha mãe por todas as palavras sábias,
por todo o carinho e por todo o apoio que deu na concretização deste percurso académico. Ao meu
pai, pelos conselhos prestados, pela orientação do meu percurso académico e por me proporcionar
acesso aos melhores conhecimentos.

À minha irmã, Ana, por todo a força, apoio, conselhos, carinhos e pelo seu sorriso.

Ao Filipe, por estar sempre presente com a sua alegria contagiante, que me fez sorrir em momentos
mais difíceis.

A todos os meus amigos, pela preocupação e carinho.

Ao David, por todo o seu amor, compreensão, amizade, pelo apoio e força transmitida e pela sua
dedicação.

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Resumo

O hydropeaking é o um dos principais factores de alteração do regime hidrológico e das condições


ecológicas do rio. Deriva da operação de um aproveitamento hidroeléctrico, em que são efectuados
turbinamentos com caudal elevado durante o período de maior consumo de energia. A intensidade,
frequência e duração deste evento provoca condições de stress para diferentes estágios de vida das
espécies piscícolas, afectando o sucesso das populações. Como forma de mitigação, podem ser
desenvolvidas medidas operacionais e estruturais. Geralmente, as medidas estruturais são preferidas
em detrimento das operacionais, devido às perdas de energia associadas, que podem colocar em
causa a viabilidade económica da central hidroeléctrica. O conhecimento do efeito ambiental das
medidas operacionais e dos custos inerentes é fundamental para seleccionar medidas que possam
integrar os dois aspectos.

Este estudo investiga os efeitos da operação de uma mini-hídrica no habitat da Salmo trutta,
considerando diversos cenários. Para efectuar a modelação hidrodinâmica bidimensional do
escoamento, no troço da ribeira de Carvalhosa, situado imediatamente a jusante da central
hidroeléctrica de Ermida, foi utilizado o modelo computacional River2D. A simulação do habitat foi
desenvolvida com recurso ao Casimir Fish 2D aplicando conjuntos e regras fuzzy desenvolvidas para
juvenis e adultos.

Através da definição de cenários de operação da central tendo em conta os períodos tarifários de


produção de energia, foi possível aferir a influência do funcionamento da central no habitat disponível
para a espécie-alvo, bem como as perdas de receita associadas aos cenários de produção. Os
resultados constituem recomendações para a operação ecohidráulica da central tendo em conta as
perdas de receita e os ganhos de habitat.

Palavras-chave: hydropeaking, modelação de habitat 2D, WUA, lógica fuzzy, Salmo trutta, operação

da central hidroeléctrica.

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Abstract

Hydropeaking is seen as one of the major river impacts, affecting the natural flow regime and the
biotic integrity. This occurs due to hydropower plant operation when high discharges are made at a
daily regular basis during high electricity consumption periods, severely affecting the aquatic
ecosystem. The intensity, frequency and duration of hydropeaking events often place an intolerable
stress on fish over all life-stages. To contradict this tendency, either structural or operational mitigation
measures have been proposed. Usually, structural measures are selected over the others due to the
economic impacts on the electricity producer, which may turn unfeasible the electricity production.
Therefore, understanding the impacts of operational measures over the economics of electricity
production is paramount in order to select solutions that fit both interests.

The present study investigates the effects of a mini-hydropower plant in the fish habitat of brown trout
considering different operational scenarios. Thus, the computational model River2D was applied to the
river reach immediately downstream of the Ermida hydropower plant in the Carvalhosa stream, to
obtain the 2D hydrodynamic features of different discharges. The fuzzy sets and rules were developed
for juvenile and adult life-stages of trout and habitat simulations were carried out in the Casimir Fish
2D.

Accordingly different operational scenarios were developed considering the habitat availability results
and the power production periods according to the cost of the electricity. How the operation of
hydropower plant was influencing the habitat suitability, as well as the earning losses related with the
production scenarios was taken into consideration. Results from this study will assist water managers
to adapt hydropeaking regimes in order to reduce ecological impact without neglecting energy revenue
losses.

Keywords: hydropeaking, 2D habitat modeling, WUA, fuzzy logic, brown trout, hydropower plant

operation.

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Índice

1 Introdução ........................................................................................................................................ 1
1.1 Enquadramento ....................................................................................................................... 1
1.2 Objectivos ................................................................................................................................ 2
1.3 Estrutura da dissertação .......................................................................................................... 3
2 Síntese de conhecimentos ............................................................................................................... 5
2.1 Considerações prévias ............................................................................................................ 5
2.2 Caudal ecológico e enquadramento legislativo ....................................................................... 5
2.3 Metodologias para a determinação do caudal ecológico ........................................................ 6
2.4 Instream Flow Incremental Methodology (IFIM) ...................................................................... 7
2.4.1 Considerações gerais .......................................................................................................... 7
2.4.2 Unidades de habitat ............................................................................................................. 8
2.5 Hydropeaking........................................................................................................................... 9
2.5.1 Energia hidroeléctrica .......................................................................................................... 9
2.5.2 Caracterização do hydropeaking ....................................................................................... 10
2.6 Modelação hidrodinâmica...................................................................................................... 15
2.7 Modelação do habitat ............................................................................................................ 17
3 Metodologia de estudo ................................................................................................................... 21
3.1 Considerações prévias .......................................................................................................... 21
3.2 River2D .................................................................................................................................. 21
3.3 Casimir Fish 2D e lógica fuzzy .............................................................................................. 23
3.4 Fluxograma dos procedimentos adoptados no caso de estudo ............................................ 24
4 Caso de estudo- Aproveitamento hidroeléctrico de Ermida .......................................................... 27
4.1 Enquadramento da área de estudo ....................................................................................... 27
4.2 Estudo hidrológico ................................................................................................................. 32
4.3 Caracterização do troço ........................................................................................................ 35
4.4 Caracterização das espécies e estágios de vida .................................................................. 36
4.5 Modelação hidrodinâmica...................................................................................................... 37
4.5.1 Trabalho de campo ............................................................................................................ 37
4.5.2 Obtenção da curva de vazão ............................................................................................. 39
4.5.3 Obtenção do ficheiro hidrodinâmico .................................................................................. 41
4.5.4 Simulações ........................................................................................................................ 48
4.6 Modelação do habitat ............................................................................................................ 50
4.6.1 Trabalho de campo ............................................................................................................ 50
4.6.2 Conjuntos e regras fuzzy ................................................................................................... 52
4.6.3 Casimir Fish 2D ................................................................................................................. 54
4.7 Simulação da operação da central hidroeléctrica ................................................................. 60
4.7.1 Considerações iniciais ....................................................................................................... 60

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4.7.2 Remuneração da energia produzida em centrais hidroeléctricas ..................................... 60
4.7.3 Cenários de operação da central ...................................................................................... 62
4.7.4 Simulação hidrodinâmica dos cenários de operação da central ....................................... 67
4.7.5 Indicadores de hydropeaking ............................................................................................ 71
5 Resultados ..................................................................................................................................... 75
5.1 Variação do habitat em função da receita perdida ................................................................ 75
5.2 Condições de stress em função da receita perdida .............................................................. 79
5.3 Variação da percentagem de WUA ao longo do dia ............................................................. 81
5.4 Variação do número de horas de caudal turbinado no período de vazio ............................. 85
5.5 Disponibilidade de habitat ..................................................................................................... 86
6 Considerações finais e recomendações ........................................................................................ 89
6.1 Considerações finais ............................................................................................................. 89
6.2 Recomendações .................................................................................................................... 91
Referências bibliográficas ..................................................................................................................... 93
Anexos .......................................................................................................................................................i
Anexo A - Simulação em HEC-RAS ......................................................................................................i
Anexo B - Cálculo da rugosidade efectiva ............................................................................................v
Anexo C - Dados recolhidos durante a pesca eléctrica e regras fuzzy ............................................... vi
Anexo D - Decreto-lei n.º 225/2007 de 31 de Maio ........................................................................... viii
Anexo E - Esquema dos vários cenários estabelecidos para todos os caudais afluentes ................ xii
Anexo F - Disponibilidade de habitat para as Salmo truttas adultas para os caudais médios diários
afluentes de 20% e 40% Qmod ........................................................................................................ xvii

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Índice de tabelas

Tabela 1: Classificação de mesohabitats (adaptado de Bain e Stevenson, 1999). ................................ 9


Tabela 2: Indicadores de hydropeaking e os respectivos parâmetros avaliados (adaptado de
Charmasson e Zinke, 2011). ................................................................................................................. 11
Tabela 3: Parâmetros abióticos e bióticos (adaptado de Charmasson e Zinke, 2011). ....................... 12
Tabela 4: Principais objectivos das medidas de mitigação relacionadas com o hydropeaking
(adaptado de Bratrich e Truffer, 2001). ................................................................................................. 13
Tabela 5: Aspectos a considerar num modelo numérico de previsão das características do
escoamento (adaptado de Tonina e Jorde, 2013). ............................................................................... 16
Tabela 6: Caracterização do aproveitamento hidroeléctrico de Ermida. .............................................. 31
Tabela 7: Valor do escoamento anual médio na bacia hidrográfica. .................................................... 33
Tabela 8: Características da estação hidrométrica de Fragas da Torre (adaptado de Portela, 2013). 34
Tabela 9: Caudal para cada secção transversal e caudal total. ........................................................... 40
Tabela 10: Características da malha executada no R2D_Mesh. .......................................................... 43
Tabela 11: Diferença entre a cota da superfície livre medida e simuladas para rugosidades diferentes.
............................................................................................................................................................... 45
Tabela 12: Valor dos caudais simulados com a respectiva cota da superfície livre a jusante. ............ 49
Tabela 13: Classes de substrato do conjunto fuzzy (adaptado de Schneider, 2010). .......................... 52
Tabela 14: Regras fuzzy estabelecidas para a truta adulta e juvenil correspondente à classe 8 de
substrato. ............................................................................................................................................... 54
Tabela 15: Significado das parcelas da fórmula de remuneração (equação 4.3) das centrais
renováveis. ............................................................................................................................................ 61
Tabela 16: Parâmetros utilizados para o cálculo da remuneração da energia. .................................... 62
Tabela 17: Horas de ponta, cheia e vazio para as centrais hídricas. ................................................... 62
Tabela 18: Cenários de operação da central hidroeléctrica: percentagens de produção de energia
mensal em relação à produção média anual; valor da remuneração mensal (VRDm); redução da
remuneração ao considerar um cenário alternativo; valor do caudal e volume afluente; caudal no troço
da ribeira para os três períodos considerados. ..................................................................................... 64
Tabela 19: Classes de influência do hydropeaking no rio para os respectivos indicadores (adaptado
Harby et al., 2013). ................................................................................................................................ 72
Tabela 20: Rácio de caudais máximo e mínimo para os cenários considerados. ................................ 72
Tabela 21: Variação da área molhada desde o caudal máximo até ao mínimo. .................................. 73
Tabela 22: Percentagens de WUA para os cenários de operação considerados. ............................... 75
Tabela 23: Cenários propostos para o estudo da duração do caudal turbinado no período de vazio. 85

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Índice de Figuras

Figura 1: Evolução da produção de energia por fontes renováveis, o ano de 2013 e de 2014 são
estatísticas de carácter provisórias (DGEG, 2014). ................................................................................ 1
Figura 2: Produção de energia eléctrica por fontes renováveis ao longo do último ano, com início em
Setembro de 2013 até Agosto de 2014 (DGEG, 2014). ......................................................................... 2
Figura 3: Representação da velocidade (u), tensão de arrastamento (τ) e profundidade (h) nos
modelos 1D, 2D e 3D respectivamente (adaptado de Tonina e Jorde, 2013). ..................................... 17
Figura 4: Curvas de preferência de habitat para as variáveis velocidade, profundidade e substrato.
Exemplos. .............................................................................................................................................. 18
Figura 5: Conjunto fuzzy para a velocidade, com funções de associação triangulares (i.e. High) e
trapezoidais (i.e. Low e Medium) (adaptado de Noack et al., 2013). .................................................... 23
Figura 6: Processo de inferência, ilustrando o cálculo do DOF de duas regras A e B, com duas
variáveis físicas e o cálculo do HSI através do centro de gravidade (adaptado de Noack et al., 2013).
............................................................................................................................................................... 25
Figura 7: Sistematização dos procedimentos adoptados no desenvolvimento do caso de estudo. ..... 26
Figura 8: Localização do troço em estudo, da ribeira de Carvalhosa, do rio Vidoeiro, do açude e da
central do aproveitamento hidroeléctrico de Ermida. ............................................................................ 28
Figura 9: Aproveitamento hidroeléctrico de Ermida (imagem cedida por Hidrocentrais, S.A.). ............ 29
Figura 10: Açude e descarregador de cheias do aproveitamento hidroeléctrico de Ermida. ............... 29
Figura 11: Edifício da Central hidroeléctrica (imagem cedida por Hidrocentrais, S.A.). ....................... 30
Figura 12: Turbina Pelton: a) esquema ilustrativo; b) fotografia da turbina (imagens cedidas por
Hidrocentrais, S.A.). .............................................................................................................................. 30
Figura 13: Bacia hidrográfica da ribeira de Carvalhosa e do rio Vidoeiro: a) delimitação dos seus
limites, e b) representação de todos os cursos de água classificados com a respectiva ordem de
acordo com o critério de Strahler. ......................................................................................................... 32
Figura 14: Representação da bacia hidrográfica no mapa de isolinhas do escoamento. .................... 33
Figura 15: Localização da estação hidrométrica e do aproveitamento hidroeléctrico de Ermida. ........ 34
Figura 16: Curvas de duração anual do caudal médio diário na estação de Fragas da Torre, à
esquerda e na secção de restituição da central, à direita. .................................................................... 34
Figura 17: Troço em estudo e zona de restituição da central. .............................................................. 35
Figura 18: Representação do material do leito: a) blocos de grandes dimensões; b) calhou rolado. .. 35
Figura 19: Representação dos vários mesohabitats existentes na ribeira de Carvalhosa: a) cascata; b)
rápido; c) pool; d) run. ........................................................................................................................... 36
Figura 20: Salmo trutta capturado no rio Paiva. .................................................................................... 36
Figura 21: Representação de alguns trabalhos de campo e do caudal do rio nos dois levantamentos
topográfico: a) levantamento topográfico com estação total e mira; b) medição das velocidades com o
molinete ultrasónico; c) caudal do rio no dia 29 de Março; d) caudal do rio no dia 4 de Junho. .......... 38

xi
Figura 22: Caracterização da rugosidade do leito do rio: a) pedras na ordem dos 50 a 100 mm; b)
blocos com dimensões superiores a 100 mm; c) rocha com dimensões superiores a 1 m; d) laje de
pedra a constituir o leito do rio. ............................................................................................................. 39
Figura 23: Secções transversais medidas em campo. ......................................................................... 40
Figura 24: Curva de vazão da secção nº2. ........................................................................................... 41
Figura 25: Densidade de pontos utilizada na edição da topografia. ..................................................... 42
Figura 26: Linhas de quebra em redor das rochas. .............................................................................. 42
Figura 27: Modelo digital do terreno em 3D. ......................................................................................... 43
Figura 28: Secções transversais com a representação da cota da superfície livre e simulada: a)
secção transversal n.º 2 (jusante); b) secção transversal n.º 3; c) secção transversal n.º 4; d) secção
transversal n.º 5 e e) secção transversal n.º 6. ..................................................................................... 46
Figura 29: Valores da velocidade perpendiculares à secção transversal obtidos por simulação e
medidos em campo: a) secção transversal n.º 2 (jusante); b) secção transversal n.º 3; c) secção
transversal n.º 4; d) secção transversal n.º 5 e e) secção transversal n.º 6. ........................................ 47
Figura 30: Secção transversal n.º 6 com a representação dos perfis de velocidade para uma
rugosidade de 0,50, 0,90 e 1,00 m. ....................................................................................................... 48
3
Figura 31: Representação vectorial do escoamento para um caudal de 0,47 m /s, com especial
atenção na zona de cascata. ................................................................................................................ 49
Figura 32: Rio Bestança. Trecho onde foi efectuada a pesca eléctrica (a imagem da esquerda foi
cedida pelo Professor Rui Cortes). ....................................................................................................... 50
Figura 33: Pesca eléctrica: trabalhos efectuados e equipamento utilizado: a) aparelho utilizado para
transmitir corrente eléctrica à água; b) rede para capturar os peixes; c) recipiente de plástico onde são
mantidos os peixes capturados; d) medição da velocidade e profundida com o molinete, e) medição e
classificação dos peixes capturados. .................................................................................................... 51
Figura 34: Conjuntos fuzzy utilizados na modelação do habitat. .......................................................... 53
Figura 35: Curvas de WUA em função do caudal: a) truta adulta; b) truta juvenil. ............................... 55
Figura 36: Curvas de duração do habitat: a) truta adulta; b) truta juvenil. ............................................ 55
Figura 37: Percentagem de área com o mesmo SI em função do caudal: a) truta adulta; b) truta juvenil.
............................................................................................................................................................... 56
Figura 38: Velocidades, profundidades e distribuição do SI no troço em estudo para o caudal de 0,47
3
m /s: a) velocidade b) profundidade e c) distribuição de SI para as trutas adultas, à esquerda e juvenis,
à direita. ................................................................................................................................................. 57
Figura 39: Velocidades, profundidades e distribuição do SI no troço em estudo para o caudal de 0,80
3
m /s: a) velocidade b) profundidade e c) distribuição de SI para as trutas adultas, à esquerda e juvenis,
à direita. ................................................................................................................................................. 58
Figura 40: Velocidades, profundidades e distribuição do SI no troço em estudo para o caudal de 5,00
3
m /s: a) velocidade b) profundidade e c) distribuição de SI para as trutas adultas, à esquerda e juvenis,
à direita. ................................................................................................................................................. 59
Figura 41: Bacia hidrográfica com a divisão da bacia do aproveitamento. ........................................... 60
Figura 42: Esquema dos cenários estabelecidos para um caudal afluente de 10% Qmod. ................ 65
xii
Figura 43: Variação do caudal no troço em estudo, ao longo do dia, para os caudais médios diários
3
afluentes (m /s): a) 0,108; b) 0,216; c) 0,324; d) 0,432; e) 0,540; f) 0,648. .......................................... 66
Figura 44: Valores de profundidade (m) e velocidade (m/s) para diferentes cenários, resultante de um
caudal afluente de 20% Qmod. ............................................................................................................. 68
Figura 45: Valores de profundidade (m) e velocidade (m/s) para diferentes cenários, resultante de um
caudal afluente de 40% Qmod. ............................................................................................................. 70
Figura 46: Variação do habitat em relação ao cenário principal em função da receita perdida para os
3
caudais médios diários afluentes (m /s): a) 0,108; b) 0,216; c) 0,324; d) 0,432; e) 0,540; f) 0,648 (os
cenários são identificados a partir do nº que consta da Tabela 22). .................................................... 78
Figura 47: Condições de stress em função da receita perdida para os caudais médios diários
3
afluentes (m /s): a) 0,108; b) 0,216; c) 0,324; d) 0,432; e) 0,540; f) 0,648 (os cenários são
identificados a partir do nº que consta da Tabela 22). .......................................................................... 80
Figura 48: Variação da percentagem de WUA ao longo do dia, à esquerda para os juvenis e à direita,
3
para os adultos (linhas a tracejado), para os caudais médios diários afluentes (m /s): a) 0,108; b)
0,216; c) 0,324; d) 0,432; e) 0,540; f) 0,648. ......................................................................................... 82
2
Figura 49: Integral da curva de WUA (m .dia) em função da receita perdida para os caudais médios
3
diário afluentes (m /s): a) 0,108; b) 0,216; c) 0,324; d) 0,432; e) 0,540; f) 0,648 (os cenários são
identificados a partir do nº que consta da Tabela 22). .......................................................................... 84
Figura 50: Variação das condições de habitat com o aumento das horas de vazio em função da
receita perdida. ...................................................................................................................................... 85
Figura 51: Disponibilidade de habitat das trutas juvenis para três cenários com um caudal afluente de
20% Qmod. ............................................................................................................................................ 87
Figura 52: Disponibilidade de habitat das trutas juvenis para três cenários com um caudal afluente de
40% Qmod. ............................................................................................................................................ 88

xiii
xiv
Abreviaturas

APA Agência Portuguesa do Ambiente


Casimir Computer aided simulation system for instream flow requirements
DSI Depth Suitability Index
ETRS European Terrestrial Reference System
HHS Hydraulic Habitat Suitability
HSC Habitat Suitability Curves
HSI Habitat Suitability Index
IFIM Instream Flow Incremental Methodology
INAG Instituto Nacional da Água
PHABSIM Physical Habitat Simulation
p.p. Período de ponta
p.v. Período de vazio
SI Suitability Index
SSI Substrate Suitability Index
UNIPEDE União Internacional de Produtores e Distribuidores de Energia Eléctrica
VSI Velocity Suitability Index
WUA Weighted Usable Area

Terminologia anglo-saxónica

Drifting Arrastamento de peixes para jusante devido ao aumento de velocidade do


escoamento

Hydropeaking Variações rápidas de caudal decorrentes do funcionamento de uma central


hidroeléctrica, que provocam regimes transitórios no trecho a jusante, alterando de
forma significativa as condições de escoamento nesse trecho ao longo do tempo

Stranding Aprisionamento de peixes em depressões do leito quando o caudal diminui


significativamente

xv
xvi
1 Introdução

1.1 Enquadramento

A energia eléctrica produzida por fontes de energia renováveis resulta do aproveitamento de recursos
naturais, tais como, a água, o sol, o vento, as ondas, entre outros. Estas fontes são abundantes e o
seu aproveitamento, quando realizado de acordo com as práticas adequadas, reduz a poluição e a
emissão de gases com efeito de estufa. No caso da produção hidroeléctrica, há a assinalar como
principais inconvenientes a quebra de conectividade longitudinal nos cursos de água e a redução dos
habitats de muitas espécies piscícolas.

A produção de energia derivada de fontes renováveis em 2013 comparada com a produção em 2014
até ao mês de Agosto sofreu um aumento total de cerca de 6%, o qual teve origem essencialmente
no aumento da produção de energia hídrica (7%) e da contribuição da energia fotovoltaica (23%)
(Figura 1). A evolução da produção de energia por fontes renováveis ao longo do último ano, com
início em Setembro de 2013 até Agosto de 2014, está representada na Figura 2. Os meses de maior
produção de energia hídrica corresponderam aos meses mais pluviosos de Janeiro, Fevereiro, Março
e Abril, com produções acima de 2250 GWh (DGEG, 2014).

Figura 1: Evolução da produção de energia por fontes renováveis, o ano de 2013 e de 2014 são estatísticas de
carácter provisórias (DGEG, 2014).

1
Figura 2: Produção de energia eléctrica por fontes renováveis ao longo do último ano, com início em Setembro
de 2013 até Agosto de 2014 (DGEG, 2014).

Em Portugal continental, a região do Norte, que inclui as bacias hidrográficas do rio Lima, Cávado e
Douro, é responsável por mais de 50% da produção de energia hídrica. No entanto, com o recente
reforço de potência na central do Alqueva, a bacia hidrográfica do rio Guadiana é a que apresenta a
maior taxa média de crescimento de produção de energia hídrica (DGEG, 2014).

No âmbito da Estratégia Europa 2020, uma das cinco prioridades estabelecidas pelo Conselho
Europeu de Março de 2010, em termos de Política Energética é o aumento de 20% da quota de
energias renováveis na produção de energia e o aumento de 20% na eficiência energética,
conciliando a redução das emissões dos gases com efeito de estufa (DGEG, 2014).

Derivada da produção de energia hídrica, a jusante das centrais hidroeléctricas ocorrem perturbações
no normal regime de escoamento dos rios, sucedendo-se rápidas flutuações de caudal, designadas
na terminologia anglo-saxónica por hydropeaking. Esta designação será a adoptada neste estudo,
visto ser a mais compacta e divulgada. As perturbações no escoamento provocam alterações nas
condições de habitat das espécies que dependem deste ecossistema. Assim a presente dissertação
contribuirá para o desenvolvimento de uma metodologia de análise de medidas operacionais com
vista a mitigar os efeitos deste regime de exploração das centrais.

1.2 Objectivo

A presente dissertação tem como objectivo principal a definição de cenários para a operação de uma
central mini-hídrica tendo em conta a disponibilidade de habitat a jusante. Desta forma, realizou-se o
estudo hidrológico da ribeira que constituiu o caso de estudo, bem como a modelação hidrodinâmica
do escoamento em 2D, precedida de um trabalho de campo, em que se efectuaram todas as
medições necessários para a correcta realização da mesma. No sentido de aferir a disponibilidade de
habitat foi realizada uma modelação com recurso à lógica fuzzy. Por fim, para responder ao objectivo
principal foram definidos e avaliados diversos cenários de operação tendo em conta as condições de
habitat e os custos económicos dos mesmos.

2
1.3 Estrutura da dissertação

O presente documento encontra-se organizado em 6 capítulos. No primeiro, de introdução,


apresenta-se um breve contexto do tema desenvolvido e são especificados os objectivos a que a
dissertação pretende responder. No capítulo 2, síntese de conhecimentos, realiza-se a descrição e a
contextualização de conceitos como: caudal ecológico, metodologias para a obtenção do mesmo,
metodologia IFIM, hydropeaking, modelação hidrodinâmica e de habitat. No terceiro capítulo são
abordadas as metodologias adoptadas, fazendo referência aos modelos computacionais utilizados:
River2D e Casimir Fish 2D. O caso de estudo é abordado no capítulo 4, onde se realiza um breve
enquadramento e descrição das características da ribeira de Carvalhosa e do aproveitamento
hidroeléctrico de Ermida. Assim como as descrições de todos os procedimentos adoptados para a
execução da modelação hidrodinâmica do escoamento, da modelação de habitat e da definição de
cenários de operação da central. No capítulo 5 são apresentados e analisados os resultados. Por fim,
no capítulo 6 encontram-se as considerações finais, bem como as perspectivas de desenvolvimento
futuras nesta linha de investigação.

3
4
2 Síntese de conhecimentos

2.1 Considerações prévias

O capítulo inicia-se com o enquadramento legislativo referente ao caudal ecológico, seguindo-se a


apresentação sumária de metodologias para a sua determinação. De entre estas, dá-se relevo à
Instream Flow Incremental Methodology (IFIM), bem como à descrição dos diferentes tipos de habitat
a considerar.

São efectuadas algumas considerações acerca do funcionamento das centrais hidroeléctricas em


regime de hydropeaking, do qual decorrem variações rápidas de caudal que alteram de forma
significativa as condições de escoamento no trecho do rio a jusante ao longo do tempo. São
apresentados os parâmetros caracterizadores deste regime e algumas medidas de mitigação.

No âmbito da modelação hidrodinâmica e do habitat, são descritos diversos modelos e apresentadas


as suas principais características.

2.2 Caudal ecológico e enquadramento legislativo

Os caudais ecológicos podem ser definidos como um conjunto de caudais mínimos necessários num
curso de água, de forma a assegurar a conservação e manutenção dos ecossistemas aquáticos
naturais, a produção de espécies com interesse desportivo ou comercial e a conservação e
manutenção dos ecossistemas ripícolas (Lei n.º 7/2008, de 1 de Fevereiro).

A necessidade de prever caudais ecológicos resulta de intervenções efectuadas nos rios que alteram
o regime hidrológico natural e consequentemente os ecossistemas.

A primeira base legal referente à protecção e conservação do meio ambiente, no planeamento,


administração e utilização do domínio hídrico, constituiu a Lei de Bases do Ambiente (Lei n.º 11/87,
de 7 de Abril) e o Decreto-Lei n.º 70/90, de 2 de Março. No entanto, a primeira referência à
obrigatoriedade do estabelecimento de caudais ecológicos, surgiu no Decreto-Lei n.º 46/94, de 22 de
Fevereiro, em que estabelecia o regime da utilização do domínio hídrico, quer público quer privado,
sob a jurisdição da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), antigo Instituto Nacional da Água (INAG).

Actualmente, em vigor, a Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro, aprovou a Lei da Água, transpondo
para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de
23 de Outubro, revogando o anteriormente descrito e estabelecendo as bases e o quadro institucional
para a gestão sustentável das águas.

5
Neste âmbito, com a aprovação do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de Maio, juntamente com a
Portaria n.º 1450/2007, de 12 de Novembro, é explicitada a obrigatoriedade da determinação de
regimes de caudais ecológicos para diferentes utilizações, nomeadamente, na captação de água e
infraestruturas hidráulicas. No caso de captação de água, para produção de energia, além dos
caudais ecológicos, existe a obrigatoriedade da determinação de caudais reservados, que
correspondem aos caudais necessários para assegurar as utilizações existentes e previstas, na área
de influência do aproveitamento hidroeléctrico.

Em relação às infraestruturas hidráulicas a Lei n.º 7/2008, de 1 de Fevereiro, Lei da pesca nas águas
interiores, define a obrigatoriedade para os proprietários ou utilizadores das mesmas, da manutenção
de um regime de exploração e caudal ecológico, adequando o regime de variação à manutenção do
ciclo de vida das espécies aquícolas e da integridade do ecossistema aquático.

O regime de caudais ecológicos a adoptar, em cada situação específica, deve procurar a mitigação
de alterações que ocorram na estrutura e composição dos ecossistemas aquáticos e dos habitats
envolvidos, de forma a manter a integridade biológica dos ecossistemas.

2.3 Metodologias para a determinação do caudal ecológico

Actualmente existem mais de duzentas metodologias diferentes, passíveis de serem adoptadas, para
a determinação dos caudais ecológicos, também habitualmente designados por caudais ambientais
(Arthington et al., 2003).

Segundo Tharme (2003) existem quatro tipos de métodos para a determinação dos caudais
ecológicos (hidrológicos, hidráulicos, de simulação de habitat e holísticos), que são descritos nos
parágrafos que se seguem.

Os métodos hidrológicos baseiam-se na análise de séries de caudais, a nível mensal ou diário, para
períodos de tempo significativos e representativos de regimes hidrológicos naturais, ou seja, sem
alterações importantes no regime de escoamento (Tharme, 2003). Este método não permite a análise
das alterações do habitat ou da resposta biológica em consequência de alterações no regime
hidrológico. Por isso, a sua aplicação é recomendada na fase de planeamento do desenvolvimento
dos recursos hídricos ou em situações onde se pretendem definir metas preliminares de caudais
(Hipólito e Vaz, 2011).

Um dos métodos hidrológicos mais usados nos Estados Unidos é o de Tennant ou de Montana,
desenvolvido através de um grande número de observações de campo nesse país, que possibilitaram
estabelecer relações entre o caudal, o estado do rio e o habitat para os peixes. O caudal ecológico é
determinado com base em percentagens do caudal médio anual em função das condições do rio que
se pretendem manter (Hipólito e Vaz, 2011).

6
Os métodos hidráulicos ocupam-se da determinação da relação entre o caudal e determinadas
características hidráulicas, como a velocidade, a profundidade e o perímetro molhado. Estas
características hidráulicas são medidas em secções transversais dos cursos de água, afectados pela
variação de caudal com consequências para as espécies-alvo (Arthington et al., 2003).

Nos métodos hidráulicos os caudais ecológicos são determinados com base em curvas de variação,
que relacionam o caudal escoado com características hidráulicas. Encontrado o ponto de inflexão da
curva de variação, para caudais abaixo do mesmo, existem perdas significativas na qualidade do
habitat (Tharme, 2003). Dos métodos com mais aplicação em Portugal, refere-se o método do
perímetro molhado, que relaciona o caudal escoado com o perímetro molhado, assumindo uma
relação directa entre o perímetro molhado e a disponibilidade de habitat, sem atender às preferências
das espécies ao longo do seu estágio de vida.

Os métodos de simulação de habitat são os mais avançados para a determinação da relação entre o
caudal e o habitat. A determinação do caudal ecológico baseia-se em relações entre o caudal e as
variáveis hidráulicas, mas com consideração das preferências de habitat para as espécies alvo.
Assim a recomendação dos caudais mínimos, tem em conta dados hidrológicos, hidráulicos e
biológicos, em que o caudal ecológico é o valor mais alto de um conjunto de caudais mínimos
calculados para cada espécie (Bovee, 1982). Um exemplo destes métodos é a Instream Flow
Incremental Methodology (IFIM), descrito em pormenor no ponto 2.4.

Por fim, os métodos holísticos têm como objectivo, metodologias de cálculo dos caudais ambientais
que satisfaçam e conservem não só as espécies-alvo mas também o ecossistema do rio (Arthington
et al., 2003). As componentes do ecossistema do rio consideradas incluem: a geomorfologia, o
microhabitat, qualidade da água, vegetação ripária e aquática, macroinvertebados, peixes e outros
vertebrados que dependam do ecossistema. Cada componente, referida anteriormente, é avaliada
com um conjunto de técnicas específicas que serão incorporadas nas recomendações de caudal
ecológico. Um exemplo destas técnicas é o Building Blocks Methodology (BBM) (Tharme e King,
1998).

No presente estudo aplicou-se um método de simulação de habitat que se descreve resumidamente


na alínea seguinte.

2.4 Instream Flow Incremental Methodology (IFIM)

2.4.1 Considerações gerais

A IFIM foi concebida pela Cooperative Instream Flow Service Group dos US Fish and Wildlife Service
(USFWS) no Colorado. É uma metodologia de análise que pretende avaliar as consequências de
diferentes medidas ao nível dos recursos hídricos no habitat de diversas espécies, combinando para
tal, dados hidráulicos e biológicos (Bovee, 1982).
7
A variável de decisão concebida pela IFIM é a weighted usable area (WUA), isto é, a área de habitat
disponível para as espécies piscícolas, sendo estimadas as alterações nesta área, em função das
alterações no regime hidrológico do curso de água. Esta variável pode ter em conta o estágio de vida
de cada espécie (alevim, juvenil ou adulto) ou uma actividade em particular (desova, alimentação ou
repouso) (Stalnaker et al., 1995).

A IFIM recorre a critérios de preferência de habitat de uma espécie para estimar as variações que
decorrem no habitat em função de alterações do caudal. As variáveis envolvidas nas preferências de
habitat são a velocidade, a profundidade, o substrato e a cobertura.

Assim o WUA é determinada combinando os dados obtidos pelos modelos hidráulicos (velocidade e
profundidade), características do substrato e/ou cobertura e dados de preferência de habitat. Quando
a análise é efectuada para uma gama de caudais, o resultado são curvas de WUA em função do
caudal para diferentes espécies-alvo, em que o ponto máximo dessa superfície, corresponde ao valor
do caudal a partir do qual ocorre perda de habitat para a espécie em questão.

Actualmente existem diversos softwares desenvolvidos para efectuar os cálculos necessários à


aplicação da metodologia IFIM, um exemplo destes softwares é o Casimir (Computer aided simulation
system for instream flow requirements) que será alvo de aplicação no presente estudo.

2.4.2 Unidades de habitat

Na IFIM os dados de preferência de habitat referem-se a três escalas diferentes, nomeadamente


macrohabitat, mesohabitat e microhabitat. A combinação destas escalas dá origem ao habitat total
disponível para os organismos.

A área de estudo referente ao macrohabitat pode ser estratificada em diferentes níveis, desde a bacia
hidrográfica até ao segmento de um curso de água (Bovee et al., 1998). As preferências de
macrohabitat referem-se a parâmetros que variam longitudinalmente ao longo de um curso de água,
como por exemplo: o caudal, a temperatura, a qualidade da água e a morfologia do canal.

O mesohabitat consiste numa área do rio com características iguais de declive, forma e estrutura do
canal (Bovee, 1997). A extensão longitudinal deve ser da mesma ordem de grandeza da largura do
canal. Actualmente existem numerosas classificações para os mesohabitats, na Tabela 1 referem-se
algumas segundo Bain e Stevenson (1999).

O microhabitat apresenta uma dimensão inferior à largura do canal e refere-se a zonas com
características homogéneas de profundidade, velocidade, substrato e cobertura (Stalnaker et
al.,1995). As preferências de microhabitat estão associadas a determinadas actividades das
espécies-alvo, como por exemplo a desova.

8
A unidade de habitat principal utilizada na IFIM é o segmento do curso de água, que pode ser
subdividido em troços representativos com um comprimento dez a quinze vezes a largura do canal. O
regime de caudais no segmento em estudo deve ser homogéneo, ou seja, o caudal à entrada é
semelhante ao caudal à saída (±10%), e a geomorfologia do leito (declive, sinuosidade e geologia)
deve ser consistente dentro das fronteiras do troço considerado (Bovee,1997). O troço representativo
deve conter a variabilidade de mesohabitats e microhabitats existentes no segmento.

Tabela 1: Classificação de mesohabitats (adaptado de Bain e Stevenson, 1999).

Tipo de habitat* Macroturbulência Velocidade Substrato Declive Outros

Elevada (grande Rocha resistente


Perfil longitudinal com sequência
Cascade (Cascata) emulsão de ar na Elevada ou acumulação >7%
de degraus; regime rápido
água) de seixo
Considerável Material
Perfil longitudinal plano; regime
Rapid (Rápido) (emulsão de ar na Alta > 0,5 m/s grosseiro 4-7%
rápido
água) exposto
Cascalho e seixo
Moderada: 0,2 (parcialmente Perfil transversal convexo;
Riffle Moderada < 4%
a 0,5 m/s ou totalmente pequenas profundidades
submersos)
Perfil longitudinal plano; maiores
Moderada: 0,2 profundidades do que no riffle:
Run Inexistente Cascalho e seixo Baixo
a 0,5 m/s aproximadamente regime
uniforme
Usualmente na transição entre
Moderada a pool e riffle; sem obstruções do
Glides Inexistente Cascalho e areia 0-1%
baixa: <0,2 m/s escoamento; pequenas
profundidades
Perfil transversal concavo; mais
Não profundas e largas do que os
Pool Inexistente Material fino -
significativa habitat que as precedem ou
antecedem
* Os tipos de habitat apresentam-se na terminologia anglo-saxónica e, quando o termo existe em português, apresenta-se entre
parêntesis

2.5 Hydropeaking

2.5.1 Energia hidroeléctrica

A produção de energia hídrica consiste no aproveitamento da potência do escoamento,


transformando-a em energia mecânica (rotação do grupo turbina-gerador) e subsequentemente em
energia eléctrica por indução electromagnética. Nesta produção distinguem-se dois tipos de centrais,
as mini-hídricas que possuem potências instaladas até 10 MW e as grandes centrais hidroeléctricas
com potências superiores a este valor. De notar que 10 MW é o valor de referência em Portugal e
Espanha para estabelecer tal diferenciação.

Para além da potência instalada, outra característica que distingue os aproveitamentos hidroeléctricos,
é a capacidade de regularização do caudal. A maioria das mini-hídricas são a fio de água e as
grandes centrais estão associadas à construção de barragens, em que as albufeiras são

9
responsáveis pelo armazenamento de água e consequentemente por regularizações intra- e inter-
anuais.

Segundo a União Internacional dos Produtores e Distribuidores de Energia Eléctrica (UNIPEDE)


(Castro, 2008), as mini-hídricas podem ser classificadas como centrais:
 micro P < 0,5 MW
 mini 0,5 ≤ P < 2,0 MW
 pequena 2,0 ≤ P ≤ 10 MW

Em relação à altura de queda bruta, as mini-hídricas podem ser de queda baixa entre os 2 a 20 m,
queda média com 20 a 150 m e ainda queda alta quando excede os 150 m (Castro, 2008).

As centrais hidroeléctricas podem ser utilizadas como centrais de ponta, visto que os grupos
turbina-gerador conseguem uma resposta quase instantânea respondendo aos picos de consumo de
energia. O mesmo não acontece com centrais térmicas que possuem uma grande inércia no seu
funcionamento.

2.5.2 Caracterização do hydropeaking

2.5.2.1 Considerações prévias

O hydropeaking é o um dos principais factores de alteração do regime hidrológico dos rios, bem como
de alterações nas condições ecológicas do mesmo. As variações rápidas de caudal provocam
regimes variáveis a jusante das centrais, alterando desta forma o regime do escoamento do rio
(Person et. al., 2013). Esta alteração do escoamento tem carácter permanente, o que não acontece
numa cheia que ocorre sazonalmente (Schneider, 2012). Outra diferença apontada entre estes dois
eventos é o facto de o hydropeaking ocorrer regularmente e com frequência alta, em que o aumento
do caudal ocorre num curto espaço de tempo sem que exista percepção por parte das espécies do
aumento do nível da água ou de alterações químicas da mesma, como seria expectável numa cheia
(Limnex, 2004; Baumann e Klaus, 2003, citado por Person, 2013).

Segundo Jones (2013), os rios afectados pelo hydropeaking, podem ser analisados considerando a
existência de dois rios num só, um rio com caudal baixo e outro com caudal elevado, decorrentes do
funcionamento intermitente da central hidroeléctrica. Estes rios apresentam características bastante
diferentes a nível hidrodinâmico, de tal forma que muitas espécies não conseguem sobreviver às
variações extremas de caudal. Neste contexto, surge o conceito de ecopeaking, em que se foca a
necessidade de uma gestão adequada das centrais hidroeléctricas e se procura conciliar a produção
de energia com os valores ecológicos do trecho a jusante da central.

As flutuações rápidas de caudais, decorrentes do hydropeaking, podem ser descritas em termos de


magnitude, duração e frequência. As consequências são diversas, quer ao nível de parâmetros
10
físicos (altura de escoamento, velocidade, morfologia do rio e temperatura da água), quer ao nível
dos parâmetros bióticos (redução da variabilidade das espécies, da biomassa, da diversidade e
composição das populações) (Moog, 1993).

2.5.2.2 Parâmetros relacionados com o escoamento

Para caracterizar o evento de hydropeaking podem ser definidos parâmetros relacionados com o
escoamento, que permitem quantificar as variações de caudal e de altura de escoamento, em termos
de magnitude dos caudais máximos e de tempo de ocorrência do evento.

Na Tabela 2 apresentam-se alguns parâmetros que caracterizam o hydropeaking, tais como:


 o rácio de caudais (quociente entre o caudal máximo e mínimo);
 a taxa de variação da área molhada (quociente entre a variação da área molhada, desde o
caudal mínimo até ao máximo, e o tempo de ocorrência);
 a taxa de variação da altura do escoamento (quociente entre a diferença de alturas de
escoamento e tempo em que ocorrem);
 a duração de um evento ou de um ciclo (tempo que decorre entre o instante de ocorrência do
caudal máximo e do caudal mínimo);
 a frequência do evento (tempo que decorre entre o instante de ocorrência de dois caudais
mínimos sucessivos).

Tabela 2: Indicadores de hydropeaking e os respectivos parâmetros avaliados (adaptado de Charmasson e Zinke,


2011).

Parâmetro avaliado Indicador de hydropeaking

Rácio de caudais (Qmáx/Qmin)


Caudal máximo (Qmáx)
Taxa de variação da área molhada (ΔA/Δt)
Caudal mínimo (Qmin)
Taxa de variação da altura de escoamento (Δh/Δt)

Duração do evento (tQmáx-tQmin)


Instantes de ocorrência do Qmáx e do Qmin
Frequência de ocorrência de caudais mínimos

2.5.2.3 Parâmetros abióticos e bióticos

A definição de parâmetros abióticos e bióticos surge com a necessidade de quantificar a interacção


entre o rio, o meio ambiente e a vida dos organismos presentes neste ecossistema. Tais parâmetros
descrevem o efeito das variações do escoamento no habitat físico e na actividade dos organismos
aquáticos.

11
Os parâmetros abióticos estão relacionados com as características físicas e químicas do rio,
nomeadamente com a morfologia, o caudal e a qualidade da água. Os bióticos referem-se à estrutura,
comportamento e actividade das espécies que constituem o ecossistema (Tabela 3).

Em relação aos indicadores bióticos existem inúmeras possibilidades a considerar. Na Tabela 3


salientam-se alguns propostos por Baumann e Klaus (2003) que resultaram de avaliações de
impactos do hydropeaking em mais de 200 casos. É de salientar que algumas funções bióticas são
indicadas na terminologia anglo-saxónica, por ser o termo mais comum e compacto, como por
exemplo: drifting, isto é, o arrastamento de peixes para jusante devido ao aumento de velocidade do
escoamento e stranding, que significa o aprisionamento de peixes em depressões do leito quando o
caudal diminui significativamente.

Tabela 3: Parâmetros abióticos e bióticos (adaptado de Charmasson e Zinke, 2011).

Parâmetros abióticos Parâmetros bióticos

Morfologia do rio Caudal Qualidade da água Estrutura biótica Função biótica

- Profundidade - Biomassa
- Drifting
- Largura e - Temperatura - Frequência /
- Turbulência - Stranding
comprimento - Turbidez densidade de espécies
- Tensão tangencial - Comportamento e
- Área molhada - Concentração de - Composição e
de arrastamento actividade das
- Distribuição oxigénio e nutrientes diversidade de
espécies
granulométrica espécies

2.5.2.4 Medidas de mitigação

A preocupação pelas alterações nos rios e nos seus ecossistemas induzidas por flutuações de caudal
provocadas pelo hydropeaking tem vindo a aumentar (Charmasson e Zinke, 2011) na comunidade
científica.

As medidas de mitigação dos impactos causados pelo hydropeaking estão relacionadas com o
regime hidrológico, com a qualidade da água, a conectividade do rio, a preservação da vegetação
ripária e planícies de inundação, sustentabilidade das comunidades piscícolas e de macro
invertebrados e preservação da paisagem (Tabela 4) (Bratrich e Truffer, 2001).

Os rios que são afectados pelo hydropeaking têm características muito diversas, desde os rios de
montanha, normalmente estreitos e com margens inclinadas situados no norte do País, até aos rios
mediterrâneos fundamentalmente largos e planos situados no centro. Desta forma, as medidas de
mitigação devem ser adaptadas consoante as características do rio e dependem do objectivo
ecológico que se pretende alcançar. Por exemplo, num caso em que se pretende reduzir o risco de
stranding, a preocupação será aumentar o período de variação do caudal, de forma a existir tempo
suficiente para que a comunidade piscícola possa deslocar-se para o centro do canal.

12
Tabela 4: Principais objectivos das medidas de mitigação relacionadas com o hydropeaking (adaptado de
Bratrich e Truffer, 2001).

Tópicos de Objectivos das medidas de mitigação


mitigação
Amortecimento das flutuações de caudal em termos de frequência e magnitude
Regime
Evitar zonas secas nas secções transversais do escoamento, aquando da diminuição de
hidrológico
caudal
Qualidade da Evitar efeitos na temperatura
água Garantir concentrações de oxigénio dissolvido adequadas
Conectividade Limitar a área molhada de forma a evitar a separação do escoamento do curso de água
do rio principal, evitando o stranding da fauna piscícola
Margens do rio Preservar as planícies inundáveis
e planícies Assegurar o crescimento da vegetação ripária
inundáveis Assegurar a estabilidade das margens do rio

Habitat piscícola Sustentabilidade do habitat conservando locais de desova e habitats juvenis

Macro
Sustentabilidade das comunidades
invertebrados
Preservar a diversidade do habitat
Paisagem
Preservar a função recreativa

As medidas de mitigação com o objectivo de atenuar os efeitos do hydropeaking podem ser medidas
operacionais ou estruturais, nos parágrafos seguintes procede-se à descrição de algumas dessas
medidas.

As medidas de operação estão relacionadas com a gestão da central hidroeléctrica. O mais desejável
seria aumentar ou diminuir o caudal muito lentamente, de forma a permitir que os organismos se
possam deslocar para zonas de abrigo. Contudo estas medidas estão limitadas às possibilidades
técnicas de manobra das turbinas (Harby et al., 2013). As medidas mais comuns passam pela
diminuição dos caudais máximos turbinados, pela diminuição da taxa de variação do caudal e pelo
controlo do caudal mínimo em períodos críticos (Charmasson e Zinke, 2011).

Para além das medidas enunciadas anteriormente, Clarke et al. (2008) propôs ainda que o aumento
do caudal reproduzisse as características de uma pequena cheia. Desta forma a variação do caudal
no tempo deve ser ajustada ao comportamento diurno das espécies-alvo e o caudal mínimo deve ser
garantido para a sustentabilidade do ecossistema.

Harby et al. (2013) apresentam diversas medidas de operação que atendem ao risco de stranding, as
quais são enumeradas de seguida:

13
i. Após um período longo com caudais elevados, o risco de stranding aumenta
significativamente. Desta forma, as fortes reduções do caudal devem ser precedidas de
variações suaves de menor amplitude;
ii. A diminuição do caudal deve ser efectuado depois do anoitecer, especialmente no Inverno,
em que as espécies estão menos activas durante o dia, permanecendo escondidas no
substrato;
iii. A taxa de redução da altura do escoamento dever ser inferior a 13 cm/h de forma a evitar o
stranding de espécies salmonídeas juvenis. Porém, mesmo assim, ainda poderá ocorrer
stranding em locais com velocidades elevadas, substrato grosseiro com elevados espaços
intersticiais e com declives das margens inferiores a 5%.

As medidas estruturais envolvem a construção de estruturas hidráulicas ou a modificação das


características do rio e das margens inundáveis. Muitas vezes são construídas estruturas artificiais
dentro do rio, tais como açudes ou estruturas deflectoras, concebidas para manterem a
biodiversidade que acabam por contribuir também para o atraso e redução da magnitude das
variações no nível de água (Harby et al., 2013).

As bacias de retenção ou pequenos reservatórios, construídos a jusante da zona de restituição das


centrais, são um exemplo de medidas estruturais que têm como objectivo reduzir a variações de
caudal e altura de água. Estas estruturas requerem ligação directa ao rio e tem alguns impactos no
meio ambiente. Os custos devem ser ponderados em função dos benefícios. Para evitar a existência
de zonas que tenham uma variação extrema da altura de água, isto é, podem estar totalmente secas
ou submersas, pode recorrer-se à distribuição do material do leito do rio ou à construção de açudes e
deflectores amovíveis (Harby et al., 2013).

A introdução de canais laterais e o uso das margens inundáveis possibilitam zonas de abrigo para as
espécies em situações de caudais elevados (Schwartz e Herricks, 2005; Ribi et al., 2009). Nesta
situação é necessário garantir a conectividade lateral do desvio e do curso de água principal durante
o caudal mínimo, para evitar o aparecimento de piscinas e o risco de stranding das espécies.

Algumas das medidas estruturais enunciadas estão dependentes das alterações geomorfológicas dos
rios, como por exemplo devido à sedimentação e erosão, podendo levar à destruição ou remoção da
estrutura. Estas medidas estão associadas a custos iniciais mais elevados devido à necessidade da
construção de estruturas.

2.5.2.5 Eficiência das medidas e monitorização

Existem diversas razões apontadas para justificar a falta de eficiência das medidas estruturais de
mitigação, das quais se destacam as seguintes: o esquema de reabilitação adoptado pode não ser o
adequado em termos de design e escala para o local correspondente, a qualidade da água pode

14
afectar a biodiversidade das espécies impedindo-as de usufruir das medidas propostas e a duração
dos programas de monitorização ser curta, não havendo possibilidade de proceder a melhorias nos
sistemas (Pretty et al., 2003).

Um dos maiores problemas das medidas estruturais é o facto de serem planeadas com recurso a
programas de simulação numérica, cálculos teóricos e experiências em laboratório, sendo difícil
prever a eficácia das mesmas no terreno (Charmasson e Zinke, 2011).

As medidas de mitigação devem ser constantemente submetidas a um estudo de avaliação para


determinar os efeitos benéficos e poder melhorar o desempenho das mesmas, sendo necessário
implementar programas de monitorização mais extensos.

2.5.2.6 Considerações sobre análise benefício custo das medidas de


mitigação

A análise de benefício custo tem vindo a ser conduzida no sentido de comparar as medidas
operacionais com as estruturais. Quando as medidas operacionais são adoptadas, para além das
perdas económicas que são induzidas, existem perdas de energia que terão de ser garantidas por
outras centrais. Estas são razões que tornam as medidas operacionais menos atractivas e viáveis
quando aplicadas isoladamente, a situação desejável passa pela combinação destas com as
estruturais (Gostner e Lucarelli, 2011).

As medidas que impliquem a construção de estruturas têm custos iniciais significativos, embora
sejam sempre mais aceitáveis do que os custos associadas às perdas de energia derivadas das
medidas operacionais. Caso se proceda a medidas de restauração do rio, os custos diminuem
significativamente assim como a durabilidade das mesmas, tipicamente são dimensionadas para um
período máximo de 20 anos (Frissell e Nawa, 1992).

2.6 Modelação hidrodinâmica

A modelação hidrodinâmica pretende prever a velocidade, a altura de água e a tensão de


arrastamento para determinados inputs, tais como a topografia, rugosidade, condições de fronteira,
entre outros.

A escolha do método para caracterizar as propriedades do escoamento depende de vários factores


como: o processo que se pretende modelar e os objectivos delineados, a escala temporal e espacial,
assim como a sua resolução. Os aspectos a considerar num modelo numérico de simulação para
escoamentos em canais com superfície livre encontram-se resumidos na Tabela 5.

15
Tabela 5: Aspectos a considerar num modelo numérico de previsão das características do escoamento
(adaptado de Tonina e Jorde, 2013).

1. Escala temporal e espacial


2. Resolução espacial
Definição do problema Reconhecimento de campo
3. Dados disponíveis e fiabilidade dos
mesmos
Modelo numérico
Equações de continuidade, da 1. Modelos 3, 2 e 1 D Dados: topografia, caudal,
quantidade de movimento e 2. Condições iniciais e de fronteira velocidade e altura da água.
conservação de energia

Discretização 1. Diferenças finitas, aproximação das equações na forma diferencial


1ª ordem, 2ª ordem, montante, 2. Elementos finitos e volume finito, aproximação das equações na forma
jusante integral
Malha
1. Estruturada
Qualidade, densidade, resolução e
2. Não estruturada
suavidade
1. Acoplamento de valores de pressão e velocidade e parâmetros de
Técnica numérica
relaxamento
1. Independência da malha, calibração e validação
Simulação
2. Análise de sensibilidade

1. Previsão das características de escoamento para o caudal pretendido


Resultados
2. Definir diferentes cenários

Os modelos numéricos abordados são modelos hidráulicos que se baseiam nas equações da
conservação da massa e da quantidade de movimento, nomeadamente a três, duas e uma dimensão
(3, 2 e 1D).

Os modelos 3D representam as características do escoamento em três direcções: longitudinal,


transversal e vertical. A sua utilização em ecohidráulica não é frequente e é limitada a simulações em
regime permanente, devido à necessidade de elevada capacidade computacional. Estes modelos têm
vindo a ser aplicados para definir campos de velocidade de forma a estudar o comportamento dos
peixes, a sua alimentação, o arrastamento de espécies ou drifting e a reabilitação de habitats e
estruturas bióticas como os abrigos para peixes (Tonina e Jorde, 2013).

As principais vantagens destes modelos consistem no facto de preverem as distribuições das


variáveis físicas em todas as direcções e considerarem a distribuição de pressões não hidrostática
(Shen e Diplas, 2008). Contudo nos escoamentos em rios a distribuição dos parâmetros na vertical é
pouco preponderante, visto que são caracterizados por declives baixos, variações graduais da
morfologia e baixas profundidades (Tonina e Jorde, 2013), pelo que os modelos bidimensionais são
mais adequados.

Os modelos 2D permitem variações das propriedades do escoamento temporais e espaciais na


direcção longitudinal e transversal, a diferentes escalas ecológicas. Estes modelos requerem
levantamentos topográficos detalhados com a recolha de um elevado número de pontos que
traduzam com melhor fiabilidade a topografia real. Nestes modelos o leito do rio é discretizado numa
malha de elementos finitos e em cada ponto obtêm-se o valor da profundidade e duas componentes
16
de velocidade, considerando uma distribuição hidrostática de pressões (Boavida, 2007). Estes
modelos são preponderantes em estudos onde a conhecimento da distribuição da velocidade no
plano horizontal e da profundidade é importante, como é o caso da avaliação do habitat de espécies
aquáticas.

Por último, os modelos unidimensionais consideram que, em cada secção transversal a velocidade é
igual em todos os pontos e que a superfície livre do escoamento é horizontal. No estudo de habitats a
modelação unidimensional baseia-se na escolha de secções transversais ao longo do curso de água
onde são medidas as variáveis velocidade, profundidade e substrato. Na Figura 3 ilustram-se as
variáveis consideradas em cada modelo.

Figura 3: Representação da velocidade (u), tensão de arrastamento (τ) e profundidade (h) nos modelos 1D, 2D e
3D respectivamente (adaptado de Tonina e Jorde, 2013).

2.7 Modelação do habitat

Os modelos de simulação de habitat têm vindo a ser utilizados de forma a prever e quantificar os
impactos ecológicos que derivam de alterações das propriedades físicas dos ecossistemas.

Um dos primeiros modelos físicos de habitat utilizados foi o Physical Habitat Simulation System
(PHABSIM) uma componente da IFIM desenvolvida na década de 70 no Norte da América (Bovee,
1982). Os modelos de habitat passaram a ser uma ferramenta utilizada na modelação e gestão dos
rios nos anos 80, sendo amplamente utilizados nos dias de hoje.

A classificação do habitat qualitativamente e quantitativamente depende da definição de índices que


relacionam as condições bióticas e abióticas. O indicador mais usado para descrever a resposta
biológica a determinadas condições físicas é o índice de adequação de habitat (HSI, Habitat
Suitability Index). Este índice toma valores de 0 a 1 que correspondem, respectivamente, à mínima e
máxima adequação da espécie-alvo a determinadas variáveis físicas (Frissell et al., 1986).

A relação entre as respostas biológicas e os factores abióticos podem ser determinadas com recurso
a diferentes técnicas, nomeadamente recorrendo a funções de preferência univariadas, também
designadas por curvas de preferência de habitat (HSC, Habitat Suitability Curves), que definem as
preferências (HSI) da espécie-alvo em relação à velocidade do escoamento, à profundidade e ao
substrato (Figura 4).

17
Figura 4: Curvas de preferência de habitat para as variáveis velocidade, profundidade e substrato. Exemplos.

Da relação entre os valores de HSI e as características hidráulicas do curso de água (velocidade,


profundidade e/ou substrato e cobertura) surge o WUA e HHS (Hydraulic Habitat Suitability), que
podem ser obtidos como função do caudal (equações 2.1 e 2.2). O HHS resulta do quociente entre o
WUA e a área molhada, resultando num parâmetro adimensional, que varia de 0 a 1, o que torna
mais fácil a comparação de valores entre diferentes locais de estudo (Stalnaker et al.,1995).
i

WUA = ∑ Ai × HSIi = f (Q)


(2.1)
n=1

WUA
HHS = = f (Q) (2.2)
á𝑟𝑒𝑎 𝑚𝑜𝑙ℎ𝑎𝑑𝑎
em que Ai representa a área.

O HSI para um determinado valor de velocidade, profundidade e substrato pode calcular-se através
do produto, da média aritmética ou da média geométrica dos valores de VSI (Velocity Suitability
Index), DSI (Depth Suitability Index) e SSI (Substrate Suitability Index).

As expressões referentes ao produto, média aritmética e geométrica estão representadas nas


equações 2.3, 2.4 e 2.5 respectivamente.

HSI𝑝 = VSI x DSI x SSI (2.3)


VSI + DSI + SSI
HSI𝑎 = (2.4)
3
3
HSI𝑔 = √VSI x DSI x SSI (2.5)

18
O método do produto pressupõe que as espécies piscícolas seleccionam cada variável
independentemente das outras. Este método produz os menores valores de habitat quando
comparado com os outros, visto que a inadequabilidade de habitat de uma variável não pode ser
compensada por boas condições de habitat de outra variável. Na média geométrica existe
compensação de adequabilidade, atribuindo a mesma importância às três variáveis, tanto este
método como o do produto podem fornecer um resultado de habitat nulo sempre que uma
adequabilidade seja nula. Por último, a média aritmética considera que as condições favoráveis de
habitat podem compensar as menos favoráveis (Boavida et al., 2014).

A metodologia baseada nas curvas de preferência possui algumas limitações, nomeadamente o facto
de considerar independência entre os factores abióticos e a limitação na utilização destas curvas em
diferentes segmentos de estudo, devido à especificidade inerente à realização das mesmas. Desta
forma, surgiram outras metodologias, como a lógica fuzzy, na terminologia anglo-saxónico, ou lógica
difusa, em que as preferências de habitat podem ser definidas qualitativamente através do
conhecimento de ictiólogos. A lógica fuzzy é constituída por conjuntos e regras fuzzy. A principal
vantagem desta metodologia é o facto de permitir uma análise qualitativa sem ensaios de campo
(Noack et al., 2013) permitindo também considerar efeitos multivariados sem assumir independência
de variáveis de entrada.

A teoria dos conjuntos fuzzy, desenvolvida por Zadeh (1965), permite que os sistemas estejam em
estados intermédios, o que é uma vantagem para a modelação ecológica visto que as mudanças não
são bruscas mas sim graduais (Salski, 1992). Esta lógica é abordada com mais pormenor no
capítulo 3 no âmbito do programa Casimir Fish 2D.

19
20
3 Metodologia de estudo

3.1 Considerações prévias

O modelo numérico utilizado para a simulação hidrodinâmica bidimensional do escoamento no troço


em estudo foi o River2D. Para a determinação do habitat disponível, recorreu-se ao Casimir Fish 2D.
Neste capítulo encontram-se descritos resumidamente os princípios incorporados por cada um destes
modelos e o fluxograma dos procedimentos adoptados no desenvolvimento do caso de estudo.

3.2 River2D

A modelação hidrodinâmica, representada no capítulo 4, foi executada através do modelo numérico


River2D, desenvolvido na Universidade de Alberta pelo Departamento de Engenharia Civil em
colaboração com o Freshwater Institute, o Midcontinent Ecological Science Center da U.S. Geological
Survey e a Fisheries Division do Governo de Alberta (Steffler e Blackburn, 2002).

O River2D é um modelo bidimensional, de elementos finitos. O modelo de habitat por este


considerado é o PHABSIM que utiliza curvas de preferência de habitat (Steffler e Blackburn, 2002). O
modelo encontra-se divido em quatro subprogramas: o R2D_Bed onde se procede à edição da
topografia do leito; o R2D_Mesh para o estabelecimento de uma malha triangular de elementos finitos
sobre a topografia; o River2D que efectua a modelação hidrodinâmica fornecendo como output
valores de velocidade e profundidade em cada nó da malha; o R2D_Ice que considera situações em
que o rio está coberto de gelo, o qual não será utilizado neste estudo.

A modelação hidrodinâmica do River2D é baseada na forma conservativa das equações de Sant


Venant, nomeadamente nas equações de conservação da massa (3.1) e quantidade de movimento
na direcção x e y, (3.2) e (3.3) respectivamente.
𝜕𝐻 𝜕𝑞𝑥 𝜕𝑞𝑦 (3.1)
+ + =0
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦

em que H é a altura de escoamento; qx (3.1.1) e qy (3.1.2) são os caudais específicos nas


direcções x e y, respectivamente, sendo
𝑞𝑥 = 𝐻𝑈 (3.1.1)
𝑞𝑦 = 𝐻𝑉 (3.1.2)

em que U e V são as velocidades médias em profundidade segundo x e y


𝜕𝑞𝑥 𝜕 𝜕 𝑔 𝜕 2 1 𝜕 1 𝜕 (3.2)
+ (𝑈𝑞𝑥 ) + (𝑉𝑞𝑥 ) + 𝐻 = 𝑔𝐻(𝑖𝑜𝑥 − 𝑖𝑓𝑥 ) + ( (𝐻𝜏𝑥𝑥 )) + ( (𝐻𝜏𝑥𝑦 ))
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑥 𝜌 𝜕𝑥 𝜌 𝜕𝑦

21
𝜕𝑞𝑦 𝜕 𝜕 𝑔 𝜕 2 1 𝜕 1 𝜕 (3.3)
+ (𝑈𝑞𝑦 ) + (𝑉𝑞𝑦 ) + 𝐻 = 𝑔𝐻(𝑖𝑜𝑦 − 𝑖𝑓𝑦 ) + ( (𝐻𝜏𝑦𝑥 )) + ( (𝐻𝜏𝑦𝑦 ))
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑦 𝜌 𝜕𝑥 𝜌 𝜕𝑦

em que g é a aceleração gravítica; 𝜌 é a massa volúmica da água; 𝑖𝑜𝑥 e 𝑖𝑜𝑦 são os declives do leito
na direcção x e y, respectivamente; 𝑖𝑓𝑥 e 𝑖𝑓𝑦 são os declives da linha de energia segundo x e y
respectivamente e 𝜏𝑥𝑥 , 𝜏𝑦𝑦 e 𝜏𝑥𝑦 são as tensões exercidas nos planos xx, yy e xy, respectivamente.

Para determinar a profundidade e os caudais nas direcções longitudinal e transversal, o River2D


utiliza estas equações juntamente com o método implícito de Petrov-Galerkin. Para o cálculo da
velocidade o modelo procede à divisão dos caudais específicos pela profundidade (Steffler e
Blackburn, 2002).

O modelo hidrodinâmico tem por base os seguintes pressupostos: a distribuição de pressões é


hidrostática, a velocidade na direcção vertical é constante e são desprezáveis as forças de Coriolis e
a acção do vento sobre as massas de água.

A relação entre o declive da linha de energia e a tensão de arrastamento está representada na


equação (3.4).
𝜏𝑏𝑥 √𝑈 2 + 𝑉 2 (3.4)
𝑖𝑓𝑥 = = 𝑈
𝜌𝑔𝐻 𝑔𝐻𝐶𝑠2

em que 𝜏𝑏𝑥 é a tensão de arrastamento no fundo e Cs é o coeficiente de Chézy (3.5).

𝐻 (3.5)
𝐶𝑠 = 5,75 log (12 )
𝑘𝑠
em que 𝑘𝑠 é a rugosidade efectiva.

A rugosidade efectiva relaciona-se com o coefeciente de Manning (n) através da expressão (3.6).
12𝐻 𝐻1/6 (3.6)
𝑘𝑠 = ; 𝑚 =
𝑒𝑚 2,5 𝑛√𝑔

O modelo considera a rugosidade efectiva como parâmetro de cálculo da resistência ao escoamento.

Num escoamento turbulento bidimensional e uniforme a tensão tangencial resulta da soma de duas
componentes, uma referente à tensão tangencial devido à viscosidade dinâmica e outra devido às
flutuações turbulentas da velocidade designada anteriormente por 𝜏𝑥𝑦 (3.7).
𝜕𝑈 𝜕𝑉 (3.7)
𝜏𝑥𝑦 = 𝜈𝑡 ( + )
𝜕𝑦 𝜕𝑥
em que 𝜈𝑡 é o coeficiente de viscosidade turbulenta.

22
3.3 Casimir Fish 2D e lógica fuzzy

A determinação do habitat disponível foi simulada através do Casimir (Computer aided simulation
model for instream flow regulation), que foi desenvolvido em 1990 pelo Instituto de Engenharia
Hidráulica da Universidade de Stuttgart (Schneider, 2010).

O Casimir incorpora vários submodelos nomeadamente o Casimir Fish 2D que permite importar
resultados de modelos hidrodinâmicos bidimensionais e utilizá-los no cálculo do habitat disponível
com base nos modelos de habitat que o integram. São exemplos de outros modelos o Casimir
Benthos direccionado para as espécies bentónicas, o Casimir Vegetation que permite simular a
distribuição espacial da vegetação nas planícies inundáveis, o Casimir Hydropower desenvolvido com
o intuito de estudar os efeitos económicos da produção de energia hidroeléctrica, e por último o
modelo mais recente o Casimir GIS para modelar situações especiais de constante mudança.

A modelação de habitat através do Casimir pode ser realizada através de curvas de preferência de
habitat ou com recurso à lógica fuzzy, que se apresenta explicada resumidamente nos parágrafos
que se seguem.

Na lógica fuzzy a variável de habitat é dividida em várias funções de associação ou na terminologia


anglo-saxónica membership functions, das quais são caracterizadas qualitativamente como High,
Medium e Low (H, M e L) e tomam a forma triangular ou trapezoidal. O conjunto destas três variáveis
para cada parâmetro físico é designado por conjunto fuzzy (Figura 5).

Para cada variável (profundidade, velocidade ou substrato), é estipulado um intervalo de valores de


ocorrência da mesma. No processo de "fuzzificação" (fuzzification) a este domínio de valores da
variável são atribuídos graus de associação às funções H, M e L. O grau de associação toma valores
entre 0 e 1. De notar que os valores de ocorrência da variável podem pertencer simultaneamente a
duas funções (L e M ou M e H) com graus de associação diferentes ou no limite iguais e com o valor
de 0,5.

Figura 5: Conjunto fuzzy para a velocidade, com funções de associação triangulares (i.e. High) e trapezoidais (i.e.
Low e Medium) (adaptado de Noack et al., 2013).

23
Após ter definido os conjuntos fuzzy é necessário estabelecer a relação entre os parâmetros físicos e
bióticos, que é concretizada através das regras fuzzy. Uma regra fuzzy consiste em vários
argumentos contemplados numa premissa, que descreve o ambiente em termos de profundidade,
velocidade e substrato, e numa consequência que traduz o HSI para as condições descritas na
premissa. Um exemplo de uma regra fuzzy possível é "Se a profundidade for High e a velocidade
High, Então HSI é Low".

No processo de inferência, o programa percorre todos os conjuntos de regras e determina o grau de


preenchimento (DOF, degree of fulfilment) de cada uma, seleccionando para tal o menor valor do
grau de associação das variáveis físicas. O grau de preenchimento indica uma gama de valores do
HSI, para uma determinada regra.

O processo de atribuir um único valor de HSI aos conjuntos de DOF que resultam do processo de
inferência, designa-se de "desfuzzificação" (desfuzzification). O método utilizado no Casimir é o
cálculo do centro de gravidade das áreas que derivam do DOF (Figura 6) (Noack et al., 2013).

A abordagem fuzzy no programa Casimir pode ser calibrada de diferentes formas, nomeadamente
por alteração da abordagem numérica com diferentes processos de inferência, modificação das
regras fuzzy ou mudança dos conjuntos fuzzy dos parâmetros físicos. A primeira forma de calibração
não produz efeitos significativos nos resultados finais. A opção mais comum é alterar os conjuntos
fuzzy, sendo que a mudança de regras só é efectuada após comum acordo com vários ictiólogos
(Noack et al., 2013).

3.4 Fluxograma dos procedimentos adoptados no caso de estudo

No sentido de sistematizar os procedimentos adoptados na realização do caso de estudo (capítulo 4),


elaborou-se o fluxograma representado na Figura 7. Indicam-se os principais tópicos desenvolvidos
(estudo hidrológico, modelação hidrodinâmica e do habitat e simulação da operação da central
hidroeléctrica), os dados necessários para a sua concretização (inputs), bem como os resultados
(outputs) conseguidos através desses procedimentos. Pretende-se ainda, que este fluxograma possa
constituir um guia de desenvolvimento de trabalhos futuros nesta área.

No capítulo que se segue são descritos detalhadamente os procedimentos apresentados neste


fluxograma.

24
Figura 6: Processo de inferência, ilustrando o cálculo do DOF de duas regras A e B, com duas variáveis físicas e o cálculo do HSI através do centro de gravidade (adaptado
de Noack et al., 2013).

25
Figura 7: Sistematização dos procedimentos adoptados no desenvolvimento do caso de estudo.
26
4 Caso de estudo- Aproveitamento hidroeléctrico de Ermida

4.1 Enquadramento da área de estudo

A ribeira da Carvalhosa é um afluente do rio Paiva, nasce na serra de Montemuro, no lugar de


Aguilhões e desagua no rio Vidoeiro na Quinta do Marado, junto à ponte de Ermida, em Castro Daire.

O aproveitamento hidroeléctrico de Ermida, com início de exploração em Maio de 1993, localiza-se a


cerca de 3 km a norte de Castro Daire, no rio Vidoeiro, também designado de Pombeiro. Este nasce
na aldeia de Mezio, concelho de Castro Daire, serra de Montemuro, e desagua na margem direita do
2
rio Paiva, junte à ponte da Ermida. O aproveitamento hidroeléctrico tem uma bacia com 28,8 km e
2
um caudal específico de 37,5 l/s.km . Na Figura 8 apresenta-se um esquema representativo da
localização do troço em estudo, da ribeira de Carvalhosa, do rio Vidoeiro, do açude e da central do
aproveitamento hidroeléctrico de Ermida.

O aproveitamento foi dimensionado considerando que os caudais naturais excediam a capacidade


máxima de turbinamento em 45 dias. Assim, de acordo com a curva de duração média anual dos
caudais médios diários, cerca de 70% da água disponível pode ser aproveitada para a produção de
energia. A albufeira permite o armazenamento do caudal para posteriormente ser turbinado nas horas
de ponta diária, onde o tarifário da energia é mais elevado.

O aproveitamento é constituído por um açude em betão armado, que integra um descarregador


controlado por uma comporta de charneira, uma tomada de água, uma descarga de fundo, uma
câmara de sedimentação, uma conduta forçada e ainda pela central hidroeléctrica (Figura 9).

27
Figura 8: Localização do troço em estudo, da ribeira de Carvalhosa, do rio Vidoeiro, do açude e da central do
aproveitamento hidroeléctrico de Ermida.

28
Figura 9: Aproveitamento hidroeléctrico de Ermida (imagem cedida por Hidrocentrais, S.A.).

3
O açude, com 64 m de comprimento e NPA de 723,00 m, cria um armazenamento de 48 000 m . O
descarregador de cheias, com 18 m de comprimento, está equipado com uma comporta de charneira
de 2,25 m de altura, sendo a cota da crista da soleira descarregadora de 720,75 m (Figura 10).

Figura 10: Açude e descarregador de cheias do aproveitamento hidroeléctrico de Ermida.

De forma a proteger a conduta e a turbina foi projectada, a jusante da tomada de água, uma câmara
de sedimentação para partículas até 0,25 mm de diâmetro. A limpeza desta só é possível após
interrupção da operação da central.

A conduta forçada é constituída por tubos de aço de diâmetro interior a 1100 mm com uma extensão
total de 3900 m e desnível de 394,80 m, localizada na margem esquerda do rio Vidoeiro. A tubagem
tem protecção anticorrosiva no interior e exterior e está enterrada em vala.

29
A central hidroeléctrica é uma estrutura de betão armado, com a sala das máquinas no nível inferior e
a sala de comando no nível superior. Na sala das máquinas está instalada uma turbina Pelton, com
três injectores, de eixo vertical e um gerador síncrono. Na subestação a tensão é elevada para 60 kV,
necessária para a ligação à rede eléctrica nacional (Figura 11).

Figura 11: Edifício da Central hidroeléctrica (imagem cedida por Hidrocentrais, S.A.).

A turbina Pelton tem uma velocidade de 750 r.p.m e o gerador síncrono uma potência nominal de
8,47 kVA. Na Figura 12 apresenta-se o esquema da turbina onde se pode observar que a cota da
calagem é de 327,75 m e a cota na zona de restituição de 326,70 m.

a)
Figura 12: Turbina Pelton: a) esquema ilustrativo; b) fotografia da turbina (imagens cedidas por Hidrocentrais,
S.A.).

30
b)
Figura 12-Continuação: Turbina Pelton: a) esquema ilustrativo; b) fotografia da turbina (imagens cedidas por
Hidrocentrais, S.A.).

As características do aproveitamento hidroeléctrico em estudo apresentam-se na Tabela 6.

Tabela 6: Caracterização do aproveitamento hidroeléctrico de Ermida.

2
Área da bacia 28,8 km
Precipitação média 2112 mm
3
Escoamento 1,08 m /s
3
Volume anual escoado 34,06 hm
3
Caudal de projecto 2,35 m /s
Características gerais
Queda Bruta 394,80 m
Queda útil 380,59 m
Potência máxima 7,7 MW
Produção média anual 19,88 GWh
Caudal ecológico 28 l/s
Comprimento 3900 m
Conduta Forçada
Diâmetro interior 1100 mm
Turbina Velocidade 750 rpm
Potência nominal 8,47 kVA
Gerador Síncrono
Tensão nominal 6 kV
Transformador 6/60 kV
3
Volume útil 48.000 m
Albufeira NPA 723,00 m
Altura útil 5,00 m
Comprimento 18,00 m
Cota da crista 720,75 m
Descarregador 3
Cheia 500 anos 203 m /s
3
Cheia 100 anos 256 m /s
3
Volume 450 m
Câmara de sedimentação
Partícula de dimensionamento 0,25 mm
Tensão 60 kV
Linha de interligação
Comprimento 21,00 km

31
4.2 Estudo hidrológico

2
A bacia hidrográfica da ribeira de Carvalhosa tem uma área de 47,67 km e perímetro de 31,24 km.
Esta bacia foi desenhada a partir da carta militar da folha 14 da escala 1:100.000, utilizando o ArcGis
(Figura 13 a)). A georreferenciação da carta teve por base o sistema de coordenadas ETRS 1989
Portugal TM06, utilizando para tal, cinco marcos geodésicos nomeadamente: Seculca, Sirigo, Serra
Alta, Belgão e Santo Antão.

Em relação ao sistema de drenagem, optou-se por definir as ordens dos cursos de água pelo critério
de Strahler, ou também designado por Horton-Strahler, por ser o mais usado em estudos de
morfologia fluvial (Hipólito e Vaz, 2011). Neste critério a classificação é feita de montante para jusante
sendo que a 1ª ordem corresponde a uma linha de água mais pequena que não recebe afluentes, a
junção de duas de 1ª ordem origina uma de 2ª ordem e assim sucessivamente até à zona de
referência da bacia. Assim, a ribeira de Carvalhosa é classificada como uma linha de água de 2ª
ordem (Figura 13 b)).
N

a) b)

Figura 13: Bacia hidrográfica da ribeira de Carvalhosa e do rio Vidoeiro: a) delimitação dos seus limites, e
b) representação de todos os cursos de água classificados com a respectiva ordem de acordo com o critério de
Strahler.

Para determinar o escoamento na bacia hidrográfica recorreu-se à regionalização de informação, que


no contexto da estimação de escoamento, consiste na transferência de informação hidrométrica de
uma bacia hidrográfica onde essa informação está disponível, para outra que não está monitorizada
(Portela, 2003).

Os modelos de regionalização têm como objectivo a obtenção de séries contínuas de escoamento em


bacias não monitorizadas. Para tal existem dois modelos disponíveis, os que são dependentes dos
modelos hidrológicos e os que são independentes. No primeiro, procede-se à transferência de
parâmetros dos modelos de precipitação-escoamento para a estimação do escoamento na bacia não
monitorizada. O segundo modelo não recorre à modelação hidrológica na bacia não monitorizada

32
mas sim à aplicação de modelos baseados em regressões, em relações de escala e séries temporais
(Portela, 2013).

Neste caso recorreu-se a um modelo do segundo tipo, em que a altura de escoamento anual médio
(H) é o parâmetro de regionalização, constituindo assim um factor de escala.

Para seleccionar uma estação hidrométrica, próxima da bacia da ribeira de Carvalhosa, com o valor
de escoamento anual médio semelhante foi necessário proceder a uma estimativa do escoamento na
bacia em estudo. Para tal, foi utlizado o mapa de isolinhas do escoamento, disponível no Altas do
Ambiente. A bacia hidrográfica localiza-se maioritariamente entre as isolinhas de 1000 e 1400 mm
(Figura 14). Assim, o escoamento anual médio estimado foi de 1115 mm (Tabela 7).

Figura 14: Representação da bacia hidrográfica no mapa de isolinhas do escoamento.

Tabela 7: Valor do escoamento anual médio na bacia hidrográfica.


Área Média de H
Isolinhas do escoamento 2 H (mm)
(km ) (mm)
800 1000 13,54 900
1115
1000 1400 34,13 1200

Com o valor da área e da estimativa do escoamento na bacia, obteve-se o caudal modular de


3
1,69 m /s, através da equação 4.1.

̅𝐴
𝐻 (4.1)
𝑄𝑚𝑜𝑑 =
365 × 24 × 3,6

̅ é o escoamento médio anual expresso em


em que 𝑄𝑚𝑜𝑑 representa o caudal modular (m /s), 𝐻
3

2
altura (mm) e A é a área da bacia hidrográfica (km ).

A estação hidrométrica mais próxima do local em estudo, com um escoamento anual médio próximo
do valor estimado, é a de Fragas da Torre, ilustrada na Figura 15. Apresenta um escoamento anual
médio de 997 mm e um desvio padrão de 470 mm (Portela, 2013) (Tabela 8).

33
N

Estação hidrométrica
Aproveitamento
Fragas da Torre
hidroeléctrico de
Ermida

Figura 15: Localização da estação hidrométrica e do aproveitamento hidroeléctrico de Ermida.

Tabela 8: Características da estação hidrométrica de Fragas da Torre (adaptado de Portela, 2013).

Bacia Escoamento
Código da 2 Registos (nº Desvio
Designação hidrográfica/ Área (km ) anual médio
estação de anos) padrão (mm)
curso de água (mm)
Fragas da 1946/47 a
08H/02 Douro/ Paiva 660 997 470
Torre 1995/96 (50)

3
Obtida a curva de duração anual do caudal médio diário para o rio Paiva e o módulo de 20,90 m /s,
que corresponde à média dos caudais médios diários registados na estação hidrométrica de Fragas
da Torre, determinou-se a curva de duração de caudais adimensionalizada. A partir desta última foi
possível a determinação da curva de duração anual do caudal médio diário para a ribeira de
Carvalhosa, através da multiplicação dos valores da curva adimensionalizada pelo módulo
correspondente à ribeira de Carvalhosa (Figura 16).

Rio Paiva Ribeira de Carvalhosa


45
70
40
35 60

30 50
Q / Qmod (-)

Q (m3/s)

25
40
20
30
15
20
10
5 10

0 0
0 73 146 219 292 365 0 73 146 219 292 365
Duração (dias) Duração (dias)
𝑄 𝑃𝑎𝑖𝑣𝑎 𝑐𝑎𝑟𝑣𝑎𝑙ℎ𝑜𝑠𝑎
𝑄 𝐶𝑎𝑟𝑣𝑎𝑙ℎ𝑜𝑠𝑎 = 𝑃𝑎𝑖𝑣𝑎
∗ 𝑄𝑚𝑜𝑑.
𝑄𝑚𝑜𝑑

Figura 16: Curvas de duração anual do caudal médio diário na estação de Fragas da Torre, à esquerda e na
secção de restituição da central, à direita.

34
4.3 Caracterização do troço

O troço em estudo inicia-se a cerca de 70 m a jusante da ponte da Ermida, na zona de restituição do


aproveitamento hidroeléctrico (Figura 17). Tem uma extensão de aproximadamente 100 metros e
uma largura que varia sensivelmente entre os 9 e os 12 m. O declive do rio no troço em estudo é
aproximadamente de 0,013.

Figura 17: Troço em estudo e zona de restituição da central.

O leito do rio é caracterizado pela existência de grandes blocos de pedra com diâmetros variáveis na
ordem de 1 até 3 m e calhau rolado (Figura 18).

a) b)

Figura 18: Representação do material do leito: a) blocos de grandes dimensões; b) calhou rolado.

No curso de água podem observar-se vários mesohabitats dos quais se destacam as cascatas,
rápidos, pool e run (Figura 19).

35
a) b)

c) d)

Figura 19: Representação dos vários mesohabitats existentes na ribeira de Carvalhosa: a) cascata; b) rápido; c)
pool; d) run.

4.4 Caracterização das espécies e estágios de vida

Segundo o registo de capturas do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e do Ordenamento do


Território, na ribeira de Carvalhosa a espécie predominante é a Salmo trutta, mais comummente
designada por truta de rio, na sua variante potamódroma (Ribeiro et. al., 2007).

A Figura 20 representada um exemplar da Salmo trutta com tamanho inferior a 50 cm. As trutas
apresentam duas barbatanas dorsais, a primeira espinhosa e a segunda adiposa, a coloração do
dorso é pardo-esverdeado, os flancos são esverdeados ou amarelados com manchas avermelhadas
ou negras e o ventre amarelado ou branco (Ribeiro et. al., 2007).

Figura 20: Salmo trutta capturado no rio Paiva.

36
As trutas preferem rios com elevadas velocidades de corrente e águas frias, oxigenadas e pouco
profundas, nomeadamente características de mesohabitats de riffles (Ribeiro et. al., 2007).

Estas trutas desovam aos pares entre os finais de Outubro até Março. A fêmea escolhe o local de
desova e escava o abrigo, enquanto o macho defende e protege a fêmea de outros machos. Os ovos
das trutas são cobertos por uma camada de 3 a 30 cm de areia e a profundidade do abrigo é
aproximadamente da ordem de grandeza do tamanho da progenitora. Os abrigos com profundidades
consideráveis evitam o arrastamento dos ovos pelas correntes fortes, mas em contrapartida a taxa de
oxigenação é menor (Kottelat e Freyhof, 2007).

Os substratos com granulometria superiores a 75 mm são os escolhidos para abrigo destas espécies,
assim como zonas com vegetação ripícola relevante e raízes (Ribeiro et. al., 2007).

As trutas juvenis alimentam-se essencialmente de invertebrados bentónicos e as adultas alimentam-


se de pequenos peixes, crustáceos e insectos (Kottelat e Freyhof, 2007).

4.5 Modelação hidrodinâmica

4.5.1 Trabalho de campo

A primeira saída de campo ocorreu no dia 27 de Fevereiro e teve como objectivo o reconhecimento
do troço da ribeira, bem como do aproveitamento hidroeléctrico.

O levantamento topográfico foi realizado em duas etapas, a primeira no dia 29 de Março e a segunda
no dia 4 de Junho. Simultaneamente com o primeiro levantamento topográfico, foram medidas as
velocidades nas secções transversais ao escoamento com um molinete ultrasónico, FP101 Global
Flow Probe da Global Water (Figura 21).

37
a) b)

c) d)

Figura 21: Representação de alguns trabalhos de campo e do caudal do rio nos dois levantamentos topográfico:
a) levantamento topográfico com estação total e mira; b) medição das velocidades com o molinete ultrasónico; c)
caudal do rio no dia 29 de Março; d) caudal do rio no dia 4 de Junho.

O substrato do rio foi avaliado por inspecção visual, tendo-se observado pedras, blocos, rochas e
zonas de laje (Figura 22).

38
a) b)

c) d)

Figura 22: Caracterização da rugosidade do leito do rio: a) pedras na ordem dos 50 a 100 mm; b) blocos com
dimensões superiores a 100 mm; c) rocha com dimensões superiores a 1 m; d) laje de pedra a constituir o leito
do rio.

4.5.2 Obtenção da curva de vazão

As condições de fronteira necessárias para o modelo são o caudal na secção de entrada e a altura de
escoamento na secção de saída. Para tal foi necessário definir a curva de vazão para simular caudais
diferentes do medido em campo.

O cálculo do caudal nas secções transversais ao escoamento pode ser obtido pelo somatório das
sucessivas áreas multiplicadas pelo valor da velocidade medido em cada secção, através da equação
(4.2).

𝑛
(4.2)
𝑄𝑖 = ∑ 𝐴𝑖 𝑣𝑖
𝑖=1
em que Ai representa as várias áreas que constituem uma secção transversal e vi corresponde ao
valor medido da velocidade.

39
Na Tabela 9 apresenta-se o valor do caudal para cada secção transversal ao escoamento, bem como
o valor total do caudal no dia do levantamento topográfico, que se obteve através da média dos vários
caudais.
Tabela 9: Caudal para cada secção transversal e caudal total.

Secção Transversal 2 (jusante) 3 4 5 6 (montante) Média


3
Caudal (m /s) 0,37 0,34 0,58 0,44 0,61 0,47

De notar que no campo foram definidas seis secções transversais representadas na Figura 23. A
secção 1, devido à irregularidade da mesma e à incerteza na determinação do caudal foi eliminada
para efeitos de cálculo do mesmo.

Figura 23: Secções transversais medidas em campo.

A curva de vazão foi obtida através da simulação unidimensional do escoamento, utilizando o


HEC-RAS. Para tal, calculou-se a curva de regolfo do escoamento tendo como secção de controlo a
secção 1 e o regime de escoamento lento ao longo do rio.

A simulação do escoamento em HEC-RAS pressupõe que as secções transversais são rectas e


perpendiculares à direcção do escoamento. Devido à forma e à existência de várias direcções de
escoamento, verificadas na seção 1, procedeu-se à linearização da mesma para a introdução desta
no programa. Os resultados da simulação do escoamento encontram-se no anexo A.

1/3
Utilizou-se um coeficiente de Strickler de 14 m /s, referido por Lencastre (1991), como valor normal
para cursos de água sinuosos com zonas profundas, baixios, rápidos, contracções, muitas pedras,
secções de funcionamento mais lento e vegetação.

40
Após a simulação para vários caudais, determinou-se a curva de vazão para a secção n.º 2, por
ajustamento de uma função logarítmica (Figura 24). A escolha da secção n.º 2 para secção de saída
no modelo, deveu-se a questões de simplicidade em simular as condições de fronteira no River2D.

318,8
y = 0,3123ln(x) + 317,75
R² = 0,9576
318,6

Cota da superficie livre (m) 318,4

318,2

318

317,8

317,6

317,4
0 2 4 6 8 10 12
Caudal (m3/s)

Figura 24: Curva de vazão da secção nº2.

4.5.3 Obtenção do ficheiro hidrodinâmico

4.5.3.1 Edição da topografia

Os pontos do levantamento topográfico foram inseridos no R2D_Bed com um formato.txt. O valor da


rugosidade efectiva foi obtido através das equações (3.6). Para tal considerou-se a altura de
escoamento média em cada secção transversal e o coeficiente de rugosidade de Strickler utilizado na
1/3
simulação unidimensional de 14 m /s. Assim, a média da rugosidade efectiva nas secções
transversais é de aproximadamente 0,90 m, os cálculos detalhados encontram-se no anexo B.

Segundo Wu e Mao (2007), o valor da rugosidade efectiva para rios com estas características varia
de 0,50 até 1,50 m, sendo que a rugosidade efectiva escolhida se encontra dentro deste limite.

Optou-se por adicionar pontos fora do domínio, com valores de rugosidade iguais, para que os nós
localizados na fronteira exterior fossem facilmente interpolados (Figura 25).

41
Figura 25: Densidade de pontos utilizada na edição da topografia.

Considerou-se a rugosidade igual em todo o leito do rio, visto que o zonamento rigoroso da mesma
era bastante difícil, apoiando esta decisão no estudo de Boavida (2007), que sugere a caracterização
da rugosidade pelo maior valor do diâmetro do material do leito do rio.

Para melhorar o tempo computacional, foram desenhadas linhas de quebra em redor de todos os
blocos rochosos representados no levantamento topográfico, evitando assim a interpolação entre
esses pontos e os que se localizam no exterior das linhas de quebra (Figura 26).

Figura 26: Linhas de quebra em redor das rochas.

42
Posteriormente procedeu-se à triangulação e, após visualização das cotas do terreno, foram inseridos
pontos de forma a representar com mais rigor o troço em questão. Para tal, foi elaborado o modelo
digital do terreno com o programa ArcGis e a respectiva representação em 3D (Figura 27).

Figura 27: Modelo digital do terreno em 3D.

O ficheiro é constituído por 1935 nós, 741 linhas de quebra que perfazem vários polígonos e
52 segmentos de fronteira.

4.5.3.2 Criação da malha de elementos finitos

Após a edição do ficheiro topográfico, criou-se uma malha de elementos finitos sobre a topografia do
leito do rio. Na Tabela 10 encontram-se as características da malha de elementos finitos, em que Q.I
(Quality Index) representa o valor do triângulo com qualidade mais baixa, traduzindo o grau de
semelhança entre os triângulos gerados pela malha de elementos finitos.

Tabela 10: Características da malha executada no R2D_Mesh.

Nós de Fronteira Espaçamento 1,0m


Espaçamento 0,5m
Nós no interior do troço
Ângulo 5 ͦ
Nº de nós 7382
Nº de elementos 14114
Q.I 0,448

O ficheiro foi guardado com a extensão .cdg para posteriormente ser reconhecido no River2D. Para
tal foi necessário estimar a cota da superfície livre a montante do troço, que se considerou 323,50 m.

43
4.5.3.3 Simulação hidrodinâmica

A simulação hidrodinâmica foi executada em regime permanente, utilizando o modelo iterativo de


resolução de equações não lineares. Este modelo iterativo é aconselhado para malhas com muitos
nós em detrimento do modelo directo que requer muita memória.

O processo iterativo baseia-se no modelo de resolução de equações designado por GMRS


(Generalized Minimal Residual method), que se torna mais rápido para malhas com grande número
de nós e não requer muita memória para armazenamento de dados (Steffler e Blackburn, 2002).
Nesta opção estão inerentes três parâmetros: o primeiro equivale ao número de iterações antes do
algoritmo reiniciar; o segundo corresponde ao número máximo destas; e o terceiro define a tolerância
da solução final. Estes parâmetros estão definidos por defeito e não foram alterados, visto que
surgiram de vários testes de comparação desta solução com o método directo, os parâmetros são
respectivamente 10, 10 e 0,01 (Steffler e Blackburn, 2002).

O programa permite ainda dois modelos de avaliação da matriz Jacobiana: o modelo analítico e
numérico. Neste estudo optou-se pelo método analítico visto ser o que conduz a tempos de
simulação mais rápidos (Steffler e Blackburn, 2002).

Durante a simulação foi necessário alterar a malha diversas vezes. Este facto deveu-se a picos de
velocidade originados por vórtices em redor de obstáculos como blocos rochosos, onde o
escoamento apresentava direcções muito variáveis no espaço, impedindo que o modelo atingisse o
regime permanente. Esta situação poderia ser evitada caso o levantamento topográfico descrevesse
melhor o domínio das irregularidades em redor das pedras.

4.5.3.4 Calibração do modelo e análise de sensibilidade

A calibração tem como objectivo aproximar a simulação da realidade por alterações sucessivas da
rugosidade do leito do rio. As variáveis comparadas foram a cota da superfície livre e os perfis de
velocidade nas secções transversais em estudo.

Com uma rugosidade efectiva de 0,90 m, as diferenças entre as cotas da superfície livre medidas e
simuladas foram pouco significativas (Figura 28). Na secção mais a jusante (n.º 2) a diferença média
entre as cotas da superfície livre foi de 1,68 cm e na secção n.º 3 de 1,65 cm. Estas secções
transversais corresponderam a zonas de velocidades baixas, apresentando uma superfície livre do
escoamento recta. Nas restantes secções, n.º 4, 5 e 6, as diferenças foram de 2,43 cm, 1,87 cm e
1,91 cm, respectivamente. Nestas secções verificaram-se velocidades superiores e portanto a
superfície livre do escoamento não correspondeu a uma recta.

Os perfis de velocidade obtidos apresentaram um bom ajustamento em relação às medições


efectuadas no local, embora existam diferenças pontuais a nível numérico bem visíveis nas secções
44
transversais n.º 4, 5 e 6 (Figura 29). Para as secções mais a jusante, a n.º 2 e 3, os perfis de
velocidade simulados encontram-se bem ajustados aos valores observados, visto que junto às
margens as velocidades são próximas de zero e os máximos nos perfis localizam-se junto aos
máximos observados. Nas restantes secções existem discrepâncias numéricas que podem ser
justificadas por diversas razões:

i. Falta de precisão do levantamento topográfico, em relação à representação de todas as


pedras relevantes ao escoamento, assim como pontos em redor destas;
ii. Diferenças entre a topografia do leito do rio e a gerada pela malha de elementos finitos; como
se trata de um rio com muitos blocos rochosos esta pode ser significativa;
iii. Dificuldade de medição das velocidades em campo, na direcção perpendicular ao
escoamento, devido à variabilidade espacial do mesmo em determinadas zonas;
iv. Erros de medição associados à recolha dos parâmetros hidráulicos e consequentemente ao
cálculo do caudal;
v. Dificuldade de correspondência entre as secções transversais medidas em campo e as
simuladas;
vi. Consideração de uma rugosidade constante em todas as secções transversais e ao longo
destas;
vii. Incertezas associadas à determinação das condições de fronteira.

Através desta análise foi possível verificar que o modelo reproduzia as condições observadas no
trabalho de campo, visto que a diferença máxima entre a cota da superfície livre medida e simulada
foi cerca de 2,43 cm, valor pouco significativo neste domínio. Os perfis de velocidade, nas secções
transversais consideraram-se indicadores dos valores que seriam expectáveis.

No sentido de analisar a influência da alteração da rugosidade efectiva na simulação hidrodinâmica,


optou-se por executar a mesma para uma rugosidade efectiva de 0,50 e de 1,00 m, valores
compreendidos no intervalo proposto por Wu e Mao (2007). Os resultados obtidos das diferenças
entre as cotas da superfície livre medidas e simuladas encontram-se resumidos na Tabela 11.

Tabela 11: Diferença entre a cota da superfície livre medida e simuladas para rugosidades diferentes.

EA médio entre a cota da superfície livre


observada e simulada (cm)
Secção Transversal
ks= 0,50 m ks= 0,90 m ks= 1,00 m

2 (jusante) 1,68 1,68 1,68


3 1,68 1,65 1,65
4 2,46 2,43 2,43
5 2,22 1,87 1,85
6 (montante) 2,38 1,91 1,78

45
317,8 317,8

317,6 317,6

317,4 317,4

Cota (m)
Cota (m)

317,2 317,2

317,0 317,0

316,8 316,8
1 3 5 7 9 11 1 3 5 7 9 11

Distância à margem (m) Distância à margem (m)

Leito do rio Cota medida Cota simulda Leito do rio Cota medida Cota simulada
a) b)

317,8 317,8

317,6 317,6

317,4
Cota (m)

317,4
Cota (m)

317,2 317,2

317,0 317,0

316,8 316,8
1 3 5 7 9 11 1 3 5 7 9
Distância à margem (m) Distância à margem (m)

Leito do rio Cota medida Cota simulada Leito do rio Cota medida Cota simulada
c) d)

317,8

317,6

317,4
Cota (m)

317,2

317,0

316,8
0 2 4 6 8
Distância à margem (m)
Leito do rio Cota medida Cota simulada
e)

Figura 28: Secções transversais com a representação da cota da superfície livre e simulada: a) secção
transversal n.º 2 (jusante); b) secção transversal n.º 3; c) secção transversal n.º 4; d) secção transversal n.º 5 e e)
secção transversal n.º 6.
46
0,8 0,8

0,7 0,7

0,6 0,6
Velocidade (m/s)

Velocidade (m/s)
0,5 0,5

0,4 0,4

0,3 0,3

0,2 0,2

0,1 0,1

0 0
1 3 5 7 9 11 1 3 5 7 9 11
Distância à margem (m) Distância à margem (m)
ks=0,90 m valores medidos ks=0,90 m valores medidos
a) b)
0,8 0,8

0,7 0,7

0,6 0,6
Velocidade (m/s)

Velocidade (m/s)

0,5 0,5

0,4 0,4

0,3 0,3

0,2 0,2

0,1 0,1

0 0
1 3 5 7 9 11 1 3 5 7 9
Distância à margem (m) Distância à margem (m)
ks=0,90 m valores medidos ks=0,90 m valores medidos
c) d)
0,8

0,7

0,6
Velocidade (m/s)

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0
0 2 4 6 8
Distância à margem (m)
ks= 0,90 m valores medidos
e)

Figura 29: Valores da velocidade perpendiculares à secção transversal obtidos por simulação e medidos em
campo: a) secção transversal n.º 2 (jusante); b) secção transversal n.º 3; c) secção transversal n.º 4; d) secção
transversal n.º 5 e e) secção transversal n.º 6.
47
A simulação com valores de rugosidade de 0,50 m conduziu a um aumento das diferenças entre as
cotas de superfície livre simuladas e medidas em relação à mesma com um valor de 0,90 m (Tabela
11). Tal facto deveu-se à descida da superfície livre, como seria expectável. O valor máximo desta
diferença média foi cerca de 5 mm e ocorreu para a secção mais a montante. No caso em que a
rugosidade efectiva aumentou de 0,90 para 1,00 m, as diferenças são praticamente inexistentes.

Em relação à variação dos perfis de velocidade em função do parâmetro da rugosidade efectiva,


representa-se na Figura 30, os resultados obtidos para a secção transversal mais a montante (n.º 6).
Nesta verifica-se uma variação mais acentuada para uma rugosidade de 0,50 m, afastando-se em
geral dos valores observados. Os perfis correspondentes a rugosidades de 0,90 e 1,00 m são
praticamente coincidentes.

0,8

0,7

0,6
Velocidade (m/s)

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0
0 2 4 6 8
Distância à margem (m)
ks=0,50 m ks=0,90 m
ks=1,00 m valores medidos

Figura 30: Secção transversal n.º 6 com a representação dos perfis de velocidade para uma rugosidade de 0,50,
0,90 e 1,00 m.

4.5.4 Simulações

As simulações hidrodinâmicas efectuadas para o regime natural, ou seja, na ausência da central


3
hidroeléctrica, foram realizadas para caudais crescentes desde o caudal de 0,47 m /s (caudal
3
observado em campo) até um caudal de 12 m /s. O valor superior deste intervalo foi definido tendo
em conta a curva de duração média anual do caudal médio diário, observando que o caudal de
3
12 m /s é excedido, num ano, em apenas 7 dias, e portanto com uma frequência de ocorrência muito
curta.

O intervalo de caudais escolhido foi mais pormenorizado nos caudais mais baixos, visto estes serem
de maior interesse a nível de habitat. Na Tabela 12 apresenta-se os valores de caudal e a
correspondente cota da superfície livre a jusante, obtida através da curva de vazão representada em
4.5.2.
48
Tabela 12: Valor dos caudais simulados com a respectiva cota da superfície livre a jusante.

Caudal
0,47 0,80 1,00 1,20 1,60 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 5,00 6,00 7,00 12,00
(m3/s)
Cota de
317,51 317,68 317,75 317,81 317,90 317,97 318,04 318,09 318,14 318,18 318,25 318,31 318,36 318,53
jusante (m)

3
O resultado da simulação bidimensional do escoamento para um caudal de 0,47 m /s, com a
representação da velocidade do escoamento por via vectorial, encontra-se na Figura 31.

3
Figura 31: Representação vectorial do escoamento para um caudal de 0,47 m /s, com especial atenção na zona
de cascata.

49
4.6 Modelação do habitat

4.6.1 Trabalho de campo

As amostragens de truta para definir as preferências de habitat e consequentemente as regras e


conjuntos fuzzy, foram recolhidas no dia 15 de Julho num troço do rio Bestança em Cinfães, na aldeia
de Covelas. O troço em estudo dista, aproximadamente, 30 km da ribeira de Carvalhosa e localiza-se
junto à ponte de Covelas (Figura 8). O rio Bestança nasce na serra de Montemuro e desagua no rio
Douro e o troço em questão tem características semelhantes à ribeira de Carvalhosa como ilustra a
Figura 32, apresentando-se num estado muito pouco perturbado.

Figura 32: Rio Bestança. Trecho onde foi efectuada a pesca eléctrica (a imagem da esquerda foi cedida pelo
Professor Rui Cortes).

O método de captura utilizado para a recolha das amostras foi a pesca eléctrica. Nesta é transmitida
uma corrente eléctrica de baixa voltagem, cerca de 250 V, à água através de um aparelho cujo
modelo utilizado foi Hans Grassl Gmbh Fischereibedarf Elektrofischereigeräte (Figura 33 a)). Com um
auxilio de uma rede os peixes atordoados são capturados e mantidos num recipiente com água
(Figura 33 b) e c)). A pesca é efectuada de jusante para montante num percurso em “zigzag”
constante para garantir a máxima cobertura dos diferentes habitats do rio (Boavida et al., 2010). Em
cada ponto de captura foram medidas duas variáveis hidráulicas, a velocidade e profundidade, com
um molinete que utiliza um sensor electromagnético de velocidade, de tipo semelhante ao Flo-Mate
modelo 2000. A haste do molinete é graduada permitindo a medição da profundidade (Figura 33 d)).
Por fim os peixes capturados são medidos através de uma estrutura de madeira equipada com uma
régua e devolvidos ao rio (Figura 33 e)).

50
a) b)

c) d)

e)

Figura 33: Pesca eléctrica: trabalhos efectuados e equipamento utilizado: a) aparelho utilizado para transmitir
corrente eléctrica à água; b) rede para capturar os peixes; c) recipiente de plástico onde são mantidos os peixes
capturados; d) medição da velocidade e profundida com o molinete, e) medição e classificação dos peixes
capturados.

No total foram identificadas 47 trutas, das quais 31 adultas e 16 juvenis. A velocidade nos locais de
recolha das amostras varia de 0,04 a 1,40 m/s aproximadamente, em relação à profundidade os

51
valores estão compreendidos entre 15 e 80 cm. No anexo C é possível consultar os dados relativos
às amostras recolhidas.

O trabalho de campo no rio Bestança teve o apoio e supervisão do Professor Rui Manuel Cortes da
UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) e da sua equipa de trabalho.

4.6.2 Conjuntos e regras fuzzy

Os conjuntos fuzzy foram elaborados pela Doutora Isabel Boavida, tendo em conta o domínio das
variáveis velocidade e profundidade observados em campo (Figura 34).

A função de associação Low (baixo) para a velocidade está compreendida entre 0,00 e 0,30 m/s, em
profundidade entre 0 e 30 cm e o substrato entre as classes 4 e 6. A função Medium (médio) varia
entre 0,00 até 1,50 m/s de velocidade, 0 a 80 cm de profundidade e classes de substrato entre 5 e 7.
A função High (alto) está definida entre 0,50 até 2,50 m/s, para profundidades entre 50 a 80 cm e
substratos das classes 7 à 9.

O conjunto respectivo à velocidade tem uma função Very High que é limitada inferiormente pela
velocidade de cruzeiro, suportada pelas Salmo truttas que varia de 0,50 até 2,00 m/s, optando-se por
adoptar 1,50 m/s, valor indicativo para reprodutores (Larinier, 1992). A esta função de associação
corresponde um HSI Low devido à dificuldade destas resistirem a velocidades tão elevadas.

As classes de substrato do conjunto fuzzy, representado na Figura 34, são de Otto e Reh (1999),
citados por Schneider et al. (2010) e correspondem ao descrito na Tabela 13.

Tabela 13: Classes de substrato do conjunto fuzzy (adaptado de Schneider, 2010).

Descrição do
Código Dimensões (mm)
substrato
0 Matéria orgânica -
1 Vasa -
2 Areia <2
3 Gravilha 2a6
4 Cascalho pequeno 6 a 20
5 Cascalho grande 20 a 60
6 Pequenas pedras 60 a 120
7 Grandes pedras 120 a 200
8 Blocos >200
9 Rocha -

52
Figura 34: Conjuntos fuzzy utilizados na modelação do habitat.

53
As regras fuzzy foram realizadas para os estágios de vida adulto e juvenil pela Doutora Isabel
Boavida e revistas pelo Professor Doutor Rui Manuel Cortes, que apresenta uma vasta experiência
no estudo desta espécie nos rios do norte de Portugal. Das 60 regras elaboradas foram utilizadas 12,
que se representam na Tabela 14, visto que para este estudo foi considerado existir apenas uma
classe de substrato, nomeadamente a classe 8 que corresponde à existência de blocos. A totalidade
das regras fuzzy encontram-se no anexo C.

Tabela 14: Regras fuzzy estabelecidas para a truta adulta e juvenil correspondente à classe 8 de substrato.

Adulto Juvenil
Velocidade Profundidade Substrato HSI
L L H M M
L M H M M
L H H H L
M L H L H
M M H M M
M H H M L
H L H L L
H M H M M
H H H M L
VH L H L L
VH M H L L
VH H H L L

4.6.3 Casimir Fish 2D

A modelação do habitat realizada no Casimir Fish 2D teve como inputs os dados da modelação
hidrodinâmica do River2D, para os caudais simulados, os conjuntos e regras fuzzy e por fim o valor
de rugosidade do leito constante correspondente à classe 8 (blocos).

As curvas WUA representam o habitat disponível, em termos de área, em função do caudal. Para
ambos os estágios de vida da truta, verificou-se um aumento do WUA até um ponto de inflexão, a
partir do qual ocorreu um decréscimo, mais acentuado nas trutas juvenis. O caudal que permitiu um
3
máximo WUA para as trutas adultas foi de 5,00 m /s, Figura 35 a), e para as juvenis a gama de
3 3
caudais que maximizou a disponibilidade de habitat foi 0,47 m /s a 1,00 m /s (Figura 35 b)).

54
500 500
450 450
400 400
350 350
300 300

WUA (m2)
WUA (m2)

250 250
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Caudal (m3/s) Caudal (m3/s)

a) b)

Figura 35: Curvas de WUA em função do caudal: a) truta adulta; b) truta juvenil.

A curva de duração do habitat para cada estágio de vida apresenta-se na Figura 36. Esta pretende
ilustrar a frequência de ocorrência de uma determinada área útil ponderada ao longo de um ano.

500 500
450 450

400 400

350 350

300 300
WUA (m2)
WUA (m2)

250 250

200 200
150
150
100
100
50
50
0
0
0 73 146 219 292 365
0 73 146 219 292 365
Duração (dias) Duração (dias)
a) b)

Figura 36: Curvas de duração do habitat: a) truta adulta; b) truta juvenil.

Na Figura 37, que ilustra a percentagem de área com o mesmo índice de adequabilidade (SI-
Suitability Index) em função do caudal, verificou-se a existência de condições óptimas de habitat para
as trutas adultas em toda gama de caudais estudados, traduzida pela percentagem de área com SI
3
de 0,9 a 1, que decresce de 9% para um caudal de cerca de 0,50 m /s até 5% para caudais elevados.
O SI predominante para este estágio é de 0,5 a 0,6, em que as percentagens variam de 72 % para
3
caudais baixos até cerca de 50% para caudais de 12 m /s, demostrando a existência de condições
adequadas para o habitat das trutas adultas até caudais elevados. Para as juvenis verifica-se que a
percentagem de área correspondente às condições óptimas de habitat varia de 8 a 2% para caudais
elevados, um pouco inferior às verificadas nas adultas. Em relação aos valores mais baixos de SI,
3
cerca de 0 a 0,1, podemos concluir que a partir de um caudal de cerca de 3,50 m /s, mais de metade
da área não possui condições para a existência das trutas no estágio de vida juvenil.

55
Figura 37: Percentagem de área com o mesmo SI em função do caudal: a) truta adulta; b) truta juvenil.

O Casimir Fish 2D também permite a visualização da distribuição do SI no troço em estudo.


Na Figura 38, estão representados os índices de adequabilidade para as trutas adultas e juvenis para
3
o caudal de 0,47 m /s. As trutas adultas tem preferências por zonas profundas entre 50 cm e 1,30 m
com velocidades até 0,30 m/s. Para este caudal, verificou-se a inexistência de condições para a truta
em zonas com velocidades superiores 0,50 m/s com profundidades baixas até 30 cm, como é
exemplo a zona de cascata. Nas restantes zonas o índice de adequabilidade é de 0,50.

Em relação aos juvenis, não se verificam condições para a existência destas em todas as áreas que
tenham profundidade acima dos 50 cm, bem como zonas com profundidades inferiores a 30 cm e
velocidades superiores a 0,50 m/s, nomeadamente na cascata. Os índices de adequabilidade de 0.9
a 1 encontram-se em zonas com velocidades entre os 0,20 m/s e os 0,60 m/s com profundidades
inferiores a 30 cm.

56
3
Para um caudal de 0,80 m /s a disponibilidade de habitat aumenta em ambos os estágios de vida da
truta, sendo que para a adulta, a área com índice de adequabilidade de 0,9 a 1 diminuiu, mantendo-
3
se as preferências descritas para um caudal de 0,47 m /s. Na truta juvenil, para este caudal, ocorre
um máximo da WUA, verificando-se condições óptimas de habitat em zonas de velocidades
3
intermédias com profundidades inferiores a 30 cm, como se verificou para o caudal de 0,47 m /s
(Figura 39).

a) b)

c)

3
Figura 38: Velocidades, profundidades e distribuição do SI no troço em estudo para o caudal de 0,47 m /s: a)
velocidade b) profundidade e c) distribuição de SI para as trutas adultas, à esquerda e juvenis, à direita.

57
a) b)

c)

3
Figura 39: Velocidades, profundidades e distribuição do SI no troço em estudo para o caudal de 0,80 m /s: a)
velocidade b) profundidade e c) distribuição de SI para as trutas adultas, à esquerda e juvenis, à direita.

No sentido de ilustrar a adequabilidade de habitat para caudais mais elevados apresenta-se a Figura
3
40, referente a um caudal de 5 m /s. No caso da truta adulta, observa-se o máximo de WUA. As
zonas de condições óptimas correspondem a velocidades até 0,30 m/s com profundidades até 1,60 m.
Cerca de 62% da área corresponde a um índice de adequabilidade de 0,50. As trutas juvenis para
caudais muito elevados refugiam-se em zonas pouco profundas até cerca 30 cm com velocidades
intermédias a baixas, nomeadamente junto às margens, podendo estas também beneficiarem do
abrigo que algumas rochas proporcionam. De notar que para a truta juvenil mais de metade da área
do troço não possui condições para a existências destas, traduzida pelo SI nulo.

58
a) b)

c)

3
Figura 40: Velocidades, profundidades e distribuição do SI no troço em estudo para o caudal de 5,00 m /s: a)
velocidade b) profundidade e c) distribuição de SI para as trutas adultas, à esquerda e juvenis, à direita.

Com esta análise e tendo em conta que os indivíduos mais jovens são mais susceptíveis a condições
adversas de habitat, o estudo da operação da central será centrado neste estágio de vida, sendo que
serão testadas as soluções propostas também para o estágio adulto.

59
4.7 Simulação da operação da central hidroeléctrica

4.7.1 Considerações iniciais

A central do aproveitamento hidroeléctrico de Ermida, descrita na alínea 4.1, tem uma produção anual
média de 19,88 GWh, uma potência máxima de 7,7 MW, uma queda útil de 380,59 m e um
rendimento de 0,88. O caudal ecológico estipulado é 28 l/s, correspondendo a 2,6% do caudal
modular do aproveitamento hidroeléctrico.

O açude do aproveitamento hidroeléctrico encontra-se a uma distância de aproximadamente 3 km do


troço em estudo. Assim o caudal ecológico libertado para o rio, será acrescido pela contribuição do
escoamento na bacia própria, representada a azul na Figura 41. Este acréscimo de caudal foi
contabilizado através do quociente entre os caudais modulares da bacia própria e do aproveitamento
3 3
hidroeléctrico, respectivamente 0,61 m /s e 1,08 m /s.

Figura 41: Bacia hidrográfica com a divisão da bacia do aproveitamento.

4.7.2 Remuneração da energia produzida em centrais hidroeléctricas

O Decreto-Lei n.º 225/2007 de 31 de Maio define a fórmula de remuneração pelo fornecimento da


electricidade entregue à rede, das centrais renováveis licenciadas ao abrigo dos Decreto- Lei
n.º 189/88, de 27 de Maio e 312/2001 de 10 de Dezembro.

A fórmula em causa representa-se na equação (4.3) estando o significado das respectivas parcelas
enumerado na Tabela 15.

𝐼𝑃𝐶𝑚−1 1
𝑉𝑅𝐷𝑚 = 𝐾𝑀𝐻𝑂𝑚 𝑥 [𝑃𝐹(𝑉𝑅𝐷)𝑚 + 𝑃𝑉(𝑉𝑅𝐷)𝑚 + 𝑃𝐴(𝑉𝑅𝐷)𝑚 𝑥 𝑍] 𝑥 [ ]𝑥 [ ] (4.3)
𝐼𝑃𝐶𝑟𝑒𝑓 1 − 𝐿𝐸𝑉

60
Tabela 15: Significado das parcelas da fórmula de remuneração (equação 4.3) das centrais renováveis.

𝑽𝑹𝑫𝒎 Remuneração aplicável a centrais renováveis no mês m


Coeficiente que traduz os valores de 𝑃𝐹(𝑉𝑅𝐷)𝑚 , de 𝑃𝑉(𝑉𝑅𝐷)𝑚 e de 𝑃𝐴(𝑉𝑅𝐷)𝑚 em função
𝑲𝑴𝑯𝑶𝒎
do posto horário em que a electricidade tenha sido fornecida
𝑷𝑭(𝑽𝑹𝑫)𝒎 Parcela fixa de remuneração aplicável a centrais renováveis no mês m

𝑷𝑽(𝑽𝑹𝑫)𝒎 Parcela variável de remuneração aplicável a centrais renováveis no mês m

𝑷𝑨(𝑽𝑹𝑫)𝒎 Parcela ambiental de remuneração aplicável a centrais renováveis no mês m

𝑰𝑷𝑪𝒎−𝟏 Índice de preços no consumidor, sem habitação, no continente, referente ao mês m-1
Coeficiente adimensional que traduz as características especificas do recurso endógeno e da
𝒁
tecnologia utilizada na instalação licenciada
Índice de preços no consumidor, sem habitação, no continente, referente ao mês anterior ao
𝑰𝑷𝑪𝒓𝒆𝒇
início do fornecimento de electricidade à rede pela central renovável
𝑳𝑬𝑽 Perdas nas redes de transporte e distribuição, evitadas pela central renovável.

Através da consulta da Decreto-Lei n.º 225/2007 de 31 de Maio, que consta no anexo D do presente
documento, é possível conhecer as expressões de cálculo para cada parcela indicada na Tabela 15.
Os índices considerados no cálculo da remuneração encontram-se descritos na Tabela 16.

A modulação tarifária traduzida pelo coeficiente KMHOm é obrigatória para as centrais hídricas. O
cálculo deste coeficiente depende essencialmente de dois factores: o KMHOpc que representa a
modulação correspondente às horas de ponta e de cheia (1,15) e o KMHOv referente à modulação
nas horas de vazio (0,80).

O cálculo da parcela fixa de remuneração (PF(VRD) m) depende de vários factores, dos quais se
destacam: o índice PF(U)ref que corresponde à mensualização do custo unitário de investimento nos
novos meios de produção (5,44 €/kWh) e o POTdec que é a potência da central declarada pelo
produtor no acto de licenciamento em kWh (7700 kWh).

O cálculo da parcela variável de remuneração (PV(VRD) m) depende do índice PV(U)ref que


corresponde ao custo de operação e manutenção que seriam necessários à exploração de novos
meios de produção (0,036 €/kWh).

A parcela ambiental de remuneração (PA(VRD)m) depende do ECE(U)ref que corresponde à


valorização unitária do dióxido de carbono que seria emitido pelos novos meios de produção (0,00002
€/g) e do CCRref que é o montante unitário das emissões de dióxido de carbono da central de
referência (370 g/kWh).

As perdas de energia nas redes de transporte e distribuição são contabilizadas através do parâmetro
LEV que toma o valor de 0,015 para centrais com potência superior a 5 MW. O coeficiente Z que
traduz as características do recurso endógeno e da tecnologia utilizada na instalação licenciada é de
4,5 para centrais com potência até 10 MW.

61
Tabela 16: Parâmetros utilizados para o cálculo da remuneração da energia.

KMHOpc 1,15
KMHOv 0,80
PF (U) ref [€/KWh] 5,44
POTdec [KW] 7700
PV (U) ref [€/KWh] 0,036
ECE (U) ref [€/g] 0,00002
CCRref [g/KWh] 370
LEV (Potência> 5MW) 0,015
Z (POTdec até 10MW) 4,5
IPCref 1
IPCm-1 1

Na alínea 7 do Decreto-Lei n.º 225/2007 de 31 de Maio (anexo D), são especificadas as horas de
ponta e de vazio segundo as quais as centrais hídricas se regulam. No período de hora legal de
Inverno, as horas de ponta e cheia ocorrem entre as 8h e as 22h, perfazendo um total de 14 h por dia.
As restantes 10 h, no período da 0 e 8h e 22 até às 24h, são horas de vazio. No Verão o intervalo das
horas de ponta é das 9 às 23h e as restantes horas perfazem o período de vazio (Tabela 17).

Tabela 17: Horas de ponta, cheia e vazio para as centrais hídricas.

Horas de ponta e cheia Horas de vazio


Inverno 8 h – 22 h 0 h- 8 h / 22 h – 24 h
Verão 9 h – 23 h 0 h- 9 h / 23 h – 24 h

4.7.3 Cenários de operação da central

Na definição de cenários da operação da central foi necessário adoptar algumas hipóteses


simplificativas, tais como:

i. Assumiu-se regularização diária no aproveitamento, o que implica que o volume afluente


médio diário seja igual ao volume turbinado, não existindo armazenamento de água de um
dia para outro;
ii. O rendimento da turbina mantêm-se constante até ao caudal correspondente a 20% do
caudal máximo, o que não se afasta da realidade, visto que a turbina é Pelton de três
injectores;
iii. O volume afluente médio diário mantêm-se constante durante um mês;
iv. O caudal turbinado no período de ponta é sempre superior ou, no limite, igual ao
correspondente no período de vazio;
v. As horas de ponta e de vazio correspondem ao período de Inverno;
vi. As variações de caudal turbinado são efectuadas em apenas alguns minutos, podendo ser
consideradas instantâneas para efeitos de cálculo da energia produzida;

62
vii. As reduções de caudal são efectuados após o anoitecer de forma a evitar o risco de stranding,
visto que no Inverno as trutas apresentam menor mobilidade durante o dia escondem-se no
substrato;
viii. As condições de stress correspondem a valores inferiores a 80% do WUA máximo. Segundo
Capra et. al. (1995), os nascimentos são fortemente afectados, se na altura de desova as
trutas forem submetidas a condições inferiores a este limite por mais de 20 dias.

Consideraram-se caudais médios diários afluentes ao açude do aproveitamento hidroeléctrico entre


10 e 60% do caudal modular (Qmod).

Estabelecidos os caudais médios diários afluentes, que perfazem um total de seis cenários principais,
foram definidas alternativas a estes, tendo como objectivo a diminuição do caudal máximo turbinado e
o controlo de um caudal mínimo em períodos críticos.

Na Tabela 18 apresentam-se os cenários principais, a cinzento, e as respectivas alternativas.


Da Tabela 18 constam as percentagens de produção de energia mensal em relação à produção
média anual, o valor da remuneração mensal da energia (VRDm), a redução desta remuneração ao
considerar um cenário alternativo, bem como o valor do caudal e volume afluente e ainda o caudal no
troço da ribeira para os três períodos considerados: ponta (p.p.), vazio (p.v.) e sem caudal turbinado.

As primeiras alternativas aos cenários principais foram elaboradas tendo em vista a repartição do
caudal turbinado pelo maior número de horas de ponta, produzindo-se a mesma energia porque o
rendimento da turbina é constante para a gama de caudais considerados. Assim estas alternativas
apresentam remuneração idêntica à do correspondente cenário principal.

As outras opções apresentadas têm reduções na receita em relação cenário principal correspondente,
visto que existe caudal turbinado no período de vazio cuja remuneração é inferior ao período de ponta.
3
Os caudais turbinados no período de vazio correspondem ao mínimo de 0,47, 0,60 e 0,70 m /s
durante 1 h.

Na Figura 42 apresenta-se um esquema de cada cenário estabelecido para o caudal afluente de


3
10% Qmod. Por exemplo, para o cenário principal, o caudal no troço em estudo é de 2,01 m /s,
durante 1 h no período de ponta. Este caudal foi obtido através da soma do escoamento gerado na
bacia hidrográfica compreendida entre as secções do açude e da central, com o caudal ecológico de
3 3
0,028 m /s e com o caudal turbinado de 1,92 m /s. O escoamento é obtido pela multiplicação do
3 3
caudal afluente pelo quociente entre os caudais modulares de 0,61 m /s e de 1,08 m /s, nas duas
secções referidas. No anexo E representam-se os esquemas para os outros caudais afluentes
considerados.

A variação do caudal ao longo do dia para os cenários estabelecidos está representada na Figura 43.
A primeira redução de caudal ocorre às 19 h. Todas as outras reduções ocorrem após essa hora. No
63
período de vazio, considera-se que a central funcionará das 22 às 23 h, tendo em consideração que
durante a noite as trutas estão mais activas.

Tabela 18: Cenários de operação da central hidroeléctrica: percentagens de produção de energia


mensal em relação à produção média anual; valor da remuneração mensal (VRDm); redução da
remuneração ao considerar um cenário alternativo; valor do caudal e volume afluente; caudal no troço
da ribeira para os três períodos considerados.

Energia
mensal
produzida
Redução Q m.d. Q m.d. V Q Q Q não
em relação VRDm
Cenário de operação da central VRDm afluente afluente afluente ponta vazio turbinável*
à [€]
[€] [% Qmod] [m3/s] [103 m3] [m3/s] [m3/s] [m3/s]
produção
média
anual (%)
p.p. (1,92 x 1h) 0,95 15.341 - 10 0,108 9,3 2,01 - 0,09
p.p. (0,48 x 4h) 0,95 15.341 0 10 0,108 9,3 0,57 - 0,09
p.p. (0,48 x 3h) + p.v. (0,47 x 1h) 0,95 14.198 1.143 10 0,108 9,3 0,57 0,56 0,09
p.p. (0,66 x 2h) + p.v. (0,60 x 1h) 0,95 13.882 1.459 10 0,108 9,3 0,75 0,69 0,09
p.p. (1,22 x 1h) + p.v. (0,70 x 1h) 0,95 13.639 1.702 10 0,108 9,3 1,31 0,79 0,09
p.p. (2,26 x 2h) 2,23 36.341 - 20 0,216 18,7 2,41 - 0,15
p.p. ( 0,50 x 9h) 2,23 36.341 0 20 0,216 18,7 0,65 - 0,15
p.p. (0,51 x 8h) + p.v. (0,47 x 1h) 2,23 35.191 1.150 20 0,216 18,7 0,66 0,62 0,15
p.p. (0,65 x 6h) + p.v. ( 0,60 x 1h) 2,23 34.872 1.468 20 0,216 18,7 0,80 0,75 0,15
p.p. (0,76 x 5h) + p.v. ( 0,70 x 1h) 2,23 34.628 1.713 20 0,216 18,7 0,91 0,85 0,15
p.p. (1,78 x 4h) 3,51 57.468 - 30 0,324 28,0 1,99 - 0,21
p.p. (0,51 x 14h) 3,51 57.468 0 30 0,324 28,0 0,72 - 0,21
p.p. (0,47 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 3,51 56.311 1.157 30 0,324 28,0 0,68 0,68 0,21
p.p. (0,65 x 10h) + p.v. (0,60 x 1h) 3,51 55.991 1.477 30 0,324 28,0 0,86 0,81 0,21
p.p. (0,71 x 9h) + p.v. (0,70 x 1h) 3,51 55.745 1.723 30 0,324 28,0 0,92 0,91 0,21
p.p. (1,94 x 5h) 4,79 78.919 - 40 0,432 37,3 2,21 - 0,27
p.p. (0,69 x 14h) 4,79 78.919 0 40 0,432 37,3 0,96 - 0,27
p.p. (0,66 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 4,79 77.755 1.164 40 0,432 37,3 0,93 0,74 0,27
p.p. (0,65 x 14h) + p.v. (0,60 x 1h) 4,79 77.433 1.486 40 0,432 37,3 0,92 0,87 0,27
p.p. (0,75 x 12h) + p.v. (0,70 x 1h) 4,79 77.185 1.734 40 0,432 37,3 1,02 0,97 0,27
p.p. (2,05 x 6h) 6,08 100.628 - 50 0,540 46,7 2,38 - 0,33
p.p. (0,88 x 14h) 6,08 100.628 0 50 0,540 46,7 1,21 - 0,33
p.p. (0,85 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 6,08 99.457 1.171 50 0,540 46,7 1,18 0,80 0,33
p.p. (0,84 x 14h) + p.v. (0,60 x 1h) 6,08 99.133 1.495 50 0,540 46,7 1,17 0,93 0,33
p.p. (0,83 x 14h) + p.v. (0,70 x 1h) 6,08 98.884 1.745 50 0,540 46,7 1,16 1,03 0,33
p.p. (2,13 x 7h) 7,36 122.595 - 60 0,648 56,0 2,52 - 0,39
p.p. (1,06 x 14h) 7,36 122.595 0 60 0,648 56,0 1,46 - 0,39
p.p. (1,03 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 7,36 121.417 1.179 60 0,648 56,0 1,42 0,86 0,39
p.p. (1,02 x 14h) + p.v. (0,60 x 1h) 7,36 121.091 1.505 60 0,648 56,0 1,41 0,99 0,39
p.p. (1,01 x 14h) + p.v. (0,70 x 1h) 7,36 120.840 1.755 60 0,648 56,0 1,41 1,09 0,39
*Valor que resulta da soma do caudal ecológico com o caudal resultante da bacia própria da central.

Nos gráficos representados na Figura 43 a) e b), que correspondem a caudais afluentes de 10 e


20% Qmod, respectivamente, é notória a existência de dois períodos de aumento de caudal e,
consequentemente, de decréscimo de caudal, espaçados de 3 h. Para os restantes caudais afluentes,
sempre que a central funciona durante todo o período de ponta, o caudal turbinado nas horas de
vazio sucede-se ao do período de ponta sem qualquer interrupção de turbinamento, proporcionando
uma variação mais gradual no caudal do troço do rio.

64
1 1 Açude
2 Circuito hidráulico
2
3 Troço do rio entre o
açude e a zona de
3
restituição

Figura 42: Esquema dos cenários estabelecidos para um caudal afluente de 10% Qmod.

65
2,5 2,5

2,0 2,0
Caudal (m3/s)

Caudal (m3/s)
1,5 1,5

1,0 1,0

0,5 0,5

0,0 0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Dia (horas) Dia (horas)
p.p. 1.92 m3/s p.p. 0.48 m3/s p.p. 2.26 m3/s p.p. 0.50 m3/s
p.p. 0.48 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.66 m3/s; p.v. 0.60 m3/s p.p.0.51 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.65 m3/s; p.v. 0.60 m3/s
p.p. 1.22 m3/s; p.v. 0.70 m3/s p.p. 0.76 m3/s; p.v. 0.70 m3/s
a) b)
2,5 2,5

2,0 Caudal (m3/s) 2,0


Caudal (m3/s)

1,5 1,5

1,0 1,0

0,5 0,5

0,0
0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Dia (horas)
Dia (horas)
p.p. 1.78m3/s p.p. 0.51 m3/s p.p. 1.94m3/s p.p. 0.69 m3/s

p.p. 0.47 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.65 m3/s; p.v. 0.60 m3/s p.p. 0.66 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.65 m3/s; p.v 0.60 m3/s

p.p. 0.71 m3/s; p.v. 0.70 m3/s p.p. 0.77 m3/s; p.v. 0.70 m3/s
c) d)
2,5 2,5

2,0 2,0
Caudal (m3/s)
Caudal (m3/s)

1,5 1,5

1,0 1,0

0,5 0,5

0,0 0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Dia (horas) Dia (horas)
p.p. 2.05m3/s p.p. 0.88 m3/s p.p. 2.13m3/s p.p. 1.06 m3/s
p.p. 0.85 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.84 m3/s; p.v. 0.60 m3/s p.p. 1.03 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 1.02m3/s; p.v. 0.60 m3/s
p.p. 0.83 m3/s; p.v. 0.70 m3/s p.p. 1.01 m3/s; p.v. 0.70 m3/s
e) f)

Figura 43: Variação do caudal no troço em estudo, ao longo do dia, para os caudais médios diários afluentes
3
(m /s): a) 0,108; b) 0,216; c) 0,324; d) 0,432; e) 0,540; f) 0,648.

66
4.7.4 Simulação hidrodinâmica dos cenários de operação da central

As simulações efectuadas corresponderam apenas a dois caudais afluentes, 20 e 40% Qmod, visto
que se considerou que a simulação de todos os caudais em apreço seria um processo exaustivo que
não traria mais-valias ao trabalho desenvolvido. Os cenários representados são: os cenários
principais, os cenários com caudal turbinado distribuído pelo maior número possível de horas de
3
ponta e os cenários com funcionamento da central no período de vazio com um caudal de 0,47 m /s.

As simulações hidrodinâmicas efectuadas cumprem o princípio da conservação da massa, sendo o


3
caudal afluente ao troço igual ao efluente (Figura 44 e Figura 45). Para caudais até 0,96 m /s,
verificou-se existir descontinuidade do escoamento em zonas com velocidades consideráveis, como
por exemplo no troço imediatamente a jusante da zona de restituição da central, o que certamente
não ocorrerá na realidade. Para contornar este aspecto, realizaram-se diversas simulações
eliminando a hipótese de ocorrer escoamento subterrâneo. Contudo nenhuma das tentativas
convergiu para uma solução, provavelmente devido a erros numéricos de cálculo no River2D. A sua
análise aprofundada não foi contemplada visto não ser possível o acesso ao código numérico.

Na Figura 44 e na Figura 45, as simulações com caudal não turbinável (resultante da soma do caudal
ecológico com o caudal da bacia própria) referem-se ao período em que a central não está a
funcionar. Em todos os cenários simulados este caudal existe durante algumas horas. Em relação às
3 3
simulações com um caudal total de 2,41 m /s e 2,21 m /s, que correspondem ao máximo simulado
para cada caudal afluente, referem-se aos cenários de receita mais elevada. As restantes simulações
pretendem representar o escoamento durante os diferentes períodos, ponta e vazio, segundo os
cenários alternativos considerados, referidos na Tabela 18.

67
3
Caudal não turbinável (0,15 m /s)

3 3
Caudal não turbinável (0,15 m /s) + 2,26 m /s em período de ponta

3 3
Caudal não turbinável (0,15 m /s) + 0,50 m /s em período de ponta

Figura 44: Valores de profundidade (m) e velocidade (m/s) para diferentes cenários, resultante de um caudal
afluente de 20% Qmod.

68
3 3
Caudal não turbinável (0,15 m /s) + 0,51 m /s em período de ponta

3 3
Caudal não turbinável (0,15 m /s) + 0,47 m /s em período de vazio

Figura 44-Continuação: Valores de profundidade (m) e velocidade (m/s) para diferentes cenários, resultante de
um caudal afluente de 20% Qmod.

69
3
Caudal não turbinável (0,27 m /s)

3 3
Caudal não turbinável (0,27 m /s) + 1,94 m /s em período de ponta

3 3
Caudal não turbinável (0,27 m /s) + 0,69 m /s em período de ponta

Figura 45: Valores de profundidade (m) e velocidade (m/s) para diferentes cenários, resultante de um caudal
afluente de 40% Qmod.

70
3 3
Caudal não turbinável (0,27 m /s) + 0,66 m /s em período de ponta

3 3
Caudal não turbinável (0,27 m /s) + 0,47 m /s em período de vazio

Figura 45-Continuação: Valores de profundidade (m) e velocidade (m/s) para diferentes cenários, resultante de
um caudal afluente de 40% Qmod.

4.7.5 Indicadores de hydropeaking

No sentido de avaliar a influência do hydropeaking nos cenários estabelecidos, foram calculados dois
indicadores, nomeadamente o rácio de caudais e a variação da área molhada. Segundo
Harby et al. (2013), estes indicadores podem ser classificados em quatro classes de influência no rio:
muito grande, grande, média e pequena. O domínio destas classes encontra-se indicado na Tabela
19, para cada indicador considerado.

71
Tabela 19: Classes de influência do hydropeaking no rio para os respectivos indicadores (adaptado Harby et al.,
2013).

Classes de influência
Indicador Muito
Grande Média Pequena
Grande
Rácio de caudais
>5 3-5 1.5 - 3 <1.5
(Qmáx/ Qmin)
Variação da área
>20 10 - 20 5 - 10 <5
molhada (%)

A variação de caudal foi considerada através do rácio entre o caudal máximo e mínimo, para os
cenários considerados (Tabela 20). Até um caudal afluente de 50% Qmod, para os cenários principais,
a influência do hydropeaking no rio é considerada muito grande, visto que os rácios são superiores a
5. Todos os cenários alternativos conduzem a diminuições deste indicador. Aqueles que apresentam
rácios entre 3 e 5, o hydropeaking tem uma influência grande no rio e naqueles em o rácio de
variação do caudal apresenta valores inferiores a 3, a influência do hydropeaking no rio é média. De
notar que em nenhum dos cenários estipulados o hydropeaking exerce uma influência no rio pequena.

Tabela 20: Rácio de caudais máximo e mínimo para os cenários considerados.

Qmáx/ Qmin
Cenário de operação da central
Ponta Vazio
p.p. (1,92 x 1h) 22,57
p.p. (0,48 x 4h) 6,39
p.p. (0,48 x 3h) + p.v. (0,47 x 1h) 6,43 6,28
p.p. (0,66 x 2h) + p.v. (0,60 x 1h) 8,42 7,74
p.p. (1,22 x 1h) + p.v. (0,70 x 1h) 14,71 8,87
p.p. (2,26 x 2h) 16,05
p.p. ( 0,50 x 9h) 4,34
p.p. (0,51 x 8h) + p.v. (0,47 x 1h) 4,37 4,13
p.p. (0,65 x 6h) + p.v. ( 0,60 x 1h) 5,35 4,99
p.p. (0,76 x 5h) + p.v. ( 0,70 x 1h) 6,09 5,66
p.p. (1,78 x 4h) 9,42
p.p. (0,51 x 14h) 3,40
p.p. (0,47 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 3,25 3,23
p.p. (0,65 x 10h) + p.v. (0,60 x 1h) 4,08 3,84
p.p. (0,71 x 9h) + p.v. (0,70 x 1h) 4,37 4,32
p.p. (1,94 x 5h) 8,13
p.p. (0,69 x 14h) 3,55
p.p. (0,66 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 3,42 2,73
p.p. (0,65 x 14h) + p.v. (0,60 x 1h) 3,39 3,21
p.p. (0,75 x 12h) + p.v. (0,70 x 1h) 3,76 3,57
p.p. (2,05 x 6h) 6,40
p.p. (0,88 x 14h) 3,70
p.p. (0,85 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 3,61 2,19
p.p. (0,84 x 14h) + p.v. (0,60 x 1h) 3,59 2,52
p.p. (0,83 x 14h) + p.v. (0,70 x 1h) 3,57 2,78
p.p. (2,13 x 7h) 3,87
p.p. (1,06 x 14h) 3,83
p.p. (1,03 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 3,82 2,19
p.p. (1,02 x 14h) + p.v. (0,60 x 1h) 3,81 2,52
p.p. (1,01 x 14h) + p.v. (0,70 x 1h) 3,80 2,78

72
A variação da área molhada foi calculada apenas para os cenários em que foram efectuadas as
simulações do escoamento. Através do cálculo deste parâmetro foi possível verificar que o
hydropeaking tem uma influência no rio considerada muito grande, visto que a percentagem da
mesma se mantêm acima de 20% definida no critério de influência, embora a diferença entre a área
molhada nos cenários alternativos seja consideravelmente menor (Tabela 21).

Tabela 21: Variação da área molhada desde o caudal máximo até ao mínimo.

Variação da área Variação da área


Cenário de operação da central molhada (m2) molhada (%)
Ponta Vazio Ponta Vazio
p.p. (2,26 x 2h) 627,8 52,5
p.p. ( 0,50 x 9h) 313,4 35,6
p.p. (0,51 x 8h) + p.v. (0,47 x 1h) 318,0 300,6 35,9 34,6
p.p. (1,94 x 5h) 550,8 46,3
p.p. (0,69 x 14h) 343,0 34,9
p.p. (0,66 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 335,6 269,7 34,4 29,7

73
74
5 Resultados

5.1 Variação do habitat em função da receita perdida

A variação do habitat em função da receita perdida representam-se na Figura 46, para os caudais
médios diários afluentes considerados.

Na Tabela 22 estão numerados os cenários definidos e representadas as percentagens de WUA


obtidas para os três caudais existentes no troço em estudo: caudal no período de ponta, caudal no
vazio e caudal não turbinável.

Tabela 22: Percentagens de WUA para os cenários de operação considerados.

Juvenis Adultos
Redução Q m.d.
Nº dos VRDm WUA WUA WUA não WUA WUA WUA não
Cenário de operação da central VRDm afluente
cenários [€] ponta vazio turbinável ponta vazio turbinável
[€] [m3/s]
(%) (%) (%) (%) (%) (%)
1 p.p. (1,92 x 1h) 15.341 - 0,108 80,1 - 28,5 91,6 - 18,7
1.1 p.p. (0,48 x 4h) 15.341 0 0,108 99,6 - 28,5 77,8 - 18,7
1.2 p.p. (0,48 x 3h) + p.v. (0,47 x 1h) 14.198 1.143 0,108 99,6 99,5 28,5 77,9 77,7 18,7
1.3 p.p. (0,66 x 2h) + p.v. (0,60 x 1h) 13.882 1.459 0,108 99,9 99,8 28,5 80,3 79,5 18,7
1.4 p.p. (1,22 x 1h) + p.v. (0,70 x 1h) 13.639 1.702 0,108 90,3 100 28,5 86,8 80,8 18,7
2 p.p. (2,26 x 2h) 36.341 - 0,216 77,3 - 48,1 94 - 31,5
2.1 p.p. ( 0,50 x 9h) 36.341 0 0,216 99,7 - 48,1 79,0 - 31,5
2.2 p.p. (0,51 x 8h) + p.v. (0,47 x 1h) 35.191 1.150 0,216 99,7 99,7 48,1 79,0 78,5 31,5
2.3 p.p. (0,65 x 6h) + p.v. ( 0,60 x 1h) 34.872 1.468 0,216 99,9 99,9 48,1 81,0 80,3 31,5
2.4 p.p. (0,76 x 5h) + p.v. ( 0,70 x 1h) 34.628 1.713 0,216 97,6 98,9 48,1 82,5 81,6 31,5
3 p.p. (1,78 x 4h) 57.468 - 0,324 80,3 - 67,5 91,4 - 44,3
3.1 p.p. (0,51 x 14h) 57.468 0 0,324 99,8 - 67,5 79,8 - 44,3
3.2 p.p. (0,47 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 56.311 1.157 0,324 99,8 99,8 67,5 79,4 79,3 44,3
3.3 p.p. (0,65 x 10h) + p.v. (0,60 x 1h) 55.991 1.477 0,324 98,7 99,8 67,5 81,8 81,1 44,3
3.4 p.p. (0,71 x 9h) + p.v. (0,70 x 1h) 55.745 1.723 0,324 97,4 97,6 67,5 82,6 82,5 44,3
4 p.p. (1,94 x 5h) 78.919 - 0,432 78,7 - 87,1 92,8 - 57,1
4.1 p.p. (0,69 x 14h) 78.919 0 0,432 96,5 - 87,1 83,2 - 57,1
4.2 p.p. (0,66 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 77.755 1.164 0,432 97,2 99,9 87,1 82,8 80,2 57,1
4.3 p.p. (0,65 x 14h) + p.v. (0,60 x 1h) 77.433 1.486 0,432 97,4 98,5 87,1 82,6 81,9 57,1
4.4 p.p. (0,75 x 12h) + p.v. (0,70 x 1h) 77.185 1.734 0,432 95,4 96,3 87,1 83,9 83,3 57,1
5 p.p. (2,05 x 6h) 100.628 - 0,540 77,5 - 96,7 93,8 - 65,6
5.1 p.p. (0,88 x 14h) 100.628 0 0,540 92,0 - 96,7 86,1 - 65,6
5.2 p.p. (0,85 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 99.457 1.171 0,540 92,6 99,9 96,7 85,7 81,0 65,6
5.3 p.p. (0,84 x 14h) + p.v. (0,60 x 1h) 99.133 1.495 0,540 92,8 97,2 96,7 85,6 82,8 65,6
5.4 p.p. (0,83 x 14h) + p.v. (0,70 x 1h) 98.884 1.745 0,540 92,9 95,2 96,7 85,5 84,1 65,6
6 p.p. (2,13 x 7h) 122.595 - 0,648 76,5 - 97,9 94,6 - 70,4
6.1 p.p. (1,06 x 14h) 122.595 0 0,648 87,6 - 97,9 88,0 - 70,4
6.2 p.p. (1,03 x 14h) + p.v. (0,47 x 1h) 121.417 1.179 0,648 88,2 98,6 97,9 87,7 81,8 70,4
6.3 p.p. (1,02 x 14h) + p.v. (0,60 x 1h) 121.091 1.505 0,648 88,4 95,9 97,9 87,6 83,6 70,4
6.4 p.p. (1,01 x 14h) + p.v. (0,70 x 1h) 120.840 1.755 0,648 88,5 94,1 97,9 87,6 84,8 70,4

75

3
Caudal médio diário afluente de 10% Qmod (0,108 m /s) (Figura 46 a))

3
No cenário principal o caudal turbinado é de 1,92 m /s durante 1h (cenário 1). Ao optarmos pela
alternativa 1.1, em que o caudal turbinado diminui, as condições de habitat para os juvenis aumentam
20% no período de ponta, em contrapartida existe uma perda nas condições de habitat para os
adultos de 14%. No período em que a central não produz energia durante 20 h, não existe qualquer
alteração nas condições de habitat em relação ao cenário 1, visto que o valor do caudal não
turbinável mantêm-se inalterado. Esta alternativa não têm perda de receita pois não existe caudal
turbinado no vazio.

Na alternativa 1.2 as condições de habitat no período de ponta mantêm-se para os dois estágios de
vida e no período de vazio aumentam cerca de 71% para os juvenis e de 59% para os adultos, à
3
custa de um caudal turbinado de 0,47 m /s, com a consequente redução de receita de 1143 €. Nas
restantes 20 h as condições mantêm-se iguais aos cenários anteriores.

Para as alternativas 1.3 e 1.4, com perdas de receita de 1459 € e 1702 € respectivamente, não
existem diferenças significativas nas condições de habitat quando comparadas com a alternativa 1.2.
Em contrapartida o período em que a central não produz energia é maior do que nos outros cenários,
sendo de 21 e 22 h respectivamente.


3
Caudal médio diário afluente de 20% Qmod (0,216 m /s) (Figura 46 b))

A opção da alternativa 2.1, em detrimento do cenário principal 2, reduz substancialmente o período


em que a central não produz energia e portanto o tempo em que as condições são menos favoráveis
do ponto de vista de disponibilidade de habitat. Com alternativa 2.1 a percentagem de WUA aumenta
para os juvenis em cerca de 22% e diminui para os adultos em 15%.

Na alternativa 2.2 as condições de habitat aumentam 52% para os juvenis e 47% para os adultos no
período de vazio, com uma perda de receita de 1150 €. No período de ponta e no período sem caudal
turbinado não se verificam alterações nas condições de habitat. Nos cenários 2.3 e 2.4 os ganhos de
habitat são pouco expressivos em relação ao cenário 2.2, com o consequente aumento das perdas
de receita.


3
Caudal médio diário afluente de 30% Qmod (0,324 m /s) (Figura 46 c))

Da alternativa 3.1 resulta um aumento das condições de habitat de 20% para os juvenis e uma perda
de 12% para os adultos. Nas restantes 10 h de vazio as condições mantêm-se em relação ao cenário
3
principal (cenário 3). Ao fornecer 1 h no vazio, com o caudal de 0,47 m /s (alternativa 3.2) a diferença
de remuneração mensal é de 1157 €, conseguindo um aumento das condições de habitat de 32%
para os juvenis e de 35% para os adultos. Para as alternativas 3.3 e 3.4 as alterações ao nível do
habitat não são expressivas em relação ao cenário 3.2.
76

3
Caudais médio diário afluentes de 40%, 50 e 60% Qmod (0,432, 0,540 e 0,648 m /s)
(Figura 46 d), e), f))

À medida que os caudais afluentes aumentam as diferenças nas condições de habitat vão sendo
3
menos significativas. Para um caudal de 0,432 m /s, Figura 46 d), a opção pela alternativa 4.1, em
que a central turbina durante todo o período de ponta, induz um aumento da percentagem de WUA
de 18% para os juvenis e uma diminuição para os adultos de 10%. O mesmo acontece para caudais
3 3
afluentes de 0,540 m /s e de 0,648 m /s representados na Figura 46 e) e f), em que a opção pelas
alternativas 5.1 e 6.1 induz a ganhos pouco expressivos nas condições de habitat para os juvenis.

Para estes caudais médios diários afluentes, as alternativas 4.2, 5.2 e 6.2 não apresentam vantagens
na melhoria das condições de habitat dos juvenis no período de vazio.

 Análise dos resultados

As vantagens de operação ecohidráulica da central foram notórias até caudais correspondentes a


3
30% Qmod. Para as alternativas 1.2, 2.2 e 3.2 (caudal turbinado no vazio de 0,47 m /s durante 1h),
ocorreram melhorias nas condições de habitat superiores a 30% para as trutas juvenis no período de
vazio, evitando assim a exposição das trutas a condições de habitat com percentagens inferiores a
3 3
50% do WUA máximo, para caudais afluentes de 0,108 m /s e 0,216 m /s, e inferiores a 70% do WUA
3
máximo para o caudal de 0,324 m /s, durante um maior número de horas consecutivas.

3 3 3
Os cenários em que o caudal turbinado no vazio aumentou de 0,47 m /s para 0,60 m /s e 0,70 m /s,
com consequente aumento das receitas perdidas, não foram considerados vantajosos, visto que a
diferença nas condições de habitat não foram expressivas em relação aos cenários com receita
perdida de aproximadamente 1200 €.

Para caudais afluentes a partir de 40% Qmod, inclusive, não se justificou o funcionamento da central
no período de vazio para os juvenis, dado que no período sem caudal turbinado as percentagens de
WUA são superiores a 80%.

77
80 80
1.1 1.2 1.3 1.4 2.1 2.2 2.3 2.4
70 70

60 60
Variação do habitat (%)

Variação do habitat (%)


50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0

-10 -10
0 1143 1459 1702 0 1150 1468 1713
-20 -20
Receita perdida (€) Receita perdida (€)
ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis vazio_adultos ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis vazio_ adultos
a) b)
80 80
3.1 3.2 3.3 3.4 4.1 4.2 4.3 4.4
70 70

60 60
Variação do habitat (%)
Variação do habitat (%)

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0

-10 -10
0 1157 1477 1723 0 1164 1486 1734
-20 -20
Receita perdida (€) Receita perdida (€)

ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis vazio_ adultos ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis vazio_ adultos
c) d)
80 80
5.1 5.2 5.3 5.4 6.1 6.2 6.3 6.4
70 70

60 60
Variação do habitat (%)

Variação do habitat (%)

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0

-10 -10
0 1171 1495 1745 0 1179 1505 1755
-20 -20
Receita perdida (€) Receita perdida (€)
ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis vazio_ adultos ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis vazio_ adultos
e) f)

Figura 46: Variação do habitat em relação ao cenário principal em função da receita perdida para os caudais
3
médios diários afluentes (m /s): a) 0,108; b) 0,216; c) 0,324; d) 0,432; e) 0,540; f) 0,648 (os cenários são
identificados a partir do nº que consta da Tabela 22).
78
5.2 Condições de stress em função da receita perdida

A representação das condições de stress tem como principal objectivo a fácil visualização dos
cenários que se apresentam abaixo do limite de 80% do WUA, proposto anteriormente por Capra et.
al. (1995). Na Figura 47 estão representados os resultados para os caudais médios diários afluentes
considerados.

As condições de habitat para as trutas juvenis apresentam-se abaixo deste limite até caudais
correspondentes a 30% Qmod, no período em que só existe caudal não turbinável no rio, (Figura 47
a), b) e c)). No caso dos adultos o limite de 80% do WUA nunca é ultrapassado para os caudais
afluentes considerados. De notar que a duração do período com caudal não turbinável varia de
3
acordo com os cenários adoptados. Por exemplo, para um caudal afluente de 0,108 m /s (Figura
47 a)), no cenário principal 1 a central não produz energia durante 23h, em contrapartida se se optar
pela alternativa 1.2 a duração do período diminui para 20h, reduzindo o tempo em que as espécies
estão sujeitas a condições de stress.

Os cenários em que o caudal turbinado no período de ponta é repartido pelo maior número possível
de horas (no limite durante as 14 h do período de ponta), induzem a subida do WUA para valores
superiores a este limite nos juvenis, sem perdas de receita. Em contrapartida, o WUA das trutas
3
adultas só ultrapassa este limite quando o caudal no troço em estudo é superior a 0,73 m /s. Nos
cenários em que existe caudal turbinado no vazio, durante essa hora a percentagem de WUA para os
juvenis, apresenta-se acima do limite proposto para todos os caudais afluentes.

 Análise dos resultados

A análise da Figura 47, permitiu verificar que até caudais afluentes de 30% Qmod as percentagens de
WUA foram inferiores a 80%, para o caudal não turbinável no troço em estudo. Para proporcionar um
aumento das condições de habitat, justificou-se o funcionamento da central durante pelo menos 1 h
no período de vazio, permitindo a subida das condições para valores superiores a este limite e muito
próximos do valor máximo de WUA.

A partir do caudal médio diário afluente de 30% Qmod, o funcionamento da central no período de
vazio não foi necessário, visto que no período sem produção de energia as condições de habitat
ultrapassaram o limite de 80% do WUA máximo.

Para caudais médios diários afluentes a partir de 30% Qmod, os cenários 4.1, 5.1 e 6.1 devem ser
adoptados, visto que permitiram um aumento das percentagens de WUA cima dos 80% para os
juvenis no período de ponta, sem perdas de receita.

79
100
1 1.1 1.2 1.3 100 2 2.1 2.2 2.3
1.4 2.4
90 90

80 80
0 0 1143 1459 1702 0 0 1150 1468 1713
WUA / WUA máx (%)

70 70

WUA/ WUA máx (%)


60 60

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10
Recita perdida(€) Receita perdida (€)
ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis
vazio_adultos não turbinável_juvenis não turbinável_adultos vazio_ adultos não turbinável_juvenis não turbinável_adultos
a) b)
100 3 3.1 3.2 3.3 100 4 4.1 4.2 4.3
3.4 4.4
90 90

80 80
0 0 1157 1477 1723 0 0 1164 1486 1734
70
WUA/ WUA máx (%)

70
WUA/ WUA máx (%)

60 60

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10
Receita perdida (€) Receita perdida (€)

ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis


vazio_ adultos não turbinável_juvenis não turbinável_adultos vazio_ adultos não turbinável_juvenis não turbinável_adultos
c) d)
100 5 5.1 5.2 5.3 100 6 6.1 6.2 6.3
5.4 6.4
90 90

80 80
0 0 1171 1495 1745 0 0 1179 1505 1755
70 70
WUA/ WUA máx (%)
WUA/ WUA máx (%)

60 60

50 50

40 40

30 30
20
20
10
Receita Perdida (€) 10
Receita perdida (€)
ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis
vazio_ adultos não turbinável_juvenis não turbinável_adultos vazio_ adultos não turbinável_juvenis não turbinável_adultos
e) f)

3
Figura 47: Condições de stress em função da receita perdida para os caudais médios diários afluentes (m /s): a)
0,108; b) 0,216; c) 0,324; d) 0,432; e) 0,540; f) 0,648 (os cenários são identificados a partir do nº que consta da
Tabela 22).
80
5.3 Variação da percentagem de WUA ao longo do dia

As percentagens de WUA em relação ao máximo valor para cada estágio de vida variam ao longo do
dia consoante o caudal turbinado, condicionado pela operação da central. Na Figura 48 as
percentagens de WUA ao longo do dia estão representadas para cada caudal afluente considerado.
As linhas contínuas são referentes às trutas juvenis e as linhas a tracejado referem-se às adultas.

No cenário principal 1 (Figura 48 a)) representado a azul, as percentagens de WUA atingem valores
de cerca de 80% apenas durante uma hora. Nas restantes 23 h as condições estão abaixo de 50% do
WUA máximo. Com a alternativa representada a vermelho (1.1), a percentagem de WUA aumenta
para valores próximos de 100% durante 4 h, o mesmo acontece ao considerar a hipótese
representada a cinzento (1.2) em que a percentagem é a mesma durante 4 h, 3 das quais são
consecutivas e 1 h entre as 22 e as 23 h no período de vazio.

3 3
Para um caudal afluente de 0,216 m /s e de 0,324 m /s (Figura 48 b) e c)) são notórios os ganhos de
habitat para os juvenis no período de ponta, para qualquer alternativa em detrimento do cenário
principal, o mesmo não acontece para os adultos visto que o caudal turbinado diminui.

As percentagens de WUA nos cenário 4, 5 e 6, durante o período de ponta, decrescem relativamente


ao período sem caudal turbinado para os juvenis (Figura 48 d), e), f)). Nas Figura 48 e) e f) pode
observar-se ainda que todas as alternativas induzem percentagens de habitat inferiores às obtidas
quando a central não produz energia.

3
A partir de caudais afluentes de 30% Qmod (0,324 m /s), os ganhos de habitat entre as várias
alternativas propostas não foram significativos, o que levou a concluir que nestes casos as melhores
alternativas foram as opções 4.1, 5.1 e 6.1

Para ilustrar o contributo geral de cada cenário, foi calculado o integral da curva de WUA ao longo do
2
dia, obtendo assim um único valor que expressa a área habitável dia (m .dia). Os resultados estão
representados na Figura 49.

Na Figura 49 observa-se que todas as alternativas propostas aos cenários principais induzem um
aumento da área habitável tanto para os juvenis como para os adultos. Para o caudal afluente de
3
0,108 m /s (Figura 49 a)), as alternativas 1.1 e 1.2 produzem áreas habitáveis iguais, visto que têm o
mesmo número de horas com caudal turbinado, diferenciando apenas no período em que ocorrem. O
mesmo pode ser verificado para as alternativas 2.1 e 2.2 na Figura 49 b).

A área habitável para os adultos apresenta-se sempre superior à área habitável para os juvenis,
quando os caudais médios diários afluentes são superiores a 40% Qmod (Figura 49 d), e), f))

81
100 100
90 90
80 80
70 70

WUA / WUA máx (%)


WUA / WUA máx (%)

60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Dia (horas) Dia (horas)
p.p. 1.92 m3/s p.p. 0.48 m3/s p.p. 1.92 m3/s p.p. 0.48 m3/s
p.p. 0.48 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.66 m3/s; p.v. 0.70 m3/s p.p. 0.48 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.66 m3/s; p.v. 0.70 m3/s
p.p. 1.22 m3/s; p.v. 0.70 m3/s p.p. 1.22 m3/s; p.v. 0.70 m3/s
a)
100 100
90 90
80
WUA / WUA máx (%) 80
WUA / WUA máx (%)

70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Dia (horas) Dia (horas)
p.p. 2.26 m3/s p.p. 0.50 m3/s p.p. 2.26 m3/s p.p. 0.50 m3/s
p.p.0.51 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.65 m3/s; p.v. 0.60 m3/s p.p.0.51 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.65 m3/s; p.v. 0.60 m3/s
p.p. 0.76 m3/s; p.v. 0.70 m3/s
p.p. 0.76 m3/s; p.v. 0.70 m3/s

b)
100 100
90 90
80 80
70 70
WUA / WUA máx (%)
WUA / WUA máx (%)

60 60

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Dia (horas) Dia (horas)
p.p. 1.78m3/s p.p. 0.51 m3/s p.p. 1.78m3/s p.p. 0.51 m3/s
p.p. 0.47 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.65 m3/s; p.v. 0.60 m3/s p.p. 0.47 m3/s; p.v. 0.47 m3/s p.p. 0.65 m3/s; p.v. 0.60 m3/s
p.p. 0.71 m3/s; p.v. 0.70 m3/s p.p. 0.71 m3/s; p.v. 0.70 m3/s
c)

Figura 48: Variação da percentagem de WUA ao longo do dia, à esquerda para os juvenis e à direita, para os
3
adultos (linhas a tracejado), para os caudais médios diários afluentes (m /s): a) 0,108; b) 0,216; c) 0,324; d)
0,432; e) 0,540; f) 0,648.
82
100 100
90 90
80 80
70
WUA / WUA máx (%)

70

WUA / WUA máx (%)


60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Dia (horas) Dia (horas)
p.p. 1.94m3/s p.p. 0.69 m3/s p.p. 1.94m3/s p.p. 0.69 m3/s
p.p. 0.66 m3/s; p.v. 0.50 m3/s p.p. 0.65 m3/s; p.v 0.60 m3/s p.p. 0.66 m3/s; p.v. 0.50 m3/s p.p. 0.65 m3/s; p.v 0.60 m3/s
p.p. 0.77 m3/s; p.v. 0.70 m3/s p.p. 0.77 m3/s; p.v. 0.70 m3/s
d)
100 100
90 90
80 80
70
WUA / WUA máx (%)

70
WUA / WUA máx (%)

60 60

50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Dia (horas) Dia (horas)
p.p. 2.05m3/s p.p. 0.88 m3/s p.p. 2.05m3/s p.p. 1.06 m3/s
p.p. 0.85 m3/s; p.v. 0.50 m3/s p.p. 0.84 m3/s; p.v. 0.60 m3/s p.p. 1.03 m3/s; p.v. 0.50 m3/s p.p. 1.02m3/s; p.v. 0.60 m3/s
p.p. 0.83 m3/s; p.v. 0.70 m3/s p.p. 1.01 m3/s; p.v. 0.70 m3/s
e)
100 100
90 90
80 80
WUA / WUA máx (%)

70 70
WUA / WUA máx (%)

60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Dia (horas)
Dia (horas)
p.p. 2.13m3/s p.p. 1.06 m3/s p.p. 2.13m3/s p.p. 1.06 m3/s
p.p. 1.03 m3/s; p.v. 0.50 m3/s p.p. 1.02m3/s; p.v. 0.60 m3/s p.p. 1.03 m3/s; p.v. 0.50 m3/s p.p. 1.02m3/s; p.v. 0.60 m3/s
p.p. 1.01 m3/s; p.v. 0.70 m3/s p.p. 1.01 m3/s; p.v. 0.70 m3/s
f)

Figura 48-Continuação: Variação da percentagem de WUA ao longo do dia, à esquerda para os juvenis e à
3
direita, para os adultos (linhas a tracejado), para os caudais médios diários afluentes (m /s): a) 0,108; b) 0,216; c)
0,324; d) 0,432; e) 0,540; f) 0,648.
83
10000 10000
1 1.1 1.2 1.3 2 2.1 2.2 2.3
9000 9000
1.4 2.4
8000 8000

7000 7000
WUA (m2. dia)

WUA (m2. dia)


6000 6000

5000 5000
4000 4000
3000 3000
2000 2000
1000 1000
0
0
0 0 1143 1459 1702 0 0 1150 1468 1713
Perda de receita (€)
Receita perdida (€)
juvenis adultos juvenis adultos
a) b)
10000 10000
3 3.1 3.2 3.3 4 4.1 4.2 4.3
9000 9000
3.4 4.4
8000 8000

7000 7000
WUA (m2. dia)

WUA (m2. dia)

6000 6000

5000 5000

4000 4000

3000 3000

2000 2000

1000 1000

0 0
0 0 1157 1477 1723 0 0 1164 1486 1734
Receita perdida (€) Receita perdida (€)
juvenis adultos juvenis adultos
c) d)
10000 10000
5 5.1 5.2 5.3 6 6.1 6.2 6.3
9000 9000
5.4 6.4
8000 8000

7000 7000
WUA (m2. dia)

WUA (m2. dia)

6000 6000

5000 5000

4000 4000

3000 3000

2000 2000

1000 1000

0 0
0 0 1171 1495 1745 0 0 1179 1505 1755
Receita perdida (€) Receita perdida (€)
juvenis adultos juvenis adultos
e) f)

2
Figura 49: Integral da curva de WUA (m .dia) em função da receita perdida para os caudais médios diário
3
afluentes (m /s): a) 0,108; b) 0,216; c) 0,324; d) 0,432; e) 0,540; f) 0,648 (os cenários são identificados a partir do
nº que consta da Tabela 22).
84
5.4 Variação do número de horas de caudal turbinado no período de vazio

Nos cenários estabelecidos anteriormente o caudal turbinado no vazio tinha uma duração de apenas
1 h, no sentido de testar a influência do aumento da duração deste caudal ilustra-se na Tabela 23, os
cenários propostos para um caudal afluente de 40% Qmod, bem como os resultados das condições
de habitat na Figura 50.

3
Considerou-se o caudal turbinado no vazio constante e igual a 0,47 m /s, visto que as outras
3
alternativas (caudais de 0,60 e 0,70 m /s) não conduziram a ganhos expressivos nas condições de
habitat com o consequente aumento das perdas de receita.

Esta análise demonstrou que ao considerar um cenário em que a central funcionava durante metade
do período de vazio (5h), as condições no período de ponta aumentavam cerca de 3% à custa de
uma perda de receita de 5821 €, o que corresponde a cerca de 7,5% da remuneração total
correspondente ao cenário 4 (78919 €). Esta opção conduziu a uma diminuição do número de horas
em que as trutas estão sujeitas a condições de stress, aumentando em valores pouco expressivos as
condições de habitat no período de ponta.

Tabela 23: Cenários propostos para o estudo da duração do caudal turbinado no período de vazio.

Q m.d. V Q Q Q não
VRDm Redução
Cenário de operação da central afluente afluente ponta vazio turbinável
[€] VRDm [€]
[m3/s] [103 m3] [m3/s] [m3/s] [m3/s]
p.p (0,66 x 14h) + p.v. ( 0,47 x 1h) 77.755 1.164 0,432 37.3 0,93 0,74 0,27
p.p (0,63 x 14h) + p.v. ( 0,47 x 2h) 76.591 2.329 0,432 37.3 0,90 0,74 0,27
p.p (0,59 x 14h) + p.v. ( 0,47 x 3h) 75.427 3.493 0,432 37.3 0,86 0,74 0,27
p.p (0,56 x 14h) + p.v. ( 0,47 x 4h) 74.262 4.657 0,432 37.3 0,83 0,74 0,27
p.p (0,52 x 14h) + p.v. (0,47 x 5h) 73.098 5.821 0,432 37.3 0,80 0,74 0,27

100 5
90 4
80
3
WUA / WUA máx (%)

70
Variação do habitat (%)

2
60
1
50
0
40
30 -1

20 -2
2329 3493 4657 5821
10 -3
0 -4
1164 2329 3493 4657 5821
-5
Receita perdida (€) Receita perdida (€)
ponta_juvenis ponta_adultos vazio_juvenis
vazio_adultos não turbinável_juvenis não turbinável_adultos ponta_juvenis ponta_adultos

Figura 50: Variação das condições de habitat com o aumento das horas de vazio em função da receita perdida.

85
5.5 Disponibilidade de habitat

Através das simulações hidrodinâmicas efectuadas foi possível calcular a disponibilidade de habitat
para os caudais de 20 e 40% Qmod, nos cenários considerados. De notar que as preferências das
trutas juvenis e adultas não foram alteradas, pretendendo-se ilustrar a variação da disponibilidade de
habitat ao longo do dia consoante os diversos cenários. Na Figura 51 e Figura 52 representam-se os
resultados para o estágio de vida juvenil. Os resultados para os adultos podem ser consultados no
anexo F.

Nos cenários de receita mais lucrativa (cenário 2 e 4) observa-se a maior diferença na distribuição de
habitat das trutas ao longo do dia. Por exemplo, na Figura 51 (cenário 2), a situação de existir apenas
o caudal não turbinável no rio conduz a disponibilidade de habitat, maioritariamente com o índice de
0,50 (zonas a verde). Após o funcionamento da central, durante 2 h, estas zonas passam a ter
índices de adequabilidade de 0 (zona a cinzento). Assim quando a central não produz energia, as
trutas localizam-se precisamente em locais, que após a descarga não são favoráveis à existência das
mesmas, podendo não existir tempo suficiente para que estas se abriguem nas margens ou no
substrato, visto que as manobras de fecho das turbinas são quase instantâneas.

Nas alternativas propostas aos cenários principais (cenários 2.1 e 4.1) os caudais turbinados são
menores, proporcionando uma maior disponibilidade de áreas úteis ponderadas em comum, evitando
maiores perdas a nível do habitat. Nos cenários 2.2 e 4.2, em que existe caudal turbinado no vazio
comparado com o período de ponta, as diferenças nas condições de habitat não são significativas
garantindo assim um maior número de horas com o mesmo uso e disponibilidade de habitat.

86
3 3
Cenário 2: Caudal não turbinável (0,15 m /s) + 2,26 m /s em período de ponta

3 3
Cenário 2.1: Caudal não turbinável (0,15 m /s) + 0,50 m /s em período de ponta

3 3 3
Cenário 2.2: Caudal não turbinável (0,15 m /s) + 0,51 m /s em período de ponta + 0,47 m /s em período de vazio

Figura 51: Disponibilidade de habitat das trutas juvenis para três cenários com um caudal afluente de 20% Qmod.

87
3 3
Cenário 4 Caudal não turbinável (0,27 m /s) + 1,94 m /s em período de ponta

3 3
Cenário 4.1: Caudal não turbinável (0,27 m /s) + 0,69 m /s em período de ponta

3 3 3
Cenário 4.2: Caudal não turbinável (0,27 m /s) + 0,66 m /s em período de ponta + 0,47 m /s em período de vazio

Figura 52: Disponibilidade de habitat das trutas juvenis para três cenários com um caudal afluente de 40% Qmod.

88
6 Considerações finais e recomendações

6.1 Considerações finais

Actualmente as Salmo truttas encontram-se classificadas, de acordo com o livro vermelho, como uma
espécie criticamente em perigo (Cabral et al., 2005). As principais ameaças são a sobrepesca, a
alteração da poluição e do regime de caudais nos rios (Ribeiro et al., 2007). Desta forma torna-se
importante a gestão da operação por parte das centrais hidroeléctricas, com o objectivo de manter as
condições mínimas do habitat que possibilitem a reprodução desta espécie considerada de elevado
interesse comercial tanto para pesca desportiva como a nível gastronómico.

A presente dissertação teve como objectivo principal a simulação de cenários de operação de uma
central hidroeléctrica, tendo em vista as condições de habitat da espécie-alvo (Salmo trutta) no troço
da linha de água situado imediatamente a jusante da central. Para tal, procedeu-se à modelação
hidrodinâmica bidimensional de um troço da ribeira de Carvalhosa através do modelo numérico
River2D. A modelação do habitat foi efectuada através do Casimir Fish 2D com recurso à lógica fuzzy.
Com a interacção destas modelações foi possível calcular a disponibilidade de habitat da espécie-
alvo para os diversos cenários considerados.

A modelação hidrodinâmica do troço de linha de água com as características descritas na alínea 4.3,
revelou-se um processo moroso. A calibração do mesmo, com base na cota da superfície livre e
perfis de velocidade nas secções transversais analisadas, permitiu obter resultados próximos dos que
foram medidos, embora se tenha considerado uma rugosidade constante em toda a extensão do
troço.

A utilização dos conjuntos e regras fuzzy relativas às preferências da Salmo trutta permitiu obter
resultados satisfatórios no âmbito do uso e disponibilidade de habitat. Os conjuntos fuzzy foram
definidos com base num trabalho de campo, nomeadamente a pesca eléctrica.

A operação da central hidroeléctrica é um processo que envolve diversos condicionamentos. Neste


contexto, para efectuar a simulação da operação, foi necessário estabelecer várias hipóteses
simplificativas, as quais foram fundamentadas e explicadas na alínea 4.7.3.

A exploração ecohidráulica da central hidroeléctrica mostrou-se viável para a gama de caudais


médios diários afluentes considerados. Assim foram efectuadas diversas recomendações para a
operação ecohidráulica da central em função do caudal médio diário afluente ao açude,
contabilizando as perdas de receita inerentes a cada cenário.

Para caudais médios diários afluentes até 30% Qmod, são recomendados dois cenários. O primeiro
corresponde à repartição do caudal turbinado no período de ponta pelo maior número possível de

89
horas, proporcionando um aumento na disponibilidade de habitat apenas no período de ponta, sem
3
perda de receita. O segundo cenário, em que o caudal turbinado no vazio corresponde a 0,47 m /s
durante 1h, induziu benefícios nas condições de habitat ao longo do dia, com uma perda de receita
de cerca de 1160 €, em relação aos cenários economicamente mais favoráveis.

O funcionamento da central hidroeléctrica no período de vazio, não conduziu a nenhum aumento


expressivo da disponibilidade de habitat para caudais médios diários afluentes superiores a 30%
Qmod, visto que no período sem produção de energia as percentagens de WUA foram superiores a
80%. Não se justifica assim a operação da central no período de vazio. O cenário de operação
recomendado para estes caudais médios diários afluentes, consiste na repartição do caudal pelo
maior número possível de horas de ponta, permitindo assim diminuir o caudal máximo turbinado.

As perdas de receita mensal obtidas para os cenários considerados revelaram-se pouco expressivas
quando comparadas com a receita referente à produção de energia do cenário economicamente mais
favorável, constituindo assim um incentivo para a exploração ecohidráulica da mini hídrica para os
caudais médios diários afluentes considerados.

De acordo com o estudo efectuado para um caudal médio diário afluente de 40% Qmod, o
3
funcionamento da central durante metade do período de vazio (5h) com caudais de 0,47 m /s,
conduziu a um aumento das condições de habitat de apenas 3% no período ponta, à custa de uma
redução na receita de cerca de 5821 €. O funcionamento da central no vazio durante um maior
período de tempo leva a uma redução do número de horas de stress a que as trutas estão sujeitas,
embora constitua um cenário menos vantajoso do ponto de vista económico.

Os cenários com receita mais elevada apresentaram melhores condições de habitat em relação aos
cenários alternativos, para o caso das trutas adultas. Assim, não se justifica recomendar alterações
da operação da central para este estágio de vida.

As recomendações propostas anteriormente estão dependentes do estágio de vida a proteger. Assim


seria desejável conciliar tanto as medidas operacionais como medidas do tipo estrutural, como por
exemplo os abrigos laterais, para criar um equilíbrio nas condições de habitat das espécies.

A central analisada está equipada com uma turbina Pelton de 3 injectores, o que permitiu definir
cenários com caudais turbinados relativamente baixos (até 20% do caudal de projecto)
proporcionando a existência de resultados positivos em termos de disponibilidade de habitat para as
trutas juvenis com perdas de receita reduzidas. O mesmo não será possível para centrais
hidroeléctricas equipadas com turbinas de reacção, visto que o rendimento das mesmas decresce
significativamente para caudais inferiores ao máximo turbinável (e.g numa turbina Francis com um
número específico de rotações de 125 r.p.m, o rendimento decresce para valores inferiores a 0,80, a
partir de 45% do caudal máximo (Quintela, 2011)). Assim o funcionamento da central hidroeléctrica

90
com caudais turbinados relativamente inferiores ao caudal máximo, induziria perdas de energia e
consequentemente o aumento das receitas perdidas.

6.2 Recomendações

No decorrer desta dissertação foram identificados pontos que carecem de investigação.


Apresentam-se seguidamente alguns tópicos de pesquisa futura, tendo em vista o estabelecimento
de medidas operacionais de mitigação das consequências do hydropeaking relativamente à
disponibilidade de habitat.

 Desenvolver um modelo que sistematize a criação de cenários de operação da central tendo


em conta os condicionamentos inerentes a este processo;
 Analisar o efeito da gestão de cenários da operação para aproveitamentos hidroeléctricos
com regularização intra-anual;
 Considerar centrais equipadas com uma turbina de reacção (e.g Francis);
 Estudar o efeito conjunto da operação ecohidráulica da central com medidas do tipo estrutural,
como por exemplo os abrigos laterias;
 Considerar a simulação hidrodinâmica em regime variável, para trechos de rio com maior
extensão, afectados pelo hydropeaking.

91
92
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97
98
Anexos

Anexo A - Simulação em HEC-RAS

Primeiramente foram introduzidas as secções transversais no HEC-RAS, de jusante para montante,


sendo que a secção nº 1 foi a secção de controlo do regime lento.

Figura A.1: Secções transversais introduzidas no HEC-RAS.

As condições de fronteira foram introduzidas. A secção de entrada corresponde à secção 6, para a


3
qual foi definido o valor do caudal de 0,47 m /s (caudal obtido através das medições das cotas da
superfície livre). A secção de saída corresponde à 1 onde foi verificado o regime critico com uma cota
da superfície livre de 317,58 m. De seguida ilustram-se os procedimentos da simulação.

Figura A.2: Introdução do caudal na secção 6.

i
Figura A.3: Definição das condições de fronteira, regime critico na secção 1.

Figura A.4: Regime de escoamento lento.

As secções transversais obtidas após a simulação encontram-se representadas de montante para


jusante.

ribeira carvalhosa Plan: Plan 16 7/22/2014

.0714 .
317.8 0 Legend
7
1
4 EG PF 1
317.6
WS PF 1
Elevation (m)

Ground
317.4
Bank Sta

317.2

317.0

316.8
0 2 4 6 8 10
Station (m)

a)

ii
ribeira carvalhosa Plan: Plan 16 7/22/2014

.0714
318.8 Legend
318.6 EG PF 1
318.4 WS PF 1

Elevation (m)
318.2 Ground

Bank Sta
318.0

317.8

317.6

317.4

317.2
0 2 4 6 8 10
Station (m)

b)
ribeira carvalhosa Plan: Plan 16 7/22/2014

.0714
319.0 Legend

EG PF 1
318.5
WS PF 1
Elevation (m)

Ground
318.0
Bank Sta

317.5

317.0

316.5
0 2 4 6 8 10 12
Station (m)

c)
ribeira carvalhosa Plan: Plan 16 7/22/2014

.0714 .
319.0 0 Legend
7
1
4 EG PF 1
318.5
WS PF 1
Elevation (m)

Ground
318.0
Bank Sta

317.5

317.0

316.5
0 2 4 6 8 10 12
Station (m)

d)

iii
ribeira carvalhosa Plan: Plan 16 7/22/2014

.0714
319.5 Legend

319.0 EG PF 1
WS PF 1
318.5

Elevation (m)
Ground

Bank Sta
318.0

317.5

317.0

316.5
0 2 4 6 8 10 12
Station (m)

e)
ribeira carvalhosa Plan: Plan 16 7/22/2014

. .0714 .
318.4 0 0 Legend
7 7
1 1
318.2 4 4 EG PF 1
WS PF 1
318.0
Elevation (m)

Crit PF 1

Ground
317.8
Bank Sta
317.6

317.4

317.2
0 2 4 6 8 10 12 14
Station (m)

f)
Figura A.5: Representação das secções transversais do escoamento de montante a) para jusante f).

Os resultados das cotas da superfície livre simuladas e medidas encontram-se na tabela que se
segue, bem como o erro absoluto (EA).

Tabela A.1: Cotas da superfície livre medidas, simuladas e erro absoluto.

Cotas da superfície livre


Secções (m) EA*(m)
transversais Medidas Simuladas
6 (montante) 317,71 317,67 0,04
5 317,70 317,66 0,04
4 317,684 317,66 0,02
3 317,677 317,66 0,02
2 317,67 317,66 0,01
1 (jusante) 317,58 317,58 0,00
*EA é a diferença em módulo entre a cota da superfície
livre medida e simulada.

Posteriormente simulou-se para vários caudais obtendo assim a altura de escoamento na secção
n.º 2 através da qual se realizou a curva de vazão.

iv
Anexo B - Cálculo da rugosidade efectiva

Para o cálculo da rugosidade efectiva considerou-se a média da altura de água em cada secção
1/3
transversal e com um valor de Ks de 14 m /s, determinou-se o parâmetro m e consequentemente a
rugosidade efectiva a introduzir no River2D. O valor da rugosidade efectiva considerado foi cerca de
0,90 tendo sido eliminada para o cálculo a secção 4.

Tabela B.1: Valor médio da rugosidade efectiva.

1/3
Ks ( m /s) 14
n 0,0714

Secção transversal Média h m ks (m)


2 (jusante) 0,34 1,49 0,91
3 0,37 1,52 0,98
4 0,52 1,60 1,26
5 0,31 1,47 0,85
6 (montante) 0,30 1,46 0,83
0,89

v
Anexo C - Dados recolhidos durante a pesca eléctrica e regras fuzzy

Tabela C.1: Dados das amostras recolhidas em que J, pertente traduzir o estágio de vida juvenil e A o estágio
adulto.

Estágio de vida da Velocidade


Profundidade (cm)
Salmo trutta (m/s)
J 43 0,207
A 70 0,251
A 68 0,273
J 35 0,06
A 15 0,653
A 48 0,251
A 42 0,421
A 65 0,259
J 71 0,133
A 65 0,34
J 46 0,067
J 43 0,487
J 37 0,531
J 30 0,041
A 21 0,31
A 55 0,436
2A 63 0,34
2A 37 0,413
A 45 0,178
J 35 0,589
A 59 0,288
A 33 0,666
A 80 1,331
A 65 0,332
A 35 0,377
2A; 1J 33 0,48
A 25 0,266
J 34 0,133
J 32 0,141
A 40 0,17
A 74 0,1
J 69 0,107
2J 40 0,093
A 43 0,135
A 31 1,174
A 51 0,251
J 28 0,041
A 24 0,251
A 26 0,303

vi
Tabela C.2: Regras fuzzy.

Adulto Juvenil
Velocidade Profundidade Substrato HSI
L L VL L H
L M VL H H
L H VL H H
M L VL H H
M M VL L M
M H VL L L
H L VL M H
H M VL M H
H H VL M H
VH L VL L L
VH M VL L L
VH H VL L L
L L L L M
L M L L M
L H L L H
M L L L M
M M L H L
M H L L M
H L L H M
H M L L L
H H L M M
VH L L L L
VH M L L L
VH H L L L
L L M M M
L M M L H
L H M L L
M L M M L
M M M L L
M H M M M
H L M L L
H M M H H
H H M L H
VH L M L L
VH M M L L
VH H M L L
L L H M M
L M H M M
L H H H L
M L H L H
M M H M M
M H H M L
H L H L M
H M H M M
H H H M L
VH L H L L
VH M H L L
VH H H L L
L L VH L L
L M VH M H
L H VH M H
M L VH L M
M M VH M L
M H VH M L
H L VH L L
H M VH L M
H H VH L H
VH L VH L L
VH M VH L L
VH H VH L L

vii
Anexo D - Decreto-lei n.º 225/2007 de 31 de Maio

viii
ix
x
xi
Anexo E - Esquema dos vários cenários estabelecidos para todos os caudais
afluentes

1 Açude
2 Circuito hidráulico
1 3 Troço do rio entre o
açude e a zona de
2 restituição

Figura E.1: Esquema dos vários cenários estabelecidos para um caudal afluente de 20% Qmod.
xii
Figura E.2: Esquema dos vários cenários estabelecidos para um caudal afluente de 30% Qmod.

xiii
Figura E.3: Esquema dos vários cenários estabelecidos para um caudal afluente de 40% Qmod.

xiv
Figura E.4: Esquema dos vários cenários estabelecidos para um caudal afluente de 50% Qmod.

xv
Figura E.5: Esquema dos vários cenários estabelecidos para um caudal afluente de 60% Qmod.

xvi
Anexo F - Disponibilidade de habitat para as Salmo truttas adultas para os
caudais médios diários afluentes de 20% e 40% Qmod

3 3
Cenário 2: Caudal não turbinável (0,15 m /s) + 2,26 m /s em período de ponta

3 3
Cenário 2.1: Caudal não turbinável (0,15 m /s) + 0,50 m /s em período de ponta

3 3 3
Cenário 2.2: Caudal não turbinável (0,15 m /s) + 0,51 m /s em período de ponta + 0,47 m /s em período de vazio

xvii
3 3
Cenário 4: Caudal não turbinável (0,27 m /s) + 1,94 m /s em período de ponta

3 3
Cenário 4.1: Caudal não turbinável (0,27 m /s) + 0,69 m /s em período de ponta

3 3 3
Cenário 4.2: Caudal não turbinável (0,27 m /s) + 0,66 m /s em período de ponta + 0,47 m /s em período de vazio

Figura F.1: Disponibilidade de habitat para caudais afluentes de 20% e 40% Qmod.

xviii

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