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INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO


DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
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DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
Núcleo de Educação a Distância

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO


Diagramação: Gildenor Silva Fonseca

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Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
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outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-


ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
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um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua-


ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!..

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professora: Bruna Franceschini


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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profissional.

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Esta unidade tem por finalidade estabelecer critérios sobre o com-
portamento humano, sua personalidade e sua psicologia a fim de com-
preender a origem de atos criminosos e delitos que são cometidos o tempo
todo. A psicologia busca compreender não apenas o delito em si, mas as
suas causas e todos os motivos que levam esse ato a acontecer. No âmbi-
to da interseção entre a Psicologia e o Direito, aborda-se, ainda, a investi-
gação policial, seu funcionamento e desenvolvimento, assim como o laudo
da perícia e o papel da vítima dentro do crime abordado. Posteriormente,
aborda-se, mais especificamente, a violência de que são vítimas tantas
mulheres em seus próprios lares por parte de companheiros ou da própria
família que as submetem a atos violentos baseados em um discurso de
hierarquia de gêneros, pelo qual a mulher não possui poder ou autonomia e
deve ser controlada pelo patriarca. Nesse contexto, tem-se que a lei Maria
da Penha foi um avanço para as leis que concedem às mulheres vítimas
de violência acesso a uma legislação capaz de protegê-las e proporcio-
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nar-lhes um atendimento específico para seus casos, atenuando os danos


causados em sua vida tanto do ponto de vista físico como mental.
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Psicologia; Delitos; Lei Maria da Penha.

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Apresentação do Módulo ______________________________________ 11

CAPÍTULO 01
COMPORTAMENTOS E INVESTIGAÇÕES

Comportamento Criminoso ____________________________________ 13

Investigação Policial _____________________________________________ 16

Estudos Psicológicos de Personalidade __________________________ 18

Psicologia do Delito ____________________________________________ 20

Vitimologia ____________________________________________________ 23

Perito e o Laudo Psicológico ___________________________________ 25

Recapitulando _________________________________________________ 27

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CAPÍTULO 02
DAS QUESTÕES QUE ENVOLVEM A VIOLÊNCIA DE GÊNERO E
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Violência de Gênero e Violência Doméstica ____________________ 33

Recapitulando _______________________________________________ 49

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CAPÍTULO 03
LEGISLAÇÕES E SUAS ESPECIFICIDADES

Lei Maria da Penha _____________________________________________ 55

Atendimento à Mulher Vitimizada e ao Agressor ________________ 62

Recapitulando _________________________________________________ 70

Considerações Finais ___________________________________________ 75

Fechando a Unidade __________________________________________ 76

Considerações Finais __________________________________________ 79


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A Psicologia Jurídica possui uma relação intrínseca com o Di-
reito, pela qual constitui um objetivo comum a ambas a observação,
análise e compreensão do comportamento humano. Assim sendo, a
Psicologia tem como interesse peculiar os relacionamentos e as intera-
ções dos seres humanos, enquanto o Direito prioriza o estudo da rela-
ção do ser humano com a sociedade, notadamente, com relação às leis
que são estabelecidas, visando assegurar o bem-estar da sociedade
em sua totalidade.
Em paralelo à Psicologia Jurídica existe a Criminologia, que
considera que um crime não deve ser julgado apenas pelo delito em si,
mas buscar compreender as motivações que levaram o sujeito a prati-
car o ato delituoso. Em vista disso, esta abordagem tem o objetivo de
focalizar as seguintes questões: como são apresentados os comporta-
mentos dos indivíduos e como as investigações policiais acontecem e
são desenvolvidas.
Em um segundo momento, é trabalhado como acontecem e
porque acontecem as violências doméstica e familiar e, nessa interse-
ção, como se configura a violência de gênero. Em um terceiro e último
momento, é abordado o questionamento sobre a Lei Maria da Penha e
o atendimento que é dispensado à mulher que foi vítima de violência e
também ao seu agressor.
O primeiro capítulo, que se intitula como “Comportamentos e
Investigações” trata de seis temas que são de suma importância para a
compreensão do comportamento criminoso e de como é desenvolvida a
investigação e ação policial.

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O primeiro tema é o estudo sobre o comportamento criminoso,

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dado como qualquer tipo de ação e conduta que não condizem com o
sistema penal, desviando-se das regras. Para Sutherland, o comporta-
mento criminoso é resultado da integração, ou seja, a assimilação direta
de condutas que são desviáveis da regra. Esta assimilação não é espe-
cífica para apenas uma classe social, qualquer pessoa pode se integrar
a estes comportamentos e se enquadrar na situação.
O segundo tema tece o desenvolvimento da investigação poli-
cial, que atualmente trata de rotinas e técnicas que são executadas por
um conjunto policial em que é realizada a identificação dos suspeitos
e a formação de provas que serão apresentadas a um júri. Além disso,
ainda são efetivadas operações para que os suspeitos de crimes sejam
apreendidos.
O terceiro tema é tangente sobre os estudos psicológicos de
personalidade, para que se possa entender o comportamento do ser
humano. A personalidade não é apenas o que o senso comum conhece
11
como sendo as características do indivíduo. Elas não são apenas o ad-
jetivo do sujeito, definindo-o como divertido ou tímido. A personalidade é
composta do modo pelo qual o indivíduo encara a vida, como ele pensa,
age, sente, quais são suas crenças e emoções. É composta, portanto,
por uma estrutura e organização que são inseparáveis e moldam o de-
senvolvimento de cada ser humano.
O quarto tema engloba a psicologia do delito, que se trata de
todo ato que não segue o cumprimento da lei, isto de acordo com um
viés jurídico.; o filosófico, por sua vez, entende que delito é todo ato que
não está enquadrado na ética. O viés psicológico, entretanto, não pos-
sui um conceito ainda definido, pois além de esclarecer o que é o delito,
a psicologia lida também com suas motivações e causas. O delito pode
ser dado como algum tipo de perturbação afetiva.
O quinto tema é a vitimologia, uma ciência que faz parceria
com a Criminologia, colocando a vítima no papel central, estudando e
atenuando os danos que foram impostos sob as vítimas. Por meio dela,
realizam-se estudos sobre o comportamento e a personalidade para
conseguir compreender o crime praticado contra a vítima e se ela pode
tê-lo influenciado de alguma forma.
O sexto tema trabalha com a atividade do laudo psicológico e
do perito. O perito tem o encargo de realizar avaliações psicológicas
para o procedimento judicial. O laudo é entregue a um juiz ou procura-
dor para o julgamento, e deve conter todos os detalhes do caso e suas
devidas conclusões.
O segundo capítulo vai abordar acerca da violência de gêne-
ro e doméstica. A violência acontece em todos os lugares, sendo co-
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mumente aplicadas a homens, geralmente por desconhecidos. Porém,


quando o assunto é a questão domiciliar, a mulher é quem passa pelas
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situações violentas, sendo os agressores, na maioria das vezes, os pró-


prios companheiros, membros da família ou conhecidos íntimos.
A violência de gênero é motivada pelo aspecto do feminino, en-
globando mulheres transexuais e homossexuais. Ela é provocada pela
relação de controle e poder, pela desigualdade extensa que é imposta
entre homens e mulheres.
No terceiro capítulo é discutida a questão da Lei Maria da Pe-
nha, a sua aplicação e a história da mulher que foi a razão para a cria-
ção dessa Lei. Assim, abordam-se os casos em que ela pode ser acio-
nada e a quem ela protege por meio de atendimentos para as vítimas
de agressões, que podem acessar um aparato legal para denunciarem
seus agressores e também se sentirem mais seguras. Para os homens
agressores também existem atendimentos psicológicos que visam
conscientizá-los pelos seus atos, visando reintegrá-los à sociedade.
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COMPORTAMENTOS
E INVESTIGAÇÕES

PROMINAS
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COMPORTAMENTO CRIMINOSO

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O termo crime tem sua origem no latim – crimen – e se ca- - GRUPO
NO ÂMBITO
DE GÊNERO DO

racteriza por ser uma ocorrência que atrai a atenção social, revelando
JURÍDICA

repercussões que são sentidas em todo o tempo. O conceito de crime


E VIOLÊNCIA

se refere a uma ação proibida por lei, que possui uma determinada pena
DA PSICOLOGIA

caso seja realizada. Desde sua terminologia até sua base e entendi-
mentos culturais, o fato de o crime existir é uma condição da existência
DIREITO DE FAMÍLIA

humana e sua erradicação se afigura impossível enquanto a humanida-


INTERVENÇÕES

de existir.
Os estudos que buscam compreender o sentido da psicopatia
e qual seu vínculo com o comportamento criminoso teve, por muito tem-
po, seu foco na comunidade presidiária. Porém, essa linha de estudo
foi alterada a partir da pesquisa da psicóloga Cathy Widom, em 1976. A
partir de seus estudos, ela começou a examinar os traços de psicopatia
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além do presídio, desenhando potenciais perfis dentro da comunidade
de Boston.
Com base nestes estudos de traços de psicopatia, percebe-
-se que alguns são capazes de viver em sociedade, não violando as
leis penais, mesmo que possuam comportamentos que possam ferir as
demais pessoas (econômica, psicológica ou emocionalmente), sejam
elas familiares, amigos, colegas de trabalho, não atraindo a atenção
para sua forma de agir. Estes traços marcam a diferença entre aqueles
que se personalizam em homicidas, praticando atos que envolvem ex-
trema violência.
Sigmund Freud destaca em seus estudos que o comportamen-
to criminoso decorre de um desequilíbrio entre o Ego, o Superego e o
ID: as três divisões que são constituintes da personalidade do indivíduo.
A partir desta premissa, caso o Superego (que representa o código mo-
ral da sociedade internamente) seja fraco, o sujeito não tem capacidade
para reprimir seu ID (seus desejos e instintos naturais), acontecendo a
violação das normas sociais e acarretando o cometimento de um crime.
A psicopatia é tratada, assim, como um condicionamento psíquico que
está ligada ao comportamento criminoso.
A “fórmula” que norteia a definição de um psicopata leva em
consideração os seguintes aspectos: o egocentrismo, o narcisismo, a
grandiloquência, a impulsividade, a auto justificação, a falta de inibições
comportamentais e a urgência de deter o poder e o controle.
Não se deve confundir, entretanto, um comportamento crimino-
so com um comportamento antissocial, sendo que o primeiro se distin-
gue como uma parcela do antissocial.
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O comportamento característico como antissocial é definido


por um estável padrão de desrespeito pelos direitos dos demais ou
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de transgressões de normas sociais de uma determinada sociedade.


Tratam-se de ações como mentiras, desrespeito pelos demais, sendo
discrepantes e manifestando falta de empatia, insultos, propensão a pe-
quenos delitos, podendo chegar a grandes crimes que se enquadram
no Código Penal. Pode ser considerável afirmar que a psicopatia é uma
condição que se apresenta nos seres humanos e que, quando se asso-
cia à criminalidade, confere um papel de dano social.
Alguns comportamentos antissociais, como a violação de re-
gras sociais, não indicam de forma obrigatória que se trate de um crime
ou de um comportamento criminoso, não ocorrendo uma violação das
normas penais, se tratando assim, como uma condição essencial para
se julgar um crime ou conduta criminosa.
Uma das explicações para o comportamento criminoso podia
ser encontrada na biologia, explicando-se esta conduta como uma pa-
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tologia que se divide em fatores psiquiátricos, biológicos e psicológicos.
Na questão biológica, se destaca o psiquiatra e antropólogo Cesare
Lombroso, que defendia que o criminoso “nato” possui certos traços em
sua anatomia e psique, como a formação craniana, por exemplo, que os
diferencia dos demais.
Mesmo Lombroso não sendo geneticista, voltou sua pesquisa
para o campo da herança remota, ou seja, pautou-se na premissa de
que comportamentos podem ser herdados. Suas pesquisas foram uti-
lizadas no âmbito do surgimento do campo da Criminologia e também
foram de grande influência para a área da psiquiatria, tendo motivado
Hakeem, que defendeu a hipótese de que os criminosos eram constituí-
dos como um tipo de sujeito inferior, com características de desordens
mentais, neuroses e alcoolismo.
Os deterministas biológicos defendem, ainda, que criminosos
violentos apresentam uma anomalia genética, por existirem cromosso-
mos sexuais XXY, enquanto deveriam haver apenas o par normal XY.
Assim sendo, somente esta característica genética seria herdada e não
o comportamento em si.
Edwin Sutherland desenvolveu a Teoria da Associação Diferen-
cial e do Aprendizado Cultural, em que sua principal ideia é de que as
interpretações e conceitos surgem a partir da interação. Esta teoria foi
desenvolvida pelos questionamentos de Sutherland para explicações,
por exemplo, de crimes que eram cometidos pelas classes média e alta,
os quais não acontecem devido à necessidade e a falta de acesso a
meios financeiros e profissionais.

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“[...] o crime não é causado nem por características da personalidade do
criminoso e nem pelo ambiente, mas decorre do aprendizado, ou seja, a

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conduta criminosa é aprendida assim como qualquer outro comportamento,
aprendizado este que ocorre na interação com outras pessoas através de um
processo de comunicação.” (SUTHERLAND, 1939, p.109)

Entre a teoria de Sutherland e de outros autores existe uma


relação, pois, os moldes de comportamento determinados aos sujeitos
das classes pobres e mais abastadas apontam uma distribuição em cor-
respondência aos meios que os indivíduos estão dispostos para desen-
volverem sua impulsividade criminal.
Em vista disso, a formulação do autor tem por objetivo ser mais
ampla, gerando uma abordagem geral com aptidão para esclarecer a
criminalidade tanto nas classes mais favorecidas quanto nas mais opri-
midas.
O autor denomina que qualquer comportamento que seja con-
siderado desviante seria assimilado em associação, direta ou indireta,
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com aqueles que já exercem um comportamento criminoso. Dessa ma-
neira, um indivíduo torna-se ou não um criminoso de acordo com a me-
dida relativa de intensidade e frequência de suas relações com os tipos
de comportamento, sejam eles legais ou não. Esta é a denominação de
Associação Diferencial.

INVESTIGAÇÃO POLICIAL

A investigação policial, como é conhecida – com seus obje-


tivos, rotinas e métodos –, foi se alterando de maneira profunda no
decorrer da história. Sendo assim, é possível encontrar exemplos de
técnicas que se associam com a investigação criminal no decorrer da
história de diversas sociedades. Porém, o que se denomina atualmente
por investigação policial, isto é, a execução de técnicas e rotinas por
parte de um corpo policial, para que se faça a identificação dos suspei-
tos e a elaboração de provas judiciárias, é datada do fim do século XIX.
Anteriormente a isso, a identificação dos suspeitos e a elaboração de
provas eram tradadas de forma privada e, muitas vezes, realizadas por
agentes privados que eram pagos através de recompensas.
Assim, foi apenas com a formação dos corpos policiais moder-
nos que a investigação policial começou a ser compreendida como uma
obrigatoriedade estatal. Por mais que, no princípio, as polícias tenham
orientado suas atividades para a preservação da ordem e a patrulha
das ruas, a atividade de investigação de crimes foi lentamente sendo
enquadrada às suas garantias. A partir de então, a investigação criminal
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se transformou em uma das funções fundamentais que as polícias de-


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sempenham e passaram a ser incumbidas de determinadas atividades,


como: identificação e interrogação de suspeitos; elaboração de provas
jurídicas; e instrução do processo criminal.
A investigação policial é permeada por toda uma metodologia
de levantamento de responsabilidade penal do indivíduo que age prati-
cando um crime, porque, em um primeiro instante, é iniciada a procura
por se tomar conhecimento dos fatos e de todas as suas condições.
Após isto, existe a possibilidade de realizar a sua análise através dos
agentes do sistema de justiça criminal, promovendo a aplicação correta
da lei penal.
Mediante esse aspecto prático, a investigação policial é concei-
tuada como uma conjuntura de aplicações preliminares que são devida-
mente formalizadas dentro dos limites da lei, destinando-se a conferir a
existência, as circunstâncias, a materialidade e autoria de determinada
infração penal, a fazer a coleta de elementos e provas com informações
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que vão auxiliar a execução do processo penal.
Durante os anos de 1970, as críticas tecidas em relação à polí-
cia focar somente na culpabilização e na obtenção de confissões se tor-
naram mais severas, principalmente em países como Canadá, Estados
Unidos e Inglaterra, ocasionando mudanças profundas nas técnicas da
investigação policial.
Dessa maneira, foi essencial a configuração de um desenvol-
vimento investigativo no sentido de investimentos em órgãos periciais,
com um esforço em tornar prioritárias as provas práticas em razão das
provas das testemunhas. Desse modo, especificamente quanto às po-
lícias, houve a elaboração de manuais de investigação, assim como
a introdução de novas metodologias operacionais para aperfeiçoar o
desempenho dos investigadores.
A investigação criminal, desde o momento de sua formação,
tem sido assunto de grande interesse do público em geral, permanecen-
do envolta e diversos mitos.
Este interesse tem como explicação não somente o glamour
na apreensão de criminosos, mas inclui também a relevância que a in-
vestigação deu ao reforçar a promessa feita pelo Estado Moderno de
garantir segurança a todos os cidadãos.
Levando em consideração sua dimensão simbólica, a investi-
gação vem sendo apresentada como a maneira mais eficaz para resol-
ver crimes e estabelecer uma punição aos criminosos.
Dessa maneira, foi criado um estereótipo para o exercício da
investigação, o que Mike Maguire (2003) denominou como o “Mito de
Sherlock Holmes”. Este mito está envolto por uma sequência de inter-

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venções: 1) em que um sujeito relata para a polícia um crime; 2) os
investigadores realizam uma busca e averiguação pela cena do crime
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e fazem interrogatórios com pessoas; 3) o suspeito é detectado e se
confronta com as provas que são irrefutáveis acerca de sua culpa, oca-
sionando a confissão e, após isto, a denúncia criminal.
Todavia, as pesquisas apontam que as técnicas investigativas
são constituídas por um enquadramento diferente, uma vez que não
são todos os crimes que são apresentados para a polícia pelas vítimas.
Com frequência, a polícia toma conhecimento de crimes por meio de
terceiros ou mesmo da mídia. Ainda assim, na maior parte dos casos,
apenas o relato do crime não é suficiente para que se abra uma inves-
tigação policial. Alguns destes casos podem ser arquivados e outros
podem ser processados como estatísticas criminais. A investigação cri-
minal é um exercício demasiadamente seletivo.
Existem pelo menos dois tipos de estruturas organizacionais
para a investigação policial. Inicialmente, se identificam as Unidades
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Generalistas de Investigação, que se encarregam de resolver diversos
crimes. Estas unidades admitem, como regra, um número pequeno de
investigadores e sua jurisdição se delimita por território. Respondem às
ocorrências que a população apresenta e, sendo um trabalho reagente,
há a seleção dos casos que serão investigados.
As Unidades Especializadas em Investigação são focadas na
resolução de crimes específicos. O argumento fundamental para a ela-
boração dessas unidades é de que determinados tipos de crimes acom-
panham lógicas próprias e necessitam, para tanto, de metodologias e
rotinas específicas de investigação.
Tais unidades são focadas em buscar informações acerca dos
contatos, das rotinas e dos negócios de grupos que são considerados
suspeitos por atividades criminosas. Estas atividades colocam os po-
liciais expostos a contatos mais próximos com pessoas ou grupos de
atividades criminosas. Não havendo fiscalização e controle adequados
para tais procedimentos, existe o risco de acontecer casos de corrupção.

ESTUDOS PSICOLÓGICOS DE PERSONALIDADE

A Psicologia da Personalidade é o campo que tem por finalida-


de esclarecer e apontar as particularidades do ser humano que podem
influenciar o seu comportamento. A personalidade tem por definição
abranger um conjunto de características determinante para os parâme-
tros sociais e pessoais de um indivíduo, assim, sua constituição é reali-
zada gradualmente, sendo única e complexa a cada pessoa.
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Por meio do estudo da psicologia da personalidade é possível


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notar que o processo de constituição necessita levar em consideração


algumas premissas essenciais: cada indivíduo possui seu próprio jeito
de aprender a ser; cada período levanta novas imposições educacio-
nais; cada circunstância traz desafios renovados. Por isso, é necessário
identificar que indivíduos diferentes tendem a reagir de maneira diferen-
te a um mesmo incentivo, dependendo das situações.
Na abordagem do senso comum, a significação de personali-
dade é designada para a descrição de características mais relevantes
de um indivíduo, por exemplo, é uma pessoa extrovertida ou tímida.
Entretanto, a concepção de personalidade se relaciona com as modifi-
cações de atitudes, habilidades, emoções, crenças, desejos e a forma
particular e constante do sujeito pensar, perceber, agir e sentir, levando
em conta também a intervenção de condições sociais e culturais nessas
propriedades.
Em um viés psicológico, todos os indivíduos possuem uma
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personalidade, isto é, diferentemente do senso comum que aponta a
personalidade como a competência de imposição; de uma acepção psi-
cológica, atribui-se uma personalidade característica a cada ser huma-
no, entendendo-se que ela é algo construído e, portanto, é próprio e
singular.
Na psicologia, portanto, encontram-se muitos pressupostos
que se encarregam de estudar a personalidade, sendo que a que mais
se destaca na história desses estudos é a abordagem de Sigmund
Freud. Para ele, o comportamento é constituído por três ferramentas,
que são o Id, o Ego e o Superego. O Id é algo congênito (significa dizer
que nasce com o sujeito) e é conduzido pelo preceito do prazer, exi-
gindo imediata satisfação de impulsos, não levando em consideração
indesejáveis consequências.
O Ego, por sua vez, trata-se de um desenvolvimento do Id,
pois, por mais que contenha fundamentos que são inconscientes, as-
sim como o Id, tem seu funcionamento com um nível de consciência e
pré-consciência, sendo regido através do preceito da realidade. Assim,
o Ego supervisiona os impulsos do Id, não lhe satisfazendo os desejos
que possui, os quais acabam por ser reprimidos.
O Superego abrange ideias provenientes de valores sociais e
familiares, dessa forma, é um mecanismo que possui uma consciência
parcial, funcionando como um sensor das atribuições do Ego, de onde
são derivados os sentimentos de medo, punição e culpa.
Nessa disposição, o Id é considerado como um membro bioló-
gico, o Ego como um psicológico e o Superego como o fator social da
personalidade, os quais trabalham em parceria e sob o comando do

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Ego.
Com a Teoria da Sexualidade, Freud aponta que a sexualida-
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
de é identificada como um instinto com o qual as pessoas já nascem
com seus atributos, os quais são expressados de maneiras diferentes
de acordo com as fases de desenvolvimento. Estas são representadas
pela Fase Oral, que se desenvolve de 0 a 2 anos; pela Fase Anal, que
se estende de 2 a 4 anos; pela Fase Fálica, que é acompanhada dos 4
aos 7 anos; pelo Período de Latência, que acontece dos 7 aos 12 anos
e a Adolescência que prevalece a partir dos 12 anos. Esses estágios
irão deixar peculiaridades que podem definir a condição da personali-
dade do sujeito.
Outra teoria importante é a representada por Erich From. From
constata a personalidade como o resultado de circunstâncias culturais,
isto é, a personalidade é desenvolvida através daquilo que é ofertado
pela sociedade.
A psicologia da personalidade estuda de maneira fundamental
19
o sujeito como um todo e as diferenças individuais. Com estas aborda-
gens, há a busca pela compreensão do comportamento do ser humano
pelo modo como cada pessoa atua no contato de vários pontos que
constituem seu todo.
Atualmente, existem três maneiras para se compreender a per-
sonalidade: a Psicanálise, o Movimento Comportamentalista e a Psico-
logia fenomenológica existencial humanista.
O que esclarece as diferenças entre as três áreas na psicologia
é o modo de compreensão do ser humano. Para Freud, o humano pode
ser assimilado como racional e metódico, tendo seu funcionamento se-
melhante ao de uma máquina e, para Skinner, o ser humano se regula
pelo ambiente. Para a Psicologia fenomenológica existencial humanis-
ta, o humano poder ser assimilado como um ser relacional, responsável
e livre.
Freud e Skinner enxergam o humano como um ser que realiza
uma busca excessiva pelo prazer como um modo de vida, que passa
pouca confiança. A Psicologia fenomenológica existencial humanista o
enxerga como, teoricamente, um ser que transmite confiança e que pro-
cura sua autorrealização.
O humano é concebido como quem requer um controle social
e externo, enquanto na última vertente, ele é concebido como um ser
capacitado de passar por uma evolução em seu mais amplo sentido,
desde que as condições ambientais lhe sejam garantidas.
A personalidade é composta por uma estrutura e um conteúdo,
assim sendo a estrutura da personalidade é o suporte que une e cons-
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titui entre si disposições e condutas diferentes da pessoa. É a compo-


sição global que proporciona aparência e unidade ao comportamento.
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

A Psicanálise aponta que essa estrutura está constituída como


suporte, aproximadamente, aos 4 ou 5 anos. Piaget acrescenta que a
personalidade tende a começar a sua formação um pouco mais tarde,
quando o indivíduo está na faixa de 8 e 12 anos.
Os conteúdos que formam esta estrutura da personalidade es-
tão associados com as vivências concretas que o sujeito obteve em seu
meio cultural, social, religioso, entre outros. A compreensão da perso-
nalidade só é possível considerando a relação inseparável entre a es-
trutura e o seu conteúdo, compreendendo, assim, os desenvolvimentos
e mudanças do ser humano.

PSICOLOGIA DO DELITO

A partir de um viés jurídico, um delito é qualquer tipo de ato,


20
seja ele negativo ou positivo, com características voluntárias, em que
ocorre o descumprimento de normas, que são estabelecidas pela Legis-
lação do Estado, violando-as e, consequentemente, passando por um
julgamento das leis de natureza penal.
Mas através de um viés filosófico, o delito é caracterizado por
todo o ato que não se enquadra nos preceitos da ética. Já na visão
psicológica, o delito não possui um critério definido e reivindica um es-
clarecimento das causas e motivações que levaram à pratica delituosa.

“Para a polícia é útil saber quais são os tipos psicológicos mais suscetíveis
ao cometimento de determinado tipo de delito. Também é importante que os
promotores e juízes conheçam o grau de perigo para a segurança pública
que é inerente a certos tipos de delinquentes, a fim de fixarem as penas e
demais medidas corretivas.” (BONGER, p. 174, 2008)

A maior parte dos teóricos do campo atesta que grande parte


dos delinquentes passa por perturbações afetivas. Desde o nascimento,
todas as pessoas possuem em si vertentes delituosas, sendo que, para
sanar a satisfação de suas necessidades não se dá devida importância
para o que pensam ou fazem as pessoas que estão ao seu redor.
Com o passar do tempo, o indivíduo vive um processo educa-
tivo e é instruído a dividir comida e brinquedos, respeitar a todos que
estão à sua volta, por exemplo. Como consequência, toda a pessoa que
não passa por este processo de instrução, ou que não seja educada de
maneira suficiente, pode ter tendências a cair na delinquência.
As motivações que causam o delito podem ser de dois tipos:
as exógenas ou as endógenas. As motivações exógenas são aquelas

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


que se encontram absortas ao ser individual e promovem ações sobre

INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO


ele. É mais comum encontrar este tipo de delito em casos de espiões,
guerrilheiros, justiceiros que consideram ter sido chamado para efetuar
a justiça com as próprias mãos.
As motivações endógenas de uma ação delituosa correspon-
dem a motivos que estão presentes desde o seu nascimento, como a
delinquência que já foi citada, e é estudada pela Escola Lambrosiana.
Como apontado, os comportamentos emocionais primários,
como ira, medo, atração amorosa de forma possessiva podem não ter
eficácia no exercício de educação ou inibição, derivação, repressão ou
sublimação social, e são capazes de levar pessoas a praticar atos delin-
quentes em grandes escalas, como em casos de delitos que agem con-
tra a integridade psíquica ou física pessoal, contra valores, conceitos
ou objetos. Em conformidade com a magnitude do delito (roubo, crime,
violação), a formação endógena do sujeito irá aparecer de forma menos
ou mais clara.
21
Os juristas ainda continuam expondo uma classificação de de-
litos por suas consequências, sem levar em consideração a sua concei-
tuação psicológica. Lopes (2003, p. 147) aponta uma tipagem de delitó-
genos, que possui em si as causas exógenas e endógenas:
- Delito Profilático: é uma ação delituosa que quem pratica
tem conhecimento de que está violando a lei, mas realiza o delito do
mesmo jeito, por estar convicto de que sua ação é para um bem maior.
Tem como características principais: ausência de remorso, por mais que
se tenha consciência da ação que cometeu; probabilidade de ser come-
tido por indivíduos inteligentes, cultos e sensíveis; responsabilidade ple-
na pelas ações praticadas, indiferença para o cumprimento da punição
e indiferença na defesa.
- Delito Simbólico: o que faz com que este tipo de delito seja
peculiar é que quem acaba sofrendo as consequências não está ligado
diretamente ao delinquente. Pode ser praticado tanto por pessoas sel-
vagens como por pessoas intelectuais e cultas. Esta ferramenta mental
funciona nos casos em que a pessoa tem capacidade para impossi-
bilitar o impulso delitógeno direto, mas não é capaz de eliminá-lo por
completo, causando a ocorrência de uma ação absurda, longe de ser a
primeira intenção.
- Delito Reivindicador: este tipo de ação delituosa possui
duas premissas fundamentais, primeiro, o autor não se acha envolvido
de forma direta no assunto; segundo, tem o costume de ser agressivo,
sendo que a agressividade apenas aumenta, intensificando também o
motivo da ação em si. Esse tipo de pessoa não declara que praticou o
delito para desafogar a sua raiva, nem por vingança ou ódio. Por vezes,
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

aponta que o delito foi feito por um ato generoso com a sociedade ou
cumprimento de dever.
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

- Delito Libertador ou de “Aventura”: este tipo de ação deli-


tuosa acontece precisamente quando a pessoa está em companhia de
outras, em grande parte sob efeito de sexo, álcool ou drogas. Em mui-
tas vezes, a bebida leva a culpa, mas isto não passa de uma desculpa
para se livrar da responsabilidade, não sendo uma motivação genuína.
A pessoa age com intuito de se libertar de angústias.
- Delito de Expiação: são delitos praticados por determinadas
pessoas que buscam merecer a antipatia da sociedade, satisfazendo
assim, a necessidade de reparar uma culpa inconsciente. Essas pes-
soas praticam delitos para receberem punições como se pudessem de-
letar ações realizadas anteriormente. É de costume entre elas estarem
indivíduos que sentem intenso ódio pelos pais, ou que passaram por
repressão durante a infância.
Dessa forma, nota-se que a ação delituosa não é apenas indi-
22
vidual, sendo praticada também em grupos e que suas motivações são
variadas, deixando o sujeito dependente do ambiente em que se de-
senvolve, bem como dos incentivos que recebeu ao longo de sua vida.

VITIMOLOGIA

A Vitimologia é uma ciência que tem como objetivo estudar o


papel exercido pela vítima dentro de um crime, colocando uma posição
de equilíbrio na qual a vítima é posicionada no ponto central do crime,
não na posição de réu, respeitando-se, obviamente, todas as suas ga-
rantias e direitos.
A Vitimologia surge como uma disciplina que deriva de um
campo da ciência maior que se denomina como Criminologia. Porém,
existe um desacordo entre alguns estudiosos se a sua existência se
trata de uma ciência em si ou apenas uma variação da Criminologia.
Tem-se como ponto central o objetivo de atenuar os danos que
foram praticados à vítima do crime. Em alguns países existem projetos
que aplicam indenização para as vítimas, entre estes países se desta-
cam: a Inglaterra, a Nova Zelândia, a Argentina, o México, a Espanha,
entre outros mais.
A definição de vítima equivale ao indivíduo que sofreu danos,
compreendendo lesões mentais ou físicas, prejuízo financeiro, sofri-
mento emocional ou que tenham sido consideravelmente afetadas em
suas garantias essenciais, por omissões ou atos que são representados
por violações penais. Não é somente o homem, individualmente, que

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


se torna vítima de violência, mas também entidades coletivas que se

INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO


enquadram como Corporações, Estados, grupos familiares e comuni-
dades.
São considerados como os elaboradores da vitimologia: Henri
Ellenberger, Hans Von Hentig, Benjamim Mendelsohn, Stephen Scha-
fer, Jean Graven, Margery Fry e Israel Drapkin, os quais são colocados
como os pioneiros na colocação da vítima em posição de estudo da
ciência social e humana, em características científicas como jurídicas.
Desde 1947, a vitimologia deixou de ser somente uma divisão
da Criminologia, se transformando em uma corrente com autonomia,
tendo por fim estudar de forma ampla, em aspectos gerais, a relação
que ocorre entre a vítima e o criminoso na ocorrência da criminalidade.
A Criminologia preza pelo benefício de ter a orientação da viti-
mologia, sendo a vítima também um dos pontos de estudo da Crimino-
logia, além de estudar também o crime, o controle social e o criminoso.
Nessa pesquisa da vítima se atribui à sua personalidade, seja
23
ela pelo viés psicológico, biológico ou jurídico, assim como aos meios
de vitimização, a relação que acontece com quem a vitimiza e seus
comparativos. Assim, na Vitimologia, a vítima tem sua análise não ape-
nas como um simples elemento da sistemática delituosa, mas também
como uma imagem de vulnerabilidade e que precisa com urgência da
proteção do Estado.
A Vitimologia ainda tem como campo de estudo realizar uma
análise do comportamento apresentado pela vítima, procurando assi-
milar se certo tipo de conduta por parte dela possa ter influenciado ou
gerado um artifício delituoso, analisando, ainda, os resultados do crime
sob a vítima.
Esta área de estudo se interessa também pelos efeitos que o
crime pode causar na vítima, a qual por muitas vezes não possui o de-
vido amparo por parte do sistema penal, passando por uma vitimização
secundária. Seu principal objetivo é, portanto, a redução dos números
de vítimas na sociedade e assimilar os efeitos que são ocasionados
pela relação entre o criminoso e a vítima.
Em meio ao processo de vitimização, é colocada a existência
de três graus que o classificam:
- Vitimização primária: se denomina pelo acontecimento do
crime. Este acarreta lesões materiais, psicológicas e físicas, provocan-
do alterações de hábitos e mudanças de comportamento.
- Vitimização secundária: decorre pelo procedimento que é
dado pelos atos ou omissões das solicitações de controle social for-
mal e transcorre pelo tratamento recebido pelo formal controle social,
de modo que o procedimento penal ocasiona mais sofrimento para a
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

vítima, pois é quando a vítima precisa reviver o caso para prestar seus
depoimentos.
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

- Vitimização terciária: se dá pela falta de sustentação da so-


ciedade, família e órgãos públicos e da carência de acolhimento social
em relação com a vítima. Esta maneira de vitimização cria a denomi-
nada “Cifra Negra”, que se refere a crimes que não são apurados ou
investigados e ainda não englobam as estatísticas, já que as vítimas
não realizaram as denúncias necessárias à investigação.
As vítimas ainda possuem uma classificação:
- Vítimas Natas: são os sujeitos que demonstram, desde seu
nascimento, uma disposição nata para serem vitimizados;
- Vítimas em Potencial: destacam-se os indivíduos que de-
monstram um temperamento, comportamento ou um modo de vida que
possa atrair o criminoso;
- Vítimas Reais: são os indivíduos que são verdadeiras víti-
mas, não representando, em situação nenhuma, colaboração para o
24
acontecimento do crime;
- Vítimas que Provocam: são os indivíduos que fazem com
que o criminoso realize o crime, provocando ou originando o delito;
- Falsas Vítimas: são aquelas que têm consciência de não ter
sido vítima de nenhuma ação delituosa, mas, agem por interesse pes-
soal ou vingança, levando outra pessoa a cometer um crime contra ela.
Pode ser considerada como uma vítima simuladora. Existe, ainda, a víti-
ma imaginária que é o indivíduo que, por consequência de uma anoma-
lia mental ou psíquica, tem a crença de ser vítima de um ato criminoso.
- Vítimas Voluntárias: são os indivíduos que dão consenti-
mento para o crime;
- Vítimas por Acidente: são os indivíduos que são vítimas de-
les mesmas, que dão razão ao fato por imprudência ou negligência.

De acordo com Hans Von Hentig, outras classificações de víti-


mas podem confundir as relações entre vítimas e criminosos:
- Sucessivo: um dos exemplos são os criminosos que entram
pela primeira vez em um presídio e lá dentro têm seu aprendizado. Po-
rém, ao sair não conseguem encontrar oportunidades, se tornando re-
féns da sociedade, o que os leva a voltar a cometer delitos.
- Simultâneo: acontece quando o cometimento do delito ou
crime é justificado pela condição da vítima, como por exemplo um usuá-
rio de drogas que exerce o tráfico para a sustentação do vício;
- Imprevisível: acontece com o linchamento do criminoso após
cometer o delito.

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


PERITO E O LAUDO PSICOLÓGICO

INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO


Quem se especializa em Psicologia Forense possui um impor-
tante papel: auxiliar juízes perante o tribunal para que tomem as melho-
res decisões quanto aos julgamentos de crimes. Para que o rigor seja
como o esperado, é preciso apresentar o laudo psicológico da perícia.
O psicólogo perito é nomeado pelos Tribunais de Justiça para
efetuar avaliações psicológicas de pessoas que estão em envolvimento
com um procedimento judicial, sejam menores, idosos, em função da
interdição de pessoas, de abuso sexual etc. O documento pode ser soli-
citado em casos de guarda de menores, visitas regulamentadas, inqué-
ritos policiais e divórcios, por exemplo, e é destinado a um procurador
ou a um juiz, seja qual for destas autoridades que o tenha solicitado,
para que possa ser examinado em julgamento. Por isso, sua relevância
é tamanha, sendo de extrema importância saber como realizar a sua
25
elaboração da forma mais precisa e profissional possível.
Esse laudo pode ser solicitado quando existem possíveis ca-
sos em que haja a suspeita de abuso sexual de crianças e adolescen-
tes, quando existem sentenças judiciais que têm envolvimento de cus-
tódia de menores ou para a verificação de algum indivíduo que possa
apontar algum tipo de transtorno mental que pode ter sido a causa para
a indução da prática de determinado crime.
O laudo psicológico da perícia tem de ser documentado e ba-
seado tecnicamente, e é preciso que contenha as devidas conclusões.
Além de que, por mais que seja um processo rigoroso, como tem seu
destino para pessoas que não possuem devidos conhecimentos na área
de psicologia, é preciso fazer uso de uma linguagem que esteja adap-
tada. Caso existam termos com características técnicas, estes devem
conter a explicação, devendo-se esclarecer o que pode gerar dúvidas.
Quanto ao seu conteúdo, o laudo deve englobar todos os de-
talhes que sejam de relevância para o caso que está sendo julgado.
Nenhum ponto deve ser negligenciado ele deve ser coerente, preciso
e argumentável, não deve conter a opinião pessoal de quem o está
produzindo. O profissional requisitado deve restringir-se a abordar os
dados enquanto perito, tendo sua identificação feita por meio de nome
completo e a apresentação dos documentos pessoais necessários.
Os motivos para a elaboração do laudo devem ter evidência
para a construção e emissão de um relatório. O perito deve apresentar
todas as ferramentas e metodologias que foram utilizadas durante o de-
senvolvimento da avaliação. Um dos exemplos é o uso de testes, obser-
vação direta e outras técnicas que possam servir para o intuito do laudo.
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

Ainda devem conter os antecedentes de dados familiares, pes-


soais e sociais que forneçam um alicerce psicológico e informações que
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

possam complementar a análise feita. Com os resultados serão expos-


tos dados por meio das técnicas utilizadas. Em sua conclusão são apre-
sentadas as respostas de forma coerente, as quais serão utilizadas por
procuradores ou juízes para que sejam tomadas as melhores decisões.

26
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: DPE-RJ Prova: Técnico Superior Espe-
cializado - Psicologia
A psicanálise oferece importantes contribuições à psicologia jurídica,
a começar pelo conhecido texto de Freud, A psicanálise e a determi-
nação dos fatos nos processos jurídicos (1906), em que ele aponta
as diferenças entre o neurótico e o criminoso. De acordo com Freud,
assinale V para a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s).
( ) No neurótico, o segredo está oculto de sua própria consciência; o
criminoso simula conscientemente ignorar o segredo.
( ) No tratamento analítico, o neurótico ajuda a combater sua resistên-
cia através de esforços conscientes; o criminoso, ao contrário, não
cooperará com a investigação criminal.
( ) No neurótico, a resistência está localizada na fronteira entre o
consciente e o inconsciente; já no caso do criminoso, a resistência
origina-se totalmente na consciência.
A sequência correta é:
A) V-F-F;
B) V-V-F;
C) F-F-V;
D) F-V-V;
E) V-V-V.

QUESTÃO 2

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: Prefeitura de Niterói - RJ Prova: Pre-

INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO


feitura de Niterói - RJ - Psicólogo
No campo da assistência social, podemos nos deparar com o em-
prego de categorias rígidas de classificação de sujeitos tipificados
como criminosos, drogados, vagabundos etc.
Em face de tais classificações, cabe lançar mão do pensamento
crítico de Foucault, segundo o qual, a subjetividade:
A) está situada de forma absoluta no centro do sistema de conhecimento.
B) se articula no intervalo da cadeia dos significantes, portanto, ligada
ao campo da linguagem.
C) possui uma substância idêntica a si mesma, independente do mundo
sensível.
D) está alienada à condição de classe, num contexto de exploração
capitalista.
E) é efeito de práticas de poder que se agenciam de forma periférica e
capilar.
27
QUESTÃO 3
Ano: 2015 Banca: FAUEL Órgão: FMSFI Prova: FMSFI - Psicólogo
Em se tratando de Teoria da Personalidade, Hall, Lindzey e Cam-
pbell (2000) organizam as teorias em quatro grandes agrupamen-
tos, classificadas com base em características que permitem a
identificação de uma ênfase comum. É correto afirmar que:
A) No que se refere aos aspectos dinâmicos da personalidade, a teoria
da personalidade pode ser comparada à necessidade de o indivíduo
prever seus próprios comportamentos e controlá-los.
B) O conceito de estrutura se refere aos aspectos mais estáveis e dura-
douros da personalidade. Representam os blocos constitutivos da teoria
da personalidade.
C) Os fatores genéticos não desempenham um papel importante na
determinação da personalidade, particularmente porque os indivíduos
se assemelham em muitos aspectos uns com os outros.
D) A psicopatologia surge como elemento estruturante na personalida-
de, apontando fatores de um bom desenvolvimento na personalidade
da pessoa.

QUESTÃO 4
Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: TJ-RO Prova: TJ-RO - Psicólogo
Em relação ao grave problema da violência intrafamiliar, é possível
identificar a existência de condições particulares individuais, fami-
liares e coletivas que aumentam o risco de ocorrência de situações
de violência. Analise os fatores a seguir, considerando o risco para
a ocorrência de violência na família:
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

I – a maior incidência de abuso de drogas e álcool;


II – a presença de um modelo familiar violento na história de ori-
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

gem das pessoas envolvidas;


III – as organizações familiares não convencionais – monoparen-
tais, homoafetivas, mosaico;
IV – a dependência econômica e/ou emocional por parte de um ou
mais membros.
Os fatores de risco para a ocorrência de violência na família são:
A) somente I e IV.
B) somente II e III.
C) somente I, II e III.
D) somente I, II e IV.
E) I, II, III e IV.

QUESTÃO 5
Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: Prefeitura de Salvador - BA Prova:
28
BA - Psicólogo
Em termos de estratégia para o enfrentamento da violência do-
méstica contra mulheres, o sistema de saúde é fundamental para
identificar e referir tais vítimas. Para tanto, é essencial que os
profissionais de saúde se sirvam dos estudos de gênero que, por
questionarem a ideia de determinismo biológico, demonstram que
os estereótipos de masculinidade e de feminilidade são construí-
dos socialmente, denotando as relações de poder entre homens e
mulheres.
A partir desses estudos, é correto afirmar que:
A) a violência de gênero ocorre nos grupos socioeconômicos mais baixos.
B) a violência no ambiente doméstico é menos séria que a agressão de
desconhecidos.
C) embora as mulheres também possam ser violentas, a maioria das
lesões físicas é de homens contra mulheres.
D) dentro de relações estabelecidas no lar doméstico, a violência tende
a refrear com o tempo.
E) o abuso emocional e psicológico causa menos dano que o abuso
físico, na experiência das mulheres.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

A criminologia pode ser compreendida como o estudo das causas do


comportamento antissocial do homem, tendo em vista aspectos psico-
lógicos e sociológicos, sendo abordado em várias das teorias do campo
do direito criminal ou penal. Nesse sentido, disserte sobre como o com-

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


portamento criminoso pode ser entendido no âmbito dessa ciência.

INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO


TREINO INÉDITO

Assunto: Estudos psicológicos da personalidade


A psicologia da personalidade pode ser compreendida como a busca
pelo entendimento das particularidades que influenciam o comporta-
mento e as ações humanas. Dessa maneira, assinale a alternativa cor-
reta acerca dos tipos de personalidade:
A) Extrovertido
B) Introvertido
C) Lógico
D) Comandante
E) Todas as alternativas estão corretas

29
NA MÍDIA

Inquérito policial: metodologias anacrônicas e a busca pela verda-


de dos fatos

Quem conhece minimamente os corredores das delegacias de polícia


espalhadas pelo país sabe bem do que estamos tratando aqui.
Desempenhando nossas atividades profissionais, contemplamos coti-
dianamente as precaríssimas condições em que a grande maioria des-
sas instituições públicas estão assentadas. É comum vermos sedes de
distritos policiais civis adaptados em casas de baixo custo, com mobiliá-
rio e ferramentas de trabalho completamente sucateados. É o abando-
no estatal levado às últimas consequências.
E o que falar sobre nossa metodologia burocrática no que tange às
investigações criminais? O “caos” seria talvez a palavra que melhor de-
finiria essa realidade.
Fonte: Canal Ciências Criminais
Data: 04 de novembro de 2019
Leia a notícia na íntegra: https://canalcienciascriminais.com.br/inqueri-
to-policial-metodologias-anacronicas/

NA PRÁTICA

MODELO DE LAUDO / RELATÓRIO PSICOLÓGICO

Modelo 1
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

1. Identificação
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

Autor: Fulano de Tal – CRP/SP 00.XXX.


Interessado: Colégio Maria das Dores Agudas.
Assunto: Apoio para Medida Disciplinar.

2. Descrição da Demanda
Em decorrência de dificuldade de adaptação às regras e normas es-
colares de déficit de atenção, falta de estímulo, reprovações subse-
quentes, falta de socialização, atitudes suicidas impulsivas, excessiva
agressividade, acusações de furtos e danos materiais a patrimônio da
escola e de professores, bem como experiência de expulsão em várias
escolas, o adolescente (Nome do adolescente) foi submetido à avalia-
ção psicológica como condição necessária à sua permanência na atual
escola onde estuda.
A família tem total conhecimento do comportamento do adolescente,
30
afirmando que desde pequeno o mesmo apresentava dificuldade no
seu desenvolvimento social. Gostava de ficar isolado, de quebrar seus
brinquedos e atear fogo em objetos. Não conseguia se envolver emo-
cionalmente com os membros da família, parecendo distante de todos.
Ainda em relação à família, particularmente em relação aos genitores,
detectou-se na figura paterna dificuldades de se impor, tendo o mes-
mo história de dependência alcóolica. Na figura materna, observou-se
uma excessiva autoridade, bem como comportamentos ambivalentes
nos métodos disciplinares utilizados com o filho, ora se mostrando indi-
ferente, negligenciando as condições essenciais de desenvolvimento,
ora abusando do seu poder, com castigos físicos exagerados, ficando
evidenciado o caráter conflituoso na interação familiar.

3. Procedimento
Foram realizadas entrevistas e aplicação de testes psicológicos em 4
encontros de 1 (uma) hora de duração em dias alternados.

4. Análise
Nas primeiras sessões de avaliação, o examinado demonstrou exces-
siva tensão, irritabilidade, agitação, ansiedade, autoestima negativa,
pensamento autodestrutivo e revolta em relação à sua mãe. Passado o
período de comprometimento emocional, procedeu-se à aplicação dos
testes buscando a investigação dos campos de percepção familiar, per-
sonalidade, inteligência e memória.
No teste de percepção familiar, demonstrou desarmonia familiar, insegu-
rança, introversão e sentimento de inferioridade. Foi observado distan-

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


ciamento entre os familiares, rejeição ou desvalorização dos membros.
No interrogatório, os conteúdos apresentados demonstraram bastante
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
desinteresse pela vida. A avaliação de personalidade foi realizada atra-
vés da observação e da aplicação dos Testes (A – percepção Temática
(T A T), Rorschach e Casa, Árvore, Pessoa (HTP).
Observou-se total conhecimento da realidade vivida por ele. Os prin-
cipais traços encontrados foram: introversão, imaturidade, autoestima
negativa, egocentrismo, ambivalência de comportamento, oscilação de
humor, insegurança, agressividade, falta de objetivos e interesse, ex-
cessiva fantasia, fixação por objetos, insatisfação com as normas e re-
gras sociais, imprudência, satisfação com as situações de perigo, gosto
pela velocidade, forte tendência piromaníaca e bastante capacidade
para planejar ações. Quanto à avaliação da inteligência, os resultados
obtidos através do R-1 e do Raven demonstraram boa capacidade in-
telectual, colocando-se acima da média para sua escolaridade e idade.
Porém, em relação à memorização, verificou-se dificuldades no campo
31
da memória auditiva e visual, classificando-se em categoria inferior ao
esperado.

5. Conclusão
Através dos dados analisados no psicodiagnóstico não foram verifica-
dos indícios de Deficiência Mental, porém, verificaram-se dificuldades
de ordem social e afetiva, piromania, fixação por objetos, obsessão,
pensamento autodestrutivo e oscilação de humor.
Diagnóstico: o paciente apresenta transtorno de personalidade antisso-
cial, CID-10: F60.2 + F91.3.
Encaminhamentos: encaminhado para tratamento psicoterápico e
acompanhamento psiquiátrico.
Fonte: Resolução CFP 007/2003

PARA SABER MAIS

Série sobre a temática: Investigação sobre a temática


Acesse os links:https://emais.estadao.com.br/blogs/daniel-martins-de-
-barros/o-crime-e-um-comportamento-e-comportamentos-podem-ser-
-prevenidos-ou-estimulados/
http://abpmc.org.br/arquivos/textos/14946884291ad2d30b09a.pdf
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

32
DAS QUESTÕES QUE ENVOLVEM
A VIOLÊNCIA DE GÊNERO E A
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

PROMINAS
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
- GRUPODO
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
NO ÂMBITO
DE GÊNERO

A violência é encontrada em diversos âmbitos da sociedade


JURÍDICA

e acontece com homens, mulheres, crianças, animais e órgãos admi-


E VIOLÊNCIA
DA PSICOLOGIA

nistrativos. A sociedade não está livre dessa mácula e, assim como foi
mencionado no capítulo anterior, o ser humano nasce com uma predis-
posição para cometer ações delituosas, caso não passe pelo devido
DIREITO DE FAMÍLIA

processo educacional e a devida instrução tende a reproduzir compor-


INTERVENÇÕES

tamentos transgressivos.
Dentre os tipos de violência que podem ocorrer em sociedade
estão a violência de gênero e a violência doméstica. O primeiro caso re-
presenta aquela violência praticada contra pessoas de um sexo ou gê-
nero e é enquadrada como violência física e psicológica. É comumente
tratada como uma questão de ordem cultural, sendo que a maior parte
33
das vítimas é composta por mulheres que sofrem abusos de homens e
é relacionada intrinsecamente a abusos emocionais.
Já a violência doméstica se caracteriza por ser praticada de
forma física, emocional ou psicológica com pessoas que se encontram
no âmbito do lar e pode atingir a todos que se enquadram no contexto
doméstico, sejam homens, mulheres, crianças ou idosos. Porém, nesse
caso também a maior parte das pessoas que são atingidas por esse tipo
de violência é composta por mulheres. Uma de suas peculiaridades é
que ela se configura entre pessoas conhecidas, que convivem no mes-
mo espaço. O rosto da violência doméstica é, assim, conhecido, dada a
convivência em uma mesma casa e o compartilhamento de uma mesma
vida, o que leva a vítima a viver com o medo dentro de sua própria casa,
o lugar que teoricamente deveria ser o seio da segurança e do amparo.
Desse modo, serão destacadas as características que se en-
quadram em cada um desses tipos de violência, assim como dados
que apontam esses índices de violência na sociedade e o impacto que
causam.

Violência de Gênero
O gênero pode ter sua definição como uma concepção históri-
ca e social de características relacionais, que se configura por meio de
simbolização e significações culturais das diferenças na anatomia entre
mulheres e homens. Por meio dele, é imposta a estipulação de papéis,
relações e identidades que são efetivamente elaboradas por indivíduos
no decorrer de suas vidas, nas sociedades, historicamente criando e
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

recriando relações que são marcadas por serem desiguais perante a


INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

sociedade, pautadas na subordinação e na dominação.


Na Lei Maria da Penha, a questão das relações de gênero é
descrita como sendo independente de orientação sexual, no artigo 5, §
único. Isso se dá porque a identidade de gênero é, por vezes, confun-
dida com orientação sexual, assim, é importante destacar os seguintes
termos: a orientação sexual pode ser definida pelo sexo que gera atra-
ção sexual a um indivíduo, podendo ser heterossexual, que se atrai por
um diferente do seu e homossexual que se sente atraído pelo mesmo
sexo.
A identidade de gênero se refere a qual gênero determinado
o indivíduo se sente parte, independentemente de qual for o seu sexo.
Gostaria de possuir reconhecimento no meio social como uma mulher
ou um homem?
A ideologia de gênero é um tipo de conduta que é passado
como adequado para as pessoas, que é aguardado e contemplado por
34
outros, que modelam as personalidades para que fiquem conformadas
às normas sociais e há a repressão de condutas que não se enquadram
nesses moldes e são transmitidas a todos os indivíduos desde o mo-
mento do nascimento.
A violência de gênero tem envolvimento da descrição social
de funções e papéis expostos para o feminino e o masculino. Todos
os tipos de sociedade impõem distintas participações para os homens
e as mulheres. Com esta atribuição desigual de funções, a sociedade
vai criando uma certa discriminação, já que determinados papéis, clas-
sificados conforme o gênero, recebem um peso de importâncias muito
diferentes.
No caso da sociedade em que vivemos, as atribuições e parti-
cipações masculinas são extremamente valorizadas, enquanto que as
femininas não possuem esse mesmo valor. Dessa forma, a diferença
que existe entre a força que essas atribuições têm acaba gerando rela-
ções impositivas e violentas.
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher entende que a violência de gênero é um insul-
to para a dignidade do ser humano e uma demonstração das relações
de poder que guardam, historicamente, uma profunda desigualdade en-
tre homens e mulheres.
Os papeis conferidos à homens e mulheres são representados
por um conjunto de códigos de comportamentos enraizados À uma edu-
cação que confere o controle das situações ao homem.
Isto tem sido interpretado de maneira que os homens devem
ditar às mulheres o que devem fazer, e estas, por sua vez, devem acei-

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


tar e cumprir, com ritos de entrega, contendo as suas vontades, man-
tendo-se sexualmente recatadas em uma vida que se volta apenas a
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
questões domésticas, com prioridade para a maternidade.
Este panorama cria circunstâncias que fazem o homem se
sentir no direito de se utilizar da violência e viabiliza uma compreen-
são que faz a mulher vitimizada pela agressão ficar imobilizada, muitas
vezes, e por mais que ainda tome algum tipo de procedência, envolta
nos laços que a subordinam, acaba se reconciliando com o agressor ou
companheiro, mesmo após muitos quadros de violência.
Por conta do papel que a sociedade atribui à mulher, é aponta-
do que esta submissão se dá em decorrência de situações concretas,
sejam elas psicológicas, físicas, econômicas ou sociais, em que a mu-
lher é paulatinamente forçada a submeter-se.
A violência de gênero se destaca por algumas características:
1. Ela é decorrente de um relacionamento de poder em que o
homem é dominante e a mulher é submissa; 2. Esse relacionamento de
35
poder é decorrente da diferença de valor dos papéis que são atribuídos
a homens e mulheres pela sociedade, a qual é acentuada pela ideolo-
gia do patriarcado, ocasionando relações de violência entre os sexos e
reproduzindo uma hierarquia de poder; 3. A violência não é evidenciada
apenas em uma relação entre homem e mulher, mas é também encon-
trada nas estruturas sociais, em instituições, rotinas cotidianas, ritos,
isto é, em todos os lugares que constituem espaços de relações sociais;
4. A relação afetiva e conjugal tende a aproximar o agressor e a vítima,
sendo caracterizada por uma relação familiar, doméstica ou íntima de
afeto, e o costume de condições de violência faz com que as mulheres
se tornem ainda mais expostas dentro do complexo de desigualdade
de gênero, quando se comparam a outros complexos de desigualdade
como de geração, etnia ou classe.
Atualmente, constata-se uma média de 13 assassinatos de
mulheres por dia. Esse é apontado como o maior número registrado
na década. O Atlas da Violência coloca um cenário de calamidade de
assassinatos. Foi registrado um recorde de 65.602 homicídios no Brasil
no ano de 2017, sendo que sua maioria faz vítimas homens jovens em
quadros de briga entre facções e violência urbana.
Ao mesmo tempo, também se atribui preocupação aos homicí-
dios de mulheres, pessoas LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, traves-
tis, transexuais e intersexuais) e negros.
Em relação às mulheres, o Atlas aponta que houve um aumen-
to de 20,7% na taxa nacional de assassinatos femininos entre os anos
de 2007 e 2017. Esse aumento é registrado principalmente por mulhe-
res negras. Seu número cresceu drasticamente em mais de 60% dentro
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

de uma década, se comparando com o aumento de 1,7% nos homicí-


dios de mulheres não negras.
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

A desigualdade entre raças é verificada também quando se tra-


ta do número de mulheres negras entre as vítimas de violências letais:
66% do total de mulheres que sofreram homicídios no Brasil no ano de
2017.
O crescimento crucial de assassinatos de mulheres negras se
comparando a mulheres não negras denota a gritante dificuldade que o
país tem de dar garantias ao acesso universal de suas políticas públi-
cas, como é possível observar na figura 1:

36
Figura 1: Evolução das taxas de homicídio de mulheres brancas e negras
(por 100 mil). Brasil. 2003/2013.

Fonte: Mapa da Violência 2015. Acesso em 2019.

Ao se analisar dados característicos de 2017, tem-se a des-


coberta do número próximo a 5 mil mulheres mortas, 53,8% das quais
foram assassinadas com armas de fogo, enquanto 26,8%, com ferra-
mentas cortantes.
Foi verificado um expressivo aumento de 30,7% de assassi-
natos contra mulheres no Brasil durante a década de 2007-2017, da
mesma forma que neste último ano, o registro apontou o crescimento
de 6,3% em relação a 2016.
O fenômeno estrondoso e as suas ramificações podem ser

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


conferidos em termos de taxa de assassinato englobando um grupo
com 100 mil mulheres, permitindo uma comparação temporal e entre as
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
diferenças de estados.
Entre os anos de 2007 e 2017, foi aferido um crescimento de
20,7% na taxa de assassinatos femininos no Brasil, por um grupo de
100 mil mulheres. Durante este tempo, foi registrado aumento da taxa
em 17 estados. No recorde registrado entre 2012 e 2017, foi verificado
um crescimento de 1,7% no índice nacional e um crescimento ainda
mais amplo, de 5,4%, em 2017, como é possível observar na figura 2:

37
Figura 2: Taxa de Homicídio por 100 mil mulheres no Brasil

Fonte: IBGE. Acesso em 2019.

Desde o ano de 2015, foi criada no Brasil uma lei que se es-
pecializa em limitar assassinados praticados contra mulheres que se
baseiam em questões de gênero, a Lei do Feminicídio, que possui pe-
nas entre 12 e 30 anos de cadeia. Como a Lei é recente, ainda não são
todos os casos de violência contra a mulher que estão sendo enquadra-
dos pelas autoridades.
Os dados apontam que quase 40% dos homicídios de mulhe-
res foram cometidos em casa, fazendo com que as chances de se tratar
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de um feminicídio sejam grandes.


Outra questão que é observada é que a maior parte do cres-
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

cimento dos casos ocorreu em alguns dos estados do Nordeste e do


Norte. Um dos exemplos desse maior índice é o Ceará, tendo registrado
71,6% de aumento de assassinatos femininos dentro de uma década,
enquanto no Rio Grande do Norte, o crescimento foi de 48%.
Esta pesquisa tem registrado que apenas em 2017, mais de
221 mil mulheres buscaram delegacias policiais para realizar os regis-
tros de agressões, que se caracterizam como lesão corporal dolosa,
decorrendo de violência dentro de suas próprias casas.
Heise (1994) confere uma relação de condições que pode resu-
mir, de forma qualitativa, a análise da violência por questão de gênero:
1. As mulheres estão sujeitas à violência que pode ocorrer,
principalmente, por homens conhecidos por elas.
2. A violência por questão de gênero acontece em todos os
tipos de grupos econômicos e sociais;

38
3. A violência que ocorre dentro do ambiente do lar tem uma
magnitude tão grande quanto a agressão por pessoas desconhecidas;
4. Mesmo que as mulheres também possam ser violentas, a
maior parte das agressões acabam resultando em lesões de caráter fí-
sico de homens contra mulheres, ou seja, a agressão sexual é praticada
pelo sexo masculino;
5. Dentro de relacionamentos estabelecidos, a violência pode
possuir diversas faces e tem a tendência de se tornar pior com o decor-
rer do tempo;
6. Em grande parte, os homens que possuem um caráter vio-
lento não são acometidos por doenças mentais;
7. O abuso psicológico e emocional pode cometer tantos da-
nos quanto um abuso com agressões físicas, sendo em grande parte
apontado como pior por mulheres que passaram por essa experiência;
8. O consumo de álcool intensifica a violência, porém, ele não
pode ser tratado como uma motivação para isso;
9. Existem sociedades em que a violência contra a mulher não
é empregada.

Com base no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos


Humanos, Sinan e o Disque 100 têm recebido diversas denúncias en-
volvendo também o público LGBTI+.
Em 2017, o Disque 100 registrou 193 denúncias de assassi-
nato, 26 de tentativas de assassinato e 423 de lesões corporais contra
este público. Por mais que esta população tenha registrado crescimen-
to, a violência contra ela também cresceu exponencialmente.

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


O Atlas da Violência de 2019 expõe uma seção original que
aponta a questão da violência contra o público LGBTI+, na qual são res-
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
saltados dois pontos essenciais. O primeiro aponta para a magnitude do
tema e como, de forma aparente, essa questão tem se acentuado duran-
te os últimos anos. O segundo aspecto levanta o quesito deste problema
ser tratado como se fosse invisível, sob a ótica da elaboração oficial de
estatísticas e índices, conforme é possível observar na figura 3:

39
Figura 3: Denúncias de violência contra LGBTI+ Disque 100

Fonte: Disque 100. Acesso em 2019.

Violência Doméstica
A violência doméstica se caracteriza por fazer uso de certos
comportamentos dentro de um relacionamento, pelo fato de um dos par-
ceiros, acima de tudo, assumir o controle sobre o outro.
Os indivíduos que estão implicados podem ser ou não casa-
dos, podem ser ou não do mesmo sexo, viver juntos, separados ou
apenas namorar. Todos podem ser vítimas de violência doméstica.
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

Os sujeitos que são vítimas podem ser pobres ou ricos, não


dependem de idade, nem de sexo, cultura, religião, orientação sexual,
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

grupo étnico, estado civil ou formação. A violência doméstica abarca


todos os atos que são apontados como crimes e que são realizados
nesse aspecto. Portanto, ela pode ser cometida contra crianças, mulhe-
res, adolescentes e idosos, e em grande parte das vezes, o agressor é
membro da própria família das vítimas.
Um dos pontos mais importantes que tem favorecido a violên-
cia de caráter físico, como os espancamentos, é a personalidade de-
sestabilizada do agressor, que não consegue lidar com pequenas desi-
lusões no relacionamento ocasionadas no cotidiano.
A descrição do agressor possui características como a falta de
paciência, autoritarismo, grosserias, irritabilidade e injúrias constantes
que são, por vezes, acompanhadas por uso de drogas e álcool.
A ideia antiga de que o criminoso era uma pessoa entranha
que estaria escondida em uma rua escura vem mudando o seu caráter
40
e, em direção à luz, suas feições são bem conhecidas, são familiares,
conforme é possível observar na figura 4:

Figura 4: Violência contra a Mulher

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
Ao redor do mundo, uma em cada três mulheres, no mínimo,
já sofreu com espancamentos, coação sexual ou qualquer outro tipo de
abuso ao longo da vida. O agressor, geralmente, é um integrante da sua
família. A violência exercida contra a mulher é a que mais se generaliza
como abuso dos direitos humanos ao redor do mundo, porém é a que
menos se reconhece, dadas as suas condições de mascaramento.
As violências domésticas podem ser divididas em: escapamen-
tos (sendo que há um grande número de crianças de até cinco anos que
são agredidas pelos familiares); abusos sexuais (que acontecem entre
meninas de idades entre sete a dez anos); e danos morais, mais co-
mumente entre mulheres e adolescentes. Os idosos também estão en-
trando como partícipes da violência doméstica, assim como as crianças
e adultos que necessitam de cuidados especiais e sofrem agressões,
41
inclusive, por pessoas que são contratadas por membros da família.
Esse tipo de violência tem como características a omissão ou
o ato de índole criminosa entre indivíduos que se encontram no mesmo
local domiciliar, morando nele ou não. Podem ser ex-companheiros, ex-
-cônjuges, ex-namorados, pais que possuem descendentes em comum
e que realizam os seguintes tipos de sofrimento: psicológicos, físicos,
econômicos e sexuais.
A violência contra as mulheres acontece de maneira diferente
dos casos de violência interpessoal de modo geral. Os homens pos-
suem uma probabilidade maior de se tornarem vítimas de pessoas es-
tranhas, que não são conhecidas por eles, enquanto que as mulheres
possuem uma probabilidade maior de se tornarem vítimas de integran-
tes de seu próprio seio familiar ou de seus parceiros de relacionamento.
Em se tratando de forma mais agressiva de violência, ela pode
levar à morte da mulher. Ressalta-se que de 40 a 70% dos assassinatos
de mulheres, ao redor do mundo, é praticado por companheiros íntimos.
Fazendo uma comparação, a porcentagem de homens que são mortos
por suas companheiras é mínima e, com frequência, nesses casos, as
companheiras estavam exercendo a sua defesa ou replicando o abuso
que lhe foi aplicado.
A pobreza pode acentuar a possibilidade de mulheres serem
acometidas pelos crimes de violência. No aspecto da violência domés-
tica, o abuso praticado pelo companheiro íntimo é frequente como uma
parte de modelo que se repete, de dominação e controle, do que ape-
nas uma atitude de agressividade física.
O abuso praticado pelo companheiro pode se configurar de
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

diversas maneiras, como por meio de agressões físicas (tapas, golpes,


surras e chutes), tentativas de provocar estrangulamentos e queima-
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

duras, quebrar objetos que são considerados como favoritos da vítima,


quebrar móveis, ameaças ferir os filhos ou demais integrantes da famí-
lia.
O abuso psicológico recorre ao menosprezo, humilhações e
intimidações constantes; coação de práticas sexuais; atitudes para as-
sumir o controle, como isolar a mulher em relação a seus amigos e sua
família; vigiar de forma constante suas ações e restringir a acesso a
vários tipos de recursos.
A violência doméstica é capaz de ser distinguida em dois as-
pectos:
- Violência Doméstica em Sentido Literal: corresponde a
ações criminosas que são enquadradas no artigo 152 como maus-tra-
tos psíquicos; maus-tratos físicos; coação; difamação; ameaça; injúrias
e crimes sexuais.
42
- Violência Doméstica em Sentido Extensivo: são adiciona-
dos outros crimes que ocorrem em âmbito domiciliar: perturbação da
vida privada; violação de domicílio; exposição da vida privada (como
o compartilhamento de conversas telefônicas, imagens, revelação de
segredos, e-mails e fatos privados); violência sexual; violação de teleco-
municações ou correspondências; violação da obrigação de alimentos;
subtração de menor; dano (podendo ser roubo ou furto); assassinato:
tentativa ou execução.
A violência doméstica pode ser praticada das seguintes formas:
- Violência Emocional: se enquadra em qualquer tipo de con-
duta do companheiro que pretende fazer com que o outro se sinta inú-
til ou acuado. O sujeito que pratica a violência emocional tem como
comportamentos usuais: ameaçar os animais de estimação; magoar as
crianças; humilhar o outro seja na companhia de familiares, amigos ou
mesmo em público.
- Violência Social: qualquer tipo de conduta que tente con-
trolar a vida social do parceiro, como por exemplo proibir de fazer visi-
tas a amigos e familiares; corte de telefone ou excessivo controle das
ligações e das contas telefônicas; assim como trancar a outra pessoa
dentro de casa.
- Violência Física: qualquer tipo de agressão física da pessoa
contra o companheiro. Se apresenta como pontapés, murros, queima-
duras, estrangulamento, impossibilitar o acesso da pessoa a tratamen-
tos ou medicamentos, conforme se pode observar na figura 5:

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

43
Figura 5: Lesão Corporal por Violência Doméstica
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

Fonte: Secretaria de Segurança Pública. Acesso em 2019.


INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

- Violência Sexual: se relaciona com qualquer tipo de atitude


em que o parceiro obrigue a outra pessoa a realizar práticas sexuais
que ela não quer. São exemplos: colocar pressão ou obrigar o outro a
praticar relações sexuais que não deseja; tentar e obrigar que o parceiro
tenha relações sexuais sem proteção; obrigar a outra pessoa a se rela-
cionar sexualmente com demais pessoas.
- Perseguição: qualquer atitude que tem por propósito a intimi-
dação e a provocação de medo no outro. Como segui-lo até seu traba-
lho ou quando sai de casa sozinho; controlar a sua movimentação etc.
A violência doméstica funciona como um ciclo vicioso, que pas-
sa por três etapas:
- Crescimento da tensão: momento em que as tensões concen-
tradas do dia a dia, as ameaças e as humilhações provocadas pelo agres-
sor formam na vítima um sentimento de perigo e insegurança elevado;

44
- Ataque com violência: o agressor atormenta o psicológico e
o físico da vítima, aumentando sua intensidade e a frequência com que
acontecem;
- Lua de mel: o agressor enche a vítima com amor e afabilida-
de, pedindo desculpas pelos ataques violentos e compondo uma rasa
promessa de mudança, de que não haverá mais agressividade, confor-
me se pode observar na figura 6:

Figura 6: Tipos de Violência Contra a Mulher em Minas Gerais

Fonte: CINDS. Acesso em 2019.

As crianças também podem ser vistas como vítimas dos casos


de violência doméstica. Elas podem ser apontadas como testemunhas
da violência, quando assistem e/ou ouvem os abusos serem praticados
contra a vítima, podendo visualizar os sinais deixados nos corpos das

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vítimas e observam as consequências das agressões sobre quem está
sofrendo.
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
As crianças tendem a ser utilizadas como objetos quando o
pai ou a mãe usam os filhos como uma maneira de exercer controle e
abusos sobre o outro. Mais que isso, as crianças podem ainda ser abu-
sadas de forma psicológica ou físicas por quem agride ou, até mesmo,
por quem é agredido.
Apesar de serem as mulheres a configurar majoritariamente
as vítimas, pelos índices de violência doméstica, os homens também
podem ser vitimados por elas. As mulheres também praticam violência
contra os homens e não apenas por legítima defesa. O sexo masculi-
no passa consequentemente por controle abusivo, tornando-se objetos
de agressões físicas, assim como psicológicas. A vergonha e o medo,
somados ao sentimento de humilhação, barram muitos homens, que
preferem não recorrer a nenhum pedido de ajuda.
A violência doméstica contra o público LGBTI+ possui carac-
45
terísticas semelhantes a qualquer tipo de relação abusiva, entretanto
existem pontos em que se diferem. Um dos exemplos é o uso de inti-
midação, caso um dos parceiros ainda não tenha revelado sua homos-
sexualidade, assim coloca medo e pressão com o propósito de expor o
companheiro, controlando a vítima.
Por receio de buscar ajuda e contatar organizações públicas,
muitas pessoas LGBTI+ possuem uma dificuldade aumentada em obter
auxílio. Isto acrescido à discriminação e pedidos de ajuda em solução,
podem levar ao isolamento e, como consequência, a uma maior vulne-
rabilidade.
As mães também entram na conta de violência doméstica ao
espancarem seus filhos, o que configura uma fragmentação no vínculo
afetivo entre mãe e filho.
Essas crianças tendem a apresentar enormes dificuldades
para ganho de peso nos meses iniciais de vida, durante a fase escolar
não possuem a capacidade para estabelecer uma vinculação positiva
com os professores, assim como com o aprendizado.
Ao se observar o comportamento de crianças dentro do uni-
verso escolar, ressalta-se que as crianças são espelhadas por tudo que
recebem e acontece dentro de suas casas. Se elas passam por conví-
vio de condições agressivas, podem reproduzir essas mesmas formas
no espaço escolar, entre os colegas e com a professora; Além disso,
podem apresentar comportamentos de exclusão do grupo em suas re-
lações sociais.
A violência psíquica se dá de maneira específica, em que a
autoestima e a moral do sujeito são destruídas, não compondo sinais
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

visíveis no corpo do vitimizado, que geralmente são mulheres e ado-


lescentes. Os sinais nesse caso, são internos, na psique da vítima, e
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

se configuram por meio de xingamentos, humilhações, chegando até a


ameaças contra a sua vida.
O estudo e a pesquisa sobre as questões da violência domés-
tica exigem uma conduta que possua muita sensibilidade e tolerância.
As emoções que se envolvem podem despertar sentimentos diversos,
como a tristeza, a raiva, a recusa, a pena e o sentimento de impotência.
A inclinação de se identificar com a vítima de agressão trans-
forma o trabalho da equipe em uma experiência que, em grande par-
te das vezes, é muito dolorosa. O estranhamento, o sinistro de Freud,
restaura a quem observa as experiências precoces que são vividas por
um bebê que está em uma condição de desamparo, se afogando em
experiências de desprazer.
Os conflitos que se acentuam na mente de uma mãe são per-
sistentes como sinais de memória na vida do bebê, de uma maneira in-
46
tensa de acordo com a experiência particular. Tal situação, de um modo
ou de outros, faz com que todos se sintam identificados. A reação inicial
é a de negação, ou evitar, colaborando para o crescimento do “Muro de
Silêncio”, lugar onde a violência se produz.
O Ministério da Saúde tem registrado que, no Brasil, a cada
quatro minutos, uma mulher sofre agressões por pelo menos um ho-
mem e consegue sobreviver. Em 2018, foram tomados registros de
mais de 145 mil casos de violência, sendo estes sexuais, psicológicos,
físicos, ou outros mais, em que as vítimas conseguiram sair vivas. Cada
registro desses pode possuir mais de um tipo de violência configurada.
O Atlas da Violência do IPEA do ano de 2017, último lançado
até então, aponta que o índice de assassinatos de mulheres chegou a
um nível recorde, marcando 4,7 homicídios a cada 100 mil habitantes.
Os casos de assassinato de mulheres tiveram um crescimento
de 44% durante o primeiro semestre de 2019, no estado de São Pau-
lo, comparando com dados do ano de 2018. Na metade deste ano, 82
mulheres foram assassinadas, enquanto que o registro de 2018 aponta
para 57 casos.
A maioria dos casos de violência contra as mulheres (73%)
acontece dentro de seus lares: 60 de 82. É colocado que em 46% dos
casos, o agressor é apreendido em ato flagrante. A média para a idade
das vítimas que foram assassinadas neste ano é de 36 anos.
De acordo com pesquisas realizadas pelo Conselho Nacional
de Justiça, entre os anos de 2016 e 2018, os casos pendentes de vio-
lência doméstica aumentaram de 892.273 para 1.009.165. Assim como
cresceram também os índices de medidas protetivas, que são voltadas

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


tanto para a vítima quanto para o agressor, as quais, em 2016, eram
249.595 e em 2018 chegaram a 339.216. A taxa de feminicídio, infeliz-
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
mente, cresceu também durante estes anos, sendo que em 2016 foram
registrados 3.339 casos, enquanto que em 2018 o número subiu para
4.461 casos.
Os dados apontam para um crescimento massivo de agres-
sões contra as mulheres, assim como seus assassinatos. É um caso
que deve envolver muita seriedade de toda a sociedade e, sobretudo,
dos governantes, já que esses números demonstram que medidas mais
drásticas devem ser tomadas.
No atual quadro de violência, a cada dois minutos, cinco mu-
lheres são vítimas de agressão, enquanto a cada duas horas, uma mu-
lher é assassinada, sendo em grande parte das vezes, o agressor co-
nhecido por ela.
Os direitos das mulheres são completamente subtraídos quan-
do expostos a estes dados. Elas não possuem mais um lugar para se
47
sentirem seguras, para acreditarem estar livres de ameaças e das atro-
cidades do mundo. As ruas não são seguras, seus lares não são se-
guros. Para onde fugir? Para onde vamos para nos protegermos de
nossos algozes, que estão dentro de nossa própria casa?
As mulheres não podem deixar de se unir contra esses núme-
ros e contra esses atos. Pois não pode haver nenhuma mulher a menos!
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INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

48
QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO 1
Ano: 2015 Banca: FCC Órgão: DPE-SP Prova: Psicólogo
O Brasil é signatário de tratados e documentos internacionais que
definem medidas para a eliminação da violência contra a mulher.
Essas medidas dependem de diferentes atores nos âmbitos do go-
verno e da sociedade, bem como da introdução de conhecimen-
tos específicos e tecnologias diferenciadas para profissionais que
atuam diretamente na atenção à saúde, integrada a outras inicia-
tivas, possibilitando, assim, a formação de redes de atenção para
mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e se-
xual. Tais redes de atenção integrada devem trabalhar em conso-
nância com as redes e o sistema de proteção de direitos de crian-
ças e adolescentes. (Adaptado de: BRASIL, Ministério da Saúde,
2011, p.13).
Tendo em vista o excerto acima, considere:
I. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher −
PNAISM, 2004, tem como base o Programa de Atenção Integral de
Saúde da Mulher − PAISM, 1983, ambos elaborados com participa-
ção dos movimentos sociais, em especial o feminista. O foco de
ação da PNAISM é a saúde integral da mulher, incluindo a promo-
ção da saúde.
II. Os atendimentos da equipe multidisciplinar, nos Centros de
Atendimento Multiprofissionais – CAM, são direcionados às mulhe-

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res que sofreram violência no contexto intrafamiliar − doméstica,
psicológica, física, moral, patrimonial ou sexual; sendo os casos
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
de violência extrafamiliar encaminhados para a rede de atenção.
III. Por gênero, noção central na Lei Maria da Penha (Lei nº
11.340/2006), na PNAISM e na Política Nacional de Enfrentamento
à Violência contra as Mulheres, entende-se as relações de poder
entre homens e mulheres, construídas histórica e socialmente, e
marcadas por desigualdades sociais.
IV. Nos Centros de Atendimento Multiprofissionais da Defensoria
são atendidos os casos de violação de direito da mulher em situa-
ção de violência que, além de receber assistência jurídica, podem
ser encaminhados para a rede de atenção: casa-abrigo, delegacia
especializada, centro de saúde, centro de referência especializado
de assistencial social e conselho tutelar.
Está correto o que se afirma APENAS em:
A) I, III e IV.
49
B) II, III e IV.
C) II e III.
D) I e II.
E) I, II e IV.

QUESTÃO 2
Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: DPE-RJ Prova: Técnico Superior Es-
pecializado - Psicologia
O Núcleo Especial de Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) é o
órgão da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro especia-
lizado na promoção e na defesa dos direitos das mulheres no esta-
do. Sandra procurou o Nudem para relatar que a sua companheira
Aline passou a ameaçá-la e a provocar escândalos em seu local de
trabalho, desde que lhe comunicara a decisão de terminar o rela-
cionamento de cinco anos.
Sobre a situação relatada acima, é correto afirmar que:
A) não está tipificada como situação de violência contra a mulher por se
tratar de união homoafetiva.
B) configura conduta de violência psicológica e moral praticada por Ali-
ne, contra Sandra.
C) constitui conduta de violência de gênero contra Aline, praticada por
Sandra.
D) não configura forma de violência prevista na lei, já que se trata de
conduta decorrente de conflito conjugal.
E) poderá ensejar a condenação de Aline ao pagamento de cesta bási-
ca por ofender a integridade psicológica de Sandra.
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

QUESTÃO 3
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: MPE-BA Prova: Analista Técnico -


Psicologia
Desde que foi criada, em 2006, a Lei Maria da Penha tem sido reco-
nhecida pela maioria dos brasileiros como importante instrumento
de punição aos homens que agem com violência contra as compa-
nheiras.
A lei também prevê programas que visam à reabilitação e reeduca-
ção do agressor, tendo como objetivos, EXCETO:
A) estimular o rompimento do ciclo de violência.
B) prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
C) fomentar a responsabilização da mulher pela violência.
D) contribuir para a equidade de gênero.
E) refletir sobre a ideologia patriarcal e as relações de poder.

50
QUESTÃO 4
Ano: 2017 Banca: IBFC Órgão: TJ-PE Prova: Analista Judiciário -
Psicólogo
Maria da Penha é o nome de uma lei (Lei Maria da Penha) que traz
uma série de medidas que não só pune, mas também impede que
aconteçam agressões contra mulheres pelos próprios companhei-
ros. Neste sentido, analise as seguintes afirmativas:
I. O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os di-
reitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas
e familiares.
II. Na interpretação desta Lei, não são consideradas as condições
peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e fa-
miliar.
III. Quanto à assistência à mulher em situação de violência domés-
tica e familiar, o juiz assegurará à mulher manutenção do vínculo
trabalhista, quando necessário o afastamento do local do trabalho,
por apenas dois meses.
Assinale a alternativa CORRETA:
A) Apenas a afirmação I está correta.
B) As afirmações I e II estão corretas.
C) As afirmações I e III estão corretas.
D) Apenas a afirmação III está correta.
E) Todas as afirmações estão corretas.

QUESTÃO 5
Ano: 2017 Banca: PUC-PR Órgão: TJ-MS Prova: Técnico de Nível

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


Superior - Psicologia
A legislação brasileira a respeito da violência doméstica e fami-
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
liar contra a mulher prevê centros de educação e reabilitação para
agressores que poderão ser criados e promovidos pela União, Dis-
trito Federal, Estados e Município, no limite de suas competências.
Já se encontram, em vários Estados do País, iniciativas de inter-
venção junto ao autor da violência doméstica.
Sobre os pressupostos sistêmicos que fundamentam tais interven-
ções, assinale a alternativa CORRETA.
A) Nas intervenções grupais com autores de violência doméstica, uma
vez que são os responsáveis pela ocorrência, o direcionamento da
atuação do psicólogo deve ser eminentemente jurídico, demonstrando
para eles todas as consequências legais de seus atos.
B) A ideia de reciprocidade causal não é relevante para abordagem psi-
cológica do autor de violência doméstica, pois a lei será aplicada com
base na positividade jurídica.
51
C) A busca de causalidade intrapsíquica para a ocorrência da violência
é a meta fundamental da atuação psicológica junto ao autor, pois se
fundamenta que sua escolha em realizar o ato violento independe da
sua rede de relações.
D) A dificuldade na efetividade na aplicação da Lei Maria da Penha foi
um dos motivos que fomentou iniciativas de implementação de inter-
venções psicológicas junto ao autor, uma vez que, na violência domés-
tica por parceiros íntimos, é recorrente a desistência do processo pelas
mulheres, quando isso é legalmente possível. Tal fato é consequência
de ser modalidade de violência na qual questões relacionais estão pre-
sentes.
E) A proposta de justiça restaurativa nas ocorrências de violência do-
méstica pode ser uma das formas de implicar o autor nos desdobramen-
tos psicossociais de seu ato com relação à vítima. Esse fato é facilitado
pelo enfoque retributivo dessa modalidade de intervenção cuja meta é
a penalização

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

No Brasil, cerca de cinco mulheres são espancadas a cada dois minu-


tos, sendo que na maior parte das vezes o agressor é o seu parceiro,
segundo dados divulgados pela pesquisa Mulheres Brasileiras nos Es-
paços Público e Privado. Nesse sentido, apresente uma definição para
a violência doméstica.

TREINO INÉDITO
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

Assunto: Violência de Gênero


INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

A definição de gênero pode ser compreendida como a construção psi-


cossocial do masculino e do feminino, sendo que essa diferenciação
representa a presença das desigualdades entre homens e mulheres.
Assim, imagine uma situação na qual Rhysand e Feyre são casados e
não desejam ter filhos, mas por um acaso esta acabou engravidando
acidentalmente, em virtude disso, Rhysand desfere uma série de amea-
ças contra a sua esposa. Essa violência pode ser definida como:
A) Violência Física.
B) Violência Psicológica.
C) Violência Sexual.
D) Violência Simbólica.
E) Todas as alternativas anteriores.

52
NA MÍDIA

Violência de gênero e mortes no trânsito acontecem com mais frequên-


cia na Sé

Pela primeira vez, a Rede Nossa São Paulo trouxe dados sobre violên-
cia no Mapa da Desigualdade. No Distrito da Sé, na região central da
cidade, a chance de uma mulher ser assassinada simplesmente porque
é mulher é 56 vezes maior que em outros 20 distritos, entre eles regiões
de classe média alta, como Moema, Centro e Bela Vista.
O mapa considera os dados de 2018, quando foram registrados oito
casos de feminicídio para cada dez mil mulheres com idades entre 20 e
59 anos nas delegacias da Sé. A violência de gênero também é maior
nesse mesmo distrito, com 803 registros. A agente de saúde Simone
Kelly da Silva nunca imaginou que seria brutalmente agredida mesmo
depois da separação.

Fonte: CBN
Data: 05 de novembro de 2019
Leia a notícia na íntegra: http://cbn.globoradio.globo.com/media/au-
dio/280279/violencia-de-genero-e-mortes-no-transito-acontecem.htm

NA PRÁTICA

Supremo Tribunal Federal STF – AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTI-


TUCIONALIDADE: ADC 19 DF

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI Nº 11.340/06. GÊNEROS MASCULI-
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
NO E FEMININO. TRATAMENTO DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei
nº 11.34/06 surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado entre os
gêneros mulher e homem, harmônica com a Constituição Federal, no
que é necessária a proteção ante as peculiaridades física e moral e
a cultura brasileira. COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI
Nº 11.340/06. JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER. O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no que revela a
conveniência de criação dos juizados de violência doméstica e familiar
contra a mulher, não implica usurpação da competência normativa dos
estados quanto à própria organização judiciária. VIOLÊNCIA DOMÉS-
TICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. REGÊNCIA. LEI Nº 9.099/95,
mostra-se em consonância com o disposto no §8º do artigo 226 da Car-
ta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar meca-
nismos que coíbam a violência no âmbito das relações familiares.
53
PARA SABER MAIS

Filme: Violência Doméstica


Acesse os links: http://www.pmpf.rs.gov.br/servicos/geral/files/portal/
cartilha-violencia.pdf
http://www.tjrj.jus.br/web/guest/observatorio-judicial-violencia-mulher/o-
-que-e
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

54
LEGISLAÇÕES E
SUAS ESPECIFIDADES

PROMINAS
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS
LEI MARIA DA PENHA

INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO


- GRUPO
NO ÂMBITO DO
A Lei Maria da Penha entrou em vigor em 07 de agosto de
2006, sendo a Lei nº 11.340, que tem o objetivo de proteger as mulhe- DE GÊNERO

res que sofrem pela violência doméstica e familiar. Esta lei trata com
JURÍDICA

mais rigor da penalidade para atos de agressão contra a mulher, quan-


E VIOLÊNCIA
DA PSICOLOGIA

do praticados em esfera familiar e doméstica e recebeu este nome em


compromisso à luta travada pela farmacêutica Maria da Penha para que
seu agressor fosse condenado por seus crimes.
DIREITO DE FAMÍLIA

A primeira ocorrência de prisão, que teve como base as novas


INTERVENÇÕES

normas estabelecidas, foi a de um homem que tentou estrangular sua


mulher, no Rio de Janeiro.
Esta lei é adequada para todos os indivíduos que se reconhe-
cem como do sexo feminino, sejam hétero ou homossexuais. Isso mos-
tra que as mulheres transexuais também são abraçadas por ela, visto
que, da mesma forma, a vítima encontra-se em uma condição de vulne-
55
rabilidade em referência ao seu agressor. Quem agride não necessita
ser, obrigatoriamente, o companheiro ou o marido da vítima: pode ser
um membro da família ou um sujeito que seja de sua convivência.
A Lei Maria da Penha não abrange somente as ocorrências
de agressões físicas. Nela estão previstas também as condições que
configuram violência psicológica, que pode consistir no ato de afastar a
vítima do convívio da família e dos amigos; destruir documentos e obje-
tos importantes; ofender; caluniar e difamar.
Esta lei trouxe consigo algumas novidades que deixaram as
vítimas mais aliviadas com a sua aplicação: a efetivação da prisão do
agressor; os atos de violência doméstica se tornam um ponto agravante
para o aumento da pena; não existe mais a possibilidade de remediar
a pena pelo pagamento de multas ou por contribuição com cestas bási-
cas; ocorre a efetivação de ordens em que o agressor deve se afastar
da vítima e de seus familiares; há auxílio econômico nos casos em que
a vítima depende financeiramente do agressor, conforme é possível ob-
servar na figura 7 a seguir:

Figura 7: Lei Maria da Penha


DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

Fonte: TJDFT. Acesso em 2019.

56
História
Maria da Penha é uma farmacêutica brasileira, nascida no es-
tado do Ceará, que passou por muito sofrimento devido a agressões
constantes praticadas pelo marido. No ano de 1983, seu marido tentou
assassiná-la com tiros de uma espingarda, enquanto estava dormindo.
Por mais que tenha escapado da morte, Maria da Penha ficou
paraplégica. Quando, após tratamento e tempos no hospital, voltou para
sua casa, seu marido tentou matá-la novamente, fazendo-a passar por
novos ataques com choques e tentativa de afogamento.
Sua segunda tentativa de assassinato aconteceu algum tempo
depois, enquanto passava por recuperação médica, Maria da Penha foi
empurrada de sua cadeira de rodas pelo marido, que tentou aplicar-lhe
choques debaixo do chuveiro. Este apenas recebeu uma punição após
19 anos do ocorrido, sendo que passou apenas dois anos em regime
fechado.
Após tomar coragem para abrir denúncia contra o seu agres-
sor, Maria da Penha se encontrou em uma condição que várias mulhe-
res estavam enfrentando com relação a essas mesmas ocorrências: a
desconfiança da Justiça do Brasil.
O caso começou a ser investigado em junho daquele mesmo
ano, entretanto, a denúncia só foi realizada ao Ministério Público Esta-
dual em setembro do ano seguinte. Por parte da defesa do agressor,
havia sempre a alegação de pontos de irregularidade em meio ao pro-
cesso e este tinha seu julgamento aguardado em liberdade.
Do mesmo modo, Maria da Penha decide pedir ajuda para o

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e também ao Co-
mitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher

INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO


(CLADEM). Estas organizações encaminharam a sua ocorrência para
a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos (OEA), em 1998.
A ocorrência de Maria da Penha apenas foi resolvida em 2002,
quando o Brasil foi considerado responsável por negligência e omissão
pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. Desse modo, o Estado
brasileiro teve que colocar em prática o compromisso de reformulação
das suas políticas e leis que tangem a violência doméstica.
Anos após a sua declaração, a Lei Maria da Penha foi classifi-
cada como uma conquista. Somente 2% de brasileiros nunca chegaram
a ouvir falar sobre a lei e ocorreu um crescimento de 86% de denúncias
em relação à violência doméstica e familiar depois de sua elaboração.

57
Implementação
Assim, a Lei Maria da Penha muda o Código Penal e cria a
possibilidade para que os agressores das mulheres, em esferas fami-
liares e domésticas, possam ser presos em flagrante ou recebam o de-
creto de prisão preventiva. Através destas novas formas, os abusadores
não podem mais receber penas alternativas, como a doação de cestas
básicas, como era comum.
A lei ainda estende o tempo completo de detenção de um para
três anos, impondo medidas tais como a saída do agressor do domicílio
e o impedimento de se aproximar da mulher que passou pela agressão
e dos filhos.
A violência de gênero que é praticada contra a mulher é vis-
ta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma perturbação
para a saúde pública. Dados de uma pesquisa elaborada pela institui-
ção consideram taxas de incidência de 20% a 75% desse modo de vio-
lência em várias sociedades. O Brasil foi declarado como 18º país
da América Latina a adquirir um aparato legal que visa a punição de
agressores de mulheres.
A Lei Maria da Penha efetua deliberações que foram determi-
nadas por uma convenção representativa da Organização dos Estados
Americanos (OEA) com o título de Convenção para punir, prevenir e er-
radicar a violência contra a mulher, que aconteceu em Belém, no Pará,
e foi reconhecida pelo Estado brasileiro.
Existe um grande número de mulheres que não recorre à aju-
da de autoridades policiais por haver sentimentos de vergonha, medo
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

e falta de acreditar que a sua denúncia seja realizada e resolvida com


eficiência.
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

A orientação da Comissão Interamericana de Direitos Huma-


nos foi a referência para a elaboração da lei. Um grupo de entidades
se reuniu para a definição de um esboço, no qual seriam definidas as
formas de violência familiar e doméstica contra as mulheres e o esta-
belecimento de instrumentos que provoquem a redução e a prevenção
destes tipos de violência, prestando também, auxílio para as vítimas.
Em 2006, a Lei Maria da Penha é vigorada. Porém, alguns da-
dos um pouco mais recentes apresentam o problema: mesmo com a
aplicação da lei, uma pesquisa realizada em 2010 pela Fundação Per-
seu Abramo apontou que a cada dois minutos uma mulher é agredida
no Brasil; enquanto uma em cada cinco afirmam que já foram vítimas
de algum tipo de violência de um homem, sendo ou não conhecido.
Entretanto, o companheiro é o encarregado por 80% das ocorrências
registradas, conforme é possível observar na figura 8 a seguir:
58
Figura 8: Violência contra a Mulher no Brasil

Fonte: IBASE. Acesso em 2019.

Existe a necessidade de elevar a importância de recursos, hu-


manos ou financeiros, para serviços que se especializem em atender
com ponto de vista de gênero, etnia e raça e que possam incorporar

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


outras experiências vividas pelas mulheres, assim como o desenvolvi-
mento de ações que ensinem a prevenção, dentro do ambiente escolar,
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
com a educação de igualdade de gênero.
Em 2011, um relatório abordando a condição das mulheres no
mundo, publicado pela ONU, faz uma citação à Lei Maria da Penha,
para o combate da violência doméstica.
Este ano completam-se 13 anos que a lei entrou em vigor e, in-
felizmente, os números de agressões e assassinatos de mulheres estão
crescendo em todas as regiões do país.
No mês de novembro de 2017 houve a publicação da lei
13.505/17, que implementou aparatos para a Lei Maria da Penha. A lei
introduziu que mulheres que sofrem de condições de violência familiar
e doméstica devem receber atendimento, preferencialmente, por parte
de peritas e policiais do sexo feminino.
A lei define também que, assim como outros, a mulher possui
o direito de que, em condições de violência, exista a garantia de que,

59
em hipótese alguma, suas testemunhas e seus familiares mantenham
um contato de forma direta com os suspeitos e pessoas investigadas de
terem sido os agressores, assim como de indivíduos que com eles se
relacionem.
Em 2018, no mês de abril, o presidente vigente, Michel Temer,
homologou a lei 13.641/18, que determina o crime de não cumprimento
das medidas protetivas de caráter urgente. Esta lei estipula que o não
cumprimento da decisão da Justiça que outorga a medida possibilita a
pena de três meses a dois anos, acontecendo que somente a autori-
dade judicial tem o poder de concessão de fiança em casos de prisão
realizadas em flagrante.
De acordo com dados coletados pelo Fórum Brasileiro de Se-
gurança Pública (FBSP), são registradas 536 ocorrências de violência
contra a mulher por hora em território brasileiro, e quase a mesma taxa
de mulheres que alegam ter sido vítimas de alguma espécie de violên-
cia sexual.
O índice de mulheres que foram acometidas por espancamen-
tos é assombroso: chega a 1,6 milhão. Todas essas informações são
remetidas para a violência doméstica: 76,4% das vítimas conheciam
seus agressores, sendo que a maior parte dos crimes ocorreu dentro do
ambiente domiciliar.
Estudos realizados no Escritório das Nações Unidas para Cri-
me e Drogas aponta que o índice de assassinatos contra mulheres em
aspecto global foi de 2,3 mortes para cada 100 mil mulheres no ano de
2017. De acordo com dados pertinentes ao ano de 2018, no Brasil, o
índice é de 4 mortes para cada conjunto de 100 mil mulheres, isto é, um
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

média de 74% acima da apontada como a global.


A existência de iniciativas essenciais, como a Lei Maria da Pe-
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

nha, foi um sucesso para os movimentos feministas e se caracteriza


como um aparato legal para se combater a violência que ocorre com
muitas mulheres pela sua totalidade.
Não se trata apenas de uma lei de caráter penal, ela possui
particularidades de uma política pública para prevenir e enfrentar este
triste quadro violento que acomete as mulheres de todo o Brasil, com-
preendendo desde as ações preventivas, medidas de proteção, ativi-
dades com os executores da violência, implementação de mecanismos
públicos para que ocorra o atendimento em tempo integral para as mu-
lheres vitimizadas, como as Casas da Mulher Brasileira e as Delegacias
das Mulheres.
Porém, desde sua entrada em vigor, existe uma dificuldade em
implementar e efetivar a lei nas distintas realidades do Brasil, que englo-
ba desde o acordo da Federação (a lei, para concretizar seu funciona-
60
mento, é dependente da Prefeitura, do Estado, da União, do Executivo
e do Judiciário) e a limitação do aspecto financeiro.
A lei também engloba a cultura no âmbito de políticas públicas
de conceber como produções atenuantes, sendo que a ideia de que a
violência doméstica acontece somente em âmbito privado está muito
arraigada na sociedade (como diz o ditado popular: “em briga de marido
e mulher não se mete a colher”) e, diante disso, o Estado não consegue
enfatizar muitas medidas para efetivar uma real mudança.
O esclarecimento do relatório 2011/2012 do Progresso das Mu-
lheres no Mundo tem como objetivo a possibilidade de a mulher aces-
sar a Justiça. A composição foi criada pela Un Women, organização da
ONU que trabalha em favor da garantia de igualdade entre os gêneros
e a fortificação da mulher.
Este relatório ainda explana a questão do Brasil e da América
Latina serem líderes na elaboração de delegacias especializadas para
as mulheres. O relatório também aborda que 13 países da América La-
tina e Caribe apresentam postos de polícia que se especializam nesses
tipos de ocorrência.
O Brasil teve a sua primeira Delegacia da Mulher aberta em
1985, no estado de São Paulo. Atualmente, existem mais de 450 Dele-
gacias da Mulher em todo o território brasileiro.
Estas delegacias dão auxílio para o crescimento da conscien-
tização e contribuíram também para um aumento nas denúncias reali-
zadas de violências contra as mulheres.
Em 1975, a ONU celebrou o Ano Internacional da Mulher e de-
clarou o período entre 1975-1985 como a Década da Mulher. Isto pôde

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


incentivar que as mulheres se unissem pelas suas causas, se agrupan-
do em vários lugares, como por exemplo, por meio da I Conferência
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
Mundial sobre a Mulher, elaborando propostas pertinentes aos Direitos
Humanos, procurando abordar questões que pudessem visar a melho-
ria das condições de vida das mulheres ao redor do mundo.
A Convenção Interamericana para punir, prevenir e erradicar a
violência contra a mulher, que foi realizada em Belém, determina de ma-
neira clara: “(...) entender-se-á por violência contra a mulher qualquer
ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimen-
to físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como
na esfera privada.” (Artigo 1º).
Um dos temas que mais causam curiosidade em relação à
aplicação da Lei Maria da Penha se dá quando da ocorrência de ca-
sais homossexuais. Assim, no caso de um relacionamento entre duas
mulheres, em que uma delas é violentada pela parceira e decide que
irá prestar um boletim de ocorrência policial, ela pode ser contemplada
61
pela Lei Maria da Penha mesmo não havendo um agressor masculino?
A resposta é apresentada de forma clara no artigo 5º de Pa-
rágrafo Único da Lei 11.340/06, que acrescenta: “As relações pessoais
enunciadas neste artigo, independem de orientação sexual.” Aponta-se,
portanto, que por mais que se trate de um casal homossexual, dada a
relação configurada entre duas mulheres, a lei contempla, sim, casos
em que há violência por uma das partes.

ATENDIMENTO À MULHER VITIMIZADA E AO AGRESSOR

As várias proporções da violência são instigadas simplesmente


pelo fato de as mulheres serem as vítimas, o que torna evidente a exten-
são social da questão e o quanto é necessário que a sociedade civil e o
Estado sejam atuantes para que essa realidade possa ser transformada.
Os profissionais que atuam nas áreas de imprensa e jornalis-
mo, apresentando as coberturas desses temas tão recorrentes, ou que
possuem algum interesse nestas questões, são capazes de cumprir um
papel de essencial importância nesse aspecto.

Para a Mulher
A Lei Maria da Penha determina que todas as mulheres pos-
suem direitos para receber proteção social e estatal até mesmo contra
ações de violência que ocorrem no âmbito intrafamiliar e privado, con-
forme é possível observar na figura 10 a seguir:
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

62
Figura 10: Violência Doméstica e Feminicídio

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

Fonte: SPM-PR. Acesso em 2019.

Nas ocorrências de violência doméstica, seja psicológica, físi-


ca, patrimonial, moral ou sexual, a mulher possui os seguintes direitos:
- Receber acolhimento e um entendimento qualificado de todos
os profissionais que prestam atendimento às mulheres que se encon-
tram em condições de violência familiar e doméstica. Não exercer um
julgamento anterior, propondo respeito ao seu tempo para tomar a de-
cisão sobre os próximos passos que serão executados e sem exercer
a culpabilização;

63
- Receber medidas de proteção com urgência que consistem
no impedimento de o agressor se aproximar;
- Ter acesso com prioridade a projetos sociais, de emprego,
renda e habitação;
- Preservações das relações profissionais por um período de
afastamento de até seis meses do emprego;
- Receber escolta da polícia para que haja a retirada de seus
bens do domicílio, caso exista a necessidade;
- Receber um atendimento psicossocial e para a saúde que
seja continuado e especializado, caso exista necessidade;
- Registrar um boletim de ocorrência;
- Registrar de forma detalhada seu relato em qualquer orga-
nização pública (para que se evite, inclusive, que a vítima tenha que
contar a história várias vezes, repetidamente);
- Notificar, de modo formal, a violência ocorrida ao Ministério da
Saúde, para que seja realizada a elaboração de informações de políti-
cas públicas e estatísticas;
- Receber atendimento do judiciário na região de sua residên-
cia, no local onde a agressão foi efetuada, caso tenha sido diferente de
sua residência;
- Receber auxílio judiciário da Defensoria Pública, não depen-
dendo do grau de sua renda;
- Obter acesso a uma casa-abrigo e demais serviços especia-
lizados para seu acolhimento, Defensoria Pública, DEAM e centros de
referência;
- Obter as informações referentes aos seus direitos e todos os
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

serviços que são disponíveis para seu caso.


Além de todas as garantias que são previstas na repartição
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

sobre a violência doméstica, é considerado essencial destacar que as


mulheres transexuais e homossexuais, que são vítimas de agressões,
também possuem direitos em receber atendimento nas Casas da Mu-
lher Brasileira.
O Estado tem o dever de disponibilizar às mulheres negras
que estejam passando por condições de violência, um auxílio psíquico,
físico, jurídico e social, além de proporcionar atividades afirmativas que
visam a redução da desigualdade social entre as mulheres negras e
demais frações sociais.
A Lei nº 11.340/06 determina que os Estados, o Distrito Federal,
a União e os Municípios possuem a obrigação compartilhada, cada um
seu âmbito atuante, para exercer a garantia de que a lei seja efetuada.
Em âmbito federal, o Ministério Público, o Poder Judiciário, a
Segurança Pública, a Defensoria Pública, as organizações dirigentes
64
das políticas de Educação, Saúde, Habitação e Trabalho e a Assistência
Social possuem obrigações específicas para a incorporação de ações,
funções e atividades, pretendendo efetivar a Lei Maria da Penha e pro-
mover políticas educacionais e projetos que difundam o respeito com a
dignidade do ser humano, da ótica da igualdade de raça, etnia e gênero.
A sociedade também possui sua obrigação no contexto da Lei.
Os vizinhos, a família, os colegas de trabalho, Ongs e empresas são
destacadas como parte da rede para se enfrentar a violência contra as
mulheres.
De acordo com o artigo 221 pela Constituição Federal, a mídia
deve efetivar a sua contribuição para promover os direitos humanos das
mulheres, não realizando papéis que formem estereótipos ou que mos-
trem de maneira exacerbada a violência familiar e doméstica.
As prefeituras são responsáveis por instalar e articular uma
rede que providencia atendimento às mulheres que se encontram em
condições de violência doméstica, e a maior parte destes serviços é
municipal.
Já as Guardas Municipais, dependendo da legislação da cida-
de que regulamenta estas funções, podem ser atuantes no transporte
de mulheres entre as instituições de sistemas de Justiça, Saúde ou Se-
gurança, caso exista a necessidade. Também podem fiscalizar se as
medidas de proteção urgentes estão sendo efetuadas, sendo de res-
ponsabilidade dos governos capacitar agentes para esta corporação.
As prefeituras ainda se responsabilizam pela instalação e pre-
servação, no espaço do município, de coordenadorias, secretarias e ou-
tras organizações que atuam na gestão de políticas para as mulheres.

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


As autoridades policiais civis e militares têm por função a ga-
rantia de proteção às mulheres que estão passando por condições de
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
violência doméstica, quando tal se apresente necessário.
A Polícia Civil possui as seguintes funções:
- Ser responsável por conduzir o inquérito;
- A comunicação ao Judiciário e ao Ministério Público se hou-
ve a prisão de delito em flagrante ou se a autoridade que ministra o
inquérito acredita que haja a necessidade de estabelecer a medida de
proteção com urgência ou prisão por cautela;
- O encaminhamento da vítima ao posto de saúde, hospital ou
IML, para o exame de corpo de delito;
- O fornecimento de transporte à mulher e a seus dependentes
para uma casa-abrigo ou um lugar considerado seguro, em casos de
risco de vida;
- Caso necessário, fazer o acompanhamento da vítima para
que, de forma segura, retire seus bens da residência do ocorrido;
65
- Fornecer as informações para a vítima sobre seus direitos
que estão inseridos na Lei Maria da Penha e os serviços que ela poderá
ter acesso.
As autoridades policiais não podem se negar a realizar o regis-
tro do boletim de ocorrência, nem estimular a mulher agredida a deixar
de fazê-lo.
O Ministério da Justiça tem o dever de desenvolver políticas
que envolvam a redução da ocorrência de ações violentas contra as
mulheres, pesquisas, estabelecimento de dados dos atendimentos rea-
lizados nas delegacias do Brasil, prover estruturas de atendimento e
procedimentos uniformes, equipamento das delegacias e o desenvolvi-
mento de diretrizes para qualificar os agentes profissionais, evitando a
discriminação da mulher e que não aconteça de ser desestimulada de
fazer a denúncia.
É de responsabilidade do Ministério da Justiça, através da
Secretaria de Reforma do Judiciário, a implantação de políticas que
possam democratizar a acessibilidade à Justiça: a garantia da agilidade
do processo e o aprimoramento das leis nacionais, principalmente para
os Códigos de Processo Penal e Civil. Deve, ainda, apoiar o estabele-
cimento de equipamentos como os Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher e os Núcleos Especializados de Atendimento à
Mulher dos Ministérios Públicos dos estados e das Defensorias Públicas.
A Secretaria de Política para as Mulheres da Presidência da
República (SPM-PR) tem como objetivo e função fundamental a pro-
moção da equidade entre mulheres e homens e lutar contra todas as
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

discriminações e preconceitos que acontecem por conta de gênero,


orientação sexual, raça, geração e origem.
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

Ela auxilia de forma direta a Presidência da República na ela-


boração de políticas, programas, projetos, campanhas educacionais
juntamente com os Ministérios, assumem parcerias com organismos
nacionais e internacionais, privados e públicos.

Para o agressor
Para a concretização do atendimento para os homens que
praticam ações de violência de gênero, existe uma condição que está
prevista na Lei Maria da Penha, disposta no artigo 45, para que haja a
elaboração de centros para a reabilitação dos agentes agressores. Es-
tes serviços ainda, infelizmente, não fazem parte concreta da realidade
como uma forma de política pública. Entretanto, no Brasil, são variadas
as iniciativas que surgiram de modo espontâneo, que têm como objetivo
atender os homens que são autores de agressões contra as mulheres.
66
Deste modo, diversos Juizados fazem uso de uma equipe de múltiplas
disciplinas e de profissionais que são encaminhados pelo Poder Exe-
cutivo.
Antes da criação da Lei Maria da Penha, já se encontravam no
Brasil muitas iniciativas de ONGs que tinham à segurança e a proteção
aos direitos das mulheres como área de atuação, em parceria com o
sistema judiciário e auxílio do Estado, houve a criação de grupos refle-
xivos para HAV (Homens Autores de Violência contra as Mulheres).
O consenso de que o Estado e a sociedade devem ser presen-
tes para promover e desenvolver intervenções que abrangem todos os
indivíduos que estão envoltos no contexto de violência familiar e domés-
tica, é recente.
A elaboração da Lei Maria da Penha estendeu mais ainda a
discussão sobre que medidas devem ser tomadas para com os homens
que praticam a violência doméstica contra a mulher. Entretanto, essa
área de intervenções no Brasil ainda é muito controversa e principiante.
Nos tempos atuais, procura-se a regulamentação de procedi-
mentos e princípios que podem ser adotados em correspondência com
a Lei. Em 2011, o Departamento Penitenciário (DEPEN) colocou crité-
rios para realizar o financiamento de programas que consistem na res-
ponsabilização e educação de HAV. Deste modo, esse órgão se respon-
sabiliza por desenvolver estes programas como uma forma de política
pública.
Um dos programas que são considerados como os primeiros é
o Emerge. Se compreende que a violência praticada contra as mulheres
não pode ser encarada como uma doença. Assim, nesses atendimentos

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


são utilizados técnicas e instrumentos terapêuticos, mas que não pos-
suem características de atividades de terapia, já que não se engloba
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
como um modelo médico e não promove diagnósticos às pessoas que
utilizam tais programas.
Os modelos intelectuais são baseados na possibilidade de que
as condutas agressivas podem ser influenciadas por exemplos de pen-
samentos ou percepções “erradas”, que fazem com que o indivíduo crie
emoções negativas. Dessa forma, as intervenções são estruturas que
buscam reconstruir a forma como as emoções e as crenças afirmam
as condutas agressivas, assim como a transformação das estruturas
tranquilas, principalmente nas crenças que tangem os papéis da sexua-
lidade na infância.
Os grupos reflexivos que trabalham com homens que praticam
atos de violência doméstica são reconhecidos como um dos métodos
que tratam com mais eficiência a prevenção e o combate da violência
doméstica, assim como a redução da reincidência, sendo que esta rea-
67
lidade já é aplicada em alguns países e estados, obtendo sucesso em
seus resultados.
A proximidade dos agressores com agentes profissionais que
se especializam nessa área, integrando a rede de proteção e que tra-
balham com o público masculino em diversos sentidos da vida (sexua-
lidade, masculinidade, família, trabalho, cultura, saúde, droga, álcool,
depressão, entre outros), é necessária para que estes homens estejam
informados acerca da desigualdade entre os gêneros, dos deveres e
direitos de mulheres e homens e os respectivos papéis que estes exer-
cem na sociedade.
É indispensável e necessário praticar a conscientização dos
homens de que certas ações banalizadas e normalizadas pela socieda-
de são caracterizadas como atos de violência contra a mulher e produ-
zem graves consequências, morais e materiais tanto para eles, quanto
para as mulheres vitimizadas, para as famílias e para a sociedade como
um todo.
Refletindo sobre esses contextos, os legisladores que elabora-
ram o texto para a Lei Maria da Penha (11.340/06) reafirmaram o quão
importante é o exercício praticado com os homens agressores, o qual,
para ser efetuado, depende de ações articuladas e conjuntas entre a
sociedade e o Estado, de acordo com o inciso I do artigo 8º, artigo 29,
inciso V e artigos 35 e 45, todos contidos na Lei 11.340/06:

Art. 8º. A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar con-
tra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governa-
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

mentais, tendo por diretrizes:


I- A integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social,


saúde, educação, trabalho e habitação;

Da mesma maneira que as mulheres que são vitimizadas pela


agressão doméstica, em grande parte realizada pelos seus companhei-
ros ou pessoas que estão frequentemente em sua convivência, neces-
sitam de um amparo e um suporte para enfrentarem essa situação tão
triste, os homens também necessitam de um suporte para que consi-
gam tomar consciência de suas ações, cumprir com suas penalidades e
compreender a situação para não voltar a cometer os mesmos crimes.
As mulheres precisam do auxílio do Estado e de suas organi-
zações para que possam se recuperar do trauma, tomar as medidas
corretas para a sua saúde e se sentirem seguras e capazes de seguir
em diante.
A justiça brasileira não pode desamparar as vítimas que neces-
68
sitam de total apoio, não só estatal, mas também social, não devendo
ser julgadas, e não se colocando a agressão como culpa delas. Há que
se ter em conta que precisam de tratamento e de acesso à justiça para
que os direitos que estão previstos para elas pela Lei Maria da Penha
sejam completamente efetivados.
Os agressores, além do cumprimento da devida pena, também
necessitam de um atendimento especializado para a conscientização
dos atos cometidos e para a reabilitação para a vida em sociedade, para
que não corra o risco desses atos serem cometidos novamente.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

MONTENEGRO, Marilia. Lei Maria da Penha: uma análise criminoló-


gico-crítica. Rio de Janeiro: Revan, 2015.

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identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

69
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2018 Banca: UECE-CEV Órgão: Prefeitura de Sobral - CE Pro-
va: Analista de Políticas Públicas Sociais - Psicologia
De acordo com a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 – Lei Maria
da Penha –, a conduta que configure calúnia, difamação ou injúria
praticada contra a mulher é classificada como violência:
A) emocional.
B) relacional.
C) psicológica.
D) moral.

QUESTÃO 2
Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: TJ-BA Prova: Analista Judiciário -
Psicologia
A Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) configura como violência
doméstica e familiar contra a mulher:
A) qualquer ação que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual
ou psicológico e danos morais;
B) qualquer omissão que lhe cause morte, lesão, sofrimento sexual ou
psicológico e danos morais;
C) qualquer ação e omissão que lhe cause morte, lesão, sofrimento
sexual e danos morais;
D) qualquer ação ou omissão, independentemente da relação de gêne-
ro, que lhe cause morte, lesão, sofrimento sexual e dano patrimonial ou
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

moral;
E) qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimo-


nial.

QUESTÃO 3
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Prefeitura de Macapá - AP Prova:
Psicólogo - Saúde
Para algumas mulheres que vivem situação de violência domésti-
ca, a atividade profissional pode ser percebida como um momento
de “escape”. No entanto, seu contexto de vida pode influenciar em
sua produtividade e condições de manutenção do seu emprego. A
Lei Maria da Penha, conforme o parágrafo 2° do artigo 9, garante a
essa mulher:
A) a manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afasta-
mento do local de trabalho, por até seis meses.
70
B) assessoria e, quando necessário, o afastamento do local de trabalho,
por até nove meses.
C) apoio psicológico para preservar sua integridade física e psicológica
no local de trabalho.
D) mediação de conflitos para preservar sua integridade física e psico-
lógica e da sua família.
E) o afastamento do local de trabalho, quando necessário, por até um
ano.

QUESTÃO 4
Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: Prefeitura de Salvador - BA Prova:
Psicólogo
Carlos e Ana são casados há dois anos e não possuem filhos por
opção de Ana, que não deseja ser mãe. Carlos, entretanto, consi-
dera que Ana mudará de ideia após engravidar e está impedindo a
esposa de fazer uso de métodos contraceptivos.
Segundo a Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha), a conduta de Car-
los é uma forma de violência:
A) moral.
B) estrutural.
C) sexual.
D) patrimonial.
E) religiosa.

QUESTÃO 5
Ano: 2015 Banca: FCC Órgão: DPE-RR Prova: Psicólogo

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


A Lei nº 11.340/2006, conhecida como “Lei Maria da Penha” (Art.
29 e Art. 30) determina que os Juizados de Violência Doméstica e
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
Familiar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão contar
com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada
por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e
de saúde, sendo que compete a esta equipe, entre outras atribui-
ções que lhe forem reservadas pela legislação local, desenvolver
trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras me-
didas, voltados à ofendida, ao agressor e aos familiares, com espe-
cial atenção às crianças e aos adolescentes e fornecer subsídios:
A) em documentação legal, que propiciem a autêntica análise da psico-
dinâmica familiar e seu relato à equipe que julgará o agressor.
B) técnicos específicos aos advogados de defesa e à promotoria, para
que compreendam o cenário da violência e possam melhor julgar o
caso.
C) psicológicos, em forma de parecer, destinados à leitura e apreciação
71
somente do juiz que acompanha o caso, para que embase suas deter-
minações futuras.
D) de sustentação, que auxiliem a equipe técnica a refletir, sistemica-
mente, sobre a dinâmica da violência, impedindo a segregação do viti-
mizador.
E) por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, me-
diante laudos ou verbalmente em audiência.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Os inúmeros crimes praticados diariamente contra a mulher demons-


tram o retrocesso e o desrespeito que ainda existe na sociedade bra-
sileira quanto à diferenciação de gênero, sendo tal preconceito visto
como inadmissível. Nesse sentido, discorra acerca das Delegacias Es-
pecializadas de Atendimento à Mulher.

TREINO INÉDITO

Assunto: Lei Maria da Penha

A Lei Maria da Penha é a responsável por estabelecer várias normas


que protegem as mulheres vítimas de violência doméstica, dessa for-
ma apresenta algumas formas de violência doméstica e familiar. Nesse
sentido, assinale a alternativa correta acerca da temática:
A) Violência psicológica.
B) Violência física.
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

C) Violência sexual.
D) Todas as alternativas anteriores se referem a tipos de violência do-
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

méstica e familiar.

NA MÍDIA

Alterações contraditórias na Lei Maria da Penha podem enfraquecer


combate à violência doméstica

Desde o início de 2019, cinco projetos que alteram a Lei Maria da Penha
foram aprovados pelo Congresso Nacional. Na avaliação de especialis-
tas ouvidos pelo HuffPost Brasil, alterações constantes que são enten-
didas como positivas por parlamentares, por vezes, podem ser contra-
ditórias e enfraquecer a lei, que é considerada pela ONU (Organização
das Nações Unidas) a terceira melhor legislação do mundo no combate
à violência doméstica.
72
Integrante atual do consórcio que ajudou a elaborar a Lei Maria da Pe-
nha, em vigor desde 2006, Alice Bianchini defende que as mudanças
deveriam ser feitas de forma sistemática. “Tem muitos projetos, a maio-
ria muito bons. O ideal é que pudesse fazer uma sistematização e alterar
a lei de uma vez só e olhando o impacto de uma alteração em relação a
outra”, afirma Bianchini, que é vice-presidente da Comissão Nacional da
Mulher Advogada na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Fonte: Huffpost
Data: 28 de outubro de 2019
Leia a notícia na íntegra: https://www.huffpostbrasil.com/entry/lei-ma-
ria-da-penha-mudancas_br_5daf6deae4b0f34e3a7e26c6

NA PRÁTICA

Serviços Especializados de Atendimento à Mulher

Centros Especializados de Atendimento à Mulher


Os Centros de Referência são espaços de acolhimento/atendimento
psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher
em situação de violência, que devem proporcionar o atendimento e o
acolhimento necessários à superação de situação de violência, contri-
buindo para o fortalecimento da mulher e o resgate de sua cidadania.

Casas-Abrigo
As Casas-Abrigo são locais seguros que oferecem moradia protegida e
atendimento integral a mulheres em risco de morte iminente em razão

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


da violência doméstica. É um serviço de caráter sigiloso e temporário,
no qual as usuárias permanecem por um período determinado, durante
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
o qual deverão reunir condições necessárias para retomar o curso de
suas vidas.

Casas de Acolhimento Provisório


Constituem serviços de abrigamento temporário de curta duração
(até 15 dias), não sigilosos, para mulheres em situação de violência,
acompanhadas ou não de seus filhos, que não correm risco iminente
de morte. Vale destacar que as Casas de Acolhimento Provisório não
se restringem ao atendimento de mulheres em situação de violência
doméstica e familiar, devendo acolher também mulheres que sofrem
outros tipos de violência, em especial vítimas do tráfico de mulheres. O
abrigamento provisório deve garantir a integridade física e emocional
das mulheres, bem como realizar diagnóstico da situação da mulher
para encaminhamentos necessários.
73
Mais informações em: https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/
acoes-contra-violencia/servicos-especializados-de-atendimento-a-mu-
lher

PARA SABER MAIS

Documentário sobre a temática: 10 anos da Lei Maria da Penha: o


que esperar da próxima década?
Acesse os links: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htmhttps://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/
violencia/violencias/violencia-domestica-e-familiar-contra-as-mulheres/
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

74
O que mais se destaca nesse trabalho é a abordagem acerca
da violência, com enfoque para a violência de gênero e a violência do-
méstica e familiar.
A violência de gênero acontece quando o agressor tenta con-
trolar a vítima e estabelecer com ela uma relação de poder, em que o
homem pode tudo e manda em tudo. Essa violência pode ser expressa
por meio de agressões, xingamentos, humilhação, coação, controle se-
xual e pode ocasionar a morte da vítima.
A violência doméstica é, em grande parte, cometida contra mu-
lheres por seus parceiros, ex ou integrantes da família, pela qual a mu-
lher é coagida e ameaçada a todo o tempo, humilhada, agredida.
Para tentar assegurar a segurança e integridade de tantas mu-
lheres que sofrem com esta situação, foi criada a Lei Maria da Penha, à
qual elas podem recorrer em casos assim.
Entretanto, infelizmente, o quadro de agressões e mortes de
mulheres está aumentando rapidamente. Os números se elevam a cada
dia e, na mesma medida, as mulheres não conseguem se sentir se-
guras nem mesmo em suas próprias casas, que muitas vezes é mais
representada como o inferno do que um lar.
Muitas vítimas têm receio de procurar por ajuda, com medo
e vergonha: medo do sistema penal brasileiro não ser suficiente para
tirá-las do terror que estão vivendo; vergonha por serem tratadas, por
vezes, com desprezo ou até ignoradas, tendo de enfrentar a situação
sozinhas, sendo que muitas dependem financeiramente dos seus mari-
dos e têm vergonha de se abrir para família e amigos sobre o que está

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


acontecendo e acabam voltando para o lado do agressor.
Por vezes, as mulheres não possuem nem tempo para se abrir
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO
com alguém, pois o monstro insaciável fez mais uma vítima. Flores não
são uma amostra de mudança, pois mesmo no túmulo, o agressor pode
entregá-las à sua mulher.

75
GABARITOS

CAPÍTULO 01

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
E E D D C

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

O comportamento criminoso pode ser compreendido como o resultado


de certa característica da personalidade ou como resultado de expe-
riências criminosas; em outras palavras, o comportamento criminoso se
relaciona com a análise do comportamento delinquente e as caracterís-
ticas e fatores que o geram.

TREINO INÉDITO
Gabarito: E

JUSTIFICATIVA
Existem vários tipos de personalidade, sendo que cada uma se encaixa
em uma pessoa diferente, podendo ser que cada um possua mais de
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS

uma dessas, tendo em vista que o ser humano é complexo e único de


acordo com suas características. Assim, a alternativa “E” é a que deve
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

ser assinalada.

76
CAPÍTULO 02

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
A B C A D

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

A violência doméstica pode ser entendida como qualquer ação ou omis-


são baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, se-
xual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, segundo a Lei Maria
da Penha.

TREINO INÉDITO
Gabarito: B

JUSTIFICATIVA
A alternativa correta é a letra B, tendo em vista que a violência psico-
lógica é responsável por provocar danos emocionais e psicológicos na
vítima, na medida em que a física se manifesta por meio de danos pro-
vocados no corpo da vítima, a sexual envolve todos os crimes da esfera
sexual que impliquem no não consentimento da vítima; e a simbólica,
por sua vez, pode ser compreendida como os atos que colaboram para

DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS


a manutenção da mulher em uma posição de inferioridade na socieda-
de.

INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO ÂMBITO DO

77
CAPÍTULO 03

QUESTÕES DE CONCURSOS

01 02 03 04 05
D C A C E

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

As Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher são compreen-


didas como as unidades especializadas da Polícia Civil para atendimen-
to às mulheres que passam por situação de violência, tendo papel pre-
ventivo e repressivo, sendo incumbidas de realizar ações de prevenção,
apuração, investigação e enquadramento legal.

TREINO INÉDITO
Gabarito: D

JUSTIFICATIVA
A alternativa D é a correta, tendo em vista que a Lei Maria da Penha
define cinco formas de violência doméstica e familiar, quais sejam: 1.
violência psicológica; 2. violência física; 3. violência sexual; 4. violência
patrimonial; e 5. violência moral.
DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO - GRUPO PROMINAS
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