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Como citar esse texto: SUANNO, Marilza Vanessa Rosa. Formação docente e didática transdisciplinar: aventura humana pela
aventura do conhecimento. In: LIBÂNEO, José Carlos; SUANNO, Marilza Vanessa Rosa e LIMONTA, Sandra Valéria (Org.).
Concepções e práticas de ensino num mundo em mudança: diferentes olhares para a didática. Goiânia: CEPED e Editora PUC
Goiás, 2011.

FORMAÇÃO DOCENTE E DIDÁTICA TRANSDISCIPLINAR:


aventura humana pela aventura do conhecimento

Marilza Vanessa Rosa Suanno1

Esse capítulo pretende apresentar sistematizações produzidas nos documentos sínteses


de três eventos científicos que desenvolveram reflexões sobre o pensamento complexo e
a transdisciplinaridade na educação, sendo eles: a) Manifesto para a criação de um
modelo pedagógico integral (UNESCO-Madrid, 2009), b) Contribuições e conclusões
do II Fórum sobre Inovação e Criatividade (Barcelona, 2010), e c) Carta de Fortaleza -
Por uma educação transformadora: os sete saberes da educação para o presente
(UNESCO/Brasil, 2010). Ao examinar os documentos sínteses dos eventos constatou-se
que estes são propositivos e têm a intencionalidade de construir orientações,
fundamentados no pensamento complexo e na transdisciplinaridade, que possam
orientar os caminhos para se pensar uma outra possibilidade para os processos
educativos, construir uma proposta de educação transformadora, crítica, humanizada e
transdisciplinar. Inspirados em Edgar Morin2 manifestam o desejo por uma educação
que possibilite a aventura humana pela aventura do conhecimento.

O Manifesto de Madrid (UNESCO, 2009) é o documento síntese do I Ciclo de


Conferências sobre Complexidade e Modelo Pedagógico promovido pelo Comitê de
Educação para uma Sociedade Complexa do Centro UNESCO da Comunidade de
Madrid e pela Associação para a transdisciplinaridade - Portia. O Manifesto compartilha
o desejo e a intencionalidade de colaborar com as reflexões e elaborar proposições no
sentido de se criar um modelo pedagógico integral na perspectiva transdisciplinar.
O II Fórum sobre Inovação e Criatividade, promovido pelo Grupo de Investigação e
Assessoramento Didático - GIAD da Universidade de Barcelona teve por objetivo
desenvolver outra consciência em investigação, inovação e formação que gerem a
melhoria da qualidade da educação universitária, por meio do desenvolvimento de uma
consciência planetária. O evento3 visava socializar resultado de pesquisas, de projetos
institucionais, de práticas pedagógicas, de vivências que intencionam reformar o
pensamento (MORIN), reorganizar as instituições educacionais, reconstruir a ação
coletiva dos docentes e discentes nos contextos educativos e refletir sobre a teorização a
cerca da criatividade e inovação. O documento síntese do evento foi intitulado
Contribuições e conclusões de um encontro (FERNÁNDEZ, 2010) no qual apresenta as
sistematizações produzidas no evento sobre criatividade e inovação no ensino superior e
na formação universitária transdisciplinar. Fernández organiza o documento síntese em
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torno de três ideias chave: a) reflexões sobre os fundamentos da transdisciplinaridade,


criatividade e inovação; b) repercussões desses fundamentos na formação docente; c)
repercussões desses fundamentos na ação docente em sala de aula.

A Conferência Internacional sobre os Sete Saberes necessários à Educação do


Presente (Fortaleza/Brasil, 2010) foi organizada atendendo a solicitação da
UNESCO/Brasil, foi promovido e realizado juntamente com a Universidade Estadual do
Ceará – UEC, Universidade Católica de Brasília – UCB e com a colaboração de outras
universidades brasileiras e internacionais, a fim de comemorar os dez anos do livro Os
sete saberes necessários para a educação do futuro de Edgar Morin (2000) e com o
intuito de conhecer as razões pelas quais as escolas e os docentes têm dificuldades na
implementação dessa proposta. O evento contou com a presença de Edgar Morin e
reuniu em torno de 1300 participantes que puderam dialogar sobre os sete saberes
(MORIN, 2000) na construção de novos rumos para a vida coletiva, para a educação e
para a formação de professores. O evento produziu a Carta de Fortaleza para uma
educação transformadora (2010) organizada com preâmbulo, considerações,
recomendações e orientações para a UNESCO incentivar, acompanhar, monitorar e
divulgar as ações propostas na Carta de Fortaleza em nível internacional e anexos com
antecedentes da Conferência.

Na sequência destacarei algumas proposições e recomendações apresentadas nos três


eventos científicos para a formação docente e a didática transdisciplinar.

Formação docente e didática transdisciplinar: proposições elaboradas


coletivamente

Em relação à formação universitária de professores os documentos sínteses dos eventos


científicos analisados propõem que seja uma formação sólida, transdisciplinar, cidadã,
que favoreça o desenvolvimento de uma consciência crítica e de uma consciência
ampliada, moral e auto-reflexiva, capaz de perceber outros níveis de realidade.

É proposto que seja inserido nos cursos de formação docente o pensamento complexo, a
transdisciplinaridade e a ecoformação a fim de desenvolver outra consciência por meio
dos paradigmas emergentes. Nesse sentido indicam o estudo da obra Os sete saberes
necessários para a educação do futuro (Morin, 2000) a fim de permitir compreender e
problematizar sobre as cegueiras do conhecimento; os princípios do conhecimento
pertinente; ensinar a condição humana; ensinar a identidade terrena; enfrentar as
incertezas; ensinar a compreensão; a ética do gênero humano.

Destaca-se que o conhecimento transdisciplinar se constrói por meio de uma tessitura


pedagógica complexa, auto-eco-organizadora, nascida nos interstícios da
(inter)subjetividade dos sujeitos envolvidos no processo e em uma pluralidade de
percepções e significados emergentes. Assim o sendo, nos cursos de formação de
professores, recomenda-se:

 valorizar a formação e o trabalho docente;


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 reconhecer a pluralidade cultural, a multiplicidade de vozes e olhares na


produção e disseminação do conhecimento;
 resgatar teóricos que contribuam com teorias e práxis baseada no compromisso
social, planetário e na busca de alternativas para o bem comum;
 favorecer as dimensões formativas propostas por Gaston Pineau (autoformação,
heteroformação e ecoformação);
 valorizar concepções e práticas pedagógicas criativas e inovadoras;
 assumir a responsabilidade social e planetária como temática e enfoque na
formação de professores, e assim colaborar no sentido de ampliar o
compromisso individual e coletivo frente às questões atuais da sociedade em
crise e em transição;
 compreender os processos pedagógicos como processos auto-eco-organizadores
geradores de processos auto-reflexivos, explicativos da realidade complexa;
 promover articulações entre os saberes científicos e os saberes locais
 construir práticas pedagógicas transdisciplinares e interdisciplinares;
 buscar estabelecer entre professor-aluno uma relação humana e profissional;
 valorizar estratégias pedagógicas autopoiéticas que utilizem-se de memorial de
formação, história de vida, matriz pedagógica, análise das experiências
formativas vividas como estratégia de construção e reconstrução de
conhecimento;
 considerar a provisoriedade e a incerteza presentes no conhecimento e nos
processos de ensino-aprendizagem;
 possibilitar a geração de uma nova ecologia de saberes e de um sentido, também
novo para o trabalho docente;
 repugnar processos de dominação cultural, de homogeneização, bem como
reducionismo, linearidade, das verdades absolutas;
 enfrentar o problema do mal estar docente, do sofrimento docente;
 elaborar política de formação profissional ao longo da vida

Sobre a pesquisa científica na área da educação, algumas questões foram destacadas,


como a necessidade de:

 desenvolver pesquisas complexas sobre a formação, a didática, a criatividade e a


inovação transdisciplinares;
 investigar práticas pedagógicas emergentes e inovadoras;
 valorizar na formação docente a construção de oportunidades de participação em
pesquisas do tipo investigação-ação por meio do trabalho com grupos inter e
transdisciplinares, que promovam o diálogo entre as disciplinas e o religar de
saberes e conhecimentos;
 relacionar ciência, docência e consciência visando a ampliação da capacidade de
percepção e de ação docente frente à realidade;
 utilizar a trialética (GIGAND, 2010), articulações ternárias, na análise dos dados
e das informações de pesquisas;
 assegurar na pesquisa científica e na formação universitária a dialógica entre: a)
autorreferência (eu só posso ver o que posso ver: eu só posso ver o que quero
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ver), b) incompletude (não é possível escapar da incerteza, jamais alcançamos


um saber total) e c) indeterminação (a precisão da visão do indivíduo é seletiva).

As discorrer sobre as instituições educativas, os projetos pedagógicos, as metodologias


de ensino e os conteúdos, os documentos analisados destacam que para educar numa
sociedade em transição, é preciso aprender a pensar em tempos de incerteza e inquietar-
se frente às crises de diversas ordens que assolam a sociedade e o planeta. Os
documentos, ao apresentarem fundamentos do paradigma emergente e da reforma do
pensamento, convidam os professores a ousarem na criatividade e na inovação,
promovendo nas instituições de ensino o desenvolvimento do pensar complexo e
transdisciplinar, que busca ecologizar, relacionar, contextualizar e religar diferentes
saberes e conhecimentos.

Enfatizam que as instituições de ensino precisam estimular o autoconhecimento, a


construção do conhecimento, a vivência de práticas democráticas, a convivência
respeitosa, a atitude ética e responsável, como aspectos integrados e constitutivos da
multidimensionalidade humana.

Ressaltam que as instituições de ensino precisam desenvolver estudos e pesquisas sobre


concepções e práticas pedagógicas inovadoras, emergentes, e a partir desse processo
elaborarem coletivamente seus projetos pedagógicos criativos e ecoformadores
(TORRE e ZWIEREWICZ, 2009).

Cabe aos professores o papel de auxiliar o educando na construção de conhecimentos,


na ampliação de sua visão de mundo, de sua consciência e de sua curiosidade
epistemológica. Nesse sentido é fundamental produzir mudanças no modo de se
conceber os processos de ensino-aprendizagem e nos modos de organizar os ambientes
educacionais, visto que para construir uma proposta pedagógica integral, fundamentada
no pensamento complexo e na transdisciplinaridade, deve-se ter como ponto de partida
o sujeito, compreendido como sujeito complexo, protagonista de sua própria história,
consciente de si mesmo e do contexto histórico, social, cultural, ambiental. Os
documentos analisados destacam que nos processos de ensino faz-se necessário
articulação entre teoria e prática e a valorização de metodologias de ensino, estratégias
pedagógicas autopoiéticas que estimulem processos auto-eco-organizadores, que
possibilitem:

 transdisciplinarizar os saberes científicos, filosóficos, poéticos e artísticos, e o


cultivo do respeito à vida e à Terra;
 valorizar metodologias que utilizem-se da multirreferencialidade e da
multidimensionalidade que estimulem o aprimoramento do humano e o
enfrentamento da incerteza do conhecimento e da realidade;
 construir de articulações ternárias, interações e religações de saberes e
conhecimentos;
 construir metapontos de vista sobre o homem, a terra, a vida, a natureza e o
cosmo;
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 registrar, refletir e analisar de experiências pedagógicas vividas como estratégia


de construção e reconstrução de conhecimento;
 promover vivências que articulem mente-corpo-espaço-emoção;
 estimular a sensibilidade humana;
 desenvolver a empatia, a escuta sensível e o diálogo afetivo;
 trabalhar em equipes;
 construir o conhecimento pertinente, de natureza transdisciplinar, envolvendo as
relações entre indivíduo/sociedade/natureza;
 educar para o autoconhecimento
 favorecer a ampliação da consciência, da percepção e da ação ultrapassando o
universo do ter para buscar o universo do ser;
 utilizar de distintas linguagens (MORAES e TORRE, 2004).

Nos documentos analisados identificou-se a orientação quanto à necessidade de se rever


os conteúdos de ensino nas instituições educativas no sentido de possibilitar a
compreensão e o enfrentamento das questões atuais da sociedade em transição. Há de se
construir alternativas para se enfrentar as múltiplas crises sociais, econômicas, políticas
e ambientais que colocam em risco a sobrevivência humana e a preservação da vida no
planeta. Propõem-se uma reforma do pensamento, portanto uma reforma do ensino
(MORIN, 2003) que contribuam para uma nova política de civilização baseada na
democracia, na sustentabilidade, na justiça, na solidariedade e na paz. Nesse sentido,
faz-se necessário construir novas maneiras de pensar e novos estilos de vida que sejam
mais sustentáveis, democráticos, igualitários, cooperativos e socialmente mais justos.
Com tal intuito, complementarmente aos conteúdos já trabalhados nas escolas, propõem
que se assegure e se intensifique, nas instituições educativas, o estudo e o diálogo sobre
conteúdos como: antropolítica, antropoética, democracia, sustentabilidade, cidadania,
consciência e responsabilidade planetária, justiça e responsabilidade social,
solidariedade, pluralidade cultural, diversidade, globalização, cultura de paz e não-
violência, direitos humanos, dentre outros. Espera-se com o estudo de tais temáticas que
os estudantes se percebam como cidadãos planetários e que se comprometam com a
vida coletiva e o planeta.

Orienta-se que, associado aos estudos teóricos e conceituais, se promova o


desenvolvimento da concentração, da meditação e do relaxamento, fundamentais para
propiciar estados de serenidade, calma e paz interior, que contribuam para a formação
do sujeito, o autoconhecimento, para a vida em sociedade, a gestão de conflitos e a
resolução dialógica e pacífica dos problemas.

Orienta-se também que os ambientes de aprendizagem precisam ser criativos,


dialógicos, inovadores, prazerosos e emocionalmente saudáveis (MORAES, 2008). E
que professores e estudantes devam estabelecer uma relação humana e profissional de
apoio, de confiança, com afetividade, para que assim possam se auto-eco-organizar,
construir novas percepções sobre a realidade, novas atitudes e consciência frente à vida,
e construírem conhecimentos.

Considerações finais
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Elaborar coletivamente documentos sínteses de eventos científicos é uma prática


significativa que nesse caso, permitiu a análise dos documentos – O Manifesto de
Madrid (2009), as Contribuições do II Fórum de Criatividade e Inovação (2010) e a
Carta de Fortaleza (2010) – que fazem parte de um movimento internacional que tem
buscado construir articulação entre os fundamentos ontológicos, epistemológicos e
metodológicos do pensamento complexo e da transdisciplinaridade com a educação e o
trabalho docente, e assim impulsionar a reorganização das políticas educacionais, das
instituições educativas, da prática pedagógica, da ação docente e da formação dos
professores.
Tais documentos apresentam a prática pedagógica como uma prática social, uma forma
de intervir na realidade social mas, mais que isso, a ação docente e a prática pedagógica
são compreendidas como uma nova postura frente à vida, uma perspectiva auto-eco-
organizadora, uma atividade profissional que promove a educação para a sensibilização
do humano, para a cidadania planetária, para buscar compreender a sociedade em
transição, uma perspectiva transdisciplinar que visa trabalhar com os educandos a
complexidade dos fatos, fenômenos e conteúdos, considerando articulações de diversas
ordens. O enfoque dado à prática caracteriza-se como uma prática humanizada social e
planetária, uma forma de intervir na realidade humana, social, ambiental, dentre outras.

A transdisciplinaridade é apresentada como fundamento educacional e pautados nos


princípios da atitude e da visão transdisciplinar (rigor, abertura e tolerância)4 apresentam
caminhos para a educação. Os princípios três princípios articulados externam a visão
transdisciplinar que valoriza o rigor científico, o rigor na argumentação, a abertura que
comporta a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível e a tolerância
enquanto reconhecimento do direito às idéias e verdades contrárias às elaboradas pelo
pensamento transdisciplinar. Nesse sentido o que se propõe não é que se abandone as
disciplinas, ou que se abandone os processos de ensino e de aprendizagem por meio da
assimilação consciente e crítica dos conteúdos historicamente acumulados, mas
propõem-se que os contextos educativos com rigor científico busquem dialogar sobre os
conteúdos, os saberes, os conhecimentos de forma articulada, em rede, possibilitando a
ampliação da consciência e uma nova percepção da realidade, desenvolvendo o
cognitivo, afetivo e intuitivo, ampliando o compromisso dos sujeitos com a própria
vida, com a vida coletiva, com o bem comum e com a construção de uma consciência
planetária. Na didática transdisciplinar a consciência é um conceito nuclear a ser
trabalhado e ampliado.
A didática transdisciplinar, orientada por uma razão sensível, deve buscar construir
processos de ensino e de aprendizagem, que tenham como ponto de partida o sujeito e a
articulação deste com uma formação conceitual, afetiva, humana que seja crítica e
reflexiva. Almeja-se que se construam contextos pedagógicos capazes de auxiliar o
sujeito aprendente a compreender os processos históricos e sociais que corroboraram na
constituição do seu ser, dos seus valores, das suas atitudes e que lhe permita analisar o
compromisso social e planetário que assume ou não.
Propõem, nos documentos analisados, que os projetos pedagógicos favoreçam para que
os alunos desenvolvam a capacidade de análise crítica dos conhecimentos, capacidade
de articulação e religação de saberes e elaboração de um modo de ser, pensar e fazer a
partir de suas experiências de vida, seus saberes e conhecimentos. O diálogo, a
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fundamentação teórica, a busca de articulações e sentidos do objeto de estudo devem


auxiliar o aluno para que esse se torne capaz de desenvolver a ponderação crítica e a
auto-eco-organização.
Propõem, também, que os professores se tornem capazes de desenvolver trabalho
docente coletivo, cooperativo, solidário que envolva todos os atores sociais da
instituição (alunos, professores, funcionários, comunidade) na construção dos processos
e projetos escolares, bem como na assunção de co-responsabilidade na luta por uma
sociedade mais justa, fraterna, igualitária e harmônica. Que se assegure a igualdade na
diferença, valorizando o sujeito e sua subjetividade.
Os documentos analisados apresentam a compreensão de que os processos de formação
docente devem reconhecer a multidimensionalidade do sujeito aprendente e de sua
realidade, privilegiando o diálogo vivencial entre teoria e prática, educador e educando,
indivíduo e contexto e possibilitando vivências capazes de ampliar os níveis de
consciência dos sujeitos aprendentes, a partir da expansão dos seus níveis de percepção
e de compreensão da realidade. Orientam que nos cursos de formação de professores se
inclua o estudo e a pesquisa sobre o pensamento complexo e a transdisciplinaridade,
como base epistemológica e metodológica, assim como as dimensões formativas
(autoformação, heteroformação e ecoformação) propostas por Pineau (2006).

Nesse sentido, sugerem uma formação de professores que seja sólida, que possibilite a
construção de conhecimentos, valores, sentidos e emoção articulados. Tal proposta de
formação docente apresenta-se em contraposição a orientação do Banco Mundial que
propõem a redução da formação a mero treinamento de habilidade e competências. A
proposta de formação apresentada nos documentos analisadas também sem opõe a
redução da formação docente reduzida aos fundamentos teóricos, negligenciando a
prática, negligenciando a profissão, negligenciando a pessoa do professor.
Compreende-se que cabe aos professores, profissionais em permanente aprendizagem,
tomarem consciência e assumirem-se como protagonistas na mudança do modelo
pedagógico vigente, desenvolverem uma visão integradora buscando
articular e religar os conhecimentos e contextualizar os processos de produção destes.
Destaca-se que é responsabilidade do Estado assegurar a população, o acesso, a
permanência e a conclusão com êxito na vida escolar, seja na educação básica ou no
ensino superior.
No que concerne à educação superior propõem uma outra consciência em investigação,
inovação e formação, que se investigue práticas formativas emergentes, prática
pedagógicas emergentes, que se estimule a aprender imaginando, aprender investigando,
aprender fazendo, aprender escutando, aprender a partir do aprendido e aprender
significando (FERNÁNDEZ, 2010). Destaca-se que no processo educativo
transdisciplinar a criatividade e a inovação apresenta-se como ferramenta pedagógica
fundamental para o desenvolvimento pessoal e coletivo na tomada de consciência dos
contextos e conjunturas atuais e na busca de alternativas para o bem comum, no
enfrentamento das desigualdades sociais e das mazelas da sociedade contemporânea.
Os setes saberes propostas por Edgar Morin (2000) para educação são apresentados
como necessários, urgentes e fundamentais para construir uma educação
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transformadora, capaz de criar novas práticas pedagógicas de natureza transdisciplinar


que articule as relações entre indivíduo/sociedade/natureza, que favoreça a reforma do
pensamento e a reforma da educação e para tal a Carta de Fortaleza (2010) propõe uma
agenda internacional que possibilite a operacionalização dos sete saberes nas
instituições educacionais e na formação de professores.
Pautados nos paradigmas emergentes, os documentos analisados enfatizam como
fundamental construir novas maneiras de pensar, de relacionar, de agir, de compreender
a existência humana, assim como faz-se necessário construir novos estilos de vida mais
sustentáveis, democráticos, igualitários, cooperativos e socialmente mais justo.

Notas
1
Professora da Universidade Federal de Goiás – UFG e da Universidade Estadual de Goiás – UEG. Doutoranda pelo Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás - UFG. Mestre em Ciências da Educação Superior pela Universidad
de La Habana - Cuba revalidado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/Goiás. Pedagoga pela UFG. Membro do
NUFOP - Núcleo de Formação de Professores da UFG e da REDECENTRO - Rede de Pesquisadores sobre o Professor da Região
Centro-Oeste. E-mail: marilzasuanno@uol.com.br
2
Edgar Morin produziu três obras especificamente para dialogar sobre a educação transdisciplinar por meio do pensamento
complexo, sendo elas: a) Cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento (2003), Os sete saberes necessários a
educação do futuro (2000) e Educar na era planetária: o pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na incerteza
humana (2009).
3
O evento reuniu em torno de cinquenta pesquisadores de diversidade de campos disciplinares e experts em criatividade, inovação,
pensamento complexo e transdisciplinaridade, de diversos países como Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Colômbia, Chile, França,
México, Panamá, Peru, Venezuela. A maior parte dos participantes do evento compõe a equipe do Projeto REDFUT - Rede de
Formação Universitária Transdisciplinar que é um projeto subvencionado pelo Programa de Cooperação Iberoamericano no qual
propôs a criação da Comunidade de Ciência com consciência para a Mudança.
4
Carta da Transdisciplinaridade elaborada no I Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, Portugal, 2-6 novembro 1994.
Comitê de redação Lima de Freitas, Edgar Morin e Basarab Nicolescu.

Referências

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9

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UNESCO/Brasil. Por uma educação transformadora: os sete saberes da educação para
o presente. Carta de Fortaleza, 24 de setembro de 2010. Conferência Internacional sobre
os Sete Saberes necessários à Educação do Presente (Fortaleza/Ceará – Brasil)
promovida pela UNESCO, Universidade Estadual do Ceará – UEC e Universidade
Católica de Brasília – UCB em colaboração com outras universidades brasileiras e
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UNESCO/Madrid. Manifesto para la creación de un modelo pedagógico integral.
Ciclos de Conferência UNESCO/Madrid, 17 de abril de 2009.

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