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PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES

MARTINS, Maggaly Santana Silva2

RU 1036967

RESUMO

Esta investigação discorre sobre a visão de docentes quanto à cooperação


da interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem. A metodologia usada
nesta pesquisa privilegiou uma abordagem qualitativa, com fundamento exploratório
e enfoque fenomenológico, usando o método de estudo de caso. Foram aplicadas
entrevistas semiestruturadas, vislumbrando uma melhor análise dos dados obtidos,
utilizou-se a técnica de análise de discurso e de conteúdo. Realizou-se uma amostra
representada por 10 professores, e os mesmos foram escolhidos pelo critério de
acessibilidade. A pesquisa como um todo, buscou respostas aos objetivos
específicos traçados, que foram: conceituar a interdisciplinaridade a partir de um
referencial teórico pertinente; analisar as práticas e métodos docentes na construção
da interdisciplinaridade; entrevistar professores a fim de saber quais suas
concepções sobre interdisciplinaridade e suas práticas metodológicas. A pesquisa
compreendeu como universo escolar de natureza pública, localizada no município de
Imperatriz, Estado do Maranhão.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Pratica docente. Metodologias. Ensino-


aprendizagem

1 INTRODUÇÃO

Considerando os diversos aspectos e fatores que envolvem o processo de ensino e


aprendizagem, a interdisciplinaridade se concretiza como agente imprescindível no
que diz respeito à construção do conhecimento, tendo em vista que ela procura
estabelecer um modo de ensino que supere as limitações e entraves para que se
tenha uma aprendizagem mais abrangente.

____________________________
2 Aluna do Centro Universitário Internacional UNINTER. Artigo apresentado como Trabalho de
Conclusão de Curso. 05 - 2016.
1
O objetivo da interdisciplinaridade é de superar uma visão restrita e levar o
aluno a ter uma visão globalizada do mundo em que se vive, para uma
melhor compreensão da realidade, além de perceber-se como um ser
determinante e determinado. Ou seja, inserir a interdisciplinaridade no
processo de ensino- aprendizagem também permite prepará-los para
enfrentar os vários desafios de um mundo cada vez mais globalizado, que
exige do ser humano um conhecimento sempre mais amplo e integral
(LUCK, 1994, p. 67).

A presente pesquisa desenvolveu-se com o objetivo de investigar qual a ótica dos


professores sobre a contribuição da interdisciplinaridade para o processo de ensino-
aprendizagem na Escola Luis de França Moreira, localizada no município de
Imperatriz, Estado do Maranhão.

A investigação partiu de uma abordagem qualitativa, aplicando-se entrevistas a partir


do olhar da fenomenologia. A relevância da pesquisa refere-se à questão de
compreender-se um tema tão significativo no contexto educacional, bem como,
demonstrar o que de fato é a interdisciplinaridade e também apurar de que forma
esta é vista e consolidada nas práticas realizadas.

Com relação à estrutura da pesquisa, em seu início, aborda-se a


interdisciplinaridade com a sua historicidade, conceito, contribuição, papel do
professor na sua realização e a metodologia que caracteriza tal prática. Na segunda
etapa, foca-se na metodologia usada para a realização da pesquisa.

2 PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES NO PROCESSO DE ENSINO-


APRENDIZAGEM

2.1 O surgimento da Interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade surge na década de 1960 em virtude da visão positivista que


dividiu a ciência em várias disciplinas e campos diferentes de estudos. Dentro desse
contexto, à interdisciplinaridade aparece para promover um diálogo entre essas
várias áreas que se encontram fragmentadas e, a partir daí esse termo, se
desenvolveu também na área da educação.

Com a Revolução Industrial, houve uma fragmentação concernente ao


conhecimento, pois se passou a ter necessidade de um trabalho mais especializado
e para isso era preciso concordar com saberes específicos de uma determinada
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área. Desse modo, foi essa subdivisão da ciência que provocou o surgimento da
interdisciplinaridade para estabelecer uma reconciliação entre os diversos saberes e
é logo após a segunda guerra mundial que ela ganha ainda maior interesse.

O movimento da interdisciplinaridade surge na Europa, principalmente na França e


Itália, em meados de 1960 em um contexto em que os estudantes, numa atitude
anticapitalista, tomavam um posicionamento crítico diante da instituição universitária,
que se discutiam as práticas vigentes e a falta de relevância dos conteúdos que
nada tinha a ver com a realidade e com o contexto no qual os alunos viviam. Foi a
partir das exigências dos estudantes que houve iniciativas de mudanças no ensino,
e um dos elementos traçados como estratégia foi a interdisciplinaridade como um
meio de vincular conhecimentos adquiridos às práticas vividas (FOLLARI, 1995).

No Brasil, as primeiras discussões a respeito da interdisciplinaridade chegam no


final da década de 60, e passa a ser um tema bastante comentado e refletido no
contexto da educação, intensificando-se principalmente a partir dos estudos que
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foram desenvolvidos na década de 70 por alguns brasileiros, e o primeiro trabalho
de relevância sobre o tema no país foi de Hilton Japiassú com o livro “Patologia do
Saber”, publicado em 1976. Este autor foi influenciado por Georges Gusdorf, um dos
principais precursores na abordagem da interdisciplinaridade (FAZENDA, 2011).

Afirma-se ainda, que todas essas discussões acerca da interdisciplinaridade no


cenário brasileiro tornaram-se ainda mais intensa em decorrência da promulgação
da lei de diretrizes e bases da educação nacional de 1996 (LDB) e dos parâmetros
curriculares nacionais de 1998 (PCN), que no caso também passaram a elencar á
presente temática.

Constata-se que a interdisciplinaridade tem sua origem entrelaçada com fatos


marcantes da sociedade. Seu surgimento se dá conforme o aparecimento da
necessidade de se ter algo a mais, pois o que se tinha não era suficiente, não
atendia aos anseios e reais necessidades vivenciadas pelos alunos e, por
conseguinte, com o passar do tempo vai havendo uma maior produção de estudos
referentes ao tema, isso tanto mundial como nacionalmente, devido à percepção do
seu valor como um elemento importante na prática educacional.

2.1 Concepção de Interdisciplinaridade

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Segundo Fazenda (2011, p. 123), o termo interdisciplinaridade é usado para
designar uma colaboração entre diferentes disciplinas, não é uma ciência e sim ela
faz a comunicação entre os saberes científicos. Ela é uma questão de atitude, de
abertura e colaboração, que reconhece os limites e contribuição de cada saber, não
menosprezando, nem elevando uma única área do conhecimento.

Diante desse conceito, fica notório que esse termo é usado para nomear uma
concepção de ensino baseada na produção de um diálogo e constante comunicação
entre os diversos saberes que se tem acesso, ligando um ao outro e percebendo a
relevância de cada um. E ainda, consiste numa ação que se faz a partir de um
posicionamento diferenciado mediante ao ensino.

A interdisciplinaridade se fundamenta na produção do saber, baseia-se em transferir


saberes de um sistema para o outro, como mediadora que proporciona uma
compreensão mais crítica perante a cooperação e assimilação de um conteúdo a
partir do deslocamento de um contexto para outro de forma sistemática. Não é uma
mistura de conteúdo de diferentes disciplinas, mas a interdisciplinaridade busca
elementos comuns para que se chegue a uma unidade global de um determinado
conhecimento (ETGES, 1995).

Assim sendo, é uma maneira, uma atitude, que envolve as partes em harmonia
criando uma ligação mais estreita, no caso, com as disciplinas advindas das ciências
que formam todo um conjunto de conhecimento do qual é transmitido às pessoas e é
justamente a concretização desses processos que caracterizam a existência de um
trabalho interdisciplinar.

Além disso, de acordo com Fazenda (2011), a interdisciplinaridade é uma atitude, de


busca, espera, reciprocidade, desafio, envolvimento, comprometimento, diálogo com
os outros e consigo mesmo. São essas atitudes possíveis de serem exercidas diante
do conhecimento que definem a interdisciplinaridade.

Em suma, fica claro que, o conceito de interdisciplinaridade não se restringe ao mero


aspecto de integrar disciplinas, ela vai além, já que permite também fazer
discussões, respeitar o que vem do outro e, além de tudo, reconhecer que o
conhecimento deve ser orientado por uma concepção de que o todo é relevante para
que se compreenda melhor as partes.

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2.2 A Interdisciplinaridade a e Prática Docente

O que leva a entender que no processo de ensino, uma prática interdisciplinar faz
com que o aluno consiga ter um melhor desenvolvimento, não apenas no ensino,
como também na pesquisa, faz com que um entendimento mais amplo da realidade
faça o aluno ter um melhor posicionamento e exercício de criticidade.

A interdisciplinaridade denota um aspecto preponderante, do qual a sua


realização possibilita uma superação aos problemas que envolvem o
ensino, a pesquisa e a forma de como o conhecimento é tratado, que em
virtude da fragmentação acaba sendo limitado. Ela ainda faz uma
associação entre teoria e prática e a produção de conhecimentos mais
globalizado e abrangente para que o aluno exerça criticamente sua
cidadania em virtude de uma visão global da realidade (LUCK, 1994, p. 87).

Para Severino (2008), a necessidade da interdisciplinaridade durante o processo de


aquisição do conhecimento, se fundamenta no caráter dialético da realidade que é
concomitantemente una e diversa, já que exige os limites do objeto investigado, mas
também não se pode perder a totalidade por ser algo indissociável. Ou seja, ela é
fundamental devido à dialética que possui, de abertura para o diálogo sendo que
essa prática exige um conhecimento aprofundado do que está sendo visto, pois, a
compreensão do todo facilita o entendimento de um objeto específico.

A aplicabilidade da interdisciplinaridade está em permitir ao indivíduo uma


melhor formação, tanto geral como profissional, de pesquisadores, além de
ser uma maneira de superação da dicotomia entre ensino e pesquisa que
possibilita a compreensão do mundo através de uma educação permanente
(FAZENDA, 2011, p. 34).

Daí percebe-se a grande importância da interdisciplinaridade no processo de ensino,


já que fornece, ao mesmo tempo, ampla formação nos vários setores do ser
humano, fazendo com que se compreenda realmente aquilo que cerca a vida no
mundo, contribuindo para uma formação que contemple o pesquisador, o
profissional e aquele que busca constantemente.

Assim, a interdisciplinaridade é uma forte ajuda ao trabalho do professor, já que


parte das reais necessidades que se tem, e a partir daí traça um caminho para
seguir, que possa verdadeiramente atender aos educandos naquilo que precisam.

2.3 A Prática Docente na Construção da Interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade é um movimento que cabe ao professor assumir e construí-lo,


a partir da interação que se tem com os alunos, sendo um intermediário no processo
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de elaboração do conhecimento para que este seja aberto, dinâmico, interativo e
não apenas algo imposto.

Uma ação interdisciplinar tem o professor como uma peça fundamental para
que a efetivação da mesma, na prática da interdisciplinaridade é necessária
uma atividade que parta do educador, apresentando uma postura que
supere o parcelamento do saber e proporcione uma visão global e objetiva.
Além disso, essa prática ainda estimula a competência do professor na
organização e produção de novos conhecimentos (BARBOSA, 2005, p. 54).

O que leva a perceber que a prática interdisciplinar só pode acontecer no momento


em que o professor assume realmente o compromisso de trabalhar com tal proposta,
pois pertence a ele esse papel de tornar concreta a efetivação da
interdisciplinaridade dentro da sala de aula.

O papel do professor é essencial, pois é ele quem consegue perceber o que o aluno
precisa, o que a educação pode lhe propor. É a interdisciplinaridade do professor
que pode envolver o aluno, fazendo-o avançar e vivenciar uma prática educativa que
seja bem mais produtiva. Sem a presença do professor dificilmente poderá existir a
interdisciplinaridade no contexto educacional, pois deve partir deste a execução de
tal ação.

E nisto consiste a relação do professor com a interdisciplinaridade; de fazer com que


ela aconteça, de primeiramente querer e se disponibilizar a trabalhar com esse
determinado mecanismo pois é sua a função a de tornar realidade o exercício
interdisciplinar em sala de aula.

De acordo com Barbosa (2005), uma forma que está sendo utilizada pelos
educadores é o uso de temas ou a integração temática interdisciplinar para que se
possa ter uma educação que se aproxime mais da realidade do aluno de um modo
que a aprendizagem seja mais significativa. Com isso, é visível que a ação
interdisciplinar vem para promover uma melhor apropriação da realidade. E o
professor é o responsável para tornar essa prática concreta aproximando-a do
aluno.

Além disso, Fazenda (2011) assegura que a parceria é a grande base da


interdisciplinaridade. O educador que pretende ser interdisciplinar é sempre parceiro,
tanto dos teóricos como dos outros professores e também dos alunos. Ele nunca é
solitário, pois preza pelo trabalho coletivo e vê o outro como importante. Então, além
de tudo que já foi mencionado, o professor ainda tem essa tarefa de atuar como um

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parceiro de todos os demais envolvidos nesse processo de aprendizagem e que
desejam a viabilização da interdisciplinaridade.

Portanto, entende-se que o professor é a peça preponderante para promover a


efetivação da interdisciplinaridade no ambiente educacional e consequentemente
para uma melhor produção de conhecimento.

2.4 O Trabalho Interdisciplinar e seus Métodos

Para que eventualmente a interdisciplinaridade possa acontecer, faz se necessário a


aplicação de uma metodologia que contemple uma atitude interdisciplinar, que esteja
em conformidade com os fundamentos e princípios que caracterizam esse tipo de
trabalho.

De acordo com Fazenda (2011), para a aplicação de uma metodologia


interdisciplinar, é preciso questionar o modo de como as disciplinas e o ensino estão
sendo desenvolvidos, a partir do indivíduo que se deseja ter, ou seja, se condiz com
o objetivo desejado. Ela reconhece a relação existente entre as disciplinas com uma
linguagem clara para que seja compreensível.

A metodologia interdisciplinar exige como pressuposto uma atitude especial ante o


conhecimento, que seja de reconhecimento das competências e limites de cada
disciplina, que possibilita uma ação de abertura a enfoques, alicerçada no diálogo,
na colaboração, no desejo de inovar, de criar, de pesquisar, de envolvimento, de
participação, e de questionamentos.

O exercício de dinamismo que procura envolver vários tipos diversificados


de atividades que leva em consideração aquilo que cada disciplina possui e
que pode estar sendo relevante para uma prática mais eficiente e de um
verdadeiro envolvimento com o que é proposto, que estabelece um diálogo
com os demais componentes que sustentam todo o trabalho. Ou seja, é
uma metodologia dinâmica, que dialoga, que envolve, que mantém uma
relação com os componentes que formam as estruturas do trabalho, o que
pode se dizer que esta, é principalmente dialética (FAZENDA, 2011, p. 43).

Um conhecimento interdisciplinar procura, em sua metodologia, problematizar um


determinado tema em seus mais variados ângulos para uma investigação e síntese
interdisciplinar, ou seja, ter uma visão com mais amplitude, a partir de
conhecimentos diversos, cada um com suas especificidades, e que juntos resultam

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numa percepção globalizada, nesse caso faz uso de uma prática que une, fazendo
com que um tema gerador congregue variadas formas de conhecimento (BARBOSA,
2005).

Percebe-se assim que a interdisciplinaridade procura trazer à tona uma problemática


e fazer com que esta seja compreendida de maneira que todos os aspectos que as
envolvem sejam levados em consideração, desse modo, será possível a aquisição
não de apenas um conhecimento, mas, de vários.

A interdisciplinaridade não tem seus próprios procedimentos, pois estes variam de


acordo com o desejado, com a particularidade de cada caso, e deve satisfazer as
necessidades surgidas. O que leva a compreender que não há uma maneira única
que deve caracterizar o trabalho interdisciplinar, já que este busca soluções para as
necessidades surgidas no decorrer da aprendizagem. Desse modo, vai depender do
caso, de maneira específica.

3. REFERENCIAL METODOLÓGICO

A pesquisa realizada teve uma natureza qualitativa, possuindo um caráter


exploratório e a partir de um enfoque fenomenológico. Segundo Teixeira (2006), a
pesquisa qualitativa busca compreender profundamente o contexto da situação,
mediante uma observação interna do pesquisador, além disso, ela diminui a
distância entre a teoria e os dados adquiridos no cotidiano. Para Barbosa (2005), a
pesquisa exploratória procura adquirir informações sobre um determinado objeto e
constatar as verdadeiras condições de manifestação que este possui.

A pesquisa compreendeu como universo a Escola Luís de França Moreira,


localizada no município de Imperatriz, Estado do Maranhão. Realizou-se uma
amostra representada por 10 professores, e os mesmos foram escolhidos pelo
critério de acessibilidade.

Para que fossem respondidos aos objetivos específicos traçados, foram realizadas
entrevistas semiestruturadas. Segundo Trivinõs (2007), a entrevista semiestruturada
é aquela que parte de questionamentos interessantes para a pesquisa e oferece
ainda uma ampliação das interrogativas na medida em que possa surgir a
necessidade de novos questionamentos.

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A princípio, foi entregue na instituição, a carta de apresentação, explicitando os
objetivos pretendidos. Logo depois, foi entregue para cada professor que aceitou
participar da pesquisa, o TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que
faz menção à resolução 466/12-CNS, que assegura o caráter ético da pesquisa.
Depois de lido, o termo foi assinado confirmando a participação na pesquisa.

A pesquisa aconteceu durante o mês de maio de 2016, e o local em que isto ocorreu
foi no próprio ambiente de trabalho dos professores, ou seja, na escola. As
entrevistas duraram cerca de 10 minutos, as mesmas foram gravadas e
posteriormente transcritas pela própria pesquisadora, também foi elaborado um
roteiro que serviu de apoio na condução das entrevistas.

Para a posterior análise dos resultados provindos das entrevistas realizadas, foram
criadas categorias que emergiram dos quatro objetivos específicos. Cada objetivo
constitui-se em um eixo norteador para elaborar o roteiro da entrevista e possibilitar
a criação de aspectos, que veio facilitar a análise temática, permitindo se fazer
associações, convergências, divergências, semelhanças e coerências, a partir das
falas dos participantes.

As categorias são as seguintes: 1- Perfil dos Docentes; 2 - Concepção sobre


Interdisciplinaridade; 3 - Dificuldades de Práticas Interdisciplinares; 4 - Práticas
Metodológicas.

Concernente à formação acadêmica, todos são graduados e 05 possuem Pós-


Graduação. Foi perguntado aos docentes o que eles entendiam por
interdisciplinaridade e todos eles, de D1 a D10, tiveram a mesma visão,
respondendo que esta é o relacionamento existente entre as disciplinas, é a
correlação entre todas as áreas do conhecimento, é trabalhar um conteúdo
abrangendo várias áreas, trabalhar meu conteúdo sem abrir mão de outras
disciplinas. E de um modo geral, percebeu-se que as respostas se assemelham
também ao que é citado por Santo (2005), ao mencionar que a interdisciplinaridade
pode ser compreendida como um ato que se respalda em atitudes de troca e
reciprocidade entre as disciplinas, ou melhor, entre as áreas do conhecimento.

A interdisciplinaridade pretende, através das várias disciplinas e do


conhecimento que cada uma possui, compreender um fenômeno ou
resolver algum problema existente na realidade, sob os diversos pontos de
vista, fazendo uso de um saber útil para melhor entender seu entorno e
adquirir uma aprendizagem significativa, que responda os vários
questionamentos presentes na sociedade contemporânea (BRASIL, 1999,
p. 156).

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Quanto a esse aspecto, questionou-se qual a contribuição que a interdisciplinaridade
pode trazer para o processo de aprendizagem dos alunos. Para D1, D2, ela
possibilita ao aluno uma visão global, não se limita a uma disciplina. Para D3, D4,
ela permite ao aluno uma facilidade na compreensão do conteúdo trabalhado, e D5
a D7, afirmaram produzir um relacionamento entre aluno e professor trazendo
crescimento como construção do conhecimento. E D8 a D10 foram enfáticos que a
interdisciplinaridade produz a formação de cidadãos críticos e participativos na
tomada de decisões.

Partindo dessas respostas, evidencia-se uma convergência, já que partem de um


mesmo ponto de vista, além de mostrar conformidade com o que é mencionado por
Luck (1994), que a interdisciplinaridade faz uma associação entre teoria e prática e a
produção de um conhecimento global e abrangente para que o aluno possa exercer
sua cidadania em virtude de uma visão contextualizada. Pode se dizer que, a partir
do que foi respondido, todos os professores têm a consciência de que a
interdisciplinaridade é importante e contribui na aprendizagem dos alunos.

Segundo Barbosa (2005), na maioria das vezes a interdisciplinaridade não é


efetivada por causa do não conhecimento do que ela significa e de pessoas que
assumam o compromisso de realizá-las e levar adiante. A partir disso, questionou-se
o que pode ser feito para uma melhor efetivação da interdisciplinaridade. Houve uma
variação nas respostas: Para D1 e D3, é necessário que seja feito uma reformulação
curricular, advinda do MEC e de modo que seja para a educação como um todo, em
nível de país mesmo. D4 foi bem objetivo e direto, dizendo que para que isso de fato
aconteça, é necessária à criação de projetos que envolvam as várias disciplinas.
Para D5, D6, D7, D8, D9, a efetivação da interdisciplinaridade acontece a partir do
planejamento dos docentes, que precisam direcionar seus planejamentos para a
execução dessa prática, estabelecendo no mesmo, metas e estratégias para que
essa possa realmente ser realizada. D10, disse usar os recursos disponíveis como,
recursos áudio visuais, jogos, etc.

Desse modo, percebeu-se que a maioria acredita que para uma melhor efetivação
da interdisciplinaridade, faz-se necessário um trabalho por parte do professor pois é
dele a tarefa de desenvolver tal ação. Do mesmo modo que é visto por Luck (1994),
cabe ao professor exercer o papel de assumir e construir essa pratica
interdisciplinar.
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Vinculado a visão sobre a docência, os professores foram questionados como se
viam como professores. As respostas foram: D1 se vê como um facilitador da
aprendizagem para garantir ensino eficiente em todas as áreas do conhecimento. D2
foi bem sucinto e objetivo, dizendo ser compromissado e responsável. E para D3 a
D9, estes se veem como colaboradores, que ajudam e procuram colaborar com a
aprendizagem dos alunos. D3 ainda ressalta que se vê com muita aptidão e
habilidade no que faz. Nas falas, verificou-se que este grupo de docentes busca
estar colaborando com seus alunos, contextualizando, fazendo-os perceber a
realidade e estando próximo deles para que o processo de aprendizagem seja mais
produtivo.

Seguindo a entrevista, foi perguntado para os professores quais dificuldades


eles têm encontrado para a concretização de uma prática interdisciplinar. Para D4,
D5 e D7, a falta de tempo é um grande obstáculo, pois este é pouco para as
inúmeras atividades que o professor precisa realizar. Inclusive, relacionado a isso,
Fazenda (2002) enfatiza que o tempo para se dedicar a este tipo de trabalho é curto,
assim também como a vida é curta, logo, cabe ao professor encontrar e
disponibilizar um pouco do seu tempo para isso. D1, D2 e D3, afirmam ser a
resistência dos outros professores, muitos não se prepararam, nem gostam dessa
questão da interdisciplinaridade e por isso preferem trabalhar de forma isolada. Já
nas falas de D6 a D10, disseram encontrar-se no feedback do aluno, muitos não
devolvem aquilo que é trabalhado em sala de aula; são dispersos, não tem atenção
e demonstram falta de interesse no que é exposto.

Desse modo, identifica-se uma variação nas opiniões de cada um, levando a
compreender que são encontradas diferentes dificuldades por parte de cada
professor, semelhantemente a ideia de Fazenda (2011), ao expor que numa prática
interdisciplinar, são encontradas várias barreiras que vão desde ordem pessoal,
institucional, material. Contudo, todas essas barreiras precisam ser vencidas, por
algo maior que isso, que é o anseio de criar, de buscar inovações e de ir bem mais
além, se aprofundando no conhecimento.

No que se refere às práticas interdisciplinares, as respostas dos professores


foram diversificadas. Para D1 quando eu vejo um conteúdo que é possível fazer,
então eu tento colocar interdisciplinaridade. D2 a D4 buscam estar se atualizando,
através de leituras, informações, etc. Já os demais dizem que buscam, através da
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contextualização dos conteúdos, tornando-o próximo da realidade do aluno. Assim
sendo, constatou-se que cada docente procura melhorar sua prática interdisciplinar
de maneiras variadas, de acordo com o que eles acreditam ser o caminho para que
ela realmente aconteça, portanto, está havendo essa atitude tão necessária para
que a interdisciplinaridade ocorra.

Para que isso aconteça de forma interdisciplinar, Libâneo (2009), afirma:

Faz-se necessário uma mudança, tanto de pensamento como na prática


desenvolvida pelo docente, pois se o professor fornecer ao aluno um saber
fragmentado e descontextualizado, ele não vai conseguir pensar de forma
interdisciplinar, ou seja, se o professor não exerce esse tipo de trabalho,
evidentemente que o aluno não poderá vivenciar tal prática (LIBÂNEO,
2009, p. 43).

Também foi identificado junto aos docentes práticas metodológicas usadas em sala
de aula para a concretização da interdisciplinaridade. E diante dos relatos,
constatou-se uma coerência nos meios utilizados. Todos usavam os recursos
disponíveis como: a leitura, atividades em grupo, e atividades extraclasse, tudo,
dentro de uma perspectiva interdisciplinar. De acordo com Fazenda (2011) para a
aplicação de uma metodologia interdisciplinar, é preciso questionar a maneira de
como as disciplinas e o ensino estão se desenvolvendo a partir do indivíduo que se
deseja ter.

Por fim, os docentes foram indagados se a escola oferece alguma estratégia para
que eles possam trabalhar a interdisciplinaridade e de que forma ela faz isso. Diante
das respostas, evidenciou-se diferentes pontos de vista: Segundo D1, D3 e D6,
ainda falta uma ação específica: “se fala sobre esse tema na escola, mas falta uma
ação efetiva.” Para D2 e D4, “essas estratégias são oferecidas através dos projetos
que são realizados pela escola, como feira de ciências, projetos de leituras, de
música, eventos culturais, etc.” D5 afirmou que “oferece, mas cabe ao professor
estiliza-los da melhor forma possível para uma prática interdisciplinar.” Em acordo,
D7 a D10 destacaram que “a escola proporciona através das reuniões com os
professores, visando assim sanar as eventuais dificuldades encontradas, e caberá
ao professor desenvolver essas práticas em sala de aula”.

Mediante as falas dos professores, ficou claro que a escola precisa melhorar
mais a visão e efetivação da interdisciplinaridade, evidenciando assim as palavras
de Severino (2005), onde diz que, “a prática da escola, para que consiga superar a
fragmentação, precisa de propostas e valores que sejam explicitados e assumidos,
pautados na intencionalidade que é a força norteadora para o funcionamento da
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escola, sendo assim, algo que não pode deixar de existir é a intencionalidade, ter um
projeto educacional que contemple o trabalho interdisciplinar é fundamental para
uma presença mais permanente e notória dessa prática.”

REFERÊNCIAS

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