Você está na página 1de 25

UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL

ESCOLA DE PSICOLOGIA

IVANISE SILVA POLICELLO


SANDRA PAULA ROSAS BOTEON

Atuação de Psicólogas (os) no enfrentamento a violência doméstica contra as


mulheres: Conhecendo as práticas voltadas para a desnaturalização deste
fenômeno

São Caetano do Sul


2021
IVANISE SILVA POLICELLO
SANDRA PAULA ROSAS BOTEON

Atuação de Psicólogas (os) no enfrentamento a violência doméstica contra as


mulheres: Conhecendo as práticas voltadas para a desnaturalização deste
fenômeno

Trabalho de Conclusão de Curso


depositado em formato de artigo
científico como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Psicologia.
Orientadora: Fabiana Cristina de Souza

São Caetano do Sul


2021
RESUMO

A violência doméstica contra a mulher é um problema antigo na sociedade e por vezes


parece estar naturalizado. Mesmo após a construção de marcos lógicos e legais que
representam avanços significativos, os dados estatísticos revelam números cada vez
mais alarmantes em relação a violência doméstica. Segundo os resultados do Instituto
de Pesquisa DataSenado, realizada em 2019, demonstram que entre 2011 e 2019
houve um aumento 284% de mulheres agredidas. Por ser a violência sofrida pela
mulher um problema social de saúde pública e por ser um direito humano que ao longo
do tempo vem sendo negligenciado acreditamos que recebam atendimento
especializado que visem ações de cuidados pelo Centro de Referência Especializado
de Assistência Social (CREAS). O estudo teve como objetivo conhecer as práticas de
atendimento realizadas por psicólogas (os) que trabalham no CREAS localizados na
região do grande ABC paulista. A metodologia da pesquisa teve caráter qualitativo
com natureza exploratória. Partimos da abordagem da Psicologia Sócio - Histórica
para analisar os dados das entrevistas, por acreditar ser uma problemática da
sociedade que interfere diretamente na saúde da mulher. Os resultados deste estudo
foram agrupados em cinco categorias de análises e revelam que todas as mulheres
que buscam atendimento no CREAS são atendidas, com o objetivo de
empoderamento, no entanto não há um protocolo específico de atendimento. As
mulheres vítimas de violência buscam por ações concretas e quanto maior o grau de
instrução maior a adesão ao atendimento. Foi observado dificuldade em realizar
trabalhos multidisciplinar e ações que visam uma proposta de Clínica Ampliada.
Conclui-se que o CREAS atende todas as mulheres que buscam por ajuda, porém
muitas delas não aderem ao atendimento ofertado. Observa-se a importância de
construir práticas de atendimento ao agressor como forma de conscientização e
prevenção a novas vítimas.

Palavras chaves: violência doméstica, violência contra a mulher, atendimento


psicológico.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................4

2 METODOLOGIA .......................................................................................................7

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..............................................................................9

3.1 Entrada das mulheres vítimas da violência doméstica no CREAS .................... 9

3.2 Atendimentos oferecidos e as percepções das entrevistadas sobre eles ........ 10

3.3 Formação continuada e protocolos de atendimentos que orientam a prática .. 15

3.4 Atendimento Multidisciplinar e Clínica Ampliada ............................................. 16

3.5 Atendimento ao agressor ................................................................................ 18

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................20

REFERÊNCIAS .........................................................................................................22
4

1 INTRODUÇÃO

A violência doméstica contra a mulher é um problema antigo na


sociedade e por vezes parece estar naturalizado. Mesmo após a construção de
marcos lógicos e legais como: as Delegacias da Mulher, em 1980, a Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher, em
1981, a Convenção de Belém do Pará, em 1994, a Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde da Mulher, em 2004, a criação da Lei Maria da Penha (Lei
11.340), considerada como um divisor de águas por garantir o direito à vida sem
violência, entre outros que representam avanços significativos “fruto das
mudanças sociais e políticas no país, acompanhando o desenvolvimento do
movimento de mulheres e o processo de redemocratização” (Santos & Izumino,
2005), observamos que os dados estatísticos revelam números cada vez mais
alarmantes em relação a violência doméstica.

Segundo os resultados do Instituto de Pesquisa DataSenado


realizada em 2019 revelaram que entre 2011 e 2019 o percentual de mulheres
agredidas subiu de 13% para 37%. Ao mesmo tempo, os números apresentados
no Atlas da Violência de 2019, reforçam que no Brasil, no ano de 2017 houve
um aumento de mulheres assassinadas, totalizando 4936 mulheres mortas,
vítimas do feminicídio, o que representa um crescimento expressivo de 30,7%
na década em análise (2007-2017). Podemos observar um crescimento durante
a pandemia do COVID-19, de acordo com os dados do Ligue 180, que registra
um aumento de 9% no número de ligações para o canal que recebe denúncias
de violência contra a mulher. (Brasil, 2020)

A violência doméstica contra a mulher tem se constituído em violência


de gênero que, de acordo com Monteiro (2012), deve ser compreendida na
relação de poder e na dominação do homem contra a mulher. Essa dominação
gera uma hierarquização dos papéis de gênero decorrente de uma construção
sociocultural baseada no patriarcado. Segundo o mesmo autor, Monteiro (2012),
o patriarcado pode ser entendido como um sistema que propicia a desigualdade
hierárquica dos sexos através de ideias e valores que fundamentam a
dominação do homem sobre a mulher. Acreditamos, desta forma, que a cultura
5

do patriarcado contribui para o fortalecimento da brutalidade contra a vida das


mulheres que muitas vezes acaba em feminicídio.

Provocadas pela busca de compreender o sofrimento causado pela


violência doméstica contra a mulher e também por acreditar que em nossa
atuação profissional certamente iremos nos deparar com esta problemática,
surgiu em nós o interesse em conhecer as práticas de cuidado desenvolvidas
nos serviços de atendimento a essas mulheres. Optamos pelo CREAS, por ser
um órgão governamental da assistência social que tem entre suas atribuições
atender as situações de violência desta ordem.

O objetivo que norteou o trabalho foi conhecer as práticas que


psicólogas (os) realizam no CREAS do grande ABC paulista com as mulheres
vítimas de violência doméstica. Para isso buscamos através de entrevistas e
pesquisas bibliográficas conhecer como as mulheres em situação de violência
são encaminhadas para o atendimento nas unidades do CREAS, os tipos de
atendimentos oferecidos pelo CREAS, quais são os serviços disponíveis na
Rede de Proteção presentes no trabalho junto com o CREAS e identificar se
esses atendimentos estão em conformidade com as diretrizes estabelecidas pelo
CREPOP, e ainda, se acontece um atendimento multidisciplinar e na perspectiva
de Clínica Ampliada.

A metodologia utilizada teve caráter qualitativo com natureza


exploratória e o modelo utilizado seguiu uma sequência de atividades propostas
por Gil (2002), levantamento bibliográfico, coleta de dados estatísticos e
propostas de práticas de cuidados.

A importância desse trabalho se justifica por ser a violência sofrida


pela mulher um problema de saúde pública e por ser um direito humano que ao
longo do tempo vem sendo negligenciado, pois as estatísticas desse tipo de
violência aumentam e na maioria das vezes a culpa recai sobre a mulher, por
não ter desempenhado o papel social que lhe foi imposto a décadas.

De acordo com o art. 5º da Lei Maria da Penha, a violência doméstica


e familiar contra a mulher é “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que
lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial” (Brasil, 2006). Segundo o Instituto de Pesquisa DataSenado, a
6

violência física é predominante, com 82%, seguida da violência psicológica com


39% que causa prejuízos psicológicos difíceis de dimensionar porque cada um
tem um sofrimento que é seu.

A Lei Maria da Penha e o Pacto Nacional de Enfrentamento da


Violência Contra a Mulher traz referências importantes para a atuação de vários
profissionais incluindo psicólogas (os) “demonstrando uma posição clara de
enfrentamento dessa violência por parte do Estado” (CREPOP, 2012, p. 39),
sendo estas consideradas na construção das Referência Técnicas para a
atuação de psicólogas (os) elaborado pelo Conselho Federal de Psicologia no
ano de 2012, com a finalidade de orientar profissionais de Psicologia que atuam
na rede de serviços de atenção à mulher em situação de violência. “O trabalho
da (o) psicóloga (o) nesses serviços também é oferecer informações sobre a
rede de atendimento para construir juntamente com a mulher um plano de
enfrentamento à violência” (CREPOP, 2012, p. 64).

De acordo com o documento orientador, o profissional da Psicologia,


tem um papel muito importante nas redes de serviço, favorecendo o processo de
tomada de consciência destas mulheres vítimas de violência:

Seja para identificar os sinais de que uma mulher está em situação de


violência ou para avaliar as possibilidades de que a violência possa vir
a ocorrer, a (o) psicóloga (o) deve sempre intervir no sentido de auxiliar
a mulher a desenvolver condições para evitar ou superar a situação de
violência. (CREPOP, 2012, p. 64)

Sem perder a dimensão da sua atuação “na defesa dos direitos


humanos no sentido de desconstruir a ideia da suposta inferioridade das
mulheres.” (CREPOP, 2012, p. 65)

A presença do profissional da Psicologia no atendimento as mulheres


vítimas de violência doméstica foi assegurada a partir da Norma Técnica para
Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra
Mulheres e Adolescentes, de 1999, do Ministério da Saúde, que privilegia no
âmbito do Sistema de Saúde atendimento em equipes de trabalho
multidisciplinares. A profissional psicóloga (o) tem entre suas ações
“principalmente o acolhimento, a avaliação, a elaboração de laudos e pareceres,
7

os atendimentos individuais e grupais e o encaminhamento da mulher aos


demais serviços da rede” (CREPOP, 2012, p. 81), sendo que em algumas
situações atende também o autor da violência.

Quando pensamos em violência contra a mulher, logo associamos a


violência física, pois esta é a que ocorre com maior frequência, no entanto, há
outros tipos de violência como: a psicológica, a moral, a sexual e a patrimonial.

Considerando a complexidade que decorrem das situações de


violência doméstica, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade, a Clínica
Ampliada, de acordo com (BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção
à Saúde. Política Nacional de Humanização, 2014), traz uma proposta de
trabalho diferente das práticas tradicionais, pois busca compreender o
sofrimento do indivíduo para além das questões individuais, procura
compreender o fenômeno do sofrimento como uma situação de privações que
impossibilita o sujeito se ajustar na vida cotidiana.

Nesta perspectiva a Clínica Ampliada é uma intervenção coletiva e


política, segundo (Dettmann, Aragão, & Margotto, 2016), visto que estão
envolvidos nas práticas possibilidades de transformação tanto do sujeito como
da sociedade, usando como estratégia formas de potencializar a vida.

2 METODOLOGIA

O presente estudo foi desenvolvido utilizando-se como metodologia a


pesquisa de caráter qualitativo com natureza exploratória “estas pesquisas têm
como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a
torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses” (Gil, 2002, p. 41). Foi submetida
e aprovada pelo Comitê de Ética em pesquisas com seres humanos da
Universidade de São Caetano do Sul (USCS), sob o número de CAAE
40649720.0.0000.5510.
8

As participantes incluídas na pesquisa foram duas psicólogas que


atuam em CREAS da região do Grande ABC Paulista. Ambas com dois anos de
experiência no atendimento a mulheres que tiveram seus direitos violados.

Utilizamos como instrumentos na realização da pesquisa o


levantamento bibliográfico em artigos acadêmicos, livros que abordam o tema,
cartilhas orientadoras, dados estatísticos em órgãos oficiais e duas entrevistas
semiestruturadas com as participantes incluídas na pesquisa.

Estas entrevistas seguiram um roteiro com perguntas abertas


abordando assuntos referentes: como se dá entrada das mulheres vítimas de
violência doméstica para o atendimento no CREAS; os tipos de atendimentos
oferecidos; profissionais que geralmente atuam neste atendimento; como é
realizado o acolhimento a essas mulheres; quais são as percepções que
apresentam acerca dos atendimentos oferecidos, quanto às dificuldades
encontradas; a presença de uma escuta clínica neste atendimento; se há a
presença de um atendimento multidisciplinar e se ocorre no modelo de Clínica
Ampliada; se há protocolos de atendimento orientando a prática; como é
avaliado este atendimento e se contribui para mudanças na vida da vítima; se
recebem formação para atuar neste atendimento e se há no CREAS alguma
prática de atendimento ao agressor.

As entrevistas foram realizadas individualmente e ocorreram de forma


síncrona com duração média de 1 hora e 30 minutos através da ferramenta
Google Meet. Foi assegurado o sigilo das informações dadas, tanto por parte
das pesquisadoras quanto das entrevistadas.

As alunas pesquisadoras entraram em contato com as psicólogas que


trabalham no CREAS, por intermédio de um professor de uma universidade do
grande ABC Paulista.

O procedimento de análise dos dados ocorreu de forma qualitativa,


sendo que as atividades presentes na análise dos dados seguiram uma
sequência de atividades propostas por Gil 2002 como: redução dos dados,
categorização dos dados, interpretação dos dados e a redação do relatório.
9

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir das entrevistas realizadas com duas psicólogas que atuam


em CREAS na região do grande ABC paulista foi possível levantar os dados que
contribuíram para atingir o objetivo do presente estudo. Agrupamos os dados
obtidos em cinco categorias, que representam os principais temas abordados na
pesquisa. Utilizamos como nomes fictícios Maria e Raquel para identificar as
entrevistadas.

Partimos da abordagem da Psicologia Sócio - Histórica para analisar


os dados das entrevistas, pois enxergamos a violência contra a mulher em uma
perspectiva de construção social e histórica de um fenômeno que vem sendo
alimentado por uma lógica arraigada em valores provenientes de “uma ordem
social de tradição patriarcal por muito tempo consentiu um determinado padrão
de violência doméstica” (Berger & Giffin, 2005), desta forma não deve ser
analisada por uma lógica individualista, mas sim por uma problemática da
sociedade que interfere diretamente na saúde da mulher.

3.1 Entrada das mulheres vítimas da violência doméstica no CREAS

Esta categoria busca conhecer como se dá a entrada das mulheres


vítimas de violência doméstica para o atendimento no CREAS. De acordo com
as entrevistadas ocorrem por encaminhamentos de diferentes instituições que
vão desde a Saúde até a Defensoria Pública, porém algumas chegam de forma
espontânea. Ambas entrevistadas declaram ser o CREAS uma instituição de
“portas abertas”. Como é possível identificar através da fala:

“O atendimento a mulheres vítimas de violência funciona de porta


aberta aqui no CREAS, então elas podem chegar ou espontaneamente, procurar
o serviço, ou ela pode ter sido encaminhada por alguns serviços da rede. ”
(Raquel)

Acreditamos que utilizam essa expressão “portas abertas” por ser o


CREAS, (BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
10

Secretaria Nacional de Assistência Social, 2011, pp. 8 -11), uma instituição que
tem como referência ofertar um trabalho social a famílias e indivíduos em
situação de risco pessoal e social por violação de direitos. Como também por ser
uma instituição da Assistência Social, tem como compromisso, garantir a
cidadania, conforme descrito em suas orientações técnicas. Utilizam esta
expressão também pelo fato dos atendimentos nos CREAS não serem
obrigatórios, ou seja, a mulher pode optar ou não pelo acompanhamento e
desistir quando quiser.

Desta forma, podemos observar que todas as mulheres que buscam


a instituição recebem um acolhimento, mesmo não tendo clareza do que
precisam naquele momento, como relatado por Maria:

“Muitas chegam e não sabem exatamente o que querem, elas veem


por uma questão de desespero, então a gente explica o que a gente tem e aí vai
tentando traçar um caminho...” (Maria)

Segundo, (BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate


à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social, 2011, p. 14), neste
atendimento é preciso compreender o risco social a qual a mulher está
vulnerável, analisando a probabilidade de um evento acontecer no percurso de
vida dela, visto que, pela situação vivida, apresentam dificuldades em reunir
condições e forças para prevenir ou enfrentar a violação de direito. Raquel
menciona esse cuidado no atendimento quando traz:

“... o acompanhamento vai ter esse caráter de facilitar o acesso a


serviços que ela necessite” (Raquel)

3.2 Atendimentos oferecidos e as percepções das entrevistadas sobre


eles

Esta categoria procura conhecer o processo de acolhimento e como


as entrevistadas percebem as contribuições na vida das mulheres que buscam
por seus direitos, as dificuldades que encontram no percurso desses
atendimentos e quais ações poderiam ser incluídas para agregar maior potência
às ações ofertadas.
11

As entrevistadas declararam que qualquer funcionário técnico com


nível superior está preparado para atender à demanda da violência doméstica.
De acordo com os dados coletados, os funcionários técnicos que atuam no
CREAS são psicólogas (os) e assistentes sociais. Como relatado por Raquel:

"O acompanhamento do CREAS vai ser, por um psicólogo ou


assistente social, com o objetivo de empoderar essa mulher. ” (Raquel)

Há necessidade de avaliar as questões de saúde, segurança, a sua


integridade física e psicológica, como também de seus filhos. Por ser as
situações de violação de direito consideradas de alta complexidade “O
enfrentamento não compete unicamente a política de assistência social, exigindo
a articulação e desenvolvimento de ações complementares.” (BRASIL, Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de
Assistência Social, 2011, p. 15)

O órgão de defesa de direitos e outras políticas sociais são


direcionadas para garantir a proteção integral, como busca de pertences,
direcionamento para casas abrigos, avaliações médicas, realização de boletim
de ocorrência, contato com redes de apoio familiar, entre outros, conforme
relatado:

“Orientamos sobre os seus direitos e realizamos encaminhamentos


de acordo com a especificidade de cada caso, por exemplo, boletim de
ocorrência, exame de corpo delito, busca de pertences e crianças e
direcionamento para a casa abrigo ” (Maria)

Os atendimentos realizados no CREAS, segundo os dados


levantados, são livres de julgamentos, evitando assim a reemissão da violência.
Tem como objetivo empoderar a mulher, ou seja, que ela possa ter consciência
de seus direitos garantidos pela Lei Maria da Penha, conhecer a rede de serviços
disponíveis e ter clareza sobre a possibilidade de ir para uma casa abrigo.
Podemos observar pela fala de Raquel que:

“... o acompanhamento vai ter esse caráter de empoderar a mulher e


de fazer ela se sentir acompanhada nessa caminhada, de fazer ela refletir
realmente sobre o lugar que ela ocupa e o lugar que esse companheiro ocupa
na vida dela” (Raquel).
12

Observamos pelo relato acima que o atendimento oferecido visa não


causar a mulher mais sofrimento. Declararam situações onde as mulheres
vítimas da violência doméstica, sofreram a reemissão da violência por parte de
profissionais que deveriam assegurar o direito a essa vítima:

“... não é porque é a delegacia da mulher que ela vai ser bem
recebida lá tá, nós temos vários casos, vários relatos de mulheres que foram
maltratadas na delegacia da mulher e o agressor foi tido como “ai coitado”
(Maria)

Assim, podemos observar que ambas as entrevistadas demonstram


esta preocupação e reconhecem que vivemos em uma sociedade que carrega
na origem desta violência o controle, fruto do patriarcado, onde o homem acha
que tem o domínio e a propriedade da mulher. Por este motivo, é muitas vezes
incriminada pela violência sofrida quando busca ajuda. Podemos observar o
cuidado neste atendimento ao ouvir que:

“... priorizamos uma sala de atendimento específica, com sofá,


televisão, brinquedos, pois muitas vezes chegam com seus filhos e essa sala
facilita o acolhimento, escuta e os encaminhamentos necessários. ” (Maria)

Por ser o CREAS uma política da assistência social, não tem como
papel realizar atendimentos psicoterapêutico, assim os dados demonstraram
que havendo a necessidade de um atendimento clínico as mulheres são
encaminhadas para as UBS ou CAPS, como orienta Maria:

“... então nós vamos ter uma escuta a princípio que não é terapia, mas
é terapêutico, porque nós como profissionais de psicologia não podemos fazer
atendimento clínico em nenhum órgão da assistência social…” (Maria)

E Raquel complementa:

“... diferente de um psicólogo clínico que atua na UBS, ele não vai ter
condições de aprofundar questões emocionais, questões profundas da mulher,
ele só vai focar na questão da violência mesmo. ” (Raquel)

Os dados revelaram não ser fácil para a vítima romper com o ciclo da
violência, como descreve Maria:
13

“... a gente tem de tudo um pouco, a gente tem mulheres que


conseguiram sim sair da situação de violência e tem mulheres que se afastam
por um momento, voltam com o agressor...” (Maria)

Percebemos assim que, embora tenham conhecimento de viver uma


situação de violência são dependentes financeira e emocionalmente do parceiro
e não querem ser responsabilizadas pelo fim da relação e dos laços familiares.
Podemos observar “o poder dos homens, ou do masculino, enquanto categoria
social” (Narvaz & Koller, 2006, p. 50), ou seja, que a forma da organização do
patriarcado perdura até hoje nas relações entre homens e mulheres e se tornam
mais evidente nas relações familiares. Verificamos a supremacia masculina
também nesta colocação de Maria ao compartilhar situações vividas pelas
mulheres ao buscarem ajuda:

“... não é bem assim, essa mulher está aumentando, está


exagerando”. (Maria)

Podemos observar este descaso nas instituições, ao mencionar sobre


a deficiência existente no judiciário quanto ao acolhimento à vítima, pois muitas
mulheres chegam ao CREAS com sentimento de humilhação e abandono o que
as fazem postergar a denúncia, segundo Maria:

“... a gente percebe que a delegacia da mulher muito menos a


delegacia comum não está preparada para lidar com outros tipos de violência
que não seja a violência física” (Maria)

Através desses dados podemos verificar que há reincidência da


violência em equipamentos, como as delegacias da mulher, que deveriam
protegê-las. Este fato, pode estar relacionado também a história de subjugação
e de desigualdade de direitos entre mulheres e homens. Levando-nos a acreditar
que ter conhecimento dos seus direitos e da situação de abuso que vive não são
suficientes para reverter os índices da violência doméstica, é preciso romper com
o paradigma e estereótipos construídos socialmente do que é ser mulher.

As questões que dificultam a adesão no atendimento, por parte das


vítimas, estão relacionadas a flexibilidade do sistema e a falta de ações mais
concretas como emprego, cesta básica ou benefício do governo, segundo
Raquel:
14

“... isso não é uma coisa que essas mulheres estão acostumadas a
vivenciar e se motivam a participar, algumas se motivam por resultados um
pouco mais concreto né. ” (Raquel)

Os dados demonstram ainda dois fatores que interferem na adesão.


O nível de instrução por parte da mulher que sofre violência garante maior
adesão aos encaminhamentos oferecidos. Enquanto níveis inferiores de
escolaridade demonstram que buscam o CREAS no momento de urgência, e
depois acabam desistindo. Quanto a esse segundo fator Raquel levanta como
hipótese:

“... talvez o que me passou pela cabeça é a falta de adesão, falta de


cultura, costume. (Raquel)

Essa questão nos remete às lutas ao longo da história pelos direitos


fundamentais como educação, sabemos que de acordo com os papéis que se
estabelecem as mulheres, muitas delas por se sentirem na obrigação de cuidar
de seus filhos abandonam os estudos.

Compreendemos que esta flexibilidade oferecida pela instituição


busca garantir a autonomia de decisão da mulher, no entanto, sabemos que por
sofrerem violência psicológica, apresentam danos emocionais e diminuição da
autoestima, conforme prescrito na lei Maria da Penha. Sendo assim, tomar
decisões e gerir suas vidas, não é algo comum a elas, pois vivem uma realidade
de controle, são ridicularizadas, humilhadas, sofrem perseguição e outras
situações que lhes causam prejuízos a saúde psicológica e a autodeterminação.
Assim, os encaminhamentos não dão conta de atender as necessidades reais
dessas mulheres, pois conforme menciona Raquel:

“... vem em busca de soluções concretas como um emprego, uma


cesta básica ou benefício do estado, quanto dão conta que no CREAS não vão
encontrar estas coisas, desistem.” (Raquel)

No entanto, os dados demonstram que o CREAS consegue trazer


benefícios para a vida das mulheres que buscam o atendimento como afirma
Maria:

“Eu acho que mesmo com toda a escassez do serviço público a gente
consegue fazer um excelente trabalho… ” (Maria)
15

3.3 Formação continuada e protocolos de atendimentos que orientam a


prática

Nesta categoria analisamos sobre os protocolos e documentos que


orientam a prática de atendimento no CREAS, como são construídos e quais as
referências. Analisamos também se recebem formação continuada para
potencializar a prática profissional.

Os dados demonstram que há documentos orientadores embasados


na OMS, na Lei Maria da Penha, na Constituição Federal e no Ministério Público.
Assim como, as orientações técnicas do próprio CREAS, do Consórcio
Intermunicipal, da Casa Abrigo e internas municipais. No entanto, procuram
salientar que o documento básico utilizado é a Lei Maria da Penha.

Os dados revelam a necessidade de outros documentos orientadores,


principalmente no que diz respeito às orientações técnicas:

“... eu gostaria que tivesse mais documentos elaborados para te


fornecer orientações técnicas mesmo, profissional. “ (Raquel)

Os instrumentos utilizados atualmente são uma ficha de dados


organizado pelo próprio CREAS, com a finalidade de ir para o prontuário, um
quadro de riscos com o objetivo de avaliar a gravidade do caso e direcionar os
encaminhamentos e um termo de consentimento da mulher formalizado pelo
Consórcio Intermunicipal destinado a casos para abrigamento. Os instrumentos
formalizados no CREAS são avaliados como orientações importantes para
garantir uma unicidade no atendimento às mulheres vítimas de violência
doméstica:

“... porque dentro das orientações técnicas do CREAS, visa o


atendimento à mulher vítima de violência …”

Acreditamos que possa existir, em diferentes regiões do Brasil, ações


desenvolvidas nos CREAS que revelaram resultados promissores, e o quanto a
troca de experiências profissionais favorece a construção de um protocolo de
atendimento mais específico para um problema que é de saúde pública.
16

Quanto à formação continuada, podemos verificar a partir dos dados


não acontecer:

“Não tem nenhuma formação específica, o que tem quando uma


pessoa entra é algumas orientações vinda do coordenador e da própria equipe
que já está atuando.” (Raquel)

No entanto, os dados revelam que cursos de especialização poderiam


potencializar as práticas de atendimento trazendo benefícios às usuárias, mas
não são possíveis de serem realizados devido ao alto custo:

“Eu tenho cursos mais caros que seriam muito ricos para nós, mas
esses a gente não consegue fazer.” (Maria)

Notamos que não há uma formação específica, a aprendizagem se dá


pelas experiências destes atendimentos:

“... às vezes fazem atendimentos em conjunto para fins de


aprendizado, ir pegando o jeito de atendimento, mas formação específica formal
mesmo não tem. ’ (Raquel)

O que acontece em termos de formação são palestras


disponibilizadas pelo Consórcio Intermunicipal e orientações do coordenador da
equipe que já atuou com atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica.
Segundo os dados, contribuem para a melhoria dos atendimentos.

Os dados não trouxeram referências ao CREPOP, sendo assim,


acreditamos não ser um documento que direciona os atendimentos nos CREAS
dos quais trabalham. No entanto, ao longo das entrevistas, levantamos que, nos
atendimentos, são garantidas muitas das ações propostas para o enfrentamento
da violência contra a mulher descritas na referência técnica, o que pode ser
observado na análise das demais categorias.

3.4 Atendimento Multidisciplinar e Clínica Ampliada

Nesta categoria verificamos se há um trabalho multidisciplinar e a


proposta de Clínica Ampliada no planejamento dos atendimentos a vítimas da
violência doméstica.
17

Os dados mostraram não acontecer nenhuma das intervenções


citadas nesta categoria. As razões para que isso não ocorra foram vinculadas à
própria função do CREAS, um centro de Assistência Social e não da saúde. O
CREAS atua como uma ponte para os serviços oferecidos na Rede de Apoio:

“O CREAS vê, e o que for relacionado a outros apoios que a mulher


precisava…” (Maria)

Com base no dado acima, acreditamos que estas intervenções estão


a cargo da Saúde e não da Assistência Social, porém, ao analisar o documento
de orientações técnicas do CREAS, constatamos que: “O trabalho social
especializado ofertado pelo CREAS exige que a equipe seja interdisciplinar.”
(BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria
Nacional de Assistência Social, 2011, p. 28), até porque as questões de violação
de direitos são complexas exigindo “conhecimentos e habilidades técnicas mais
específicas por parte da equipe, além de integradas com a rede.” (BRASIL,
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional
de Assistência Social, 2011, p. 27)

Os dados revelaram ainda não acontecer atendimentos em Clínica


Ampliada, devido à dificuldade na realização de projetos dentro do CREAS. No
entanto, projetos semelhantes a proposta de Clínica Ampliada acontecem fora
do CREAS:

“... tem projetos que não fogem muito disso […] e temos algumas
ONGs”

Constatamos que o atendimento multidisciplinar deveria acontecer


com mais frequência e de forma oficial:

“... eu acredito que deveria acontecer com mais frequência e com


mais técnica, eu gostaria que tivesse espaços oficiais para discussão de casos
e não existe…” (Raquel)

Verificamos que, há sim, uma preocupação com este tipo de


atendimento conforme preconiza as orientações do Caderno HumanizaSUS, no
que se refere: “redes de produção de saúde, procura dar conta desta coprodução
tensa entre as redes assistencial (com suas normas próprias – necessárias) e o
18

território.” (BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.


Política Nacional de Humanização, 2014, pp. 64-65)

Esta referência nos leva a acreditar que o trabalho da rede


assistencial e da rede de saúde precisam acontecer em equipe com intervenção
multidisciplinar para que as questões da família/indivíduo possam ser
compreendidas por uma visão ético-política, diminuindo assim, a fragmentação
de um atendimento verticalizado.

Com relação ao modelo de Clínica Ampliada, os dados revelaram que


não é possível de acontecer esta proposta, pois no atendimento a vítima de
violência doméstica, não podem realizar visitas domiciliares para garantir a
segurança dos funcionários e da própria vítima:

“... existe o risco… devido a agressividade não se faça visita


domiciliar... para diminuir a chance dessa exposição desse profissional... ”
(Raquel)

Ao visitar o referencial de orientações técnicas encontramos que cabe


ao CREAS considerar e reconhecer as singularidades de cada situação e definir
as intervenções. Ainda com base no referencial encontramos que o trabalho
social do CREAS deve reconhecer o protagonismos e autonomia dos usuários,
pois são “sujeitos de direito à escuta e que devem participar ativamente da
construção de projetos e decisões que possam repercutir sobre sua trajetória de
vida individual e familiar.” (BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social, 2011, p. 32)

Entendemos assim, que de acordo com a referência técnica há uma


perspectiva de que as intervenções ocorram em Clínica Ampliada, visto que, há
uma “intencionalidade de dar conta das problemáticas de exclusão do sujeito e
sua família''. (Soares, Susin, & Warpechowski, 2009, p. 159), assim como um
trabalho em equipe em rede de forma horizontalizada “em que se produz
interlocuções entre os serviços e os mesmos conseguem articular-se em rede,
isso poderá beneficiar o sujeito.” (Soares, Susin, & Warpechowski, 2009, p. 159)

3.5 Atendimento ao agressor


19

A última categoria analisada foi sobre o atendimento ao agressor.


Buscamos conhecer se existe uma prática de atendimento ao agressor no
CREAS ou algum encaminhamento para a rede de atendimento.

Com relação ao atendimento ao agressor, os dados revelaram não


acontecer no CREAS:

“...atendimento ao agressor, então não acontece… a gente trabalha


só com a mulher, (Raquel)

Acrescentam que deveria estar sob a responsabilidade do poder


judiciário para garantir o cumprimento por parte do agressor:

“...uma coisa já feita com o judiciário, esse homem vai ter que cumprir,
porque ou ele cumpre ou ele vai preso, então ele vai.” (Maria)

Os dados trouxeram também que o atendimento ao agressor contribui


para que não faça uma nova vítima:

“... a mulher consegue sair dessa relação, mas o agressor vai procurar
uma outra companheira e de repente vai ser a próxima vítima dele” (Raquel)

Os dados apontaram a existência de uma instituição na região do


grande ABC paulista que oferece esse atendimento ao agressor:

“... tem um projeto que fazia grupos com agressores” (Raquel)

Segundo (Toneli, Beiras, & Ried, 2017) por ser a violência doméstica
um problema social, apenas estruturar instituições ou promulgar leis protetivas
são insuficientes para resolver o problema. Assim como a segregação social do
agressor é uma crença ilusória, pois não se tem garantia de que deixará de
repetir o comportamento agressivo e violento.

De acordo com (Pessôa & Wanderley, 2020) apenas a força legal não
seria a solução mais adequada, assim se faz necessário ajudar o agressor com
o objetivo de evitar a reincidência da violência e prevenir novas vítimas.
Acreditam que “a responsabilidade pelo comportamento do agressor deve recair,
não apenas sobre este, mas sobre toda comunidade.” (Pessôa & Wanderley,
2020, p. 5)
20

Acreditamos que a implementação de políticas públicas com


programas de assistência ao agressor deve acontecer, porém sem perder o foco
da origem da violência que é a inferioridade e vulnerabilidade atribuída à mulher.
Assim, “não há possibilidade de promover reeducação do agressor sem a
desconstrução do próprio gênero.” (Castro & Cirino, 2020, p. 71)

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência doméstica contra a mulher é um problema antigo na


sociedade, mesmo após a construção de marcos lógicos e legais que
representam avanços importantes sobre a temática, os números da violência
estão cada vez mais alarmantes.

O interesse em conhecer as práticas de cuidados desenvolvidas no


CREAS as mulheres vítimas de violência doméstica, se deu por ser um órgão
governamental da assistência social que tem entre suas atribuições atender
situações em que houve violação de direitos.

Os resultados desse estudo mostraram que todas as mulheres que


buscam ajuda ou são encaminhadas para o CREAS são atendidas. Esses
atendimentos são realizados por funcionários técnicos com nível superior. Neles
estão presentes uma escuta acolhedora visando avaliar o risco social e o
planejamento de ações que possam garantir a proteção integral da mulher. Os
atendimentos têm como objetivo o empoderamento da mulher para que tenha
consciência de seus direitos e dos serviços disponíveis na Rede de Atenção
Básica. Constata-se que estes atendimentos não têm como objetivo uma escuta
clínica, por ser o CREAS uma instituição da Assistência Social. No entanto, os
dados mostraram que essas mulheres necessitam de psicoterapias, pois a
violência por ser também psicológica, interfere na saúde mental dessas
mulheres.

Os dados revelam que diferentemente do CREAS, às áreas da Saúde


não dão conta de atender as demandas vindas da violência doméstica contra a
mulher. Com isso, levanta-se a necessidade de políticas públicas e projetos
21

sociais que possam ofertar ações de cuidado quanto ao adoecimento mental


causados a essas mulheres vítimas da violência doméstica.

Nota-se que não há um protocolo específico de atendimento no


CREAS para as mulheres vítimas da violência doméstica e acredita-se que a
existência deste, poderia contribuir significativamente ao atendimento desta
situação de alta complexidade. Questiona-se se nas instituições de Saúde e do
Judiciário também não há protocolos específicos de atendimento, e o quanto
este poderia contribuir para não ocorrer a reincidência da violência, visto que, os
dados revelaram que ao buscar ajuda nessas instituições, as mulheres
frequentemente passam por situações constrangedoras.

Verifica-se que a aderência ao atendimento oferecido pelo CREAS,


muitas vezes não ocorre por parte das mulheres vítimas de violência doméstica.
Isto porque, às ações ofertadas pela instituição não são suficientes para garantir
autonomia financeira, segurança e autoconfiança buscadas por elas. A falta de
ações concretas como inserção no mercado de trabalho, auxílio financeiro por
parte do governo, proteção física para si e para os filhos, entre outras,
contribuem para que o ciclo da violência não seja rompido.

Indaga-se se a falta de formação continuada e de socialização de


práticas profissionais transformadoras, e o quanto a falta dessas ações pode
estar relacionada a dificuldade encontrada pelas profissionais do CREAS em
realizar intervenções multidisciplinares e propostas de trabalho em Clínica
Ampliada.

Observa-se que o atendimento oferecido pelas psicólogas assegura


o acolhimento, a avaliação, os encaminhamentos para os serviços disponíveis
na rede e favorecem o processo de tomada de consciência das mulheres vítimas
de violência doméstica. Conclui-se assim, que o atendimento realizado está em
conformidade com o que preconiza o documento de referência técnica elaborado
pelo CREPOP sobre a atuação da psicologia no atendimento às mulheres
vítimas de violência doméstica.

O estudo revelou que há poucos projetos que visam atender o


agressor e que este olhar para o agressor pode contribuir para a diminuição da
violência contra a mulher.
22

REFERÊNCIAS

(IPE), I. d., & (FBSP), F. B. (2019). Atlas da Violência. Brasília; Rio de Janeiro;
São Paulo, Brasil: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum
Brasileiro de Segurança Pública. Acesso em 17 de 10 de 2020, disponível
em https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/

Berger, S. M., & Giffin, K. (março-abril de 2005). A violência nas relações de


conjugalidade: invisibilidade e banalização da violência sexual? Cad.
Saúde Pública, 417-425. Acesso em 16 de abril de 2021, disponível em
https://www.scielo.br/pdf/csp/v21n2/08.pdf

BRASIL. (23 de setembro de 2002). Decreto Nº 4.377 DE 13 de setembro de


2002. Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher, de 1979. Brasília, DF. Acesso em 24 de
novembro de 2020, disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4377.htm

BRASIL. (2004). Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Saúde


Integral da Mulher. Brasília, DF, Brasil. Acesso em 24 de novembro de
2020, disponível em https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-
temas/politicas-para-mulheres/arquivo/assuntos/saude-integral-da-
mulher

BRASIL. (7 de agosto de 2006). Lei n. 11.340. Acesso em 18 de 10 de 2020,


disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11340.htm

BRASIL. (2011). Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.


Secretaria Nacional de Assistência Social. Orientações Técnicas: Centro
de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS. Brasília:
Brasil LTDA.

BRASIL. (2014). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política


Nacional de Humanização. Cadernos HumanizaSUS, 2, 1ª, 75-92.
Brasília: Brasil.
23

BRASIL. (Abril de 2016). Diretrizes Nacionais Feminicídio. Diretrizes para


investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes
violentas de mulheres, 19-28. Brasília, DF. Acesso em 31 de março de
2021, disponível em https://www.onumulheres.org.br/wp-
content/uploads/2016/04/diretrizes_feminicidio_FINAL.pdf

BRASIL. (17 de 10 de 2020). Ministério da Mulher, Da Família e dos Direitos


Humanos. Fonte: Coronavírus: sobe o número de ligações para canal de
denúncia de violência doméstica na quarentena:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias

Castro, B. d., & Cirino, S. M. (Janeiro-Junho de 2020). Violência de Gênero e Lei


Maria da Penha: Considerações críticas sobre a inserção obrigatória do
agressor em programas de recuperação ou atendimento em grupo como
medida protetiva de urgência. Revista de Gênero, Sexualidade e Direito,
63-79. Acesso em 7 de junho de 2021, disponível em
https://www.indexlaw.org/index.php/revistagsd/article/view/6461

CREPOP, C. F. (2012). Referências técnicas para atuação de psicólogas (os)


em Programas de Atenção a Mulher em situação de Violência. Brasília:
CFP. Acesso em 18 de 10 de 2020, disponível em www.cfp.org.br e em
crepop.pol.org.br

DataSenado, P. (Dezembro de 2019). Violência doméstica e familiar contra a


mulher. Brasília. Acesso em 17 de 10 de 2020, disponível em data
senado: https://www12.senado.leg.br

Dettmann, A. P., Aragão, E. M., & Margotto, L. R. (Setembro-Dezembro de 2016).


Uma perspectiva da Clínica Ampliada: as práticas da Psicologia na
Assistência Social. Fractal: Revista de Psicologia, 28, 362-369. Doi:
https://doi.org/10.1590/1984-0292/1232

Gil, A. C. (2002). Como Elaborar Projetos de Pesquisa (4ª ed.). São Paulo:
Editora Atlas.

Monteiro, F. S. (Novembro de 2012). O PAPEL DO PSICÓLOGO NO


ATENDIMENTO ÀS. Monografia. Brasília. Acesso em 23 de outubro de
2020, disponível em
24

https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/123456789/2593/3/2082074
6.pdf

Narvaz, M. G., & Koller, S. H. (Janeiro-Abril de 2006). A Família e Patriarcado:


Da Prescrição Normativa à Subversão Criativa. Psicologia & Sociedade,
49-55.

PARÁ. (9 de junho de 1994). CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA


PREVENIR, Belém do Pará, Pará, Brasil. Acesso em 24 de novembro de
2020, disponível em
http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/m.Belem.do.Para.htm

Pessôa, A. G., & Wanderley, P. I. (Janeiro-Junho de 2020). A Reducação do


Homem Agressor Reflexivo de Violência Doméstica. Revista de
Constitucionalização do Direito Brasileiro- Reconto, 1-17. Doi:10. 33636

Santos, C. M., & Izumino, W. P. (2005). Violência contra as Mulheres e Violência


de Gênero: Notas sobre Estudos Feministas no Brasil. Estudios
Interdisciplinarios de América Latina y El Caribe E.I.A.L., 16, 147-164.
Acesso em 22 de novembro de 2020, disponível em
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/1408/viol%C3%A
Ancia_contra_as_mulheres.pdf?sequence=1

Saúde, C. N. (07 de abril de 2016). RESOLUÇÃO Nº 510, DE 07 DE ABRIL DE


2016. Acesso em 21 de novembro de 2020, disponível em
https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf

Soares, J. N., Susin, L., & Warpechowski, M. B. (2009). A Clínica Ampliada na


Assistência Social. Em L. R. Cruz, & N. Guareshchi, Políticas públicas e
assistência social: diálogo com as práticas psicológicas (pp. 151-161).
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes.

Toneli, M. J., Beiras, A., & Ried, J. (Janeiro- Junho de 2017). Homens autores
de violência contra mulheres: políticas públicas, desafios e intervenções
possíveis na América Latina e Portugal. Revistas de Ciências Humanas,
174-193. Doi:10.5007/2178-4582.2017

Você também pode gostar