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Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba

Escola de Engenharia de Piracicaba


Curso de Engenharia de Produção

Luiz Diego Morais de Souza Santos

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO AR NA MICROMEDIÇÃO DE


ÁGUA EM SISTEMAS DE ABASTECIMENTO

Piracicaba
2019
Luiz Diego Morais de Souza Santos

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO AR NA MICROMEDIÇÃO DE


ÁGUA EM SISTEMAS DE ABASTECIMENTO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Escola de Engenharia de
Piracicaba como parte dos requisitos para
obtenção do título de Bacharel em
Engenharia de Produção.

Orientador: Prof. Dr. André de Lima

Piracicaba
2019
Luiz Diego Morais de Souza Santos

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO AR NA MICROMEDIÇÃO DE


ÁGUA EM SISTEMAS DE ABASTECIMENTO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Escola de Engenharia de
Piracicaba como parte dos requisitos para
obtenção do título de Bacharel em
Engenharia de Produção.

Piracicaba, de dezembro de 2019

Banca Examinadora:

__________________________________
Mario José Rodrigues – (Presidente)
Doutor em Morfologia Sintética
Escola de Engenharia de Piracicaba

__________________________________
Fernanda Alcântara Macedo – (Membro)
Mestre em Biblioteconomia
Faculdade de Filosofia e Ciências

__________________________________
João Paulo Lisboa Campaneri – (Membro)
Doutor em Química
Escola de Engenharia de Piracicaba
Dedico este trabalho à minha família, aos amigos e
aos colegas de trabalho.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus pela vida e pela oportunidade de iniciar e


concluir mais um ciclo e por tudo quanto palavras não podem expressar.
Aos meus amigos, recentes ou de longa data, que sempre me incentivaram,
em especial à Ana Lúcia Gomes Fernandes, pela ajuda, motivação e suporte durante
todo o curso, sendo fundamental para a minha formação.
Aos amigos que fiz na faculdade, pelos momentos de descontração e
encorajamento, pelo companheirismo, pelas experiências e pelos conhecimentos
compartilhados.
Aos colegas de trabalho que fiz no SEMAE, especialmente ao Diretor
Financeiro Emerson Luiz Chequeto Navarro, por sempre me aconselhar diante das
escolhas profissionais, bem como pessoais, que se apresentaram, me ensinando,
orientando e motivando em momentos importantes.
Ao professor Daniel Manzi, pelas sugestões e auxílio na elaboração e
análise do estudo.
Ao engenheiro Jorge Gomes Sanchez por ter ministrado o Workshop sobre
passagem de ar em linha de abastecimento e sugerido a montagem da bancada.
O meu muito obrigado ao professor e também coordenador do curso de
Engenharia de Produção Dr. André de Lima, pelas sugestões e auxílio na elaboração
dessa monografia, assim como pelas aulas e conselhos durante todo o curso.
A todos os professores com quem tive a oportunidade de aprender e
crescer profissionalmente, contribuindo para a minha formação.
À minha família, por todo esforço, pela educação, por serem pessoas
honestas e batalhadores e por me ensinarem a ser também.
“Acredito em Deus, todos os outros devem apresentar
dados e fatos.”
William Edwards Deming
6

RESUMO

Diante da imensa crise política e econômica que se encontram instaladas atualmente


no país, os serviços prestados pelas companhias de saneamento têm se tornado alvo
de ataques e críticas da população, que está cada vez mais atuante. Entretanto,
devido à falta de conhecimento técnico, pode-se tomar posições, na maioria das
vezes, não condizentes com a realidade dos fatos. A área de saneamento, no sentido
de coleta, tratamento e distribuição de água, é um exemplo dos serviços que se
encontram sob monopólio do Estado, sendo este prestado diretamente ou
indiretamente, por concessões ou privatizações. Muito se vê na mídia reclamações e
denúncias de cobrança indevidas nas faturas mensais de água, as quais acusam as
companhias de cobrar do usuário não apenas a água efetivamente consumida, mas
também pelo ar que passa nos medidores instalados nas residências, alegando que
o medidor registra consumo apenas com o ar. O presente trabalho teve como objetivo
analisar a influência da presença do ar nas redes de abastecimento de água,
especificamente quando da sua passagem nas ligações individuais, e como este
altera a micromedição mensal, através de ensaios realizados em uma bancada
hidrométrica, com equipamentos fabricados conforme a norma vigente e com laudos
do INMETRO, aplicando-se conceitos estatísticos e da gestão da qualidade na
prestação de serviços, visando propor alternativas para a solução do problema em
questão.

Palavras-chave: Passagem de Ar. Micromedidor. Hidrômetro. Bancada de Teste. Ar


na Rede de Abastecimento de Água. Qualidade em Saneamento.
7

ABSTRACT

In the face of the immense political and economic crisis currently in the country, the
services provided by sanitation companies have become the target of attacks and
criticism from the increasingly active population. However, due to the lack of technical
knowledge, positions can be taken, most of the time, not in accordance with the reality
of the facts. The area of sanitation, in terms of collection, treatment and distribution of
water, is an example of services that are under the monopoly of the state, which is
provided directly or indirectly by concessions or privatization. There have been several
complaints and reports of improper collection on monthly water bills posted in the
media, which accuse companies of charging the user not only the water actually
consumed but also the air that passes through the meters installed in the homes,
claiming that the meter records Consumption only with air. The present work aimed to
analyze the influence of the presence of air in water supply networks, specifically when
passing through individual connections, and how it alters the monthly micrometer
measurement through tests performed on a hydrometric bench with equipment
manufactured in accordance with current regulations and with INMETRO reports,
applying concepts and quality management in the provision of services, with the aim
of proposing immediate alternatives to solve the problem in question.

Keywords: Airway. Micrometer. Hydrometer. Test Stand. Air in the Water Supply
Network. Quality in Sanitation.
8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Definição de Serviços............................................................................... 16


Figura 2 – Sistema de Distribuição ............................................................................ 16
Figura 3 – Composição da Satisfação do Cliente...................................................... 18
Figura 4 – Objetivos de desempenho da organização .............................................. 21
Figura 5: Índice de hidrometração das prestadoras de serviços participantes do SNIS
em 2017 .................................................................................................................... 24
Figura 6 – Curva de erros ......................................................................................... 28
Figura 7 – Acionamento dos hidrômetros com pás (a) e com hélice (b) ................... 29
Figura 8 – Hidrômetro monojato ................................................................................ 30
Figura 9 – Hidrômetro multijato ................................................................................. 31
Figura 10 – Princípio de funcionamento do hidrômetro ultrassônico ......................... 32
Figura 11 – Carta de Controle ................................................................................... 39
Figura 12 – Ciclo PDSA ............................................................................................ 40
Figura 13 – Nível de atendimento água e esgoto por região do Brasil, em 2017 ...... 42
Figura 14 – Matéria sobre falta de água .................................................................... 43
Figura 15 – Matéria sobre falta de água .................................................................... 44
Figura 16 – Bancada Hidrométrica ............................................................................ 45
Figura 17 – Linha 01 e 02 da bancada ...................................................................... 45
Figura 18 – Linha 01 e 02 da bancada ...................................................................... 46
Figura 19 – Bancada hidrométrica ............................................................................ 46
Figura 20 – Carta de controle (Hidrômetro monojato 2) ............................................ 51
9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Valores dos ensaios para ultrassônico .................................................... 48


Tabela 2 – Valores do ensaio de tempo e vazão (bomba e rede) ............................. 50
Tabela 3 – Valores calculados com dados obtidos ................................................... 50
Tabela 4 – Projeção de volume para Qmáx = 1,5m³/h .............................................. 53
10

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEP: Controle Estatístico do Processo


ETA: Estação de Tratamento de Água
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INMETRO: Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
PDSA: Plan, Do, Study and Act
PIB: Produto Interno Bruto
PPP: Parceria Público Privada
SEMAE: Serviço Municipal de Água e Esgoto
SNIS: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
11

SUMÁRIO

RESUMO..................................................................................................................... 6
ABSTRACT................................................................................................................. 7
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... 8
LISTA DE TABELAS .................................................................................................. 9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................... 10
SUMÁRIO ................................................................................................................. 11
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 15
2.1 Serviços...........................................................................................................15

2.1.1 Percepções do Cliente sobre o serviço ...................................................... 17


2.1.2 Papel Estratégico e objetivo da produção .................................................. 20
2.1.3 Aspectos da qualidade do serviço percebidos pelos clientes .................... 22
2.1.4 Confiabilidade na prestação de serviços ................................................... 23

2.2 Micromedição..................................................................................................23

2.2.1 Hidrômetros ............................................................................................... 25


2.2.2 Ocorrência de ar na rede de distribuição de água ..................................... 34

2.3 Estatística........................................................................................................35
2.4 Ferramentas da Qualidade.............................................................................36

2.4.1 Controle Estatístico do Processo (CEP) .................................................... 36


2.4.2 Ciclo PDSA ................................................................................................ 39

3 ESTUDO DE CASO ............................................................................................... 41

3.1 Situação Problema........................................................................................ 43


3.2 Estudo de Caso ............................................................................................ 44

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 48


4.1 Resultados.......................................................................................................48
4.2 Discussão........................................................................................................52

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 55


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 56
12

1 INTRODUÇÃO

O ser humano desde sua criação tem buscado constante e incansavelmente


a sobrevivência, e para garanti-la existem elementos que são imprescindíveis à vida,
tal como a água.
Embora o ciclo hidrológico mantenha a água de nosso planeta em constante
movimentação, os recursos hídricos são finitos e sua utilização localizada demostra
deterioração de qualidade e quantidade. O aumento populacional com o múltiplo uso
dos recursos hídricos remete a um manejo adequado que permita a sustentabilidade
pela sociedade.
Desde os tempos da Grécia, Egito e Roma Antiga, o homem tem se
preocupado em garantir que a demanda de consumo de água seja suficientemente
atendida, criando as mais variadas formas de coleta, tratamento e distribuição.
Historicamente, tem-se que o Império Romano desenvolveu o seu primeiro aqueduto
em 312 a. C., nomeado como Aqua Apia, onde a água percorria cerca de 16,4 Km e
captava água das nascentes da Via Prenestina.
Atualmente, os sistemas de abastecimento de água buscam o atendimento
universal e ininterrupto da população, transportando a água das estações de
tratamento (ETA), normalmente localizadas nas margens dos principais rios das
cidades, até as residências.
Considerando que a água necessita de um tratamento prévio para o seu
consumo final, e tendo em vista a necessidade de construção de complexos sistemas
de abastecimento, tem-se um custo mínimo para a viabilidade da sua oferta e
manutenção, que, geralmente, são repassados aos usuários através da quantificação
e faturamento do metro cúbico de água consumido, o qual é medido através da
instalação de equipamentos de medição nas ligações individuais. Os equipamentos
de medição de água (hidrômetro) devem ser fabricados e homologados pelo órgão
regulador INMETRO, que determina que a medição só deve ocorrer quando houver o
escoamento de líquido. Entretanto, tendo em vista se tratar de equipamentos
mecânicos, mesmo diante da não passagem de água, existe a possiblidade que as
engrenagens que compõe o equipamento se movimentem com escoamento do ar,
registrando assim um consumo inexistente.
Contudo, é importante ressaltar que a passagem essencialmente do ar
contido na rede de abastecimento ocorre somente quando, depois de uma interrupção
13

no abastecimento, a água retorna as ligações. Isso porque as tubulações, antes


preenchidas de água, se preenchem de ar, o que evita colapso da rede. Estas
interrupções possuem diversos motivos, tais como: demanda maior que a oferta
causando esvaziamento de reservatórios, estiagens, problemas no sistema de
abastecimento, manutenções nas redes, entre outros.
Apesar do conhecimento desta problemática, existem poucos estudos e
dados sobre o impacto de uma possível passagem do ar nas ligações, não sendo
possível analisar se realmente há alteração significativa do volume medido de água.
O tema deste trabalho compreende a análise da influência da passagem de
ar na micromedição de água em sistemas de abastecimento, buscando coletar dados
do comportamento dos micromedidores durante o processo de medição, para verificar
possível alteração do consumo medido e propor alternativas para a solução do
problema apresentado.
Como objetivo geral, tem-se a análise da ocorrência e da influência da
passagem de ar na micromedição de água e como objetivo específico verificar a
representatividade dessa alteração na medição final do consumo mensal dos
usuários, mediante dados apurados nos ensaios realizados.
Para análise dos dados obtidos foram utilizadas ferramentas estatísticas
(média, mediana, desvio padrão), através da aplicação de ferramentas da qualidade
(CEP e Ciclo PDSA).
O tema do presente trabalho foi definido tendo em vista as inúmeras
acusações de cobrança indevida dos usuários que prejudica a imagem das
companhias de distribuição de água perante a sociedade e o poder público, e gera
insatisfação dos usuários quanto ao serviço prestado, justificando a atuação do
Engenheiro de Produção quanto a análise e constatação do comportamento do
processo de medição, e sugestões para a solução do problema.
Este estudo justifica-se pela necessidade de compreensão e divulgação do
comportamento da medição de ar nas ligações de água individuais, a fim de
demonstração do impacto nas faturas mensais dos usuários
Isso se faz necessário, tendo em vista as inúmeras acusações de cobrança
indevida dos usuários, ocasionando detrimento da imagem das companhias de
distribuição de água perante a sociedade e o poder público, e a insatisfação dos
usuários quanto ao serviço prestado.
14

A estrutura do trabalho é composta inicialmente pelo Referencial Teórico, que


abordas os assuntos sobre o Setor de Serviços, Micromedição e Ferramentas da
Qualidade e posteriormente pelo Estudo de Caso, com os respectivos dados apurados
e análise das informações.
15

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste tópico serão abordados os conceitos do Setor de Serviços e a


percepção dos usuários sobre qualidade, bem como a satisfação com os serviços
prestados. Em seguida serão abordados os conceitos referentes à Micromedição, que
abrange os tipos de medidores e a ocorrência de ar na rede, a história e função da
estatística, e, por fim, serão descritos os conceitos referentes à Gestão da Qualidade.

2.1 Serviços

O Setor de Serviços atualmente é o mais importante propulsor da economia


Brasileira. Em 2018, ele foi responsável por 75,8% do PIB total do país, com uma alta
de 1,1% na soma de todos os bens e serviços, comparados ao ano anterior (ROMANI;
QUINTINO, 2019). Sendo assim, verifica-se a sua importância e o impacto causado
nas vidas dos brasileiros.
Contudo, mesmo fazendo parte do dia-a-dia da população, a grande maioria
encontra dificuldade quando se trata do conceito do que é um serviço ou o que o
caracteriza. Grönroos (1993) afirma que serviço pode ser descrito como uma atividade
ou uma série de atividades de natureza mais ou menos intangível, que normalmente,
mas não sempre, ocorre durante o contato entre empregados de serviço e/ou recursos
físicos, ou ainda entre bens e/ou sistemas do fornecedor de serviços, com os seus
clientes.
Trazendo para a realidade da Engenharia de Produção, Slack (2006) diz que
qualquer operação que produz bens ou serviços, ou um misto dos dois, e faz isso por
um processo de transformação. Desta maneira, podemos conceituar serviços como
uma transformação de recursos – inputs – para mudar o estado ou condição de algo
para produzir outputs (SLACK, 2006), conforme o esquema apresentado na Figura 1.
16

Figura 1 – Definição de Serviços

Fonte: Slack (2006)

Portanto, de acordo com Slack (2006), qualquer atividade de produção pode


ser vista conforme esse modelo input-transformação-output, ou seja, pode-se definir
que o Setor de Serviços também se trata de uma atividade de produção.
Seguindo este modelo, temos que os inputs são os recursos transformados
ou de transformação, sendo os primeiros aqueles que são tratados, transformados ou
convertidos de alguma forma, e os segundos aqueles que agem sobre os recursos
transformados. O processo de transformação está relacionado à natureza dos
recursos transformados (inputs) e os outputs, geralmente são os bens e serviços
transformados em uma forma diferente (SLACK, 2006).
No setor de Saneamento, objeto deste estudo, tem-se os funcionários, o
sistema de captação, as ETA’s, o sistema de distribuição, os equipamentos de
medição (hidrômetros), como inputs, os quais transformam o produto, a água bruta,
em um output, se caracterizando pela distribuição da água já tratada aos seus
usuários (transformação). Esse processo pode ser identificado a partir da Figura 2.

Figura 2 – Sistema de Distribuição

Fonte: Tsutiya (2004) apud ReCESA (2008)


17

Cabe aqui ressaltar, que as companhias prestadoras do serviço de água têm


apenas como atividade-fim a purificação e distribuição da água potável garantindo que
não venha a causar danos à saúde do usuário (DUKE ENERGY, 2002), portanto, não
há transformação da matéria prima (água) em um novo produto.
Sendo assim, resta evidenciado que a atuação do engenheiro de produção se
faz necessária em praticamente todos os setores da economia, sendo eles a indústria
ou serviços, uma vez que a função produção é central para as organizações pois
produz os bens e serviços que são a razão da sua existência (SLACK, 2006).

2.1.1 Percepções do Cliente sobre o serviço

O principal objetivo das organizações modernas está em atender as


necessidades dos clientes de maneira satisfatória, uma vez que estes estão cada vez
mais exigentes e criteriosos quanto à qualidade do produto/serviço a ser adquirido e
sendo estes a figura principal de todo o processo organizacional. Entretanto, definir o
que é um serviço de qualidade ou satisfatório se torna um desafio, visto que os clientes
podem, muitas vezes, ter uma percepção diferente da empresa prestadora. Neste
sentido, Zeithaml, Bitner e Gremler (2011) afirmam que tudo o que é considerado
serviço de qualidade ou fator de satisfação do cliente está baseado nas percepções
do cliente sobre o serviço, não podendo ser levado em conta somente critérios
objetivos predefinidos acerca do que o serviço é ou deveria ser.
Outrossim, Zeithaml, Bitner e Gremler (2011) definem que a satisfação é
comumente entendida como um conceito mais amplo, ao passo que a qualidade do
serviço se volta especificamente para as dimensões do serviço. Portanto, a satisfação
do cliente está diretamente ligada em como o serviço é percebido pelo cliente, onde a
qualidade faz parte da satisfação do cliente, ou seja, qualidade é uma característica
que compõe a satisfação.
18

Figura 3 – Composição da Satisfação do Cliente

Fonte: Zeithaml; Bitner; Gremler (2011)

A satisfação se torna um medidor da realização do cliente, que pode ser


compreendida através da percepção de uma característica do serviço, transformada
em uma sensação que superou as suas expectativas de maneira positiva ou até
mesmo negativa.
Zeithaml, Bitner e Gremler (2011) afirmam que a satisfação do cliente com um
produto ou serviço é influenciada, de modo expressivo, pela avaliação que o cliente
faz das características do produto ou serviço em questão.
Toda vez que o desfecho do serviço é algo diferente do esperado,
apresentando certa discrepância, os clientes tendem a buscar motivos para tal, e a
sua avaliação individual é responsável pela sua satisfação.
No mesmo sentido, Kotler e Keller (2015) sustentam que a oferta de um
produto ou serviço somente será bem-sucedida se esta proporcionar valor e
satisfação ao consumidor, onde o valor está nos benefícios e nos custos tangíveis e
intangíveis percebidos pelo cliente, e a satisfação no julgamento percebido em
comparação relacionada à sua expectativa.
Sendo assim, na prestação de serviço de distribuição de água se tem a
tratativa da avaliação dos clientes quanto ao volume mensal faturado e ao percebido
como eles como sendo o real consumido. O motivo em voga apresentado é a alteração
do consumo pela passagem de ar nas ligações, ocasionado um valor abusivo e
indevido nas faturas mensais e, por conseguinte, a sua insatisfação quanto ao serviço
prestado, sendo classificado de má qualidade, não gerando valor.
19

Importante mencionar, que este tipo de avaliação se torna ainda mais


superdimensionada, uma vez que a satisfação não é medida somente
individualmente. Portanto, uma vez que um determinado grupo apresenta os mesmos
“problemas”, a insatisfação deste se expande, alterando a percepção individual dos
demais (ZEITHAML; BITNER; GREMLER, 2011).
Ademais, se faz necessário deixar claro que a produção, em seu processo de
administração, se inicia quando da transformação e processamento da matéria-prima
e dos insumos, ou seja, do input, que tem o objetivo de gerar o produto final/serviço,
ou seja, o output (BASTOS, 2013).
Mesmo que pareçam semelhantes, nas operações produtivas expostas
acima, quais sejam, as que transformam o input em output, existem quatro aspectos
em sua produção que são de suma importância no processo produtivo. Os chamados
“4Vs” da produção, ou mesmo, dimensões da produção, abordam critérios de volume,
variedade, variabilidade e visibilidade (DIAS, 2015).
No que diz respeito ao volume analisa-se o total produzido de determinado
produto ou serviço. Com relação a esse critério, importante observar que quanto maior
o volume de produção, o valor do custo de produção diminui, e também, que a
produção repetitiva e em grande volume de determinado produto ou serviço
ocasionam na especialização daquela atividade produtiva (DIAS, 2015).
Já em relação à variedade de produtos ou serviços produzidos, vale destacar
que, ao contrário do baixo custo gerado pelo grande volume produzido de determinado
produto ou serviço, a variedade de produção aumenta o custo, justamente em razão
de sua elevada diferenciação (DIAS, 2015).
A variabilidade, também chamada de sazonalidade, segundo Dias (2015),
considera o nível da provável demanda da empresa ou produto a fim de manter um
padrão de demanda e/ou recursos estabilizados, de maneira a não sofrer prejuízos ao
perder negócios e ao correr o risco de inoperar.
Por fim, o critério de produção de maior relevância e foco deste trabalho é a
visibilidade, a qual trata da forma em que os clientes/consumidores percebem a
produção de determinado output. Para Dias (2015), a visibilidade parte da importância
de observar as necessidades de cada cliente, como, atendimentos rápidos, produtos
específicos, propagandas em diversos meios de comunicação, acesso aos pontos de
20

venda etc. Deixando assim, o consumidor em contato direto durante todo o processo
produtivo.
Porém, para desempenhar de forma satisfatória o último aspecto produtivo
citado, a empresa deve estar muito bem estruturada no que diz respeito a sua cadeia
de suprimentos, haja vista a necessidade constante de levantamento e controle de
dados para acompanhamento gerencial e comercial (BASTOS, 2013).

2.1.2 Papel Estratégico e objetivo da produção

Conforme visto até o momento, a percepção do cliente está diretamente ligada


à sua satisfação, a qual tem como um dos seus componentes principais a qualidade
do serviço prestado.
A observância das necessidades, não só de seus consumidores efetivos,
como de consumidores em potencial, de modo a atender e suprir da forma mais
satisfatória possível todas elas, é uma das principais funções de uma empresa. Como
meio de viabilizar essa função, as empresas disponibilizam no mercado a prestação
de diversos serviços e produtos. Dessa forma, a função produção é responsável pelas
atividades e decisões relacionadas à produção e entrega desses produtos (DIAS,
2015).
Como meio de conduzir e gerenciar essa produção, os gerentes de produção,
segundo Dias (2015), são aqueles que têm a incumbência de possibilitar a direção
estratégica na empresa em ação operacional. Estes projetam toda a parte
operacional, e determinam os locais e datas em que as atividades deverão ser
desempenhadas, de modo a melhorar a qualidade da produção verificando objetivos
e estratégias para a empresa.
Ainda na visão de Dias (2015), a função produção possui algumas atribuições
que se sobressaem sobre as outras, como, por exemplo, projeto, planejamento e
controle e controle e melhoria.
Já Slack (2006) afirma que a função produção produz os serviços e bens
demandados pelos consumidores, tornando-se uma função vital para as
organizações. Assim, verifica-se que a qualidade é um papel da função produção e
do engenheiro de produção.
21

Na Figura 4, Slack (2006) define os cinco objetivos de desempenho que uma


organização, e consequentemente a função produção, devem buscar, a fim de atender
a demanda dos consumidores de maneira satisfatória.

Figura 4 – Objetivos de desempenho da organização

Fonte: Slack (2006)

Neste trabalho, será levado em conta o primeiro objetivo, o da qualidade.


Segundo Slack (2006) a qualidade é fazer certo as coisas, ou seja, no serviço de
distribuição de água tem-se a necessidade de fazer a medição correta do volume real
consumido.
Isto é, também é motivado uma vez que, uma operação com um bom
desempenho de qualidade não determina apenas a satisfação dos clientes, mas
também facilita o serviço de todos os envolvidos na operação (SLACK, 2006).
Neste tocante, Slack (2006) esclarece que se tem no objetivo a qualidade, a
redução de custos e o aumento da confiabilidade, uma vez que no primeiro existe o
custo de análise e eventual correção do problema e no segundo a redução da
confiabilidade do cliente quanto ao serviço prestado, impactando diretamente na sua
satisfação.
No mesmo sentido, Bowersox (2007) explica que contemplar as exigências do
mercado com agilidade, baixo custo e qualidade faz parte dos objetivos de toda cadeia
de suprimentos e resume a natureza do serviço ao cliente.
Cabe destaque ainda na afirmação de Feigenbaum (1961), que diz que a
qualidade é a soma das características de um produto ou serviço, referentes a
22

marketing, manufatura e sua manutenção, e engenharia, de maneira que o produto


ou serviço atenderá às expectativas do cliente, resultando na sua satisfação.
De modo geral, a concepção de qualidade é atrelada à percepção nas
dimensões dos consumidores e agentes internos, considerando a conformidade e as
especificações e, principalmente, a satisfação do usuário daquele produto ou serviço.
Ainda, a preocupação com a qualidade, considerada como um dos valores
organizacionais, se faz presente nas maiores instituições brasileiras (JEREMIAS
JUNIOR; MARTINS, 2017).
Portanto, relacionando ao tema deste trabalho, nas prestadoras de serviços
de saneamento, têm-se os custos com as análises das reclamações recorrentes dos
usuários do serviço de distribuição de água, bem como a redução da satisfação destes
com o serviço prestado.

2.1.3 Aspectos da qualidade do serviço percebidos pelos clientes

Conforme visto, a satisfação dos clientes está relacionada em como o serviço


é percebido. Entretanto, é necessário entender também como a qualidade é avaliada
pelos consumidores de determinado serviço.
Parasuraman, Zeithaml e Berry (1988) argumentam que existem cinco
dimensões específicas da qualidade do serviço, sendo elas a confiabilidade,
responsividade, segurança, empatia e tangíveis, onde:
• Confiabilidade se trata da capacidade de realizar o serviço conforme prometido
de maneira confiável e exatidão;
• Responsividade se trata da disposição em auxiliar os consumidores e fornecer
o serviço prontamente;
• Segurança se trata em passar confiança e certeza aos clientes, com cortesia e
embasamento;
• Empatia se trata da atenção individual dada aos clientes;
• Tangíveis se trata das condições físicas das instalações, equipamentos,
funcionários e impressos.

Já Zeithaml, Bitner e Gremler (2011) explicam que os consumidores julgam a


qualidade do serviço com base nas suas percepções do resultado técnico gerado (A),
23

o processo pelo qual o resultado foi produzido (B) e pela qualidade do ambiente físico
em que o serviço é executado (C).
Dessa forma, pode-se relacionar da seguinte maneira a situação problema em
questão:
A – A medição do volume consumido;
B – Passagem de ar/água na rede;
C – Qualidade e funcionamento do equipamento de medição.

2.1.4 Confiabilidade na prestação de serviços

Diante de diversas acusações de cobrança exorbitante e indevida aos


usuários, as companhias de saneamento têm a sua imagem e confiabilidade
deterioradas. Isto porque, segundo Zeithaml, Bitner e Gremler (2011), confiabilidade
é definida como a capacidade de cumprir a promessa de serviço de modo fidedigno e
preciso.
Sendo assim, a causa da perda da confiabilidade está na insegurança que os
usuários possuem na capacidade entrega correta do serviço, a qual é de exclusiva
responsabilidade da empresa prestadora, uma vez que os clientes desejam fazer
negócios com empresas que mantêm suas promessas, sobretudo as relacionadas ao
desfecho e aos atributos principais do serviço (Zeithaml, Bitner e Gremler, 2011).
Isto se dá uma vez que os usuários não possuem o conhecimento técnico
acerca do processo, tornando imprescindível a divulgação de estudos e materiais
sobre o serviço, visto que, conforme Zeithaml, Bitner e Gremler (2011), a mensagem
de confiabilidade da companhia reflete o seu posicionamento frente aos serviços que
oferece.
Por fim, Zeithaml, Bitner e Gremler (2011) alertam que, quando a empresa
não fornece o serviço que o consumidor pensa estar adquirindo, esta fracassa de
maneira inegável.

2.2 Micromedição

Conforme definido por Linus (1992) apud Gularte (2005), a micromedição é o


conjunto de ações que torna possível conhecer o volume de água consumido ao longo
24

do sistema de abastecimento de água, garantindo que o mesmo seja o normal e dentro


de padrões estabelecidos, bem como um sistema tarifário adequado, na qual a
cobrança pelos serviços prestados seja justa e equitativa.
Com o passar dos anos, o micromedidor (hidrômetro) tornou-se uma
ferramenta indispensável para as prestadoras, pois além de possibilitar a cobrança do
serviço, ele serve como inibidor de consumo, estimulando a economia e fornecendo
dados operacionais importantes sobre o volume fornecido ao usuário e vazamentos
potenciais (ReCESA, 2008). Rech (1992 apud Miranda, 2011) resume que o
hidrômetro tem ação fiscalizadora e economizadora.
Entre os índices apurados pelo SNIS (2019), tem-se o de hidrometração
(Figura 5), que equivale a relação entre a quantidade de ligações providas de
hidrômetro e a quantidade de ligações ativas de água, ou seja, que estavam em pleno
funcionamento no último dia do ano de referência da coleta de dados.

Figura 5: Índice de hidrometração das prestadoras de serviços participantes do SNIS em 2017

Fonte: SNIS (2019)

Como pode-se observar, entre as regiões do Brasil, as mais críticas com


relação à abrangência da micromedição de água são a Norte e Nordeste, com
percentuais de hidrometração de 62,2% e 87,9%, frente a uma média nacional de
92,4%.
Diante disso, cabe apontar a orientação de Goulart (1995) apud Miranda
(2011), que defende a aplicação da medição em todos os pontos de consumo,
independente de seus gastos, tanto para ser justo na divisão entre grandes e
25

pequenos consumidores, quanto para não favorecer a negligência dos pequenos, pois
a conta de água mensal desses muitas vezes baseia-se em estimativas baixas.
A falta de uma política de micromedição adequada pode ser um dos fatores
responsáveis pela ineficiência operacional e comercial de uma
empresa de saneamento básico, porém uma micromedição eficiente não se
resume apenas à aquisição, instalação ou troca de hidrômetros (AWWA, 1996 e
BUTLER, 2000 apud GULARTE, 2005).
A micromedição está diretamente associada à precisão da medição, que
depende da classe metrológica do medidor, do tempo de instalação, da forma como o
medidor está instalado e do perfil de consumo (ReCESA, 2008).

2.2.1 Hidrômetros

Os hidrômetros são aparelhos cuja finalidade é a de medir e indicar a


quantidade de água fornecida pela rede de distribuição para uma ligação predial, e
normalmente são constituídos por uma câmara de medição, um sistema de
transmissão e uma unidade de conversão que registra num mostrador os volumes
escoados através do mesmo (SHINTATE; REGO; GONDO, 2006).
Essa medição pode ser feita de modo direto ou indireto. O modo direto é
quando uma certa quantidade de água é medida lançando-a em um reservatório que
tem sua capacidade foi previamente determinada, já o modo indireto é quando a vazão
e o volume são obtidos por inferência ou a partir de outras grandezas influenciadas
pela passagem da água (PNCDA, 2004).
Segundo Coelho (1983 apud TAMAKI, 2003) os medidores são classificados
em três grupo: diferenciais, especiais e mecânicos. Para a micromedição os tipos mais
comuns são o volumétrico e o velocimétrico, ambos mecânicos, e o ultrassônico, do
grupo especial.
Os hidrômetros de volume, também denominados volumétricos ou de
deslocamento positivo, possuem câmaras de volume conhecido que se enchem e
esvaziam, sucessivamente, num processo contínuo, com a passagem da água. Um
mecanismo apropriado permite transmitir continuamente o movimento da peça móvel
da câmara de medição a um sistema de conversão, de totalização e de indicação
(SHINTATE; REGO; GONDO, 2006).
26

Os hidrômetros de velocidade, também denominados velocimétricos,


taquimétricos ou inferenciais, convertem a velocidade de escoamento da água em
número de rotações de uma turbina ou hélice, que por sua vez, está relacionado com
o volume escoado, ou seja, o volume que escoou em um determinado intervalo de
tempo é inferido através da velocidade de escoamento (SHINTATE; REGO; GONDO,
2006).
Os modelos volumétricos mais compactos são muito utilizados principalmente
nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e outros países de língua inglesa, bem como para
aplicações onde é necessária grande exatidão principalmente em vazões baixas e
menor sensibilidade à instalação. Já os modelos velocimétricos, que começaram a ser
usados a partir dos anos 40, são hoje a maioria absoluta dos medidores usados no
mundo, em especial na América Latina e Europa, devido ao custo menor, simplicidade
de manutenção e tamanho compacto (PNCDA, 2004).
Os hidrômetros do tipo ultrassônico utilizam a velocidade do som para
medição do fluxo da água. Eles começaram a ser adotados nos últimos anos pelas
companhias de saneamento, geralmente apresentando maior exatidão para vazões
baixas e, muitas vezes, medindo vazões em que os hidrômetros mecânicos não
apresentam sensibilidade; além de não estarem sujeitos à submedição tendo em vista
que não possuem partes móveis (DEPEXE, 2017)
Os hidrômetros também podem ser classificados pela sua classe metrológica,
sendo estabelecidas três: A, B e C. Elas correspondem, nesta ordem, a vazões
mínimas de menor valor e, portanto, os hidrômetros de classe C têm maior capacidade
para medir vazões baixas que os de classe B, e este por sua vez, maior capacidade
de medição que os de classe A (ReCesa, 2008).
A característica que designa um hidrômetro é a sua vazão, pois seu
desempenho quanto à medição do volume é vinculado principalmente aos valores de
vazão que por ele escoam (PNCDA, 2004).
Conforme Rech (1999), vazão máxima (Qmáx) é a maior vazão admissível no
medidor, ou seja, representa a maior vazão com a qual o medidor pode operar por
curto espaço de tempo, sem apresentar perda de carga superior a 10mca. O autor
salienta que a vazão máxima é confundida erroneamente com a capacidade do
hidrômetro, pois de fato ele tem capacidade temporária para trabalhar na sua maior
vazão possível, mas se danificará muito rapidamente pelo excessivo desgaste dos
27

mecanismos. Shintate, Rego e Gondo (2006) afirmam que deve-se admitir que o
período total de elevada solicitação do hidrômetro não seja superior a 100 horas,
durante sua vida operacional (10 anos).
Já a vazão nominal (Qn) é a vazão que designa o hidrômetro, sendo
equivalente à metade (50%) de Qmáx, e aceita como a vazão normal de trabalho.
Logo, um hidrômetro trabalhando nesta vazão não deveria apresentar desgastes e
variações capazes de influenciar consideravelmente no seu desempenho, nem no erro
absoluto de registro (RECH, 1999).
Com relação à vazão mínima (Qmín), trata-se da menor vazão de trabalho do
medidor e corresponde à vazão a partir da qual o hidrômetro começa a indicar volumes
dentro da faixa de medição, ou seja, a partir dela e acima dela o registro feito pela
relojoaria está dentro dos erros admitidos por norma (RECH, 1999).
Por fim a vazão de transição (Qt) é um valor de vazão intermediário entre
Qmín e Qn no qual ocorre a transição da faixa inferior de medição (entre Qmín e Qt)
para a faixa superior de medição (entre Qt e Qmáx) (SHINTATE; REGO; GONDO,
2006).
Com referência às faixas de medição, a faixa inferior abrange vazões muito
pequenas e o medidor apresenta maiores erros de indicação, já a faixa superior é
onde situam as vazões de trabalho e o medidor apresenta melhor desempenho
(RECH, 1999).
A partir de determinada vazão as partes móveis do hidrômetro começam a se
movimentar, entre esse início de movimento até atingir a vazão mínima o medidor não
trabalha dentro dos erros tolerados, prejudicando assim a companhia fornecedora de
agua, pois pequenas vazões possibilitam que algum volume seja registrado sem ser
contabilizado para cobrança; além disso antes do início de movimento do mecanismo
do hidrômetro existem vazão tão pequenas que, dependendo do grau de precisão do
hidrômetro, não são registradas (RECH, 1999).
Os níveis de precisão mínima para o bom desempenho dos medidores de
água são determinados por normas técnicas, sendo que os medidores velocimétricos
devem ser construídos e regulados para registrar volumes com erros permitidos de
±2% na faixa superior de medição e de ±5% na faixa inferior de medição (Figura 6).
Ou seja, se um consumidor usar 100 litros de água e o hidrômetro marcar 98 litros (-
28

2%) ou 102 litros (+2%), o registro feito e o consumo cobrado estão dentro dos
padrões da norma (RECH, 1999).

Figura 6 – Curva de erros

Fonte: PNCDA (2004)

Cabe apontar que para os hidrômetros volumétricos os erros permitidos são


3,5% para a faixa inferior de medição e 2% para a superior, logo pela margem de erros
permitida os hidrômetros volumétricos são mais exatos que os velocimétricos (RECH,
1999).

2.2.1.1 Hidrômetro tipo Velocimétrico

Rech (1999) define que o hidrômetro velocimétrico é aquele em que seu


mecanismo funciona mediante jatos de água a uma certa velocidade sobre uma parte
móvel, seja ela turbina, hélice etc.
Entre as vantagens desse tipo de hidrômetro pode ser citado o preço menor
em relação ao volumétrico; menor sensibilidade ao golpe de aríete; possibilidade de
funcionar acima dos limites especificados em casos emergenciais e baixa de perda
de carga (perda de pressão). Como pontos negativos tem se vida útil menor,
necessidade de estarem nivelados (na horizontal e no prumo) para uma medição
correta e o risco de submedição e de sobremedição (NIELSEN, 2003 apud GULARTE,
2005).
29

Os hidrômetros velocimétricos com hélice (Figura 7 b) normalmente são


empregados para medir vazões maiores, como em estabelecimentos industriais,
edifícios públicos ou edifícios de apartamentos com grande demanda de água, e
também usados para medições em adutoras, reservatórios e estações de tratamento,
sendo que um dos modelos mais conhecidos é o tipo Woltmann (VICENTINI, 2012).
Os hidrômetros velocimétricos do tipo rotor com pás podem ser monojato ou
multijato (Figura 7 a), dependendo se a entrada da água na câmara que contém o
rotor for feita por orifício único ou vários orifícios, respectivamente, sendo que estão
disponíveis nas classes metrológicas A, B e C e nos diâmetros nominais normalizados
de 15mm a 100mm (monojato) e de 15mm a 50mm (multijato) (VICENTINI, 2012).

Figura 7 – Acionamento dos hidrômetros com pás (a) e com hélice (b)

Fonte: Coelho (1983) apud Miranda (2011)

Nos hidrômetros monojato (Figura 8) a câmara de medição é a própria


carcaça, por isso eles têm menor tamanho e menor custo que os multijatos (CÔELHO,
1996).
30

Figura 8 – Hidrômetro monojato

Fonte: Gularte (2005)


31

Com relação aos hidrômetros multijato (Figura 9), como os jatos de água
incidem igualmente nas palhetas da turbina, as forças sobre ela são equilibradas e,
portanto, não apresentam desgaste precoce do eixo, proporcionando vida útil maior
ao medidor.

Figura 9 – Hidrômetro multijato

Fonte: Gularte (2005)


32

Outrossim, as diferenças na câmara de medição do hidrômetro multijato


proporcionam uma sensibilidade melhorada, em comparação ao monojato
(GULARTE, 2005).
O fato do jato incidir sobre um único ponto da turbina desgasta o eixo
precocemente, podendo acarretar erros sistemáticos elevados e normalmente
negativos, outro fator que também aumenta a velocidade de incidência da água sobre
a turbina e provoca desgaste no eixo é a obstrução do filtro a montante da câmara de
medição (GULARTE, 2005).
Cabe ressaltar que o autor Rech (1999) afirma que os hidrômetros monojato
tinham um desempenho bom apenas no início e com o tempo ficavam menos
sensíveis que o multijato devido aos danos sofridos, porém o desenvolvimento de
novas tecnologias de materiais possibilitou o uso de mancais de alta resistência ao
desgaste, permitindo que atualmente os hidrômetros monojato se equiparem ao
multijato em termos de qualidade.

2.2.1.2 Hidrômetro tipo Ultrassônico

O funcionamento do hidrômetro ultrassônico é baseado em dois emissores-


receptores de ultrassom fixados na parede externa do tubo, que ficam instalados de
lados oposto, estabelecendo-se assim dois sentidos para emissão dos pulsos: a favor
e contrário ao fluxo, conforme demonstrado na Figura 10 (HELLER; PÁDUA, 2006 e
TAMAKI, 2003).

Figura 10 – Princípio de funcionamento do hidrômetro ultrassônico

Fonte: Pinto (2003)


33

O pulso enviado no sentido do fluxo leva um tempo de transmissão menor que


aquele emitido no sentido oposto ao fluxo, mediante essa diferença de pulsos nos dois
sentidos e conhecendo-se a distância entre o emissor e o receptor, é determinada a
velocidade da água, sua vazão e o volume escoado em um determinado período
(HELLER; PÁDUA, 2006 e TAMAKI, 2003).
O hidrômetro ultrassônico é configurado para operar com ultrassom a uma
frequência e formato de onda específicos e, conforme informações de fabricantes
desse modelo, uma das vantagens conferida pelo seu princípio de funcionamento é
inibir a medição de ar, pois como o deslocamento do som na água exige muito menos
potência de sinal que no ar, o ultrassom enviado pelo emissor não será captado pelo
receptor quando houver somente fluxo de ar.
Entre os pontos positivos também podem ser citados sua durabilidade,
equivalente ao tempo de vida da bateria por cerca de 10 anos; o fato de não possuir
partes móveis, que elimina qualquer tipo de desgaste mecânico e a impossibilidade
de entupimento, por não possuir filtro de retenção (SEIBT, 2016).
Depexe (2017) também cita como vantagem a possibilidade de integração
com sistemas de telemetria, que através da instalação de rádio interno no hidrômetro
é possível fazer a coleta horária dos consumos e, assim, realizar uma gestão com
mais informações do que a prática atual de leituras mensais. O autor também aponta
a possibilidade de obter leituras através de coletor manual, proporcionando maior
agilidade no processo.
Por fim, em estudo realizado por Rodrigues (2014 apud DEPEXE, 2017),
concluiu-se que o equipamento de medição ultrassônico oferece performance melhor
quando comparado ao velocimétrico.
Como a principal desvantagem desse tipo de hidrômetro tem-se o atual preço
de aquisição que, conforme Depexe (2017), chega a ser 10 vezes maior que o do
hidrômetro mecânico. Seibt (2016) cita como desvantagem também as especificações
construtivas do hidrômetro, já que devem ser mantidos trechos retos, relacionados
com o diâmetro, antes e depois do medidor.
34

2.2.2 Ocorrência de ar na rede de distribuição de água

Conforme a autora Miranda (2011), o ar pode ocorrer tanto na rede de


distribuição quanto nas tubulações de adução, por fatores relacionados com a
operação, manutenção e constituição da malha do sistema. De qualquer forma, a
presença do ar em canalizações, que aduzem ou transportam líquidos, é um
fenômeno previsível sob o ponto de vista hidráulico (MELLO; FARIAS, 2000).
Mello e Farias (2000) afirmam que, quando o abastecimento retorna após uma
interrupção, o ar presente na rede de um sistema de distribuição de água pode alterar
o valor do consumo registrado pelo hidrômetro, porém seus efeitos, positivos ou
negativos, ainda não são totalmente conhecidos.
Para os medidores velocimétricos, a turbina é acionada por um fluido em
movimento, sendo que o ar ou a água se deslocam em função da diferença de pressão
e adquirem velocidades tanto maiores quanto maior for essa diferença; ressaltando
que em velocidades muito baixas a energia cinética não é suficiente para girar a
turbina e se muito altas ocorre patinamento (a turbina gira, porém não aciona o
sistema que totaliza o volume) e em ambos os casos, embora haja passagem de fluido
pelo aparelho, ele não é medido. (MELLO; FARIAS, 2000).
Os autores também explicam que a influência do ar na medição é positiva,
somando uma parcela ao registro do medidor, quando o abastecimento de água
retorna; e é negativa, subtraindo uma quantidade do volume totalizado, quando o
abastecimento é interrompido.
De acordo com a Associação das Empresas de Saneamento Básico
Estaduais (2010 apud MIRANDA, 2011), a tendência é que esse fluxo e refluxo de
ar/água equilibre os volumes que passam pelo hidrômetro, o que vai depender das
velocidades do fluido nas duas situações.
Cabe ressaltar que, nos sistemas de distribuição em condições normais, ou
seja, com pressões positivas ao longo da rede, toda a tubulação está preenchida por
água, não havendo espaço para a existência de ar, que só entra no sistema quando
a rede tende a pressões negativas (pressão interna da tubulação menor que a
atmosférica) (Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais, 2010
apud MIRANDA, 2011 e MELLO; FARIAS, 2000).
35

Mello e Farias (2000) apontam que as principais causas para entrada de ar


na rede são as que seguem:
• Quando as bombas succionam ar e água (cavitação) e o recalcam através da
tubulação. Nesse caso, porém, o volume de ar é muito pequeno e não traz
efeitos sobre a medição, tendo como consequência maior os danos na bomba
de recalque;
• Quando a demanda é maior que a capacidade da rede, o que gera um processo
de desabastecimento, na qual o ar flui para os pontos de pressão negativa e
preenche os vazios deixados pela água. Nesse caso ele é incorporado na rede
através das ventosas ou, na inoperância delas, pelas ligações domiciliares;
• Quando há rompimentos na rede, que podem culminar no esvaziamento da
tubulação.
Ao projetar as adutoras e redes de distribuição de água, prevê-se o uso de
dispositivos que retiram e/ou incorporam ar em função do efeito que se deseja no
trecho considerado (MELLO; FARIAS, 2000), tais dispositivos são denominados de
ventosas e, pelo fato do ar ser mais leve e se concentrar na parte superior da
tubulação, as literaturas recomendam que sejam previstas em especial nos pontos
altos da rede.

2.3 Estatística

Desde que a humanidade se organizou em sociedades, através de um


governo central, procurou-se coletar informações e dados sobre a sua população e
riqueza, tanto com intuito militar como de tributação. Memória (2004) relata que há
registros de 2.000 (dois mil) anos antes da era cristã, onde o filósofo Confúcio informou
os levantamentos de dados da população realizados pelo governo Chinês.
Isso ocorreu no antigo Egito, nas civilizações Maias, Astecas e Incas, onde
também se utilizavam esse tipo de informação, cabendo destaque ainda ao
recenciamento dos Judeus durante o governo do Imperador Augusto, bem como os
balancetes do império romano, exemplos estes da utilização preliminar da estatística
(MEMÓRIA, 2004).
Memória (2004) ainda informa que a primeira tentativa de se tirar conclusões
a partir de dados numéricos foi somente no século 17, na Inglaterra, com o que foi
36

denominado Aritmética Política, hoje chamada de demografia, a qual, é utilizada para


a realização de recenseamentos no Brasil, por exemplo, pela Fundação IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Assim, pode-se concluir que a estatística sempre esteve presente, desde a
civilização antiga até a moderna, entretanto: “O que é estatística? ”. Costa Neto (2002)
define que é a ciência que se preocupa com a organização, descrição, análise e
interpretação dos dados experimentais, visando a tomada de decisões.
Portanto, sua principal função é de suporte à tomada de decisões, sendo uma
ferramenta importante, devendo ser utilizada como um instrumento fornecedor de
informações que subsidiarão a tomada das melhores decisões, ou seja, trata-se de
um meio e não um fim (COSTA NETO, 2002).
Segundo Nose e Rebelatto (2001), uma das principais características que as
empresas buscam em um Engenheiro de Produção é a capacidade de tomada de
decisões. Sendo assim, o engenheiro deve utilizar-se de todos os meios e ferramentas
disponíveis para o embasamento das decisões tomadas nos dia-a-dia, a fim de
alcançar o melhor resultado para o seu contratante.

2.4 Ferramentas da Qualidade

2.4.1 Controle Estatístico do Processo (CEP)

O Controle Estatístico do Processo se caracteriza por ser um conjunto de


ferramentas de monitoramento on line da qualidade, onde o objetivo principal é
descrever detalhadamente o comportamento de um processo, a fim de identificar a
sua variabilidade, possibilitando assim o seu controle ao longo do tempo.
Conforme Paranthaman (1990), o CEP envolve a coleta, a análise e a
interpretação de dados estatísticos com o intuito de solucionar um problema em
específico.
Já Montgomery (2004) explica que CEP trata-se de um poderoso conjunto de
ferramentas, o qual é utilizado na obtenção da estabilidade de um processo e na
melhoria da capacidade através da redução da variabilidade, podendo ser aplicado
nos mais diversos tipos de processos, contanto que envolvam uma repetitiva
sequência de passos.
37

Desta maneira, observa-se que o CEP pode ser utilizado para análise de um
processo alvo, onde, segundo Pinton (1997), coletando-se as informações
necessárias, é possível o descrever e, uma vez que a sua ocorrência está sob
condições conhecidas e estas são mantidas, prever toda a sua ocorrência futura.
Neste trabalho, foram utilizadas as ferramentas que englobam o CEP, tais
como:
1 - Medidas de centralidade;
2 - Medidas de dispersão;
3 - Cartas de controle, com intuito de análise do processo de medição de ar
em bancada hidrométrica, verificação da confiabilidade dos dados e projeções quando
da sua ocorrência.

2.4.1.1 Medidas de Centralidade

As medidas de centralidade são utilizadas para definir um aspecto importante


de uma determinada distribuição de dados. Elas, geralmente, são um valor
representativo de uma distribuição em torno do qual as outras medidas se distribuem,
sendo as mais utilizadas a média aritmética e a mediana.
De acordo com Costa Neto (2002), esse tipo de medida serve para localizar a
distribuição de frequência sobre um eixo de variação, sendo possível localizar a
distribuição, indicando o centro da sua frequência, portanto, uma medida de posição.
Esse tipo de medida é utilizada quando se tem o objetivo de resumir os dados
coletados, apresentando um ou alguns valores que representem a distribuição toda
(BUSSAB; MORETTIN, 2010). Sendo assim, as medidas de centralidade nos indicam
o comportamento de uma distribuição através de um valor apenas.
A média, conforme Bussab e Morettin (2010), se trata da soma das
observações divididas pelo número delas, ou seja, em uma distribuição com 50
observações, soma-se os valores e os divide por 50.
A mediana, segundo Costa Neto (2002), é uma medida que também procura
caracterizar o centro da distribuição de frequência, entretanto, utiliza-se de um critério
diferente, sendo uma alternativa à média aritmética.
Bussab e Morettin (2010) definem que a mediana é o valor que ocupa a
posição central da série de observações quando estão ordenadas em ordem
38

crescente. Desta maneira, em uma amostra com 05 observações, a mediana será o


valor encontrado na posição 03. Já para amostras pares, a mediana é o valor
encontrado através do cálculo da média aritmética das duas observações centrais.
Cabe ressaltar que, conforme explica Costa Neto (2002), o uso da mediana
em certos casos se torna mais conveniente, sendo um melhor indicador central que a
média, visto que não sofre a influência de valores extremos.

2.4.1.2 Medidas de Dispersão

A dispersão, ou variabilidade, em um conjunto de dados é inerente a qualquer


processo, seja ele manual ou automatizado. Sendo assim, duas ocorrências
submetidas às mesmas condições respondem de maneira diferente, motivo pelo qual
se torna indispensável entender essa variabilidade e saber quantifica-la.
Uma forma de medir a variabilidade, e que é amplamente utilizada, é o desvio
padrão.
Segundo Bussab e Morettin (2010) o princípio básico do desvio padrão é
analisar os desvios das observações em relação à média, onde é indicado, em média,
qual é o erro (desvio) cometido ao tentar substituir cada observação pela medida
resumo de dados.
O desvio padrão é definido pela raiz quadra positiva da variância e é
expressado na mesma unidade da variável, sendo de grande utilidade nas aplicações
práticas (COSTA NETO, 2002).

2.4.1.3 Cartas de Controle

Historicamente, o controle de qualidade teve o seu início nos Estados Unidos,


na década de 20. Isto foi decorrente dos avanços tecnológicos da medição e da
aplicação das cartas de controle, criadas pelo Dr. Walter A. Shewhart, que trabalhava
na empresa telefonia Bell Telephone Laboratories (RIBEIRO; CATEN, 2012).
Por definição, as cartas de controle são um conjunto de amostras ordenadas
no tempo, plotadas graficamente, que permite a análise da estabilidade de um
processo.
39

Para que um processo possa ser considerado estável estatisticamente, os


pontos nas cartas de controle devem distribuir-se de maneira aleatória em torno da
média aritmética, sem padrões estranhos, tais como tendência de crescimento ou
decrescimento, e/ou pontos que ultrapassam os limites de controle estabelecidos
(RAMOS, 2000).
Elas representam uma das ferramentas estatísticas de apoio ao CEP, que
fornecem informações sobre a variação do processo, indicando se os mesmos são de
caráter aleatório ou determinável. Para isso, ele é composto por uma linha central
(LC), que representa a média aritmética dos dados coletados e por dois limites de
controle: Limite Superior de Controle (LSC) e Limite Inferior de Controle (LIC), onde o
primeiro limite está localizado acima da linha central e o segundo limite está abaixo
da linha central. Estes limites são calculados através da distância de 03 (três) desvios
padrões da média aritmética do processo, conforme sugerido por Shewhart
(HENNING et al., 2014) e se observa na Figura 10.

Figura 11 – Carta de Controle

Fonte: Ribeiro e Caten (2012)

No presente trabalho utilizou-se as cartas de controle a fim de verificação da


variabilidade do processo de medição de ar, procurando identificar a ocorrência de
ocorrências fora da normalidade do procedimento, que poderiam causar instabilidade
e incerteza da análise.

2.4.2 Ciclo PDSA

O Ciclo PDSA se trata de uma ferramenta da Gestão da Qualidade,


amplamente utilizada para se obter um aprendizado acerca de um processo ou de
40

algum objeto de estudo. Segundo Langley et al. (2011), ele pode ser utilizado para
transformar ideias em ação e conectar a ação com a aprendizagem.
Sua idealização foi feita por William Edwards Deming, que usou como
conceito inicial o ciclo de Shewhart (PDCA), dando uma nova proposta a sua forma
de utilização, sendo batizado de Ciclo Deming ou Ciclo PDSA.
De acordo com Langley et al. (2011), para ser considerado um ciclo PDSA,
quatro aspectos da atividade devem ser facilmente identificados: Plan, Do, Study e
Act.
Plan (planejar) é oportunidade para aprendizado e planejamento do estudo,
Do é a execução do plano e início dos estudos, Study é o tempo reservado para estudo
dos dados e Act é a tomada de decisão a partir do que foi aprendido (Langley et al.,
2011).
Ainda, de acordo com Vos et al. (2010), o ciclo PDSA é uma importante
ferramenta a fim de testar, em um curto espaço de tempo, uma ideia e implementar
uma mudança.
Portanto, antes da tomada de qualquer decisão, seja para alterar algum
processo, modificar o modo de fabricação de um produto, ou até mesmo somente para
estudar um determinado processo, é fortemente recomendado a utliização do ciclo
PDSA.

Figura 12 – Ciclo PDSA

Fonte: Langley et al. (2011)


41

3 ESTUDO DE CASO

Primeiramente, ao pesquisar a etimologia da palavra, encontra-se que o verbo


sanear tem origem na palavra latina sanus, que significa higienizar, tornar saudável,
limpar.
Importante buscar ainda o conceito de saneamento que a Lei n.º 11.445/2007,
a qual dispõe e estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico no Brasil,
traz em seu artigo 3º.
Segundo a Lei, saneamento básico pode ser considerado como conjunto de
serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água
potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos,
drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das
respectivas redes urbanas.
Ocorre que, embora este seja um assunto mais explorado nos últimos tempos,
a ideia de saneamento existe desde a idade antiga. A mesma surgiu diante da
observância do homem de que lixo acumulado e água suja disseminavam doenças.
Sendo que, as primeiras galerias de esgoto têm origem na cidade de Nippur, na
Babilônia.
Já na idade média, com a ascensão do império romano, trazendo um grande
crescimento populacional, a responsabilidade de gerenciar a água era da população
que a transportava por meio de carregadores ou ainda escavavam poços em suas
próprias casas, muito próximo a esterco de animais e fossas, fatos estes que levaram
a proliferação de doenças em massas, as quais eliminaram grande parte da
população.
Com o início da idade moderna desenvolveu-se a medição de velocidade de
escoamentos e das vazões. Em 1620, no Brasil, tiveram início as obras do aqueduto
do Rio Carioca para abastecimento do Rio de Janeiro. Entretanto, tal obra foi entregue
apenas 100 (cem) anos depois, como sendo o primeiro sistema de abastecimento de
água no país.
No final do século XIX, já na idade contemporânea, a visão higienista tornou-
se dominante.
Voltando a ideia de saneamento básico para o Brasil, seu primeiro registro foi
em 1561, ano em que foi escavado o primeiro poço para abastecimento do Rio de
Janeiro.
42

Ao decorrer da história do saneamento no Brasil alguns fatores dificultaram, e


dificultam até hoje, seu progresso. Entre eles podemos citar a falta de planejamento,
de investimentos, problemas na gestão entre outros.
Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
(SNIS), do Ministério do Desenvolvimento Regional, conforme diagnóstico dos
serviços atualizado até o ano de 2017, Figura 13, observa-se os índices de
atendimento com rede de água e esgoto, tanto por região do Brasil, quanto
nacionalmente, e ainda, o índice de esgoto gerado e coletado na mesma situação.

Figura 13 – Nível de atendimento água e esgoto por região do Brasil, em 2017

Fonte: SNIS (2019)

No Brasil, o saneamento básico é de competência da União, conforme


disposição expressa da Constituição Federal de 1988. Porém, o Estado na maioria
das vezes privatiza ou concede o serviço público. Neste último caso, a concessão se
dá, muitas vezes, por meio das chamadas Parcerias Público Privadas (PPP), que são
contratos administrativos de concessão do serviço público, conforme trata a Lei n.º
11.079/2004.
Na cidade de Piracicaba, estado de São Paulo, onde o presente estudo foi
desenvolvido, o serviço de saneamento de água e esgoto é de competência de uma
Autarquia Municipal criada pela Lei n.º 1.657/1969, o Serviço Municipal de Água e
Esgoto de Piracicaba.
A elaboração do Plano Diretor de Água no ano de 1989 gerou as diretrizes e
projetos básicos para o desenvolvimento do sistema de água.
O Serviço Municipal de Água e Esgoto de Piracicaba (SEMAE) conta com três
estações para captação de água, sendo duas no Rio Piracicaba e uma no Rio
43

Corumbataí. Possui ainda 25 Estações de Tratamento de Esgoto e quatro Estações


de Tratamento de Água.
O município de Piracicaba desde o ano de 2012, por meio de contrato de PPP,
concedeu o serviço de esgotamento sanitário à empresa Mirante, sendo esta do grupo
AEGEA.
Atualmente a cidade de Piracicaba conta com aproximadamente 400.000,00
(quatrocentos mil) habitantes. Sendo que, o SEMAE possui cerca de 160.000,00
(cento e sessenta mil) ligações de água/esgoto.

3.1 Situação Problema

Em meados do mês de dezembro/2018 até o começo do ano de 2019


ocorreram diversos problemas técnicos e manutenções preventivas que ocasionaram
na interrupção do fornecimento de água na cidade de Piracicaba, conforme pode ser
visto na Figura 14.

Figura 14 – Matéria sobre falta de água

Fonte: G1 (2019)

A população insatisfeita com a falta de água constante e com faturas mensais


com valores altos começou a se manifestar contra a situação, alegando descaso na
prestação do serviço, tarifa abusiva, e um fato gerador para a ocorrência de contas
tão altas mesmo diante da permanente falta de água, qual seja a incidência e medição
do chamado “ar na rede”.
44

Dessa forma, diante do grande clamor popular, o assunto se disseminou,


chegando a jornais locais e regionais, redes sociais, até a Câmara de Vereadores da
cidade, como pode-se observar na Figura 15.

Figura 15 – Matéria sobre falta de água

Fonte: G1 (2019)

Mesmo depois de estabilizados os problemas que ocasionaram a interrupção


no abastecimento naquele período, dado todo o movimento à época, o motivo “ar na
rede” se tornou o principal para justificar faturas mensais com alto consumo, e
consequentemente de alto valor financeiro.
Sendo assim, o presente estudo teve como ponto de partida as reclamações
expostas acima e a alegação, para o alto consumo considerado injustificável, da
passagem de ar na rede de água, ocasionado na micromedição, justificando a atuação
do Engenheiro de Produção na rápida detecção, atuação e resolução do problema.

3.2 Estudo de Caso

Neste capítulo será apresentado o estudo de caso, o qual foi realizado através
de ensaios realizados em uma bancada.
Para realização do estudo, projetou-se uma bancada hidrométrica cujo
objetivo é simular uma situação real de passagem de ar na rede de abastecimento de
uma ligação individual em sua situação mais crítica, ou seja, com a ocorrência direta
em apenas uma ligação, conforme pode ser visto na Figura 16.
45

Figura 16 – Bancada Hidrométrica

Fonte: Arquivo do autor (2019)

O conceito aplicado na estruturação da bancada foi de uma entrada de


alimentação de água de um reservatório de 60 litros, interligada a uma primeira linha
de hidrômetros, a qual alimentava um reservatório vazio de 20 litros totalmente
vedado, que se encontrava 20 cm, aproximadamente, acima desta. Este reservatório
se interligava a uma segunda linha, a qual alimentava um último reservatório de 30
litros aberto, localizado a 20 cm acima da segunda linha, conforme a Figura 17.

Figura 17 – Linha 01 e 02 da bancada

Fonte: Arquivo do autor (2019)

O recipiente de 60 litros foi utilizado para simular um reservatório que


abastece uma determinada região. Já o de 20 litros, tinha a função de simular a rede
de abastecimento, quando da ocorrência de desabastecimento, a qual no momento
inicial dos ensaios estava totalmente vazio.
46

O terceiro recipiente (30 litros) foi utilizado para o descarte da água e, visto
que era aberto, para a purgação do ar presente no recipiente anterior. Em cada
recipiente foi instalada uma mangueira de nível, a fim de verificação do nível de água
no interior, uma vez que estes foram fabricados em aço fosco (Figura 18).

Figura 18 – Linha 01 e 02 da bancada

Fonte: Arquivo do autor (2019)

A medida que o sistema começa a ser abastecido pela linha 01, a água que
escoa da entrada empurra o ar presente no segundo reservatório, que só tem como
saída a linha 02 de hidrômetros e o terceiro reservatório aberto, expelindo o ar do
sistema. Enquanto o ar é empurrado pela água, este é escoado pelos hidrômetros da
linha 02. O abastecimento do sistema foi realizado de duas maneiras, através de
bombeamento e da interligação direta da bancada em uma rede de abastecimento do
local onde foram realizados os ensaios.

Figura 19 – Bancada hidrométrica

Fonte: Arquivo do autor (2019)


47

Os hidrômetros utilizados nos ensaios foram: Velocimétrico Monojato, com


Vazão Nominal (Qn) de 0,75 m³/h e Vazão Máxima de (Qmáx) de 1,5 m³/h; e
Ultrassônico, com Vazão Nominal (Qn) de 1,5 m³/h e Vazão Máxima de (Qmáx) de
2,5 m³/h. Importante salientar que todos os equipamentos testados foram fabricados
conforme a norma vigente, com certificados de fabricação emitidos pelo INMETRO, e
com ano de fabricação de 2018 para os monojatos e 2015 para os ultrassônicos.
48

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste tópico serão apresentados, analisados e discutidos os resultados


obtidos nos ensaios.

4.1 Resultados

Para realização dos ensaios, utilizou-se o Ciclo PDSA a fim de roteirização e


aprendizado do processo de medição da passagem de ar em uma rede de
abastecimento simulada, com objetivo de análise da ocorrência e possíveis ações
quanto ao problema.
O 1º ciclo PDSA teve como objetivo analisar a influência da passagem de ar
na micromedição residencial no momento do reabastecimento de água da rede
pública, simulada através de uma bancada de testes com hidrômetros de modelo
ultrassônico.
A análise foi realizada considerando 10 ensaios através de alimentação de
água realizada pela rede de abastecimento. Anotou-se as marcações iniciais dos
hidrômetros e deu-se início ao abastecimento do sistema, sendo interrompido no
preenchimento do reservatório de 20 litros (vedado). Desconsiderou-se o tempo total,
anotando as marcações ao final do procedimento. O hidrômetro ultrassônico da linha
01 estava diretamente sob a passagem apenas de água e o da linha 02 sob a
passagem apenas de ar.
Foram anotados os dados conforme a Tabela 1.

Tabela 1 – Valores dos ensaios para ultrassônico

Ultrassônico 01 Ultrassônico 02
Ensaio Marcação Inicial Marcação Final Volume Medido Marcação Inicial Marcação Final Volume Medido
1 37704 37725 21 52710 52710 0
2 37722 37742 20 52710 52710 0
3 37739 37760 21 52710 52710 0
4 37757 37777 20 52710 52710 0
5 37774 37796 22 52710 52710 0
6 37793 37813 20 52710 52710 0
7 37810 37829 19 52710 52710 0
8 37828 37848 20 52710 52710 0
9 37845 37866 21 52710 52710 0
10 37863 37883 20 52710 52710 0
Fonte: Elaborado pelo autor (2019)
49

Conforme os dados coletados, foi possível constatar que no hidrômetro


ultrassônico 02, o qual se encontrava diretamente sob a passagem de ar, não houve
alteração em sua marcação, portanto, neste modelo de equipamento não houve
qualquer interferência no volume medido nas ligações individuais pelo efeito de ar na
rede de abastecimento.
O 2º Ciclo PDSA teve como objetivo analisar a influência da passagem de ar
na micromedição individual com hidrômetros de modelo monojato.
A análise foi realizada considerando 40 ensaios (20 para bombeamento e 20
para ligação em rede), onde os hidrômetros de nomenclatura “2” estavam diretamente
sob a passagem de ar. Anotou-se as marcações iniciais dos hidrômetros e deu-se
início ao abastecimento do sistema, cronometrando o tempo que o ar passou pelo
hidrômetro monojato, sendo interrompido no preenchimento total do reservatório de
30 litros (aberto), anotando-se o tempo total e as marcações ao final do procedimento.
Os hidrômetros de nomenclatura “2” estavam diretamente sob a passagem de ar.
Tendo em vista que a linha 01 de hidrômetros estava diretamente ligada ao
sistema de abastecimento e que nesta não houve influência de passagem de ar, e
considerando que o hidrômetro ultrassônico é o mais preciso entre os equipamentos,
este foi considerado como referência do total de água escoada no sistema.
Portanto, a diferença medida entre o hidrômetro ultrassônico e o hidrômetro
monojato da linha 01, equivale ao desvio de medição entre os equipamentos. Sendo
assim, essa diferença foi somada ao valor do hidrômetro ultrassônico 2, resultando na
medição de água que deveria ser medida pelo monojato 2. Considerou-se, portanto,
que a diferença entre essa medição corrigida e a anotada no monojato 2 equivale ao
volume de ar registrado.
Como referência da quantidade de ar total no sistema, considerou-se o
volume de 20 litros, que equivale a capacidade do segundo reservatório.
Observando a Tabela 2, e considerando que desvio padrão dos ensaios está
baixo e que os valores para a média e mediana estão bem próximos, os dados
coletados apresentaram confiabilidade e representam a variação real do registro de
consumo nos equipamentos.
A mediana da vazão total do sistema foi de 0,83 m³/hora (bombeamento) e
1,29 m³/hora (rede), esse valor foi calculado a partir do volume registrado no
hidrômetro ultrassônico 01 pelo tempo total do ensaio. A mediana da vazão da
50

passagem do ar foi de 1,02 m³/hora (bombeamento) e 1,50 m³/hora (rede), obtida


através da divisão do volume do reservatório 2 (20 litros) pelo tempo que o ar passou
no sistema. Cabe ressaltar que os valores calculados estão entre a Qn e Qmáx do
equipamento analisado (Tabela 3).

Tabela 2 – Valores do ensaio de tempo e vazão (bomba e rede)

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

A mediana de consumo medido a mais e atribuído à passagem de ar no


hidrômetro monojato foi de 13,06 litros (bomba) e 14,75 litros (rede), conforme Tabela
3.

Tabela 3 – Valores calculados com dados obtidos

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)


51

Conforme se observa na carta de controle (Figura 20), a medição está estável


e dentro dos limites de controle.

Figura 20 – Carta de controle (Hidrômetro monojato 2)

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

Sendo assim e considerando que a vazão máxima do hidrômetro monojato é


de 1,5 m³/hora e que esta é a situação em que o hidrômetro pode trabalhar por um
curto espaço de tempo sem perder as condições ideais de medição e se desgastar,
utilizou-se como referência os dados obtidos nesta vazão. Portanto, visto que a
mediana do volume de ar nestas condições foi de 14,75 litros durante 0,013 horas,
tem-se uma vazão de 1,13 m³/horas, o que representa 75% da vazão máxima de
trabalho do equipamento.
Aplicando-se o mesmo raciocínio para os ensaios no abastecimento por
bombeamento, tem-se um tempo de passagem de ar de 0,019 horas, registrando um
consumo de 13,06 litros, ou seja, uma vazão de 0,68 m³/hora. Desta maneira, visto
que a vazão calculada do ar para os ensaios por bombeamento foi de 1,13 m³/h,
nestas condições, o equipamento registrou cerca de 64% do volume total de ar
escoado.
Sendo assim, constata-se que, para as condições do presente ensaio, quanto
menor a vazão do ar, menor foi o seu registro em relação ao total de ar escoado, e
consequente, alteração do volume medido.
52

4.2 Discussão

Conforme já discorrido, a passagem de ar nas ligações individuais tem como


única possibilidade de ocorrência a ocasião de uma interrupção do abastecimento de
água e no seu retorno. Na interrupção o registro de água é negativo e no retorno é
positivo, geralmente, levando ao equilíbrio essa diferença de medição, entretanto,
neste estudo considerou-se somente o volume registrado no retorno do
abastecimento. Portanto, é importante registrar que o valores calculados tendem a ser
ainda menores devido ao registro negativo quando do desabastecimento.
Ademais, em análise aos dados coletados para o hidrômetro ultrassônico, foi
possível constatar que este tipo de equipamento não sofre a influência da passagem
do ar, não havendo alteração em sua medição.
Analisando os dados coletados para o hidrômetro monojato, verifica-se que
na hipótese de passagem de ar e nas condições da vazão máxima de trabalho, o
equipamento registrou aproximadamente 75% do total de ar escoado.
Outrossim, o volume de ar registrado é diretamente proporcional ao tempo do
seu escoamento, ou seja, quanto mais tempo durar a sua passagem, maior será o
volume medido. Isto é importante destacar, uma vez que as regiões onde as ligações
de água se encontram são classificadas de acordo com a sua cota topográfica em
relação ao sistema de abastecimento. As regiões de cota topográfica baixa e
intermediárias são as últimas a serem desabastecidas e as primeiras e terem o seu
fornecimento de água normalizado, portanto, o seu tempo de duração de passagem
de ar é menor, podendo chegar a apenas alguns minutos.
Cabe ainda mencionar que, conforme dados coletados, quanto menor a vazão
do ar, menor foi o volume medido pelo hidrômetro, conforme verificado quando nos
ensaios a vazão esteve em 1,13 m³/hora e o equipamento registrou aproximadamente
64% desse volume.
Tabulando os dados, foi possível estimar, aproximadamente, o registro
atribuído ao efeito do ar em relação ao tempo de ocorrência, conforme a tabela a
seguir.
53

Tabela 4 – Projeção de volume para Qmáx = 1,5m³/h


Tempo Volume de ar Tempo Volume de ar Tempo Volume de ar
(horas) (m³) (horas) (m³) (horas) (m³)
0,5 0,56 8,5 9,56 16,5 18,56
1 1,13 9 10,13 17 19,13
1,5 1,69 9,5 10,69 17,5 19,69
2 2,25 10 11,25 18 20,25
2,5 2,81 10,5 11,81 18,5 20,81
3 3,38 11 12,38 19 21,38
3,5 3,94 11,5 12,94 19,5 21,94
4 4,50 12 13,50 20 22,50
4,5 5,06 12,5 14,06 20,5 23,06
5 5,63 13 14,63 21 23,63
5,5 6,19 13,5 15,19 21,5 24,19
6 6,75 14 15,75 22 24,75
6,5 7,31 14,5 16,31 22,5 25,31
7 7,88 15 16,88 23 25,88
7,5 8,44 15,5 17,44 23,5 26,44
8 9,00 16 18,00 24 27,00

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

Portanto, para que haja alguma alteração no consumo de uma ligação, o


tempo que o ar deve escoar pelo equipamento de medição deve ser alto, devendo
passar por mais de 01 hora, somado a diversas ocorrências de desabastecimento
dentro de um ciclo de consumo.
Sendo assim, para verificação de uma possível alteração no consumo de um
determinado usuário, deve-se considerar quantidade de ocorrência de
desabastecimento, caso houver, o tipo do hidrômetro instalado na unidade
(ultrassônico ou velocimétrico), a posição em que a ligação se encontra no sistema
que a abastece e a presença de dispositivos, como as ventosas, que possam
amenizar a expulsão de ar pelas ligações.
Desta maneira e de acordo com explicitado, nos casos em que não houve
desabastecimento da região onde a ligação se encontra, inexiste a possibilidade de
passagem de ar na ligação. Isso também se aplica nas ligações que possuem o
hidrômetro do tipo ultrassônico instalado, onde, mesmo que venha a ocorrer um
desabastecimento e uma possível passagem de ar, este não será medido pelo
equipamento, não havendo qualquer alteração no consumo medido.
Da mesma forma, nas ligações com hidrômetros do tipo velocimétrico,
dependerá da posição em que a ligação se encontra, podendo haver alguma alteração
54

no consumo se a normalização do abastecimento levar um tempo muito alto e ocorrer


diversas interrupções no fornecimento de água.
Nas ligações em que o tempo para normalização for inferior a 01 hora e houver
poucas interrupções, não haverá alteração significativa no volume final medido,
entretanto, quando for superior a 01 hora, poderá haver alguma alteração, a depender
do tempo em que o ar ficou passando e da quantidade de ocorrência dentro do ciclo
de consumo, cabendo ressaltar que o volume de ar medido positivamente será
descontado pelo volume medido negativamente.
Na situação de manutenção na rede de determinado setor, geralmente
apenas a interrupção de abastecido abrange uma área menor, pois tendem a ser
fechados somente os registros das redes locais. Assim, é provável que o tempo para
normalização seja ainda menor com relação a uma interrupção ocasionada por um
desabastecimento de um reservatório.
Cabe ainda mencionar que a passagem do ar também não ocorrerá quando:
o registro no cavalete estiver fechado; em uma residência que possua caixa d’água e
esta estiver cheia com a boia da caixa d’agua fechada; e nas residências que são
abastecidas diretamente pela rede e estiverem com as torneiras fechadas, uma vez
que não haverá pontos abertos para escoamento do ar.
55

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi compreender a influência da passagem do ar nas


ligações de água dos usuários e como isso altera o consumo medido, a fim de propor
soluções para a situação problema.
Logo, a resolução só se daria de forma definitiva, se não houvesse
desabastecimento, pois a rede estaria ocupada somente por água em tempo integral.
Entretanto, na prática, isso não é possível, visto que devido às necessidades de
manutenções ou eventos fora do controle da companhia, como falta de energia e
aumento pontual da demanda, eventualmente haverá interrupção no fornecimento de
água. Para isso, a instalação dos hidrômetros do tipo ultrassônicos pode ser uma
solução pois mesmo havendo passagem de ar, a medição será eficiente.
A instalação de hidrômetros ultrassônicos, em um primeiro momento, poderá
ser realizada nas regiões em que há constantes interrupções no abastecimento e nas
cotas mais altas dos sistemas, uma vez que estes são os pontos mais críticos.
Outra solução possível é a instalação de ventosas nas redes, entretanto,
tendo em vista o alto custo de manutenção, e a dificuldade de instalação em redes
antigas, em muitos casos torna-se inviável a utilização em massa destes
equipamentos.
Resumindo, a passagem do ar ocorre em situações específicas e com maior
impacto em ligações localizadas em pontos críticos da rede, devendo cada caso ser
analisado de acordo com a situação do abastecimento da região, o tipo de hidrômetro
e a sua posição topográfica.
Como sugestão de novos estudos, propõe-se a verificação do comportamento
do hidrômetro velocimétrico do tipo multijato; verificação da passagem de ar para
diferentes vazões e, especialmente, a verificação do efeito negativo também
ocasionado pelo ar nas ligações durante o processo de desabastecimento da rede.
56

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