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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

CAMPUS DIADEMA

LUCAS ALVES DA SILVA

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE UM MEDIDOR VENTURI POR


FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

DIADEMA

2019
LUCAS ALVES DA SILVA

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE UM MEDIDOR VENTURI POR


FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como exigência parcial para
obtenção do título de Bacharel em Engenharia
Química, ao Instituto de Ciências Ambientais,
Químicas e Farmacêuticas da Universidade
Federal de São Paulo – Campus Diadema.

DIADEMA
2019
SILVA, LUCAS

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE UM MEDIDOR


VENTURI POR FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL / Lucas
Alves da Silva. – Diadema, 2019.

73f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia


Química) – Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema,
2019.

Orientador: Werner Siegfried Hanisch

1. Fluidodinâmica computacional, 2. Medidor Venturi, 3.


OpenFOAM
CCD 660.2815
Dedico este trabalho aos meus pais, pela força e amor incomparáveis que me dão todos os dias.
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Antônio Alves e Noemia Alves, por toda a dedicação para
me darem o melhor na busca pelos meus sonhos e por todos os ensinamentos e coragem que
eles me transmitem.

À minha família, por sempre acreditar em mim e me impulsionar nos momentos mais
difíceis ao longo desses 5 anos de graduação.

Aos meus amigos, Ian Irizawa, Larissa Matos e Nicolas Santos, por toda confiança
depositada, pelo amor, força, apoio e parceria que tenho com cada um deles. Por todos os
momentos vividos e histórias compartilhadas, meu muito obrigado a vocês!

A todos os meus queridos amigos da UNIFESP campus Diadema, e especialmente aos


amigos da turma de Engenharia Química 09, pelo carinho e por sempre incentivarem as minhas
batalhas para seguir uma carreira acadêmica.

A todos os docentes da UNIFESP campus Diadema que contribuíram para minha


formação como Engenheiro Químico. Àqueles que souberam ser professores de verdade e
transmitiram o conhecimento que têm para agregar em meu desenvolvimento profissional, sou
muito grato a vocês.

Ao meu querido orientador Werner Hanisch pelos conselhos e por todo o suporte
fornecido durante a elaboração deste trabalho.
“I did, I've done, everything that I wanted
And it was more than I thought it would be
I will leave my mark so everyone will know,
I was here.”

(Diane Warren e Beyoncé Knowles-Carter)


RESUMO

A fluidodinâmica computacional é a área de estudo que fornece uma descrição microscópica


de situações que envolvem os fenômenos de transporte por meio de técnicas de solução
numérica aliadas às ferramentas computacionais. Atualmente, o crescente avanço dos
computadores e o desenvolvimento de métodos numéricos precisos têm contribuído para a
expansão da dinâmica de fluidos computacional em projetos de engenharia e na otimização de
processos industriais. Este trabalho tem o propósito didático de apresentar o entendimento da
técnica de fluidodinâmica computacional aplicada em um software gratuito, o OpenFOAM, e
utilizar a técnica para a modelagem de escoamento turbulento em um medidor de vazão do tipo
Venturi. A validação do modelo proposto foi feita a partir de resultados obtidos
experimentalmente no Laboratório didático de Engenharia Química da UNIFESP. O software
apresentou rápida convergência para as diferentes vazões estudadas e uma boa resposta com
clara visualização do perfil de velocidade, perfil de pressão, linhas de corrente e campo de
velocidade do escoamento. A comparação dos resultados propostos pela solução numérica com
os dados obtidos no experimento indicou que o modelo representou bem o comportamento do
medidor Venturi, com erros médios de 0 a 11% em um intervalo de confiança de 95%. Dessa
forma, o OpenFOAM mostrou-se um software potencial para o início dos estudos em dinâmica
dos fluidos computacional em função de seu livre acesso e pacote de ferramentas oferecidas.

Palavras chave: Fluidodinâmica computacional, OpenFOAM, Medidor Venturi.


ABSTRACT

Computational fluid dynamics is the area of study that provides a microscopic description of
situations involving transport phenomena using numerical solution techniques combined with
computational tools. Today, the increasing advancement of computers and the development of
precise numerical methods have contributed to the expansion of computational fluid dynamics
in engineering projects and the optimization of industrial processes. This work has the didactic
purpose of presenting the understanding of computational fluid dynamics technique applied in
a free software, OpenFOAM, and to use the technique for turbulent flow modeling in a Venturi
flowmeter. The validation of the proposed model was made from results obtained
experimentally in the Chemical Engineering Didactic Laboratory of UNIFESP. The software
presented a quick convergence for the different studied flows and a good response with clear
visualization of the velocity profile, pressure profile, current lines and flow velocity field. The
comparison between the results proposed by the numerical solution and the data obtained in the
experiment indicated that the model represented well the behavior of the Venturi meter, with
average errors from 0 to 11% in a confidence interval of 95%. Thus, OpenFOAM proved to be
a potential software for the beginning of studies in computational fluid dynamics due to its free
access and offered tools package.

Keywords: Computational fluid dynamics, OpenFOAM, Venturi flowmeter.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Projeto de uma aeronave por CFD. ..................................................................................... 14

Figura 2 - Medidor do tipo Venturi ...................................................................................................... 17

Figura 3 - Fluxos de massa em um volume de controle infinitesimal .................................................. 20

Figura 4 - Componentes da tensão em um volume de controle infinitesimal ...................................... 21

Figura 5 - Domínios de solução contínuo e discretizado ..................................................................... 25

Figura 6 - Configuração do domínio para aplicação do método de volumes finitos. ........................... 26

Figura 7 - Malhas estruturadas. ............................................................................................................ 30

Figura 8 - Malhas não estruturadas ...................................................................................................... 30

Figura 9 - Refino de malha................................................................................................................... 31

Figura 10 - Malha estruturada por blocos e malha híbrida .................................................................. 32

Figura 11 - Fluxograma dos passos de uma simulação CFD ............................................................... 33

Figura 12 - Oscilação da velocidade em um escoamento de regime turbulento .................................. 35

Figura 13 - Estrutura do diretório de um caso no OpenFOAM ........................................................... 38

Figura 14 - Problema de escoamento em uma cavidade ...................................................................... 40

Figura 15 - Definição de parâmetros da malha no blockMeshDict ...................................................... 41

Figura 16 - Definição das condições de contorno nos arquivos U e p ................................................. 42

Figura 17 - Representação técnica do medidor Venturi e fotos do painel experimental ...................... 44

Figura 18 - Representação das seções de malha para simulação bidimensional do medidor Venturi . 45

Figura 19 - Aspecto visual da malha do caso "cavity" obtido no Paraview 5.6.0 ................................ 47

Figura 20 - Análise qualitativa do perfil de velocidade e pressão obtidos no Paraview 5.6.0 ............. 48

Figura 21 - Aspecto visual da malha obtido por meio do OpenFOAM ............................................... 49

Figura 22 - Representação das seções de malha para simulação tridimensional do medidor Venturi . 50

Figura 23 - Perfil de velocidade no medidor Venturi em diferentes iterações ..................................... 51

Figura 24 - Linhas de corrente e Campo de velocidade para o medidor Venturi ................................. 52

Figura 25 - Perfil de pressão no medidor Venturi ................................................................................ 53

Figura 26 - Perfil de velocidade obtido ao longo do raio para diferentes posições em x do Venturi .. 54
Figura 27 - Acoplamento pressão velocidade obtido para o medidor Venturi ..................................... 56

Figura 28 - Resíduos das variáveis Ux, Uy e p para todas as iterações realizadas .............................. 57

Figura 29 - Resíduos das variáveis Ux, Uy e p a partir da 50° iteração ............................................... 58

Figura 30 - Algoritmo de solução do solver "SIMPLE" ...................................................................... 59

Figura 31 - Resultados para diferença de pressão obtidos em diferentes vazões ................................. 62

Figura 32 - Ajuste entre dados de diferença de pressão teóricos e experimentais ............................... 63


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 -Equações que descrevem o movimento dos fluidos. ............................................................ 23

Tabela 2 - Resultados obtidos para velocidade nas seções 1 e 2 do Venturi ........................................ 59

Tabela 3 - Resultados obtidos para diferença de pressão experimental, simulada e teórica ................ 60

Tabela 4 - Resultados experimentais com intervalo de confiança de 95% a partir da média ............... 62
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13

2 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 15

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 16

3.1 MÉTODOS DE MEDIÇÃO DE VAZÃO ......................................................................... 16


3.1.1 Medidor tipo Venturi....................................................................................................... 17
3.2 EQUAÇÕES QUE GOVERNAM O MOVIMENTO DOS FLUIDOS ............................. 19
3.3 EQUAÇÃO GERAL DE TRANSPORTE ......................................................................... 23
3.4 APROXIMAÇÕES POR DIFERENÇAS FINITAS ......................................................... 24
3.4.1 Método dos volumes finitos ............................................................................................ 25
3.5 FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL .................................................................... 28
3.5.1 Geração da malha ............................................................................................................ 29
3.5.2 Etapas de resolução ......................................................................................................... 32
3.5.3 Modelos de turbulência ................................................................................................... 35
3.5.4 Verificação de erros ........................................................................................................ 36
3.6 SOFTWARE OPENFOAM ................................................................................................ 37
3.6.1 Estrutura do software ...................................................................................................... 37

4 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS ................................................ 40

4.1 CASO DE ESCOAMENTO EM UMA CAVIDADE........................................................ 40


4.2 SIMULAÇÃO DE UM MEDIDOR VAZÃO DO TIPO VENTURI ................................. 43

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................................... 47

5.1 RESULTADOS DO CASO DE ESCOAMENTO EM UMA CAVIDADE ...................... 47


5.2 ASPECTO VISUAL DA MALHA BIDIMENSIONAL DO MEDIDOR VENTURI ....... 48
5.3 ANÁLISE QUALITATIVA DO ESCOAMENTO ........................................................... 50
5.4 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DOS PERFIS DE VELOCIDADE E PRESSÃO E DOS
RESÍDUOS DE ITERAÇÃO DO MODELO ........................................................................... 54
5.5 COMPARAÇÃO COM DADOS EXPERIMENTAIS E VALIDAÇÃO DO MODELO . 59

6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ........................................................................................ 64

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 65
APÊNDICE A - CÓDIGO DO BLOCK MESH DICT PARA CONSTRUÇÃO DA
MALHA BIDIMENSIONAL DO MEDIDOR VENTURI ................................................. 67

APÊNDICE B – CÓDIGO DO ARQUIVO “P” PARA CONDIÇÕES DE CONTORNO


DA PRESSÃO DO MEDIDOR VENTURI .......................................................................... 69

APÊNDICE C - CÓDIGO DO ARQUIVO “U” PARA CONDIÇÕES DE CONTORNO


DA VELOCIDADE DO MEDIDOR VENTURI ................................................................. 70

APÊNDICE D – CÓDIGO DO ARQUIVO CONTROL DICT PARA DEFINIÇÃO DE


PARÂMETROS DA SIMULAÇÃO ..................................................................................... 71

APÊNDICE E - CÓDIGO DO BLOCK MESH DICT PARA CONSTRUÇÃO DA


MALHA TRIDIMENSIONAL DO MEDIDOR VENTURI .............................................. 72
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1 INTRODUÇÃO

Os projetos de engenharia que envolvem o estudo do movimento de fluidos têm como


um dos desafios o cálculo das propriedades essenciais de um escoamento. Isso porque obter os
campos de velocidade e pressão ou as linhas de corrente de um escoamento exige a resolução
das equações que governam a conservação da massa, do momento e da energia, conhecidas
como equações de Navier-Stokes com origem por volta do século 19. Essas equações são de
natureza matemática diferencial parcial não-linear, e a solução analítica para elas só é possível
em casos muito simplificados.

A fluidodinâmica computacional (CFD – acrônimo de: Computational Fluid


Dynamics) é a área que estuda métodos numéricos para resolução das equações que governam
o movimento dos fluidos com a utilização de recursos computacionais.

Desde quando foi implementada pela indústria aeroespacial para o projeto de


aeronaves e motores a jato nos anos de 1960, a CFD ganha cada vez mais espaço com a
crescente expansão da tecnologia e dos computadores. Atualmente, essa técnica possui
aplicações em áreas como: engenharia de processos químicos (modelagem de misturas e
separação de componentes), hidrodinâmica de navios, oceanografia (escoamento de rios e
oceanos), meteorologia, engenharia ambiental (para distribuição de poluentes) e até mesmo na
engenharia biomédica para estudo dos fluxos sanguíneos em veias e artérias (VERSTEEG;
MALALASEKERA, 2007).

Para o desenvolvimento de um projeto de engenharia bem sucedido, são necessários,


além do cálculo teórico para as variáveis do problema, dados e observações experimentais de
um modelo em menor proporção que represente o projeto. Entretanto, em muitos casos,
reproduzir um experimento em escala laboratorial se torna praticamente impossível,
dependendo das condições e da geometria em que se deseja simular os fenômenos envolvidos.
Dessa forma, uma das principais vantagens da técnica de CFD está na flexibilidade para a
simulação de experimentos que ultrapassam as capacidades de um laboratório, e assim permitir
analisar os resultados em situações complexas com diferentes condições operacionais.

A fluidodinâmica computacional é sinônimo de economia de tempo e custo de projeto,


dependendo da precisão em que a simulação na forma experimento precisa ser realizada. Além
de estar presente no projeto de carros, aeronaves e navios como mostrado na Figura 1, a CFD é
muito utilizada para otimização de escoamentos industriais internos, como na modelagem para
acessórios de tubulação e medidores de vazão.
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Uma das formas mais simples de medir vazão é por meio da tomada de pressão em
dois pontos de tubulação reta com áreas de seção transversal diferentes. Os medidores de vazão
mais conhecidos que utilizam essa técnica são os medidores do tipo Venturi, placa de orifício
e bocal. Esses, são amplamente estudados no ambiente acadêmico e utilizados nas práticas
industriais, por terem uma construção fácil e serem baseados em simplificações da equação de
Bernoulli. Dessa forma, a análise do escoamento em nível microscópico desses medidores é um
excelente caminho para o início dos estudos em fluidodinâmica computacional.

Haja vista que o estudo da CFD não é simples, por exigir simultaneamente de um
engenheiro os conhecimentos de Fenômenos de Transporte, métodos numéricos e linguagem
de programação. Além disso, atualmente a maioria dos pacotes disponíveis para simulação dos
fluidos são comerciais e possuem um alto custo de licenciamento.

É nesse sentido, que a proposta deste trabalho consiste em apresentar as etapas de uma
simulação CFD realizada por meio de um software colaborativo e não licenciado, o
OpenFOAM.

Figura 1 - Projeto de uma aeronave por CFD.

Fonte: (“Simscale - Aircraft Design Workshop”)


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2 OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo apresentar de maneira didática os conceitos


fundamentais de fluidodinâmica computacional e o funcionamento do OpenFOAM por meio
de um conteúdo instrutivo que aborda a simulação de um caso tutorial do software.

Além disso este trabalho também teve como objetivo utilizar o software do
OpenFOAM para realizar a simulação de escoamento turbulento através de um medidor de
vazão do tipo Venturi por CFD e validar os resultados com dados experimentais obtidos no
Laboratório didático de Engenharia Química da Universidade Federal de São Paulo.
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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 MÉTODOS DE MEDIÇÃO DE VAZÃO

O método mais intuitivo para medição da vazão de um escoamento é o método direto,


que consiste em mensurar a quantidade de fluido acumulada num recipiente em um determinado
intervalo de tempo. Dessa forma, tanques podem ser utilizados para determinar a vazão de
escoamentos em regime estacionário por meio da medição do volume ou massa de fluido
coletado durante um período fixo pré-determinado (PRITCHARD, 2011).

A compressibilidade dos fluidos é um fator, que pode dificultar a medida do volume


acumulado no método direto devido à possível diferença de pressão existente entre a tubulação
e o recipiente coletor. Esse fenômeno deve ser levado em conta sobretudo para fluidos gasosos,
que apresentam baixa densidade e limitações para a medida precisa de um determinado volume.
Além disso, esse método não é prático em processos contínuos industriais, em que muitas vezes
há a necessidade de medição da vazão na própria tubulação onde ocorre o escoamento
(MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2004).

A maioria dos medidores mede a vazão de maneira indireta por meio da área de seção
transversal do escoamento e da velocidade média ou outra variável relacionada à velocidade
como por exemplo pressão e arrasto (ÇENGEL; CIMBALA, 2006). Um método eficiente para
determinação da vazão é o da restrição, que consiste na instalação de um dispositivo na
tubulação que limita a área por onde o fluido escoa. Desse modo, é possível medir a diferença
entre as pressões na região de alta velocidade (área restrita) e baixa velocidade (área não restrita)
e por meio dessa medida determinar a vazão do escoamento. Os medidores mais comuns deste
método são os do tipo: Venturi, placa de orifício e medidor de bocal (MUNSON; YOUNG;
OKIISHI, 2004).

Atualmente existem medidores indiretos de vazão baseados em diversos princípios,


como por exemplo, no movimento de partes móveis (medidores de deslocamento positivo e
tipo turbina), no princípio de Coriolis (medida da frequência de oscilação de um tubo calibrado),
equilíbrio entre forças em um corpo flutuante (rotâmetros), alteração da frequência de ondas
emitidas a jusante a montante de um escoamento (medidores ultrassônicos) e força eletromotriz
induzida em um fluido condutor com escoamento perpendicular a um campo magnético, que
são os medidores eletromagnéticos (ÇENGEL; CIMBALA, 2006).
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A escolha do medidor geralmente é feita com base na precisão de medida desejada,
facilidade de leitura, instalação, tempo de vida útil do equipamento e principalmente no custo
associado ao dispositivo e sua manutenção caso necessite (PRITCHARD, 2011).

3.1.1 Medidor tipo Venturi

O medidor Venturi foi criado pelo engenheiro americano Clemens Herchel (1842-
1930) e recebeu esse nome devido à homenagem que o engenheiro fez ao cientista italiano
Giovanni Venturi (1746-1822) pelo seu trabalho pioneiro com seções cônicas de escoamento
(ÇENGEL; CIMBALA, 2006). O dispositivo consiste em uma seção convergente-divergente
instalada em uma seção reta de tubulação, com o diâmetro maior do Venturi igual ao diâmetro
do tubo (POST, 2013). A Figura 2 apresenta um esquema do medidor de diâmetro “D” e
diâmetro de garganta “d”.

Figura 2 - Medidor do tipo Venturi

Fonte: Adaptado de: MUNSON; YOUNG; OKIISHI, (2004)

A partir das considerações de escoamento em regime permanente e fluido


incompressível, a expressão para o balanço de massa do volume de controle representado na
Figura 2 pode ser escrita por meio da Equação (1).
𝑉1 ∗ 𝐴1 = 𝑉2 ∗ 𝐴2 (1)
Em que: V1 e V2 = velocidades médias do escoamento nos pontos 1 e 2 (m/s);
A1 e A2 = áreas das seções transversais do equipamento nos pontos 1 e 2 (m2).

Assim, considerando a área da seção transversal circular, a velocidade “V1” pode ser
expressa por meio da Equação (2).
𝑑 2
𝑉1 = 𝑉2 ∗ ( ) (2)
𝐷
Em que: d = diâmetro da garganta (m);
D = diâmetro da tubulação (m).
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Considerando que não há perdas de carga no escoamento e de que o Venturi está
posicionado em um eixo horizontal (Z1 = Z2), a equação de Bernoulli para esse sistema pode
ser representada pela Equação ( 3 ).
𝑃1 𝑉12 𝑃2 𝑉22
+ = + (3)
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔
Em que: P1 e P2 = pressões medidas na entrada e na garganta do Venturi (N/m2);
 = massa específica do fluido (kg/m3);
g = aceleração gravitacional (m2/s).

A combinação das Equações (2) e ( 3 ) resulta na Equação (4) para a velocidade V2


de um medidor Venturi com obstrução sem perdas.

2(𝑃1 − 𝑃2 )
𝑉2 = √ (4)
𝜌(1 − 𝛽 4 )
Em que:  = (d/D).

Uma vez que V2 é conhecida, pode-se determinar a vazão Q fazendo a multiplicação


dessa velocidade pela área da seção transversal da garganta. Essa simples análise mostra, que a
vazão através de um tubo pode ser determinada restringindo o escoamento e medindo a
diminuição de pressão devido ao aumento da velocidade no local da constrição (ÇENGEL;
CIMBALA, 2006).

Diversos fatores limitam o cálculo da vazão real de um escoamento utilizando apenas


a Equação (4) e a área da seção transversal A2. Na prática, a corrente de fluido continua se
contraindo após a obstrução e a área da vena contracta, região onde há a tomada de pressão na
constrição, é menor do que a área teórica A2. Além disso, os efeitos de perda de carga por atrito
devem ser levados em conta e a velocidade V2 real será menor do que a especificada pela
Equação (4) (PRITCHARD, 2011).

A dificuldade de incluir a perda de carga no cálculo da vazão real consiste na ausência


de uma expressão precisa para calculá-la, que somada às demais não idealidades do escoamento
podem ser mensuradas pela incorporação de um fator de correção na equação da vazão teórica
denominado de coeficiente de descarga (Cd), cujo valor (menor que 1) é determinado
experimentalmente. Dessa forma, a vazão real do fluido pode ser calculada por meio da
Equação (5) (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2004).

2(𝑃1 − 𝑃2 )
𝑄𝑟𝑒𝑎𝑙 = 𝐶𝑑 ∗ 𝐴2 √ (5)
𝜌(1 − 𝛽 4 )
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O medidor Venturi é o mais preciso da classe dos medidores por obstrução e também
o mais caro. Ele é projetado de modo a reduzir ao máximo as perdas de carga. O formato da
contração é desenhado para acompanhar as linhas de corrente e minimizar a separação do
escoamento na garganta enquanto o formato da expansão é gradual para reduzir a separação no
trecho de desaceleração do escoamento (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2004).

A maior parte da perda de carga ocorrida no Venturi é consequência das perdas por
atrito nas paredes ao invés de perdas associadas à separação do escoamento. Essa perda de carga
irreversível pode chegar até cerca de 10%, o que torna esse tipo de medidor indicado para
aplicações que não permitem grandes quedas de pressão (ÇENGEL; CIMBALA, 2006).

3.2 EQUAÇÕES QUE GOVERNAM O MOVIMENTO DOS FLUIDOS

As equações que governam o escoamento dos fluidos seguem as declarações


matemáticas que descrevem as leis de conservação da física, são elas:

• A massa do fluido é conservada em um volume de controle fixo do escoamento;

• A taxa de variação do momento é igual a soma das forças que agem em uma
partícula de fluido (segunda lei de Newton).

Na análise diferencial do escoamento de fluidos são utilizadas propriedades


macroscópicas (função do espaço e tempo) que descrevem o comportamento desse escoamento,
como por exemplo: velocidade, pressão, densidade, temperatura (quando há troca de calor) e
suas derivadas no espaço e tempo como por exemplo, a aceleração. Dessa forma, toma-se como
volume de controle para domínio das equações, o menor elemento de fluido possível em que
essas propriedades macroscópicas não são influenciadas pelas moléculas individuais do fluido
(VERSTEEG; MALALASEKERA, 2007).

A conservação da massa de um fluido em escoamento através de um volume de


controle infinitesimal pode ser expressa como:

Acúmulo de massa no = Taxa líquida do fluxo de massa


volume de controle para dentro do volume de controle

O termo do acúmulo é representado como a variação da massa específica no tempo em


todo o volume de controle, pois se a massa específica varia dentro de um volume de controle
fixo, há o acúmulo negativo ou positivo de massa dentro deste elemento de controle.
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A taxa líquida para o fluxo de massa é representada pela soma das parcelas de entrada
e saída de massa no volume de controle. Essa quantidade de massa é expressa por meio do
produto entre a massa específica, área e a componente normal da velocidade à face do elemento
de controle (VERSTEEG; MALALASEKERA, 2007).

A Figura 3 apresenta um volume de controle infinitesimal com os fluxos de entrada e


saída de massa orientados positivamente no sentido dos eixos cartesianos representados. A
Equação (6), equação da continuidade, expressa matematicamente a soma entre o acúmulo e a
taxa líquida de massa no elemento de controle para um escoamento tridimensional e fluido
compressível.

Figura 3 - Fluxos de massa em um volume de controle infinitesimal

Fonte: Elaboração do autor com base em (ÇENGEL; CIMBALA, 2006)

𝜕𝜌 𝜕(𝜌𝑢) 𝜕(𝜌𝑣) 𝜕(𝜌𝑤) 𝜕𝜌


+ + + = + 𝛻⃗(𝜌 𝑉
⃗)=0 (6)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑡
Em que:  = massa específica do fluido (kg/m3);
u,v e w = componentes do vetor velocidade nas direções x, y e z (m/s);
⃗ = vetor velocidade (m/s).
𝑉
Para escoamento com fluido incompressível, a massa específica é constante ao longo
tempo e do espaço, e a equação se torna:

⃗ (𝑉
∇ ⃗)=0 (7)
As equações de conservação do momento linear são obtidas pela aplicação da segunda
lei de Newton, e de maneira geral podem ser expressas como:

Taxa de variação temporal do Resultante das forças que agem


=
momento de uma partícula de fluido nessa partícula de fluido
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A taxa de variação do momento nas direções, x, y, e z por unidade de volume de uma
partícula de fluido são dadas respectivamente por:

𝑑𝑢 𝑑𝑣 𝑑𝑤
𝜌 ,𝜌 𝑒𝜌
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡

Já as forças que agem no elemento de fluido geralmente são classificadas em dois


tipos: forças de campo e forças de superfície. As forças de campo têm ação sobre a massa de
fluido como um todo, ou seja, sobre cada ponto de um elemento de fluido, como por exemplo
a força gravitacional ou forças eletromagnéticas. Como essas forças nem sempre possuem
magnitude suficiente para influenciar o escoamento, as expressões matemáticas dessas forças
são, em geral, representadas como termos auxiliares (fontes) nas equações de momento
(FORTUNA, 2012).

As forças de superfície agem apenas sobre a superfície do elemento de fluido e podem


decorrer de forças de pressão exercidas por um elemento exterior ou de forças viscosas
provenientes das tensões normais e de cisalhamento, devido ao atrito com os elementos de
fluido adjacentes ao movimento. Uma vez que essas forças são intrínsecas ao fluido, elas
aparecem como termos constitutivos nas equações de momento (FORTUNA, 2012).

A Figura 4 mostra os dois tipos de tensão que influenciam um elemento de fluido e um


volume de controle infinitesimal em três dimensões com a representação das componentes
dessas tensões. As tensões normais () tendem a esticar ou comprimir o elemento de fluido,
enquanto as tensões de cisalhamento () tendem a deformar esse elemento (FORTUNA, 2012).

Figura 4 - Componentes da tensão em um volume de controle infinitesimal

Fonte: Elaboração do autor com base em (FORTUNA, 2012)

A magnitude da força resultante, que age na direção x por exemplo, vem da


contribuição da força de pressão P e das forças viscosas causadas pelas tensões: xx, yx e zx.
As forças têm contribuição positiva ou negativa para a resultante de acordo com o sentido
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positivo do eixo de referência. Assim, a força líquida na direção x é a soma das componentes
das forças que atuam nessa direção no elemento de fluido (VERSTEEG; MALALASEKERA,
2007). A equação do momento na direção x desconsiderando as forças de campo (Equação (8))
é obtida igualando a taxa de variação temporal do momento nessa direção à resultante das forças
que agem nesse eixo.

𝑑𝑢 𝜕(−𝑃 + 𝜎𝑥𝑥 ) 𝜕𝜏𝑦𝑥 𝜕𝜏𝑧𝑥


𝜌 = + + (8)
𝑑𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
Para fluidos Newtonianos as tensões viscosas são proporcionais às taxas de
deformação do elemento de fluido e representadas por meio das Equações (9), (10) e (11)
(ÇENGEL; CIMBALA, 2006).

𝜕𝑢
𝜎𝑥𝑥 = 2𝜇 (9)
𝜕𝑥
𝜕𝑢 𝜕𝑣
𝜏𝑦𝑥 = 𝜇( + ) (10)
𝜕𝑦 𝜕𝑥
𝜕𝑢 𝜕𝑤
𝜏𝑧𝑥 = 𝜇 ( + ) (11)
𝜕𝑧 𝜕𝑥

Em que:  = viscosidade dinâmica do fluido (kg/m.s).

A substituição das Equações (9), (10) e (11) nos termos da Equação (8), aliada a
rearranjos algébricos, resulta na equação de Navier-Stokes para a direção x, representada pela
Equação (12).

𝑑𝑢 𝜕(𝑃)
𝜌 =− + μ∇2 (𝑢) (12)
𝑑𝑡 𝜕𝑥
Por analogia, a mesma equação pode ser obtida para as direções y e z, relacionando as
componentes v e w ao invés de u e a variação da pressão nos respectivos eixos. Assim, somando
as equações nas 3 direções, obtém-se a equação de Navier Stokes para as forças de superfície
que agem em uma partícula de fluido em coordenadas cartesianas, Equação (13).


𝑑𝑉
⃗)
𝜌 𝑑𝑡 = −∇𝑃 + μ∇2 (𝑉 (13)
⃗ = vetor velocidade.
Em que: 𝑉

A Tabela 1 apresenta um resumo das equações que descrevem o movimento dos


fluidos newtonianos incompressíveis para escoamento em regime permanente.
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23
Tabela 1 -Equações que descrevem o movimento dos fluidos.

Equação da 𝜕(𝑢) 𝜕(𝑣) 𝜕(𝑤)


+ + =0
continuidade 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Momento na 𝜕(𝑢) 𝜕(𝑢) 𝜕(𝑢) 1 𝜕𝑃 𝜕 2𝑢 𝜕 2𝑢 𝜕 2𝑢


𝑢 +𝑣 +𝑤 = − + 𝜐( 2 + + )
direção x 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜌 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

Momento na 𝜕(𝑣) 𝜕(𝑣) 𝜕(𝑣) 1 𝜕𝑃 𝜕 2𝑣 𝜕 2𝑣 𝜕 2𝑣


𝑢 +𝑣 +𝑤 = − + 𝜐( 2 + + )
direção y 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜌 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

Momento na 𝜕(𝑤) 𝜕(𝑤) 𝜕(𝑤) 1 𝜕𝑃 𝜕 2𝑤 𝜕 2𝑤 𝜕 2𝑤


𝑢 +𝑣 +𝑤 = − + 𝜐( 2 + + )
direção z 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜌 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

Em que  = viscosidade cinemática (m2/s).

Assim, para o escoamento tridimensional em coordenadas cartesianas existem quatro


equações diferenciais combinadas para quatro incógnitas, u,v,w e P. Esse sistema de equações
é o ponto de partida para aplicação dos métodos de resolução por fluidodinâmica computacional
(ÇENGEL; CIMBALA, 2006).

3.3 EQUAÇÃO GERAL DE TRANSPORTE

As equações apresentadas na Tabela 1 têm entre si termos com formas semelhantes.


Se for definido que uma variável genérica  pode representar uma propriedade do escoamento
como por exemplo, velocidade, temperatura ou concentração, pode-se escrever essas
expressões a partir de uma equação geral conforme mostra a Equação (14) (VERSTEEG;
MALALASEKERA, 2007)
𝜕(𝜌𝜙)
+ ∇(𝜌𝜙𝑈) = ∇(Γ∇𝜙) + 𝑆𝜙 (14)
𝜕𝑡
Acúmulo Convectivo Difusivo Fonte
O primeiro termo do lado esquerdo da expressão representa a taxa de variação
temporal da variável . Já o segundo representa os fenômenos de convecção, que por sua vez
estão associados à velocidade do fluido. Do lado direto, o primeiro termo representa a parcela
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difusiva desse transporte, ou seja, os fenômenos de transferência molecular, em que  é o
coeficiente de difusão. Por fim, S representa o termo fonte que é específico para cada variável
 e contabiliza ações não convectivas ou não difusivas do fenômeno estudado.

A Equação (14) é denominada de equação geral de transporte ou equação de


convecção-difusão, e descreve os escoamentos de maneira geral. Por exemplo, definindo a
variável  = u (componente da velocidade no eixo x),  =  (viscosidade dinâmica) e S = -P
e considerando os parâmetros  e  constantes com escoamento em regime permanente, obtém-
se a equação do momento na direção x representada pela Equação (12). Já se considerar a
variável  = 1 e o termo S = 0 é possível obter a equação da continuidade representada pela
Equação (6) (FORTUNA, 2012).

A resolução de problemas por fluidodinâmica computacional se baseia na aplicação


do método de volumes finitos para a equação geral de transporte. A seção 3.4 apresenta os
conceitos de discretização do domínio de solução e das equações diferenciais que fazem parte
desse método.

3.4 APROXIMAÇÕES POR DIFERENÇAS FINITAS

Do ponto de vista da CFD, para que o computador possa calcular numericamente as


variáveis que aparecem nas equações diferenciais, é necessário transformar o operador
diferencial dessas equações em aproximações algébricas, que representam a taxa de variação
como uma relação entre os valores das variáveis em pontos adjacentes do domínio (FORTUNA,
2012).

A solução de uma EDP (Equação Diferencial Parcial) em uma região contínua implica
na obtenção dos valores para variável dependente em cada ponto dessa região.
Computacionalmente, só é possível lidar com um domínio contínuo se houver uma fórmula
analítica para a solução do problema em qualquer ponto desejado dentro dessa região
(FORTUNA, 2012).

No caso de técnicas numéricas, não é possível tratar o domínio de solução como uma
região contínua, uma vez que esse método obtém a solução em pontos como espaço e tempo
(x,y,z e t) por meio de operações de adição e multiplicação por exemplo. Dessa forma, pode-se
determinar pontos de uma região contínua e somente neles calcular a solução do problema. Esse
processo de fragmentação do domínio recebe o nome de discretização e o conjunto dos pontos
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25
discretos é chamado de malha de solução (FORTUNA, 2012). A Figura 5 apresenta a
discretização de um domínio retangular em coordenadas cartesianas.

Figura 5 - Domínios de solução contínuo e discretizado

Fonte: Elaboração do autor com base em (FORTUNA, 2012)

A região contínua A foi então discretizada em elementos de distância horizontal x e


distância vertical y. Os pontos (i,j) identificam um ponto no espaço e possuem coordenadas
(x0 + ix, y0 + jy), em que o ponto (x0, y0) representa a origem do sistema. Uma vez tendo a
malha de solução, é necessário discretizar as EDPs e transformá-las em expressões algébricas.
Essas expressões são chamadas de aproximação por diferenças finitas e substituem o operador
diferencial contínuo (𝜕⁄𝜕𝑥) por uma aproximação discreta, calculada a partir dos valores da
função nos pontos da malha (FORTUNA, 2012).

3.4.1 Método dos volumes finitos

O método dos volumes finitos é uma técnica para obtenção das equações de diferenças
finitas muito utilizada na CFD. Essa técnica consiste na integração de uma equação diferencial
parcial em uma região ou volume do espaço em torno de um ponto p. Esse método está
intrinsecamente relacionado ao conceito de fluxo de uma propriedade  entre volumes de
controle adjacentes (VERSTEEG; MALALASEKERA, 2007). A Figura 6 apresenta a região
de um volume de controle de centro “i1” contido em um domínio discretizado para aplicação
do método de volumes finitos.
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26
Figura 6 - Configuração do domínio para aplicação do método de volumes finitos.

Fonte: Elaboração do autor (2019)

A resolução dos problemas por fluidodinâmica computacional parte da integração no


tempo e no espaço da equação geral de transporte. A Equação ( 1 5 ) expressa a integração da
Equação (14) em um intervalo de tempo t (passo de tempo) e nas 3 direções do espaço.
(JATOBÁ, 2016)1

𝑡+∆𝑡 1 𝑡+∆𝑡 1
𝜕(𝜌𝜙)
∫ ∫ ( + ∇(𝜌𝜙𝑈)) 𝑑𝑉𝑑𝑡 = ∫ ∫ (∇(Γ∇𝜙) + 𝑆𝜙 )𝑑𝑉𝑑𝑡 (15)
𝑡 𝑉𝑐 𝜕𝑡 𝑡 𝑉𝑐

A discretização da taxa de variação temporal da propriedade  (primeiro termo do lado


esquerdo da Equação (15) pelo método de Euler resulta na Equação (16)
𝑡+∆𝑡 1 𝑡+∆𝑡 1
𝜕(𝜌𝜙) 𝜙𝑛 − 𝜙0
∫ ∫ ( ) 𝑑𝑉𝑑𝑡 ≈ ∫ ∫ 𝜌( ) 𝑑𝑉𝑑𝑡 (16)
𝑡 𝑉𝑐 𝜕𝑡 𝑡 𝑉𝑐 ∆𝑡
Em que 0 e n representam índices de iteração consecutivos. A integração no volume
de controle Vc da Equação (16) resulta então na Equação (17):
𝑡+∆𝑡 1 𝑡+∆𝑡
𝜕(𝜌𝜙) 𝜙𝑛 − 𝜙0
∫ ∫ ( ) 𝑑𝑉𝑑𝑡 ≈ ∫ 𝜌( ) 𝑉𝑐 𝑑𝑡 (17)
𝑡 𝑉𝑐 𝜕𝑡 𝑡 ∆𝑡
Já a integral do volume no termo convectivo da Equação ( 1 5 ) é reescrita de acordo
com o Teorema de Gauss (Equação ( 1 8 )), que permite transformar a integral de volume do
divergente de um vetor em uma integral da área sobre a superfície que define esse volume
(ÇENGEL; CIMBALA, 2006).
1 1
∫ ∇(𝒂)𝑑𝑉 = ∫ 𝒏. 𝒂𝑑𝐴 (18)
𝑉 𝐴

1
Todo o desenvolvimento matemático da Equação (15) até a Equação (27) foi escrito com
base em (JATOBÁ, 2016)
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27
O produto escalar n.a representa a componente do vetor a na direção do vetor normal
n à superfície dA. (ÇENGEL; CIMBALA, 2006). Dessa forma, como o termo convectivo da
equação geral de transporte representa o fluxo da propriedade  de acordo de acordo com o
vetor velocidade U, através de uma fronteira do volume de controle, essa parcela pode então
ser escrita conforme representa a Equação (19).
𝑡+∆𝑡 1 𝑡+∆𝑡 1
∫ ∫ (∇(𝜌𝜙𝑈))𝑑𝑉𝑑𝑡 = ∫ ∫ (𝜌𝜙𝑼). 𝒏 𝑑𝐴𝑑𝑡 (19)
𝑡 𝑉𝑐 𝑡 𝐴

Em que A representa toda a área do volume de controle. Para o caso de uma malha em
que o volume de controle possui áreas fragmentadas f, conforme mostra a Figura 6, a integral
na área da Equação (19) pode ser melhor representada como uma somatória das integrais de
todas as faces desse volume de controle, como mostra a Equação ( 2 0 ):
𝑡+∆𝑡 1 𝑡+∆𝑡 1
∫ ∫ (∇(𝜌𝜙𝑈))𝑑𝑉𝑑𝑡 = ∫ ∑ ∫ (𝜌𝜙𝑼). 𝒏 𝑑𝐴𝑑𝑡
𝑡 𝑉𝑐 𝑡 𝐴𝑓
(20)
𝑓

A integral dessa expressão na área da face leva então à Equação ( 2 1 )


𝑡+∆𝑡 1 𝑡+∆𝑡
∫ ∫ (∇(𝜌𝜙𝑈))𝑑𝑉𝑑𝑡 = ∫ ∑ 𝜌𝜙𝑓 (𝑼. 𝒏)𝑓 𝐴𝑓 𝑑𝑡 (21)
𝑡 𝑉𝑐 𝑡 𝑓
Fluxo convectivo da propriedade através da face f
Assim como para o fluxo convectivo, a parcela do fluxo difusivo da Equação ( 1 5 )
também pode ser integrada utilizando o teorema de Gauss, obtendo as Equações ( 2 2 ), ( 2 3 )
e ( 2 4 ).
𝑡+∆𝑡 1 𝑡+∆𝑡 1
∫ ∫ (∇(Γ∇𝜙))𝑑𝑉𝑑𝑡 = ∫ ∫ Γ𝛁𝝓. 𝒏 𝑑𝐴𝑑𝑡 (22)
𝑡 𝑉𝑐 𝑡 𝐴
𝑡+∆𝑡 1 𝑡+∆𝑡 1
∫ ∫ (∇(Γ∇𝜙))𝑑𝑉𝑑𝑡 = ∫ ∑ ∫ Γ𝛁𝝓. 𝒏 𝑑𝐴𝑑𝑡
𝑡 𝑉𝑐 𝑡 𝐴𝑓
(23)
𝑓
𝑡+∆𝑡 1 𝑡+∆𝑡
∫ ∫ (∇(Γ∇𝜙))𝑑𝑉𝑑𝑡 = ∫ ∑ Γ(𝛁𝝓. 𝒏)𝑓 𝐴𝑓 𝑑𝑡
𝑡 𝑉𝑐 𝑡
(24)
𝑓

Por fim, a integração do termo fonte fornece a Equação ( 2 5 )


𝑡+∆𝑡 1 𝑡+∆𝑡
∫ ∫ ( 𝑆𝜙 )𝑑𝑉𝑑𝑡 = ∫ 𝑆𝜙 𝑉𝑐 𝑑𝑡 (25)
𝑡 𝑉𝑐 𝑡

A substituição das Equações (17), ( 2 1 ), ( 2 4 ) e ( 2 5 ) na equação ( 1 5 ) fornece a


equação da técnica de volumes finitos discretizada pelo método de Euler explicito (Equação
( 2 6 )).
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𝑡+∆𝑡 1
𝜙𝑛 − 𝜙0
∫ [𝜌 ( ) 𝑉𝑐 + ∑ 𝜌𝜙𝑓0 (𝑼𝟎 . 𝒏)𝑓 𝐴𝑓 − ∑ Γ(𝛁𝝓𝟎 . 𝒏)𝑓 𝐴𝑓 − 𝑆𝜙0 𝑉𝑐 ] 𝑑𝑡 ( 2 6 )
𝑡 ∆𝑡
𝑓 𝑓

De maneira similar, a equação discretizada pelo método de Euler implícito pode ser
escrita como na Equação (27):

𝑡+∆𝑡 1
𝜙𝑛 − 𝜙0
∫ [𝜌 ( ) 𝑉𝑐 + ∑ 𝜌𝜙𝑓𝑛 (𝑼𝟎 . 𝒏)𝑓 𝐴𝑓 − ∑ Γ(𝛁𝝓𝒏 . 𝒏)𝑓 𝐴𝑓 − 𝑆𝜙0 𝑉𝑐 ] 𝑑𝑡 = 0(27)
𝑡 ∆𝑡
𝑓 𝑓

A partir da equação geral de transporte discretizada, a solução de um problema por


fluidodinâmica computacional passa a ser a resolução de um sistema de equações algébricas
para determinar as incógnitas de velocidade (u, v e w) e pressão (p). A técnica de volumes
finitos é amplamente utilizada na CFD especialmente na resolução de problemas com malhas
tridimensionais não estruturadas e com geometrias complexas justamente por expressar a física
do problema, por meio de relações entre os fluxos que atravessam as fronteiras do volume de
controle.

3.5 FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

A fluidodinâmica computacional (CFD) consiste na área de estudo que fornece


soluções numéricas com artifícios computacionais para um conjunto de equações diferenciais
que descreve os fenômenos de transporte.

Do ponto de vista do escoamento de fluidos, as descrições matemáticas desse


fenômeno aparecem na forma das equações de Navier-Stokes (Equações (6) e (13)) que
consistem em equações diferenciais parciais não lineares. A teoria matemática dessa classe de
equações não foi até então suficientemente desenvolvida para fornecer soluções analíticas em
qualquer ponto de um domínio. A CFD surgiu então por volta dos anos de 1950 como uma
alternativa para a solução numérica dessas equações. Com a evolução dos computadores
digitais, a CFD entrou de forma mais ampla na comunidade industrial por volta de 1990 e segue
em evolução até hoje como uma ferramenta poderosa da engenharia para solucionar problemas
de transferência de massa, calor e quantidade de movimento (FORTUNA, 2012).

A fluidodinâmica computacional pode ser vista como uma ciência que complementa
as fases de experimentação e cálculo de um projeto de engenharia. Essa técnica fornece análises
teóricas que vão além das capacidades experimentais. Os engenheiros modernos aplicam a
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29
análise CFD, para obter detalhes sobre o campo de escoamento, como as tensões de
cisalhamento, as linhas de corrente e os perfis de velocidade e pressão. Na maioria dos casos, a
CFD está associada a dados experimentais para validação de seus resultados (ÇENGEL;
CIMBALA, 2006).

As principais vantagens dessa análise consistem na complexidade de domínios de


escoamento, em que é possível realizar a modelagem e na redução no tempo de projeto com a
substituição de fases experimentais. Além disso, a CFD consegue estudar condições extremas
nos fenômenos de transporte que muitas vezes são inviáveis de se reproduzir em um laboratório.

Essa técnica é estruturada como um conjunto de algoritmos passíveis de mudança


capaz de resolver um sistema de equações complexas. Toda simulação CFD conta com três
etapas: pré-processamento, resolução e pós processamento. O maior desafio do usuário da CFD
está nas definições que caracterizam o escoamento e principalmente na discretização do
domínio (geração de malha) presentes na etapa de pré-processamento.

3.5.1 Geração da malha

A primeira etapa e a mais trabalhosa na simulação CFD é a geração da malha. Esta é


a fase em que geralmente os programadores passam a maior parte do tempo para finalizar, uma
vez que a precisão dos resultados gerados depende fortemente da qualidade da malha, em que
o problema foi simulado. Uma malha consiste na divisão do domínio de simulação em células,
nas quais as variáveis de escoamento, pressão e velocidade serão calculadas.

As malhas podem ser classificadas de maneira geral como estruturadas, não-


estruturadas e híbridas. A escolha do tipo de malha correta irá depender do comportamento das
variáveis ao longo do domínio e do regime de escoamento simulado.

Malhas estruturadas são formadas por elementos distribuídos regularmente ao longo


do domínio e cada célula tem sempre o mesmo número de elementos vizinhos. As células do
domínio possuem quatro arestas, quando bidimensional e seis faces quando tridimensional.
Apesar das células poderem ser distorcidas, elas são numeradas de acordo com os índices (i,j,k)
que não necessariamente correspondem às coordenadas x,y e z. Devido à sua natureza regular,
os dados para formação de imagem da malha estruturada ocupam menos espaço do que em
malhas não estruturadas (ÇENGEL; CIMBALA, 2006; AHRENS et al., 2019).
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30
Domínios com geometrias curvas também podem ser discretizados na forma de malhas
regulares, essas possuem a mesma topologia das malhas retangulares. Entretanto, cada ponto
em uma malha curvilínea pode ser posicionado por um conjunto de coordenadas arbitrárias,
desde que não resulte em células que se sobreponham (MORELAND, 2018). A Figura 7 mostra
exemplos de malhas estruturadas.

Figura 7 - Malhas estruturadas.

Fonte: Compilação do autor a partir de: (AHRENS et al., 2019; MORELAND, 2018)

As malhas não estruturadas consistem em células de diferentes formas (quadriláteros,


tetraedros e hexaedros, entre outras). Neste tipo de discretização não é possível identificar de
forma única as células por índices (i, j), dessa forma, as células são então numeradas
internamente de acordo com o padrão de código CFD. As malhas não estruturadas são
amplamente utilizadas em geometrias complexas, devido à facilidade de serem criadas pelo
usuário do código de geração de malha. (ÇENGEL; CIMBALA, 2006) A Figura 8 apresenta
exemplos de malhas não estruturadas.

Figura 8 - Malhas não estruturadas

Fonte: Compilação do autor a partir de: (ANSYS INC., 2013; ÇENGEL; CIMBALA, 2006; MORELAND,
2018)

Em geral, o formato das células de uma malha é escolhido com base no tempo de pré-
processamento e no custo computacional requerido para simulação. Elementos tetraédricos se
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adequam facilmente a geometrias complexas e podem ser gerados com algoritmos automáticos.
As malhas com elementos hexaédricos necessitam de decomposições geométricas ou
construção manual da malha, o que pode aumentar o tempo de pré-processamento. Dessa forma,
malhas tetraédricas são predominantes em aplicações industriais. Por outro lado, malhas
hexaédricas necessitam de menor poder computacional durante a solução do que em uma malha
tetraédrica equivalente. Sendo assim, é frequentemente mais rápido completar uma simulação
com malha hexaédrica (SILVA, 2016).

Mais importante do que gerar a malha é assegurar a qualidade dessa. A convergência


dos dados na etapa de resolução depende muito da malha gerada. Para configuração de um
domínio discretizado adequado, existem alguns artifícios usualmente utilizados em CFD. A
técnica de cálculos com multimalhas por exemplo é uma forma de otimizar o tempo de
convergência. As simulações são inicialmente feitas em malhas mais grosseiras e em seguida,
faz-se o refino dessa para maior acurácia dos resultados. A Figura 9 mostra um exemplo de
refino de malha estruturada.

Figura 9 - Refino de malha

Fonte: Adaptado de (ÇENGEL; CIMBALA, 2006)

O refino das malhas é feito principalmente em regiões do domínio onde se tem uma
alta variação das propriedades. Por exemplo, em regiões de camada limite do escoamento, é
necessária uma alta resolução de malha, uma vez que o gradiente de velocidade nessa região é
alto quando comparado ao gradiente em regiões mais brandas do escoamento. Para situações
assim, faz-se um refino apenas nas regiões mais críticas do escoamento (geralmente regiões
curvas e próximas à parede) e trabalha-se com malhas mais grosseiras no restante do domínio.

Alguns parâmetros de qualidade de malha devem ser considerados pelo usuário no


momento de sua construção. O primeiro deles é a razão de aspecto, esse parâmetro consiste na
razão entre a maior e a menor aresta do elemento. Por exemplo, um triângulo equilátero possui
razão de aspecto igual a um (1) enquanto um triângulo retângulo não. É preferível em
simulações malhas com elementos de razão de aspecto mais próximos de um (JATOBÁ, 2016).
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Outro fator importante na geração da malha está na assimetria e inclinação dos
elementos. Deve-se evitar células com alta inclinação uma vez que essas podem levar a
dificuldades de convergência. Por fim a ortogonalidade entre os volumes de controle também
é um parâmetro que diz respeito à qualidade da malha. Ela pode ser medida como o ângulo
entre o vetor que conecta dois centros de volume de controle e o vetor normal da superfície
entre esses volumes. Quanto maior o ângulo, menor a ortogonalidade dos elementos e mais
problemas de convergência a malha pode gerar (JATOBÁ, 2016).

Além do refino de malha e da avaliação dos parâmetros de qualidade, o usuário pode


optar por fazer combinações entre malhas para melhor modelar o domínio simulado. As malhas
híbridas são aquelas que combinam regiões de malhas estruturadas e não estruturadas. Para
geometrias mais complexas, usualmente faz-se também a chamada análise multi-bloco, que
consiste na divisão do domínio em blocos, e dentro de cada bloco há a geração de uma malha
estruturada diferente. A Figura 10 apresenta um exemplo de malha híbrida e de uma análise
multi-bloco.

Figura 10 - Malha estruturada por blocos e malha híbrida

Fonte: compilação do autor a partir de: (GREENSHIELDS, 2018; WOLFDYNAMICS, 2018).l

3.5.2 Etapas de resolução

A primeira etapa da simulação CFD, pré-processamento, é onde se faz a inserção de


dados do modelo. Os passos de pré-processamento podem chegar a ocupar até cerca de 80% do
tempo para resolver o problema segundo WOLFDYNAMICS (2018). Em seguida, a etapa de
resolução é realizada pelo software utilizado e ocupa o menor tempo dentre todas as etapas. Por
fim, o pós-processamento exige do usuário interpretar os resultados obtidos e verificar a
necessidade de mudanças na etapa de pré-processamento. A Figura 11 apresenta um fluxograma
dos passos de uma simulação CFD pelo método de volumes finitos.

Inicialmente na etapa de pré-processamento, o usuário deve ter o conhecimento do


fenômeno envolvido a ser simulado, ou seja, das equações que governam o movimento dos
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33
fluidos. O entendimento de como o problema se encaixa nessas equações, ajuda na verificação
de sentido físico dos resultados gerados.

Em seguida, é feita a definição da geometria para a região de interesse a ser modelada,


ou seja, é estabelecido o domínio computacional para a simulação. É nessa etapa, que o usuário
decide se vai dividir a geometria em blocos para gerar a malha e se vai trabalhar com um
domínio bidimensional ou tridimensional. Essa etapa também inclui a retirada de elementos
considerados não essenciais ao escoamento (adoçamentos e elementos de ligação) bem como a
definição de características de simetria e axissimetria quando necessárias (SILVA, 2016).

Figura 11 - Fluxograma dos passos de uma simulação CFD

Fonte: Elaboração do autor com base em (WOLFDYNAMICS, 2018).

Em CFD uma geometria que contém poucos detalhes e omite partes características
importantes, pode levar a simulação a obter resultados inconsistentes. Por outro lado, uma
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34
geometria extremamente detalhada pode tornar o trabalho de simulação de difícil resolução ou
até mesmo impossível (VALUS, 2018).

A etapa seguinte consiste na divisão da geometria em n células e a malha é gerada de


acordo com o programa gerador de malha disponível. Em seguida, as condições de contorno
são determinadas para cada aresta ou face do domínio e as simplificações do escoamento são
feitas, por exemplo para o escoamento em uma placa, pode-se ter a condição de contorno do
tipo no slip (velocidade nula na parede). Além disso são definidas também as condições iniciais
do problema, que são necessárias como ponto de partida para o processo iterativo.

Em seguida, o fluido é caracterizado de acordo com as suas propriedades. A grande


maioria dos softwares de CFD possui um banco de dados para essas propriedades, o que facilita
o trabalho do usuário (ÇENGEL; CIMBALA, 2006).

A etapa subsequente consiste na definição de parâmetros de simulação, como o tempo


de início e término, número de algarismos para as respostas (precisão), passo de tempo das
iterações, tipo de solver a ser utilizado, se é para um escoamento em regime laminar ou
turbulento, compressível ou incompressível e com ou sem reação química, bem como os
esquemas de interpolação a serem usados para os métodos numéricos.

Após o usuário realizar os inputs, o problema entra na etapa de resolução pelo método
dos volumes finitos. Como explicado na seção 3.4.1, esse método consiste na integração das
equações diferenciais governantes do fenômeno estudado em cada volume de controle, bem
como na resolução do sistema de equações algébricas gerado por meio de métodos numéricos.
O método dos volumes finitos é conservativo por natureza, uma vez que as integrais de
superfície, que representam fluxos difusivos e convectivos, são as mesmas para volumes de
controle que compartilham a mesma face.

Por fim, é feita a visualização dos resultados e uma análise qualitativa e quantitativa
das respostas do simulador. A avaliação de parâmetros qualitativos utiliza programas que
permitem a formação de imagens dos campos de pressão e velocidade e de linhas de corrente
ao longo de toda a geometria do escoamento. A análise quantitativa permite verificar se os
critérios de convergência foram atendidos. Por fim, é feita a verificação do resíduo inicial ao
longo das iterações, ou seja, se os métodos numéricos utilizados fornecem uma solução
convergente para as equações dentro de uma tolerância especificada.

Uma vez que a solução atinge a convergência e tem sentido físico, os dados podem ser
comparados com dados experimentais do problema. Caso a solução não tenha atingido a
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35
convergência, o usuário deve voltar às etapas do pré-processamento. Na maioria dos casos, os
problemas de convergência estão associados à qualidade da malha.

3.5.3 Modelos de turbulência

Um dos principais desafios de uma simulação CFD é representar bem os escoamentos


de natureza turbulenta, devido a sua complexidade. O fenômeno de turbulência consiste na
mudança caótica de valores nos campos de velocidade e pressão ao longo do espaço e do tempo.
Escoamentos turbulentos são caracterizados pela presença de um baixo momento difusivo e um
alto momento convectivo nas equações que governam o movimento dos fluidos. Essa
característica define escoamentos com fluidos de baixa viscosidade e alta velocidade, e
consequentemente um alto número de Reynolds (NAGY, 2014).

Neste regime, a velocidade e todas as outras propriedades do escoamento oscilam de


maneira aleatória em torno de um valor médio, conforme mostra a Figura 12. Essas, são então
caracterizadas como uma soma entre o valor médio e o valor da flutuação da propriedade.

Figura 12 - Oscilação da velocidade em um escoamento de regime turbulento

Fonte: Elaboração do autor

Em CFD, esses fenômenos são contabilizados por diversos modelos de turbulência,


dentre eles os modelos para equações de Navier-Stokes com Reynolds Médio (RANS). Esse
método foca atenção no cálculo das propriedades do escoamento principal e no valor médio
dessas propriedades. Para contabilizar flutuações da velocidade por exemplo, o método
emprega o conceito de viscosidade cinemática efetiva do escoamento (eff), que consiste na
soma da viscosidade conhecida () com uma viscosidade turbulenta (t). Essa viscosidade
turbulenta não é um parâmetro físico, e sim uma variável estatística que modela o transporte e
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36
dissipação de energia negligenciados pela consideração de uma velocidade média (NAGY,
2014).

A diferença entre os modelos de turbulência está na maneira como esses calculam a


viscosidade turbulenta. Os modelos RANS mais conhecidos são os que se baseiam em duas
equações diferenciais, entre eles o modelo “k-”. Esse modelo implementa equações adicionais
de transporte para duas variáveis: “k” que representa a energia cinética turbulenta e “” que
representa a taxa de dissipação da energia cinética turbulenta.

A partir dos valores de k e  é possível então determinar a viscosidade turbulenta e


então a viscosidade efetiva do escoamento.

3.5.4 Verificação de erros

Em CFD os termos verificação e validação têm sentidos diferentes. De acordo com


MENTER (1994) a verificação consiste em garantir que as equações diferenciais parciais sejam
resolvidas corretamente, enquanto a validação confere se o modelo representa a realidade
(SILVA, 2016).

A verificação é dividida em dois tipos, o primeiro, geralmente realizado por


desenvolvedores dos códigos detecta erros de programação e inconsistências nos algoritmos. O
segundo, feito por usuários do software, estima erros numéricos e incertezas de resultado para
aplicações específicas (SILVA, 2016). As três maiores fontes de erro computacional em uma
simulação numérica são:

• Erros de arredondamento: que ocorrem devido ao armazenamento finito no


computador das casas decimais de uma variável. Esse tipo de erro é particularmente crítico para
sistemas de análises transientes, porém afeta toda simulação numérica em menor grau (SILVA,
2016).

• Erros de iteração: relacionados aos resíduos da simulação (diferença entre resultados


das iterações). O monitoramento de convergência pode ser feito por meio da média dos resíduos
em todos os elementos do volume de controle (SILVA, 2016).

• Erros de discretização: uma simulação computacional bem-sucedida depende de uma


discretização adequada do domínio. É necessário que a malha utilizada no modelo seja de boa
qualidade e seus elementos sejam refinados o suficiente para não interferir diretamente nos
resultados (SILVA, 2016).
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37
3.6 SOFTWARE OPENFOAM

O OpenFOAM, acrônimo de Open Source Field Operation And Manipulation,


consiste em um software de código CFD aberto, e quando comparado com pacotes comerciais
de simulação como o Fluent e o Phoenics, apresenta a vantagem em não oferecer custos de
licenças.

O fácil acesso ao pacote do OpenFOAM por meio do sistema operacional do Windows


10 e a sua linguagem de programação utilizada (C++) foram os principais fatores que
determinaram a escolha desse software para o desenvolvimento deste trabalho. Além disso, o
OpenFOAM permite um desenvolvimento colaborativo, ou seja, ele conta com uma biblioteca
de programas já desenvolvidos por usuários da ferramenta, o que acelera o aprimoramento de
métodos de solução, uma vez que a simulação parte de um código já existente.

3.6.1 Estrutura do software

O OpenFOAM funciona por meio de diversos arquivos de códigos distribuídos e


organizados dentro de pastas chamadas de diretórios. Os principais diretórios constituintes da
estrutura do OpenFOAM são:

• applications: ficam alocados os códigos fonte dos solvers a serem utilizados para resolução
dos casos e códigos com exemplos teste e utilidades do programa.

• bin: ficam armazenados os arquivos shell scripts que automatizam a execução de


comandos contidos no software.

• doc: contém os documentos e guias do OpenFOAM ao usuário.

• plataforms: contém arquivos de binários compilados.

• src: diretório onde ficam armazenados os códigos fonte de todas as bibliotecas


fundamentais do OpenFOAM.

• turorials: contém casos de exemplos pré-configurados para a utilização de diferentes


solvers. Os casos geralmente são organizados de acordo com a física envolvida.

• wmake: contém arquivos scripts de compilação (JATOBÁ, 2016).


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38
Todo caso a ser simulado no OpenFOAM possui um diretório que recebe um nome.
Esse diretório contém dentro dele uma estrutura padrão com os arquivos responsáveis para
execução do caso, conforme mostra a Figura 13.

Para realizar a simulação de um problema no OpenFOAM, uma prática útil adotada é


utilizar um caso similar já existente no diretório tutorials. Faz-se então a cópia do diretório de
exemplo e adapta-se os arquivos com os códigos para geração de malha e determinação das
condições de contorno de acordo com a física do problema que se deseja simular.

Figura 13 - Estrutura do diretório de um caso no OpenFOAM

Fonte: Elaboração do autor com base em (JATOBÁ, 2016)

O diretório 0 contém os arquivos para determinação das condições de contorno e


condições iniciais para pressão e velocidade (p e U) (WOLFDYNAMICS, 2018).

O diretório constant contém os arquivos referentes às informações de malhas


poliédricas e no arquivo transportProperties é onde são estabelecidas as dimensões das
propriedades físicas do problema (WOLFDYNAMICS, 2018).

O diretório System contém os arquivos com os métodos para a resolução do caso. No


arquivo blockMeshDict determina-se os vértices que constituem a geometria do problema e a
malha que servirá de base para resolução das equações. No arquivo controlDict é possível
controlar informações gerais, como o tempo de início e fim da simulação e o passo de tempo
em que se deseja analisar os resultados. A escolha da função de interpolação e do solver para
solução do sistema algébrico pode ser feita nos arquivos fvSchemes e fvSolution
respectivamente (WOLFDYNAMICS, 2018).
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39
O OpenFOAM possui alguns solvers para resolução dos problemas, os principais são:

• pisoFoam: escoamento incompressível, transiente (PISO), laminar ou turbulento, fluido


newtoniano ou não-newtoniano.

• pimpleFoam: escoamento incompressível, estacionário (PIMPLE), laminar ou


turbulento, fluido Newtoniano ou não-Newtoniano.

• simpleFoam: escoamento incompressível, estacionário (SIMPLE), laminar ou turbulento,


fluido Newtoniano ou não-Newtoniano.

• icoFoam: escoamento incompressível, transiente, laminar e fluido Newtoniano


(JATOBÁ, 2016).
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40
4 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

4.1 CASO DE ESCOAMENTO EM UMA CAVIDADE

Para compreensão das etapas fundamentais da simulação CFD no OpenFOAM, essa


seção apresenta os passos para simulação do um caso de escoamento em uma cavidade contido
no diretório de tutoriais do OpenFOAM. As informações referem-se à simulação realizada no
software do OpenFOAM versão 1812 com o auxílio dos softwares de edição de código e
visualização gráfica: Gedit e Paraview 5.6.0.

O problema do tutorial contido no manual do usuário do OpenFOAM trata-se em


simular um escoamento laminar, isotérmico, com fluido newtoniano, incompressível em uma
cavidade onde a fronteira superior desloca-se com uma velocidade conhecida e as demais
fronteiras estão estacionárias. A Figura 14 mostra um esquema do problema.

Figura 14 - Problema de escoamento em uma cavidade

Fonte: Elaboração do autor com base em (WOLFDYNAMICS, 2018)

A modelagem matemática do problema consiste em resolver as equações de Navier-


Stokes e a equação da continuidade, representadas na Tabela 1

Inicialmente, é necessário a abertura de uma pasta no ambiente do Windows e o


compartilhamento dessa com o ambiente do Linux para o armazenamento dos arquivos de
código gerados em ambos os sistemas operacionais. Em seguida, o diretório do caso de
escoamento em uma cavidade (caso cavity) deve ser transferido à essa pasta, para então dar
início às etapas iniciais de pré-processamento.

Para uma simulação simplificada do caso, é feita a consideração de um domínio


bidimensional (2D) e a malha pode então ser gerada. Após a etapa de configuração da malha,
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41
as condições de contorno e condições iniciais são estabelecidas, e em seguida os parâmetros
gerais da simulação são ajustados para que a primeira simulação possa ser feita.

A definição dos blocos que constituem a malha e dos volumes de controle é feita no
arquivo blockMeshDict do caso. A edição desse arquivo pode ser feita por meio do programa
editor de texto Gedit, como mostrado na Figura 15.

Figura 15 - Definição de parâmetros da malha no blockMeshDict

Fonte: Elaboração do autor a partir do arquivo contido na biblioteca do OpenFOAM-v1812

A primeira informação a ser colocada no arquivo é a escala da geometria (fator


multiplicador). Em seguida são definidos os vértices que fazem parte do “contorno” externo do
domínio. Na seção blocks são definidos os conjuntos de vértices que formarão cada bloco de
divisão da malha, nesse caso a malha é composta apenas de um bloco hexagonal com oito
vértices. Logo em seguida, é definido o número de células que dividem o bloco nas três
direções. Para esse exemplo o bloclo é dividido em 20 partes no eixo X e em 20 partes no eixo
Y. A função simpleGrading faz um refino de malha nas 3 direções quando necessário. Essa
função é utilizada principalemente par realizar um refino próximo as paredes do domínio,
quando se deseja captar os fenômenos da camada limite.

Ainda no arquivo blockMeshDict são definidas as fronteiras topológicas do problema.


Todo caso no openFOAM é naturalmente tridimensional, desta forma, para resolver o problema
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42
em apenas duas dimensões, a face frontal e a face posterior (planos no eixo Z) precisam ser
definidas como empty, assim o softaware não calcula a componte Z da velocidade.

Os planos que compõem as paredes fixas e móveis do problema são definidos com a
fronteira topológica (chamada de patch) do tipo Wall. Para a construção de malhas com
diferentes geometrias, é possivel utilizar outras funções como por exemplo a função
simpleSpline que interpola pontos para criar curvas e a função arc que constroi domínios
circulares. Todas as funções podem ser encontradas no User guide (manual do usuário do
openFOAM).

Uma vez gerada a malha, é necessário estabelecer as condições de contorno das


variáveis a serem resolvidas. Para isso, os arquivos U e p (velocidade e pressão) são editados
para atender às especificações contidas no tutorial. Neste problema a variável velocidade tem
um valor fixo igual a 1 m/s na direção x da parede móvel da cavidade e 0 m/s nas paredes fixas.
Os valores para pressão são obtidos no sistema algébrico a partir do valor da velocidade
especificada. O esquema de interpolação zeroGradient atribui esse valor de pressão obtido no
centro do volume de controle para a face (contornos do bloco). A Figura 16 mostra as
configurações para os arquivos de velocidade e pressão contidos no diretório 0 do OpenFOAM.

Figura 16 - Definição das condições de contorno nos arquivos U e p

Fonte: Elaboração do autor a partir do arquivo contido na biblioteca o OpenFOAM-v1812

Por fim, explora-se os arquivos do diretório system. No controlDict há os inputs dos


atributos relacionados à simulação, como o tempo de início e fim da simulação (startTime e
endTime), número de algarismos para resposta (writePrecision), intervalos para registro das
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43
soluções (writeInterval), o passo de tempo da simulação (deltaT) e o solver escolhido para
resolver o caso. No arquivo fvSchemes pode-se determinar os esquemas de interpolação das
variáveis. O software utiliza o método de Euler implícito para a derivada no tempo e o método
das diferenças centrais para interpolação dos gradientes de velocidade e pressão. O último
arquivo do diretório system é o fvSolution, nele são determinadas informações dos métodos
iterativos dos sistemas algébricos formados, como a tolerância para convergência e
características do solver utilizado.

Após realizar os inputs nos arquivos do caso, pode-se dar início à etapa de
processamento e então chamar o solver no terminal do Linux. Neste problema o solver utilizado
é o icoFoam. Para iniciar a simulação, a maneira mais correta é realizá-la salvando todos os
dados da corrida em um arquivo externo, para isso utiliza-se o comando icoFoam >
nomedoarquivo, em que nomedoarquivo pode ser qualquer nome.

Uma vez que a simulação acontece, o OpenFOAM gera na pasta do caso, um diretório
com todos os resultados que podem ser analisados qualitativamente no Paraview.

4.2 SIMULAÇÃO DE UM MEDIDOR VAZÃO DO TIPO VENTURI

Após a simulação do caso de tutorial no OpenFOAM, as técnicas de CFD do software


foram utilizadas para modelar um medidor de vazão do tipo Venturi utilizado nas práticas
didáticas do Laboratório de Engenharia Química da Universidade Federal de São Paulo.

No experimento em laboratório foi realizado um escoamento em estado estacionário,


com fluido incompressível (água a 22,5°C) para vazões de: 700, 1000, 1500, 2000, 2500, 3000,
3500, 4000 e 4500 L/h no interior do medidor. Todas as vazões garantem um escomento em
regime turbulento. Para cada vazão, foram coletadas quatro séries de dados de diferença de
pressão (P) entre a entrada e a garganta do Venturi por meio de um medidor de pressão digital
que capta informações do escoamento nesses dois pontos.

Assim como na simulação de escoamento em uma cavidade, para construção da


geometria e da malha do medidor Venturi, utilizou-se como base um exemplo de caso da
biblioteca do OpenFOAM. Os arquivos da pasta pitzDaily, que consistem em um escoamento
em tubulação reta, foram alterados para atender as dimensões do medidor especificadas na ficha
técnica. A representação técnica do medidor e os detalhes da bancada experimental são
apresentados na Figura 17.
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Figura 17 - Representação técnica do medidor Venturi e fotos do painel experimental

Fonte: compilação do autor a partir de fotos do experimento e informações de(“Montagem Tubo Venturi 25”,
2010)

A partir da medida dos diâmetros de entrada e da garganta e dos ângulos de


convergência e divergência do estrangulamento, foi possível obter por meio de trigonometria
elementar as distâncias para todas as medidas do Venturi e consequentemente a localização dos
vértices que compõem o domínio.

Uma prática adotada em CFD para minimizar o esforço computacional e espaço de


armazenamento é realizar a simulação em duas dimensões quando o domínio de simulação tem
simetria. Neste caso, na construção da malha foi utilizada uma fatia (corte na direção radial)
para representação do medidor. A espessura da geometria na direção z é desprezível, uma vez
que ao definir o caso como bidimensional, o OpenFOAM não soluciona as equações para a
direção z. O domínio foi dividido em 5 blocos e tem 4 fronteiras topológicas conforme mostra
a Figura 18.
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45
Figura 18 - Representação das seções de malha para simulação bidimensional do medidor Venturi

Fonte: Elaboração do autor

A divisão do Venturi em blocos é uma prática adotada para facilitar a configuração da


malha e a divisão do domínio em células. O OpenFOAM tem em sua biblioteca geometrias
comuns que servem de base para alterar e moldar o formato que se deseja. Para esse caso, foram
utilizados cinco blocos hexaédricos. Os números indicados na Figura 18 representam os índices
dos vértices referenciados no código de simulação. O arquivo do blockMeshDict com maiores
detalhes da construção da malha e os arquivos referentes às condições de contorno e parâmetros
de simulação da fase de pré-processamento do problema encontram-se disponíveis nas seções
de Apêndice deste trabalho.

O bloco 1 refere-se à entrada do medidor, com diâmetro interno de 21mm, os blocos


2 e 4 abordam as seções de estrangulamento enquanto o bloco 3 representa a garganta do
Venturi com diâmetro de 10mm, por fim o bloco 5 consiste na saída do medidor (região de
recuperação do escoamento).

A geometria completa do medidor foi montada com 4 fronteiras topológicas: uma com
a face de entrada do fluido (plano com vértices 0, 12, 23 e 11) denominada de inlet no código,
outra com a face de saída (plano com vértices 5, 17, 18 e 6) denominada de outlet. As fronteiras
do plano superior e inferior foram definidas como paredes da tubulação e denominadas no
código como upperWall e lowerWall. Por fim os planos laterais foram definidos como vazios
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Trabalho de Conclusão de Curso
46
uma vez que o caso foi simulado em duas dimensões, essas regiões recebem a classificação do
tipo empty e são denominadas no código como frontAndBack.

Ainda no arquivo blockMeshDict, foi feita a divisão dos blocos em N volumes de


controle nas direções x e y e o refino da malha. Sabe-se que é necessário um número maior de
divisões dos volumes de controle próximos à parede da tubulação devido ao fenômeno de
camada limite. Assim, foi estabelecida uma razão de crescimento/diminuição de tamanho dos
volumes na malha por meio da função simpleGrading. Além disso os blocos 3 e 4 foram
construídos com volumes de controle menores, uma vez que é nessas regiões onde os
fenômenos de turbulência são mais acentuados.

Por fim os arquivos de pressão p, velocidade U e demais arquivos dos diretórios 0,


constant e system também foram alterados para atender às configurações do caso simulado
assim como no exemplo do escoamento em uma cavidade.

Para este problema, foi utilizado o solver simpleFoam, que resolve as equações de
acoplamento pressão velocidade para escoamento incompressível, estacionário (SIMPLE),
laminar ou turbulento com fluido Newtoniano ou não-Newtoniano. O modelo de turbulência
utilizado foi o k-.

Após a execução do solver, foram analisados na plataforma gráfica do Paraview, os


aspectos qualitativos da simulação, como perfil de velocidade, perfil de pressão e linhas de
corrente do escoamento. Para analisar a convergência do caso, foram verificados os resíduos
entre uma iteração e outra para todas as variáveis calculadas (velocidade nas direções x e y e
pressão p).

A partir da velocidade calculada pelo programa nos dois pontos de tomada de pressão,
foi possível determinar a diferença de pressão P da simulação e comparar os resultados com
os valores obtidos no experimento e os previstos pela equação ( 3 ).
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47
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 RESULTADOS DO CASO DE ESCOAMENTO EM UMA CAVIDADE

Uma vez configurado o arquivo de construção da malha para o caso tutorial de


escoamento em uma cavidade, pôde-se realizar a chamada do comando executável blockMesh
que leu o arquivo blockMeshDict no terminal do Linux e construiu a malha. Em seguida, a
análise visual da malha obtida foi realizada por meio do software do Paraview. Para realizar a
visualização, foi necessário abrir um arquivo com a extensão .foam que necessitou ser criado
pelo usuário na pasta do caso. A Figura 19 mostra a visualização da malha gerada com o bloco
segmentado em 400 volumes de controle.

Figura 19 - Aspecto visual da malha do caso "cavity" obtido no Paraview 5.6.0

Fonte: Elaboração do autor a partir de resultados obtidos no Paraview 5.6.0

Após obter a convergência de malha e realizar a simulação do caso foi possível


visualizar as variáveis solucionadas de acordo com a sua intensidade e adicionar filtros para
ajudar na análise visual, como linhas de corrente, gráficos para perfis de velocidade e pressão,
como mostra a Figura 20.
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48
Figura 20 - Análise qualitativa do perfil de velocidade e pressão obtidos no Paraview 5.6.0

Fonte: Compilação do autor a partir de resultados obtidos no Paraview 5.6.0

De maneira geral, o software apresentou resultados consistentes quando comparados


aos resultados apresentados no tutorial de WOLFDYNAMICS, 2018. Apesar dos resultados
obtidos, é válido destacar que o OpenFOAM consistiu em um software de elevada dificuldade
para realização da simulação do caso. O funcionamento do programa por meio do sistema
operacional Linux coloca barreiras de adaptação à linguagem dos códigos utilizados,
especialmente para usuários iniciantes. Os comandos não intuitivos utilizados para realizar a
simulação do caso no OpenFOAM foram a maior dificuldade encontrada.

5.2 ASPECTO VISUAL DA MALHA BIDIMENSIONAL DO MEDIDOR VENTURI

Para obtenção de resultados consistentes na simulação CFD, um dos pontos mais


importantes da etapa de pré-processamento é a geração da malha. A Figura 21 apresenta o
resultado da malha gerada pelo OpenFOAM visualizada por meio do software do Paraview.
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Trabalho de Conclusão de Curso
49
Figura 21 - Aspecto visual da malha obtido por meio do OpenFOAM

A partir da comparação entre a Figura 18 e Figura 21 verificou-se que o software


representou bem a geometria proposta ao caso. É possível perceber cinco regiões com
densidades de volumes de controle (células) diferentes, essas regiões representam os blocos do
medidor.

Para modelagem do Venturi, foram feitos 270 cortes ao longo do eixo longitudinal (x),
70 cortes ao longo do eixo radial (y) e nenhum corte no eixo z (simulação bidimensional). O
resultado obtido foi uma malha estruturada com 18900 volumes de controle e 75940 faces em
aproximadamente 30 segundos. Essa condição de malha foi previamente otimizada para se
obter resultados visuais e numéricos desejados. Sabe-se que as divisões em x impactam na
qualidade do perfil de velocidade obtido, enquanto as divisões em y são importantes para
capturar os gradientes de velocidade que existem nessa direção.

Outro fator importante a ser destacado, é o refino da malha próximo à parede da


tubulação. A Figura 21 apresenta uma ampliação da malha em que é possível perceber que são
realizados mais cortes em y quanto mais perto da parede estiver o domínio. Essa prática é
importante em CFD para capturar os fenômenos de camada limite, como descrito na seção 3.5.1,
uma vez que próximo à parede o gradiente de velocidade Ux em relação a y é mais alto do que
nas demais regiões do escoamento.

A malha obtida não apresentou nenhum tipo de não conformidade detectada pela
ferramenta do checkMesh do OpenFOAM, que verifica possíveis erros na malha inteira.

Além da malha para modelagem em duas dimensões, foi programada também uma
malha tridimensional para o medidor Venturi. Outra prática comum de simulação CFD para
escoamento em tubulações, é representar o domínio como uma fatia de formato piramidal com
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Trabalho de Conclusão de Curso
50
um pequeno ângulo de abertura (ângulo < 5°) e com a base em formato curvo (de maneira a
acompanhar a curvatura da tubulação). Este domínio de simulação é apresentado na Figura 22
de maneira similar ao que foi apresentado para o domínio bidimensional e o código completo
da programação encontra-se na seção de Apêndices desse trabalho.

Figura 22 - Representação das seções de malha para simulação tridimensional do medidor Venturi

Fonte: Elaboração do autor

A geometria proposta não obteve convergência completa de malha devido a problemas


de ortogonalidade nas paredes laterais do domínio. Os desvios ocorreram devido a função
utilizada para gerar a curvatura no topo da tubulação, função arc, que requer um ponto de
interpolação entre os extremos da curva com alta precisão de localização. A simulação não
obteve resultados fisicamente consistentes para essa malha. Dessa forma, optou-se por seguir a
análise do medidor apenas com a malha bidimensional em formato de fatia retangular.

5.3 ANÁLISE QUALITATIVA DO ESCOAMENTO

Os resultados apresentados nessa seção e seção 5.4 referem-se à simulação do


escoamento com vazão de 1500 L/h e velocidade média de entrada de 1,207 m/s.

O primeiro passo da etapa de pós-processamento após a convergência do problema


consistiu na avaliação visual dos resultados. A Figura 23 apresenta o perfil de velocidade obtido
na malha especificada para o medidor em 4 estágios de iteração diferentes realizados pelo
software.
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Trabalho de Conclusão de Curso
51
Figura 23 - Perfil de velocidade no medidor Venturi em diferentes iterações

Em CFD, geralmente representa-se a magnitude das propriedades na escala de azul a


vermelho, em que azul representa os valores mínimos e vermelho os valores máximos.

Nos primeiros cálculos realizados, percebe-se uma maior influência das condições de
contorno no domínio de simulação. Nas iterações iniciais, foi verificada a presença de faixas
maiores nas extremidades do eixo y que refletem a condição de não escorregamento nas paredes
quando comparado com os resultados obtidos na última iteração do modelo. À medida que os
passos de iteração avançam, é possível ver que os fenômenos do escoamento turbulento
prevalecem e limitam o alcance das condições de contorno a regiões menores e mais próximas
das fronteiras em que essas foram estabelecidas como esperado.

Além disso, é possível avaliar também a evolução do perfil de velocidade no eixo x ao


longo das iterações. No início tem-se um perfil parabólico acentuado (característico de
escoamento laminar) enquanto no fim obteve-se um perfil mais achatado conforme esperado
para regime turbulento.

Além do formato do perfil de velocidade e do alcance das condições de contorno, o


software também representou de maneira satisfatória a magnitude da velocidade nas diferentes
regiões dos eixos longitudinal e radial do medidor. O fenômeno do aumento de velocidade
devido à restrição de área do escoamento descrito na Equação (2) pode ser observado com mais
detalhes na Figura 24 que apresenta as linhas de corrente e o campo de velocidade obtido.
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Trabalho de Conclusão de Curso
52
Figura 24 - Linhas de corrente e Campo de velocidade para o medidor Venturi

Para um escoamento com regime permanente em uma tubulação cilíndrica de área de


seção transversal constante, o número de linhas de corrente por unidade de área que atravessam
o medidor é constante ao longo do eixo longitudinal. No caso de uma tubulação com redução
da área de escoamento, como no medidor Venturi, para que a vazão volumétrica permaneça
constante em todo o medidor, é previsível que exista um gradiente de velocidade entre os pontos
pertencentes às diferentes áreas. Na garganta do Venturi, o mesmo número de linhas que
atravessam a tubulação passa por essa região em um mesmo intervalo de tempo, assim, a
magnitude da velocidade é naturalmente maior para essa região de menor diâmetro.

Os resultados apresentados na Figura 24 ilustram bem o comportamento do efeito


Venturi. Percebe-se na entrada do medidor, um campo de velocidade uniforme em x e
decrescente na direção do centro para as paredes da tubulação. Os vetores velocidade nessa
região encontram-se alinhados e aproximadamente com o mesmo tamanho. A partir da região
convergente da tubulação até o centro da garganta é possível visualizar o gradiente de
velocidade existente entre esses pontos, representado pelas diferentes cores que vão de azul
(velocidade mínima) até vermelho (velocidade máxima).

Na região da garganta, os vetores velocidade assumiram maior magnitude e uma


ordenação mais caótica, diferentemente da região de entrada do escoamento, devido justamente
aos efeitos de turbulência mais intensos nessa região. Da mesma forma, a recuperação do
escoamento pode ser observada no bloco divergente do medidor, em que os vetores de
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Trabalho de Conclusão de Curso
53
velocidade passam a assumir valores menores e voltam a se distribuir ao longo do eixo radial
uma vez que o fluido é desacelerado.

O princípio da simulação CFD consiste na resolução numérica das equações descritas


na Tabela 1, dessa forma, além do campo de velocidade obtém-se também a solução para o
gradiente de pressão do escoamento, uma vez que essas duas variáveis estão intrinsecamente
relacionadas nas equações de momento. A Figura 25 apresenta os resultados obtidos para o
perfil de pressão encontrado no medidor Venturi.

Figura 25 - Perfil de pressão no medidor Venturi

Em um escoamento de regime permanente, com fluido incompressível, sem elevação


de altura e perdas de carga, a velocidade pode ser relacionada com a pressão a nível
macroscópico de maneira direta por meio da simplificação da equação da energia, como
apresentado na Equação ( 3 ). Assim, espera-se que em regiões onde ocorre o aumento de
velocidade, haja a diminuição do valor de pressão.

O OpenFOAM tem como configuração padrão para realização de seus cálculos utilizar
a pressão associada à massa específica. Assim, o software não calcula diretamente a pressão de
maneira isolada, e sim a razão entre a pressão e a massa específica, como mostrado na Figura
25.

Foi obtido um comportamento esperado para a pressão ao longo do medidor modelado,


percebe-se um alto gradiente dessa variável entre o início bloco convergente e o centro da
garganta do Venturi, de maneira que no centro da região de menor diâmetro a magnitude
calculada é negativa e na região de maior diâmetro o valor para a variável é positivo.
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Trabalho de Conclusão de Curso
54
5.4 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DOS PERFIS DE VELOCIDADE E PRESSÃO E
DOS RESÍDUOS DE ITERAÇÃO DO MODELO

Para avaliar o comportamento da velocidade ao longo do raio do medidor em


diferentes pontos, plotou-se as curvas de perfil de velocidade partindo-se do centro até a
extremidade da parede. A Figura 26 apresenta o perfil obtido para quatro pontos: entrada do
medidor (bloco 1), garganta do medidor (bloco 3), região de divergência do medidor (bloco 4)
e saída do medidor (bloco 5).

Figura 26 - Perfil de velocidade obtido ao longo do raio para diferentes posições em x do Venturi

Para o centro do medidor (raio = 0,0m) foi possível verificar os diferentes valores
encontrados para a velocidade máxima nos blocos. No bloco 1 a velocidade assume um valor
muito próximo da velocidade média definida como condição de contorno para vazão de 1500
L/h que é de 1,207 m/s. No bloco 3, região de menor diâmetro, a velocidade assume maior valor
para o centro quando comparado aos valores obtidos nas demais posições em x do medidor,
como já esperado.

Sabe-se que próximo à parede da tubulação tem-se a região em que são sentidos os
efeitos das forças de cisalhamento viscoso causadas pela viscosidade do fluido. Essa região,
denominada de camada limite, indica que a velocidade de escoamento na parede (raio máximo
da seção) é nula.
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55
Ao avaliar a magnitude da velocidade na parede para diferentes posições do Venturi,
percebe-se que em nenhum dos blocos, a velocidade assumiu valor igual a zero, apesar de em
todos os pontos abordados ela ter diminuído significativamente na direção do centro para a
parede. Essa diferença de valores encontrada entre o resultado simulado e o previsto pelas
condições viscosas deve-se ao modelo de turbulência utilizado na simulação e ao tratamento do
escoamento junto à parede.

Os modelos de turbulência mais utilizados no método das equações de Navier-Stokes


com Reynolds médio são o “k-” e o “k-”. O modelo “k-” fornece resultados precisos na
região de escoamento livre onde há um alto número de Reynolds. Entretanto, nas regiões do
domínio onde há baixa turbulência (próximo às paredes) o modelo faz uso de “equações de
parede” que relaciona a tensão de cisalhamento da parede com a velocidade média do
escoamento. Por outro lado, o modelo “k-” não requer funções de amortecimento para a
parede em baixos números de Reynolds, o que torna esse modelo mais preciso ao calcular a
velocidade na região de camada limite. A principal desvantagem do modelo “k-” é que este é
sensível às condições de contorno que são definidas para variável  nas fronteiras que não
pertencem à camada limite (MENTER, 1994); (VERSTEEG; MALALASEKERA, 2007).

Dessa forma, os resultados obtidos para velocidade próxima à parede nos diferentes
pontos do Venturi podem ser explicados em função do método de cálculo utilizado pelo modelo
k-, que não fornece uma precisão adequada para região onde os efeitos viscosos atuam com
maior presença.

Com relação ao perfil de velocidade obtido no escoamento livre, as curvas


apresentadas na Figura 26 apresentam todas um formato de curva achatada, em que a velocidade
cai bruscamente na região próxima à parede e permanece praticamente constante ao longo de
toda a seção radial. É válido observar que a curva para o perfil de velocidade na garganta do
medidor foi a que obteve o formado mais achatado e a queda mais brusca de velocidade próxima
à parede, devido justamente por ser a região de maior turbulência do escoamento e em que o
modelo k- consegue fornecer melhor o real comportamento do escoamento.

Uma vez avaliado o comportamento da velocidade ao longo do eixo radial do medidor


(y). a Figura 27 apresenta os resultados obtidos para as variáveis pressão e velocidade ao longo
do eixo longitudinal (x).
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Figura 27 - Acoplamento pressão velocidade obtido para o medidor Venturi

É possível verificar o comportamento esperado das variáveis para as cinco regiões


(blocos) estabelecidas na malha do Venturi. Na região de entrada do medidor (bloco 1), as
linhas de pressão e velocidade permanecem paralelas entre si e com magnitudes praticamente
constantes. Na região convergente do medidor (bloco 2), a velocidade aumenta gradualmente à
medida que área de seção transversal do escoamento é diminuída, assim como a pressão
também cai bruscamente com a redução do diâmetro.

Os pontos de mínimo para pressão e máximo para velocidade são atingidos justamente
no centro da garganta do medidor (bloco 3), onde tem-se a maior diferença de magnitude dessas
duas variáveis. Para a região divergente do medidor (bloco 4), pode-se observar o decaimento
da velocidade e aumento da pressão com uma menor taxa de variação (curvas mais suaves)
quando comparada com a taxa de variação da região convergente. Esse comportamento é
esperado, uma vez que o ângulo de abertura do Venturi é de 7° enquanto o ângulo de redução
é de 21° conforme mostra a Figura 17. Assim, o maior espaço em x para recuperação do
escoamento leva a um retorno mais brando das condições iniciais de pressão e velocidade.

Por fim, na saída do medidor (bloco 5), verifica-se a tendência das variáveis ao retorno
das condições iniciais. Acredita-se que ao aumentar o domínio de simulação na região do bloco
5 seria possível avaliar melhor o retorno dessas variáveis às condições iniciais. Teoricamente,
os valores para a velocidade são idênticos na entrada e saída do medidor, uma vez que o
escoamento satisfaz a equação da continuidade. Na prática, existe uma pequena diferença entre
o valor final e o inicial que está associada aos efeitos de perda de carga no escoamento
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contabilizadas pelo coeficiente de descarga, mesmo que em um medidor Venturi essa perda seja
pequena.

Para assegurar a convergência da simulação, a última análise da etapa de pós-


processamento consistiu em avaliar os resíduos ao longo dos passos de iteração. As Figura 28
e Figura 29 apresentam os resíduos obtidos para velocidade Ux, Uy e para pressão P em
diferentes momentos de iteração.

Figura 28 - Resíduos das variáveis Ux, Uy e p para todas as iterações realizadas


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Figura 29 - Resíduos das variáveis Ux, Uy e p a partir da 50° iteração

Foram definidos como padrão 1000 passos de iteração para a resolução do caso,
entretanto, o OpenFOAM cessa a simulação automaticamente a partir do instante em que o
software encontra a convergência para as variáveis de maneira que os resíduos entre as
simulações oscilem dentro de uma baixa tolerância. Essa prática é realizada pelo software para
que o caso não ocupe um alto volume da memória computacional. A simulação do Venturi
obteve convergência em 242 passos de iteração.

A Figura 28 apresenta valores de resíduos altos para o início da simulação e o


decaimento desses ao longo das iterações. A partir da 150° iteração, já é possível ver que os
resíduos para as variáveis calculadas se tornam muito próximos de zero e praticamente
constantes.

A Figura 29 apresenta uma ampliação dos dados de resíduo da ordem de 10-3 em diante
que se encontram a partir do 50° passo de iteração. É possível verificar que os resíduos
decrescem até a ordem de 10-4 com pequenas flutuações em torno dessa ordem de grandeza.
Essas oscilações são encontradas nas simulações CFD em razão da natureza das equações
resolvidas e do solver utilizado.

Para modelagem do medidor Venturi, foi utilizado o solver do tipo “SIMPLE”, que
resolve o caso utilizando o método de correção da pressão. O algoritmo de solução do solver é
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intrinsecamente implícito e pode ser descrito de maneira simplificada por meio dos passos
mostrado na Figura 30.

Figura 30 - Algoritmo de solução do solver "SIMPLE"

Fonte: elaboração do autor

5.5 COMPARAÇÃO COM DADOS EXPERIMENTAIS E VALIDAÇÃO DO


MODELO

A Tabela 2 apresenta os resultados de velocidade das seções de entrada e da garganta


do Venturi obtidos por meio da simulação.

Tabela 2 - Resultados obtidos para velocidade nas seções 1 e 2 do Venturi

* V1 e V2 calculadas pela relação entre vazão volumétrica Q e diâmetro da seção D (V= Q*4/D2)
A partir dos dados é possível ver que os valores de velocidade V1 e V2 obtidos pelo
código CFD são muito próximos dos valores teóricos, com erros médios inferiores a 3%.

Para o cálculo da velocidade real V2 no medidor, foi necessário fazer uma adequação
dos resultados obtidos no modelo bidimensional para a representação tridimensional do
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Venturi. A relação entre as duas velocidades do medidor pode ser obtida por meio da equação
(1). Para o medidor em 3 dimenões essa relação e leva em conta a razão entre os diametros das
seções elevada ao quadrado, como mostra a equação (2). Entretanto, para o modelo simulado,
a geometria da seção transversal não consiste em um círculo com área proporcional a D2 e sim
em uma fatia retangular de comprimento D e espessura unitária L. A relação entre as
velocidades para o modelo bidimensional é expressa da seguinte forma:

𝐷1
𝑉1 ∗ 𝐷1 ∗ 𝐿 = 𝑉2 ∗ 𝐷2 ∗ 𝐿  𝑉2 = 𝑉1 ∗ ( )
𝐷2
Assim, esse valor obtido para V2 por meio da simulação foi corrigido pela
multiplicação do fator de razão entre os diâmetros D1 e D2 de maneira a se obter o valor
calculado pela mesma relação mostrada na equação (2).

A partir das velocidades obtidas pelo software apresentadas na Tabela 2, o valor de P


de simulação foi calculado por meio da equação ( 3 ). A Tabela 3 apresenta os resultados de
diferença de pressão P medidos no experimento, a diferença de pressão calculada a partir das
velocidades simuladas e a diferença de pressão calculada a partir das velocidades teóricas.

Tabela 3 - Resultados obtidos para diferença de pressão experimental, simulada e teórica

* Pteórico calculado a partir da Equação de Bernoulli para o medidor Venturi, Equação ( 3 )

A primeira análise feita a partir dos dados obtidos foi entre os resultados do modelo e
os resultados teóricos. De maneira geral, o software forneceu bons resultados de P para as
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difrentes vazões estudadas, com erros médios de 5% da diferença de pressão esperada e erro
máximo de 8,7%.

O erro econtrado entre os resultados simulados e os resultados coletados a partir do


experimento é consideravalmente maior quando comparado ao erro entre o modelo e a teoria
como já esperado.

O primeiro ponto de vazão com 700 L/h foi o que obteve o maior erro (39%) entre o
modelo e o experimento. Esse desvio entre os resultados era esperado, uma vez que para vazão
mais baixa, foram encontradas dificuldades para medida da diferença de pressão em laboratório.
O rotâmetro do painel utilizado que regula a vazão apresenta a escala de 700 L/h muito próxima
da vazão zero, o que levou a altas flutuações do cone indicador de medida em torno o valor de
vazão desejado. Como consequência, o valor de P coletado no medidor de pressão digital
apresentou alta instabilidade para todas as 4 séries de dados coletados.

Com relação aos resultados de P obtidos para vazões a partir de 1000L/h, o modelo
apresentou um erro médio de 19% do valor obtido experimentalmente. Como uma tentativa de
primeira aproximação do experimento realizado, pode-se dizer que o código CFD já forneceu
uma boa solução para o caso, principalmente ao comparar os erros que o código apresentou em
relação à teoria e ao experimento.

A magnitude da diferença obtida entre valores de P experimental e teórico está


associada majoritariamente a erros inerentes ao experimento. A precisão do rotâmetro e do
medidor de presssão digital utilizados bem como a calibração desses equipamentos são fatores
que impactam consideravelmente na precisão dos valores coletados. Um segunda fonte de erro
pode estar associada a erros de paralaxe na leitura da vazão.

Além disso, os dados de diferença de pressão experimental apresentados na Tabela 3


são médias obtidas a partir das 4 séries de coleta de dados realizada e para cada ponto há um
desvio padrão associado a essa média. A Tabela 4 apresenta os limites inferior e superior de P
em torno da média com 95% de confiança.
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Tabela 4 - Resultados experimentais com intervalo de confiança de 95% a partir da média

Dessa forma, ao considerar o desvio padrão das medidas, pode-se dizer que o modelo
obteve solução dentro do intervalo especificado para quatro vazões simuladas. Em relação às
demais vazões, o erro entre a solução por CFD e o limite do intervalo mais próximo variou de
4% a cerca de 11%.

A Figura 31 e a Figura 32 apresentam respectivamente o comportamento da diferença


de pressão obtida para diferentes vazões e o ajuste realizado entre os dados experimentais e os
resultados obtidos no modelo.

Figura 31 - Resultados para diferença de pressão obtidos em diferentes vazões


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Figura 32 - Ajuste entre dados de diferença de pressão teóricos e experimentais

Pode-se dizer que o modelo refletiu bem o comportamento dos dados experimentais
em relação ao aumento da vazão de escoamento. Os pontos para os dados experimentais e
simulados apresentados na Figura 31 seguem a mesma tendência do P teórico.

Para o ajuste realizado entre os dados experimentais e simulados, o modelo forneceu


um valor de coeficiente de determinação (r2) de 0,99, o que indica uma boa adequação do
modelo ao comportamento dos dados experimentais. Além disso, o coeficiente angular da reta
de ajuste obtido foi de 1,22 apontando um erro em torno de 20% como já analisado a partir dos
dados na Tabela 3.
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6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Foi possível expor de maneira clara o entendimento dos conceitos básicos de


fluidodinâmica computacional aplicada no software do OpenFOAM. Entretanto, apesar de ser
gratuito, o software apresentou difícil instalação devido a dificuldade de navegação encontrada
no sistema operacional do Linux. O principal obstáculo para a realização das simulações no
OpenFOAM foi a linguagem pouco intuitiva que o software requer na interface com a
plataforma do Linux.

O programa apresentou uma boa solução para o medidor de vazão estudado já nas
simulações iniciais. Os resultados qualitativos forneceram a reposta esperada para os perfis de
velocidade e pressão e linhas de corrente do escoamento em um rápido intervalo de
convergência.

A comparação entre os resultados obtidos na solução numérica e os coletados no


experimento indicaram um erro médio de até 11% com um intervalo de 95% de confiança,
enquanto a comparação entre os resultados simulados e os teóricos apresentaram um erro de até
9%. Pode-se dizer que o OpenFOAM representou bem o comportamento do escoamento em
regime turbulento nas condições de simulação utilizadas e que esse consiste em um software
potencial para o início dos estudos em CFD, sobretudo para práticas didáticas ou utilização em
projetos de média complexidade quando não há recursos disponíveis para arcar com os altos
custos de licença dos softwares comerciais.

Como sugestões para melhoria dos resultados encontrados, pode-se dizer que uma
calibração do medidor de pressão digital ou a utilização de um outro manômetro como o de
coluna d’água no momento do experimento por exemplo, levaria a obtenção de dados mais
estáveis e com menor desvio. Além disso, seria interessante a continuidade dos estudos para
simulação tridimensional a partir da otimização da malha gerada e avaliar a diferença
encontrada entre os dois resultados. Pode-se ainda explorar melhor outros tipos de solvers,
modelos de turbulência e esquemas de interpolação disponíveis no pacote do OpenFOAM.

Por fim, com o intuito de ampliar a aplicação do software em práticas didáticas, o


OpenFOAM poderia ser utilizado para modelar outros medidores de vazão como uma placa de
orifício ou medidor de bocal, ou ainda ser utilizado para modelagem de transferência de calor
em experimentos com aletas ou corpos em aquecimento e resfriamento.
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APÊNDICE A - CÓDIGO DO BLOCK MESH DICT PARA CONSTRUÇÃO DA
MALHA BIDIMENSIONAL DO MEDIDOR VENTURI
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APÊNDICE B – CÓDIGO DO ARQUIVO “p” PARA CONDIÇÕES DE
CONTORNO DA PRESSÃO DO MEDIDOR VENTURI
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Trabalho de Conclusão de Curso
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APÊNDICE C - CÓDIGO DO ARQUIVO “U” PARA CONDIÇÕES DE
CONTORNO DA VELOCIDADE DO MEDIDOR VENTURI
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71
APÊNDICE D – CÓDIGO DO ARQUIVO CONTROL DICT PARA
DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS DA SIMULAÇÃO
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72
APÊNDICE E - CÓDIGO DO BLOCK MESH DICT PARA CONSTRUÇÃO
DA MALHA TRIDIMENSIONAL DO MEDIDOR VENTURI
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