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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS E TECNOLOGIAS


CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

GENILSON ANTONIO REIS

DIMENSIONAMENTO DE UMA REDE DE ESGOTO CONDOMINAL NA ZONA DA


CLEMENCIA BAIRRO BENFICA.

Luanda
2020
GENILSON ANTÓNIO REIS

DIMENSIONAMENTO DE UMA REDE DE ESGOTO SEPARATIVA NA ZONA DA


CLEMÉNCIA BAIRRO BENFICA.

Trabalho de Conclusão do Curso


apresentado ao curso de Engenharia Civil,
do Departamento de Engenharias e
Tecnologias (DET), do Instituto Superior
Politécnico de Tecnologias e Ciências
(ISPTEC), como requisito parcial à
obtenção do grau de licenciado em
Engenharia Civil.

Orientador: Engenheiro Pedro Sebastião


Lemba

Luanda

2020
GENILSON ANTÓNIO REIS

DIMENSIONAMENTO DE UMA REDE DE ESGOTO SEPARATIVA NA ZONA DA


CLEMÉNCIA BAIRRO BENFICA.

Monografia apresentada à Banca Examinadora do


Curso de Engenharia Civil do Instituto Superior
Politécnico de Tecnologias e Ciências, como requisito
parcial para obtenção do título de licenciado em
Engenharia Civil.

LUANDA, 2019
DATA DE APROVAÇÃO: __ / __ / __

Banca Examinadora

_____________________________________________________

_____________________________________________

____________________________________________
DEDICATÓRIA

Ao meu pai, tio, mentor e amigo Augusto Reis (Em memória)


AGRADECIMENTO

Primeiramente agradecer a Deus ´pelo fôlego da vida, e pela generosidade pela qual
ele tem conduzido minha vida, proporcionando para mim muitos momentos de vitória.

Aos meus irmãos Miguel Reis António e Piedade António Reis, por serem os pilares
de suporte da minha vida, me proporcionado condições necessárias para que eu
pudesse desenvolver o meu potencial e que sempre estiveram ao meu lado e me
apoiaram em todas as decisões tomadas em prol do meu desenvolvimento e
crescimento pessoal.

Aos meus familiares de uma forma geral por todo encorajamento, todo apoio moral e
financeiro para que este momento pudesse se transformar numa realidade.

A minha companheira Yoleine Alberto que sempre acreditou mesmo quando poucos
acreditavam ser possível, que sempre me estendeu o seu ombro para chorar nas
derrotas, e que comemorou comigo cada vitória.

Aos professores que estiveram comigo desde o início ao fim, em especial o meu
orientador Eng. Pedro Sebastião Lemba que sempre estive convicto ser a pessoa
ideal para materializar este trabalho por tudo aquilo que ele representa para mim, pelo
seu contributo para que fosse possível realizar este trabalho, pela experiência
profissional e académica passada durante os 5 anos de Academia.

Aos meus colegas do curso por todo companheirismo, apoio e força para que todos
nós podemos alcançar os nossos sonhos, em especial o meu grande amigo Eleutério
Zeferino pelas muitas noites sem dormir a estudar juntos pelo telefone na esperança
de que este momento pudesse chegar na hora e data prevista, e por ser alguém que
sempre de forma incondicional se mostrou disponível para partilhar seus
conhecimentos quando necessitei.

A comunidade ISPTEC em geral desde os seguranças ao Director geral o meu muito


obrigado.
RESUMO
Redes coletoras de esgoto são elementos importantes para garantir a saúde, o bem-
estar social e proteção ao meio ambiente, prevenir a proliferação de doenças típicas
do meio hídrico e melhorar a qualidade de vida das populações. A coleta, transporte
e tratamento correto do esgoto é capaz de reduzir e possibilitar o reaproveitamento
da água para usos não potáveis. Este trabalho tem como objetivo projetar uma rede
de drenagem de esgoto Condominal que se adeque a zona da Clemencia Município
de Talatona distrito urbano do Benfica, a área de estudo apresenta um total de 56 ha.
A escolha do sistema se deve ao facto de ser um sistema de aplicação muita prática
e ser comprovadamente menos custioso que o sistema convencional.

A coleta de dados incluiu visitas ao local para verificar as características fisiográficas


e uso da área do solo que constam dos mapas topográficos de estudos prévios.
Procurou-se definir o traçado mais racional possível da rede de drenagem, para que
ela funciona-se totalmente por gravidade, com base em critérios de dimensionamento
hidráulico estabelecidos nas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) , de modo a viabilizar um destino final adequado para o esgoto, segue-se uma
analise económica de formas a se aferir os custos de uma possível implementação
da rede e por último, far-se-á a sugestão de uma ETAR para dinamização do
processo de tratamento dos dejetos.

Palavras-chaves: Drenagem; Rede de Esgoto; Tratamento; saneamento; dimensionamento.


ABSTRACT

Sewer collection networks are important elements to guarantee health, social well-

being and protection of the environment, prevent the proliferation of diseases typical

of the water environment and improve the quality of life of the populations. The correct

collection, transport and treatment of sewage is capable of reducing and making it

possible to reuse water for non-potable uses. This work aims to design a Condominal

sewage drainage network that suits the area of Clemencia Municipio de Talatona

urban district of Benfica, the study area has a total of 56 ha. The choice of system is

due to the fact that it is a very practical application system and is proven to be less

costly than the conventional system.

The data collection included visits to the site to verify the physiographic characteristics

and use of the soil area that are included in the topographic maps of previous studies.

An attempt was made to define the most rational layout of the drainage network, so

that it works entirely by gravity, based on hydraulic sizing criteria established in the

standards of the Brazilian Association of Technical Standards (ABNT), in order to make

a destination feasible. end appropriate for sewage, an economic analysis follows in

order to assess the costs of a possible implementation of the network and finally, a

WWTP will be suggested to streamline the waste treatment process.

Keywords: Drainage, Sewerage system,Treatment,Sanitation, sizing.


LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Cloaca máxima de Roma. ......................................................................... 19
Figura 2:Esquema de um sistema unitário (Gomes,2016) ........................................ 24
Figura 3: Esquema de um sistema unitário (adaptado Brum e Wartchow,2014) ...... 26
Figura 4: Esquema de um sistema separativo (Silva,2016) ...................................... 27
Figura 5: Esquema de um sistema unitário Fonte: adaptado Brum e Wartchow,2014
.................................................................................................................................. 33
Figura 6.Representação de um sistema condominal Fonte: Adaptado de (Tsutiya,
1998) ......................................................................................................................... 38
Figura 7. Esquema de uma rede Pressurizada Fonte: Adaptado de (Tsutiya, 1998) 41
Figura 8.Esquema de um sistema de esgoto a Vácuo Fonte: Adaptado de (Tsutiya,
1998) ......................................................................................................................... 42
Figura 9: Esquema do processo de contaminação (FUNASA,2007) ......................... 45
Figura 10: Agregados familiares por área de residência, segundo o uso de
instalações sanitárias apropriadas. Fonte: Dados do Censo geral da república de
2014 .......................................................................................................................... 53
Figura 11: Percentagem de agregados familiares com acesso a saneamento básico
no período 2006-2014 e objetivos do Governo para 2017. Fonte: Dados da UNICEF
2016 .......................................................................................................................... 54
Figura 12.Fluxograma de dimensionamento da rede. ............................................... 57
Figura 13. Localização geográfica do distrito do Benfica Fonte: Google Heart. ........ 58
Figura 14. Delimitação da zona de estudo. Fonte: Google Heart. ............................. 58
Figura 15.Caracterização topográfica do terreno. Fonte: Global Mapper.................. 59
Figura 16. Caracterização topográfica e volumetria da zona de estudo. Fonte: Civil
3D.............................................................................................................................. 59
Figura 17. Comportamento da superfície do terreno. Fonte: Civil 3D ....................... 60
Figura 18.Comportamento da superfície do terreno. Fonte: Civil 3D ........................ 60
Figura 19. Traçado da rede de esgoto. Fonte: Civil 3D. ............................................ 62
Figura 20. Perfil longitudinal 1. .................................................................................. 62
Figura 21. Perfil longitudinal 2. Fonte: Civil 3D.......................................................... 63
Figura 22. Perfil longitudinal. Fonte: Civil 3D............................................................. 63
Figura 23. Perfil longitudinal do colector principal. Fonte: Civil 3D. ........................... 63
Figura 24. Estimativa da população. ......................................................................... 64
Figura 25. Tensão trativa em um conduto. Fonte: Adaptado de Tsutiya 1998. ......... 70
Figura 26. Sistema de tratamento compacto. Fonte: Catálogo ECODEPUR ............ 73
Figura 27.Etapas do tratamento, Fonte: Catálogo ECODERPUR. ............................ 75
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1. Tipos de sistemas e seus objetivos. ....................................................... 29
Tabela 2.2. Vantagens e desvantagens dos sistemas de esgoto.............................. 30
Tabela 2.3. Riscos relacionados por contaminação de fezes.................................... 46
Tabela 3.4. Consumo per capita segundo NBR. ....................................................... 65
Tabela 3.5. Dados de dimensionamento. .................................................................. 69
Tabela 3.6.Resumo Geral de Obra. .......................................................................... 72
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

PI – população inicial;
N – Número de residências;
Tor – taxa de ocupação residencial;
PF – população final em um ano t;
Kg – taxa de crescimento geométrico;
Tf – ano futuro o qual se deseja conhecer a população;
tI – ano de população inicial conhecida.
P1 – população final em um ano t1 já conhecida;
P2 – população final em um ano t2 já conhecida;
t1 – ano de população final conhecida em levantamento anterior ou dados coletados;
t2 – ano de população inicial conhecida em levantamento anterior ou dados
coletados;
K1 – coeficiente do dia de maior consumo;
K2 – coeficiente da hora de maior consumo;
K3 – coeficiente da hora de menor consumo;
Qinf – vazão de infiltração;
Tinf – taxa de infiltração;
L – Extensão total da rede coletora;
Qmed,i – vazão média para início de plano;
q – Consumo per capita;
c – Coeficiente de retorno;
Qmin,i – vazão mínima para início de plano;
Qmax,i – vazão máxima para início de plano;
Qmed,f – vazão média para final de plano;
Qmin,f – vazão mínima para final de plano;
Qmax,f – vazão máxima para final de plano;
Txp,i – taxa de contribuição populacional inicial;
Txp,f – taxa de contribuição populacional final;
Tx,i – taxa de contribuição linear inicial;
Tx,f – taxa de contribuição linear final;
D - Diâmetro do tubo;
P – Perímetro molhado da seção;
RH – raio hidráulico;
B – Largura da linha d’água da seção;
y – Lâmina d’água da seção;
∅ - ângulo central da lâmina d’água;
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ............................................................................................................ 7
AGRADECIMENTO ..................................................................................................... 8
RESUMO..................................................................................................................... 9
ABSTRACT ............................................................................................................... 10
LISTa de figuras ........................................................................................................ 11
LISTa de TABELAS ................................................................................................... 12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................................... 13
Fundamentação teórica ...................................................................................... 11
1.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11
1.2 OBJECTIVOS .............................................................................................. 13
1.2.1 Objetivo geral......................................................................................... 13
1.2.2 Objetivo específico ................................................................................ 13
1.3 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA .................................................................. 13
1.4 DESCRIÇÃO DO PROBLEMA ..................................................................... 14
1.4.1 Problematização ou situação problemática ........................................... 15
1.5 DELIMITAÇÃO DO TEMA ............................................................................ 15
1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO ..................................................................... 15
1.7 METODOLOGIA DA PESQUISA ................................................................. 16
1.8 RESULTADOS ESPERADOS ...................................................................... 16
REVISÃO BIBLIOGÁFICA .................................................................................. 17
2.1 Introdução as redes de drenagem ............................................................... 17
2.1.1 Tipos de esgotos ................................................................................... 22
2.1.2 Classificação dos sistemas de esgoto ................................................... 25
2.1.3 Análise comparativa dos tipos de sistemas existentes .......................... 29
2.1.4 Partes constituintes de um sistema de esgoto ...................................... 31
2.1.5 Normas técnicas e decretos .................................................................. 33
2.1.6 Importância das redes ........................................................................... 35
2.2 Sistemas alternativos para coleta e transporte de esgoto sanitário ............. 37
2.2.1 sistema condominial de esgoto.............................................................. 37
2.2.2 Redes de coleta e transporte de esgoto decantado .............................. 39
2.2.3 Redes pressurizadas e a vácuo............................................................. 40
2.3 Principais doenças originadas pelas águas contaminadas .......................... 42
2.3.1 Conceito de contaminação .................................................................... 45
2.3.2 Doenças relacionadas com o esgoto ..................................................... 46
2.4 Legislação angolana sobre saneamento e dados do censo......................... 51
2.5 ETAR............................................................................................................ 54
Estudo de caso ................................................................................................... 57
3.1 Fluxograma do algoritmo de dimensionamento da rede de esgoto .............. 57
3.1.1 Contextualização da área de intervenção .............................................. 57
3.1.2 Definição do traçado .............................................................................. 61
3.1.3 População e estimativa de produção de esgoto .................................... 63
3.1.4 Apresentação da norma de base ........................................................... 65
3.1.5 Resultados e discussões ....................................................................... 69
3.1.6 Sugestão de ETAR ................................................................................ 72
CONCLUSÕES ................................................................................................... 76
Bibliografia .......................................................................................................... 78
5.1 ANEXOS ...................................................................................................... 81
5.1.1 Anexo 1 ................................................................................................. 81
5.1.2 Anexo 2 ................................................................................................. 82
5.1.3 Anexo 3 ................................................................................................. 83
5.1.4 ANEXO 4 ............................................................................................... 84
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 INTRODUÇÃO
Do ponto de vista analítico podemos dizer que saneamento é o conjunto de
ações socioeconómicas, que visam o controle de todos os efeitos de meio físico
humano, de formas a mitigar os seus efeitos nocivos ao homem, garantindo assim, as
condições básicas de saúde ambiental. A problemática de saneamento vem gerando
preocupação a nível mundial, pois tem sido uma das maiores causas de mortalidade
infantil e não só nos países em desenvolvimento, devido as doenças que dela advêm.
De acordo com (SILVA , 2007) A problemática de saneamento aliado a
saúde humana preocupa as culturas desde os tempos mais remotos, as sociedades
mais poderosas em termos militares, aproveitavam-se deste facto para se
desenvolverem e se modernizarem cada vez mais, e desta forma mitigarem
problemas aliado a saúde de seus povos, foi assim que começaram a surgir as
primeiras tentativas de implementação de saneamento nas cidades, mais devido os
sucessivos conflitos que haviam na época que acabavam por dizimar cidades por
completo e a comunicação deficiente entre os povos, as técnicas usadas por alguns
povos tiveram os seus altos e baixos e algumas acabaram mesmo esquecidas
comprometendo significativamente o desenvolvimento das técnicas de saneamento
até os séculos mais recentes.
Segundo (BOTICA, 2012) desde muito cedo o homem começou a se
preocupar com a necessidade de dar um destino correto as águas residuais, datando
as primeiras evidencias destas atividades nos anos 4000 a.c., pelos povos da
Mesopotâmia e Suméria , onde autor diz que foram descobertos tubos e reservatórios
de resíduos, isto porque estes povos já acreditavam embora numa base supersticiosa
e religiosa, na relação da água com as doenças e a sua proliferação. Indícios também
mostram que a civilização Mesopotâmia por voltas dos anos 2500 a.c., já havia
construído sarjetas e sumidouros para a recolha e condução das águas superficiais.
Já na Índia propriamente na província de Nipur, o mesmo autor afirma que há
evidencias de que por voltas dos anos 3750 a.c., já havia sistemas de drenagem de
águas residuais construídos no Vale do Indo, os quais eram constituídos por canais
12

cobertos por tijolos, com abertura que permitiam a sua inspeção. Estes são apenas
alguns dos variados exemplos que nos mostram que desde muito cedo o homem
procurou se distanciar cada vez mais das águas residuais, devido o seu impacto
negativo na qualidade de vida e na manutenção das suas infraestruturas.

Estudos realizados pela (UNICEF, 2016) em Angola revelaram que o mau


estado da água consumida e a falta de infraestruturas de saneamento básico figuram
entre as principais causas de doenças infeciosas como diarreia, cólera, infeções
respiratórias ou sarampo, que, por sua vez, constituem as principais causas de
doença e mortalidade em crianças. A taxa de mortalidade em crianças em Angola é
muito elevada, estimando-se que 157 crianças por cada 1,000 nascidas vivas, morrem
antes de cumprir os 5 anos. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde
(OMS, 2015), 27% dessas mortes estão relacionadas com a falta de acesso a serviços
apropriados de água e saneamento, contribuindo para elevadas taxas de mortalidade
das crianças. A qualidade de vida e o desenvolvimento socioecónomico de uma
sociedade, estão intimamente ligados com a qualidade das suas infraestruturas de
saneamento básico, problema que afeta significativamente os países em
desenvolvimento, face o pouco incentivo dos seus governos no que diz respeito ao
investimento nestes sectores chaves da sociedade. Só para se ter noção segundo a
mesma fonte, foi constatado através do Censo de 2014 realizado em Angola, que
apenas 44% dos agregados tinham acesso a água e saneamento básico, índices
estes que colocavam Angola entre os países com taxas mais baixas de cobertura a
nível mundial. Dados como estes são um exemplo daquilo que são os incentivos do
governo para o desenvolvimento muito apático do sector, sem levar ainda em conta
que o mau estado ou inexistência das infraestruturas de saneamento tem um impacto
muito grande na economia do país dado que os problemas que advêm dai acabam
se tornando problemas de saúde pública e obriga os governos a envidarem esforços
maiores para controlarem as proliferações de doenças tendo um impacto muito
grande no OGE.
Águas residuais é o termo utilizado para definir o produto da água após o uso
humano, seja ele por uso doméstico, comercial ou industrial, quando
apresenta significativas alterações de suas características iniciais. Também
denominada de ¨Esgoto¨ no meio informal, as águas residuais, em geral,
contêm elevadas quantidades de matéria orgânica, assim como diversas
13

substâncias poluentes que podem causar danos á saúde da população. Por


tanto, necessitam de um tratamento específico para serem devolvidas aos
corpos receptores para que neste retorno, não contaminem os cursos de
água. Em paralelo com a água utilizada pelo ser humano, há um outro tipo de
escoamento que precisa ser devidamente controlado pelos sistemas públicos
para que não tenha consequências directas no dia-a-dia de uma cidade, o
escoamento superficial proveniente da precipitação atmosférica, a ¨Chuva¨.
Sem uma drenagem satisfatória, este escoamento pode gerar um grande
transtorno no caso da formação de inundações, podendo contribuir também
para a formação de ravinas, lixiviação dos solos etc. (LISBOA, 2016, p.1)

1.2 OBJECTIVOS
1.2.1 Objetivo geral
Dimensionar uma rede de esgoto na zona da Clemencia, Bairro Benfica,
para a mitigação de problemas de saneamento básico e contaminação ambiental das
águas do mar na zona.
1.2.2 Objetivo específico
▪ Descrever os tipos de redes de recolha de esgotos existentes e a
sua importância.
▪ Analisar uma rede de esgoto Condominal (Estudo de caso) e
elaborar uma estimativa econômica para a sua aplicação na zona.
▪ Analisar os resultados obtidos e propor a implementação de uma
ETAR na Zona.
1.3 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA
A realização deste trabalho visa essencialmente ao dimensionamento de
uma rede de recolha de esgoto Condominal e a sugestão de implementação de uma
ETAR para a zona da clemencia, Bairro Benfica, de formas a mitigar problemas
relativos a falta de redes de esgoto naquela comunidade, que é um elemento essencial
para o saneamento básico de uma determinada localidade. Tendo também como
défice os problemas de impacto ambiental sobre o mar daquela zona, esse trabalho
visa resgatar deste modo as condições básicas de habitabilidade e salvaguardando a
continuidade da atividade pesqueira para a população da zona.
Tendo como motivação a resolução de um problema real de saneamento e
poluição ambiental, achou-se pertinente a escolha do tema, pois dispõem-se de
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ferramentas necessárias para ajudar a solucionar um problema que afeta todos nós,
e tem sido um grande calcanhar de Aquiles para os bairros das nossas cidades, pois
os que possuem uma rede de esgoto, as mesmas ou já não funcionam ou trabalham
aquém das suas capacidades tendo um tempo de vida muito curto, isto porque foram
dimensionadas na época colonial para uma determinada densidade populacional, e
com a expansão demográfica que os bairros de Luanda foram apresentando nos
últimos tempos devido o fenômeno migratório na procura de melhores condições de
vida das populações, estas redes deixaram de dar conta da situação, exigindo um
redimensionamento e cautelas dos problemas de impacto ambiental sob pena de se
comprometer a costa marítima. Como exemplo prático desta problemática temos a
praia da Mabunda, que teve as suas atividades encerradas devido ao alto nível de
contaminação daquelas águas, e é um local onde os esgotos desaguam sem um
tratamento prévio.
Este trabalho tem um papel fundamental no que diz respeito ao bem-estar
social das populações da zona em estudo, visto que eles serão os maiores
beneficiários do projeto e quando se tem uma rede de esgoto funcional, evita-se
muitos problemas sociais como falta de saneamento básico, enchentes em tempos de
chuva, proliferações de doenças etc. E deste modo se consegue proporcionar
melhores condições de habitabilidade as populações. E é um caminho a se ter em
conta no que diz respeito a urbanização das localidades. Do ponto de vista académico
será uma mais valia para toda comunidade académica pois poderá servir como apoio
a pesquisas mais aprofundadas sobre o tema em questão, ligada a nossa realidade,
visto que o nosso país carece muito de pesquisas relacionadas a resolução de
problemas de saneamento das nossas cidades.
A pesquisa será feita de forma a particularizar os estudos para a zona a ser
estudada, o traçado da rede levará em conta as limitações da zona e pretende-se
fazer de forma que seja técnica e economicamente viável.
1.4 DESCRIÇÃO DO PROBLEMA
Com a dinâmica das Cidades tornou-se arcaica a implementação de fossas
sépticas nas residências e o encaminhamento das águas residuais diretamente para
o mar, devido a fatores como contaminação dos solos e dos mares, custos elevados
de manutenção periódica e não menos crítico, problemas de saneamento básico.
Problemas estes que são facilmente observados na zona em estudo, pois pela
15

inexistência da rede pública, a população é obrigada a instalar fossas sépticas, e


quando chove não há um destino certo para as águas da chuva visto que a rede pluvial
praticamente não existe na zona e as vias que deveriam redirecionar as águas não
são asfaltadas.
1.4.1 Problematização ou situação problemática
Em que medida o encaminhamento conciso das águas residuais e pluviais
pode influenciar para se evitar as enchentes e os problemas de saneamento básico e
contaminação ambiental na zona da clemencia Bairro Benfica?
1.5 DELIMITAÇÃO DO TEMA
Dimensionamento de uma rede de esgoto Condominal na zona da
Clemencia bairro Benfica. Dentro da temática do saneamento básico das localidades
, esta pesquisa parte de um estudo de caso sobre a zona da clemencia bairro Benfica,
em que se pretende observar em que medida o dimensionamento de uma rede de
recolha de esgoto Condominal, pode ajudar a mitigar os problemas de saneamento
básico da zona e a diminuição da poluição ambiental das águas do mar e dentre os
´problemas de saneamento básico será aqui tratado, respetivamente recolha do
esgoto.
1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO
A estrutura deste trabalho obedece a uma sequência com vista a
apresentação lógica dos assuntos abordados.
O capítulo 1 tem como finalidade apresentar as bases metodológicas que
servem como suporte para a elaboração das pesquisas, bom como apresentar uma
introdução de forma a situar o problema a ser tratado.
No capítulo 2 será feita uma introdução a rede de drenagem, desde a sua
origem aos dias de hoje, será descrito os tipos de redes existentes e fazer uma análise
comparativa entre elas, dando desta forma suporte para a escolha de uma em
detrimento de. Constará também, uma breve analise da importância das redes de
saneamento básico para as localidades, bem como as principais doenças
provenientes das águas contaminadas e não só.
Serão apresentadas as normas existentes, bem como os decretos
nacionais sobre as redes de esgoto.
No capítulo 3 será realizado o estudo de caso, que consiste no
dimensionamento de uma rede Condominal , onde se vai analisar a implementação
16

da rede na zona de acordo com as condicionantes que ela apresenta e a analise de


custos concernentes a aplicação da rede.
será feita uma analise dos resultados obtidos e se dará o devido
tratamento culminando com a sugestão de uma ETAR que se adeque as exigências
da zona.
Finalmente no capítulo 4 serão apresentadas as conclusões mais
relevantes que resultam da elaboração deste trabalho de pesquisa.

1.7 METODOLOGIA DA PESQUISA


Para a realização do dimensionamento da rede, adaptou-se uma
metodologia concisa de formas a se atingir os objetivos preconizados de maneira
eficiente, e a sequencia descrita a seguir:

Na primeira etapa realizou-se um levantamento bibliográfico para se aferir


os aspetos técnicos inerentes ao problema em estudo, de seguida, com a ajuda de
dados via satélite (Através do modelo digital do terreno obtidos através da combinação
de programas como Google Heart e Global Mapper), realizou-se todos os trabalhos
necessários a modelação do terreno de forma a obter as características necessárias
(curvas de nível) para a implementação da rede. Determinadas as características
físicas do terreno, a seguir estimou-se a população de projeto, dado fundamental para
o dimensionamento da rede. De salientar que a população foi estimada tendo como
base os dados do último Censo geral da República que data do ano de 2014.Estimada
a população, passou-se a execução do traçado e posterior dimensionamento da rede
com o auxílio do programa da Autodesk, denominado Civil 3D e do Pluguin
C3DRESNEG.

1.8 RESULTADOS ESPERADOS


Com este trabalho procura-se encontrar a solução mais racional e económica de
formas a se mitigar os problemas referentes a redes de esgotos na zona, bem como
melhorar a qualidade de vida da população naquela zona, melhor as condições de
higiene para a população e os pescadores que usam o mar daquela zona,
proporcionando assim um ambiente propício para habitação, lazer e pescaria, sem
riscos de proliferações de doenças por contaminação hídrica.
17

REVISÃO BIBLIOGÁFICA

2.1 Introdução as redes de drenagem


Segundo (Tsutiya e Alem Sobrinho 1999) podemos entender por sistemas de esgotos,
o conjunto de órgãos acessórios e tubulações que tem como objetivo fundamental, o
encaminhamento dos efluentes a montante, para o seu destino final a jusante que
pode ser uma estação de tratamento, ou diretamente depositado sobre o curso de um
rio ou no mar. Para a elaboração de um projecto de esgoto são necessárias várias
actividades, e destas a concepção é tida na fase inicial e compreende os seguintes
obejctivos:

• Identificação e quantificação de todos os fatores intervenientes com o sistema


de esgotos;
• Diagnóstico do sistema existente, considerando a situação atual e futura,
• Estabelecimento de todos os parâmetros básicos de projeto;
• Pré dimensionamento das unidades dos sistemas, para as alternativas
selecionadas;
• Escolha da alternativa mais adequada mediante a comparação técnica,
econômica e ambiental, entre as alternativas;
• Estabelecimento dás diretrizes gerais de projeto e estimativa das quantidades
de serviços que devem ser executados na fase de projeto.

O estudo de concepção pode, às vezes, ser precedido de um diagnóstico


técnico e ambiental da área em estudo ou, até mesmo, de um Plano Diretor
da bacia / hidrográfica. (Tsutiya e Alem Sobrinho 1999, pag 5)

Para (Netto,1991) podemos definir como sistemas de esgoto, o conjunto de todas as


obras e instalações destinadas a colecta, afastamento, tratamento (quando
necessário), e o destino final dos esgotos de uma dada região ou cidade, de forma
continua e higienicamente segura.
Segundo (Machado et al,2013) Os sistemas de esgoto sanitários consistem em um
conjunto de infraestruturas e instalações operacionais que visam coletar, transportar,
18

tratar e dispor de forma adequada os esgotos sanitários, considerando aspectos


ambientais e de saúde pública como as premissas fundamentais a serem garantidas.
Podemos então verificar nas duas abordagens que os autores de certa forma acabam
sempre fundindo suas ideias de uma forma indireta, pois os dois pensamentos tendem
para o mesmo foco que é o tratamento adequado aos efluentes de formas a se evitar
que eles prejudiquem a saúde humana e o meio em si.
Evolução histórica das redes de drenagem
Embora tenham sido descobertos a coisa de 5 mil anos atras, estima-se que durante
os seus primeiros 4mil anos e meio desde a sua descoberta não houve qualquer
evolução significativa dentro do panorama global sem o embargo de existir casos
particulares e isolados. Atendendo o longo espaço temporal os períodos serão
analisados em anteriores ao seculo 18 e posteriores ao mesmo por ser considerado
um período de transição em termos de desenvolvimento das técnicas de drenagem a
nível mundial.

Período anterior ao seculo 18.

Segundo Matos (2003) estimasse que a Cloaca Máxima de Roma pode ter sido a
primeira obra de grande dimensão construída de formas a melhorar a qualidade de
vida das populações, isto porque acredita-se a existência de um imposto específico
na altura que se destinava a manutenção da mesma. Segundo a origem cognitiva da
palavra o mesmo autor afirma que Cloaca é um termo latim que significa ¨Condutor
de drenagem urbana¨ podemos também analisar o termo dada a sua proveniência
como sendo o ¨coletor onde se reúnem e depois se transportam as águas efluentes¨

O mesmo autor ainda afirma que desde as épocas do império Romano até meados
dos séculos 17, não houve na europa quaisquer avanços relevantes no que diz
respeito as técnicas de drenagem urbanas. os primeiros trabalhos relevantes de
drenagem e de evacuação de águas residuais ocorreram nas principais cidades
Europeias, entre os Séculos 14 e 18.

(Tsutiya e sobrinho,1999) afirma que as referências existentes desta época colocam


a Cloaca de Roma construída no século 6 antes de cristo, como sendo a primeira rede
construída apos um planejamento em todo o mundo. Eles afirmam ainda que a Cloaca
19

era também um meio essencial para o controle e mitigação da malaria devido o seu
contributo para eliminação de focus de águas paradas.

Figura 1. Cloaca máxima de Roma.


Fonte: Roma Segreta.It,2013.
Disponível em
https://www.romasegreta.it/ripa/cloaca-maxima.html-cloaca

Eles afirmam ainda que ao longo do tempo com o crescimento populacional nas
grandes cidades Europeias como a Inglaterra, tornou-se necessário dar um destino
aos dejetos, isso porque até então eles eram acumulados num local oque causava
mau cheiro e criava focos de contaminação de doenças, pequenos sistemas como os
de Roma foram surgindo mais mesmo assim ainda havida uma certa resistência em
utiliza-los, tendo como praticas mais comum o acumulo dos dejetos nas ruas ate que
as próximas chuvas se encarregassem de os levar para o curso de água mais
próximos através dos sistemas pluviais.

Em Paris, a primeira vala coberta (colector enterrado) data de 1370 – essa


obra, a fossa de St. Opportune – conhecida como o colector de cintura
descarregava diretamente no rio Sena e operava como um interceptor de uma
das margens do rio. No entanto, o conceito de “colector enterrado” só foi
vulgarizado vários séculos mais tarde. Por exemplo, na cidade de Londres,
foi apenas planeado o primeiro colector enterrado no início do Século XVII,
enquanto a drenagem de extensas áreas da cidade de Paris se mantiveram,
até ao século XVIII, com “valas abertas de esgoto” matos pag 15
20

Período posterior ao século 18

Matos (2013) diz que o início do seculo 19 tem o crédito de ser a fase dos verdadeiros
avanços tecnológicos no que concerne a sistemas quer de distribuição. Constam do
leque de evoluções desta época a introdução de coletores circulares em betão com
autolimpeza, já que os anteriores eram feitos tradicionalmente em estruturas de
pedras ou tijolos. Os critérios de velocidade mínimos de 0,6 a 0,9 m s foram também
introduzidos nessa época em londres.

Desta feita podemos averiguar que a europa se posicionou como a pioneira no que
diz respeito a evolução das redes de drenagem visto que eles vem se desenvolvendo
neste sector a sensivelmente 2 seculos e as suas técnicas constituíram práticas de
sucesso inquestionável, servindo assim como uma grande escola para os outros
continentes e levando tais técnicas para outras nações e suas colonias.

Matos diz ainda que em Paris por volta dos séculos 18 e 19, foram desenvolvidas
obras com dimensões bastantes significativas relacionado a drenagem de águas
residuais. Mais só em 1880 Belgrand tomou iniciativas para a projecção e execução
de grandes colectores enterrados. Acredita-se também segundo alguns textos de
especialidades que Hamburgo na Alemanha, foi a primeira cidade a ser dotada de um
plano nacional de drenagem de águas residuais, e como sistema foi adotado o sistema
o unitário, em 1842, parte da cidade de Hamburgo encontrava-se destruída e havendo
necessidade da reconstrução um dos pontos chaves foi a projecção de um sistema, e
Lindley, um inglês residente na cidade, foi o encarregado para planear e projectar o
sistema. Alem dos novos colectores, também as vias e os parques da cidade foram
redesenhados, William Lindley não ficou so por ai, colaborando também, mais tarde,
para o projecto de drenagem de águas residuais da cidade de Sidney, na Austrália.Já
no Reino Unido, Joseph Bazalguette, foi em 1852, encarregue de planear e projectar
o sistema de drenagem da cidade de Londres, que decorreu entre 1859 e 1865.

Nos estados Unidos da America,em 1858, Sylverter Chesbough planeou e projectou,


de forma integrada, o primeiro sistema para a cidade de Chicago, já por volta dos anos
de 1870, Julius Adams, também projectou o sistema de Brooklyn, em Nova York,
espalhando desta forma aqueles que foram os critérios de dimensionamento para as
demais cidades americanas, de salientar que estes critérios foram estabelecidos
21

através de experiencias daquilo que já era feito no continente Europeu.Nos estados


Unidos da America,em 1858, Sylverter Chesbough planeou e projectou, de forma
integrada, o primeiro sistema para a cidade de Chicago, já por volta dos anos de 1870,
Julius Adams, também projectou o sistema de Brooklyn,em Nova York, espalhando
desta forma aqueles que foram os critérios de dimensionamento para as demais
cidades americanas, de salientar que estes critérios foram estabelecidos através de
experiencias daquilo que já era feito no continente Europeu.

Entre 1870 e 1880, Waning projecta, nos Estados Unidos da América, os


primeiros sistemas separativos – em Lenox, em Massachustets e Memphis,
no Tenesse. Neste último caso, o sucesso da intervenção foi devido à
coincidência de, ao mesmo tempo, se terem reduzido os efeitos de um surto
de febre amarela na região. É sobretudo na segunda metade do Século XIX
que se inicia a discussão, entre técnicos e cientistas, das vantagens e
inconvenientes de se recorrer ao sistema separativo, em vez de se recorrer
ao sistema unitário. (Matos pag. 16)

No que diz respeito a evolução das técnicas de drenagem em Angola, podemos


afirmar que devido ao longo período de colonização acabamos por muito tempo
ficando reféns daquilo que era o conhecimento do colono português, tendo como
consequência disso o facto de que os primeiros registos de redes de drenagens
existentes no pais datarem daquela época, tendo apos este período uma significante
regressão devido a guerra civil que assolou o pais, que impediu os governos de prestar
mais atenção nesta área a dada altura, agora nessa fase em que o pais tenta se
reerguer, ainda não são suficientes os investimentos nesta área pois as redes
existentes na sua maioria datam do período colonial e já apresentam grandes
debilidade devido a expansão urbana que cresce a cada dia e o aumento exponencial
da contribuição, aumento este que acaba fazendo com que a rede trabalhe para além
das suas capacidades, constituindo assim um problema muito sério e que carece de
uma atenção muito especial. Também são muitas as cidades que não dispõem de
uma rede coletora publica a disposição obrigando assim a população a utilizar como
alternativa as fossas sépticas como destino final dos seus dejetos.
22

2.1.1 Tipos de esgotos


Segundo a legislação portuguesa presentemente em vigor (Decreto Regulamentar nº
23/95, de 23 de Agosto - Regulamento Geral dos Sistemas Públicos e Prediais de
Distribuição de Água e de Drenagem de Águas Residuais) define, no artigo 115.º os
esgotos podem ser classificados nas seguintes categorias:

Águas residuais Domésticos

Provem de instalações sanitárias, cozinhas, e zonas de lavagem de roupa e


caracterizam-se por conterem quantidades apreciáveis de matéria orgânica, serem
facilmente biodegradáveis e manterem relativa constância das suas características ao
longo do tempo.

• esgoto fisiológico (águas imundas ou negras): parcela utilizada na


eliminação do material fecal, apresentando alto teor de matéria orgânica e
grande quantidade de micro-organismos, inclusive patogênicos;
• esgoto de cocção: resultante do processo de preparo e limpeza de alimentos
e utensílios (geram gorduras);
• esgoto profilático (águas servidas): proveniente da limpeza de corpo, roupas
e ambientes.
De acordo com (Bezerra, apoud Jordão & Pessôa 2009), as características dos
esgotos variam quantitativa e qualitativamente com a sua utilização. As
características dos esgotos domésticos podem ser divididas em físicas,
químicas e biológicas.
As principais características físicas do esgoto doméstico são:
Teor de matéria sólida: em termos de dimensionamento de
tratamento de esgoto essa é a característica física mais importante,
apesar de ser representada por apenas 0,08% do esgoto, sendo
99,92% do esgoto composto de água.
Temperatura: a temperatura do esgoto doméstico é, geralmente, um
pouco maior que a temperatura da água de distribuição, por ser
aquecida durante o uso da água, podendo ser bem maior devido a
contribuições industriais.
23

Odor: os odores existentes no esgoto doméstico são causados pelos


gases existentes nele. No entanto, os odores não ocorrem apenas no
esgoto em si, aparecem, também, em elementos de retenção de
sólidos nos tratamentos de esgotos, como grades e caixas de areia.
Cor: a cor do esgoto varia com o seu estado de decomposição. A cor
acinzentada é encontrada em esgoto fresco, a cor preta em esgoto
velho. Outras cores podem ser encontradas no esgoto, principalmente
devido a contribuições industriais.
Turbidez: a turbidez pode ser utilizada como forma de medir a
eficiência de um tratamento secundária, haja vista que pode ser
relacionada com a concentração de sólidos em suspensão.
As principais características químicas do esgoto doméstico podem ser
divididas em matéria orgânica e matéria inorgânica:
Matéria orgânica: são cerca de 70% dos sólidos no esgoto médio.
Estes compostos orgânicos são, geralmente, combinações de carbono,
hidrogênio e nitrogênio. Os grupos de substâncias orgânicas existentes nos
esgotos domésticos são constituídos, principalmente, de compostos de
proteína, carboidratos, gordura, óleo, uréia, surfatantes, fenóis e outros.
Matéria inorgânica: é formada, principalmente, por areia e substâncias
minerais dissolvidas. A areia dos esgotos domésticos é proveniente,
geralmente, da água de lavagem de ruas ou da água de origem pluvial que
penetra na rede de maneira indevida ou através das juntas das tubulações.
Para indicar as características biológicas de um esgoto doméstico é necessário
conhecer os organismos existentes no esgoto. Os principais organismos
encontrados nos esgotos domésticos são bactérias, fungos, protozoários,
vírus, algas e alguns grupos de plantas e animais.
Os indicadores comumente utilizados para indicar a existência de organismos
patogênicos nos esgotos são:
Coliformes totais: foram os primeiros a serem utilizados como indicadores. No
entanto, eles não são encontrados, apenas, nas fezes humana ou animal,
podendo ser encontrados, também, em vegetação;
Coliformes fecais: estas substâncias fazem parte de um subgrupo dos
coliformes totais, se diferenciando por resistirem a elevadas temperaturas,
24

vindo, ainda, em sua grande maioria de origem fecal, sendo bastante eficiente
como indicadores de organismos patogênicos;
Escherichia coli: é um tipo de coliforme fecal que se desenvolve apenas na
flora intestinal dos animais de sangue quente, sendo, então, um indicador
exclusivo de contaminação fecal;

Estreptococos fecais: são bactérias que estão associadas à flora intestinal


humana, sendo, então, indicativo de contaminação por fezes humanas;
Enterococos fecais: são bactérias que estão associadas à flora intestinal de
animais de sangue quente em geral, sendo, então, indicativo de contaminação
por fezes de animais de sangue quente, podendo ser humano ou não.

Águas residuais Industriais

Derivam da atividade industrial e caracterizam-se pela diversidade de compostos


físicos e químicos que contem, dependentes do tipo de processamento industrial e
ainda por apresentarem, em geral, grande variabilidade das suas características no
tempo.

Águas residuais Pluviais

Resultam da precipitação atmosférica caída diretamente no local ou em bacias


limítrofes contribuintes e apresentam geralmente menores quantidades de matéria
poluente, particularmente de origem orgânica.

Figura 2:Esquema de um sistema unitário (Gomes,2016)


25

2.1.2 Classificação dos sistemas de esgoto


Os sistemas de esgoto foram evoluindo consoante o passar dos tempos devido a
preocupação do homem com os impactos ambientais que dai originam, procurando
assim formas de mitigar cada vez mais o seu impacto sobre os corpos recetores.

Segundo a legislação portuguesa presentemente em vigor (Decreto Regulamentar nº


23/95, de 23 de Agosto - Regulamento Geral dos Sistemas Públicos e Prediais de
Distribuição de Água e de Drenagem de Águas Residuais) define, no artigo 116.º que
os sistemas são classificados da seguinte forma:

2.1.2.1 Sistema unitário


Constituídos por uma única rede de coletores onde são admitidos conjuntamente as
águas residuais domésticas, industriais e pluviais.

Segundo (Silva ,2016) este sistema tem como vantagem o facto de ser executado
com a implantação de uma única rede de tubulação, e tem vantagem sobre os outros
quando o lançamento do esgoto bruto é feito sem tratamento prévio aos corpos
recetores. Tem a inconveniência de ser um sistema com custos altos para a
implementação dado o volume de água que recebe, problemas de deposições de
material nos coletores por ocasião da estiagem e a sua estação de tratamento
normalmente trabalha com a capacidade máxima devido a contribuição das águas da
chuva. Para o seu dimensionamento deve ser prevista precipitações máximas com
período de recorrência entre os 10 e 20 anos.
26

Figura 3: Esquema de um sistema unitário (adaptado Brum e Wartchow,2014)

2.1.2.2 Sistema separador absoluto


Constituído por duas redes de coletores distintas, uma destinada as águas residuais
domésticas e industriais e outra destinada a drenagem de águas pluviais ou similares.

Segundo (Silva ,2016) mesmo autor diz ainda que neste sistema o custo de
implantação é menor em relação ao unitário devido a separação dos canais e partindo
do pressuposto que as águas pluviais não oferecem o mesmo perigo que o esgoto
domestico, por este fator elas são encaminhadas diretamente para os corpos
recetores, e as redes pluviais são desnecessárias em ruas onde apresentam uma
declividade favorável para o transporte das águas optando-se simplesmente no uso
de valetas para o transporte das mesmas. Já no que concerne a rede de esgoto,
normalmente tem o diâmetro mais reduzido devido a diminuição de contribuição, a
rede doméstica apresenta prioridade devido a problemas de saúde publica e a ETAR
apresenta uma capacidade mais reduzida, reduzindo assim significativamente os
custos.
27

Figura 4: Esquema de um sistema separativo (Silva,2016)

2.1.2.3 Sistema misto


Constituído pela conjugação dos dois tipos anteriores, em que parte da rede de
coletores funciona como sistema unitário e a outra restante como sistema separativo.

A rede é projetada para receber o esgoto sanitário e mais uma parcela das águas
pluviais. A coleta dessa parcela varia de um país para outro. Em alguns países colhe-
se apenas as águas dos telhados; em outros, um dispositivo colocado nas bocas de
lobo recolhe as águas das chuvas mínimas e limita a contribuição das chuvas de
grande intensidade.

2.1.2.4 Sistemas separativos ou pseudo-separativos.


São sistemas em que se admite, em condições excecionais, a ligação de águas
pluviais de pátios interiores ao coletor de águas residuais domésticas.

Segundo (BEZZERA,2011) na escolha de um sistema de rede é indispensável levar


em conta factores de caracter econômicos, técnicos e ambientais, que possam
justificar a escolha de um determinado tipo em detrimento dos outros, e estes factores
podem ser:

Fatores econômicos:

• O sistema unitário é compreendido de tubos de grandes diâmetros e,


consequentemente, de materiais mais caros, enquanto que o sistema
28

separador absoluto são tubos de menores diâmetros e em materiais mais


baratos, como o PVC.
• A implantação do sistema unitário deve ser feita de uma única vez,sendo
necessário o gasto de um grande sistema, enquanto que a implantação do
sistema separador absoluto pode ser feita uma implantação de cada vez,
podendo atender primeiramente, com gastos menores, a necessidade mais
crítica.
• No sistema unitário é obrigatório coleta de esgoto doméstico e pluvial em todas
as ruas por onde passa o sistema, enquanto que o sistema separador absoluto
algumas ruas, não necessitárias de sistemas de drenagem, podem ficar sem
esse sistema, economizando bastante.

Fatores técnicos:

• No sistema unitário, o esgoto coletado possui grande volume e encontra-


se bastante diluído, o que acarreta em difícil e mais caro tratamento do
esgoto, enquanto que no sistema separador absoluto o esgoto
doméstico coletado é em menor volume e, consequentemente, mais
barato de tratar, uma vez que a água coletada no sistema de drenagem
não necessitar de tratamento.
• No sistema unitário, por apresentar tubos de maiores diâmetros, as
obras são mais difíceis de executar e de maior duração, sendo o oposto
do que ocorre no sistema separador absoluto.
• Em alguns países, existem regiões onde as chuvas são frequentes em
apenas três meses no ano, havendo apenas contribuições de esgotos
domésticos na maior parte do ano. Isso geraria, num sistema unitário,
tubulações com diâmetros muito grandes e lâminas d’água muito
pequenas, o que necessitaria de declividades muito elevadas ou
causaria a existência de sólidos depositados nos coletores.
Fatores ambientais:
• A implantação de um sistema unitário geraria maior tempo de transtorno
a população devido ao tempo de implantação da obra sem nenhum
benefício à população quando comparado ao sistema separativo
absoluto.
29

• A implantação de um sistema unitário gera maior impacto ao solo, já que


os tubos assentados seriam de diâmetros grandes, além de gerar um
grande volume de material de entulho, alterando a configuração da
região.

2.1.3 Análise comparativa dos tipos de sistemas existentes


As tabelas a seguir apresentam de forma resumida a comparação entre os sistemas
de drenagens.

Tabela 2.1. Tipos de sistemas e seus objetivos.

TIPO DE SISTEMA Condições do Principais objetivos


escoamento
escoamento com São o tipo de coletores mais usual para o transporte
superfície livre de águas residuais, comerciais e industriais.
Vulgarmente transportam, também, águas de
infiltração e águas pluviais ou de lavagem,
decorrentes de ligações erróneas.

As condutas sob pressão, por bombagem, são


usadas quando se torna técnica e economicamente
inviável ou desfavorável o recurso a soluções
gravíticas de escoamento com superfície livre. No
caso dos sistemas simplificados (também
designados por sistemas de esgotos decantados ou
Separativos Domésticos Sob pressão sistemas de coletores de pequeno diâmetro) é
aceitável o transporte gravítico sob pressão.

Este tipo de sistema é pouco frequente, sendo o


transporte bifásico (ar e água) resultado da criação
de condições de sub-pressão nas condutas. É
utilizado, em regra, para o transporte de águas
residuais domésticas, excluindo contribuições
30

pluviais e de infiltração, e para populações servidas


de pequena dimensão.

Sob vácuo

Separativos Pluviais escoamento com Neste caso, a totalidade das águas residuais,
superfície livre incluindo águas pluviais, é transportada pelo
(excecionalmente sistema. Nos Estados Unidos da América, em
sob pressão) Portugal e em muitos países da Europa, é rara,
atualmente, a construção de “raiz” de coletores
unitários.
escoamento com Neste caso, e excepcionalmente, admite-se a
Pseudo Separativos superfície livre ligação de águas pluviais aos colectores domésticos
devido ao facto dessas águas não apresentam
condições de afluência gravítica a colectores
pluviais. É um tipo de sistema cuja construção de
“raiz” não é frequente em novas urbanizações e
empreendimentos.
Fonte: Adaptado de FUNASA (2007)

Tabela 2.2. Vantagens e desvantagens dos sistemas de esgoto.

TIPO DE SISTEMA Vantagens Desvantagens


O facto de se
transportarem efluentes Custos elevados de primeiro investimento,
Sistemas de natureza distinta por associados à necessidade de dispor de dois
convencionais, diferentes coletores, tipos de tubagens ou coletores.
separativos domésticos permite que sejam Necessidade de construção cuidadosa, em
e pluviais sujeitos a diferentes termos de ligações de ramais prediais.
condições de tratamento
e de destino final.
31

Economia de primeiro Descarga de excedentes poluídos em


investimento, decorrente tempo de chuva, com eventuais impactes
da construção de um negativos no Ambiente.
Sistemas convencionais único tipo de coletor que
unitários transporta a totalidade da Acréscimo de encargos de energia e de
água de meio urbano. exploração em instalações elevatórias e de
Simplicidade de projecto, tratamento, devido ao excedente de
no que respeita a ligação contribuição pluvial em tempo de chuva.
de ramais e colectores.
Esses sistemas podem
conduzir, nomeadamente
em zonas planas ou com Acréscimo em encargos de exploração e,
Sistemas não elevados níveis freáticos, conservação, em relação ao sistema
convencionais: de a economias gravítico convencional.
colector gravítico de significativas de primeiro
pequeno diâmetro ou investimento. No caso
sob vácuo dos sistemas sob vácuo, No caso do sistema sob vácuo, requerem-
redução do risco da se um grau de conhecimento e de
ocorrência de condições especialização superior, para a exploração.
de septicidade e controlo
da infiltração.

Fonte: Adaptado de FUNASA (2007)

2.1.4 Partes constituintes de um sistema de esgoto


Os sistemas de esgotos são em geral constituídos pelos seguintes elementos:

a) ramal predial: são os ramais que transportam os esgotos das casas até a rede
pública de coleta;

b) coletor de esgoto: recebem os esgotos das casas e outras edificações,


transportando-os aos coletores tronco;

c) coletor tronco: tubulação da rede coletora que recebe apenas contribuição de


esgoto de outros coletores;
32

d) intercetor: os interceptores correm nos fundos de vale margeando cursos d’água


ou canais. São responsáveis pelo transporte dos esgotos gerados na sub-bacia,

e) emissário: são similares aos interceptores, diferenciando apenas por não receber
contribuição ao longo do percurso;

f) poços de visita (PV): são câmaras cuja finalidade é permitir a inspeção e limpeza
da rede. Os locais mais indicados para sua instalação são:

• início da rede;

• nas mudanças de: (direção, declividade, diâmetro ou material), nas junções e em


trechos longos. Nos trechos longos a distância entre PVs deve ser limitada pelo
alcance dos equipamentos de desobstrução.

g) elevatória: quando as profundidades das tubulações tornam-se demasiadamente


elevadas, quer devido à baixa declividade do terreno, quer devido à necessidade de
se transpor uma elevação, torna-se necessário bombear os esgotos para um nível
mais elevado. A partir desse ponto, os esgotos podem voltar a fluir por gravidade.

h) estação de Tratamento de Esgotos (ETE): a finalidade da ETE é a de remover os


poluentes dos esgotos, os quais viriam causar uma deterioração da qualidade dos
cursos d’água. Um sistema de esgotamento sanitário só pode ser considerado
completo se incluir a etapa de tratamento. A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE),
pode dispor de alguns dos seguintes itens, ou todos eles:

• grade;

• desarenador;

• sedimentação primária;

• estabilização aeróbica;

• filtro biológico ou de percolação;

• lodos ativados;

• sedimentação secundária;

• digestor de lodo;
33

• secagem de lodo;

• desinfeção do efluente.

i)Disposição final: após o tratamento, os esgotos podem ser lançados ao corpo d’água
receptor ou, eventualmente, aplicados no solo. Em ambos os casos, há que se levar
em conta os poluentes eventualmente ainda presentes nos esgotos tratados,
especialmente organismos patogênicos e metais pesados. As tubulações que
transportam estes esgotos são também denominadas emissário, evitando que os
mesmos sejam lançados nos corpos d’água. Geralmente possuem diâmetro maiores
que o coletor tronco em função de maior vazão;

Figura 5: Esquema de um sistema unitário Fonte: adaptado Brum e Wartchow,2014

2.1.5 Normas técnicas e decretos


As principais normas técnicas usadas para elaboração e execução de projectos de
esgoto sanitário são:
• Brasileiras
NBR 7362 – Tubo de PVC rígido com junta elástica, coletor de esgoto;
NBR 7367 – Projeto e assentamento de tubulações de PVC rígido para
34

sistemas de esgoto sanitário;


NBR 8889 – Tubo de concreto simples, de seção circular, para esgoto
sanitário;
NBR 8890 – Tubo de concreto armado de seção circular para esgoto
sanitário;
NBR 9648 – Estudos de concepção de sistemas de esgoto sanitário;
NBR 9649 – Projeto de redes coletoras de esgoto sanitário;
NBR 9814 – Execução de rede coletora de esgoto sanitário;
NBR 12207 – Projeto de interceptores de esgoto sanitário;
NBR 12208 – Projeto de estações elevatórias de esgoto sanitário;
NBR 12209 – Projeto de estações de tratamento de esgoto sanitário;
NBR 13969 – Tanques sépticos - Unidades de tratamento
complementar e disposição final dos efluentes líquidos - Projeto,
construção e operação;
NBR 12266 – Projeto e execução de valas para assentamento de

tubulação de água, esgoto ou drenagem urbana;

NBR 13133 – Execução de levantamento topográfico;

NBR 9800 – Critérios para lançamento de efluentes líquidos industriais

no sistema coletor público de esgoto sanitário;

NBR 14486 – Sistemas enterrados para condução de esgoto sanitário– Projeto de


redes coletoras com tubos de PVC.

• Portuguesa

Decreto regulamentar número 23/95 de 23 de Agosto.

• Angola

DECRETO-PRESIDENCIAL nº 261/11, de 6 de Outubro


35

2.1.6 Importância das redes


Na elaboração e execução de uma rede de esgoto consegue-se atingir vários
objetivos de uma só vez, dentre os quais, (Netto,1991) nomeou os seguintes
objetivos fundamentais:

▪ Melhoria das condições higiénicas locais e consequente aumento da


produtividade.
▪ Conservação dos recursos naturais, das águas em especial.
▪ Coleta e afastamento rápido e seguro do esgoto sanitário.
▪ Eliminação de focos de contaminação e poluição, assim como de aspetos
estéticos desagradáveis.
▪ Proteção de comunidades e estabelecimentos de jusante.
▪ Preservação de áreas para lazer e praticas desportivas.

2.1.6.1 Desafios e estratégias para o futuro.


O objetivo do homem passa por melhorar cada vez mais as suas condições de vida,
e de certa forma arranjar maneiras de mitigar o máximo possível problemas de origem
natural que podem perigar aquilo que é o bem-estar social. E no que concerne a redes
de drenagem apesar das significativas evoluções ainda há muito para se melhorar de
forma a colocarmos os dejetos cada vez mais distantes do homem.

Segundo Matos (2013) Para o século 21 temos vários desafios a serem cumpridos
no que diz respeito a saneamento e dentre eles destacam-se alguns que tem afetado
e de que maneira muitas cidades causando grandes problemas para as populações e
não só:

a) controlo do risco de inundações em zonas urbanas;

b) o controlo dos efeitos da poluição de grande escala, decorrentes da descarga direta


de águas residuais (ou mistura de águas residuais e pluviais) para os meios recetores,
sem ser previamente sujeita a qualquer tratamento, por ocasião de precipitações,
mesmo pouco intensas;

c) o controlo do comportamento dos sistemas de drenagem, sobretudo os mais


extensos, em termos de impactos no meio ambiente.
36

Segundo (Albino 2013) os problemas de saneamento básico especificamente redes


de drenagem ainda é um calcanhar de Aquiles para muitas cidades a nível mundial, e
este problemas tem um impacto significativo no ambiente, pois a qualidade dos solos
e da água bem como a fauna e a flora dos meios recetores, naturais estão de certa
forma relacionadas com a qualidade dos sistemas de drenagem, estes impactos
afetam as localidades socioeconomicamente pois inviabilizam o crescimento das
localidades, diminuindo a produtividade naquelas atividades que dependem co
ecossistema natural, aumentam as taxas de mortalidade devido a doenças originadas
das constantes contaminações, diminuindo desta forma a os recursos humanos
envolvidos. Não menos importante o fenómeno de expansão urbana também é um
fator fundamental a ser analisado devido ao processo migratório natural na procura
de melhores condições, estima-se que até 2030 60% da população mundial estará a
viver nas zonas urbanas, e este fenómeno tem um impacto significativo nas
infraestruturas de saneamento, pois elas devem de certa forma estar preparadas para
responderem de forma positiva estes incrementos populacionais, sob pena de gerar
problemas muito graves, e um débil planeamento urbano pode de certa forma gerar
problemas nos sistemas de drenagem local, que dada a sua complexidade exigiram
esforços ainda maiores para os colmatar, pois a quando do aumento das zonas
pavimentadas, caso o acautelamento do escoamento não for previsto, obrigaria a
alteração do ciclo natural das águas, o aumento da impermeabilização dos solos
consequente diminuição da recarga dos lençóis freáticos, inundações, etc. Todo este
processo, quando não dimensionado, implantado e gerido de forma planeada e
sustentável, gera impactos como a erosão dos solos, aparecimento de ravinas,
inundações, baixo lençol freático, etc.

A solução deste problema não é de caracter imediata, pois não será tarefa fácil corrigir
problemas que datam de dezenas de anos, no que concerne a construções
desordenadas, e a défice e tímida implantação dos sistemas de drenagem. Torna-se
indispensável que os governos locais começam a tomar posição de formas, a corrigir
e prevenir problemas de expansões e construções desordenadas, e que se criem
condições para que redes de drenagem sejam executadas de modo a acompanharem
o máximo possível o ciclo hidrológico natural das localidades.
37

2.2 Sistemas alternativos para coleta e transporte de esgoto sanitário


De seguida serão apresentados alguns sistemas de esgotos utilizados como
alternativa ao sistema convencional.

Segundo (Tsutiya,1998) devido aos elevados custos de implementação das redes de


esgoto, alguns autores se dedicam no estudo e elaboração de sistemas alternativos
ao convencional, tendo como objectivo a diminuição dos custos e a concepcção de
sistemas cada vez mais práticos e eficazes. Dentre os sistemas se destacam os
seguintes:

sistema condominial de esgoto;

redes de coleta e transporte de esgoto decantado;

rede pressurizada e a vácuo;

rede coletara de baixa declividade com a utilização do dispositivo gerador de


descarga.

2.2.1 sistema condominial de esgoto


O sistema condominial foi idealizado e desenvolvido no Brasil, no estado do Rio
Grande do Norte, espalhando-se a posterior para outros estados brasileiros com
pequenas adaptações. Esse sistema é uma forma de concepção do traçado de redes,
onde a ideia central de sua implementação é a formação de condomínios em grupos
de usuários a nível de quadras urbana como unidade de esgotamento. A solução
assemelha-se à dos ramais multifamiliares de esgoto dos edifícios de apartamento,
sendo que no lugar de prédios e apartamentos tem-se quadras e casas.

o aspecto físico, o ramal condominial, constitui uma rede de tubulações que passa
quase sempre, entre os quintais no interior dos lotes, cortando-os, no sentido
transversal. Intercalada nesta rede interna à quadra, de pequena profundidade,
encontra-se em cada quintal, uma caixa de inspeção à qual se conectam as
instalações sanitárias prediais, independentemente, constituindo um ramal
multifamiliar. No aspecto social, resulta da formação de um condomínio, ou de
condomínios, na quadra urbana, abrangendo o conjunto dos usuários interligados pelo
ramal multifamiliar. O condomínio, informal, é alcançado através de pacto entre
vizinhos, o qual possibilita o assentamento dos ramais em lotes particulares e
38

disciplina a participação dos condôminos no desenvolvimento dos trabalhos. A


execução das obras é realizada pelos usuários do sistema com a ajuda do município
ou empresa de saneamento básico.

(Tsutiya, 1998) defende ainda que a formação de condomínios é fundamental e o


traçado da rede deve ser o mais racional possível de formas a se diminuírem
significativamente os custos e sem esquecer a relação custo/beneficio no que
concerne a segurança sanitária dos utentes e o seu alcance social. Para o traçado da
rede pouco importa se a mesma passa pelos quintais,jardins,calçadas ou pela rua,
desde que seja o mais racional segundos as condições impostas no local, neste tipo
de sistema, o traçado é discutido com os utentes do condomínio de forma a se permitir
que o traçado final tenha a aprovação de todos os beneficiários e de forma a que quem
quiser mudanças no traçado padrão possa por si assumir os custos que advêm desta
mudança. A manutenção do sistema é de inteira responsabilidade do condómino,
cada condomínio se responsabiliza pela parcela da rede que estiver em seu lote.

Com este tipo de sistema se reduz também significativamente o número de ligações


nos colectores tronco.

Figura 6.Representação de um sistema condominal Fonte: Adaptado de (Tsutiya, 1998)

Características técnicas
diâmetro da ligação ao ramal condominial: 100mm, com declividade mínima de 1%;
diâmetro mínimo do ramal condominial: 100 mm, com declividade mínima de 0,006
mim;
39

utilização das caixas de inspeção no interior das quadras, com recobrimento mínimo
de 0,30 m.
As principais vantagens do sistema condominial são:
menor extensão das ligações prediais e.coletores públicos;
baixo custo de construção dos coletores, cerca de 57,5% mais econômicos que os
sistemas convencionais (Azevedo Netto - 1992);
. custo menor de operação;
maior participação dos usuários.
Como principais desvantagens, destaca-se:
uso indevido dos coletores de esgoto, tais como, lançamento de águas pluviais e
resíduos sólidos urbanos;
menor atenção na operação e manutenção dos coletores;
coletores assentados em lotes particulares, podendo haver dificuldades na inspeção,
operação e manutenção pelas empresas que operam o sistema;
o êxito desse sistema depende fundamentalmente da atitude dos usuários, sendo
imprescindíveis uma boa comunicação, explicação, persuasão e treinamento.
2.2.2 Redes de coleta e transporte de esgoto decantado
(SOBRINHO,1988) Diz que esse sistema foi utilizado inicialmente na cidade de
Brotas, no Ceará, e foi projetado pelo Prof. Szachna Elias Cynamon da Faculdade de
Engenharia da UERJ, e apresenta as seguintes diferenças em relação ao sistema
convencional:

Utilização de tanques sépticos domiciliares especiais, com dispositivo para a secagem


do lodo;

Substituição de poços de visitas por tubos de inspeção e limpeza;

Utilização de tubos plásticos com diâmetro mínimo de 40 mm;

Velocidade mínima na rede de 0,05 m/s;

A tubulação pode funcionar a seção plena;

tratamento utilizando um filtro anaeróbio segundo esquema concebido pelo autor.

Segundo (Tsutiya,1988), Cynamon, concluiu que o sistema de Brotas teve um custo


de 1/5 menor do que teria o sistema convencional. O autor considera que esses
40

critérios podem ser muito úteis para pequenas comunidades, lembrando que Brotas
tinha cerca de 2 000 habitantes e a taxa de consumo de água adotado no projeto foi
de 100 l/hab.dia. Com esses critérios, a taxa de infiltração foi praticamente
desprezada.

2.2.3 Redes pressurizadas e a vácuo


Para os casos em que a topografia é adequada, as tubulações de esgotos por
gravidade, são e continuarão sendo, as mais utilizadas. Porém, onde a topografia é
desfavorável, lençol freático alto, solo estruturalmente instável ou rochoso, podem ser
necessários estações elevatórias e linhas de recalque. Para se solucionar tais
dificuldades, foram desenvolvidas, como alternativas, redes pressurizadas e a vácuo.
Devido ao fato de esses sistemas estarem sendo, continuamente melhorados,
aconselha-se a obtenção de dados operacionais, pesquisa bibliográfica e consulta aos
fabricantes de equipamentos, na ocasião da implantação do sistema.

Redes Pressurizadas
Na maioria dos sistemas de redes pressurizadas, os esgotos dos estabelecimentos
são coletados individualmente por tubulações funcionando por gravidade e são
lançados em tanques, que serviram como pequenos reservatórios. Do tanque, o
esgoto é lançado periodicamente a uma tubulação principal, trabalhando sob pressão,
por meio de bomba trituradora, capaz de triturar os sólidos presentes no esgoto. Um
tanque e uma bomba são necessários a cada ponto de lançamento na tubulação sob
pressão. Para se reduzir custos de investimento e de operação, um único conjunto,
tanque e bomba, poderá servir vários estabelecimentos. Da tubulação principal, sob
pressão, o esgoto pode ser lançado em coletor por gravidade ou em estação de
tratamento de esgoto.
41

Figura 7. Esquema de uma rede Pressurizada Fonte: Adaptado de (Tsutiya, 1998)

Redes a vácuo
Segundo (CORREIA,2007) Adrian Lemarq foi o inventor do sistema a Vácuo e o
patenteou em 1888 nos Estados Unidos, mais só em 1960 foi descoberta a sua
aplicação comercial. Este sistema tem tido um crescimento excepcional nos últimos
30 anos, e tem sido muito utilizado nos Estados Unidos.

Segundo (Tsutiya,1988), nesse sistema, o esgoto de cada economia é encaminhado,


por gravidade, ao injetor de vácuo (válvula de vácuo especialmente projetado). A
válvula sela a linha que se liga a tubulação principal permitindo que se mantenha o
nível de vácuo requerido. Quando uma quantidade de esgoto se acumula a montante
da válvula, a mesma é programada para a abertura e fechamento depois da entrada
do líquido acumulado. O vácuo no sistema é mantido através de uma estação de
bombeamento a vácuo. Essa estação pode estar localizada próximo à estação de
tratamento de esgoto ou qualquer outro ponto de lançamento.
42

Figura 8.Esquema de um sistema de esgoto a Vácuo Fonte: Adaptado de (Tsutiya, 1998)

2.3 Principais doenças originadas pelas águas contaminadas


A problemática das doenças relacionadas a falta de saneamento tem sido bastante
evidente em países em vias de desenvolvimento, causando assim elevados prejuízos
nos cofres dos estados devido a questões relacionadas com o a aquisição de
medicamentos e realização de campanhas para o combate destas doenças. O grande
índice de mortalidade também é preocupante visto que a maior parte da população
afetada por estes problemas é de renda baixa e depende muito daquilo que são os
incentivos do governo para o combate das doenças. Desta feita um melhor controle
dos dejetos humanos é de extrema importância devido aos efeitos devastadores que
podem ter sobre as populações e por se tratar de um problema de contaminação
ambiental.

Segundo (Santos,2006) Doenças de Transmissão Hídrica são aquelas em que a água


atua como veículo de agentes infecciosos. Os microrganismos patogênicos atingem a
água através de dejectos de pessoas ou animais infectados, causando problemas
principalmente no aparelho intestinal do homem. Essas doenças podem ser causadas
por bactérias, fungos, vírus, protozoários e helmintos.

Ele afirma ainda que a maioria das perturbações associadas a estes microrganismos
são de gravidade moderada e muitas das vezes assumem a forma de gastroenterite
com diarreia, dores abdominais ou vómitos, sendo estas perturbações normalmente
de curta duração podem afectar pequenos grupos de indivíduos ou comunidades
43

inteiras, de acordo com o agente patogénico e a sua quantidade existente em água,


dentre as populações os mais propensos a serem afectados por estes agentes, são
as crianças, os idosos e os imunodeficientes ou os doentes.

Segundo a FUNASA (2007) dos dejetos humanos podem ser transmitidos alguns
germes patogênicos de diversas doenças, dentre as quais febre tifóide, paratifóide,
diarreias infecciosas, amebíase, ancilostomíase, esquistossomose, teníase,
ascaridíase, etc. Deste modo é imprescindível o afastamento rigoroso e eficaz de
qualquer possibilidade de contacto com:

▪ homem;
▪ águas de abastecimento;
▪ vetores (moscas, baratas);
▪ alimentos.

O mesmo autor cita ainda os objetivos nos quais se desejam alcançar em termos
sanitários e económicos com o devido controle dos dejetos humanos.

As soluções a serem adotadas terão os seguintes objetivos em termos sanitários:

▪ evitar a poluição do solo e dos mananciais de abastecimento de água;


▪ evitar o contato de vetores com as fezes;
▪ propiciar a promoção de novos hábitos higiênicos na população;
▪ promover o conforto e atender ao senso estético.

As soluções a serem adotadas terão os seguintes objetivos em termos económicos:

▪ aumento da vida média do homem, pela redução da mortalidade em


consequência da redução dos casos de doenças;
▪ diminuição das despesas com o tratamento de doenças evitáveis;
▪ redução do custo do tratamento da água de abastecimento, pela prevenção da
poluição dos mananciais;
▪ controle da poluição das praias e dos locais de recreação com o objetivo de
promover o turismo;
▪ preservação da fauna aquática, especialmente os criadouros de peixes.
44

Os impactos ambientais decorrentes da poluição por esgoto sanitário.

Segundo (Dias et al, 2012) os sistemas de esgotos devido o transporte de matérias


vivas que desenvolvem vários processos metabólicos, gerando gases combustíveis e
mórbidos podem ser considerados como sendo um sistema vivo, e desta feita gera
vários problemas de poluição e consequentes impactos ambientais.

os impactos ambientais decorrentes da poluição por esgoto sanitário são:

▪ No ambiente aquático

aporte de carga orgânica, coliformes fecais, coliformes totais, nutrientes (N, P),
resíduos sólidos e óleos e graxas;

alteração da demanda bioquímica de oxigênio (DBO), oxigênio dissolvido (OD), cor,


turbidez, sólidos em suspensão, taxa de sedimentação e pH;

contaminação por organismos patogênicos e metais pesados;

presença de substâncias químicas não biodegradáveis, gás sulfídrico e gases


orgânicos;

proliferação de vetores de doenças;

ocorrência de eutrofização artificial;

Formação de escuma e lodo.

▪ No ambiente edáfico

Contaminação por organismos patogênicos, metais pesados;

Ocorrência de erosão;

Extravasamento nas vias públicas.

▪ No ambiente aéreo

Ocorrência de odores desagradáveis.

▪ No meio biótico

Morte e deslocamento da fauna;

Proliferação de vetores e de agentes patogênicos;


45

Alteração na vegetação;

Proliferação de algas.

▪ Nos ecossistemas

Alteração da biodiversidade;

Interferência na cadeia alimentar;

Alteração dos equilíbrios dos ecossistemas.

2.3.1 Conceito de contaminação

Figura 9: Esquema do processo de contaminação (FUNASA,2007)

No esquema acima que foi proposto e idealizado pela FUNASA, é possível ter noção
das diversas etapas sequenciais que um organismo patogénico, oriundo de fezes a
céu abeto pode passar até chegar novamente ao ser humano, daí a preocupação em
colocar cada vez mais e com mais segurança os dejetos os mais distante possível do
homem tendo em conta os danos que o mesmo causa na saúde humana.
46

2.3.2 Doenças relacionadas com o esgoto


De seguida é apresentado um quadro com as principais doenças relacionadas com o
esgoto segundo FUNASA (2007).

Tabela 2.3. Riscos relacionados por contaminação de fezes.

Doenças Agente patogenico transmissão medidas

Bactéria Almonella typhi e


Febre tifoide e paratyphi
paratifoide. Vibrio cholerae O1 e Abastecimento
Cólera O139 de água
Diarréia aguda. Shigella sp. Escherichia (implantação
coli, Campylobacter e e/ou
Yersinia enterocolitica ampliação de
sistema)
Vírus Vírus da hepatite A
Hepatite A e E Vírus da poliomielite
Poliomielite Vírus Norwalk Imunização
Diarréia aguda Rotavírus Fecal-oral em Qualidade da
Astrovirus relação a água/desinfec
Adenovírus água ção
Calicivirus

Protozoário Entamoeba histolytica Instalações


Diarréia aguda Giardia lamblia sanitárias
Toxoplasmose Cryptosporidium spp. (implantação e
Balantidium coli manutenção)
Toxoplasma gondi
Helmintos
Ascaridíase
Tricuríase Ascaris lumbricoides
Ancilostomíase Trichuris trichiura
47

Ancylostoma duodenale Fecal-oral em Esgotamento


relação ao sanitário
solo (implantação
(geohelmintos e/ou
e) ampliação de
sistema)

Esquistossomose Schistosoma mansoni Contato da


pele com
água
contaminada
Teníase Taenia solium Ingestão de
Taenia saginata carne
malcozida
Cistecercose Taenia solium Fecal-oral, em
relação a Higiene dos
água e alimentos
alimentos
contaminados
Fonte: adaptado de FUNASA,2007.

De seguida serão apresentadas de forma sintetizadas as doenças mais regulares.

Febre tifoide e paratifoide.

Segundo (Departamento de Vigilância Epidemiológica,2014) A febre tifóide é uma


doença bacteriana aguda de distribuição mundial. É causada pela Salmonella entérica
sorotipo Typhi. Está associada a baixos níveis socioeconômicos, relacionando-se,
principalmente, com precárias condições de saneamento e de higiene pessoal e
ambiental. A sintomatologia clínica clássica consiste em febre alta, cefaléia, mal-estar
geral, dor abdominal, falta de apetite, bradicardia relativa (dissociação pulso-
temperatura), esplenomegalia, manchas rosadas no tronco (roséolas tíficas),
obstipação intestinal ou diarréia e tosse seca. Atualmente, o quadro clínico completo
é de observação rara, sendo mais freqüente um quadro em que a febre é a
manifestação mais expressiva, acompanhada por alguns dos demais sinais e
48

sintomas citados. Nas crianças, o quadro clínico é menos grave do que nos adultos,
e a diarréia é mais freqüente. Como a doença tem uma evolução gradual, embora seja
uma doença aguda, a pessoa afetada é muitas vezes medicada com antimicrobianos,
simplesmente por estar apresentando uma febre de etiologia não conhecida. Dessa
forma, o quadro clínico não se apresenta claro e a doença deixa de ser diagnosticada
precocemente.

São possíveis duas formas de transmissão da febre tifóide:

• Direta: pelo contato direto com as mãos do doente ou portador.

• Indireta: guarda estreita relação com a água (sua distribuição e utilização) e


alimentos, que podem ser contaminados com fezes ou urina de doente ou portador. A
contaminação dos alimentos é verificada, geralmente, pela manipulação feita por
portadores ou oligossintomáticos, sendo a febre tifóide conhecida, por isso, como a
“doença das mãos sujas”. Os legumes irrigados com água contaminada, produtos do
mar malcozidos ou crus (moluscos e crustáceos), leite e derivados não pasteurizados,
produtos congelados e enlatados podem veicular salmonelas. Raramente as moscas
participam da transmissão. O congelamento não destrói a bactéria, e sorvetes, por
exemplo, podem ser veículos de transmissão. Todavia, só uma grande concentração
de bactérias é que determinará a possibilidade de infecção. Por isso, não se costuma
verificar surtos de febre tifóide após enchentes, quando provavelmente há maior
diluição de bactérias no meio hídrico, com menor possibilidade de ingestão de
salmonelas em número suficiente para causar a doença. A carga bacteriana
infectante, experimentalmente estimada, é 106 a 109 bactérias ingeridas. Infecções
subclínicas podem ocorrer com a ingestão de um número bem menor de bactérias.

Cólera

Segundo o (Ministério da saúde do Brasil ,2010) a cólera (CID A00.9) é uma doença
infecciosa intestinal aguda causada pela enterotoxina do Vibrio cholerae O1 ou O139.
É de transmissão predominantemente hídrica. As manifestações clínicas ocorrem de
formas variadas, desde infecções inaparentes ou assintomáticas até casos graves
com diarreia profusa, podendo assinalar desidratação rápida, acidose e colapso
circulatório, devido a grandes perdas de água e eletrólitos corporais em poucas horas,
49

caso tais perdas não sejam restabelecidas de forma imediata. Os quadros leves e as
infecções assintomáticas são mais frequentes do que as formas graves.

A transmissão faz-se, primariamente, mediante a ingestão de água contaminada com


as fezes ou os vômitos de pacientes ou pelas fezes de portadores; e,
secundariamente, pela ingestão de alimentos que entraram em contato com a água
contaminada, por mãos contaminadas de doentes, de portadores e de manipuladores
dos produtos, bem como pelas moscas, além do consumo de gelo fabricado com água
contaminada. Peixes, crustáceos e bivalves, marinhos ou dulcícolas, provenientes de
águas contaminadas, comidos crus ou malcozidos, têm sido responsabilizados por
epidemias e surtos isolados em vários países.

São fatores essenciais para a disseminação da doença as condições defi cientes de


saneamento e, em particular, a falta de água potável em quantidade sufi ciente para
atender às necessidades individuais e coletivas. Geralmente, a cólera é confi nada
aos grupos de baixo nível socioeconômico. Mesmo em epidemias severas, a taxa de
ataque da doença raramente excede a 2%.

Diarréia aguda

Segundo (Almeida,2020) Define-se diarreia como a alteração do trânsito intestinal


com aumento do número e diminuição da consistência das dejeções, relativamente
ao padrão habitual. Na diarreia aguda a duração habitual é até sete dias, passando a
denominar-se de diarreia crónica quando se prolonga por mais de duas semanas de
evolução. Entre os sete dias e as duas semanas designa-se por diarreia prolongada.
Nas crianças é um motivo muito frequente de consulta.

A causa mais frequente de diarreia aguda é a Gastroenterite Aguda infecciosa (GEA),


sendo a segunda doença aguda mais frequente, depois do catarro respiratório
superior, sobretudo em crianças em idade pré-escolar. Nos países sub-desenvolvidos
é ainda uma causa importante de morbilidade e mortalidade infantil. A GEA pode ser
causada por vírus, bactérias ou parasitas, é geralmente um processo autolimitado,
exceto na infeção parasitária que frequentemente se prolonga na ausência de
tratamento. Nos países industrializados a etiologia virusal é a mais comum em todas
as idades. Os agentes mais frequentes são o rotavirus, adenovirus e norovirus. A via
de transmissão das gastroenterites infecciosas é a fecal-oral. Alguns adenovirus
50

entéricos transmitem-se também por via aérea. Os gérmens que são infeciosos com
inóculos pequenos (Rotavirus, Escherichia coli, Shigella, Giardia lamblia, Amoeba)
podem ser transmitidos de pessoa a pessoa.

Hepatite A

Segundo o (Departamento de Vigilância Epidemiológica brasileiro,2005) a Hepatite A


é uma doença infecciosa viral, contagiosa, causada pelo vírus A (HAV) e também
conhecida como “hepatite infecciosa”, “hepatite epidêmica”, ou “hepatite de período
de incubação curto”. O agente etiológico é um pequeno vírus RNA, membro da família
Picornaviridae.

A hepatite pelo HAV apresenta distribuição mundial. A principal via de contágio é a


fecal-oral, por contato inter-humano ou por água e alimentos contaminados. A
disseminação está relacionada às condições de saneamento básico, nível
socioeconômico da população, grau de educação sanitária e condições de higiene da
população. Em regiões menos desenvolvidas, as pessoas são expostas ao HAV em
idades precoces, apresentando formas subclínicas ou anictéricas em crianças em
idade pré-escolar. A transmissão poderá ocorrer 15 dias antes dos sintomas até sete
dias após o início da icterícia.

Hepatite E

Segundo o (Departamento de Vigilância Epidemiológica brasileiro,2005) a Hepatite E


é uma doença infecciosa viral, contagiosa, causada pelo vírus E (HEV) do tipo RNA,
classificado como pertencente à família Caliciviridae.

A hepatite pelo HEV ocorre tanto sob a forma epidêmica, como de forma esporádica,
em áreas endêmicas de países em desenvolvimento. A via de transmissão fecal-oral
favorece a disseminação da infecção nos países em desenvolvimento, onde a
contaminação dos reservatórios de água mantém a cadeia de transmissão da doença.
A transmissão interpessoal não é comum. Em alguns casos os fatores de risco não
são identificados.

Pólio

A poliomielite é uma doença infecto contagiosa causada por poliovírus. A doença


afecta unicamente os humanos, tendo maior incidência em crianças.
51

O vírus entra no corpo pela boca e tem especial afinidade com células nervosas, onde
se replica, provocando a morte celular. Isto a ocorrência de paralisia flácida aguda,
especialmente nas pernas, levando também, por vezes a imobilização dos músculos
respiratórios, podendo provocar a morte.

O vírus da Poliomielite pertence a família Picornaviridae, ao género enterovirus. Este


género refere-se ao conjunto dos vírus que habitam transitoriamente o intestino
humano.

O reservatório destes vírus é exclusivamente o ser humano, embora outros primatas


sejam susceptiveis á infecção e a doença.

A transmissão ocorre frequentemente por contacto directo pessoa, pessoa, o


poliovírus entra no individuo pela boca fazendo-se a transmissão pelas vias fecal-oral
ou oral -oral. O vírus pode também ser transmitido pela água, permanecendo em
águas de esgoto durante meses, por alimentos contaminados ou pelas moscas, que
podem transmitir passivamente os vírus das fezes para os alimentos.

2.4 Legislação angolana sobre saneamento e dados do censo


O governo angolano demostrou não estar alheio aos problemas de saneamento
básico especificamente falando de redes de saneamento quando no seu decreto 83
/14 publicou os seguintes artigos:

Segundo o diário da república no regulamento de abastecimento público de água e de


saneamento de águas residuais, no seu capítulo 2 e artigo número 5.

Os sistemas de abastecimento público de água e de saneamento de águas residuais


visam fundamentalmente:

a) Contribuir para a promoção da qualidade de vida da população e redução da


pobreza;

b) Contribuir para a promoção do desenvolvimento socioeconómico, industrial e


preservação ambiental;

e) Contribuir para o controlo e prevenção de doenças;

d) Propiciar o conforto e bem-estar da população; e) Facilitar a limpeza e higiene


públicas;
52

f) Controlar as erosões;

g) Proteger e preservar obras, edificações, instalações, redes viárias e outras infra-


estruturas;

h) Contribuir para o trânsito, segurança e comodidade de peões e veículos.

2. Para efeitos do número anterior, todas as pessoas tisicas ou jurídicas estão


vinculadas ao dever de ligação dos respetivos imóveis aos sistemas de abastecimento
público de água e de saneamento de águas residuais, sempre que estes existam nas
respetivas circunscrições administrativas.

Já no artigo 6(Componentes do sistema), ele determina a sua alínea b que:

Constituem componentes dos sistemas no sistema de saneamento de águas


residuais:

▪ A rede de esgotos;
▪ As estações de tratamento;
▪ Os sumidouros.

Segundo o Censo geral da república de 2014 a densidade demográfica do pais


corresponde a 20,7 pessoas por quilometro quadrado, mas em luanda a densidade é
de 368 habitantes por quilometro quadrado.

Já no que diz respeito a redes de esgotos é possível ver ainda um desenvolvimento


muito apático segundo os dados recolhidos a percentagem de agregados a utilizarem
redes de esgoto em comparação com os que usam fossa séptica ainda tem uma
percentagem abismal, sem o embargo de saber ainda que há muitas famílias a fazer
as necessidades fisiológicas em capins.
53

Figura 10: Agregados familiares por área de residência, segundo o uso de instalações sanitárias
apropriadas. Fonte: Dados do Censo geral da república de 2014

Segundo a UNICEF os resultados obtidos no Censo geral da república de 2014


mostraram que apesar do investimento do governo angolano em infraestruturas, os
níveis de cobertura de Saneamento não melhoraram ao longo dos últimos 8 anos. E
este fracasso torna cada vez mais inalcançáveis as metas do governo para este
sector. Só para se ter noção o peso do orçamento do sector de água e saneamento
no OGE 2016 foi de 2,1% dos quais 1,9% alocados para a água e 0,2% para o
saneamento, números muito abaixo dos 3,5% estabelecidos internacionalmente para
que os países em desenvolvimento poderem atingir níveis de desenvolvimento
sustentável. E ainda tem a problemática de que a maior parte deste orçamento é
direcionado para as áreas urbanas oque constitui um grande problema visto que a
maior parte da população sem acesso a saneamento e água potável encontra-se nas
zonas rurais.
54

Figura 11: Percentagem de agregados familiares com acesso a saneamento básico no período 2006-
2014 e objetivos do Governo para 2017. Fonte: Dados da UNICEF 2016

2.5 ETAR

Com o objectivo de mitigar o impacto das águas residuais sobre os corpos colectores,
o tratamento e destino final de águas residuais conjuntamente com a drenagem e
colecta, um serviço de importância vital em diversos domínios, nomeadamente no
sanitário e ambiental.

Em várias partes do mundo já é legislativo que as redes de esgotos estejam


associadas a uma ETAR de formas a se dar um tratamento primário aos dejetos antes
da deposição nos locais ultimos. Em Angola o decreto responsável por estabelecer os
parâmetros de deposição de águas residuais nos corpos colectores é o DECRETO-
PRESIDENCIAL nº 261/11, de 6 de Outubro – Estabelece normas e critérios de
qualidade com a finalidade de proteger o meio aquático e melhorar a qualidade das
águas em função dos seus principais usos (consumo humano - Anexos I e III, suporte
da vida aquícola, balneares e rega). São, ainda, definidas as normas de descarga de
águas residuais, valores limite de emissão (VLE) - Anexo VI. O mesmo decreto pode
ser consultado nos anexos.
55

Segundo (Coelho,2008) os primeiros vestígios de tratamento sistemático de águas


residuais, remontam do final do século 19 e princípio do Século 20, tendo como
impulso o desenvolvimento da Teoria do Germe nos meados do século 19, marcando
assim uma nova era sanitária. Já nos últimos 40 anos, houve um aumento exponencial
no número de estações de tratamento de esgoto, isto porque muitos paises
começaram a obrigar por lei esta componente nos sistemas, de formas a se mitigar
os impactos ambientes que advinham da deposição do esgoto bruto nos corpos
colectores.

Segundo (Helena do Monte et al,2016) Com o aparecimento da era da revolução


industrial, a partir do século 19, houve um grande movimento migratório dos
camponeses para as grandes cidades, de forma a trabalharem nas variadas indústrias
que começavam a existir na altura, este drástico aumento populacional, associado ao
aparecimento dos efluentes industriais, acarretaram consigo diversos problemas de
saúde publica na velha Europa. Constatou-se assim que a saúde publica estava
gravemente ameaçada dado ao índice de contaminação das águas de abastecimento
publico, e parte desta contaminação era feita através de esgoto não tratado, que eram
depositados nos corpos colectores, perante esta situação, a recolha e o tratamento
das águas passou a ser um problema a ser levado em conta pelas autoridades.

O tratamento das águas residuais é efectuado para evitar condições que perigam o
equilíbrio do meio ambiente bem como o desenvolvimento económico de uma
localidade tais como:

• Risco para a saúde pública;


• Poluição dos recursos hídricos para os quais são descarregados os efluentes,
nomeadamente rede;
• hidrográfica, lagos e o mar;
• Danos a flora e a fauna aquática;
• Inviabilidade nas actividades económicas, sociais e de recreio normais como
consequência de contaminação ou desoxigenação;
• Poluição do ambiente em geral, sob a forma de odores desagradáveis ou
paisagem alterada;
• contaminação das águas subterrâneas;
56

Os benefícios do tratamento de águas residuais são, portanto:


• O ambiente circundante aos meios hídricos fica mais seguro e agradável
para qualquer actividade humana;
• Melhoria da saúde pública;
• Actividades económicas são beneficiadas;
• A transferência do oxigénio da atmosfera para a massa líquida é mais
eficiente, favorecendo a sobrevivência da vida aquática, essencialmente
no caso de remoção de óleos e gorduras.

Segundo (Rui Luizini,2012) a selecção do sistema de tratamento de águas residuais


deve atender a diversos factores, nomeadamente:

• Qualidade do afluente bruto;


• Qualidade pretendida do efluente final;
• Custos do investimento;
• Custos de exploração;
• Custos de transporte (sistemas de drenagem e bombagem de águas residuais).

De acordo com (Bruno Coelho,2008), os métodos de tratamento em que a aplicação


de forças físicas é predominante são denominados de operações unitárias. Os
métodos de tratamento em que a remoção de contaminantes é feita por processos
químicos e biológicos são conhecidos como processos unitários.

Actualmente operações e processos unitários estão agrupados de forma a proporcionar um


tratamento primário, secundário e terciário do afluente. No tratamento primário, processos
físicos como a gradagem e sedimentação são usados para remoção de sólidos e resíduos. No
tratamento secundário usam-se processos químicos e biológicos para a remoção da matéria
orgânica. No tratamento terciário combinações adicionais de processos e operações unitárias
são usadas para a remoção de outros constituintes como azoto e fósforo. (coelho, pag.4)
57

ESTUDO DE CASO
3.1 Fluxograma do algoritmo de dimensionamento da rede de esgoto

Figura 12.Fluxograma de dimensionamento da rede.

3.1.1 Contextualização da área de intervenção

Benfica é uma cidade e comuna angolana que se localiza na província de Luanda,


pertencente ao município de Talatona.

A Comuna do Benfica tem uma superfície estimada em 275𝐾𝑚2 , com cerca de 10.025
habitantes, distribuídos por 23 bairros e 6 povoações. Esta é uma das poucas
comunas com dois mercados formais nomeadamente Kifica e Artesanato, além de ter
também um dos principais cemitérios do Município, o Cemitério do Benfica.
Coordenadas: 9°2'31"S 13°10'51"E

Anteriormente foi um bairro e comuna do distrito da Samba.


58

Figura 13. Localização geográfica do distrito do Benfica Fonte: Google Heart.

A zona da Clemencia é uma zonha caracterizada por ser costeira e apresentar uma
superficie acidentada, inicialmente projectada para ser um bairro de alto padrão
devido as restrições existentes na tipologia de construções,os arruamentos
encontram-se bem estruturados,o que facilita a projecção de infraestruturas de apoio,
é uma zona em construção , e que ocupa uma área de 56 ha.

Figura 14. Delimitação da zona de estudo. Fonte: Google Heart.

A figura 13 demostra os contornos da zona de intervenção através de uma imagem


extraída do Google Heart, é sobre esta zona que será implantada a rede de esgoto,
é possível observar o complexo alinhamento das ruas, não obedecendo a um
59

alinhamento convencional, o que acasalando com a irregularidade do terreno tornou-


se num impecílio muito grande na elaboração do traçado.

Na figura 14, é possivel ter noção dos contornos do terreno atraves das curvas de
níveis extraidas do Global Mapper com o auxilio de uma imagem do local extraida do
Google Heart.

Figura 15.Caracterização topográfica do terreno. Fonte: Global Mapper

Figura 16. Caracterização topográfica e volumetria da zona de estudo.


60

Figura 17. Comportamento da superfície do terreno.

Figura 18.Comportamento da superfície do terreno.

Podemos observar através das figuras 15 foi elaborado um modelo 3D da zona


através do Global Mapper, sendo possível desta forma a obtenção das curvas de
níveis do terreno. Dada a dificuldade de extração das curvas no Global, foi necessário
recorrer ao Civil 3D para a extração das curvas da zona em estudo, e posterior estudo
do comportamento do terreno segundo as curvas obtidas, de formas a se analisar o
melhor encaminhamento das águas. A fim de se verificar os impactos de possíveis
erros de precisão nos dados obtidos através do Google Heart, foram feitas visitas
exaustivas na zona de formas a fazer a confirmação da topografia local, desta feita,
concluiu-se que os pequenos erros não afectam os critérios de dimensionamento visto
que em um projecto de drenagem pretende-se medir declividades de formas a se obter
traçados que facilitem a rede a trabalhar simplesmente por gravidade quando
possível.
61

As figuras 16,17 e 18, apresentam a volumetria do terreno em diferentes ângulos de


visualização, extraídas do civil 3D, permitindo desta forma, ter uma ideia mais exata
dos contornos do terreno bem como o encaminhamento natural das águas.

3.1.2 Definição do traçado


O traçado da rede foi elaborado de formas a ser o mais racional possível, permitindo
assim, que a rede trabalhasse totalmente em gravidade, apesar da irregularidade do
terreno foram garantidas as inclinações mínimas para que as tensões trativas
estivessem salvaguardadas, garantindo desta forma velocidade para a autolimpeza
dos canais, e também as inclinações máximas foram tais que a velocidade escoando
pelos camais não ultrapassa-se o máximo permitido por norma, sem o embrago de
saber que a norma de dimensionamento não especifica diretamente inclinações
máximas e mínimas, deixando que elas sejam resultado dos cálculos de forma a que
se respeite o máximo possível as tensões trativas e as laminas de água, isso implica
que a inclinação mínima é aquela que permite obter uma tensão trativa mínima de
formas a se obter a autolimpeza dos canais, e a inclinação máxima é aquela que
permite obter velocidade não superior a 5 m /s. Foi também a titulo de consulta e
comparação para definir alguns parâmetros analisado o Decreto regulamentar
número 23/95 de 23 de Agosto de Portugal, que é o decreto responsável por direcionar
os projectos de redes de esgotos.

A rede foi elaborada com tubos em betão, compreendendo uma extensão máxima de
12,001.850 m, tendo um total de 522 poços de visitas.
62

Figura 19. Traçado da rede de esgoto. Fonte: Civil 3D.

A figura 19, apresenta o traçado da rede, aonde as extensões em traço Azul


implicam a representação dos pontos aonde foram feitos os perfis longitudinais do
terreno que serão apresentados a seguir:

Figura 20. Perfil longitudinal 1.


63

Figura 21. Perfil longitudinal 2.

Figura 22. Perfil longitudinal.

Figura 23. Perfil longitudinal do colector principal.

3.1.3 População e estimativa de produção de esgoto


Para estimar a população usou-se como base o censo geral da república de 2014,
que diz haver uma densidade demográfica correspondente a 20,7 pessoas por
quilometro quadrado no país, mais para luanda os dados dão conta de uma situação
de maior densidade, concluindo que existem 368 pessoas por cada quilometro
quadrado. Nesta senda de ideais como a zona a se implantar a rede corresponde a
64

uma área de 0,5636876 𝐾𝑚2 , arredondou-se a unidade (1) e a rede terá uma
população de início equivalente a 368 habitantes. O espaço temporal do projecto foi
de 20 anos.

Dada a falta de dados populacionais e o facto de só se ter realizado um censo, com


base no censo de 2014, chegou-se a conclusão que em luanda em média nos
agregados familiares constam com 5 membros, então contabilizou-se o numero de
residências da zona e estimou-se a população presente com base nos dados acima
citados, e chegou-se a uma população de 2190 hab, para o ano de 2020.

O método utilizado para a estimativa da população através do programa foi o


aritmético, que sendo um método matemático pressupõe uma taxa de crescimento
constante para os anos que se seguem a partir de dados conhecidos. A expressão de
geral do método aritmético:

P= P2 + K a (t − t 2 )

P2 − P1
Ka =
t 2 − t1

Onde t representa o ano de projecção.

A figura 23 apresenta os resultados obtidos com o programa para a projecção da


população de dimensionamento.

Figura 24. Estimativa da população.


65

Para contribuição de esgoto adoptou-se 80% do valor do consumo per capita que de
acordo com a categoria da zona é de 160 L/hab.dia, obtendo-se assim uma
contribuição de 128 L/hab.dia.

A NBR 9649 especifica que para projectos de redes de esgoto deve se adoptar como
contribuição de esgoto um valor equivalente a 80% do consumo per capita. A tabela
4 apresenta o consumo per capita segundo a ABNT.

Tabela 3.4. Consumo per capita segundo NBR.

CONSUMO DE ÁGUA PERCAPITA SEGUNDO A NBR


Porte da
comunidade Faixa da população(habitantes) Consumo percapita-q(L/hab.dia)
Povoado rural 5000< 90-140
Vila 5000-10000 100-160
Pequena localidade 10000-50000 110-190
Cidade média 50000-250000 120-220
Cidade grande >250000 150-300
Fonte: Adapatado de Silva 2016.

3.1.4 Apresentação da norma de base


3.1.4.1 Norma brasileira – NBR 9649/86
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é a entidade responsável no
Brasil por publicar as normas brasileiras que determinam os critérios técnicos que
devem ser seguidos nas construções em geral. Para o tema em estudo, a principal
norma que regulamenta os critérios à serem adotados num dimensionamento de uma
rede de esgoto é a NBR 9649 de novembro de 1986. A NBR 9649/86, intitulada por
Projeto de Redes Coletoras de Esgoto Sanitário tem o objetivo de fixar “as condições
exigíveis na elaboração de projeto hidráulico-sanitário de redes coletoras de esgoto
sanitário, funcionando em lâmina livre, observada a regulamentação específica das
entidades responsáveis pelo planejamento e desenvolvimento do sistema de esgoto
sanitário”.

Além desta norma, a NBR 9648/86, intitulada por Estudo de Concepção de Sistemas
de Esgoto Sanitário, auxilia na compreensão dos termos adotados nos estudos de
sistemas de esgotos sanitários, assim como do entendimento de todas as partes que
fazem parte deste sistema para formar um sistema único, porém integrado. Segundo
a NBR 9648/96, a concepção básica de um sistema de esgoto é aquela que apresenta
66

a opção de arranjo mais completa, agregando não só o ponto de vista técnico, mas
também os pontos econômicos, financeiros e sociais, proporcionando a melhor
solução.

Um fator importante que deve ser compreendido é a compartimentação da rede de


esgoto, já que ela está dividida em alguns trechos com funções específicas. Segundo
a Norma Brasileira acima citada o trecho do coletor que interliga a divisa do terreno
com o coletor de esgoto é denominado como a ligação predial da rede. Já o coletor
de esgoto é toda a tubulação que, ao longo do seu comprimento, receba em qualquer
ponto contribuição dos coletores prediais. Ainda, dentro de uma rede, temos o coletor
principal e o coletor tronco. O coletor principal caracteriza-se como “Coletor de esgoto
de maior extensão dentro de uma mesma bacia” (NBR 9649, 1986, pg. 1) enquanto o
coletor de tronco é a “Tubulação da rede coletora que recebe apenas contribuição de
esgoto de outros coletores”. O conjunto deste sistema completo é denominado de rede
coletora.

3.1.4.1.1 Regime hidráulico de escoamento


Na análise feita por Sobrinho e Tsutiya (2000) em relação ao funcionamento de uma
rede de esgoto, o autor diz que “As redes coletoras são projetadas para funcionar
como conduto livre em regime permanente e uniforme, de modo que a declividade da
linha de energia equivale à declividade da tubulação e é igual à perda de carga
unitária”. No entanto, é importante ressaltar que ao longo de uma rede esgoto o
escoamento sofre variações significativas, já que cada trecho assume características

distintas, além da variação de intensidade do esgoto gerada pelas horas de pico e de


baixa das residências.

3.1.4.1.2 Vazão mínima


As vazões de início e fim de curso são encontradas através de fórmulas que
consideram vazões de esgoto doméstico, assim como vazões de infiltração,
coeficientes de máximas vazões horárias e diárias, populações iniciais e finais e
alguns outros fatores. No entanto, em alguns casos de dimensionamento, a
caracterização da região não apresenta alguns dados para que as vazões sejam
determinadas. Nestes casos, a norma NBR 9649 (1986) determina que, em qualquer
trecho da rede coletora, a vazão mínima considerada para projeto deve ser de 1,5 l/s.
67

Esta situação deve ser considerada também para casos em que a vazão de algum
trecho do projeto é menor que a vazão mínima.

3.1.4.1.3 Diâmetro mínimo


Para cálculos de diâmetro de redes coletoras a norma NBR 9649 (1986) determina
que o diâmetro nominal mínimo para qualquer trecho de rede deve ser de 100mm,
representado por DN 100.

3.1.4.2 Declividade mínima


A declividade mínima é um item fundamental quando se trata do dimensionamento de
uma rede coletora de esgoto. Isto porque ela pode dar à rede a capacidade de se auto
limpar, ao garantir uma tensão trativa de 1,0 Pa pelo menos uma vez ao dia.

A fórmula aproximada que define a declividade mínima de um coletor considerando


coeficiente de Manning n = 0,013 é a seguinte:

𝐼min = 0,0055 × 𝑄𝑖 −0,47

Sendo:

𝐼𝑚𝑖𝑛 = declividade mínima, m/m;

𝑄𝑖 = vazão de jusante do trecho no início do plano, l/s.

3.1.4.3 Declividade máxima


À fim de evitar erosão e desgaste excessivo dentro das tubulações, a norma brasileira
define como padrão uma declividade máxima baseada na vazão dentro da tubulação.
Portanto, a NBR 9649/86 determina que a declividade máxima permitida dentro de um
coletor é aquela para a qual se atinja uma velocidade de 5,0 m/s para a vazão de final
de plano. A respectiva fórmula para esta declividade, também considerando
coeficiente de Manning n=0,013 é a descrita abaixo:

𝐼max = 4,65 × 𝑄𝑓 −0,67

Sendo:

𝐼max = declividade máxima, m/m;

𝑄f = vazão de jusante do trecho no final do plano, l/s.


68

3.1.4.4 Lâmina d’água máxima


Outro critério que a norma brasileira inclui no método de dimensionamento de uma
rede coletora de esgoto é a lâmina d’água máxima dentro da tubulação. Este critério
tem o objetivo de não apenas garantir um espaço adequado de ventilação na região
superior da tubulação, mas também de assegurar o bom funcionamento da rede de
drenagem em situações excepcionais de escoamento, quando por exemplo o nível do
esgoto está muito acima do normal.

A determinação por norma é de que a lâmina d’água não ultrapasse 75% do diâmetro
da tubulação, atendendo à condição Y/D = 0,75. Portanto, considerando o coeficiente
de Manning n = 0,013 e Y/D = 0,75, a equação para o cálculo do diâmetro mínimo que
atende a situação de escoamento com lâmina máxima é:

𝑄𝑓 0,375
D=(0,0463 × )
√𝐼

Sendo:

𝐷 = diâmetro, m;

𝑄𝑓 = vazão final, m³/s;

𝐼 = declividade, m/m;

3.1.4.5 Lámina d’água mínima


Não há uma determinação específica para lâmina d’água mínima dentro da
tubulação, isto porque a norma considera que no critério de declividade mínima antes
determinado, ao garantir que exista uma tensão trativa de 1,0 Pa pelo menos uma vez
por dia no coletor, já é suficiente para que o processo de autolimpeza aconteça
naturalmente. Com isto a NBR 9649/86 não exige uma lâmina d’água mínima para
este tipo de escoamento.
3.1.4.6 Velocidade crítica
A velocidade crítica está diretamente associada com a entrada de ar na superfície do
líquido. A NBR 9649/86 adotou o critério de velocidade crítica justamente para
controlar este fato. Em um de seus itens a norma brasileira diz que “Quando a
velocidade final 𝑉𝑓 é superior a velocidade crítica 𝑉𝑐 , a maior lâmina admissível deve
ser 50 % do diâmetro do coletor, assegurando-se a ventilação do trecho” (NBR 9649,
1986, pg. 3). Portanto, nos casos onde a velocidade crítica é superada a lâmina
máxima admissível deixa de ser 75% e passa a ser 50%, alterando a relação da lâmina
69

com o diâmetro para Y/D = 0,50. Para determinar a velocidade crítica e avaliar este
critério, deve se considerar a seguinte expressão:

𝑉𝑐 = 6 × √𝑔 × 𝑅𝐻

Sendo: 𝑉𝑐 = velocidade crítica, m/s;

𝑔 = aceleração da gravidade, m/s²;

𝑅𝐻 = raio hidráulico para a vazão final, m.

3.1.4.7 Implantação do sistema


Em relação à implantação do sistema numa via pública ou em alguma localidade
urbana, a norma brasileira NBR 9649 não detalha nenhum tipo de procedimento ou
exigência. Apesar de ser um item importante a ser analisado pelos executores da obra
de drenagem, pois falhas durante esta etapa podem acarretar em danos importantes
à população local mesmo que provisoriamente durante o período de obra, esta norma
não se aprofunda neste tema.

3.1.5 Resultados e discussões


A rede foi dimensionada com o auxílio do Plugin C3DRESNEG, que funciona com o
civil 3D e dimensiona redes de esgoto utilizando o Pipe Network do civil 3D.
A tabela 5 apresenta os dados de entrada para o dimensionamento da rede com o
programa.
Tabela 3.5. Dados de dimensionamento.

DADOS DE ENTRADA PARA O DIMENSIONAMENTO


P.Inicial 2190
P.Final 8263
q 128.000 l/Hab.dia
T.trativa 1.00 Pa
T.Inf. 1.00 l/skm
Qmin. 1.5 l/s
Gravidade 9.81 m/s
k1 1.2
k2 1.5

A rede foi projectada de forma a que trabalhasse totalmente por gravidade, a tabela
do dimensionamento pode ser consultada em anexo. Em seguida serão analisados os
pontos principais a serem considerados dentro de um dimensionamento.
70

Inclinação.

As inclinações dos trecos foram criteriosamente arranjadas devido a grande


irregularidade do terreno e a extensão da rede, a rede tem como inclinação mínima
0,5% e inclinação máxima de 30,28%, a NBR 9649 define como inclinação mínima
aquela que que garante uma tensão trativa de 1 Pa, e como inclinação máxima aquela
que garante uma velocidade não superior a 5 m/s. Quanto a inclinação mínima
existente na rede foi suficiente para garantir uma tenção trativa de 1,00 Pa, valor este
que se encontra no limite mínimo aceitável para um funcionamento normal da rede,
já com a inclinação de 30,28% obteve-se uma velocidade no trecho de 1,643 m/s valor
este que se encontra dentro dos limites normativos, mesmo com a noção de que na
prática é muito difícil garantir que em todos os trechos se respeitem todos limites
máximos e mínimos procurou-se de forma exaustiva respeitar os mesmos sem que
nos pontos críticos o funcionamento da rede ficasse comprometido.

Tensão trativa

Tensão trativa foi um conceito introduzido para substituir o conceito de velocidade de


arraste pela NBR 9649 a partir do ano de 1986, na verdade são palavras sinónimas e
que só diferem na sua forma de determinação.

Segundo a NBR 9649 a tensão trativa é definida como uma tensão tangencial exercida
sobre a parede do conduto pelo líquido em escoamento, ou seja, é a componente
tangencial do peso do líquido sobre a unidade de área da parede do coletor e que
atua sobre o material sedimentado, promovendo seu arraste.

Figura 25. Tensão trativa em um conduto. Fonte: Adaptado de Tsutiya 1998.


71

A norma determina uma tensão trativa mínima de 1Pa para a garantia da força de
arrasto, e foi possível garantir a força de arrasto em todos os trechos da rede já que
nos pontos críticos de declividades a tensão trativa final foi de 1,0 Pa valor este que
como já foi citado acima, esta no limite mínimo aceitável para o normal funcionamento
da rede. A tensão trativa máxima existente na rede é de 20 Pa.

Lamina de água máxima.

Segundo a NBR 9649 as laminas de água devem ser sempre calculadas admitindo
escoamento em regime uniforme e permanente, sendo o seu valor máximo para o
caudal final igual ou inferior a 75% do diâmetro do colector. Desta forma a parte
restante se destina para a ventilação do conduto e para as imprevisões e flutuações
excepcionais de nível dos esgotos. No que concerne as laminas mínimas a norma não
especifica pois qualquer que seja a lamina desde que se respeita o critério de tensão
trativa haverá sempre autolimpeza no conduto.

Para a rede em analise o critério de lamina de água foi completamente respeitado,


sendo que o valor da máxima lamina de água existente no na rede é de 33,37%.

Caudais escoando

No que diz respeito aos caudais escoando nos trechos, a NBR 9649 determina que
para fins de dimensionamento o caudal mínimo a ser considerado no trecho deve ser
de 1,5𝑙⁄𝑠, critério este que foi aplicado, a rede teve como caudal máximo no trecho
16,43𝑙⁄𝑠.

Diâmetros

No que diz respeito aos diâmetros das tubulações e dos poços de visita, garantiu-se
uma uniformidade pois, os caudais existentes na rede não foram suficientes para o
aumento de diâmetros em trechos específicos. Sendo assim o diâmetro das
tubulações é de 300 mm e dos PV de 800 mm.

Velocidades

Quanto as velocidades se encontram dentro dos limites pois ela tem uma ligação
directa com a tensão trativa da rede, garantindo a tensão trativa mínima para que haja
autolimpeza também se garante as velocidades mínimas para que o fluido circule
72

normalmente sobre a rede. A velocidade mínima existente na rede corresponde a


0,4 𝑚⁄𝑠 e a máxima de 1,74𝑚⁄𝑠 desta forma, os limites de velocidades foram
respeitados.

A tabela 6 mostra de forma resumida os dados referentes a escavação e


quantidades.do projecto.

Tabela 3.6.Resumo Geral de Obra.


Resumo: Geral

Item Quantidade Unidade


Escavação
Escavação mecânica 17,259.100 m³
Escavação manual 2,159.121 m³
Recobrimento manual 2,741.182 m³
Recobrimento mecânico 13,156.770 m³
Escoramento 43,229.22857 m²
Estruturas
PV_Redondo
PVR 800 mm 522 und
0.000 m <= h < 1.000 m 281 und
2.000 m <= h < 3.000 m 34 und
1.000 m <= h < 2.000 m 151 und
5.000 m <= h < 6.000 m 6 und
3.000 m <= h < 4.000 m 19 und
4.000 m <= h < 5.000 m 11 und
h > 6.000 m 20 und
Tubos
BSTC
BSTC 300 x 40 mm 12,001.850 m m

3.1.6 Sugestão de ETAR


Após dimensionada a rede há a necessidade de se dar um tratamento primário aos
dejetos para posterior deposição ao corpo colector. Dada a pequena extensão
populacional de projecto e as restrições em termos de espaço no local para a
implementação da ETAR, optou-se por sugerir um sistema compacto, ECODEPUR,
modelo SBR, que é um sistema adequado para zonas de pequenos aglomerados
populacionais como é o caso da zona de estudo e garante os padrões exigidos pelo
Decreto-Lei nº 236/98, de 1 Agosto e o Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho.
73

Figura 26. Sistema de tratamento compacto. Fonte: Catálogo ECODEPUR

PRINCIPAIS CARACTERISTICAS

Dimensionado de modo a dar cumprimento ao exposto na legislação aplicável


vigente (Decreto Lei n.º 152/97, de 16 de Junho e o Decreto Lei n.º 236/98, de 1 de
Agosto);

Construção em Polietileno Linear ou Chapa de Aço Carbono devidamente protegida


que confere elevada resistência mecânica e química devido ao material de
construção.

Tratamento por sistema de lamas activadas, regime de baixa carga/arejamento


prolongado (oxidação total);

Funcionamento Sequencial – Sistema BATCH (Sequencing Batch Reactor)

Arejamento e agitação assegurados por um único componente em condições de alto


rendimento;

Ausência de odores desagradáveis;

Impacto visual nulo;

Ruídos e vibrações desprezáveis;

Facilidade e rapidez de instalação;

Simplicidade de funcionamento e manutenção;


74

Funcionamento automático.

FUNCIONAMENTO

No reactor ECODEPUR® SBR as operações de arejamento e decantação sucedem-


se alternativamente, de forma cíclica. De modo a evitar ao máximo a introdução de
perturbações ao sistema, as operações de decantação e descarga da água tratada
não se processam durante os caudais de ponta. Adicionalmente, a perturbação
originada pelas águas residuais afluentes durante os períodos de decantação e
descarga é praticamente nulo, uma vez que estes períodos são regularizados nos
períodos de caudal baixo. O efluente é arejado através de um sistema de difusão de
bolha fina alimentado por um electrosoprador comandado por um relógio
programador. O arejamento assegura a degradação biológica aeróbia do efluente,
garantindo-se deste modo elevados níveis de tratamento e a ausência de odores
desagradáveis. Os níveis de ruído gerados pelo soprador são desprezáveis. O
programador comanda o início do funcionamento de soprador durante 3,5 horas,
comportando-se o tanque neste período de tempo como um reactor biológico aeróbio.
Durante este período não se verificam quaisquer descargas de efluente tratado. O
arejamento da massa líquida é efectuado através de um sistema de difusão por bolha
fina de alto rendimento, constituído por um conjunto de Difusores de EPDM (Sistema
Anti-Colmatação) alimentados por um electrosoprador de canal lateral.
75

Figura 27.Etapas do tratamento, Fonte: Catálogo ECODERPUR.

Vale ressaltar que para este trabalho o foco não consiste em dimensionar uma ETAR,
apenas se faz a sugestão como garantia do compromisso de se mitigar os impactos
dos dejetos sobre o corpo receptor.
76

CONCLUSÕES

Após a realização deste estudo podemos aferir que os objectivos estabelecidos


inicialmente foram cumpridos, o objetivo principal de projetar e dimensionar uma rede
de esgotos condominal, tendo como elemento de estudo a Zona da Clemencia. A base
deste estudo foi a falta de infraestruturas de saneamento da zona, sendo a rede de
esgotos identificada como a mais crítica, atendendo que a zona reúne as condições
básicas necessárias para a implementação de um sistema conforme projetado no
presente trabalho. As questões relacionadas com a preservação ambiental e as
condições técnicas e económicas foram levadas em conta no trabalho visando o total
aproveitamento possível do escoamento por gravidade para a projeção da rede, fator
determinante na otimização do sistema, sem o embargo de reconhecer que a
constante irregularidade da superfície foi um quebra cabeças na hora de se garantir
que toda a rede funcionasse por gravidade, e que o sucesso do modelo de rede prosto
dependerá muito daquilo que será o envolvimento dos utentes na sua manutenção.
De destacar o uso das ferramentas voltadas ao geoprocessamento, para a
manipulação e obtenção de dados (mapas, coordenadas, altimetria, localização) da
área em estudo, complementadas com as visitas ao campo que que tornaram
possíveis as devidas correções para a determinação do traçado mais racional possível
e no dimensionamento da rede. Para verificar a adequação dos cálculos de
dimensionamento, foi de grande importância considerar o levantamento realizado na
revisão bibliográfica. O projeto permitiu alcançar os objectivos ambientais
preconizados inicialmente, que passavam por evitar a contaminação do mar da zona
da Clemencia com matéria fecal e proporcionar melhores condições para os banhistas
e pescadores da zona, com a instalação da ETAR, será possível evitar que o mar
naquela zona tenha contacto directo com a água bruta, sendo passível de um
tratamento primário e secundário a base de lodo decantado o que garante um liquido
isento de matéria contagiosa, por outra, no que diz respeito a qualidade de vida da
população da zona também será um ganho isto porque estarão livres de doenças
directamente relacionadas com contaminação de matérias fecais e não só.
77

A rede cumpre integralmente as regras básicas de engenharia quanto à localização


da ETAR, escolha do traçado da rede, declividade dos coletores, disposição e
distância entre os poços de visita.

Por fim, para desenvolvimento de trabalhos futuros, que venham complementar o


estudo de caso em questão, sugerem-se as seguintes tarefas:

Análise do traçado mais racional do ponto de vista técnico e económico;

Levantamento rigoroso da população residente e flutuante;

Determinação do tratamento mais viável do ponto de vista ambiental e econômico


para o esgoto e possível reutilização;

Monitoramento dos parâmetros de qualidade do esgoto tratado para verificar a


adequação aos diferentes usos não potáveis.
78

BIBLIOGRAFIA
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5.1 ANEXOS
5.1.1 Anexo 1
5.1.1.1 Planilha de dimensionamento da rede
82

5.1.2 Anexo 2
5.1.2.1 Traçado da rede
83

5.1.3 Anexo 3
5.1.3.1 DECRETO-PRESIDENCIAL nº 261/11, de 6 de Outubro
84

5.1.4 ANEXO 4
5.1.4.1 NBR 9649

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