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ANÁLISE DE FLUXOS DE DETRITOS NA REGIÃO SERRANA FLUMINENSE

Andrea Balbuzano Pelizoni

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Engenharia Civil.

Orientador: Anna Laura Lopes da Silva Nunes

Rio de Janeiro
Março de 2014
ANÁLISE DE FLUXOS DE DETRITOS NA REGIÃO SERRANA FLUMINENSE

Andrea Balbuzano Pelizoni

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO


LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE)
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM
CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Examinada por:

________________________________________________
Prof. Anna Laura Lopes da Silva Nunes, Ph.D.

________________________________________________
Prof. Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão, Ph.D.

________________________________________________
Prof. Rogério Luiz Feijó, D.Sc.

________________________________________________
Prof. Willy de Alvarenga Lacerda, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL


MARÇO DE 2014
Balbuzano, Andrea Pelizoni

Análise de Fluxos de Detritos na Região Serrana


Fluminense/ Andrea Balbuzano Pelizoni. – Rio de Janeiro:
UFRJ/COPPE, 2014.

XII, 141 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadora: Anna Laura Lopes da Silva Nunes

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de

Engenharia Civil, 2014.

Referencias Bibliográficas: p. 133-141.

1. Fluxos de detritos. 2. Relações empíricas. 3.


Análises numéricas. 4. Estimativa de parâmetros. I.
Nunes, Anna Laura Lopes da Silva. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de
Engenharia Civil. III. Título

iii
AGRADECIMENTOS

A Deus pela fortaleza, a luz e a força para concluir esta etapa da minha vida.

A meus pais, Zilene e Angel pelo apoio e a força em todo momento, pelo amor e
confiança em cada um dos meus passos até aqui.

A toda minha família e amigos, que de longe me apoiaram durante todo este tempo. A
tia Ilma, pela compreensão e apoio em todo momento.

À professora Anna Laura, por ter me aceitado como orientada, pela compreensão,
pelo carinho, pela amizade e pela força, por toda sua preocupação e ajuda durante o
desenvolvimento desta dissertação.

Ao José, pelo apoio, compreensão e paciência durante esta etapa, pela ajuda
incondicional durante longos dias de trabalho.

Aos membros da banca pelo tempo e atenção prestados.

Aos professores da COPPE, pelas aulas e os conhecimentos transmitidos.

Ao Professor Oldrich Hungr, por disponibilizar o acesso ao programa DAN3D.

À Capes, pelo apoio econômico.

Às empresas Seel Engenharia e Geomecânica, pelas informações disponibilizadas


para desenvolver este trabalho.

Ao Engenheiro Paulo Henrique Dias, pelo apoio e ensinamentos durante o


desenvolvimento deste trabalho.

Ao senhor Alberto Simas, sobrevivente do evento Córrego D'Antas, pelo depoimento e


relato do Evento Córrego D'Antas, contribuindo a reconstruir o evento.

A todos os amigos e colegas, professores e funcionários do Laboratório de Geotecnia


do Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ por brindar o apoio durante o
desenvolvimento desta dissertação.

iv
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ANÁLISE DE FLUXOS DE DETRITOS NA REGIÃO SERRANA FLUMINENSE

Andrea Balbuzano Pelizoni

Março /2014

Orientador: Anna Laura Lopes da Silva Nunes

Programa: Engenharia Civil

Os fluxos de detritos são conhecidos como um dos tipo de movimentos de


massa mais catastróficos da natureza, em função da rapidez, energia e volume
elevados do movimento. No Brasil, e em diversas regiões do mundo os prejuízos
provocados por este movimento têm sido significativos, com expressivas perdas
econômicas e fatalidades. Métodos empíricos e analíticos têm sido desenvolvidos,
visando a estimar os principais parâmetros de fluxo de detritos, que possam ser
usados para desenvolver medidas de mitigação e convivência em áreas susceptíveis.
Este trabalho tem por objetivo apresentar os principais métodos empíricos e numéricos
para avaliação de fluxos de detritos. Foram utilizadas relações empíricas e o programa
numérico DAN3D para avaliar os principais parâmetros característicos de dois fluxos
de detritos deflagrados na Região Serrana do Rio de Janeiro, após o evento
extraordinário de precipitações em Janeiro de 2011. Os casos de fluxo de detritos do
Caleme, em Teresópolis, e Córrego D’Antas, em Nova Friburgo, foram investigados e
analisados com as relações empíricas e a simulação numérica com o programa
DAN3D. Os resultados obtidos foram comparados com as características reais dos
dois eventos, indicando valores consistentes, que corroboram o emprego destas
ferramentas para análises de áreas de risco e projetos de estruturas de convivência e
mitigação de fluxo de detritos.

v
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

ANALYSIS OF DEBRIS FLOWS IN REGIÃO SERRANA FLUMINENSE

Andrea Balbuzano Pelizoni

March/2014

Advisor: Anna Laura Lopes da Silva Nunes

Department: Civil Engineering

The Debris flows are known to be among the most catastrophic mass
movements of nature, depending on the speed, power and high volume of motion. In
Brazil and in several regions of the world the damage caused by this movement has
been associated with significant economic losses and fatalities. Empirical and
analytical methods have been developed to estimate the main parameters of debris
flow, which can be used to develop mitigation and coexistence solutions in susceptible
areas. This work aims to present the main empirical and numerical methods for
evaluating debris flow methods. Empirical relationships and the numerical program
DAN3D were used to evaluate the main characteristic parameters of two debris flows
triggered in the mountainous region of Rio de Janeiro, extraordinary rainfall event in
January, 2011. The cases of the debris flow and Caleme in Teresopolis and Córrego
D'Antas, in Nova Friburgo, were investigated and analyzed with empirical relations and
numerical simulation with DAN3D program. The results were compared with the actual
characteristics of the two events, indicating consistent values, which confirm the
usefulness of these tools for analysis of risk areas and projects of structures of
coexistence and mitigation of debris flow.

vi
ÍNDICE
CAPITULO 1. ................................................................................................................ 1

1.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

1.2. OBJETIVOS ................................................................................................... 2

1.3. ORGANIZAÇÃO ............................................................................................. 3

CAPITULO 2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA ............................................................. 4

2.1 MOVIMENTOS DE MASSAS.......................................................................... 4

2.2 TIPOS DE MOVIMENTO DE MASSA ............................................................. 9

2.2.1. QUEDAS (FALLS) ................................................................................... 9

2.2.2. TOMBAMENTO (TOPPLES) ................................................................. 10

2.2.3. ESCORREGAMENTOS OU DESLIZAMENTO (LANDSLIDES)............. 11

2.2.4. EXPANSÕES LATERAIS (LATERAL SPREADS) ................................. 12

2.2.5. CORRIDAS OU FLUXO DE DETRITOS (DEBRIS FLOW) .................... 13

2.2.6. MOVIMENTOS COMPLEXOS ............................................................... 15

2.3 FLUXOS DE DETRITOS .............................................................................. 19

2.4 MÉTODOS DE ANÁLISES DOS PRINCIPAIS PARÂMETROS .................... 40

2.5 RELAÇÕES EMPÍRICAS PARA CÁLCULO DOS PARÂMETROS DE


FLUXOS DE DETRITOS ......................................................................................... 41

2.6 MÉTODOS ANALÍTICOS PARA ESTIMATIVA DOS PARÂMETROS DE


FLUXOS DE DETRITOS ......................................................................................... 44

2.7 PROGRAMA NUMÉRICO ............................................................................ 49

2.7.1. METODOLOGIA .................................................................................... 53

2.7.2. MODELOS REOLÓGICOS UTILIZADOS NO DAN3D ........................... 54

2.8 MEDIDAS DE MITIGAÇÃO .......................................................................... 56

2.8.1. MEDIDAS ATIVAS................................................................................. 58

2.8.2. MEDIDAS PASSIVAS ............................................................................ 63

CAPITULO 3. CASOS DE ESTUDO ..................................................................... 65

3.1. FLUXOS DE DETRITOS DO CALEME ......................................................... 66

3.1.1. LOCALIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO............................................... 66

3.1.2. HISTORICO DO EVENTO ..................................................................... 67


vii
3.1.3. CARACTERÍSTICAS GEOMORFOLÓGICAS DA ÁREA ....................... 70

3.1.4. CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICOS - GEOTÉCNICAS DA ÁREA ....... 72

3.1.5. VARIAVEIS ESTIMADAS DO MOVIMENTO DE MASSA DO CALEME 79

3.2. FLUXO DE DETRITOS DO CÓRREGO D’ANTAS ....................................... 84

3.2.1. LOCALIZAÇÃO DO EVENTO ................................................................ 84

3.2.2. HISTÓRICO DO EVENTO ..................................................................... 84

3.2.3. CARACTERÍSTICAS GEOMORFOLÓGICAS DO EVENTO .................. 85

3.2.4. CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS - GEOTÉCNICAS DA ÁREA ....... 90

3.2.5. VARIAVEIS ESTIMADAS DO MOVIMENTO DO CÓRREGO D'ANTAS 91

CAPITULO 4. ANÁLISES ...................................................................................... 98

4.1. ANÁLISE DOS PARÂMETROS ATRAVÉS DE RELAÇÕES EMPÍRICAS .... 98

4.2. SIMULAÇÃO NUMÉRICA COM DAN3D .................................................... 103

4.2.1 ELEMENTOS DE ENTRADA (INPUTS) PARA SIMULAÇÃO COM


DAN3D 103

4.2.2. ELEMENTOS DE SAÍDA (OUTPUTS) DO DAN3D.............................. 108

4.3. SIMULAÇÕES DOS CASOS DE ESTUDO COM O MODELO DAN3D ...... 108

4.4. COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DE CAMPO, RELAÇÕES EMPÍRICAS


E SIMULAÇÕES NUMÉRICAS ............................................................................. 121

4.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 128

CAPITULO 5. CONCLUSÕES ............................................................................ 129

5.1. CONCLUSÕES .......................................................................................... 129

5.2. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ............................................ 131

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 133

viii
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Queda de blocos na rodovia BR-101 atingindo um muro de contenção


(NUNES, 2013). .......................................................................................................... 10
Figura 2.2 - Ruptura por tombamento (NUNES, 2008). ............................................... 11
Figura 2.3 - Escorregamento do Quitite, Nova Friburgo, Janeiro 2011. ....................... 13
Figura 2.4 - Fluxo de detritos – Vargas, Venezuela (1999). ........................................ 15
Figura 2.5 - Depósitos resultante de movimentos complexos, acorridos em Vargas,
Venezuela em 1999. ................................................................................................... 16
Figura 2.6 - Esquema geral do movimento (JAKOB, 2005). ....................................... 21
Figura 2.7 - Divisão de zonas da trajetória do movimento com fluxo canalizado
(VANDINE, 1996). ...................................................................................................... 21
Figura 2.8 - Perfil esquemático de fluxo de detritos com frente granular (PIERSON,
1987). ......................................................................................................................... 23
Figura 2.9 - Esquema de Classes 1 a 3 de fluxo de detritos (Jakob, 2005). ................ 29
Figura 2.10 - Esquema de Classes 4 a 6 de fluxo de detritos (Jakob, 2005). .............. 29
Figura 2.11 - Diagrama esquemático de uma seção erodida em um canal de fluxo de
detritos (adaptado HUNGR et al., 2003). .................................................................... 37
Figura 2.12 - Fluxograma de simulação no modelo DAN3D........................................ 54
Figura 2.13 - Relação entre os parâmetros de resistência por atrito do DAN3D. ........ 55
Figura 2.14 - Medidas de mitigação (NUNES & RIOS FILHO, 2009). ......................... 57
Figura 2.15 - Barreiras permeáveis para mitigação de fluxo de detrito - Parque Waraira
Repano (Ávila) - Caracas, Venezuela. ........................................................................ 60
Figura 2.16 - Barreiras Permeáveis - Muro de Gabião - Parque Waraira Repano (Ávila)
Caracas, Venezuela.................................................................................................... 60
Figura 2.17 - Barreira de gabiões - Parque Waraira Repano (Ávila)-Caracas,
Venezuela. .................................................................................................................. 61
Figura 2.18 - Bacias de deposição para fluxos de detritos, Japão (HORIUCHI, 1998).61
Figura 2.19 - Barreira flexível - BR040 - RJ (NUNES, 2013). ...................................... 62
Figura 2.20 - Bermas dissipadoras de energía fluxos de detritos, Córrego
Tanaguarena, La Guaira, Venezuela (1996). .............................................................. 62
Figura 3.1 - Localização da área do evento do Caleme, Teresópolis .......................... 67
Figura 3.2 - Imagem aérea do “Evento Caleme”. (GEOMECÂNICA, 2011). ................ 68
Figura 3.3 Tálus Colúvio na base da encosta, Evento Caleme (2011) ........................ 70
Figura 3.4 - Condição da área antes do Evento Caleme, Julho 2010 (GOOGLE
EARTH, 2010). ........................................................................................................... 71

ix
Figura 3.5 - Condição da área após o Evento Caleme, Maio 2011 (GOOGLE EARTH,
2011). ......................................................................................................................... 71
Figura 3.6 - Perfil longitudinal da trajetória do fluxo de detritos no Caleme. ............... 76
Figura 3.7 - Retroanálises da parte superior da seção de estudo do Evento Caleme. 77
Figura 3.8 - Zona de iniciação do movimento de massa do Caleme. .......................... 80
Figura 3.9 - Zona de iniciação do movimento de massa do Evento Caleme. .............. 81
Figura 3.10 - Zona de deposição do fluxo de detritos no Caleme................................ 82
Figura 3.11 - Zona de transporte e erosão do fluxo de detritos no Caleme. ................ 82
Figura 3.12 Zona de deposição do material do Evento Caleme .................................. 83
Figura 3.13 - Imagem de satélite da área do evento Córrego D´Antas (GOOGLE
EARTH, 2013). ........................................................................................................... 84
Figura 3.14 - Trajetórias do movimento de massa do Córrego D’Antas. ..................... 86
Figura 3.15 - Movimento de massa do Córrego D´Antas. .......................................... 87
Figura 3.16 - Perfil longitudinal da trajetória do fluxo do Córrego D´Antas. ................. 88
Figura 3.17 - Condições da área antes do evento Córrego D´Antas (GOOGLE
EARTH, 2010). ........................................................................................................... 89
Figura 3.18 - Condições após evento do Córrego D´Antas (GOOGLE EARTH, 2011).
................................................................................................................................... 89
Figura 3.19 - Zona de iniciação do movimento de massa do Córrego D´Antas. .......... 92
Figura 3.20 - Zona de deposição do material do Evento Córrego D´Antas. ................. 93
Figura 3.21 - Tálus/colúvio na base da escarpa do Córrego D’Antas. ......................... 94
Figura 3.22 - Zona de transporte e erosão do movimento de massa principal na parte
superior do Córrego D’Antas....................................................................................... 95
Figura 3.23 - Zona de transporte e erosão do movimento de massa principal na parte
inferior do Córrego D’Antas......................................................................................... 96
Figura 3.24 - Distância percorrida pelo fluxo de detritos no Córrego D´Antas. ............ 97
Figura 4.1 - Imagem geral do movimento (output , DAN3D) - Caso Caleme. ............ 111
Figura 4.2 - Mapa de velocidade – Caleme............................................................... 112
Figura 4.3 - Mapa de descarga de pico – Caleme. .................................................... 112
Figura 4.4 - Mapa de deposição – Caleme. .............................................................. 113
Figura 4.5 - Mapa de erosão – Caleme. .................................................................... 113
Figura 4.6 - Área de deposição obtida com a modelagem no DAN3D – Caleme. ..... 114
Figura 4.7 - Imagem geral do movimento (output DAN3D) - Caso Córrego D'Antas. 115
Figura 4.8 - Mapa velocidade máxima – Córrego D’Antas. ....................................... 117
Figura 4.9 - Mapa de descarga de pico – Córrego D’Antas. ...................................... 117
Figura 4.10 - Mapa de deposição máxima – Córrego D’Antas. ................................. 118
Figura 4.11 - Mapa de erosão – Córrego D’Antas. .................................................... 118
x
Figura 4.12 - Área de deposição obtida com DAN3D - – Córrego D’Antas................ 119
Figura 4.13 - Comparação entre valores reais, simulados e estimados por relações
empíricas - Distância percorrida. .............................................................................. 125
Figura 4.14 - Comparação entre valores reais, simulados e estimados por relações
empíricas - Distância de deposição. ......................................................................... 125
Figura 4.15 - Comparação entre valores reais, simulados e estimados por relações
empíricas - Área de Deposição. ............................................................................... 126
Figura 4.16 - Comparação entre valores reais, simulados e estimados por relações
empíricas - Volume total. .......................................................................................... 126
Figura 4.17 - Comparação entre valores simulados e estimados por relações empíricas
- Descarga de Pico. .................................................................................................. 127
Figura 4.18 - Comparação entre valores simulados e estimados por relações empíricas
- Velocidade média. .................................................................................................. 127

LISTA DE TABELAS
Tabela 2-1 - Classificação de movimentos em encostas (adaptado de VARNES, 1978).
..................................................................................................................................... 6
Tabela 2-2 - Classificação de movimentos de massa em função da velocidade
proposta por Cruden & Varnes (AUSTRALIAN GEOMECHANICS SOCITE, 2002). ..... 7
Tabela 2-3 - Classificação brasileira para movimentos de massa (adaptada AUGUSTO
FILHO,1992). ................................................................................................................ 8
Tabela 2-4 - Relação de elementos considerados significativos para descrição de
movimentos de massa (GeoRio, 2014). ...................................................................... 17
Tabela 2-5 - Ficha de caracterização para levantamento de dados de movimentos de
massa (adapt. POLANCO, 2010). ............................................................................... 18
Tabela 2-6 - Classificação em função da velocidade de deslizamentos (CRUDEN &
VARNES, 1996). ......................................................................................................... 20
Tabela 2-7 - Classificação de fluxos de detritos (POLANCO, 2010, MOD. DE JAKOB &
HUNGR, 2005). .......................................................................................................... 28
Tabela 2-8 - Valores típicos dos principais parâmetros de fluxo de detritos (IVERSON,
1997). ......................................................................................................................... 32
Tabela 2-9 - Valores de taxa de escoamento e profundidade de erosão (adapt.
ROCHA, 2011)............................................................................................................ 39
Tabela 2-10 - Principais características dos métodos de análises de fluxos de detritos
(HUNGR, 2005). ......................................................................................................... 41
Tabela 2-11 - Relações empíricas propostas na literatura. ......................................... 43
Tabela 2-12 – Programas numéricos aplicados para análises de fluxos de detritos. ... 45
xi
Tabela 2-13 – Parâmetros e características dos programas numéricos para análise de
fluxo de detritos. ......................................................................................................... 48
Tabela 2-14 – Casos de fluxo de detritos e parâmetros adotados simulados com os
programas DAN-W e DAN3D. ..................................................................................... 52
Tabela 2-15 - Medidas ativas para mitigação de fluxos de detritos (NUNES & RIOS
FLHO, 2009). .............................................................................................................. 59
Tabela 2-16 - Medidas passivas de mitigação (HUBL & FIEBIGER, 2005). ................ 64
Tabela 3-1 - Parâmetros de resistência de solos residuais brasileiros (adapt. de
FAGUNDES, 2000). .................................................................................................... 73
Tabela 3-2 - Parâmetros de resistência considerados na parte superior da encosta. . 78
Tabela 3-3 Parâmetros de resistência considerados na parte inferior da encosta. ...... 78
Tabela 3-4 - Parâmetros de resistência adotados para análises do Caleme. .............. 79
Tabela 3-5 - Parâmetros de resistência adotados para as análises do evento do
Córrego D´Antas. ........................................................................................................ 91
Tabela 4-1 - Características dos casos de estudo – Caleme e Córrego D’Antas. ....... 99
Tabela 4-2 – Parâmetros de fluxos de detritos calculados de relações empíricas. .... 100
Tabela 4-3 - Resultados da simulação dos casos de estudo com DAN3D. ............... 110
Tabela 4-4 – Parâmetros de fluxo de detritos obtidos com DAN3D para Caleme e
Córrego D’Antas. ...................................................................................................... 121
Tabela 4-5 - Comparação de parâmetros observados e obtidos com relações
empíricas e simulação numérica com DAN3D. ......................................................... 122

xii
CAPITULO 1.

1.1. INTRODUÇÃO

Eventos catastróficos de movimentos de massa frequentemente afetam diversas


regiões do mundo com consequências marcantes. Devido a um conjunto de fatores e,
em muitos casos, resultados das mudanças climáticas, muitas regiões são
surpreendidas e atingidas por movimentos de grandes massas, de alto poder
destrutivo e sérias consequências socio-econômicas.

Fenômenos como inundação, deslizamento, fluxos de detritos, avalanches de neve,


quedas de blocos, entre outros caracterizam fenômenos naturais, que em muitos
casos são consequência de condições severas de precipitação, movimentos sísmicos
e forças gravitacionais.

Dentre os diversos movimentos de massas originados durante eventos naturais, os


fluxos de detritos são caracterizados por serem movimentos catastróficos, envolvendo
grandes volumes de mistura de água, solo, blocos rochosos e detritos que,
geralmente, se comportam como um fluxo denso que consegue atingir velocidades
elevadas e grandes extensões de deposição do material.

Os fluxos de detritos são movimentos muito rápidos, de difícil previsão e, na maioria


dos casos, ocorrem de forma repentina, atingindo elevadas velocidades, grandes
volumes e imenso potencial destrutivo, devido às altas energias desenvolvidas durante
o movimento.

Em função da necessidade de se prevenir e conviver com este tipo de movimento,


métodos empíricos e analíticos têm sido desenvolvidos, baseados em observações e
registros de dados coletados durantes casos reais. Os métodos visam à determinação
das características dos fluxos de detritos, capazes de subsidiar a seleção e/ou
dimensionamento de medidas de mitigação e convivência para diminuição dos danos
causados durante eventos desta natureza.

As relações empíricas, baseadas na geometria e geomorfologia, permitem estimar os


principais parâmetros de fluxos de detritos. Os métodos analíticos, com auxílio de
programas numéricos, permitem simular os movimentos de massas e representar as
condições geométricas e as propriedades íntrinsecas dos fluxos de detritos. Ambos os

1
métodos são ainda de emprego muito restrito para análises do movimento, estimativa
de parâmetros e definição de potenciais áreas afetadas. Isto se deve principalmente à
complexidade do fluxo de detrito e, consequentemente, à dificuldade do entendimento
do mecanismo do movimento e suas características.

Países como Áustria, Suíça, Itália Japão, China, Estados Unidos e Canadá investem
em pesquisas e técnicas que permitem uma melhor compreensão e dimensionamento
deste movimento de massa. Entretanto, esta não tem sido a realidade brasileira, que
conta com poucas pesquisas no assunto e raros registros dos eventos históricos
ocorridos no país.

Desta forma, esta pesquisa procura contribuir com o conhecimento de fluxos de


detritos, principalmente os ocorridos no Brasil, e analisar métodos de estimativa de
parâmetros para aplicação em casos recentes ocorridos no Rio de Janeiro.

Esta pesquisa apresenta os resultados das análises, utilizando relações empíricas e


simulações numéricas com o programa DAN3D de dois eventos catastróficos de fluxos
de detritos ocorridos na Região Serrana Fluminense, após evento extraordinário de
precipitação de Janeiro de 2011. Os casos de fluxo de detritos do Caleme em
Teresópolis e Córrego D’Antas em Nova Friburgo foram investigados para obtenção
de parâmetros, os quais são adotados para comparação e verificação dos resultados
obtidos com as relações empíricas e a simulação numérica com o programa DAN3D.

1.2. OBJETIVOS

Esta dissertação tem como principal objetivo o estudo do comportamento e das


características de fluxos de detritos, utilizando relações empíricas da literatura e
análises numéricas com o programa DAN3D, aplicadas aos casos históricos do
Caleme e Córrego D’Antas, na Região Serrana do Rio de Janeiro, ocorridos em janeiro
de 2011. Para alcançar a finalidade principal desta pesquisa, vários objetivos
específicos foram visados:

(i) Estudo de mecanismos e parâmetros típicos de fluxo de detritos;

(ii) Compilação das principais relações empíricas da literatura para estimativa


de parâmetros dos fluxos de detritos;

(iii) Pesquisa de programas numéricos para simulação de fluxo de detritos e


seleção daquele a ser utilizado na pesquisa;
2
(iv) Investigação detalhada dos eventos Caleme e Córrego D’Antas,
selecionados como casos de estudo;

(v) Determinação dos principais parâmetros dos fluxos de detritos dos casos de
estudo, utilizando relações empíricas e simulação numérica com DAN3D;

(vi) Análises e comparação dos resultados obtidos com os métodos empíricos e


numéricos com os valores registrados e aferidos nos eventos Caleme e
Córrego D’Antas.

1.3. ORGANIZAÇÃO

Esta dissertação é composta por cinco capítulos, sendo o primeiro um capítulo de


introdução e objetivos da pesquisa e organização do documento.

No Capítulo 2 é apresentada uma revisão de diversos conceitos de movimentos de


massas e as características principais dos fluxos de detritos e seus agentes
deflagradores. São descritas as diferentes classificações de fluxos de detritos
propostas na literatura, além das medidas de mitigação e convivência com este tipo de
movimento de massa. O capítulo também apresenta diversos métodos empíricos e
analíticos, destacando-se o programa numérico DAN3D, para determinação dos
principais parâmetros dos fluxos de detritos.

O Capítulo 3 apresenta dois casos históricos, selecionados para estudos e análises


desta pesquisa. São os eventos “Caleme” e “Córrego Dantas”, localizados nas cidades
de Teresópolis e Nova Friburgo, respectivamente, na região serrana do estado do Rio
de Janeiro, os quais foram deflagrados durante o período extraordinário de chuvas de
11 de Janeiro de 2011.

No Capítulo 4 são apresentadas as análises empíricas e numéricas dos casos de


estudo, utilizando as relações da literatura e programa DAN3D para determinação dos
principais parâmetros dos fluxos de detritos, tais como: área de impacto, volume,
velocidade de pico, descarga de pico, espessura do depósito, distância percorrida e
forças de impacto.

O Capítulo 5 apresenta as principais conclusões e sugestões para futuras pesquisas.

3
CAPITULO 2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA

Este capítulo apresenta os movimentos de massa, com ênfase nos fluxos de detritos
(Debris Flow), descrevendo os principais parâmetros deste tipo de movimento. São
apresentadas as relações empíricas desenvolvidas por diversos autores considerando
observações de campo e estudos de casos reais, para estimativa dos principais
parâmetros que caracterizam os fluxos de detritos. O capitulo também apresenta o
modelo tridimensional de análises, para determinação de parâmetros associados aos
fluxos de detritos, desenvolvido por MCDOUGALL & HUNGR em 2004 e 2005, para
simulação dos principais parâmetros e desenvolvimento de movimentos de massa de
diversos tipos, como fluxos de detritos (Debris Flows), avalanches de detritos, quedas
de blocos (Rock Falls) e deslizamento complexos.

2.1 MOVIMENTOS DE MASSAS

Os movimentos de massa são processos naturais ou induzidos envolvendo materiais


de variada granulometria. E estas massas formadas por solo, rocha, detritos, material
orgânico são movimentadas devido às forças gravitacionais ou a situações
extraordinárias, seguindo trajetórias que dependem de um conjunto de fatores que
caracterizam o movimento.

Entre os principais fatores naturais que contribuem para a geração de movimentos de


massas nas encostas destacam-se a geometria e geomorfologia do local, a duração e
intensidade de precipitações, a geologia do material que compõe a massa de solo
susceptível à movimentação, cobertura vegetal, ocupação do solo, sismos ou outras
situações incomuns tais como rompimento de barragens (NUNES, 2009). Estes
fatores somados às forças gravitacionais definem o tipo de movimento originado e as
consequências dos danos ocasionados.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009) descreve que os


fenômenos de movimentos de massa são efeitos dos processos que atingem
determinada área de forma rápida ou lenta, notabilizados pela ação da gravidade,
combinados com a ação da água, e associados a fatores naturais e/ou antrópicos.
Ocorrem em áreas de litología friável e/ou camadas superpostas ou justapostas de
diferentes graus de coesão, com espesso manto de intemperismo, geralmente em
relevo com declividades altas (>20°), sob condições de precipitação pluviométrica

4
abundante ou de chuvas concentradas, em alguns casos associados a efeitos
tectônicos, como fraturamentos ou falhamentos. Resultam no aparecimento de marcas
de escorregamentos e desmoronamento de blocos.

Em muitos casos os movimentos de massas são iniciados devido à influência humana,


principalmente pela ocupação de áreas inadequadas, aumentando a suscetibilidade de
ocorrência de rupturas de encostas.

Os movimentos de massas se caracterizam por diversos parâmetros destancando-se


a resistência dos materiais envolvidos, a topografia do local, o tipo de vegetação e as
condições climáticas. A velocidade, volume, energia, material e grau de saturação da
massa permitem classificar o movimento.

ORTIGÃO & SAYÃO (2004) descrevem que a classificação dos movimentos de massa
obedece aos seguintes critérios:

i. Cinética do movimento: definida pela relação entre a massa em movimentação


e o terreno estável (velocidade, direção e sequência dos deslocamentos);
ii. Tipo do material: solo, rocha, detritos, depósitos, destacando a sua estrutura,
textura e conteúdo de água;
iii. Geometria: tamanho e forma das massas mobilizadas;
iv. Modalidade de deformação do movimento.

NUNES (2013), entre outros, define os movimentos de massa como os deslocamentos


de solo e/ou rocha provocados por efeitos naturais ou não, que implicam em aumento
da tensão cisalhante atuante ou em redução da resistência ao cisalhamento da massa.

Diversas classificações dos movimentos de massa são propostas internacionalmente,


sendo VARNES (1978) a mais utilizada (Tabela 2.1). Esta classificação depende da
superfície de ruptura da massa em movimento e do tipo de materiais que a compõe.

Todas as classificações de movimentos de massa são válidas, considerando-se que


estes movimentos não têm um comportamento padronizado, o que torna difícil
estabelecer uma classificação única.

De acordo com THERZAGHI (1950), são duas as formas de desencadear movimentos


em encostas:

i. Causas externas: resultam do crescimento das tensões cisalhantes ao longo da


superfície de ruptura até o momento de sua ocorrência;
5
ii. Causas internas: resultam da diminuição da resistência do material.

Tabela 2-1 - Classificação de movimentos em encostas (adaptado de VARNES, 1978).

Tipo de Material
Tipo de Movimento
Solo
Rocha
Grosseiro Fino
Quedas Blocos de rocha Detritos De Terra
De blocos de
Tombamentos Detritos De terra
rocha
Desmoronamento Desmoronamento Desmoronamento
Rotacionais Poucas unidades
Escorregamentos

de rocha de detritos de terra

Deslizamento de Deslizamento de Deslizamentos de


Translacionais Muitas unidades
blocos de rocha detritos terra

De blocos de
Espalhamentos laterais De detritos De terra
rocha
De rocha (rastejo De detritos De terra
Corridas/escoamentos
profundo)
(rastejo de solo)
Complexos: combinação de dois ou mais dos principiais tipo de movimentos

Diversas causas originadas por agentes naturais e/ou induzidos correspondem aos
principais deflagradores de movimentos de massa.

NUNES (2013) descreve que os fatores que controlam os movimentos de massa são
diversos, destacando-se as feições geológicas, representadas por descontinuidades
tais como fraturas, falhas, foliação e bandamento composicional, acamamentos, e os
condicionantes geomorfológicos que incluem a morfologia do talude, zonas de
convergência e divergência de fluxo de água, ocorrência de depósitos de tálus e
colúvios. Ainda neste sentido, NUNES (2013) reporta que os movimentos se
subdividem em movimentos gravitacionais de massa, influenciados pela gravidade, e
movimentos de transporte de massa, quando o material é transportado pela ação da
água.

Sistemas classificatórios de movimentos gravitacionais de massa são apresentados


por diversos autores, sendo a maioria baseados basicamente na cinética do
movimento (velocidade, trajetória, erodibilidade, tipo de material, tendo comportamento
mecânico e estrutura do mesmo, granulometria, umidade e, grau de saturação do
material. Outros aspectos importantes são a geometria do canal (aberto ou confinado,
paredes erodiveis ou não) e os fatores deflagradores do movimento.
6
A classificação de movimentos de massa proposta pela AUSTRALIAN
GEOMECHANICS SOCIETE (2002), depois de CRUDEN E VARNES (1996), descrita
na Tabela 2.2 é baseada na velocidade de deslocamento

Tabela 2-2 - Classificação de movimentos de massa em função da velocidade


proposta por Cruden & Varnes (AUSTRALIAN GEOMECHANICS SOCITE, 2002).

Velocidade
Classe Descrição Danos esperados e reação da população
típica
Desastres catastróficos; edificações
Extremamente destruídas por impacto de material
1 >5 m/s
rápido deslocado, muitas perdas de vida.
Sobrevivência improvável

Algumas perdas de vida; velocidades altas


2 Muito rápido >3 m/min não permitem que as pessoas deixem o
local

3 Rápido >1,8 m/h Possível evacuação, edificações destruídas

Algumas edificações provisórias


4 Moderado >13 m/mês
conseguem resistir ao movimento
Reparações em edificações podem ser
feitas durante o movimento, estruturas
insensíveis ao movimento podem ser
5 Lento >1,6 m/ano mantidas após trabalho de manutenção se
o movimento como um todo não for tão
extenso durante uma determinada fase de
aceleração

A maioria das edificações não sofreram


6 Muito lento >15 mm/ano
danos
Imperceptível sem instrumentação para
Extremamente
7 <15 mm/ano monitoramento; baixo risco de ruínas das
lento
construções

Uma classificação brasileira para os movimentos de massas foi proposta por


AUGUSTO FILHO (1992), apresentada na Tabela 2.3. Esta classificação apresenta
claramente os fundamentos dos diferentes tipos de movimento, em função dos planos
de ruptura, materiais e velocidades associadas ao movimento.

7
Tabela 2-3 - Classificação brasileira para movimentos de massa (adaptada AUGUSTO
FILHO,1992).

Movimento Características

Superfície de ruptura definida

Velocidades muito baixas (cm/ano) a baixas e decrescentes com


a profundidade
Rastejo ou fluência
Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes

Solo, depósitos, rocha alterada/fraturada

Ausência de um plano de ruptura

Planos de ruptura bem definidos

Velocidades médias

Escorregamentos Pequenos a grandes volumes de material

Geometria e materiais variáveis

Em cunhas em solos e rochas com dois planos de fraqueza

Sem planos de deslocamento

Movimentos em queda livre ou em plano inclinado

Velocidades muito altas (vários m/s)

Material rochoso
Quedas
Pequenos a médios volumes

Geometria variável: lascas, placas e blocos

Rolamento re/ou deslizamento de matacão

Tombamento

Muitas superfícies de deslocamento (externas à massa instável)

Movimento semelhante ao de líquido viscoso

Desenvolvimento ao longo das calhas naturais de drenagens

Corridas Velocidades de médias a altas

Mobilização de solo, rocha, detritos e água

Grandes volumes de material

Extenso raio de alcance, inclusive em áreas planas

8
A importância da classificação destes movimentos reside principalmente na escolha de
métodos de mitigação de acordo com o mecanismo de ruptura e dos materiais
envolvidos em cada caso.

2.2 TIPOS DE MOVIMENTO DE MASSA

2.2.1. QUEDAS (FALLS)

A queda de blocos pode ser originada por agentes naturais, tais como água e vento
que influenciam a trajetória dos blocos envolvidos no movimento. Por sua vez, a
geomorfologia do local pode também influenciar a trajetória e a disposição final da
massa deslocada.

A queda de blocos geralmente corresponde a um movimento de elevada velocidade


(10 - 30m/s), e com grandes volumes (Figura 2.1). Estes movimentos, em muitos
casos, são provocados por desprendimento de um bloco, devido à ação do
intemperismo físico e/ou químico, intervenção física, chuva, vibrações sísmicas ou de
detonações resultantes de desmonte por explosivos.

BRUNSDEN E PRIOR (1984) descrevem as quedas como um movimento abrupto de


material através de queda-livre em encostas muito íngremes e precipícios. O material
é geralmente desprendido em blocos, o tamanho e a forma dos blocos dependem
basicamente da geologia do material.

NUNES (2013) define que as rupturas por queda de blocos consistem em


deslocamentos por gravidade de blocos de rocha com volumes e litologias diversas
que se destacam do maciço, deslocando-se em movimentos do tipo queda livre,
combinados com deslizamento, rolamento e salto ao longo de superfícies inclinadas.

Na Figura 2.1 é apresentada a trajetória de queda de bloco na rodovia BR-101, estado


do Rio de Janeiro, afetando a estrutura de contenção na base da rodovia.

Ocorrências de rolamento também podem ser observadas em encostas onde afloram


blocos parcialmente imersos em solo saprolítico, devido à erosão do solo na base do
bloco. Blocos arredondados comumente originam-se do intemperismo de rochas
graníticas e migmatitos, comunmente observado no estado do Rio de Janeiro.
(GEORIO, 2014)

9
Figura 2.1 - Queda de blocos na rodovia BR-101 atingindo um muro de contenção
(NUNES, 2013).

2.2.2. TOMBAMENTO (TOPPLES)

VARNES (1978) descreve o tombamento como a queda de uma massa de solo ou


rocha em bloco rígido sem sofrer colapso. A ruptura ocorre por rotação em um único
ponto pivô sob a influência das forças gravitacionais, podendo ter ainda a ação da
água nas fraturas do maciço. Este tipo de ruptura apresenta-se, na maioria dos casos,
em maciços rochosos com descontinuidades verticais e subverticais, favoráveis ao
movimento (Figura 2.2). Ocorre o movimento de um corpo rígido regido pela direção
do plano das descontinuidades.

LACERDA (2012) descreve que este tipo de movimentos se deflagra quando as


fraturas da rocha são ligeiramente inclinadas na direção da encosta, proporcionando o
destaque de blocos por tombamento.

TURNER E SCHUSTER (1996) definem tombamento como a rotação de massa de


solo ou rocha em relação ao ponto ou eixo localizado abaixo do centro de gravidade
da massa deslocada. O tombamento pode ser provocado pela presença de material
solto sobre o talude pela ação da água ou gelo nas fraturas da massa.

10
A Figura 2.2 apresenta uma ruptura do tipo tombamento, onde é evidenciada
claramente a direção das fraturas no maciço.

Figura 2.2 - Ruptura por tombamento (NUNES, 2008).

2.2.3. ESCORREGAMENTOS OU DESLIZAMENTO (LANDSLIDES)

Os deslizamentos são movimentos de massa de solo, eventualmente com blocos de


rocha, que se comporta como um bloco rígido, apresentando deformações internas na
massa de solo. Os deslizamentos são classificados em rotacionais e translacionais,
dependendo da superfície de ruptura desenvolvida (VARNES, 1978).

11
Segundo SELBY (1993), longos períodos de chuva são costumeiramente necessários
para ocorrência de deslizamentos translacionais, pois quando o solo perde seu poder
de drenagem, a poropressão aumenta fazendo com que o material perca resistência.

No entanto, deslizamento translacionais podem progredir indefinidamente se a


superfície pela qual a massa deslizada é suficientemente inclinada e a resistência
cisalhante é menor que as forças que controlam o movimento. Na Figura 2.3 é
apresentado um deslizamento típico da Região Serrana do Rio de Janeiro.

Segundo VARNES (1978) na ocorrência de deslizamento rotacional, se a superfície de


ruptura desloca-se do topo para o pé do talude, a massa instável tende a restaurar seu
equilíbrio, pois a quantidade de movimento decresce e a massa deslizada cessa o
movimento.

Na região do Rio de Janeiro, comumente são observados movimentos de massa em


solos residuais, os quais costumam ser lentos quando a resistência de pico é
ultrapassada e, com frequência, condicionados pela existência de estruturas
reliquiares. Outra situação frequente, descrita pela GEORIO (2014), é a ocorrência de
solos residuais rasos ou de solos colúvionares sobre rocha, possibilitando a ocorrência
de zonas de saturação com fluxos paralelos ao talude, que se formam rapidamente
durante eventos de chuva intensa. Nessas condições, é comum a ocorrência de
escorregamentos planares. Em rochas fraturadas, também pode ocorrer subpressão
na capa de solo, devido à surgência de água proveniente das fraturas.

Os deslizamentos nas encostas em regiões tropicais são associados, na maioria das


vezes, a fortes chuvas que originam eventos catastróficos, afetando vias expressas e
áreas ocupadas pela população, levando à perda de vidas, perdas econômicas.
BARATA (1984) descreve que fatores que tendam a aumentar tensões cisalhantes, ou
fatores que tendam a diminuir a resistência ao cisalhamento do maciço, constituem
causas potenciais de instabilização de taludes. Neste sentido, para desenvolver
medidas corretivas ou preventivas, adequadas do pontos de vista técnico e econômico
precisam ser identificados os fatores responsáveis pela movimentação, e desta
maneira adotar medidas (GUIDICINI & NIEBLE, 1976).

2.2.4. EXPANSÕES LATERAIS (LATERAL SPREADS)

VARNES (1978) descreve as expansões laterais como um movimento


predominantemente lateral causado pelo cisalhamento e tensões das fraturas.
12
BRUNSDEN & PRIOR (1984) descrevem o espalhamento como um movimento de
extensão lateral distribuída em massa fraturada.

Figura 2.3 - Escorregamento do Quitite, Nova Friburgo, Janeiro 2011.

2.2.5. CORRIDAS OU FLUXO DE DETRITOS (DEBRIS FLOW)

Os fluxos de detritos são movimentos de grandes massas, de até centenas de metros


cúbicos, se deslocando com elevada velocidade, de 1 a 20m/s (valores típicos
registrados), causando estragos catastróficos, em muitos casos com fatalidades,
danos em edificações e perdas econômicas irreparáveis.

Inicialmente a classificação de VARNES (1958) não incluía os movimentos do tipo


corridas de detritos. Posteriormente, em 1978, foi modificada pelo autor descrevendo
as corridas como um movimento rápido ou lento, de material granular, detritos e solo
comportando-se como um fluido denso saturado ou não.

IVERSON (1997) & RICKENMANN (1999) coincidem na definição dos fluxos de


detritos, descrevendo-os como um movimento de massa rápido, violento e contínuo
constituído por blocos de rocha, material granular, sedimentos e água. Impulsionado
pela gravidade, o movimento oferece grande potencial de danos às regiões às quais o
mesmo alcança.

13
Este tipo de movimento pode se desenvolver em canais confinados ou abertos, o que
influencia nos principais parâmetros da massa que constituem o fluxo. A velocidade,
vazão e espalhamento, distribuição das partículas e leque de deposição variam de
acordo com a largura e forma do canal.

Diversos fatores condicionam este tipo de eventos, mas os principais deflagradores


destes movimentos são as intensas precipitações em períodos curtos ou precipitações
médias de longa duração (NUNES & RIOS FILHO, 2009). Situações extraordinárias
que podem dar origem a estes fenômenos são as movimentações sísmicas,
explosões, perda de resistência de uma massa de solo, erosão de canal de drenagem
e ruptura de barragem.

NUNES (2013) descreve os fluxos de detritos como um movimento de massa muito


complexo que envolve volumes, materiais, velocidades e energias muito diversas,
dificultando a adoção de medidas de segurança de encostas com este potencial de
ruptura.

Estes movimentos podem ser originadas por simples deslizamento ou por queda de
rocha. A mobilização da massa inicial, somadas às condicionantes da área onde se
desenvolve o movimento, serão determinantes para que um movimento simples seja
transformado em um movimento complexo.

Segundo LACERDA E SCHILLING (1992), uma forma de instabilidade em tálus é o


deslocamento de blocos isolados encosta abaixo. O choque de lascas e de blocos de
rocha caindo do topo de uma encosta em massas de tálus/colúvio pode desencadear
um fluxo de detritos, caso a massa colúvional esteja saturada após um período
prolongado de chuvas.

As consequências e potenciais danos originados pelos fluxos de detritos variam de


acordo com o conjunto de fatores deflagradores, características do canal do fluxo e
condições geológicas e geomorfológicas da área de deposição.

Uma imagem da cicatriz de um dos mais impresionantes eventos de movimento de


massa na historia latino-americana acontecido no litoral da Venezuela, no estado
Vargas em Dezembro de 1999 é apresentada na Figura 2.4.

14
Figura 2.4 - Fluxo de detritos – Vargas, Venezuela (1999).

2.2.6. MOVIMENTOS COMPLEXOS

Este tipo de movimento envolve deslizamentos e corridas de detritos e,


eventualmente, quedas de blocos tornando o evento de maior risco. Um exemplo
deste tipo de movimento foi o acontecido em Vargas, Venezuela em 1999. NUNES &
RIOS FILHO (2009) reportam precipitações contínuas de grande intensidade,
continuas durante três dias, sendo que o terceiro dia teve um acúmulo de 2000mm de
lâmina de água acumulada, que somados aos condicionantes geomorfológicos do
local, ocasionaram a deflagração de movimentos complexos, envolvendo diversos
tipos de materiais, de variada granulometria. Estes materiais em combinação com a
água conseguiram formar uma massa que resultou em um depósito de
aproximadamente 20.000.000m³ de sedimentos, que atingindo elevada energia,
provocando a devastação e destruição de muitas áreas afetadas, destruindo estruturas
e arrastando elementos encontrados na trajetória do fluxo, acarretando mais de 20.000
mortes e mais de 300.000 pessoas afetadas.

15
Figura 2.5 - Depósitos resultante de movimentos complexos, acorridos em Vargas,
Venezuela em 1999.

VARNES (1978) descreve que os movimentos complexos são movimentos de


encostas que envolvem uma combinação de um ou mais movimentos dos tipos
quedas, deslizamento e fluxos, em diferentes estágios durante a trajetória do
movimento.

Casos históricos demonstram que, dependendo das características e volume de


material envolvido no movimento, a suscetibilidade de deflagração de movimentos
complexos torna-se maior.

A Fundação GEORIO apresenta algumas características de interesse que devem ser


consideradas para descrever um movimento de massa (GEORIO, 2014), reproduzidas
na Tabela 2.4. Embora algumas das características apresentadas sejam de difícil
determinação mediante observação de campo após os eventos, a inspeção e
levantamento detalhados do evento permitirá que medidas de mitigação e convivência
possam ser tomadas adequadamente.

POLANCO (2010) propõe uma ficha de caracterização para levantamento dos dados
de movimentos de massa, apresentada na Tabela 2.5.
16
Tabela 2-4 - Relação de elementos considerados significativos para descrição de
movimentos de massa (GeoRio, 2014).

Características
Movimento

Dimensões (largura, comprimento e desnível) e forma da


Aspectos geométricos e
zona afetada e da superfície de ruptura; inclinação do
morfológicos
terreno e tipo de movimentação.

 Materiais rochosos: homogeneidade, fraturamento,


grau de alteração, estratificação, bandeamento,
foliação, etc.
Natureza e estado dos
 Solo: granulometria, origem e formação,
materiais envolvidos
descontinuidades, anisotropia e presença de
fragmentos de rocha, detritos,de escorregamento
antigos ou resíduos sólidos urbanos.
 Cobertura vegetal da encosta

Orientação de foliações , fraturas, falhas e dobramentos,


Aspectos estruturais das presença de diques e veios, feições do fraturamento
rochas (frequência, espaçamento, abertura ou preenchimento,
rugosidade, ondulações).

Anisotropias de resistência, propriedades dos solos ou


das rochas intactas, ou entre descontinuidades,
Aspectos mecânicos
velocidade de carregamento e condições de geração de
excesso de por pressão/sucção.

Chuva (distribuição espacial, volume, intensidade e


Aspectos hidrológicos
duração).

Mecanismo de Prováveis causas e agentes, velocidade presumida do


movimentação movimento.

Superfície ou zona de Superfície evidente ou indistinta, origem, presença de


cisalhamento trincas e forma da superfície de cisalhamento.

Comportamento no tempo Sazonalidade.

Letalidade, danos econômicos, materiais e ambientais,


Consequência na área influência na morfologia local ou regional, mudanças no
regime de escoamento superficial ou subterrâneo.

17
Tabela 2-5 - Ficha de caracterização para levantamento de dados de movimentos de
massa (adapt. POLANCO, 2010).

DADOS GERAIS
Caso
Origem
Classificação
Local (Cidade - Pais)
Data
Mecanismo de acionamento
Consequências
GEOMETRIA

MORFOLOGIA
Fonte Depósito
Superfície da área

Material arrastado ao longo do movimento

Água
DETALHES DA GEOMETRIA
Volume (m³)
Descarga de Pico (m³/s)
Caminho
Ângulo de inclinação (°) Fonte
Depósito

Falha visível na superfície?

PARÂMETROS DO MOVIMENTO
Máxima:
Velocidade de Escorregamento (m/s)
Média:
Máxima:
Espessura do material depositado (m)
Média:
Tempo de duração (s)
Distância percorrida (m)
OUTROS DETALHES IMPORTANTE

SOLUÇÕES PROPOSTAS

18
2.3 FLUXOS DE DETRITOS

2.3.1. DEFINIÇÃO

Os movimentos do tipo fluxo de detritos são originados por diversos fatores que devido
a situações extremas resultam em massas compostas por solo, rocha e detritos
misturados com água instabilizados pelo efeito da saturação e aumento da
poropressão. Fato somado às forças gravitacionais originam movimentos rápidos de
grandes volumes de material, conseguindo alcançar grandes extensões e grandes
áreas de deposição do material carregado.

STINY (1910) foi um dos primeiros a definir este tipo de movimento como um fluido
que se desenvolve em um canal natural, carregando sólidos e sedimentos em
suspensão no corpo do fluxo e transportando material erodido no fundo do canal do
fluxo. Devido ao aumento da massa em função dos sedimentos carregados, a partir de
um determinado momento, o fluxo muda, transformando-se em uma massa viscosa,
constituída por água, sólidos, solo, rocha e detritos misturados semelhantes a uma
lava num talvegue.

O fenômeno denominado fluxo de detritos não é mais que uma massa inicial acionada
por fatores naturais ou externos que se desloca com grande velocidade, variável em
função dos diversos fatores envolvidos, carregando e associando detritos e
sedimentos ao longo da sua trajetória, até atingir elevadas energias, com grande
capacidade de destruição.

Alguns casos históricos têm sido registrados, mostrando que o potencial de destruição
destas massas depende do conjunto de vários fatores deflagradores e que influenciam
o movimento. Algumas classificações apresentadas mostram o potencial de dano de
acordo com a magnitude do movimento.

Uma classificação proposta por CRUDEN & VARNES (1996) é apresentada na Tabela
2.6, enquadrando os fluxos de detritos em classes de acordo com a velocidade,
indicando a resposta da população de acordo.

TAKAHASHI (2006) descreve este tipo de movimento como uma mistura de água e
sedimentos aleatórios comportando-se como um fluido contínuo conduzido por
gravidade e que alcança grandes extensões.

19
Tabela 2-6 - Classificação em função da velocidade de deslizamentos (CRUDEN &
VARNES, 1996).

Limites de
Descrição Classificação Resposta
velocidade
Extremadamente rápido 7 Nula
>5 m/s
Muito rápido 6 Nula
Rápido 5 3m/min Evacuação
Moderado 4 1,8 m/h Evacuação
Lento 3 13 m/mês Manutenção
Muito lento 2 1,6 m/ano Manutenção
Extremadamente lento 1 <16 mm/ano Nula

Muitas definições são propostas para descrever os fluxos de detritos. Porém, por
serem movimentos complexos e dependentes dos condicionantes e fatores
deflagradores, todas as descrições são válidas, considerando que este movimento é
caracterizado por ser uma mistura de vários materiais, envolvendo grandes energias e,
consequentemente, atingindo elevadas velocidades e distâncias.

2.3.2. CARACTERÍSTICAS

As características destes movimentos variam de acordo com o tipo de material


envolvido, a geometria da superfície da trajetória do movimento e de acordo com os
fatores que deflagram o movimento. Os fluxos de detritos também podem ser
caracterizados pela área de deposição disponível, em função da geologia e
geomorfologia do local.

Alguns autores classificam as corridas de material basicamente em dois tipos; os


denominados fluxos de detritos (Debris Flows) envolvendo materiais de granulometria
mais grosserias até blocos de rocha e os denominados fluxos de lama ou de material
fino (Mud Flows).

Geralmente este tipo de movimento de massa apresenta a configuração mostrada na


Figura 2.6, onde se identifica diferentes zonas da trajetória do movimento: Zona de
iniciação, onde é originado o movimento, zona de transporte e erosão, onde se
desenvolve o movimento e a zona de deposição do material, onde a massa mobilizada
inicia seu processo de deposição.

20
Zona de Iniciação

Zona de transporte e erosão

Zona de deposição

Figura 2.6 - Esquema geral do movimento (JAKOB, 2005).

Na Figura 2.7 é apresentada a configuração esquemática proposta por VANDINE


(1996) das zonas da trajetória do movimento caracterizadas da seguinte maneira:
zona de iniciação com declividades superiores a 25°, transporte e erosão com
declividade superior a 15°, a zona de deposição, geralmente com declividades
menores a 10° (Figura 2.7).

Figura 2.7 - Divisão de zonas da trajetória do movimento com fluxo canalizado


(VANDINE, 1996).
21
Zona de Iniciação

Normalmente, a zona de iniciação ou de ruptura está localizada em uma falha na parte


alta da encosta, ou na lateral de um talude ou no canal principal (HUNGR, 2005;
GOSTNER et al., 2008). A mobilização, ou seja, o início da ruptura representa o
processo pelo qual um movimento do tipo fluxo de detritos pode desenvolver-se a
partir do estado estático, de uma massa aparentemente rígida de solo, sedimento, ou
bloco de rocha (COSTA, 1984; TAKAHASHI, 1991; SELBY, 1993; IVERSON 1997). A
mobilização requer o deslocamento da massa, água suficiente para saturá-la (COSTA,
1984; TAKAHASHI, 1991; SELBY, 1993), e a transformação de energia potencial
gravitacional para energia cinemática capaz de mudar o tipo do movimento de
deslocamento para fluxo (IVERSON, 1997).

Segundo TAKAHASHI (1991), os fluxos de detritos podem ser iniciados de três


maneiras: (i) um deslizamento de terra adquire maior mobilidade e se transforma em
um fluxo de detritos; (ii) o colapso de uma estrutura ou barreira de solo e sedimento;
(iii) e quando as margens do canal se tornam instáveis a partir da ocorrência ou
aumento do escoamento superficial. O autor descreve que a área de iniciação deste
tipo de movimento geralmente possui declividade elevada.

Zona de Transporte e erosão

A zona de transporte corresponde à área percorrida pelo fluxo de detritos em


movimento (HUNGR, 2005). Usualmente esta zona de transporte e erosão encontra-
se em locais com declividade maior que 15° (BATHURST et al.1997; HUNGR, 2005).
No percurso o movimento de massa pode incrementar seu volume, erodindo o material
nesta zona ou carreando o material depositado em movimentos pretéritos. A taxa de
erosão irá depender das características geológicas e das condições dos materiais na
zona de trajetória do fluxo.

Zona de Deposição

De acordo com IVERSON (1997), a deposição ocorre quando toda a energia cinética é
transformada em outra forma de energia. A deposição normalmente resulta da
combinação da redução da declividade e da perda do confinamento (HUNGR, 2005;
BENDA & CUNDY, 1990). Diversos autores apresentam os valores de declividade
onde se inicia a deposição do fluxo. Segundo VANDINE (1996), a zona de deposição
geralmente tem declividades inferiores a 10°. Outros autores apresentam valores de
ângulo de deposição diferentes do proposto por VANDINE (1996). Casos reais têm
22
demonstrado que os ângulos de deposição são variáveis de acordo com as condições
de desenvolvimento dos movimentos, podendo ser superiores a 10°. HUNGR et al.
(1984) sugerem valores de ângulos de deposição variando de 8 a 12° para
movimentos em canais "confinados" e de 10 a 14° para canais "abertos". Alguns casos
de pequenos fluxos e avalanches de detritos registrados em Hong Kong mostram
ângulos de deposição excedendo 30 a 40°(WONG et al.,1997). FINNIN & WISE (2001)
relatam faixas de ângulos de deposição de 10 a 22° para fluxos de detritos
canalizados e de 19 a 24° para fluxos não confinados registrados na região de British
Columbia (Canada).

Em outros casos de estudo, declividades evidenciadas na zona de deposição são


superiores a 15°. Isto indica que cada evento de fluxo de detritos deve ser avaliado de
acordo com a geomorfologia da zona de trajetória e a área de deposição disponível.

PIERSON (1986) descreve que, para fluxos de detritos, o corpo é dividido em três
zonas, diferenciadas pelos tamanhos das partículas (Figura 2.8). A parte frontal
apresenta a maior porcentagem de partículas de maior diâmetro. Na parte central do
encontra-se uma massa constituída de material fino e detritos. A parte final sofre fluxo
turbulento com maior porcentagem de água do que de sedimentos, similar a um fluxo
de lama.

Figura 2.8 - Perfil esquemático de fluxo de detritos com frente granular (PIERSON,
1987).

Segundo IVERSON (1997), o acúmulo de grandes rochas e detritos na cabeça da


onda pode ter duas origens: este material pode ser agregado durante o movimento e
fica retido por outros detritos, ou pode migrar do corpo do fluxo por transporte
preferencial. Desta forma, ao se propagar, o fluxo perde energia, por atrito interno e
23
externo, tendendo a parar. Sendo assim o fluxo passa da zona de transporte, para a
zona de deposição

2.3.3. DEFLAGADORES

A formação de fluxos de detritos é um fenômeno complexo, variável de acordo com o


conjunto de fatores e condições que caracterizam cada evento, tornando difícil a
análises e determinação do comportamento do movimento de massa.

BLACKWELDER (1928) numera algumas condições favoráveis para a formação de


fluxos de detritos. Estes são: abundancia de água e materiais inconsolidados,
tornando-se instáveis quando saturados. Na maioria dos casos, encostas escarpadas
são suficientes para induzir mobilidade nos materiais. Outro fator deflagrador descrito
pelo autor é a existência de pouca ou nula proteção vegetal.

Os principais fatores deflagradores de fluxos de detritos correspondem a fatores


principalmente naturais, seguido da ação do homem em áreas susceptíveis.

Os principais fatores deflagradores dos fluxos de detritos, portanto, são:

 Condições de geologia e geomorfologia da encosta: as diversas condições


geomorfológicas e climáticas, iniciadas por uma variedade de mecanismos
(MIDRIAK, 1985; MORGAN ET AL., 1997). Os condicionantes definidos pela
topografia, geomorfologia e tipo de material definirão o comportamento:
intensidade, magnitude, entre outros. GRAMANI (2001) também descreve que
algumas das condições favoráveis para a ocorrência de corridas de detritos são
as encostas íngremes (acima de 25°), e partículas e detritos de solos e/ou
rochas inconsolidados. Segundo BANGXING et al. (1994), as superfícies das
encostas e os canais de drenagem correspondem às duas feições
geomorfológicas, nas quais é comum as ocorrências de fluxos de detritos.
Comunmente o termo "ravine" é utilizado para descrever a trajetória em
drenagens naturais e "slope" para encostas. Esses aspectos influenciam de
maneira distinta o comportamento da massa, devido às diferenças de energia
geradas.

 Fatores naturais e externos: fenômenos como sismos, chuvas intensas, ações


vulcânicas, enchentes, entre outros, são condicionantes nos movimentos do
tipo fluxo de detritos;

24
 Vegetação: o tipo de vegetação pode influenciar no grau de susceptibilidade de
uma determinada área, no entanto BHUWANI (2004) descreve que uma
proteção vegetal escassa não corresponde a um fator de deflagração
importante;

 Ação antrópica: estas estão relacionadas às atividades humanas,


principalmente aquelas que envolvem uso de explosivos (geração de sismos
induzidos) e remoção da cobertura vegetal, escavações, podem iniciar o
processo de mobilização de grandes quantidades de solo, criando condições
para o desenvolvimento de fluxos de detritos quando as áreas coincidem com
locais susceptíveis a esses processos (GRAMANI, 2001).

Alguns autores afirmam que a umidade e a distribuição granulométrica são


consideradas os fatores mais importantes durante a formação de fluxos de detritos.
Entre outros aspectos, a quantidade de água na massa de solo pode influenciar nas
propriedades mecânicas dos materiais (RODINE & JOHNSON, 1976).

Por outro lado, em muitos casos, fatores associados à ocupação desordenada do solo,
rompimento de barragens artificiais e naturais, ações sísmicas e vulcânicas também
podem ser deflagradores de fluxos de detritos. Inspeções periódicas de campo devem
ser realizadas em áreas susceptíveis para evitar que estes deflagradores sejam
ativados.

Atualmente, leis de ocupação do solo estão sendo elaboradas em alguns países de


América e na Europa e revisadas para determinar limites de zonas susceptíveis. Ainda
há muito trabalho a ser realizado neste aspecto.

2.3.4. CLASSIFICAÇÃO E TIPOS

Se caracterizam por serem movimentos extremadamente rápidos, com velocidades


moderadas a elevadas, superiores a 5m/s, com exceções de alguns eventos
registrados, como é o caso do evento de Huascarán no Peru, onde foram registrada
velocidades médias de 280km/h (POLANCO, 2010).

A classificação deste tipo de movimento corresponde a um difícil aspecto, uma vez


que o movimento depende de um conjunto de fatores e não de variáveis especificas
determinadas. Classificações são apresentadas diversas para este tipo de movimento

25
de massa, algumas relacionando os principais parâmetros que caracterizam o
movimento e outras classificando em função da geologia do material.

VARNES (1978) classificou os fluxos de detritos em duas categorias: "fluxos rápidos"


para velocidades superiores a >1,5 m/dia e "menos rápido", para velocidades
inferiores a < 1,5m/dia.

TAKAHASHI (2000) classifica os fluxos de detrito em três diferentes categorias de


acordo com o comportamento da massa em movimento. Os números de Bagnold e
Reynolds e a concentração de sedimentos são usadas para classificar o fluxo em solo
granular, viscoso ou de material fino (lama). O comportamento do fluxo de detritos
depende da concentração de sedimentos, tipo e tamanho da partícula, profundidade
do fluxo e geometria do perfil da trajetória.

O primeiro tipo (stony type debris flow), é caracterizado por carregar grandes blocos
de rocha nas porções frontais, seguidos por uma massa com maior quantidade de
água e partículas com menor diâmetro do que a porção frontal, diminuindo a descarga
e a concentração de sólidos gradualmente.

O segundo tipo (muddy flow) é definido pelos diâmetros das partículas dominantes,
entre 1 e 3mm, com grandes blocos dispersos no fluxo e não concentrados na porção
frontal. Este tipo de fluxo é considerado turbulento.

O terceiro tipo, denominado viscous debris flow, possui características distintas aos
fluxos granulares e de material fino. Este tipo não apresenta blocos no corpo do fluxo,
e sua turbulência decresce gradualmente, transformando-se em um fluxo laminar.

Por outro lado HUNGR et al.(2001) classificam os fluxos em:

i. Fluxo de detritos (Debris Flow), movimento rápido a extremamente rápido de


detritos saturados, não plásticos, e em canal com IP < 5% na fração solo;

ii. Fluxo de lama (Mud Flow), movimento rápido a extremamente rápido de lama
e/ou detritos saturados, e em canal, com alto teor de água e alta plasticidade,
IP>5%;

iii. Enxurrada de detritos (Debris flood), movimento muito rápido com grande
quantidade de detrito, afloramento de água;

26
iv. Avalanche de detritos (Debris avalanche), movimento muito a extremamente
rápido, de material superficial, parcial ou totalmente saturado, sem canal.

Na classificação proposta por HUNGR (2001), o termo mud é usado para solos
argilosos, cuja matriz (areia e finos) é significativamente plástica. Este material
argiloso ou solo seco é potencialmente instável ao se misturar rapidamente com águas
superficiais, superando o limite líquido.

O termo debris (detritos) é definido por HUNGR et al. (2001) como um material solto
de baixa plasticidade, resultante de movimentos de massa (colúvio), intemperismo
(solo residual), transporte glaciar (depósitos de gelo), explosões vulcânicas (depósitos
piroclásticos), ou de atividade humana (exploração de minas).

Em função da textura, os debris são uma mistura de diversas granulometrias, com


uma massa constituída de areia, rocha, blocos de rocha geralmente com distintas
proporções de silte e lama, podendo conter uma proporção significativa de material
orgânico.

Como expresso anteriormente, não existe uma classificação universal para


movimentos deste tipo. A maioria das classificações propostas é função da velocidade
associada ao movimento e ao poder de destruição associado à massa. Os
movimentos de massa com características muito variáveis, de difícil determinação, o
que torna difícil uma classificação real deste tipo de movimento.

JAKOB (2005) propõe uma classificação dos fluxos de detritos (Debris Flows) em
função da magnitude do movimento, relacionando este volume aos principais
parâmetros que caracterizam o movimento: vazão, área inundável e aumento dos
potenciais danos. A classificação apresentada na Tabela 2.7, proposta por JAKOB
(2005) e adaptada por POLANCO (2010), considera apenas a área inundável e
consequências de acordo com as classes do movimento. Esta classificação considera
9 classes, crescentes com o potencial de danos.

A descrição de movimentos do tipo fluxos de detritos é muito complexa, principalmente


pela dificuldade de registrar os principais parâmetros característicos do massa
movimentada. Cada caso requer de uma avaliação em função dos condicionantes e
características da área e dos principais parâmetros. O potencial de dano dependerá
principalmente da área de deposição disponível e do tipo de ocupação da área. As
Figuras 2.9 e 2.10 ilustram seis classes de fluxos de detritos propostas por JAKOB
(2005).
27
Tabela 2-7 - Classificação de fluxos de detritos (POLANCO, 2010, MOD. DE JAKOB &
HUNGR, 2005).
Volume Vazão Área inundável
Classificação 3 2
(m ) 3
(m /s) (m )
2 2
1 < 10 <5 < 4.10
Consequências: Danos localizados. Pode ocasionar a morte de
trabalhadores florestais em pequenos talvegues, danos em
construções menores.
2 3 2 3
2 10 - 10 5 - 30 4.10 – 2.10
Consequências: Destruição de carros, construções de madeira,
árvores, bueiros, e descarrilamento de trens.
3 4 3 3
3 10 - 10 30 - 200 2.10 – 9.10
Consequências: Destruição de edifícios de maior dimensão, danos
em pilares de pontes de concreto, danos em rodovias e gasodutos.
4 5 3 4
4 10 - 10 200 – 1.500 9.10 – 4.10
Consequências: Destruição de aldeias, corredores de
infraestrutura, pontes, obstrução de riachos.
5 6 1.500 – 4 5
5 10 - 10 4.10 – 2.10
12.000
Consequências: Destruição de partes das cidades e florestas de 2
2
km de área. Obstrução de riachos e pequenos rios.
5 6 Não 5
6 10 - 10 > 2.10
observado
Consequências: Destruição de cidades e obstrução de vales até
2
várias dezenas de km de área. Bloqueio de rios de pequenas
barragens.
6 7 Não
7 10 - 10 Não observado
observado
Consequências: Destruição de cidades e obstrução de vales até
2
várias dezenas de km de área. Bloqueio de grandes rios de
barragens.
7 8 Não
8 10 - 10 Não observado
observado
Consequências: Destruição de cidades e inundação de vales até
2
100 km de área. Bloqueio de grandes rios.
8 Não
9 > 10 Não observado
observado
2
Consequências: Vasta e completa destruição de centenas de km .

28
Figura 2.9 - Esquema de Classes 1 a 3 de fluxo de detritos (Jakob, 2005).

Figura 2.10 - Esquema de Classes 4 a 6 de fluxo de detritos (Jakob, 2005).

29
2.3.5. FLUXOS DE DETRITOS INICIADOS POR DESLIZAMENTOS

Como evidenciado em inúmeros casos históricos, em muitos casos os fluxos de


detritos são iniciados por deslizamentos, que devido à ação da gravidade e a fatores e
condições locais do evento conseguem provocar uma aumento de energia, originando
um novo movimento com características de movimento do tipo fluxo de detritos.

IVERSON et al. (1997) descreve que três processos são envolvidos neste fenômeno:
(1) ruptura generalizada do material deslizado inicialmente; (2) liquefação completa ou
parcial da massa de solo por elevada poropressão, e (3) transformação da energia de
um deslizamento translacional em energia interna da massa deslizante. Sendo o
primeiro processo uma consequência da ruptura inicial e os outros dois processos são
fatores internos e externos para a formação de fluxos de detrito, estes podem ser
iniciado por uma das condições descritas acima ou pela sua combinação.

Outro fator deflagrador de movimentos de massa que posteriormente pode se


transformar em fluxos de detritos é representado pela quantidade de água da área,
função da hidrologia local, que influencia diretamente no processo, diminuindo a
sucção do material, incrementando a carga e reduzindo consideravelmente a coesão
do material envolvido no deslizamento.

Inúmeros casos originados a partir de deslizamentos são observados e registrados.


PAIN (1972) estudou 25 deslizamentos transformados em fluxos de detritos em Nova
Zelândia. MCDOUGALL (2006) também apresenta alguns casos de estudo iniciados
por deslizamentos de solo em diversas regiões do mundo.

2.3.6. PRINCIPAIS PARÂMETROS

Para entender o comportamento dos fluxos de detritos e visando a prevenção e o


desenvolvimento de mecanismos de mitigação e convivência com este tipo de
fenômeno é importante conhecer os principais parâmetros que caracterizam este tipo
de movimento.

Os parâmetros que caracterizam o movimento podem ser separados em parâmetros


externos (da área onde é desenvolvido o movimento) e parâmetros internos, que
depende das características da massa envolvida no movimento. Os parâmetros que
caracterizam a área referem-se aos elementos associados à topografia, geomorfologia
e geologia do local, definindo a geometria e o comportamento do movimento. Por outro

30
lado, os parâmetros internos característicos estão associados às propriedades do
material envolvido: densidade do material sólido, densidade da mistura, tipo de
material, tamanho das partículas, entre outros.

Alguns autores consideram que os parâmetros mais importantes para previsão de


risco ou de áreas potenciais a riscos por efeito de fluxos de detritos são o volume que
pode ser carregado no movimento e a distância total percorrida pelo movimento.

BLIJENBERG (1998) enfatiza a importância da longitude, escoamento e volume do


fluxo. Por outro lado, ZNAMENSKY (2001) considera três parâmetros importantes,
diferentes aos considerados por outros autores, para definição do fluxo de detritos:
concentração, densidade da mistura e viscosidade. Segundo este autor, estas três
grandezas definem as propriedades físicas e reológicas dos fluxos de detritos e os
diferenciam de outros movimentos de massa.

Na Tabela 2.8 é apresentada a faixa de valores típicos dos principais parâmetros.


Estes valores foram levantados por IVERSON (1997) em função de dados de casos
históricos observados e registrado.

Para estimar os principais parâmetros que definem o movimento de massa existem


dois métodos principais: métodos empíricos e métodos analíticos (MCDOUGALL et al.,
2004). Os métodos empíricos utilizam relações empíricas, propostas a partir de dados
obtidos durante observações de campo. Já os métodos analíticos, por sua vez,
incluem concentração de massas e modelos de mecanismo em meios contínuos,
visando prever o movimento de uma massa deslizada do início até a deposição,
fornecendo estimativas da extensão do perigo e intensidade do movimento.

Os parâmetros que caracterizam os fluxos de detritos são importantes para estimar


potencial de danos, dimensionar estruturas e medidas de mitigação e convivência e
para caracterizar efeitos secundários, como ondas de deslizamento e diques naturais
constituídos nos canais de drenagem natural ou talvegues formados durante eventos
pretéritos.

31
Tabela 2-8 - Valores típicos dos principais parâmetros de fluxo de detritos (IVERSON,
1997).

Símbolo Valores típicos


Propriedades
Propriedades das partículas sólidas
3
Peso Específico (kN/m ) ρs 25 - 30
-5
Diâmetro da partícula (m) δ 10 - 10
Ângulo de atrito (°) Ø 25 - 45

Coeficiente de restituição e 0,1 - 0,5


Propriedades da fração líquida
3
Densidade (Kg/m ) ρf 1000 - 1200

Viscosidades (Pa s) μ 0,001 - 0,1


Propriedades da Mistura

Fração solida em relação ao volume total ʋs 0,4 – 0,8

Fração liquida em relação ao volume total ʋf 0,2 – 0,6


2 -13 -9
Permeabilidade Hidráulica (m ) k 10 - 10
-7 -2
Condutividade Hidráulica (m/s) K 10 - 10
3 5
Modulo de elasticidade (Pa) E 10 - 10
Ângulo de atrito (°) Ø 25 - 45

Volume

O volume total do material, embora de difícil determinação, é um dos parâmetros mais


importantes. Estimativas de volume de material em função das condições geológicas e
geomorfológicas presentes em áreas de risco correspondem a um difícil, mas,
adequado método para se determinar os volumes. Diversos autores propõem a
utilização de relações empíricas baseadas em estudos dos parâmetros registrados de
eventos históricos.

Segundo HUNGR et al. (2005), a magnitude do volume envolvido em um fluxo de


detritos, dificilmente será igual ao volume inicial deflagrador do movimento. Um
exemplo deste fato é o caso histórico observado em Hong Kong, onde um pequeno
volume inicial igual a 400m³ foi incrementado ao longo da sua trajetória até atingir um
volume final de 20.000m³, devido à erosão e escoamento do material (KING, 1996).

Este parâmetro corresponde a um dos mais importantes para delimitação de áreas de


risco, sua estimativa, em função da geometria e do material da área permite a
32
determinação da área atingida durante o evento e, portanto, a adoção de das
providencias necessárias para proteção das áreas susceptíveis ao risco.

Estudos realizados em eventos de fluxo de detritos propõem relações empíricas para


determinação de volume. Várias equações são apresentadas no item 2.4.1 na Tabela
2.11 e implementadas para os casos de estudo desta pesquisa (Capítulo 3), visando a
estimativa do volume total de fluxos de detritos.

Entretanto, RICKENMANN (1999) afirma que as equações para estimativa do volume


do fluxo podem superestimar os volumes em até 100 vezes, pelo qual não aconselha
sua aplicação. O autor recomenda fazer uma avaliação geomorfológica em campo das
áreas de risco potencial de deslizamentos, que podem se transformar em fonte de
detritos. Esta avaliação é extremamente complexa, já que o volume é estimado a partir
de um conjunto de fatores de difícil determinação.

Velocidade

A determinação da velocidade é bastante complexa e muito mais difícil do que a


determinação da velocidade de escoamento de água sem sedimentos.

CRUDEN & VARNES (1996) sugerem uma escala de velocidade de deslizamentos,


ressaltando que o fluxo de detritos pode ocorrer de forma extremamente rápida a
lenta, conforma já apresentado na Tabela 2.2.

Descarga de Pico

O outro parâmetro importante e característico é a descarga ou vazão de pico (Qp),


visto que é diretamente relacionada à intensidade dos danos provocados pelo
movimento. HUNGR (2000) descreve sobre a importância da vazão ou descarga de
pico e a define como a característica mais importante de um fluxo de detritos, sendo a
causa principal do surgimento de grandes ondas de arraste.

A vazão de pico pode ser o melhor parâmetro para distinguir uma corrida de detritos
de uma avalanche de detritos (fluxo hiperconcentrado). Ambas são capazes de
transportar grandes quantidades de sedimentos mal graduados.

A vazão máxima de curta duração pode ser até 40 vezes maior do que a de uma
inundação extrema (VANDINE, 1985).

33
A estimativa da vazão de pico é de vital importância para a análise deste tipo de
movimento, pois auxilia na determinação da velocidade máxima e profundidade do
fluxo de detritos, impulso, forças de impacto, capacidade dos canais e das barreiras,
assim como da distância atingida pelo movimento.

Conhecer a descarga máxima e a velocidade associada a esta descarga é importante


para avaliar o problema em alguns pontos críticos ou de interesse especifico. Alguns
pesquisadores referem que existe uma relação entre a descarga e o volume do fluxo
de detritos (HUNGR et al.,1984; MIZUYAMA et al.,1992; TAKAHASHI et al.,1994;
RICKENMANN, 1999).

Distância Percorrida e Ângulo de Viagem

A distância máxima percorrida (L) é representada pela projeção horizontal que une o
primeiro ponto da zona de iniciação do movimento e o ponto limite máxima do material
depositado durante o movimento. Esta distância (L) conjuntamente com a altura (H),
definida pelo diferença entre o ponto mais alto (zona de iniciação) e o ponto mais
baixo, definem o ângulo de alcance (α), proposto pioneiramente por HEIM (1932) e
denominado de fahrböschung. Outros autores o denominaram de ângulo de viagem
(Travel Angle) ou ângulo da trajetória (HUNTER & FELL 2003).

WONG et al. (1997) sugerem que a relação entre o ângulo de viagem do e a distância
percorrida pode ser aplicável para estimativa de distâncias percorridas em eventos de
fluxos de detritos em condições similares.

BHUWANI (2004) descreve que a distância percorrida é um indicador do processo de


transformação de uma massa deslizada em um fluxo de detritos. Se a distância de
viagem em um movimento de massa for muito pequena (menor que a distância inicial
L do movimento), ele não será transformado. Se a distância é maior, a massa
deslizada se comporta como um movimento do tipo fluxo de detritos.

De fato, uma característica particular é a elevada distância percorrida durante um


movimento de massa. Isto implica que a mistura de massa, água e detritos ganha
muita energia ao longo da sua trajetória, característica típica de fluxo de detritos.

VOELLMY (1955) e SALM (1996) propõem que a distância percorrida por um fluxo de
detritos pode ser calculada a partir da energia e seus princípios de conservação, de
forma análoga a das avalanches de neve. TAKAHASHI & YOSHIDA (1979), sugerem

34
o cálculo da distância percorrida por meio da implementação das equações de
conservação de momento.

A distância percorrida por um movimento de massa ao se transformar em um fluxo de


detritos, irá depender do conjunto de fatores e condicionantes de cada evento. Em
função disto, cada evento devera ser avaliado individualmente e particularmente para
definição das distâncias percorridas ou potencialmente atingidas pelo movimento de
massa.

Granulometria das Partículas

A granulometria do material que constitui a massa movimentada depende das


características geológicas do material presente na área e do grau de intemperismo.
Esta característica permite determinar o tipo de fluxo desenvolvido pela massa em
movimento. Se a maior porcentagem for de material fino, será classificado como fluxo
de lama (Mud Flow). Se o fluxo for de granulometria grosseira, ele é denominado fluxo
de detritos (Debris Flow) e envolve partículas de médio a grande diâmetro.

Energia Cinética do Fluxo

A energia cinética do fluxo de detritos dependera basicamente da massa movimentada


e da velocidade do movimento, que por sua vez depende, principalmente, do gradiente
do canal no qual se desloca a massa em movimento.

A energia da massa em movimento influencia diretamente na extensão atingida pela


deposição, que também é função da altura e do volume.

Erosão e Taxa de Escoamento do Material

A passagem de massa em movimento em canais aberto ou confinados pode erodir o


material no leito do canal e nas margens, atingindo grande profundidade. O grau de
erosão de um determinado canal ira influenciar o volume final e intensidade dos fluxos
de detritos.

IKEYA (1981) foi o primeiro a abordar o aspecto da erosão do material no canal do


fluxo de detritos, sugerindo que a magnitude potencial estaria representada pela
relação entre o comprimento, largura média do canal e espessura média de erosão da
seção transversal analisada, representada pela Figura 2.11.

35
Um dos mecanismos que causam o aumento do material durante a trajetória de fluxos
de detritos é a instabilidades do fundo e erosão da base do canal, provocado pelas
forças de arraste atuando na base do fluxo e pela perda de resistência devido ao
carregamento não drenado durante este tipo de movimento (HUNGR et al., 2005)

O grau de erosão de um determinado canal de fluxo de detritos depende de diversos


fatores, principalmente da inclinação do canal e das características geológicas do
material na base e nas margens, principalmente na zona de transporte do fluxo.

Segundo POLLONI et al. (1996), para um canal com características rochosas, o


substrato rochoso é raramente afetado. Entretanto, a erosão pode ocorrer em rochas
intensamente fraturadas ou muito alteradas. A estimação de taxa de erosão de um
canal com leito rochoso, em muitos casos, pode ser feita por simples inspeção visual
(HUNGR et al., 1994; VANDINE, 1985).

Algumas equações tentam prever o comportamento da massa quando escoa sobre um


substrato inconsolidado. Dentre elas, tem-se uma equação geral para explicar
algumas situações observadas em campo. A equação proposta pelo IPT (1988)
apresenta uma relação entre a seção do canal do fluxo e a inclinação do canal e é
dada por:

(Eq. 2.1)

Onde:
: seção transversal do fluxo (m²);
: raio hidráulico (m);
: ângulo de inclinação do canal (°);
: aceleração gravitacional (g/m²)

Por outro lado HUNGR et al. (1984) desenvolveram o termo Channel Debris Yield Rate
(taxa de erosão no percurso) para determinar a taxa de ganho de volume por unidade
de comprimento. HUNGR (2005) afirma que este termo representa a quantidade de
volume de sedimento que o fluxo recebe por metro percorrido, ao erodir o canal
durante seu avanço.

THURBER CONSULTANTS (1983) E HUNGR et al. (1984) propuseram uma relação


mais direta da taxa de escoamento do material (Yi), definido em m³/m de canal, sendo
uma relação entre área transversal e a inclinação do canal, expressa por (Figura 2.11):

36
(Eq. 2.2)

Onde:
A: seção transversal da área erodida do canal (m²);
β: ângulo de inclinação do canal (rad).

Figura 2.11 - Diagrama esquemático de uma seção erodida em um canal de fluxo de


detritos (adaptado HUNGR et al., 2003).

A taxa de escoamento é um parâmetro de difícil determinação, já que depende de


vários fatores (HUNGR et al., 1984): (1) Ângulo de inclinação da encosta; (2) largura e
profundidade; (3) material no leito do canal; (4) inclinação das margens laterais do
canal; (5) altura das margens laterais (6) material nas margens laterais; (7)
estabilidade das margens laterais; (8) área tributária de drenagem.

HUNGR et al. (1984) enfatizam a necessidade de estudos para estabelecer os


seguintes critérios: (i) Inclinação na qual a erosão termina (limit of erosion slope), e (ii)
inclinação onde começa a deposição (slope of deposition).

HUNGR & MCDOUGALL (2004) relatam que a variação do volume devido à erosão e
ao arraste do material durante a trajetória do movimento é uma característica
importante de muitos movimentos de massa rápidos do tipo fluxo de detritos.

RICKENMANN & ZIMMERMANN (1993) apresentaram uma relação empírica entre a


declividade da deposição, também chamada de fan slope, (Sd) em % e a taxa de
erosão média no percurso (E) em m³/m. Esta equação se apresenta como um valor
limite de erosão para os fluxos de detritos avaliados e é expressa por:

37
110 250.Sd (Eq. 2.3)

Uma compilação de valores registrados de profundidade de erosão e taxa de


escoamento de várias partes do mundo são mostrados na Tabela 2.9.

Por outro lado, HUNGR et al. (2005), apresentam uma expressão simples em função
dos volumes parciais que constituem o volume total de uma corrida de detritos:

V=Vinical+ƩVpoint+ƩYiLi (Eq. 2.4)

Onde:
Vinical: volume inicial que dá origem ao movimento de massa (m³);
Vpoint: volume parciais acrescentados ao longo da trajetória (m³);
YiLi: produto entre comprimento e taxa de erosão ao longo do canal (m³).

A erosão corresponde a uma característica importante que deve ser considerada na


avaliação de fluxos de detritos. Em função da geologia e geomorfologia do canal do
fluxo, o grau de erodibilidade varia e será mais representativo em locais onde o leito
do canal é constituído por colúvio ou material de solo de baixa resistência. Estes
materiais apresentam uma maior susceptibilidade à erosão do que a de leitos
formados por material rochoso.

A estimação de taxa de erosão é mais difícil e subjetiva para canais de base erodíveis,
onde não é evidenciado o substrato firme.

Neste trabalho não será feita estimativa de taxa de erosão para os casos de estudo
por tratar-se de fluxo não confinado com variação do material ao longo da trajetória do
fluxo.

38
Tabela 2-9 - Valores de taxa de escoamento e profundidade de erosão (adapt.
ROCHA, 2011).

Prof. Taxa de
No.
Referência Local Canal Erosão erosão
eventos
(m) (m³/m)
6 - 18
B.C. Coast, Canada
6,2
M. Creek, Canada
Hungr et al.(1984) 5 C - 7,8
Alberta Creek, Canada
5,5
Wahleach, Canada
18,4

Rickenmann &
Alpes Suíços - - - 650*
Zimmermann (1993)

Jakob et al. (1997) B.C. Coast, Canada 2 C - (23)

Campell & Church


B.C. Coast, Canada 37 C 0,5 - 1 -
(2003)
Queen Charlotte Isl., 253 C (12.6)
Fannin & Rollerson
Canada 196 U - (24)
(1993)
British Columbia - - 12 - 15
0,5 –
Jakob et al. (2000) B.C. Interior, Canada 1 C (28)
1,5
4 U 0 – 2,5 0 -42
Cenderelli & Kite The Appalachians, USA
(1998) Kisamore Run, USA (4,2)
0,4 - 18
Springer et al. (2001) The Appalachians, USA 2 C - 2-18
Agostino & Marchi
Southern Alps, Itália 1 C 0,1 – 6 -
(2003)
Revellino et al. (2003) Campania, Itália 17 C, U (1,5) -

Li & Yuan (1983) South-west China 1 C 5-8 -

0.2 – 5
Franks (1999) Hong Kong 40 C -
(3,6)
King (1996) Hong Kong 1 U 0-3 0 - 50
Okuda et al. (1980) The Alps, Japan 1 C 0-5 -
Rickenmann et al.
Kazakhstan 1 C - 8-300
(2003)
Zimmermann (1990) Alpes Suíços - - - 5 - 10
C: canais confinados; U: canais abertos; ( ): Valores médios; *: Valor máximo observado

39
Forças de impacto

As forcas de impacto provocadas pelos fluxos de detritos em barreiras de contenção


impacto podem ser estimadas através de equações empíricas. HÜBL et al. (2009)
descrevem que as relações para estimar as forcas de impacto são classificadas em
modelos hidráulicos e modelos de colisão. Os modelos hidráulicos são divididos em
modelos hidrostáticos e hidrodinâmicos.

Conforme a equação proposta por HUNGR (1984) & THURBER CONSULTANTS


(1984), a força dinâmica de impacto do Debris Flow pode ser estimada pela seguinte
equação:

(Eq. 2.4)

Sendo:
F= forca dinâmica (kN);
ρ = densidade (kN/m³);
V= velocidade do escoamento (m/s);
β =ângulo entre a direção do escoamento e a face da estrutura (°).

VANDINE (1996) descreve algumas recomendações sobre a força de impacto, citando


que HUNGR (1984) sugere que a área frontal para cálculo da forca de impacto seja
aumentada de 1,5 na largura. No Japão se considera a força de impacto, multiplicada
por dois para dimensionamento das estruturas de proteção contra debris flow.

2.4 MÉTODOS DE ANÁLISES DOS PRINCIPAIS PARÂMETROS

Em vista da necessidade de desenvolver medidas preventivas, de convivência e


mitigação de movimentos de massas, e, em especial, de fluxos de detritos,
considerados os movimentos de maior poder destrutivos, diversos métodos têm sido
apresentados. As principais variáveis envolvidas são: intensidade, capacidade de
destruição e distância máxima atingida.

LUNA (2012) descreve que uma parte muito importante das análises de risco de
movimento de massa é dada pela determinação quantitativa das variáveis após
movimento: distância percorrida, espraiamento do material e velocidade do
movimento. Os fluxos de detritos são movimentos de difícil previsão e geralmente

40
ocorrem acompanhados de movimentos paralelos dificultando ainda mais uma
avaliação real do movimento.

A importância do desenvolvimento de diversos métodos para estimativa das principais


variáveis corresponde a um importante passo para entender os movimentos de massa
do tipo fluxos de detritos, e a capacidade e intensidade que cada um deles apresenta
é de acordo com os fatores deflagradores e as condições da área.

Diversos métodos têm sido desenvolvidos para avaliação deste tipo de movimento:
métodos empíricos, métodos analíticos e métodos numéricos. HUNGR (2005)
apresenta as principais características de alguns métodos de análises, resumidas na
Tabela 2.10.

Tabela 2-10 - Principais características dos métodos de análises de fluxos de detritos


(HUNGR, 2005).

Dimensão Tipo de método Inputs Outputs


Métodos Empíricos: -Estimativa do volume
-Distância máxima
-Heurístico -Seção topográfica
-Área de deposição
-Ângulo de viagem -Interpretação de imagem
-Profundidade do fluxo
-Massa variável -Estudos geomorfológicos
1D -Parâmetros reológicos -Distância máxima
Métodos analíticos:
-Seção topográfica -Velocidade
-Distância máxima
-Parâmetros reológicos
-Velocidade
Métodos numéricos -Seção topográfica
-Pressões de impacto
-Volume
-Profundidade do fluxo
Pxy= probabilidade de que o
partícula seja afetado pelo
Métodos de fluxo -DEM (Digital Elevation
fluxo
canalizado Image)
-Trajetórias do fluxo e
2D extensão dos depósitos
- Extensão do depósito
-DEM
-Velocidade
Métodos numéricos -Parâmetros reológicos
-Profundidade do fluxo
-Volume
- Pressões de impacto

2.5 RELAÇÕES EMPÍRICAS PARA CÁLCULO DOS PARÂMETROS DE FLUXOS


DE DETRITOS

Na sua grande maioria, os métodos empíricos são baseados na análise estatística de


dados obtidos durante observação e avaliação após eventos reais. Muitas formulações
apresentadas na literatura relacionam vários índices e parâmetros que caracterizam os
movimentos de massa.

41
O emprego de relações empíricas para estudo de fluxos de detritos tem como principal
objetivo estimar os parâmetros principais, necessários para o dimensionamento e
definição de estruturas e métodos de mitigação de danos ocasionados pela grande
energia característica destes movimentos.

As relações empíricas têm como base diferentes parâmetros: área da bacia, inclinação
e geometria do canal, características geológicas, dados de precipitação (HAMPEL,
1980; TAKEI, 1980; KRONFELLNER-KRAUS, 1984; ZELLER,1985; RICKENMANN &
ZINMERMANN, 1993; D’AGOSTINO, 1996), que igualmente dependem de uma série
de fatores.

Os métodos empíricos propostos são baseados em correlações de dados, resultados


de observações de eventos reais ou movimentos simulados em laboratório, capazes
de estimar os principais parâmetros, dentre deles a distância percorrida pelo
movimento, muito importante quando se trata de avaliar as áreas susceptíveis de
debris flows.

RICKENMANN (1999) sugere o uso de relações empíricas para determinar alguns dos
principais parâmetros dos fluxos de detritos, dentre eles: volume do fluxo, descarga de
pico, velocidade média, velocidade máxima (no pico da descarga), altura de pico,
densidade do material, tempo de impacto e distância percorrida.

HÜRLIMANN et al.(2008) descrevem que as relações empíricas são umas das


técnicas mais amplamente usadas para estimar a distância máxima de deposição
atingida pela massa originada em um movimento.

POLANCO (2010), apresenta uma compilação de diferentes relações propostas para


representar os parâmetros dos fluxos de detritos. São relações baseadas em estudos
experimentais e de casos históricos de eventos de fluxos de detritos que permitiram
que os autores desenvolvessem as relações, representando satisfatoriamente os
fluxos de detritos e os parâmetros envolvidos neste tipo de movimento de massa.

Um problema comum nos métodos empíricos corresponde à grande dispersão dos


dados, mesmo assim é possível fazer estimativas preliminares de distâncias
percorridas pelo movimento. LUNA (2012) descreve que a grande flexibilidade dos
métodos empíricos permite sua aplicação em análises preliminares para projetos
básicos e mapeamento de áreas de risco. A Tabela 2.11 apresenta as relações
empíricas para estimar os principais parâmetros de fluxos de detritos, consideradas
nesta pesquisa para avaliação dos parâmetros dos casos de estudo.
42
Tabela 2-11 - Relações empíricas propostas na literatura.

Parâmetro Autores Equação


Iverson (1998)
Área Plana (m²) Polanco (2010)
Motta (2014)

Polanco (2010)
Takahashi (1991)

3
Rickenmann (1999)
Volume (m )

Gramani (2001)

Motta (2014)

Mizuyama et al.(1992)

Bovis&Jakob (1999)
3
Vazão de Pico (m /m) Polanco (2010)

Rickenmann (1999)

Motta (2014)

Rickenmann (1999)
Kherkheulidze (1975)
Velocidade (m/s)
Zhang et al. (1985)
Sibnuy (1966)

Rickenmann (1999)

Hungr et al. (2005)


Distância total percorrida (m)
Polanco (2010)

Motta (2014)

Rickenmann (1999)
Distância de deposição (m) Lorent et al.(2003)
Crosta (2001)
2
Hübl (2009) ρmax=a v
Forças de impacto (N) ρmax=5·
Hungr (1984)
B:área plana de deposição (m²); M/V: volume (m³); Q/qt: descarga de pico (m³/s) v: velocidade media
do fluxo (m/s); Lmax:distância máxima do fluxo (m); L:distância de deposição (m); ρ max: força máxima de
impacto (N); F:Força de impacto (N); S/α: Inclinação do canal do fluxo (°); H: altura do movimento (m)
y: altura media do fluxo (m); g: gravidade; a: 3-5 (ZHANG, 1993); A: área transversal do fluxo; β:ângulo
da força do fluxo em relação à face da estrutura ρ/ρMU: densidade do fluxo

43
2.6 MÉTODOS ANALÍTICOS PARA ESTIMATIVA DOS PARÂMETROS DE
FLUXOS DE DETRITOS

Os movimentos de massa são fenômenos complexos, que podem ser simulados


através de modelos de equilíbrio limite e modelos matemáticos.

Em vista da necessidade de prever os movimentos de massa para mitigar os danos


causados por estes fenômenos de difícil previsão, diversos métodos analíticos e
numéricos têm sido desenvolvidos ao longo dos anos. Métodos baseados em
diferentes teorias como a teoria de Coulomb e teoria de Rankine, têm sido
desenvolvidos visando estimar os principais parâmetros associados às potenciais
massas definidas em áreas susceptíveis a deslizamento. Uma vez definidos os
parâmetros principais dos fluxos de detritos, é possível definir medidas e estruturas a
fim de evitar danos e perdas provocadas pelo impacto da massa em povoados ou
infraestruturas.

MORLES (2009) descreve que os métodos analíticos procuram modelar o movimento


de massa fazendo uso das leis da física da dinâmica dos sólidos e dos fluidos. A
maioria dos modelos analíticos é resolvida numericamente, por meio de diferenças
finitas e elementos finitos. Os métodos analíticos utilizam a analogia do bloco
deslizante por equilíbrio limite e os modelos numéricos são baseados na teoria do
fluido continuo.

Nos últimos 20 anos houve várias circunstâncias que impulsionaram o


desenvolvimento de diversos modelos com base na dinâmica dos meios contínuos. Os
casos históricos acontecidos em vários locais do mundo, somados ao interesse dos
pesquisadores por entender melhor o comportamento e aos avanços da ciência,
incentivaram os especialistas a desenvolver e calibrar métodos que os auxiliassem na
previsão de movimentos do tipo fluxos de detritos.

Cada um destes métodos tem vantagens e desvantagens e deve ser aplicado


considerando cada caso específico. A sensibilidade do especialista na hora de estimar
os parâmetros de entrada e avaliar os parâmetros de saída é fundamental para que a
modelagem de um determinado caso em estudo seja adequada.

Contrastando com os métodos empíricos, os métodos analíticos e numéricos são


baseados em mecanismos que envolvem análises probabilísticas do material. O
emprego de métodos analíticos tem sido motivado pelas limitações de uso dos
métodos empíricos e da dificuldade de previsão dos movimentos de massa. Os
44
modelos com base na dinâmica do contínuo têm se mostrado uma ferramenta para
reproduzir a propagação de movimentos de massa.

O desenvolvimento de programas numéricos de análise do comportamento dos


movimentos de massa tem sido intenso, procurando entender e avaliar a estrutura
externa e interna do movimento, e desta maneira contribuir com os métodos de
prevenção e mitigação de eventos reais.

Diversos programas numéricos baseados na dinâmica dos meios contínuos para


análise de fluxos de detritos (Debris Flows) ou avalanches de detritos (Debris
Avalanches) têm sido elaborados mostrando as diversas propostas de análise ao
longo do tempo, para aumentar a qualidade da reprodução dos fenômenos reais e a
sua possível previsão. Na Tabela 2.12 encontram-se programas numéricos utilizados
para a simulação da propagação de fluxos de detritos. Todos eles têm sido validados e
calibrados analisando casos históricos registrados por diversos autores.

Tabela 2-12 – Programas numéricos aplicados para análises de fluxos de detritos.

Programa Dimensão Referência Método Reologia

FLO-2D 2D O’brien et al.(1993) Euler Voellmy

Frictional,
DAN-W 1D Hungr (1995) Lagrange voellmy,
Bingham

TITAN2D 2D Pitman & Le.(2005) Lagrange Atrito

Frictional,
DAN3D 3D McDougall e Hungr (2009) Lagrange voellmy,
Bingham
MADFLOW 3D Chen & Lee (2000) Lagrange Atrito

KANAKO 1 2D Nakatani et al.(2007) Lagrange Atrito


WSL Institute for Snow
RAMMS 3D and Avalanche Research Lagrange Voellmy
SLF (2010)

Voellmy
MassMov2D 3D Begueria et al. (2009) Euler
Bingham

O programa numérico FLO-2D, criado por O’BRIEN et al. (1993), é um modelo


bidimensional de diferenças finitas capaz de simular áreas de inundações de fluxos de
lama e fluxo de detritos. Este modelo basea-se nas equações de conservação de
massa e na forma bidimensional das equações de quantidade de movimento.

45
O modelo numérico DAN-W foi desenvolvido por HUNGR (1995). Este programa
implementa uma solução unidimensional Lagrangeana para as equações de
movimento e ainda permite usar diversas relações reológicas. A simulação utiliza uma
malha de coordenadas curvilíneas, tanto para a equação de quantidade de movimento
como para a de conservação de massa. Este método numérico é uma adaptação da
Smoothed Particle Hydrodynamics (SPH) que simula o fluxo num canal de largura
definida pela área transversal do canal confinado considerado na análise.

O programa numérico TITAN2D, foi proposto por PITMAN et al.(2003) para análises
de avalanches granulares secas, que se deslocam sobre a superfície natural do
terreno, combinando simulação numérica com um modelo digital do terreno vinculado
à interfase de um sistema de informação geográfica (GIS). O modelo apresenta
algumas limitações, destacando-se o fato de exigir computadores de grande potência,
que geralmente trabalham com a técnica de memória distribuída. O programa tem sido
testado em exemplos com topografia simples e complexas e em experimentos de
laboratório (PATRA et al., 2005).

O programa DAN3D, é um modelo em três dimensões, que corresponde a uma versão


atualizada do modelo DAN-W, ainda não disponibilizado no mercado. O modelo foi
desenvolvido por MCDOUGALL & HUNGR (2004, 2005). Este novo modelo é baseado
na solução Lagrangeana e considera fluxos não uniformes, variados, fluindo em um
canal aberto, generalizados como um fluxo de materiais de solo. O método numérico
utilizado para resolução das equações de quantidade de movimento e conservação de
massa é o SPH. Neste método o volume total da massa em fluxo é dividido em
elementos conhecidos como smooth particles. No modelo é considerado que cada
partícula possui um volume finito, sendo influenciado por suas partículas vizinhas. Este
modelo considera três reologias do material: atrito, atrito e turbulência, e viscosidade.
Desta forma permite variar o tipo de material e sua reologia na simulação durante a
trajetória do movimento. O DAN3D é o programa adotado para as análises dos casos
de estudo desta pesquisa e apresentado em detalhes no item 2.7.

CHEN & LEE (2000) desenvolveram o programa numérico MADFLOW,


implementando a discretização das equações integradas em profundidade com
elementos finitos na forma lagrangeana, num sistema coordenado cartesiano. O
modelo admite variação das propriedades reológicas do fluxo ao longo da sua
trajetória. As reologias são as mesmas do programa DAN3D: atrito, Voellmy e
Bingham. O modelo foi testado em ensaios de laboratório e num canal inclinado. Além
disto, o modelo foi utilizado na retro-análises de dois casos reais, considerando a
46
reologia de atrito. CHEN & LEE (2002, 2003) & CROSTA et al.(2004) realizaram outras
análises com reologias de Bingham e de Voellmy.

CHEN et al. (2006) incorporaram o efeito da erosão no fundo, o que não tinha sido
considerado inicialmente. CROSTA et al. (2005, 2006) analisaram vários casos
históricos com esta a nova versão DAN3D.

O programa numérico KANAKO foi desenvolvido por NAKATANI et al. (2007). Sua
versão inicial apresentava a possibilidade de simulação unidimensional de fluxo de
detritos e o efeito de barragens de contenção de sedimentos. As equações de
quantidade de movimento e conservação de massa, bem como as equações de
erosão e deposição foram baseadas nas formulações de TAKAHASHI & KUANG
(1986).

Finalmente outro programa de análise é o RAMMS (Rapid Mass Movements), que


corresponde a um modelo numérico desenvolvido pelo Instituto Federal Suíço para
pesquisas de avalanche de neve (WLS/SLF). Recentemente, o programa tem sido
empregado na modelagem de outros tipos de movimentos de massa, tais como fluxos
de lama (LUNA, 2007), avalanches de rocha (ALLEN et al., 2009; SCHNEIDER et al.,
2010) e fluxos de detritos (CESCA & D’AGOSTINO, 2006; KOWALSKI, 2008; Graf &
MCARDELL, 2011; HUSSIN, 2011). O modelo 2D é capaz de simular a trajetória do
movimento, velocidades, alturas do fluxo e pressões de impacto em diagramas 2D e
3D. O programa RAMMS utiliza o modelo de fluxo contínuo de fluido Voellmy - Salm
(SALM, 1993) com base na lei de fluxo de Voellmy (Voellmy, 1955) que descreve o
fluxo de detritos como um modelo contínuo de profundidade média com base nas leis
da hidráulica. A resistência ao fluxo é dividida em atrito-Coulomb (μ) e uma resistência
ao atrito turbulento viscoso (ξ).

O modelo RAMMS usa três dimensões: x e y são as direções da massa deslocando-se


na superfície topográfica e a elevação é dada por z (x,y) e a componente do tempo é
definida como t. O fluxo é considerado como um movimento instável e não uniforme e
é caracterizado por dos parâmetros principais, os quais são a altura do fluxo H (x,y,t)
em metros e a velocidade principal U (x,y,t) em m/s.

A Tabela 2.13 apresenta as principais variáveis para selecionar um determinado


programa numérico de análise de fluxo de detritos em função das características e
comportamento do caso.

47
Todos os programas numéricos apresentados exigem o conhecimento do modelo
constitutivo dos materiais envolvidos na simulação de movimentos de massa. Alguns
autores propõem o emprego de modelos de equilíbrio limite, tais como Slope/W, Slide
ou Flac, para determinar as características dos materiais envolvidos mediante
retroanálise das seções criticas na área de estudo (BHUWANI, 2004).

Tabela 2-13 – Parâmetros e características dos programas numéricos para análise de


fluxo de detritos.

Casos
Modelo Elementos necessários e algumas vantagens
modelados
- Hidrogramas de chuva que são modelados com reologia - Selvetta,
quadrática Itália, 2008
FLOD - 2D
- Permite modelagem de eventos de precipitação - Tresenda,
- Forças de impacto e pressões podem ser obtidas Itália, 2002

- Modelagem de fluxo confinado - Tessitore et


DAN – W al., 2011
- Pode ser escolhia a reologia do material

- Pode ser considerado mais de um material durante a modelagem -Peringalam,


- Diferentes reologias podem ser selecionadas numa mesma India, 2004;
modelagem -Frank,
- A erosão pode ser modelada Alberta,
Canada,
DAN3D - Todos os parâmetros de saída, são acompanhados de valores a 1903
cada instante de tempo considerado na modelagem e também os
máximos -Facun
Debris Flow,
- Resultados apresentados em mapas e formato GRD e de texto
2003
- Permite exporta resultados a outros programas (Cad, Excel,
Surfer)

- Interface amigável para a modelagem - Faucon,


- A erosão pode ser modelada França,
2003;
- Reologia de Voellmy
Ramms
- Resultados apresentados em gráficos e mapas
- Permite exporta resultados a outros programas (ESRI, Google
Earth

- Diferentes reologias podem ser modeladas -Peringalam,


- A erosão pode ser modelada India, 2004;
- Resultados apresentados em mapas, gráficos e formatos de texto - Faucon,
MassMov2D França,
- Interface amigável 2003;
- Computacionalmente eficiente
- Tresenda,
- Podem ser simulados vários arquivos ao mesmo tempo Itália, 2002

- Modelo 1D
KANAKO 1 - Modelagem de fluxo confinado nd
- A erosão pode ser modelada

48
O SLOPE/W é um programa computacional que realiza análises de estabilidades
implementando o método de equilíbrio limite. O programa consegue modelar materiais
heterogêneos, estratigrafias complexas e diversas superfícies potenciais de ruptura,
considerando as condições de poropressão, sucção e saturação.

O programa SLOPE/W também é capaz de modelar geometrias complexas e


considerar sobrecargas externas, elementos de reforço, nível da água, e uma serie de
condições, conseguindo representar adequadamente o caso real.

Vários métodos de equilíbrio limite para análises de estabilidades podem ser


considerados no SLOPE/W: Janbu, Fellenius, Spencer, Mogenstern & Price, Corps of
Engineers e Lowe-Karafiath.

Desta forma, o programa Slope-W permite fazer retroanálises de uma determinada


seção. Conhecendo a topografia real antes e após ruptura e variando os parâmetros
de resistência do material é possível obter os parâmetros reais na ruptura iminente
(FS=1). Com as retroanálises de uma determinada seção topográfica de uma área de
estudo, é possível obter valores de poropressão, coesão, e ângulo de atrito do
material.

A implementação deste tipo de análises depende das características particulares de


cada caso. Nem sempre é possível empregar esta metodologia para avaliação dos
parâmetros. Alguns casos históricos já foram estudados apresentando bons
resultados. BHUWANI (2004) avaliou os parâmetros de resistência por retroanálises
em dois casos: Barabensi Landslide, Nepal (2002) e Lei Pui Street Landslide, Hong
Kong (2001). O autor usou o programa computacional SLOPE/W para avaliar os
parâmetros de resistência, realizando retroanálises da superfície inicial de ruptura e,
posteriormente, utilizou os parâmetros obtidos para as análises dinâmicas com os
programas computacionais DAN/W (HUNGR,1995) e FLO-2D (O’BRIEN et al.,1993).

2.7 PROGRAMA NUMÉRICO

O programa numérico DAN3D desenvolvido por HUNGR & MCDOUGALL (2004,


2005) é uma extensão do programa original bi dimensional DAN-W, proposto por
HUNRG (1995). O DAN-W é baseado na teoria de Savage - Huntter, partindo do
princípio de que o comportamento da massa segue o modelo constitutivo de atrito e se
deforma plasticamente segundo a teoria de Rankine. Considera a compatibilidade
entre as tensões internas e as tensões no fundo do canal de fluxo. O programa DAN-
49
W foi desenvolvido para ser uma ferramenta versátil, capaz de simular casos após
eventos, calibrando o modelo geomecânico por meio de retroanálises, para estimativa
do comportamento de futuros movimentos de massa.

A versão mais recente do programa DAN-W é o modelo DAN3D, baseado na solução


lagrangeana para as equações de fluido, não uniforme, variando, deslocando-se num
canal aberto. O programa não exige uma malha de elementos e adota o método
numérico utilizado para resolução das equações de quantidade de movimento e
conservação de massa Smoothed particle hydrodynamics (SPH). Neste método, o
volume total da massa do fluxo é dividido em elementos conhecido como “smooth
particles”. Cada partícula possui um volume finito, sendo influenciado por suas
partículas vizinhas. O método numérico lagrangiano adaptado a partir do SPH,
discretiza e resolve as equações de balanço integradas na profundidade de um “fluido
equivalente”, seguindo o conceito desenvolvido por HUNGR (1995).

Neste sentido, o material que constitui o fluxo heterogêneo e complexo é considerado


como um material hipotético governado por relações reológicas simples, permitindo a
modelagem da resistência através de modelos de atrito, viscoso (Bingham) ou
turbulento (Voellmy) atuando na base do canal de fluxo.

O programa analisa diversos tipos de movimentos: desde deslizamentos de solo,


avalanches de rochas e de neve a fluxos de detritos, permitindo obter os principais
parâmetros que caracterizam o fluxo: área impactada pelo movimento, volume final da
massa, distância percorrida, espessura da massa movimentada, velocidades do fluxo,
erosão do material na trajetória do fluxo, espessura de deposição e descarga de pico
do fluxo.

O programa DAN3D permite avaliar o movimento em função da reologia mais


adequada para a massa em estudo. Os casos avaliados pelo programa DAN-W foram
verificados com experimentos de laboratório adotando-se modelos reológicos de atrito
puro, atrito com pressão intersticial (Voellmy) e modelo viscoso (Bingham). O
programa foi testado por meio de retroanálises de diversos tipos de fluxo: rupturas de
rejeitos de minérios, avalanche de rochas e detritos, e fluxo de detritos (HUNGR &
EVANS, 1996; HUNGR et al., 1998; EVANS et al., 2001; HUNGR et al., 2002;
BHUWANI, 2004; MAZZANTI et al, 2009; MCKINNON, 2008).

50
Segundo MCDOUGALL E HUNGR (2004), um programa numérico abrangente para
modelar os movimentos de massa do tipo fluxo deve ter o conjunto de habilidades
descritas a seguir:

i. Admitir comportamento dinâmico da massa envolvida no movimento;


ii. Considerar a erosão do material ao longo da trajetória do movimento;
iii. Permitir a variação da reologia do material, a qual pode variar ao longo da
trajetória do movimento (ou) dentro da massa deslizada;
iv. Permitir grandes deslocamentos e a possibilidade de subdivisão da trajetória
principal ou dissociação do fluxo;
v. Deve ser amigável e eficiente para facilitar retroanálises imediatas do
movimento e extensivas calibrações após eventos reais.

O programa pioneiro DAN-W e o programa desenvolvido recentemente DAN3D são


poderosas ferramentas usadas para o estudo de análises de risco em áreas após
eventos de movimentos de massa. O programa DAN-W desenvolvido por HUNGR
(1995) é comercialmente usado, com resultados satisfatórios, Já o modelo DAN3D,
desenvolvido por MCDOUGALL e HUNGR (2004), ainda como modelo de pesquisa,
consegue bons resultados na avaliação de diversos casos.

Algumas características do programa DAN3D:

i. Simula fluxos complexos em superfícies em 3D;


ii. Permite uma distribuição dos esforços no-hidroestaticos e anisotrópicos;
iii. Simula a erosão do material;
iv. Permite a escolha de diferentes modelos reológicos (incluídos nesta versão:
atrito, Voellmy, Bhingam, inelástico e Newtoniano);
v. Processa a modelagem sem malha de elementos, eliminando os problemas
relativos à distorção durante grandes deslocamentos.

A Tabela 2.14 apresenta alguns casos reais modelados com modelo DANW e DAN3D,
mostrando os parâmetros utilizados para a simulação do movimento de massa de
várias regiões do mundo.

51
Tabela 2-14 – Casos de fluxo de detritos e parâmetros adotados simulados com os
programas DAN-W e DAN3D.

Tipo de Parâmetros de ajuste


Caso Programa movimento de Reologia ξ Es Referência
massa Øb (°) f
(m/s²) (m³/m)
Lei Pue Street, Fluxo de nd Bhuwani
DAN-W Atrito 41 NA NA
Hong Kong detritos (2004)
nd Mcdougall
Zymoetz River, Fluxo de et al.(2006)
DAN3D Voellmy 31* 0,1 1000
Canada, 2002 detritos McDougall
(2006)
The Regina Fluxo de nd Tessitore et
DAN-W Voellmy - 0,1 500
torrent, Italia detritos al.(2011)
Turnoff Creek, Dan- W Aavalanche de nd Evans et
Voellmy - 0,02 250
Canada, 1992 DAN3D rocha al.(1994)
nd Hungr et al.
Coal Slide DAN-W Deslizamento Atrito 20-25 nd nd
(2002)
0,05 - nd Hungr et al.
Coal Slide DAN-W Deslizamento Voellmy - 200
1 (2002)
Hummingbird Fluxo de nd Jakob et al.
DAN-W Voellmy 20 0,08 200
Creek 1997 detritos (2000)
nd Hungr e
Deslizamento
Evans
Creek Eagle de rocha -
DAN-W Voellmy 30 0,05 400 (2004)
Pass ,1999 Avalanchde de
Hungr et
detritos
al.(2002)
Fluxo de nd
Lake Albano, detritos Mazzanti et
DAN3D Voellmy NA 0,1 500
Italia, 1997 (parcialmente al. (2009)
submergido)
Avalanche Avalanche de nd MCKINNON
DAN3D Voellmy NA 0,2 250
Lake, Canada rocha (2008)
McAuley nd
MCKINNON
Creek, DAN3D Deslizamento Atrito 30 nd nd
(2008)
Canada, 2002
Lei Pue Street
Atrito 41 nd
landslide, Fluxo de nd Bhuwani
DAN-W 0,035
Hong Kong, detritos Voellmy nd 250 (2004)
2001
Kuriakose et
Peringalam ,
Fluxo de Voellmy 34* - 250 al. (2009)
Kerala, India, DAN3D 0,035
detritos Kuriakose
2005
(2010)
Campania, Avalanche de Voellmy 30 0,07 200 McDougall
DAN3D 0,01
Italy, 1998 detritos (1998)
Atrito 30 nd nd
Nomash River, Avalanche de McDougall
DAN3D 1,9x10
1999 detritos Voellmy nd 0,1 400 (2006)
Atrito 30 nd nd
Cervinara, Avalanche/ McDougall
DAN3D 0,01
Itália, 1999 Fluxo detritos Voellmy nd 0,07 200 (2006)
McAuley Atrito 30 nd nd
Avalanche de MCKINNON
Creek, DAN3D 0,0
rocha Voellmy nd 0,1 500 (2008)
Canada, 2002
Φb: ângulo de atrito basal do fluxo, f: coeficiente de atrito basal (Voellmy), ξ: parâmetro de turbulência (Voellmy),
Es: taxa de erosão * ângulo de atrito interno das particulas

52
2.7.1. METODOLOGIA

O programa DAN3D é um modelo em três dimensões, extensão do modelo DAN-


W, que requer como dados de entrada os seguintes elementos (MCDOUGALL &
HUNGR, 2010):

 Path Topography File, imagem digital do terreno (MDT), definida pela base
topográfica da área em estudo;
 Source Depth File, imagem digital da superfície de ruptura, representando a
superfície que define a origem do movimento de massa na zona de iniciação;
 Erosao Map File, imagem digital do mapa de erosão da área em estudo, que
define a distribuição dos materiais na área de acordo com o tipo encontrado na
trajetória do movimento;
 Propriedades mecânicas dos materiais a serem considerados na simulação;
 Definição dos modelos reológicos a serem considerado na simulação;
 Parâmetros de controle, que permitem definir os parâmetros básicos do caso
de estudo (informações descritivas do evento, taxa de erosão, número de
partículas, número de materiais a serem considerados);
 Imagem de fundo da área afetada pelo movimento de massa.

Diferente do modelo em duas dimensões (DAN-W), o DAN3D exige uma imagem


digital da superfície, por tratar-se de um modelo em três dimensões, permitindo ao
modelo fazer uma avaliação tridimensional da superfície do terreno analisada.

A Figura 2.12 apresenta o fluxograma típico de simulação do movimento de massa


do programa DAN3D.

53
ÁREA

MAPA DE EROSÃO TOPOGRAFIA SUPERFÍCIE DE RUPTURA

MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO

MATERIAIS DAN3D PARÂMETROS DE CONTROLE

VOLUME FINAL
VELOCIDADE
DESCARGA DE PICO
ESPESSURA DE EROSÃO
DISTÂNCIA PERCORRIDA
TRAJETÓRIA

Figura 2.12 - Fluxograma de simulação no modelo DAN3D.

2.7.2. MODELOS REOLÓGICOS UTILIZADOS NO DAN3D

O programa DAN3D utiliza materiais hipotéticos homogêneos para simular a massa de


materiais complexos de escorregamentos reais (HUNGR, 1995). As distintas reologias
inseridas por HUNGR (1995) para o programa são: comportamento inelástico (plastic),
atrito, newtoniano, laminar, turbulento e Bingham. Nesta pesquisa serão detalhadas só
duas reologias, consideradas para análises dos casos de estudo: atrito e voellmy,

Modelo de Atrito

Na reologia de atrito, o esforço de cisalhamento é proporcional à tensão efetiva normal


ao esforço na base σz (z=b), a qual é a divergencia entre a tensão total normal na base e a
poropressão na base, u z (z=b):

zx
(z=b) = - (σz – u) (z=b) ·tanØ = σ´z (z=b) ·tanØ (Eq. 2.5)

Onde Ø é o ângulo de atrito dinâmico e a poropressão pode ser relacionada com o esforço total
fazendo uso da coeficiente de poropressão, r u=u/ σz, ficando:

zx
(z=b) = - σz – (1 - ru) (z=b) ·tanØ (Eq. 2.6)

54
A equação pode ainda ser simplificada incluindo solo uma variável dependente, o
ângulo de atrito dinâmico Øb, onde tanØb=(1 - ru) (z=b):

zx (z=b) = - σz ·tanØb (Eq. 2.7)

Isto implica que, usando um coeficiente de poropressão ou um ângulo de atrito


residual, assume-se carregamentos intermediários entre as respostas de
carregamento drenado e não drenado. A relação entre os parâmetros de atrito é
apresentada na Figura 2.13 (MCDOUGALL, 2006).

A figura 2.13 apresenta a relação entre a tensão normal e a tensão cisalhante.


Tensão de cisalhamento 

(σz’, zx)
(z=b) (σz, zx)(z=b)

Ø
u(z=b)
Øb

σz’(z=b) σz(z=b) Tensão Normal σ

Figura 2.13 - Relação entre os parâmetros de resistência por atrito do DAN3D.

As retroanálises dos eventos simulados mostram que o modelo constitutivo de atrito,


em muitos casos, superestima as velocidades e a extensão da deposição do material.

Geralmente, quando o fluxo é controlado por um comportamento por atrito, o


movimento é lento e as partículas estão em colisão durante toda a trajetória. Por isto o
movimento é regido principalmente pelo mecanismo gerado pelo atrito entre as
partículas.

HUNGR & MORGENSTERN (1984) realizaram uma série de ensaios de laboratório,


mostrando que o ângulo de atrito interno dos materiais granulares é independente da
velocidade de deformação e das tensões normais. No modelo de atrito, a tensão
tangencial na base do fluxo é independente da velocidade e devido a isto, o perfil de
velocidade neste tipo de comportamento é de difícil previsão. Geralmente, as tensões

55
tangenciais estão concentradas na base do fluxo, onde ocorre maior quantidade de
material mais fino e concentrado e saturado.

Modelo Voellmy

O modelo foi desenvolvido por VOELLMY (1955) com a finalidade de simular o


comportamento de avalanches de neve. Posteriormente foi empregado por KÖRNER
(1976) para simular avalanches de rochas. O modelo combina atrito e turbulência, por
meio de dois parâmetros: o coeficiente de atrito f e um fator de turbulência ξ, que
depende do quadrado da velocidade e da densidade do fluxo de detritos e que
considera os fatores de resistência do fluxo dependentes da velocidade. VOELLMY
(1955) propõe a seguinte expressão:

zx = σz f + ρgν²/ξ (Eq. 2.8)

Onde,
σz : tensão total na base do fluxo;
f : coeficiente de atrito;
ρ : densidade do material;
g : aceleração da gravidade;
v : velocidade do fluxo na profundidade média;
ξ : Fator de turbulência.

Após avaliação de diversos casos, foi evidenciado que para vários tipos de
movimentos de massa, incluindo avalanches de neve, avalanche de rocha,
deslizamentos, avalanches de detritos e especialmente os fluxos de detritos, o modelo
Voellmy simula melhor o comportamento deste tipo de movimento. Em comparação
com o modelo de atrito, o modelo Voellmy tipicamente define melhores resultados das
simulações de velocidade e distribuição do depósito do material (KÖRNER, 1976;
PERLA et al., 1980; RICKENMANN & KOCH, 1997; HUNGR et al.,1998; AYOTTE &
HUNGR, 2000; JAKOB et al., 2000; HÜRLIMANN et al. 2003; REVELLINO et al., 2004;
BERTOLO & WIECZOREK, 2005).

2.8 MEDIDAS DE MITIGAÇÃO

As medidas de mitigação envolvem diversos aspectos, abrangendo desde a análise da


geomorfologia do local de estudo à avaliação do risco potencial de danos. Em função

56
disto, diversas medidas podem ser tomadas, a fim de mitigar eventos catastróficos
deste tipo.

Relocação

Leis de uso da terra


Medidas
Passivas
Sistemas de alarme

Educação

Mitigação
Remediação para redução ou
eliminação de acidentes
Relocação
Medidas
Ativas
Proteção
ção para redução das
consequências

Prevenção de movimentos
de massa

Figura 2.14 - Medidas de mitigação (NUNES & RIOS FILHO, 2009).

A primeira atividade a ser realizada para a prevenção dos efeitos dos fluxos de detritos
catastróficos é a identificação das áreas que podem ser afetadas (MORLES, 2009).

ZOLLINGER (1985) afirma que um dos principais aspectos da prevenção de risco é o


dimensionamento de medidas de mitigação, as quais serão capazes de reduzir o risco
existente até um nível de risco residual. Dois tipos de medidas de mitigação podem ser
distinguidas: medidas ativas e passivas.

As medidas ativas focam no perigo, enquanto medidas passivas focam-se no dano


potencial (HUEBL & STEINWANDTNER, 2000; KLIENHOLZ,2003).

As medidas ativas são aquelas que interferem diretamente no processo de


instabilização, eliminando as possibilidades de ruptura e os riscos. São medidas
predominantemente técnicas.

Por outro lado, as medidas passivas são associadas aos processos de instabilização,
na tentativa de reduzir os riscos e danos de rupturas, sem, no entanto, evitá-las. São

57
medidas combinadas, tanto técnicas quanto político-administrativas. Estas medidas
geralmente são planejadas e discutidas, mas poucos implementadas (NUNES, 2013).

Ainda NUNES (2013) afirma que um parâmetro necessário para análises de


intervenção para segurança de encostas é representado pelos níveis de força/energia
do movimento de massa. Um nível baixo a médio de força/energia possibilita a adoção
de uma medida ativa de menor porte. O nível médio a alto exige uma medida ativa
específica para evitar a ruptura. Em alguns casos, o nível elevado de força/energia
exclui a possibilidade de se adotar uma medida ativa, restando o emprego de medidas
passivas que conviverão com as rupturas, reduzindo seus impactos e consequências.

Na Figura 2.14 é apresentada a classificação das principais medidas de mitigação:


ativas e passivas.

2.8.1. MEDIDAS ATIVAS

Estas medidas são focadas na redução das consequências do movimento de massa,


podendo afetar a mobilização, transporte e deposição do fluxo de detrito, e, portanto,
afetar a magnitude e características de frequência do evento. Existem várias formas
de alterar o processo, modificando a probabilidade de ocorrência do fluxo de detritos
e/ou transformando propriamente o movimento de massa. Estas medidas são
caracterizadas principalmente pela implementação de estruturas de retenção e
dissipação, com capacidade adequada ao potencial evento. Geralmente a escolha da
medida ativa de mitigação dependerá de uma série de fatores que permitirá a
implementação de uma ou outra medida técnica, tais como risco, localização,
estruturas geológicas, litologia do material envolvido, topografia, geomorfologia,
aspectos geotécnicos, facilidade de acesso na área, tipo de material que compõe a
massa do fluxo. Estes fatores são determinantes na escolha das medidas ativas de
mitigação. Geralmente correspondem a técnicas de engenharia, capazes de
desenvolver mecanismos para mitigar o movimento de massa ou para mitigar os
danos e conviver com os eventos.

NUNES & RIOS FILHO (2009) citam diversas medidas ativas de mitigação de fluxo de
detritos para convivência com este tipo de evento: bacia de deposição temporária,
bermas de deflexão, dissipadores de fluxo, túneis de detrito, túneis falsos para
proteção, barragens permeáveis, barreiras rígidas e flexíveis.

58
As medidas de mitigação podem ser subdividas em medidas de controle de iniciação
do processo, do transporte e da deposição do fluxo de detritos. Algumas técnicas
consideradas como medidas ativas de mitigação são apresentadas na Tabela 2.15.
Estas medidas deverão ser adotadas em função das condições específicas de cada
caso, acompanhado de uma análise social – econômica das áreas em risco.

As Figuras 2.15 a 2.19 ilustram diversas estruturas de mitigação de fluxos de detritos,


tais como as de retenção de fluxo total ou parcial, onde os detritos carregados pelo
fluxo de água serão retidos, evitando que continuem sua trajetória a jusante. Outro tipo
de estruturas são as bermas dissipadoras, fazendo com que o fluxo perca energia
durante a deposição na estrutura.

Tabela 2-15 - Medidas ativas para mitigação de fluxos de detritos (NUNES & RIOS
FLHO, 2009).

Função Medida

Reflorestamento
Redução de escoamento (runoff) Controle de descarga
Desvio para outras áreas

Reflorestamento
Uso de bioengenharia
Drenagem
Redução de Erosão Estabilização do talude
Alargamento de canal
Estabilização de leito de canal
Desvio de runoff

Criação de reservatórios
Controle de Descarga
Alargamento de canal
Bacia de deposição de detritos
Bermas de deflexão
Barreiras permeáveis ou interrompidas
Controle de Debris Túneis para detritos
Túneis falsos para proteção
Barragens permeáveis
Barreiras rígidas e flexíveis

59
Figura 2.15 - Barreiras permeáveis para mitigação de fluxo de detrito - Parque Waraira
Repano (Ávila) - Caracas, Venezuela.

Figura 2.16 - Barreiras Permeáveis - Muro de Gabião - Parque Waraira Repano (Ávila)
Caracas, Venezuela.

60
Figura 2.17 - Barreira de gabiões - Parque Waraira Repano (Ávila)-Caracas,
Venezuela.

Figura 2.18 - Bacias de deposição para fluxos de detritos, Japão (HORIUCHI, 1998).

61
Figura 2.19 - Barreira flexível - BR040 - RJ (NUNES, 2013).

Figura 2.20 - Bermas dissipadoras de energía fluxos de detritos, Córrego


Tanaguarena, La Guaira, Venezuela (1996).

62
A principal limitante que apresentam as estruturas de mitigação mostradas nas figuras
(2.15 a 2.20) é a dificuldade de manutenção. Estas estruturas geralmente encontrasse
em lugares de difícil acesso, geralmente sem inspeção após eventos. Em função disto
a capacidade de mitigação e controle destas estrutura fica diminuída assim como a
sua vida útil, transformando uma estrutura ativa em uma estrutura pouco eficiente.

A implementação de uma determinada estrutura dependera principalmente das


condições geomorfológica do local de implantação e das características da área a ser
protegida, inclusive considerando o aceso para inspeção e eventual manutenção.

2.8.2. MEDIDAS PASSIVAS

As medidas passivas são empregadas para minimizar o potencial de perda, alterando


a natureza espacial e temporária de cada um dos danos produzidos pelos fluxos de
detritos ou a vulnerabilidade associada (Tabela 2.16). Alguns exemplos de medidas
passivas são a realocação de pessoas em áreas de potencial risco, mapeamentos de
risco, implantação de alarmes com a finalidade de alertar populações próximas da
área potencial de risco.

As medidas de mitigação quando adequadas representam um fator importante para a


minimização de danos ocasionados pelos bruscos movimentos de massa envolvidos
nos deslizamentos e corridas de detritos. Os danos causados por estes tipos de
movimento, de elevadas velocidades e volumes de massa, podem ser muito reduzidos
quando estas medidas de convivência passivas e ativas são implementadas
prematuramente.

PUERTOS (2009) afirma que as medidas passivas contemplam normativas e


regulamentos de ordenamento territorial, planejamento local e regional do uso da terra,
além de plano emergencial.

Mapeamentos e definição de áreas de riscos deverão ser elaborados pelas instituições


governamentais para definir as áreas que deverão ser expropriadas ou devem estar
em alerta durante os eventos ou na previsão destes.

63
Tabela 2-16 - Medidas passivas de mitigação (HUBL & FIEBIGER, 2005).
Objetivo Função Medida

Preventiva Transporte e deposição - Planejamento do uso do solo (regional,


Diminuição de potenciais de fluxo de detritos local)
perdas sem proteção local do - Informação, educação e tratamento do
dano (ex. estruturas, dano
pessoas, vias)
- Regulamento nas construções
Resposta ao evento Transporte e deposição - Fechamento do trânsito em vias
Diminuição de potenciais de fluxo de detrito sem - Informação
perdas implementação de
medidas de proteção - Evacuação de áreas de perigo
- Assistência técnica imediata

Uma combinação de medidas ativas e passivas é necessária para garantir uma


adequada relação custo-benefício. Uma avaliação detalhada deve ser realizada no
planejamento de mitigação de áreas suscetíveis a risco.

Diferentes estruturas podem ser implementadas para mitigar movimentos de massa


complexos como são os fluxos de detritos. As estruturas ativas ou medidas passivas
deverão ser implantadas de acordo com as características e condições de cada evento
estudado.

64
CAPITULO 3. CASOS DE ESTUDO

Os eventos de fluxos de detritos são considerados um dos fenômenos naturais mais


catastróficos, capazes de originar grandes danos: materiais e econômicos.

Diversos casos históricos têm sido e continuam sendo estudados por especialistas,
visando entender o comportamento de movimentos desta natureza.

No Brasil, inúmeros eventos de fluxos de detritos têm sido registrados recentemente, a


maioria deflagrados por chuvas intensas e, deslizamentos a montante das encostas,
ruptura de barragem naturais, entre outros fatores, mostrado que há uma necessidade
urgente de desenvolver medidas capazes de mitigar e conviver com os potenciais
danos deste tipo de movimento.

No início do mês de Janeiro de 2011, a Região Serrana Fluminense, localizada a


noroeste do estado do Rio de Janeiro, na área da Serra dos Órgãos, foi atingida por
fortes chuvas que deflagraram muitos movimentos de massa, resultando em uma
tragédia de grandes proporções.

A região serrana é caracterizada como uma região de alta susceptibilidade a


escorregamentos, devido a um conjunto de características: geológicas,
geomorfológicas, hidrológicas e de uso ocupacional do solo. Este último geralmente é
inadequado e colabora diretamente nos danos ocasionados durante fenômenos
naturais, tais como enchentes, movimentos de massa, entre outros.

CANEDO et al. (2001) descrevem que a região serrana do estado do Rio de Janeiro é
susceptível a desastres naturais, por ser uma região com relevo montanhoso com rios
hidraulicamente rápidos, marcados por enchentes de curta duração, com grande
capacidade erosiva e dinamicamente relacionados com a intensidade das chuvas.

A Região Serrana do Rio de Janeiro foi severamente atingida durante o evento


extremo de chuva na noite e madrugada do dia 11 para 12 de Janeiro de 2011. O
evento, classificado pelas entidades governamentais de “Mega Desastre da Região
Serrana”, devastou as principais cidades da região, ocasionando danos em
infraestrutura, meio ambiente e muitas perdas de vida, afetando mais de 20.000
pessoas e com grandes perdas econômicas.

No início do mês de Janeiro, um evento extremo de chuva, que se estendeu de 18hs


do dia 11 às 06hs do dia 12 de Janeiro, deflagrou cheias de rios e múltiplos

65
escorregamentos em diversas áreas da região, provocadas pelos grandes volumes de
água e, como consequência, a perda de resistência do solo e o aumento das pressões
de água em encostas rochosas (DRM, 2012).

CANEDO et al. (2001) descrevem que as chuvas que atingiram a região serrana
correspondem a um evento extraordinário de chuvas. O movimento de massa teve sua
origem no período chuvoso na região Sudeste, que provocou precipitações de oito a
dez dias na serra do Estado do Rio e iniciou o processo de saturação do solo, que se
combinou com chuvas pré-frontais, que caíram com forte intensidade durante 32
horas, entre os dias 10 e 12 de janeiro. Finalmente houve um terceiro evento,
correspondente à formação de uma cumulus nimbus, realimentada por umidade
proveniente da Amazônia, que resultou em chuvas localizadas nas cabeceiras de
vales, de intensidade fortíssima e com duração de 4,5 horas, na noite de 11 para 12
de janeiro.

Entre os municípios mais afetados na região encontram-se Nova Friburgo, Petrópolis,


Teresópolis, Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto e Sumidouro, com mais de
970 mortes oficiais e mais de 20.000 pessoas desabrigadas (NUNES, 2013).

Os movimentos de massa estudados neste trabalho de pesquisa correspondem a dois


casos importantes originados pelo evento extraordinário e catastrófico ocorrido na
região. Estes casos, embora muito conhecidos, mas ainda pouco estudados, foram
deflagrados durante o evento extraordinário de chuva de Janeiro de 2011, e estão
localizados nos municípios de Nova Friburgo e Teresópolis.

3.1. FLUXOS DE DETRITOS DO CALEME

3.1.1. LOCALIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO

O caso de estudo encontra-se localizado no município de Teresópolis,


especificamente no bairro Caleme, conforme mostrado na vista aérea, obtida por
imagem de satélite (Google Earth). A área de estudo esta localizada entre as
coordenadas UTM Leste 705.200 e 705.500m e Norte 7.521.800 e 7.522.300m.

66
Figura 3.1 - Localização da área do evento do Caleme, Teresópolis

3.1.2. HISTORICO DO EVENTO

Durante as intensas precipitações do mês de Janeiro de 2011, diferentes locais da


região serrana sofreram as consequências de fortes movimentos de massa ao longo da
trajetória arrastou material, acrescentando volume ao movimento de massa inicial
deslocando-se até atingir as casas próximas na base da encosta.

Na parte superior da encosta é evidenciada a cicatriz do movimento (Fig. 3.2),


apresentando uma área plana aproximada de 2.500m². A zona de iniciação da ruptura
foi identificada na cota 1.182m.

O levantamento geológico geotécnico realizado na área após o evento reporta que


alguns blocos, observados na parte superior da encosta, foram desenterrados e
encontram-se parcialmente incorporados ao maciço rochoso, porém em condições
instáveis (SEOBRAS, 2012). Não foi determinado se os blocos sofreram algum tipo de
deslizamento ou rolamento. Aparentemente, há pouca probabilidade de que os blocos
de grandes dimensões tenham sofrido alguma mobilização. Isto exige grandes energias
que resultariam em grandes trajetórias, o que não foi evidenciado na área. Por outro
lado, é relatado que alguns blocos rochosos se deslocaram até a parte média da
encosta e também até a base da escarpa, juntando-se aos blocos do depósito pré
existentes na base do talude (PCE, 2012).

67
Zona de Iniciação

Zona de Transporte e
erosão

Zona de Deposição

Figura 3.2 - Imagem aérea do “Evento Caleme”. (GEOMECÂNICA, 2011).

As observações de campo permitiram constatar que blocos de grandes dimensões, nas


partes superior e média do talude, apresentam potencial de instabilidade, sem
aparentou mobilização recente, concordando com o relatado no relatório do
levantamento geológico-geotécnico realizado em 2012 (PCE, 2012; SEOBRAS, 2013).
Este evento foi classificado de acordo com o Departamento de Recursos MInerais do

68
estado do Rio de Janeiro (DRM, 2012) como de médio a grande porte, considerando a
área e volumes de materiais deslizados. O levantamento do DRM descreve que
“praticamente todo o capeamento de solo e parte de rocha se desprendeu do maciço
ocasionando a queda de blocos, misturando-os à massa de tálus da rampa de colúvio
posicionada logo abaixo da escarpa rochosa, mobilizando uma grande massa que
atingiu as casas localizadas no pé” (VAREJÃO, 2012).

Foi evidenciada a existência de tálus na base da encosta (Figura 3.3), originado por
movimentos de massa pretéritos, com características similares ao movimento
acontecido em Janeiro de 2011. A mistura, formada por blocos, lascas, detritos e
água, desprendida da parte superior da encosta, impactou o material do depósito,
originando um novo movimento de massa, do tipo fluxo de detritos, de grande energia.

O mecanismo do movimento de massa do Evento Caleme foi caracterizado por um


escorregamento de solo iniciado na parte alta da encosta, deflagrado pela perda de
resistência do material, provocada pelo grande volume de água que saturou o solo. Por
outro lado, as poropressões provocadas pela percolação na encosta contribuíram para
que grandes blocos e lascas sofressem movimentação. O movimento de massa
inicialmente foi por deslizamento translacional. Ao atingir o material de tálus localizado
na base da encosta, na rampa de colúvio, deflagrou o inicio de um movimento do tipo
fluxo de detritos, que atingiu as casas na sua trajetória, depositando-se no canal de
drenagem natural, a uma distância máxima de aproximadamente 400m.

Evidencia-se na área que a massa, proveniente da parte alta da encosta, conseguiu


erodir a camada de solo superficial, provocando o afloramento da camada rochosa da
encosta na parte média e inferior.

A mistura de material observada no depósito apresenta um perfil complexo,


evidenciando-se lama, blocos e material granular. O material mobilizado foi depositado
a partir da cota 1010m, conseguindo atingir uma distância horizontal de
aproximadamente 220m, a partir do início do depósito.

As casas localizadas próximas à base da encosta foram atingidas pela massa


originada na parte superior, onde foi iniciado o movimento. DRM (2012) relata que as
casas foram atingidas por um volume de 1000m³, o que parece um volume reduzido
de acordo com o observado na área e considerando a área plana de deposição e a
espessura da camada de depósito indicada nas sondagens realizadas na parte inferior
da encosta. Em vista do risco de novas rupturas, evidenciado pela permanência de

69
blocos instáveis na parte superior, DRM recomendou, com caráter emergencial a
interdição e a evacuação imediata das moradias, bem como a escolha de áreas
adequadas para o reassentamento das moradias ou a execução de obras de
contenção, a fim de garantir a segurança na área.

3.1.3. CARACTERÍSTICAS GEOMORFOLÓGICAS DA ÁREA

Segundo MASSA (2012), a área em foco está inserida na região serrana do Estado do
Rio de Janeiro com altitudes em torno de 1000m, com vertentes bastante íngremes,
por vezes escarpadas, que buscam continuamente uma situação de equilíbrio com
tendência de instabilização natural.

Como consequência do relevo escarpado, os vales situados nas cabeceiras dos


principais tributários, geralmente retilíneos, desenvolvem-se ao longo de
descontinuidades geológicas e apresentam fundo entulhado por grandes blocos de
rochas granito-gnáissicas. No sopé das escarpas predominam as rampas de colúvio,
caracterizadas pela presença de blocos de rocha dispersos em matriz constituída por
solos areno-argilosos.

Em função da evolução contínua dos processos naturais de arrasamento do relevo da


região, muitos movimentos de massa do tipo deslizamento, queda de blocos, corridas
de massa e fluxos de detritos são constantemente deflagrados, na maioria dos casos
originados por eventos de chuva durante os períodos chuvosos de verão.

Figura 3.3 Tálus Colúvio na base da encosta, Evento Caleme (2011)

70
As Figuras 3.4 e 3.5 apresentam a área do Caleme antes e depois do evento de
Janeiro de 2011. Observa-se nas figuras que existia na área uma camada vegetal de
espessura variável de 0,3 a 1,0m, esta camada foi totalmente removida pela massa
movimentada, limpando a superfície até o contato com a rocha.

Evento Caleme

Figura 3.4 - Condição da área antes do Evento Caleme, Julho 2010 (GOOGLE
EARTH, 2010).

Evento Caleme

Figura 3.5 - Condição da área após o Evento Caleme, Maio 2011 (GOOGLE EARTH,
2011).

71
3.1.4. CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICOS - GEOTÉCNICAS DA ÁREA

A área em estudo é constituída por rochas granito-gnáissicas pouco estruturadas e


pouco micáceas, de coloração cinza. A constituição mineralógica é a tradicional para
este tipo de rochas, com predomínio de minerais feldspáticos, quartzo e micas (PCE,
2012)

Os resultados de sondagem realizadas (SEOBRAS, 2013) mostraram que na parte


inferior do local do evento Caleme existe uma camada de colúvio ou material
transportado de solo residual argilo-siltoso pouco arenoso, pouco espessa, sobreposta
a uma camada de solo residual jovem silto-arenoso de cor rosada. Foram realizadas
nove (9) sondagens a percussão nesta área. O perfil típico do material é
apresentado na seção de análises mostrada na Figura 3.6.

Estudos de casos históricos de fluxos de detritos demonstram que podem ser


implementados diferentes tipos de análises para avaliar cada uma das etapas de
um movimento de massa. BHUWANI (2004) apresenta as análises de dois casos:
Lei Pue Street landslide, Hong Kong (2001) e Barabensi Landslide, Nepal (2002).
Nestes casos foram empregados vários programas de análises, entre eles, Slope/W
e Flac para avaliação dos parâmetros de resistência e o programa DAN/W e FLOW
2D para análise dinâmica do movimento de massa.

Além das retroanálises usando o programa de equilíbrio limite Slope/W, os


parâmetros de resistência adotados foram aferidos comparando-se os resultados
obtidos com valores registrados para solos residuais brasileiros.

FAGUNDES (2000) apresenta uma compilação de parâmetros de resistência para


solos residuais brasileiros obtidos por ensaios geotécnicos de campo e de
laboratório. Os valores reportados pelo autor são apresentados na Tabela 3.1.

Os valores obtidos por retroanálises foram comparados com os valores sugeridos


na Tabela 3.1, o valores dos parâmetros de resistência foram adotados em função
das características da rocha mãe, da condição de saturação do material e da taxa
do carregamento, visando cumprir algumas das recomendações sugeridas
(SANDRONI, 1985).

A Figura 3.6 apresenta o modelo adotado para representar a geometria e a


configuração real da área de estudo em função das observações de campo e
geológicas e hidrogeológicas, obtidas das sondagens. Na seção são identificadas
72
quatro sondagens próximas da seção apresentada. As sondagens utilizadas para
definição dos parâmetros adotados nas análises são SM01 e SM02 (parte superior
da encosta), SP-01 e SM01 (parte inferior da encosta).

Tabela 3-1 - Parâmetros de resistência de solos residuais brasileiros (adapt. de


FAGUNDES, 2000).

(continua)

Grau de Grau de Faixa Direção


c' ɸ
Rocha Mae sat e0 intem- satura- tensões Ensaio Xistosida Referência
(kPa) (°)
perismo ção (kgf/cm²) de

Parc.
Quartzito
20 37 n.f. n.f n.f Saturad 0.5 a 5 Cis. Dir. = SANDRONI, 1985
Férrico
o
Parc.
Quartzito
50 44 n.f. n.f n.f Saturad 0.5 a 5 Cis. Dir. + SANDRONI, 1985
Férrico
o
Parc.
Quartzito
40 22 n.f. n.f. n.f. Saturad 0.5 a 5 Cis. Dir. = SANDRONI, 1985
Micáceo
o
Quartzito Parc.
Micáceo 45 27 n.f. n.f. n.f. Saturad 0.5 a 5 Cis. Dir. + SANDRONI, 1985
o
Parc.
Gnaisse CAMPOS, 1974. In
40 20 n.f. n.f. n.f. Saturad 0.5 a 5 Cis. Dir. =
migmatito SANDRONI, 1985
o
Parc.
Gnaisse CAMPOS, 1974. In
52 23 n.f. n.f. n.f. Saturad 0.5 a 5 Cis. Dir. +
migmatito SANDRONI, 1985
o
Gnaisse Submer CAMPOS, 1974. In
30 21 n.f. n.f. n.f. 0.5 a 5 Cis. Dir. =
migmatito so SANDRONI, 1985
Gnaisse Submer CAMPOS, 1974. In
49 22 n.f. n.f. n.f. 0.5 a 5 Cis. Dir. +
migmatito so SANDRONI, 1985
Gnaisse rico SERAPHIN, 1974. In
30 43 n.f. n.f. n.f. Natural acima de 1 Cis. Dir. -
em feldspato SANDRONI, 1985
Gnaisse rico Submer SERAPHIN, 1974. In
20 44 n.f. n.f. n.f. acima de 1 Cis. Dir. -
em feldspato so SANDRONI, 1985
Gnaisse rico SERAPHIN, 1974. In
40 29.5 n.f. n.f. n.f. Natural acima de 1 Cis. Dir. -
em mica SANDRONI, 1985
Gnaisse rico Submer SERAPHIN, 1974. In
18 29.5 n.f. n.f. n.f. acima de 1 Cis. Dir. -
em mica so SANDRONI, 1985
SANRONI e
Gnaisse rico
80 34 n.f. 0.75 n.f. Natural acima de 1 Cis. Dir. - MACCARINI, 1981. In
em feldspato
SANDRONI,1985
SANRONI e
Gnaisse rico Submer
32 36 n.f. 0.75 n.f. acima de 1 Cis. Dir. - MACCARINI, 1981. In
em feldspato so
SANDRONI,1985

73
(continuação)

Grau de Grau de Faixa Direção


c' ɸ
Rocha Mae sat e0 intem- satura- tensões Ensaio Xistosida Referência
(kPa) (°)
perismo ção (kgf/cm²) de

SANRONI e
Gnaisse rico
70 30 n.f. 0.95 n.f. Natural acima de 1 Cis. Dir. - MACCARINI, 1981. In
em feldspato
SANDRONI,1985
SANRONI e
Gnaisse rico Submer
34 32 n.f. 0.95 n.f. acima de 1 Cis. Dir. - MACCARINI, 1981. In
em feldspato so
SANDRONI,1985
SANRONI e
Gnaisse rico
60 30 n.f. 1.15 n.f. Natural acima de 1 Cis. Dir. - MACCARINI, 1981. In
em feldspato
SANDRONI,1985
SANRONI e
Gnaisse rico Submer
33 30 n.f. 1.15 n.f. acima de 1 Cis. Dir. - MACCARINI, 1981. In
em feldspato so
SANDRONI,1985
Quartzito
60 19 n.f. n.f. n.f. Natural acima de 1 Triaxial - SANDRONI, 1985
Nova Lima
Quartzito Submer
14 20 n.f. n.f. n.f. acima de 1 Triaxial - SANDRONI, 1985
Nova Lima so
Quartzito
90 25 n.f. n.f. n.f. Natural acima de 1 Cis. Dir. - SANDRONI, 1985
Caraca
Quartzito Submer
30 26 n.f. n.f. n.f. acima de 1 Cis. Dir. - SANDRONI, 1985
Caraca so
LACERDA e
SILVEIRA, 1992. In
Granito 35 26.7 n.f. 1.15 n.f. Natural até 600kPa Cis. Dir. -
LACERDA e
ALMEIDA
LACERDA e
Saturad SILVEIRA, 1992. In
Granito 9 30 n.f. 1.15 n.f. até 600kPa Cis. Dir. -
o LACERDA e
ALMEIDA
Parc. DURCI e VARGAS,
Xisto 78 28 n.f. n.f. n.f. Saturad n.f. Cis. Dir. = 1983. In: LACERDA e
o ALMEIDA, 1996
Parc. DURCI e VARGAS,
Xisto 100 27 n.f. n.f. n.f. Saturad n.f. Cis. Dir. + 1983. In: LACERDA e
o ALMEIDA, 1997
Parc. DURCI e VARGAS,
Filito 10 29 n.f. n.f. n.f. Saturad n.f. Cis. Dir. = 1983. In: LACERDA e
o ALMEIDA, 1998
Parc. DURCI e VARGAS,
Filito 60 41 n.f. n.f. n.f. Saturad n.f. Cis. Dir. + 1983. In: LACERDA e
o ALMEIDA, 1998
Gnaisse residual Saturad COUTINHO et al.,
10.8 31.9 1.688 0.95 até 300kPa Cis. Dir. -
Biotita maduro o 1997
Gnaisse residual COUTINHO et al.,
71.4 41.6 1.695 0.95 Natural até 300kPa Cis. Dir. -
Biotita maduro 1997

74
(continuação)
Grau de Grau de Faixa Direção
c' ɸ
Rocha Mae sat e0 intem- satura- tensões Ensaio Xistosida Referência
(kPa) (°)
perismo ção (kgf/cm²) de
Gnaisse residual Saturad COUTINHO et al.,
2.9 29.3 1.705 0.86 até 300kPa Cis. Dir. =
Biotita jovem o 1997
Gnaisse residual Saturad COUTINHO et al.,
5.3 31.3 1.755 0.78 até 300kPa Cis. Dir. +
Biotita jovem o 1997
Gnaisse residual COUTINHO et al.,
7.4 29.4 1.63 0.905 Natural até 300kPa Cis. Dir. =
Biotita jovem 1997
Gnaisse residual Saturad COUTINHO et al.,
0 35.5 1.485 1.26 até 300kPa Cis. Dir. -
Biotita maduro o 1997
Gnaisse residual COUTINHO et al.,
15.8 37.8 1.435 1.37 Natural até 300kPa Cis. Dir. -
Biotita maduro 1997
Gnaisse residual Saturad COUTINHO et al.,
2.2 30.1 1.725 0.895 até 300kPa Cis. Dir. =
Biotita jovem o 1997
Gnaisse residual Saturad COUTINHO et al.,
12.9 29.8 1.57 1.075 até 300kPa Cis. Dir. +
Biotita jovem o 1997
Gnaisse residual COUTINHO et al.,
40 29.9 1.53 1.105 Natural até 300kPa Cis. Dir. =
Biotita jovem 1997
residual Baixas
Gnaisse 20 26 1.534 1.093 54.0% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
maduro tensões
residual Médias
Gnaisse 10 33 1.585 0.905 49.2% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
jovem Tensões
residual Médias
Gnaisse 20 29 1.556 0.984 49.7% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
jovem Tensões
residual Baixas
Gnaisse 35 32 1.819 0.99 79.1% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
maduro tensões
residual Médias
Gnaisse 20 29 1.519 1.109 54.5% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
jovem Tensões
residual Baixas
Gnaisse 30 25 1.548 0.992 47.6% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
maduro tensões
residual Médias
Gnaisse 35 26 1.468 1.136 47.0% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
jovem Tensões
residual Baixas
Gnaisse 95 31 1.671 0.948 67.3% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
maduro tensões
residual Baixas
Gnaisse 30 27 1.563 0.945 45.6% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
maduro tensões
residual Médias
Gnaisse 25 23 1.379 1.423 47.8% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
jovem Tensões
residual Médias
Gnaisse 40 25 1.674 0.912 69.0% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
jovem Tensões
residual Baixas
Gnaisse 30 26 1.622 0.948 56.9% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
maduro tensões
residual Médias
Gnaisse 20 29 1.453 1.139 43.8% Triaxial (CU) - BARATA et al., 1978
jovem Tensões
Triaxial
Arenito Baurú 5 31 2.01 0.56 n.f 79% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)

75
(conclusão)
Grau de Grau de Faixa Direção
c' ɸ
Rocha Mae sat e0 intem- satura- tensões Ensaio Xistosida Referência
(kPa) (°)
perismo ção (kgf/cm²) de
Triaxial
Arenito Caiuá 18 36 1.98 0.47 n.f 48% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Argilito-Siltito 43 30 1.91 0.76 n.f 86% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Basalto 19 29 1.64 1.55 n.f 77% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Filito 46 27 1.87 0.94 n.f 84% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Gnaisse 14 30.5 1.61 1.05 n.f 50% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Granito 10 31 1.55 1.18 n.f 56% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Metabasito 22 26 1.59 1.49 n.f 70% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Micaxisto 20 30.5 1.8 0.98 n.f 77% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Migmatito 23 18 1.76 1.01 n.f 74% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Migmatito 32 30 n.f 0.77 n.f n.f até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Pegmatito 5 33 1.72 1.05 n.f 82% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Triaxial
Quartzo-xisto 20 30.5 2.25 0.55 n.f 51% até 600kPa - PINTO, 1993
(CD/CU)
Notas: valores médios; nf: (não fornecido); =: direção da xistosidade paralela; +: direção da xistosidade perpendicular

Figura 3.6 - Perfil longitudinal da trajetória do fluxo de detritos no Caleme.

76
Como através do modelo de equilíbrio limite e partindo de uma condição de
equilíbrio limite com FS próximo de 1, foi avaliado o comportamento dos materiais
presentes na área para reconstruir o perfil geotécnico dos materiais. O resultado
das análises é apresentado na Figura 3.7. O resultado obtido através das análises
por equilíbrio limite mostra uma condição no limite da ruptura, considerado o estado
atual na parte superior da encosta.

As análises de estabilidade desenvolvidas da encosta foram desenvolvidas com o


auxílio de programa de computador, SLOPE/W 2012 da Geo-Slope International Ltd,
que determina a superfície de ruptura crítica mediante análises de equilíbrio limite
através do método de Spencer. Para a modelagem foi utilizada a da seção de
estudo mostrada na Figura 3.6. Os parâmetros de resistência das camadas que
compõem o talude foram aferidos através de retroanálises da superfície de ruptura e
dos resultados das sondagens realizadas no local.

A retroanálise trata de reconstituir as condições do talude pré-ruptura, admitindo-se


que nesta ocasião o talude possui um fator de segurança (FS) igual ou próximo a 1.
A Figura 3.7 ilustra a retroanálise realizada.

Figura 3.7 - Retroanálises da parte superior da seção de estudo do Evento Caleme.

77
Os resultados adotados em função da base de dados de ensaios para materiais de
solo residual e através de análises de estabilidade são apresentados nas Tabelas
3.2 e 3.3.

Tabela 3-2 - Parâmetros de resistência considerados na parte superior da encosta.

Ângulo de atrito Coesão Peso específico

Material interno Ø (°) c´(kN/m²)  * (kN/m³)

Ref* Slope/W Ref* Slope/W Ref* Slope/W

Solo residual jovem 27 30 20 20 - 20

Solo residual maduro 25 30 18 15 - 18

Rocha alterada 35 - - - - 22

Rocha Sã 40 - - - - 26
Ref*: valores baseados na literatura;
Slope/W: valores obtidos da retroanálises.

Tabela 3-3 Parâmetros de resistência considerados na parte inferior da encosta.

Ângulo de
Coesão Peso específico
atrito interno
Material c´(kN/m²)  * (kN/m³)
Ø (°)
Ref* Slope/W Ref* Slope/W Ref* Slope/W
Solo transportado 26 25 18 0 - 16
Solo residual jovem 30 30 40 20 - 19
Rocha alterada 30 30 - - 22 -
Rocha Sã 35 35 - - 26 -
Ref*: valores baseados na literatura;
Slope/W: valores obtidos da retroanálises.

Desta forma, os parâmetros dos materiais para as análises de fluxos de detritos


foram adotados considerando limitada ao grupo de material com propriedades de
solo residual originado a partir de rocha com características de gnaisse rico em
feldspato.

Para a rocha sã e rocha alterada foram considerados os valores de referências


apresentados por LAMA & VUTUKURY (1978).
78
Finalmente, estes parâmetros foram comparados aos obtidos das análises de
estabilidade, permitindo a adoção dos valores apresentados na Tabela 3.4 e
adotados para a simulação do movimento de massa Caleme.

Tabela 3-4 - Parâmetros de resistência adotados para análises do Caleme.

Ângulo de Peso
Material atrito interno específico
residual Ø (°)  * (kN/m³)

Solo transportado 25 16

Solo residual jovem 30 18

Rocha alterada 30 22

Rocha Sã 35 25

3.1.5. VARIAVEIS ESTIMADAS DO MOVIMENTO DE MASSA DO CALEME

 .Volume estimado

A metodologia para avaliação de volume de massa movimentada durante eventos de


este tipo, pode ser definida em função das considerações geométricas e condições da
área em estudo. Não existe uma metodologia definida e única, uma vez que os
movimentos são muito variáveis de acordo com os fatores de deflagração, condições
geomorfológicas, geológicas e geotécnicas.

Nota-se que cada caso deve ser estudado, e diferentes critérios para estimativa do
volume podem ser considerados, de acordo com as condições topográficas de cada
evento.

O volume estimado do material escorregado foi considerado em função de


observações, levantamento de campo e análises das seções transversais levantadas
da topografia após o evento. Com auxílio do software CIVIL3D do AUTODESK (2009)
foi possível avaliar seções transversais a cada 5m, permitindo identificar claramente a
área de cicatriz da ruptura. A Figura 3.8 apresenta uma seção típica no trecho central
da cicatriz, onde se observa a superfície inicial de deslizamento na parte superior da
encosta.

79
A cicatriz apresentada na Figura 3.8 corresponde a uma área aproximada de 2500 m².
O volume considerado para a simulação é representado pela área da cicatriz após o
movimento de massa, sendo aproximadamente igual à área da cicatriz vezes
espessura variável de 0,5 a 1,0m.

Para avaliação do volume inicial envolvido, foi considerado que o limite da superfície
de ruptura corresponde a uma reconstrução entre o ponto 1 e o ponto 2 (Figura 3.9). A
partir da reconstrução da geometria natural da encosta antes do evento pode ser
aproximada a uma linha entre o ponto superior e o ponto base da ruptura.

O volume estimado para efeitos de análises preliminares do volume movimentado foi


obtido a relação entre a área formada pela reta e a topografia da base, com largura
média de 25m, como evidenciado nas observações de campo (Figura 3.8).

~17m
~60m

~25m

~33m

Figura 3.8 - Zona de iniciação do movimento de massa do Caleme.

Fica claro que, esta metodologia corresponde a uma estimativa incerta do volume,
mas em vista da dificuldade de determinação de volume após eventos, e considerando
o fato de que a área da cicatriz do escorregamento está bem delimitada, sendo uma
área de aproximadamente 2500m2, esta metodologia corresponde a uma rápida
ferramenta capaz de estimar o volume do material movimentado.

80
Figura 3.9 - Zona de iniciação do movimento de massa do Evento Caleme.

Posterior ao processo de iniciação do movimento, o volume inicial que começo a se


mobilizar desde a parte alta, foi incrementando-se ao longo da trajetória do movimento
até atingir a cota do afloramento rochoso iminente, aproximadamente na cota 1120m.

Segundo a descrição do DRM (2012) do Rio de Janeiro: “os deslizamentos rasos


iniciados na parte alta da escarpa rochosa mobilizaram solo, blocos e lascas rochosas
e vegetação, que ao alcançar o pé da encosta, escavaram o depósito de tálus, o que
ampliou o volume de material de detritos que constituiu o movimento de massa". O
DRM relata que “a massa com volume estimado de 1000m³ atingiu as casas
localizadas no sopé, as destruiu e se estendeu até o canal de drenagem, percorrendo
uma distância de aproximadamente 120m” (VAREJÃO, 2012).

 Distância percorrida

No levantamento de campo foi observado que a massa atingiu uma distância máxima
na projeção horizontal de aproximadamente 451m, considerados a partir do ponto de
origem mais elevado, na crista da cicatriz do escorregamento, até o ponto mais
distante, considerado atravessando a rua existente. A figura 3.10 ilustra a distância
total percorrida e a distância de deposição.

A extensão percorrida pelo fluxo de detritos foi levantada em função da geometria da


área, com um valor próximo de 100m de distância percorrida na zona de transporte e
erosão (Figura 3.11) e um máximo de 212m percorrido na zona de deposição,também
81
apresentado na Figura 3.10, somando um total de 451m de distância máxima
percorrida pelo volume de massa deslocado.

390m
~120m

Figura 3.10 - Zona de deposição do fluxo de detritos no Caleme.

~100m

Figura 3.11 - Zona de transporte e erosão do fluxo de detritos no Caleme.


82
 Área plana de deposição

A área de deposição foi levantada em função das imagens de satélites disponíveis. A


área plana foi determinada com auxílio da topografia e das imagens das áreas do local
A espessura do depósito foi conferida através dos resultados das sondagens
(SEOBRAS, 2013).

A área que constitui o material depositado na base do talude tem um total aproximado
de 13.000m² e uma espessura media variando de 2 a 3m, ressalta-se que o depósito
corresponde ao material colapsado durante o evento de 2011 e ao material acumulado
originado de eventos pretéritos.

MOTTA (2014) apresenta um resultado da área de deposição para o local do evento


de aproximadamente 12.864m². Este valor foi determinado a partir de imagens de
satélite, mostrando que este tipo de imagens pode ser uma ferramenta valiosa para
estimar áreas e dimensões em grande escala.

Figura 3.12 Zona de deposição do material do Evento Caleme

83
3.2. FLUXO DE DETRITOS DO CÓRREGO D’ANTAS

3.2.1. LOCALIZAÇÃO DO EVENTO

Na área do córrego Dantas, foram identificados muitos escorregamentos, que


atingiram grandes distâncias. O fluxo de detritos estudado neste ocorreu na encosta
do Morro Duas Pedras, localizado no Bairro Córrego D´Antas. A área do evento está
entre as coordenadas UTM Leste 753.540 e 752540 e Norte 7.537.159 e
7.536.160m.

Figura 3.13 - Imagem de satélite da área do evento Córrego D´Antas (GOOGLE


EARTH, 2013).

3.2.2. HISTÓRICO DO EVENTO

As intensas precipitações dos dias 11 e 12 de Janeiro que atingiram a região serrana


fluminense deram origem ao movimento de massa evidenciado no Morro Duas
Pedras, onde forças de subpressão resultantes da percolação de água nas fraturas
provocaram o deslocamento de grandes volumes de rocha, que iniciaram o fluxo de
detritos observado nesta área.

A partir do levantamento de campo, foi possível identificar que durante o evento, a


massa deslocada teve sua origem no topo da encosta, especificamente numa zona de
fratura de alívio, conforme relatório técnico disponibilizado pela empresa
GEOMECÂNICA S.A emitido em 2011. A zona de iniciação do movimento teve seu
84
ponto mais alto na cota 1300m, e seu ponto mais baixo aproximadamente a 22m da
cota de início (1300m), na cota 1278m. A massa deslocada se movimentou do ponto
de origem, no topo da encosta até encaixar no talvegue, onde começa a denominada
zona de transporte e erosão. Neste ponto, parte da massa mobilizada se dirigiu no
sentido da localidade de Córrego D'Antas e parte se deslocou no sentido do Hospital
São Lucas, situado na vertente oposta. As trajetórias dos dois movimentos iniciados
no mesmo ponto são apresentadas na Figura 3.14.

Devido às características do evento, não há dúvida de que o principal deflagrador do


movimento foi o volume extraordinário de precipitações que associado às condições
de fraturas do maciço provocou um grande deslocamento de massa que ganhou
energia ao longo da sua trajetória, até atingir o depósito na base. Nesta área o
movimento com volume e energia elevados se transformou em um fluxo de detritos,
que associado à ocupação irregular, provocou grandes danos ao atingir as casas e
demais edificações na área de deposição da massa.

A trajetória de deposição do material atingiu a distância máxima correspondente ao


canal da erosão 3, de aproximadamente 500m. Este canal de Erosão atingiu o maior
número de casas até chegar à Rua Vazante.

As zonas características do movimento são apresentadas na Figura 3.15. Observa-se


também um segundo movimento secundário (Canal de fluxo 4), na lateral direita a
jusante da encosta, que provocou a movimentação de massa de solo que se dirigiu no
sentido da estrada, originando um estrangulamento na drenagem junto à rodovia, e
ocasionando danos em edificações situadas na margem. O material movimentado na
Canal de fluxo 4 juntou-se com o material depositado pelo movimento principal,
contribuindo com o aumento da distância atingida pelo volume de massa final, que
conforme observado, atingiu a rodovia RJ 130 e causou o extravasamento e
destruição de um galpão junto à estrada (GEOMECÂNICA 2011).

3.2.3. CARACTERÍSTICAS GEOMORFOLÓGICAS DO EVENTO

O movimento de massa que posteriormente se transformou em fluxo de detritos no


evento do Morro Duas Pedras foi desenvolvido numa encosta íngreme, com
declividade média de 45° na zona de iniciação. Imediatamente abaixo da parte
superior, onde é definido o inicio do movimento, aflora a escarpa rochosa com
declividade variável de 40 a 60° e, finalmente, a topografia se suaviza, com inclinação
aproximada de 26°, conforme apresentado na Figura 3.14. Observa-se também a zona
85
do movimentos lateral (canal de fluxo 4), o qual, mesmo não fazendo parte do
movimento principal, contribuiu com o material na zona de deposição.

Direção Hospital Direção Córego D'Antas


São Lucas

Canal de fluxo 4

Canal de
Fluxo 3 Canal de
Fluxo 1
Canal de
Fluxo

Figura 3.14 - Trajetórias do movimento de massa do Córrego D’Antas.

O levantamento detalhado de campo indica que o escorregamento principal teve início


no topo do maciço e prosseguiu orientado por uma linha de fraturas, erodindo a
camada de solo residual e expondo o topo rochoso alterado (PORTELLA, 2013).

As características do perfil longitudinal da trajetória do fluxo são apresentadas na


Figura 3.14 mostrando a geometria e os limites das "zonas características da
trajetória" consideradas no estudo.

86
As três zonas principais que caracterizam a trajetória do movimento foram delimitadas
conforme o conceito proposto por VANDINE (1996) e JAKOB (2005). Embora o ângulo
na zona de deposição observado na trajetória do evento seja maior que os registrados
em função de eventos históricos, foi considerada a zona de deposição a partir do
momento em que o material perde substancialmente energia cinética e inici o processo
de deposição do material.

Zona de Iniciação

Zona de transporte e erosão

Zona de Iniciação
do movimento
secudario

Zona de deposição do
material

Zona de
Zona de
transporte e
deposição
erosão

Figura 3.15 - Movimento de massa do Córrego D´Antas.


87
A modelo adotado para representar a seção geométrica do do fluxo de detritos do
Evento Córrego D'Antas é apresentado na Figura 3.16

Figura 3.16 - Perfil longitudinal da trajetória do fluxo do Córrego D´Antas.

As Figuras 3.17 e 3.18 apresentam as imagens de satélites antes e depois do evento


das chuvas de Janeiro de 2011. Observa-se a trajetória do movimento e a cicatriz
deixada a escarpa rochosa, definidas pela coloração esbranquiçada na área de
impacto do material mobilizado desde o topo da escarpa rochosa até a zona de
deposição.

Outros movimentos de massa como queda e rolamento de bloco foram evidenciados


nas outras áreas do Morro Duas Pedras. A porção ocidental da encosta apresenta
fraturas e blocos, indicando que a área é susceptível a deslizamentos.

A região do Morro Duas Pedras foi a mais afetada durante este evento, por tratar-se
de uma encosta íngreme.

88
Figura 3.17 - Condições da área antes do evento Córrego D´Antas (GOOGLE
EARTH, 2010).

Figura 3.18 - Condições após evento do Córrego D´Antas (GOOGLE EARTH, 2011).

89
3.2.4. CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS - GEOTÉCNICAS DA ÁREA

PORTELLA et al. (2013) descrevem que o Morro Duas Pedras é formado por rochas
graníticas do Proterozóico pertencentes a Suíte Serra dos Órgãos. A face norte da
escarpa rochosa possui em média 45° de inclinação com a cota máxima atingindo
aproximadamente 1360 m de altitude, com cerca de 480 m de altura.

São evidenciadas duas famílias de fraturas perpendiculares entre si, com direção de
59° e 148° e mergulho subvertical, interceptando juntas de alívio que discretizam
blocos e lascas, muitas em situação de instabilidade e precariamente apoiadas sobre
o maciço. Durante o mapeamento geológico foi observando pontos de surgência de
água por entre as juntas e fraturas. Essas descontinuidades condicionam o
caminhamento das águas pluviais e favorecem o desplacamento das lascas através
da infiltração e da poropressão, arredondando o maciço e isolando os blocos
(PORTELLA et al., 2013).

Segundo descrições da geologia na área do evento (GEOMECÂNICA, 2011), o


talvegue por onde se deslocou a massa na trajetória inicial é formado por duas
famílias de fraturas subverticais, mergulhando para sudoeste segundo a direção
238°/75° e para noroeste segundo a direção 320°/80°, persistentes em todo o maciço.

Posterior à zona de iniciação, a corrida de massa se encaixou em um talvegue


formado pelo conjunto de fraturas características do maciço, estendendo-se na zona
de transporte por mais de 200m (GEOMECÂNICA, 2011). A partir da cota 1155m, a
massa deslocada iniciou o processo na zona de deposição. Na base da encosta, um
depósito de material colúvional e tálus originados durante movimentos de massa
pretéritos foi atingido pela massa deslocada da parte alta do talude, impactando blocos
e lascas depositados. Com isso, a massa movimentada desde o topo foi agregando
material de solo e blocos que, ao atingir o depósito existente na base, transformou-se
em um movimento do tipo fluxo de detritos.

PORTELLA et al.(2013), descrevem que durante a queda, o material ganhou energia


cinética que se dissipou no tálus depositado na base da escarpa, gerando um
movimento de massa secundário com volume muito superior ao movimento primário.
Ainda neste sentido, o relatório técnico descreve que, durante a trajetória do material
mobilizado, foram abertos vários sulcos em um depósito de tálus localizado logo
abaixo da face rochosa exposta, exibindo vários blocos e incorporando mais material à
corrida.

90
A área em estudo expõe um perfil típico de material depositado na base da encosta,
apresentando características de solo residual proveniente da decomposição de
granito-gnaisse, característico da região.

A adoção dos parâmetros de resistência para as análises foi definida em função de


uma avaliação do caso estudado. De forma análoga ao evento do Caleme, foram
considerados os valores sugeridos na literatura em função de ensaios de laboratórios,
apresentados na Tabela 3.5.

Para as análises da área de estudo foram considerados os seguintes materiais:

i. Material rochoso pouco fraturado;

ii. Material de rocha alterada granito- gnaisse fraturado;

iii. Material de depósito, constituído por colúvio e solo residual;

iv. Solo residual maduro.

Tabela 3-5 - Parâmetros de resistência adotados para as análises do evento do


Córrego D´Antas.

Ângulo de
Peso específico
atrito interno
Material  * (kN/m³)
Ø (°)
Rocha sã 35 26
Rocha alterada 30 22
Solo Residual 30 18
Material de depósito 25 16

3.2.5. VARIAVEIS ESTIMADAS DO MOVIMENTO DO CÓRREGO D'ANTAS

Volume

O volume inicial do movimento do Córrego D´Antas foi estimado a partir das


observações de campo. O volume inicial da trajetória principal do movimento é de
aproximadamente 500m3, estimado em função da cicatriz do deslizamento na parte de
cima da encosta (PORTELLA et al., 2013). A Figura 3.19 ilustra a cicatriz do material
movimentado inicialmente.
91
Figura 3.19 - Zona de iniciação do movimento de massa do Córrego D´Antas.

A massa deslocada inicialmente na trajetória do movimento principal foi um grande


bloco, originado pelas fraturas, situado numa zona de fratura de alívio no alto da
encosta. O material mobilizado se encaixou no talvegue formado por fraturas e
imediatamente atingiu outros blocos e lascas localizados na trajetória da massa.
Alguns blocos foram movimentados a partir do seu ponto inicial e depositados no
talvegue ainda na zona de trajetória do movimento. No entanto, outros blocos e solo
foram arrastado até a zona de deposição do movimento (Figura 3.18).

O volume total envolvido corresponde à somatória do volume inicial (volume deslizado)


e o volume agregado ao longo do canal do movimento, considerado de acordo com o
grau de erobilidade na zona de trajetória do fluxo.

Um segundo escorregamento lateral, originou um grande sulco erosivo no solo,


expondo o topo rochoso em alguns trechos no fundo do talvegue. (PORTELLA et al,
2013).

A cicatriz na região lateral mostra que um movimento secundário foi deflagrado na


cota aproximada de 1065m (Figura 3.15), onde a massa se desprendeu e se deslocou,
contribuindo com material depositado pelo primeiro movimento. O movimento se
desenvolveu num talvegue existente ao lado da Rua Izabel da Silva, resultando em
92
outra corrida de massa, que agregou um grande escorregamento de solo na cabeceira
do curso d’água existente. O talvegue em “V”, bastante profundo, encaixado e sinuoso
foi ainda mais erodido, sem causar danos às casas lindeiras, embora a erosão da
margem tenha se aproximado das mesmas (GEOMECÂNICA, 2012)

Zona de deposição do
material

Figura 3.20 - Zona de deposição do material do Evento Córrego D´Antas.

O volume iniciado na parte superior e incrementado durante a trajetória do movimento,


atingiu o depósito de colúvio e tálus proveniente de movimentos pretéritos, originando
um aumento da massa, e consequentemente um aumento na energia e intensidade do
movimento, resultando em uma enorme área de deposição, como ilustrado na Figura
3.20.

93
PORTELLA et al (2013) descrevem que os sulcos observados na área apresentam um
material depositado que se estendeu desde a base da escarpa até a rodovia RJ-130
com mais de 10,0 m de espessura. Há inúmeras ocorrências de blocos imersos na
matriz do solo e blocos soltos sobre o terreno. Esses blocos possuem dimensões
variadas, desde decimétricas até métricas, conforme observações de campo. A
incidência de blocos e solo na massa de tálus é difícil de ser estimada. É importante
destacar que esses blocos podem se apresentar com alteração somente em sua
superfície ou totalmente intemperizados, diferenciando-se da massa de solo
envolvente apenas pela cor dos minerais e características granulométricas. Este fato
evidencia dois fatos (FERREIRA E DIAS, 2012):

(1) Provavelmente ocorreram duas fases de formação do tálus, sendo a primeira mais
profunda e mais antiga.

(2) Os agentes de intemperismo atuaram com bastante rigor provavelmente com


grande disponibilidade de água. A ação dos agentes erosivos e intempéricos
principalmente da água das chuvas contribuem para o desplacamento do maciço e
para a acumulação desses materiais no sopé da escarpa formando o depósito de tálus
e colúvio. Esse tipo de depósito apresenta características texturais variadas,
conferindo a esses materiais uma grande capacidade de infiltração. Em função disso
possuem alta capacidade de Mobilização, tanto da massa de colúvio quanto de blocos
de rocha.

Figura 3.21 - Tálus/colúvio na base da escarpa do Córrego D’Antas.


94
Na base do maciço rochoso, coberta por material colúvionar e tálus, vários blocos
apresentam-se em situação de instabilidade e feições erosivas importantes formam
ravinas com até 10 m de profundidade na área de trajetória do movimento.

Durante a trajetória do movimento foi evidenciada dois tipos de perfis, um formado por
uma superfície de rocha sã, como observado na Figura 3.21 e um perfil onde é
evidenciada a presença de blocos de variada dimensiones, misturados com solo e
material de vegetação (Figura 3.23)

Figura 3.22 - Zona de transporte e erosão do movimento de massa principal na parte


superior do Córrego D’Antas.

95
Figura 3.23 - Zona de transporte e erosão do movimento de massa principal na parte
inferior do Córrego D’Antas.

96
Distância Percorrida

A distância percorrida identificada em campo, foi estimada em função do ponto mais


distante em relação ao ponto de início do movimento de massa. Na área em estudo,
foram evidenciados três caminho preferenciais, onde o mais extenso foi avaliado com
uma distância de 500m, a partir do início da deposição. Estima-se uma distância
máxima percorrida de próxima de 800m.

PORTELLA et al.(2013) relatam que a massa que atingiu a base da encosta chegou
até a rodovia RJ-130, evidenciando-se blocos e lascas numa matriz de solo.

L2 L1

L3

Figura 3.24 - Distância percorrida pelo fluxo de detritos no Córrego D´Antas.

Área plana de deposição

A área plana de deposição foi estimada a partir da topografia atual e corresponde a


aproximadamente 35.000m². O material depositado é composto pela mistura de
material proveniente de movimentos pretéritos e o material do evento de 2011.

MOTTA (2014) apresenta uma área definida em função de imagens de satélite, sendo
esta área aproximadamente igual a 31.000m².

97
CAPITULO 4. ANÁLISES

Neste capítulo as relações empíricas apresentadas nesta pesquisa e as análises


numéricas com o programa DAN3D são utilizadas para avaliar os principais
parâmetros dos fluxos de detritos dos eventos da Região Serrana Fluminense: Caleme
e Córrego D´Antas, descritos e analisados no capítulo anterior. A finalidade deste
estudo é a obtenção de parâmetros básicos em função das duas metodologias,
relações empíricas e simulação numérica com o DAN3D e comparação dos resultados
obtidos com a mesma metodologia, com metodologias distintas e, finalmente com os
valores reais observados nas áreas de debris flows do Caleme e Córrego D’Antas.
Os três níveis de comparações possibilitam identificar a adequação das metodologias
para a previsão de parâmetros de fluxo de detritos.

4.1. ANÁLISE DOS PARÂMETROS ATRAVÉS DE RELAÇÕES EMPÍRICAS

Para avaliar os parâmetros foram selecionadas, relações empíricas da literatura que


envolvessem parâmetros de fluxo de detritos de fácil determinação e grande
importância para avaliar zonas de potencial risco de ocorrência do movimento e as
medidas de mitigação e convivência. A quantificação precisa dos parâmetros não é
possível através de relações, porém as relações empíricas simplificadas podem
subsidiar a estimativa das magnitudes do evento.

Neste trabalho foram avaliados os principais parâmetros característicos dos fluxos de


detritos dos casos de estudo. Os parâmetros mais representativos e importantes para
avaliação das medidas de mitigação são: volume, velocidade, distância total
percorrida, distância de deposição, descarga de pico e forças de impacto.

As equações utilizadas para avaliação dos parâmetros são apresentadas no Capítulo


2, na Tabela 2.10. Ressalta-se que as relações adotadas foram as propostas para
comportamento de material granular e fluxo não confinado, sendo algumas outras
descartadas por não representar corretamente as condições dos movimentos
ocorridos no Caleme e Córrego D’Antas.

A Tabela 4.1 apresenta as características geométricas e as variáveis adotadas


relativas à mistura do material e densidade do fluxo de detritos dos dois casos de
estudo. Estes valores foram determinados em campo após os eventos de Janeiro de

98
2011, considerando os levantamentos topográficos detalhados das áreas e as
inspeções in situ.

Tabela 4-1 - Características dos casos de estudo – Caleme e Córrego D’Antas.

Cota Cota Densidade


Caso L (m) H (m) α (°) H/L Material 3
Inicial Final ρ (kN/m )

Caleme 1180 934,7 451,0 245,3 29 0,54 Granular 2000

Córrego D’Antas 1300 880,0 800,00 420,0 28 0,53 Granular 2200

Os resultados obtidos para a estimativa dos principais parâmetros dos fluxos de


detritos, usando as relações empíricas propostas são apresentados na Tabela 4.2.
Observa-se que os parâmetros calculados a partir das relações empíricas mostram
valores satisfatórios quando comparados com os valores reais estimados a partir das
observações de campo após os dois eventos.

A partir da investigação de campo e levantamento topográfico, foi evidenciado que a


área plana de deposição observada no evento Caleme é próxima de 12.800m², com
uma espessura média do depósito de 2,2m, conforme evidenciado pelas sondagens. É
importante destacar que há possibilidade de que a espessura de depósito indicada nas
sondagens também contemple depósitos pretéritos. Os valores de área plana de
deposição obtidos das equações empíricas de IVERSON (1998) e MOTTA (2014)
mostraram-se satisfatórios, enquanto que a relação proposta por CROSTA et al.
(2001) não apresentou bons resultados.

Já para o caso do Córrego D'Antas, a área plana de deposição observada


corresponde a cerca de 35.000m², mostrando concordância com os valores obtidos
através das relações propostas por IVERSON (1998) e MOTTA ( 2014).

A área planialtimétrica calculada pela relação proposta por MOTTA (2014) apresenta
um valor de apenas 14% superior ao observado no evento Caleme, enquanto as
relações propostas por IVERSON (1998) e CROSTA et al. (2001) fornecem valores
muito diferentes do observado, atingindo 378% e 14%, respectivamente.

99
Tabela 4-2 – Parâmetros de fluxos de detritos calculados de relações empíricas.

Casos
Parâmetros Observados e Calculados
Caleme Córrego D’Antas
Área de Deposição B (m²)
Observado 12.800 35.600
Calculado Iverson (1998) 37.386 95.717
Crosta et al. (2010) 1.798 2.008
Motta (2014) 10.248 30.353
3
Volume V (m )
Observado nd nd
Calculado Takahashi (1991) 12.843 14.445
Rickenmann (1999) 5.247 11.589
Polanco (2010) 4.479 5.293
Motta (2014) 2.556 10.470
Gramani (2001) 3.762 4.380
Velocidade v (m/s)
Observado nd nd
Calculado Sibnuy (1966) 6,0 11,8
Kherkheulidze (1975) 12,0 17,4
Tsubaki et al (1981) 3,8 5,3
Zhang et al (1985) 80,4 110,5
Rickenmann (1999) 20,2 21,0
Vazão de Pico (m³/s)
Observado nd nd
Calculado Mizuyama (1992) 107,6 199,7
Bovis & Jacob (1999) 77,3 89,8
Rickenmann (1999) 122,3 236,1
Polanco (2010) 32,6 37,4
Motta (2014) 15,9 32,6
Distância Percorrida (m)
Observado 400 790
Calculado Hungr et al (2005) 451 800
Rickenmann (1999) 720 1277
Polanco (2010) 942 983
Motta (2014) 463 1010
Distância Percorrida de Deposição (m)
Observado 120 500
Calculado Lorente et al (2003) 323 463
Rickenmann (1999) 261 339
Crosta et al (2001) 74 92
Forças de Impacto (kN)
Observado nd nd
Calculado Hübl (1993) 164 176
28,792 44,903
Hungr (1984) 214 230
(1) (2)
nd: não disponível; Para y = 0,5m; Para y = 1,0m

100
Já para o evento Córrego D'Antas, os valores de área plana de deposição obtidos da
equação proposta por MOTTA (2014) é 91% do valor observado no fluxo de detritos,
sendo considerado um resultado muito satisfatório. Entretanto, o valor obtido com a
equação de IVERSON (1998) é muito superior, atingindo cerca de 293% do valor real.
Por sua vez, a relação de CROSTA et al. (2010) fornece um valor muito reduzido, igual
a 6% do observado no Córrego D’Antas.

Nas análises das relações empíricas é possível observar que a maior variação de
resultados corresponde à determinação do volume final da massa de fluxo. Isto se
deve ao fato deste parâmetro ser de difícil previsão e ainda dependente de diversas
variáveis. Nos casos estudados foi possível estimar os volumes iniciais, por tratar-se
de movimentos iniciados por deslizamento de solo e lasca para o Fluxo do Caleme e
Córrego D'Antas, respectivamente. Todavia, as relações para determinação do volume
total do movimento, propostas por TAKAHASHI (1991), COROMINAS (1996),
RICKENMANN (1999), POLANCO (2010) e MOTTA (2014) fornecem valores de
acordo com o observado nos dois casos de estudo.

As velocidades calculadas utilizando as equações empíricas propostas por SIBNUY


(1966), KHERKHEULIDZE (1975), ZHANG et al. (1985) e RICKENMANN (1999)
mostraram valores dentro dos limites registrados na literatura para movimentos deste
tipo. Infelizmente, não foi possível determinar este valor nos eventos de fluxo de
detritos do Caleme e Córrego D’Antas.

A descarga de pico, calculada com auxílio das relações de MIZUYAMA (1992), BOVIS
& JAKOB (1999), RICKENMANN (1999), POLANCO (2010) e MOTTA (2014) resultou
em valores resultados elevados considerando o volume mobilizado.

Em relação à distância total percorrida e à distância de deposição calculada, os


valores foram calculados com as relações de LORENTE et al. (2003), RICKENMANN
(1999), CROSTA et al. (2001) e MOTA (2014) forneceram valores compatíveis com os
observados em campo.

Para o evento Caleme, as relações empíricas de HUNGR (2005) e MOTTA (2014)


forneceram bons resultados para o cálculo da distância total percorrida e a distância
de deposição, com valores iguais a respectivamente 113% e 116% da distância total
real, observada no fluxo de detritos. Entretanto as relações de RICKENMANN (1999)
e POLANCO (2010) fornecem valores superiores, iguais a 180% e 250%,
respectivamente.

101
Para o evento Córrego D'Antas, os valores da distância de deposição calculados por
HUNGR (2005) foram iguais a 101% do valor real observado. As relações de
POLANCO (2010) e MOTTA (2014) forneceram valores superiores, iguais a 124% e
128%, respectivamente. Com a relação de RICKENMANN (1999), o resultado foi um
tanto superior, obtendo-se 164% da distância total observada.

No evento do fluxo de detritos do Caleme, os resultados da distância de deposição


obtidos das relações empíricas forneceram resultados muito variáveis, sendo o menor
deles igual a 64%, calculado por CROSTA et al. (2001). As relações de RICKENMANN
(1999) e LORENTE et al. (2003) fornecem valores superiores e iguais a 217% e 269%,
respectivamente.

A avaliação das forças de impacto em estruturas foram realizadas com as relações de


HUNGR et al, (1984) para forças dinâmicas e de HÜBL (2009) para modelos hidro-
dinâmicos e forneceram valores próximos de 200kN, quando considerado um ângulo
de impacto próximo de zero (força resultante horizontal). Ressalta-se que foi
observado a partir destas análises que pequenos incrementos do ângulo de impacto
provocam grande aumento na força de impacto. Além disto, a relação proposta por
HUNGR et al. (1984) para calculo de força dinâmica exige a determinação da área
transversal do fluxo, a qual não é bem definida quando se trata de fluxo não confinado.

HUNGR et al (1984) recomendam que a pressão de impacto calculada deve ser


distribuída em uma área com base igual a 1,5 vezes a altura do fluxo. VANDINE
(1996) relata que a onda que se choca com a estrutura produz uma força de impacto
dinâmico até duas vezes superior à calculada por HUNGR et al (1984). Esta
constatação resulta da observação de diversos eventos estudados no Japão.

Finalmente, HÜBL et al. (2009) recomendam o emprego de 1/5 até 1/3 da força de
impacto frontal para o dimensionamento de uma estrutura de proteção.

Embora as relações empíricas propostas representem uma importante ferramenta


para estimar os principais parâmetros dos fluxos de detritos, a utilização das mesmas
deve ser adequadamente avaliada e os resultados obtidos devem ser analisados
cuidadosamente e com critério técnico de acordo com o caso estudado.

102
4.2. SIMULAÇÃO NUMÉRICA COM DAN3D

Para realizar as simulações com o DAN3D, foi necessário entrar com a base
topográfica das áreas, propriedades e modelo reológico dos materiais, volume inicial
do movimento de massa, mapa de erosão da área e taxa de erosão das áreas
atingidas pelo movimento.

Serão apresentadas as descrições de cada um dos elementos considerados na


simulação dos casos de estudo em função das características das áreas obtida por
levantamento e observações de campo.

4.2.1 ELEMENTOS DE ENTRADA (INPUTS) PARA SIMULAÇÃO COM DAN3D

Topografia

Os levantamentos planialtimétricos após o escorregamento foram disponibilizados


pelas projetistas das obras do Caleme e Córrego Dantas no formato de CAD,
programa da empresa AUTODESK. A partir deste arquivo foram gerados para cada
caso o modelo digital de elevação (MDE), transformado no software GLOBAL
MAPPER em um arquivo no formato GRD para ser utilizado no DAN3D.

O software GLOBAL MAPPER é programa computacional de Processamento de


Imagens (PDI) e Sistema de Informações Geográficas (SIG), desenvolvido pela
empresa norte-americana Blue Marble Geographics. É um utilitário para modelagem
digital de elevação (MDE), capaz de processar imagens (PDI) e sistemas de
informações geográficas (SGI), permitindo obter modelos digitais de elevação.

A topografia dos dois casos de estudo foi levantada na escala 1:1, apresentando
curvas de nível a cada metro. A área contemplada no levantamento foi limitada à área
afetada pelo movimento. Observa-se que, para complementar a topografia da área
afetada pela ruptura na parte alta da encosta, foi utilizada uma base topográfica
disponibilizada no banco de dados geomorfométricos do Brasil, base TOPODATA.

Superfície de ruptura

A superfície de ruptura que deu origem ao fluxo de detritos de cada caso de estudo foi
definida durante o levantamento de campo, onde foi constatada a cicatriz de
escorregamento inicial e estimado o volume em função da geometrização da cicatriz
do deslizamento inicial.

103
De forma análoga à base do levantamento topográfico da área, a superfície de ruptura
foi igualmente convertida, com auxilio do software GLOBAL MAPPER, em um modelo
digital de elevação (MDE) para ser usada no DAN3D.

Mapa de Erosão

O mapa de erosão do Caleme e Córrego Dantas foi definido em função dos materiais
observados nas áreas de trajetória e impacto do movimento de massa. Os materiais
foram definidos em função da avaliação de geologia e geomorfologia da área, das
sondagens encontradas e do levantamento de campo.

Semelhante ao procedimento para base topográfica e superfície de ruptura, o mapa de


erosão foi convertido em modelo digital de elevação (MDE) com auxílio do programa
GLOBBAL MAPPER e posteriormente transformado em um arquivo GRD para
modelagem no DAN3D.

Materiais considerados na simulação

Para a área de estudo, também foi necessário entrar com as características dos
diversos materiais representativos da área, na qual o movimento de massa se
desenvolveu, sendo necessária definir as propriedades mecânicas e hidráulicas dos
materiais (Ø, ru, ξ), conforme definido na seção 4.2.1, incluindo a taxa de erosão do
material na zona de trajetória.

Para representar o movimento de massa, foram considerados, no máximo, três


materiais para o caso Caleme e um máximo de cinco materiais para o caso do
Córrego D'Antas. Os parâmetros e características foram determinados a partir do
levantamento de campo, com auxílio das sondagens e observação visual do material
de depósito e material remanescente na área.

A densidade do material é considerada constante durante todo o movimento e igual a


2000kN/m³, tanto para o evento Caleme quanto para o Córrego D’Antas.

Os materiais considerados durante a simulação foram definidos em função de cada


caso de estudo. Os principais materiais foram definidos em função da zona da
trajetória do movimento, sendo representados por:

(i) Material 1: Mistura de material que provocou a deflagração do movimento,


concentrada na zona de iniciação;

104
(ii) Material 2: Material na zona da trajetória do movimento;

(iii) Material 3: Material depositado na base.

As características e parâmetros dos materiais considerados durante a simulação são


descritos e caracterizados de acordo com o caso de estudo.

Caleme

Foram considerados:

(i) Material 1 (Ruptura): O material denominado de material 1, para efeitos da


simulação, é constituído pela mistura de solo residual jovem, blocos de rocha e
água. Conforme a geologia observada na área, o material corresponde a solos
residuais originados de rocha granito gnáissica, típico da região em estudo;

(ii) Material 2 (Zona de transporte): Constituído por rocha pouco alterada, presente
na área inferior da encosta em estudo;

(iii) Material 3 (Zona de deposição): Mistura de solo e blocos de rocha depositados


por eventos de movimentações pretéritos, tipicamente solo residual maduro
originado a partir do granito – gnaisse observado na região.

Córrego D' Antas

Na simulação do evento Córrego D´Antas foram adotados um mínimo de dois


materiais e um máximo de cinco materiais para modelar o movimento de massa
principal e secundário da área:

(i) Material 1 (Ruptura): Constituído pela mistura de material granular, blocos de


rocha, solo argiloso e água, conforme observado na zona de ruptura de evento. A
rocha mãe corresponde a um granito – gnaisse, típico da região;

(ii) Material 2 (Zona de transporte): Constituído por rocha pouco alterada, presente
na área inferior da encosta em estudo. Foi definida uma profundidade máxima de
erosão de 0,5m, por tratar-se de uma escarpa rochosa, pouco fraturada;

(iii) Material 3 (Zona de deposição): Na base da escarpa, onde o material


deslocado começou a se depositar, foi considerado um solo residual maduro

105
saturado, proveniente de movimentos pretéritos, além de blocos e lascas de rocha
imersos na matriz de solo;

(iv) Material 4 (Erosão Lateral): No segundo movimento considerado na


modelagem da área, foi adotado um solo residual maduro saturado;

(v) Material 5 (Rocha sã): Para o restante da área, que não foi afetada pelo
movimento, adotou-se rocha sã. Embora este material tenha sido considerado na
entrada de materiais (input) no programa DAN3D, ele não contribui com o
movimento de massa, uma vez que ele não se encontra na trajetória do fluxo de
detritos observado.

Parâmetros considerados na simulação

Foram considerados os seguintes parâmetros dos materiais para a simulação do fluxo


de detritos:

(i) Peso específico (kN/m³): Foram considerados para colúvio, solo residual e
rocha os valores de 16, 18 e 22 kN/m3, respectivamente;

(ii) Ângulo de atrito Ø (°): Foram considerados valores variáveis de 25 a 35 graus,


de acordo com o mapa de erosão onde foram distribuídos os materiais na área;

(iii) Coeficiente de poropressão ru (adimensional): Representa a taxa de pressão


de água atuando na base da superfície de ruptura. Foram adotados valores
variando de 0 a 0,5. Este coeficiente é considerado nas análises de materiais com
reologia de atrito;

(iv) Coeficiente de atrito f (adimensional): Foram considerados valores variando de


0,1 a 0,15, segundo as recomendações propostas para casos históricos com
características similares. Este coeficiente é considerado nas análises de materiais
com reologia Voellmy;

(v) Coeficiente de turbulência ξ (m/s²): Define o fator de turbulência ou aceleração


na equação de resistência basal do fluxo. Este coeficiente é considerado nas
análises de materiais com reologia Voellmy e os valores foram adotados em
função de registros históricos de casos simulados.

106
(vi) Ângulo de atrito interno Øint (°): Corresponde ao ângulo interno das partículas
dos materiais considerados na simulação. Foi considerada uma faixa variável de
30 a 35°;

(vii) Profundidade máxima de erosão: Profundidade definida em função do material


distribuído no mapa de erosão da área. Para os casos estudados, foi considerado
um valor máximo de 0,50m para a zona de transporte e erosão e um valor máximo
de 4m, para a zona de depósito, em função das sondagens e levantamento de
campo das áreas. Foi observada a ocorrência de depósito (tálus-colúvio) na base,
o qual foi mobilizado ao ser impactado pela massa inicial, originada na crista;

(viii) Taxa de erosão: a taxa de erosão é calculada por meio de uma aproximação
da profundidade normal erodida por metro unitário.

Os parâmetros considerados na simulação foram estimados em função das


características observadas no material por equipe especializada e aferidas com os
resultados de sondagens, ensaios de campo e laboratório não foram contemplados
durante a avaliação das áreas após eventos de Janeiro de 2011, dificultando uma
avaliação mais adequada do comportamento dos materiais.

Reologia do material

A escolha do modelo reológico, implementado para cada um dos materiais nas


análises dinâmicas com o DAN3D, foi realizada a partir de análises de sensibilidade,
considerando que os modelos reológicos de atrito e de Voellmy foram aqueles que
melhor se ajustaram aos casos de estudo. HUNGR (1998) reporta que a escolha de
um modelo reológico e seus parâmetros correspondentes é fundamentada em
metodologias de tentativa e erro e com base na experiência.

Foram considerados dois modelos reológicos conjugados para simular o movimento


de massa dos casos estudados: modelo Voellmy e modelo de atrito.

Tempo de simulação

O tempo máximo de simulação foi definido em 1000s, que corresponde a um valor


máximo de default da modelagem com o DAN3D.

107
4.2.2. ELEMENTOS DE SAÍDA (OUTPUTS) DO DAN3D

Os principais parâmetros de saída do DAN3D são a velocidade do movimento, o


volume final da massa envolvida no movimento, a espessura da camada erodida e a
distância total percorrida.

O modelo DAN3D oferece, como elemento de saída da modelagem, dois relatórios


principais com as principais características da modelagem: output.text e
finaloutput.text. Adicionalmente é possível obter o conjunto de isocurvas, contendo o
resultado das principias variáveis em cada um dos intervalos de tempo predefinidos
durante a modelagem e os máximos obtidos durante a simulação. O formato dos
arquivos dos elementos de saída é GRD.

4.3. SIMULAÇÕES DOS CASOS DE ESTUDO COM O MODELO DAN3D

Os dois casos de estudo da Região Serrana Fluminense foram modelados


considerando as condições levantadas em campo após eventos de Janeiro de 2011.

Foram realizadas simulações com o modelo DAN3D, visando representar a condição


observada. Para efeito de simulação foram realizadas algumas análises de
sensibilidade considerando combinações de modelos reológicos e parâmetros dos
materiais para cada caso de estudo.

A faixa de variação dos parâmetros foi inicialmente estabelecida da seguinte forma:

(i) Coeficiente de atrito (f) entre 0,1 e 0,15;

(ii) Fator de turbulência (ξ) para o modelo Voellmy entre 200 e 500m/s²;

(iii) Ângulo de atrito (ɸ) para o modelo reológico de atrito (Frictional) variando
entre de 30 e 35°;

(iv) Coeficiente de poropressão (ru) variando de 0,10 a 0,50;

(v) Pesos específicos dos materiais variando entre 16kN/m³ (material


coluvional) a 26 kN/m³ (rocha sã). Estes valores foram considerados em função
do tipo de material baseado em registros históricos de casos similares
modelados (HUNGR & EVANS, 1996; JAKOB et al.,2000; HURLIMANN et al.,
2003; BHUWANI, 2004; REVELLINO et al., 2004; PIRULLI, 2005;

108
MCDOUGALL & HUNGR, 2006; MCKINNON et al., 2008; BHUWANI , 2012;
NIGUSSIE, 2013; LUNA, 2011; BEGUERÍA, 2008.

Segundo MCDOUGALL (2006), o modelo de resistência por atrito apresenta bons


resultados na modelagem do comportamento de material drenado. Já o modelo
Voellmy reproduz bons resultados quando há uma quantidade significativa de água
envolvida no fluxo.

MCKINNON et al. (2005) indicam que, para movimentos do tipo fluxo de detritos, o
modelo reológico que melhor se ajusta é o de Voellmy, com valores sugeridos de
coeficiente de atrito (f) na faixa de 0,07 a 0,2, e fator de turbulência (ξ) variando de 300
a 500m/s². Alguns autores sugerem ainda que, para casos de fluxos de detritos
induzidos por deslizamentos, é mais adequado considerar o modelo de atrito para a
ruptura inicial e posteriormente o modelo de Voellmy para simular o movimento de
fluxo de detritos (AYOTTE et al.,1999).

Foram realizadas várias simulações, combinando modelos reológicos de material. Os


melhores resultados foram obtidos para as simulações considerando um modelo
reológico de Voellmy para a ruptura inicial na parte superior e para o volume de
material na base, considerado neste caso deflagrador do segundo movimento. Já para
o material observado na zona de trajetória do movimento, o modelo reológico
considerado foi de atrito, por tratar-se de um material rochoso com comportamento
drenado.

Os resultados da simulação dos casos de estudo com o programa DAN3D são


resumidos na Tabela 4.3 e apresentados nas Figuras 4.1 a 4.10, nas quais podem ser
observadas as trajetórias dos movimentos e mapas de espessura do material
depositado nos eventos Caleme e Córrego D'Antas. Adicionalmente são apresentados
o conjunto de isocurvas dos parâmetros obtidos da simulação, destacando-se o
volume total, velocidade, descarga de pico, profundidade máxima de erosão,
deposição do material, distribuição das partículas e distância percorrida para os dois
casos no instante de tempo em que os valores são máximos.

A Figura 4.1 apresenta uma imagem geral de saída da simulação do fluxo de detritos
na região do Caleme, conhecido como "Evento 99" com o programa DAN3D. A
trajetória do movimento de massa e as áreas impactadas pelo volume de material
iniciado na parte alta da encosta são indicadas pela cor cinza. Já o depósito do
material na zona de deposição é representado pelo conjunto de issocurvas de

109
diferentes espessuras variáveis de acordo com o caso. Para o evento Caleme a
espessura de deposição apresenta-se variável na base do movimento de 0 a 3,0m.

As Figuras 4.2, 4.3, 4.4 e 4.5 apresentam respectivamente as isocurvas de valores dos
mapas de velocidade, vazão de pico, erosão e deposição máxima.

Os resultados obtidos mostram que o movimento apresentou velocidades elevadas na


parte superior que diminuíram em função da deposição do material, de acordo com o
apresentado na Figura 4.2. As velocidades máximas são de cerca de 15m/s e
aproximadamente zero no final da deposição.

O mapa de descarga de pico, mostrado na Figura 4.3, apresenta valores mais


elevados no centro do fluxo e na zona de transporte, como era esperado, e diminui em
função da deposição do material até atingir valores próximos a zero.

Tabela 4-3 - Resultados da simulação dos casos de estudo com DAN3D.

Parâmetros
Caso Velocidad Descarga Distância Erosão Deposiçã
Volume
e máxima máxima máxima máxima o máxima
total (m³)
(m/s) (m³/s) (m) (m) (m)
5000 - 0,50 -
Caleme 12 - 14 8 - 12 296 - 400 0,5 – 4,0
7000 1,0

Córrego 10.000 - 1,15 -


15 - 18 6 - 13 700 - 778 2,5 – 3,4
D´Antas 17.000 2,0

110
Figura 4.1 - Imagem geral do movimento (output , DAN3D) - Caso Caleme.

Os mapas de deposição e erosão apresentados nas Figuras 4.4 e 4.5,


respectivamente, mostram o material sendo depositado na parte inferior da encosta,
com espessura variável de 2,5 a 3,5m.

Os resultados da profundidade de erosão na área do fluxo de detritos apresentam-se


mais acentuados na zona de deposição, com profundidades mais elevadas no início
da zona de deposição e variando de 0,6 a 1,0m.

111
Figura 4.2 - Mapa de velocidade – Caleme.

Figura 4.3 - Mapa de descarga de pico – Caleme.

112
Figura 4.4 - Mapa de deposição – Caleme.

Figura 4.5 - Mapa de erosão – Caleme.

113
Uma avaliação gráfica dos resultados obtidos utilizando os GRD de saída do programa
DAN3D mostra que a área de deposição do evento Caleme é próxima de 15500m²,
com espessuras variáveis de 0,5 a 4,0m, conforme apresentado na Figura 4.6.

Figura 4.6 - Área de deposição obtida com a modelagem no DAN3D – Caleme.

A área de deposição principal, mostrada na Figura 4.6, corresponde à área total de


deposição do movimento. Segundo os resultados obtidos, a massa mobilizada atinge e
ultrapassa a Rua Canário, correspondendo a uma distância máxima de 430m em
relação ao centro de massa da ruptura na parte superior da escarpa.
114
A Figura 4.7 apresenta a imagem geral do fluxo de detritos na área do evento Córrego
D'Antas, no Morro Duas Pedras. Da mesma forma que mostrado para o caso do
Caleme, a área em cinza representa a área afetada durante a trajetória do fluxo de
detritos e a espessura final na área de deposição é representada pela gama variável
de cores, conforme legenda mostrada na figura. De maneira análoga ao caso do
Caleme, foram feitas várias simulações, combinando modelos reológicos de material.
Os melhores resultados foram obtidos para as simulações considerando um modelo
reológico de atrito para a ruptura principal e de Voellmy para a ruptura do movimento
lateral. Na zona de transporte e erosão foi considerado um material com reologia de
atrito e, finalmente, para a zona de deposição foi adotado um material com modelo de
Voellmy, por representar mais adequadamente o comportamento de um material
coluvional saturado.

Figura 4.7 - Imagem geral do movimento (output DAN3D) - Caso Córrego D'Antas.

115
Assim como observado em campo, a simulação mostrou o volume inicial sendo
dividido em dois movimentos, uma parte menor da massa de deslocando no sentido
Hospital São Lucas e o restante sendo deslocado no sentido Córrego D'Antas. O
volume mobilizado na simulação seguiu o caminho do canal de fluxo 3, considerado o
maior de todos, praticamente atingindo a rodovia BR -101.

A deposição do material na área começou a partir da base da encosta, aumentando


sua espessura na parte plana da área atingida.

Na simulação foi evidenciado que considerar um modelo reológico único não reproduz
resultados satisfatórios quando comparados com as modelagens onde foram
combinados os modelos, de acordo com o tipo de material observado. A variação do
modelo reológico influencia drasticamente na modelagem do movimento de massa.

Para as simulações consideradas neste trabalho foram feitas modelagens


considerando três possibilidades: somente o modelo de atrito para todos os materiais,
modelo de atrito e Voellmy e unicamente o modelo Voellmy em todos os materiais.
Concluiu-se que as simulações nas quais foi considerada a combinação das duas
reologias apresentam os melhores resultados.

O conjunto de isocurvas apresentadas nas Figuras 4.8 a 4.11 mostram a distribuição


dos valores dos principais parâmetros em cada uma das partículas simuladas. O mapa
de velocidade indica que o valor máximo atingido foi próximo de 15m/s na parte alta da
encosta e decresce em função da deposição do material (Figura 4.8).

O mapa de descarga de pico da Figura 4.9 mostrou valores máximos na zona de


iniciação e na parte final da zona de transporte, com valores predominantes próximos
a 3m³/s e máximos de 11m³/s.

Os resultados da simulação para deposição e erosão de material na área são


apresentados nas Figuras 4.10 e 4.11, respectivamente. Observa-se a concentração
de material na base da encosta com valores máximos de 3,5m. Já o mapa de erosão
indica que a maior profundidade erodida se concentrou a partir da zona de deposição,
apresentando um valor máximo de 1,6m.

116
Figura 4.8 - Mapa velocidade máxima – Córrego D’Antas.

Figura 4.9 - Mapa de descarga de pico – Córrego D’Antas.

117
Figura 4.10 - Mapa de deposição máxima – Córrego D’Antas.

Figura 4.11 - Mapa de erosão – Córrego D’Antas.

118
De maneira geral, pose-se concluir que a simulação do evento Córrego D'Antas
mostrou resultados satisfatórios quando comparados com o observado na área.

A área de deposição obtida nas simulações é de aproximadamente 20.000m², inferior


à área observada no campo e correspondente a 56% do valor real. A área obtida na
simulação inicia-se na base da encosta, conforme esperado. Os resultados
correspondentes à área de deposição e às espessuras de deposição na área
impactada são apresentados na Figura 4.12.

Figura 4.12 - Área de deposição obtida com DAN3D - – Córrego D’Antas.


119
A simulação dos eventos mostrou resultados de área plana de deposições compatíveis
com os valores da área levantada em campo. Obteve-se um valor de 78% do valor
real para o Evento Caleme e 43% para o Evento Córrego D’Antas.

Os valores obtidos de volume total variaram em relação aos valores calculados dentro
da faixa de 31 a 98% e 90 a 246% para os Eventos Caleme e Córrego D’Antas,
respectivamente.

Os resultados obtidos de velocidade do movimento são apresentados nas Figuras 4.2


e 4.8, respectivamente para os eventos Caleme e Córrego D´Antas, e são compatíveis
com os valores calculados a partir das relações empíricas e com a faixa esperada de
valores de eventos similares reportados na literatura. Os valores obtidos encontram-se
entre 59 a 356% dos resultados obtidos pelas equações empíricas para o caso
Caleme e entre 62 a 245% para os valores calculados do Córrego D’Antas.

Valores de descarga de pico obtidos da simulação são decrescentes em função da


deposição do material, conforme esperado neste tipo de movimento. Os resultados
obtidos das relações empíricas encontram-se dentro da faixa reportada pela literatura
para fluxo de detritos. Os valores obtidos pelas simulações com o DAN3D quando
comparados com os valores calculados com as relações variam de 10 a 75% para
ambos os casos simulados.

Os valores obtidos de distância total de deposição do fluxo de detritos por meio da


simulação com o DAN3D mostraram resultados satisfatórios em relação aos
observados em campo. Nas diversas combinações da modelagem, os resultados de
distância de deposição não sofreram grandes variações em relação ao valor
evidenciado nas áreas. Ambos eventos tiveram pouca variação quando comparados
com os valores reais, ficando dentro da faixa de 116% a 185% para o Evento Caleme
e de 101 a 160% para o Evento do Córrego D’Antas.

Os resultados de erosão simulados pelo DAN3D mostraram-se compatíveis com os


observados em campo, sendo uma menor espessura na zona de transporte e maior na
zona de deposição, conforme apresentado nas Figuras 4.4 e 4.11 para os eventos
Caleme e Córrego D´Antas, respectivamente.

120
4.4. COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DE CAMPO, RELAÇÕES
EMPÍRICAS E SIMULAÇÕES NUMÉRICAS

Nesta seção são apresentados e comparados os resultados dos principais parâmetros


de fluxo de detritos obtidos das simulações com DAN3D e das relações empíricas. Os
valores calculados são finalmente comparados com os valores reais observados para
os eventos de fluxo de detritos do Caleme e Córrego D’Antas.

Após as análises com auxílio de relações empíricas e da modelagem numérica com o


DAN3D, foram estimados os principais parâmetros dos casos estudados na Região
Serrana Fluminense.

A Tabela 4.4 apresenta os valores obtidos destas análises e os valores observados


em cada um dos eventos. Ressalta-se que a dificuldade de monitoramento dos
movimentos de massa rápidos e repentinos, como os fluxos de detritos, impossibilita o
registro de alguns parâmetros característicos do fluxo. Entretanto, para os parâmetros
reais do Caleme e Córrego D’Antas, os resultados obtidos da modelagem mostram-se
satisfatórios em relação aos valores calculados e aqueles estimados em função do
observado nas áreas.

Tabela 4-4 – Parâmetros de fluxo de detritos obtidos com DAN3D para Caleme e
Córrego D’Antas.

Casos
Parâmetros simulados com DAN3D
Caleme Córrego D’Antas

Área de Deposição B (m²) ~10.000 35.600


3
Volume total V (m ) 4.000 a 6.000 11.000 a 15.000
Velocidade v (m/s) 11 - 14 12 - 15
Descarga de Pico (m³/s) 2,5 - 20 3 - 12
Distância Percorrida (m) 300 - 500 600 – 1.000
Distância Percorrida de Deposição (m) nd nd
Erosão máxima (m) 0,5 – 2,0 0,5 – 1,0
Força de impacto (kN) nd nd
nd: não disponível

121
Tabela 4-5 - Comparação de parâmetros observados e obtidos com relações
empíricas e simulação numérica com DAN3D.

Caleme Córrego D’Antas


Área de Deposição B (m²)
Relação Empírica DAN3D Relação Empírica DAN3D
Observado 12.800 35.600
(5) (5)
37.386 95.717
(15) (15)
10.248 ~10.000 30.353 ~20.000
(9) (9)
1.798 3.700
3
Volume V (m )
Observado nd nd
(4) (4)
12.843 14,445
(8) (8)
5.247 11,589
(10) (10)
3.762 4.000 - 6.000 4.380 11.000 -15.000
(14) (14)
4.479 4.988
(15) (15)
4.067 11.180
Velocidade(m³/s)

(4) (4)
3,8 11,8
(1) (1)
6,0 17,4
(2) 11 - 14 (2) 12 - 15
12,0 5,3
(8) (8)
20,2 21,0
Vazão de Pico (m³/s)
Observado nd nd
(6) (6)
107,6 199,7
(8) (8)
122,3 89,8
(7) (7)
77,3 2,5 - 20 236,1 3 - 12
(14) (14)
32,6 32,6
(15) (15)
20,1 37,4
Distância Percorrida (m)
Observado 400 790
(8) (8)
720 800
(15) (15)
451 983
(12) 300 - 500 (12) 600 - 1.000
942 1.010
(14) (14)
463 1.277
Distância Percorrida de Deposição (m)
Observado 120 500
(8) (8)
74 92 463
(12) (12)
261 nd 339 339
(11) (11)
323 463 92
Erosão (m)
Observado 1,0 - 2,0 0,5 – 1,00
nd 0,5 - 2,5 nd 0,5 – 1,00
Forças de Impacto (kN)
Observado nd nd
(13) (13)
164 1.700
(12) (12)
296 nd 1.900 nd
(13) (13)
36.000 560.000
(1) SIBNUY, 1966 (2) KHERKHEULIDZE, 1975 (3) TSUBAKI et al, 1981 (4) TAKAHASHI, 1991 (5) IVERSON (1998)
(6) MIZUYAMA, 1999 (7) BOVIS&JAKOB, 1999 (8) RICKENMANN,1999 (9) CROSTA et al., 2001 (10) GRAMANI
2001 (11) LORENTE, 2003 (12) HUNGR, 2005 (13) HUBL,2009 (14) POLANCO, 2010 (15) MOTTA, 2014

122
Considerando a área de deposição dos eventos Caleme e Córrego D’Antas, os valores
obtidos da simulação com o DAN3D e os calculados por meio das relações empíricas
são compatíveis com os valores observados em campo de área de deposição nos dois
casos. Os valores obtidos da simulação mostraram-se satisfatórios em relação aos
valores reais dos eventos. Os valores obtidos da simulação foram iguais a 78% e 43%
dos valores reais do Caleme e Córrego D’Antas, respectivamente. Os valores obtidos
das relações empíricas propostas por MOTTA (2014) foram iguais a 80% e 85% dos
valores reais observados no Caleme e Córrego D’Antas, respectivamente. Importante
ressaltar que as relação proposta por MOTTA (2014) oferece o melhor ajuste dentre
todas as outras relações de estimativa de área de deposição.

Os valores de volume de fluxo de detritos obtidos são representativos do movimento


observado nos eventos da Região Serrana. No caso do evento Caleme, o valor obtido
da modelagem com DAN3D variou na faixa de 31 a 98% do valor calculado pelas
relações empíricas. Já para o evento Córrego D´Antas, o valor obtido pela simulação
variou de 90 a 116% dos valores calculados pelas equações empíricas.

Os valores de velocidades obtidos com as relações empíricas e com a simulação


numérica produzem resultados satisfatórios, na faixa esperada para este tipo de
movimento de massa. Os valores de velocidade calculada (relação) e a velocidade
simulada (DAN3D) variaram na faixa de 60 a 200% para o evento Caleme e 62 a
245% para o evento Córrego D´Antas. Infelizmente, não é possível comparar estes
valores com a velocidade real dos movimentos, uma vez que não foram registradas.
Os resultados de velocidade obtidos com a simulação mostram-se decrescentes em
função da deposição da massa mobilizada, conforme esperado.

A descarga de pico é um parâmetro difícil de ser estimado para os eventos do Caleme


e Córrego D’Antas, visto que são casos de fluxo de detritos em canais abertos. Os
valores obtidos por meio das relações empíricas, apresentados nas Tabelas 4.2 e 4.4,
mostram valores elevados. Já com a simulação, os valores obtidos são satisfatórios
quando comparados com os valores registrados na literatura. As Figuras 4.4 e 4.9
apresentam as faixas de valores obtidas da simulação numérica. Não foi possível
comparar este parâmetro com os valores reais dos eventos. Os valores obtidos para o
Evento Caleme variaram de 6 a 37% do valor calculado pelas relações empíricas.
Para o fluxo de detritos do Córrego D’Antas os resultados obtidos foram de 14 a 75%
dos valores calculadas com as relações. De forma semelhante à velocidade, não é

123
possível comparar os resultados da simulação com os valores reais de campo, uma
vez que não foram registrados.

Os valores de distância total e distância percorrida de deposição calculados com as


relações empíricas e simulação com o programa DAN3D são semelhantes entre si e
com os valores observados nos fluxos de detritos do Caleme e Córrego D’Antas. Esta
constatação é muito importante, pois são parâmetros essenciais para a seleção e
dimensionamento de medidas de mitigação. Para o Evento Caleme, os valores
calculados com as relações variam de 116 a 242% do valor observado, enquanto que
o valor obtido da simulação é 103%. Para o evento Córrego D’Antas, os valores
obtidos das relações variam de 101% a 162% do valor observado e o valor obtido do
Dan3D é igual 127%.

Os valores de erosão máxima determinados pelas relações empíricas e simulações


mostraram-se compatíveis com a erosão observada nos dois eventos, apesar deste
parâmetro ser de difícil estimativa.

Não foi possível comparar os resultados das forças de impacto, uma vez que este
parâmetro não pode ser simulado pelo DAN3D.

No conjunto de histogramas apresentados nas Figuras 4.13 a 4.18 são comparados os


valores obtidos da simulação com o DAN3D com os valores calculados através das
relações empíricas propostas na literatura e os valores reais obtidos no levantamento
de campo. Importante observar que todos os valores simulados pelo DAN3D
coincidem com os valores observados para os dois casos, Caleme e Córrego D´Antas.
Em relação às relações empíricas, observa-se que as relações mais adequadas para a
estimativa de parâmetros, de forma geral, são as propostas por POLANCO (2010) e
MOTTA (2014), ambas obtidas de análises de Banco de dados de eventos nacionais e
internacionais, excluídos os casos estudados nesta dissertação. Nota-se Também que
as relações de RICKENMANN (1999), tão empregadas em diversos casos de literatura
ofereceram resultados muito afastados dos valores reais observados nos dois casos
de estudo. CROSTA et al. (2010) também não mostram bons resultados em relação à
estimativa da distância percorrida. Conclui-se que estas relações, apesar de muito
difundidas no meio geotécnico, devem ser empregadas com muita cautela para fins de
projeto. Os resultados obtidos mostram boa concordância para os parâmetros de
distância percorrida e área de deposição, seguido do volume, velocidade e descarga
de pico.

124
1400 Real

Hungr et al (2005)
1200
Rickenmann
(1999)
Distância Percorrida (m)

1000 Polanco (2010)

800

600

400

200

0
Caleme Córrego D’Antas

Figura 4.13 - Comparação entre valores reais, simulados e estimados por relações
empíricas - Distância percorrida.

600
Real

500
Rickenmann
(1999)
Distância Deposição (m)

400 Lorente (2003)

Crosta et al.
300
(2010)

DAN3D
200

100

0
Caleme Córrego D’Antas

Figura 4.14 - Comparação entre valores reais, simulados e estimados por relações
empíricas - Distância de deposição.

125
100000 Observado

90000 Iverson
(1998)
80000 Crosta et al.
(2010)
Área de Deposição B (m²)

70000 Motta
(2014)
60000 DAN3D

50000

40000

30000

20000

10000

0
Caleme Córrego D’Antas

Figura 4.15 - Comparação entre valores reais, simulados e estimados por relações
empíricas - Área de Deposição.

16000
Takahash
i
14000 (1991)
Rickenma
12000 nn
(1999)
10000
Volume (m³)

Polanco
(2010)
8000

6000

4000

2000

0
Caleme Córrego D’Antas

Figura 4.16 - Comparação entre valores reais, simulados e estimados por relações
empíricas - Volume total.

126
250

200
Descarga de Pico (m³/s)

Mizuyama (1992)
150 Bovis & Jacob (1999)
Rickenmann (1999)
Polanco (2010)
100
Motta (2014)
DAN3D
50

0
Caleme Córrego D’Antas

Figura 4.17 - Comparação entre valores simulados e estimados por relações empíricas
- Descarga de Pico.

120

Sibnuy (1966)
100
Kherkheulidze (1975)
Tsubaki et al (1981)
80
Velocidade (m/s)

Zhang et al (1985)
Rickenmann (1999)
60
DAN3D

40

20

0
Caleme Córrego D’Antas

Figura 4.18 - Comparação entre valores simulados e estimados por relações empíricas
- Velocidade média.

127
4.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os métodos empíricos e analíticos correspondem a metodologias capazes de estimar


os principais parâmetros dos fluxos de detritos.

Os parâmetros considerados para a simulação numérica foram ajustados em função


dos resultados observados nas simulações de casos similares e das análises de
sensibilidade realizadas em diversas simulações dos casos de estudo.

De maneira geral os valores obtidos tanto das relações empíricas quanto das
simulações com o Dan3D são consistentes quando comparados aos valores
observados nos eventos de de fluxos de detritos do caleme e Córrego D’Antas,
podendo ser considerados satisfatórios.

O volume final da massa movimentada é um parâmetro difícil de ser avaliado. Esta


variável depende do conjunto de condições que deverão ser detalhadamente
investigadas, para reproduzir melhores resultados.

Tanto as relações empíricas quanto a simulação numérica com o DAN3D podem ser
considerados métodos adequados para calculo dos principais parâmetros dos fluxos
de detritos. Importante notar que os resultados obtidos por estes métodos são tanto
melhores quanto mais confiáveis forem os valores observados e investigados nas
áreas dos eventos (topografia, tipo de material, dentre outros).

Nas simulações numéricas com o DAN3D foi constatado que alguns parâmetros são
sensíveis ao modelo reológico adotado para os materiais presentes ao longo da
trajetória do fluxo de detritos.

Finalmente, pode-se concluir que os valores obtidos do DAN3D de distância total de


deposição são satisfatórios em relação aos observados em campo, para os dois
eventos, Caleme e Córrego D’Antas.

128
CAPITULO 5. CONCLUSÕES

5.1. CONCLUSÕES

Os fluxos de detritos são conhecidos como os movimentos de massa mais


catastróficos da natureza, em função da rapidez, energia e volume elevados do
movimento. No Brasil e em diversas regiões do mundo os prejuízos provocados por
este movimento têm sido significativos com expressivas perdas econômicas e
fatalidades. Métodos empíricos e analíticos têm sido desenvolvidos, visando estimar
os principais parâmetros de fluxo de detritos, que possam ser usados para
desenvolver medidas de mitigação e convivência em áreas susceptíveis. Neste
âmbito, esta pesquisa procurou contribuir para um maior conhecimento de fluxos de
detritos, através da avaliação de casos históricos com uso de métodos empíricos e
numéricos para estimativa dos principais parâmetros que permitem a avaliação de
medidas de mitigação e convivência.

Os casos de fluxo de detritos do Caleme em Teresópolis e Córrego D’Antas em Nova


Friburgo, ambos na Região Serrana Fluminense foram investigados e analisados com
relações empíricas e simulação numérica com o programa DAN3D. Os resultados
obtidos foram comparados com as características reais dos dois eventos, indicando
valores consistentes.

Desta forma, este capítulo apresenta as principais conclusões indicadas por esta
pesquisa, divididas em conclusões gerais, da modelagem e dos casos de estudo para
facilidade de avaliação.

De maneira geral, pode-se concluir que:

 Os fluxos de detritos são movimentos de massa de difícil previsão e avaliação,


por tratar-se de movimentos rápidos e complexos, induzidos por diversos
fatores, em muitos casos iniciados por deslizamentos simples de rocha ou solo,
que de acordo com as condições geomorfológicas e geológicas da área podem
transformar-se em fluxos de detritos;

 O emprego de métodos empíricos e numéricos para estimativa dos principais


parâmetros de fluxos de detritos é uma ferramenta importante para desenvolver
e implantar medidas de mitigação e convivência em áreas potenciais de risco;

129
 As relações empíricas para avaliação dos casos de fluxos de detritos
estudados neste trabalho que forneceram os melhores resultados são as
formuladas para fluxo granular com presença de água.

Em relação aos métodos de análises, pode-se concluir que:

 Tanto as relações empíricas como a simulação numérica se mostraram


adequadas para a determinação dos parâmetros representativos e mais
importante do movimento tais como distância total percorrida, volume de
material mobilizado, área de deposição, os quais correspondem aos
parâmetros fundamentais para delimitação de áreas de risco e definição de
medidas de mitigação;

 O volume total mobilizado pelo fluxo de detritos é um parâmetro importante,


porém de difícil previsão na área do evento, com resultados muitos variáveis.
Uma avaliação rigorosa da massa total movimentada exige levantamento
detalhado da topografia, além de sondagens e ensaios de campo e laboratório;

 A distância total percorrida e a distância de deposição dos casos estudados


foram determinadas adequadamente pelas relações empíricas de RICKENMAN
(1999), LORENTE (2003), HUNGR (2005) e MOTTA (2014) e pela simulação
numérica com o DAN3D;

Em relação à modelagem com o DAN3D, pode-se concluir que:

 O programa tridimensional de análises de movimento de massa DAN3D foi


selecionado entre vários modelos existentes devido à capacidade de simular
trajetórias de fluxos de detritos considerando a erosão e as características
reológicas distintas dos materiais presentes na área do movimento;

 A modelagem com o DAN3D mostrou alta sensibilidade ao detalhamento da


topografia do terreno, indicando a importância da investigação de área;

 As diversas simulações realizadas para os casos de estudo mostraram que a


combinação de duas ou mais reologias conseguem representar melhor o
movimento. Neste sentido cada caso deve ser avaliado de acordo com os
materiais e as condições em cada uma das zonas do movimento;

 Os parâmetros correspondentes à velocidade e descarga de pico, obtidos por


meio da simulação numérica com o DAN3D, mostram que estas variáveis se
130
reduzem com o aumento da trajetória do movimento e do volume de material
que se deposita, tanto para o Caleme quanto para o Córrego D'Antas;

 A distância total percorrida desenvolvida durante a simulação se mostrou


compatível com a distância observada em campo e a distância calculada com
as relações empíricas utilizadas neste trabalho.

Em relação aos casos, pode-se concluir que:

 Os fluxos de detritos do Caleme e Córrego D’Antas foram iniciados por


deslizamentos na parte alta da encosta, deflagrando um segundo movimento
ao atingirem os depósitos de colúvio e tálus presentes nas bases das encostas,
confirmando que este mecanismo de ruptura é comum em regiões de encostas
íngremes em processo de intemperismo;

 Foi corroborada a proposta de alguns autores em relação às zonas da trajetória


de fluxos de detritos. Durante os eventos foram evidenciadas as três zonas
principais: origem ou iniciação, transporte e erosão e deposição do material.
Foi evidenciado também que os limites destas zonas são associados à
geometria do movimento e ao tipo de material ao longo da trajetória;

 Os ângulos de deposição do movimento para ambos os eventos de fluxos de


detritos avaliados mostraram valores superiores a 15°, corroborando as
observações mais recentes de diversos casos registrados na literatura.

Finalmente, pode-se concluir que os métodos de análises de fluxos de detritos


empregados nesta pesquisa se mostraram satisfatórias para representar os casos de
fluxos de detritos do Caleme e Córrego D’Antas, na Região Serrana Fluminense. É
importante ressaltar que a ausência de um levantamento topográfico prévio ao evento
e de dados precisos sobre as características mecânicas dos materiais envolvidos nos
eventos levam a resultados estimados

5.2. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

O desenvolvimento deste trabalho indicou algumas sugestões para pesquisas futuras,

 Análises paramétricas do programa DAN3D com base de dados de eventos


registrados;

131
 Aplicação dos métodos de análises implementados nesta pesquisa a outros
eventos de fluxos de detritos para verificação da representatividade;

 Monitoramento e registro de fenômenos naturais para simulação real dos casos


e calibração dos modelos para casos brasileiros.

 Avaliação de movimentos de massa com uso de programas de equilíbrio limite,


como RocFall para estimativa de energia associada ao movimento.

 Desenvolvimento de técnicas de estimativa e cálculo de energia total e forças


de impacto de fluxo de detritos para definição e projeto de estruturas de
mitigação e convivência adequadas.

132
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