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CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
NATAL, 2021
HAZIEL PEREIRA LÔBO
NATAL, 2021
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT
NATAL, 2021
AGRADECIMENTOS
Expresso aqui meus agradecimentos à minha família, avós, tios e tias, primos,
irmãos e amigos, por apoiar seguir o caminho da pós-graduação, com a realização
deste mestrado. Em especial a minha mãe por ser uma pessoa sempre presente em
minha vida, incentivando constantemente os meus estudos e cobrando ser um
profissional e, acima de tudo, uma pessoa melhor todos os dias. Agradeço às
conversas também realizadas com meu irmão sobre a realidade da pesquisa científica
no Brasil e os percalços que certamente surgirão ao longo dessa trajetória acadêmica,
que começou desde a minha iniciação científica e projeto de extensão que participei
na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba.
Por fim, presto minha solidariedade também aqueles que perderam familiares
queridos diante da gravidade da pandemia de coronavírus que tomou conta do planeta
Terra. Que sejamos firmes para permanecermos bem e para que em um futuro
próximo possamos reencontrar pessoas amadas novamente na vida cotidiana.
COTIDIANO
Andando por vias e vielas
Vi e percebi
Sorrisos, gritos, o som ensurdecedor do automóvel também
Em cada canto, um cotidiano diferente
No alto do morro o sino bate como quem diz: Aqui tem história!
Na praça ao longe, personagens a tornam viva
O sapateiro, o vendedor de picolé e o de coco
Em cada rosto uma história diferente
O menino magricela vê e desconfia
Sujeito estranho esse que anda sem rumo pela cidade
Mal sabe que na verdade estou a observá-lo
Saramago vai dizer que o que somos não tem nome
Mas eu vou além
Somos o nosso próprio cotidiano.
2 TENDÊNCIAS DA CONTEMPORANEIDADE 20
REFERÊNCIAS 138
APÊNDICE 145
13
1 “A IDEIA se opõe à convenção do tipo e não implica uma determinada linguagem. O reconhecimento
e formulação de ideias arquitetônicas permite a compreensão e análise das arquiteturas
contemporâneas.” (QUIROGA, 2009, p. 02). Existem sete modalidades referentes a Ideia Arquitetônica:
(1) Ideia como sistemas de relações; (2) A capacidade geradora da Ideia; (3) Ideia e ordem hierárquicas;
(4) Ideia, construção e função; (5) Ideia e forma; (6) A maleabilidade da Ideia; (7) Liberdade e
atemporalidade da Ideia.
14
2Essa última revista, PROJETAR, apesar de seu caráter mais científico, foi a exceção, tendo em vista
que possuía em seu material alguns projetos produzidos no Nordeste que foram levados em conta para
o processo de seleção dos edifícios mistos, porque as demais revistas priorizavam em boa parte obras
advindas somente do Sul e Sudeste. Além disso, destina-se pouquíssimo espaço de divulgação textual
produzidos pela PROJETAR nas demais revistas, sendo assim, um meio encontrado de divulgar e pôr
em destaque o que se vem realizando neste periódico.
3Estratégia é designado por Bernard Tschumi como sendo a ação projetual de gerar condições para o
Evento, antes mesmo da realização de estudos acerca da forma e da função de um edifício
(SPERLING, 2008). A aplicação de estratégias permite a diversidade de relações espaciais e é
discutida nesta dissertação nos limites da análise da forma arquitetônica, não referindo-se ao processo
projetual. A Forma compreendida nesse trabalho vai além de aspectos geométricos e morfológicos,
porque conduz à concepção de espaços que possibilitam a experiênciação humana, o movimento
aleatório no Vazio (formas vazadas) dentro das edificações e consequente relação com o entorno
urbano que se torna mais importante que o Cheio (formas cheias).
4 “Os Entre (in-between, entre deux) são concebidos como espaços não programados, eles se situam
entre os espaços com programas definidos, como espaços que estimulam a circulação e a interação
[...].” (SPERLING, 2008, p. 51)
5 Tschumi (1996) considera não haver uma dissociação da arquitetura do Espaço e do Evento. A
concepção espacial por meio das estratégias da forma arquitetônica gera o Espaço e a experienciação
do espaço pelas pessoas produz o Evento. Essa construção do autor é anterior ao próprio debate sobre
as diferentes funções atribuídas a uma edificação. Pensar o Espaço e o Evento na arquitetura
contemporânea é essencial para se debater a espacialização do cotidiano.
15
nacional ou mesmo apontam para uma característica das construções atuais no país;
são exceções, que indicam uma ideia de espacialização cotidiana materializado na
arquitetura comercial, mas que ainda não podem ser interpretados como exemplares
ideias, o que ainda instiga uma permanente reflexão das diferentes maneiras de se
propor projetos que dialoguem mais com a cidade e seu entorno, valorizando os
usuários presentes.
Desse contexto surge a questão: em que medida a espacialização do cotidiano
como vertente da arquitetura se materializa em edifícios de uso misto (comércio e
serviço) no Brasil contemporâneo? A pesquisa tem o objetivo geral de analisar
projetos arquitetônicos de uso misto (comércio e serviço) produzidos na
contemporaneidade (entre os anos 2000 e 2019), no Brasil, que refletem aspectos do
cotidiano6. Para tal, parte-se dos seguintes objetivos específicos:
6 O cotidiano da pesquisa refere-se aos espaços que atendem à função social e cultural da arquitetura,
gerados por meio de estratégias da forma arquitetônica que promovem o Entre, o Espaço e o Evento.
A Função Social objetiva produzir espaços que geram bem-estar, comunicação entre as pessoas,
almejando a qualidade de vida; já a Função Cultural refere-se a fatores estéticos da forma arquitetônica
ligados ao planejamento urbano e diálogo com o entorno.
17
7 As dez características da arquitetura do cotidiano foram elencadas com base na discussão teórica
proposta por Berke (1997) e Hertzberger (2015), com base também nas estratégias da forma
arquitetônica do edifício mistos (uso comercial e de serviço) e, pelos métodos de análise formal
proposto por Baker (1984), Ching (1998), Clark e Pause (1983), Unwin (2003), Leupen (1999) e
Radford; Morkoc; Srivastava (2014). Sendo assim, as características elencadas são: (1) Valorização
visual dos materiais / técnicas empregadas; (2) Arquitetura que não busca como objetivo principal ser
um marco na paisagem; (3) Elementos arquitetônicos que lembram varandas; (4) Desenho de
ambientes (corredores, praças, etc) que contribuem para a permanência e não apenas o fluxo contínuo;
(5) Arquitetura que se aproxima de tendências mercadológicas, mas não necessariamente se aproxima
das mesmas; (6) Arquitetura pensado sob a ótica do usuário, facilitando a percepção das pessoas
(diferenças de nível, aberturas que contribuem com a vista exterior, implementação de projetos
paisagísticos, etc); (7) Atendimento ao programa de necessidades / desprogramação; (8) Tratamento
ofertado ao térreo que se aproxima da calçada, valorizando os transeuntes; (9) Aplicação de materiais
comuns (baratos) usados forma não convencional; (10) Relação do edifício com o entorno.
.
8 A Matriz Metodológica foi construída a partir do agrupamento das dez características da arquitetura
do cotidiano elencadas pelo presente autor, criando três categorias analíticas que possuem duas
subcategorias cada uma.
18
um padrão construtivo, havendo a influência tanto das novas tecnologias, como o uso
da computação, assim como projetos bastante simples, que foram realizados de
acordo com as condições socioeconômicas da região implantada. À medida que é
mostrado esse panorama geral, evidencia-se manifestações do cotidiano também nas
construções, que é o objeto de reflexão da investigação. A fim de respaldar
teoricamente, foram utilizados autores do campo da teoria e crítica arquitetônica
recente, tais como: Sykes (2013), Montaner (2016), Voodt e Wegen (2013), Berke
(1997), Santa Cecília (2018).
A segunda seção é formada por uma discussão mais aprofundada sobre o
cotidiano proposto na pesquisa, os reflexos da morfologia arquitetônica na atualidade,
as principais características - localização, entorno, sistema construtivo, etc; São
utilizados autores como Hertzberger (2015), Gehl (2013), Farina e Barbosa (2009) e
Tschumi (1996) para tratar dessas questões. Além disso, é realizado um debate sobre
autores que abordam métodos de análise gráfica: Baker (1984), Ching (1998), Clark
e Pause (1983), Unwin (2003), Leupen (1999), Radford; Morkoc; Srivastava (2014),
Barredo e Lassance (2011), Beltramin (2015), Lacerda (2019) e Montaner (2017). São
evidenciadas as principais características de cada um, destacando reflexões críticas
sobre modos de se discutir o projeto arquitetônico e possibilitando, com base nas
categorias analíticas, uma aproximação com a arquitetura do cotidiano. É justificada
a escolha dos edifícios mistos (uso comercial e de serviço), uma breve abordagem
histórica com Cabral (1996) e Aleixo (2005), e, por fim, são listadas dez características
da arquitetura do cotidiano com base nas informações e reflexões geradas pela
relação entre: estratégias da forma arquitetônica do edifício misto – conceito teórico
de cotidiano – métodos de análise formal de projetos. Essas características elencadas
devem fundamentar a matriz metodológica desenvolvida na pesquisa.
Na terceira seção são apresentados os métodos e técnicas adotados na
pesquisa, destacando as delimitações e as etapas de coleta de dados. Por fim, é
apresentada a matriz metodológica que guiará as análises das obras selecionadas.
Os principais autores que compõem essa fase do trabalho são: Creswell (2010), Gil
(2008), Marconi e Lakatos (2003).
A quarta seção refere-se aos resultados e, as análises da pesquisa que
contempla, em uma abordagem qualitativa e quantitativa, os dados sistematizados em
categorias analíticas, elaboradas com base na literatura. Conforme mencionado, é
constituída uma matriz metodológica para orientar as análises dos projetos
19
selecionados que poderão gerar, ao final, uma série de dados estatísticos, bem como
reflexões de natureza qualitativa, que revelem características desse conjunto de
edifícios mistos.
A presente pesquisa entre outros propósitos pretende identificar e socializar as
múltiplas possibilidades de se pensar a arquitetura sob o olhar do cotidiano em
edifícios mistos. Ao pensar em obras de cunho comercial, imagina-se grandes arranha
céus, geometrias monumentais que se tornam ícones na paisagem. Entretanto,
existem exemplares nacionais que apontam para uma tendência contemporânea que
vem sendo discutida cada vez mais, a Arquitetura do Cotidiano. Essa pesquisa busca
incentivar arquitetos e estudantes a pensar o espaço construído com base nesse
debate teórico, tornando o usuário protagonista da arquitetura.
Diante da atual situação de pandemia da SARS – CoV 2 (coronavírus) que se
encontra no planeta, infelizmente as relações humanas em ambiente urbano e
construído, encontram-se em constante alerta diante da possibilidade de indivíduos
adoecerem pela doença Covid – 19 e a transmitirem. Espera-se que com as melhorias
no panorama mundial pelos próximos meses diante da possibilidade de vacinação
populacional, as pessoas encontrem no espaço cotidiano uma maneira de sorrir
novamente e aproximar amigos, familiares e colegas de trabalho, antes distanciados
pela pandemia.
20
2 TENDÊNCIAS DA CONTEMPORANEIDADE
9 “Na arquitetura moderna, a ideia de progresso esteve relacionada à modernização das instituições, à
industrialização como motor do desenvolvimento, à construção de uma identidade brasileira que
refletisse um ideário progressista, à economia de meios e modos representada por um design que
pudesse refletir sua utilidade numa estética racionalizada” (PANET, 2013, p.131).
21
11 Fischer e Herr (2001) afirmam que os SGs são conhecidos por 3 características: (1) capacidade de
geração de múltiplas soluções; (2) contribui com uma variedade de soluções, o que aumenta a chance
de encontrar uma melhor solução; (3) SGs podem levar a obtenção de melhores projetos com a
definição mais precisa de um dado problema. (SEDREZ, 2018).
12Estrutura geométrica complexa que pode ser aplicada em várias escalas, sendo acompanhadas pela
parametrização do projeto arquitetônico. (SEDREZ, 2018).
23
13O trabalho de Francis Keré é marcado basicamente pela utilização de mão de obra local e aplicação
de materiais de baixo custo. Ganhou diversos prêmios, dentre eles, em 2017, foi contemplado com o
Prince Claus Laureate Award do referido ano, pela qualidade plástica e sustentável de suas obras.
25
14Em 2016, Aravena ganhou o Prêmio Pritzker por suas obras de habitação social. O 41º laureado da
premiação é também o primeiro arquiteto chileno a receber a honraria.
26
15O termo ordinário refere-se à ideia de comum. Quando se fala que um “material é ordinário”, significa
que não possui grandes custos para sua confecção, sendo considerado convencional, o que difere de
matérias-primas mais caras e de caráter espetaculoso comuns em grandes empreendimentos.
27
locais. Essa preocupação quanto ao contexto é uma pauta que marca a produção do
final do século XX.
Figura 05 - Magney House – Bingie (Austrália).
16É um importante autor que trata da vida cotidiana, a importância do acesso que a população deve ter
ao meio urbano. Publicou diversos livros, tais como: Direito à Cidade (1968), A revolução Urbana (1970)
que são até os dias atuais debatidos nas universidades, gerando pesquisas sobre a sociedade
contemporânea.
30
17O termo “gabarito” é utilizado na construção civil para se referir a altura máxima que uma edificação
possui, desde o pavimento térreo até a cobertura.
31
“tapete” que vai do térreo até a laje por meio de um percurso que valoriza os
transeuntes, permitindo a apropriação do prédio (Figura 07).
Fonte: https://www.grupoepm.com/site/fundacionepm/quehacemos/programas/uva/uvalalibertad,
2020.
Essa visão de Jacobs, fruto de sua vivência em Nova York, e que, por sinal,
gerou a obra Morte e vida das Grandes Cidades, trouxe importantes reflexões sobre
como vinham sendo desenvolvidas as cidades modernistas e, até mesmo, a
construção de edifícios autônomos, sem muita relação com os espaços abertos
presentes no entorno dos centros. É importante ressaltar que em países da América
Latina o contexto socioeconômico e paisagístico difere daquele abordado por Jacobs
e Gelh. São realidades diferentes, mas que bebem de um tema em comum com a
realidade dos países Latinos: a importância do cotidiano na sociedade.
Outros autores também discutem a relação da arquitetura com o cotidiano
como uma tendência. Peñafiel (2001) fala da importância da relação da arquitetura
com as tradições culturais de cada região e com a paisagem local. O autor faz
referência a cidades como Washington e Rio de Janeiro, pelas relações entre
arquitetura e o meio natural / edificado, fazendo paralelamente críticas à maneira
como vem sendo construídas edificações em sua cidade natal, Santiago – Chile.
Penãfiel (2001) faz observações com relação ao tratamento dado às fachadas das
edificações e critica a falta de uma linguagem arquitetônica que, com diferentes
abordagens, seja visualmente harmoniosa e se relacione com a materialidade típica
da região. O cotidiano como uma maneira de estratégia da forma arquitetônica é
relacionado à inserção dos projetos no meio e assim o autor considera que cidades
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como Santiago devem buscar uma linguagem construtiva que se concatene de forma
mais integrada e evidente com a região.
Por fim, todos esses aspectos discutidos até aqui apontam para um potencial
de urbanidade encontrado nas cidades e até mesmo nas edificações como
consequência tanto de políticas urbanas quanto da espacialização do cotidiano nas
edificações.
Poucos conceitos em estudos urbanos aspiram tocar a condição urbano
como o de “urbanidade”. Talvez não por acaso, poucos outros encontram
definições tão difusas ou pouco sistemáticas. Conceitos conhecidos variam
da visão de senso comum da urbanidade como “civilidade do convívio”, ao
foco nas relações objetivas entre configurações do espaço urbano e o uso do
espaço público, e às condições espaciais de uma aparente “vitalidade
urbana”. (NETTO, 2013, p. 234).
preceitos cotidianos.
Todo esse debate, se estudado de uma maneira aprofundada e in loco, aponta
para os efeitos sociais que a arquitetura pode causar em seu entorno imediato. A
urbanidade não é foco de estudo neste trabalho, mas mostra o quanto uma arquitetura
pensada como fruto de seu contexto pode influenciar de maneira decisiva na vida
diária das pessoas de uma região.
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A arquitetura não pode ser outra coisa senão o interesse pela vida cotidiana,
tal como vivida por todas as pessoas; é como vestuário, que não deve apenas
nos vestir, mas ajustar-se bem a nós. E, se é moda hoje em dia preocupar-
se com as aparências exteriores, ainda que habilmente investidas de
referências a coisas superiores, então a arquitetura foi degradada a um tipo
inferior de escultura. O essencial é que, seja lá o que se faça, onde quer que
se organize o espaço e de que maneira, ele terá inevitavelmente certo grau
de influência sobre a situação das pessoas. (HERTZBERGER, 2015, p. 174).
● Função Social: “As edificações criam espaços e lugares nos quais os indivíduos
podem cumprir de modo ótimo as suas atividades. Aqui, os elementos primários
são saúde, bem-estar, comunicações e qualidade de vida” (VOORDT; WEGEN,
2013, p.09).
● Função Cultural: “A edificação também deve atender a exigências ligadas à forma
e ao caráter do ambiente espacial. A função cultural envolve fatores estéticos,
arquitetônicos, ambientais e de planejamento e desenho urbano” (VOORDT;
WEGEN, 2013, p.09).
Outros autores como Hillier e Leaman (1976 apud VOORDT; WEGEN, 2013)
acrescentam também a função simbólica como necessária nessa discussão. A
edificação seria interpretada como fruto de expectativas dos clientes e dos usuários
que usufruem da mesma, além de ideias formuladas pelo próprio projetista. “Isso faz
41
18O Espaço Livre (EL) é compreendido, segundo Magnoli (2006, p. 179) como sendo: “todo espaço
não ocupado por um volume edificado (espaço-solo, espaço-água, espaço-luz ao redor das edificações
a que as pessoas têm acesso).” Sendo assim, os espaços livres compartilhados seriam parcelas de
área de um lote privado ofertadas para o uso público, como fruto de incentivos urbanísticos, ou outra
razão qualquer.
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percepção dos usuários por meio do desenho de ambientes que preveem funções não
tão bem definidas (não funcionalistas), permitindo que as pessoas escolham o uso
dos espaços, de acordo com o que desejarem. Corrobora com a ideia de Santa Cecília
(2018) em relação a discussão sobre desprogramação arquitetônica. Heidegger (2010
apud SANTA CECÍLIA, 2018) considera que todo edifício, independentemente de seu
uso, tem a função de conceber espaços para habitar, pois as construções são feitas
para abrigar o cotidiano do homem.
Desse modo, as edificações devem ser planejadas de maneira a acolher as
ações humanas, sendo o vazio arquitetônico responsável por abrigar os
acontecimentos diários, o que difere da clareza de um programa de necessidades bem
definido. Bruno Zevi (1918 – 2000) considera que o espaço vazio é o “protagonista da
arquitetura”, sendo um aspecto que pode ser encontrado na proposta do arquiteto
Rem Koolhaas, por exemplo, em parceria com o escritório OMA para o concurso da
Biblioteca Nacional da França, em 1989 (Figura 11).
semelhança com o exemplo acima é o Instituto Moreira Salles (IMS) que foi projetado
pelo Andrade Morettin Arquitetos. Na obra, o escritório buscou espaços abertos com
poucas divisões internas que viessem a limitar a circulação de pessoas (Figura 12).
Com uma proposta que visa uma articulação com a malha urbana, a obra cria
um espaço aberto ao público no pavimento superior que se associa por meio de
escadas rolantes com o térreo, possibilitando diferentes sensações e vistas para as
pessoas que desejam conhecê-lo. Segundo Biselli e Lima (2018) a obra foi
desenvolvida a partir da relação com a cidade, e promove chances de serem
realizadas “aventuras existenciais” ao longo do edifício. Para possibilitar esse vazio
arquitetônico na edificação, é preciso garantir condições de habitabilidade também,
como atender às condições climáticas de cada região, possibilitar que os “habitantes”
tenham privacidade e possam se apropriar dos espaços. Essa série de questões
levam a se discutir a importância da desprogramação, já iniciada no começo do
capítulo.
O espaço habitável possui, segundo Santa Cecília (2018), duas categorias: (I)
Barreiras Necessárias (elementos de proteção solar, por exemplo), que são aquelas
divisões internas e externas que possibilitam que os aspectos funcionais, essenciais
de um edifício, sejam respeitados, e (II) Barreiras Contingentes (compartimentos
internos, por exemplo), que são também divisões espaciais que podem ser revistas
dependendo de aspectos culturais de uma determinada sociedade, não sendo
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(II) Teatralidade: relaciona-se com uma expressão estrutural que pode ser flexível,
prevendo eventuais modificações ao longo dos anos, mas também uma estrutura que
tem a função de comunicar os usuários determinadas informações do ponto de vista
técnico da obra e do próprio programa funcional. O uso de cores pode ser um recurso
que auxilia na teatralização de uma obra.
19Trecho traduzido pelo autor de Leupen (1991, p. 102): “Las partes de un edificio que reciben las
cargas del mismo y las trasnmiten a los cimentos.”
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pelo seu edifício, mas o que seu edifício pode fazer pela cidade! Uma resposta óbvia
e imediata poderia ser: térreos atraentes que se projetam bem à frente em relação aos
andares superiores”. Esse trecho indicado por Gehl reflete a importância também do
térreo para a produção de uma arquitetura do cotidiano.
Em virtude da atenção oferecida aos sistemas viários ao longo dos anos, foram
construídos muitos estacionamentos, negligenciando o espaço público e a escala do
pedestre. O Centro George Pompidou tem por característica justamente o desenho de
projeto que considera o seu entorno, criando uma praça que, assim como a Ópera de
Oslo, busca uma maior aproximação com as pessoas (Figura 15).
Embora os grandes edifícios que têm como objetivo ser acessíveis para o
maior número possível de pessoas não fiquem permanentemente abertos e
ainda que os períodos em que estão abertos sejam de fato impostos de cima,
tais edifícios realmente implicam uma expansão fundamental e considerável
do mundo público. (HERTZBERGER, 2015, p. 74).
48
Essa relação entre a forma e o uso pode ser melhor expressada no pavimento
térreo e em elementos arquitetônicos que podem servir para diferentes usos nos
espaços internos da edificação. Por exemplo, o pilar que possui uma base muito larga
e torna-se assento, elementos vazados das fachadas que passam a ser usados como
anteparo e aos poucos vão tornando a forma arquitetônica convidativa para as
pessoas. É uma importante característica da arquitetura contemporânea a concepção
de elementos que não são estáticos em sua função, pois consideram a
imprevisibilidade humana como essencial e necessária para que a obra atenda a uma
produção cotidiana, feita para pessoas.
Não é preciso muito para que as coisas sirvam como uma espécie de
estrutura à qual a vida cotidiana pode ligar-se. O simples corrimão em que as
pessoas idosas podem se apoiar quando sobem ou descem uma rua íngreme
é, para todas as crianças da vizinhança, um desafio para mostrar sua
agilidade. Serve como um brinquedo de playground e no verão é sempre
usado para construir cabanas e esconderijos. (HERTZBERGER, 2015, p.
178).
20Trecho traduzido pelo autor de Tschumi (1996, p. 162): “[...] an extension from the drawn conventions
of chreography, it attempts to eliminate the preconceived meanings given to particular actions in order
to concentrate on their spatial effects: the movement of bodies in space [...].”
50
exemplo do que não se deve propor em uma obra que almeja ser do cotidiano, pois
deveria celebrar o potencial criativo e não convencional de materiais comuns. Seu uso
pode variar a depender do material e do contexto da obra, podendo ser utilizado o
metal, a madeira, o tijolo, o concreto, entre outros.
A beleza do material, de sua textura e cor devem ser levados em conta. A
madeira, por exemplo, tem uma importante função de transmitir sensação de conforto
e repouso, a partir de sua cor marrom e, que pode ser utilizada tanto como sistema
estrutural, quanto em espaços internos. Thomas (2002) considera que as cores
podem transmitir diferentes sensações que condicionam o estado emocional das
pessoas.
É importante ressaltar que Deborah Berke expõe sugestões sobre o cotidiano
na arquitetura, entretanto, a autora deixa em aberto novas possibilidades de
interpretação sobre o tema. Por isso, apesar dos edifícios mistos (uso comercial e de
serviço) serem obras que dialogam com ideais mercadológicos, considera-se que,
quando são concebidos a partir de estratégias da forma arquitetônica para atender a
Função Social e Função Cultural, materializam na arquitetura o Entre, o Espaço, o
Evento e, consequentemente, o Movimento21, gerando a espacialização do cotidiano
dessa pesquisa. Sendo assim, existe uma ideia arquitetônica entorno de projetos
mistos que traduz a materializam do cotidiano que, mesmo situados em diferentes
regiões do Brasil, é possível analisar essas obras se realizadas por meio de uma
metodologia de pesquisa bem definida, com a aplicação de um método analítico que
tenha por intuito ressaltar aspectos cotidianos em empreendimentos mistos.
21 O Movimento aponta para o debate sobre cotidiano, mas não é estudado de maneira mais
aprofundada, porque trata do movimento e ações realizadas pelas pessoas a partir da experienciação
(Evento), o que poderia levar, em caráter de metodologia, a uma análise pós-ocupação, que não é o
objetivo dessa pesquisa.
51
3.2.1 Contexto
Unwin (2003) é descrito por Sousa (2017) como um autor que enfatiza a
arquitetura a partir de uma organização conceitual, com combinações de elementos
que criam a ideia de lugar, atribuindo um significado e com isso, aproximando-se da
fenomenologia. Suas categorias analíticas são produzidas a partir da relação de três
variáveis: (1) Elementos Principais da Arquitetura; (2) Elementos Básicos da
Arquitetura; (3) Elementos Modificadores da Arquitetura. A relação entre essas
variáveis gera 11 tópicos que fazem o leitor enxergar aspectos particulares das obras
selecionadas, desde elementos básicos até uma leitura mais ampla (Apêndice A).
Com a construção desses onze tópicos analíticos, Unwin (2003) propõe sua
base discursiva a associação de texto analítico e a representação gráfica. Na
categoria Aproveitamento de Elementos Preexistentes, é tratado do objeto
54
3.2.2 Tectônica
3.2.4 Programa
22Termo usado para designar uma apropriação enganosa por parte de empresas, corporações,
pessoas e políticos com a finalidade de disseminar ideias e práticas sustentáveis que na realidade não
são aplicadas por parte dessas entidades.
64
(2) Arquitetura que não busca como objetivo principal ser um marco na
paisagem: uma característica da arquitetura do cotidiano é a sua discreta presença
na paisagem urbana. Pode-se associar à construção de uma edificação que possui
poucos andares, distanciando-se ao máximo dos grandes arranha céus, que se
adequam à altura das construções do seu entorno, dentre outros (Figura 26).
67
23 Lange (2017) atribui o termo “Espaço-Varanda” para se referir aos elementos arquitetônicos que
derivam das varandas, sem necessariamente serem uma literalmente. A autora considera que o
“Espaço-Varanda” é um elemento da produção brasileira muito importante e que seu redesenho ao
longo dos anos adaptou-se às demandas da sociedade e ao contexto de cada terreno.
68
24 A aplicação das diferenças de nível enquanto facilitador da percepção humana foi idealizada,
inicialmente, por Adolf Loos (1870-1933). O arquiteto austríaco foi um dos percussores do
Raumplan.Tal expressão pode ser definida como “uma forma de projetar a partir do espaço
tridimensional, pensando de que forma os variados níveis, bem como as diferentes alturas dos
69
ambientes, podem dialogar para criar atmosferas diversas, que não são ensimesmadas, mas sim
interrelacionadas”. (MOREIRA, 2020, p. 01).
70
(10) Relação do edifício com o entorno: a relação do edifício com o entorno pode
ser interpretada a partir de aberturas em diferentes fachadas, que considera as
25 O diálogo do térreo com a calçada pode ser encontrado também por meio de espaços livres
compartilhados, que prevê a oferta de uma pequena parcela da área do lote ao espaço público,
promovendo tratamentos paisagísticos, favorecendo o urbanismo do entorno. O uso também de
fachadas ativas, que corresponde à ocupação da fachada que se encontra alinhada ao passeio público,
aberta aos usuários, tornando o espaço cotidiano do entorno mais dinâmico, contribui com a vida
urbana e maior relação das lojas situadas no térreo com a vida diária dos transeuntes.
71
Segundo o modelo de Crotty citado por Creswell (2010), existem três perguntas
que caracterizam um projeto de pesquisa, a saber: (1) que alegações de
conhecimento são feitas pelo pesquisador? (2) que estratégias de investigação vão
orientar os procedimentos? (3) que métodos de coleta de dados serão usados?
Nas alegações de conhecimento os pesquisadores se deparam com o
paradigma, tendo em vista que vão aprendendo aos poucos sobre o objeto de estudo
(LINCON; GUBA, 2000; MERTENS, 1998 apud CRESWELL, 2010). Em seguida, são
formuladas estratégias de investigação que direcionam de forma mais específica os
procedimentos da pesquisa, para então partir para uma discussão mais específica e
que toma um determinado caminho, onde é escolhido o (s) método (s) que melhor
responde aos objetivos do trabalho.
Esta pesquisa adota estratégias metodológicas mistas, de natureza qualitativa
e quantitativa. São feitas alegações teóricas ao longo de toda a dissertação, a fim de
desenvolver a redação acerca do cotidiano na arquitetura contemporânea. São
expostos, ao final, projetos de edifícios mistos selecionados. Também são
considerados resultados quantitativos sobre a caracterização dos empreendimentos
mistos (uso comercial e de serviço), que compõem o universo de estudo para destacar
semelhanças e diferenças entre os mesmos.
Dessa maneira, é feito um levantamento estatístico da localização geográfica
das obras e suas características formais que auxiliam na reflexão e debate sobre a
produção contemporânea nacional. Dentro desses parâmetros estatísticos é
importante refletir também sobre as regiões do Brasil mais contempladas nas revistas
que compõem as fontes de dados, a fim de compreender a razão de alguns estados
possuírem mais obras do que outros.
Considera-se também que a discussão proposta partiu de uma pesquisa
exploratória, sugerindo uma visão mais geral sobre um dado objeto, visto que o tema
ainda é pouco desenvolvido e, por essa razão deve ser tratado com mais cautela.
(GIL, 2008).
74
Essa visão mais geral se deve ao fato de ser importante ressaltar, inicialmente,
o panorama da arquitetura contemporânea no mundo, tendo em vista os avanços
quanto ao uso de novas tecnologias que auxiliam na construção civil, o debate sobre
a sustentabilidade, a notabilidade de uma arquitetura voltada para as pessoas e
pensada para um determinado contexto. Esses argumentos fundamentam uma
discussão sobre aspectos formais da arquitetura do cotidiano. Sob esse olhar,
pretende-se partir de um panorama geral até detalhes mais específicos que
respondem aos objetivos do trabalho.
Partindo de uma leitura mais abrangente e teórica, de caráter exploratório, é
desenvolvida uma pesquisa com teor mais descritivo, cuja finalidade é atender aos
objetivos gerais e específicos da investigação. Desse modo, são propostas
descrições/caracterizações que visam estabelecer uma relação entre as variáveis,
estratégias da forma arquitetônica e cotidiano.
26 A Matriz Metodológica foi construída a partir do agrupamento dos dez pontos listados no capítulo
anterior: 1. Valorização visual dos materiais /técnicas empregadas; 2. Arquitetura que não busca como
objetivo principal ser um marco na paisagem; 3. Elementos arquitetônicos que lembram varandas; 4.
Desenho de ambientes – corredores, praças, etc – que contribuem para a permanência e não apenas
o fluxo contínuo; 5. Arquitetura que se aproxima de tendências mercadológicas, mas não
necessariamente se utiliza das mesmas; 6. Arquitetura pensada sob a ótica do usuário, facilitando a
percepção do espaço pelos usuários [...]; 7. Atendimento ao programa de necessidades /
desprogramação; 8. Tratamento ofertado ao térreo que se aproxima da calçada, valorizando os
transeuntes; 9. Aplicação de materiais comuns – baratos – usados de forma não convencional; 10.
Relação do edifício com o entorno.
77
Nesse sentido, foi elaborada uma tabela que destaca como se dará a análise
qualitativa conjugada por meio de diagramas que permitirão, ao final, a construção de
levantamentos de dados quantitativos gerais de aspectos formais das edificações
(Quadro 01).
Quadro 01 - Matriz Metodológica.
Com isso, foram estabelecidas três categorias de análise que refletem aspectos
da arquitetura do cotidiano de forma sintética que deverão ser observados nas
edificações:
78
(2.1) Relação térreo-calçada27: essa relação foi destacada de forma exclusiva, tendo
em vista que um dos grandes desafios da produção contemporânea é estabelecer
uma linguagem espacial que leve a uma interação entre o pavimento térreo e a
calçada, gerando uma valorização do espaço público, contribuindo com a formação
de espaços de permanência que possibilitam as diferentes apropriações dos usuários.
27Apesar da subcategoria térreo-calçada ser enquadrada como uma maneira de se analisar um projeto
e sua relação com cidade, foi considerado essencial ser estudada de maneira mais detalhada
separadamente da subcategoria inserção no contexto urbanístico.
28A subcategoria varandas reflete um elemento arquitetônico bastante específico de uma obra. Sua
análise mais detalhada em uma subcategoria própria foi escolhida por tratar de um espaço destinado
à contemplação da paisagem, dialogando com os preceitos formulados por Jane Jacobs.
79
29 Ao utilizar a palavra “pessoa” como título da sexta categoria analítica, busca-se como referência o
método de análise formal desenvolvido por Radford; Morkoc; Srivastava (2014). Os autores possuem
a categoria People como uma maneira de incluir o potencial de percepção das pessoas na análise dos
edifícios, apesar de não considerar o uso de entrevistas como recurso metodológico. Radford, Morkoc
e Srivastava (2014, p. 12) fazem os seguintes questionamentos: “People: How do people approach,
enter and move through the building? How do they experience the bulding form, its spaces and its
symbolism? How does the building function? How does it respond to the ergonomics of human
activities? How does it respond to children, the elderly and people with impaired mobility, vision or
hearing? How does it respond to the particular regional culture? How does it respond to local and
international architectural culture?”
Os autores questionam-se na categoria People como as pessoas se relacionam com a obra, pensado
em questões ergonômicas, locais e culturais dos potenciais usuários dentro da edificação.
80
ETAPA 01: A primeira etapa corresponde à seleção com base no volume de material
disponível nas revistas, foram necessários atender aos seguintes critérios:
30Alguns edifícios mistos nas revistas especializadas eram definidos de formas diferentes, ora um
correspondia a um empreendimento institucional, ora exclusivamente comercial, ora de uso
empresarial. Tais “confusões” na nomenclatura e enquadramento do que se considera por “edifício
misto (uso comercial e de serviço)” foi uma dificuldade encontrada, pois exige do pesquisador uma
análise mais minuciosa do programa de necessidades, para verificar se as obras selecionadas se
enquadram ou não no universo de estudo.
31A revista possuía exemplares que não foram possíveis de acessar, pois eram destinados somente
aos assinantes, mas que corresponderam a menor parte dos exemplares selecionados.
ETAPA 02: Em uma segunda etapa, foi necessário avaliar novamente os projetos
selecionados a fim de compreender de forma mais detalhada se possuíam, de fato,
material técnico viável para análise e se o uso misto da edificação correspondia
majoritariamente à ambientes de lojas33 e salas de escritório34 exclusivamente, tendo
em vista que algumas das obras obtidas na primeira etapa possuíam o uso residencial,
com a presença de apartamentos e, outras obras eram mais próximas de um
empreendimento corporativo, o que poderia inviabilizar a análise. Sendo assim, após
a segunda avaliação, foram adquiridos 33 projetos, onde a maioria deles provém da
região Sudeste.35
ETAPA 03: Por fim, esses projetos selecionados passaram por uma terceira avaliação
baseada na aproximação que possivelmente teriam com características da arquitetura
do cotidiano, sendo assim, buscou-se aproximar os projetos selecionados na Etapa
02 com as dez características da arquitetura do cotidiano mencionados no capítulo
anterior para atender de maneira positiva a pelo menos cinco das dez características
da arquitetura do cotidiano.
33 Compreende-se o termo “loja” como sendo referente às butiques, cafés, restaurantes, galerias de
arte, salas comerciais destinadas à entrega de um produto. Segundo o artigo 3º, inciso 1º da Lei nº
8.078/ 1990 “Produto é qualquer bem móvel ou imóvel, material ou imaterial”.
34Compreende-se como salas de escritório: ambientes destinados a oferecer serviços diversos, e não
um produto. Segundo o artigo 3º, inciso 2º da Lei nº 8.078/ 1990 “Serviço é qualquer atividade fornecida
no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”. É importante destacar
que o serviço oferecido não deve levar o nome de uma empresa exclusiva, pois pode-se configurar
como um empreendimento corporativo e não de uso misto como está sendo destacado na pesquisa.
35 O que faz refletir sobre as razões que poderiam levar a ter uma disparidade tão grande em relação
a outras localidades do Brasil. Será que as regiões Sul, Nordeste, Centro – Oeste e Norte não possuem
o hábito de divulgar em revistas especializadas de arquitetura as obras produzidas em suas respectivas
localidades? Será que são os periódicos que não empregam em seus conteúdos produções derivadas
de outros lugares? A hipótese formulada para esse questionamento considera que em razão do corpo
editorial dessas revistas se encontrar no Sudeste, com exceção da PROJETAR, é oferecido maior
visibilidade para projetos situados nessas imediações.
82
edifícios, o que aponta a necessidade de aprofundar ainda mais o tema aqui abordado.
A fase de levantamento de dados foi realizada após a definição do tema do
trabalho. No entanto, ao longo da pesquisa foi necessário fazer atualizações quanto a
essa coleta, visto que é uma atividade essencial para o aprofundamento do assunto.
Colher essas informações faz parte do debate teórico proposto e da seleção dos
edifícios mistos explorados, havendo uma necessidade constante de revisão para que
a pesquisa chegue ao final com qualidade.
4.7.1 Amostra
Após a seleção dos projetos, serão feitas análises e interpretações dos dados.
Segundo Creswell (2010), a fase qualitativa da pesquisa considera o uso de textos e
36 Foram utilizados os programas AutoCAD, SketchUp, Adobe Photoshop e Adobe Illustrator como
ferramentas para a produção dos estudos técnicos e diagramáticos dos exemplares selecionados no
resultado final da pesquisa.
88
Para a seleção final dos projetos que atendem ao debate sobre o cotidiano
proposto por esta pesquisa (materialização de espaços que atendam a função social
e cultural da arquitetura, gerados por meio de estratégias da forma arquitetônica que
promovam o Entre, o Espaço e o Evento), foi necessário que o levantamento realizado
nos periódicos técnicos passasse por três fases. Na primeira etapa, empreendeu-se
um levantamento de maneira geral, considerando o volume de projetos que abordam
o uso misto, o que correspondeu a um total de 73 exemplares (Figura 40).
A maioria dos projetos são provindos das regiões Sudeste e Sul do país, com
53 e 10 projetos, respectivamente. No entanto, um volume considerável desses
modelos foi descartado, tendo em vista o não atendimento às expectativas da
pesquisa, que considerava, exclusivamente, a presença de atividades comerciais
(lojas) e atividades de prestação de serviços (escritórios) para análises. Percebe-se,
já nesse primeiro levantamento, que o Norte é a região menos privilegiada pelas
revistas.
Em uma segunda etapa (Tabela 01), foram averiguados mais à fundo o material
coletado na etapa anterior, sendo necessário ser realizado estudos em cima do
material técnico disponibilizado, para compreender os reais usos atribuídos a essas
obras. Com esse período intermediário de seleção e exclusão de projetos, foram
obtidos ao final 33 exemplares. Com uma diferença brusca em relação aos dados
anteriores, o Sudeste permanece como a região mais contemplada nesta pesquisa.
Atender aos pontos listados pode dar pistas da relação entre as estratégias da
forma arquitetônica e do edifício misto (uso comercial e de serviço) com o cotidiano
93
nos últimos anos. A maior parte dos projetos foram produzidos a partir de 2010, essa
parcela correspondendo a 75% dos projetos (12 projetos). Os outros 25% (4 projetos)
foram concebidos entre os anos 2000 e 2019.
Os exemplares Hermes 880, que foram projetados pelo escritório Felipe
Bezerra Arquitetura, e o Centro Comercial Avenida (não construído), planejado por
Henrique Ramos, estão entre os selecionados e são responsáveis por trazer
importantes contribuições para o debate sobre o cotidiano em empreendimentos de
caráter comercial e de serviço (misto). No Sul do país, verificou-se que o Eudoro
Berlink 865, planejado pelo OSPA Arquitetura, situado em Porto Alegre, atende às
características da arquitetura do cotidiano dispostas na pesquisa, possuindo
estratégias da forma arquitetônica que promovem o Evento através da presença de
um térreo que se aproxima da calçada, o que proporciona uma geometria não
monumental à paisagem da cidade gaúcha.
A cidade de São Paulo foi a mais contemplada com projetos que ilustram os
objetivos desta pesquisa. Como já esperado, a capital paulista possui numerosos
projetos arquitetônicos situados nos periódicos técnicos, o que proporciona, inclusive,
uma reflexão crítica acerca da hipervalorização de um único estado do Brasil. Todavia,
possuindo inúmeros exemplares comerciais, seria quase impossível não haver
também o maior número de propostas edificadas. Alguns escritórios aparecem com
grande frequência nas etapas de seleção das obras. Os nomes mais regulares foram:
Triptyque, Andrade Morettin, Nitsche Arquitetos e Aflalo Gasperini. Esse último não foi
considerado nos resultados finais, visto que possuía exemplares bastante
monumentais, ampliando a discussão para futuras pesquisas.
Na amostra coletada, alguns projetos, tais como o Edifício Pop +, o Módulo
Bruxelas e o Ed. João Moura, encontram-se na Vila Madalena (SP), bairro boêmio
com uma grande quantidade de cafés, restaurantes e murais coloridos que exaltam a
vida urbana dentro dessa realidade. Contudo, é curioso pensar que haviam poucos
projetos comerciais exemplificados nas revistas que fossem situados em outros
bairros da capital. A hipótese levantada considera que bairros mais centrais,
formulados por escritórios mais conhecidos e populares por ganharem premiações em
arquitetura, são mais privilegiados pelos periódicos técnicos.
Dentro do universo dos edifícios mistos produzidos no Brasil, é possível extrair
algumas observações importantes. Dentre os projetos analisados, o uso do concreto
armado enquanto sistema estrutural é unânime, apesar da estrutura em aço ter sido
94
também empregada, mas em menor escala. Segundo Rebello (2007, p. 22): “As
estruturas metálicas, no nosso país, ainda apresentam um custo inicial mais elevado
se comparadas com estruturas de concreto armado”.
A seleção realizada nas revistas especializadas e a aproximação dos projetos
arquitetônicos comerciais com a espacialização do cotidiano possibilitou verificar que
a Característica 9, aplicação de materiais comuns usados de forma não convencional,
foi uma das menos encontradas nos exemplares analisados. Entretanto, tiveram
casos como o do Edifício Box 298, situado em São Paulo, que se utilizou de telha
metálica galvanizada pintada, o que corresponde a um material ordinário, inclusive,
ressaltado pelo próprio escritório, mas que foi usada para compor as fachadas e
respondeu bem a característica evocada (Quadro 02).
37No critério referente à localização geográfica, buscou-se dar maior prioridade ao Sudeste, por
possuir mais obras (dez projetos), no universo de 16; seguido do Nordeste (três projetos), Sul (2
projetos) e Norte (1 projeto).
97
O projeto da Rua Harmonia localiza-se num bairro paulista com grande fluxo
artístico e permeabilidade da criação, onde galerias e muros se confundem,
funcionando como palco para novas formas de expressão. O beco em frente
ao prédio – por exemplo – é coberto por pinturas e grafites. Esse conceito de
experimentação extravasa da rua para dentro da obra. (TRIPTYQUE
ARCHITECTURE, 2011, p.02).
100
Harmonia 5738 é formado por dois blocos que são interligados por uma
passarela metálica. A fachada é composta por sistemas de captação de água e
irrigação recobertas por vegetação que condiciona a obra a um ecossistema próprio.
Tal maneira de concepção revela um modo de inserção na paisagem, pois inclui o
edifício em meio a grande densidade de árvores e de pequenas construções.
Assim como o exemplar anterior, o edifício Corujas39 também se encontra em
São Paulo, na Vila Madalena, na rua Natingui. Projetado pelo escritório FGMF, em
2014, o mesmo é circundado por construções de pequeno e médio porte, com usos
residenciais e culturais. Possui três pavimentos, com amplos espaços avarandados
que possibilitam diferentes vistas da cidade (Figura 43).
A maioria dos oito projetos possui o concreto como sistema estrutural principal.
Em alguns casos foram verificados a aplicação de sistemas mistos que preveem a
estrutura metálica também. O edifício Corujas, por exemplo, se utiliza de concreto pré-
moldado (Figura 44), que é produzido no local da obra em um molde, havendo uma
fiscalização menos rigorosa quanto a qualidade da peça, diferentemente do pré-
fabricado, que é feito em uma fábrica com um controle de qualidade mais rigoroso. As
vantagens do pré-moldado que foram levadas em conta para a proposta do Corujas
se dão pela rapidez de execução da obra, o que difere também do concreto in loco,
que é a maneira mais convencional de construção no Brasil.
102
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/787289/edificio-corujas-fgmf-arquitetos?ad_medium=gallery,
2021.
térreo atendendo aos espaços de lojas que são independentes do corpo do edifício
proposto, que é conformado por sistema viga x pilar de concreto. A estrutura metálica
adotada nesse projeto é viável quando se trata de ambientes de vendas de produtos,
por haver uma velocidade de montagem que permite que a atividade comercial inicie
rapidamente, atendendo ao público alvo que almeja alcançar (Figura 45).
Figura 45 - Sistemas estruturais empregados nos projetos.
Fonte: https://www.elementararquitetura.com/projeto.php/galeria-novo-jardim?p=galeria-novo-
jardim, 2021.
104
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/623136/edificio-box-298-slash-andrade-morettin-arquitetos-
associados, 2020.
43Henrique Sérgio Macedo Ramos é arquiteto, com mestrado pelo Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, Projeto e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPAPMA
UFRN).
109
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/885213/adelaide-previdi-corporate-tagir-fattori-arquitetura-plus-
sta, 2021.
inúmeros benefícios para as pessoas, sendo uma maneira do edifício contribuir para
uma cidade mais segura e atrativa.
5.2.2.2 Varandas
Fonte:https://www.archdaily.com.br/br/787289/edificio-corujas-fgmf-
arquitetos?ad_medium=gallery, 2021.
Figura 59 - Programa arquitetônico básico dos projetos.Figura 60 - Elementos de varanda nos projetos.
paisagem com um edifício de forte impacto estético, que chame atenção para suas
lojas e salas, mas sem alta sofisticação devido ao caráter popular do entorno”.
Fonte¹: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/elementar-arquitetura_/galeria-comercial-
novo-jardim/1782, 2021. Fonte²: Produzido pelo próprio autor, 2021.
que é composto por três pavimentos, possui uma forma horizontal no lote,
conseguindo expressar bem a relevância de se criar aberturas que possibilitem
diferentes experiências visuais. Essa possibilidade de criação de varandas foi
viabilizada pela racionalidade construtiva empregada, gerando uma malha retangular
que cria vazios que deixam à cargo das pessoas um novo olhar sobre o entorno.
prestação de serviços que são conectadas por uma escada metálica que interliga o
piso térreo ao superior.
47
O edifício Une atendeu a 7 características da arquitetura do cotidiano.
123
Figura 65 - Diferentes vistas que ensejam contribuir com a percepção dos usuários.
Fonte¹: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/guimattos_/edificio-comercial-une/3566,
2020. Fonte²: Produzido pelo próprio autor, 2021.
124
características da arquitetura do cotidiano, o que mostra que esse debate não deve
ser interpretado como uma regra absoluta para todos os edifícios, sendo necessário
estudar caso a caso para compreender seu impacto visual no entorno. As propostas
possuem elementos arquitetônicos que dialogam com o meio externo, como as
próprias varandas, o paisagismo e o programa arquitetônico concebido que valoriza o
pavimento térreo e a calçada, o que pode tornar a ideia de “marco” como benéfico, se
observado outros elementos importantes da arquitetura do cotidiano.
A estrutura e a materialidade também influenciam no cotidiano. Não fica ainda
muito claro o quanto a estrutura contribui com a percepção e consequente apreensão
das pessoas, mas fica evidente que os materiais aplicados e previstos em obra, por
meio da luz e da textura podem chamar a atenção de transeuntes de dentro e de fora
do prédio. A estrutura aparente é um recurso utilizado que, além de contribuir com a
eficácia da construção, pode também ganhar uma dimensão plástica, que enfatiza o
saber-fazer.
Ao longo do levantamento e reflexão sobre os métodos de análise formal de
projetos, percebeu-se que os autores tratam desse tema, retratando o sistema
estrutural empregado e os materiais mais comuns de um dado objeto arquitetônico.
Essa maneira de enxergar esse tema foi empregada nos resultados dessa pesquisa
para retratar as técnicas mais evidentes (aspectos tectônicos).
O concreto armado foi o mais encontrado e isso retrata o quanto o Brasil é
influenciado, desde o início do século XX, por esse sistema portante. Apesar disso,
também houve casos com sistema misto (concreto e metal) nas soluções de projeto,
como o edifício Corujas. Curioso pensar que a madeira não foi empregada em nenhum
dos oito projetos, sendo atualmente utilizada em obras de médio a grande porte, tais
como The Tree, situado na Noruega que, com 14 andares, é considerado o prédio
mais alto em madeira no mundo e o T3 Minneapolis, planejado pelo escritório Michael
Green Architecture, em 2016, sendo uma proposta edílica de escritório com usos
semelhantes com os encontrados nos resultados finais desta pesquisa.
Neste país de medidas continentais com grandes áreas de floresta, cabe refletir
sobre a sua pouca prestabilidade na realidade contemporânea nacional, tendo em
vista que a questão mais importante é a maneira como esse material é aplicado, visto
que sua exploração de forma consciente e derivada de áreas de reflorestamento é um
ponto positivo ecologicamente, pois é renovável (REBELLO, 2007).
126
repletos de janelas de vidro que parecem se fechar para o meio externo. Além dessa
série de funções, garantir fachadas com desenhos diversificados promovem um
caráter dinâmico e plástico na volumetria.
A arquitetura contemporânea, movida por seu contexto, não possui como
finalidade principal o aspecto formal nos moldes pensados do ideário moderno, mas
sim, é formulada a partir de desejos de responder às condições do entorno imediato,
sendo o desenho de vazios que remete às varandas uma maneira específica de se
garantir diversidade plástica e funcional ao edifício, seguindo diretrizes teóricas
propostas por autores como Gehl (2013) e Jacobs (2009). Entretanto, é importante
ser justo ao considerar que a diversidade de ideias de varandas foi resgatada pelo
modernismo, a partir do ideário corbusiano48 das “janelas em fita” que, assim como as
varandas, contribuem com a aproximação do interior para o exterior, influenciando as
propostas contemporâneas também, segundo Lange (2017).
O programa arquitetônico, como referenciado por Santa Cecília (2018) a partir
do termo desprogramação, gera o Evento. Prever os diferentes usos de um edifício e
as eventuais mudanças que podem ser ocasionadas por mudanças propostas pelo
proprietário do empreendimento ou mesmo alterações de configuração de espaços é
uma característica que aponta para o cotidiano. O exemplar utilizado, Container Mall,
traduz bem essas eventuais ocasiões, tendo o arquiteto responsável pensado no
emprego de containers para ampliações ou reduções de usos. Pensar nessas
variações do espaço dialoga com o sistema estrutural proposto e também com a
previsão de barreiras contingentes (divisões internas) que podem ser desenvolvidas
no projeto a partir de painéis de metal/madeira móveis, alvenaria convencional, dentre
outros.
Nesse quesito, cabe aos profissionais envolvidos desenvolver estratégias
formais que considerem essas mudanças ao longo dos anos, assim como a
compreensão dos desejos do cliente, ou seja, a função simbólica da arquitetura, que
traduz as expectativas das pessoas envolvidas diretamente ou indiretamente na
proposta construtiva.
Por fim, a facilitação da percepção do usuário é caracterizada pelas diferenças
de nível e pelo projeto paisagístico previsto. Considerar o mezanino, as rampas, os
6 UM CAMINHO DE POSSIBILIDADES
adotado busca unir o debate teórico / conceitual de cotidiano com a análise de projeto
arquitetônico, sendo uma maneira utilizada para selecionar as obras que melhor
respondem ao cotidiano analisado na pesquisa.
A seleção de edifícios mistos foi realizada em periódicos técnicos
especializados de arquitetura (PROJETOdesign, Galeria da Arquitetura, ArchDaily,
AU e PROJETAR), entre os anos 2000 e 2019, que propiciou um sucinto panorama
nacional, dentro das limitações das publicações das revistas selecionadas. O
empenho em pesquisar nesses periódicos se deu, resumidamente, pela facilidade de
acesso às publicações, pela constatação de um volume de material passível de
viabilizar a pesquisa. Entretanto, ainda algumas dificuldades foram encontradas ao
longo da seleção das obras pela falta de material técnico adequado e pela dificuldade
de compreensão do programa arquitetônico existente.
A construção da matriz metodológica, que direcionou a base analítica, também
passou por uma série de filtros. A correlação entre os métodos de análise de projetos
com o cotidiano foi um desafio de leitura e reflexão que associou os autores que lidam
com a análise de projetos (Baker, 1984; Ching, 1998; Clark e Pause, 1983; Unwin,
2003; Leupen, 1999; e, Radford; Morkoç; Srivastava, 2014) e a interpretação do
pesquisador sobre aspectos cotidianos da arquitetura informados por Berke (1997,
2013) e Hertzberger (2015), a fim de conduzir um olhar próprio para a pesquisa. A
inserção das estratégias da forma arquitetônica do edifício misto dentro da construção
da matriz possibilitou, também, ao final, uma maior clareza sobre quais elementos
arquitetônicos deveriam ser observados nesses projetos.
A matriz metodológica final é composta por três macro categorias, possuindo
duas subcategorias cada: (1) Aspectos Gerais da Forma: (1.1) Inserção no Contexto
urbanístico e (1.2) Estrutura e Materialidade; (2) Aspectos Específicos da Forma: (2.1)
Relação térreo-calçada e (2.2) Varandas; e (3) Aspectos Estratégicos de Projeto na
Forma: (3.1) Programa Arquitetônico; (3.2) Facilitação da percepção do espaço pela
pessoa.
Foram percebidas dificuldades quanto à subcategoria Estrutura e
Materialidade, porque trata dos materiais aplicados nas obras, sendo o ordinário
pouco encontrado nos exemplares. A subcategoria Relação Térreo-Calçada também
gerou dissensão devido à dificuldade em informar, de uma maneira mais precisa, o
fluxo no térreo. Contudo, tendo em vista que foi previsto estudos em cima de desenhos
técnicos, fotografias e textos informativos nas revistas, conclui-se que foi adequada a
135
cada vez mais esses temas frente à arquitetura produzida nos últimos anos e as
recentes produções bibliográficas aqui ressaltadas e que conduzem novos olhares
para a contemporaneidade.
138
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