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MIRANTE FERRO VELHO: A RESSIGNIFICAÇÃO DO LIXO NO MORRO DA FORMIGA (RJ)

JUNKYARD OBSERVATION DECK: THE RESIGNIFICATION OF WASTE IN MORRO DA FORMIGA (RJ)

PLATAFORMA DE OBSERVACIÓN CHARRATERÍA: LA RESIGNIFICACIÓN DEL DESECHO EN MORRO DA FORMIGA (RJ)

EIXO TEMÁTICO: PROJETO, POLÍTICAS E PRÁTICAS

ANEFALOS DE OLIVEIRA, Yasmin


Arquiteta e Urbanista; Mestranda em Urbanismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(PROURB-UFRJ)
yasmin.anefalos@gmail.com

DELFINO, Rodrigo
Titulação; afiliação
email

RANGEL DE CASTRO SOARES, Ana Lídia


Arquiteta Paisagista; Mestranda em Urbanismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(PROURB-UFRJ)
alidiarcsoares@gmail.com
RESUMO

A partir dessa página, não inclua nenhuma informação que indique a autoria do texto. O objetivo deste documento é apresentar as diretrizes e
orientações sobre como preparar seu artigo para o VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e P ós-graduação em Arquitetura e Urbanismo
– VI ENANPARQ. Este texto/modelo está formatado de acordo com as diretrizes nele indicadas, que são uma das exigências para aceitação do
trabalho. Você deverá seguir estas diretrizes a fim de que seu artigo possa ser aceito e publicado nos Anais do evento. Os artigos aceitos serão
reproduzidos exatamente como enviados pelos autores, portanto a revisão ortográfica e gramatical dos mesmos é da responsabilidade dos seus
proponentes. Se um artigo não estiver de acordo com as diretrizes, ele será recusado. Caso essas diretrizes não estejam suficientemente claras,
não hesite em nos contatar: contato@enanparq2020.com.br
PALAVRAS-CHAVE: diretrizes. submissão. artigo. modelo. arquitetura. (separadas por ponto e espaço)

ABSTRACT

From this page on, do not include any indication of authorship of the manuscript. he purpose of this document is to present the guidelines and
orientation on how you should prepare your paper for submission to the VI Symposium of the Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação
em Arquitetura e Urbanismo - VI ENANPARQ. This paper is formatted accordingly to these guidelines – these are an exigency to the acceptation of
the article. You must follow these directions in order to have your paper considered for publication in the Proceedings of event. The articles
accepted will be reproduced exactly as submitted by the authors; therefore, proofreading is the authors’ responsibility. If your paper is not
submitted according to the guidelines, it will not be considered. If any of the guidelines presented here is not sufficiently clear, do not hesitate to
contact us: contato@enanparq2020.com.br
KEYWORDS: guidelines. submission. paper. model. architecture.

RESUMEN

A partir de esta página, no inclua ninguna informacion que indique la autoria del texto. El propósito de este documento es presentar las diretrizes e
orientaciones sobre cómo debe preparar su artículo para su a la VI Simposio de la Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em
Arquitetura e Urbanismo - V ENANPARQ. Este documento tiene el formato de acuerdo a estas directrices - son una exigencia de la aceptación del
artículo. Debe seguir estas instrucciones con el fin de que su trabajo se consideraron para su publicación en las Actas de evento. Los artículos
aceptados serán reproducidos exactamente como expuestos por los autores, por lo tanto, la corrección ortográfica y gramatical es responsabilidad
de los autores. Si el artículo no se presenta de acuerdo con las directrices no serán consideradas. Si alguna de las pautas que aquí se presenta no es
suficientemente clara, no dude en ponerse en contacto con nosotros: contato@enanparq2020.com.br
PALABRAS-CLAVE: directrices. sumisión. artículo. modelo. arquitectura.

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


INTRODUÇÃO

A urbanização de favelas na cidade do Rio de Janeiro tem recebido grande atenção de políticas públicas nas últimas duas décadas,
em busca de maior integração social e espacial entre as áreas informais e formais da cidade. À exemplo disso, uma sucessão de
ações foram implementadas tanto por parte do Governo Estadual quanto da Prefeitura Municipal, como o Programa Favela-Bairro,
na década de 90, e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Morar Carioca, a partir dos anos 2000 (XIMENES; JAENISCH,
2019). Algumas dessas práticas visam equilibrar as forças, por vezes antagônicas, entre o poder público e a população local, assim
como ocorre em processos de urbanização “bottom-up”, ou seja, de baixo para cima. Estes almejam a equalização das necessidades
da população para que, assim, possam transformá-las em ações concatenadas com o poder público.

Uma das estratégias de urbanização que tem obtido grande destaque, recentemente, é o uso da ecologia urbana, como base
programática para o desenvolvimento de soluções projetuais. À luz dos conceitos de infraestrutura verde de Paulo Pellegrino, Jack
Ahern, Newton Becker (2012) e Ramón Stock Bonzi (2012), os territórios podem ser potencializados, ao incorporarem uma rede de
espaços abertos, públicos e multifuncionais. Isso permite o aproveitamento de serviços ecológicos em sua totalidade, compondo
ambientes adaptáveis e resilientes.

O Morro da Formiga, objeto de estudo deste trabalho, situa-se na Grande Tijuca, na Zona Norte do município do Rio de Janeiro. É
limitado pela malha urbana formal do bairro da Tijuca e pelo verde, caracterizado pela Floresta da Tijuca. No limiar entre o
construído e o natural, esta comunidade tem enfrentado dificuldades ao longo das últimas décadas, referentes à carência de
diversos serviços públicos e de infraestrutura. Essa situação faz parte de uma conjuntura que tem sido agravada pela falta de
investimentos, no que tange a solução das necessidades existentes e a conservação do ambiente natural. A forte integração e
organização social dos moradores, os quais têm vivenciado, cotidianamente, essa situação, contribui para a corroboração da luta por
melhorias na qualidade de vida da população.

Desta forma, o presente trabalho visa compreender as principais problemáticas identificadas pela população do Morro da Formiga e
trazer soluções palpáveis, visando a melhoria das condições de vida da comunidade, bem como sua integração com a cidade e o
meio ambiente. Como produto final, apresenta-se um projeto em equilíbrio com o meio natural, por meio de um sistema híbrido e
simbiótico.

PROCESSO PROJETUAL

Este trabalho fundamenta-se em conceitos de urbanização “bottom-up” e infraestrutura verde, para traçar soluções às demandas
levantadas pelos moradores do Morro da Formiga, atuando com medidas efetivas e concatenadas com o poder público. O projeto,
apresentado como produto deste trabalho, resulta da participação e de discussões desenvolvidas no “Workshop Internacional
Infraestrutura Verde e Favela: estratégias de resiliência para o projeto” (International Workshop on Green Infrastructure and Favela:
Resilience Strategies for Design Projects), promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (PROURB – UFRJ). O Workshop ocorreu entre os dias 6 e 10 de maio de 2019 e foi coordenado pelas professoras Lucia
Costa e Fabiana Izaga (PROURB – UFRJ), em colaboração com os professores Silvio Caputo e Samer Bagaeen (University of Kent). Seu
propósito primordial era desenvolver soluções inovadoras, a partir de uma perspectiva multiescalar, compreendendo a complexa
interação social, econômica, política e ambiental.

Com base em estratégias de resiliência para o objeto de estudo, o Workshop culminou em experimentações projetuais,
desenvolvidas por quatro equipes diferentes, que poderiam ser facilmente incorporadas pela população, em associação com o poder
público. A partir de um master plan integrado, que unificou as estratégias fundamentais de atuação, cada equipe concentrou-se em
um terreno, escolhido pelos próprios moradores, determinando suas próprias diretrizes projetuais.

A estrutura deste trabalho se pauta no processo de projeto, o qual foi também incorporado como método do Workshop, como
forma de destrinchar a elaboração de estratégias projetuais. Divide-se em quatro etapas: (i) descoberta, contextualizando e
espacializando a problemática, a partir da revisão de literatura e do aprofundamento em questões referentes ao objeto de estudo;
(ii) definição, analisando e elencando as principais estratégias de projeto, com base nas informações obtidas in loco; (iii)

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


desenvolvimento, elaborando as propostas de projeto de forma elucidativa e objetiva; e (iv) entrega, apresentando a ideia final do
projeto, consolidada pela aprovação dos moradores.

DESCOBERTA

Os problemas urbanos são solucionados, em geral, de forma pontual e individual, sem que se estabeleça uma relação entre o micro e
o macro, o construído e o natural, o material e o imaterial. Este trabalho se insere nesta discussão, como forma elucidativa de
repensar o próprio ato de projetar, compreendendo a paisagem como infraestrutura, assim como define Ramón Stock Bonzi:

Às áreas verdes cabe transcender o papel decorativo a que foi reduzida pela prática daquilo que é conhecido como
“paisagismo”, empenhando-se, agora, em oferecer serviços ambientais de maneira articulada com o tecido urbano,
com especial atenção para sua distribuição equânime à população e em sintonia com a realidade local. Quanto às
infraestruturas, surge a possibilidade de ressignificá-las (BONZI, 2012, p. 22).

A infraestrutura verde funciona por meio da manutenção ou restauração da conectividade entre ecossistemas, como forma de
reconstituir áreas fragmentadas (PELLEGRINO, 2012). A favela do Morro da Formiga é um exemplo dessa fragmentação. Sua
ocupação data mais de cem anos e, até o momento atual, esse processo territorial tem enfrentado diversos problemas de
infraestrutura e de carência de um modelo de planejamento urbano integrado. O descolamento da malha formal, configurada pelo
bairro da Tijuca em seu entorno, denota-se tanto por aspectos físicos – como o tecido urbano orgânico e a topografia acentuada –
quanto sociais – como a ineficácia de infraestruturas públicas de energia, água, saneamento, transporte e coleta de lixo.

Figura 1: Mapa de localização do Morro da Formiga, Rio de Janeiro. Fonte:Google Earth.

Em contraponto, sua localização privilegiada, em articulação com a Floresta da Tijuca (Figura 1), beneficia-se das qualidades naturais
disponíveis, como a biodiversidade. Essa paisagem, que detém um cenário extraordinário e fornece diversos serviços ambientais,
funciona como importante símbolo e identidade para a população local (BONZI, 2012). Por esta razão, diversos programas,
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desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAC) da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, foram incentivados –
como, por exemplo, o Hortas Cariocas, Mutirão Reflorestamento, Rios Cariocas e Gari Comunitário –, com a finalidade de promover
uma qualidade ambiental simbiótica e preservar o meio natural (RIO PREFEITURA, 2019).

Apesar da existência desses programas, a redução do número de trabalhadores e a carência de instrumentos e locais de trabalho
adequados, têm enfraquecido sua atuação, devido à falta de subsídios públicos para sua manutenção e de investimentos em ações
de conscientização ambiental. Como consequência, a comunidade tem sofrido diretamente danos ambientais, comprometendo sua
própria qualidade de vida.

Entre os principais aspectos negativos, apontados pela população local, no que tange as condições de moradia no Morro da Formiga,
estão: a falta de espaços públicos, a necessidade de conscientização ambiental e a melhoria da qualidade de vida dos moradores.
Desta forma, esse espaço caracteriza-se pela dominação e indefinição, em que predomina a monofuncionalidade e a ausência de
equipamentos, serviços e espaços de socialização (ARREDONDO, 2005).

DEFINIÇÃO

Este trabalho responde, fundamentalmente, à principal adversidade apontada pela comunidade: o lixo. O despejo é feito em
containers de plástico, que são facilmente inflamáveis, e de forma displicente, em qualquer lugar do Morro – devido ao limitado
número de pontos de coleta de lixo espalhados pelo território. Além disso, atualmente, o programa “Gari Comunitário” possui
apenas um trabalhador fixo da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB), responsável pela coleta em becos e vielas de
toda a comunidade, o que se mostra indubitavelmente insuficiente para suprir a demanda local.

Um dos locais mais alarmantes, indicados pela população, foi o Ferro Velho. Nomeado devido ao tipo de lixo que, inicialmente,
recebia, o espaço passou a comportar, nos últimos anos, toda e qualquer espécie de resíduos sólidos – ferro velho, lixo orgânico e
reciclável. Situa-se numa zona intermediária do Morro, acoplado a um penhasco, na rua das Pipas. Devido à sua localização
privilegiada, à carência de lixeiras e à coleta de lixo irregular, tornou-se o destino usual de resíduos sólidos tanto de moradores da
parte alta do Morro quanto da baixa (Figura 2).

Figura 2: Foto do Ferro Velho, no Morro da


Formiga, Rio de Janeiro, no dia 06 de maio de 2019. Fonte: Elaboração dos autores.

A acumulação de lixo, em lugares indevidos, pode contaminar o solo e poluir rios, gerando situações de alto risco, na medida em que
a quantidade de resíduos depositada e a vulnerabilidade do ambiente se perfazem. Em casos extremos, quando agregado a outros
fatores que levam à degradação ambiental, esse panorama pode contribuir diretamente com enchentes, deslizamentos e a
proliferação de doenças (BONZI, 2012). Essa questão se torna ainda mais exacerbada no Morro da Formiga, quando o lixo se dispersa
e ocupa espaços públicos, além de invadir áreas livres, coberturas vegetais e corpos hídricos.

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Com base na problemática exposta, evidencia-se o complexo quadro de degradação ambiental progressiva neste território, como
efeito decorrente da constante deposição de resíduos sólidos em locais inapropriados. Caso essa situação perdure, causará o
agravamento da contaminação da cobertura vegetal e dos recursos hídricos, trazendo complexos danos a longo prazo para a
biodiversidade local. Faz-se necessário, portanto, planejar estrategicamente diversos pontos de coleta de lixo, evitando, com isso, o
acúmulo desses detritos em áreas livres ou de preservação. Com a criação dessa rede, será possível organizar efetivamente a
retirada do lixo da comunidade, de forma regular e ordenada, para que não se concentre em ruas e valas, como ocorre atualmente.

Além do lixo, outra questão, apontada pela população do Morro da Formiga, foi a carência de espaços públicos destinados à
coletividade e socialização. Alguns espaços que desempenhavam historicamente essa função foram, com o tempo, degradados
pela falta de manutenção e abandono da gestão pública, tomados pela acumulação de lixo ou ocupados por grupos fixos. Esses
fatores impedem a incorporação de novos usos, levando-os à obsolescência.

A criação de diversos pontos de uso público - livres e abertos -, os quais funcionam, também, em rede, assim como os pontos de
coleta de lixo, possibilitam a ativação do espaço urbano. Esta é a alternativa para uma “infraestrutura verde”, que funciona
sistematicamente, unindo processos naturais e sociais, através de serviços variados (AHERN; PELLEGRINO; BECKER, 2012).

Ao propor a cada um desses espaços públicos uma conjunção de usos, unindo o espaço de encontro, a paisagem e outras
conveniências - como saúde, alimentação ou religião -, consolida sua importância para a comunidade. Desta forma, o projeto em
questão se configura através da união de duas adversidades expostas pela população local: o acúmulo de resíduos sólidos e a
carência de espaços públicos.

Compreende-se, portanto, o ponto do Ferro Velho como um lugar central, que já possui grande representatividade simbólica e
funcional na comunidade. O lixo é depreendido como problema e solução, sendo, dessa forma, ressignificado. A partir dele, há uma
oportunidade econômica e social de revitalização e conectividade desse espaço com todos os moradores.

DESENVOLVIMENTO

A criação de um master plan (Figura 3) fundamentou-se em quatro terrenos designados pelos moradores, escolhidos devido à sua
situação de abandono e deterioração. Assim, foi possível estruturar uma base uníssona para as diversas estratégias de atuação no
Morro da Formiga. Pautando-se na principal questão levantada, relacionada ao lixo, diversos pontos de coleta foram elencados.
Esses pontos respondem às localizações estratégicas apontadas pelos moradores, bem como à proximidade à espaços públicos.
Levou-se, também, em consideração o estabelecimento de pontos ramificados, partindo da rua principal – a Rua Castelo Novo –, que
escoa todo o lixo até a parte inferior do Morro e tem fácil acesso de veículos. Com base no master plan, o ponto do Ferro Velho pôde
ser articulado em rede, compondo parte deste sistema de escoamento de lixo.

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Figura 3: Master plan com os terrenos designados, os pontos de coleta de lixo e a hidrografia do Morro da Formiga. Fonte: Elaboração dos autores.

A Rua das Pipas se caracteriza por um intenso fluxo de pessoas, ainda mais acentuado no ponto do Ferro Velho, por receber o fluxo
de outra rua próxima ao curso d’água. A existência de um pequeno largo nesta confluência, aliado à vista da paisagem,
proporcionada pela elevada altitude neste local, denota a importância deste espaço, enquanto público e aberto. Assim como aponta
Andrade, ao identificar as práticas já realizadas no local, torna-se mais fácil reconhecer a relevância do local para a comunidade e o
êxito de apropriação após a execução do projeto:

Podemos resumir que espaços abertos da cidade podem ser considerados efetivamente públicos quando neles a vida
social e política pode ser efetivamente encenada, reforçando seu caráter de espaço do conflito, no sentido de
expressão de confronto da diversidade. Neste lugar, o discurso de todos tem o mesmo peso, uma vez que as

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diferenças de classe, gênero, raça, religião, entre outras, por princípio não devem se sobrepor ao pacto social
(ANDRADE, 2006, p. 109).

O desenho de planta baixa parte, portanto, dessa articulação de espaços e fluxos, reforçando o espaço público e sua qualidade
ambiental, enquanto democratização do uso de espaço, e, portanto, de justiça social, sociabilidade e solidariedade. Além desses
elementos de desenho espacial, como o mobiliário urbano, o piso e a arborização, ressalta-se a gestão e manutenção como
elementos fundamentais para a garantia da apropriação pública e da realização de práticas urbanas (ANDRADE, 2006).

Com base nisso, o projeto tem como propósito lançar um novo olhar sobre a questão do lixo, bem como sua relação com a
paisagem, através de uma mudança de paradigma desses conceitos. A ressignificação deste espaço, intitulado “Mirante Ferro
Velho”, ressalta sua memória e origem, valorizando uma paisagem anteriormente caracterizada por um complexo quadro de
abandono e de acúmulo de lixo, através do potencial das visadas e da relação com o meio natural. Usufruindo de sua localização
privilegiada, em um dos pontos mais altos do Morro, fornece um espaço aberto a diversos usos e apropriações.

Fundamentando-se nas principais questões manifestadas pela população local, como a ausência de espaços de convivência e a
degradação ambiental devido ao lixo, propõe-se três estratégias de atuação para reverter essa situação. A primeira é a criação de um
ponto de armazenamento temporário de lixo, integrando a rede de coleta de lixo no Morro. A segunda estratégia consiste na
concepção de um lugar de encontro e sociabilidade para os moradores, através de uma estrutura que garanta o uso livre e
indeterminado. Por fim, a última é elaborar um espaço multiuso integrado à paisagem, beneficiando-se da beleza do meio natural no
entorno, ao passo que garanta sua preservação. Funciona, portanto, como um disparador para ativar as relações comunitárias e os
espaços degradados, demonstrando uma nova forma de pensar o espaço público no Morro da Formiga.

ENTREGA

O projeto parte da reconfiguração do piso e das relações do pedestre com o espaço público. A partir da área existente do Ferro
Velho e um ponto de estacionamento de motos que, também, funciona como acesso para as casas que se situam na parte inferior do
Morro da Formiga, articula-se o alargamento da calçada com equipamentos públicos (Figura 4):

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Figura 4: Planta baixa de piso. Fonte: Elaboração dos autores.

Essa ação valoriza o acesso à parte intermediária do Morro, criando um amplo espaço que permite a apropriação de diversas
atividades coletivas e individuais. A nova composição da rua permite a integração entre os equipamentos dispostos. Um deles
consiste no ponto de coleta de lixo, que visa atender ao gerenciamento e remanejo dos resíduos sólidos dentro da comunidade. Este
ponto funciona em rede, em conjunto com os outros pontos dispostos no master plan do Morro da Formiga, e permite que o
programa “Gari Comunitário” atue de forma mais eficaz na retirada do lixo. Além disso, funciona também como um ecoponto,
permitindo a troca de lixo e sucatas, antes dispostas de forma inadequada no terreno do Ferro Velho.

A criação de uma praça revaloriza o piso, bem como as relações entre as pessoas e o ambiente natural. A partir dela, insere-se uma
escada-arquibancada, que visa criar um ambiente de permanência e de ênfase à praça, a qual se situa em um nível elevado. Dessa
forma, proporciona-se uma relação visual entre os diversos pontos de convívio, integrando os fluxos de pessoas e atividades que
ocorrem em cada um. A interação com o rio também é ressignificada, ao torná-lo mais visível e aberto àqueles que transitam por
esse espaço. As relações entre os diversos momentos criados neste espaço público são apresentadas, a seguir, pelo corte transversal
(Figura 5).

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Figura 5: Corte transversal do mirante e da rua. Fonte: Elaboração dos autores.

Outro ponto de interesse, e o principal elemento deste projeto, é o mirante. Com uma estrutura metálica aberta e simplificada, o
mirante acopla-se facilmente à rocha, sem prejudicar a vegetação do entorno ou o rio que passa ao lado. Esse tipo de estrutura foi
escolhido devido à exequibilidade da construção sobre o terreno inclinado e de origem rochosa, além de apresentar o melhor custo-
benefício a longo prazo. A resistência da estrutura metálica garante a durabilidade e uma manutenção de baixo custo. Sob esta
mesma justificativa, foi escolhido um piso metálico perfurado, que permite a permeabilidade visual e física. Dessa forma, cria-se
maior integração entre o meio natural e o construído, sendo possível aproximar a relação da população com o rio. Isso também
assegura que, em épocas de chuva e eventual cheia do rio, a correnteza não danifique o equipamento e atravesse diretamente pelo
piso. Sua estrutura e as relações que cria com o entorno estão representadas no corte transversal (Figura 6) a seguir:

Figura 6: Corte transversal do mirante. Fonte: Elaboração dos autores.

O mirante funciona como um marco visual e simbólico para o Morro. Demarcado por uma cobertura de bambu, que se estende
através de um pergolado para a calçada, esse projeto cria um portal que pode ser visto à distância e integra-se ao espaço público.
Propõe-se a plantação de uma trepadeira, como a Alamanda amarela (Allamanda cathartica), que garantirá sombra e vivacidade ao
ambiente coberto, além de melhorar substancialmente o conforto ambiental.

De maneira simbólica e representativa, o mirante permite a apropriação de diversos grupos sociais e atividades. Numa área de 41.40
m², divide-se em uma plataforma de dois níveis que possibilita tanto a interação com o fluxo de pessoas da calçada, quanto com a
paisagem e o ambiente natural. Ele foi pensado a partir de uma planta livre, que contém apenas um banco fixo no nível inferior,

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acoplado à uma grade de contenção, que impede o uso abaixo da plataforma superior. Assim, a ocupação pode ser adaptada,
conforme a necessidade e o tipo de atividade propostos.

Dessa maneira, o projeto possibilita a realização de diversos eventos pontuais ou regulares, como:

- Ponto de saúde, que funcionaria como um anexo externo ao posto de saúde na Rua Castelo Novo;

- Ponto de horta, no qual seria possível estabelecer um comércio de legumes, frutas e verduras, plantados na horta da comunidade;

- Ponto de culto, admitindo reuniões de quaisquer religiões ao ar livre;

- Ponto de lazer e encontro, utilizado por grupos pequenos de familiares e amigos para atividades variadas;

- Ponto de apoio às atividades de programas governamentais, como Hortas Cariocas, Mutirão Reflorestamento, Rios Cariocas e Gari
Comunitário.

A fim de elucidar as diversas formas de apropriação e dinamismo do espaço para os moradores, três exemplos de uso foram
elaborados: momento de atuação de programas da prefeitura, como Gari Comunitário e Mutirão de Reflorestamento (Figura 7); de
eventos culturais (Figura 8); e de confraternização e festas (Figura 9).

Figura 7: Fotomontagem do Mirante Ferro Velho: atuação de programas da prefeitura (Gari Comunitário e Mutirão Reflorestamento). Fonte: Elaboração dos autores.

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Figura 8: Fotomontagem do Mirante Ferro Velho: eventos culturais. Fonte: Elaboração dos autores.

Figura 9: Fotomontagem do Mirante Ferro Velho: confraternização e festa. Fonte: Elaboração dos autores.

Como elemento intrínseco à essa etapa final, o projeto foi apresentado aos moradores, junto às principais lideranças da
comunidade, no dia 10 de maio de 2019, a fim de corroborar as demandas e soluções elaboradas. A aprovação dos moradores
possibilitou a solidificação do projeto, validando as propostas desenvolvidas, já em preparação para a futura execução. Isso,
também, reitera a necessidade de estabelecer projetos que aproximem arquitetos e urbanistas das demandas reais da população,
articulando, portanto, teorias e práticas projetuais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou elucidar o processo de projeto, inserido num contexto de urbanização “bottom-up” e infraestrutura verde.
Assim, associaram-se demandas levantadas por moradores do Morro da Formiga a soluções baseadas na natureza, como forma de
estabelecer um diálogo uníssono e apresentar propostas de projeto efetivas para a melhoria da qualidade de vida desta população.

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O projeto responde diretamente à principal problemática apontada: o lixo. A criação de um espaço público apresenta-se como
solução a essa questão, ressignificando a relação entre a população, o lixo e a paisagem. Além disso, a proposta abarca outros
pormenores, que foram indicados por líderes da população local, como a importância da educação ambiental e espaços de
socialização. Almeja-se, com isso, recondicionar um local que antes era depósito de lixo, para que solucione a questão do manejo de
resíduos sólidos, de forma sistemática, para toda a extensão da comunidade.

Dessa forma, o projeto insere um espaço multiuso integrado à paisagem, associando um lugar de encontro, conscientização,
sociabilidade e coleta de lixo. Valoriza-se, assim, as interações naturais e sociais, por meio de uma relação simbiótica com o meio
ambiente, reforçando e potencializando a identidade local.

REFERÊNCIAS

AHERN, Jack; PELLEGRINO, Paulo; BECKER, Newton. Infraestrutura verde: desempenho, estética, custos e método. In COSTA, Lucia Maria Sá
Antunes; MACHADO, Denise Barcellos Pinheiro. Conectividade e resiliência: estratégias de projeto para a metrópole. Rio de Janeiro: Rio Books,
2012. pp. 35-52.

ANDRADE, Luciana da Silva. Qual futuro esperar para as favelas? Um debate sobre a qualidade dos espaços físicos de assentamentos populares à
luz de conceitos de espaço público. In MACHADO, Denise Barcellos Pinheiro. Sobre Urbanismo. Rio de Janeiro: Viana & Mosley: Ed PROURB, 2006.
pp. 103-120.

ARREDONDO, Isabel Arteaga. De periferia a ciudad consolidada: estrategias para la transformación de zonas urbanas marginales. Revista Bitácora
Urbano Territorial. Bogotá: Universidad Nacional de Colombia, Vol. 9, N. 1, pp. 98–111.

BONZI, Ramón Stock. Paisagem como infraestrutura. In COSTA, Lucia Maria Sá Antunes; MACHADO, Denise Barcellos Pinheiro. Conectividade e
resiliência: estratégias de projeto para a metrópole. Rio de Janeiro: Rio Books, 2012. pp. 2-24.

PELLEGRINO, Paulo. Paisagem como infraestrutura ecológica: a floresta urbana. In COSTA, Lucia Maria Sá Antunes; MACHADO, Denise Barcellos
Pinheiro. Conectividade e resiliência: estratégias de projeto para a metrópole. Rio de Janeiro: Rio Books, 2012. pp. 64-77.

RIO PREFEITURA. Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC). Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/web/smac>. Acesso em 06 de maio
de 2019.

XIMENES, Luciana Alencar; JAENISCH, Samuel Thomas. “As favelas do Rio de Janeiro e suas camadas de urbanização. Vinte anos de políticas de
intervenção sobre espaços populares da cidade”. Anais do XVIII Encontro Nacional da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em
Planejamento Urbano e Regional – ENANPUR: Tempos em/de Transformação – Utopias. Natal: EDUFRN, 2019.

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo

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