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ASTRÁGALO. Cultura de la Arquitectura y de la Ciudad, 30 (2022).

ISSNe: 2469-0503
Attribution-NonCommercial-ShareAlike. Introduction to the issue
https://dx.doi.org/10.12795/astragalo.2022.i30.03

SOBRE O METROFITTING ONTOLÓGICO DAS


CIDADES
Arturo Escobar
Previously published in e-flux architecture
https://www.e-flux.com/architecture/where-is-here/453886/on-the-ontological-metrofitting-of-cities/

INTRODUÇÃO: A TERRA E A CIDADE o fato que entidades, processos e formas


encontram-se sempre em um processo de
Mais ou menos há três anos eu iniciei uma co-criação dependente. Adoto esta noção
apresentação no Encontro Anual da Associação de Terra como horizonte para uma práxis
Americana de Geógrafos argumentando pela renovada da vida, assim como base para o
necessidade de ‘terraformar’ (re-earthing) as ato essencial do ‘habitar humano’.
cidades.
Dei continuidade à minha fala abordando o exí-
A Terra tem sido banida da cidade. Por lio da Terra da cidade enquanto reflexo de uma
‘Terra’, baseando-me tanto em cosmo- dupla anomalia civilizacional: a construção de
visões indígenas quanto em ideias de teo- cidades com base em sua separação do mundo
ria biológica e social contemporânea, eu vivente não-humano, particularmente desde a
me refiro a interdependência radical de polis grega clássica; e a tendência a depreciação
tudo o que existe, ao indubitável fato de histórica de tudo que não seja cidade, como to-
que tudo existe porque tudo o mais existe. das as formas de vida rural, culturas indígenas
Portanto, que nada pré-existe anterior- e étnicas, nômades, migrantes, vagabundos,
mente as relações que o constituem. A ocupantes ilegais e todos aqueles que se negam
Terra assinala a capacidade de auto- a observar normas e regras habitacionais mo-
organização da vida, o fluxo incessante dernas. Minha pergunta era se seria possível
de transformação de formas, forças, reverter esta anomalia civilizacional. Em tem-
comportamentos e relações, assim como pos de uma crise civilizatória provocada pelo

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SOBRE O METROFITTING ONTOLÓGICO DAS CIDADES

desgaste da relacionalidade, em grande medi- alguma ficção de padrão universal ou método


da originária na vida urbana, não deveríamos objetivo” 2. Este marco é habilmente encapsu-
estar buscando por pistas importantes para o lado pela expressão “enxergando como uma
repensar da cidade em espaços difamados que cidade” 3. ‘Enxergando como uma cidade’ exi-
se encontram nas margens, ou mais além dos ge uma epistemologia ‘do terreno’ apropriada
confins, das cidades? Hoje, o projeto de re- para ontologias urbanas relacionais, incluindo
pensar, refazer, e repolitizar o habitat urbano a inteligência distribuída decretada por siste-
deve observar, deve considerar a experiência mas sócio técnicos; permanecer próximo das
daqueles situados nos interstícios epistêmicos, redes de relações ao invés de privilegiar teorias
ontológicos, sociais e espaciais das cidades, in- top-down, empregando métodos de observação
cluindo os ‘mais-do-que-humanos’. e intervenção adequados a ‘ontologia rizomá-
Os modos ocidentais de habitar erodi- tica’ da cidade4, uma sensibilidade etnográfica
ram o modo de vida sistêmico baseado na in- dirigida ao compromisso de enxergar a cidade
terdependência radical. É, portanto, imperativo a partir dos espaços dos quebrados, ou o espaço
que outros modos de habitar sejam encontra- dos expulsos5; e a preocupação emergente com
dos, imaginados e propostos, incorporando ‘terraformar’ a cidade, sua materialidade e o
modos de vida relacionais às paisagens urba- mais-que -humano.
nas, inseridos em uma concepção comunitária
ampla e aberta. Como argumentei já em 2018,
proceder desta forma requer uma reorientação O DESIGN COMO PRÁXIS DE UM
ontológica do design, de suas tendências funcio- MUNDO EM TRANSIÇÃO
nais e instrumentais em direção a, aproximan-
do-se de seus princípios e objetivos relacionais. O design está, em si mesmo, em crise dentro
Isto implicaria reformular a arquitetura, o de um mundo em crise. Portanto, podemos
urbanismo e o desenho urbano como práticas construí-lo como uma prática em transição ao
culturais, técnicas e políticas para formas do serviço de transições sócio ecológicas e civili-
habitar relacionais e pluriversais. zacionais mais amplas. Para fazermos isto, en-
O construir e o reconstruir atual de ci- tretanto, precisamos considerar o design como
dades, mais rápido e em maior escala do que ontológico. De acordo com Terry Winograd e
nunca, permanece sendo modelado por marcos Fernando Flores, “Nós encontramos a questão
espaciais obsoletos. Onde buscamos pistas de profunda do design quando reconhecemos que’
diferentes caminhos para a cidade? Esta ques- ao projetarmos ferramentas projetamos modos
tão está sendo atualmente explorada pelo ‘giro de vida, as condições de nossa existência. O de-
relacional’ dos estudos urbanos, que, segundo sign é ontológico na medida em que, ao proje-
Ash Amin e Nigel Thrift, compreende “enxer- tarmos ferramentas, ‘Nós (humanos) definimos
gar o mundo como uma constelação de monta- as condições de nossa existência. Nós projeta-
gens existenciais, cada uma delas requerendo mos ferramentas e estas ferramentas nos rede-
ideias, ferramentas e sensibilidades que façam finem, nos desenham’. “O design desenha” é a
justiça a sua própria integridade, em lugar de fórmula apropriada proposta por Anne-Marie

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Willis para essa circularidade, “nós projetamos sign que mina a construção relacional do espaço
nosso mundo, enquanto que o nosso age de vol- e das coisas por meio de práticas que priorizam
ta sobre nós e nos desenha (nos redefine)”7. Isto a medição, otimização, produtividade, eficiên-
se aplica a toda a gama de objetos, ferramentas, cia e controle – muitos destes atualmente re-
instituições e discursos da criação humana. No forçados por uma racionalidade algorítmica -,
contexto das cidades, como disse o ex diretor o design precisa se engajar novamente na cons-
da UN Habitat, Joan Clos, “nós temos criado a trução da vida com todos aqueles –humanos e
cidade, mas não temos pensado o suficiente em não-humanos – que estão envolvidos nos con-
como a cidade nos recria”8. textos e situações particulares do ato de design
Design e arquitetura estão vinculados a (de projetar).
ontologia cartesiana de sujeitos autossuficien-
tes que confrontam um mundo exterior feito de
objetos pré-existentes, objetos autônomos que METROFFITING ONTOLÓGICO E A
podemos controlar à vontade. As noções de re- CIDADE-MAIS-QUE-HUMANA
presentação, objeto e projeto pertencem a esta
ontologia. O que conhecemos como “objetos” Ontologias dualistas e relacionais transmitem
deriva da ontologia dualista que separa men- formas distintas de ser-no-mundo, no espaço e
te e corpo, observador e observado, humanos no território. Ao considerar estas noções para
e não-humanos. Relacionado a isto, a ideia de o repensar e refazer das cidades, observando o
“projeto”, como colocada por Alfredo Gutiérrez, esgotamento da cidade europeia enquanto pa-
permitiu ao design moderno “monopolizar as radigma projetual, Tony Fry propõe um marco
relações com o amanhã”, uma vez que “o futuro referencial orientado ontologicamente, o qual
só pode ser alcançado pelo projeto, o qual ter- ele denomina metrofitting (ver Astrágalo 25,
mina captando toda e qualquer possibilidade de pag. 34). O ponto de partida de Fry é o efeito on-
existência, ‘projetando-se’ sobre toda a Terra, tológico de desfuturização do design moderno,
como uma doença, como o mundo único oci- pelo que ele quer dizer da criação, por parte do
dental que nega todos os outros. Porque para o design, de um mundo-dentro-de-outro-mundo,
Ocidente não existem outros mundos, apenas fato esse estruturalmente insustentável. Como
fragmentos inacabados de si mesmo”9. resposta, propõe um movimento de reparação
O que seria do design se o mesmo tives- “Sustentável”, entendido como um projeto pós-
se que ser baseado no insight fundamental de iluminista de escala tão grande, ou maior, que
que o mundo não existe “lá fora” separado de o Iluminismo – o qual reconhece a dialética de
nós, mas sim que co-emerge com cada uma de metabolismo social, mudança e reparação.
nossas ações, embora dentro de uma dinâmica
Se, como é o caso, a humanidade deve
complexa de causalidade, contingência e deriva
mudar continuamente de forma adapta-
histórica? Tal consciência requereria uma prá-
tiva para sobreviver, então os necessários
tica de design na qual objetos, representações e
entornos que impulsionem e apoiem esse
projetos deixariam de ser fundamentais para a
processo devem ser ontologicamente des-
construção da vida. Em vez de um tipo de de-
enhados. Como tal, (a agenda de metro-

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fitting) deve explorar a indeterminação por cidades biofílicas lugares de fácil acesso
da cidade e os riscos aos quais está ex- amplamente dotados de natureza abundante,
posta. Para tanto, deve interrogar a sua lugares capazes de atrair os residentes à inte-
fragmentação e suas idades porosas; seu gração com a natureza por meio de ambientes
metabolismo destrutivo e criativo; o que multissensoriais. O design biofílico objetiva um
tem que ser aprendido e o que tem que ser metabolismo urbano sustentável baseado em fi-
reparado, e por quem; as políticas de mu- losofias de ciclo fechado, envolve-se ativamente
dança e o imperativo de agir no tempo... no biorregionalismo e na restauração ecológi-
[em suma], o refazer das cidades, enquan- ca e reimagina as cidades como entidades que
to ação e resultado, é um meio de nossa abrigam formas naturais, abarcando tipos di-
própria reconstrução10. versos de estruturas construídas. Todos estes
elementos devem ser pensados em diferentes
Metrofitting implica o refazer da cidade a par-
níveis: do edifício, da quadra, da rua, da viz-
tir dos mundos relacionais dos quais toda a
inhança e da região. Até mesmo interstícios e
vida é dependente. Isto significa olhar para a
pavimentação excessiva podem fornecer meios
cidade como um evento de desenho históri-
para a ‘terraformação’ da cidade, inclusive para
co e metabólico no qual o metrofitting deve se
a agricultura urbana - por exemplo, a prolife-
engajar. Para Fry, a reconstrução da cidade se
ração de jardins urbanos e de uma nova agri-
baseia em sua destruição, a qual, por sua vez,
cultura urbana, agrihoods em Detroit durante
implica uma transformação ontológica do nos-
as duas últimas décadas de crise econômica e
so ser-no-mundo. Consequentemente, “uma es-
de uma nova onda de ‘white flight’(migração re-
tratégia muito mais substancial e fundacional
pentina, ou gradual, de larga escala de pessoas
de mudança é necessária, na qual o metrofitting
brancas de áreas em processo de transformação
e o design ontológico se constituem enquanto
racial ou etno cultural), ou ainda, de forma
elementos fundantes (baseados em) de projeto
mais ambígua, as ‘superquadras’ recentemente
e do processo do Sustentável11. A reconstrução
introduzidas em Barcelona).
do projeto e do planejamento, em âmbitos
Perspectivas não antropocêntricas so-
como a energia renovável, alimentação urbana,
bre a cidade –ou seja, que adotem uma postura
transporte, gestão de biorresíduos, qualidade
de replanejar a cidade a partir da perspectiva
do ar e da água, habitação e assim por diante
dos não-humanos vivos– adicionam novas di-
é essencial para o reestabelecimento do equilí-
mensões à reconstrução relacional das cidades.
brio biofísico da vida urbana. Isto deve ocorrer
O que está em jogo é incrivelmente alto, pois
baseado no espírito de novas visões da cidade
envolve ir além do que Sylvia Wynter chamou
enquanto entidade aberta e permeável, sempre
de visão “mono-humanista” do humano: o hu-
em constante processo de ser desfeita e refeita.
mano como secular, liberal e burguês, melhor
O urbanismo biofílico oferece um outro
representado pelo homem branco ocidental13.
ponto de partida, o qual compreende o ‘terra-
Esta visão antropocêntrica e moderna / co-
formar’ maciço das cidades –sua infraestru-
lonial do Homem é a configuração padrão de
tura, atividades, conhecimento, instituições e
todos os tipos de design moderno, incluindo a
governança12. De forma suscinta, entende-se

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Fig. 1. Harold Martínez Espinal. Uma fusão entre o campo e a cidade: Uma nova perspectiva sobre a
habitação (2016). Paisagem agrícola no complexo residencial. Cortesia do arquiteto.

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arquitetura e urbanismo. Os críticos culturais e tra inspiração em plantas urbanas e solos ou na


sociais raramente observam que o Homem Uni- agroecologia urbana e periurbana, na medida
versal moderno existe em um espaço projetado. em que evidencia práticas de cuidado e repara-
O repensar e refazer a cidade na perspectiva da ção que visam “desfragmentar paisagens para
“multiplicidade do Outro” 14 e do “urbanismo os-mais-que-humanos pela maximização inten-
multiespécies” desafia as normas e formas do cional da superfície e da subsuperfície como ha-
ambiente urbano alcançadas historicamente bitat e alimento”15. Exemplos convincentes disto
por meio do mono-humanismo antropocêntri- estão presentes nas visões do arquiteto colom-
co. Abordar a dependência da liberdade urba- biano Harold Martínez Espinal, cuja proposta de
na para os privilegiados da não-liberdade de “uma nova fusão entre campo e cidade” reside
formas de trabalho racializadas e de gênero, em uma perspectiva profundamente relacional.
assim como de toda uma gama de “corpos in- O seu ponto de partida considera uma crise de
desejáveis”, constuti-se apenas em um ponto habitabilidade decorrente dos “modos de habi-
de partida. Outras cidades, outros designs são tação ocidentais” (incluindo a América Latina
possíveis quando imaginados da perspectiva da urbana). Recuperar a nossa capacidade de habi-
multiplicidade de outros que as habitam. tabilidade terrestre requer, para Martínez Espi-
Isto também se aplica aos não-humanos, nal, uma forma de estar no mundo que supere
uma vez que um urbanismo multiespécie encon- o modo desincorporado e descontextualizado

Fig. 2. Harold Martínez Espinal, Uma fusão entre o campo e a cidade: Uma nova perspectiva sobre a habitação (2016).
Imagem exterior do complexo residencial. Cortesia do arquiteto.

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de ‘ser’ criado ao longo da história ocidental. A didamente para uma concepção pós-dualista da
elaboração de outras formas de habitação envol- cidade. O seu marco referencial constitui uma
veria “hábitos coletivos que permitam a criação práxis arquitetônica para transições baseadas
de cidades onde o urbano seja capaz de fundir- em um compromisso renovado com uma ética
-se como entidade coletiva com seu habitat na- e uma estética que decorrem do sentido mais
tural... Seriam cidades onde humanos, como o profundo da própria vida: a relacionalidade.
resto dos seres vivos, existiriam simplesmente
como habitantes de um solo vivo, ao qual devem
um ethos de reciprocidade e complementarida- SEIS EIXOS PARA TRANSIÇÕES
de, quer dizer, de interação associativa” 16. SOCIOECOLÓGICAS OREINTADAS AO
A visão de Martínez para “uma nova DESIGN
fusão entre o campo e a cidade” pode ser con-
cretizada por meio de vários projetos (designs). O presente é um momento estimulante para o de-
Sua própria proposta arquitetônica e projetual sign, emergindo como um domínio crucial para
prevê edificações verticalizadas, de vários pa- refletirmos sobre a produção da vida e a cons-
vimentos, dotadas de corredores com estantes trução dos mundos. Mas, pessoas comuns forma
móveis para o plantio de alimentos (verduras, destituídas do poder de criar vidas e construir
ervas e outras plantas), e rodeadas de hortas mundos. A modernidade confiou a produção da
e áreas verdes, com locais de convivência cole- vida coletiva a especialistas de um processo or-
tiva. A ideia é estabelecer uma circulação “do ganizado pelo Estado e intimamente ligado ao
jardim ao corredor e deste à cozinha e à mesa de capitalismo. Os resultados, ainda que impres-
jantar”. O projeto pretende introduzir na cidade sionantes em muitos aspectos (por exemplo, o
uma visão camponesa do solo, reconstituindo o desenvolvimento tecnocientífico e econômico),
prédio de apartamentos e o bairro como o que foram desastrosos para humanos e não-huma-
poderíamos chamar de territórios ‘rurbanos’. A nos, uma vez que as consequências das formas
visão de Martínez de ‘rurbanização’ é baseada antropocêntricas de produzir, consumir e viver
na noção de que “habitar é viver em comuni- estão se tornando dolorosamente claras.
dade, construindo e sustentando um ambien- Os atuais debates intelectuais-ativis-
te”17. Seu objetivo projetual compreende “uma tas na América Latina sugerem seis eixos ou
nova linguagem arquitetônica, capaz de reali- princípios para as transições de um pluriverso
zar uma interação associativa amorosa com as não antropocêntrico, sendo que a ocorrência
paisagens naturais”18. Ao unir conjuntamente de muitos destes eixos pode ser observada em
habitabilidade, design (projeto), espaço, ontolo- muitas regiões do mundo. Cada um desses ei-
gia (relacionalidade) e, em última análise, ética xos está conectado a temas urgentes e questões
e cuidado, ele articula uma estrutura convin- abertas na teoria social, design, arquitetura e
cente para as transições urbanas em direção urbanismo, tendo como princípio orientador
ao pluriverso. Ao ver o ser humano como o ha- geral reivindicar o poder de fazer a vida com
bitante de um universo vivo, ao invés de mero base na consciência da interdependência radi-
ocupante de um solo passivo, ele se move deci- cal de tudo o que existe19.

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‘Recomunalizar’ a vida social: a globaliza- tência por meio de coalizões projetuais que per-
ção, uma força individualizadora impulsionada mitam a desglobalização seletiva. Dessa forma,
pelo mercado, tem se constituído enquanto retornando à noção de que cada comunidade
uma guerra implacável contra tudo o que é co- pratica o design de si mesma.
munitário e coletivo. É necessário ressintoni- Despatriarcalizar, desracializar e descolo-
zar o fazer da vida com a condição comum de nizar as relações sociais: o capitalismo patriarcal
existência; existimos em emaranhados comu- é naturalizado por meio dos projetos concretos
nitários que nos tornam parentes de tudo que dos mundos e das instituições que habitamos,
está vivo. Se nos vemos em comunidade, não e que nos aprisionam. Despatriarcalizar e des-
podemos deixar de adotar o cuidado e a com- racializar as relações sociais requer a prática de
paixão como fundantes de uma ética de vida. A uma política feminista e anti-racista centrada
ênfase na recomunalização pode ser traduzida na produção e reprodução coletiva da vida. A
em diretrizes de design para comunidades resi- incorporação ativa dessa política na prática é
lientes ou, em termos de projetos de vida, em essencial para reparar e curar a trama de inter-
comunidades de lugares que sejam ao mesmo -relações que constituem os corpos, lugares e
tempo enraizadas, abertas e móveis20. comunidades que todos somos e habitamos, a
Relocalizar atividades sociais, produtivas partir da interdependência e do cuidado.
e culturais: As pressões de deslocamento inten- ‘Terraformar’ a vida: a Terra está res-
sificaram-se dramaticamente com a globaliza- surgindo como um horizonte para uma práxis
ção, com terríveis custos ecológicos e sociais. de vida renovada e a base para o ato humano
Existem vários esforços contínuos para realocar essencial de habitar. São muitas as expressões
atividades e recuperar um grau de autonomia intensas da necessidade premente de se reinte-
sobre o alimentar-se, o aprender, o curar, o mo- grar à Terra. A luta contra o terricídio nos con-
rar e a energia. Isto implica a transformação vida a imaginar mundos diferentes, propícios
dos sistemas de produção, a reavaliação dos à reconstituição de toda a rede da vida, à sus-
bens comuns e o retecer dos laços entre o campo tentação dos territórios e das formas comuna-
e a cidade, todos os quais podem ser explorados lizadas de economia, onde quer que estejamos.
por meio de interfaces apropriadas de design. Desde “projetar com a natureza” a novas formas
Fortalecer as autonomias: é necessária de projetos respeitosos com a Terra e com a ‘re-
uma medida de autonomia local de modo a evi- -terraformatação’ de cidades, o design precisa
tar que os esforços de recomunalização e relo- se reencontrar com a Terra e, em alguns casos,
calização sejam reabsorvidos por novas formas ressacralizar o design.
de reglobalização deslocalizada. A autonomia é Construir entremeados entre alternativas
uma radicalização da democracia direta orien- e iniciativas transformadoras: A convergência de
tada para reconfigurar o poder de forma menos alternativas bottom-up genuinamente transfor-
hierárquica, baseada em princípios de suficiên- madoras precisa ser encorajada, fomentando
cia, ajuda mútua e autodeterminação das nor- entre elas a criação de malhas entremeadas au-
mas de vida. O design pode ser recentrado na to-organizadas, ou redes de redes. Tais alterna-
produção autônoma de vida e meios de subsis- tivas, adotando caminhos em direção a formas

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diretas de democracia política e econômica, au- de uma ontologia de objetos inerentemente


tossuficiência localizada, justiça social e equi- existentes, assim como de sujeitos individuais
dade, diversidade cultural e de conhecimento comprometidos com a intenção de criá-los e
e resiliência ecológica, tentam romper com o utilizá-los, tornando-os commodities “escassas”
sistema dominante. -simultaneamente delas extraindo valor, acu-
Esses eixos visam à criação de vidas dig- mulando-as e descartando-as, transforman-
nificadas e dignas em territórios rurais e urba- do-os em resíduos e assim por diante. O design
nos. Eles são um antídoto contra a globalização tem contribuído enormemente para estabelecer
destrutiva e os modos de vida normativos da ordens sociais injustas e excludentes que natu-
classe média, caracterizados pela individuali- ralizam e promovem tal ontologia. Hoje, no que
zação compulsória, pelo consumo agonizante se refere ao tratamento da maioria dos huma-
e pelo enxerto heterônomo cada vez mais pro- nos, da Terra e da Vida, os resultados estão vi-
fundo de tecnologias digitais em nossos corpos. síveis para todos em toda parte como objetos,
Em todo o mundo, os enclaves de classe média pela força se necessário, mas de preferência por
são oferecidos como o ideal ao qual todos de- meio da gestão biopolítica, da tecnociência, da
vem aspirar. Seus efeitos individualizantes e política e pelo design. Isto em um mundo de
descomunalizantes são nefastos do ponto de obscenas desigualdades sociais, de destruição
vista ecológico, emocional e espiritual. Eles indescritível da Terra, de consumo e desperdí-
também costumam nutrir atitudes e compor- cio perdulários e de um paroxismo extremo na
tamentos profundamente patriarcais, racistas maximização de lucros. Pode o design ser visto
e politicamente conservadores. A arquitetura e como apoio potencial a lutas para a criação de
o planejamento urbano enfrentam um enorme vidas e de mundos para relocalizar, recommu-
desafio para desnaturalizar esse modelo se- nalizar e ‘re-terraformar’ a vida social? O que
dutor e desenvolver projetos que possibilitem significaria projetar externo a hegemonia da
a reintegração social e ecológica, devolvendo ontologia liberal, secular e racionalista da mo-
à vida socioespacial uma medida de conexão dernidade capitalista?
significativa com o lugar. Como o arquiteto pai- Práticas projetuais de design baseadas
sagista e planejador urbano Randolph Hester no insight fundamental de que o mundo não
sabiamente colocou, explicando a razão de suas existe “lá fora”, separado de nós, mas que o
noções de “design endêmico” e reconexão com o construímos com cada uma de nossas ações
local, “o apego ao local exerce a influência mais deveriam contribuir para romper as práticas de
positiva sobre o design da comunidade” 21. criação de mundo que fazem como que o mundo
seja um. O fazer, o projetar de forma pluriversal
fomenta modos projetuais não-representacio-
BREVE ESBOÇO DE UM DESIGN nais orientados a não-objetos que desafiam o
PLURIVERSAL poder de uma economia globalizante onde ape-
nas Um Mundo e Um Humano se adequam, se
Não há dúvida de que o design tem desempe- encaixam. Essas práticas projetuais de design
nhado um papel importante na consolidação contribuiriam fortemente para uma transição

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ao pluriverso, para um mundo onde cabem mui- outro lado, e inversamente, contribui
tos mundos, com uma multiplicidade de outros para a recomunalização da vida social
e de todas as formas de vida. Vamos considerar, e a relocalização de atividades como
para terminar, o seguinte conjunto de proposi- comer (vs. “comida”), sanação (vs. “saú-
ções sobre como propor práticas projetuais de de”), aprendizagem (vs. “educação”), ha-
design a partir, no e para o pluriverso22: bitar (vs. “morar”) e a provisão de meiso
de vida (vs.“ economia ”).
- 1) Projetar pluriversalmente significa
- 6) Projetar pluriversalmente visa sanar
projetar ‘com / em / a partir de’ um mun-
o desenraizamento ontológico do corpo,
do de muitos mundos, com uma cons-
do lugar e da paisagem por meio de for-
ciência ativa de que construir mundos
mas de fazer que contribuam para reen-
sob a premissa da separação ontológica
carnar, reposicionar e ‘re-terraformar’
nega a possibilidade de existir e prospe-
a vida.
rar no que é ontologicamente diferente.
- 7) Projetar pluriversalmente significa
- 2) Projetar pluriversalmente implica
recuperar a capacidade de fazer a vida
projetar relacionalmente, ou baseado
com autonomia, de viver autonoma-
na premissa de que a vida se constitui
mente, ao invés de terceirizá-la para
pela interdependência radical de tudo o
instituições, especialistas, o Estado ou
que existe.
a economia capitalista. Significa afas-
- 3) Projetar pluriversalmente coloca tar-se de um mundo centrado na duali-
entre parênteses as noções modernas dade do ser e do ter - o projeto histórico
de representação, objeto e projeto, dos objetos / coisas - ao mesmo tempo
abrindo possibilidades para práticas em que privilegia o projeto histórico das
projetuais não representacionais, não relações e do habitar no lugar.
centradas no objeto e não baseadas na
- 8) Projetar pluriversalmente promove
praxes projetual.
o afastamento do antropocentrismo,
- 4) Projetar pluriversalmente trabalha criando condições para que todos os
para a reconstituição, a cura e o cuidado seres terrestres floresçam. Ele instila a
para a teia de inter-relações que com- sensação de habitar a morada em um
põem os corpos, os lugares, as cidades mundo que está vivo, criando espaços
e as paisagens que somos e habitamos. para nos repensarmos como pluriversos
e como comunidade.
- 5) Projetar pluriversalmente implica a
consciência das condições de individua- - 9) Projetar pluriversalmente contri-
ção generalizada, de deslocalização, de bui para desmantelar o mandato da
descomunalização e de deslocamento masculinidade que está no cerne da
decorrentes de forças modernas, in- ontologia objeto-orientada da moderni-
cluindo urbanismo e planejamento. Por dade. Implica em praticar uma política

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feminista e anti-racista que privilegia danças climáticas, que são “impensáveis


pragmaticamente modos coletivos e co- e incalculáveis, ontologicamente impos-
munitizantes de fazer e atuar centrados síveis de enquadrar”24.
no cuidado.
- 14) Projetar pluriversalmente implica
- 10) Projetar pluriversalmente observa em resistir a traduzir o reservatório
com seriedade as lutas por justiça so- inesgotável de práticas não-represen-
cial, respeito pela Terra e pelos direitos tacionais em gramáticas do design mo-
à vida e à existência de entidades huma- derno, deixando que se estabeleçam no
nas e não humanas. primeiro plano como instâncias do fazer
relacional da vida.
- 11) Projetar pluriversalmente implica
em aprender a pensar e fazer com quem - 15) Projetar pluriversalmente torna o
se levanta em defesa de seus territórios projeto de ‘re-terraformar’ cidades em
de vida, fortalecendo suas práticas autô- um processo intelectual, político e téc-
noma-orientadas de fazer-vida. nico, historicamente plausível, sob a
rubrica de criar espaços de cura, reco-
- 12) Projetar pluriversalmente requer
munalização e da melhoria mútua de
uma consciência renovada de como a
relações com a Terra.
criação de condições para a coexistência
sustentável terão, necessariamente, não - 16) Projetar pluriversalmente contribui
apenas que se engajar, mas enfrentar a para transições civilizacionais, desde
lógica dominante de insustentabilidade uma existência tóxica para uma cura-
e desfuturização23. tiva. Essa reorientação exigirá muito
trabalho e só lentamente os designers
- 13) Projetar pluriversalmente implica
pluriversais descobrirão o potencial
compreender que é necessário ir além
considerável de agir a partir da interde-
da gramática de “problemas” e “solu-
pendência e do cuidado.
ções”, particularmente no que se refere
aos desafios civilizacionais, como as mu- - 17) Projetar pluriversalmente tem como
objetivo geral mobilizar uma nova for-
ma de ‘habitar’ a Terra25.

REFERÊNCIAS
Some of the main works associated with
1 Arturo Escobar, “Habitability and Design: this turn include Simone, AbdouMaliq,
Radical Interdependence and the and Edgar Pieterse. New Urban Worlds.
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(2019): 132-140, 2019, p. 132. U.K: Polity Press, 2017; Simone,
2 Amin, Ash, and Nigel Thrift, Seeing Like a City. AbdouMaliq. Improvised Lives. Rhythms of
Endurance in an Urban South. Cambridge:
Polity Press, Cambridge, UK, 2019, p. 31;
Polity, 2019.

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SOBRE O METROFITTING ONTOLÓGICO DAS CIDADES

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4 Forlano, Laura, “Decentering the Human
12 Adoto o termo ‘terraformar’ (re-earthing)
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and Planning Washington, DC: Island
and Design.” She-ji. Journal of Design,
Press, 2011, and Handbook of Biophilic
Economics, and Innovation 3(1): 16-29,
City Planning and Design, Washington,
2017.
DC: Island Press, 2016, embora o
5 Tony Fry, City Futures in the Age of a Changing empregue em uma forma ontológica
Climate, London: Routledge, 2017; explicíta. Beatley observa uma certa
Saskia Sassen, Expulsions. Brutality and noção naturalizada de natureza
Complexity in the Global Economy, Harvard enquanto separada dos humanos e, em
University Press, Cambridge, 2014. função desse enfoque, sua proposta não
6 Terry Winograd and Fernando Flores, explora integralmente a possibilidade
de visões de ‘re-formatação’ baseadas na
Understanding Computers and Cognition
interdependência radical. O mesmo pode
(Norwood, NJ: Ablex, 1986), p. xi.
ser dito, se considerarmos sua totalidade,
7 Anne-Marie Willis, “Ontological Designing: do manual de ecologia urbana editado por
Laying the Ground,” Design Philosophy edited by Ian Douglas et al., The Routledge
Papers 13, no. 1 (2006), p. 80. Handbook of Urban Ecology (London:
8 In Sennett, Richard, and Joan Clos, “A Routledge, 2021). Há uma necessidade de
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Conversation,” in UN Habitat and Richard
do não-humano específico das cidadeds,
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70 ||ASTRAGALO Nº 30 | Septiembre, September, Setembro 2022 | Introduction to the issue | ISSN 2469-0503
Arturo Escobar

Transitions.” Globalizations, in press. 19 Esta é apenas a síntese de um argumento

14 de Jong, Afaina. The Multiplicity of Others. muito mais extenso. Para um conjunto
complete de referências ver Escobar,
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Arturo. “El pensamiento en tiempos de
for the 17th International Architecture
pos/pandemia”. In Olver Quijano, ed.,
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2018. Designs for the Pluriverse: Radical
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Architecture Exhibition. La Biennale
of Worlds. Durham: Duke University Press;
di Venezia (2021). https://whoiswe.nl/
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We? The Dutch Pavilion for the 17th
International Architecture Exhibition. 20 As noções de projeto de vida e de comunidades
La Biennale di Venezia (2021). https:// do lugar são encontradas na literature
whoiswe.nl/works#solomon-multispecies- ativista latino-americana, assim como
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16 Harold Martínez Espinal, Del hábito, al hábitat Designs (Cambridge: MIT Press, 2015)
and Politics of the Everyday (London:
y al habitar (Cali: Editorial Universidad del
Bloomsbury, 2019). The term “design
Valle, 2016), 22. A íntegra da proposta de
coalitions” is also Manzini’s.
design e arquitetônica pode ser encontrada
em Grupo CU:NA, La fusión campo-ciudad 21 Hester, Randolph. “Reattach! Practicing
desde un nuevo concepto de vivienda (Cali: Endemic Design,” in Lynn Manzo Patrick
Editorial Universidad del Valle, 2021), Devine-Wright (eds). Place Attachment.
coordenada por Harold Martínez e a London: Routledge, 2021, p. 208.
arquiteta Verónica Iglesias García. Ver 22 Eu desenvolvi esse conjunto de proposições
Escobar, “Habitability and Design” (2019)
com Marisol de la Cadena. Ver de la
para uma discussão mais ampla. Martínez
Cadena, Marisol, and Arturo Escobar.
Espinal realizou um programa de pós-
“Notes on Ontological Excess: Towards
graduação no Bouwcentrum Rotterdam.
Pluriversal Designing.” In Martín Tironi,
17 Harold Martínez Espinal, Habitabilidad ed. Resonancias tectónicas desde el Sur:
terrestre y diseño. Universidad del Valle, Del diseño centrado en el usuario al
Cali, 2013, p. 156. diseño centrado en el planeta”, In press.
18 Harold Martínez Espinal, Del hábito, al hábitat See also Escobar, Osterweil and Sharma,
Designing Relationally.
y al habitar, 21.
23 Fry, Tony. Defuturing. A New Design Philosophy.

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SOBRE O METROFITTING ONTOLÓGICO DAS CIDADES

London: Bloomsbury, 2021. Flores, Terry Winograd, Don Normal.


24 Akomolafe, Bayo. “What Climate Collapse B. Scot Rouse, and Arturo Escobar,
reunidos em torno dos insights formativos
Asks of Us” 2020. https://bayoakomolafe.
de tecnologia e design de redes de
net/project/what- climate-collapse-asks-
computadores (originalmente formulados
of-us/
em livro de 1986 de Winograd and Flores,
25 Esta formulação guia o trabalho corrente de Understanding Computers and Cognition. A
um pequeno grupo que inclui Fernando New Foundation for Design.

Vacíos Sistólicos 14

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