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22/01/2024, 23:36 Antropologia urbana

ANTROPOLOGIA URBANA
UNIDADE 3 - ANTROPOLOGIA DA CIDADE E
ANTROPOLOGIA NA CIDADE: A
ANTROPOLOGIA URBANA BRASILEIRA NAS
Ú LTIMAS DÉ CADAS – ANOS 1970 A 1990

Autoria: Fá bio Costa Juliã o - Revisã o técnica: Rita de Cá ssia da Silva Leã o

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Introdução
Olá, estudante!
Agora você conhecerá alguns trabalhos antropoló gicos cujo foco são reflexõ es e pesquisas acerca do espaço
urbano, a chamada antropologia da cidade, que apresenta trabalhos etnográficos que se desenrolam no espaço
urbano. Apó s essa discussão inicial, você poderá conferir algumas pesquisas antropoló gicas realizadas no
Brasil entre 1950 a 1970, que não dialogavam com tais nuances – uma antropologia da e na cidade. Essas
pesquisas sedimentaram um caminho para que essas distinçõ es e reflexõ es surgissem. Verificaremos as
visõ es antropoló gicas sobre o exercício de investigação etnográficas como temas como a migração rural
urbana e a organização dos movimentos sociais. Também conheceremos trabalhos que verificam o
descompasso entre as transformaçõ es políticas, que culminaram em nossa democracia, e uma crise urbana e
de sociabilidade.
A seguir, completando nosso percurso nesta unidade, você irá conhecer trabalhos que dialogam com o tema do
lazer e das sociabilidades populares na cidade.
Bons estudos!

3.1 Antropologia da e na cidade


Você já reparou na pluralidade dos trabalhos antropoló gicos sobre a cidade? E seus temas? Autores? A
antropologia – em especial a urbana – oferece um vasto campo de abordagens etnográficas, cujo foco de
realização é o espaço urbano. Mas, nas interpretaçõ es iniciais do fenô meno urbano, haviam tendências
opostas que, por um lado tratavam a cidade como um mero palco, enquanto outras tendências, marcadas pela
influência da Escola de Chicago, tornaram a cidade um objeto de investigação (CHICARINO, 2014). De qualquer
forma, é importante acrescentar ao nosso debate em antropologia urbana a noção de que essa área do
conhecimento é plural, cabendo tanto reflexõ es antropoló gicas da cidade – em que esta funciona como um
espaço para a discussão e reflexão antropoló gicas – como na cidade – investigaçõ es que se dão no espaço
urbano, realizadas a partir da abordagem e experiência etnográficas.
O antropó logo Michel Agier é representante da primeira corrente. Em um diálogo com Hannerz (2015), o autor
concorda que as cidades, surgidas na expansão da indú stria e do capitalismo global, são espaços
importantíssimos para a realização de investigaçõ es sobre cultura. Já em sua discussão com Marc Augé
(2001), demonstra que a antropologia urbana, tal qual uma “antropologia geral”, pode e realiza importantes
contribuiçõ es teó ricas e metodoló gicas para a abordagem dos fenô menos da cultura, pois na cidade:

o antropó logo encontra na investigação urbana uma fonte inesgotável de problemáticas híbridas e
complexas: pode destacar as exclusõ es ou fechamentos, [...] os encontros e aprendizagens, por
outro, mas pode também aproveitar essa complexidade para procurar o ponto de equilíbrio entre o
sentido do lugar e a liberdade do não lugar. (AGIER, 2011, p. 36)

Para Agier e Hannerz – ou mesmo, como ponto de partida na abordagem pó s-moderna de Augé –, a cidade é um
espaço significativo para a realização de pesquisas antropoló gicas, nada devendo às demais subáreas da
antropologia social. Não há na antropologia da cidade nenhum olhar apriorístico para o fenô meno urbano,
para a cidade propriamente dita, seja de ordem estatal, quantitativa ou demográfica. A antropologia urbana da
cidade se preocupa com o fenô meno humano, pois “é coisa construída, pensada, imaginada e vivida pelos
sujeitos” (LÉ VI-STRAUSS, 1996, p. 117) e, também, espaço para a realização de suas existências. As cidades
fornecem uma ampla gama de fenô menos, dentre os quais a urgência do cotidiano dos citadinos, reveladora de
suas redes de sociabilidade, tensõ es, proximidades, conflitos (CERTEAU, 1998).

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VOCÊ QUER LER?


Para entender a chamada antropologia pós-moderna, a sugestã o é a leitura do livro
Não lugares (2001), de Marc Augé . Nessa reflexã o, o autor discute o surgimento e a
expansã o dos chamados nã o lugares, em um mundo cada vez mais conectado, em que
os sujeitos nã o detê m mais relações sociais mediadas por outros seres humanos, mas
sim por artefatos, objetos ficcionais, transnacionais e transitórios. Vale a pena se
aprofundar neste assunto!

A antropologia da cidade também entende que é impossível atingir a totalidade dos fenô menos urbanos,
definida por trabalhos etnográficos tradicionais, com sociedades de pequena escala demográfica e distintas,
em sua organização social e espacial, das sociedades industrializadas, pois esses fenô menos ocorrem em
velocidade e tamanho muitas vezes inacessíveis ao etnó grafo. Aqui há a tentativa de reconstruir aspectos da
totalidade por meio de uma investigação relacional e local. O local revela modelos para pensarmos em planos
teó ricos mais estruturantes, isto é, uma totalidade, distinta daquela aprendida por etnó logos estudando
sociedades tradicionais, mas ainda um modelo explicativo válido para a compreensão dos fenô menos sociais:

[...] Face a um objeto a priori “não identificável”, o antropó logo pode reconstituir uma
representação, necessariamente “construída” de um modo indutivo – da observação à
interpretação, da etnografia à análise. Assim, por método, [...] tem necessidade de se emancipar de
qualquer definição normativa a priori de cidade para poder procurar a sua possibilidade por toda a
parte, trabalhando para descrever o processo. (AGIER, 2011, p. 37)

Na visão de Agier, assim ocorre a aproximação do antropó logo com o fenô meno urbano, pois ao buscar
investigar e realizar uma antropologia da cidade, procura-se entender o seu funcionamento a partir dos
sujeitos com os quais o investigador dialoga, trazendo à tona suas representaçõ es de mundo e a maneira na
qual vivem o seu dia a dia, influenciados por este modo de vida: urbano, industrial e transnacional.
A outra abordagem antropoló gica – igualmente interessante sobre o fenô meno urbano, uma antropologia na
cidade – tem como referência pesquisas etnográficas, que colocam a cidade como palco, com o objetivo
primordial de destacar as inú meras redes de sociabilidade, parentesco, religiosidade, ação e compreensão
política, a figura da alteridade etc. Estuda-se etnograficamente na cidade.
A crítica metodoló gica também será o cerne das pesquisas antropoló gicas na cidade. De origem hermenêutica
(GEERTZ, 1978) ou, ainda, pó s-moderna (AUGÉ , 2001), tais pesquisas trouxeram também a importante
discussão sobre a escrita etnográfica e as relaçõ es de poder presentes nos levantamentos antropoló gicos. Isso
é importante, pois inverte as preocupaçõ es metodoló gicas da centralidade da observação participante,
declarando o compromisso e o envolvimento social que o cientista social teria com o grupo analisado

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(ECKERT; ROCHA, 2013). Já Clifford Geertz é uma referência para os antropó logos urbanos da segunda
tendência. De uma antropologia na cidade, ele discutiu o alcance da observação e descrição etnográficas,
criticando a tentativa de tornar aldeias cidades de menor escala, e afirma: “[...] Os antropó logos não estudam
as aldeias [...], eles estudam nas aldeias” (GEERTZ, 1978, p. 32-33).
Assim, a antropologia da cidade e na cidade trata de fenô menos singulares, que tem no espaço urbano seu
local de realização, acompanhando, observando, descrevendo a urbanidade e seus habitantes, citadinos ou
ainda recém-chegados, em toda a sua diversidade; um espaço infindável para a realização da ciência
antropoló gica na busca da alteridade e dos sentidos que esses outros dão às suas existências, ú nicas e
singulares.

3.2 Pesquisas antropológicas em cidades brasileiras: anos


de 1950/1960 – Migração, família e mobilidade social
A industrialização brasileira possibilitou uma intensa urbanização, que de 1950 a 1970 concentrou-se
principalmente no Centro-Sul brasileiro, ao redor do eixo Rio-São Paulo. Tal processo ocorreu diante de uma
profunda desagregação da economia de subsistência camponesa e de mudanças produtivas radicais, que
envolviam setores economicamente mais arcaicos, como a agroexportação monocultora da época. Os
excedentes populacionais – expulsos de suas atividades tradicionais de subsistência e sem a possibilidade de
serem absorvidos enquanto mão de obra nesses setores mais atrasados da economia – partiram rumo às
cidades, acompanhando as vicissitudes do crescimento econô mico dos polos mais dinâmicos da economia
brasileira. Tal mão de obra, abundante, logo é empregada nos mais diversos empreendimentos, sejam
industriais ou comerciais, expandindo e consolidando o nosso fenô meno de urbanização que, assim como a
pró pria industrialização, é tardia (FERNANDES, 2008).

Figura 1 - Rua de comércio popular nos anos 2000 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Fonte: Maila Facchini, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: a imagem apresenta uma rua com construçõ es de cores diversas. No térreo dessas construçõ es
há lojas de roupa, entre outros estabelecimentos, além de diversas pessoas transitando na rua, o que sugere
um centro urbano.

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Todas as capitais brasileiras foram alvo de movimentos migrató rios, seja de seu entorno mais imediato ou,
ainda, de populaçõ es de outros estados brasileiros, promovendo crescimento urbano, assim como conflitos
entre os moradores mais velhos e os recém-chegados.

VOCÊ QUER VER?


Sobre antropologia urbana e suas diferentes linhas de pesquisa e debates, a sugestã o
é a sé rie documental Narradores urbanos: antropologia urbana e etnografia nas cidades
brasileiras (2008), que conta com a participaçã o de pesquisadores que se propõem a
discutir a problemá tica urbana. Em um dos capítulos há a contribuiçã o de Ruben
George Oliven, antropólogo e professor na UFRS, que analisa os contrastes que marcam
a vida urbana, em particular a cidade de Porto Alegre. Em sua fala, ele destaca as
inú meras transformações urbanas e o lugar que a antropologia urbana teve no
processo de aná lise dessas mudanças. Disponível em: https://vimeo.com/81013872
(https://vimeo.com/81013872). Acesso em: 18 jul. 2020. Vale a pena se aprofundar
neste assunto!

Inicialmente, a migração começou a ocorrer principalmente pela fuga de jovens solteiros que, ao se
ambientarem nos novos espaços e minimamente fixar-se, retornaram à sua terra natal, trazendo as famílias ou
constituindo-as em seu retorno. Algo comum foi a vinda de famílias inteiras, principalmente nordestinas, para
os grandes centros industriais, com deslocamento por meio de transporte rodoviário ou ferroviário precários,
como os popularmente conhecidos “paus de arara” (DURHAM, 1973).

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Figura 2 - Transporte irregular, o chamado pau de arara, ainda utilizado no Nordeste brasileiro
Fonte: Valter Campanato, Wikimedia Commons, 2006.

#PraCegoVer: na imagem há a foto de uma caminhonete levando pessoas na caçamba. O fundo da imagem
apresenta um lugar árido, com plantaçõ es secas e terra de chão batido.
A família nordestina, em sua maioria camponesa, é migrante e, ao partir para a cidade, torna-a a metró pole que
conhecemos. Segundo Florestan Fernandes (2008), todas as mudanças no espaço rural em desagregação –
diante da urbanização e da rápida industrialização de importantes regiõ es brasileiras – marcaram de forma
indelével os aspectos da modernização brasileira. As mudanças sociais trouxeram em seu bojo as principais
características de seu capitalismo tardio, preso a um passado hierárquico, personalista, escravocrata e, diante
da nova realidade que se impunha, o capitalismo mundial, conforme as características da sociedade de classe
moderna, ao mesmo tempo subdesenvolvida e dependente dos polos mais dinâmicos do capitalismo
vitorioso (FERNANDES, 2008, p. 21-26).
Diferentemente do que se pensava na época sobre migração, não há a diluição dos laços familiares nesse
processo, mas em grande parte fortalecimento, reforçando inicialmente os laços da vizinhança nos bairros
populares igualmente carentes de serviço formados durante o processo de chegada à cidade (FRY, 2004). Os
pesquisadores brasileiros, entre as décadas de 1960 e 1970, romperam com as análises hegemô nicas da
Escola de Chicago, observando que no caso brasileiro não houve dissolução da experiência migrante em uma
miríade de indivíduos. Pelo contrário, a migração e seu estímulo para “fazer São Paulo” – e, imagina-se, outros
centros urbanos mais dinâmicos da economia brasileira – ocorreu graças à manutenção e ao investimento dos
vínculos familiares, responsáveis por refazer o urbano sem destruir por completo sociabilidades surgidas no
mundo rural nordestino, como demonstra a antropó loga Eunice Ribeiro Durham (DURHAM, 2004).

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VOCÊ O CONHECE?
Eunice Durham, antropóloga e cientista política, possui formaçã o em ciê ncias sociais,
tendo realizado toda a sua trajetória na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciê ncias
Humanas da Universidade de Sã o Paulo, a FFLCH-USP. Concluiu seu doutorado em
1967, orientada por Egon Schaden. Estudou inicialmente a imigraçã o italiana, na
tentativa de compreender o peso da família e da organizaçã o de parentesco na
ambientaçã o dos novos espaços dos recé m-chegados. A seguir, continuou a estudar
movimentos populacionais, mas passou a se concentrar na migraçã o nacional,
principalmente nordestina, que viria a conformar parte integrante do cená rio de
transformações urbanas e sociais das ú ltimas dé cadas.

Para Durham, dialogando com autores como Simmel ou, ainda, pesquisadores da Escola de Chicago, na
urbanização brasileira não ocorrera nenhuma ruptura brusca entre a passagem do rural para o urbano, mas
sim um ajustamento do migrante frente às novas condiçõ es de vida na cidade:

[...] A incorporação na vida urbana, em oposição à vida rural, não se caracteriza, como parece
pensar Wirth, pelo desaparecimento da família e do parentesco que são substituídos por
instituiçõ es especializadas, educacionais, sanitárias, recreativas, etc. (WIRTH apud DURHAM,
1949). Em primeiro lugar, porque o homem rural não está necessariamente fora do alcance dessas
instituiçõ es. E em segundo lugar, porque na cidade não é necessariamente o indivíduo, mas
frequentemente a família que delas usufrui. (DURHAM, 1973, p. 215)

Durham ainda criticou os estudos de comunidade, realizados entre 1930 a 1950, alargando suas
contribuiçõ es. A autora verificou que a passagem de um universo rural e sua dissolução não representaria o
seu completo desaparecimento, pois as relaçõ es sociais dos sujeitos que partiram para a formação das
grandes cidades brasileiras foram modificadas, assim como houve mudanças significativas na antiga
comunidade rural, que passou a receber parte dos parcos ganhos salariais obtidos em sua nova condição de
assalariado urbano. Há também os valores predominantemente urbanos, que penetravam cada vez mais nos
antigos povoados, seja por viagens de retorno ou pelos modernos meios de comunicação de massa.

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Figura 3 - Luiz Gonzaga, importante cantor popular brasileiro que fez sucesso entre os migrantes
nordestinos do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde morou
Fonte: Arthur Matsuo, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: na imagem há uma estátua de bronze do cantor Luiz Gonzaga, o Gonzagão, sorrindo, com um
chapéu nordestino na cabeça e tocando sanfona.
Durham ainda argumenta que a migração, principalmente a nordestina para muitas famílias, representou um
processo de ascensão social, negado no campo. Tal ascensão é percebida pelas famílias, pelas modificaçõ es de
suas relaçõ es de trabalho e pelo acesso ao salário que, mesmo pequeno, conseguiu oferecer melhores
condiçõ es de vida em relação à antiga no campo. Para esses trabalhadores e sua família, são símbolos da
superioridade da cidade em relação aos seus antigos povoados rurais:

[...] Mas, se o migrante consegue empregar-se ou empregar a família, ganhando o bastante para
sobreviver e se reproduzir, passa a gozar de um nível de vida que por mais ínfimo que seja, é em
geral superior ao que gozava na zona rural. Isto porque o viver na cidade é possível devido a
padrõ es de consumo que são “luxo” para o trabalhador agrícola. Trabalhar e viver implicam em
adquirir artigos manufaturados [...] que são inacessíveis ao homem do campo. (DURHAM, 1973,
p. 217)

Vários elementos ainda são apontados por Durham em entrevistas e observaçõ es realizadas com
trabalhadores do mundo rural brasileiro, principalmente do agreste e semiárido nordestinos. A possibilidade
de os filhos ascenderem socialmente – tendo acesso a uma estrutura de educação inexistente em suas regiõ es
natais e à introjeção de valores típicos da cidade e do status – representaria a obtenção de bens de consumo,
antes inacessíveis. A natureza do trabalho, distinta do serviço pesado realizado originalmente no campo, seria
vista como “atividades limpas e leves”. (DURHAM, 1973, p. 218-220)

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VOCÊ QUER VER?


Sobre antropologia urbana e suas diferentes linhas de pesquisa e debates, a sugestã o
é a sé rie documental Narradores urbanos: antropologia urbana e etnografia nas cidades
brasileiras (2008), que conta com a participaçã o de pesquisadores que se propõem a
discutir a problemá tica urbana. Em um dos capítulos há a contribuiçã o de Eunice
Durham, antropóloga e professora da USP, que analisa a migraçã o nordestina e as
transformações sociais que possibilitaram o surgimento da sociabilidade popular na
megalópole paulista. Disponível em:
(https://vimeo.com/31499753)https://vimeo.com/31499753
(https://vimeo.com/31499753). Acesso em: 18 jul. 2020. Vale a pena se aprofundar
neste assunto!

Outro ponto importante na obra de Durham (2004) é a sua crítica dos “dois Brasis”: um atrasado, geralmente
associado ao campo e ao mundo rural; o outro, moderno, polo de atração de um capitalismo vigoroso. Para a
antropó loga, o que chamamos de atraso e modernidade são duas pontas de um mesmo processo, de
consolidação de um mesmo país em que os polos mais “atrasados” são parte integrante do processo que
possibilita a acumulação capitalista, e que sem tais atrativos se veria ameaçado em parte em seus objetivos.
De acordo com essa ló gica, o que alimentaria a “modernidade” brasileira e seu processo de desenvolvimento
seria aquilo de mais arcaico e atrasado nas relaçõ es políticas, sociais e econô micas:

[...] Volta-nos à memó ria uma entrevista que realizamos com um migrante na Favela do Vergueiro,
então inundada. Vivendo num barraco miserável e desempregado, quase sem ter o que comer,
afirmava sem hesitação que em São Paulo “era muito melhor” do que na Bahia, de onde vinha.
Desse modo, o que as entrevistas revelam, não é tanto o “sucesso” da realização de um modo
urbano de vida, mas a falência de uma sociedade rural em desintegração. (DURHAM, 1973, p. 222)

Assim, a cidade – a grande cidade brasileira, onde São Paulo ocupa papel de destaque – é um espaço de
sociabilidade que se constitui em um continuum rural urbano, em que ocorrem mudanças sociais
significativas que fazem surgir o Brasil contemporâneo, principalmente nas periferias desassistidas, que terão
de suportar o aporte desse significativo incremento demográfico que alimentou o crescimento econô mico
brasileiro durante os anos de chumbo da Ditadura Militar.

3.2.1 Anos de 1970/1980: classes populares, periferias, movimentos sociais e a


luta pela democracia no Brasil

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Em relação aos movimentos sociais na antropologia urbana, como afirma Durham (2004, p. 283), interessa
“uma abordagem de dentro” desses movimentos. Tal abordagem, tipicamente antropoló gica, se prima pelo
acompanhamento dos movimentos sociais, realizados sob a perspectiva etnográfica.
Segundo Durham (2004), há uma multiplicação de movimentos sociais no Brasil, em especial aqueles
localizados no espaço urbano, como movimentos de moradia, de acesso a serviços como asfalto, educação,
saú de, transporte e limpeza pú blicas, entre outros, demostrando a enorme importância que adquiriram nas
ú ltimas décadas para a construção de uma cidadania vivenciada na luta e reafirmação pelos direitos sociais
das mais diversas identidades. Algumas das importantes características desses movimentos é a
heterogeneidade social e a participação política, que ocorrem fora do universo político-partidário mais
tradicional, composto por partidos e sindicatos, tecendo relaçõ es de repú dio, mas também de diálogo e
complementariedade. (DURHAM, 2004, p. 283)

Figura 4 - Morro Santa Marta, comunidade no Rio de Janeiro


Fonte: Skreidzeleu, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: a imagem apresenta um panorama do Morro Santa Marta, ocupado em sua maior parte por
barracos e sobrados populares supercoloridos: intervenção paisagística dos pró prios moradores. Ao fundo há
um pô r do sol laranja, com árvores e o Cristo Redentor.
A análise antropoló gica para Eunice Durham demonstra os significados da atuação e a participação política
vista por esses atores sociais – participantes desses inú meros movimentos sociais –, captando suas
representaçõ es sociais acerca de suas lutas e demandas. O que importa é a maneira como os sujeitos
ressignificam suas lutas e conflitos. A correta interpretação das açõ es dos movimentos sociais afasta a um só
tempo visõ es simplistas, que veem os movimentos sociais como “formas inferiores de mobilização” e que,
necessariamente, deveriam vir a “evoluir para formas mais amplas e satisfató rias de ação política”, criticando
vertentes do debate socioló gico de sua época. (DURHAM, 2004, p. 284)
Para Eunice Durham (2004), os movimentos sociais não têm suas origens apenas marcadas pela repressão
política da época dos militares, sendo também parte constituinte de uma luta por melhores condiçõ es de vida,
principalmente nas periferias das grandes cidades, formadas durante o processo migrató rio verificado entre os
anos 1960 e 1970. Durham ainda desmistifica várias teses, incluindo a de que os movimentos sociais se

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organizam unicamente contra a pauperização (DURHAM, 2004, p. 284-287). A participação popular em


movimentos sociais independe de fatores exclusivamente determinados por elementos políticos ou pressão
econô mica:

[...] movimentos sociais constituem uma forma específica de mobilização popular com espaço
pró prio, diverso daquele ocupado por partidos e sindicatos. Podemos supor também que esse tipo
de movimento talvez corresponda a transformaçõ es recentes da sociedade industrial capitalista, e
que a mobilização crescente da sociedade que parece caracterizar o momento atual se dá tanto
pela criação de novas formas de atuação quanto pelo fortalecimento das anteriormente existentes.
(DURHAM, 2004, p. 284)

Eunice Durham amplia nossa visão a respeito dos movimentos sociais saindo da ó rbita de uma análise
exterior desses movimentos para a inclusão de uma perspectiva voltada à alteridade que a análise
antropoló gica conduz, verificando que os movimentos sociais e, principalmente, a ação política popular
podem ser tanto movimentos pela defesa de um padrão de vida já alcançado – contra a pobreza e baixos
salários, por exemplo –, como também a luta pelo atendimento de novas demandas surgidas pela vida na
cidade grande ou pela noção, vivenciada por atores, de maior participação política e acesso, confronto e
diálogo com os espaços políticos existentes, encarados muitas vezes como insuficientes para as demandas
desses grupos organizados.
Para além de movimentos sociais de caráter popular, há também outros, relacionados à urgência de pautas
identitárias das mais variadas, como as de gênero, sexualidade, étnico-raciais ou, ainda, os movimentos
ambientalistas, fruto da urgência de um desejo de ampliar as noçõ es de cidadania e o alargamento das
experiências sociais. É para suprir as “carências coletivas”, com a obtenção e fruição de direitos, que esses
grupos se organizam e lutam, experenciando a realidade social e recriando a noção de espaço pú blico na
sociedade. (DURHAM, 2004, p. 286-294)
A partir de uma perspectiva antropoló gica, Ruth Cardoso (2011) – em sua trajetó ria de pesquisas realizadas
sobre movimentos sociais e grupos populares – verifica que o surgimento e a expansão do fenô meno dos
movimentos sociais nos anos 1980 demonstram uma forma distinta de pensar e praticar a atividade política.
A maneira que esses grupos se apropriam das atividades políticas e as ressignificam em suas lutas mostram a
visão nativa de comunidade. Segundo Cardoso (2011, p. 239), o termo comunidade, nesse sentido, é utilizado
nas mobilizaçõ es, tanto pelas lideranças quanto pelos demais participantes, para tornar positiva sua
participação e ação política, distinta e distante de termos que podem soar aos ouvidos como depreciativos
e/ou igualmente desrespeitosos:

[...] E tudo isso pode ser feito porque ela [a comunidade] realmente traduz uma ideia de igualdade,
que não está naquilo que costumávamos procurar nas relaçõ es de produção, na situação
econô mica etc. mas me parece que está no compartilhar uma experiência comum, o que é muito
diferente do compartilhar uma posição no sistema produtivo. (CARDOSO, 2011, p. 239)

Ruth Cardoso também demonstra a heterogeneidade desses movimentos sociais, base para a sua riqueza,
amplitude e ressignificação da ação política, nos quais os atores sociais – engajados na defesa de sua
comunidade – pleiteiam toda uma sorte de serviços pú blicos e possibilidades de exercício da cidadania,
inexistentes na ação política brasileira até meados dos anos 1980 (CARDOSO, 2011). Evidentemente, a reflexão
antropoló gica remete a uma noção de comunidade enquanto noção nativa, distinta do conceito de comunidade
utilizado nas ciências sociais pelos pesquisadores de Chicago:

[...] Quer dizer, a criação dessa possibilidade de ação conjunta tem que estar baseada na ideia de
que as pessoas compartem uma experiência comum e de que, a todo custo, continuam a criar uma
experiência que é comum e que não é diversificada. (CARDOSO, 2011, p. 242)

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Todavia, não há dú vida de que os movimentos sociais, particularmente os populares, também são açõ es de
luta e desafio aberto aos modelos de gestão econô mica e política dominantes, sendo contra-hegemô nicos em
vários sentidos, mas existem e, por vezes, se esgotam, quando suas demandas são minimamente satisfeitas.
Cardoso ensina a pensar os movimentos sociais, principalmente os mais populares e reivindicativos sob um
duplo prisma, pois “pretende, ao mesmo tempo, lutar pelo reconhecimento de seus direitos como cidadãos e
viabilizar suas demandas, diminuindo suas carências”. (CARDOSO, 2011, p. 256)
Desse modo, antropologicamente, deixamos de mistificar a ação de movimentos sociais ou projetar nessas
açõ es a vanguarda de movimentos ainda maiores, de obliteração e revolução da sociedade existente.
Compreender os movimentos sociais, a ação de grupos ou classes populares, sob os seus pró prios termos, é
demonstrar suas visõ es acerca do que é justo, ético e democrático nas relaçõ es entre os setores que não têm
diálogo direto com o Estado e aqueles outros que, por sua vez, detêm o poder de decisão e execução de
políticas pú blicas minimamente capazes de satisfazer seus inú meros anseios. Os movimentos sociais acabam
obrigando-os a reconhecer em suas açõ es espaços legítimos para os oprimidos e suas demandas, uma
cidadania construída na ação e na luta.

VOCÊ SABIA?
Ruth Vilaça Correia Leite Cardoso ou, simplesmente, Ruth Cardoso (1930-2008)
foi uma importante antropóloga e professora universitá ria brasileira, alé m de ter
sido primeira-dama, esposa de Fernando Henrique Cardoso – que se manteve na
Presidê ncia da Repú blica de 1995 a 2003. Sua á rea de pesquisa inicial trata
sobre a imigraçã o japonesa e sua ambientaçã o em Sã o Paulo, tema que retomou
no doutorado, orientado por Eunice Durham. Ruth Cardoso foi, ao lado de Eunice
Durham, uma das pioneiras no estudo antropológico dos movimentos sociais
organizados na periferia de Sã o Paulo.

Os anos 1980 foram pró digos de promessas para o Brasil que, mesmo em profunda crise econô mica e social,
ainda caminhou com percalços, avanços e recuos para a sua redemocratização, tais como a eleição de
governadores da oposição ao Regime Militar, com o retorno dos exilados políticos, a transição política
pacífica dos anos de autoritarismo para governos civis, a atuação de movimentos sociais – em especial os
movimentos pelas Diretas Já e as greves do ABC Paulista, com autonomia sindical –, a reorganização de um
sistema pluripartidário e, finalmente, a organização de uma Assembleia Nacional Constituinte, que culminou
na nova Constituição, de 1988, a constituição cidadã.
Todavia, tais sentimentos e processos, legítimos, não convergiram na reorganização plena da democracia. A
abertura política e a construção de elementos base da retomada do pleno exercício da cidadania não
encontraram eco na vida cotidiana da maioria dos brasileiros. O saldo da crise econô mica e social que os
militares deixaram para a sociedade brasileira pode ser verificado em alguns aspectos.

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No aumento da violência.

No aumento da crise humanitária.

No desrespeito aos elementos mais significativos da democracia.

É nessa chave que encontramos inú meros trabalhos, incluindo a importante pesquisa realizada por Teresa
Pires do Rio Caldeira, Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo (2000), que aborda como a
violência e o medo, articulados à crise da jovem democracia brasileira, reforçaram um imaginário sobre o
outro, criando e recriando discursos de segregação e evitamento social generalizado, marcando nossa
experiência urbana contemporânea com recursos de segurança privada e de vigilância, que só fazem aumentar
o abismo entre ricos e pobres, limitando o espaço pú blico e alargando práticas e discursos que legitimam a
violência, em especial a violência policial contra segmentos marginalizados da sociedade.
A mudança na fruição da cidade brasileira e as modificaçõ es espaciais produziram certo esvaziamento na
dicotomia entre áreas centrais e periféricas. Outras mudanças significativas acarretaram no reforço de uma
vida marcada pelo consumo de espaços e serviços privados por aqueles que evidentemente podem adquirir
tais serviços. Há shoppings, escolas privadas, clubes, condomínios fechados, muros cerrados e erguidos – em
relação a um mundo considerado caó tico e extremamente violento –, mas também há a total descrença na
capacidade do Estado de dar um fim na violência crescente, representando o esvaziamento da noção de espaço
pú blico.
Todas essas mudanças analisadas que fazem parte da sociedade brasileira, em meio à abertura e consolidação
da democracia, acabam por reforçar valores como a disciplina, a vigilância dos indesejáveis e a desigualdade,
escondida sob um discurso meritocrático. Esses fatores só fazem aumentar a injustiça, a violência e a
percepção da violência presentes no cotidiano de todos os brasileiros, não importando sua origem
socioeconô mica. Assim ocorre proximidade geográfica entre grupos de renda completamente distintos, o que
não impede cada vez maior distância social, reforçada por equipamentos de segurança e reforço à segregação
pura e simples.

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Figura 5 - Paraisó polis e, ao lado, mansõ es e coberturas de luxo do Morumbi, um dos bairros de maior poder
aquisitivo de São Paulo
Fonte: Caio Perdeneiras, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: a imagem apresenta, à esquerda, a comunidade de Paraisó polis, cercada por casebres e
barracos humildes. À direita, a pouca distância, há um ostentoso prédio branco com apartamentos com
piscinas e entre os dois, árvores, como forma de separar e dar contraste às classes.
A crise política, econô mica e social brasileiras, mesmo com a democratização, afeta a sociabilidade dos
sujeitos, cada vez mais enclausurados. No imaginário de Teresa Caldeira, a autora chama de “a fala do crime”
(CALDEIRA, 2000). Tal discurso se manifesta tanto entre grupos de alto poder aquisitivo que, por sua vez,
reforçam os elementos de segregação e evitamento de bairros e pessoas consideradas criminosas ou
“bandidos em potencial”, como pessoas de baixa renda, moradores de periferias – que, ao seu modo, também
aumentam os muros de suas casas, sobrados ou barracos na esperança de não perder seus poucos bens e a
dignidade que lhes resta. Medo, insegurança, preconceito, discriminação, racismo e o esvaziamento dos
espaços pú blicos acabam edificando uma cidade avessa aos ideais iluministas de sociabilidade:

[...] Em geral, grupos que se sentem ameaçados com a ordem social que toma corpo nessas
cidades constroem enclaves fortificados para sua residência, trabalho, lazer e consumo. Os
discursos sobre o medo que simultaneamente legitimam essa retirada e ajudam a reproduzir o
medo encontram diferentes referências. Com frequência, dizem respeito ao crime e especialmente
ao crime violento. Mas eles também incorporam preocupaçõ es raciais e étnicas, preconceitos de
classe e referências negativas aos pobres e marginalizados. (CALDEIRA, 2000, p. 9)

Desse modo, a fala do crime é uma representação social e um discurso legitimador da segregação, fruto da
democracia, combalida, e da sociabilidade urdida na violência estrutural; antes contra o escravo, agora contra
qualquer um que represente o estereó tipo do bandido. A fala do crime ainda é a perpetuadora dessa estrutura
perversa, que dissolve as relaçõ es sociais, esvazia o espaço pú blico e determina limites claros à cidadania,
substituída por valores ligados ao consumo e ao universo do privado (CALDEIRA, 2000).

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VOCÊ QUER LER?


Para aprofundar seu conhecimento sobre a crise de sociabilidade, do espaço pú blico e
da própria democracia brasileira, refletida em nossa maneira de vivenciar a cidade
moderna, a sugestã o é a leitura do livro Cidade de muros: crime, segregação e cidadania
em São Paulo (2000), de Teresa Caldeira. Vale a pena se aprofundar neste assunto!

O aumento da violência, sentido e vivenciado a partir da “fala do crime” não é mera demagogia. Esse aumento
reflete a dificuldade do Estado em propiciar políticas pú blicas que atuem a um só tempo contra a
criminalidade, cada vez mais complexas e organizadas, mas também contra a criminalidade difusa, que
vitimiza principalmente jovens da periferia e mulheres, especialmente a população negra. Ver a criminalidade
como um mal a ser exorcizado, em vez de ser combatida com inteligência, deslegitima a pró pria ação do
Estado, viola direitos – em especial os humanos –, erroneamente pensados como sinô nimo de “privilégio dos
bandidos”. (CALDEIRA, 2000)

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CASO
A pesquisa de doutorado de Teresa Caldeira que resultou no livro Cidade de muros:
crime, segregação e cidadania em São Paulo (2000), já citado, surgiu em um trabalho
de campo anterior, realizado em um bairro da zona leste de Sã o Paulo, o Jardim das
Camé lias, em Sã o Miguel Paulista. Em suas entrevistas sobre o tema de moradia e de
melhorias que os moradores buscavam para a regiã o, surgiram vá rias conversas a
respeito da violê ncia, cujo tema era muito próximo aos discursos que a autora havia
coletado em outras pesquisas, com segmentos de maior poder aquisitivo, sobre a
cidade e a qualidade de vida. Nesses discursos havia um medo generalizado do outro,
o “nordestino”: um recé m-chegado e igualmente ameaçador, dos moradores mais
antigos da cidade. Vale a pena se aprofundar neste assunto!

Teresa Caldeira (2000) afirma que os ecos do autoritarismo da Ditadura Militar e a violência estrutural contra
o outro – aquele que é diferente do que é considerado padrão, seja pela cor da pele ou da origem geográfica e
social – constitui parte integrante de um maquinário perverso, que permite intervençõ es violentas sobre os
corpos de grupos vistos como potencialmente criminosos. Ao mesmo tempo, deslegitima suas demandas
sociais, em que contraditoriamente, durante a expansão dos direitos civis mais básicos da cidadania, há um
refluxo no respeito a esses direitos, principalmente aqueles consagrados à maioria da população trabalhadora,
negros e/ou igualmente periféricos.

3.3 Os trabalhos de José Guilherme Cantor Magnani


José Guilherme Cantor Magnani, antropó logo e professor da USP, se destacou no final dos anos 1970 estudando
o lazer entre grupos populares na periferia de Cidade Tiradentes, extremo leste da capital paulista. Magnani
começou sua trajetó ria de pesquisa estudando um circo-teatro, mas durante sua etnografia teve contato com
uma extensa rede de sociabilidade baseada no lazer desses mesmos sujeitos. Tal rede de relaçõ es perpassava
todo um conjunto de referências igualmente comum, tais como có digos de pertença à vizinhança, atividades
esportivas e uma gama de atividades de lazer que demonstravam que ali, segundo aqueles indivíduos, era o
seu “pedaço”. (MAGNANI, 2003)

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Figura 6 - Vista aérea de Cidade Tiradentes, bairro do extremo leste de São Paulo
Fonte: André Bonacin, Wikimedia Commons, 2006.

#PraCegoVer: a imagem apresenta uma foto tirada do alto da Cidade Tiradentes, ora cercada por verde, ora por
construçõ es.
Mas, afinal, por que essa pesquisa é tão inovadora? Há uma tradição de interpretação marxista, muito
ortodoxa, que não observava tais fenô menos, entendendo tais manifestaçõ es culturais como desprovidas de
significação política mais ampla; portanto, desimportantes para açõ es políticas concretas que viessem a
liberar essa população mais pobre dos laços de exploração e alienação que o capitalismo produzira. Todavia,
Magnani dialogando e observando esses sujeitos concretos, começou a perceber que, para além das relaçõ es
de exploração que mantém esses e outros atores sociais na mais completa subalternidade, essas diferentes
modalidades de lazer tornavam tais sujeitos protagonistas de suas pró prias narrativas e trajetó rias na cidade.
Pertencer a um “pedaço”, ser reconhecido por todos como igual no espaço da periferia, tornaria aqueles
agentes senhores de suas açõ es, não importando a condição socioeconô mica ou a origem migrante.
O “pedaço” também demonstrou uma operação intermediária, entre a casa – local de aconchego e de relaçõ es
afetivas face a face – e a rua, particularmente aquelas destinadas ao transporte rumo ao trabalho,
principalmente no centro da cidade, onde todos efetivamente são subalternos. A rua, principalmente a do
centro da cidade, é vista como um espaço estranho e geralmente dotado de hierarquias, típicas de uma
sociedade autoritária. Um contraponto ao espaço do bairro, da comunidade, do pedaço, onde as pessoas vivem
junto aos chegados; aos colegas, parceiros, parças, manos. Segundo Magnani, “no pedaço não é preciso
nenhuma interpelação: todos sabem quem são, de onde vêm, do que gostam e do que podem ou não podem
fazer”. (MAGNANI, 2003, p. 12)

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VOCÊ QUER VER?


A dica sã o as videoaulas de professores do Departamento de Antropologia Social da
USP, José Guilherme Cantor Magnani, Heitor Frú goli Jú nior e outros convidados: “A
cidade de perto e de dentro” e “Antropologia urbana: cidades, escolas, autores”, do
canal Lab-Nau-USP, disponíveis no YouTube. Basta acessar os links:
https://www.youtube.com/watch?v=Yx93G4MJBwA
(https://www.youtube.com/watch?v=Yx93G4MJBwA) e
https://www.youtube.com/watch?v=YeW8VeILuao (https://www.youtube.com/watch?
v=YeW8VeILuao). Acesso em: 18 jul. 2020. Vale a pena se aprofundar neste assunto!

Já fora de seu pedaço, nas regiõ es centrais – por excelência, locais de trabalho –, as relaçõ es sociais são
marcadas por hierarquia, anonimato, tarefas contínuas e toda a rotina que envolve o mundo da produção e/ou
da prestação de serviços. Todavia, muitas vezes tais sujeitos se reencontram, seja em calçadõ es, nas galerias
comerciais, nas praças ou nos terminais de ô nibus e do metrô , nas idas e vindas, perambulando pelo centro ou
curtindo o local. Aqui ocorre o reconhecimento de que pertencem ao mesmo pedaço, andam e falam de forma
parecida, têm o mesmo estilo, que marca na roupa e no corpo experiências similares, pertencimento; enfim,
uma identidade quase comum. Se o pedaço não era mais suficiente para dar conta de outras relaçõ es que
aconteciam em outros espaços da cidade, com outras atividades a serem desempenhadas, Magnani (2003) –
em seu diálogo com esses atores e suas narrativas – tece outras consideraçõ es para ampliar essa rede de
sociabilidade. Daí surgem as categorias de mancha, trajeto, pó rtico, circuito, que ora se misturam ora ampliam
a noção inicial, captada na periferia pelo trabalho etnográfico:

O pesquisador fez uma pergunta e os moradores, generosamente, deram duas respostas: uma
sobre essa particular forma de desfrutá-lo na qual o que importa mesmo é o encontro, a troca, o
reforço aos vínculos de sociabilidade. (MAGNANI, 2003, p. 13)

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VOCÊ QUER LER?


Para compreender e aprofundar seus estudos sobre antropologia urbana brasileira, a
sugestã o é a leitura do clá ssico Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade
(2003), do professor e antropólogo José Guilherme Cantor Magnani. Esse foi um dos
primeiros trabalhos de antropologia urbana brasileira a discutir, por meio de uma
etnografia, a importâ ncia do lazer como elemento para compreender a sociabilidade
de trabalhadores na Cidade Tiradentes, regiã o leste de Sã o Paulo. Vale a pena se
aprofundar neste assunto!

Magnani (2003) aponta ainda a descoberta de uma periferia, mas não apenas a de estatísticas cruéis, de vielas
e becos que demonstram a total ausência do Estado ou de um planejamento urbano mais duradouro, mas uma
periferia que se torna sinô nimo de cidade, cheia de possibilidades, mas também de conflitos e contradiçõ es,
típicos de nossa sociedade. Assim, a cidade, nos relatos coletados pelo autor:

[...] é vista como o lugar de realização de um projeto de vida basicamente por meio da
possibilidade de um emprego estável, da aquisição da casa pró pria, do acesso à escola e aos
serviços de saú de. O sucesso dependeria, por um lado, da capacidade individual – “ter boa cabeça
para os estudos, “lutar”, “poupar” – e, de outro, de condiçõ es objetivas que seriam encontrados nos
grandes centros urbanos. Entre o que se espera da cidade, contudo, e o que realmente ela oferece,
há uma distância que é percebida não apenas sob a forma de carências, mas também de
distribuição desigual dos recursos e equipamentos entre “ricos e pobres”, “fracos e fortes”, “vilas
pobres e bairros bacanas”. (MAGNANI, 2003, p. 24)

Assim constitui-se o pedaço, onde ocorre a festa, o encontro, a ideia de igualdade, o futebol e o samba; onde as
ruas são feitas para as crianças brincarem, onde todos ou quase todos se conhecem pelo nome ou apelido, ora
carinhoso, ora depreciativo. Espaço onde o indivíduo se dá a liberdade de viver, embebedar-se e ser tratado
como igual, diferente das inú meras violências sofridas no caminho do trabalho e no trabalho; além das
causadas pelo Estado, pela sociedade, distante e calculista. No pedaço há emoção, fé e respeito. O pedaço é
quase como uma família, só que maior, mais abrangente e verdadeiramente inclusiva: o oposto da percepção
da cidade. (MAGNANI, 2003, p. 110-138)

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VOCÊ QUER VER?


Sobre antropologia urbana e suas diferentes linhas de pesquisa e debates, a sugestã o
é a sé rie documental Narradores urbanos: antropologia urbana e etnografia nas cidades
brasileiras (2008). que conta com a participaçã o de pesquisadores que se propõem a
discutir a problemá tica urbana. Em um dos capítulos há contribuiçã o de José
Guilherme C. Magnani com sua antropologia urbana sobre Sã o Paulo. Disponível em:
https://vimeo.com/82383771 (https://vimeo.com/82383771). Acesso em: 18 jul.
2020. Vale a pena se aprofundar neste assunto!

Magnani, todavia, não estudou apenas as redes de sociabilidade, tecidas da periferia rumo ao centro, e vice-
versa. Ele também se destacou em inú meros trabalhos e artigos, discutindo as possibilidades metodoló gicas
de realizar etnografias na cidade, cujo foco fossem os grupos populares, mas tomados sob um novo olhar, que
os dignificasse e que demonstrasse sua visão de mundo e experiência. Tais trabalhos, que buscam descortinar
e relativizar espaços sempre considerados apenas sob o prisma da violência, da segregação e da exploração
não dão conta de entender algumas das dimensõ es mais importantes da vida e da maneira como esses e
inú meros atores sociais se propõ em a vivê-la, com orgulho, altivez e perseverança.

Conclusão
As linhas teó ricas que caracterizam as pesquisas antropoló gicas realizadas no Brasil dos anos 1950 e 1960,
abordadas nesta unidade, puderam contribuir para os estudos sobre migração, família e mobilidade urbana. Já
as dos anos 1970 tratam especialmente das classes populares, da periferia e dos movimentos sociais. Percebe-
se, portanto, a importância desta área da antropologia como base para compreender o meio urbano e as novas
relaçõ es sociais construídas nesse espaço.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• Aprofundar seus conhecimentos sobre a antropologia da cidade e


na cidade, verificando diferentes abordagens antropológicas
acerca do espaço urbano e de suas infinitas possibilidades de
investigação.
• Participar de um debate com diferentes abordagens
antropológicas brasileiras, embarcando nas contribuições de

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Eunice Durham e Ruth Cardoso sobre a migração rural urbana, da


apropriação da cidade por grupos populares e da organização de
movimentos sociais.
• Ter contato com a obra de Teresa Caldeira sobre as
transformações políticas e sociais das últimas décadas, que não
corroboraram uma experiência cidadã e republicana em nossas
cidades.
• Avaliar as importantes contribuições de José Guilherme Magnani
em seu trabalho original sobre o lazer de trabalhadores da
periferia de uma metrópole e suas contribuições
metodológicas/conceituais, possibilitando pesquisar
antropologicamente a cidade.

Bibliografia
A CIDADE, de perto e de dentro (Aula 1 – Curso de extensão FFLCH-USP). São Paulo, Universidade de São Paulo,
2018. 1 vídeo (161 min). Publicado pelo canal LabNAU-USP. Disponível em:
(https://www.youtube.com/watch?v=Yx93G4MJBwA)https://www.youtube.com/watch?v=Yx93G4MJBwA
(https://www.youtube.com/watch?v=Yx93G4MJBwA). Acesso em: 21 jul. 2020.
AGIER, M. Antropologia da cidade: lugares, situaçõ es, movimentos. São Paulo: Terceiro Nome, 2011.
ANTROPOLOGIA urbana: cidades, escolas e autores (Aula 2 – Curso de extensão FFLCH-USP). São Paulo,
Universidade de São Paulo, 2018. 1 vídeo (164 min). Publicado pelo canal LabNAU-USP. Disponível em:
(https://www.youtube.com/watch?v=YeW8VeILuao)https://www.youtube.com/watch?v=YeW8VeILuao
(https://www.youtube.com/watch?v=YeW8VeILuao). Acesso em: 21 jul. 2020.
AUGÉ , M. Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus Editora,
2001.
CALDEIRA, T. P. R. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34;
Editora Edusp, 2000.
CARDOSO, R. Movimentos sociais, Estado e democracia. In: CALDEIRA, T. P. R. (org.). Obra reunida. São
Paulo: Mameluco, 2011, p. 225-269.
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CHICARINO, T. (org.). Antropologia social e cultural. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2014.
DURHAM, E. R. A caminho da cidade: a vida rural e a migração para São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1973.
DURHAM, E. R. A dinâmica da cultura. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
ECKERT, C.; ROCHA A. L. C. Antropologia da cidade e na cidade, interpretações sobre as formas da vida
urbana. Porto Alegre: Marcavisual, 2013.

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FERNANDES, F. Mudanças sociais no Brasil: aspectos do desenvolvimento da sociedade brasileira. São


Paulo: Global, 2008.
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HANNERZ, U. Explorando a cidade: em busca de uma antropologia urbana. Petró polis: Vozes, 2015.
LÉ VI-STRAUSS, C. Tristes trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
MAGNANI, J. G. C. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. São Paulo: Editora Unesp; Hucitec, 2003.
NARRADORES urbanos – Antropologia urbana e etnografia nas cidades brasileiras: Eunice Durham. Direção:
Cornelia Eckert e Ana Luiza Carvalho da Rocha. Produção: Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV). Porto
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2009. 1 vídeo (17 min). Disponível em:
(https://vimeo.com/31499753)https://vimeo.com/31499753 (https://vimeo.com/31499753). Acesso em:
21 jul. 2020.
NARRADORES urbanos – Antropologia urbana e etnografia nas cidades brasileiras: José G. Magnani. Direção:
Ana Luiza Carvalho da Rocha e Cornelia Eckert. Produção: Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV). Porto
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2008. 1 vídeo (20 min). Disponível em:
(https://vimeo.com/82383771)https://vimeo.com/82383771 (https://vimeo.com/82383771). Acesso em:
21 jul. 2020.
NARRADORES urbanos – Antropologia urbana e etnografia nas cidades brasileiras: Ruben Oliven. Direção: Ana
Luiza Carvalho da Rocha e Cornelia Eckert. Produção: Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV). Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2007. 1 vídeo (25 min). Disponível em:
(https://vimeo.com/81013872)https://vimeo.com/81013872 (https://vimeo.com/81013872). Acesso em:
21 jul. 2020.

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