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Corpo, fertilidade e reprodução entre os Pankararu: perspectivas e alcances

Chapter · January 2004


DOI: 10.7476/9788575416150.0010

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1 author:

Renato Athias
Federal University of Pernambuco
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Sexualidade, Fecundidade e Programas de
Saúde entre os Pankararu1
Renato Athias
Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre Etnicidade
Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Universidade Federal de Pernambuco

A reprodução humana, as doenças associadas à reprodução biológica e suas


repercussões sobre a saúde de homens e mulheres tem sido objeto de estudos de
diversas áreas do conhecimento. Mesmo assim, estudos relacionados a esta temática,
com um recorte nas questões étnicas, estão ainda iniciando, principalmente entre os
povos indígenas de Pernambuco. Este trabalho 2 situa-se no campo da saúde indígena,
que recentemente vem se formando como um campo disciplinar seja no âmbito da
antropologia da saúde, seja nos espaços da saúde pública ou coletiva. (Coimbra &
Santos 2000). Os aportes da epidemiologia, por exemplo, para a área da saúde
reprodutiva, datam de um período recente. Neste sentido, este texto procura construir
um argumento sobre essa questão, em base aos dados coletados na área indígena
Pankararu. Constitui-se, sobretudo de uma abordagem preliminar, longe, portanto de
propor um marco nos estudos de saúde reprodutiva entre as populações indígenas de
Pernambuco. Este trabalho pode ser visto como um texto exploratório visando ampliar
os conhecimentos nesta área, dando pistas para futuros estudos.
Como os demais nessa coletânea, este capítulo parte da premissa que existem
estratégias de reprodução distintas em grupos sociais diferentes, e que estas estão
baseadas na realidade social e ambientais onde esses grupos habitam. No caso dos
Pankararu, é um povo indígena do sertão pernambucano em contato com a sociedade
nacional há mais de e 500 anos. Os Pankararu estão estimados em mais de 5.000
indivíduos e vive numa área de terra de 14.290 hectares, próxima à margem esquerda
do Rio São Francisco. Eles são confundidos com o restante da população do sertão,
pois não falam mais sua língua, sendo o português a única língua de comunicação na
área. Ambos, sertanejos e índios, são depositários de uma cultura, outrora
completamente indígena, pois foram eles os primeiros a povoar esta região do semi-
árido.
Com isso, a nossa pesquisa mostra que as estratégias de reprodução social
estão relacionados a dois elementos significativos presentes entre populações
indígenas, habitantes do semi-árido pernambucano: a) a relação estrita com a
identidade étnica e os processos de territorialização, e b) as questões da adaptabilidade
a um ecossistema específico, neste caso à zona de caatinga do sertão pernambucano.
Até que ponto estes elementos desenvolvem um impacto na reprodução biológica e
1
Capítulo 4 do livro intitulado: Saúde, Sexo e Famílias Urbanas, Rurais e Indígenas em Pernambuco, organizado
por Russell Parry Scott, Renato Athias e Marion Quadros, Editora da UFPE, 2006.
2
Gostaria de agradecer a leitura previa e os comentários dos colegas Russell Parry Scott, Jean Langdon, Marion
Quadros, Márcia Longhi, Marina Machado e César Guimarães.
2

social, bem como, no desenvolvimento de uma sexualidade? Este trabalho pretende


oferecer elementos sobre essas questões e articular respostas às questões sobre a saúde
reprodutiva entre os índios habitantes do semi-árido pernambucano.

Até recentemente os estudos sobre a reprodução e as estratégias de reprodução


social, no âmbito da antropologia, eram vistos através de dois modelos analíticos.
Estas duas abordagens não conseguem articular o conjunto de relações socioculturais
que proporciona a amplitude e a complexidade das condições de reprodução e a
manutenção de um grupo social. Essas abordagens, apesar de referirem, como
elementos importantes, os contextos cultural e ecológico de inserção do grupo social,
deixam lacunas na análise, interpretação e representação das doenças do ciclo
reprodutivo que estão relacionadas ao espaço onde as relações sociais reproduzem-se.
Também não apontam efeitos e impactos do ecossistema no ciclo natural da
reprodução3. Durham (1982) critica o reducionismo contido neste tipo de análise. Ela
diz: que falar da reprodução das condições de reprodução deve ser muito mais amplo
e complexo do que apontar a função familiar de reprodução da força de trabalho.
Klaas Woortmann (1984) em seu trabalho, diz não mais considerar, o papel da família
para a reprodução do capital, e sim perceber o significado da articulação entre os
chamados setores informal e formal, pelo grupo doméstico, para a reprodução da
família. Aqueles estudos apoiados na tradição marxista enfatizando a reprodução das
condições de produção e aqueles com base em modelos puramente demográfico-
biológicos, dentro de um enfoque cultural.
As pesquisas sobre a reprodução geralmente dão pouca ênfase a questões
relacionadas ao meio ambiente e adaptação do grupo social aos aspectos ambientais e
ecológicos, onde se pode perceber a interação entre populações e seus respectivos

3
Outras abordagens sobre essa questão podem ser encontradas no livro organizado por Simone Monteiro e Livio
Sansone. (Org.). Etnicidade na América Latina: Um debate sobre Raça, Saúde e Direitos Reprodutivos. Rio
de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004.
3

ecossistemas. A interação de uma determinada população a um ambiente específico


agrega um número significativo de variáveis comportamentais que darão sustentação
a presença e a manutenção deste grupo social em um determinado território. As
interações entre população e os ecossistemas são, portanto, as fontes primeiras que
levam a uma construção de saberes específicos, a representação de valores, a
determinadas práticas culturais, a específicas categorias lingüísticas, a modelos de
adaptabilidade e as formas de organização social nas quais antropólogos e outros
cientistas sociais procuram traduzir e interpretar os aspectos culturais advindos dessas
interações.
Os trabalhos antropológicos que vão nessa direção apresentam duas maneiras
de explicitar essa questão: uma a) apresentando os comportamentos culturais como
parte de um sistema que inclua os fenômenos ambientais, a outra b) mostrando que os
fenômenos ambientais são responsáveis e determinam os comportamentos culturais.
Na realidade, essas duas abordagens não são contraditórias, ao contrário, estão inter-
relacionadas e são complementares. Nesse sentido, esse trabalho procura demonstrar
como as formas de ‘adaptabilidade’ dos Pankararu no semi-árido estão inseridas em
sistema mais amplo que regula as estratégias de manutenção e reprodução social.

A pesquisa entre os Pankararu procurou especificamente levantar a questão da


representação das doenças e entender o itinerário terapêutico que os índios utilizam na
busca do próprio bem-estar e no auto cuidado. Tratou-se de um estudo4 antropológico,
no qual os pesquisadores visitaram as aldeias Brejo dos Padres, Saco dos Barros,
Espinheiro, Serrinha, Carrapateira e Tapera, por períodos de 3 a 7 dias em cada visita.
Estes procuraram conviver com a população buscando uma interação em vistas a uma

4
Esta pesquisa inicialmente recebeu apoio CNPq e FACEPE, fez interface com o NUSP/UFPE, e a equipe foi
composta por Renato Athias (Coordenador), Marion Quadros, Celane Camarão, Marcela Zamboni e Luzia
Albuquerque, Polyana Benigno, Tainã El-Bacha, Juliana Lobo, Veridiana Campos, Fernando Barbosa e Karina
Leão Rodrigues do Departamento de Ciências Sociais da UFPE, em seguida a equipe incorporou ao projeto de
Pesquisa: Estilos Reprodutivos e Organizações Representativas, financiado pelo CNPq e Fundação Ford, sob a
coordenação do Prof. Parry Scott
4

melhor compreensão da representação das doenças do ciclo reprodutivo. Nesse


sentido, foram realizadas 41 entrevistas com mulheres e homens através de um roteiro
previamente elaborado e aplicado em pequenos grupos de discussão com mulheres. A
realização duma oficina sobre saúde reprodutiva com os 21 agentes indígenas de
saúde e auxiliares de enfermagem Pankararu, no inicio da pesquisa, foi importante
para entender como os programas de saúde são implantados e desenvolvidos na área
indígena. Durante esse período realizou-se um seminário de Saúde Indígena
Pankararu que contou com a participação de 61 pessoas, entre agentes de saúde,
lideranças indígenas e profissionais de saúde que trabalham na área indígena, na
Aldeia de Serrinha, em dezembro de 1999 para fortalecer a participação comunitária
na organização dos serviços de saúde. A seleção das aldeias pankararu para realizar
esta pesquisa de campo levou-nos a procurar informações e dados sobre a organização
social dos Pankararu na literatura existente e a investigar como está se dando na
atualidade.

Os Pankararu
A base da economia Pankararu é a agricultura destacando-se como principais
cultivos o feijão, o milho e a mandioca, cujas sementes vem há anos processada e
adaptadas às características do semi-árido. Existe também uma variedade de frutas
como a pinha, a banana, a goiaba, entre outras, que faz parte da organização da
produção Pankararu. Esses produtos destinam-se principalmente para o consumo
interno e parte é comercializada nas feiras das cidades vizinhas, tais como, Tacaratu,
Petrolândia, Jatobá e Paulo Afonso. A partir de 2006 os Pankararu criaram uma feira
dentro da área indígena (Brejo dos Padres) onde são comercializados os principais
produtos de consumo.
O trabalho na agricultura é desenvolvido especificamente pelo núcleo familiar,
não obstante existem outras formas da organização do trabalho, como por exemplo, o
remunerado (assalariado) e o de “meia”, modalidade utilizada tanto para o plantio de
feijão como na fabricação da farinha de mandioca. Apesar de a Terra Indígena
encontrar-se atualmente regularizada (isto é, com uma portaria do Ministério da
Justiça para a demarcação) existe um grupo significativo de índios que não possuem
terras, outros têm apenas “roçados” muito distantes do local de moradia, tendo que
caminhar, muitas vezes, mais de duas horas para chegar ao local de trabalho, pois
parte da área indígena ainda está sob o domínio de posseiros não indígenas.
Além dessas atividades econômicas referidas acima, os Pankararu possuem
animais domésticos que se constituem de pequenos criatórios. E por causa das
inúmeras secas, que ocorrem desde 1983, essa atividade produtiva está processo de
desaparecimento, uma vez que esses animais adaptados a região de serras e ao semi-
árido são difícil de serem encontrados. Entre estas, se destaca a criação de galinhas,
porcos, bodes, cabras, carneiros e ovelhas, adaptados as áreas de serras e contra-serras
da área Pankararu. Para realizar o trabalho e o transporte de bens, as famílias possuem
burros, jegues, jumentos, cavalos, ou éguas. Os animais domésticos mais possuídos
pelas famílias são os cachorros, gatos e pássaros em gaiolas.
A produção artesanal não assume grandes proporções na economia Pankararu.
Essas atividades empregam mão-de-obra predominantemente feminina. A
indumentária dos “Praiá” (saias chapéus, máscaras, usados em cerimoniais),
vassouras, sacolas, abanos e cestas são confeccionados em palha de ouricuri e a fibra
de caroá. Com a argila e barro confeccionam panelas, fogareiros, geralmente objetos
utilitários para uso próprio ou comercializado pelos índios nas diversas feiras. Uma
pequena parcela dos Pankararu realiza um tipo de trabalho assalariado fora da aldeia.
5

Estes quase sempre são trabalhos que não requerem especialização. Atualmente com a
implantação do Distrito Sanitário Especial Indígena os profissionais de saúde
indígenas estão trabalhando com salário proveniente dos recursos da FUNASA, que
juntamente com os professores indígenas formam o grupo de assalariados que vivem e
trabalham na área indígena, pois os outros assalariados trabalham fora da área
indígena.
A terra dos Pankararu situa-se entre as Serra Grande e Serra da Borborema
próxima às margens do rio São Francisco, entre os municípios de Petrolândia,
Tacaratu e Jatobá. Segundo perspectiva tradicional e corrente, o desenho da área seria
um grande circulo que tem por centro o cemitério do Brejo dos Padres, de onde parte
uma linha de uma légua de raio. Esta área indígena encontra-se encravada nos três
municípios citados. Ainda, em outra perspectiva, também segundo tradição oral,
quatro léguas em quadro de terras foram concedidas, pelo imperador Pedro II, aos
Pankararu. Existem inúmeros registros e citações em documentos oficiais que
confirmam a doação. Essa concessão de terras toma a igreja do aldeamento como
ponto central e projeta quatro linhas em cruz, para cada direção, de uma “légua de
sesmaria”, ou seja, 6.600m, totalizando dimensão de um quadrado de
aproximadamente 19.424ha. (ATLAS, 1993:38).
Registros sobre as terras dos Pankararu indicavam dois marcos geográficos,
considerados sagrados pelos índios: as cachoeiras de Paulo Afonso e as de Itaparica.
Além desses, a Serra de Borborema é extremamente importante para orientação e
histórias Pankararu, pois existem grutas e cavernas que se relacionam com os
Encantados. Relatos de índios mais velhos revelam um mito de que nas cachoeiras de
Itaparica, os ancestrais dos Pankararu, teriam sucumbido a um dilúvio e as cachoeiras
de Itaparica teriam aparecido no local exato do sepultamento de índios, e
posteriormente transformado em cemitério cristão pelos missionários. Atualmente
esses locais encontram-se submersos pelo lago da barragem de Itaparica.
É relevante a discussão acerca da territorialização, especificamente entre os
Pankararu, porque esta reflete, no sentido real, a capacidade que esse processo possui
para assegurar a sobrevivência física e a continuidade étnica dos índios.
6

Analisando a situação de intrusamento e dos conflitos das terras não será


difícil compreender as razões das precárias condições de saúde, da carência alimentar,
enfim, dos inúmeros problemas que atingem as populações indígenas na região. Além
da insuficiência da terra determinada pela ocupação e presença de posseiros e projetos
desenvolvimentistas, mesmo naquelas já regularizadas. Esse quadro é agravado pelos
períodos prolongados de secas e estiagem que atingem a maioria das áreas,
principalmente aquelas localizadas no sertão pernambucano. Por todos estes
problemas, os índios ocupam as faixas de terras que restam e que é, geralmente, a
mais difícil para uma agricultura.
A insuficiência de terra tem estimulado ainda a migração de índios Pankararu
para cidades como São Paulo. Na favela Real Parque5. Relatório da Secretaria do
Menor do Estado de São Paulo (outubro de 1990) informava a existência, já naquela
época, de 40 famílias e 80 crianças Pankararu morando na favela Real Parque,
Morumbi onde vivem em precárias condições. Recentemente outro relatório da
FUNAI apresentava o número de1000 pessoas.
Os Pankararu se organizam basicamente de acordo a duas classificações: os
troncos e as aldeias, ambas estão relacionados com a organização das famílias
Pankararu. Nesse sentido, a árvore está sendo vista como analogia. Eles se referem
também a “raiz”, os “troncos” ou “ramas”. Assim eles estão indicando uma
classificação histórica do aparecimento e do pertencimento das famílias. Porém,
quando se referem à “aldeia” estão utilizando o discurso e uma classificação espacial
das famílias. Outra maneira de explicar essa espacialização, de acordo com o Seu João
Páscoa, da Serrinha, seria verificar a linha. Pois, os “donos de barranco” entregam
uma linha de terra para o parceleiro. Esses segundo o Seu João de Páscoa, eram os
“linheiros” que vieram de fora e estavam associados aos donos de barrancos e,
portanto são estes que se misturam aos índios. A classificação dos grupos de famílias
5
O êxodo Pankararu começou no final dos anos cinqüenta, após a construção das barragens de Paulo Afonso e
Itaparica. Apesar de suas terras terem sido demarcados em 1939 (e já homologadas), diversos Pankararu se
juntaram à orla de migrantes nordestinos e vieram a São Paulo para trabalhar na construção civil. Juracilda Veiga e
Moacir Santos - Relatório sobre os Pankararu de São Paulo, FUNAI, 2001
7

em diferentes status, através da sua ligação a “troncos” familiares que se divide entre
os antigos e os novos apresentam a dinâmica de pertencimento ao grupo. Desta forma
estão operando uma dicotomia básica entre aqueles descendentes de índios “puros” e
os que descendem de índios “misturados” ou “braiados” (ou de linheiros), em
referência a uma forma de organização que é mais histórica que estrutural, e que não
corresponde a nenhuma segmentação, classes ou linhagens (Arruti 1997). Abaixo do
tronco os Pankararu localizam a família, que está diretamente vinculada ao convívio
social cotidiano, relacionado a um praiá ou a um grupo de praiás. Praia é o nome
genérico dado aos Encantados, na realidade, é a representação física do Encantado
nessa terra. Reconhece-se a vestimenta e os sinais das roupas de caroá. Cada um
possui um nome, uma história, uma família que zela pela perpetuação e das relações
com os outros praiás e um terreiro. É este convívio que dá suporte para a definição das
opções políticas das famílias. Agrupam aquelas com as quais compartilham terras
para plantar e a quem se pede ajuda com quem se compartilha a comida e o trabalho
da “farinhada”. A organização das famílias está diretamente ligada as relações com os
praiás e à disposição espacial das casas, que estão dispostas segundo duas maneiras:
agrupadas lado a lado ou em grupos de casas de uma mesma família, cuja disposição
tende à forma circular.
Essa classificação não chega a pôr em risco a identidade pankararu dessas
famílias de troncos mais novos, já que participam plenamente da divisão da terra, dos
rituais e da organização política. Também não chega a criar uma forma de organização
da sociedade, que tenha repercussão sobre as relações cotidianas ou de parentesco, a
não ser em ocasiões de disputas internas, quando pode ser usada para a faccionar e re-
classificar alguém ou uma família. A distinção de famílias por tronco não é muito
claro e surge como mais um objeto de oposições internas. Portanto, uma família está
diretamente vinculada ao convívio social diário dentro de seu espaço na área indígena
reconhecido por todos. Quando agrupadas lado-a-lado, as famílias tendem a dispor
suas casas em linha reta ao longo das principais vias de acesso internas a área.
Quando constroem em forma circular, o foco gravitacional é a casa do patriarca que,
em geral, é “pai de Praiá” ou zeladores de Praiá, como também são chamados,
realizando em seu terreiro os Torés e “obrigações” e tornando-se assim referência
religiosa para um círculo de vizinhos de extensão variável.
As famílias mais extensas mantêm uma interação cotidiana mais intensa, com
a possibilidade de compartilhar da distribuição recursos e prestígio. Estas também são
referências para a administração do posto indígena onde o “pai” ou patriarca da casa
principal serve de interlocutor privilegiado, e muitas das vezes situam-se assume o
papel de representar o interesse de todos os Pankararu. Esta interlocução lhe dá o
status de liderança.
8

Fecundidade e Sexualidade

De acordo com as informações censitárias existentes (Wong 1994) para a


segunda metade do século XX, o nordeste foi a região que experimentou a maior
queda da fecundidade em termos de números de filhos. Não existe uma pesquisa
setorial sobre a fecundidade entre os Pankararu, porém nessas duas tabelas, expostas
aqui, podemos inferir alguns elementos para esse debate sobre a queda da fecundidade
no nordeste e relacionar com as questões que envolvem a saúde reprodutiva entre os
Pankararu.
Ao comparar essas duas tabelas (2000 e 2005) podemos confirmar os dados
sobre a redução dos índices de fecundidade. Na tabela II, pode-se ser perceber essa
redução na faixa etária de 0-4 anos. Esse dado é importante para analisar o
comportamento Pankararu com relação a fecundidade e parturição. A queda da
fecundidade pode ser vista principalmente através de mudanças comportamentais, no
que diz respeito ao número de filhos.
Tabela I - Dados Censitários Pankararu, 2000. Fonte: SIASI/FUNASA
9

Anos 75=<

Entre 70 e 74 anos

Entre 65 e 69 anos

Entre 60 e 64 anos

Entre 55 e 59 anos

Entre 50 e 54 anos
Pop. Masculina
Pop. Feminina Entre 45 e 49 anos

Entre 40 e 44 anos

Entre 35 e 39 anos

Entre 30 e 34 anos

Entre 25 e 29 anos

Entre 20 e 24 anos

Entre 15 e 19 anos

Entre 10 e 14 anos

Entre 5 e 9 anos

Entre 0 e 4 anos

400 300 200 100 0 100 200 300 400

Entre os Pankararu não é mais o mesmo que nos anos anteriores. Isso foi
também notado através da entrevistas realizadas na área. No entanto, como se trata de
informações censitárias de uma comunidade indígena, nas condições em que se
encontram a situação, não se descarta as dificuldades na coleta.
Percebe-se que houve uma significativa redução no número de nascimentos
nesses últimos 5 anos. Essa observação, de certa forma, pode estar associada a queda
da fecundidade que Wong (1994) se refere em termos de Brasil, ou seja, essa redução
se deu basicamente nos anos 80 para toda a região nordeste, e que agora estaria tendo
um impacto nas áreas indígenas do sertão de Pernambuco, de acordo com nossas
observações. Demograficamente essa mudança é significativa, pois significa que o
padrão do número de filhos está tendo uma intervenção por parte de uma população
sexualmente ativa. E academicamente esse debate interessa antropologia.
Outra questão que chama à atenção na tabela I (2000) é que as mulheres na
faixa etária de 25 a 29 anos, que estão no mesmo número que os homens, continuam
na mesma proporção até a faixa etária de 35 a 39, quando os homens são
ultrapassados pelas mulheres. Em outras palavras, esses dados revelam que existem
mais mulheres na área indígena, dessa geração. Será que os homens dessa faixa etária
migraram para outras regiões para morar fora? Isto confirma o que as mulheres falam
nas entrevistas - que os homens fazem parte essencialmente da população Pankararu
que migrou. Na tabela II (2005), cinco anos após, percebe-se que a saída de homens
da aldeia não é mais significativa, como foi no passado, dando a entender que a
migração para os outros centros não faz parte de uma prática atual.
10

Esses dados populacionais colocam em evidência, e isso já fez parte de vários


estudos sobre a fecundidade entre as populações do nordeste, a transição da
fecundidade6. Os referidos estudos revelam que é muito provável que esse processo
tenha sido iniciado pelas elites nordestinas, há alguns decênios antes, e que agora
pode ser observado entre a população indígena do sertão. Em trabalhos anteriores
(Athias 2004) temos caracterizado as famílias Pankararu tradicionalmente, com uma
prole numerosa, pois costumam ter em média 4 a 5 filhos, dados que podem ser
evidenciados através da pesquisa qualitativa. As mulheres na faixa etária dos 20 a 24
anos, não querem ter o mesmo número de filhos que suas mães. Essa informação é
recorrente nas entrevistas realizadas. E nessas duas tabelas parecem nos confirmar
essa realidade. Ou então podemos também deduzir que o índice de mortalidade
infantil continua ainda muito alto. E esse dado tem uma importância fundamental
para a construção da sexualidade Pankararu.
Um outro elemento a ser considerado está vinculado a mudança
comportamental, que os pesquisadores citados dizem existir no nordeste como um
todo, associando, sobretudo, ao nível de escolarização das mulheres das gerações
recentes. Ou seja, quanto maior for a escolaridade menor é o numero de filhos
desejado. Aliás, essa questão já fez parte também de estudos populacionais no
nordeste7. O que se coaduna com a realidade Pankararu, uma vez que o as mulheres
dessas faixas etárias, passaram por escolas municipais, o que não ocorreu com a
geração de suas mães. No entanto, percebeu-se na pesquisa qualitativa, que ainda está
presente um forte direcionamento, por parte dos pais com relação ao número ideal de
filhos para o casal. Pois, ainda se percebe, entre os Pankararu, a imagem de que uma
família com um número grande de filhos é bem vinda e, sobretudo, por que não só

6
Conferir, por exemplo, os trabalhos de Carvalho (1990)
7
Veja por exemplo a argumentação apresentada no trabalho de José Eustáquio Alves (1994).
11

consolida o casamento, mas também as alianças entre as famílias, tendo em vista a


realidade da distribuição espacial e a territorialidade. Uma de nossas conclusões nessa
pesquisa é de que o número de filhos também está fortemente associado ao controle
dos recursos ambientais da Terra Indígena Pankararu e que existe uma mudança
significativa no número ideal de filhos com um impacto na sexualidade vivenciada
pelos Pankararu.
Esses dados apresentados nessas duas tabelas apresentam uma desproporção
na base da pirâmide, e isso nos leva a refletir também sobre uma outra questão
também importante para entender o desenvolvimento da sexualidade entre os
Pankararu: as mulheres estão utilizando muito mais as práticas anticoncepcionais para
gerenciar os nascimentos que as gerações de suas mães. Esse é um forte indício que
vem a partir da pesquisa que desenvolvemos na área em 2001. Mesmo que também se
possa associar a escolarização é importante na negociação entre os casais para o
debate do número de filhos ideal.
Essa também é outra questão de um debate extremamente atual na área
indígena. O numero ideal de filhos? Que tem a ver com à negociação do casal em
relação a sua prole. Essa discussão está associada o que os estudiosos da questão
chamam de preferências reprodutivas concluindo sobre o impacto da fecundidade em
grupos sociais. E nesse sentido o processo de decisão sobre a fecundidade interfere
nas preferências reprodutivas e nos fornecem elementos para discutir as relações de
gêneros entre os Pankararu. Nosso trabalho a também aponta para a situação dos
recursos ambientais como um dos fatores que influenciam nesse debate. Durante as
oficinas entre os homens e mulheres realizados entre os Pankararu pode-se perceber
através dos depoimentos que as mulheres e homens recém casados possuem uma
outra forma de comunicar-se diferentemente daquelas de seus pais. Nesse sentido, a
comunicação entre o casal pode ser um dos mecanismos mais eficazes de conciliação
das diferenças entre o numero de filhos considerado ideal.
12

Por outro lado tivemos noticias que as maternidades (nos finais dos anos 80)
no sertão estavam promovendo ligaduras de trompa, sem muitas vezes a devida
autorização da parturiente. Que impacto esta estratégia de planejamento familiar
incide sobre a sexualidade entre Pankararu. Escutamos de mulheres Pankararu que
foram incentivadas a realizarem a ligadura, uma vez que elas já tinham número de
filhos considerados ideal pelos profissionais de saúde, nesse caso os médicos. Não nos
interessa entrar nessa questão específica, de esterilização, mas simplesmente colocá-la
como uma das possíveis explicações para sobre o número de nascimentos expressos
na base da pirâmide de 2005. Elisabeth Meloni Vieira (1994) diz que os médicos, nas
maternidades, ocuparam um papel importante nessa estratégia, e que o aumento da
esterilização no Brasil segue o exemplo de vários países onde ela se tornou mais
prevalente a partir da década de 80, como nos EUA e ainda em alguns Estados do
nordeste onde a esterilização grátis atinge índices maiores que 50% baseando-se nos
dados de Oliveira & Simões (1988).
Uma outra hipótese, que não se pode deixar de ser colocada, é que esteja
ocorrendo sub-notificação de nascimentos na área indígena Pankararu. Porém tendo
em vistas os dados qualitativos da pesquisa acredita-se que o comportamento dos
Pankararu com relação ao número ideal de filhos esteja realmente em processo de
mudar. Por outro lado, esses dados reforçam a tese de Wong que no nordeste do Brasil
a queda da fecundidade é um fato e que já se pode pensar em transição da fecundidade
para o Brasil.

Tabela II – Dados Censitários Pankararu – 2005 – Fonte: SIASI/FUNASA

Anos 75=<

Entre 70 e 74 anos

Entre 65 e 69 anos

Entre 60 e 64 anos

Entre 55 e 59 anos

Entre 50 e 54 anos
Pop. Masculina
Pop. Feminina Entre 45 e 49 anos

Entre 40 e 44 anos

Entre 35 e 39 anos

Entre 30 e 34 anos

Entre 25 e 29 anos

Entre 20 e 24 anos

Entre 15 e 19 anos

Entre 10 e 14 anos

Entre 5 e 9 anos

Entre 0 e 4 anos

500 400 300 200 100 0 100 200 300 400 500
13

Tradição e Cura

Os dados sobre fecundidade precisam ser complementados por uma


compreensão mais completa da cultura na qual se estabelecem as relações de
parentesco entre os membros da etnia. De acordo com as informações, desde 1930 até
a presente data, ocorreram mudanças significativas na área Pankararu que provocaram
um profundo impacto na organização social, no sistema de parentesco e na construção
de sua identidade étnica. Essas mudanças têm a ver com reorganização espacial e a
criação do lago de Itaparica, provocando a submersão das cachoeiras, lugar mítico dos
Pankararu. Também estão relacionadas à luta pela demarcação das terras indígenas,
ainda em andamento.
As manifestações culturais e religiosas dos Pankararu apresentam uma relação
com a saúde e as práticas tradicionais de cura. Principalmente àquelas relacionadas à
cura pela medicina indígena que estão completamente envolvidas com o que eles
denominam de encantados. Estes são entidades que se manifestam nas práticas de
cura e são reverenciados em festas tradicionais, juntamente com a dança do Toré e a
bebida feita da jurema. Os encantados, na realidade, são os espíritos protetores dessa
terra, pertencentes ao mundo dos heróis míticos. Os Pankararu podem localizá-los
como moradores das serras (estão nas cavernas alguns dizem), no rio e nas cachoeiras.
Eles comunicam com este mundo através das manifestações dos praiás e homens
iniciados que podem servir de intermediários entre o mundo dos encantados e o
mundo real. Os praiás se apresentam com uma vestimenta que os cobrem da cabeça
aos pés (a única parte visível do corpo) confeccionada com a fibra do caroá da família
das bromeliáceas (Neoglaziovia variegata) uma palmeira existente no sertão, muito
utilizada no artesanato.
Na celebração do Menino-no-Rancho, uma das principais festas dos
Pankararu, há uma intensa interação entre identidade, ecossistema, saúde e doenças do
ciclo reprodutivo. Essa celebração não tem uma data fixa para sua realização,
dependendo exclusivamente do pai de um menino. Está associada a uma cura
específica, podendo ainda ser vista como um ato de iniciação para os meninos. Há
muito orgulho de um Pankararu ao se referir que ele foi "colocado" no rancho. Esta
festa também está associada a procura da noiva, pois, durante a celebração, o menino
é apresentado a uma menina que participa da festa. E esta menina é chamada de
noiva do menino do rancho. Nesta celebração, os praiás dançando no terreiro
procuram pegar o menino e este é defendido pelos seus padrinhos, gerando, uma luta
física entre praiás e padrinhos. Quanto maior for o número de padrinhos, menor será a
possibilidade dos praiás reterem o menino. Essa festa também pode estar relacionada
ao pagamento de uma “promessa” associada à cura de doenças da infância: diarréia,
sarampo, caxumba, catapora, pneumonia, verme e dor de cabeça, todas identificadas
como doenças do ciclo reprodutivo. Nesse sentido, o desmatamento aparece como um
fato ameaçador para a saúde reprodutiva, pois os Pankararu acreditam que o
desmatamento tem afastado o encanto e os encantados.
14

Estão fortemente presentes na cultura Pankararu os curadores e benzedeiras,


que são os primeiros a serem procurados para tratar as doenças e mal-estar. Estes
dominam o conhecimento específico das ervas que curam e alguns representando os
“encantados”, para realizar a cura. Por uma mesa de cura e um trabalho de cura
realizado por especialistas que tem poderes de se comunicar com a ‘força encantada’.
A noção de saúde entre os Pankararu está definida como sendo principalmente
a “falta de doenças” e a relação que estes mantém com os “encantados” determina o
equilíbrio do próprio corpo e consequentemente do bem estar. A maioria dos
Pankararu procura os serviços de saúde da biomedicina, tal como estão implantados
na área indígenas bem como buscam soluções no sistema médico tradicional através
de pessoas que são referidas como tal. Pôde-se verificar esse itinerário em todas as
aldeias em que a pesquisa foi realizada, que os Pankararu além de procurar os serviços
médicos existentes, utilizam os remédios prescritos por benzedeiras e curadores. Em
muitos casos o uso da medicina tradicional se apresentou como complementar à
biomedicina. A pesquisa não tem dados suficientes para identificar quais são as
doenças em que os Pankararu apenas procuram os serviços do sistema tradicional e
quais as doenças que apenas os curadores e benzedeiras tratam. No entanto, pode-se
perceber que há uma distinção do tipo de ajuda e a ênfase em que se dá a busca de
remédios com os curadores. No que se refere às doenças do ciclo reprodutivo,
rotulada entre os Pankararu como sendo “doenças de mulher” as palavras do curador e
benzedeira são muito mais aceitas do que os remédios oferecidos pela biomedicina.
Parece existir uma crença maior na medicina indígena, nos remédios para cura
das doenças sexualmente transmitidas, oferecidos pelos curadores que nos remédios
da farmácia. Há uma enorme lista de chás e garrafadas de domínio comum entre os
Pankararu. Isso pode também ser explicado que essas doenças são menos divulgadas e
o paciente no caso, procura esconder, pois dificilmente eles ou elas relatam em suas
histórias clínicas para o médico ou outros agentes.
15

Quando comparamos as práticas da medicina indígena e da biomedicina,


percebemos que os Pankararu possuem conhecimentos aprimorados: sobre o parto
(dietas, parto de cócoras, acompanhamento de parteiras, contato intenso com os
familiares na casa, rezas, encantamentos), contracepção (chás, banhos e asseios com
raízes e ervas locais), prevenção e pré-natal (banhos e asseios com raízes e ervas
locais, rezas e encantamentos), que são praticadas no dia-a-dia nas aldeias. A procura
pelo acompanhamento biomédico também é valorizada, mas há dificuldade de
atendimento devido à inexistência de rotina no atendimento de saúde nas aldeias e a
escassez de transporte para os serviços de saúde das cidades próximas. O que
diminuiu consideravelmente, pois o atendimento básico é realizado pela equipe
médica do DSEI.
Tanto no itinerário terapêutico quanto nas formas de lidar com doenças de
infância, parto, pré-natal e contracepção, os Pankararu possuem uma forma particular
de se relacionar. Convivem bem com a biomedicina e, também, valorizam os
conhecimentos da medicina tradicional e das curas através dos encantados. A boa
aceitação do sistema biomédico inclui a valorização do parto em hospital pelas índias
mais novas, como maneira de evitar riscos ou ter como socorrê-los a tempo. A
assistência hospitalar e o médico são valorizados para a cura de enfermidades e para a
prevenção de doenças, de maneira extensiva.
As índias entrevistadas, durante a pesquisa, realçaram que as rezadeiras e
curadores têm um papel importante no âmbito da saúde, reconhecidas por todos e que
existe um interesse muito grande em poder ampliar os conhecimentos em saúde
reprodutiva e do próprio corpo. Os agentes de saúde possuem opiniões que se
coadunam às das mulheres: existe uma grande conscientização a respeito dos
serviços que podem atuar na área indígena, um grande interesse na própria
capacitação e na melhoria das suas atuações. Além disso, são reconhecidos pela
população como pessoas que podem ajudar a melhorar a situação da saúde na área.
16

As índias entrevistadas e os agentes indígenas de saúde enfatizaram que os


programas de saúde existentes não levam em conta a especificidade étnica dos
Pankararu, inclusive no que diz respeito aos conhecimentos locais sobre saúde
reprodutiva. O atendimento realizado pela equipe do DSEI ainda está ambulatorial e
os centros de referência carecem de uma melhor atenção no desenvolvimento de um
atendimento especifico e diferenciado. Não existe um sistema de informação que
favoreça a vigilância sanitária para a área indígena e a não coordenação dos serviços
de saúde está muito mais no âmbito administrativo que uma preocupação com
articular a medicina indígena com os serviços de saúde.
A saúde indígena, até o presente, não tem uma avaliação mais global sobre as
práticas médicas em andamento nas áreas indígenas em Pernambuco. Os diversos
projetos de saúde implantados nas áreas indígenas não chegaram a formular um
consenso mínimo sobre como os serviços de saúde deveriam ser mais bem
organizados tendo em vista sua relação ou não com um modelo de atenção nacional
que também optou por favorecer os sistemas locais de saúde. Em outras palavras,
ainda não existe uma reflexão mais ampla sobre como organizar um subsistema de
saúde indígena, com toda a sua especificidade relacionada ao SUS.
Em uma concepção geral, o SUS oferece a possibilidade de criação de
sistemas locais de saúde baseados nas diferentes realidades e a diversidade de
modelos operacionais. Em se tratando da atenção da saúde e sob a perspectiva de
comando único de ações, essa dicotomia se mostrou extremamente inviável e
incoerente, criando relações paternalistas para determinadas populações indígenas e
gerando a impossibilidade de execução de serviços de saúde de maneira integral.

Ações de Saúde e Programas

A discussão que segue está baseada nas informações provenientes de um


trabalho educativo de intervenção8 realizado na área Pankararu em 2001 e 2002
desenvolvido pela SSL e pela FUNASA. Essa ação consistiu na realização de
aplicação de um questionário, oficinas, grupos de discussões e reuniões sobre a
temática do corpo, saúde reprodutiva e sobre as doenças sexualmente transmissíveis e
Aids. Essas reuniões contaram com a participação dos agentes indígenas de saúde,
auxiliares indígenas de enfermagem (vinculados ao DSEI-PE e que atuam na área
Pankararu), lideranças, mulheres e homens, além da orientação especifica para
mulheres e homens. Cabe salientar que, a equipe SSL, que conduziu essas atividades
em campo, procurou envolver os profissionais de nível superior que atuam nas
equipes de saúde, com vistas a promover a necessária articulação institucional.
As mulheres atendidas realizaram a prevenção para o câncer de mama e foram
orientadas e estimuladas a realizarem o auto exame de mamas mensal (10 dias após a
menstruação). Segundo as consultoras das atividades de educação e intervenção, a
maioria das mulheres que receberam esse atendimento, desconhecia o exame de

8
Intitulada: Reprodução, Sexualidade e Programas de Saúde desenvolvida pela Associação Saúde Sem Limites
(SSL) em parceria com a Associação dos Profissionais Indígenas de Saúde Pankararu (APROISP), Universidade
Federal de Pernambuco (NUSP, NEPE e FAGES) com apoio da Fundação Nacional de Saúde/DSEI-PE e do
Programa Estadual de DSTs e Aids/CN DST e AIDS
17

prevenção das mamas e as poucas que já haviam realizado o exame o fizeram fora da
área Pankararu. Algumas mulheres já palpam o peito por causa da TV e da campanha
de marketing realizada pelo Ministério da Saúde, que divulga o auto-exame. As
mulheres se mostraram envolvidas no aprendizado do auto-exame tendo plenas
condições para assumir este auto-cuidado. Após essas orientações iniciais foi
realizado uma anamnese dirigida a abordagem das DSTs sendo que esse registro era
feito em uma ficha clínica elaborada de acordo com o modelo de “Inquérito de Acesso
Rápido” à situação das DSTs e Aids na Aldeia. Em seguida era realizado o exame da
genitália externa para a pesquisa de lesões e a coleta de material para o exame
“papanicolau”. As mulheres cujo diagnóstico de DST era evidenciado pela clínica
eram orientadas e tratadas, bem como o seu parceiro.
Para a realização dessas atividades9 foram visitadas 12 aldeias, realizadas 14
palestras com participação de homens e mulheres atingindo um total de 257 pessoas
sendo que 191 mulheres e 66 homens. Na ocasião desse processo de intervenção
foram realizados 176 exames papanicolau. De acordo com os dados demográficos
existentes na ocasião (1.953 mulheres) desse processo, esses exames representaram
cerca de 10% população Pankararu. Desse total de exames realizados apenas 6
mulheres tiveram resultado normal. Portanto 96% das mulheres examinadas
apresentaram algum tipo de alteração no colo do útero.
Esses dados sobre essa atividade realizada na área indígena confirmam que o
acesso a um exame preventivo ainda se concentra em poucas mulheres. A grande
maioria ainda não participa dessas atividades ou as equipes de saúde sentem
dificuldades em procurar interiorizar ainda mais as ações nessa direção na área
indígena.

Políticas de Saúde

O modelo de atenção a saúde indígena na forma de Distritos Sanitários


Especiais Indígenas com um território definido e um subsistema estabelecido de
acordo com a Lei 8.080, implantados em Pernambuco desde 1999, possibilitou a
sistematização de dados e informações em saúde indígena para a elaboração de perfis
epidemiológicos que retratam a situação de saúde das áreas indígenas. No entanto,
dificuldades de manutenção dos programas devido a alta rotatividade dos
profissionais de saúde nas áreas indígenas não permitem se ter um quadro geral.

l.

9
Informações retiradas do Relatório de Intervenção Educativa da Associação Saúde Sem Limites,
elaborado por Marina Machado e Juliana Lobo.
18

Neste sentido, observa-se que o primeiro tipo de enfoque (nas doenças) que
equipe de saúde do distrito tem se associa nitidamente a um estilo de administração de
programas de saúde que favorece conhecimentos biomédicos especializadas. As
suas medidas de eficácia são na redução de índices de morbidade e mortalidade cuja
causalidade se restringe à doença, alvo de um determinado programa. Em outras
palavras, não existe por parte da equipe de saúde que atua na área indígena, um
entendimento maior das possibilidades existentes com relação ao auto-cuidado e as
tradições culturais Pankararu. As persistências de indicadores negativos mostram os
velhos problemas onde a ação biomédica ainda é privilegiada na área indígena. Essas
estratégias ampliam a “consciência”, que atacar a doença muitas vezes é uma
estratégia que, apesar de render alguns resultados, que não poderiam ser obtidos por
outro caminho, porém, às vezes, torna-se uma estratégia cara cujos resultados são
precarizados por fatores fora do controle dos profissionais de saúde. Evidentemente,
que essas ações sensibilizam principalmente aqueles administradores de programas de
saúde mais preocupados com os índices contábeis de custo-benefício de que com a
identificação de grupos sociais específicos cujas demandas precisam ser atendidas.
Ganham-se alguns adeptos dispostos a juntar forças com outros profissionais
afinados com os interesses de segmentos e grupos específicos necessitados da
população. O apelo à "integralidade" foi a maneira encontrada de, simultaneamente,
criticar a fragmentação costumeira dos portadores do conhecimento médico de
tratamento por órgãos e doenças específicas, e aproveitar dos seus serviços
direcionados ao que interessava à mulher e ao adolescente no estabelecimento de
centros de referência. A idéia de integrar também serviu para chamar atenção à
necessidade de realizar outras formas e intensificar o diálogo entre os curadores e
agentes tradicionais de curas com os atores do ambiente ambulatorial da equipe
médica.
19

Os grupos indígenas que visualizamos aqui têm referências diferentes ao


mesmo mais concreto e mais complexo. Um entendimento mais amplo de sua
inserção na realidade local. São grupos de famílias e de pessoas, freqüentemente de
características diversas, que interagem com regularidade na vida cotidiana. Grupos
familiares, de parentesco, de vizinhança são exemplos com uma dinâmica relacional
específica. Estes mantêm uma identidade étnica relacionada com o seu território,
portanto uma identidade de acordo com a sua inserção numa localização geográfica
específica que recebe diversas denominações, mas que, de costume, pode ser chamada
de "comunidade". As manifestações culturais e principalmente religiosas dos
Pankararu estão completamente envolvidas com o que eles denominam de encantados.
As forças encantadas são entidades que se manifestam na organização política e nas
práticas de cura, e são reverenciados em festas tradicionais Pankararu. Segundo os
Pankararu, os encantados são colocados em uma forma hierárquica na qual o “Mestre-
Guia” é o “comandante”. O processo doença-cura entre os indígenas está relacionado
a uma concepção própria, às práticas terapêuticas que passam por um entendimento da
cosmologia própria de cada grupo indígena. Os curadores e benzedeiras Pankararu,
não podem de deixar de participar da Festa Anual do Mestre Guia, no último dia das
Corridas do Umbu. A morte é vista como um renascimento para o mundo dos
encantados. As pessoas que morrem vão procurar moradia nos lugares dos
encantados, nas serras e nas cachoeiras do rio. As doenças podem ser tratadas na
medida em que os encantados são chamados.
Para finalizar acredita-se importante relatar que os resultados práticos das
ações de pesquisa e os próprios Pankararu insistem que se deveria prioritariamente: a)
ampliar o debate das questões de saúde reprodutiva entre os jovens e promovendo a
participação dos mesmos nas diversas atividades na área indígena; b) atuar em
conjunto com os profissionais indígenas de saúde e os profissionais de saúde que
atuam na área indígena, através de reuniões específicas discutindo as especificidades
dos serviços de saúde da área Pankararu e por último através de um série de
treinamento e capacitações para homens e mulheres que estão participando nas
diversas instâncias de poder, e, sobretudo c) possibilitar o inter-relação com outras
áreas indígenas do Estado de Pernambuco visando os gestores e profissionais que
atuam no âmbito do Distrito Especial Indígena de Pernambuco para que a política
nacional de atenção a saúde dos povos indígenas seja realmente efetivada.

* * *
A intensificação de trabalhos relacionados com a etnicidade em Pernambuco é
proveniente de uma decisão explicita de realçar a condição das populações indígenas
do Nordeste, feito a partir da UFPE por integrantes do Núcleo de Estudos e Pesquisas
sobre Etnicidade (NEPE) em meados da década de noventa. Como conhecedores das
condições do sertão do Sub-M;edio São Francisco, e com experiências com outras
etnias, tanto do próprio estado de Pernambuco quanto da Amazônia, a inclusão na
pesquisa sobre Reprodução, Sexualidade e Grupos Sociais Diferente, apoiada pelo
CNPQ ajudou a dar um direcionamento para a colaboração com FAGES e a inclusão
de gênero, geração e parentesco num esforço de identificar a especificidade cultural
dos Pankararu. Este trabalho ocorre num período de efervescência nacional do
estabelecimento dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas. É neste contexto que se
estabelece um desafio excepcional de compor estruturas que possam representar e
20

defender os direitos indígenas nesta esfera. Rapidamente se percebe uma necessidade


de estimular que este grupo ordenasse a sua demanda para tratamento adequado de
saúde, encontrando e aproveitando de aberturas permitidas pelo movimento indígena,
pelos serviços de saúde governamentais e pelas organizações não governamentais.
As ações da pesquisa e intervenção executadas na área indígena Pankararu
estavam direcionadas para dois eixos centrais: 1) entender o processo saúde-doença e
especificamente as questões que envolvem a saúde reprodutiva. Aí está o lado da
pesquisa e o desenvolvimento de modelos explicativos para o caso indígena,
populações tradicionais, grupos sociais distintos, buscando relacionar os aspectos da
representação das doenças e as questões que se situam no âmbito da sexualidade, e 2)
intervir através de ações destinadas, sobretudo a fornecer informações sobre os
direitos indígenas visando o empoderamento dos Pankararu no âmbito da saúde
reprodutiva, tendo em vista que os mesmos tenham ferramentas para serem atores e
sujeitos nas decisões sobre a organização dos serviços de saúde no âmbito do distrito
sanitário indígena.
Essa pesquisa buscou interagir com as questões relacionadas da saúde
reprodutiva em grupos etnicamente diferenciados. E percebeu-se da necessidade de
produzir conhecimentos para compreender essa realidade. Os resultados parciais da
pesquisa apontam para uma maior compreensão dos aspectos reprodutivos da área
Pankararu, e a definição de demandas específicas. As mulheres indígenas demandam
uma maior atenção dos programas de saúde para as questões especificamente dos
aspectos reprodutivos e solicitam um maior cuidado no encaminhamento de exames
laboratoriais com relação ao programa de prevenção de câncer colo-uterino (PCCU).
E enfatizam que esses exames sejam realizados na área indígena, com um maior
envolvimento das parteiras e agentes de saúde no processo de educação e saúde; os
jovens com maior interesse em questões das DSTs e AIDS superou a expectativa
inicial dos integrantes do projeto. Atualmente, um número significativo de jovens faz
parte de um grupo de multiplicadores na área indígena.
A parceria com a Associação dos Profissionais Indígenas de Saúde Pankararu
(APROISP), organizada por trabalhadores de saúde em torno do fato que os agentes
de saúde precisam ser indígenas, possibilitou uma maior interface com os serviços de
saúde na área indígena e, sobretudo um trabalho em conjunto na produção de material
de divulgação e pedagógico para ser usado nas áreas indígenas. Durante esse período
foram desenvolvidos materiais educativos na área indígena para ações educativas na
sensibilização das DSTs e Aids.
Os homens que participaram das oficinas e grupos de discussão sobre DSTs e
AIDS tiveram uma oportunidade de falar abertamente e solicitar material específicos
para eles. Verificou-se que as aldeias indígenas na área Pankararu gozam de uma
grande independência entre si o que possibilita uma maior interação das pessoas nos
processos de discussão e debate sobre a questão. E que as questões que envolvem
decisão da coletividade precisam ser altamente negociadas nos diversos setores da
organização social Pankararu.
21

Em termos de organizações representativas, as ações e intervenções durante a


pesquisa procuraram-se dar prioridade na participação do Conselho Indígena de Saúde
Pankararu, que agrupa representante (um titular e um suplente) das aldeias situadas na
área indígena. A atuação e participação nas reuniões do conselho local de saúde
visaram um assessoramento às questões de saúde e nas possibilidades de
planejamento dos programas de saúde.
Em consonância com os outros dois grupos (rurais e urbanos), as ações de
pesquisa e intervenção entre os Pankararu estão diretamente relacionadas com os
objetivos do projeto sobre Estilos reprodutivos: “Estimular a elaboração, pelas
organizações representativas, de estratégias reivindicatórias concretas que reforcem e/
ou estabeleçam setores que demonstram sensibilidade à questão de gênero entre as
organizações representativas [e] Promover o contato destas organizações com
executores, administradores, e planejadores de ações governamentais e não-
governamentais na área de saúde (e especialmente saúde reprodutiva) na expectativa
de aumentar o acesso e a sensibilidade a questões de gênero nestes serviços.”
Para realização desse projeto, na área indígena, procurou-se agregar os dados
da pesquisa anterior apoiada pelo CNPQ (intitulada: Sangue Bom, Sangue Mau
análise das representações sociais da doença entre os Pankararu), e juntamente com
essas informações, buscou-se completar com a pesquisa quantitativa realizada na área
indígena, onde se entrevistou: 324 mulheres e 315 homens. Esses dados, já totalmente
tabulados, têm possibilitado material de análise para os diversos estudos, alguns já
publicados. Foram realizados oito grupos de discussão, envolvendo, mulheres,
homens e jovens. Oficinas e capacitações sobre as questões de DST e AIDS com
homens (jovens e adultos) e mulheres (jovens e adultos). Os participantes dessas
oficinas tornaram-se multiplicadores em suas aldeias. Juntamente com a APROISP
foram realizadas várias oficinas de treinamento para os Conselheiros de Saúde e em
conjunto uma oficina de produção de material didático para uso na área indígena onde
22

se publicou (com o apoio da SSL e FUNASA) uma cartilha e um cartaz, resultados


dessas oficinas. A equipe do projeto também participou de uma intervenção direta na
área indígena, em conjunto com a Associação Saúde Sem Limites (SSL) e APROISP,
com mulheres e homens possibilitando que as ações de saúde e controle de DSTs
fossem realizadas na área indígena em toda sua extensão. As mulheres indígenas
solicitaram uma ação mais concreta com relação utilização do álcool na área indígena
e equipe do projeto juntamente com membros da Associação Saúde Sem Limites
elaborou um projeto de pesquisa sobre a representação social do alcoolismo na área
indígena, concluído em 2004. O material da pesquisa possibilitou ainda a
implementação do projeto Saúde e Cultura Pankararu, de intervenção em saúde, da
SSL em parceira com APROISP.
As reuniões conjuntas do projeto têm possibilitado um maior intercambio entre
representantes indígenas e os trabalhadores rurais e moradores do Ibura, onde as
questões sobre saúde reprodutiva tem sido um tema de empoderamento dessas
organizações. As atividades de divulgação dos resultados do projeto: publicações (3
capítulos de livro), apresentações em congressos (ANPOCS, ABA, ABRASCO,
Epidemiologia, Seminários regionais e nacionais, oficinas realizadas pela FUNASA).
Discussão no âmbito das reuniões do Distrito Sanitário Especial Indígena, e as
interfaces com Núcleo de Saúde Pública (NUSP), Núcleo de Estudos e Pesquisas
sobre Etnicidade (NEPE), ambos da UFPE, possibilitando assim a realização, nesses
últimos anos, de três Fóruns de Debates sobre a Saúde Indígena no Estado de
Pernambuco com a participação do Conselho Distrital de Saúde Indígena de
Pernambuco, FUNASA, e outras instituições que atuam nas áreas indígenas de
Pernambuco.

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Fotografias: Renato Athias

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