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Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7

Cadernos PDE

II
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

Título: POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO DO CAMPO NO PARANÁ:


articulando saberes nas CEFFAs

Autor
Tereza Maria de Jesus Faria Orlandini

Gestão Escolar
Disciplina/Área

Casa Familiar Rural – Colégio Estadual


Escola de Implementação Ministro Petrônio Portela

Município da Escola São Jorge do Patrocínio

Núcleo Regional de Educação Umuarama

Professor Orientador Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Cecílio

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Maringá – UEM

Relação Interdisciplinar Todas as Disciplinas


O presente projeto intitulado Políticas de Educação do
Campo no Paraná: articulando saberes nas CEFFAs do
Estado, a partir da década de 1990, tem por finalidade
realizar uma contextualização histórica sobre a
Resumo educação do campo no Brasil e no Paraná, analisando
a importância da Articulação Pedagógica e dos
Instrumentos da Pedagogia da Alternância nas Casas
Familiares Rurais. O objeto abordado é a política de
educação das CEFFAs com o objetivo de compreender
a Articulação Pedagógica e os Instrumentos da
Pedagogia da Alternância nas suas especificidades nas
Casas Familiares Rurais do Paraná, por meio de
análise científica da problemática da educação do
campo na socialização pedagógica dos conteúdos da
alternância como regime de oferta educacional aos
jovens do campo tendo por finalidade contribuir na
realização da proposta educativa da Casa Familiar
Rural.

CEFFAs; Educação do Campo; Pedagogia da


Palavras-chaves Alternância

Caderno Pedagógico
Formato do Material Didático
Professores atuantes no ensino fundamental (séries
iniciais da rede municipal e professores do ensino
fundamental e médio da rede estadual) e equipe de
Público Alvo
trabalho da Casa Familiar Rural, aluno e pais do 1º ano
do ensino médio.
LISTA DE SIGLAS

AIMFR – Associação Internacional dos Movimentos Familiares de Formação


Rural
ARCAFAR/SUL – Associação Regional das Casas Familiares Rurais do Sul do
Brasil
DESER – Departamento de Estudos Sócio Econômico Rural
CEASs – Centros de Educação em Alternância
CEDEJOR – Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural
CEFFAs – Centros Familiares de Formação por Alternância
CRESOL – Cooperativa Central de Crédito Rural com Interação Solidária
CPT – Comissão Pastoral da Terra
CUT – Central Única dos Trabalhadores
ECRs – Escolas Comunitárias Rurais
EAs – Escolas de Assentamentos
EFA – Escola Família Agrícola
ETEs – Escolas Técnicas Estaduais
EMATER – Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
IFPR – Instituto Federal do Paraná
MFR – Maisons Familiares Rurales
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário
PROJOVEM – Programa de Formação de Jovens Empresários Rurais
PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
UEM – Universidade Estadual de Maringá
UNEFAB – A União Nacional das Escolas Famílias Agrícola do Brasil
UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro-Oeste
UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
UFPR – Universidade Federal do Paraná
APRESENTAÇÃO

Este caderno consiste em uma produção pedagógica, resultante da


participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, com vistas à
Formação Continuada de Professores em Rede, da Secretaria de Estado da
Educação do Paraná.
Esta participação desenvolveu-se a partir da experiência vivenciada na
Casa Familiar Rural, durante três anos de trabalho, como professora na área de
Ciências Humanas e suas Tecnologias e com a incumbência de paralelamente
ser a Articuladora Pedagógica.
Ao tomar consciência dos Instrumentos da Pedagogia da Alternância e
suas especificidades, os quais solicitam ao jovem uma participação que integra
constantemente teoria e prática, despertando a curiosidade, a consciência e uma
nova visão para a solução de problemas vivenciados diariamente no cotidiano,
permitindo assim, o diálogo entre jovens, monitores, pais e comunidade
possibilitando a solução de problemas enfrentados no dia a dia na escola e na
propriedade. Surge a necessidade de desenvolver esse trabalho como forma de
conscientização de uma educação que transforma e que possibilita o diálogo
partindo do senso comum para a pesquisa e o conhecimento científico.
A Pedagogia da Alternância institui um clima favorável à aprendizagem,
sobretudo a formação humana do jovem que permite o trabalho em equipe, a
utilização de dinâmicas, o diálogo constante entre monitores, professores,
governantas e jovens, a organização em grupos para a realização de diferentes
atividades que vão desde trabalhos domésticos, tais como: limpeza da Casa
Familiar, arrumação dos quartos, elaboração das refeições e lavar a louça, até as
atividades contidas no plano de formação e a execução dos Instrumentos da
Pedagogia da Alternância: do estudo em sala de aula à pesquisa de campo, com
entrevistas e visitas nas pequenas propriedades. Sabendo que essas ações têm
por finalidade criar um ambiente favorável à realização das tarefas, bem como
proporcionar uma relação de liberdade e responsabilidade, permitindo a cada
jovem firmar-se dentro do grupo, promovendo uma visão interdisciplinar do mundo
que o cerca.
O objetivo da implementação pedagógica é contribuir na formação dos
jovens, pais, professores, governantas e monitores, buscando uma reflexão
transformadora da práxis pedagógica, bem como, realizar trabalhos em grupos
com a finalidade de compreender a importância do cumprimento e da realização
de cada instrumento e o papel de cada envolvido na sua totalidade, para que,
organizadamente, possa haver o comprometimento de todos na continuidade do
trabalho iniciado em 2011, com a implementação da Casa Familiar Rural no
município de São Jorge do Patrocínio. Tal objetivo pode ser justificado a partir da
reflexão do Texto:

A escola precisa investir em uma interpretação da realidade que


possibilite a construção de conhecimentos potencializadores de
modelos de agricultura de novas matrizes tecnológicas de
produção econômica e de ralações de trabalho e da vida a partir
de estratégias solidárias, que garantam a melhoria da qualidade
de vida dos que vivem e sobrevivem no e do campo (CNBB –
Texto Base, 1998).

O jovem do campo precisa se identificar como camponês em um tempo de


tantas exigências e modernizações e a formação educacional, sobretudo a
Pedagogia da Alternância permite esse diálogo construtivo e formativo.
Gimonet (2007), Oliveira (2012) e as Diretrizes Curriculares da Rede
Pública de Educação Básica do Estado do Paraná são fontes básicas do presente
estudo, com a intencionalidade de que os participantes busquem, e encontrem
aqui, subsídios para a atividade pedagógica, compreendendo a história da
Educação do Campo e, sobretudo, das Maisons Familiares Rurales e as Casas
Familiares Rurais, o significado e o sentido dos instrumentos da Pedagogia da
Alternância. Apresentamos o estudo considerando a importância do trabalho da
Articulação Pedagógica, a participação da família no contexto educacional, bem
como, restabelecer o relacionamento e os papéis daqueles que devem ser os
animadores do sistema educativo das CEFFAs1, as monitoras e os monitores,
pois são eles os chamados animadores e a alma do sistema por alternância.

1
Centros Familiares de Formação por Alternância
A pesquisa sobre a história da educação do campo, o surgimento das
Maisons Familiales Rurales e das Casas Familiares Rurais no Brasil e no Paraná,
são fontes para estudos dirigidos em encontros e em diferentes atividades
distribuídos em palestras, roda de discussões, debates, leituras, vídeos, entre
outras metodologias.
O presente Caderno Pedagógico será dividido em quatro unidades e cada
unidade será composta por dois encontros. Propondo-se um encontro teórico e
outro e prático, ou seja, com atividade de interação e participação do grupo.
Na Unidade 1, primeiro encontro: apresentação da Produção Didádico
Pedagógico pela professora PDE Tereza Maria, por meio de slides. Na sequência,
palestra sobre “História da Educação do Campo no Brasil e no Paraná,” com o
professor e mestre Vitor Moraes, da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS),
onde o tema central associará educação do campo e sua história de luta para
sobreviver e contrapor a urbanização e a permanência com qualidade de vida no
campo.
No segundo encontro: palestra com o coordenador regional da
EMATER/FETAEP, Eder de Oliveira, que possibilitará uma reflexão sobre a
importância da família, sua participação na vida dos jovens e sua importância na
vida da Casa Familiar Rural. Será um momento para repensar na educação do
campo como alternativa de salvar a permanência do jovem no seu lugar de vida.
Dinâmica: As pegadas, com participação de todos os envolvidos, sendo
aberto para discussão.
Na Unidade 2, terceiro encontro: abre-se com uma apresentação do teatro
mudo, com os alunos do terceiro ano, que retratará a interferência da
modernidade sobre os jovens e que, consequentemente, acometem o jovem do
campo. Em seguida, realizar-se-á uma dinâmica de leitura sobre a definição dos
Centros Familiares de Formação por Alternância – CEFFAs e Escola Família
Agrícola – EFA. “História das Maisons Familiales Rurales (MFRs) na França e das
Casas Familiares Rurais (CFRs) no Brasil” através de slides e apresentação da
professora PDE Tereza Maria, com a intenção de divulgar através das lutas dos
muitos envolvidos historicamente na conquista e implantação das muitas casas,
até chegar à Casa Familiar Rural de São Jorge do Patrocínio, que também tem
sua história, pensando em fortalecer a relação dos envolvidos em um trabalho
eficaz e em conjunto. Serão realizadas discussões e trabalhos em grupos,
compostos por pais, alunos e monitores.
Quarto encontro: momento de leitura em grupo. Serão distribuídos textos
explicativos sobre os Instrumentos da Pedagogia da Alternância e em cada grupo
haverá a participação de alunos do 3º ano, que vivenciaram durante os três anos
acertos e erros na aplicabilidade dos instrumentos, e que ajudarão a compreender
as intencionalidades e a finalidade de cada instrumento, bem como a importância
de cada instrumento na construção de uma educação que se faz através da
experimentação, das tentativas de acertos e erros, da prática experimentada e
vivenciada na prática do dia-a-dia.
Na unidade 3, quinto encontro: “A importância dos Monitores como um
condutor e animador na Pedagogia da Diversidade”, tema que será explanado
através de slides sobre interpretação da pesquisa realizada no livro Praticar e
Compreender a Pedagogia da Alternância dos CEFFAs2, de Jean-Claude
Gimonet. Abrir para discussão e participação dos participantes.
No sexto encontro pretende-se realizar uma atividade em grupo para
discutir os diferentes assuntos que foram apresentados, para observar se houve
de fato compreensão de todos os envolvidos nas temáticas discutidas e
apresentadas. Através da leitura e interpretação onde cada grupo apresentará
uma síntese da discussão para expor em plenária.
A unidade 4 sétimo e oitavo encontro: será apresentada de forma diferente
das demais unidades. Será realizado uma manhã de campo, uma visita de
estudo, onde o proprietário receberá os cursistas, apresentará a propriedade e irá
expor a importância da CFR na vida das suas famílias. A propriedade a ser
visitada será a dos irmãos Lazarin. São famílias envolvidas na vida diária da Casa
Familiar Rural de São Jorge do Patrocínio. Será organizado um almoço com a
participação de todos e suas famílias e o encerramento contará com o
depoimento dos participantes do curso.
A implementação do Caderno Pedagógico visa contribuir com todos os
participantes envolvidos e compromissados na formação dos jovens e no bom
andamento da Casa Familiar Rural, no sentido de uma maior profissionalização e
envolvimento dos pais, jovens e equipe de trabalho (professores, monitores,

2
Centros Familiares de Formação por Alternância
governantas), possibilitando o conhecimento como princípio fundamental para
desempenhar a função individual, somando ao coletivo, num envolvimento
construtivo, preocupados com a formação de jovens que prezem a cidadania e a
autonomia como formação humana.
INTRODUÇÃO

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica – DCE


(2008), o início do século XXI apresenta inúmeros desafios à humanidade. Um
deles é o de superar as contradições sociais, especialmente nos países com alto
grau de concentração de renda e desigualdade. O Brasil é um exemplo de país
contraditório, com imenso potencial humano e de biodiversidade, mas com
excessiva concentração de renda e altos níveis de pobreza.
Com o surgimento da tecnologia a partir da década de 1990 e com a
disputa por territórios e pelo poder, houve a necessidade de avançar e preparar
pessoas para a produção em larga escala e também de subsistência. A escola
urbana ganhou uma função formadora para o trabalho e a escola rural não
correspondia aos interesses políticos e econômicos por atender a agricultura
familiar passando a ser tratada pelo Estado como desnecessária. Os currículos
para as escolas do campo eram simplesmente adaptados dos centros urbanos
para o rural, sem levar em consideração a realidade dos sujeitos do campo,
considerando-os como atrasados, inferiores e pobres.
O contexto histórico nos desvenda que a distribuição agrária e a educação
contribuíram para a constituição dos estereótipos, a perda de bases de identidade
com o campo e a migração dos jovens camponeses para a cidade, devido à
necessidade de mão-de-obra para o processo de construção e industrialização
das cidades tanto nos países que idealizavam a indústria quanto nos países que
desejavam a industrialização, assim foi também no Brasil.
A educação esteve presente em todas as constituições brasileiras.
Entretanto, mesmo o país sendo essencialmente agrário, desde a sua origem, a
educação rural não foi mencionada nos textos constitucionais de 1824 e 1891.
Como afirma LEITE (1999, p. 28)

[...] a sociedade brasileira somente despertou para a educação rural por


ocasião do forte movimento migratório interno dos anos 1910 – 1920,
quando um grande número de rurícolas deixou o campo em busca das
áreas onde se iniciava um processo de industrialização mais amplo.
Dessa forma, desenvolveu-se o ruralismo pedagógico, com duração até a
década de 1930, que objetivava fixar o homem ao campo, sendo marcado por
uma gradativa substituição de poder de uma elite agrária para as emergentes
elites industriais. Assim, a cidade se consolidava como referência da
modernização, de progresso, de bem estar social, enquanto o campo
representava o antigo e o rústico. O próprio termo rural tem a mesma raiz de
rústico e rude, enquanto o termo cidade dá origem a cidadão e cidadania, neste
contexto, temos a criação e desenvolvimento das Maisons Familiares Rurales na
França e as Casas Familiares Rurais no Brasil priorizando um regime escolar de
alternância que, segundo Silva (2000), tem como fundamento a combinação de
um processo de formação, no qual o jovem convive em período de vivência na
escola e na propriedade, alternando a formação prática com a formação teórica.
No âmbito do Paraná, a Casa Familiar Rural de São Jorge do Patrocínio e a
formação dos jovens rurais têm na sua principal contribuição a formação técnica-
profissional, a construção de perspectivas na agricultura familiar, o melhoramento
da renda local e a continuidade no município e na vida familiar sendo que
simultaneamente ao processo de produção da vida, desenvolve-se a identidade
camponesa.
As Casas Familiares Rurais (CFRs) surgiram como resposta à
problemática da educação rural francesa. Ela tornou-se, com o passar dos anos,
uma alternativa viável e promissora para os filhos dos camponeses que antes não
viam possibilidades de oferecer um ensino formal aos seus filhos.
Foi a partir de 1935, ao sudoeste da França que surgia a primeira
experiência as Maisons Familiales Rurales (MFRs) ou Casa Familiares Rurais
(CFRs) no Brasil. A idéia surgiu da insatisfação dos agricultores e de seus filhos
com o sistema educacional da época. É importante lembrar que a Europa vivia um
momento de crise, pois passava por um período histórico catastrófico, a década
de 1930 foi um período muito trágico, era o intervalo entre as duas grandes
guerras mundiais.
Mas é nas grandes adversidades que surgem as grandes iniciativas
passivas de grandes mudanças e de possíveis soluções para grandes problemas.
E foi o que ocorreu: os jovens desinteressados com o ensino voltado para a
preparação de mãos de obra para a industrialização que avançava na Europa e
recuperação das cidades avassaladas pelas guerras surgem o imprevisível, os
jovens querem prosseguir na profissão de agricultor. A partir deste momento
iniciou uma discussão com outros agricultores e o vigário local, o Padre
Grannereau, em torno da questão. Apoiado pelos agricultores da comunidade a
que ele assistia e que tinham o interesse e a necessidade de resolver os
problemas enfrentados pelos jovens franceses que tinham que deixar suas
famílias para estudarem no meio urbano. Sabendo que a educação formal tinha
sua proposta de ensino voltada para o meio urbano, sendo incompatível com a
realidade dos jovens do campo. A partir destas deficiências, numa iniciativa que
contou com a participação de agricultores, líderes sindicais e igreja, na qual
formulara uma proposta pautada na preocupação de oferecer aos jovens uma
formação alternativa e que estivesse de acordo com a sua realidade,
possibilitando um aprendizado teórico/prático que não fosse necessário
abandonar as atividades na propriedade. Surge a primeira Casa Familiar Rural
com um sistema de ensino realizado de forma alternada em que os jovens
passavam três semanas em suas propriedades e uma semana em regime de
internato, improvisado nas dependências da igreja. É na simplicidade do
quotidiano que nasceu esta pedagogia. Simplicidade da solução encontrada: criar
uma escola que não prende adolescentes entre paredes, mas que lhes permita
aprender através dos ensinamentos da escola, com certeza, mas também através
dos preceitos da vida quotidiana, graças a uma alternância de estadias entre a
propriedade familiar e o centro escolar. Tudo parece ser muito simples, mas só
aparentemente, porque na verdade estamos falando da pedagogia da
complexidade.
Com os bons resultados conseguidos, possibilitou a elaboração de uma
proposta melhor formulada. Em 1937 é organizada, de fato, a primeira 3CFR nos
moldes conhecidos atualmente.
A experiência deu tão certo que se disseminou rapidamente por todo o
país. E a partir de 1945, iniciou-se o processo de expansão para fora do território
francês, conquistando diversos países da Europa, África, América, Ásia e
Oceania.

3
Casa Familiar Rural
No Brasil, a primeira CFR surgiu no Nordeste, em Arapiraca, Estado de
Alagoas, no ano de 1981, em uma região que enfrentava problemas semelhantes
ao da França, pois devido à falta de investimento e valorização da agricultura, os
pais vêem seus filhos partirem em busca de novas alternativas e serem
explorados nas cidades.
Após essas experiências o projeto se expandiu para outras regiões do
País, migrando primeiramente para a Região Sul (Paraná), no ano de 1987. Ali
foram iniciadas as discussões envolvendo os agricultores e autoridades locais,
possibilitando o início da implantação da primeira CFR, em Barracão-PR. O
projeto se expandiu por todo o sul do país, somando-se atualmente, 73
experiências concretas (são 43 no Paraná, 22 em Santa Catarina e 8 no Rio
Grande do Sul) e outras em fase de discussão.
Devido à expansão do projeto foi necessário criar uma coordenação para
padronizar e orientar as atividades.

Associação Regional das Casas Familiares Rurais do Sul do Brasil está


instituída como uma associação cultural e beneficente, que tem como
objetivo a coordenação de um trabalho filantrópico a fim de promover,
desenvolver e oportunizar aos jovens agricultores, de ambos os sexos, a
permanência no meio em que vivem proporcionando uma formação
integrada com a sua realidade. Pretende, assim, oferecer condições para
a inserção desses jovens na sua comunidade e com isto proporcionar
novas oportunidades, geração de renda, inclusão social, qualidade de
vida, cidadania e dignidade. (ARCAFARSUL)

A Casa Familiar Rural é administrada por uma Associação de pais e


lideranças das comunidades envolvidas no projeto, constituindo uma Organização
Não Governamental. A CFR tem como pilares básicos a Associação e a
Alternância.
A associação é o fato de associar-se, ou seja, colocar em comum, reunir,
para formar um conjunto com um objetivo definido, para um objetivo comum sem
fins lucrativos. Que tenha como finalidade a sustentabilidade da comunidade onde
a escola/casa está inserida, possibilitando ações que proporcione o
desenvolvimento, a progressão, a evolução, o crescimento econômico, social e
humano.
O trabalho desenvolvido na CFR utiliza como método de ensino a
Pedagogia de Alternância, em que o jovem passa uma semana na Casa Familiar
Rural em regime de internato e uma semana nas propriedades.
Para Gimonet (2007) a criação da Pedagogia da Alternância não foi um
achado, mas sim, uma experiência experimentada como salienta ele:

[...] Os agricultores inventores e seus porta-vozes pedagógicos não se


basearam em teorias ou conceitos para colocá-los em prática de maneira
dedutiva. Não, eles perceberam, escutaram e se conscientizaram dos
problemas, das necessidades. Questionaram-se, formularam hipóteses e
têm enunciado soluções... Em seguida, inventaram, realizaram, agiram,
implementaram, arriscaram. Analisaram, destacaram os componentes do
sistema e os fatores de êxito e de fracasso...
Esta caminhada criativa tornou-se uma ação – pesquisa – formação
permanente. Uma caminhada feita de tentativas e de ensaios, de
empirismos e de reflexões, de desordem e ordem, de informação e de
formação, de estruturações e de organizações para existir, afirmar-se,
chegar, gerir suas dependências, ganhar em autonomia, ser si mesmo e
solidário ... Mas no Brasil, na Argentina, no Uruguai e em todos os
países da América Latina, no Québec, na África, na Ásia, na Oceania... é
bem capaz que uma caminhada similar aconteça para que possa
afirmar-se um movimento educativo inovador e portador de esperança.
(GIMONET, 2007, p.27)

Em uma escola do ensino regular o professor exerce a função de


transmissor do conhecimento, ou seja, de um determinado conteúdo já
preestabelecido, pelo currículo e que envolve somente o aluno, que recebe
passivamente. Na CFR, a função do monitor/professor é muito mais abrangente,
ele assume papel de educador, animador, técnico e acima de tudo, deve ser um
conhecedor do meio e da realidade dos jovens e das famílias envolvidas no
processo de ensino-aprendizagem. Pois nesse caso, parte-se do pressuposto de
que o conhecimento não deve ser transmitido, mas construído de forma conjunta.
Para isso é necessário um grande entrosamento entre todos (pais, monitores e
jovens) para, a partir daí, construir coletivamente o conhecimento, utilizado como
instrumento para transformar a realidade. Lembrando que na CFR o laboratório
usado para pesquisa é a propriedade do jovem e o monitor é um intermediário
entre prática e teoria.
A função do monitor numa CFR é conduzir o processo de ensino-
aprendizagem nas experiências em alternância. Este atributo, bem como a
denominação, surgiu no movimento das MFRs Francesas com o objetivo de
diferenciá-lo da figura do professor tradicional.

A palavra “monitor” é proveniente do latim Monere que significa: fazer


recordar, fazer observar, advertir, dar avisos, dar inspiração, esclarecer,
instruir. Ela indica, portanto, aquele que conduz, mais que isto, indica
quais devem ser os conhecimentos (CHAMBRES, 1997, p.30)

Numa CFR, o monitor cumpre a função de mediador do processo de


construção do saber científico, a partir do conhecimento prévio do jovem. Com
base em Gimonet (2007), o monitor tem um papel insubstituível na formação e no
desenvolvimento do jovem. Tendo a função diferenciada do professor que muitas
vezes se concentra na disciplina que leciona. Um animador é, ao mesmo tempo,
animador, facilitador, técnico e educador, entre outras funções. Enfim, é uma
pessoa preocupada com o desenvolvimento do meio e que tem uma participação
ativa na comunidade, nas propriedades e com relação às entidades organizadas.
A Pedagogia da Alternância é como uma teia que envolve a comunidade,
os pais, os jovens, a equipe escolar, sindicatos, secretarias entre outros, pautados
numa proposta de oferecer um aprendizado teórico/prático que não seja
necessário abandonar as atividades na propriedade contrapondo ao entendimento
tradicional de educação, na qual se pensa numa formação separadamente da
escola com o lugar onde se vive. Como explica Dimas de Oliveira Estevam:

No lugar em que se vive são realizadas as práticas, o saber-fazer, a


habilidade manual, as competências profissionais. Na escola, estariam
os saberes teóricos, que teriam sido transmitidos pelos professores –
detentores do conhecimento. Tem-se ainda, a família, o lugar do afeto.
Finalmente, o ambiente físico – paisagens, montanhas, animais –, e o
ambiente humano, cultural e todas as suas socializações. (OLIVEIRA,
2002, p. 43).

Com a alternância há uma formação em teia onde se tenta juntar, alcançar,


unificar, não sendo possível pensar em divisão ou separação. Para Gimonet
(2007), o objetivo da alternância é unir todos os elementos por quê?
[...] não opõe mais a teoria e a prática, porque existe prática, teoria e
conceito em todo lugar. Porque a mão e o pensamento se juntam
sempre. Porque o saber é a ação e ação é o saber. Um outro paradigma
escolar a adquirir, mas que supõe desfazer-se do anterior que nos
modelou. Evolução e até às vezes revolução, a acontecer em nossas
cabeças. (GIMONET, 2007, p. 129).

Sem apropriação dos instrumentos de implementação, a alternância


permanece sendo uma idéia pedagógica sem realidade efetiva. Os instrumentos
pedagógicos funcionam como integradores entre os diferentes elementos. Cada
instrumento possui sua funcionalidade e todos estão em sintonia com o tema
gerador que norteia as atividades a serem desenvolvidas a partir de uma
discussão pré-estabelecida com a comunidade, pais, monitores e jovens.
Para Gimonet, obter êxito na Pedagogia da Alternância supõe:

[...] desfazer-se de esquemas clássicos do ensino para dar vida a um


sistema pedagógico novo. Novo porque derruba os muros da escola para
utilizar os saberes e os suportes de aprendizagem da vida. Novo porque
o alternante não é mais um aluno na escola que consome passivamente
saberes de um programa, mas um ator socioprofissional que constrói sua
formação. Novo porque os pais, bem como os mestres de estágio,
tornam-se parceiros co-formadores. Novo porque o dispositivo
pedagógico compreende uma variedade de atividades e de instrumentos
apropriados ao processo de alternância. Novo porque o CEFFA não é
somente um espaço de ensino, mas uma estrutura de vida educativa.
Novo porque os monitores não são docentes tradicionais, mas
animadores de formação, generalistas, mais do que especialistas
disciplinares, na escuta dos saberes do meio vivencial e dos alternantes
como daqueles dos programas acadêmicos. Novo, ainda, porque a vida
do CEFFA, suas orientações e sua política de formação se colocam sob
a responsabilidade da associação dos pais, dos responsáveis
profissionais e de outras pessoas interessadas pelo projeto do CEFFA.
Novo, enfim, porque a ambição reside, através da educação dos
adolescentes, em contribuir com as evoluções e desenvolvimentos dos
territórios. (GIMONET, 2007, p.99).

1. UNIDADE 1

1º Encontro: História da Educação do Campo no Brasil e no Paraná.


2º Encontro: A Importância da Família e da Associação de Pais.
1.1 Primeiro Encontro
1.2 História da Educação do Campo no Brasil e no Paraná

Nesse primeiro encontro dar-se-á com a apresentação da Professora PDE e a


abertura da Implantação Pedagógica. Na sequência a Palestra com o Profº.
Mestre Vitor de Moraes que fará uma retrospectiva sobre a História da Educação
do Campo no Brasil e no Paraná. Tem como objetivo possibilitar aos cursistas
conhecerem a Educação do Campo como um processo de lutas e conquistas.

Haverá a oportunidade de questionamentos dos participantes para o palestrante.

A história nos permite caminhar por diferentes caminhos e períodos que


divergem entre si, no entanto, nos permite compreender o que parece ser
incompreensível. Pois, a educação é cheia de contradições e desigualdades.
Dentre as contradições da sociedade brasileira, tem presença a questão
agrária, que como diz Martins (2000).

[...] tem a sua própria temporalidade, que não é o “tempo” de um governo. Ela não é uma
questão monolítica e invariante: em diferentes sociedades, e na nossa também, surge em
circunstâncias históricas determinadas e passa a integrar o elenco de contradições, diferentes,
tensões que midiatizam a dinâmica e nela, a dinâmica política.

Para o autor, a questão agrária é eminentemente histórica; trata-se do


tempo da conjuntura histórica e não simplesmente das diversas circunstâncias
políticas e econômicas. “A questão agrária está no centro do processo constitutivo
do Estado republicano e oligárquico no Brasil, assim como a questão da
escravidão estava nas próprias raízes do Estado monárquico no Brasil imperial”
(MARTINS, 2000).
É preciso deixar claro que a definição de escola do campo tem sentido
somente quando pensada a partir das particularidades dos povos do campo. Essa
definição está referendada no parágrafo único do art. 2º das Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo:
A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes a sua
realidade, ancorando-se na sua temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória
coletiva que sinaliza futuros, na rede de Ciência e Tecnologia disponível na Sociedade e nos
Movimentos Sociais em defesa de projetos que associem as soluções por essas questões à
qualidade social da vida coletiva no país (MEC, 2002, P. 37)

Deve permitir a integração dos jovens a uma educação de qualidade no


espaço o qual está inserido.
A escola do campo deve corresponder à necessidade da formação integral
dos povos do campo. Desde a pré-escola ao ensino médio e profissionalizante.

1.1.1 História da Educação do Campo no Brasil

Ao pensarmos na história da humanidade, lembramos claramente que a


sociedade, desde seus primórdios, passa por varias transformações, as quais
trouxeram benefícios significativos, mas também consequências danosas
irreversíveis a uma nação.
Na história da educação não é diferente, sempre aconteceram varias
mudanças que modelaram os sistemas educacionais em todo o mundo.
A educação se inicia de maneira formal, com a transmissão de
conhecimentos de pais para filhos, onde os chefes de famílias e dos grupos
sociais eram os primeiros educadores e a experiência adquirida eram lições que
deviam ser seguidas a risca. Com a fixação do homem a terra e a formação dos
grupos e cidades, há a necessidade de se instituir leis e normas, para que a
cultura dominante pudesse atuar com a sua superioridade.
A educação brasileira vivenciou diferentes períodos registrados por
diferentes autores e pesquisadores. Onde sempre a escola esteve voltada para as
classes superiores, abastadas se divergindo das classes consideradas inferiores,
os escravos, trabalhadores rurais, etc.

Resumindo: Para uma breve síntese da história da educação brasileira desde o


período jesuítico à república populista, acesse:
Matemática e Realidade no Ensino Fundamental e Médio. Disponível em:
< http://www.cdn.ueg.br/arquivos/jussara/conteudoN/1209/monografia_3.pdf>
Acesso em: 09/11/2014
História da Educação no Brasil. Disponível em:
< http://educarparacrescer.abril.com.br/historia-educacao > Acesso em: 09/11/2014
No governo de Jusselino (JK 1956-1964), fica explícito o disparate de uma
política voltada ao crescimento do país desvinculando-se da política educacional.
No entanto é nesse período que se inicia um repensar a educação campesina
através do grande estudioso Paulo Freire.
Foi um governo que impulsionou a industrialização e com a Inauguração de
Brasília como capital do Brasil, aponta o desenvolvimento para o interior do País
explorando as riquezas naturais espoliando o campo e estimulando o crescimento
industrial afirmando a necessidade do uso de mão de obra humana na
transformação das paisagens.
Com o argumento de que as famílias deveriam ser livres para escolher o
ensino que achassem melhor para seus filhos, passa a estimular o ensino
privado.
Na década de 1960, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB n.
4024/61) deixou a educação rural a cargo dos municípios. Na mesma década,
Paulo Freire ofereceu contribuições significativas à educação popular, com os
movimentos de alfabetização de adultos e com o desenvolvimento da uma
concepção de educação dialógica, crítica e emancipatória. A prática social dos
sujeitos passou a ter maior valorização, por meio de uma proposta distinta da
prática educativa bancária predominante na educação brasileira, passando a
difundir a arte popular regional, valorizando o ser humano e o seu lugar.
A industrialização começa a se configurar como sinônimo de
desenvolvimento, assim o desenvolvimento teve como sinônimo o termo de
modernização.
Com a Revolução Verde a modernização já com aspectos de agricultura
contemporânea ganhou forças no espaço campo, através da homogeneização da
agricultura, com a utilização das monoculturas, máquinas, insumos agrícolas que
se configuraram no denominado “pacote tecnológico”. Atrelando a indústria ao
campo e mudando as relações de trabalho – natureza, de forma a excluir os
agricultores (as) que não conseguissem acompanhar a chamada tecnificação.

A “Revolução Verde” recebeu esta denominação em função da ameaça da revolução


comunista que pairava no ar no período de sua introdução. Na verdade eram “pacotes
tecnológicos” difundidos através de órgãos oficiais que incluíam máquinas agrícolas,
sementes geneticamente modificadas, fertilizantes químicos, venenos químicos,
dependência de importações tecnológicas e matérias-primas dos países ricos
(MUSSOL, 1999).
A tecnificação do campo foi realizada sobre a bandeira do desenvolvimento
e levou a exclusão do camponês, não apenas do espaço rural, mas da própria
capacidade de se desenvolver como sujeito da sua vida, história, cultura,
realidade e da educação.
O Golpe Militar (1964-1968) foi um período onde predominou a
austeridade, a prepotência, e a indiferença ao ser humano, sobretudo aos
envolvidos na educação. Segundo a entrevista cedida à Rede Brasil Atual, na
opinião da filósofa Marilena Chauí, as cicatrizes da Ditadura Militar deixada na
educação sobre o efeito do regime autoritário e seus interesses ideológicos e
econômicos podem ser descritos sobre três aspectos.

Primeiro: a violência repressiva que se abateu sobre os educadores nos três


níveis, fundamental, médio e superior. As perseguições, cassações, as expulsões,
as prisões, as torturas, mortes, desaparecimentos e exílios. Enfim, a devastação
feita no campo dos educadores. Todos os que tinham ideias de esquerda ou
progressista foram sacrificados de uma maneira extremamente violenta.
Em segundo lugar, a privatização do ensino, que culmina agora no ensino
superior, começou no ensino fundamental e médio. As verbas não vinham mais
para a escola pública, ela foi definhando e no seu lugar surgiram ou se
desenvolveram as escolas privadas. Eu pertenço a uma geração que olhava com
superioridade e desprezo para a escola particular, porque ela era para quem ia
pagar e não aguentava o tranco da verdadeira escola. Durante a ditadura, houve
um processo de privatização, que inverte isso e faz com que se considere que a
escola particular é que tem um ensino melhor. A escola pública foi devastada,
física e pedagogicamente, desconsiderada e desvalorizada.
Em terceiro: A reforma universitária. A ditadura introduziu um programa conhecido
como MEC-Usaid, pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, para a
América Latina toda. Ele foi bloqueado durante o início dos anos 1960 por todos os
movimentos de esquerda no continente, e depois a ditadura o implantou. Essa
implantação consistiu em destruir a figura do curso com multiplicidade de
disciplinas, que o estudante decidia fazer no ritmo dele, do modo que ele pudesse,
segundo o critério estabelecido pela sua faculdade. Os cursos se tornaram
sequenciais. Foi estabelecido o prazo mínimo para completar o curso. Houve a
departamentalização, mas com a criação da figura do conselho de departamento, o
que significava que um pequeno grupo de professores tinha o controle sobre a
totalidade do departamento e sobre as decisões. Então você tem centralização. Foi
dado ao curso superior uma característica de curso secundário, que hoje
chamamos de ensino médio, que é a sequência das disciplinas e essa ideia
violenta dos créditos. Além disso, eles inventaram a divisão entre matérias
obrigatórias e matérias optativas. E, como não havia verba para contratação de
novos professores, os professores tiveram de se multiplicar e dar vários cursos.
Resumindo: para ler a entrevista completa de Marilena Chauí acesse o link:
Disponível em:
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2012/03/para-marilena-chaui-
ditadura-militar-fez-com-que-universidades-nao-oferecam-formacao-humanista

Nessa breve retrospectiva, fica explícito que a educação rural teve um


lugar marginal na política educacional brasileira e que somente após o final da
década de 1980 e decorrer da década de 1990 houve sinais de mudanças,
mediante a ação dos movimentos e organizações sociais voltados à educação do
campo.

Contata-se, portanto, que não houve, historicamente, empenho do Poder Público para
implantar um sistema educacional adequado às necessidades das populações do
campo. O Estado brasileiro omitiu-se: (1) na formulação de diretrizes políticas e
pedagógicas específicas para as escolas do campo; (2) na dotação financeira que
possibilitasse a institucionalização e manutenção de uma escola com qualidade; (3) na
implementação de uma política efetiva de formação inicial e continuada e de
valorização da carreira docente no campo.

1.1.2 Educação do Campo no Paraná

No Estado do Paraná, a trajetória da educação do campo não é diferente,


pois também esteve marginalizada. Durante muitos anos, a educação dos povos
do campo foi precarizada, repetindo todos os problemas encontrados no restante
do país. No Estado, no início dos anos de 1990, ocorreram importantes iniciativas
de alfabetização de jovens e adultos nos assentamentos da reforma agrária,
mediante a ação do MST. O acúmulo teórico-metodológico (práticas, materiais
didáticos, debates, seminários) realizado pelo referido movimento fez avançar o
debate sobre educação do campo.
No plano governamental, com a constatação da situação de analfabetismo
nos assentamentos, foi criado pelo governo estadual, na gestão 1992-1994, o
Programa Especial Escola Gente da Terra, que tinha como propósito “dar um
atendimento específico e diferenciado” aos povos do campo, das áreas indígenas,
dos assentamentos e aos assalariados rurais, no nível do Ensino Fundamental e
da alfabetização de jovens e adultos.
Em 1992, foram publicados pelo governo estadual os Cadernos de
subsídios ao processo de educação de jovens e adultos do campo. O MST e a
Comissão Pastoral da Terra eram os interlocutores com a instância
governamental (SOUZA, 2002).
As contribuições da Associação de Estudos, Orientação e Assistência
Rural (Assesoar), com as experiências do projeto Vida na Roça, que discute o
desenvolvimento nas múltiplas dimensões a partir dos sujeitos locais, e as
produções escritas sobre a Escola da Roça, foram importantes para enriquecer o
debate a respeito da escola que tem sentido sociocultural para os povos do
campo.
As 36 Casas Familiares Rurais existentes no Estado do Paraná, mediante
a experiência com a pedagogia da alternância, oferecem contribuições ao debate
da educação do campo. A Associação Projeto de Educação do Assalariado Rural
Temporário (Apeart) é outra organização que acumula experiências e propostas
pedagógicas com os bóias-frias e com os indígenas. Também, de relevância para
a educação dos trabalhadores, são os projetos desenvolvidos pelos sindicatos
combativos, a exemplo do Programa Terra Solidária, organizado pela Fetraf-
SUL/CUT (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região
Sul/Central Única dos Trabalhadores).
A experiência das atuais 11 escolas itinerantes no Paraná, que trabalham
na perspectiva da educação crítica e emancipatória de Paulo Freire, também é
muito importante para o avanço do debate da educação do campo no Paraná,
estado com maior número de escolas itinerantes no país. Cada uma delas tem
impulsionado o debate para repensar novas propostas pedagógicas de
organização escolar relativamente a temas geradores, tempo e espaços
escolares, entre outros. Trata-se de uma escola concebida e organizada em
fundamentos políticos e ideológicos do MST. Vale destacar que a escola intitula-
se ‘itinerante’ em função de que ela acompanha o itinerário das famílias Sem
Terra, garantindo o direito à educação das crianças, jovens e adultos que se
encontram em acampamento, lutando pela reforma agrária.
São experiências educativas que oferecem contribuições ao debate e à
formação educacional para o desenvolvimento local e a emancipação
sociocultural dos povos do campo. Todas as iniciativas são significativas para o
acúmulo de experiências pedagógicas e para a demonstração de que a educação
do campo é objeto de atenção das organizações sociais, dos sindicatos, dos
movimentos sociais e de muitas comunidades que, de forma pontual, realizam
suas práticas sociais educativas.
No Paraná, em 2000, após vários encontros e reuniões, criou-se a
Articulação Paranaense por uma Educação do Campo, concomitante à realização
da II Conferência Paranaense: Por uma Educação Básica do Campo. Conforme
Souza (2006), os sujeitos coletivos envolvidos na Conferência foram: Apeart,
Assesoar, Comissão Regional dos Atingidos por Barragens (Crabi), Comissão
Pastoral da Terra (CPT), Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação
Solidária (Cresol/Baser), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Departamento
de Estudos Socio Econômicos Rurais (Deser), Fórum Centro, Fórum Oeste, MST,
Prefeitura Municipal de Porto Barreiro e de Francisco Beltrão, Universidades:
UFPR, UEM, Unicentro e Unioeste. Conforme explica, tais sujeitos e entidades,
de uma forma ou outra, dedicam-se ao debate da educação do campo, dos
trabalhadores rurais, embora representados por profissionais individuais ou
grupos que se interessam pela temática, como no caso das universidades, bem
como pelas organizações da sociedade civil. De fato, o que os une é a
preocupação com uma educação que valorize os sujeitos sociais e sua cultura,
que produza conhecimentos com uma função social focalizada no benefício e
transformação da sociedade (SOUZA, 2006).

A Articulação evidencia um espaço público de encontro entre sujeitos que


possuem interesses no campo, na sua dimensão educativa e no
desenvolvimento rural. É um espaço de debates, apresentação da situação
educacional nas comunidades camponesas. A partir da Articulação podem ser
vislumbradas parcerias entre municípios e movimentos sociais, bem como
entre governo estadual e movimentos sociais, assim como parcerias entre os
sujeitos da sociedade civil, como exemplo os movimentos sociais e ONGs
(SOUZA, 2006, p. 70).
Em maio de 2001, a Articulação Paranaense definiu uma pauta de
reivindicações para participar da semana de lutas pela agricultura, promovida por
diversos movimentos e entidades. Nessas discussões, foram reivindicados e
construídos dois cursos que deveriam ser implementados coletivamente pela
Articulação, o Ensino Médio e Pós-Médio e o Curso de Pedagogia da Terra.
Entre as reivindicações, estava à criação de um departamento específico
para a Educação do Campo, na Secretaria de Estado da Educação. Essa
reivindicação foi atendida somente com a mudança de governo ocorrida em 2002,
quando foi criada na SEED a Coordenação da Educação do Campo.
Desde então, a educação do campo passou a ter um espaço de articulação
entre o poder público e a sociedade civil organizada. Foram realizados dois
seminários de educação do campo no Estado, em que estiveram presentes os
sujeitos coletivos da Articulação Paranaense Por uma Educação do Campo, entre
outros. Como parte do governo estadual, a Coordenação enfrenta desafios na
elaboração de propostas, uma vez que está inserida numa arena de disputas
políticas no próprio Estado e ligada a dilemas da sociedade civil, que dificultam a
efetivação dos interesses dos que estão envolvidos com a educação do campo,
terreno ainda poroso e em construção na sociedade brasileira.
Pelo exposto, o histórico da educação do campo contempla quatro
períodos:
- primeiro: período de negação dos camponeses como sujeitos sociais e
cidadãos brasileiros, que se estendeu desde a colonização até a década de 1930;
- segundo: período de preocupação com a “educação rural” por parte do
Estado, em função da migração campo-cidade e do “atraso” sociocultural em que
se encontrava a população rural. Segundo a perspectiva oficial, a partir de 1937,
com a criação de serviços assistenciais aos povos do campo, não havia uma
preocupação de debater os verdadeiros problemas e contradições presentes no
campo, tais como a concentração agrária e o poder político patriarcal;
- terceiro: início da década de 1960, com a influência, dentre vários
pensadores, do educador Paulo Freire na organização dos “círculos de cultura” e
alfabetização de adultos, propiciando os primeiros debates sobre uma concepção
de educação pautada no diálogo, na valorização do sujeito social e de sua prática
sociocultural. Com o golpe militar em 1964, entretanto, houve um recuo nos
projetos educacionais que objetivavam uma educação emancipatória;
- quarto: a partir de final da década de 1980, com a abertura democrática e
a organização dos movimentos sociais em diversas frentes, foi possível avançar o
debate da educação do campo. Dentre os sujeitos coletivos que participam deste
debate e que lhe dão impulso, o MST exerce forte influência política, ao lado de –
e somando-se com – outros movimentos, organizações e instâncias
governamentais.
No caso do MST, a sua visibilidade se deve à produção pedagógica por
meio da publicação de Cadernos, às experiências educativas e à participação
sociopolítica nas manifestações públicas na defesa da educação pública como
necessidade da reforma agrária. Na década de 1990, pode-se dizer que
emergiram os sinais de inserção da educação do campo na agenda política, com
a LDB n. 9394/96 e as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas
Escolas do Campo, em contraposição à concepção de rural vigente até então. O
próprio poder público passou a adotar a terminologia educação do campo, num
sinal de atenção às demandas sociais, que, obviamente, não podem ser
analisadas de modo desvinculadas de seus interesses políticos.
No decorrer desta atividade foram apresentadas algumas fases da historia da
educação brasileira que, em maior ou menor grau, influenciaram na formação da
educação como a conhecemos hoje.
As CEFFAs estão inclusas nesse contexto de lutas, de direito e de
participação histórica como possibilidade de encontro com os sujeitos do campo,
respeitando as características dessas populações, permitindo que os jovens do
campo saia da invisibilidade da família e da comunidade e tenha acesso ao
desenvolvimento globalizado, tornando parte da conectividade em rede e da
globalização do mercado.
O formato de educação proporcionado pela CFR, além do enfrentamento a
realidade de empobrecimento cada vez maior das famílias que vivem no meio
rural, pode ser e é um fator de aproximação das relações familiares e
comunitárias tão distanciadas nos dias atuais. Além disso, a Casa Familiar se
propõe a oferecer uma educação voltada para a formação integral do jovem,
envolvendo sua família e a comunidade, respeitando e ao mesmo tempo
partilhando do seu espaço de atividade. Permitindo assim, que os filhos dos
agricultores possam adquirir uma formação qualificada, autônoma e construtiva,
sempre voltada a formação humana.

1.2 Segundo Encontro

O segundo encontro dár-se-á com a apresentação da Professora PDE onde abrirá o


encontro falando sobre a fundamental importância da Família na CFR e na
sequência haverá o depoimento do Coordenador Regional da EMATER/FETAE –
Eder de Oliveira.
Tem como objetivo conscientizar os cursistas, sobretudo os pais, da importância da
participação das famílias na vida da Casa Familiar Rural.

1.2.1 A Família na Escola e a Associação de Pais

Os CEFFAs estão intrinsecamente interligados com a família, pois o


encontro familiar no ambiente escolar permite a troca de experiência, de novas
informações, a busca comum de soluções, a confrontarem com situações
semelhantes e diversas com os jovens da mesma idade, onde a escola se torna
mediadora de soluções e não indiferente às dificuldades familiares na formação
de seus jovens.

Com a alternância, não entram mais em jogo os únicos saberes dos livros e do
docente na escola, mas aparecem os da vida familiar, social e profissional, segundo as
dimensões da experiência levadas em conta. Não se encontra mais na clássica
triangulação ensino-saber-aluno no seio da classe, mas de uma multidão de relações
sociais cruzadas entre uma diversidade de instituições de atores co-formadores, no
entroncamento das quais se encontram os alternantes. Encontra-se numa pedagogia
da partilha, da cooperação, da parceira. Por isto, da natureza e da qualidade das
relações depende o efeito formação da alternância e, além disto, a dinâmica
associativa e seus efeitos sobre a promoção de seus membros. (GIMONET, 2007, p.
81).
A Pedagogia da Alternância se preocupa com a formação da adolescência,
respondendo a necessidade desta idade, favorecendo condição básica de
passagem, permitindo os adolescentes e pré-adolescentes a ter um lugar, a se
sentirem inseridos, a conquistar um código, a agir, a ser bem sucedido, ser
reconhecido, a crescer e ser amado.
A Associação de Pais é composta majoritariamente por pais. Essa
associação é composta por pessoas que vivem e exercem atividades
profissionais, familiais e sociais no município ou pertencente ao território região o
qual a CFR está inserida, estão diretamente envolvidas nos assuntos ligados ao
seu território e a comunidade local. Assuntos que têm que ver com o
conhecimento de técnicas agrícolas, a educação dos filhos, a comercialização, a
saúde, o saneamento, o transporte, etc.
São os integrantes da associação que respondem as perguntas às quais os
demais pais e comunidade se confrontam do dia-a-dia da vida da CFR. Reunido
em associações, os pais pode se ouvir dialogar, partilhar suas esperanças, seus
desejos, seus questionamentos. Eles querem um futuro melhor para seus filhos.
Não somente no aspecto material, mas querem que a CFR prepare seus filhos no
aspecto profissional, que sejam capazes de ter um emprego, e viver dele. Querem
que a CFR os ajude a refletir sobre a vida familiar, vida social e suas relações. A
associação é assim um elemento essencial do desenvolvimento do meio e da
existência e continuidade da CFR.

“A associação é a expressão superior da democracia”. Ela é, ao mesmo tempo, efeito


e causa da liberdade e da democracia. “A associação é o lugar de expressão da
liberdade, o lugar onde se busca encontrar um complemento para sal própria pessoa e
realizar um projeto social... Ela tem um papel a desempenhar, não somente para
assumir seu próprio papel de desenvolvimento da vida local e pessoal, mas, também,
para poder realizar seu papel de contribuição e de participação na vida pública. Em
outros termos, a associação é o quadro insubstituível da participação. Ela contribui
para a partilha do poder, desenvolvendo o poder de cada um, sua capacidade de
cidadão” (GIMONET, J.C., 2001).
Após essa reflexão feita pela professora PDE segue com o depoimento do
coordenador regional da EMATER/FETAEP, Eder de Oliveira que possibilitará
uma reflexão sobre a importância da família, sua participação na vida dos jovens
e sua importância na vida da Casa Familiar Rural, será um momento para um
repensar da educação do campo como alternativa de salvar a permanência do
jovem no seu lugar de vida.
Sua fala será baseada em sua experiência de vida, como morador do
campo, freqüentador da “casa da avó” onde podia se deliciar com o “mamão
serenado”, o “café no bule” e todas as delícias que o campo pode proporcionar
aos filhos do campo.
Acrescenta sua experiência familiar a de um profissional excepcional, bem
sucedido, ativo na luta pelo respeito ao homem do campo. Contar sua paixão em
continuar sua vida simples de homem camponês.

1.2.2 Atividade em Grupo

Leitura, discussão e apresentação para o grande grupo.

“Figura entre os principais objetivos comuns de cada família da comunidade


rural, a educação de seus filhos de acordo com suas crenças religiosas, cultura,
condição socioeconômica e a expectativa de poder desfrutar de uma melhor qualidade
de vida: constitui este um direito indiscutível fundado na liberdade de pensamento dos
cidadãos”. (Declaração de Iguaçu-Encontro Latino-americano de Movimentos de
Educação Rural por Alternância – Iguaçu – Argentina, abril de 2001). Dentro do
sistema de formação por Alternância, a família se constitui, através das associações no
pilar principal de sustentação do projeto educativo dos CEFFAs. A efetiva participação
das famílias, de forma organizada representa a condição essencial para o bom
funcionamento de um CEFFA. (Texto retirado do livro - 8º Congresso Internacional –
ANAIS/Família, Alternância e Desenvolvimento – Promoção Pessoal e Coletiva: Chave
para o Desenvolvimento Rural Sustentável...)
Partindo da base de que a família é um dos pilares do Sistema de
Alternância responda:

1 – Na realidade atual, qual tem sido a contribuição principal das famílias no


processo de formação de seus filhos, dentro do Sistema de Alternância? Como
isso tem ajudado no desenvolvimento da auto-estima e numa formação
diferenciada?
2 – Quais diferenças se podem perceber entre uma família que elege o CEFF
para a formação de seus filhos e as que optam por outro sistema Educativo?
3 – Como contribui a Alternância a vivenciar valores dentro da família para
afrontar a vida sócio profissional?
4 – Como os CEFFAs promovem a participação das famílias nas Associações,
para que estas assumam de fato o seu papel na condução dos Centros? Os
CEFFAs têm em conta a importância da participação de outras pessoas
(colaboradores/parceiros) do espaço rural na vida Institucional da Associação?
5 – Qual é a sua participação na vida da Casa Familiar Rural de São Jorge do
Patrocínio?
6 – Você está preparado para ser um membro da Associação de Pais? Explique?

Dinâmica: “As pegadas”. Com participação de todos os envolvidos. Sendo


aberto para discussão.

2. UNIDADE 2
3º Encontro: Definição de CEFFAs e EFAs e História das Maisons Familiales
Rurales (MFRs) na França e das Casas Familiares Rurais no Brasil.
4º Encontro: Instrumento da Pedagogia da Alternância.

2.1 Terceiro Encontro

O terceiro encontro abre-se com apresentação do teatro mudo organizado pelos


jovens do 3º ano. Na sequência a professora PDE apresenta em forma de slides a
definição de CEFFAs e EFAs.
Este encontro tem como objetivo apresentar uma história de luta e de conquistas
para os jovens do campo iniciada com as famílias do campo no campo na França e
reproduzida em outros países do mundo, assim como, no Brasil.
Os jovens podem sofrer influências do ambiente o qual estão inseridos e a escola
tem papel fundamental na orientação educacional, possibilitando novas
oportunidades e novas escolhas, além de favorecer condições e um ambiente que
possibilite sua transformação interna que interfira positivamente no ambiente o
qual está inserido.

A origem do movimento de formação por alternância no Brasil:


O movimento brasileiro de formação por alternância tem duas origens: os
primeiros CEFFAs surgiram no fim da década de 1960, no Estado do Espírito
Santo, denominadas de EFAs (Escolas Família Agrícola), em virtude de sua
inspiração no modelo italiano que leva a mesma denominação.
Posteriormente, nos anos 1980, no Estado de Alagoas, sem vinculação com
o movimento das EFAs, foram criadas as Casas Familiares Rurais (CFRs)
oriundas diretamente do movimento das Maisons francesas. Segundo
Queiroz (2007), atualmente existem sete diferentes modelos de Formação
por Alternância no Brasil que conjuntamente, somam 273 centros distribuídos
em 21 estados da federação. No conjunto dessas experiências, as
EFAs/ECORs e as CFRs se destacam como os mais antigos e mais
expressivos que, direta e/ou indiretamente, influenciaram a implantação dos
demais movimentos. (ESTEVAN, 2012, p.112).

Quadro 1 - Os CEFFAs e os CEAs no Brasil

PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA NO BRASIL


CEFFAs CEAs
Centros Familiares de Centros de Educação
Formação por Alternância Em Alternância
EFAs CFRs ECRs EAs Projovem ETEs Cedejor
Fonte: Queiroz – 2007 – Adaptado.

2.1.1 Definição de Escola Família Agrícola (EFA)

“Uma EFA é uma Associação de Famílias, Pessoas e Instituições que buscam


solucionar a problemática comum da evolução e do desenvolvimento local através
de atividades de formação, principalmente dos jovens, sem excluir os adultos”.
O que define uma EFA são quatro pilares
1) ASSOCIAÇÃO: A presença de uma Associação responsável nos
diversos aspectos: econômicos, jurídicos, e administrativos,
assegurando autonomia filosófica e gerencial. Ou seja, presença
efetiva das famílias.

2) PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA: Uma metodologia pedagógica


específica: a Alternância Integrativa, alterando momentos no
ambiente escolar e momentos no ambiente familiar comunitário,
organizados em três etapas sucessivas:observar/pesquisar (meio
sócio-profissional);
refletir/aprofundar (meio escolar);
experimentar/transformar (meio sócio-profissional);
Assim a Pedagogia da Alternância se torna a pedagogia do
interesse e do concreto, em que a formação se desenvolve a partir da
realidade específica de cada jovem e na troca de experiências com
os colegas, famílias, monitores e outros atores envolvidos.

3) FORMAÇÃO INTEGRAL: Promove a educação e formação


integral da pessoa, pois considera o ser como um todo. Além da
formação geral e profissional leva em consideração todas as
dimensões da pessoa humana, buscando descobrir, valorizar e
desenvolver as capacidades de cada jovem, num tratamento
personalizado, através do espírito da iniciativa, criatividade, trabalho
de grupo, senso de responsabilidade e de solidariedade, ajudando a
construir o Projeto de Vida / Profissional junto com a família e o meio
em que vive.

Fonte: Calvo (2002) – Adaptado.


Cada um desses quatro pilares tem o seu enfoque importante na
interligação entre si.
2.1.2 Definição de Centro Familiares de Formação por Alternância (CEFFA)

“O CEFFA é uma Associação de Famílias, Pessoas e Instituições, que


buscam contribuir com o desenvolvimento sustentável, através da educação, num
espírito de solidariedade”.

2.1.3 História das Maisons Familiales Rurales

O movimento dos CEFFAs nasceu em 1935, a partir da iniciativa de


agricultores do interior da França. Eles desejavam uma escola que respondesse
às necessidades reais e aos problemas vivenciados no campo.
A organização e a metodologia dos CEFFAs vão se criando de maneira
ocasional, empiricamente, numa estrutura de formação de responsabilidade dos
pais, das pessoas e das forças sociais locais, onde a relação com as
organizações sociais, a igreja e o poder público sempre se deu na forma de
parceria, resguardando a autonomia de gestão e dos princípios político-
pedagógico da alternância.
Após dois anos a fórmula chamou atenção nas redondezas e começa o
processo de expansão pela França. A expansão para outros países da Europa e
outros continentes se dá a partir da década de 1950.
Na França a experiência é denominada de Maison Familiale Rurale (MFR).
Na Espanha e na Itália é denominada Escola Família Agrícola (EFA). No Brasil,
devido às diversas iniciativas temos as CEFFAs (Centro Familiares de Formação
por Alternância) e as CEAs (Centros de Educação em Alternância), Num total de
292. Em 1975 foi criada a Associação Internacional dos Movimentos Familiares
de Formação por Alternância – AIMFR.

2.1.4 Casas Familiares Rurais

As CFRs se baseiam numa associação com base familiar. Na origem um CEFFA nasce
da iniciativa de famílias que se agrupam em associação para criar e conduzir uma
“escola” da qual assumem todas as responsabilidades no plano legal, financeiro e
moral. A Associação desse jeito não é somente uma estrutura jurídica e de gestão. Ela é
um fundamento de cada estabelecimento, um meio dado às famílias e responsáveis de
um ambiente para exercer suas responsabilidades: ela é um espaço de expressão e de
poder.
O sistema CEFFA no Brasil teve seu início no Estado do Espírito Santo, em
1968, em nível da União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil
UNEFAB e em 1986, no Paraná, em nível de ARCAFAR. Está presente em 22
estados brasileiros, ultrapassando o total de 200 estabelecimentos em
funcionamento, atendendo cerca de 15.000 alunos, 100.000 agricultores, mais de
850 monitores. Estes centros já formaram mais de 30.000 jovens dos quais hoje
87% permanecem no meio rural, desenvolvendo seu próprio empreendimento
junto às suas famílias ou exercendo vários tipos de profissões e lideranças no
campo. Importante ressaltar que os outros jovens egressos que não estão no
espaço rural desenvolvem outras atividades nas cidades.
Pensar uma proposta educacional em oposição à educação convencional
foi uma necessidade frente à realidade rural brasileira. Os fatores que
contribuíram para o surgimento dos CEFFAs no Brasil tiveram relação direta com
a economia agrícola baseada na produção de subsistência e de agricultura
familiar, a falta de conhecimento de técnicas alternativas para preservação
ambiental, o rápido processo de desmatamento, o uso do fogo de modo indevido,
preparo inadequado do solo, uso intensivo de agrotóxicos, baixo uso de práticas
conservacionistas nas áreas de cultivos, a monocultura, êxodo rural, evasão
escolar pela falta de respostas das escolas existentes às reais necessidades dos
jovens camponeses e pela falta de escola básica do campo.
Com a diminuição de jovens no campo devido à intensa valorização do
urbano, da industrialização, do consumo e de falta de políticas públicas que
viabilizem a permanência do jovem no meio onde a família está inserida. Estamos
vivenciando no Paraná um tempo novo de luta, de resistência e questionamento
sobre as decisões impactantes de fechamento de escolas fundamentais e de
ensino médio. Pensando em economia, o governo desqualifica e desacredita na
educação que cria esperança e dignidade aos jovens do campo no campo.

2.1.5 Trabalho em Grupo

Vamos ler, discutir, responder e apresentar.


Formação Integral
Os CEFFAs têm uma atenção especial com o projeto profissional dos
jovens, desenvolvida através da formação Integral que lhes permitem desenvolver o
seu próprio projeto de VIDA, junto a suas famílias e no meio em que vivem. É neste
âmbito que se situa a Formação Integral dos jovens nos CEFFAs, levando em
conta a totalidade, a integralidade da pessoa como ser humano e tudo aquilo que
pode enriquecer a sua formação, considerando todos os aspectos da vida:
formação escolar, formação profissional, formação social, cidadania, projeto de
vida, economia, família, meio..., todos os meios que interferem de uma maneira ou
de outra na formação das pessoas. É o que Edgar Morin chama de processo da
complexidade, onde não existe um único elemento que intervém na formação, mas
é a relação e a interação desses elementos que chega a produzir um novo efeito
em cada pessoa, onde dificilmente se pode medir a importância que têm cada um
deles.
Essa formação que leva em conta a totalidade dos elementos formativos,
assim como todos os processos formativos que envolvem os jovens. Influi de forma
decisiva na formação de todos os aspectos da pessoa humana. (Texto retirado do
livro - 8º Congresso Internacional – ANAIS/Família, Alternância e Desenvolvimento
– Promoção Pessoal e Coletiva: Chave para o Desenvolvimento Rural
Sustentável...)

1. Como esta visão de Formação Integral dos Jovens está sendo entendida
e trabalhada pelos CEFFAs? O que necessitamos para promovê-la
concretamente?
2. Mediante a realidade de insegurança que vem se apresentando frente ao
desvendamento político e econômico. O que podemos fazer para manter a nossa
escola em pleno funcionamento e em vigor?

2.2 Quarto Encontro


2.2.1 Instrumentos da Pedagogia da Alternância

O Quarto Encontro consiste em apresentar os Instrumentos da Pedagogia da


Alternância. A professora PDE, fará uma apresentação em slides, no entanto cada
participante receberão os Instrumentos da Pedagogia da Alternância escritos. O
objetivo é que todos conheçam cada instrumento, sua finalidade e sua eficácia na
construção de um jovem mais humano e autônomo.
2.2.1 Instrumentos da Pedagogia da Alternância
A pedagogia da Alternância é um processo metodológico de ensino
aprendizagem que compreende tempos, espaços e formadores diferentes. A
mesma consiste em períodos de formação no centro de Educação Familiar de
Formação por Alternância – CEFFA, acompanhado pela equipe de monitores,
alternado semanalmente com períodos de formação no meio familiar, profissional
e comunitário articulado pelo conjunto de instrumentos pedagógico.
A pedagogia da Alternância dos CEFFAs representa um caminhar
constante entre a vida e a escola, a família e os amigos, o conhecimento prático,
experimentado e a teoria a ser pesquisada, descoberta, comprovada e aprendida.
O processo de alternâncias caminha num ritmo em três tempos:
• O meio familiar profissional e social: Experiência; observações
(investigações, análise); Saberes experienciais.
• O CEFFA: Formalização- estruturação; Conceitualização; Saberes teóricos
e formais;
• O meio: Aplicação-ação; Experimentação; Saberes-ações.

Fonte: UNEFAB – Folder de divulgação Metodologia das EFA’s.

A Alternância se aproxima e se engendra com os co-formadores: pais,


comunidade, responsáveis de empresa, sindicatos, mestres de estágios, tutores,
monitores do CEFFA e outros intervenientes, mas também com os jovens, que
são os alternantes. A formação alternada não atinge sua plena eficiência se os
pais e os mestres de estágio deixam de desempenhar seus papéis de formação e
de educação. Os monitores não podem nada sem eles e o dispositivo pedagógico
deve levar isto em consideração.
Por isso, em toda Pedagogia da Alternância é fundamental uma pedagogia
da cooperação, uma partilha do poder educativo.

Resulta destas finalidades e princípios um conjunto de organizações, de atividades,


de técnicas e de instrumentos de natureza diferente: A saber;
• Atividade e instrumentos de investigação dos espaços-tempos e
Os experiências familiares, profissionais e sociais;
• Atividades e instrumentos de junção entre o meio de vida e o CEFFA;
• Atividades e instrumentos de junção entre o meio de vida e o CEFFA;
• Atividades e instrumentos que dão acesso aos dados e disciplinas dos
programas acadêmicos e de unificação dos saberes;
• Atividades e instrumentos de avaliação;
• Uma organização temática das sequência de alternância como unidades de
formação;
• Uma orquestração do conjunto do percurso dado pelo Plano de Formação;
• Uma organização específica das semanas de formação no CEFFA
(Planejamento semanal);
• Atividades e instrumentos de relacionamento entre os co-formadores.
(GIMONETE, 2007, p. 31)

Na Casa Familiar Rural de São Jorge do Patrocínio cabe a Articuladora


Pedagógica articular junto à equipe de trabalho, pais, jovens e parceiros a melhor
forma de envolver todos de maneira organizada sempre se preocupando com a
formação dos jovens. Sempre levando em conta os perfis de aprendizagem dos
jovens, priorizando os conteúdos profissionais mais práticos, concretos e
familiares, vivenciados, para trazer os conteúdos gerais mais teóricos, avançando
para as pesquisas e o conhecimento científico.
O Plano de Estudo: Desenvolve-se no espaço tempo de formação em
quatro fases:
• Plano de estudo ou guia de pesquisa elaborado pelo grupo-classe antes da
saída do CEFFA;
• Durante a estadia na família e/ou no meio profissional, a realização e a
expressão, por cada um, das pesquisas ou estudos;
• Ao retornar no CEFFA, acontece a apreciação, por um dos monitores, do
documento escrito trazido e seu melhoramento.
• A formatação do estudo, ou seja, sua transcrição como também sua
ilustração para construir um documento personalizado de qualidade, a ser
considerado como a “obra-prima” agradável ao olhar e a ser conservado
cuidadosamente.

Para Duffaure (2005):

O Plano de Estudo é o instrumento de trabalho elaborado de forma conjunta entre


jovens e monitores, que o jovem leva da MFR para sua residência, com o intuito de
aprofundar e trabalhar com temas vinculados a sua realidade socioprofissional. Desta
maneira, a partir da interrogação de seus familiares durante a sua vivência familiar, o
plano deveria provocar a observação e a investigação, levando o jovem a analisar sua
realidade e refletir sobre: por que, como, onde, quando. É, portanto, um apelo para o
jovem refletir sobre a sua realidade, expressando suas descobertas.

No final ou início de cada ano a CFR juntamente com os pais e jovens


definem os temas geradores para cada Alternância, ou seja, os planos de Estudo
a serem pesquisados com a família ou na comunidade.
Ao final de cada sessão escolar os monitores aplicam o Plano de Estudo,
ou seja, o tema a ser trabalhado, estudado, pesquisado na próxima Alternância.
Os jovens são orientados para efetuarem com responsabilidade a atividade
proposta para que retornem com sucesso à escola e curiosos com as novas
descobertas.
Os temas possuem uma organicidade, partem dos mais simples/comuns para
uma progressão exigindo a motivação, o interesse e contextualização do jovem. É
um caminho de duas vias, uma que traz os conhecimentos vivenciados
diariamente pela família para a CFR e outra responsável de levar para a vida em
família as reflexões aprofundadas na escola, o conhecimento científico.
Atendimento Personalizado: é o acolhimento ao jovem que deixa a sua
casa/família para permanecer em forma de internato na casa/escola. É o
momento onde o jovem senta com o monitor para discutir seus anseios, sua
convivência familiar, suas práticas realizada na propriedade, corrigir a tarefa e
tirar possíveis dúvidas, estabelecer vínculos de diálogo com os profissionais da
CFR.
A cada volta do alternante no CEFFA, ocorre o intercâmbio informal do que
cada um viveu de essencial no seu ambiente de vida e depois a atividade mais
formal que consiste na Colocação em Comum constitui estes momentos e estas
atividades de junção no processo de formação.
Colocação em Comum: é a ligação do conhecimento empírico e o
conhecimento comum. Ao retornar da família o jovem traz a pesquisa do Plano de
Estudo. O seu roteiro respondido e uma redação que representa uma síntese
pessoal. A equipe aprecia o trabalho de cada um, individualmente. Na sequência
vem a Colocação em Comum, momento de socialização do Plano de Estudo.

Segundo Gimonet (2007):

A Colocação em comum é essencialmente uma atividade de grupo, com todos os


jogos de relacionamento entre si e os outros que ela produz. Ela é uma atividade
psicossocial. Ela possibilita a confrontação necessária entre si e os outros para
“crescer”, posicionar-se, conquistar mais autonomia, construir sua identidade,
percorrer a distância entre si e os outros. Ela se torna uma atividade de socialização.
Ela induz na dialética do “eu” e do “nós”, da personalização e da socialização, sem a
qual o desenvolvimento pessoal fica parcial.
Mas é fonte, também, de aprendizagens relacionais e sociais em vista de presente e
do futuro. De fato, trocar, partilhar, confrontar, cooperar exige de cada um de falar,
de dizer, de afirmar, mas também de escutar, de entender, de compreender, de
relativizar. Em outras palavras, a relação supõe atitudes de nuance,tolerância, de
respeito, de aceitação da diferença. Trata-se, pelos outros e com eles, de uma
contribuição com a formação global da pessoa, sua educação que pode ter
incidências sobre o funcionamento do grupo e, principalmente, sobre os futuros
comportamentos.
Para o monitor, a Colocação em Comum, é fundamentalmente, uma atividade de
animação pedagógica. A saber: propor dinâmicas, orientações de trabalho, facilitar,
dinamizar, regular as trocas, fazer com que os pontos de vista sejam mais precisos,
relativizados, contenham nuances, orientar um processo intelectual... Sua
competência como animador encontra aqui uma oportunidade se exercer e de se
desenvolver.
Caderno de Alternância ou Caderno da Realidade: é o principal
instrumento da pedagogia da alternância. Em suma, expressa as interrogações do
educando a partir de uma realidade vivida, sistematizada.
Segundo Duffaure (2005):

A participação dos pais, com seus testemunhos de vida, tem um valor fundamental no
processo de construção do conhecimento e as escolas se descuidam disso. Portanto,
tomar por base a realidade vivenciada pelos jovens favorece a junção entre teoria e
prática e não mais sua oposição. O caderno de alternância é esse elemento de diálogo
entre jovens e familiares, intermediado por um questionário.

Visita de Estudo: é realizado durante a semana de internato a uma


propriedade, uma empresa, um sindicato, cooperativa, entre outros. A visita é
antecedida por uma preparação de monitores e jovens, que se reúnem para
elaborar questões e planejar ações necessárias. Proporcionam aos jovens
descobertas de realizações, de empreendimentos, de organismos, de serviços, de
lugares e oportunidades de encontro com seus atores. Na visita os jovens
realizam anotações, questionamentos, observações e procuram anotar tudo, para
que no retorno à CFR, fazer a Colocação em Comum com a mediação dos
monitores. Esse instrumento possibilita ao jovem melhorar sua expressão verbal e
personalizar as suas descobertas. Os jovens realizam também a escrita de um
relatório onde recorrem às anotações realizadas ainda na propriedade,
desenvolvendo o hábito de ouvir, anotar e escrever, usando novas palavras e
compreendendo o seu significado na prática.
A dimensão dos encontros humanos propiciados através destas atividades
é de primeira grandeza para os adolescentes, numa idade de construção da
identidade.
A Pedagogia da Alternância extrapola os quadros e os muros da “escola” e
de suas práticas habituais. Neste sentido, estas práticas justificam-se plenamente.
Os cursos também são instrumentos que fazem parte da formação dos
jovens, pois tem a finalidade de complementar e responder pontos específicos do
processo de formação, em relação aos aspectos científicos e técnicos. Os cursos
podem ser elaborados e executados pelos próprios monitores ou em parceria com
os parceiros. Como: EMATER, Instituto Federal, PRONATEC e outros.
O curso está sempre ligado ao tema gerador possibilita o aprofundamento
dos temas que estão em destaque na alternância que, além de ajudar a
responder e compreender serve para adquirir novos conhecimentos teóricos e
técnicos do programa. Durante o processo, oportuniza ao jovem reagrupar o seu
conhecimento, assimilar outros saberes e desenvolver o seu raciocínio.
A Aula: a aula na CFR tem um entendimento diferenciado e faz toda a
diferença nos resultados. Para Gimonet (2007):

Pela palavra “aula” pode entender-se procedimentos muito diversos. A saber: a


aula coletiva do monitor, o trabalho individual ou em grupo a partir de
documentos, a exposição ou a conferência de um interveniente, o recurso às
novas tecnologias da informação e da comunicação etc.
Para os alternantes, esta fase do trabalho pedagógico tem por objetivo de:
• Agrupar e ordenar aquilo que já conhecem;
• Descobrir noções novas, compreendê-las e assimilá-las, integrando-as
aos seus conhecimentos anteriores, ao que fazem e vivem e,
consequentemente, aprendem;
• Desenvolver o raciocínio, a reflexão e caminhar para mais abstração.
Mas ela se torna, essencialmente, um tempo de ação – pesquisa – formação,
isto é, de construção, de produção de saberes e não de consumo passivo de
informações.
Para os monitores-formadores, a “aula” representa um tempo de animação
durante o qual:
• ele propõe e organiza atividades;
• ele faz participar e expressar os conhecimentos existentes e as
interrogações;
• ele traz, explica e demonstra, quando necessário
• ele guia na busca de informações ou conteúdos;
• ele ordena, sintetiza;
• ele orienta, regula, incentiva a caminhada, controla...
Seus papéis têm a ver, ao mesmo tempo, com a transmissão de noções, de
explicações, de conselhos metodológicos, de acompanhamentos, de
organização, de facilitação da expressão... isto é , de animação pedagógica.
Animar uma aula é permitir que todos e cada um do grupo aprendam. Mas,
cada um tem o seu jeito de aprender e vários fatores intervêm aqui: a
motivação, a disponibilidade, as perturbações de ordem física, afetiva,
relacional, familiar..., a natureza das noções abordadas etc. Por isto, animar
uma aula exige estar presente para todos e para cada um. A atitude,
organização e as técnicas contribuem neste sentido.
Em regra geral, a animação de uma aula se realiza através de três tipos de
atividades:
• atividades ou tempos de participação dos membros do grupo;
• atividades ou tempos de intervenção do monitor;
• atividades ou tempos de trabalho dos alternantes.
Em síntese, a “aula” só constitui um dos tempos da formação alternada. Só
é eficiente se for precedida por tempos e atividades que preparam os jovens a
recebê-la e se for seguida por outras que garantem-lhe a concretização ou a
assimilação: visitas, exercícios, transferências para a ação. As Fichas
Pedagógicas ou Cadernos Didáticos, bem como o Caderno da Realidade e a
Colocação em Comum, constituem um dos traços da identidade dos CEFFAs.
Os Exercícios: são atividades pessoais que podem ser realizados
individualmente, em grupo ou coletivamente que permitem ao jovem, após cada
avaliação ou estudo de temas (textos, conteúdos), a fixação e a aquisição para
assimilar melhor os novos conhecimentos.
Através do exercício, o jovem pode:

• Descobrir sua capacidade de esforços, sua velocidade de trabalhar;

• Desenvolver suas funções intelectuais (inteligência, memória, atenção,


imaginação, capacidade de aprendizagem);

• Desenvolver os meios de expressão escritos e orais;

• Traduzir em sua própria linguagem as novas descobertas, resultantes da


aprendizagem (ARCAFARSUL, 1995).

O Estágio: é a última etapa, dentro do esquema de formação. Segundo


Nogueira (1999):

Este é o momento em que o jovem permanece durante certo período de tempo numa
experiência diferente do local onde ocorre a alternância. Tem por objetivo fornecer
elementos de comparação e oportunizar a obtenção de novos conhecimentos,
tornando os jovens “questionadores” dentro de sua prática profissional; também busca
despertá-los para outras formações, além daquelas que eles conhecem.

Para que a relação entre o local de estágio (que pode ser uma empresa, uma
cooperativa ou outros), la Maison Familiale, a família e o jovem se desenvolva com
eficácia, é necessário que os participantes se comuniquem mutuamente, para reflexão
conjunta e planejamento de ações (CHAMBRES, 1997).
Em síntese, o estágio representa a maneira pela qual o jovem tem a
oportunidade de confrontar a sua realidade com outra.
O Projeto Profissional de Vida do Jovem (PPVJ): Desde o início do
processo de formação na CFR, o jovem é orientado a construir o seu PPVJ. Desta
forma o jovem concretiza as suas pesquisas ao longo dos três anos, realiza
experiências, conhece outras realidades e busca conhecer melhor a sua. É
também desafiado desde o começo de sua formação a pensar no seu futuro como
profissional.
O PPVJ é o elemento central que deve dar sentido não somente à
formação do jovem, mas a sua própria vida.
Avaliação: embora a avaliação seja repleta de controvérsia e muito
discutida no meio acadêmico, em síntese a avaliação na CFR tem por objetivo
controlar a formação recebida; verificar a aquisição das novas maneiras de
trabalhar os quais são acompanhadas pelos monitores; verificar se os jovens
sabem utilizar, durante a alternância, o método e os novos conhecimentos
adquiridos, onde os jovens são acompanhados e avaliados constantemente
devido à proximidade existente entre os jovens, sua família e a equipe de trabalho
da CFR.

A avaliação faz parte de qualquer processo de aprendizagem. Deste modo, ela é um


componente de qualquer Plano de Formação. Ela é uma atividade pedagógica de
grande importância para o alternante e para o monitor. Para este último, ela
representa uma atividade delicada pelos efeitos que pode produzir: dinamizar e
propulsar ou aniquilar e expulsar. Por isto, desenvolver com sucesso e compreender
as avaliações, tanto do ponto de vista do alternante quanto do monitor, supõe
perceber-lhe o sentido e os objetivos e adotar as atitudes apropriadas para que se
tornem pedagógicos e educativos (GIMONET, 2007).

3. UNIDADE 3

5º Encontro: A Importância dos Monitores como animadores das CFRs.


6º Encontro: Roda de Conversa para observar se houve compreensão das
discussões realizadas.
3.1 Quinto Encontro
3.1.1 A Importância dos Monitores como animadores das CFRs

A professora PDE apresentará a Importância dos Monitores como Animadores da CFR.


Com o objetivo de elucidar a função dos monitores e das monitoras na CFR como
animadores da formação nos CEFFAs.

A alternância atuou com transformações precisas na educação,


contrapondo ao ensino tradicional e com isso, implica que os formadores tenham
um estatuto e papeis diferentes dos docentes tradicionais.
Os monitores e monitoras são a alma e os animadores do sistema
educativo das CEFFAs. De suas atitudes, capacidades e competências, de sua
formação e de sua implicação dependem, por uma grande parte, a eficiência da
alternância. Com certeza, mostram o exemplo de “uma nova profissão da
formação”.

Como saber a qualidade do monitor? O monitor precisa ter: relevância, eficácia, eficiência
e equidade... Perguntando-nos que deve saber, como deve ser e como deve fazer aquilo
que deve fazer... O jovem constrói suas próprias aprendizagens, mas, a experiência
somente não vale, tem que vir acompanhada da ciência.
Que tem que saber? Deve ter um conhecimento profundo da realidade que lhe circunda.
Uma capacidade de crescimento profissional, social e pessoal, um espírito questionador e
analítico permanente, isto é o que necessita não só um monitor senão um professor de
qualquer especialidade, de qualquer nível. Não podemos estar nas universidades, nos
colégios, ensinando conceitos que há dez anos são obsoletos. Por isso que agora não é
mais tão importante aprendermos as coisas, senão aprendermos a aprender sempre.
Como se deve manifestar o saber? Aí existe uma série de indicadores que poderiam nos
dizer como podemos reconhecer que um monitor sabe que um profissional em educação
sabe. O saber comunicar-se é uma das necessidades básicas de qualquer um que
pretenda ensinar, saber falar com clareza, saber escutar, saber ler e, sobretudo, saber
escrever com certa clareza.
O saber ser é o mais importante. Nós pensamos que o monitor deve ser modelo de vida.
Porque tem que conviver com alunos, ensinar às pessoas que a sociedade é boa.
Certamente, em seus países também se diz este simples ditado popular aos jovens – os
pais dizem faz o que te digo e não o que eu faço. O monitor tampouco pode dizer faça o
que digo e não faça o que me vê fazendo.
Não podemos formar a responsabilidade, a solidariedade, o respeito pela vida com aulas
magistrais, tem que ensinar aos jovens com exemplos. (Texto de Carmem Trellas –
Coordenadora Pedagógica dos CEFFAs no Peru).
Resumindo: se quiser ler o texto na Integra de Carmem Trellas e outros textos
sobre a organização e vida dos CEFFAs adquira o livro: VIII Congresso
Internacional AIMFR – Associação Internacional dos Movimentos Familiares
de Formação Rural – Família, Alternância e Desenvolvimento – Promoção
pessoal e coletiva: Chave para o Desenvolvimento Rural Sustentável –
CEFFAs Centros Familiares de Formação por Alternância.

3.1.2 Trabalho em grupo

Leitura, discussão em grupo e apresentação na grande roda.

Monitores
Se a Associação é indispensável para o CEFFA, da mesma forma podemos dizer
para a equipe de monitores, já que são os monitores que têm a responsabilidade
técnico-pedagógica de desenvolver o projeto educativo, pensado e construído
com a participação das famílias/Associações. A Alternância propõe um novo
modelo (perfil) de docente (educador): é o condutor e animador da Pedagogia da
Diversidade; o monitor deve reunir conhecimentos técnicos e do espaço rural, que
facilitem a relação e o diálogo com os jovens e as famílias (adaptação de Idalgizo
do texto de Jean-Claude Gimonet).

Questões para trabalho em grupo:

1. Que características (perfil) devem ter o (a) Monitor (a) de um CEFFA para
cumprir o seu papel de docente/animador?
2. Por quais meios ou que de maneira se manifesta o compromisso dos monitores
com o CEFFA e sua proposta de Formação Integral dos jovens e
Desenvolvimento Rural?
3. No que as famílias podem colaborar para que os monitores e as monitoras
possam realizar um trabalho inovador na CFR?

3.2 Sexto Encontro


3.2.1 Roda de conversa

No sexto encontro haverá apresentação dos jovens do terceiro ano com música
relacionada ao campo; paródia e interpretação musical. Com o objetivo de animar o
grupo e ao mesmo tempo relembrar a beleza das músicas relacionadas ao campo
Este encontro além das apresentações musicais terá um momento para revisar o
conteúdo trabalhado até aqui. Haverá também a participação dos jovens do 3º
ano para troca de informação com os participantes e explanação da realidade em
sala de aula e o dia a dia da prática tanto com os monitores quanto na
propriedade. Será um momento para a professora PDE sentir dos cursistas se
houve compreensão e uma nova visão sobre a Pedagogia da Alternância.

4. UNIDADE 4

4.1 Dia de Campo ou Visita de Estudo?


4.1.1 – 7º e 8º Encontro: Visita de Estudo, confraternização e encerramento da
Implementação do Projeto Pedagógico – PDE.

Pretende-se com esse encontro que os cursistas sintam-se em uma “Visita de


Estudo” e percebam a importância desse instrumento como um meio fundamental
de aprendizagem .
Neste encontro haverá a participação da Professora Dra Maria Cecílio, a
orientadora da professora PDE para o encerramento da Implementação
Pedagógica.

Todos os participantes serão convidados a participarem de uma Visita de


Estudo na propriedade dos Irmãos Lazarim, uma propriedade diversificada com a
policultura.
Será uma oportunidade de todos sentirem-se inseridos numa proposta
inovadora, onde os jovens aprendem fora e dentro da sala e que o conhecimento
cotidiano recebe uma valorização e é aprimorado com o conhecimento científico.
Ao retornarem para a CFR serão convidados a realizarem o “plano de
estudo”, ou seja, realizar uma discussão sobre o que viram e aprenderam
realizando a mesma tarefa proposta aos alunos o “relatório”.
Na sequência participarão do almoço junto com os jovens e a equipe de
trabalho.
No período da tarde será a conclusão do curso, onde cada participante terá
um tempo determinado pelo grupo para expor sua opinião sobre o curso e sobre a
compreensão em relação à Pedagogia da Alternância, os Instrumentos
Pedagógicos e a importância da Articuladora Pedagógica na construção de uma
educação que possibilita a transformação e a emancipação do jovem do campo
no campo.

REFERÊNCIAS

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