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RESUMO
O estudo aborda o tema educação do campo e saúde, explorando uma relação complexa e
singular, uma vez que se refere à realidade de uma faixa extensa da população
brasileira, que possui uma infinita riqueza cultural, mas que também enfrenta uma série
de empecilhos para construir e efetivar um projeto de desenvolvimento articulado às
suas peculiaridades e diversas necessidades. No Pará 80,9% das escolas existentes na área
rural são multisseriadas indicando a necessidade da realização de pesquisas que forneçam
subsídios para a construção de práticas educativas que considerem a realidade dos moradores do
campo e promovam sua qualidade de vida. Neste sentido, este estudo objetiva analisar os
conhecimentos de saúde ensinados numa turma multisseriada de ensino fundamental da escola
Professora Carmen Rabelo Magalhães localizada no município de Marapanim/PA estabelecendo
relação com o contexto e as demandas específicas dos povos do campo. A pesquisa optou pela
abordagem qualitativa, e foi baseada em pesquisa de campo realizada na escola Professora
Carmen Rabelo Magalhães localizada no Município de Marapanim no estado do Pará. Foram
empregados como instrumentos técnicos metodológicos entrevistas aos alunos da referida
escola. O estudo teve como subsídios as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas
Escolas do Campo (DOEEC), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS) e a Política
Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo. A análise dos dados e depoimentos
indicou que os temas de saúde são considerados importantes e necessários pelos alunos. No
entanto, verificou-se a predominância da concepção unicausal de saúde nos conhecimentos
ensinados aos alunos evidenciando um distanciamento em relação aos diversos aspectos da vida
e da saúde dos povos do campo. Isto nos leva a refletir que a despeito do espaço conferido ao
tema educação do campo e saúde nas legislações governamentais ainda existe um longo
caminho para a materialização destas propostas nas escolas do campo amazônidas. Neste
contexto, a educação em saúde libertadora se configura como uma estratégia a fim de que os
povos do campo alcancem a emancipação e o empoderamento. Para tanto, se faz necessário
ressignificar a ação educativa de modo que o educador atue: abordando a saúde enquanto
elemento integral da vida do ser humano; desenvolvendo os conteúdos de saúde de forma a
articular teoria e prática; incentivando o diálogo e a confiança entre o professor e o aluno;
assumindo seu papel como sujeito transformador da realidade; legitimando e respeitando a
autonomia dos sujeitos-educandos sobre sua qualidade de vida e saúde.
INTRODUÇÃO
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Graduada em Pedagoga e Fisioterapia. Especialista em Docência no Ensino Superior (UFPA) e
Reabilitação em Neurologia (UEPA). Mestre e Doutora em Educação (UFPA). Professora da Faculdade
Educacional da Lapa. Membro do GEPERUAZ (UFPA) e ECOS (UFPA). educa697@gmail.com
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Tal encontro foi realizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), em parceria
com a Universidade de Brasília (UNB), o Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF), a
Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e a Conferência Nacional
de Bispos do Brasil (CNBB).
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No Brasil uma série de aparatos legais têm sido produzidos no âmbito da luta
por uma educação do campo de qualidade. Entre estes documentos destaca-se o
intitulado Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo –
DOEEC (Parecer nº 36/2001), um marco legal resultante da luta deste povo, que define
a identidade da escola do campo:
[...] pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade,
ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na
memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia
disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de
projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à
qualidade social da vida coletiva no País (BRASIL, 2002).
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Conferência realizada em Luziânia, de 27 a 30 de julho de 1998, promovida pela CNBB, UNESCO,
UNB, MST e UNICEF cujo objetivo maior foi “[...] recolocar o rural, e a educação que a ele se vincula,
na agenda política do país”.
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sujeitos do campo sem perder de vista sua necessária inserção no mundo do trabalho e a
qualidade de vida desses cidadãos.
Entre as políticas públicas voltadas para os povos do campo vale destacar
também a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo aprovada em
2008. Este aparato legal adota a intersetorialidade como estratégia de gestão, onde
existe a proposta de uma articulação entre setores como a educação e a saúde com o
propósito de promover a equidade inerente ao desenvolvimento humano e à qualidade
de vida das populações do campo e da floresta. (BRASIL, 2008)
A construção da Política Nacional de Saúde Integral para os povos do campo e
da floresta teve como marco a Portaria nº 719 (Art. 1°, 2004, p.1), por meio da qual foi
criado o Grupo da Terra com a finalidade de:
Neste estudo foi realizada uma Pesquisa de Campo em uma turma multisseriada
de ensino fundamental da escola Professora Carmen Rabelo Magalhães. A referida
Instituição Escolar encontra-se localizada no município de Marapanim, no estado do
Pará, e foi fundada em 1970. A escola conta com duas turmas Multisseriadas: uma de
educação infantil que abriga Maternal, Jardim I e Jardim II e outra que inclui a terceira e
quarta série do ensino fundamental. A educação infantil conta com vinte alunos e o
ensino fundamental possui vinte e dois alunos. A turma multisseriada de ensino
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Informações cedidas pela professora M. S, coordenadora pedagógica da escola Professora Carmen
Rabelo Magalhães.
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escola regras de higiene em forma de versos para a memorização das crianças no III
Congresso Brasileiro de Higiene realizado em São Paulo 1926.
A análise dos dados permitiu observar práticas de ES descontextualizadas da
realidade dos povos do campo e o uso preponderante do caderno em atividades
individuais em detrimento de atividades que estimulem o trabalho em equipe. De fato, a
concepção ampliada de saúde presente nos aparatos legais analisados neste estudo está
distante da forma como o ensino de saúde tem se materializado nas escolas do campo.
Nestas instituições ainda predomina o currículo tradicional desembocando em práticas
de ES tradicionais em oposição à ES libertadora defendida pelos atores sociais do
campo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS
_______. Lei n.º 8.080. 19 set. 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes, e dá outras providências. Disponível em www.cff.org.br. Acesso
em 12 fev. 2009.
I CNEC. Por uma Educação Básica do Campo. Texto base da I Conferência Nacional
por uma Educação Básica do Campo. Luziânia, 1998.
SILVA, T. Teorias do Currículo: Uma Introdução Crítica. Porto: Porto Editora, 2000.