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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ARQ023 HISTÓRIA DA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA

UEBSTER ALMEIDA NASCIMENTO DIOGO

RESENHA CRÍTICA
TEXTO: “APOLOGIA DA DERIVA”

SALVADOR

2021
O texto aborda o movimento situacionista (seus métodos de estudo e proposições
para a cidade ideal com participação maior da sociedade) isso se daria através de
algumas experiências empíricas como a deriva, e “psicogeografia”.
O situacionismo é um movimento de crítica social e política. Criado por marxistas
antiautoritários e artistas de vanguarda, movimento propunha zanzar pelas cidades, para
imaginá-las sob lógicas não capitalistas.
O texto apresenta um contraponto ao fenômeno da espetacularização das cidades
e a passividade das pessoas em meio às decisões políticas sobre a maneira de se
fazer/construir a cidade. Introduz sobre os situacionistas que eram críticos dos
planejadores urbanos e defendiam que a cidade deveria ser construída de forma coletiva,
usa como argumento que o planejador urbano em suma não conhece integralmente ou
nem mesmo superficialmente, as motivações comportamentais e os hábitos dos
indivíduos para quem se constrói.
Os situacionistas criam uma Utopia na qual todas as esferas da sociedade e todas
as pessoas participariam ativamente de todas as discussões e decisões sobre a cidade e
suas edificações. Essa revolução da vida cotidiana seria impraticável justamente pelo fato
de as pessoas se sentirem acomodadas em acatar decisões que são tomadas para elas
no contexto da cidade.
O texto apresenta a ideia da "Deriva" que é um estudo feito para vivenciar e captar
a afetividade do indivíduo com o espaço urbano através da psicografia. Cita bastante a
carta de Atenas que é o manifesto urbanístico resultante do IV Congresso Internacional de
Arquitetura Moderna, realizado em Atenas em 1933. Por Le Corbusier, criticando o
modelo de conjuntos habitacionais e a construção das cidades de forma arcaica e sem
liberdade criativa ou participação dos usuários.
Os situacionistas tentaram exemplificar as suas teorias acerca da cidade ideal
através de Nova Babilônia - Cidade nômade/móvel que se constrói sob uma cobertura de
elementos móveis, habitação temporária que seria constantemente alterada de acordo
com o local em que estivesse estabelecida e se conectaria sob as cidades existentes
formando uma grande rede planetária.
("O espaço de Nova Babilônia tem todas as características de um espaço labiríntico onde
os movimentos podem ocorrer sem impedimentos de ordem especial ou temporal")
E traz um ponto interessante em Nova Babilônia, quando diz que lá as pessoas
conseguiriam viver e criar coisas, contextos e situações livremente ao longo de toda a
duração da sua vida, com plena liberdade de moldar sua existência com base nos seus
próprios desejos. E não somente existir ou "sobreviver" no mundo. Pode-se claramente
associar esse desejo ao fato de atualmente vivermos limitados, numa falsa liberdade no
que se refere a direito à cidade, promovida pelo capitalismo moderno.

No capítulo "Contribuição para uma definição situacionista de jogo", a autora faz um


recorte que define muito bem a maneira em que o sistema capitalista induz o pensamento
e as ações das pessoas no que se refere a bens materiais, a tudo na vida na verdade,
pois parece que nós vivemos em uma espécie de competição o tempo inteiro, o claro e
atual exemplo são as redes sociais, onde as pessoas as utilizam como um meio de expor
a própria vida e as suas posses materiais, gerando uma onda de competição pra ver
quem tem mais ou melhor que o outro. E as pessoas direcionam a vida a chegarem
nesses locais ilusórios de felicidade, ao sucesso material puramente por exibição, o que
alimenta a lógica consumista (interessantíssimo para o capital) e paralelo a isso traz
novos distúrbios "modernos" para o mundo com várias pessoas frustradas e que adoecem
simplesmente pelo fato de não conseguirem alcançar certo patamar material. Ela ainda
cita o jogo de modo geral como um momento de êxtase do indivíduo

"Questões preliminares à construção de uma situação"


A ideia por traz do conceito de situação consiste em criar ambiências que partem
da imaginação do indivíduo. A orientação realmente experimental da atividade
situacionista consiste em estabelecer, a partir de desejos reconhecidos e observados, um
campo de atividade temporária favorável a esses desejos, um cenário. Em outras
palavras é materializar a construção baseando-se nos desejos primitivos das pessoas.
Necessidade de criar um tipo de psicanálise capaz de identificar as características de um
local ideal para se viver e aplicar isso dentro de uma perspectiva de construção possível.
-Faz uma relação de espaço ideal com poesia e teatro, quando diz que a
construção situacional o substituirá. Assim como a construção real da vida substitui
progressivamente a religião.

A autora apresenta alguns conceitos base que ajudam a definir a ideia por trás do
movimento situacionista. Dentre eles o "Programa elementar de Bureau de urbanismo
unitário" com alguns conceitos.

1- O vazio do urbanismo e o vazio do espetáculo - No sentido definido por Marx, a


arquitetura existe tanto quanto a coca cola, uma produção em volta de ideologia,
satisfazendo falsamente uma necessidade forjada, assim como o urbanismo compara-se
ao grito publicitário em torno da Coca cola, uma ideologia espetacular, organizado pelo
capitalismo moderno para expor a nossa própria alienação.'
2 - Planejamento urbano como condicionamento e falsa participação: que expõe o
que nós já sabemos acerca dos processos de organização urbana que finge incluir a
participação dos usuários que na verdade são obrigados a consentir o que lhes é imposto.
"todo o planejamento urbano se compreende apenas como campo da publicidade-
propaganda de uma sociedade, isto é, a organização da participação em algo de que é
impossível participar". E realmente é uma grande farsa considerar as pessoas participam
ativamente da tomada de decisões no planejamento urbano, os que detém essa
prerrogativa é quem decide o que esses usuários precisam ou não, o que eles devem
consumir ou não.
3- O trânsito, estágio supremo do planejamento urbano: O trânsito é a
concretização do isolamento das pessoas (e aí ela faz uma crítica a lógica do veículo
privado, da hierarquia de uso do solo nas cidades que vem relacionada a uma lógica de
poder. que no topo dessa hierarquia é medido pela intensidade do trânsito,
materializando-se na obrigação de estar presente em lugares numerosos (jantares de
negócios) e ainda sim mais distantes entre si estão essas pessoas. O alto dirigente
moderno é identificado como o homem que num mesmo dia passa por três capitais
diferentes.

4 O distanciamento em relação ao espetáculo urbano.


-Trata-se de dar a possibilidade às pessoas de não se identificarem com aquele
espaço urbano, com aquele ambiente. E exercer de fato algum papel de influência nesse
contexto de estrutura urbana.

Então, o que ela quer trazer com essas informações é o que no fundo nós sabemos
que as nossas práticas de uso da cidade, do espaço urbano, é tudo bem regrado e
calculado, nossas ações são controladas o tempo todo, dentro dos interesses do capital.
Só que dentro de cada pessoa, existe uma perspectiva de cidade ideal, e isso precisa ser
explorado para que as pessoas alcancem um patamar de bem estar cotidiano, para que
tenhamos liberdade nos espaços físicos que nós utilizamos diariamente.

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