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Um Benevolo ansioso no século XXI

Roberto Segre
professor da FAU UFRJ.

Imagem Um desenho de Le Corbusier: dois destinos para a arquitetura e a sociedade


moderna [BENEVOLO, Leonardo. A arquitetura no novo milênio. Figura 7, p.30]
Foi uma surpresa a publicação na Itália do livro de Leonardo
Benevolo L´architettura nel novo millenio (Gius. Laterza & Figli,
Roma/Bari, 2006) e a sua quase imediata tradução no Brasil
pela editora Estação Liberdade de São Paulo (2007).

Fato surpreendente, que demonstra as velozes articulações do


sistema editorial internacional, já que o livro Space,Time and
Architecture de Sigfried Giedion, um bestseller mundial, teve
que aguardar meio século para ser traduzido no Brasil.

Na realidade, a pesar que é mais de uma década que não se


conhece a produção teórica de Benévolo, ele continua hoje
com uma forte presença no nosso sistema acadêmico já que
os seus antológicos tratados sobre a arquitetura moderna e a
história da cidade são referências quase obrigatórias nas
disciplinas teóricas das escolas de arquitetura.

E surpreendentemente, sendo a sua obra datada nas décadas


de sessenta e setenta, não foi esquecida com o surgimento
dos livros de textos posteriores tais como os de Kenneth
Frampton, Manfredo Tafuri, Francesco dal Co, e William Curtis.

Desde 1960, quando se publicou a História da arquitetura


moderna sou um fã de Benevolo.

Conheci-o em 1962 quando palestrava na Faculdade de


Arquitetura de Florença e manifestei naquele encontro minha
admiração pelo monumental e inovador estudo sobre a
evolução da arquitetura nos séculos XIX e XX.

Como assistente na cadeira de História da Arquitetura


Moderna na Faculdade de Arquitetura da Universidade de
Buenos Aires, difundi o livro – ainda na versão italiana – entre os
alunos do meu grupo de trabalhos práticos.

Quando em 1963, fui convidado em Cuba para assumir a


cadeira de História da Arquitetura na Faculdade de Havana,
assim que apareceu à tradução em espanhol da Gustavo Gili,
passei a utilizá-lo como texto básico nas palestras sobre
arquitetura moderna.
Por conta das dificuldades econômicas existentes na ilha que
não permitiam a importação de livros, consegui que nos anos
setenta os dois volumes fossem reproduzidos
“revolucionariamente” – sem o pagamento dos direitos
autorais – e entregues gratuitamente a todos os alunos que
assistiam às aulas de história nas Faculdades de Arquitetura
espalhadas no país.

Por que os seus livros obtiveram essa douradura popularidade


entre estudantes e professores das escolas de arquitetura na
segunda metade do século vinte?

Benevolo foi o primeiro a elaborar uma história linear e universal


da arquitetura moderna, que começava no final do século
XVIII – com a Revolução Francesa – e chegava até hoje – no
início do século XXI –, com as sucessivas atualizações inseridas
nas oito edições publicadas.

Assim conseguiu organizar um estudo equilibrado e


abrangente do panorama universal, com um relacionamento
dialético entre sociedade, cultura, arquitetura e urbanismo, o
que não havia sido feito nos livros precedentes.

A sua equanimidade e o seu cuidado em não cair em


extremismos ideológicos e políticos, mantendo uma visão que
privilegiava a democracia e o liberalismo burguês baseada na
esperança otimista do Iluminismo e associada à visão italiana
do partido da Democracia Cristã, contribuíram para a sua
aceitação e permanência no meio acadêmico.

Postura ideológica que não foi compreendida por Josep Maria


Montaner no seu recente livro de crítica publicado no Brasil.

Ele o identificou com as teses marxistas do predomínio das


estruturas sociais e econômicas sobre a superestrutura artística
e cultural, condicionamento ausente na visão de Benevolo.
Na tessitura da complexa história evolutiva do Movimento
Moderno canônico, que se identificava com a procura da
melhoria e o bem-estar da sociedade do século XX, obteve um
equilíbrio, tanto entre o desenvolvimento da arquitetura e do
urbanismo, quanto na articulação entre a abordagem
estética individual dos mestres e as forças coletivas que
definiam a configuração dos conjuntos urbanos.

Sempre defendeu os fundamentos racionais e sociais da


arquitetura moderna em contraposição às tendências
individualistas irracionais e subjetivas que surgiram nos anos
sessenta e se fortaleceram com o Pós-modernismo, movimento
formalista que ele persistentemente combateu.

Em seus posteriores livros como Le origini dell´urbanistica


moderna (1963) e a difundida e popular Storia della
Cittá (1975) – publicados no Brasil pela Editora Perspectiva –,
privilegiou a escala urbanística sobre a arquitetônica,
direcionada aos conteúdos sociais que definiam o
desenvolvimento da cidade moderna.

Com relação à transposição da leitura “moderna” da


arquitetura – na articulação entre espaço, forma e sociedade
– no seu estudo monumental sobre a arquitetura da
Renascença (1968), estabeleceu uma visão inovadora no
processo evolutivo estilístico entre o Renascimento, o
Maneirismo e o Barroco.

Entretanto, uma das maiores qualidades, aquela que talvez


tivesse garantido o sucesso entre os jovens estudantes, foi o
caráter didático e discursivo dos seus textos, de fácil e
apaixonante leitura.

Na realidade, Benevolo preencheu um vazio na história da


arquitetura que perdurou na primeira metade do século vinte.

Para nós, formados neste período, tínhamos que estudar nos


textos acadêmicos de Banister Fletcher, History of architecture
on the comparative method for the student, Craftsman and
amateur (1896) – considerado o livro mais vendido do século
vinte – e a Histoire de l´architecture (1899) de Auguste Choisy.

Com a difusão dos livros de Nikolaus Pevsner – Pioneers of the


Modern Movement from William Morris to Walter Gropius (1936)
e da An outline of european architecture (1942) –, a
interpretação do surgimento da modernidade no design e
uma leitura com novas categorias da arquitetura clássica,
apareceram com uma aragem renovadora nas nossas leituras.

Sem dúvida a revolução aconteceria com o livro publicado


nos Estados Unidos do historiador da arte suíço Sigfried
Giedion, Space, time and architecture: the growth of a new
tradition (1941), que tomei contato em Buenos Aires com a
tradução italiana de 1951; que na Associação de Estudantes
foi difundido entre os alunos da Faculdade de Arquitetura
através de capítulos mimeografados.

Nele, o Movimento Moderno aparecia na sua plenitude com a


identificação dos seus principais protagonistas: Le Corbusier,
Walter Gropius, Mies van der Rohe, Alvar Aalto, entre outros.

Ao mesmo tempo tentava estabelecer a conexão com o


passado, tanto na arquitetura como nas estruturas urbanas,
assumindo a evolução do “espaço” desde o Barroco até as
inovações do movimento cubista.

O livro contemporâneo do arquiteto inglês J. M. Richards, An


introduction to Modern Architecture (1940), também foi
traduzido ao português e ao espanhol, mas teve menor
difusão. A renovação crítica que nos impactou chegou com a
paixão combativa de Bruno Zevi, quem demonstrou as
limitações do racionalismo europeu e a maior significação de
Frank Lloyd Wright e do regionalismo norte-americano,
em Saper vedere l´architettura: saggio sull´intepretazione
spaziale dell´architettura (1948), e na tendenciosa Storia
dell´Architettura Moderna (1950) editadas por Einaudi, que
minimizava a obra de Le Corbusier em contraposição à sua
admiração absoluta pelo Mestre americano.
Ao mesmo tempo, também limos, ainda na Argentina, as
reveladoras análises do Movimento Moderno, mais
equilibradas e lúcidas que as de Zevi, escritas por Giulio Carlo
Argan no aprofundado livro de Walter Gropius e a
Bauhaus (1951), também publicadas em Itália por Einaudi.

Contrastando com estes textos polêmicos, Henry-Russel


Hitchcock – que havia organizado com Philip Johnson a
famosa exposição no MOMA em 1932 – elaborou uma história
ascética e acadêmica do Movimento Moderno com seu
denso e um tanto aborrecido Architecture: nineteenth and
twentieth centuries (1958), que só teve repercussão no
contexto limitado dos historiadores da arquitetura.

Foi neste momento que surgiu a figura de Benevolo com a sua


monumental história que resumia as experiências teóricas
precedentes; e ao mesmo tempo se posicionava com certa
“neutralidade” neste debate criado por Zevi, contrapondo
América à Europa, e outorgava um peso, até este momento
inexistente, ao desenvolvimento urbano.

Depois da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, se


suponha que a Humanidade acharia novas formas lógicas de
convivência pacífica e uma racionalidade na utilização dos
recursos da natureza e na configuração dos assentamentos
humanos.

Além disso, a morte de Stalin permitiria imaginar um caminho


renovador para o mundo socialista, o que poderia ser visto
como um exemplo positivo para as contradições do
capitalismo.

Seu otimismo na idealização do futuro ambiente do homem


repercutiu internacionalmente, o que permitiu a divulgação
do livro em vários idiomas, e ao mesmo tempo sua duradoura
persistência até o início do século XXI, com as sucessivas
reedições.

No entanto, a esperança de Benevolo no futuro da


humanidade não coincidiria com a evolução da história real.
Assim que o livro foi publicado, as contradições que culminam
com a visão patética e pessimista dominante neste novo
século tiveram seu início: a Guerra Fria, o Muro de Berlim, a
Guerra de Vietnã, as ditaduras na América Latina, os conflitos
raciais nos Estados Unidos, o drama da África, o aumento da
pobreza urbana, o fim do mundo socialista.

Uma cadeia de eventos trágicos que se sucederam até o


dramático início do século XXI.

Com o atentado ás torres do WTC no 11/09/02, o terrorismo


internacional, o desenfreado consumismo no mundo
capitalista, a alternância das crises políticas e das guerras
locais, o domínio econômico mundial das corporações e o
surgimento da China, os conflitos religiosos e raciais, os
problemas ecológicos da Terra, as teses otimistas do Iluminismo
desapareceram neste mundo dominado, segundo Bauman,
pelo “medo líquido”.

Alguns autores tentaram emular a com a visão panorâmica do


Benevolo, mas com enfoques diferenciados que
questionariam o desenvolvimento linear do Movimento
Moderno.

Michel Ragon em Histoire mondiale del´architecture et de


l´urbanisme (1971), valorizou o papel dos arquitetos e integrou
os países do Terceiro Mundo; Manfredo Tafuri e Francesco dal
Co, na Architettura contemporânea (1976), definiram desde
um enfoque marxista, a existência de cortes, rupturas e
descontinuidades na arquitetura do século XX. Kenneth
Frampton em Modern architecture: a critical history (1980)
concentrou-se na análise de movimentos e autores específicos
evidenciando a pluralidade sincrônica; William J.R. Curtis
em Modern architecture since 1900 (1982) limitou-se às obras
de arquitetura e deu importância ao mundo sub-desenvolvido;
Roberto Segre na Historia de la arquitectura y del urbanismo.
Países desarrollados. Siglos XIX y XX (1985), com um enfoque
marxista canônico, privilegiou a produção do mundo
socialista; e Renato de Fusco na Storia dell´architettura
contemporânea (1988), aprofundou a interpretação
semântica da arquitetura.

Resulta surpreendente o fato que na maioria destes textos é


minimizada a contribuição de Benevolo, com exceção de
Segre que estabeleceu um contraponto com o Mestre, o que
provocou a identificação do seu livro publicado em Cuba
como o “Malévolo”.

Entretanto, desde os anos sessenta havia dado início um


desmonte da visão monolítica do Movimento Moderno desde
dois frentes: a primeira, questionava a linguagem formal do
racionalismo na sua hipotética origem tecnológica, que
finalmente se demonstrou essencialmente estética e
formalista: entre elas destacam-se as críticas de Reyner
Banham no livro Theory and design in the first machine
age (1960); e Tomás Maldonado desde Ulm em La speranza
progettuale. Ambiente e societá (1970).

A segunda tendência, mais dura e agressiva, se dirigia contra


o “proibicionismo”, a rigidez, as limitações e o esquematismo
do sistema formal racionalista, sintetizado na obra de Mies van
der Rohe, definido por Robert Venturi como “less is bore”.

De fato o seu livro Complexity and contradiction in


architecture (1966), abriu o caminho para o Pós-modernismo.

Os dois enfant terribles da crítica foram Charles Jencks


em Modern movements in architecture (1973), The language
of post-modern architecture (1977); e Paolo Portoghesi
em Dopo l´architettura moderna (1980).

Autores ainda atuantes, um dedicado à futurologia


tecnológica e outro sensibilizado com os problemas
ecológicos atuais, esquecidos no novo livro de Benevolo.

Alem das formulações teóricas, sucederam-se estilos e


tendências divergentes na configuração da arquitetura
contemporânea, desde a hiper-valorização da tecnologia,
até as expressões populistas, regionalistas, historicistas e kitsch,
com a conseqüente reação do neo-racionalismo e do
minimalismo formal, que Jencks agrupou na categoria dos
“modernos tardios”.

Na última década do século vinte, com a disponibilidade de


recursos existente no mundo desenvolvido, a utilização de
novas tecnologias e dos sofisticados sistemas gráficos
computarizados, a necessidade da imagem corporativa das
grandes empresas multinacionais, o acelerado processo de
industrialização dos países asiáticos, a renovação urbana nos
países europeus, estabeleceram a forte visibilidade da
arquitetura “de autor” e a presença globalizada de um
pequeno grupo de arquitetos do star system.

Isto foi acompanhado por um novo grupo de historiadores e


críticos que tentaram evidenciar as tendências surgidas
“depois” do Movimento Moderno.

Poderíamos citar entre eles, Josep Maria Montaner


em Después del Movimiento Moderno (1993); Alexander Tzonis
e Liane Lefaivre, La arquitectura em Europa desde 1968 (1993);
Diane Ghirardo em Architecture after Modernism (1996);
Dennis P. Doordan em Twentieth-century architecture (2001) e
o recente Atlas. Global architecture. Circa 2000 (2007),
organizado por Luis Fernández Galiano.

A estes estudos e ensaios teóricos somou-se uma proliferação


infinita de imagens coloridas em grandes e pequenos volumes
publicados por editores dos países desenvolvidos com tiragens
gigantescas e a baixo custo, que invadiram os escritórios de
arquitetura e os ateliês das Faculdades de Arquitetura.

Alguns autores se caracterizaram pela capacidade de reunir


milhares de imagens de obras exuberantes espalhadas pelo
mundo, criando uma espécie de zapping arquitetônico.

Neste caso podem ser citados o Atlas de arquitectura


actual (2000) de Francisco Asencio Cerver e a coleção
de Architecture now! 1-5 de Philip Jodidio, editados
recentemente pela Taschen, a maior editora mundial de livros
acessíveis a um baixo custo.

A Summa da arquitetura contemporânea está contida na


mala de plástico com o The Phaidon atlas of contemporary
world architecture (2005), onde se mostra tudo o que foi
construído no planeta nos últimos anos.

Neste contexto mediático caracterizado pelo uso descomunal


de imagens coloridas, se insere o novo livro de Benevolo,
desafortunadamente com um look antiquado: o fato de não
apresentar qualquer imagem colorida entre as 899 ilustrações,
relaciona o volume com a tradição editorial do século XX, e
não com as representações que abriram o novo milênio.

Supõe-se que não seria determinado por um problema de


custo, já que o texto didático de William Curtis Modern
Architecture Since 1900 – que na atualidade (2008) é o mais
difundido entre os alunos das escolas de arquitetura dos países
desenvolvidos –, uma terça parte das suas 862 imagens, é
colorida; e o seu preço é semelhante ao de Benevolo.

Nos dez capítulos do livro, se evidencia o esforço do autor para


articular a herança do Movimento Moderno do século XX com
as inovações e transformações acontecidas nas últimas duas
décadas, já que se pode considerar o Museu Guggenheim em
Bilbao de Frank Gehry (1992) como uma espécie de turning-
point – parafraseando Konrad Wachsman – nas mudanças
radicais da linguagem arquitetônica.

Quase a metade do livro está dedicada ao resgate dos


herdeiros da tradição moderna européia, cuja ética
racionalista e a lógica da utilização das novas técnicas e
materiais se mantém nos limites da modernidade canônica.

São analisadas em detalhe as obras de Gino Valle, Vittorio


Gregotti, Giancarlo De Carlo, Rafael Moneo, Álvaro Siza,
Norman Foster, Richard Rogers, Renzo Piano e Jean Nouvel.
E, acredito que ele tem um inconsciente constrangimento em
dedicar um espaço aos jovens heterodoxos que define como
“pacientes e impacientes catadores de novidades”, já que
não demonstra ter com eles uma particular identificação
estética.

A visão de Benevolo é distante das complexas elaborações


formais surgidas dos sofisticados programas contidos nos
poderosos computadores utilizados nos escritórios profissionais.

Não resta a menor dúvida que cada autor, no


desenvolvimento das suas teses, deve estabelecer critérios
próprios para a seleção de arquitetos e obras; no entanto, as
ausências notáveis sempre surpreendem.

Infelizmente, considero que este livro em particular fica


marcado por muitas dessas ausências.

Entre os inovadores, faltou a presença do inglês Nicholas


Grimshaw, do suíço Peter Zumthor, dos franceses Paul Andreu
e Dominique Perrault, e do espanhol Enric Miralles. Na Itália não
podem ser esquecidos Maximiliano Fuksas e Paolo Portoghesi.

Se por uma parte, dedica um capítulo à vanguarda


holandesa, a significação da obra de Zaha Hadid e a de
Herzog & De Meuron, cuja importância alarga novos limites
não somente nas invenções formais e espaciais, mas na
filosofia desenvolvida no uso dos materiais e do
relacionamento com a natureza, ficou minimizada.

Surpreende também a ausência da Áustria no panorama


europeu, já que à obra de Hans Hollein e da equipe de Coop
Himmelblau continua reconhecida no cenário mundial.

No capítulo dedicado ao desenvolvimento urbano na Europa,


percebe-se a ausência de Barcelona, cidade que no início do
século, com o desenvolvimento do Fórum, deu um novo
impulso na criação de novas estruturas urbanas.
Com relação à análise do planejamento territorial nos Estados
Unidos, não é citada a importante experiência do New
Urbanism e de seus principais protagonistas – Andrés Duany,
Elisabeth Plater-Zyberk e Peter Calthorpe – na Flórida e na
Califórnia.

Nos capítulos finais percorre o mundo fora da Europa e aqui


também as ausências são notáveis: no Japão está esquecida
a equipe SANAA de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa; na
Austrália não aparece Glenn Murcutt, quem obteve o Prêmio
Pritzker; e tampouco na Malásia, foi lembrado Kenneth Yeang,
o arquiteto com preocupações ecológicas.

Nos Estados Unidos, um grupo de arquitetos se destaca neste


início do século sobressaindo-se no anônimo panorama deste
país: Thom Mayne & Michael Rotondi do escritório Morphosis;
Diller+Scofidio; Antoine Predock, Steven Hall e Eric Owen Moss,
infelizmente também ausentes neste livro.

Trata in extenso a recente transformação urbana e


arquitetônica chinesa, mas outorga maior importância à
presença dos profissionais estrangeiros que os projetos dos
arquitetos jovens chineses que estão produzindo obras de
extrema qualidade e finura: lembre-se o conjunto de
residências e hotéis ao longo de Grande Muralha, com um
cuidadoso relacionamento entre tradição e modernidade.

Pelo contrario, é totalmente superficial a visão do que


acontece nos países ex-comunistas e da América Latina.

Depois da caída do Muro de Berlim, houve um ressurgimento


da arquitetura, em particular nos países pequenos ou
periféricos do bloco soviético, Letônia, Estônia, Eslovênia,
República Checa; e a inovadora obra de Imre Markovecz em
Hungria.

E a visão de América Latina é de uma pobreza extrema.

Cita a pouco conhecida revista peruana Arkinka em vez de


referirem-se as principais publicações da região – a
argentina SUMMA+; as brasileiras Projeto/Design e AU; a
mexicana Arquine – ; e resume a produção do nosso
continente nas escolas paulistas CEUs, que inclusive no Brasil,
não constituem exemplos paradigmáticos das atuais
inovações arquitetônicas.

Não é citada a produção recente de Oscar Niemeyer, Paulo


Mendes da Rocha, Clorindo Testa, Enrique Norten, Rafael
Iglesia, Ricardo Legorreta, Rogelio Salmona, Mathias Klotz,
entre outros.

Com a trajetória crítica, histórica e intelectual de Benevolo era


previsível que o capítulo final tivesse uma força contundente,
tanto denunciando os graves problemas do mundo atual – o
novo sistema de imagens e representações criadas com os
computadores; a crise ecológica e a necessidade de uma
arquitetura sustentável; a crítica as obras faraônicas que se
constroem na Península Arábica e na China; o descontrole dos
assentamentos marginais e periféricos nas metrópoles do
Terceiro Mundo –, quanto as possíveis condições futuras da
nossa problemática profissão.

Isto não aconteceu na seleção de 19 obras espalhadas no


mundo, que ele considera representativas de “experiências
emergentes”, assumidas em parte de uma seleção elaborada
pela revista inglesa Architectural Review .

Algumas delas expressam um equilibrado relacionamento


com a natureza, a utilização de materiais naturais com
soluções econômicas, o respeito pela herança histórica, mas
no conjunto, não indicam soluções parciais ou globais aos
graves problemas da vida humana no planeta.

Evidentemente, este livro, é ainda a representação de uma


visão crítica consolidada no século XX, na sua identificação
metafórica com o “olho” do Museu de Curitiba de Oscar
Niemeyer.
Na realidade, no museu, esta imagem concretiza uma história
estética herdada do passado modernista, mas não abre a
ansiada perspectiva do século XXI.

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