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Uma nova agenda para a arquitetura /

org. Kate Nesbitt

Victor Delaqua

Na Europa e nos EUA, a partir de meados dos anos 1960, as


objeções à ideologia do movimento moderno se avolumaram
e proliferaram rapidamente, incitando novas reflexões e
questionamentos não apenas sobre o movimento, como
também sobre a própria disciplina arquitetônica.

A crítica que se constituiu a partir daqueles anos, dedicada ao


reexame da disciplina e da modernidade cultural em curso, foi
influenciada por paradigmas externos à arquitetura,
provenientes da literatura, da filosofia e da psicanálise e
caracterizou-se pela pluralidade e inexistência de um tópico
ou ponto de vista predominante.

Décimo título da coleção Face Norte , "Uma nova agenda


para a arquitetura", organizada pela professora norte-
americana Kate Nesbitt, procura justamente recuperar a
multiplicidade de temas e questões teóricas propostos nesse
momento, examinando o pós-modernismo sob a perspectiva
de um período histórico que, ao mesmo tempo, mantém uma
relação específica com o modernismo e lança uma nova
variedade de temas relevantes para a reflexão cultural.
Nesbitt recupera o intenso debate travado naqueles anos no
campo da arquitetura através de publicações, seminários e
exposições de destaque. Dentre as diversas iniciativas
editoriais, acadêmicas e expositivas podemos citar os livros
Complexidade e contradição em arquitetura, de Robert
Venturi, A arquitetura da cidade, de Aldo Rossi, as revistas
Lotus, Casabella, Domus, Architecture and Urbanism,
Architectural Design, Perspecta: The Yale Architectural Journal
e Architectural Association Quarterly e ainda a série de
exposições realizadas entre 1975 e 1988 pelo Museu de Arte
Moderna de Nova York.

A antologia reúne os 51 mais influentes ensaios sobre teoria da


arquitetura escritos entre 1965 e 1995, escolhidos em função de
sua capacidade de revelar as questões centrais do debate
teórico pós-moderno.

Os textos foram escritos por arquitetos, historiadores, críticos e


teóricos como Eisenman, Tschumi, Colquhoun, Argan, Agrest,
Koolhaas, Gregotti, Tafuri, Frampton, entre outros.

A organização em quatorze capítulos não segue uma


ordenação cronológica, mas sim temática e paradigmática
de modo a deixar clara a diversidade dos manifestos, tratados
e polêmicas travadas à época e de possibilitar que se
estabeleça conexões entre os diversos autores, países e
décadas enfocadas.
Preocupada em ressaltar essas relações inter-textuais, a
organizadora escreveu uma introdução que precede cada
um dos ensaios da antologia, apresentando a sua gênese e
seu universo conceitual específico.

Nos primeiros oito capítulos abordam-se as questões


relacionadas com o significado, a história e a sociedade em
arquitetura. Os capítulos de 9 a 12 acrescentam um enfoque
fenomenológico que enfatiza as relações entre natureza,
lugar, tectônica e arquitetura.

Os dois últimos abordam as novas questões levantadas nos


estudos pós-modernos sobre o problema do corpo e sua
experiência da arquitetura.

O livro traz ainda informações sobre os autores e uma


bibliografia organizada por capítulos que serve como um guia
de estudo sobre os temas e paradigmas teóricos abordados
na obra.

Pensada originalmente para um público de profissionais,


estudantes e professores de arquitetura, a antologia serve
como uma excelente introdução aos temas e teorias da
arquitetura mais importantes produzidos a partir dos anos 1960.

Nesse sentido, interessa não apenas ao arquiteto, mas


também a todo leitor envolvido com a análise e crítica da
produção cultural do período.

Para o público brasileiro, o livro é sem dúvida o melhor balanço


do intenso debate sobre o moderno e o pós-moderno já
publicado em português.
Sobre a Organizadora
Kate Nesbitt graduou-se em Planejamento Urbano pela
Universidade da Virgínia e obteve o Mestrado em Arquitetura
na Universidade de Yale. Estudou também no IAUS – Institute
for Architecture and Urban Studies, em Nova York, e na Royal
Danish Academy. É arquiteta praticante e reside em
Charlottesville, Virgínia, Estados Unidos.

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