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Andreas Police – Teoria 1– Turma 3 – Grupo 1 – 2022/23

Sociedade Pòs-moderna e arquitetura: Refletir sobre a influência mútua entre forma e


função

I- Introdução
O presente ensaio busca analisar e explorar as conexões entre a sociedade pós-moderna e a
arquitetura, focando na interação entre forma e função, e como essa relação mútua molda o ambiente
construído e a experiência humana. Os objetivos desta análise são perceber, através das aulas teóricas
da unidade curricular e das leituras propostas, qual era o enquadramento internacional e nacional a nível
do pensamento teórico, e compreender, situando o movimento num contexto global da arquitectura. A
revista arq.a servira como fonte primordial para aprofundar nossa análise da implementação e
desenvolvimento do movimento Pós-Moderno na arquitetura portuguesa. Por fim, discutiremos como
a arquitetura pós-moderna influencia e é influenciada pela forma como as pessoas vivenciam e
interagem com os espaços construídos, contribuindo para a construção de significados e experiências
compartilhadas.

II - Transformações e contextos da arquitetura pós-moderna: uma reflexão a partir do estudo da


Teoria 1
A arquitetura pós-moderna é um movimento que emergiu na década de 1960 e alcançou seu
auge na década de 1980. Esse período foi marcado por uma intensa transformação social e cultural, em
que os valores tradicionais foram questionados e novas formas de expressão surgiram. A arquitetura
pós-moderna é uma resposta a essas transformações, um estilo que se caracteriza por um retorno à
história e à tradição, mas com uma nova interpretação. A Unidade Curricular de Teoria 1 tem sido uma
oportunidade para refletir sobre o desenvolvimento da arquitetura pós-moderna e suas implicações para
a disciplina como um todo. A partir das sessões teóricas, é possível compreender as principais
influências e contextos que moldaram esse movimento. Uma das principais influências do movimento
pós-moderno foi a crise do modernismo. Durante a primeira metade do século XX, o modernismo
dominou a arquitetura, com sua ênfase na funcionalidade, na simplicidade e na neutralidade estética.
No entanto, a partir dos anos 60, esse modelo foi questionado, tanto por questões políticas quanto
estéticas. A arquitetura pós-moderna surgiu como uma resposta a essa crise, com um retorno às
referências históricas e ao ornamento1. Outra influência importante para a arquitetura pós-moderna foi
a cultura pop. O movimento teve uma estreita relação com o pop art e o design gráfico, com sua ênfase
na ironia, na paródia e na apropriação de elementos da cultura de massa. Essa abordagem também se
refletiu na arquitetura, com o uso de cores vibrantes, formas geométricas ousadas e materiais não
convencionais2. A arquitetura pós-moderna também foi influenciada pelas mudanças sociais e culturais
que ocorreram no período. A década de 60 foi marcada por uma intensa luta pelos direitos civis e pelos
movimentos estudantis, que questionaram as instituições e as estruturas de poder. Essas mudanças
tiveram um impacto na arquitetura, que se tornou mais preocupada com a responsabilidade social e com
a participação do usuário na concepção do projeto.A arquitetura pós-moderna é caracterizada por uma
ampla variedade de estilos e abordagens, que refletem as diferentes influências e contextos em que foi
desenvolvida. Uma das principais características do movimento é o uso do ornamento e da decoração,
que foi criticado pelos modernistas por ser desnecessário e superficial. No entanto, os arquitetos pós-
modernos acreditavam que o ornamento era uma forma de expressão legítima e que poderia ser usada
para criar edifícios mais atraentes e envolventes3. Além do ornamento, a arquitetura pós-moderna

1 Aula teoria 1 nº13, Teoria de arquitetura no pós-guerra IV: Linguagem e estrutura, 27-01-2023
2 Aula teoria 1 nº14, Teoria de arquitetura no pós-guerra IV, 03-02-2023
3 Aula teoria 1 nº15, Teoria de arquitetura no pós-guerra V: Estrutura e forma, 10-02-2023

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também se caracterizou pelo uso de referências históricas e pela incorporação de elementos
vernaculares. Muitos arquitetos se inspiraram na arquitetura popular e tradicional, criando edifícios que
eram ao mesmo tempo modernos e familiares. Outros buscaram inspiração em estilos históricos como
o barroco. Outra figura fundamental da arquitetura pós-moderna é Michael Graves, que se destacou por
seus projetos que combinavam elementos clássicos e modernos, com uma forte ênfase na ornamentação.
Seus trabalhos mais conhecidos incluem a Portland Building em Oregon e a Humana Building em
Louisville, Kentucky. Graves acreditava que a arquitetura deveria ser uma experiência sensorial,
estimulando os sentidos através da ornamentação e do uso de materiais e texturas variados4. Ao mesmo
tempo, a arquitetura pós-moderna também foi influenciada pela crítica ao modernismo. Muitos
arquitetos e teóricos argumentavam que o modernismo havia se tornado excessivamente racional e
funcional, negligenciando aspectos mais humanos e emocionais da arquitetura. Em vez disso,
propunham uma arquitetura mais contextual, que levasse em conta o ambiente físico, social e cultural
em que estava inserida5. Nesse sentido, a arquitetura pós-moderna valorizava a história e a tradição, não
como um retorno à arquitetura clássica, mas como uma fonte de inspiração para novas abordagens. Essa
valorização do passado também se manifestou na ênfase na ornamentação e na decoração, que foram
consideradas formas legítimas de expressão arquitetônica6. No contexto português, a Escola do Porto
se destacou como um dos principais centros de desenvolvimento da arquitetura pós-moderna. Sob a
liderança de nomes como Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura, a escola se tornou conhecida por sua
abordagem contextual e sensível ao lugar, incorporando materiais e técnicas tradicionais de construção7.
Numa seguinte fase discutimos sobre o pós-estruturalismo, a interpretação e a receptividade
crítica, bem como a desconstrução de Jacques Derrida e a colaboração de Michel Foucault com
Peter Eisenman em Paris. Além disso, abordamos o potencial disciplinar da auto-
referencialidade, as problematizações projetuais de Eisenman e o erotismo do espaço de
Tschumi. Projetos de outros arquitetos notáveis, como D. Libeskind, F. Ghery, R. Koolhaas,
Coop Himmelblau, Z. Hadid e Morphosis, também são mencionados 8. A arquitetura pós-moderna
em Portugal foi influenciada pela Revolução dos Cravos de 1974, que trouxe consigo um clima de
mudança social e política. Isso se refletiu na arquitetura, com a valorização da participação popular e
da arquitetura socialmente engajada. Um exemplo disso é o SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório
Local), um programa habitacional participativo que permitiu que os moradores participassem
ativamente do processo de projeto e construção de suas próprias casas9.

III -A Evolução do Pós-Modernismo na Arquitetura: Influências Sociais, Interação Espacial e


Perspectivas Comparativas entre Portugal e o Contexto Internacional
A década de 1950 foi marcada pela busca de uma nova abordagem na arquitetura, influenciada
pelas mudanças sociais e culturais do período, que exigiam uma resposta às críticas ao Modernismo. A
ascensão do consumo e o desejo por uma maior diversidade de estilos arquitetônicos impulsionaram
discussões sobre a relação entre forma e função, levantando questões sobre a importância da estética e
a necessidade de uma maior diversidade de estilos. A arquitetura Pós-Moderna começou a explorar a
interação das pessoas com os espaços construídos, valorizando a experiência e a construção de
significados10. Em Portugal, a arquitetura modernista continuou a ser dominante na década de 1950,
mas alguns arquitetos, como Fernando Távora, começaram a questionar os princípios modernistas e a
explorar novas abordagens, influenciados pelas demandas de uma sociedade em rápida transformação
e pela necessidade de espaços que favorecessem a interação humana e a construção de experiências
compartilhadas. Na década de 1960, o Pós-Modernismo na arquitetura ganhou força, impulsionado por

4 Aula teoria 1 nº16, Teoria de arquitetura no pós-guerra V: Autonomia e convenções, 17-02-2023


5 Aula teoria 1 nº17, Projeto e pensamentos pós-moderno I: Citações e permeabilidade, 24-02-2023
6 Aula teoria 1 nº18, Projeto e pensamentos pós-moderno I: Micronarrativas vs espetáculo, 10-03-2023
7 Aula teoria 1 nº19, Projeto e pensamentos pós-moderno I: Confronte e Resistência, 17-03-2023
8 Aula teoria 1 nº20, Teoria de arquitectura pós-moderno 2: Interpretação e exterioridade, 24-03-2023
9 Aula teoria 1 nº22, Desenvolvimento e debate teórico em Portugal, 31-03-2023
10 Figura 1 – Capa de Livro Lingua Morta. t_13.8. Giorgio Grassi , Architettura, Lingua Morta, (1988), Electa, Milano

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uma sociedade cada vez mais globalizada e consciente das questões culturais, históricas e contexto
social. A busca por uma arquitetura que refletisse essa diversidade cultural e histórica levou teóricos e
arquitetos a defenderem uma maior diversidade de estilos e o resgate das referências históricas criando
uma arquitetura mais expressiva, com mais atenção a experiência humana, e não apenas à eficiência
técnica. Nesse período, obras como o Habitat 67, de Moshe Safdie, exemplo de como a arquitetura pode
se relacionar com a história e a cultura local11. Safdie usou técnicas de construção e materiais que eram
comuns na arquitetura vernacular da região de Quebec, incorporando elementos da história e cultura
locais em seu projeto. Explorou a relação complexa entre arquitetura, história, cultura, sociedade e
política, e como os arquitetos pós-modernistas buscaram criar edifícios mais expressivos. Essa obra
alia forma e função de maneira mais equilibrada em que proporcionava espaços que facilitassem a
interação das pessoas e a construção de experiências compartilhadas12. Em Portugal, a influência do
Pós-Modernismo começou a se manifestar em projetos como o Conjunto Habitacional da Bouça, de
Álvaro Siza Vieira, que reflete a busca por uma linguagem arquitetônica mais contextualizada e
diversificada, atendendo às demandas de uma sociedade em constante mudança e valorizando a vivência
e a interação dos indivíduos nos espaços construídos. Os anos 1970 foram marcados por uma expansão
da arquitetura Pós-Moderna, impulsionada pelas mudanças sociais e políticas da época. A relação entre
forma e função continuou a ser debatida, com arquitetos buscando novas soluções para equilibrar esses
dois aspectos e responder às necessidades de uma sociedade cada vez mais plural e diversificada. Obras
como o AT&T Building, de Philip Johnson e John Burgee ou Piazza d'Italia, de Charles Moore,
mostram a influência de referências históricas e a busca por uma arquitetura mais expressiva e conectada
com o contexto social, ao mesmo tempo em que consideram a experiência das pessoas e a interação
com os espaços construídos.”entre o pós-guerra aos anos 70, ocorreu em grande medida uma
sedementação de um pensamentoarquitectónico e projectual de cariz existencial e, progressivamente,
fenomenófico.”13 Em Portugal, o Pós-Modernismo encontrou terreno fértil na obra de arquitetos como
Tomás Taveira, cujos projetos, como o Centro Comercial Amoreiras, incorporaram elementos
históricos e estilísticos diversos, refletindo a tendência internacional e a demanda por espaços que
atendessem às expectativas de uma sociedade em transformação e proporcionassem uma vivência rica
e interativa nos espaços construídos. Na revista arq.a vimos que no Instituto Superior de Economia e
Gestão - I.S.E.G em Lisboa14 “espaço que apela a memórias e a um impulso intencionalmente
estético”15. Obra projetada consciente e atenta as experiências compartilhadas descritas pelo autor como
“intencionalidade de projetar significados no espaço - através das crenças dos arquitetos e das memorias
coletivas”16 Essa obra que foi qualificada como a melhor síntese da arquitetura dos anos 70. A década
de 1980 foi um período de crítica e reflexão sobre os rumos do Pós-Modernismo na arquitetura,
impulsionado pelas mudanças sociais, políticas e econômicas da época. A continuidade da busca por
edifícios funcionais e expressivos, relevando um interesse renovado no contexto urbano e cultural. A
relação entre forma e função foi reexaminada, levando a uma maior liberdade criativa e
expressiva no design arquitetônico. Respondendo às necessidades de uma sociedade cada vez mais
urbanizada e consciente de questões ambientais e de qualidade de vida. Na sociedade da década de
1980, o pós-modernismo refletiu o anseio por uma maior diversidade cultural e a busca por
identidades individuais e coletivas. Com a globalização e a expansão das comunicações, as
pessoas começaram a questionar as noções de universalidade e homogeneidade propostas pelo
modernismo. O pós-modernismo abraçou a pluralidade, celebrando a riqueza das diferenças
culturais e a multiplicidade de estilos arquitetônicos .”(desde o apelo estruturalista dos anos 60 até

11 Figura 2 – Capa de Livro. t_14.4.Robert Venturi, Complexidade e contradição em Arquitectura. 1966


12Figura 3 -Illustração Livro. t_14.6. Richard Hamilton, Just what is hat makes the home today so diferente so appealing,
1956, Khunsthalle-Tubingen. Raymond Guidot, Histoire du design 1940-2000, Paris: Hazan, 2000 (1994), p.203.
13Gonçalo Furtado, (3. º trimeste 2022), Recordar Alvar Aaalto: Projecto, Legados Escritos e Disseminação Portuguesa,
Arq./a, 145, p.e 110
14 Gonçalo Byrne e Manuel Aires Mateus (Janeiro/Fevereiro 2001), Instituto Superior de Economia e Gestão - I.S.E.G em
Lisboa, Arq./a, 004, p.e 38-39
15 Idem, ibidem
16 Idem, ibidem

3
à corrente pós-estrutural Desconstructivista dos anos 80)”17. , na década de 1980, o movimento pós-
moderno em Portugal manifestou-se de forma mais discreta, mas ainda assim presente.
Arquitetos portugueses abordaram a relação entre forma e função de maneira mais flexível e
integraram elementos históricos 18 e culturais às suas obras, refletindo as mudanças sociais e
culturais do país durante esse período 19. Nos anos 1990, a arquitetura Pós-Moderna começou a
incorporar preocupações ambientais e de sustentabilidade em seus projetos, influenciada pela crescente
conscientização da sociedade sobre a importância de preservar o meio ambiente e os recursos naturais.
A relação entre forma e função passou a incluir a eficiência energética e o uso de materiais e tecnologias
sustentáveis, buscando atender às demandas de uma sociedade cada vez mais preocupada com o impacto
de suas escolhas no planeta. Ao mesmo tempo, a arquitetura Pós-Moderna também passou a se
preocupar mais profundamente com a vivência e a interação das pessoas nos espaços construídos,
proporcionando experiências enriquecedoras e compartilhadas. Obras como o Edifício Commerzbank,
de Norman Foster, e o Swiss Re Building, de Foster e Partners, exemplificam essa nova abordagem,
buscando harmonizar estética, funcionalidade, sustentabilidade e a vivência dos espaços. Em Portugal,
a arquitetura pós-moderna também foi influenciada pela experimentação e transformação, com
arquitetos como Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura desenvolvendo projetos
importantes que refletiam as tendências globais. A arquitetura portuguesa da década de 1990
também se concentrou na reabilitação urbana e na arquitetura regionalista, destacando a
importância da identidade e cultura portuguesas. A década também foi marcada pelo crescente
interesse na reabilitação urbana e na arquitetura regionalista. Como nas Casas - Pátio, em
Banda/Esposende20 que incorporou princípios de sustentabilidade e eficiência energética. A Expo '98
em Lisboa foi um marco para a arquitetura portuguesa, permitindo que arquitetos locais e
internacionais projetassem edifícios expressivos e inovadores em linha com as tendências pós-
modernas globais. O evento proporcionou um palco para a arquitetura portuguesa e
impulsionou o desenvolvimento de projetos significativos no país. No século XXI, a arquitetura
Pós-Moderna continua a evoluir, incorporando novas tecnologias e abordagens projetuais,
impulsionada pelas transformações sociais, tecnológicas e ambientais. A relação entre forma e função
é constantemente reavaliada, considerando a crescente importância da sustentabilidade, a necessidade
de espaços adaptáveis e a influência da tecnologia na arquitetura e na vida cotidiana das pessoas.
Projetos como o “Ifau und Jesko Fezer”, de Heide & Von Beckerath21, esse projeto urbanistico
demonstra como a arquitetura Pós-Moderna continua a se reinventar, buscando equilibrar estética,
funcionalidade e responsabilidade ambiental, ao mesmo tempo em que proporciona espaços que
fomentam a interação e a construção de experiências compartilhadas. Em Portugal, o desenvolvimento
de projetos como a Estação de Metro da Casa da Música de Eduardo Souto de Moura22 refletem a
constante evolução e adaptação da arquitetura Pós-Moderna às exigências contemporâneas e à
influência do contexto internacional, respondendo às necessidades de uma sociedade em constante
transformação e buscando soluções que promovam a qualidade de vida, a preservação do patrimônio
histórico e cultural e a integração harmoniosa entre a arquitetura e o ambiente urbano, valorizando a
vivência e a interação humana nos espaços construídos.
IV. A Interação entre Espaços Construídos e Experiências Compartilhadas na
Arquitetura Pós-moderna

17 Gonçalo Furtado (Janeiro 2008), Rumo a uma Estética Arquitectónica Evolutiva, Arq./a, 053, p.e 20
18Luis Santiago Baptista, (Janeiro/Fevereiro 2013), Portugal Cultural, A reorientação do arquiteto perante o conflito de
culturas, Arq./a, 105, p.e 39
19Miguel Eufràsia, (Novembro/Dezembro 2014), Think Locally, Act Globally, Ecologia/Globalisação,
Transgressão/Recomposição, Arq./a, 116, p.e 102
20 João Álvaro Rocha, (Julho/Agosto 2000), Casas - Patio em Banda/Esposende, Arq./A, 002, p.e 31
21 Heide & Von Beckerath (2015), Ifau und Jesko Fezer, Cooperativa de Habitação R50, Berlim, Alemanha, Arq./a, 119, p.e
44
22 Eduardo Souto de Moura (Setembro/Outubro 2005), Estação de Metro da Casa da Música, Porto, Arq./a, 033, p.e 31

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A arquitetura pós-moderna desafiou a noção modernista de que a "forma segue a função" ao reintroduzir
elementos históricos, culturais e simbólicos no design arquitetônico. Essa rejeição da pura
funcionalidade levou à criação de edifícios que não apenas atendem às necessidades práticas, mas
também estabelecem uma conexão emocional e cultural com os usuários. Ao incorporar referências
históricas e culturais, a arquitetura pós-moderna convida os habitantes a participarem ativamente na
interpretação e na criação de significado. Isso é visivel em edifícios como Sede do Conselho Regulador
da D.O., Rebera del Duero, Roa23 projetado por Barozzi Veiga, que inclui uma mansarda estilizada e
um ornamento que remete ao passado, gerando discussões sobre a relação entre arquitetura e cultura. A
arquitetura pós-moderna também reconhece que os espaços construídos são vivenciados de maneira
diferente por diferentes pessoas, e que as experiências individuais são moldadas por fatores como
gênero, classe, etnia e idade. Isso se reflete no design inclusivo e adaptável de edifícios como o
Sainsbury Wing da National Gallery, em Londres, projetado por Robert Venturi e Denise Scott Brown.
Ao considerar as diversas necessidades e perspectivas dos usuários, os arquitetos pós-modernos criam
espaços que facilitam a construção de experiências compartilhadas. Além disso, a arquitetura pós-
moderna abraça a complexidade e a ambiguidade, reconhecendo que os espaços construídos não são
estáticos, mas evoluem e se transformam ao longo do tempo. Essa abordagem permite que os arquitetos
explorem soluções híbridas e multifuncionais que se adaptam às mudanças nas necessidades e
expectativas da sociedade. Um exemplo disso é o Parque da Villette, em Paris, projetado por Bernard
Tschumi, que combina espaços públicos, instalações culturais e áreas de lazer de maneira flexível e
dinâmica. No entanto, é importante reconhecer que a arquitetura pós-moderna também enfrentou
críticas por sua ênfase no estilo e na ornamentação, às vezes às custas da sustentabilidade e da
responsabilidade social. Essa preocupação é especialmente relevante no contexto das mudanças
climáticas e da crescente desigualdade urbana. A influência da arquitetura pós-moderna na sociedade
pode ser vista na maneira como os espaços públicos são projetados e utilizados. Por exemplo, a rejeição
do planejamento urbano modernista, com sua ênfase em zonas separadas e uso extensivo do automóvel,
levou a um renovado interesse por espaços públicos vibrantes e acessíveis. Isso é evidente no
ressurgimento de praças, parques e calçadões que incentivam a interação social e a atividade
comunitária24. Esses espaços pós-modernos não apenas atendem às necessidades funcionais, mas
também oferecem oportunidades para a construção de identidades locais e a expressão cultural. Além
disso, o design urbano pós-moderno promove a caminhabilidade e a acessibilidade, contribuindo para
a criação de cidades mais saudáveis e sustentáveis. No entanto, é importante mencionar que a arquitetura
pós-moderna também enfrenta desafios, especialmente no que diz respeito à gentrificação e à exclusão
social. Em alguns casos, projetos pós-modernos têm sido criticados por contribuir para a desigualdade
urbana, à medida que os preços dos imóveis aumentam e os residentes de baixa renda são deslocados.
Isso levanta questões sobre a responsabilidade dos arquitetos e planejadores urbanos em garantir que o
design inclusivo e a justiça social sejam priorizados ao criar espaços que moldam e são moldados pela
sociedade. Outra consideração importante é a sustentabilidade e a eficiência energética. A arquitetura
pós-moderna, com sua ênfase no estilo e na ornamentação, nem sempre aborda essas preocupações de
maneira eficaz. Isso destaca a necessidade de equilibrar a expressão cultural e a estética com soluções
sustentáveis e responsáveis. A arquitetura pós-moderna também influencia a maneira como as pessoas
se relacionam com o ambiente construído em termos de percepção e experiência. A abordagem eclética
e contextual dos arquitetos pós-modernos permite que as pessoas se conectem emocional e
culturalmente com os espaços em que vivem, trabalham e se divertem25. Isso, por sua vez, promove a

23 Figura 6 – Cortes transversais, Foto Interior In “Arq.A 0101”, Avv.,”Barzzi Veiga”, - março/abril 2012, p.e 58

Promenor de Fachada, In “Arq.A 0037”, Avv.,”Campo de Futebol, em Coiros. Corunha, Galiza Patricia SabÍn + Enrique
24

M, Blanc”, - maio/jun 2006, p.e 50


25Figura 4 –Panta, Imagem Maquete In “Arq.A 004”, Avv.”Museu da Estratégia Moderna - Projecto Bunker”, jan/fev 2001,
p.e 93

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criação de comunidades resilientes e coesas, onde os indivíduos se sintam parte integrante do ambiente
construído.
V. Conclusão
Em conclusão, a arquitetura pós-moderna e a sociedade estão intrinsecamente interligadas, com uma
influenciando e sendo influenciada pela outra. A ênfase na contextualização, no ecletismo, na narrativa
e no simbolismo, bem como na interdisciplinaridade, permitiu que os arquitetos pós-modernos criassem
espaços que atendessem às necessidades práticas e emocionais das pessoas. No entanto, é importante
continuar a refletir criticamente sobre a responsabilidade social e ambiental dos arquitetos ao projetar
espaços que moldam e são moldados pela sociedade. Ao fazer isso, podemos garantir que a arquitetura
pós-moderna continue a evoluir e se adaptar às mudanças nas necessidades e expectativas das pessoas,
contribuindo para a construção de um futuro sustentável e inclusivo.
VI. Referencias bibliográficas
Aula teoria 1 nº13, Teoria de arquitetura no pós-guerra IV: Linguagem e estrutura, 03-02-2023
Aula teoria 1 nº14, Teoria de arquitetura no pós-guerra IV, 10-02-2023
Aula teoria 1 nº15, Teoria de arquitetura no pós-guerra V: Estrutura e forma, 17-02-2023
Aula teoria 1 nº16, Teoria de arquitetura no pós-guerra V: Autonomia e convenções, 24-02-2023
Aula teoria 1 nº17, Projeto e pensamentos pós-moderno I: Citações e permeabilidade, 03-03-2023
Aula teoria 1 nº18, Projeto e pensamentos pós-moderno I: Micronarrativas vs espetáculo, 10-03-2023
Aula teoria 1 nº19, Projeto e pensamentos pós-moderno I: Confronte e Resistência, 17-03-2023
Aula teoria 1 nº20, Teoria de arquitectura pós-moderno 2: Interpretação e exterioridade, 24-03-2023
Aula teoria 1 nº22, Desenvolvimento e debate teórico em Portugal, 07-04-2023
João Álvaro Rocha, (Julho/Agosto 2000), Casas - Patio em Banda/Esposende, Arq./A, 002, p.e 31
Gonçalo Byrne e Manuel Aires Mateus (Janeiro/Fevereiro 2001), Instituto Superior de Economia e
Gestão - I.S.E.G em Lisboa, Arq./a, 004, p.e 38-39
Gonçalo Furtado (Janeiro 2008), Rumo a uma Estética Arquitectónica Evolutiva, Arq./a, 053, p.e 20
Eduardo Souto de Moura (Setembro/Outubro 2005), Estação de Metro da Casa da Música, Porto,
Arq./a, 033, p.e 31
Paulo David com Arq./a, (Outubro 2007), «Toca-nos a especificidade do lugar», Arq./a, 050, p.e 24
Heide & Von Beckerath (2015), Ifau und Jesko Fezer, Cooperativa de Habitação R50, Berlim,
Alemanha, Arq./a, 119, p.e 44
Miguel Eufràsia, (Novembro/Dezembro 2014), Think Locally, Act Globally, Ecologia/Globalisação,
Transgressão/Recomposição, Arq./a, 116, p.e 102
Luis Santiago Baptista, (Janeiro/Fevereiro 2013), Portugal Cultural, A reorientação do arquiteto
perante o conflito de culturas, Arq./a, 105, p.e 39
Gonçalo Furtado, (3. º trimeste 2022), Recordar Alvar Aaalto: Projecto, Legados Escritos e
Disseminação Portuguesa, Arq./a, 145, p.e 106
VII . Ilustrações

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Figura 1 – Capa de Livro Lingua Morta. t_13.8. Giorgio Grassi , Architettura, Lingua Morta, (1988),
Electa, Milano

Figura 2 -Illustração Livro. t_14.6. Richard Hamilton, Just what is hat makes the home today so
diferente so appealing, 1956, Khunsthalle-Tubingen. Raymond Guidot, Histoire du design 1940-2000,
Paris: Hazan, 2000 (1994), p.203.

Figura 3 – Capa de Livro. t_14.4.Robert Venturi, Complexidade e contradição em Arquitectura. 1966

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Figura 4 –Panta, Imagem Maquete In “Arq.A 004”, Avv.”Museu da Estratégia Moderna - Projecto
Bunker”, jan/fev 2001, p.e 93

Figura 5 - Promenor de Fachada, In “Arq.A 0037”, Avv.,”Campo de Futebol, em Coiros. Corunha,


Galiza Patricia SabÍn + Enrique M, Blanc”, - maio/jun 2006, p.e 50

Figura 6 – Cortes transversais, Foto Interior In “Arq.A 0101”, Avv.,”Barzzi Veiga”, - março/abril
2012, p.e 58

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