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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

ENEM
Exasiu EXTENSIVO

Exasiu
Aula 01 – Quinhentismo, Trovadorismo,
Humanismo e Classicismo
Literatura de formação e de catequese. Brasil: Carta de Caminha e Padre Anchieta. Portugal: Trovadorismo.
Humanismo: Gil Vicente. Temáticas Literárias: amor cortês; ética do comportamento. Literatura Clássica.
Classicismo: Camões (poesia épica e poesia lírica). Intertextualidade: diálogo entre Camões e a poesia moderna.
Artes: Período Medieval, estilos Gótico, Bizantino e Românico; Renascimento.

Professora Luana Signorelli


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AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 1


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Sumário
INTRODUÇÃO 4

1.0 CONTEXTUALIZAÇÃO 6

2.0 QUINHENTISMO 10
2.1. AUTORES E OBRAS DO QUINHENTISMO 15

3.0 TROVADORISMO 23
3.1 AUTORES E OBRAS DO TROVADORISMO 27

4.0 HUMANISMO 32
4.1 AUTORES E OBRAS DO HUMANISMO 34

5.0 CLASSICISMO 38
5.1 AUTORES E OBRAS DO CLASSICISMO 39

6.0 MOVIMENTOS ARTÍSTICOS NO GERAL 43


6.1 ROMÂNICO 44
6.2 GÓTICO 45
6.3 BIZANTINO 46
6.4 RENASCIMENTO 47

7.0 INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS 48

8.0 CRÍTICA LITERÁRIA 52

9.0 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 56


8.1 GABARITO 83

10.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 83

11.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 122

12.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 124

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Professora Luana Signorelli

/luana.signorelli Professora Luana @luana.signorelli


Signorelli

Luana Signorelli @luanasignorelli1

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INTRODUÇÃO
Hoje nós vamos dar continuidade ao nosso Curso de Literatura para ENEM 2022. Lembrem-se
sempre do nosso lema:

“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”.

Segundo o nosso cronograma de aulas, hoje estudaremos o seguinte:

AULA TÓPICOS ABORDADOS


Quinhentismo, Trovadorismo, Humanismo e Classicismo
Literatura de formação e de catequese. Brasil: Carta de Caminha e Padre
Anchieta. Portugal: Trovadorismo. Humanismo: Gil Vicente. Temáticas
AULA 01
Literárias: amor cortês; ética do comportamento. Literatura Clássica.
Classicismo: Camões (poesia épica e poesia lírica). Intertextualidade: diálogo
entre Camões e a poesia moderna. Artes: Período Medieval, estilos Gótico,
Bizantino e Românico; Renascimento.

Além desses assuntos que são pré-requisitos, considero igualmente importante formarmos uma
bagagem cultural. Por isso, iremos tratar também de algumas noções gerais acerca de Artes Plásticas da
Era Medieval: estilos Gótico, Bizantino e Românico, bem como o Renascimento.

Na aula de hoje, iremos abordar 4 movimentos literários.


Honestamente, eles não costumam cair com frequência em
provas. Porém, quando caem, as bancas costumam cobrá-los
numa abordagem interdisciplinar, associando-os à cultura
medieval. Por isso, o tratamento desses conhecimentos são
importantes: porque eles podem ser o diferencial!

A metodologia dessa aula irá se pautar nos seguintes aspectos: contextualização do período
histórico, tanto brasileiro quanto português, características gerais dos movimentos e um breve resumo
de autores e obras com quadros sinópticos.
O quadro sinóptico (sinopse: resumo) é um material de apoio que irá poder ajudá-los pouco antes
da prova, por se tratar de conteúdos concentrados.
• Literatura brasileira: Quinhentismo.
• Literatura portuguesa: Trovadorismo; Classicismo e Humanismo.

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Nesse início da historiografia literária, para além do Quinhentismo


brasileiro, é importante conhecer os movimentos literários e
artísticos europeus também, pois eles se relacionam diretamente
com a Literatura Nacional. Logo, são instrumentos importantes no
nosso estudo. Eis abaixo um esquema que pode ajudá-los.

LITERATURA REGIONAL
LITERATURA NACIONAL
Produção literária em escala
local ou particular. Pode LITERATURA UNIVERSAL
transmitir qualidades Literatura produzida em um
culturais próprias. Foi contexto de Estado-Nação ou
importante para o país. Por exemplo: literatura Weltliteratur (em alemão)
Modernismo, por exemplo, brasileira, francesa, inglesa, significa Literatura Mundial.
com Graciliano Ramos e russa etc. É importante Foi um conceito desenvolvido
Guimarães Rosa, que observar que, a depender do pelo romântico Goethe (1749-
retrataram o Nordeste e movimento literário, houve 1832). É a noção de que a
Minas Gerais. algumas diferenças de país grande literatura ultrapassa
para país. fronteiras regionais e até
mesmo temporais.

Esse quadro nos ajuda a entender que uma literatura particular pode se alçar a universal, e é nesse
sentido que é importante ter uma perspectiva do todo. É como diz o russo Liév Tolstói: para se falar do
mundo, é preciso primeiro saber falar da própria aldeia.
Esse modo de encarar a Literatura também pode ser explicado pelo crítico literário Antonio
Candido em sua obra A educação pela noite & outros ensaios:
• A literatura nacional e a universal se encontram numa relação orgânica.

Particular ⇌ Universal

É nesse sentido ainda que podemos empregar o termo “literatura” com letra minúscula para
designar um sentido lato (geral, amplo) ou “Literatura”, para nos remeter à disciplina e à área de
conhecimento especificamente.
Então, vamos lá, não percamos tempo!

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1.0 CONTEXTUALIZAÇÃO

RESUMO DA HISTÓRIA LITERÁRIA DO BRASIL

ESTILO LITERÁRIO PRINCIPAIS AUTORES DESCRIÇÃO


COLÔNIA

• Literatura de cunho
Literatura de formação, Pero Vaz de Caminha, Padre José
informativo, com foco em
informação ou de Anchieta, Padre Manuel da
documentar.
Quinhentismo. Nóbrega.
• Textos de cunho religioso.

LITERATURA DE FORMAÇÃO LITERATURA DE INFORMAÇÃO

visava ao processo educativo e cultural dos testemunho que valia como documentos,
povos nativos. É sinônimo de literatura de cujo objetivo central era narrar e descrever
catequese as terras, os povos e os costumes

RESUMO DA HISTÓRIA LITERÁRIA EM PORTUGAL

ESTILO LITERÁRIO PRINCIPAIS AUTORES/OBRAS DESCRIÇÃO


Cantigas de amor; de amigo; de • Mistura de música e poesia
Trovadorismo
escárnio e de maldizer • Repetição e paralelismo
ERA MEDIEVAL

• Repetição
• Forma simples
• Amor cortês
• Traços medievais
Humanismo Gil Vicente: Farsa de Inês Pereira,
• Teatro
Auto da barca do inferno, entre
• Crítica de costumes
outros.
• Antropocentrismo
Classicismo Camões (Poesia lírica: sonetos;
• Racionalismo
poesia épica: Os Lusíadas)
• Configuração de formas poéticas
ERA CLÁSSICA

mais complexas
Barroco Portugal: Padre Antonio Vieira • Embate entre antropocentrismo
Brasil: Gregório de Matos versus Teocentrismo
• Dualidade: sagrado versus profano
• Ornamentação estilística
• Abuso de paradoxos e de inversões
sintáticas

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Portugal: Bocage (Sonetos); • Ideal bucólico: simplicidade e


Arcadismo
CLÁSSICA
imersão na natureza
Brasil: Cláudio Manuel da Costa;
ERA

Tomás Antônio Gonzaga; Basílio da • Ideais Iluministas


Gama e Santa Rita Durão.

Alguns gêneros desses períodos são:


• Mistérios: encenações de episódios da vida de santos;
• Milagres: episódios da vida de santos;
• Moralidades: peças de fundo didático-moralizante, cujas personagens são qualidades,
abstrações ou defeitos morais (Razão, Avareza, Verdade, etc.);
• Sotties: peças cujas personagens, por serem consideradas loucas, têm a liberdade para dizer
verdades desagradáveis ao público.

Outros gêneros do período são o épico, a saga e a epopeia, que eram parecidos da antiguidade.
Conforme Spina (2007, p. 70), as sagas são narrativas em verso ou em prosa, de interesse capital para a
história primitiva dos povos nórdicos. Porém, este gênero se pauta na já existente epopeia, desde a
Antiguidade Clássica. Segundo N. K. Sandars, os épicos podem ser caracterizados como “um tipo especial
de narrativas de viagens e aventuras, sempre presentes no mundo atemporal e sem fronteiras da lenda e
do romance folclórico” (ANÔNIMO, 2012, 67).
Geralmente, trata-se de um contexto antes de haver nações, quando os povos costumavam ser
nômades (isto é, não tinham moradia fixa, deslocavam-se e estavam constantemente em luta com outros
povos pela conquista de territórios e firmada de poder). Uma das características do épico é não haver
uma versão consolidada, pois funcionava como se fosse telefone sem fio, passando de povos a povos,
culturas e culturas, gerações e gerações. Assim, a narrativa oral era muito valorizada, consistindo no
principal meio/veículo de comunicação na época, até o advento do livro e da imprensa com Gutenberg,
no século XV.
A História Geral da Europa no período estava dividida da seguinte maneira:

ALTA IDADE MÉDIA BAIXA IDADE MÉDIA

Séculos V-X Séculos XI-XV

Épicos, sagas, epopeias e grandes Cantigas, autos, moralidades, milagres,


narrativas heroicas teatro de costumes
Narrativas orais, seguindo a tradição da Já começaram a seguir uma nova tradição:
Antiguidade Clássica a da escrita
Forte influência do teocentrismo e
Predomínio do paganismo
da Igreja Católica

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Abaixo, identificamos mais gêneros literários do período:

CATEGORIA ERA MEDIEVAL


PRIMEIRA ÉPOCA: TROVADORISMO
ESTRUTURA SEGUNDA ÉPOCA (SÉCULO XV E
(SÉCULOS XII – XIV)
INÍCIO DO SÉCULO XVI)
POESIA Lírica cantigas de amor • Poesia palaciana
cantigas de amigo • O cancioneiro geral, de Garcia
Sátira cantigas de escárnio Resende
cantigas de maldizer
• Novelas de cavalaria
PROSA • Crônicas de Fernão Lopes
• Hagiografias
• Cronicões
• Nobiliários
• Mistérios
TEATRO • Gil Vicente
• Milagres
• Moralidades
• Sotties

Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2004, p. 102.

PONTOS HISTÓRICOS MAIS RELEVANTES DO BRASIL

Chegam os
Chegam os escravos holandeses
Chegam os portugueses
Em 1538, começam a Início dos ataques
D. João II falece em 1495. O contexto
chegar ao Brasil os holandeses ao litoral
de expulsão dos judeus se acentua,
primeiros escravos vindos brasileiro. Maurício de
e eles eram quem bancavam
da África. Em 1548, a Nassau conquista
grande parte das expedições
Coroa Portuguesa cria e Pernambuco (1637). O
portuguesas. Ainda assim, Pedro
institui o Governo-Geral açúcar era a maior
Álvares Cabral chega em terras
no Brasil. produção.
brasileiras em 22 de abril de 1500.

1499 1500 1532 1538 1580 1599


História Pré- Capitanias hereditárias Domínio
Cabralina
Luzia é o fóssil da mulher pré- Em 1532, há a criação do
espanhol
O Brasil passa a ser domínio
histórica mais antigo encontrado sistema de Capitanias espanhol. A União Ibérica vai
nas Américas. No Brasil, Hereditárias (rei D. João III). ser um episódio na História
especificamente, regiões onde foi Esse regime inicial foi de do Brasil Colônia de 1580 a
indicada presença de povos 1534 a 1549, baseando-se 1640. Durante esse período,
primitivos foram Pedra Pintada e numa organização governarão 3 Felipes
Pedra Furada. Até pouco antes de puramente mercantil. No
Pedro Álvares Cabral chegar (~ 1300 início, apenas duas
d. C.), uma grande comunidade de prosperavam: São Vicente e
referência era o Monte de Teso dos Infográfico: Showeet.
Pernambuco.
Bichos na Ilha do Marajó.

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PONTOS HISTÓRICOS MAIS RELEVANTES DE PORTUGAL

Dobragem do Cabo Bojador Rota para as Batalha de Alcácer


Gil Eanes, enviado pelo Infante D. Henrique, Índias Quibir
Batalha travada a Norte de Marrocos
tinha como objetivo dobrar o Cabo Bojador perto da cidade de Alcácer Quibir
Iniciada em 1497, sob o entre Tânger e Fez. A batalha
conhecido como “cabo do medo”, que nunca
tinha sido dobrado devido aos frequentes comando do navegador resultou na derrota portuguesa, com
nevoeiros e ventos fortes. Com uma barca de português Vasco da o desaparecimento em combate do
30 toneladas e 15 homens, ele conseguiu Gama durante o rei D. Sebastião. Nasce assim o mito
dobrar para sudeste e então percebeu que os reinado do Rei D. do Sebastianismo: “Enfim acabarei a
tempos estavam mais amenos. A passagem Manuel I. Uma das mais minha vida e verão todos que fui tão
do Cabo Bojador foi um dos marcos mais notáveis viagens da era afeiçoado à minha Pátria que não só
importantes da navegação portuguesa. dos descobrimentos. me contentei de morrer nela, mas
Derrubou os velhos mitos medievais e abriu com ela,” Luís de Camões.
caminho para os grandes descobrimentos.

1385 1434 1488 1499 1500 1578 1755

Batalha de Dobragem do Cabo“Descoberta Terremoto em


Aljubarrota da Boa Esperança ” do Brasil Lisboa
As tropas portuguesas Descoberto por Bartolomeu Frota comandada por Pedro Em novembro de 1755,
foram comandadas por D. Dias. Antigamente, era Álvares Cabral ao território ocorreu um grande
João I de Portugal e o seu chamado de Cabo das onde hoje se localiza o terremoto, resultando
condestável D. Nuno Tormentas, mas depois Brasil. Pedro Álvares Cabral na destruição quase
Álvares Pereira versus o mudou de nome para Boa parte em março com 1300 completa da cidade de
exército castelhano e seus Esperança, por mostrar a tripulantes com o objetivo Lisboa, especialmente
aliados liderados por D. ligação entre o Oceano de chegar à Índia. Devido a na zona da Baixa, e
João I de Castela. O Atlântico e o Oceano Índico e uma grande tempestade a atingindo ainda grande
resultado foi a derrota prometendo a tão desejada armada viu-se obrigada a parte do litoral do
definitiva dos castelhanos e chegada à Índia. mudar a sua rota para Algarve e Setúbal. Esse
a consolidação de D. João I, sudoeste, acabando por fato é mencionado em
Mestre de Avis, como Rei de chegar à América do Sul, obras literárias, como o
Portugal, o primeiro da Ilha de Vera Cruz. Cândido de Voltaire.
Dinastia de Avis.

Infográfico: Showeet.

Reparem que em alguns momentos a História do Brasil


coincide com a História de Portugal. É importante observar
esses pontos de intersecção.

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2.0 QUINHENTISMO
Aqui, vocês serão convidados a adentrar o universo de sonho das grandes navegações!
Julho de 1969. O estadunidense Armstrong chocava toda a humanidade quando pisava pela
primeira vez na lua. Não foi tão diferente com as descobertas dos espanhóis e dos portugueses quando
descobriram novos mundos antes desconhecidos.
O contato com os nativos nus, de língua e costumes estranhos, as belezas naturais, os animais, as
plantas e os frutos exóticos, os mistérios, as riquezas – tudo isso contribuiu para uma vasta criatividade
dos escritores que para cá vinham, consistindo na primeira produção literária nacional.

A expansão ultramarina foi uma das ‘soluções’ encontradas pela sociedade da Europa Ocidental
para fazer frente aos graves problemas gerados pela crise do sistema feudal. A necessidade de
encontrar novas fontes de riquezas, controlar novas regiões produtoras, a centralização política,
foram fatores decisivos para o desencadeamento do processo expansionista. (MARQUES, 2005).

Os portugueses levaram grande vantagem sobre este processo, pois lideravam a Escola de Sagres,
um grupo de pessoas ligadas à arte náutica, desenvolvendo tecnologia – tais como as caravelas e o
astrolábio (instrumento astronômico que funcionava como bússola) – e a tradição marítima acumulada
fez com que Pedro Álvares Cabral chegasse ao Brasil em 1500. Seguem abaixo exemplos de instrumentos
de navegação: a bússola e o astrolábio.

Fonte: Pixabay. Fonte: Shutterstock.

As grandes navegações motivaram expansões ultramarinas. A atmosfera era de


competitividade/necessidade, consistindo na primeira fase do capitalismo: mercantilismo. As metrópoles
iam atrás de matérias-primas. O Brasil naturalmente logo se revelou fonte riquezas naturais.

As capitais brasileiras foram respectivamente:

Rio de
Salvador Brasília
Janeiro

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E depois disso, no Brasil...


• Século XVI: a metrópole procurou garantir o domínio sobre a terra descoberta, organizando-a em
capitanias hereditárias e enviando negros da África para povoá-la e jesuítas da Europa para
catequizar os índios;
• Século XVII: a cidade de Salvador, na Bahia, povoada por aventureiros portugueses, índios, negros
e mulatos, tornou-se o centro das decisões políticas e do comércio do açúcar;
• Século XVIII: a região de Minas Gerais transformou-se no centro da exploração do ouro e das
primeiras revoltas políticas contra a colonização portuguesa, entre as quais se destacou o movimento
da Inconfidência Mineira (1789-1792).

Embora a Literatura Brasileira tenha nascido no período colonial, é difícil


precisar o momento em que passou a configurar como produção cultural
independente dos vínculos lusitanos. É preciso lembrar que, durante o período
colonial, ainda não eram sólidas as condições essenciais para o florescimento
da literatura em si; portanto, eram comuns na época meros registros ou
diários de navegação. Geralmente, os livros produzidos por escritores nascidos
no Brasil eram então impressos em Portugal e depois trazidos à colônia.

A LITERATURA DE INFORMAÇÃO

A literatura de informação, ou de expansão, foi cultivada em Portugal à época das grandes


navegações. A finalidade desses textos, escritos em prosa, era narrar e descrever as viagens e os primeiros
contatos com a terra brasileira e seus nativos. Embora guardem pouco valor literário, são textos dotados
de grande documentação histórica.

Nem crônicas, nem memórias, pois não resultavam de nenhuma intenção literária: os escritos
dos cronistas e viajantes eram uma tentativa de descrever e catalogar a terra e o povo recém-
descobertos. Entretanto, permeava-os a fantasia de seus autores, exploradores europeus que
filtravam fatos e dados, acrescentando-lhes elementos mágicos e características muitas vezes
fantásticas. (VOGT, 1982).

Outros movimentos literários posteriores resgataram a figura do índio de formas diversas.


Podemos ressaltar:
• José de Alencar – O guarani (Romantismo).
• Oswaldo de Andrade – Macunaíma (Modernismo → movimento Pau-Brasil).

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É importante ressaltar que essa figura do índio no período do Quinhentismo era


descritiva, ou seja, não passou por idealização como no Romantismo nem estilização
como no Modernismo. Ou seja, essa visão muda ao longo da História. É ainda mais
relevante compreender o principal objetivo da época: propagar a visão eurocêntrica.
Logo, o ponto de vista dos textos era do colonizador e não dos indígenas.

Vamos estudar a partir de dois depoimentos diferentes abaixo como que a perspectiva sobre o
mesmo assunto pode mudar a depender de quem profere o discurso.

PONTO DE VISTA EUROCÊNTRICO

Tomai o fardo do Homem Branco


Continua pacientemente
Encubra-se o terror ameaçador
E veja o espetáculo do orgulho;
Pela fala suave e simples
Explicando centenas de vezes
Procura outro lucro
E outro ganho do trabalho.

Tomai o fardo do Homem Branco


As guerras selvagens pela paz
Encha a boca dos Famintos,
E proclama, das doenças, o cessar;
E quando seu objetivo estiver perto
(O fim que todos procuram)
Olha a indolência e loucura pagã
Levando sua esperança ao chão.

Nesse trecho, o eu lírico de Rudyard Kipling, Prêmio Nobel de Literatura de 1907, julga que o Homem
Branco tem como missão levar a esperança a outros chãos, de preferência, os pagãos. Chegando aonde
há fome e doença, infere-se que ele seria um herói salvador. Porém, a missão também é um peso, ou seja,
um fardo, algo a que o Homem Branco estaria destinado.
Este poema é de 1899. Nessa ocasião, a Europa, depois da colonização, passava por outra etapa
capitalista: o Imperialismo, sendo que uma onda de competição por novos mercados competidores
recomeçava.

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• Observação 1: o uso da letra maiúscula no termo “Homem Branco” ajuda a reforçar a importância
de seu status.
• Observação 2: percebam também o uso do imperativo afirmativo na segunda pessoa do plural:
“[vós] tomais”. Isso indica um apelo à coletividade, à formação de um povo, grupo ou classe
específica e a sua orientação para compor a parte participativa da História.

PONTO DE VISTA INDÍGENA

O pensamento vazio dos brancos não consegue conviver


com a ideia de viver à toa no mundo. Acham que o
trabalho é a razão da existência deles. Eles escravizaram
tanto os outros que agora precisam escravizar a si
mesmos. Não podem parar, experimentar a vida como
um dom e o mundo como um lugar maravilhoso. O
possível mundo que a gente pode compartilhar não tem
que ser um inferno, ele pode ser um lugar bom. E o que
estamos vivendo no Brasil nos últimos anos é uma
espécie de surto capitalista, como uma metástase num
organismo que adoeceu. Um organismo que não
consegue buscar água pra beber, uma medicina saudável;
então come mais veneno, produzindo uma agricultura
cada vez mais drogada. Essa espécie de metástase do
pensamento do branco sobre a Terra é o maior engano.
(AILTON KRENAK. Depoimento à Revista Cult).

Já nesse depoimento, o filósofo indígena contemporâneo Ailton Krenak, da etnia crenaque, faz
outra observação acerca do trabalho, como se este servisse como uma espécie de um vazio que o homem
branco precisaria preencher. A falta de entendimento do homem branco da alteridade, isto é, do outro,
repercute numa incompreensão de si próprio: escravizando os outros, não sobra outro público-alvo de
escravização a não ser si próprios.
Ailton Krenak chega a comparar essa visão consumista a uma doença. Uma certa preguiça, uma
não disposição para ir buscar alimentos saudáveis, produz indivíduos doentes. Por outro lado, uma
preguiça meramente contemplativa, por meio da qual a natureza pudesse ser apreciada, também não é
aceita. Segundo o pensador, o homem branco pensa que tem domínio sobre a terra e essa perspectiva
enviesada é prejudicial.

É importante nessas situações identificar qual é a relação entre sujeito-objeto.

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Na época do Quinhentismo, quem detinha o poder da escrita e


consequentemente do pensamento, eram os portugueses. A Literatura
Contemporânea é o movimento literário no qual o lugar de fala do
indígena enquanto sujeito cresce. A temática indígena continua sendo
conteúdo da Literatura Contemporânea, como é o caso da obra Urihi:
nossa terra, nossa floresta, do escritor e professor Devair Fiorotti. Esse
livro de poesia conta a história de um jovem Yanomami.

A LITERATURA DE FORMAÇÃO

Os jesuítas vindos ao Brasil com a missão de catequizar os índios deixaram inúmeras cartas,
tratados descritivos, crônicas históricas e poemas. Os principais deles foram José de Anchieta e o padre
Manuel de Nóbrega, que chegaram juntos ao Brasil em 1553 e fundaram no ano seguinte, no planalto de
Piratininga, um colégio que se tornou o núcleo da futura cidade de São Paulo.

A primeira missa no Brasil (1861), de Victor Meirelles.

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Essa obra de arte foi criada em um movimento artístico posterior:


o Romantismo. No centro do quadro, há a celebração do culto
religioso católico-cristão, no caso, a Primeira Missa no Brasil, em
terra de Vera Cruz, cidade de Cabrália. As vestes do padre são
brancas e iluminadas. Literalmente, representação do
teocentrismo, no caso, sendo o padre o representante de Deus na
terra. Os indígenas, embora estejam em maior número,
encontram-se marginalizados. Por meio desse posicionamento,
podemos perceber criticamente o processo de aculturação: ou
seja, os indígenas sendo relegados às margens, sem possibilidade
de participação efetiva, a não ser um papel como espectadores.

Filme: Desmundo.
Sinopse: o filme é ambientado em 1570 e
conta a história de mulheres órfãs de Portugal
que eram enviadas ao Brasil para se casar com
os colonizadores. Essa prática visava construir
núcleos familiares cristãos e de ascendência
europeia, coibindo os relacionamentos entre
homens brancos e mulheres indígenas.

2.1. AUTORES E OBRAS DO QUINHENTISMO

Pero Vaz de Caminha


Nasceu em 1450 e faleceu em 1500. Foi um fidalgo
português e um escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral.
Sua produção mais relevante foi a carta escrita a D. Manuel I,
datada de 1º de maio de 1500, na qual revela os primeiros
relatos descritivos sobre a terra do Brasil.

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Carta de Pero Vaz de Caminha (1500)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
Carta em 14 páginas em forma de inventário/diário de navegação, com mescla
de tipologias textuais: descrição, narração e dissertação. Em se tratando de uma
obra da literatura de informação quinhentista, seu objetivo principal é descrever
ESTRUTURA
as terras brasileiras (fauna e flora), bem como os povos nativos. O ponto de vista
está na primeira pessoa, alterando a primeira pessoa do singular (o próprio
autor, Pero Vaz de Caminha), e do plural (os portugueses no geral).
Pero Vaz de Caminha (remetente), el-rei D. Manuel I (destinatário), Nicolau
PERSONAGENS Coelho, Capitão-mor, piloto Afonso Lopes, degredado (exilado) Afonso Ribeiro,
Bartolomeu Dias, padre frei Henrique, indígenas (não nomeados).
Saída em 9 de março de 1500 e chegada no dia 21 de abril de 1500. Como
no ano de 1500 o mês de março tem 31 dias, quer dizer que demoraram 43
TEMPO
dias para chegar. O relato termina numa sexta-feira, não se especifica qual,
com a celebração da Santa Missa e o fechamento.
Percurso até chegarem (passando por regiões geográficas como as Ilhas
ESPAÇO Canárias e as Ilhas de Cabo Verde), culminando no achamento da Terra de Vera
Cruz (nome inicial do Brasil).
Pero Vaz de Caminha é um fidalgo enviado junto com a tripulação de
desbravadores com o objetivo de fazer um levantamento das descobertas. Ao
chegar ao Brasil, chama a sua atenção aspectos como: choque cultural com os
costumes dos povos indígenas, descrição das terras brasileiras (animais e
CONFLITO
plantas), descrição dos hábitos dos indígenas (alimentação, dança, onde dormiam
– nas ocas, meios de subsistência, armas, crenças) e os gestos dos indígenas
indicando que nessas terras haveria ouro e prata (tratando-se de uma
conjectura).
Como era de praxe no catolicismo, ao descobrir novas terras os portugueses
tinham como finalidade chantar uma Cruz e rezar uma missa. Pero Vaz de
Caminha pretende enviar vários objetos para o el-rei D. Manuel I, como forma
de comprovação do que narrou e descreveu na carta. Inclusive, faz
DESFECHO planejamentos futuros, confabulando com o el-rei a vinda de mais pessoas para
a nova terra como parte do projeto. Iriam ficar no Brasil alguns degredados.
Termina mencionando que não haveria mais necessidade de enviar
desbravadores para Calicute (missão às Índias), como quem está tão orgulhoso
de sua missão que acha que ela seria suficiente para convencer el-rei.

Com as caravelas ao fundo, o


primeiro encontro diplomático
no Brasil é uma troca de
chapéus entre o diplomata
Nicolau Coelho e o pajé,
provavelmente da tribo tupi.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli)

E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa,
que foram 21 dias de abril, estando da dita Ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam,
topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os
mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira
seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buxos.
Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui
alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao
monte alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à terra – a Terra da Vera Cruz.
Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios
pequenos, por chegarem primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do
Capitão-mor, onde falaram entre si. E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para
ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois,
quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam
arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem
os arcos. E eles os pousaram. Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar
quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na
cabeça e um sombreiro preto.
Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas
vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas,
miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e
com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.

*Vocabulário
Chã: terreno plano, planície
Batéis e esquifes: barcos pequenos
Barretes: cobertura de tecido flexível que se ajusta facilmente à cabeça e termina em ponta que pende para trás
ou para o lado.

1) Para começar o estudo da literatura brasileira, toma-se geralmente por base o início da colonização
portuguesa, pois o desenvolvimento dessa literatura se dá no contexto da transposição da cultura
ocidental para a América. À luz destes conhecimentos, selecione a alternativa correta.
a) A literatura colonial produzida no Brasil, na época de 1500-1700, tinha como principal gênero a
poesia.
b) Autores como José de Anchieta e Padre Antônio Vieira foram de importância crucial para o
desenvolvimento da literatura nacional, sobretudo porque desenvolveram uma literatura de cunho
jesuítico.
c) A carta de Pero Vaz de Caminha, destacada como marco da literatura colonial, demonstra uma
linguagem considerada difícil para os dias atuais, pois se tratava de português arcaico.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 17


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d) Pode-se concluir do texto que Nicolau Coelho foi grande amigo de Pero Vaz de Caminha e chegou
com ele junto ao Brasil.
e) É possível depreender do texto que, uma vez que os nativos possuíam barrete e carapuças, eles
representavam séria ameaça aos viajantes.

Comentários
Questão de contexto histórico-social/interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. O Trovadorismo em Portugal teve como principal gênero a poesia. A
produção literária do Quinhentismo no Brasil se limitou a 1500, pois em 1600 já havia outros
movimentos literários, como Barroco e Arcadismo. Além do mais, a principal obra desse período é
escrita em forma de prosa, tratando-se da carta de Pero Vaz de Caminha.
Alternativa B: incorreta. Padre Antônio Vieira já era autor do Barroco.
Alternativa C: fases da História da Língua Portuguesa.
1) Arcaico: 1500 => cartas. Portugal ~ Espanha: língua de contato – galego/português;
2) Clássico: 1600 => Camões;
3) Moderno: até hoje.
Alternativa D: incorreta. Não é possível concluir isso a partir do trecho. Porém, pode-se inferir o
seguinte: o capitão-mor manda Nicolau Coelho como o primeiro a testar terras desconhecidas. Ou seja,
ele serviu como cobaia. Na verdade, historicamente Nicolau Coelho era um comandante da armada
de Pedro Álvares Cabral.
Alternativa E: incorreta. A História irá comprovar que a chegada dos portugueses significou
massacre para os povos indígenas, mas, em um primeiro momento, não é possível depreender isso do
texto. Tanto é que houve um sinal de contato e de reconhecimento entre eles, momento simbolizado
pela troca de chapéus.
Gabarito: C.

2) O Dia Nacional do Índio é decretado no dia 19 de abril. Hoje há instituições federais que garante
respaldo aos direitos humanos indígenas, tais quais a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Com base
na cultura indígena, eleja a alternativa correta.
a) Pero Vaz de Caminha foi importante para ressalvar os direitos indígenas. Na sua carta, considerada
a primeira obra da literatura nacional, o autor exibe um profundo conhecimento indígena, e uma
postura amigável aos nativos.
b) As terras indígenas serão administrativamente demarcadas por iniciativa e sob a orientação do
órgão federal de assistência ao índio.
c) O escambo era uma prática colonial comum, e consistia em uma troca de objetos por parte do
colonizador e do colonizado, sendo que cada uma das partes entregava um bem ou prestava um
serviço à outra, a fim de formar um sistema de crédito. Isto pode ser facilmente evidenciado nos dois
últimos parágrafos do trecho selecionado.
d) Fica claro do trecho acima que os índios e os portugueses, de tradição europeia, apresentavam
culturas semelhantes, por isso se entendiam com tanta facilidade.
e) Para chegar ao Brasil, os portugueses percorreram o Oceano Pacífico.
Comentários
Questão de atualidades/conhecimentos interdisciplinares. Há datas e documentos importantes
sobre o assunto:
*19 de abril: Dia Nacional do Índio
*09 de agosto: Dia Internacional dos Povos Indígenas (ONU)
*Decreto de Lei nº 1.775/96: dispõe sobre o procedimento administrativo da demarcação das terras
indígenas.
*Lei nº 11.645/2008: inclui a história e cultura indígenas na Lei de Diretrizes Básicas (LDB).
Alternativa A: incorreta. A postura não era amigável, era de desconfiança frente ao desconhecido.
Alternativa B: correta – gabarito. É o artigo 1º da Lei nº 1.775/96.

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Alternativa C: incorreta. A prática histórica do escambo foi descrita na alternativa. Quando é assim,
apenas confiem. Saber o termo nesse caso não era decisivo para gabaritar a questão. O fato é que o
gesto que foi estipulado nestes dois parágrafos – a troca de chapéus, no caso um sombreiro da parte
do português e um ramal (cocar) da parte do índio, representou o primeiro contato travados entre
ambos, e não troca comercial de objetos.
Alternativa D: incorreta. Eram culturas bastante diferentes e desconfiavam uns dos outros.
Alternativa E: questão interdisciplinar de Geografia. Foi o Oceano Atlântico.
Gabarito: C.

PROFA, MAS A CARTA É CONSIDERADA LITERATURA? SIM!

A Carta de Pero Vaz de Caminha é um documento histórico, mas que conserva alguns aspectos
literários também, conseguindo mesclar, ao mesmo tempo, dados subjetivos e objetivos. Seguem abaixo
elencados alguns tópicos que ajudam na tentativa do enquadramento da carta no âmbito literário.

Ponto de vista: subjetivo

Pontuação: sentimento

Repetição: ênfase

Efeitos de texto: humor, ambiguidade, ironia

Figuras de linguagem: estilística

Assista também ao webinário sobre a carta: aula especial de Literatura e História Link de acesso:
https://www.youtube.com/watch?v=FYj9QkRB09Y&t=4s

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OUTROS AUTORES QUINHENTISTAS

Padre José de Anchieta


José de Anchieta (1534-1597) teve uma vasta produção.
Tendo em vista a catequese, todos seus textos apresentavam
intenção pedagógica. Ele escreveu poemas, hinos, canções e autos
(gênero teatral originado na Idade Média), além das cartas que
informavam sobre o andamento da catequese no Brasil e de uma
gramática da língua tupi.

EXEMPLO PRÁTICO

Padre José de Anchieta – Poema da Virgem É comum nesse período a representação da


Olha com que azorrague o carrasco sombrio Pietá, Nossa Senhora carregando Jesus morto
retalha do Senhor a meiga carne a frio. (...) em seus braços, imagem de dor profunda e
Vê como a dextra má finca em lenho de escravo desoladora. O Quinhentismo, apesar de ser
as inocentes mãos com aguçado cravo um movimento literário primitivo, apresentou
Olha como na cruz finca a mão do algoz cego
uma riqueza de gêneros literários. Ao lado,
os inocentes pés com aguçado prego.
observamos uma poesia de Padre José de
Ei-lo, rasgado jaz nesse tronco inimigo,
e c'o sangue a escorrer paga teu furto antigo! Anchieta. Sua poesia altamente descritiva,
Vê como larga chaga abre o peito, e deságua rebuscada, cheia de riqueza de detalhes,
misturado com sangue um rio todo d'água. imagens e sofrimento, como a metáfora do rio
Se o não sabes, a mãe dolorosa reclama de sangue, já se aproxima da linguagem do
para si quanto vês sofrer ao filho que ama. Barroco. Ao lado está apenas um trecho, mas
Pois quanto ele aguentou em seu corpo desfeito, o começo do poema está todo em latim e, ao
tanto suporta a mãe no compassivo peito. fim dele, o eu lírico diz que deseja que todo
Ergue-te pois e, atrás da muralha ferina esse sangue lhe sirva como purificação e meio
cheio de compaixão, procura a mãe divina. de entrada para a Morada Eterna.

Pero de Magalhães Gândavo


Gândavo (1540-1579) foi um português de origem
francesa (o nome deriva de Gand). Foi professor de
Humanidades e amigo de Camões. Foi ele quem escreveu
os primeiros informes sistemáticos sobre o Brasil. Sua
estada aqui coincidiu com o governo Mem de Sá. Seu
tratado que hoje conhecemos como História da Província
de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil não foi
publicado em vida do autor, apenas em 1826 na Academia
Real das Ciências de História de Portugal.

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Padre Manuel de Nóbrega


Manuel de Nóbrega (1517-1570) foi um
sacerdote jesuíta português. Chefiou a primeira missão
jesuítica na América. Estudou na Universidade de
Salamanca e Coimbra. Escreveu cartas e a obra Diálogo
sobre a conversão do gentio. Contribuiu para o estudo
dos costumes do povo Tupinambá.

"PADRES" "PEROS"

LITERATURA DE CATEQUESE LITERATURA DE INFORMAÇÃO

Outras obras de destaque do período do Quinhentismo no Brasil foram:


• Pero Vaz de Caminha – Carta. Endereçada a el-rei D. Manuel, referindo o descobrimento de uma
nova terra e as primeiras impressões da natureza e do aborígene;
• Pero Lopes de Sousa – Diário de navegação (1530). Ele foi o escrivão do primeiro grupo colonizador,
o de Martim Afonso de Sousa.
• Frei Vicente do Salvador – História do Brasil (1557);
• Hans Staden – Duas viagens ao Brasil (1557);
• Magalhães Gândavo – Tratado da terra no Brasil (1576);
• Gabriel Soares da Sousa – Tratado descritivo do Brasil (1576);
• Jean de Léry – Viagem à terra do Brasil (1578);
• Fernão Cardim – Narrativa epistolar e Tratados da terra e da gente do Brasil (1583). Ele foi um
jesuíta.
• Ambrósio Fernandes Brandão – Tratado descritivo do Brasil (1618). Ou ainda Diálogos das
grandezas do Brasil.
• Frei Vicente do Salvador – História do Brasil (1627).

• Observação 1: percebam que, para além da colonização portuguesa, houve interesse de outras
nacionalidades acerca da terra do Brasil. De fato, tudo era muito chamativo, sendo que atraiu a
atenção de alemães e franceses, por exemplo.
• Observação 2: a noção que as pessoas daquela época tinham sobre o conceito de “História” é
diferente do que temos hoje. Isto é, para eles, descrevia-se a História Presente, os fatos que
realmente estavam acontecendo, ao passo que hoje temos noção de distanciamento histórico.

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Ao lado, como curiosidade, foto de minha


autoria da carta de Pero Vaz na cidade de Santa Cruz
Cabrália (BA). Trechos da carta são dispostos em uma
oca, ao lado de uma réplica da caravela de Pedro
Álvares Cabral. É um ponto turístico: é possível
adentrar a caravela e ver as réplicas dos canhões, por
exemplo. Viajei pessoalmente para lá no ano de 2011
e conheci também a cruz onde foi celebrada a
Primeira Missa no Brasil. Ao redor dela, hoje há um
mercado de artesanato indígena.

DESCOBRIMENTO DO BRASIL OU ACHAMENTO? DEPENDE DO PONTO DE VISTA!

Orgulho
Eurocentrismo
português
Achamento
Viés desbravador Mercantilismo e
e de descoberta colonização

Chegada Tupis Litoral e interior

Norte da Bacia
Macro-jês
Amazônica
Invasão

Aruaques Planalto Central

Região
Cariris
Amazônica

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3.0 TROVADORISMO
Na Idade Média, tanto a educação formal quanto a produção artístico-cultural encontravam-se
dominadas pela Igreja. O nascimento das cantigas trovadorescas e das novelas da cavalaria na Baixa Idade
Média, pautadas na vida cotidiana ou para a fantasia de aventura, simbolizou o surgimento de uma cultura
leiga.
A cantiga mais antiga que se tem notícia é a “Cantiga da Ribeirinha” ou “da Guarvaia” de Paio
Soares de Taveirós (1189-1198). Elas são unidas em coletâneas: os cancioneiros, sendo os mais
conhecidos: Cancioneiro da Ajuda (século XIII); Cancioneiro da Vaticana (século XV).
O português teve um estágio antigo chamado galego-português. As primeiras manifestações
literárias nessa língua datam do século XII. As principais eram as cantigas, canções compostas e cantadas
por poetas denominados de trovadores.
Segundo Cereja e Magalhães (2004, p. 86), esses cantores apresentavam uma hierarquia entre si:
• Trovador: membro da nobreza ou do clero, era autor da letra e da música das composições que
executava para o seleto público das cortes;
• Segrel: nobre de escala mais baixa, escudeiro sem recursos para ascender à cavaleiro, sobrevivia
percorrendo as cortes ou acompanhando o exército real nas lutas contra os árabes. Executava
composições próprias.
• Jogral: cantor de origem popular, raramente compunha, limitando-se a executar composições
dos trovadores. Normalmente, era acompanhado por uma soldadeira, mulher que dançava e cantava
durante as apresentações e, por isso, tinha má reputação.
Entre as cantigas, há a seguinte distinção: cantigas de amor e cantigas de amigo. Ainda de acordo
com os autores, a cantiga de amigo é classificada da seguinte maneira:

CANTIGA DE AMIGO
• Pastorela: de ambiente rural, tratam do envolvimento amoroso entre uma pastora e um
cavaleiro;
• Bailias ou bailadas: fazem referência à dança de moças que esperam os namorados;
• Romarias: referem-se às romarias feitas a lugares sagrados;
• Albas ou alvas: fazem menção ao amanhecer, que muitas vezes surpreende os amantes;
• Marinhas ou barcarolas: apresentam ambiente marinho.

Embora o Trovadorismo também tenha reconhecido os gêneros da prosa e do


teatro também, a predominância foi da lírica com as cantigas. O que favoreceu isso é
que poucas pessoas à época sabiam ler e escrever, já que a Igreja detinha o
conhecimento. A cantiga era fácil de ser difundida, acompanhada de música e dança,
motivo pelo qual recebe esse nome.

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PARALELISMO
As cantigas de amigo geralmente apresentam paralelismos, uma técnica frequentemente usada
em literatura, que consiste em repetições de palavras ou versos ou construções sintáticas. Essas
repetições podem ser de partes de versos ou até de versos inteiros.
Além do refrão, as cantigas de amigo costumam apresentar dois tipos de paralelismo: o de par de
estrofes e o leixa-pren. O de par de estrofes consiste na repetição de duas estrofes com uma ligeira
diferença entre o verso de uma e o seu correspondente na outra estrofe. O leixa-pren é uma espécie
de encadeamento entre estrofes pares e ímpares: o segundo verso da primeira estrofe se repete no
primeiro da terceira estrofe, o segundo verso da segunda estrofe se repete no primeiro da quarta
estrofe e assim por diante.
Veja os dois tipos de paralelismo nos versos seguintes. As setas em azul correspondem ao
paralelismo de par de estrofes e as setas em vermelho, ao leixa pren:

Non chegou, madre, o meu amigo,


E oje est o prazo saido!
Ai, madre, moiro d’amor!

Non chegou, madre, o meu amado,


E oje est o prazo passado!
Ai, madre, moiro d’amor!

E oje est o prazo saido!


Por que mentiu o desmentido?
Ai, madre, moiro d’amor!

E oje est o prazo passado!


Por que mentiu o perjurado?
Ai, madre, moiro d’amor!

Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2004, p. 84 (adaptado).

As cantigas de amigo têm raízes na Península Ibérica, em festas rurais e populares, com música e
dança, com vestígios da cultura árabe. São suas características:
• Ambientação rural;
• Linguagem simples;
• Repetições;
• Estrutura paralelística;
• Forte musicalidade.
Na cantiga de amigo, o eu lírico é geralmente feminino, e o tema mais frequente é um lamento
amoroso da moça cujo namorado partiu para as guerras árabes.
Já as cantigas de amor têm origem na poesia provençal (de Provença, região do sul da França), nos
ambientes finos e aristocráticos e logo estão presas a certas convenções de linguagem e de sentimentos.
São suas características:
• Linguagem mais refinada quanto a vocabulário e construções;
• Ambiente: a corte.

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O eu lírico normalmente é um homem (um cavaleiro), que declara o seu amor a uma mulher
inalcançável, em conformidade com as regras do amor cortês. O eu lírico masculino confessa a coita: o
sofrimento amoroso por uma dama que lhe é inacessível devido à diferença social entre eles.

“Coita”, em galego-português, significa dor, sofrimento e designa no português moderno o


vocábulo “coitado”. O termo mesmo significa dor, aflição, desgosto, especialmente por motivo
de amor; pressão das circunstâncias, compulsão física ou moral, necessidade (dicionário
Houaiss). Exemplo: "Não me meta em tal coita vosso amor!” (Afonso Lopes Vieira, Romance de
Amadis) (dicionário Aulete).

Observação: assim como a noção de “História” não era a mesma naquela tempo, também não o
era a noção de “romance”. Entende-se o romance medieval também como “romanceiro”, no sentido de
composição poética.

Designa a atividade poética luso-espanhola, de caráter épico e lírico, anônima, transmitida por
via oral, durante a Idade Média, configurada nos romances, ou a sua compilação em romances,
ou a sua compilação em volume, integral ou antológico (MOISÉS, 2013, p. 417).

AMOR CORTÊS
O relacionamento entre amantes pode recorrer à expressão do amor cortês, isto é, um tipo de
amor convencional, cheio de regras sociais como:
*Submissão absoluta à dama;
*Vassalagem humilde e paciente;
*Promessa de honrar e servir a dama com fidelidade;
*Prudência para não abalar a reputação da dama, sendo o cavaleiro, por essa razão, proibido de
falar diretamente dos sentimentos que tem por ela;
*A amada é vista como a mais bela de todas as mulheres;
*Pela amada o trovador despreza todos os títulos, as riquezas e a posse de todos os impérios.

Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, p. 85 (adaptado).

Também há uma segunda distinção entre as cantigas trovadorescas: as cantigas de escárnio e as


cantigas de maldizer. Elas têm valor histórico, porque representam a sociedade medieval portuguesa e
seus aspectos culturais, morais e linguísticos.

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CANTIGAS DE ESCÁRNIO CANTIGAS DE MALDIZER

Crítica indireta; normalmente, a pessoa Crítica direta; geralmente, a pessoa satirizada é


satirizada não é identificada. identificada.

Linguagem trabalhada, cheia de sutilezas, Linguagem agressiva, direta, por vezes obscena.
trocadilhos e ambiguidades.

Ironia. Zombaria.

Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2004, p. 105.

Elas se diferem das cantigas de amor e de amigo por serem menos rígidas e seguirem menos os
modelos convencionais; portanto, elas têm mais liberdade formal, são mais experimentalistas e exploram
mais recursos expressivos, por exemplo, figuras de linguagem.
Costumam ter como seus alvos clérigos devassos, prostitutas, os próprios trovadores etc.

Instrumentos musicais da Idade


Média. À esquerda, um alaúde e à
direita, uma viela de arco.

(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli)


Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!

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A partir do texto acima, assinale a alternativa correta.


a) Pode-se classificar o texto medieval acima como sendo uma cantiga de maldizer.
b) Na cantiga, há ironia tipicamente moderna, à moda machadiana.
c) A ironia no trecho é sutil, pois a pessoa atacada não é identificada.
d) Pode-se classificar a cantiga acima como sendo de amor, pois a moça lamenta.
e) A figura de linguagem predominante no trecho é a antítese.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Trata-se da “Cantiga de Escárnio” de João Garcia de Guilhade; logo, é uma
cantiga de escárnio e não de maldizer.
Alternativa B: incorreta. Consiste em um texto medieval e não realista. Por mais que haja ironia
nele, não são do mesmo tipo, pois a ironia medieval é menos refinada.
Alternativa C: correta – gabarito. A pessoa é, de fato, não identificada, sendo acusada de velha e
sandia (estúpida), mas sendo denominada apenas de “dona fea”, ou seja, uma mulher feia, não
identificada, portanto. Há, sim, ironia nas cantigas de escárnio. Questão de interpretação.
Alternativa D: incorreta. É uma cantiga de escárnio e a mulher está sendo criticada, sendo chamada
de “feia”.
Alternativa E: incorreta. É a ironia.
Gabarito: C.

3.1. AUTORES E OBRAS DO TROVADORISMO


Airas Nunes de Santiago
O galego João Airas de Santigo (c. 1230-1293) foi poeta na corte de Sancho IV de Castela. Obra de
destaque foi a pastorela “Pelo souto do Crexentes”, de natureza descritiva em que o homem participa do
meio por meio de um cenário paisagístico.

Estêvão Coelho
Seu nascimento data de 1305. É designado nos Livros de
Linhagens por Estêvão Coelho de Riba Homem e escreveu em
galego-português. Casou-se com Maria Mendes Petite, ligada aos
mosteiros de Canedo e de Grijó, com quem teve 7 filhos.
Podemos destacar como produção sua um gênero que a
canção de tear (chanson de toile) sua cantiga “Sedia la fremosa seu
sirgo torcendo”.
Para essa cantiga, vocês poderiam aplicar as regras de
paralelismo.

Sedia la fremosa seu sirgo torcendo,


Sa voz manselinha fremoso dizendo
Cantigas d’amigo.

Sedia la fremosa seu sirgo lavrando,


Sa voz manselinha fremosa cantando
Cantigas d’amigo.

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- Par Deus de Cruz, dona, sey que avedes


Amor muy coytado que tan ben dizedes
Cantigas d’amigo.

- Par Deus de Cruz, dona, sey que andades


D’amor muy coytada que tan ben cantades
Cantigas d’amigo.

- Avuytor comestes, que adevinhades.

AS NOVELAS DE CAVALARIA
A prosa, em Portugal, começou entre o século XIV e o início do século XV, em forma de hagiografias,
nobiliários, cronicões e novelas de cavalaria.
*Hagiografias: relatos de episódios da vida de santos, cuja finalidade era catequética e didática.
*Nobiliários ou livros de linhagem: compilações de genealogias de famílias nobres, feitas com o
objetivo de conhecerem os graus de parentesco.
*Cronicões: documentos que faziam mera ordenação de fatos históricos.
*Novelas de cavalaria: são um gênero narrativo tipicamente medieval. Em geral de autor
desconhecido, são resultado da transformação das canções de gesta, poemas que narravam heroicas
aventuras de cavaleiros andantes.
Seus temas são, portanto, as aventuras fantásticas de cavaleiros lendários e destemidos que
liquidavam monstros e homens malvados em batalhas sangrentas, travadas em nome tanto de Deus
quanto do amor por uma donzela. Produto de uma fértil inventividade, a novela de cavalaria descreve
com abundância de detalhes a vida e os costumes da cavalaria medieval.
De acordo com seus temas, as novelas de valeria compõem três ciclos:
*Ciclo bretão ou arturiano: tem como personagens centrais o rei Artur e os cavaleiros da Távola
Redonda;
*Ciclo carolíngio: gira em torno da figura de Carlos Magno e os doze pares da França (a qual tem
uma adaptação para o cordel brasileiro do Nordeste);
*Ciclo clássico: abrange figuras e acontecimentos da Antiguidade clássica, como a Guerra de Tróia.
O romance de cavalaria encontra a sua autocrítica em Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de
Cervantes no século XVI. Trata-se já da decadência dos valores medievais da cavalaria, que abriam
espaço para o aburguesamento da sociedade.
Fonte: Shutterstock.

Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, p. 85 (adaptado).

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E quem disse que a gente não pode se divertir? Elenquei abaixo uma sugestão de filmes e séries
pertinentes à temática que estamos estudando hoje. Boa diversão!

SUGESTÃO SINOPSE/COMENTÁRIO
Filme: Cruzada (2005)
Sinopse: Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que
guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a visita
de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que é também um
conceituado barão do rei de Jerusalém e dedica sua vida a manter
a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar também à esta
meta, mas após a morte de Godfrey ele herda terras e um título
de nobreza em Jerusalém. Determinado a manter seu juramento,
Balian decide permanecer no local e servir a um rei amaldiçoado
como cavaleiro. Paralelamente ele se apaixona pela princesa
Sibylla (Eva Green), a irmã do rei. O filme é importante para
estudar as Guerras Santas entre os católicos e mulçumanos.

Filme: Thor (2011)


Sinopse: Thor (Chris Hemsworth) ia herdar o trono de Asgard das
mãos de seu pai Odin quando inimigos quebraram um acordo de
paz. Disposto a se vingar, o guerreiro desobedece às ordens do
rei e quase dá início a uma nova guerra entre os reinos.
Enfurecido com a atitude do filho e herdeiro, Odin retira seus
poderes e o expulsa para a Terra. Lá, Thor acaba conhecendo a
cientista Jane Foster e precisa recuperar seu martelo, enquanto
seu irmão Loki elabora um plano para assumir o poder. Este é o
primeiro filme de uma trilogia e o herói também participa das
sagas dos Vingadores. Thor é um deus do panteão da mitológica
nórdica, mas na cultura de massa da contemporaneidade é
transformado em super-herói.

Filme: A lenda de Beowulf (2007)


Sinopse: Ilha de Sjaelland, perto de onde fica a Dinamarca. O
demônio Grendel ataca o castelo do rei Hrothgar sempre que tem
uma festa, cerimônia ou ocasião importante, porque não suporta
o barulho gerado. Grendel sempre mata várias pessoas nos seus
ataques, embora poupe Hrothgar. Com o povo aterrorizado, o rei
Hrothgar ordena que o salão onde as comemorações são
realizadas seja fechado. Até que chega ao local Beowulf, um
guerreiro que promete eliminar o monstro. Numa filmagem
especial, os atores reais que passaram por um véu/filtro de
animação. O filme é importante para estudar as sagas nórdicas,
pois sua época histórica é datada de 900-1000 d. C. É um assunto
interessante para revisar o conteúdo histórico das migrações
bárbaras.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 29


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Filme: Senhor dos Anéis: a sociedade do anel (2001)


Sinopse: numa terra fantástica e única, chamada Terra-Média,
um hobbit (seres de estatura entre 80 cm e 1,20 m, com pés
peludos e bochechas um pouco avermelhadas) recebe de
presente de seu tio o Um Anel, um anel mágico e maligno que
precisa ser destruído antes que caia nas mãos do mal. Para isso o
hobbit Frodo terá um caminho árduo pela frente, onde
encontrará perigo, medo e personagens bizarros. Ao seu lado
para o cumprimento desta jornada aos poucos ele poderá contar
com outros hobbits, um elfo, um anão, dois humanos e um mago,
totalizando 9 pessoas que formarão a Sociedade do Anel. A saga
foi baseada no livro homônimo de J. R. R. Tolkien, que usou o
medievo como fuga de sua realidade, pois presenciou a o tempo
das Grandes Guerras.

Filme: O nome da rosa (1983).


Sinopse: em 1327 William de Baskerville (Sean Connery), um
monge franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater), um
noviço, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William
de Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se
a Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é
desviada por vários assassinatos que acontecem no mosteiro. O
filme é baseado no romance do escritor italiano contemporâneo
Umberto Eco. O seu romance é de 1980. O filme é muito
interessante para estudar a primazia que a Igreja Católica detinha
acerca do conhecimento, com a preservação de grandes
bibliotecas e inclusive via profissão do copista.

Série: Vikings (2013-...)


Sinopse: Ragnar Lothbrok é o maior guerreiro da sua era. Líder
de seu bando, com seus irmãos e sua família, ele ascende ao
poder e torna-se Rei da tribo dos vikings. Além de guerreiro
implacável, Ragnar segue as tradições nórdicas e é devoto dos
deuses. As lendas contam que ele descende diretamente de Odin,
o deus da guerra. Há uma edição em livro também, em Língua
Portuguesa, escrita originalmente por por Haukr Erlendsson e
Saxo Grammaticus e traduzida por Artur Avelar (o mesmo que
traduziu outro épico, chamado Edda). O título da obra é As
Histórias de Ragnar Lodbrok.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 30


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Série: Guerra dos Tronos (2011-2019).


Sinopse: Game of Thrones conta a história de um lugar onde uma
força destruiu o equilíbrio das estações, há muito tempo. Em uma
terra onde os verões podem durar vários anos e o inverno toda
uma vida, as reivindicações e as forças sobrenaturais correm as
portas do Reino dos Sete Reinos. A irmandade da Patrulha da
Noite busca proteger o reino de criaturas que podem vir de lá da
Muralha, mas já não tem os recursos necessários para garantir a
segurança de todos. Conspirações e rivalidades correm no jogo
político pela disputa do Trono de Ferro, o símbolo do poder
absoluto. A série baseada em uma saga de livros escrita pelo
estadunidense George R. R. Martin, cujo primeiro volume se
intitula As crônicas do gelo e do fogo (1996).

Filme: Valente (2012).


Sinopse: esse é um filme para assistir com os(as) irmã(os) mais
novos(as)! A princesa Merida foi criada pela mãe para ser a
sucessora perfeita ao cargo de rainha, seguindo a etiqueta e os
costumes do reino. Mas ela não tem a menor vocação para esta
vida traçada, preferindo cavalgar pelas planícies selvagens da
Escócia e praticar o seu esporte favorito, o tiro ao arco. Quando
uma competição é organizada contra a sua vontade, para
escolher seu futuro marido, Merida decide recorrer à ajuda de
uma bruxa, a quem pede que sua mãe mude. É um filme leve e
da Disney, de animação já com tecnologia 3D, mas é importante
para se estudar o papel da mulher na Idade Média.

Filme: A espada era a lei (1963).


Sinopse: esse é outro filme para assistir com a família! Filme leve
e divertido, consiste numa animação da Disney, mas é
interessante para compreendermos a importância do imaginário
da magia na época medieval. Arthur é um jovem menino que
sonha em se tornar cavaleiro. Reza a lenda que aquele que
conseguir tirar a espada mágica da pedra se tornará o rei da
Inglaterra. Merlin, um poderoso, mas atrapalhado mago, sabe
que Arthur será o novo rei e por isso, vai até o castelo onde o
garoto trabalha prepará-lo para o futuro.

Ufa! E agora que já descansamos, vamos voltar ao nosso conteúdo. Ainda temos mais movimentos
literários para estudar.

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4.0 HUMANISMO
O ícone do Humanismo português foi Gil Vicente, cujas origens são incertas. Provavelmente, era
alfaiate, mas Gil era um nome vulgar e São Vicente era patrono de Lisboa, sendo que podia haver um
carpinteiro homônimo à época.
Nessa época, é muito comum o teatro em verso à moda de William Shakespeare na Inglaterra
(1564-1616). Afinal, ele também foi um escritor do movimento literário do humanista; porém, era
britânico. Era comum na época a noção de world as stage (mundo como palco), ou seja, a ideia de que
estaríamos encenando sempre o tempo todo, até mesmo em nossas vidas reais e especialmente em
sociedade.

Nesse período, era significativo o papel da performance,


isto é, um desempenho típico para ser exibido, geralmente
com eloquência. Um adepto será Padre Antonio Vieira no
Barroco com seus sermões. E também pode ser
mencionada a Comedia dell’arte, que ocorreu no século XV
na Itália. Representava o mundano, já não se tratava mais
de um teatro religioso (autos). Trata-se de uma
modernização nesse sentido, uma laicização das artes.
Personagens importantes são: Arlequino e Colombina.

Por outro lado, também há os autos. “Auto” é um gênero literário. “Vinculado aos mistérios e
moralidades, e talvez deles proveniente, o autor designa toda peça breve, de tema religioso ou profano,
encenada durante a Idade Média: equivaleria a um ato que integrasse espetáculo maior e completo, daí
o apelativo que recebeu: auto” (MOISÉS, 2013, p. 46, grifo meu).
Aproximavam-se da tragicomédia, pois tinham moralizavam sem perder o teor satírico. Por
participar do debate de ideias que agitavam o período histórico, é conhecido como teatro de ideias.
Vejam abaixo alguns exemplos dos mais conhecidos, dos humanistas até modernistas:

O auto da índia – Gil Vicente (1509)

O auto da barca do inferno – Gil Vicente (1517)

O auto da compadecida – Ariano Suassuna


(1955)

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O HUMANISMO

O termo é usado para indicar duas coisas diferentes: I) o movimento literário e filosófico que
nasceu na Itália na segunda metade do séc. XIV, difundindo-se para os demais países da Europa
e constituindo a origem da cultura moderna; II) qualquer movimento filosófico que tome como
fundamento a natureza humana ou os limites e interesses do homem.
Em relação à primeira, as bases fundamentais do humanismo podem ser assim expostas:
1) Reconhecimento da totalidade do homem como ser formado de alma e corpo e destinado a viver
no mundo e a dominá-lo.
2) Reconhecimento da historicidade do homem, dos vínculos do homem com o seu passado, que,
por um lado, servem para uni-lo a esse passado e, por outro, para distingui-lo dele.
3) Reconhecimento do valor humano das letras clássicas. É por esse aspecto que o H. temesse
nome. Já na época de Cícero e Varrão, a palavra humanítas significava a educação do homem como
tal, que os gregos chamavam de paídéia; eram chamadas de "boas artes" as disciplinas que formam o
homem, por serem próprias do homem e o diferenciarem dos outros animais.

Essa premissa associa o significado da corrente do humanismo à erudição.

4) Reconhecimento da naturalidade do homem, do fato de o homem ser um ser natural, para o qual
o conhecimento da natureza não é uma distração imperdoável ou um pecado, mas um elemento
indispensável de vida e de sucesso.

O pensador – Rodin

Fonte: Pixabay.

Em relação à outra, o segundo significado dessa palavra nem sempre tem estreitas conexões com
o primeiro. Pode-se dizer que, com esse sentido, o humanismo é toda filosofia que tome o homem
como “medida das coisas”, segundo antigas palavras de Protágoras.
Em sentido mais geral, pode-se entender por humanismo qualquer tendência filosófica que leve
em consideração as possibilidades e, portanto, as limitações do homem, e que, com base nisso,
redimensione os problemas filosóficos.

Fonte: ABBAGNANO, 2007, p. 518-519 (adaptado).

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4.1. AUTORES E OBRAS DO HUMANISMO


“Reza a lenda” que entre a noite de 7 para 8 de
junho de 1502, nos Paços de Alcaçova de Lisboa, um
homem fantasiado de vaqueiro irrompeu nos salões da
rainha D. Maria, mãe do futuro rei D. João III, para
manifestar a sua alegria em relação ao nascimento do
menino. Os convivas gostaram tanto que pediram para o
homem repetir a façanha nas festividades religiosas de
Natal.
Esse homem, de origem incerta, mas que se
desconfia ter nascido em Belém (c. 1465) e morrido c. 1535
era Gil Vicente, o principal autor do Humanismo. Essa sua
obra ficou conhecida como Auto da visitação e ela foi
importante por introduzir o teatro leigo em Portugal, já que
o menino homenageado era um homem, ainda que nobre.
Sua influência foi Juan del Encina, de caráter pastoral e religioso. Gil Vicente escreveu mais de 40
obras para a corte, algumas bilíngues, outras em português e outra em castelhano.
Mesmo ainda tendo influência da tradição religiosa, o teatro de Gil Vicente – também chamado
de teatro vicentino – não apresenta caráter teocêntrico. A sua finalidade era representar o homem na
sociedade e o objetivo maior era criticar os seus costumes cuja missão era menos moralizante e mais
reformadora.
Nem as peças religiosas pretendem difundir a religião, mas sim mostrar o ser humano, daí o nome
do movimento. Ele não era contra a Igreja igualmente, mas sim contra o que se fazia dentro dela. Algumas
das classes sociais retratadas por Gil Vicente eram o clérigo corrupto, o papa, o reio, o devasso, o médico
incompetente, o curandeiro, a mulher adúltera, a alcoviteira, o juiz desonesto, o camponês, o bobo etc.
Tecnicamente, a sua obra não é muito rebuscada e segue as leis tradicionais do teatro greco-latino:
a lei das três unidades. Por isso, também é possível falar de ausência de tempo e espaço no teatro
vicentino, pois eles muitas vezes se confundem.

LEI DAS TRÊS UNIDADES

CATEGORIA DEFINIÇÃO
Tempo: o tempo de duração deveria caber dentro do período de um sol
ou pouco excedê-lo, segundo Aristóteles. Esse tempo era medido pela
clepsidra, isto é, ampulheta.
Cenário: o enredo deve se passar dentro dos limites de uma cidade. O
cenário é basicamente descrito pela linguagem.

Ação ou drama: a história deve apresentar um mesmo tipo de ação.

Fonte das imagens: ícones feitos a partir de www.flaticon.com.

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Gil Vicente também era contemporâneo de:


• Lope de Vega (1562-1635): poeta e dramaturgo espanhol. Escreveu O cavaleiro de Olmedo, A
dama boba etc. Em português, pela editora Peixoto Neto, temos Fuente Ovejuna.
• Tirso de Molina (1579-1648): religioso, poeta e dramaturgo do Barroco espanhol. Escreveu
comédias históricas, mitológicas, filosóficas entre outros.
• Calderón de la Barca (1600-1601): dramaturgo e poeta espanhol. Obra-prima: A vida é sonho.

Eis agora alguns quadros sinópticos de obras que podem ser importantes e cair na sua prova.

O auto da barca do inferno (1517)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA Teatro em versos. Não tem divisão em atos nem em cenas. É classificado como um auto
de moralidade.
PERSONAGENS Diabo, anjo, fidalgo, onzeneiro (espécie de agiota), parvo, sapateiro, frade, Brízida Vaz
(alcoviteira), judeu, corregedor, procurador, cavaleiros.
TEMPO Pode-se dizer que atemporal. Na barca do inferno, entram humanos de todas as épocas,
desde os cruzados (séc. XIV) até os contemporâneos de Gil Vicente.
ESPAÇO Metafísico: o inferno. Mítico: às margens do rio da morte, o rio Letes.
CONFLITO O fidalgo é o primeiro que se aproxima dos barcos sem reconhecer o diabo. Ao se
apresentar, o fidalgo se recusa a entrar. Cada um que entra carrega um símbolo daquilo
que representa: o fidalgo, a cadeira; o agiota, a bolsa; o frade, armas; o sapateiro,
ferramentas; Brísida, apetrechos; Judeu, bode; corregedor e procurador, livros e
processos. Por ora, apresenta-se uma falsa esperança de poderem entrar na Barca do
Céu, mas eles são reconduzidos.
CLÍMAX O livro é uma grande crítica do apego à vida material e daquilo que não conseguimos nos
desfazer nem mesmo depois da morte.
DESFECHO O auto se encerra com 4 cavaleiros que morreram nas cruzadas, mas que bem poderiam
representar os quatro cavaleiros do Apocalipse Bíblico.

ALEGORIA. Na pintura, na escultura, enfim nas Artes Plásticas é a alegoria bastante empregada
como o valor de símbolo. Uma figura de mulher, com uma balança numa das mãos e uma espada
na outra, é uma alegoria de Têmis, ou seja, a Justiça. Em literatura a alegoria informa
determinadas espécies genéricas como a fábula, o apólogo e a parábola, nas quais as coisas
abstratas ou inanimadas personificam-se.

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Farsa da Inês Pereira (1523)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA Teatro em versos. Não é dividida nem em ato nem em cenas. É classificada como uma
farsa de folgar.
PERSONAGENS Inês Pereira, Pero Marques (rico proprietário que a pedira em casamento), nobre
decadente, mãe, Lianor, Latão, Vidal, escudeiro, moço, judeus, Fernando, ermitão.
TEMPO É dedicada a rei D. João, o terceiro do nome em Portugal, que reinou no período de
1502-1557. Atenção: muitos dos escritores da época queriam cair “em boas graças”
dos reis. Por isso, era bastante comum honrá-los, elogiá-los ou dedicar obras a eles,
pois assim a chance de terem seu status aumentado era maior.
ESPAÇO Na casa da mãe; no rio; na fazenda. Cenário semidefinido.
CONFLITO Inês sonha em se casar com um homem educado, que soubesse cantar e agradar as
mulheres, ainda que não tivesse dinheiro. Tanto é que se casa com um nobre
decadente, em detrimento de Pero Marques, um rico proprietário de terra.
CLÍMAX O marido de Inês a prende em casa e viaja para combater os mouros com a finalidade
de enriquecer.
DESFECHO O marido de Inês acaba morrendo na guerra, e ela termina por aceitar o pedido de
Pero Marques, com quem casa e de quem acaba tirando proveito financeiramente.

FARSA. Sutil, se não difícil de precisar, a distinção entre a farsa e a comédia. De modo
genérico, pode-se afirmar que a diferença é de grau: a farsa consistira no exagero do
cômico, graças ao emprego de processos grosseiros, como o absurdo, as
incongruências, os equívocos, os enganos, a caricatura, o humor primário, as situações
ridículas. A farsa dependeria mais da ação que do diálogo, mais dos aspectos externos
(cenário, roupagem, gestos, etc. que do conflito dramático. (MOISÉS, 2013, p. 189).

RESUMINDO

Auto da barca do inferno (1517) Farsa da Inês Pereira (1523)


• Diabo, anjo, fidalgo, onzeneiro (espécie de • Inês Pereira, Pero Marques (rico proprietário
agiota), parvo, sapateiro, frade, Brízida Vaz que a pedira em casamento), nobre
(alcoviteira), judeu, corregedor, procurador, decadente, mãe, Lianor, Latão, Vidal,
cavaleiros. escudeiro, moço, judeus, Fernando,
• O livro é uma grande crítica do apego à vida ermitão.
material e daquilo que não conseguimos • O marido de Inês a prende em casa e viaja
nos desfazer nem mesmo depois da morte. para combater os mouros com a finalidade
• O auto se encerra com 4 cavaleiros que de enriquecer.
morreram nas cruzadas, mas que bem • O marido de Inês acaba morrendo na
poderiam representar os quatro cavaleiros guerra, e ela termina por aceitar o pedido
do Apocalipse Bíblico. de Pero Marques, com quem casa e de
quem acaba tirando proveito
financeiramente.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 36


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O auto da Lusitânia (1532)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA É considerada uma farsa alegórica. É dividida em duas partes – primeira: atribuições da
família judaica e segunda: casamento de Portugal, cavaleiro negro, com a princesa
Lusitânia.
PERSONAGENS Portugal, Lusitânia – filha de Lisibeia (Lisboa) e do Sol (daí o seu nome lembrar luz), dois
diabos: Belzebu e Dinato, Todo Mundo e Ninguém.
TEMPO Uma das últimas peças de Gil Vicente. Representado pela primeira vez em 1532,
perante a corte de D. João III quando nasceu seu filho, D. Manuel.
ESPAÇO Alegórico: Lisibeia (Lisboa).
CONFLITO Lusitânia se apaixona pelo negro cavaleiro Portugal. Recorrem às deusas gregas para
pedir e garantir proteção para o seu casamento, enquanto os diabos traçam
comentários satíricos e espirituosos.
CLÍMAX A união entre Lisibeia e Sol dá origem ao nascimento mítico de Portugal. No processo,
uma ninfa morre de ciúmes.
DESFECHO Lusitânia e Portugal se casam, ao passo que Belzebu e Dinato são responsáveis por
contar a Lúcifer o que aconteceu.

Outras obras de Gil Vicente:


• Autos: versam sobre temas tradicionais (mistérios, moralidades, milagres e episódios pastorais): Auto
das barcas, Auto da alma, Auto da mofina Mendes, Auto da tragicomédia de D. Duardo, Comédia do
viúvo.
• Fantasias alegóricas: cujas raízes remontam aos momos realizados no fim da Idade Média e que
parecem com o nosso teatro de revista: Auto da Lusitânia, Nau de Amores, Frágua de amor.
• Farsas (o gênero que mais se popularizou): Farsa de Inês Pereira, O velho da horta, Auto da índia,
Quem tem farelos?, Farsa dos físicos, Farsa dos almocreves, Juiz da beira, Romagem dos agravados.

O HUMANISMO NA LITERATURA UNIVERSAL

William Shakespeare (1564-1616) foi um dramaturgo britânico.


Viveu sob o reinado de Elizabeth I, que propiciou o crescimento
das artes e da cultura. Foi conhecido como teatro elisabetano. Ele
trabalho no Teatro Globe. Escreveu tragédias, comédias sombrias,
comédias, romances e peças históricas. Entre suas principais obras
estão Romeu e Julieta (1597); Otelo (1604); Macbeth (1603);
Sonho de uma noite de verão (1605) e Hamlet (1609).

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5.0 CLASSICISMO
O contexto do Classicismo em Portugal foi marcado pelas Grandes Navegações e o sentimento de
dominação do mundo. Por isso, as características principais do período são o racionalismo, o
individualismo e a ambição ilimitada. É o que Gombrich chama de “conquista da realidade”.
O período entre XV e XVI compreendeu grandes avanços artísticos e científicos e por isso foi
chamado de Renascimento. O movimento também é conhecido como Classicismo renascentista.
São formas literárias clássicas a écloga (poema pastoril), a elegia (de fundo melancólico), a ode, a
epístola, o epitalâmio (poema de congratulação a noivos recém-casados) e a epopeia, cujo parâmetro é
Os Lusíadas, cujo herói é o povo nacional português.

Epopeia é um longo poema narrativo que exala as ações de um


herói, verdadeiro ou lendário, representativo da formação do
passado de um povo (CEREJA; MAGALHÃES, 2004, p. 136). Além
disso, o Classicismo português também pode ser chamado de
Renascimento. O que é central é entender que a visão do mundo é
centrada no homem. Logo, é chamada de antropocentrismo.

A criação do homem (1508-1515), de Michelangelo.


Fonte: Pixabay.

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5.1. AUTORES E OBRAS DO CLASSICISMO

Luís de Camões
Nascido supostamente em Lisboa em 1524 ou
1525, Luís Vaz de Camões foi quem melhor traduziu os
anseios do homem renascentista. Homem não só de
palavras, mas também de ações, ele lutou pelo seu país no
norte da África (Marrocos), onde perdeu um olho.
Em 1550 chega a se alistar para a Índia, mas não
chega a embarcar. É preso no mesmo ano, quando parte
para um exílio de 17 anos. Viveu então na África e na Ásia,
incluindo a China e a Índia, palco de sua epopeia. Na costa
de Macau, naufragou, tendo conseguido salvar apenas
ironicamente a si mesmo e ao manuscrito de Os Lusíadas.
Voltou a Portugal em 1569-70. Tratou de editar
imediatamente o épico, mas uma coletânea de poemas
fora-lhe roubada: Parnaso Lusitano. Por conta da
publicação, recebera uma espécie de honorário, a tença
trienal. Porém, morreu em 1579-80, miserável.
Sua obra é resultado de estudos na área de cultura clássica (curso de Artes em Coimbra) e de suas
vastas e ricas experiências de viagem. Traduziu os sentimentos de desafio e conquistas que os
portugueses sentiam quando eram eles os donos do mundo.
É constante em suas obras a presença de Deus e dos milagres do cristianismo. Porém, ao mesmo
tempo, suas referências foram modelos greco-latinos, como a Ilíada e a Odisseia de Homero e a Eneida
de Virgílio. Por isso, é possível que ele reuniu elementos pagãos e cristãos, o que lhe rendeu problemas
com a Inquisição e com a crítica da época.
Em relação à lírica, sobretudo amorosa, atribui-se aos temas os desentendimentos que ele teve na
sua conturbada vida amorosa, seja com Catarina de Ataíde seja com a infanta D. Maria.

Os Lusíadas (1572)

CATEGORIA DEFINIÇÃO

1.102 estrofes, todas em oitava rima, organizadas em 10 cantos. Cada canto


corresponde a um capítulo das obras em prosa. Tem 3 partes segundo o modelo
clássico: introdução, narração e epílogo.
A introdução ainda é dividida em outras 3 partes: proposição (apresenta os ilustres
ESTRUTURA barões de Portugal); invocação (das Tágides, ninfas do Tejo) e dedicatória ou
oferecimento (a D. Sebastião, rei de Portugal).
A narração vai da estrofe 19 do Canto I até a estrofe 144 do Canto X): relato
propriamente dito da viagem dos portugueses ao Oriente (às Índias).
O epílogo compreende das estrofes 145 a 146 do Canto X, nas quais se demonstra o
cansaço e o tom melancólico, junto ao conselho de que o rei e o povo português sejam
fiéis à pátria e ao cristianismo.

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PERSONAGENS Vasco da Gama, o herói, junto com a sua tropa de lusos (daí o nome da obra), que
representa o herói coletivo português. Panteão de deuses, sobretudo, Vênus. Esse
espírito nacionalista será resgatado em movimentos posteriores, como o Romantismo e
o Modernismo.
TEMPO As grandes navegações portuguesas até as Índias compreenderam de 1497 a 1499.
ESPAÇO Travessia do Oceano Atlântico até chegar ao Oceano Índico, mais precisamente em
Calicute.
CONFLITO Na trajetória dos lusos, enquanto alguns deuses como Vênus (do amor) e Marte (da
guerra) tentam protegê-los, outros como Netuno (do mar) e Baco (do vinho) tentam
impedi-los de alcançar o seu destino. No canto II, depois de muitas dificuldades e com a
ajuda de Vênus, chegam à África, cujo rei Melinde pede a Vasco da Gama que conte a
história de Portugal. Vasco da Gama então conta sobre a Revolução de Avis e a morte
de Inês de Castro. No canto IV: críticas do velho da praia do Restelo. Canto V: gigante
Adamastor, personificação dos perigos enfrentados pelos viajantes ao passar pelo
Cabo das Tormentas.
CLÍMAX Dos cantos VI a IX: chegam a Calicute.
DESFECHO Tomados pelo cansaço, ao menos os portugueses descansam vitoriosos, recebendo
uma recompensa da deusa Vênus pela conquista deles: a Ilha dos amores. Lá, amam as
ninfas lideradas por outra deusa, Tétis.

PARA FRENTE...

Outros movimentos literários posteriores resgataram as grandes navegações de formas diversas.


Podemos ressaltar:
• Rudyard Kipling – O fardo do Homem Branco (1899).
• Caetano Veloso – Os argonautas, com “navegar é preciso”.

Mar português – Fernando Pessoa


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar


Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador


Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Fonte: Pixabay. Mas nele é que espelhou o céu.

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Plano Grandes navegações


histórico

Luta entre os deuses:


Afrodite e Ares
Plano mítico favoráveis; Baco e
Netuno contra
Lusíadas
O ser humano tendo
Plano que enfrentar seus
dramático medos ante o
desconhecido

Camões numa relação


Plano ambígua:
pessoal imitando/competindo
com os grandes

A LÍRICA CAMONIANA

Compreendeu momentos distintos:


• Medida velha: inspirada na tradição lírica portuguesa medieval. Obedecem a poesia palaciana e
se estruturam em redondilhas maiores e menores. Começa com um mote (abertura) e depois é
seguido de glosas ou voltas (desenvolvendo o mote). Os temas recorrentes eram: a partida do
namorado, a solidão, a confissão e o sofrimento amoroso, o ambiente rural, a mulher inacessível.
• Medida nova: cuja base foi a poesia inspirada no humanismo e no Renascentismo italianos dos
séculos de XIV a XVI. A modelo de Petrarca, os gêneros utilizados foram o soneto, a ode, a oitava
e a elegia e o verso empregado foi o decassílabo.

A lírica amorosa
Também prevalece duas tendências:
• Amor sensual típico do paganismo greco-latino;
• O amor neoplatônico (resgate do platonismo por Santo Agostinho e depois S. Tomás de Aquino):
idealizado e inacessível.
O amor neoplatônico é um amor-ideia: quanto mais desvinculado do prazer carnal, do amor físico
e sensorial, mais puro ele será. Suas inspirações são a Beatriz de Dante e a Laura de Petrarca, sobretudo
esta última, mais amada ainda depois de morta.

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Vejamos como o quesito da imaginação é valorizada:

Transforma-se o amador na cousa amada,


por virtude do muito imaginar;
não tenho logo mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada, Esse poema é interessante, pois ele prenuncia
que mais deseja o corpo de alcançar? elementos do Barroco: a contradição, uma
Em si somente pode descansar, vez que nas primeiras estrofes o eu lírico
pois consigo tal alma está liada. preza pelo amor ideal, embora nos últimos ele
almeje uma mulher real, consubstanciada na
Mas esta linda e pura semideia, forma. Nas Artes Plásticas, esse movimento é
que, como o acidente em seu sujeito, chamado de Maneirismo.
assim co’a alma minha se conforma,

está no pensamento como ideia;


[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como matéria simples busca a forma.

ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento Etéreo, onde subiste,


Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te


Algũa cousa a dor que me ficou Fonte: Unplash.
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,


Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Não precisamos também saber, por exemplo, que “algũa” é uma forma arcaica – isto é, antiga –
da palavra “alguma”. O precisamos entender são as escolhas das palavras.
Assim, o eu lírico no primeiro verso menciona uma partida, e depois sabemos que é para o Céu.
Concluímos que isso significa a morte, mas apenas da alma do eu lírico, e não de seu corpo físico.

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A lírica filosófica
Já esse tipo de poesia retratava uma reflexão sobre a vida, o homem e o mundo. É típica a
consciência da força implacável do tempo, de cujo maior representante é o soneto “Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades”.
Características do eu lírico: é desconcertado com a realidade, desprovido de harmonia, confuso.
Trata-se do homem perplexo e desenganado com o mundo.

PRODUÇÃO LITERÁRIA DO CLASSICISMO PORTUGUÊS


• Lírica: Luís de Camões e Sá Miranda.
POESIA
• Épica: Luís de Camões, com Os Lusíadas.
• Novela sentimental: Bernardim Ribeiro, com Menina e moça.
PROSA
• Novelas de cavalaria: João de Barros, com a Crônica do imperador Clarimundo,
e Francisco de Morais, com Palmeirim da Inglaterra.
• Crônica histórica: João de Barros.
• Literatura de viagens: Fernão Mendes Pinto, com Peregrinação.
TEATRO • Antônio Ferreira, com a tragédia Castro (a primeira peça de influência clássica
no teatro português).
Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2004, p. 146.

AS GUERRAS SANTAS
O espírito guerreiro e aventureiro da cavalaria medieval foi fortemente marcado pelas Cruzadas,
as “guerras santas” que a Europa empreendeu contra o Islão na tentativa de recuperar Jerusalém,
então dominada pelos muçulmanos.
Embora os motivos oficiais dessas guerras fossem religiosos, na verdade havia outros interesses em
jogo: a atração pelo desconhecido e a realização de saques e pilhagens que garantiriam o
reconhecimento do rei e da comunidade, além de uma vida tranquila materialmente.

Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2004, p. 90 (adaptado).

6.0 MOVIMENTOS ARTÍSTICOS NO GERAL


Com o intuito de formar bagagem cultural, separei para vocês uma seção com comentários
artísticos sobre o período estudado na aula de hoje. Isso ocorrerá em cada aula, para que vocês formem
conhecimento de mundo.
Eu garanto que isso é muito importante para vocês. Ainda que estes temas não caiam diretamente
na sua prova, vocês podem aplicar essas informações em cobranças acerca do contexto histórico-social.

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6.1. ROMÂNICO
PERÍODO: SÉCULOS XI-XII

Principais características do período:


• Na arquitetura, as igrejas tinham abóbadas e esculturas. Exemplos: St. Sernin (França).
• Na pintura: continuação da tradição pictural, sobretudo das iluminuras de manuscritos (arte ou ato
de ornar um texto, página, letra capitular com desenhos, arabescos, miniaturas, grafismos diversos;
desenho, miniatura, grafismo que ornamenta manuscritos medievais).
• Elementos figurativos, simbólicos e decorativos.
• Linhas e planos rítmicos.
• Tapeçarias, vitrais, murais e ornamentos.

A lição para o dia de São Venceslau. Fonte: KVĚT, 1964, lâmina 9.

Durante muito tempo na Idade Média, a Igreja Católica detinha o conhecimento


do latim. O surgimento do latim vulgar, isto é, uma língua mais voltada para o
vernáculo, já indica a criação de línguas nacionais particulares.

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6.2. GÓTICO
PERÍODO: SÉCULOS XIII-XV

O gótico foi um período cujas estátuas eram símbolo do sagrado, “lembretes solenes de uma
verdade moral” (GOMBRICH, 2015, p. 190).

“Para o artista gótico, ...consistia em narrar a


história sagrada de um modo mais comovente e
mais real. Não narra apenas para divulgar, mas
para nos transmitir uma mensagem e, para
consolo e edificação dos fiéis” (GOMBRICH,
2015, p. 193).

Principais características do período:


• Igrejas, como Notre-Dame em Paris. Foi construída entre
1163 e 1345. Suas janelas e formas delgadas formam
inconfundivelmente o estilo gótico. Alguns interiores são
românicos, com abóbadas. Teve inspiração na Saint-
Denis.
• Pinturas em vidros e manuscritos continuavam. De 1200
a 1250 foi a idade de ouro dos vitrais.
Ao lado, frontal da Catedral de Colônia na Alemanha.
Fonte: arquivo pessoal da professora (2019). Reparem inclusive
um andaime de reforma. Foi construída de 1248 a 1880.
À direita: Irmãos Paul e Jean de Limbourg – Três ricas horas
(c. 1410). À esquerda: Giotto di Bondone – A lamentação de
Cristo (c. 1305).

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6.3. BIZANTINO
PERÍODO: SÉCULOS V-XV

A função da arte nesse período é repetir as lições inalteráveis da


teologia cristã. Portanto, a arte não tinha a função de manter relação
com a realidade concreta. As imagens eram principalmente um convite à
meditação espiritual.
Principais características do período:
• Justaposição de imagens;
• Coordenação e paralelismo das partes;
• Ausência de profundidade e hierarquia dos espaços (do mais
sagrado para o menos sagrado);
• Iconização (a pintura é um ícone, isto é, a representação de
uma figura religiosa, geralmente em uma superfície plana).
Tema comum: Pietà;
• Hieratismo (a figura retratada tem uma postura rígida e
majestosa);
• Frontalidade (imagens representadas apenas de frente);
• Isodactilia (dedos das mãos do mesmo tamanho).
Ao lado: moldura de tabernáculo, segundo quarto do século XIV
(Siena, Itália). Fonte: Metropolitam Museum of Art. Disponível em:
https://tinyurl.com/yy8o3eda.

Além da arquitetura e dos afrescos, também predominaram nesse período os mosaicos (superfície
composta de ladrilhos ou pequenas peças coloridas e variadas). É uma arte culta, mas dirigida às massas.
Suas qualidades de ordem prática são a solidez e a resistência à intempérie.

Igreja do Monastério. A entrada em Jerusalém. Detalhe: o Senhor.


Finais do século XI. Fonte: GRABAR, 1964, lâmina 22.

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6.4. RENASCIMENTO

PERÍODO: SÉCULOS V-XV

Principais características do período:


• Racionalidade;
• Dignidade do ser humano;
• Rigor científico;
• Ideal humanista;
• Reutilização das artes greco-romana.
• Principais representantes na Itália: Leonardo da Vinci; Rafael e Ticiano.
• Principais representantes do Renascimento Setentrional: Albrecht Dürer, Peter Bruegel e
Grünenwald.

O nascimento de Vênus (1485), de Sandro Botticelli.


Fonte: Pixabay.

Os 12 deuses do Olimpo: Zeus, Hera, Poseidon, Atena, Ares, Deméter, Apolo,


Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dionísio. Cada um desses nomes tem seu
correspondente latino, cuja nomenclatura inclusive serve para nomear planetas. Vejam
no quadro abaixo como vocês também podem encontrar esses nomes.

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MITOLOGIA GREGA MITOLOGIA LATINA FUNÇÃO


ZEUS JÚPITER Deus dos deuses, deus do trovão.
HERA JUNO Deusa da fidelidade e do
casamento, esposa de Zeus
POSEIDON NETUNO Deus dos mares
ATENA MINERVA Deusa da inteligência
ARES MARTE Deus da guerra
DEMÉTER CERES Deusa da agricultura
APOLO FEBO Deus da música, poesia/deus sol.
Irmão gêmeo de Ártemis.
ÁRTEMIS DIANA Deusa da caça/deusa da lua
HEFESTO VULCANO Deus forjador
AFRODITE VÊNUS Deusa do amor, cujo filho é Cupido
ou Eros.
HERMES MERCÚRIO Deus mensageiro.
DIONISO BACO Deus do vinho e do teatro.

7.0 INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS


Em se tratando dos movimentos literários estudados hoje, o único efetivamente brasileiro é o
Quinhentismo. Como o Projeto Básico do Senado cobra Literatura Nacional, esse movimento precisa
ocupar um lugar de destaque nos nossos estudos. Por isso, hoje separei para trabalharmos um trecho do
Auto da Festa de São Lourenço de Padre Antônio Anchieta.

PERSONAGENS
GUAIXARÁ – rei dos diabos
AIMBIRÊ
SARAVAIA – criados de Guaixará
TATAURANA
URUBU
JAGUARUÇU – companheiros dos diabos
VALERIANO
DÉCIO – Imperadores romanos
SÃO SEBASTIÃO – padroeiro do Rio de Janeiro
SÃO LOURENÇO – padroeiro da aldeia de São Lourenço
VELHA
ANJO
TEMOR DE DEUS
AMOR DE DEUS
CATIVOS E ACOMPANHANTES

TEMA
Após a cena do martírio de São Lourenço, Guaixará chama Aimbirê e Saravaia para ajudarem a
perverter a aldeia. São Lourenço a defende, São Sebastião prende os demônios. Um anjo manda-os

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sufocarem Décio e Valeriano. Quatro companheiros acorrem para auxiliar os demônios. Os


imperadores recordam façanhas, quando Aimbirê se aproxima. O calor que se desprende dele abrasa
os imperadores, que suplicam a morte. O Anjo, o Temor de Deus, e o Amor de Deus aconselham a
caridade, contrição e confiança em São Lourenço. Faz-se o enterro do santo. Meninos índios dançam.

(...)
SARAVAIA
Fui pelo sertão a dentro,
lacei as almas, rapaz.

ANJO
De que famílias descendem?

SARAVAIA
Desse assunto pouco sei.
Filhos de índios talvez.
Na corda os enfileirei
presos todos de uma vez.
Passei noites sem dormir,
nos seus lares espreitei,
fiz suas casas explodir,
suas mulheres lacei,
pra que não possam fugir.
(Amarra-o o anjo e diz:)

ANJO
Quantas maldades fizeste!
Por isso o fogo te espera.
Viverás do que tramaste
nesta abrasada tapera
em que pro fim te pilhaste.

O dia de São Lourenço é 10 de agosto. Ele foi diácono e mártir. Fez


parte do grupo de 7 diáconos que serviam a Igreja de Roma durante o
pontificado de São Sisto II, administrando os bens da Igreja e distribuindo as
esmolas dos pobres. O imperador Valeriano publicou um decreto contra os
cristãos, prendendo o Papa e executando-o, bem como 4 diáconos. São
Lourenço foi preso no dia 10 de agosto de 257. Sua morte foi dolorosa: pouco
a pouco e em brasas. A Igreja Católica usou contra seus próprios membros o
método que usaria na Inquisição, que começou no século XII. São Lourenço
é padroeiro dos diáconos permanentes, modelo de servidor de Cristo nos
pobres e Heróis da fé provada no fogo (HOMEM, 2012, p. 317).

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Um dos principais gêneros literários do período estudado na aula de hoje é o teatro. A Carta de
Pero Vaz de Caminha é muito conhecida e cobrada; porém, devemos ter um conhecimento mais
abrangente de outras obras também.
No trecho acima, observa-se uma espécie de ficha catalográfica de apresentação das personagens.
Podemos observar que elas alternam nomes indígenas (pagãos) e cristãos. No caso dos textos literários
brasileiros do período, é muito importante observar o sincretismo religioso. Isso indica a riqueza de
culturas coexistindo no mesmo espaço e tempo, como costuma ocorrer até hoje. O que a banca pode
explorar desse período é justamente o choque cultural, que sucedeu de várias maneiras, sobretudo,
mediante a religião.

SINCRETISMO. Fusão de cultos religiosos ou de elementos culturais diferentes com acomodação


entre seus elementos; fusão de filosofias ou ideologias diversificadas; tendência a fundir ideias
ou doutrinas diferentes e até mesmo antagônicas (dicionário Aulete).

Alguns nomes são alegóricos, como temor e amor de Deus, por exemplo.
No trecho em particular, há ambiguidade: a personagem Saraiva, que é um criado do rei dos
diabos, narra maldades que fez as quais se parecem com os processos de colonização. No fim, há o caráter
moralizante do Anjo: “Viverás do que tramaste /nesta abrasada tapera”. É como se houvesse uma lição
de moral, o que indica o objetivo pedagógico da literatura de catequese.
Outro movimento literário que costuma ser frequentemente cobrado em provas é o Classicismo
de Luís de Camões. Isso por conta da importância e representatividade desse autor. Sua linguagem é
rebuscada e além disso trata-se de português europeu. Porém, ainda assim, pode servir como estudo
gramatical. Por isso, hoje separei para trabalharmos um soneto de Camões.

A fermosura desta fresca serra


A fermosura desta fresca serra
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;

O rouco som do mar, a estranha terra,


O esconder do Sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros,
Das nuvens pelo ar a branda guerra;

Enfim, tudo o que a rara natureza


Com tanta variedade nos of'rece,
Me está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;


Sem ti, perpetuamente estou passando,
Nas mores alegrias, mor tristeza.

Camões escreveu centenas de sonetos. Para além da poesia épica (Os Lusíadas), escreveu poesia
lírica, cujos grandes temas foram amorosos e filosóficos. Porém, muitos desses sonetos têm autoria difícil
de ser rastreada, tendo ela sido atribuída a ele mais por causa do estilo do que precisão de fontes. Nesse

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sentido, muitos sonetos não têm títulos. Quando for assim, o primeiro verso do soneto serve de título
(tema) a ele. Como no caso do teatro de Padre José de Anchieta da seção anterior, que tinha um “tema”
a partir do qual a peça iria se desenvolver. Muitos textos da Idade Média apresentam esse esquema
estrutural: uma apresentação do tema para que depois ele seja desenvolvido. Até para facilitar a
compreensão dos textos, nem sempre muito inteligíveis (até hoje).

A banca pode explorar textos dos movimentos estudados hoje na


seguinte perspectiva: literatura comparada, estabelecendo
relações de como era a produção literária naquela época e como
elas se mantêm ou se modificaram hoje.

Em termos gramaticais, o que é interessante de notar no soneto acima é a adjetivação, isto é,


emprego evidente (podendo chegar até mesmo a ser excessivo) da classe morfológica do adjetivo, que
serve para descrever, qualificar etc. A partir daí, nota-se então a inversão da ordem direta: se, na Língua
Portuguesa, costuma-se escrever substantivo + adjetivo, no poema tem-se adjetivo + substantivo. Toda
vez que isso ocorrer, o efeito pretendido é a ênfase nesse adjetivo.

serra fresca fresca terra

O mesmo ocorre com “verdes castanheiros”, sendo que verde também se remete a frescor. Então,
este tema está sendo repetido e, consequentemente, ressaltado. E essa inversão se repete ainda mais:
“manso caminhar” (o verbo foi nominalizado, isto é, transformado em função de substantivo), “estranha
terra”, “branda guerra” e “rara natureza”. Outro procedimento importante na construção do poema é
justamente a nominalização, o que ocorre também com “o esconder” e “o escolher”, aqui utilizados com
o artigo definido antes.
Desde o título, temos também uma construção de posse: a fermosura (formosura) é justamente
dessa terra, que é fresca. Logo, parecemos estar diante de um tema árcade: o pastoralismo e a valorização
da natureza. Porém, vamos ver que isso não se verifica no poema como um todo.
Isso porque o eu lírico nos dois tercetos finais desabafa: pouco importa toda essa linda natureza:
“Me está, se não te vejo, magoando.” Logo, é importante notar um eu lírico em primeira pessoa do
singular descrevendo seu estado de espírito, que alterna entre a contemplação de uma bela natureza e a
tristeza internalizada pela solidão/ausência da mulher amada. O tom do poema, portanto, é lírico,
subjetivo, sentimental.
No último terceto, a repetição da estrutura “sem ti” no início do verso, além de conferir
importância à segunda pessoa gramatical, também indica presença da figura de linguagem da anáfora.
Também há uso repetitivo de verbos pronominais: me está, me enoja, me aborrece. Essa ação reflexiva
confere destaque ao sentimento individual do eu lírico. Por fim, na chave de ouro (último verso do
soneto): uma ideia contraditória. É como se o eu lírico estivesse passando por uma montanha-russa
sentimental, experimentando ora tristeza, ora alegria, residindo a condição na amada. Logo, trata-se da
poesia lírica de Camões, mais especificamente de sua lírica amorosa.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 51


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Justamente pelo fato de os movimentos literários estudados


hoje serem menos cobrados em provas, a chance de textos
desses períodos caírem sendo associados a outras questões
(contexto histórico-social, cultura, gramática) é grande!

8.0 CRÍTICA LITERÁRIA


Pois bem, alunos.
O ideal é que a Crítica Literária dialogue com os termos abordados em cada aula. Nesse sentido,
hoje escolhi tratar de três textos de especialistas na Idade Média.
• Johan Huizinga – O outono na Idade Média.
• Ernst Robert Curtius – Literatura Europeia e Idade Média Latina.
• Segismundo Spina – Cultura Literária Medieval.

TEXTO I

A ESTILIZAÇÃO DO AMOR
Desde que os trovadores provençais do século XII deram voz à melodia do desejo não
correspondido, as violas entoaram cada vez mais alto as cantigas de amor, até que apenas Dante
conseguisse tocar o instrumento da forma mais perfeita.
O espírito medieval sofreu uma das mudanças mais importantes ao desenvolver pela primeira
vez um ideal amoroso com uma tônica negativa. É certo que a Antiguidade também cantara o anseio
e o sofrimento do amor; mas será que ali, na verdade, o anseio não era apenas encarado como o
adiamento e o estímulo da indubitável realização? E, nas histórias de amor com final triste da
Antiguidade, a frustração do desejo não era o momento-chave, mas sim a cruel separação pela morte
dos amantes já unidos, como ocorreu com Céfalo e Prócris e com Píramo e Trisbe. O sentimento de
tristeza não se situava na insatisfação erótica, mas no infortúnio do destino. Foi só no amor cortês
dos trovadores que a insatisfação em si tornou-se motivo principal. Criara-se uma forma de
pensamento erótico capaz de abranger uma profusão de aspirações éticas, sem por isso renunciar por
completo à sua conexão com o amor natural das mulheres. Do próprio amor sensual brotara a servidão
cortês à mulher, sem nunca exigir realização amorosa. O amor passou a ser o campo em que se deixava
florescer todo o aperfeiçoamento estético e moral. O amante nobre, segundo a teoria do amor cortês,
torna-se virtuoso e puro pelo seu amor. O elemento espiritual ganha cada vez mais espaço na poesia
lírica, até que, por fim, o efeito do amor torna-se um estado de iluminação sagrada e devoção: Vida
nova, de Dante Alighieri.
A partir de então foi preciso uma nova reviravolta. No dolce stil nuovo de Dante e seus
contemporâneos fora atingido um ponto extremo. Petrarca já hesita entre o ideal do amor cortês
espiritualizado e a nova inspiração na Antiguidade. E de Petrarca até Lorenzo de Médici, na Itália, a
lírica amorosa envereda pelo caminho que leva de volta à sensualidade natural que também permeava
os tão admirados modelos dos antigos. O sistema artificialmente desenvolvido do amor cortês foi
abandonado.
(...)

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[Na França] O círculo de poetas do sensível imagina o amor melancólico sob a figura da ascese
religiosa, da liturgia e do martírio. Eles chamam a si mesmos de les amoreaux de l'observance [os
amorosos da observância], ecoando a recente e bem-sucedida reforma na vida monástica dos
franciscanos. É como um equivalente irônico da rígida sobriedade do dolce stil nuovo. A tendência
profana é expiada em parte pela intimidade do sentimento amoroso.
“Tratei do funeral da minha dama
No mosteiro do amor,
E o serviço para a sua alma
Tristes pensamentos cantou.
Muitas velas de suspiros lamentosos
Estavam ali iluminando,
Também o seu túmulo mandei erigir
Da lamentação... ” (L'amant rendu cordelier de l'observance d'amour – O amante tornou mais
cordial a observância do amor).
(HUIZINGA, Johan. O Outono da Idade Média. São Paulo: Cosac Naify, 2010, p. 177-183, grifos meus).

Johan Huizinga (1872-1945) foi um historiador que nasceu


nos Países Baixos. Suas principais pesquisas, além desse trabalho
monumental acerca da Idade Média, são Nas sombras do amanhã e
Homo Ludens. Pode ser que a banca, quando for cobrar movimentos
literários como os estudados hoje, manifestem a tendência de
compará-los com movimentos mais atuais. Por exemplo, a junção da
temático do amor ao morte já lembra obras como Romeu e Julieta, de
Shakespeare, como também a estética ultrarromântica.
Porém, na Europa como um todo, é possível observar
expressões diferentes na mesma época a depender do país, como o
texto acima aponta. É como se, para além da competição por colônias,
os países também estivessem competindo entre si para decidir qual
deles tinha a melhor arte e cultura. No plano da forma, o soneto como
o conhecemos hoje foi aperfeiçoado por Petrarca. Seguem abaixo mais
escritores clássicos dignos de serem conhecidos. Observem como era
comum a coroa de louros, para simbolizar a fama, a glória e a
imortalidade. Até hoje, ela também é o símbolo da Academia Brasileira
de Letras, cujo lema é ad imortalitatem (até a imortalidade).

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Francesco Petrarca (1304-1374) foi um humanista italiano. Junto à invenção do


soneto atribuída a Jacopo da Lentini, essa forma foi aperfeiçoada nesse período,
tendo implementado em seus escritos também ideias filosóficas. Sua obra mais
famosa é Il Canzoniere (O Cancioneiro), redigida por anos.

Dante Alighieri (1265-1321) tem papel importante na transição da língua


latina para a italiana. Escreveu A Divina Comédia, dividida entre Inferno,
Purgatório e Paraíso e responsável por eternizar sua musa Beatrice. Além
disso, escreveu também um tratado político: Da monarquia (1310).

Antiguidade Clássica Classicismo Neoclassicismo


Séc. VIII a. C. – V d. C. Séc. XVI Séc. XVIII

TEXTO II

AS UNIVERSIDADES
A crescente afluências às escolas parisienses criou a atmosfera e a necessidade de que se originou
a Universidade de Paris. Com as universidades começa uma nova época de educação medieval. Elas
não são, como se propala ainda hoje, uma continuação ou renovação das antigas escolas superiores.
As chamadas antigas universidades são criações do fim da época imperial. Ensinavam, em primeira
linha, gramática e retórica. A filosofia e outras ciências relegavam-se a plano secundário. Nossas
universidades são uma criação original da Idade Média. No mundo antigo nunca houve, em parte
alguma, essas corporações com seus privilégios, seu plano fixo de estudos, seus títulos graduados
(bacharel, licenciado, mestre, doutor). A palavra universidade não significa, como se crê, o “conjunto
das ciências” (universitas litterarum), mas a corporação dos docentes e discentes. Explica-o, já no
século XIII, a perífrase societas magistrorum et discipulorum. Como instituição científica, a
universidade chama-se studium generale. A mais antiga é a de Bolonha, que Frederico I proveu de
estatutos em 1158. Em Bolonha dominava, porém, a jurisprudência; só em 1352 se fundou a faculdade
de teologia. A Universidade de Paris desenvolveu-se lentamente. Já no século XII, reinava em Paris
animada vida científica, estimulada por mestres como os saint-victorinos e Abelardo. Lá encontramos
diversas escolas, desde o fim do século XII, frequentadas por alemães e sobretudo por ingleses. De
fato, já existia a universidade parisiense.
(CURTIUS, Ernest Robert. Literatura europeia e idade média latina. 2. ed.
Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1979, p. 53-54).

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Ernst Robert Curtius (1886-1956) foi um erudito, filólogo e crítico


literário alemão. Nesse trecho, observamos uma tendência
interessante: a criação de universidades na Idade Média. A Idade
Média é conhecida como Idade das Trevas; no entanto,
paradoxalmente, no mesmo período surgem universidade. Porém,
o conhecimento era detido pela Igreja Católica, que dominava
administrativa e burocraticamente quase que a totalidade dos
ambientes e instituições de ensino e formação. Então, naquela
época, não havia Ensino Superior Público, nem democratizado
tampouco difundido, permanecendo o acesso à informação
limitado às classes dominantes. O currículo básico nas
universidades medievais eram o Trivium (gramática latina, retórica
e lógica). Depois de concluída essa etapa, estudava-se o
Quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música). Foi
também nessa época que filósofos como Aristóteles e Platão
foram redescobertos, ou seja, voltou-se a ter interesse neles. Suas
obras eram copiadas e estudadas.

TEXTO III

A VIRGEM, A MORTE, A FORTUNA


O tema da Morte nasce literariamente em fins do século XII, mas adquire caráter verdadeiramente
epidêmico no século XV, em que a Morte ocupa obsessivamente a consciência dos homens, invadidos
pelo desespero e pelo ceticismo de uma época devastada pela peste, pela miséria e pela fome. E a
Morte torna-se expressão e imagem dessa conjuntura dolorosa, suscitando um cortejo riquíssimo de
outros temas e motivos: o cadáver, a caveira, o esqueleto, o corpo em decomposição (tão do gosto da
literatura barroca seiscentista), o ataúde exumado, as vozes angustiantes, a visão terrífica da
putrefação, a imparcialidade da Morte, o sentimento da fugacidade da vida, o menosprezo do mundo.
(...) Mas Morte não foi apenas expressão de dor, uma personagem séria e terrífica a moralizar, a
suscitar o terror e a devoção: ela tripudiou também na paródia histriônica, assumindo a feição grotesca
das chamadas “danças macabras”. E então, com o capelo do frade, soerguendo a casaca do
pelotiqueiro, como louca ou parva, e tendo como orquestra cadáveres músicos, a Morte cabrioleia,
salta, dança, toca tamborim, pífaro, harpa e órgão portátil.
Na poesia lírica do século XV, dois dos maiores representantes do tema foram François Villon na
França e Jorge Manrique na Espanha; mas o tema da Morte, nessa época, tornou-se tão surrado que
em vários lugares da Europa surgiram manuais didáticos a respeito da arte da morte (Ars moriendi),
com ideias gerais a respeito da Morte, as precauções sobre os perigos espirituais que nos cercam nos
momentos do desenlace, e as instruções mais minuciosas com que evitá-los e vencê-los.
(...)
O tema da Fortuna exorbitou a literatura medieval e penetrou na lírica do Renascimento: é de ver a
importância que assume na poesia amorosa e na própria poesia épica camoniana. Nos sonetos, em
que o Poeta constrói a sua metafísica do amor, o papel da Fortuna aparece detidamente examinando
como promotora das desgraças sentimentais do grande lírico (Erros meus, má Fortuna, amor ardente);
no seu poema épico a Fortuna se contrapõe nitidamente ao Fatum, categorias que constituem as duas
forças dominantes da fábula lusíada: Baco não se opõe à realização do Fatum (Cuja alta lei não pode
ser quebrada, Lus. I, 28), mas à Fortuna próspera, ao próprio Gama (A quem Fortuna sempre favorece,
I, 443).
(SPINA, Segismundo. Cultura literária medieval: uma introdução. Cotia, SP: Ateliê Editoral, 2007, p. 57-60).

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 55


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Segismundo Spina (1921-2012) foi Professor Emérito da USP. No


trecho acima, podemos observar uma temática importante para os
movimentos literários estudados hoje e que pode ser associada com a
atualidade: contexto epidêmico de pestes. A Peste Negra, por exemplo,
durou de 1346 a 1353. Outra visão literária sobre o mesmo assunto é do
escritor ultrarromântico estadunidense Edgar Alan Poe: “O Baile da Morte
Vermelha”. Quer dizer, nem todos os temas eram líricos e sentimentais,
como a representação do amor, mas também indicavam o medo da morte
e do desconhecido. São dessa época as danças macabras, por exemplo,
união do que no século XX Sigmund Freud chamaria de impulso da vida e
da morte. “Fortuna” com letra maiúscula era uma divindade da mitologia
latina, controladora do tempo e dos destinos.

9.0 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS


Prezados alunos, eis algumas informações práticas antes de começarem.
A aula de hoje abordou muitos tópicos essenciais para a sua compreensão de texto. Vamos trazer
exercícios variados para a sua fixação. Então, vamos resolver questões das seguintes fontes:
• Aproveitem o momento dos comentários e correções para aprenderem, pois os(as) autores do
cânone devemos conhecer. Informações adicionais sobre os movimentos literários
especificamente, vocês encontrarão na videoaula.
• Outra dica: após fazer os exercícios da sua banca, procure fazer os de outra com cobrança
parecida, o que se encontra na lista complementar de fixação que preparei para vocês.
• Tentei trazer imagens com qualidade boa, o que pode não acontecer no dia da prova. Caso no
dia vocês não consigam ler ou entender algo, vocês devem se dirigir ao fiscal da sala.

Para complementar seu estudo cada vez mais, vocês vão encontrar questões
ao longo da teoria e no final dela, com e sem gabaritos. Além disso, também
temos simulados inéditos e gratuitos todo fim de semana. Isso quer dizer que
vamos focar bastante na prática!

LISTA DE QUESTÕES ESPECÍFICAS DA BANCA

01. (ENEM 2021/Reaplicação/1o dia/Professora Luana Signorelli)

Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 56


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!


muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.


ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993.

O poema modernista de Mário de Andrade revisita o tema do nacionalismo de forma irônica ao


a) referendar estereótipos étnicos e sociais ligados ao brasileiro nortista.
b) idealizar a vida bucólica do norte do país como alternativa de brasilidade.
c) problematizar a relação entre distância geográfica e construção da nacionalidade.
d) questionar a participação da cultura autóctone na formação da identidade nacional.
e) propalar uma inquietação desfavorável quanto à aceitação das diferenças socioculturais.
_____________________________________________________________________________________

02. (ENEM/2013)
TEXTO I
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me
que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e
flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. [...] Andavam todos
tão bem dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam.
CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).

TEXTO II

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 57


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PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela, 199 x 169 cm


Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun. 2013.

Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari
retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que
a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses
em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária.
b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação
da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna.
c) a carta, como testemunho histórico-político mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a
pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.
d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes — verbal e não verbal —, cumprem a mesma
função social e artística.
e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um
mesmo momento histórico, retratando a colonização.
_____________________________________________________________________________________

03. (ENEM/2013)
TEXTO I
LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso;
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;

Presença moderada e graciosa,


Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;

Fala de quem a morte e a vida pende,


Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:

Estas as armas são com que me rende


E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.

CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008.

TEXTO II

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 58


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

SANZIO, R. (1483-1520) A mulher com o unicórnio. Roma, Galleria Borghese. Disponível em:
www.arquipelagos.pt. Acesso em: 29 fev. 2012

A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do
mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos
usados no poema.
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes da mulher,
evidenciadas pelos adjetivos do poema.
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela
postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística,
evidenciado pelos adjetivos usados no poema.
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados
pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
_____________________________________________________________________________________

04. (ENEM/2012)
O trovador
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras ...
As primaveras de sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal ...
Intermitentemente ...
Outras vezes é um doente, um frio

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 59


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

na minha alma doente como um longo som redondo ...


Cantabona! Cantabona!
Dlorom ...
Sou um tupi tangendo um alaúde!
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.)
Poesias completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.

Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de


Andrade. Em O trovador, esse aspecto é
a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o
carnaval, remete à brasilidade.
b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em
suas viagens e pesquisas folclóricas.
c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v.
1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).
d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que
seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswaldo de Andrade.
e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o
orgulho brasileiro por suas raízes indígenas.
_____________________________________________________________________________________

05. (ENEM/2010)
O Arlequim, o Pierrô, a Brighella ou a Colombina são personagens típicos de grupos teatrais da
Commedia dell’art, que, há anos, encontram-se presentes em marchinhas e fantasias de carnaval. Esses
grupos teatrais seguiam, de cidade em cidade, com faces e disfarces, fazendo suas críticas, declarando
seu amor por todas as belas jovens e, ao final da apresentação, despediam-se do público com músicas
e poesias.

A intenção desses atores era expressar sua mensagem voltada para a


a) crença na dignidade do clero e na divisão entre o mundo real e o espiritual.
b) ideologia de luta social que coloca o homem no centro do processo histórico.
c) crença na espiritualidade e na busca incansável pela justiça social dos feudos.
d) ideia de anarquia expressa pelos trovadores iluministas do início do século XVI.
e) ideologia humanista com cenas centradas no homem, na mulher e no cotidiano.
_____________________________________________________________________________________

06. (ENEM/2009)
Texto 1

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 60


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

José de Anchieta fazia parte da Companhia de Jesus, veio ao Brasil aos 19 anos para catequizar
a população das primeiras cidades brasileiras e, como instrumento de trabalho, escreveu manuais,
poemas e peças teatrais.

Texto 2
Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se vê em todo ano árvore nem erva seca. Os
arvoredos se vão às nuvens de admirável altura e grossura e variedade de espécies. Muitos dão bons
frutos e o que lhes dá graça é que há neles muitos passarinhos de grande formosura e variedades e em
seu canto não dão vantagem aos rouxinóis, pintassilgos, colorinos e canários de Portugal e fazem uma
harmonia quando um homem vai por este caminho, que é para louvar o Senhor, e os bosques são tão
frescos que os lindos e artificiais de Portugal ficam muito abaixo.
ANCHIETA, José de. Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões do Padre
Joseph de Anchieta. Rio de Janeiro: S.J., 1933, 430-31 p.

A leitura dos textos revela a preocupação de Anchieta com a exaltação da religiosidade. No texto 2, o
autor exalta, ainda, a beleza natural do Brasil por meio
a) do emprego de primeira pessoa para narrar a história de pássaros e bosques brasileiros, comparando-
os aos de Portugal.
b) da adoção de procedimentos típicos do discurso argumentativo para defender a beleza dos pássaros e
bosques de Portugal.
c) da descrição de elementos que valorizam o aspecto natural dos bosques brasileiros, a diversidade e a
beleza dos pássaros do Brasil.
d) do uso de indicações cênicas do gênero dramático para colocar em evidência a frescura dos bosques
brasileiros e a beleza dos rouxinóis.
e) do uso tanto de características da narração quanto do discurso argumentativo para convencer o leitor
da superioridade de Portugal em relação ao Brasil.
_____________________________________________________________________________________

07. (ENEM/2001) Murilo Mendes, em um de seus poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz de Caminha:

“A terra é mui graciosa,


Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear,
No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
Tem goiabas, melancias,
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos muito,
De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais
Diamantes tem à vontade
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca,

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 61


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Cruzados não faltarão,


Vossa perna encanareis,
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui”.
MENDES, Murilo. Murilo Mendes — poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema, criando um efeito de contraste, como ocorre
em:
a) A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais
b) Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca
c) A gente vai passear / Ficarei muito saudoso
d) De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro
e) No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade
_____________________________________________________________________________________

08. (ENEM/2010/2ª aplicação)


Texto I
XLI
Ouvia:
Que não podia odiar
E nem temer
Porque tu eras eu.
E como seria
Odiar a mim mesma
E a mim mesma temer.
HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento).

Texto II
Transforma-se o amador na cousa amada
Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Camões. Sonetos. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br. Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento).

Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é


a) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma espécie de fusão de dois
seres em um só.
b) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do eu lírico de que
odeia a si mesmo.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 62


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

c) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém, nos versos de Camões, certa
resistência do ser amado.
d) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem no imaginário, sem a
realização concreta.
e) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II, respectivamente, o ódio o amor.
_____________________________________________________________________________________

09. (ENEM/1998)
Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;


é solitário andar por entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões

O poema tem, como característica, a figura de linguagem denominada antítese, relação de oposição de
palavras ou ideias. Assinale a opção em que essa oposição se faz claramente presente.
a) “Amor é fogo que arde sem se ver.”
b) “É um contentamento descontente.”
c) “É servir a quem se vence, o vencedor.”
d) “Mas como causar pode seu favor.”
e) “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
_____________________________________________________________________________________

10. (ENEM/1998)
O poema pode ser considerado como um texto:
a) argumentativo.
b) narrativo.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 63


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

c) épico.
d) de propaganda.
e) teatral.

LISTA DE QUESTÕES COMPLEMENTARES

11. (UNICAMP/2021/1ª fase/1ª aplicação)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía*.
*soía: terceira pessoa do pretérito imperfeito do indicativo do verbo “soer” (costumar, ser de costume).
(Luís de Camões, 20 sonetos. Campinas: Editora da Unicamp, p. 91.)

Indique a afirmação que se aplica ao soneto escrito por Camões.


a) O poema retoma o tema renascentista da mudança das coisas, que o poeta sente como motivo de
esperança e de fé na vida.
b) A ideia de transformação refere-se às coisas do mundo, mas não afeta o estado de espírito do poeta,
em razão de sua crença amorosa.
c) Tudo sempre se renova, diferentemente das esperanças do poeta, que acolhem suas mágoas e
saudades.
d) Não apenas o estado de espírito do poeta se altera, mas também a experiência que ele tem da própria
mudança.
_____________________________________________________________________________________

12. (UNICAMP/2021/1ª fase/1ª aplicação) Certas imagens literárias podem tornar-se nucleares para
uma cultura. Assim, por exemplo, a figura do marinheiro em Portugal. Ela adquire significados

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 64


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

diferentes em períodos históricos distintos, mas conserva um elemento permanente. A semelhança


entre a imagem do marinheiro em Camões e em Fernando Pessoa reside
a) no realismo moral do povo português, resultado da era das grandes navegações e da expansão do
catolicismo.
b) na representação de uma identidade coletiva e individual sob o signo da mudança, do risco e da
travessia.
c) na alegoria da degradação moral dos amantes e dos aventureiros, movidos pelo desejo sexual e pela
cobiça material.
d) na simbolização dos ideais econômicos de Portugal, com reflexos na vida espiritual.
_____________________________________________________________________________________

13. (UNICAMP/2021/1ª fase/1ª aplicação) “Se Cabral tivesse uma vaga noção d’ACAPA de hoje, véspera
do 22 de abril de 2020, provavelmente teria desviado o curso de suas caravelas rumo a outras terras.”

ACAPA é um perfil de Facebook, que publica capas possíveis de revista. O efeito humorístico na leitura
dessa edição de ACAPA decorre mais precisamente do uso
a) da expressão “terra à vista”, que remete à época em que a terra ainda era plana.
b) da expressão “abundam birutas”, em referência aos povos originários do Brasil.
c) do pronome relativo “cujo” para indicar o destino traçado para a terra plana há 520 anos.
d) da imagem de uma biruta mostrando a direção do vento, aliada à referência a “birutas” atuais.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 65


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

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14. (UNICAMP/2021/1ª fase/2ª aplicação) Leia o poema e responda à questão que se segue.

A fermosura desta fresca serra


e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,


o esconder do Sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza


com tanta variedade nos oferece,
se está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;


sem ti, perpetuamente estou passando,
nas mores alegrias, mor tristeza.

É correto afirmar que, no soneto de Camões,


a) a beleza natural aborrece o eu lírico, uma vez que se transforma em objeto de suas maiores tristezas.
b) a variedade da paisagem está em harmonia com o sentimento do eu lírico porque a relação amorosa é
imperfeita.
c) a harmonia da natureza consola o eu lírico das imperfeições da vida e da ausência da pessoa amada.
d) a singularidade da natureza entristece o eu lírico quando ele está distante da pessoa amada.
_____________________________________________________________________________________

15. (UNICAMP/2018/1ª fase)

Transforma-se o amador na coisa amada,


Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,


Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,


Que, como o acidente em seu sujeito,

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 66


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Assim como a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;


E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
(Luís de Camões, Lírica: redondilhas e sonetos, Rio de Janeiro: Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997, p. 85.)

Um dos aspectos mais importantes da lírica de Camões é a retomada renascentista de ideias do filósofo
grego Platão. Considerando o soneto citado, pode-se dizer que o chamado “neoplatonismo” camoniano
a) é afirmado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a união entre amador e pessoa amada resulta
em uma alma única e perfeita.
b) é confirmado nos dois últimos tercetos, uma vez que a beleza e a pureza reúnem-se finalmente na
matéria simples que deseja.
c) é negado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a consequência da união entre amador e coisa
amada é a ausência de desejo.
d) é contrariado nos dois últimos tercetos, uma vez que a pureza e a beleza mantêm-se em harmonia na
sua condição de ideia.
_____________________________________________________________________________________

16. (FUVEST/2001/1ª fase) Em "Os Lusíadas", as falas de Inês de Castro e do Velho do Restelo têm em
comum
a) a ausência de elementos de mitologia da Antiguidade clássica.
b) a presença de recursos expressivos de natureza oratória.
c) a manifestação de apego a Portugal, cujo território essas personagens se recusavam a abandonar.
d) a condenação enfática do heroísmo guerreiro e conquistador.
e) o emprego de uma linguagem simples e direta, que se contrapõe à solenidade do poema épico.

17. (FUVEST/2000/1ª fase) Considere as seguintes afirmações sobre a fala do Velho do Restelo, em "Os
Lusíadas":

I. No seu teor de crítica às navegações e conquistas, encontra-se refletida e sintetizada a experiência


das perdas que causaram, experiência esta já acumulada na época em que o poema foi escrito.
lI. As críticas aí dirigidas às grandes navegações e às conquistas são relativizadas pelo pouco crédito
atribuído a seu emissor, já velho e com um "saber só de experiências feito".
III. A condenação enfática que aí se faz à empresa das navegações e conquistas revela que Camões teve
duas atitudes em relação a ela: tanto criticou o feito quanto o exaltou.

Está correto apenas o que afirma em


a) I.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 67


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.

18. (FUVEST/1998/1ª fase) Considere as seguintes afirmações sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil
Vicente:

I. O auto atinge seu clímax na cena do Fidalgo, personagem que reúne em si os vícios das diferentes
categorias sociais anteriormente representadas.
II. A descontinuidade das cenas é coerente com o caráter didático do auto, pois facilita o distanciamento
do espectador.
III. A caricatura dos tipos sociais presentes no auto não é gratuita nem artificial, mas resulta da
acentuação de traços típicos.

Está correto apenas o que se afirma em:


a) I.
b) II.
c) II e III.
d) I e II.
e) I e III.

19. (FUVEST/1998/1ª fase) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente:
a) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o público com o inesperado de cada
situação.
b) O moralismo vicentino localiza os vícios não nas instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas.
c) É complexa a crítica aos costumes da época, já que o autor é o primeiro a relativizar a distinção entre o
Bem e o Mal.
d) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens populares, as mais ridicularizadas e as mais
severamente punidas.
e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor
positivo.

20. (FUVEST/1982/1ª fase)

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 68


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Todo Mundo: Folgo muito d’enganar


E mentir nasceu comigo.

Ninguém: Eu sempre verdade digo


Sem nunca me desviar.

(Berzebu para Dinato)


Berzebu: Ora escreve lá, compadre,
Não sejas tu preguiçoso.

Dinato: Quê?

Berzebu: Que Todo Mundo é mentiroso.


E Ninguém diz a verdade.
Auto da Lusitânia – Gil Vicente

No texto, Todo Mundo e Ninguém constituem tipos:


a) arcaicos
b) alegóricos
c) amorais
d) políticos
e) religiosos.

21. (UNESP/2017/1º semestre/1ª fase)


Leia o excerto de Auto da Barca do Inferno do escritor português Gil Vicente (1465?-1536?). A peça
prefigura o destino das almas que chegam a um braço de mar onde se encontram duas barcas
(embarcações): uma destinada ao Paraíso, comandada pelo anjo, e outra destinada ao Inferno,
comandada pelo diabo.

Vem um Frade com uma Moça pela mão […]; e ele


mesmo fazendo a baixa1 começou a dançar, dizendo

Frade: Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã;


Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã;
Tã-tã-ta-ri-rim-rim-rã, huha!
Diabo: Que é isso, padre? Quem vai lá?
Frade: Deo gratias2! Sou cortesão.
Diabo: Danças também o tordião3?
Frade: Por que não? Vê como sei.
Diabo: Pois entrai, eu tangerei4
e faremos um serão.
E essa dama, porventura?

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 69


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Frade: Por minha a tenho eu,


e sempre a tive de meu.
Diabo: Fizeste bem, que é lindura!
Não vos punham lá censura
no vosso convento santo?
Frade: E eles fazem outro tanto!
Diabo: Que preciosa clausura5!
Entrai, padre reverendo!
Frade: Para onde levais gente?
Diabo: Para aquele fogo ardente
que não temestes vivendo.
Frade: Juro a Deus que não te entendo!
E este hábito6 não me val7?
Diabo: Gentil padre mundanal8,
a Belzebu vos encomendo!
Frade: Corpo de Deus consagrado!
Pela fé de Jesus Cristo,
que eu não posso entender isto!
Eu hei de ser condenado?
Um padre tão namorado
e tanto dado à virtude?
Assim Deus me dê saúde,
que eu estou maravilhado!
Diabo: Não façamos mais detença9
embarcai e partiremos;
tomareis um par de remos.
Frade: Não ficou isso na avença10.
Diabo: Pois dada está já a sentença!
Frade: Por Deus! Essa seria ela?
Não vai em tal caravela
minha senhora Florença?
Como? Por ser namorado
e folgar c’uma mulher?
Se há um frade de perder,
com tanto salmo rezado?!
Diabo: Ora estás bem arranjado!
Frade: Mas estás tu bem servido.
Diabo: Devoto padre e marido,
haveis de ser cá pingado11…
(Auto da Barca do Inferno, 2007.)

1 baixa: dança popular no século XVI.


2 Deo gratias: graças a Deus.
3 tordião: outra dança popular no século XVI.
4 tanger: fazer soar um instrumento.
5 clausura: convento.
6 hábito: traje religioso.
7 val: vale.
8 mundanal: mundano.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 70


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9 detença: demora.
10 avença: acordo.
11 ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo (segundo o imaginário popular, processo de tortura
que ocorreria no inferno).

No excerto, o escritor satiriza, sobretudo,


a) a compra do perdão para os pecados cometidos.
b) a preocupação do clero com a riqueza material.
c) o desmantelamento da hierarquia eclesiástica.
d) a concessão do perdão a almas pecadoras.
e) o relaxamento dos costumes do clero.

22. (UNESP/2017/1º semestre/1ª fase) No excerto, o traço mais característico do diabo é


a) o autoritarismo, visível no seguinte trecho: “Não façamos mais detença”.
b) a curiosidade, visível no seguinte trecho: “Danças também o tordião?”.
c) a ironia, visível no seguinte trecho: “Que preciosa clausura!”.
d) a ingenuidade, visível no seguinte trecho: “Fizeste bem, que é lindura!”.
e) o sarcasmo, visível no seguinte trecho: “Pois dada está já a sentença!”.

23. (UNESP/2017/1º semestre/1ª fase) Com a fala “E eles fazem outro tanto!”, o frade sugere que seus
companheiros de convento
a) consideravam-se santos.
b) estavam preocupados com a própria salvação.
c) estranhavam seu modo de agir.
d) comportavam-se de modo questionável.
e) repreendiam-no com frequência.

24. (UNESP/2017/1º semestre/1ª fase) Assinale a alternativa cuja máxima está em conformidade com
o excerto e com a proposta do teatro de Gil Vicente.
a) “O riso é abundante na boca dos tolos.”
b) “A religião é o ópio do povo.”
c) “Pelo riso, corrigem-se os costumes.”
d) “De boas intenções, o inferno está cheio.”

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 71


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e) “O homem é o único animal que ri dos outros.”

25. (UNESP/2017/2º semestre/1ª fase) Leia o soneto “Alma minha gentil, que te partiste”, do poeta
português Luís de Camões (1525?-1580), para responder às próximas questões.

Alma minha gentil, que te partiste


tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,


memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te


alguma coisa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,


que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
(Sonetos, 2001.)

No soneto, o eu lírico
a) suplica a Deus que suas memórias afetivas lhe sejam subtraídas.
b) expressa o desejo de que sua amada seja em breve restituída à vida.
c) expressa o desejo de que sua própria vida também seja abreviada.
d) suplica a Deus que sua amada também se liberte dos sofrimentos terrenos.
e) lamenta que sua própria conduta tenha antecipado a morte da amada.

26. (UNESP/2017/2º semestre/1ª fase) Embora predomine no soneto uma visão espiritualizada da
mulher (em conformidade com o chamado platonismo), verifica-se certa sugestão erótica no seguinte
verso:
a) “não te esqueças daquele amor ardente” (2ª estrofe).
b) “da mágoa, sem remédio, de perder-te,” (3ª estrofe).
c) “memória desta vida se consente,” (2ª estrofe).
d) “que tão cedo de cá me leve a ver-te,” (4ª estrofe).

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e) “e viva eu cá na terra sempre triste.” (1ª estrofe).

27. (UNESP/2017/2º semestre/1ª fase) De modo indireto, o soneto camoniano acaba também por
explorar o tema da
a) falsidade humana.
b) indiferença divina.
c) desumanidade do mundo.
d) efemeridade da vida.
e) falibilidade da memória.

28. (UNESP/1989) Leia as estrofes seguintes e assinale a alternativa INCORRETA:

"Mas um velho, de aspeito venerando,


Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
Com saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do esperto peito:
"Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
Com a aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles exprimentas!"
(Camões)

"Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!"
(Fernando Pessoa)

a) Através do tema tratado nas estrofes citadas, podemos dizer que as mesmas pertencem a dois grandes
poemas épicos da Literatura Portuguesa: OS LUSÍADAS e MENSAGEM.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 73


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b) Nessas estrofes, os dois poemas relacionam-se ao mencionarem aspectos negativos das expedições
portuguesas.
c) No poema de Camões todas as estrofes apresentam oito versos em decassílabos heroicos; no poema
de Pessoa não há a mesma regularidade.
d) Uma das estrofes d'OS LUSÍADAS revela a fala do Velho do Restelo criticando os sentimentos de glória
e cobiça na empresa portuguesa.
e) Os dois poemas não podem ser relacionados porque, além de um ser épico e o outro lírico, um pertence
ao Renascimento e o outro ao Modernismo.

29. (UNESP/2016/1º semestre/1ª fase)


Eis dois homens a frente: um, que quer servir; o outro, que aceita, ou deseja, ser chefe. O
primeiro une as mãos e, assim juntas, coloca-as nas mãos do segundo: claro símbolo de submissão, cujo
sentido, por vezes, era ainda acentuado pela genuflexão. Ao mesmo tempo, a personagem que oferece
as mãos pronuncia algumas palavras, muito breves, pelas quais se reconhece “o homem” de quem está
na sua frente. Depois, chefe e subordinado beijam-se na boca: símbolo de acordo e de amizade. Eram
estes – muito simples e, por isso mesmo, eminentemente adequados para impressionar espíritos tão
sensíveis às coisas – os gestos que serviam para estabelecer um dos vínculos mais fortes que a época
feudal conheceu.
(Marc Bloch. A sociedade feudal, 1987.)
Miniatura do Liber feudorum Ceritaniae, século XII

(www.mcu.es)

O texto e a imagem referem-se à cerimônia que


a) consagra bispos e cardeais.
b) estabelece as relações de vassalagem.

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c) estabelece as relações de servidão.


d) consagra o poder municipal.
e) estabelece as relações de realeza.

30. (UNESP/2013/1º semestre/1ª fase)

Jesus Pantocrátor1
Há na Itália, em Palermo, ou pouco ao pé, na igreja
De Monreale, feita em mosaico, a divina
Figura de Jesus Pantocrátor: domina
Aquela face austera, aquele olhar troveja.

Não: aquela cabeça é de um Deus, não se inclina.


À árida pupila a doce, a benfazeja
Lágrima falta, e o peito enorme não arqueja
À dor. Fê-lo tremendo a ficção bizantina2

Este criou o inferno, e o espetáculo hediondo


Que há nos frescos3 de Santo Stefano Rotondo4;
Este do mundo antigo espedaçado assoma...

Este não redimiu; não foi à Cruz: olhai-o:


Tem o anátema5 à boca, às duas mãos o raio,
E em vez do espinho à fronte as três coroas de Roma.
(Luís Delfino. Rosas negras, 1938.)

(1) Pantocrátor: que tudo rege, que governa tudo.


(2) Bizantina: referente ao Império Romano do Oriente (330-1453 d.C.) e às manifestações culturais desse
império.
(3) Fresco: o mesmo que afresco, pintura mural que resulta da aplicação de cores diluídas em água sobre um
revestimento ainda fresco de argamassa, para facilitar a absorção da tinta.
(4) Santo Stefano Rotondo: igreja erigida por volta de 460 d.C., em Roma, em homenagem a Santo Estêvão
(Stefano, em italiano), mártir do cristianismo.
(5) Anátema: reprovação enérgica, sentença de maldição que expulsa da Igreja, excomunhão

Figura de Cristo Pantocrátor

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(Catedral de Monreale, Itália.)

Neste soneto de Luís Delfino ocorre uma espécie de diálogo entre o texto poético e uma impressionante
figura de Jesus Cristo Pantocrátor, com 7 m de altura e largura de 13,30 m, criada por mestres
especializados na técnica bizantina do mosaico, na abside da catedral de Monreale, construída entre
1172 e 1189. A figura de Cristo Pantocrátor, feita em mosaicos policromos e dourados, pode ser vista
ainda hoje na mesma cidade e igreja mencionadas na primeira estrofe. Colocando-se diante dessa
representação de Cristo, o eu lírico do soneto
a) sustenta que a figura humana ali representada provém de uma religião anticristã, com ligações estreitas
com as divindades infernais que martirizavam cristãos.
b) questiona a qualidade plástica e os fundamentos formais de origem bizantina da imagem como
destituídos de maior valor estético.
c) utiliza o caráter assustador do mosaico para negar a divindade de Jesus Cristo, servindo-se do poema
como um meio de argumentação.
d) entende que a combinação da atitude e dos traços da figura do mosaico mais parecem as de um ídolo
pagão oriental do que de um deus cristão venerado pela humanidade.
e) sugere que a figura do mosaico não condiz com a imagem que a tradição cristã legou de um doce e
divino homem com feições marcadas pelo martírio e sofrimento na cruz.

31. (UNESP/2011/1º semestre/1ª fase)

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(Templo da Concórdia, Agrigento, Itália.)

O Templo da Concórdia foi construído no sul da Sicília, no século V a.C., e é um marco da


a) arte românica, caracterizada pelos arcos de meia volta e pela inspiração religiosa politeísta.
b) arquitetura clássica, imposta pelos macedônios à ilha no processo de helenização empreendido por
Alexandre, o Grande.
c) arte etrusca, oriunda do norte da península itálica e desenvolvida no Mediterrâneo durante o período
de hegemonia romana.
d) arquitetura dórica, levada à ilha pelos gregos na expansão e colonização mediterrânea da chamada
Magna Grécia.
e) arte gótica, marcada pela verticalização das construções e pela sugestão de ascese dos homens ao reino
dos céus.

32. (UNESP/2010/1º semestre/1ª fase) Observe a figura.

Madona e Filho, Berlinghiero, século XII.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 77


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(www.literaria.net/RP/L2/RPL2.htm)1

O ícone, pintura sobre madeira, foi uma das manifestações características da Civilização Bizantina, que
abrangeu amplas regiões do continente europeu e asiático. A arte bizantina resultou
a) do fim da autocracia do Império Romano do Oriente.
b) da interdição do culto de imagens pelo cristianismo primitivo.
c) do “Cisma do Oriente”, que rompeu com a unidade do cristianismo.
d) da fusão das concepções cristãs com a cultura decorativa oriental.
e) do desenvolvimento comercial das cidades italianas.

33. (UNESP/2008/1º semestre/1ª fase) Observe a foto da Catedral de Notre Dame de Paris, construída
entre 1163 e 1250.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 78


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(Adhemar Marques, Pelos caminhos da História: Ensino Médio.)

Sobre o contexto histórico que levou ao surgimento das catedrais, pode-se afirmar:
a) o papel dos monarcas foi decisivo, financiando a sua construção para glorificar o poder real.
b) sua construção está associada ao reflorescimento e à prosperidade do mundo urbano.
c) financiadas com os recursos do clero romano, ampliaram a influência do Papa no Oriente.
d) surgiram como resposta do papado ao Cisma do Oriente, glorificando a Igreja Romana.
e) eram templos destinados à alta nobreza, que assim evitava o contato com o povo da cidade.

34. (UNIFESP/2004) Para responder às próximas duas questões, leia os versos seguintes, da famosa
Farsa de Inês Pereira, escrita por Gil Vicente.

Andar! Pero Marques seja!


Quero tomar por esposo
quem se tenha por ditoso
de cada vez que me veja.
Meu desejo eu retempero:
asno que me leve quero,
não cavalo valentão:
antes lebre que leão,
antes lavrador que Nero.

Sobre a Farsa de Inês Pereira, é correto afirmar que é um texto de natureza


a) satírica, pertencente ao Humanismo português, em que se ridiculariza a ascensão social de Inês
Pereira por meio de um casamento de conveniências.
b) didático-moralizante, do Barroco português, no qual as contradições humanas entre a vida terrena e a
espiritual são apresentadas a partir dos casamentos complicados de Inês Pereira.
c) religiosa, pertencente ao Renascimento português, no qual se delineia o papel moralizante, com vistas
à transformação do homem, a partir das situações embaraçosas vividas por Inês Pereira.
d) reformadora, do Renascimento português, com forte apelo religioso, pois se apresenta a religião como
forma de orientar e salvar as pessoas pecadoras.
e) cômica, pertencente ao Humanismo português, no qual Gil Vicente, de forma sutil e irônica, critica
a sociedade mercantil emergente, que prioriza os valores essencialmente materialistas.

35. (UNIFESP/2004) Os versos em destaque no texto, observadas as ideias e a regência, equivalem a


a) Convém asno a que me leve de que cavalo valentão.
b) Prefiro mais asno que me leve a cavalo valentão.
c) É preferível asno que me leve do que cavalo valentão.
d) Prefiro asno que me leve a cavalo valentão.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 79


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e) É melhor asno que me leve ante cavalo valentão.

36. (UNIFESP/2016) Leia o soneto do poeta Luís Vaz de Camões (1525?-1580).

Sete anos de pastor Jacob servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,


passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos


lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida,

começa de servir outros sete anos,


dizendo: “Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida”.
(Luís Vaz de Camões. Sonetos, 2001.)

De acordo com a história narrada pelo soneto,


a) Labão engana Jacob, entregando-lhe a filha Lia, em vez de Raquel.
b) Labão aceita ceder Lia a Jacob, se este lhe entregar Raquel.
c) Labão obriga Jacob a trabalhar mais sete anos para obter o amor de Lia.
d) Jacob descumpre o acordo feito com Labão, negando-lhe a filha Raquel.
e) Jacob morre antes de completar os sete anos de trabalho, não obtendo o amor de Raquel.

37. (UNIFESP/2010) Leia o texto de Gil Vicente.

DIABO — Essa dama, é ela vossa?


FRADE — Por minha a tenho eu
e sempre a tive de meu.
DIABO — Fizeste bem, que é fermosa!
E não vos punham lá grosa
nesse convento santo?
FRADE — E eles fazem outro tanto!
DIABO — Que cousa tão preciosa!

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 80


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

No trecho da peça de Gil Vicente, fica evidente uma


a) visão bastante crítica dos hábitos da sociedade da época. Está clara a censura à hipocrisia do religioso,
que se aparta daquilo que prega.
b) concepção de sociedade decadente, mas que ainda guarda alguns valores essenciais, como é o caso da
relação entre o frade e o catolicismo.
c) postura de repúdio à imoralidade da mulher que se põe a tentar o frade, que a ridiculariza em função
de sua fé católica inabalável.
d) visão moralista da sociedade. Para ele, os valores deveriam ser resgatados e a presença do frade é um
indicativo de apego à fé cristã.
e) crítica ao frade religioso que optou em vida por ter uma mulher, contrariando a fé cristã, o que, como
ele afirma, não acontecia com os outros frades do convento.

38. (PUC-SP/2008/Janeiro) Gil Vicente, criador do teatro português, realizou uma obra eminentemente
popular. Seu Auto da Barca do Inferno, encenado em 1517, apresenta, entre outras características, a de
pertencer ao teatro religioso alegórico. Tal classificação justifica-se por

a) ser um teatro de louvor e litúrgico em que o sagrado é plenamente respeitado.


b) não se identificar com a postura anticlerical, já que considera a igreja uma instituição modelar e
virtuosa.
c) apresentar estrutura baseada no maniqueísmo cristão, que divide o mundo entre o Bem e o Mal, e na
correlação entre a recompensa e o castigo.
d) apresentar temas profanos e sagrados e revelar-se radicalmente contra o catolicismo e a instituição
religiosa.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 81


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39. (FAMEMA/2020) Leia o texto para responder à próximas 2 questões.

Vem um Sapateiro com seu avental e carregado de formas,


chega ao 1batel infernal, e diz:
Hou da barca!
Diabo – Quem vem aí?
Santo sapateiro honrado,
como vens tão carregado?
Sapateiro – Mandaram-me vir assi...
Mas para onde é a viagem?
Diabo – Para a terra dos danados.
Sapateiro – E os que morrem confessados
onde têm sua passagem?
Diabo – Não cures de mais linguagem!
que esta é tua barca, esta!
Sapateiro – Renegaria eu da festa
e da barca e da barcagem!
Como poderá isso ser, confessado e comungado?
Diabo – Tu morreste excomungado,
não no quiseste dizer.
Esperavas de viver;
calaste dez mil enganos,
tu roubaste bem trinta anos
o povo com teu mister.
Embarca, pobre de ti,
que há já muito que te espero!
Sapateiro – Pois digo-te que não quero!
Diabo – Que te pese, hás de ir, si, si!
(Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno. Adaptado.)
1batel: pequena embarcação.

Na situação apresentada, o sapateiro


a) espanta-se com a ideia de ir para o inferno, mas o diabo admite que não pode levá-lo por ter sido um
homem cristão em vida.
b) opõe-se à ideia de ir para o inferno, alegando que fora religioso em vida, mas o diabo o relembra dos
pecados cometidos.
c) mostra entusiasmo por seguir na embarcação do diabo e reconhece que, mesmo tendo sido religioso,
acha justa a punição.
d) sujeita-se à ordem do diabo e toma lugar em sua embarcação, com a esperança de que sua disposição
para o trabalho ainda possa salvá-lo.
e) confronta o diabo, considerando que este possa se intimidar ao descobrir que fora um homem religioso
em vida.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 82


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40. (FAMEMA/2020) O texto transcrito de Gil Vicente assume caráter


a) moralizante, uma vez que traz explícita crítica aos costumes do personagem.
b) educativo, pois o personagem reconhece seu erro e, ao final, é perdoado.
c) humorístico, com intenção de entreter mais do que condenar comportamentos.
d) doutrinário, considerando a devoção do personagem à religião quando em vida.
e) edificante, já que o comportamento do personagem se torna exemplo a seguir.

9.1. GABARITO

1) C 9) B 17) E 25) C 33) B


2) C 10) A 18) C 26) A 34) E
3) C 11) D 19) B 27) D 35) D
4) D 12) B 20) B 28) E 36) A
5) E 13) D 21) E 29) B 37) A
6) C 14) D 22) C 30) E 38) C
7) A 15) A 23) D 31) D 39) B
8) A 16) B 24) C 32) D 40) A

10.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS

LISTA DE QUESTÕES ESPECÍFICAS DA BANCA COMENTADA

01. (ENEM 2021/Reaplicação/1o dia/Professora Luana Signorelli)

Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 83


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Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!


muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.


ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993.

O poema modernista de Mário de Andrade revisita o tema do nacionalismo de forma irônica ao


a) referendar estereótipos étnicos e sociais ligados ao brasileiro nortista.
b) idealizar a vida bucólica do norte do país como alternativa de brasilidade.
c) problematizar a relação entre distância geográfica e construção da nacionalidade.
d) questionar a participação da cultura autóctone na formação da identidade nacional.
e) propalar uma inquietação desfavorável quanto à aceitação das diferenças socioculturais.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. "Referendar" é sinônimo de responsabilizar, assinar, assumir, aceitar e
"estereótipo" é o um padrão generalizado. Por mais que a primeira geração modernista tenha defendido
a antropofagia (mescla cultural e étnica; apropriação da cultura estrangeira para aperfeiçoamento da
identidade nacional), este não é um aspecto observado no poema.
Alternativa B: incorreta. "Bucolismo" é sinônimo de simplicidade. Junto ao pastoralismo, são temas
importantes para o movimento literário do Arcadismo, e não para o Modernismo.
Alternativa C: correta – gabarito. O eu lírico enfatiza expressões que são geográficas/locais: "lá no
Norte" e "muito longe de mim". Apesar da distância, conclui dizendo que "Esse homem é brasileiro que
nem eu." Sendo um poema de revisionismo histórico, isto é, que se propõe a olhar para o passado
criticamente, o eu lírico problematiza a dificuldade de construção de uma identidade nacional em um país
como o Brasil, com dimensões continentais. Nesse sentido, a perspectiva de inclusão é dificultada por
distâncias geográficas.
Alternativa D: incorreta. Segundo o Dicionário Aulete, "autócone" significa aquilo ou o que é
natural da região onde habita ou se encontra; aborígene; indígena. O indianismo não é uma tendência
literária observada nesse poema em particular. A obra do mesmo autor, Mário de Andrade, que pode ser
caracterizada como indianista é o romance "Macunaíma: o herói sem nenhum caráter" (1928).
Alternativa E: incorreta. Não é desfavorável.
Gabarito: C.
_____________________________________________________________________________________

02. (ENEM/2013)
TEXTO I
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me
que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e
flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. [...] Andavam todos
tão bem dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 84


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).

TEXTO II

PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela, 199 x 169 cm


Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun. 2013.

Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari
retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que
a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses
em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária.
b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação
da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna.
c) a carta, como testemunho histórico-político mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a
pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.
d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes — verbal e não verbal —, cumprem a mesma
função social e artística.
e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um
mesmo momento histórico, retratando a colonização.
Comentários
Questão de conhecimentos do movimento literário; linguagens e códigos e literatura comparada.
Alternativa A: incorreta. Não se trata apenas de um texto com teor estético (artístico), mas sim
procurava informar ao rei de Portugal, D. Manuel, sobre aspectos descritivos da natureza – fauna e flora
– brasileira.
Alternativa B: incorreta. No Modernismo brasileiro, sobretudo na primeira geração, há uma
ressignificação realmente dos valores indianistas no Brasil. Por isso é que esse quadro de Portinari encara
o assunto com um olhar crítico, pois os Índios estão preocupados frente à futura ameaça para eles que
estava desembarcando ali. Isto quer dizer que não é mais idealizado, como era no Romantismo. O fato é
que a preocupação do modernismo não era acadêmica, mas sim popular.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 85


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Alternativa C: correta – gabarito. A carta de Pero Vaz de Caminha revela a perspectiva otimista do
colonizador, o que pode ser concluído a partir do trecho “Andaram na praia tão bem dispostos, tão bem
feitos e galantes”, enquanto a obra de Portinari revela a surpresa e a preocupação dos nativos ao apontar
para o horizonte. A carta é o testemunho histórico-político do encontro do colonizador com as novas
terras e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.
Atenção: no dia da prova, a sua prova poderá vir colorida, o que irá te dar mais indicativos
interpretativo da obra. Por exemplo, a criança chorando em azul (tom triste, melancólico) levanta dúvidas
quanto ao futuro do Brasil.
Alternativa D: incorreta. A função é bem diferente nos dois textos: na carta, era descrever a terra
brasileira e ressaltar, enfatizar a importância do povo português; já a pintura era problematizar e
questionar essa mesma vinda dos portugueses, já que para os índios ela representava um perigo, não
motivo de orgulho, mas sim de medo.
Alternativa E: incorreta. Os momentos históricos são bem distintos: a carta de Pero Vaz de
Caminha era do Quinhentismo e o quadro de Portinari era do Modernismo.
Gabarito: C.
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03. (ENEM/2013)
TEXTO I
LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso;
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;

Presença moderada e graciosa,


Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;

Fala de quem a morte e a vida pende,


Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:

Estas as armas são com que me rende


E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.

CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008.

TEXTO II

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 86


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

SANZIO, R. (1483-1520) A mulher com o unicórnio. Roma, Galleria Borghese. Disponível em:
www.arquipelagos.pt. Acesso em: 29 fev. 2012

A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do
mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos
usados no poema.
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes da mulher,
evidenciadas pelos adjetivos do poema.
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela
postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística,
evidenciado pelos adjetivos usados no poema.
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados
pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
Comentários
Questão de conhecimentos do movimento literário; linguagens e códigos e literatura comparada.
Alternativa A: incorreta. É justamente o contrário: o unicórnio representa algo mitológico,
inexistente, idealizado, o que também acontece no uso dos adjetivos.
Alternativa B: incorreta. As atitudes da mulher não são variadas; elas são comedidas, sua
personalidade é descrita como “moderada e graciosa”.
Alternativa C: correta – gabarito. Os adjetivos “leda”, “deleitosa”, “doce”, “graciosa”, e “rara”
refletem a visão idealizada da mulher, mas sem o exagero de emotividade característico do Romantismo.
Ao contrário deste, a estética clássica defende a contenção emocional e privilegia o equilíbrio e a
sobriedade, características sugeridas nos termos “moderada” e “suave”, referindo-se à imagem feminina
e na expressão “alegre e comedido” com que se define o eu lírico.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 87


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Alternativa D: incorreta. Trata-se justamente de uma representação medieval e idealizada da


mulher.
Alternativa E: incorreta. O retrato da mulher é ideal, mas emotividade e conflito interior são
características de movimentos como o Romantismo, não o Renascimento.
Gabarito: C.
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04. (ENEM/2012)
O trovador
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras ...
As primaveras de sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal ...
Intermitentemente ...
Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som redondo ...
Cantabona! Cantabona!
Dlorom ...
Sou um tupi tangendo um alaúde!
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.)
Poesias completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.

Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de


Andrade. Em O trovador, esse aspecto é
a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o
carnaval, remete à brasilidade.
b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em
suas viagens e pesquisas folclóricas.
c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v.
1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).
d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que
seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswaldo de Andrade.
e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o
orgulho brasileiro por suas raízes indígenas.
Comentários
Questão de conhecimentos do movimento literário; linguagens e códigos e literatura comparada.
Alternativa A: incorreta. O arlequim é um personagem da Comedia dell’arte, um tipo de teatro
popular na Itália no século XV, cuja função era divertir o público no intervalo dos espetáculos. Embora
haja fantasias dele no carnaval, a identidade brasileira está mais bem expressa no poema no verso “Sou
um tupi tangendo um alaúde!”
Alternativa B: incorreta. Mário de Andrade de fato fez pesquisas folclóricas, porém não dos
nordestinos, mas sim de outras culturas, como a indígena, a rapsódia, para elaborar a sua obra
Macunaíma. Até porque, o trovadorismo foi um movimento exclusivamente europeu, e não brasileiro.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 88


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Alternativa C: incorreta. No verso 7 até pode ser, mas no 1 e no 6 não.


Alternativa D: correta – gabarito. No caso do Brasil, cuja História ocorreu em certa “defasagem”
em relação à europeia, haja vista seu “descobrimento tardio” em 1500, foram necessárias outras formas
artísticas de expressão, que ainda assim podiam se aproveitar de algumas europeias, ou se espelhar nelas.
Alternativa E: incorreta. Essas “primeiras eras” têm a ver com o primeiro movimento literário
historiografado: o trovadorismo.
Gabarito: D.
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05. (ENEM/2010)
O Arlequim, o Pierrô, a Brighella ou a Colombina são personagens típicos de grupos teatrais da
Commedia dell’art, que, há anos, encontram-se presentes em marchinhas e fantasias de carnaval. Esses
grupos teatrais seguiam, de cidade em cidade, com faces e disfarces, fazendo suas críticas, declarando
seu amor por todas as belas jovens e, ao final da apresentação, despediam-se do público com músicas
e poesias.

A intenção desses atores era expressar sua mensagem voltada para a


a) crença na dignidade do clero e na divisão entre o mundo real e o espiritual.
b) ideologia de luta social que coloca o homem no centro do processo histórico.
c) crença na espiritualidade e na busca incansável pela justiça social dos feudos.
d) ideia de anarquia expressa pelos trovadores iluministas do início do século XVI.
e) ideologia humanista com cenas centradas no homem, na mulher e no cotidiano.
Comentários
Questão interdisciplinar sobre conhecimento do movimento artístico-literário e contexto
histórico-social.
Alternativa A: incorreta. Não havia tal divisão na época, pois a visão de mundo era
predominantemente teocêntrica. Já a Comedia dell’arte representava o mundano, já não se tratava mais
de um teatro religioso (autos). Trata-se de uma modernização nesse sentido, uma laicização das artes.
Alternativa B: incorreta. O século predominante nessa questão seria o XIX, ao passo que a Comedia
dell’arte ocorreu no século XV na Itália.
Alternativa C: incorreta. Nos feudos, não havia mobilidade social, portanto, esse conceito de
justiça, que é moderno.
Alternativa D: incorreta. Anarquia significa sistema político baseado na negação do princípio da
autoridade (dicionário Houaiss).
Alternativa E: correta – gabarito. O conceito filosófico de humanismo, que pode abarcar tanto a
totalidade do ser humano quanto o reconhecimento do valor humano das letras clássicas, período
histórico justamente no qual vigorou a Comedia dell’arte.
Gabarito: E.
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06. (ENEM/2009)

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 89


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Texto 1
José de Anchieta fazia parte da Companhia de Jesus, veio ao Brasil aos 19 anos para catequizar
a população das primeiras cidades brasileiras e, como instrumento de trabalho, escreveu manuais,
poemas e peças teatrais.

Texto 2
Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se vê em todo ano árvore nem erva seca. Os
arvoredos se vão às nuvens de admirável altura e grossura e variedade de espécies. Muitos dão bons
frutos e o que lhes dá graça é que há neles muitos passarinhos de grande formosura e variedades e em
seu canto não dão vantagem aos rouxinóis, pintassilgos, colorinos e canários de Portugal e fazem uma
harmonia quando um homem vai por este caminho, que é para louvar o Senhor, e os bosques são tão
frescos que os lindos e artificiais de Portugal ficam muito abaixo.
ANCHIETA, José de. Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões do Padre
Joseph de Anchieta. Rio de Janeiro: S.J., 1933, 430-31 p.

A leitura dos textos revela a preocupação de Anchieta com a exaltação da religiosidade. No texto 2, o
autor exalta, ainda, a beleza natural do Brasil por meio
a) do emprego de primeira pessoa para narrar a história de pássaros e bosques brasileiros, comparando-
os aos de Portugal.
b) da adoção de procedimentos típicos do discurso argumentativo para defender a beleza dos pássaros e
bosques de Portugal.
c) da descrição de elementos que valorizam o aspecto natural dos bosques brasileiros, a diversidade e a
beleza dos pássaros do Brasil.
d) do uso de indicações cênicas do gênero dramático para colocar em evidência a frescura dos bosques
brasileiros e a beleza dos rouxinóis.
e) do uso tanto de características da narração quanto do discurso argumentativo para convencer o leitor
da superioridade de Portugal em relação ao Brasil.
Comentários
Questão de interpretação do texto literário; conhecimento do movimento literário; crítica literária
e literatura comparada.
Alternativa A: incorreta. O texto é essencialmente objetivo, escrito em 3ª pessoa.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário, a natureza brasileira se revela superiora à portuguesa.
Alternativa C: correta – gabarito. No caso, a religiosidade se associa na natureza, no sentido de
Criação divina, como se “Deus fosse brasileiro” e tivesse privilegiado o Brasil nessa questão.
Alternativa D: incorreta. No caso, é um texto em prosa. Não se trata de auto ou teatro pedagógico.
Alternativa E: incorreta. Até podem existir elementos narrativos e argumentativos no texto;
todavia, trata-se do contrário: da superioridade brasileira em relação à portuguesa.
Gabarito: C.
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07. (ENEM/2001) Murilo Mendes, em um de seus poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz de Caminha:

“A terra é mui graciosa,

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 90


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Tão fértil eu nunca vi.


A gente vai passear,
No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
Tem goiabas, melancias,
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos muito,
De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais
Diamantes tem à vontade
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca,
Cruzados não faltarão,
Vossa perna encanareis,
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui”.
MENDES, Murilo. Murilo Mendes — poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema, criando um efeito de contraste, como ocorre
em:
a) A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais
b) Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca
c) A gente vai passear / Ficarei muito saudoso
d) De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro
e) No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade
Comentários
Questão de interpretação do texto literário; conhecimento do movimento literário e literatura
comparada.
Alternativa A: correta – gabarito. A expressão “até demais” e o uso da forma verbal “tem”, como
sinônima haver, são de uso corrente na linguagem coloquial e contrastem com o advérbio “mui”, usado
na sua forma reduzida para expressar o arcaísmo e a aproximação com o galego-português. Na época do
Quinhentismo (Brasil Colônia), o estágio da língua portuguesa era o português arcaico. “Mui” é a forma
abreviada de “muito”, encontrada frequentemente em textos antigos como a Carta de Pero Vaz de
Caminha, com a qual o poeta modernista Murilo Mendes estabelece intertextualidade.
Alternativa B: incorreta. Não é porque a segunda pessoa do plural está sendo empregada que esse
recurso pode ser caracterizado como arcaísmo. Tampouco existe coloquialidade.
Alternativa C: incorreta. “A gente vai passear” até expressa coloquialidade, mas “ficarei muito
saudoso” não é uma arcaísmo. Até porque o advérbio “muito” não foi abreviado.
Alternativa D: incorreta. “Mui” consiste em um arcaísmo, mas “Bengala de castão de oiro” é
apenas uma descrição, sem ser necessariamente coloquial.
Alternativa E: incorreta. Em nenhum dos casos observa-se arcaísmo.
Gabarito: A.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 91


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

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08. (ENEM/2010/2ª aplicação)


Texto I
XLI
Ouvia:
Que não podia odiar
E nem temer
Porque tu eras eu.
E como seria
Odiar a mim mesma
E a mim mesma temer.
HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento).

Texto II
Transforma-se o amador na cousa amada
Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Camões. Sonetos. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br. Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento).

Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é


a) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma espécie de fusão de dois
seres em um só.
b) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do eu lírico de que
odeia a si mesmo.
c) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém, nos versos de Camões, certa
resistência do ser amado.
d) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem no imaginário, sem a
realização concreta.
e) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II, respectivamente, o ódio o amor.
Comentários
Questão de interpretação do texto literário; conhecimento do movimento literário e literatura
comparada.
Alternativa A: correta – gabarito. Ambos os poemas refletem conceitos do platonismo amoroso.
Para Platão, as realidades concretas deste mundo, dito mundo sensível, são sombras das ideias que
existem no mundo inteligível, reminiscências de um mundo ideal a que volveremos após a morte. Em
Cantares de Hilda Hilst, o eu lírico afirma não poder odiar nem temer o outro, já que o outro é o ser em
que ele mesmo se transformou em virtude da idealização amorosa (“Porque tu eras eu”). Camões
também compartilha da ideia de que o amor torna os amantes inseparáveis, fazendo-os voltar à “antiga
condição” de ser uno e perfeito (“por virtude do muito imaginar (...) em mim tenho a parte desejada”).

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 92


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: o eu lírico de Hilda Hilst se questiona como poderia ser
odiar a si mesmo.
Alternativa C: incorreta. Não há dados suficientes para afirmar quanto à reação do ser amado.
Alternativa D: incorreta. Não dissociação, mas sim amálgama.
Alternativa E: incorreta. Não há tal divisão por sentimentos nos textos.
Gabarito: A.
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09. (ENEM/1998)
Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;


é solitário andar por entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões

O poema tem, como característica, a figura de linguagem denominada antítese, relação de oposição de
palavras ou ideias. Assinale a opção em que essa oposição se faz claramente presente.
a) “Amor é fogo que arde sem se ver.”
b) “É um contentamento descontente.”
c) “É servir a quem se vence, o vencedor.”
d) “Mas como causar pode seu favor.”
e) “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
Comentários
Questão de interpretação do texto literário; conhecimento do movimento literário e figuras de
linguagem.
Alternativa A: incorreta. Cuidado: paradoxo e não antítese. A antítese pressupõe fusão (síntese);
logo, ideia de complementaridade, ainda que represente opostos. Já o paradoxo representa ideias
opostas, mas sem conciliação.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 93


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Alternativa B: correta – gabarito. A antítese ocorre quando há uma aproximação de palavras ou


expressões de sentidos opostos, como no caso desse verso, em que o adjetivo está sendo empregado no
sentido oposto (mediante uso do prefixo de negação) em relação ao substantivo ao qual se refere.
Alternativa C: incorreta. Relação de hierarquia, e não necessariamente de oposição.
Alternativa D: incorreta. Não há ideia de oposição.
Alternativa E: incorreta. Não é porque foi usada a palavra “contrário” que esse verso
necessariamente indica oposição.
Gabarito: B.
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10. (ENEM/1998)
O poema pode ser considerado como um texto:
a) argumentativo.
b) narrativo.
c) épico.
d) de propaganda.
e) teatral.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. Atenção: deve-se levar em consideração o que é predominante
entre as alternativas. Na verdade, trata-se de um poema lírico (soneto) de Camões, voltado para a
temática amorosa. Porém, por sua vez, também é argumentativo.
Alternativa B: incorreta. Um texto narrativo geralmente é escrito em parágrafos, um tema é
desenvolvido e há enredo, personagens, tempo, ação, clímax e desfecho.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: Camões até escreveu o poema épico Os Lusíadas (1572), mas os
seus sonetos se classificam como outro tipo de poesia. O épico geralmente é um poema longo narrando
aventuras heroicas e grandiosas.
Alternativa D: incorreta. Não há o objetivo de convencer um público-alvo; pelo contrário, a
temática é amorosa.
Alternativa E: incorreta. Um texto teatral é configurado por meio de falas de personagens e
ocasionalmente intromissões do dramaturgo, com orientações, sugestões etc., como é o caso das
rubricas.
Gabarito: A.

LISTA DE QUESTÕES COMENTADA

11. (UNICAMP/2021/1ª fase /1ª aplicação)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 94


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía*.
*soía: terceira pessoa do pretérito imperfeito do indicativo do verbo “soer” (costumar, ser de costume).
(Luís de Camões, 20 sonetos. Campinas: Editora da Unicamp, p. 91.)

Indique a afirmação que se aplica ao soneto escrito por Camões.


a) O poema retoma o tema renascentista da mudança das coisas, que o poeta sente como motivo de
esperança e de fé na vida.
b) A ideia de transformação refere-se às coisas do mundo, mas não afeta o estado de espírito do poeta,
em razão de sua crença amorosa.
c) Tudo sempre se renova, diferentemente das esperanças do poeta, que acolhem suas mágoas e
saudades.
d) Não apenas o estado de espírito do poeta se altera, mas também a experiência que ele tem da própria
mudança.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Não é um tema renascentista generalizado, mas sim típico da poesia lírica
filosófica camoniana.
Alternativa B: incorreta. O eu lírico afirma “Todo o mundo é composto de mudança”, incluindo-se
a si próprio no processo da transformação.
Alternativa C: incorreta. O poema não é de todo pessimista.
Alternativa D: correta – gabarito. O eu lírico tem consciência de que a mudança ocorre nele mesmo
e na natureza.
Gabarito: D.

12. (UNICAMP/2021/1ª fase/1ª aplicação) Certas imagens literárias podem tornar-se nucleares para
uma cultura. Assim, por exemplo, a figura do marinheiro em Portugal. Ela adquire significados
diferentes em períodos históricos distintos, mas conserva um elemento permanente. A semelhança
entre a imagem do marinheiro em Camões e em Fernando Pessoa reside
a) no realismo moral do povo português, resultado da era das grandes navegações e da expansão do
catolicismo.
b) na representação de uma identidade coletiva e individual sob o signo da mudança, do risco e da
travessia.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 95


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

c) na alegoria da degradação moral dos amantes e dos aventureiros, movidos pelo desejo sexual e pela
cobiça material.
d) na simbolização dos ideais econômicos de Portugal, com reflexos na vida espiritual.
Comentários
Questão teórica de conhecimento de autores do cânone.
Alternativa A: incorreta. Cuidado: “realismo” nessa alternativa é empregado no sentido de
representação verossímil da realidade. Camões é um escritor do Classicismo português. Sua poesia épica
é Os Lusíadas (1572), que narra a empreitada de Vasco da Gama e sua tripulação até as Índias. Então, de
fato, o contexto é o das grandes navegações. Porém, a figura do marinheiro representa o pioneirismo de
Portugal nas artes náuticas e não a expansão do catolicismo.
Alternativa B: correta – gabarito. A figura do marinheiro, função de uma pessoa que trabalha no
mar, é frequente na literatura portuguesa como um todo, desde o Classicismo com Camões em até o
modernismo de Fernando Pessoa no século XX. Em Portugal, existe o Rio Tejo, muito valorizado pelos
artistas portugueses nesse sentido metafórico. Portanto, o marinheiro simboliza a coragem de enfrentar
o desconhecido, algo que propiciou o papel importante que Portugal ocupou nas Expansões Ultramarinas,
motivo de orgulho nacional até hoje. Trata-se da formação do povo português.
Alternativa C: incorreta. Nenhuma das obras, nem de Camões nem de Pessoa, foca na “degradação
moral dos amantes” tampouco no “desejo sexual”.
Alternativa D: incorreta. A figura do marinheiro na obra desses escritores portugueses tem valor
mais literário e metafórico do que econômico. É certo que na época das grandes navegações o
mercantilismo era uma meta, porém o marinheiro não é voltado para a vida espiritual, mas sim prática.
Gabarito: B.

13. (UNICAMP/2021/1ª fase/1ª aplicação) “Se Cabral tivesse uma vaga noção d’ACAPA de hoje, véspera
do 22 de abril de 2020, provavelmente teria desviado o curso de suas caravelas rumo a outras terras.”

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 96


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ACAPA é um perfil de Facebook, que publica capas possíveis de revista. O efeito humorístico na leitura
dessa edição de ACAPA decorre mais precisamente do uso
a) da expressão “terra à vista”, que remete à época em que a terra ainda era plana.
b) da expressão “abundam birutas”, em referência aos povos originários do Brasil.
c) do pronome relativo “cujo” para indicar o destino traçado para a terra plana há 520 anos.
d) da imagem de uma biruta mostrando a direção do vento, aliada à referência a “birutas” atuais.
Comentários
Questão de interpretação de texto/linguagens e códigos.
Alternativa A: incorreta. É uma expressão para indicar que uma terra foi visualmente captada, em
situação de navegação. Serve como orientação prático e não resulta no efeito de texto do humor.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: os birutas não se referem aos indígenas, mas sim a certos
indivíduos que hoje residem no Brasil e acreditam que a terra é plana. Trata-se de uma questão de
entender o referente.
Alternativa C: incorreta. O pronome relativo "cujo" indica posse. É um conectivo que, por si só, não
surte o efeito d humor.
Alternativa D: correta – gabarito. A expressão "biruta" é uma gíria que indica louco, maluco,
alienado. A teoria de que a terra é redonda já foi levantada desde a Antiguidade Clássica com Pitágoras,
e passando também por Galileu Galilei. O português Fernão de Magalhães teria conseguido comprovação.
E, chegando no século XXI, embasados não na ciência, mas sim no negacionismo, uma parcela de
indivíduos regride na crença de que a terra seria plana e não redonda. Outra acepção da palavra "biruta"
é: aparelho formado por um cone de tecido com duas aberturas, a maior delas acoplada a um anel de
metal e presa a um mastro, ficando a menor solta, para mostrar, ao inflar, a direção do vento (dicionário
Aulete), como indica a imagem no logotipo falso em cima da possível capa. Observa-se que utilizaram
como motivação para capa a pintura de Victor Meirelles.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 97


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Gabarito: D.

14. (UNICAMP/2021/1ª fase - 2ª aplicação) Leia o poema e responda à questão que se segue.

A fermosura desta fresca serra


e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,


o esconder do Sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza


com tanta variedade nos oferece,
se está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;


sem ti, perpetuamente estou passando,
nas mores alegrias, mor tristeza.

É correto afirmar que, no soneto de Camões,


a) a beleza natural aborrece o eu lírico, uma vez que se transforma em objeto de suas maiores tristezas.
b) a variedade da paisagem está em harmonia com o sentimento do eu lírico porque a relação amorosa é
imperfeita.
c) a harmonia da natureza consola o eu lírico das imperfeições da vida e da ausência da pessoa amada.
d) a singularidade da natureza entristece o eu lírico quando ele está distante da pessoa amada.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. O objeto das tristezas do eu lírico não é a natureza, mas a ausência da
pessoa a quem ele se dirige, como se observa no seguinte trecho “Sem, ti tudo me enjoa e aborrece”.
Alternativa B: incorreta. A natureza não está em harmonia com os sentimentos do eu lírico, já que
na primeira estrofe ele diz que, diante da natureza formosa, “toda tristeza se desterra”, enquanto ele
padece de “mor tristeza” como mencionado do último verso.
Alternativa C: incorreta. A beleza da natureza não consola o poeta, pelo contrário; estabelece uma
oposição mais dolorida entre a oferenda da natureza e a tristeza do eu lírico.
Alternativa D: correta – gabarito. Embora a alternativa use a palavra singularidade, que parece
indicar o contrário de “tanta variedade nos oferece”, o termo se relaciona à experiência única oferecida
pela natureza; essa experiência rica “está magoando” o eu lírico (último verso da terceira estrofe), se a
mulher amada não está presente.
Gabarito: D.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 98


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

15. (UNICAMP/2018/1ª fase)

Transforma-se o amador na coisa amada,


Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,


Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,


Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;


E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
(Luís de Camões, Lírica: redondilhas e sonetos, Rio de Janeiro: Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997, p. 85.)

Um dos aspectos mais importantes da lírica de Camões é a retomada renascentista de ideias do filósofo
grego Platão. Considerando o soneto citado, pode-se dizer que o chamado “neoplatonismo” camoniano
a) é afirmado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a união entre amador e pessoa amada resulta
em uma alma única e perfeita.
b) é confirmado nos dois últimos tercetos, uma vez que a beleza e a pureza reúnem-se finalmente na
matéria simples que deseja.
c) é negado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a consequência da união entre amador e coisa
amada é a ausência de desejo.
d) é contrariado nos dois últimos tercetos, uma vez que a pureza e a beleza mantêm-se em harmonia na
sua condição de ideia.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: correta – gabarito. O neoplatonismo pode ser identificado pelos versos iniciais, em
que o amador e a coisa amada fundem-se através de um ideal metafísico.
Alternativa B: incorreta. A beleza e a pureza não se reúnem na matéria simples, mas sim no
pensamento enquanto ideia.
Alternativa C: incorreta. Não a negação do amor e tampouco do platonismo: a consequência da
fusão do amador e da coisa amada é que o desejo se estabiliza.
Alternativa D: incorreta. A harmonia entre a pureza e a beleza não é indicativo de contrariedade,
e sim de estabilização entre as diferentes partes no pensamento do amador.
Gabarito: A.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 99


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16. (FUVEST/2001/1ª fase) Em "Os Lusíadas", as falas de Inês de Castro e do Velho do Restelo têm em
comum
a) a ausência de elementos de mitologia da Antiguidade clássica.
b) a presença de recursos expressivos de natureza oratória.
c) a manifestação de apego a Portugal, cujo território essas personagens se recusavam a abandonar.
d) a condenação enfática do heroísmo guerreiro e conquistador.
e) o emprego de uma linguagem simples e direta, que se contrapõe à solenidade do poema épico.
Comentários
Questão de conhecimento sobre obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Em Os Lusíadas, há forte presença do panteão greco-latino. Os principais
deuses envolvidos são Vênus (deusa do amor) e Marte (deus da guerra).
Alternativa B: correta – gabarito. Mais claramente ainda no episódio do Velho do Restelo, no qual
há inclusive presença de discurso direto livre, ou seja, o próprio personagem falando e expressando a sua
opinião.
Alternativa C: incorreta. O velho do Restelo é encontrado numa praia na África. Inês de Castro sim
é representativa da cultura portuguesa.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário, esse heroísmo é constantemente ressaltado, sobretudo,
num gênero como o épico.
Alternativa E: incorreta. O emprego da linguagem é rebuscado.
Gabarito: B.

17. (FUVEST/2000/1ª fase) Considere as seguintes afirmações sobre a fala do Velho do Restelo, em "Os
Lusíadas":

I. No seu teor de crítica às navegações e conquistas, encontra-se refletida e sintetizada a experiência


das perdas que causaram, experiência esta já acumulada na época em que o poema foi escrito.
lI. As críticas aí dirigidas às grandes navegações e às conquistas são relativizadas pelo pouco crédito
atribuído a seu emissor, já velho e com um "saber só de experiências feito".
III. A condenação enfática que aí se faz à empresa das navegações e conquistas revela que Camões teve
duas atitudes em relação a ela: tanto criticou o feito quanto o exaltou.

Está correto apenas o que afirma em


a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.
Comentários
Questão de julgar itens/conhecimento de obra do cânone.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 100


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Afirmação I: correta. O velho sente receio pela nova empreitada que os marinheiros portugueses
desejam por em prática por causa dos fins trágicos que outras aventuras semelhantes tiveram.
Afirmação II: incorreta. As críticas não são relativizadas; o velho demonstra domínio sobre os
acontecimentos anteriores para defender a sua posição de que a empreitada era mais um exercício de
cobiça do que um feitio de sucesso.
Afirmação III: correta. Camões opta não apenas por vangloriar os feitos, mas também por
apresentar opiniões contrárias à época, que defendiam a circum-navegação como uma empreitada
perigosa e ambiciosa, repleta de riscos.
Gabarito: E.

18. (FUVEST/1998/1ª fase) Considere as seguintes afirmações sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil
Vicente:

I. O auto atinge seu clímax na cena do Fidalgo, personagem que reúne em si os vícios das diferentes
categorias sociais anteriormente representadas.
II. A descontinuidade das cenas é coerente com o caráter didático do auto, pois facilita o distanciamento
do espectador.
III. A caricatura dos tipos sociais presentes no auto não é gratuita nem artificial, mas resulta da
acentuação de traços típicos.

Está correto apenas o que se afirma em:


a) I.
b) II.
c) II e III.
d) I e II.
e) I e III.
Comentários
Afirmação I: incorreta. O fidalgo é o primeiro que se aproxima dos barcos sem reconhecer o diabo.
Ao se apresentar, o fidalgo se recusa a entrar. Cada um que entra carrega um símbolo daquilo que
representa: no caso do fidalgo, é a cadeira. Cada personagem simboliza um tipo, isto é, cada classe tem o
seu respectivo vício.
Afirmação II: correta. E essas cenas também são indicativos de um teatro pouco rebuscado e
popular.
Afirmação III: correta. Elas são fruto de uma representação dos vícios dos grandes representantes
da sociedade à época: como as figuras clericais e os nobres, caracterizados no teatro vicentino não como
sujeitos incorruptíveis, mas dotados de atitudes pecaminosas.
Gabarito: C.

19. (FUVEST/1998/1ª fase) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente:
a) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o público com o inesperado de cada
situação.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 101


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b) O moralismo vicentino localiza os vícios não nas instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas.
c) É complexa a crítica aos costumes da época, já que o autor é o primeiro a relativizar a distinção entre o
Bem e o Mal.
d) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens populares, as mais ridicularizadas e as mais
severamente punidas.
e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor
positivo.
Comentários
Questão de conhecimento sobre obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. As situações são previsíveis, tanto é que isso é ironizado pelo diabo.
Alternativa B: correta – gabarito. A crítica de Gil Vicente nunca foi abertamente à igreja, mas sim
aos comportamentos humanos.
Alternativa C: incorreta. Ele não foi o primeiro. Por exemplo, Santo Agostinho é um precursor nessa
filosofia. Além disso, a crítica não é complexa, pode ser considerada previsível.
Alternativa D: incorreta. O primeiro a entrar na barca é o fidalgo, de classe nobre, e os mais
atacados são os clérigos da igreja, altos na hierarquia.
Alternativa E: incorreta. Ela é discriminada e direcionada. Os valores positivos são mencionados,
até para ter efeito moralizante.
Gabarito: B.

20. (FUVEST/1982/1ª fase)


Todo Mundo: Folgo muito d’enganar
E mentir nasceu comigo.

Ninguém: Eu sempre verdade digo


Sem nunca me desviar.

(Berzebu para Dinato)


Berzebu: Ora escreve lá, compadre,
Não sejas tu preguiçoso.

Dinato: Quê?

Berzebu: Que Todo Mundo é mentiroso.


E Ninguém diz a verdade.
Auto da Lusitânia – Gil Vicente

No texto, Todo Mundo e Ninguém constituem tipos:


a) arcaicos
b) alegóricos
c) amorais
d) políticos

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 102


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

e) religiosos.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Embora seja uma obra humanista, não apresenta vocabulário arcaico.
Alternativa B: correta – gabarito. O teatro vicentino era altamente simbólico; tanto é que usa
nomes vagos e representativos.
Alternativa C: incorreta. Não é porque uma das personagens é “Berzebu” que a obra vai ser amoral.
Alternativa D: incorreta. Não é uma obra política.
Alternativa E: incorreta. O teatro vicentino não é religioso, pois critica a própria Igreja, se diz que
“Todo Mundo é mentiroso”.
Gabarito: B.

21. (UNESP/2017/1º semestre/1ª fase)


Leia o excerto de Auto da Barca do Inferno do escritor português Gil Vicente (1465?-1536?). A peça
prefigura o destino das almas que chegam a um braço de mar onde se encontram duas barcas
(embarcações): uma destinada ao Paraíso, comandada pelo anjo, e outra destinada ao Inferno,
comandada pelo diabo.

Vem um Frade com uma Moça pela mão […]; e ele


mesmo fazendo a baixa1 começou a dançar, dizendo

Frade: Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã;


Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã;
Tã-tã-ta-ri-rim-rim-rã, huha!
Diabo: Que é isso, padre? Quem vai lá?
Frade: Deo gratias2! Sou cortesão.
Diabo: Danças também o tordião3?
Frade: Por que não? Vê como sei.
Diabo: Pois entrai, eu tangerei4
e faremos um serão.
E essa dama, porventura?
Frade: Por minha a tenho eu,
e sempre a tive de meu.
Diabo: Fizeste bem, que é lindura!
Não vos punham lá censura
no vosso convento santo?
Frade: E eles fazem outro tanto!
Diabo: Que preciosa clausura5!
Entrai, padre reverendo!
Frade: Para onde levais gente?
Diabo: Para aquele fogo ardente
que não temestes vivendo.
Frade: Juro a Deus que não te entendo!
E este hábito6 não me val7?
Diabo: Gentil padre mundanal8,
a Belzebu vos encomendo!

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 103


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Frade: Corpo de Deus consagrado!


Pela fé de Jesus Cristo,
que eu não posso entender isto!
Eu hei de ser condenado?
Um padre tão namorado
e tanto dado à virtude?
Assim Deus me dê saúde,
que eu estou maravilhado!
Diabo: Não façamos mais detença9
embarcai e partiremos;
tomareis um par de remos.
Frade: Não ficou isso na avença10.
Diabo: Pois dada está já a sentença!
Frade: Por Deus! Essa seria ela?
Não vai em tal caravela
minha senhora Florença?
Como? Por ser namorado
e folgar c’uma mulher?
Se há um frade de perder,
com tanto salmo rezado?!
Diabo: Ora estás bem arranjado!
Frade: Mas estás tu bem servido.
Diabo: Devoto padre e marido,
haveis de ser cá pingado11…
(Auto da Barca do Inferno, 2007.)

1 baixa: dança popular no século XVI.


2 Deo gratias: graças a Deus.
3 tordião: outra dança popular no século XVI.
4 tanger: fazer soar um instrumento.
5 clausura: convento.
6 hábito: traje religioso.
7 val: vale.
8 mundanal: mundano.
9 detença: demora.
10 avença: acordo.
11 ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo (segundo o imaginário popular, processo de tortura
que ocorreria no inferno).

No excerto, o escritor satiriza, sobretudo,


a) a compra do perdão para os pecados cometidos.
b) a preocupação do clero com a riqueza material.
c) o desmantelamento da hierarquia eclesiástica.
d) a concessão do perdão a almas pecadoras.
e) o relaxamento dos costumes do clero.
Comentários

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 104


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Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.


Alternativa A: incorreta. A personagem que encarna/simboliza o poder econômico, material, é o
onzeneiro (agiota) que entra na barca portando justamente uma bolsa. Ele não consta no trecho.
Alternativa B: incorreta. Até que pode parecer, por meio de expressões como “Gentil padre
mundanal”, mas com mundano quer se dizer “da vida carnal”. A usura aqui não é criticada.
Alternativa C: incorreta. Não é a hierarquia em si que está sendo questionada, mas sim o
comportamento dela.
Alternativa D: incorreta. Essa seria uma característica moralizante, e não digna de sátira.
Alternativa E: correta – gabarito. O excerto remete, sobretudo, ao comportamento do frade, que
é retratado como alguém dado às coisas mundanas, como divertimentos populares e o envolvimento com
mulheres. Tudo isso é sinal do relaxamento dos costumes do clero, que na crítica do autor levaria os
membros da Igreja ao inferno.
Gabarito: E.

22. (UNESP/2017/1º semestre/1ª fase) No excerto, o traço mais característico do diabo é


a) o autoritarismo, visível no seguinte trecho: “Não façamos mais detença”.
b) a curiosidade, visível no seguinte trecho: “Danças também o tordião?”.
c) a ironia, visível no seguinte trecho: “Que preciosa clausura!”.
d) a ingenuidade, visível no seguinte trecho: “Fizeste bem, que é lindura!”.
e) o sarcasmo, visível no seguinte trecho: “Pois dada está já a sentença!”.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Ele não se mostra autoritário, mas sim crítico, observador de
comportamentos.
Alternativa B: incorreta. A palavra-chave aqui é “também”, que indica ironia, pois é como se ele
dissesse: “de tudo o que você faz de errado, você TAMBÉM faz isso?”
Alternativa C: correta – gabarito. Ironia é uma figura de linguagem e também um efeito de texto
por meio do qual se diz o contrário do que se quer dar a entender. No caso, “clausura” significa situação
de quem não pode sair do claustro; internamento, encerramento (dicionário Houaiss), o que não é o caso
do frade, que vive em certa libertinagem. A pontuação de exclamação ressalta a “surpresa”, a suposta
surpresa do diabo em relação aos atos do padre, que na realidade eram previsíveis para ele.
Alternativa D: incorreta. O diabo é tudo, menos ingênuo.
Alternativa E: incorreta. Cuidado: o diabo também é sarcástico, pois é tênue a linha entre
sarcasmos e ironia. Porém, essa frase em si não traduz sarcasmo, mas sim certo fatalismo.
Gabarito: C.

23. (UNESP/2017/1º semestre/1ª fase) Com a fala “E eles fazem outro tanto!”, o frade sugere que seus
companheiros de convento
a) consideravam-se santos.
b) estavam preocupados com a própria salvação.
c) estranhavam seu modo de agir.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 105


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

d) comportavam-se de modo questionável.


e) repreendiam-no com frequência.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Assim como na frase “Danças também o tordião?”, a palavra “também” é
irônica, pois se parte do pressuposto que os padres faziam bem mais do que só dançar o tordião, o mesmo
acontece com a expressão “outro tanto” nesse trecho, indicando a mesma coisa. Ou seja, os
companheiros são tudo, menos santos.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário, agiam e se comportavam como se não houvesse amanhã.
Alternativa C: incorreta. Na sociedade da época, práticas como esse eram consideradas normais,
recorrentes.
Alternativa D: correta – gabarito. Ao deixar vago, incerto, no ar, o que é esse “outro tanto“ que
eles fazem, há uma atmosfera significativa de sugestão. Logo, eles se comportam de modo duvidoso,
questionável.
Alternativa E: incorreta. De tanto não serem repreendidos, continuavam agindo da mesma forma.
Nem o diabo os repreende: apenas aponta de maneira indireta e irônica para os seus atos.
Gabarito: D.

24. (UNESP/2017/1º semestre/1ª fase) Assinale a alternativa cuja máxima está em conformidade com
o excerto e com a proposta do teatro de Gil Vicente.
a) “O riso é abundante na boca dos tolos.”
b) “A religião é o ópio do povo.”
c) “Pelo riso, corrigem-se os costumes.”
d) “De boas intenções, o inferno está cheio.”
e) “O homem é o único animal que ri dos outros.”
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. O teatro de Gil Vicente é formado por tipos, personagens que encarnam
certo valor medieval: a Luxúria, a Avareza etc., e não por tolos. Pelo contrário, geralmente são
personagens espertas que tentam se afirmar no seu meio, como Inês Pereira, por exemplo.
Alternativa B: incorreta. A crítica de Gil Vicente não era contra a Igreja propriamente dita, mas sim
aos costumes que nela eram práticos e que não condiziam com a religião.
Alternativa C: correta – gabarito. Gil Vicente usava a sátira para fazer uma crítica à sociedade e aos
costumes de seu tempo. Assim, sugeria ao público uma reflexão sobre os seus próprios atos e,
consequentemente, uma revisão de valores.
Alternativa D: incorreta. Apesar de a barca ser realmente a do inferno, lá não havia boas intenções.
Parece haver justiça nesse sentido, pois todos que foram para lá realmente cometeram certo erro, deslize,
pecado, ou tinham alguma falha de caráter.
Alternativa E: incorreta. O riso e o cômico no teatro de Gil Vicente são decorrentes de os fatos
representarem a sociedade medieval da época e seus costumes éticos. Porém, esse é um efeito
provocado, sugerido, o teatro em si não tem essa intenção de ser cômico, ou apenas cômico, pois também
é moralizante.
Gabarito: C.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 106


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

25. (UNESP/2017/2º semestre/1ª fase) Leia o soneto “Alma minha gentil, que te partiste”, do poeta
português Luís de Camões (1525?-1580), para responder às próximas questões.

Alma minha gentil, que te partiste


tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,


memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te


alguma coisa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,


que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
(Sonetos, 2001.)

No soneto, o eu lírico
a) suplica a Deus que suas memórias afetivas lhe sejam subtraídas.
b) expressa o desejo de que sua amada seja em breve restituída à vida.
c) expressa o desejo de que sua própria vida também seja abreviada.
d) suplica a Deus que sua amada também se liberte dos sofrimentos terrenos.
e) lamenta que sua própria conduta tenha antecipado a morte da amada.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. É justamente o contrário: ele pede na segunda estrofe para a memória
consentir que ele não esqueça.
Alternativa “B: incorreta. Não se trata disso, o eu lírico não quer ressuscitar a mulher, ele apenas
está vivendo o luto dele.
Alternativa C: correta – gabarito. No soneto “Alma minha gentil, que te partiste”, Camões revela
influência da filosofia platônica, na voz do eu lírico que sublima a perda da amada ao visualizá-la em um
plano superior e eterno onde espera reencontrá-la depois da própria morte. No último terceto, pede a
Deus que lhe abrevie a vida, da mesma forma que o fez com ela: “roga a Deus, que teus anos encurtou,
/que tão cedo de cá me leve a ver-te”.
Alternativa D: incorreta. O que o eu lírico ressalta é a brevidade da vida que para ele é um
sofrimento, não os sofrimentos terrenos da amada.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 107


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Alternativa E: incorreta. Ele é indiferente à própria conduta; inclusive, quer encurtá-la para estar
perto dela de volta.
Gabarito: C.

26. (UNESP/2017/2º semestre/1ª fase) Embora predomine no soneto uma visão espiritualizada da
mulher (em conformidade com o chamado platonismo), verifica-se certa sugestão erótica no seguinte
verso:
a) “não te esqueças daquele amor ardente” (2ª estrofe).
b) “da mágoa, sem remédio, de perder-te,” (3ª estrofe).
c) “memória desta vida se consente,” (2ª estrofe).
d) “que tão cedo de cá me leve a ver-te,” (4ª estrofe).
e) “e viva eu cá na terra sempre triste.” (1ª estrofe).
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/associação de trecho.
Alternativa A: correta – gabarito. A expressão “amor ardente” realça a paixão intensa do sujeito
poético, um amor verdadeiro e honesto que está escrito nos seus olhos “puros” (imaculados, límpidos,
transparentes)
Alternativa B: incorreta. A palavra “mágoa” remete à melancolia sofrida pelo eu lírico, em luto, e
não ao erotismo.
Alternativa C: incorreta. Esse é um desejo do eu lírico: ele pede para que tenha memória, para que
a memória consinta que ele continue se lembrando da amada e a inexistência dela no mundo material
não faça com ele a esqueça.
Alternativa D: incorreta. Esse é um outro desejo do eu lírico: o de morrer prematuramente para
rever a amada. Atenção: esse sacrifício é uma característica que prefigura o Romantismo.
Alternativa E: incorreta. Novamente, esse verso alude à tristeza e à melancolia do eu lírico, não ao
amor erótico.
Gabarito: A.

27. (UNESP/2017/2º semestre/1ª fase) De modo indireto, o soneto camoniano acaba também por
explorar o tema da
a) falsidade humana.
b) indiferença divina.
c) desumanidade do mundo.
d) efemeridade da vida.
e) falibilidade da memória.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. O poema representa a visão idealizada e espiritualizada da mulher.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 108


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Alternativa B: incorreta. Pelo contrário, o eu lírico roga para que o poder divino o leve de volta
para mulher amada.
Alternativa C: incorreta. O mundo do eu lírico é limitado entre ele, a amada e Deus; há dois planos,
o da vida e o da morte.
Alternativa D: correta – gabarito. No soneto “Alma minha gentil, que te partiste”, o eu lírico
lamenta o fato de o destino ter levado a vida de sua amada demasiadamente depressa, o que é reforçado
no segundo verso com o advérbio de intensidade “tão” associado a “cedo”. Ao afirmar que ela morreu
ainda muito nova, o soneto camoniano acaba também por explorar, indiretamente, o tema da
efemeridade da vida.
Lembrando que a efemeridade da vida e a passagem rápida e inevitável do tema são
questionamentos do movimento, presente também no famoso soneto “Mudam-se os tempos, mudam-
se as vontades”.
Alternativa E: incorreta. O eu lírico pede para que a memória dele não falhe ao lembrar da amada,
ele expressa esse desejo, não que ela vá necessariamente falhar.
Gabarito: D.

28. (UNESP/1989) Leia as estrofes seguintes e assinale a alternativa INCORRETA:

"Mas um velho, de aspeito venerando,


Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
Com saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do esperto peito:
"Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
Com a aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles exprimentas!"
(Camões)

"Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!"
(Fernando Pessoa)

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 109


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

a) Através do tema tratado nas estrofes citadas, podemos dizer que as mesmas pertencem a dois grandes
poemas épicos da Literatura Portuguesa: OS LUSÍADAS e MENSAGEM.
b) Nessas estrofes, os dois poemas relacionam-se ao mencionarem aspectos negativos das expedições
portuguesas.
c) No poema de Camões todas as estrofes apresentam oito versos em decassílabos heroicos; no poema
de Pessoa não há a mesma regularidade.
d) Uma das estrofes d'OS LUSÍADAS revela a fala do Velho do Restelo criticando os sentimentos de glória
e cobiça na empresa portuguesa.
e) Os dois poemas não podem ser relacionados porque, além de um ser épico e o outro lírico, um pertence
ao Renascimento e o outro ao Modernismo.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e literatura
comparada.
Cuidado: o comando da questão está lá em cima, antes dos dois trechos. Lembrem-se de que era
para marcar a alternativa INCORRETA.
Alternativa A: incorreta. Publicado em 1933-34, Mensagem é um livro paradigmático do
modernista Fernando Pessoa, obra na qual se retoma o tema das grandes navegações portuguesas, porém
sob perspectiva crítica. Por sua vez, o trecho do Camões se refere ao episódio do Velho do Restelo.
Na teoria, eu tive o prazer de trazer seções denominadas “para a frente...”, em que eu destacava
movimentos literários futuros que resgatavam de alguma maneira outros anteriores.
Alternativa B: incorreta. Nesse sentido, Camões é visionário. É o Modernismo que costuma
retomar temas históricos sob olhar crítico, tais como as grandes navegações, que agora não são motivos
de orgulho e conquista, mas sim de questionamento, pois também propiciaram dor e sofrimento,
sobretudo nas mulheres que ficam e esperam. Já o trecho de Camões também se trata de sentimentos
negativos: mortes, perigos, tormentas.
Alternativa C: incorreta. É uma característica do Modernismo os poemas terem versos livres (sem
métrica). Porém, atenção: o poema de Pessoa não tem versos brancos (sem rima), pois há esquema de
rima nas seguintes situações: “sal/Portugal”, “choraram/rezaram”, “casar/mar”. Por outro lado, o poema
de Camões segue formas mais fixas e clássicas.
Alternativa D: incorreta. Enquanto os portugueses sentiam medo ante as intempéries da natureza,
o velho do Restelo igualmente se aproveitava para apontar falhas, incongruências e aspectos negativos
na empresa portuguesa.
Alternativa E: correta – gabarito. Eles se direcionam diretamente, dialogam entre si e representam
um caso de intertextualidade.
Gabarito: E.

29. (UNESP/2016/1º semestre/1ª fase)


Eis dois homens a frente: um, que quer servir; o outro, que aceita, ou deseja, ser chefe. O
primeiro une as mãos e, assim juntas, coloca-as nas mãos do segundo: claro símbolo de submissão, cujo
sentido, por vezes, era ainda acentuado pela genuflexão. Ao mesmo tempo, a personagem que oferece
as mãos pronuncia algumas palavras, muito breves, pelas quais se reconhece “o homem” de quem está
na sua frente. Depois, chefe e subordinado beijam-se na boca: símbolo de acordo e de amizade. Eram
estes – muito simples e, por isso mesmo, eminentemente adequados para impressionar espíritos tão

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 110


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sensíveis às coisas – os gestos que serviam para estabelecer um dos vínculos mais fortes que a época
feudal conheceu.
(Marc Bloch. A sociedade feudal, 1987.)
Miniatura do Liber feudorum Ceritaniae, século XII

(www.mcu.es)

O texto e a imagem referem-se à cerimônia que


a) consagra bispos e cardeais.
b) estabelece as relações de vassalagem.
c) estabelece as relações de servidão.
d) consagra o poder municipal.
e) estabelece as relações de realeza.
Comentários históricos
Questão interdisciplinar com a História/linguagens e códigos.
O fragmento e a iluminura acima ilustram o estabelecimento de um contrato feudo-vassálico entre
dois membros da nobreza medieval: o primeiro, chamado de suserano, concede determinados direitos a
outro, o vassalo, recebendo em troca apoio militar. As mãos unidas – elemento da cerimônia presente
tanto no texto quanto na imagem – denotam os laços de fidelidade firmados entre o vassalo e seu senhor,
e por isso a alternativa “b” é a correta.
As alternativas A e C, por sua vez, estão incorretas por não se tratar de um pacto firmado por
clérigos ou camponeses, mas exclusivamente por membros da nobreza. Ademais, trata-se de uma relação
político-militar, portanto distinta da de senhorio exercida pelos nobres diante dos aldeões que viviam sob
sua influência.
Quanto à alternativa E, ainda que o suserano representado acima possa ser um rei, vimos que sua
autoridade não foi afirmada por meio dos contratos feudo-vassálicos, ao contrário, o soberano torna-se
uma figura simbólica, com seus poderes cada vez mais reduzidos entre os séculos X e XIV. Assim sendo, a
alternativa também está incorreta.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 111


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Gabarito: B.

30. (UNESP/2013/1º semestre/1ª fase)

Jesus Pantocrátor1
Há na Itália, em Palermo, ou pouco ao pé, na igreja
De Monreale, feita em mosaico, a divina
Figura de Jesus Pantocrátor: domina
Aquela face austera, aquele olhar troveja.

Não: aquela cabeça é de um Deus, não se inclina.


À árida pupila a doce, a benfazeja
Lágrima falta, e o peito enorme não arqueja
À dor. Fê-lo tremendo a ficção bizantina2

Este criou o inferno, e o espetáculo hediondo


Que há nos frescos3 de Santo Stefano Rotondo4;
Este do mundo antigo espedaçado assoma...

Este não redimiu; não foi à Cruz: olhai-o:


Tem o anátema5 à boca, às duas mãos o raio,
E em vez do espinho à fronte as três coroas de Roma.
(Luís Delfino. Rosas negras, 1938.)

(1) Pantocrátor: que tudo rege, que governa tudo.


(2) Bizantina: referente ao Império Romano do Oriente (330-1453 d.C.) e às manifestações culturais desse
império.
(3) Fresco: o mesmo que afresco, pintura mural que resulta da aplicação de cores diluídas em água sobre um
revestimento ainda fresco de argamassa, para facilitar a absorção da tinta.
(4) Santo Stefano Rotondo: igreja erigida por volta de 460 d.C., em Roma, em homenagem a Santo Estêvão
(Stefano, em italiano), mártir do cristianismo.
(5) Anátema: reprovação enérgica, sentença de maldição que expulsa da Igreja, excomunhão

Figura de Cristo Pantocrátor

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(Catedral de Monreale, Itália.)

Neste soneto de Luís Delfino ocorre uma espécie de diálogo entre o texto poético e uma impressionante
figura de Jesus Cristo Pantocrátor, com 7 m de altura e largura de 13,30 m, criada por mestres
especializados na técnica bizantina do mosaico, na abside da catedral de Monreale, construída entre
1172 e 1189. A figura de Cristo Pantocrátor, feita em mosaicos policromos e dourados, pode ser vista
ainda hoje na mesma cidade e igreja mencionadas na primeira estrofe. Colocando-se diante dessa
representação de Cristo, o eu lírico do soneto
a) sustenta que a figura humana ali representada provém de uma religião anticristã, com ligações estreitas
com as divindades infernais que martirizavam cristãos.
b) questiona a qualidade plástica e os fundamentos formais de origem bizantina da imagem como
destituídos de maior valor estético.
c) utiliza o caráter assustador do mosaico para negar a divindade de Jesus Cristo, servindo-se do poema
como um meio de argumentação.
d) entende que a combinação da atitude e dos traços da figura do mosaico mais parecem as de um ídolo
pagão oriental do que de um deus cristão venerado pela humanidade.
e) sugere que a figura do mosaico não condiz com a imagem que a tradição cristã legou de um doce e
divino homem com feições marcadas pelo martírio e sofrimento na cruz.
Comentários
Questão interdisciplinar com a História; linguagens e códigos e literatura comparada.
Alternativa A: incorreta. “Pantocrátor” em grego significa senhor de tudo. Seria o que hoje
conhecemos como Todo-Poderoso. Sendo ele assim tão soberano, ele criou inclusive o inferno e o rege
também. Deus tem poder de tudo e é o senhor absoluto, exultando a fé cristã.
Alternativa B: incorreta. Essa obra das Artes Visuais se enquadra no período bizantino, cujas
principais características artísticas e formais são a justaposição, o paralelismo e a coordenação. Porém,
ao utilizar a expressão “ficção bizantina”, o eu lírico acusa certa falta de realismo nesse tipo de obra de
arte, que mais parecia servir à Igreja e atender aos propósitos religiosos do que representar a realidade
dos seres.
Alternativa C: incorreta. O mosaico não é assustador; pelo contrário, ele transmite ideias de
harmonia e paz espiritual. É como que um convite à meditação.
Alternativa D: incorreta. A representação no mosaico é bem típica dos santos medievais.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 113


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Alternativa E: correta – gabarito. O eu lírico no poema destaca duas figuras contrastantes: um


Jesus Pantocrátor representado em toda a sua idealização e falta de verossimilhança, literalmente
endeusado, e um outro mundano, que não conquistou, não redimiu, enfim, um que seja humano e não
santo.
Gabarito: E.

31. (UNESP/2011/1º semestre/1ª fase)

(Templo da Concórdia, Agrigento, Itália.)

O Templo da Concórdia foi construído no sul da Sicília, no século V a.C., e é um marco da


a) arte românica, caracterizada pelos arcos de meia volta e pela inspiração religiosa politeísta.
b) arquitetura clássica, imposta pelos macedônios à ilha no processo de helenização empreendido por
Alexandre, o Grande.
c) arte etrusca, oriunda do norte da península itálica e desenvolvida no Mediterrâneo durante o período
de hegemonia romana.
d) arquitetura dórica, levada à ilha pelos gregos na expansão e colonização mediterrânea da chamada
Magna Grécia.
e) arte gótica, marcada pela verticalização das construções e pela sugestão de ascese dos homens ao reino
dos céus.
Comentários históricos
Questão interdisciplinar com a História/linguagens e códigos.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 114


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A alternativa D é a correta, e aproveitaremos a questão para relembrarmos as três ordens


arquitetônicas criadas durante a Grécia Antiga:
❖ Ordem dórica → criada durante a dominação
do povo de mesmo nome da península itálica,
este estilo é marcado por colunas robustas,
utilizadas principalmente em templos de
deuses masculinos.
❖ Ordem jônica → Com aparência mais fluida
que o estilo anterior, o jônico permitiu maior
ornamentação de suas colunas com as
volutas, que se assemelham a rolos.
❖ Ordem coríntia → Mais ornamentada que as
demais, a ordem coríntia se utiliza de várias
folhas e brotos em seu capitel.
Gabarito: D.

32. (UNESP/2010/1º semestre/1ª fase) Observe a figura.

Madona e Filho, Berlinghiero, século XII.

(www.literaria.net/RP/L2/RPL2.htm)1

O ícone, pintura sobre madeira, foi uma das manifestações características da Civilização Bizantina, que
abrangeu amplas regiões do continente europeu e asiático. A arte bizantina resultou
a) do fim da autocracia do Império Romano do Oriente.
b) da interdição do culto de imagens pelo cristianismo primitivo.
c) do “Cisma do Oriente”, que rompeu com a unidade do cristianismo.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 115


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d) da fusão das concepções cristãs com a cultura decorativa oriental.


e) do desenvolvimento comercial das cidades italianas.
Comentários históricos
Questão interdisciplinar com a História/linguagens e códigos.
A autocracia, ou seja, a forma de governo na qual o poder permanece concentrado nas mãos de
um único indivíduo, foi a marca de todos os governantes do Império Bizantino, que acumulavam
simultaneamente poderes políticos e religiosos (cesaropapismo). Era recorrente o uso da arte por basileus
para a afirmação de sua imagem perante os seus súditos, de maneira que a alternativa A se encontra
incorreta.
O culto de imagens é algo observado na cristandade desde as comunidades ditas primitivas, o que
torna a alternativa B incorreta. Vale lembrar, no entanto, que esta prática foi duramente combatida pelo
movimento iconoclasta entre os séculos VIII e IX, sendo a razão do desaparecimento de várias obras
artísticas bizantinas neste período.
A pintura de ícones bizantinos é fortemente influenciada pela noção da arte egípcia de representar
todos os objetos da maneira mais clara possível, afinal era preciso que os elementos contidos nas obras,
como santos, imperadores, Cristo e a Virgem Maria, fossem facilmente reconhecidos pelos fiéis. Dito isso,
a arte bizantina incorpora técnicas da cultura oriental para a reprodução de elementos do cristianismo,
de maneira que a alternativa D se encontra correta.
Mesmo antes do Cisma do Oriente, ocorrido em 1054, a arte bizantina foi adotada nas basílicas da
Igreja bizantina para representar figuras como Jesus Cristo, a Virgem Maria e os santos. Um bom exemplo
disso é a basílica de Santa Sofia, construída no século VI, durante o reinado de Justiniano. Assim sendo, a
alternativa C está incorreta.
A arte bizantina foi formulada a partir da junção de influências da pintura grega e da arte egípcia,
não se relacionando diretamente com os percursos do comércio na península itálica. Devido a isso, a
alternativa “e” está incorreta.
Gabarito: D.

33. (UNESP/2008/1º semestre/1ª fase) Observe a foto da Catedral de Notre Dame de Paris, construída
entre 1163 e 1250.

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(Adhemar Marques, Pelos caminhos da História: Ensino Médio.)

Sobre o contexto histórico que levou ao surgimento das catedrais, pode-se afirmar:
a) o papel dos monarcas foi decisivo, financiando a sua construção para glorificar o poder real.
b) sua construção está associada ao reflorescimento e à prosperidade do mundo urbano.
c) financiadas com os recursos do clero romano, ampliaram a influência do Papa no Oriente.
d) surgiram como resposta do papado ao Cisma do Oriente, glorificando a Igreja Romana.
e) eram templos destinados à alta nobreza, que assim evitava o contato com o povo da cidade.
Comentários históricos
Questão interdisciplinar com a História/linguagens e códigos.
Essa é uma questão que demanda conhecimentos prévios sobre o estilo gótico na Idade Média.
Nascido no norte da Franças, ele se destaca pela imponência de suas construções, o uso de arcos ogivais
e de vitrais que conferem grande beleza aos ambientes internos. Diferentemente do estilo românico,
predominante em mosteiros isolados no mundo rural, ele buscava tornar o conhecimento bíblico mais
emocionante e palpável aos fiéis, evidenciando o triunfo da Igreja nos centros urbanos do mundo
Ocidental.
Feitas essas considerações, a alternativa B é a correta. Vejamos as demais opções de resposta:
A alternativa A está incorreta, afinal o estilo gótico das catedrais não serve para glorificar o poder
real, mas sim o poder acumulado pela própria Igreja.
A alternativa C está incorreta, uma vez que a partir do chamado Cisma do Oriente, em 1054, o
Papa perde sua influência no mundo cristão oriental.
A alternativa D está incorreta. O estilo gótico não é voltado para responder o rompimento do
mundo cristão oriental, mas para externalizar o triunfo da Igreja, detentora do poder ideológico do mundo
feudal.
A alternativa E está incorreta, pois templos como a catedral de Notre-Dame eram frequentados
pela cristandade como um todo, e não somente a nobreza.
Gabarito: B.

34. (UNIFESP/2004) Para responder às próximas duas questões, leia os versos seguintes, da famosa
Farsa de Inês Pereira, escrita por Gil Vicente.

Andar! Pero Marques seja!


Quero tomar por esposo
quem se tenha por ditoso
de cada vez que me veja.
Meu desejo eu retempero:
asno que me leve quero,
não cavalo valentão:
antes lebre que leão,
antes lavrador que Nero.

Sobre a Farsa de Inês Pereira, é correto afirmar que é um texto de natureza

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 117


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a) satírica, pertencente ao Humanismo português, em que se ridiculariza a ascensão social de Inês


Pereira por meio de um casamento de conveniências.
b) didático-moralizante, do Barroco português, no qual as contradições humanas entre a vida terrena e a
espiritual são apresentadas a partir dos casamentos complicados de Inês Pereira.
c) religiosa, pertencente ao Renascimento português, no qual se delineia o papel moralizante, com vistas
à transformação do homem, a partir das situações embaraçosas vividas por Inês Pereira.
d) reformadora, do Renascimento português, com forte apelo religioso, pois se apresenta a religião como
forma de orientar e salvar as pessoas pecadoras.
e) cômica, pertencente ao Humanismo português, no qual Gil Vicente, de forma sutil e irônica, critica
a sociedade mercantil emergente, que prioriza os valores essencialmente materialistas.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Inês Pereira não é ridicularizada; pelo contrário: é uma mulher que em
pleno medievo manifestou o interesse em escolher o marido como bem queria.
Alternativa B: incorreta. O teatro vicentino não é moralista.
Alternativa C: incorreta. Gil Vicente não é conhecido por ser um autor religioso, embora a temática
de algumas peças suas serem religiosas, porque, afinal, a religião ainda era predominante no período.
Alternativa D: incorreta. “A farsa de Inês Pereira” (1523) é uma obra do Humanismo e não do
Classicismo (sinônimo de Renascimento).
Alternativa E: correta – gabarito. O diálogo da personagem feminina expressa sua pretensão de se
casar com um homem que ela poderia facilmente dominar e não ser dominada por ele. Por isso, compara
o marido a animais de acordo com a sua personalidade.
Gabarito: E.

35. (UNIFESP/2004) Os versos em destaque no texto, observadas as ideias e a regência, equivalem a


a) Convém asno a que me leve de que cavalo valentão.
b) Prefiro mais asno que me leve a cavalo valentão.
c) É preferível asno que me leve do que cavalo valentão.
d) Prefiro asno que me leve a cavalo valentão.
e) É melhor asno que me leve ante cavalo valentão.
Comentários
Questão de Gramática aplicada à Literatura.
Alternativa A: incorreta. O verbo “levar” não rege a preposição “a”.
Alternativa B: incorreta. O intensificador “mais” deve vir antes do conectivo “que” para expressar
a comparação superlativa, e não antes do substantivo.
Alternativa C: incorreta. Há incompatibilidade entre pessoas do discurso: “É preferível” está na
terceira pessoa, ao passo que “me leve” apresenta pronome na primeira pessoa.
Alternativa D: correta – gabarito. A relação de preferência é marcada pela expressão “que/a”.
Alternativa E: incorreta. Não está correto o uso da preposição “ante”.
Gabarito: D.

36. (UNIFESP/2016) Leia o soneto do poeta Luís Vaz de Camões (1525?-1580).

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 118


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Sete anos de pastor Jacob servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,


passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos


lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida,

começa de servir outros sete anos,


dizendo: “Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida”.
(Luís Vaz de Camões. Sonetos, 2001.)

De acordo com a história narrada pelo soneto,


a) Labão engana Jacob, entregando-lhe a filha Lia, em vez de Raquel.
b) Labão aceita ceder Lia a Jacob, se este lhe entregar Raquel.
c) Labão obriga Jacob a trabalhar mais sete anos para obter o amor de Lia.
d) Jacob descumpre o acordo feito com Labão, negando-lhe a filha Raquel.
e) Jacob morre antes de completar os sete anos de trabalho, não obtendo o amor de Raquel.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: correta – gabarito. Trata-se de um soneto em que um assunto é a persistência do
sentimento amoroso, simbolizada pela narração da história bíblica de Jacob (Jacó). Labão engana-o,
entregando-lhe a filha Lia, em vez de Raquel, mas Jacob ultrapassa todas as barreiras criadas por Labão a
fim de merecer a pessoa que ama, mesmo que isso implique em trabalhar mais sete anos nas terras do
futuro sogro.
Alternativa B: incorreta. Jacob não desejava Lia, pois esta era a irmã considerada “mais feia”,
porque era vesga. Ele queria era Raquel.
Alternativa C: incorreta. Novamente, era o amor de Raquel que Jacob queria; ele nunca desejou
Lia, ele apenas se resigna com o fato de recebê-la.
Alternativa D: incorreta. Labão descumpre o acordo, sim, mas impõe outro maior. O prêmio ainda
será Raquel.
Alternativa E: incorreta. O amor deles se concretiza, de do casamento entre Jacob e Raquel nascem
os filhos queridos e mais privilegiados: José e Benjamin.
Gabarito: A.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 119


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37. (UNIFESP/2010) Leia o texto de Gil Vicente.

DIABO — Essa dama, é ela vossa?


FRADE — Por minha a tenho eu
e sempre a tive de meu.
DIABO — Fizeste bem, que é fermosa!
E não vos punham lá grosa
nesse convento santo?
FRADE — E eles fazem outro tanto!
DIABO — Que cousa tão preciosa!

No trecho da peça de Gil Vicente, fica evidente uma


a) visão bastante crítica dos hábitos da sociedade da época. Está clara a censura à hipocrisia do religioso,
que se aparta daquilo que prega.
b) concepção de sociedade decadente, mas que ainda guarda alguns valores essenciais, como é o caso da
relação entre o frade e o catolicismo.
c) postura de repúdio à imoralidade da mulher que se põe a tentar o frade, que a ridiculariza em função
de sua fé católica inabalável.
d) visão moralista da sociedade. Para ele, os valores deveriam ser resgatados e a presença do frade é um
indicativo de apego à fé cristã.
e) crítica ao frade religioso que optou em vida por ter uma mulher, contrariando a fé cristã, o que, como
ele afirma, não acontecia com os outros frades do convento.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: correta – gabarito. É a principal missão do teatro vicentino.
Alternativa B: incorreta. O frade não se mostra valoroso, mas sim cheio de vícios e pecados como
um ser humano comum.
Alternativa C: incorreta. Não é o objetivo do Gil Vicente pura e simplesmente criticar, a mulher em
si ou nenhum dos tipos, mas sim apontar os defeitos humanos e os vícios da sociedade.
Alternativa D: incorreta. Gil Vicente não é um defensor da Igreja e do dogma cristão, embora
aponte falhas sociais que poderiam ser corrigidas.
Alternativa E: incorreta. Como sugere a própria falha do frade em relação aos seus companheiros,
todos eles pareciam manter um mesmo padrão de comportamento.
Gabarito: A.

38. (PUC-SP/2008/Janeiro) Gil Vicente, criador do teatro português, realizou uma obra eminentemente
popular. Seu Auto da Barca do Inferno, encenado em 1517, apresenta, entre outras características, a de
pertencer ao teatro religioso alegórico. Tal classificação justifica-se por

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 120


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

a) ser um teatro de louvor e litúrgico em que o sagrado é plenamente respeitado.


b) não se identificar com a postura anticlerical, já que considera a igreja uma instituição modelar e
virtuosa.
c) apresentar estrutura baseada no maniqueísmo cristão, que divide o mundo entre o Bem e o Mal, e na
correlação entre a recompensa e o castigo.
d) apresentar temas profanos e sagrados e revelar-se radicalmente contra o catolicismo e a instituição
religiosa.
Comentários
Questão de conhecimento de obra do cânone/linguagens e códigos.
Alternativa A: incorreta. A obra não apresenta um direcionamento litúrgico. Ao contrário, mostra
por meio de alegorias religiosas os defeitos morais do ser humano.
Alternativa B: incorreta. A obra defende que até mesmo as instituições sacras são carregadas de
problemas éticos e morais provenientes de seus integrantes.
Alternativa C: correta – gabarito. O Auto Da Barca apresenta uma cisão moral entre os sujeitos não
dignos do Paraíso e os poucos dignos dele. A partir do passado virtuoso ou pecaminoso de cada um de
seus personagens, indica o caminho da perdição ou da salvação.
Alternativa D: incorreta. O autor não é contra o catolicismo: busca somente indicar que até mesmo
dentro das instituições caracterizadas como imaculadas há a presença do pecado e dos vícios humanos.
Alternativa E: incorreta. A obra não aceita a hipocrisia do clero, ao contrário, exibe-a ao mundo
através do teatro.
Gabarito: C.

39. (FAMEMA/2020) Leia o texto para responder à próximas 2 questões.

Vem um Sapateiro com seu avental e carregado de formas,


chega ao 1batel infernal, e diz:
Hou da barca!
Diabo – Quem vem aí?
Santo sapateiro honrado,

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 121


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como vens tão carregado?


Sapateiro – Mandaram-me vir assi...
Mas para onde é a viagem?
Diabo – Para a terra dos danados.
Sapateiro – E os que morrem confessados
onde têm sua passagem?
Diabo – Não cures de mais linguagem!
que esta é tua barca, esta!
Sapateiro – Renegaria eu da festa
e da barca e da barcagem!
Como poderá isso ser, confessado e comungado?
Diabo – Tu morreste excomungado,
não no quiseste dizer.
Esperavas de viver;
calaste dez mil enganos,
tu roubaste bem trinta anos
o povo com teu mister.
Embarca, pobre de ti,
que há já muito que te espero!
Sapateiro – Pois digo-te que não quero!
Diabo – Que te pese, hás de ir, si, si!
(Gil Vicente. Auto da Barca do Inferno. Adaptado.)
1batel: pequena embarcação.

Na situação apresentada, o sapateiro


a) espanta-se com a ideia de ir para o inferno, mas o diabo admite que não pode levá-lo por ter sido um
homem cristão em vida.
b) opõe-se à ideia de ir para o inferno, alegando que fora religioso em vida, mas o diabo o relembra dos
pecados cometidos.
c) mostra entusiasmo por seguir na embarcação do diabo e reconhece que, mesmo tendo sido religioso,
acha justa a punição.
d) sujeita-se à ordem do diabo e toma lugar em sua embarcação, com a esperança de que sua disposição
para o trabalho ainda possa salvá-lo.
e) confronta o diabo, considerando que este possa se intimidar ao descobrir que fora um homem religioso
em vida.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. O diabo insiste em levá-lo, tentando convencê-lo dos porquês de o
sapateiro ter ido parar ali.
Alternativa B: correta – gabarito. O sapateiro não quer acreditar, mas o diabo faz questão de
enumerar as más ações do sapateiro em vida, justificando os motivos para ele se encontrar ali e não na
barca que ia para o céu.
Alternativa C: incorreta. Não mostra entusiasmo, mas sim certo receio. No fundo, não quer ir.
Alternativa D: incorreta. O diabo apressa o sapateiro para embarcar logo; não há indícios de
recuperação de esperança.

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 122


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

Alternativa E: incorreta. Não confronta o diabo, mas sim quer convencê-lo de que não deveria
estar naquele lugar.
Gabarito: B.

40. (FAMEMA/2020) O texto transcrito de Gil Vicente assume caráter


a) moralizante, uma vez que traz explícita crítica aos costumes do personagem.
b) educativo, pois o personagem reconhece seu erro e, ao final, é perdoado.
c) humorístico, com intenção de entreter mais do que condenar comportamentos.
d) doutrinário, considerando a devoção do personagem à religião quando em vida.
e) edificante, já que o comportamento do personagem se torna exemplo a seguir.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. O latinismo “ridendo castigat mores” (rindo moralizam-se os
costumes) é aplicado ao teatro vicentino, cuja obra não era necessariamente religiosa, mas convertia à
reflexão, fazendo com que os seres humanos repensassem seus comportamentos. Nesta peça, o diabo se
revela frequentemente fatalista.
Alternativa B: incorreta. Não há tal perspectiva de perdão.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: o texto é humorístico, mas não se comprova esta hierarquia.
Alternativa D: incorreta. Não é uma obra teocêntrica ou dogmática.
Alternativa E: incorreta. O texto não é idealista e não tem o objetivo de mostrar seres humanos
nobres ou dignos.
Gabarito: A.

11.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2007. Disponível em: http://tinyurl.com/y5d7eheb. Acesso em: 09 de abril 2019.

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13 set. 2020.
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BLINDHEIM, Martin. Pinturas góticas en inglesias noruegas. México; Buenos Aires: Editorial Hermes;
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BRASIL ESCOLA. Universidades medievais. Disponível em: https://tinyurl.com/y2zwqgax. Acesso em: 14
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CAMPOS, Flavio de; MIRANDA, Renan Garcia. A escrita da História. São Paulo: Escala Educacional, 2005
(volume único).

AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 123


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA ENEM 2022

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AULA 01 – QUINHENTISMO, TROVADORISMO, HUMANISMO E CLASSICISMO 124


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12.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Eu me coloco à disposição de vocês para sanar eventuais dúvidas.


Tenho a meta de responder ao Fórum de Dúvidas, com a qualidade e profundidade exigidas, assim
como podem me encontrar em redes sociais. E agora também temos Sala VIP.

Versão Data Modificações

1 13/01/2022 Entrega da primeira versão do texto.

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Professora Luana Signorelli

/luana.signorelli Professora Luana @luana.signorelli


Signorelli

Luana Signorelli @luanasignorelli1

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