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Notas de Leitura do Livro “Arquitetura e Crítica” Capítulo 3 - Pioneiros | Teoria e Crítica -

2023.2 | Professor Marcus Fiorito | Amanda Salerno, Ágatha Christie e Lucca de Oliveira
O ponto crucial na evolução da teoria da arte moderna se situa no final do século XIX e início do
século XX. Nesse período, vários teóricos de origem centro-europeia desempenharam um papel
fundamental ao estabelecer os princípios essenciais para a análise de obras de arte. No entanto, é
igualmente importante reconhecer a influência de duas correntes de pensamento que se
desenvolveram ao longo do século XIX: o positivismo e o anti mecanicismo.
Positivistas e Anti-Mercantistas
A formação da teoria de arte moderna foi profundamente influenciada por dois principais
enfoques intelectuais que emergiram ao longo do século XIX na Europa. Por um lado, a tradição
positivista, originária na França com René Descartes, forneceu uma base metodológica que
moldou a ciência moderna e foi posteriormente desenvolvida por pensadores como Auguste
Comte e Hippolyte Taine. Essa abordagem abraçou um evolucionismo baseado em causas e
efeitos meticulosamente articulados, bem como a teoria da influência ambiental e do meio
ambiente. Um notável arquiteto vienense, Gottfried Semper, desempenhou um papel
fundamental na concretização das ideias positivistas na arquitetura por meio de seu "princípio do
revestimento," antecipando, assim, conceitos que seriam mais tarde associados a Adolf Loos e
Mies van der Rohe. Sempre, em seus textos, como “O estilo nas artes técnicas e tectônicas"
(1860-1863), procurou estabelecer leis fixas e invariáveis para a arte, acreditando que essas leis
eram determinadas por vários condicionantes, incluindo materiais, técnicas, clima, política,
cultura e religião. Ele concebia a tectônica como a interligação orgânica das decisões técnicas
que moldam uma estrutura arquitetônica, destacando a importância da arquitetura como a arte do
espaço.
Enquanto isso, na mesma época, na Inglaterra, surgiu uma reação anti mecanicista em resposta à
crescente industrialização e à urbanização. Três autores-chave, Augustus Welby Pugin, John
Ruskin e William Morris, lideraram essa resistência contra a cultura industrial e a estética
maquinista. Eles acreditavam que as novas tecnologias ameaçavam a riqueza do trabalho
artesanal e defendiam a restauração da arquitetura medieval e do artesanato como uma resposta à
fealdade das criações industriais. Estes autores, com grande fervor e convicção religiosa,
enfatizaram a importância da honestidade e sinceridade do criador na manifestação dos
elementos essenciais da construção em obras de arte. Para eles, a verdade era um dos princípios
fundamentais da arquitetura, e essa concepção moral desempenhou um papel crucial nas ideias
do movimento moderno.
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William Morris, em particular, exerceu uma influência duradoura, apesar de suas soluções
práticas às questões contemporâneas serem vistas como anacrônicas. Ele previu um futuro
baseado na socialização, em que a arte e a sociedade se basearam no artesanato e no prazer do
trabalho. Vale ressaltar que essa orientação anti-racionalista e anti mecanicista ainda ecoa nos
dias de hoje, com arquitetos como Leon Krier, Rob Krier e Maurice Culot, bem como
historiadores como David Watkin, defendendo o valor do contato humano proporcionado pelo
artesanato e criticando a arquitetura moderna com base nessa linhagem de pensamento que se
estende de Pugin a Morris.
Duas correntes de pensamento, o positivismo e o anti mecanicismo, tiveram papéis fundamentais
na formação da teoria da arte moderna. O positivismo enfatizou a busca por leis universais e a
análise sistemática na arte, influenciando pensadores como Gottfried Semper e August Choisy.
Em contraste, o anti mecanicismo, liderado por Pugin, Ruskin e Morris na Inglaterra, defendeu
os valores artesanais e a oposição à industrialização, valorizando a sinceridade e o contato
humano na criação artística.
Essas abordagens, embora diferentes, se complementam e continuam a influenciar a crítica e a
compreensão da arte e arquitetura modernas, com o positivismo promovendo princípios
universais e o anti mecanicismo enfatizando o artesanato e a autenticidade na produção artística.
O surgimento da teoria da arte centro-europeia
No espaço de apenas duas décadas, assistimos a uma transformação completa na teoria da arte e
da arquitetura. Nas últimas duas décadas do século XIX, os sistemas filosóficos de Immanuel
Kant, Johann Friedrich Herbert e Friedrich Theodor Visher abriram caminho para análises
formais baseadas em princípios fisiológicos e psicológicos. Nesse contexto, surgiram as notáveis
contribuições iniciais de August Schmar Sow, Alois Riegl, Heinrich Wölfflin, Paul Frankl e
outros. Dificilmente testemunharemos uma mudança tão radical na teoria, na crítica e na história
da arte e da arquitetura como essa.
Essa teoria, gerada principalmente na Europa Central no final do século XIX, manifestou-se em
diferentes escolas, mas sempre teve como foco central a análise da forma, a partir da qual
emergiu a noção de espaço. A base fundamental dessa nova teoria da percepção foi estabelecida
pelo pensamento de Kant, que enfatizou a importância dos valores intangíveis na arte, com
destaque para o poder da imaginação e a autonomia da linguagem das formas artísticas. Essa
estética da percepção também incorporou influências da pesquisa psicológica e fisiológica do
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século XIX. Além disso, esses teóricos integraram a nova tradição historiográfica iniciada por
Hegel.
Uma das evoluções significativas foi a doutrina da "pura visualidade", concebida por Konrad
Fiedler (1841-1895), que estabeleceu a dicotomia entre cinestesia e visão. Isso implicou que a
percepção visual se baseava em um olhar distante, bidimensional e sintético, enquanto a
cinestesia envolvia um olhar dinâmico, analítico e tridimensional, que podia alcançar uma
percepção tátil. Em resumo, a teoria da pura visualidade reconheceu que as formas poderiam ser
interpretadas visualmente, sem a necessidade de referências externas. A perspectiva de Fiedler e
de outros teóricos, como Hildebrand, representou uma mudança significativa na interpretação da
arte, em que a obra não era vista como um objeto estático, mas como algo que respondia a
diferentes formas de percepção e visão, inerentes ou relativas.
August Schmarsow, influenciado pela história cultural de Jacob Burckhardt, propôs uma teoria
que se opunha de maneira marcante às teorias deterministas convencionais. Ele argumentava que
a essência da criação arquitetônica estava enraizada na construção do espaço interno, tornando a
arquitetura uma arte do espaço. Sua ênfase na importância da experiência corporal, movimento e
crescimento na concepção do espaço o diferenciou de outros teóricos visualistas.
Alois Riegl, historiador do Museu das Artes Decorativas de Viena, foi um defensor da teoria
formalista. Ele sustentava que a arquitetura era a arte do espaço, e sua filosofia da história da arte
deu centralidade à ideia de espaço. Ele introduziu a categorização de visão aproximativa e visão
distanciada para estudar a evolução da arquitetura, da tática visão das pirâmides egípcias à
pureza ótica no Panteão de Roma. Riegl, assim como Schmarsow, enfatizou que a obra de arte
era influenciada pelo ponto de vista do espectador, e que o espaço estava sempre ligado à
experiência do movimento.
Wilhelm Worringer identificou uma dualidade fundamental na arte ao longo da história:
abstração e empatia. Abstração representava um afastamento da natureza, enquanto empatia
envolvia uma relação mimética e harmoniosa com a natureza. Esses conceitos foram
fundamentais para explicar e legitimar o esforço das vanguardas artísticas em criar um novo
repertório formal. Worringer, no entanto, associou a abstração a sociedades monoteístas e
transcendentalistas, enquanto a empatia estava relacionada a culturas panteístas e imanentistas.
Ambas as perspectivas, abstração e empatia, representaram motores internos da evolução da arte.
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Por fim, Heinrich Wölfflin elaborou uma teoria que sintetizou várias correntes anteriores. Sua
abordagem enfocou a compreensão das obras de arte e arquitetura dentro de sistemas formais
com leis autônomas, destacando a importância da recepção através de mecanismos visuais de
percepção. Wölfflin propôs uma história da arte sem depender de nomes específicos, mas sim
das grandes categorias formais que caracterizavam diferentes épocas. Suas contribuições
incluíram a distinção entre percepção objetiva e subjetiva, bem como a ênfase na recepção
através dos mecanismos visuais de percepção. Suas obras mais importantes, como "A Arte
Clássica" e "Conceitos Fundamentais da História da Arte", basearam-se nesses princípios.
Esses teóricos e suas contribuições moldaram profundamente a teoria da arte e da arquitetura,
estabelecendo um novo paradigma centrado na forma e no espaço. Suas ideias influenciaram as
gerações subsequentes de teóricos e desempenharam um papel significativo na legitimação da
arquitetura moderna.
Geoffrey Scott, ao enfatizar o "monopólio do espaço" pela arquitetura, fortaleceu a ideia de que a
história da arquitetura está ligada à evolução do "sentido de espaço", influenciando a teoria de
Sigfried Giedion e a legitimação da arquitetura moderna. Wilhelm Worringer introduziu o
conceito de abstração como uma força motriz para as vanguardas artísticas, destacando a
associação da abstração com sociedades monoteístas. Heinrich Wölfflin sintetizou muitas dessas
contribuições, enfatizando a compreensão das obras de arte e arquitetura com leis autônomas,
contribuindo para a teoria da arte. Suas abordagens centradas na forma e no espaço continuam a
influenciar a compreensão da arte e arquitetura até hoje, deixando um legado duradouro na teoria
estética.
Nem Auge nem Decadência
O idealismo alemão e a família de conceitos Kunstwollen e Zeitgeist deram origem a
interpretações cíclicas, algumas das quais conservadoras, como as de Oswald Spengler e Arnold
Toynbee. No entanto, as contribuições de Riegl e Wölfflin trouxeram uma ideia fundamental, ao
mesmo tempo progressista e moderna: a certeza do relativismo histórico. Eles argumentaram que
na arte não podemos falar em períodos de ascensão ou decadência. Ao estudar a arte
tardo-romana e o primeiro barroco em Roma, Riegl demonstrou que na evolução da arte não há
retrocessos e estagnações. Pelo contrário, são os períodos de transição e crise que são
fundamentais, pois é nesses momentos que os futuros estágios evolutivos são gestados. Wölfflin
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entendeu que não existem estilos melhores do que outros, apenas estilos distintos, cada um com
seu próprio mérito.
Os juízos de valor sobre obras de arte só podem ser feitos dentro dos limites e coordenadas de
cada configuração visual ou estilo. Cada período histórico deve ser interpretado de acordo com
os critérios predominantes em sua época, não com base nos critérios que surgirão posteriormente.
Isso ocorre porque cada época tem sua própria visão e necessidades formais.
Winckelmann, com sua obra "História da arte na antiguidade," introduziu a ideia de que os
períodos artísticos seguem uma sucessão de etapas: surgimento, desenvolvimento, perfeição e
decadência. Outros autores adotaram uma visão evolucionista, como Lorenzo Ghiberti, que
considerou que "o surgimento é sempre a perfeição." Com Riegl e Wölfflin, no entanto, o
equívoco biologista baseado na ascensão e decadência dos estilos foi superado.
O relativismo de Riegl e Wölfflin é relevante para evitar interpretações errôneas que
desqualificam certos períodos históricos ou visões simplistas que consideram o presente a partir
de um preconceito oitocentista da decadência do Ocidente. O pensamento contemporâneo
demonstrou que não houve idades de ouro que os nostálgicos lamentam, nem caminhos claros
em direção ao futuro que os utopistas imaginam.
Essa concepção de relativismo histórico e cultural foi consolidada nas teorias de Erwin Panofsky
sobre sistemas de representação, que argumenta que não há estruturas visuais objetivas ou
percepções universais, mas sim construções culturais específicas com base em visões de mundo
particulares.
Nesse contexto, as teorias estabelecidas na Europa Central, como a Einfühlung (Worringer), a
teoria da pura visualidade (Fiedler, Hildebrand, Wölfflin) e o formalismo da Escola de Viena
(Schlosser, Schmarsow, Riegl, Dvôrak), exerceram uma influência significativa sobre a escola
londrina de iconologia, com base no estudo do Warburg Institute. O Warburg Institute promoveu
interpretações formais da arquitetura que influenciaram a cultura anglo-americana.
Essas tradições foram posteriormente transmitidas para a Itália por Benedetto Croce, que
desenvolveu uma nova tradição italiana que foi influente na teoria da arte e na arquitetura
contemporâneas. Croce enfatizou a especificidade da arte, seu caráter intuitivo e autônomo.
Segundo ele, a arte é uma intuição lírica, uma imagem fragmentária da realidade,
independentemente do pensamento lógico. Croce também destacou o caráter artístico da
arquitetura e sua espiritualidade em relação aos condicionantes tecnológicos.
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O método de análise de Croce envolvia dois estágios: um analítico, dedicado à documentação e à
investigação de dados práticos e técnicos, e um segundo estágio sintético, focado na
interpretação da obra de arte. A crítica de arte foi considerada por Croce como um trabalho de
síntese integralmente pertencente à estética, destacando o papel do gosto e do prazer estético na
interpretação das obras de arte.
Essas teorias e abordagens desempenharam um papel crucial na evolução da teoria da arte e da
arquitetura, influenciando interpretações críticas da arte contemporânea e promovendo uma
compreensão mais contextualizada da evolução artística ao longo da história. Elas destacam a
importância do relativismo histórico, lembrando-nos de não julgar obras de arte do passado com
base em critérios atuais, e enfatizam a complexidade da história da arte, evitando visões
simplistas. Erwin Panofsky também contribuiu para essa visão ao ressaltar que não existem
estruturas visuais objetivas ou percepções universais, mas construções culturais moldadas por
visões de mundo específicas.
Essas tradições europeias influenciaram a escola londrina de iconologia e a cultura
anglo-americana, demonstrando como essas teorias continuam a moldar o pensamento crítico
sobre arte e arquitetura em diferentes contextos. Além disso, a abordagem de Benedetto Croce
enfatizou o papel do gosto e do prazer estético na interpretação das obras de arte, ressaltando a
independência da arte em relação aos condicionantes tecnológicos e sua natureza intuitiva e
espiritual.
As bases metodológicas do movimento moderno
Um conjunto de premissas metodológicas foram a base onde se desenvolveram os conceitos que
formaram o movimento moderno. As ideias de Hegel de progresso através do idealismo e
historicismo foram as premissas para o desenvolvimento do conceito. Agregado a esse
pensamento, o livro “Do material à arquitetura” de László Moholy Nagy, constitui uma
gramática do desenho moderno, juntando conceitos de visualidade, a experiência do espaço e a
relação com o homem idealizado. Esse livro engloba os revestimentos, volumes, aberturas,
limites e espaços. O positivismo e cientificismo de Augusto Comte e Gottfried Semper traz a
continuidade da tradição racionalista, se apoiando no progresso tecnológico. O conceito de
elementarismo utiliza um método cartesiano para a decomposição de formas e sua complexidade,
restando apenas o elemental.
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O movimento moderno era visto como a culminação após dois grandes períodos: as arquiteturas
monumentais do passado, no Egito, Grécia, Roma e durante a Idade Média; O século XIX com
seu caráter eclético e decorativismo. Assim o movimento moderno se iniciava, contestando tudo
que o precedia e se promovendo como inimigos da decadência que se estabelecia. O pensamento
dos arquitetos modernos se baseia então em uma combinação do historicismo e cientificismo
com o conceito de Zeitgeist, ou espírito de época para justificar uma abordagem que nega as
tipologias precedentes e construir uma identidade moderna, negando os precedentes históricos.
A obra escrita dos protagonistas
Os textos redigidos pelos protagonistas e criadores da arquitetura moderna são um valor na
interpretação desse momento singular e intenso da arquitetura mundial. Adolf Loos em seu texto
mais famoso “Ornamento é um crime” agrega conceitos inovadores atrelados aos princípios de
simplicidade e volumetria classicistas. Walter Gropius contribuiu com ideias do expressionismo
alemão e principalmente com a criação da escola Bauhaus. Sua ideia consistia na união das artes,
das técnicas e meios de produção. Embora Gropius tivesse uma intenção exclusivamente
racionalista com a criação da Bauhaus, a produção da escola se mostrou bastante heterogênea
com artistas vanguardistas e com veias irracionalistas. Gropius enfatizava a criação de uma nova
arquitetura moderna como um produto das condições técnicas, intelectuais e sociais da época que
está inserido. Desenvolvendo assim um método internacional e atemporal de criar arquitetura.
Mies van der Rohe parte do classicismo alemão e desenvolve uma elaborada arquitetura que
junta diferentes vanguardas estéticas. O resultado é o minimalismo formal e beleza formal, com
uma riqueza de tipologia e conceitos. Os escritos de Le Corbusier são essenciais no estudo do
movimento moderno, sua teoria se caracteriza pela tradição cartesiana e funcionalista francesa,
embora manifeste sua mentalidade classicista. Ao questionar as vanguardas arquitetônicas,
carregava o racionalismo e o determinismo. “O Modulor” representa referências classicistas de
composições e traçados, pensando no sistema industrial de produção para viabilizar as obras.
Frank Lloyd Wright é um contribuinte único para o movimento moderno já que começa a sua
colaboração cedo e coloca em crise os conceitos internacionalistas quando prega uma relação
íntima da arquitetura com o povo estadunidense. Seus conceitos procuram juntar as tecnologias
construtivas com o romantismo naturalista, criando assim uma identidade única ao construir nos
Estados Unidos da América. Lúcio Costa publica uma grande quantidade de artigos que
reinterpretam a arquitetura colonial brasileira e a cultura das belas artes.
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Siegfried Giedion: a construção de uma historiografia do movimento moderno
Siegfried Giedion estuda a história da arte e compara a transição entre o barroco e o
neoclassicismo romântico com a ascensão do movimento moderno e identificando nesses
momentos o começo da modernidade. Em 1923 estabeleceu uma relação próxima com a escola
Bauhaus, com Le Corbusier, Gropius e Moholy-Nagy. Assim Giedion se transforma de
observador da história da arte para agir e contribuir para o desenvolvimento da arte moderna. Sua
formação como engenheiro e historiador se mostrou oportuna na sua contribuição ao movimento,
visto que trouxe interpretações com viés artístico em relação ao cubismo. E por outro lado, a
ideia da mecanização e evolução tecnológica como fatores determinantes da criação artística e
arquitetônica. Giedion se provou um oportuno intermediário entre produtor e observador das
ideias que surgiam no início do movimento moderno.
A historiografia oficial da arquitetura moderna
Aborda a construção da historiografia oficial da arquitetura moderna, ressaltando a influência de
diversos estudiosos nesse processo. Sigfried Giedion e Nikolaus Pevsner são destacados como
figuras-chave, sendo que Pevsner, em seu livro "Os pioneiros do desenho moderno," desempenha
um papel crucial ao traçar a evolução da arquitetura moderna desde o barroco alemão até a
Bauhaus. Utilizando a expressão "movimento moderno" pela primeira vez, enfatiza a
importância da honestidade, tecnologia e espírito contemporâneo na arquitetura, incluindo o
papel da art nouveau e das estruturas metálicas.
Bruno Zevi, por sua vez, introduz o conceito de organicismo como uma alternativa ao
racionalismo, defendendo a arquitetura orgânica como uma maneira de superar as restrições da
ortodoxia moderna. Ele destaca a importância da espacialidade e do organicismo em seus textos,
como "Verso un’architettura orgânica" e "História da arquitetura moderna."
Outros estudiosos, como James Maude Richards, Henry-Russell Hitchcock, Gustav Adolf Platz,
e Walter Curt Behrendt, também são abordados. Richards, apesar de menos conhecido, foi um
defensor da arquitetura do movimento moderno, especialmente enfatizando a importância dos
centros cívicos e a consideração pelo "homem comum". Hitchcock, nos Estados Unidos,
introduziu a arquitetura moderna e, posteriormente, ampliou seu foco para incluir a arquitetura
latino-americana e o ecletismo do século XIX.
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A continuidade das interpretações da arquitetura moderna: Reyner Banham e Leonardo
Benevolo
Fala a continuidade das interpretações da arquitetura moderna através das análises de dois
estudiosos proeminentes no cenário pós-Segunda Guerra Mundial: Reyner Banham na
Grã-Bretanha e Leonardo Benevolo na Itália.
Reyner Banham, com formação em engenharia civil e mecânica de avião durante a Segunda
Guerra Mundial, ingressou no Courtauld Institute em Londres em 1948 e estudou História da
Arte com Anthony Blunt. Colaborou na The Architectural Review a partir de 1952 e obteve seu
doutoramento em História da Arquitetura Moderna com Nikolaus Pevsner. Seu livro "Teoria e
projeto na primeira era da máquina" (1960) é uma manifestação das contribuições de Pevsner e
Siegfried Giedion, destacando a similaridade entre produtos industriais e arte popular. Banham
enfatiza a máquina, a industrialização e a tecnologia como impulsionadoras inegáveis da
evolução da arquitetura moderna. Ele é conhecido por seu apoio ao funcionalismo radical de
Buckminster Fuller e por seu termo "novo brutalismo", destacando uma arquitetura mais
contundente estruturalmente, com uso de materiais brutos e exposição de instalações.
Banham defendeu suas ideias inovadoras, opondo-se ao formalismo maquinista de Le Corbusier,
e participou do Independent Groups em Londres em 1952. Ele também se destacou na defesa
de uma arquitetura nômade e efêmera, contribuindo para o grupo Archigram. Suas ideias
continuaram a influenciar a arquitetura high tech, sendo uma base teórica para escritórios como
Norman Foster e Richard Rogers.
Leonardo Benevolo, por outro lado, é apresentado como um continuador convicto das teses da
arquitetura moderna, combinando história e crítica com sua prática profissional como arquiteto e
urbanista. Seu enfoque é sociológico e tecnológico, baseado nas visões de Arnold Hauser e
Siegfried Giedion. Ele privilegia a gestão e a planificação, entendendo a arquitetura e o
urbanismo como partes integrantes da política.
Benevolo é autor de obras significativas, incluindo "Storia Dell’architettura del Rinascimento"
(1968) e "História da arquitetura moderna" (1960). Ele destaca as infraestruturas políticas e
econômicas como anteriores às superestruturas artísticas, adotando uma perspectiva marxista e
afastando-se dos conceitos idealistas de personalidade artística. Benevolo também contribui para
o ensino da arquitetura com obras como "Diseño de la ciudad" (1975).
Em resumo, Banham e Benevolo representam abordagens distintas, com Banham enfatizando a
tecnologia e a inovação, enquanto Benevolo adota uma perspectiva sociológica e tecnológica,
ancorada em premissas marxistas. Ambos contribuem significativamente para a compreensão e
interpretação da arquitetura moderna em seus respectivos contextos culturais.

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