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A Filosofia da Arte como campo de conhecimento da estética, refletindo sobre a percepção visual e a
experiência estética da arte da Pré-história ao Impressionismo.
PROPÓSITO
Compreender o conceito e a origem do termo “estética” para conhecimento das práticas da História e
Teoria da Arte no processo de seleção, valoração e percepção das artes visuais e da cultura de
imagens.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 3
Relacionar a cultura imagética contemporânea das redes sociais à experiência e percepção estéticas
INTRODUÇÃO
Neste tema veremos como a palavra “estética” é usada frequentemente em nosso cotidiano e como a
estética — conceito do âmbito da História e Teoria da Arte, particularmente da Filosofia da Arte — foi
constituída e utilizada para a experiência e valoração de obras e objetos de arte.
A arte também será apresentada como forma de expressão e cultura de todos os povos, sendo inerente
à própria existência da humanidade as atividades e os fazeres relacionados aos processos plástico-
visual como modos de comunicação e expressão.
MÓDULO 1
Reconhecer o conceito de estética e sua aplicação
Nada mais propício para iniciar um estudo sobre estética do que utilizar uma obra de arte como
exemplo e ponto de partida para os questionamentos que serão feitos adiante. Para isso, selecionamos
a obra Estrutura de caixas de fósforos (Figura 1), da artista brasileira Lygia Clark, produzida em 1964.
Lygia Pimentel Lins, mais conhecida no mundo artístico como Lygia Clark (1920-1988), nasceu em
Minas Gerais, em 1920, e iniciou seus estudos artísticos e sua produção em 1947. É responsável por
um conjunto significativo de obras — pinturas e esculturas — contemporâneas e de grande
representatividade da Arte Neoconcreta no Brasil. Ao lado de nomes como Amilcar de Castro (1920-
2002), Ferreira Gullar (1930-2016), Lygia Pape (1927-2004), participou da I Exposição de Arte
Neoconcreta, em 1959, quando foi assinado também o Manifesto Neoconcreto.
ARTE NEOCONCRETA
De fato, a palavra estética está intimamente associada à ideia de beleza. Cotidianamente ouvimos a
expressão estética para designar também processos e procedimentos associados à saúde e ao bem-
estar. Neste estudo, porém, nos interessa o conceito que foi constituído dentro da Filosofia,
particularmente com o propósito de compreender os fundamentos da arte no que tange à
percepção/recepção dos objetos e das produções artísticas.
(...) ‘FILOSOFIA OU TEORIA DO GOSTO, OU DA
PERCEPÇÃO DO BELO NA NATUREZA E NA ARTE’. FOI
UTILIZADO PELA PRIMEIRA VEZ EM MEADOS DO SÉCULO
XVIII PELO FILÓSOFO ALEMÃO ALEXANDER GOTTLIEB
BAUMGARTEN (1714-1762), QUE APLICOU COM
REFERÊNCIA À TEORIA DAS ARTES LIBERAIS OU À
CIÊNCIA DA BELEZA PERCEPTÍVEL. HOUVE MUITAS
CONTROVÉRSIAS ACERCA DA ABRANGÊNCIA E DA
UTILIDADE DO TERMO, E A ENCICLOPÉDIA DE
ARQUITETURA GWILT (1842) DEFINIU AINDA COMO
‘TERMO TOLO E PEDANTE’ E COM UM DOS MAIS ‘INÚTEIS
ACRÉSCIMOS À NOMENCLATURA DAS ARTES’ QUE
FORAM INTRODUZIDOS PELOS ALEMÃES. O SÉCULO XX
NÃO CONHECEU AINDA CONCÓRDIA ACERCA DO OBJETO
DA ESTÉTICA FILOSÓFICA, MAS ESTA É TIDA
GERALMENTE COMO MAIS ABRANGENTE QUE A TEORIA
DAS BELAS-ARTES, INCLUINDO TAMBÉM UMA TEORIA DA
BELEZA NATURAL E DA BELEZA NÃO PERCEPTÍVEL
(MORAL OU INTELECTUAL), NA MEDIDA EM QUE ESTAS
SÃO CONSIDERADAS PASSÍVEIS DE ESTUDO FILOSÓFICO
OU CIENTÍFICO (CHILVERS, 2001).
Embora o conceito de estética seja oriundo do século XVIII, em virtude do esforço de Baumgarten em
associar este a um ramo da Filosofia, antes disso já tínhamos esforços significativos de qualificação,
valoração e juízos estéticos das obras da arte. Exemplos disso são os escritos do pintor e arquiteto
Giorgio Vasari (1511-1574), considerado até os dias atuais uma das principais fontes de estudo e
referência sobre o “nascimento” da História da Arte e o método de escrita assentado na tradição de
biografias. Além de seus trabalhos artísticos, sua obra mais conhecida refere-se à biografia de artistas
italianos que ele escreveu, sob o título Le vite , publicada pela primeira vez em 1550, consagrando a ele
o “título” de primeiro historiador da arte.
Fonte: muratart/Shutterstock.com
Batistério de Florença - vista do teto de mosaico. Um dos edifícios mais antigos da cidade,
construído entre 1059 e 1128.
Fonte: PhotoItaliaStudio/Shutterstock.com
Juízo Final , de Michelangelo – Visão da Capela Sistina, no Vaticano.
Fonte: Museu do Prado/Wikimedia Commons/Domínio Público
O Jardim das Delícias Terrenas , por Hieronymus Bosch
Nas Vite , em edições em 1550 e 1568, Vasari apresenta um método que reside no entendimento de
que os “desenvolvimentos da arte, como os corpos humanos, têm o nascer, o crescer, o envelhecer e o
morrer” (ARGAN, 1994) que vai do pintor florentino Cimabue (1420-1302) ao pintor, da província de
Arezzo, Michelangelo (1475-1564). Essa tradição de uma literatura “de vidas”, como também vimos na
esfera artística, apesar de importante, não deixará de receber críticas e resultará em novas proposições
teóricas e metodológicas.
Mais tarde, no século XVII, a contribuição de Giovanni Pietro Bellori (1613-1696) traz à tona um novo
método, outra perspectiva de estudo, agora com um programa de dimensão eclética “com uma
formulação ideal que chegará até o neoclássico Winckelmann (1717-1768)”, vigorado com as “lógicas
de categorias mentais” (ARGAN, 1994), em que as biografias apenas corroboram a importância do
método, mas não determinam os rumos da História da Arte. É o método com “discurso” e intensas
descrições das obras que ganha espaço com a proposição de Bellori, prenúncio das questões que serão
enfrentadas no século XVIII no campo artístico.
Foi um biógrafo e teórico da arte italiano, também conhecido como Gian Pietro Bellori ou Giovan
Pietro Bellori. Destaca-se seu trabalho como biógrafo dos artistas barrocos, sendo comparado com
o de Vasari sobre os renascentistas.
WINCKELMANN
O autor alemão Johann Joachim Winckelmann é considerado o pai da História da Arte, saindo com
sua análise das disputas entre a técnica e a razão pura de ingleses e franceses, para relacionar a
produção artística ao contexto de produção.
A partir do século XVIII, os estudos da arte ganham novas dimensões, para Argan (1994), com dois
caminhos e paralelos. Há o entendimento sobre o nascimento da História da Arte como disciplina
autônoma, cuja compreensão deve-se à sua constituição neste século e aos estudos empreendidos pelo
historiador da arte e arqueólogo alemão Winckelmann. Ainda, a ideia de um “valor sugestivo da obra
artística” e uma teoria da beleza, que desencadeia o nascimento da estética, uma ciência nova liberada
por Baumgarten, com a obra Aesthetica , de 1750-1758, e situa o “desenvolvimento da arte como
território do belo e da forma” (ARGAN, 1994).
É o início do movimento científico relativo à área da estética e Ciências da Arte, que teve início na
Alemanha, em meados do século XVIII, determinado pela estética e pela História da Arte, a partir de
duas correntes:
Fonte: Shutterstock.com
CORRENTE HISTÓRICA
Fonte: Shutterstock.com
CORRENTE TEÓRICA
Conduzida pelo filósofo e crítico de arte alemão Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781). Lessing não só
reaproxima sua discussão dos iluministas e de suas visões, como também aproxima o pensamento da
História da Arte do racionalismo predominante entre esses autores.
Sem a contribuição feita por Kant isso não seria possível, mas a obra de Baumgarten, particularmente
seu esforço para construir esse novo campo de conhecimento sobre as artes, considera a beleza como
uma das características possíveis da manifestação sensível dos objetos.
A beleza era, assim, uma das formas da verdade, sendo percebida como o modo mais marcante do
conhecimento sensível, ao passo que a estética era, então, uma teoria do belo.
Voltando para a obra Estrutura da caixa de fósforos , de Lygia Clark, vemos que a ausência de uma
forma ou de imagens figurativas que possam nos remeter a lembranças, locais ou temas familiares,
provoca inquietações relacionadas à compreensão do que é arte. Mais que isso: como um objeto
utilitário e do cotidiano pode ser transformado em arte?
Por tratar-se de uma obra contemporânea, não é nesse tipo de produção artística que Baumgarten
funda suas teorias, mas certamente as transformações ocorridas na área artística — da produção, da
exposição, da apreciação e da experiência estética — provocaram muitos debates sobre a teoria do
belo e o entendimento de arte/obra de arte, particularmente com o advento da arte moderna.
Fonte: Wikiart
Bicho , Lygia Clark, 1960.
SAIBA MAIS
Bicho, obra de 1960, é outra importante referência da escultura produzida pela artista, que trabalha
extraordinariamente com a maleabilidade dos materiais, como chapas de aço, cobre, entre outros.
ATENÇÃO
Foi o trabalho do filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804) que proporcionou a base da formação
do campo da estética, centrado nas questões concernentes aos juízos de valores da arte e, sobretudo,
centrado na recepção/contemplação, que embasará muitos estudos posteriores acerca da teoria da arte
e da beleza.
Para isso, vamos compreender como a produção artística, sustentada por “juízos estéticos” de cada
época e pela ideia de beleza, contribuiu para a constituição da narrativa histórica e artística que chegou
aos dias atuais. Vamos tomar como exemplo a Antiguidade — arte egípcia, arte grega e romana — e
como algumas premissas canônicas tornaram-se, posteriormente, relevantes no âmbito de investigação
da estética.
A ANTIGUIDADE ORIENTAL
Fonte: MykReeve/Wikimedia commons/Licença CC BY-SA 3.0
Máscara funerária de Tutancâmon
Comecemos pela arte egípcia, sinônimo de uma “arte para a eternidade”, termo usado pelo historiador
da arte vianense Ernst Gombrich (1909-2001). De fato, esse termo é bastante apropriado, pois a “a arte
existia para garantir a continuidade da vida” (GOMBRICH, 2012). Em diferentes suportes — pedras,
terra, ferro etc. — era uma arte “memorial”, “religiosa” e “ritualística”, ligada às convicções sagradas. Na
arte egípcia, os objetos artísticos tinham a função de estabelecer a manutenção da força vital,
uma vez que os egípcios acreditavam que além do corpo visível existia uma força vital.
A ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Fonte: Gliptoteca de Munique/Wikimedia commons/Domínio público
Afrodite Braschi , uma das várias cópias conhecidas da Afrodite de Cnido , de Praxiteles, 345 a.C.,
que criou um cânone de beleza feminina.
As civilizações gregas e romanas desempenharam papel de destaque. A arte grega seria mais flexível
na construção plástica da obra, mas manteria os mesmos repertórios (temas/motivos). Veremos, em
todos os períodos, divindades como Atenas, Zeus etc. Na arte grega, a busca pela mutabilidade
estava na forma, não no tema, ou seja, “uma mutabilidade dentro de um quadro de permanência”. A
preocupação dos artistas não estava apenas na representação do corpo humano em determinado
espaço, mas na busca pela representação do corpo dentro de um ideal de beleza, com movimento livre
do corpo humano no espaço, em que a “mimese” – mímesis ou mimésis , termo grego, usado no
âmbito da Filosofia e da História da Arte, para designar a “ideia” de imitação, representação/assemelhar,
entre outros –, não era apenas da particularidade ou individualidade do homem, mas do funcionamento
do seu corpo humano. A arte romana, com a ascensão do Império Romano, assumiu um aspecto mais
popular, “colocando os ideais clássicos de lado”. Ainda assim, será uma produção de grande relevância
e extraordinariamente realista.
Esses dois momentos tornaram-se cruciais para a História e a Teoria da Arte, pois a cultura greco-
romana foi responsável, na arte da civilização ocidental, pelo grande paradigma do mundo clássico,
que perdurou por muitos anos. Somente no final do século XIX — com os questionamentos do
Neoclassicismo — e no século XX — com os movimentos de vanguarda dos “ismos”: Surrealismo,
Dadaísmo, Expressionismo, Futurismo, entre outros — que se buscará romper e se opor a esse
paradigma.
Ao lado da autonomia da arte — com a constituição da História da Arte no século XVIII —, a estética
fundará sua teoria baseada na ideia de beleza. Por isso, o paradigma do mundo clássico será um
importante ponto de partida.
E o que é ser um paradigma? É tornar-se referência, exemplo, modelo, inspiração. A cultura greco-
romana — isso porque aprendemos sobre os gregos por meio das cópias feitas pelos romanos —
tornou-se o ponto principal da investigação sobre as intenções artísticas e as soluções formais para a
fundamentação das teorias da arte.
Para exemplificar melhor, vejamos a escultura grega Laocoonte e seus filhos (Figuras 2a e 2b).
O grupo escultórico Laocoonte foi descoberto em 1506 e representa uma terrível cena. Segundo
Gombrich (2012):
[...] O SACERDOTE TROIANO LAOCOONTE ADVERTIU SEUS
COMPATRIOTAS PARA NÃO ACEITAREM O CAVALO DE
MADEIRA ONDE SE ESCONDIAM OS SOLDADOS GREGOS.
OS DEUSES, VENDO CONTRARIADOS OS SEUS PLANOS
DE DESTRUIÇÃO DE TROIA, ENVIARAM DUAS
GIGANTESCAS SERPENTES-DO-MAR QUE ENVOLVERAM O
SACERDOTE E SEUS DOIS INFELIZES FILHOS EM SEUS
ANÉIS E OS ESTRANGULARAM.
A habilidade clara do escultor está presente na maneira de “narrar visualmente essa tragédia”, ou seja,
nas expressões impressas nos rostos, no contorno dos corpos e na musculatura — em um instante de
luta — ao mesmo tempo em que “capta” a cena da tragédia. Observe que a escultura tem capacidade
de tensionar também nosso corpo, como se pudéssemos “sentir” a força da luta e do estrangulamento.
Essa foi evidentemente uma marca “clássica” e também helenística da arte grega — dado o período em
que foi criada, 175-150 a.C. —, em que o corpo ganha movimento, o instante da cena é capturado, as
diversas influências, o trabalho da musculatura, os panejamentos e as expressões, entre outros.
A escultura é poética, narra uma tragédia e marca a História da Arte com um enorme salto na produção
artística. A concepção plástica da forma dá vida ao movimento, a consciência corporal e espacial prende
a atenção do espectador. A busca pela definição desse lugar da arte, do propósito, da intenção plástica
de quem produz e o sentimento que ela causa, foi o ponto crucial da busca pela definição da estética
como disciplina e da necessidade da constituição do campo da História e Teoria da Arte e da autonomia
da arte. A arte não é mais um simples ofício, ela é capaz de provocar sensações e reações.
SAIBA MAIS
A razão pela qual a arte grega da Antiguidade ficou conhecida como a “busca pela idealização da forma
humana” foi tornar “o homem a medida de todas as coisas” (STRICKLAND, 2014), cujos preceitos
sobreviveram por muitos anos. Não à toa, para os movimentos de vanguarda da arte do século XX, o
fundamental seria romper com o “clássico”.
“Os mestres gregos foram à escola com os egípcios, e todos nós somos discípulos dos gregos. Assim, a
arte do Egito reveste-se de tremenda importância para nós” (GOMBRICH, 2012), pois os egípcios
entendiam como ninguém do corpo humano, fato disso é a cultura dos sarcófagos para preservação do
corpo (ou a alma/Ka) depois da morte.
KA
Denominado pelos egípcios como uma espécie de duplo, de alma, que existia nos homens e nos
deuses e que, por isso, era preciso manter uma “residência” para ele, como, por exemplo,
conservar os corpos, reproduzir imagens em esculturas ou afrescos.
Sabemos que os seres humanos criaram objetos e registros visuais relativos e necessários ao seu
cotidiano, como também utilizaram essa linguagem para demonstrar seus sentimentos. Por isso,
construir uma “autobiografia, não por ações e palavras, mas pela arte” (RUSKIN apud SANTOS, 2012)
da humanidade, é o objetivo central da História da Arte.
Se você está se perguntando como diferenciar uma coisa da outra — por exemplo, um objeto comum de
um registro visual, uma arquitetura civil de uma militar, e quais as razões/motivações que justificaram
suas produções e a importância atribuída a elas ao longo da história —, você está no caminho correto
para compreender a constituição da História da Arte como um campo de práticas e saberes. Logo, uma
área dentro do pensamento humanístico destinada especialmente a “desvendar” esse fazer arte dentro
das necessidades e dos desejos exclusivamente humanos.
Agora, se você está se perguntando por que uma obra é considerada arte e por que algumas, por vezes
“estranhas”, ganham grande notoriedade e rentabilidade no mundo da arte, você caminha para entender
a prática artística em diferentes épocas e o sistema da arte.
Fonte: Daniel Stockman/wikimedia Commons/Licença CC BY-SA 2.0
O pensador , de Rodin.
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QUAL A RELAÇÃO DA ARTE COM A CULTURA?
De maneira objetiva, podemos responder a esses questionamentos afirmando que a História da Arte é
uma “fórmula que remete tanto às obras e imagens que se sucederam na história da humanidade
quanto à disciplina que elabora um conhecimento baseado na análise descritiva e interpretativa
delas” (HUCHET, 2014, grifo nosso).
Logo, a produção de objetos estéticos e de uso no cotidiano está presente em todas as civilizações, por
tratar-se de uma atividade exclusivamente humana. É importante ainda destacar que não conhecemos a
arte apenas pelo estudo formal das obras, isto é, descrição de sua composição, dos itens que a
conformam em determinados espaços, ou mesmo suas soluções técnicas e materiais. O conhecimento
da arte, por meio de sua história, exige, sobretudo, um “estudo aprofundado das ideias artísticas ”.
Isso significa reflexão crítica própria de cada época, isto é, dos conceitos , do posicionamento das
pessoas envolvidas na vida artística, na difusão, na circulação, na recepção e nos diversos juízos
proferidos acerca de determinada obra ou imagem. Isso gerou o que foi chamado de “literatura
artística” (HUCHET, 2014).
LITERATURA ARTÍSTICA
ATENÇÃO
Desvendar a “gramática” de um objeto artístico é imaginar como seria viver na época de sua
concepção/construção: quais mãos o fizeram, por que são feitos de maneiras distintas na mesma época
ou semelhantes em época diferentes, de onde veio o que, quais materiais e técnicas, quais eram as
referências e motivações para sua elaboração, são parte dos questionamentos e desafios dos
historiadores e estudiosos da arte.
A arte representa uma parcela significativa da cultura dos povos, pois exprime suas memórias, suas
identidades, seus fazeres e saberes, suas narrativas sociopolíticas e ainda se tornam, por vezes,
instrumentos importantes de referência cultural e afirmação identitária.
A arte (o produto, o processo, o criador) é o objeto de estudo central da História e Teoria da Arte, onde
se inclui a estética com as investigações dos juízos críticos e a recepção/apreciação.
Gombrich destaca que, em arte, o que existe são artistas. E que desde a utilização da terra em cavernas
à pintura de tapumes, as imagens produzidas ganham significado importante para a compreensão do
homem e da humanidade. Ele nos alerta ainda que gosto e beleza variam muito. Quando a arte (as
obras) de diferentes períodos é interpretada à luz de conceitos como beleza e gosto, vemos que as
soluções dadas (as expressões apresentadas) em muitas obras nos causam diferentes percepções,
ainda que elas reservem proximidades.
Veja o exemplo de uma pintura de temática “natureza-morta”. Por definição, esse tipo de pintura
caracteriza-se por objetos e coisas inanimados. Desde a Idade Média, em geral como fundo de pinturas
religiosas de cunho realista, se vê a representação de animais, flores e frutas. Na Figura 3, vemos
Natureza-morta com frutas , de Caravaggio; e na Figura 4, Natureza-morta com vaso de gengibre I , de
Piet Mondrian.
Fonte: Wikiart
Figura 3: Natureza-morta com frutas , Caravaggio, 1603.
Fonte: Wikiart
Figura 4: Natureza-morta com vaso de Gengibre I , Piet Mondrian, 1911.
Fonte: Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia/Wikimedia commons/Domínio Público
Violão e jornal , por Juan Gris
A comparação pela temática aponta as especificidades de cada obra, com soluções plástico-visuais
inerentes à arte e aos artistas de seu tempo. Uma dentro de uma tradição do clássico e outra moderna,
em que a expressão de cada período está posta na solução da composição que cada artista apresenta.
Uma com clara definição dos objetos e uso do claro-escuro como marca do Barroco, e outra com a
abstração geométrica que nos faz reconhecer alguns elementos, mas também provoca uma mistura de
sensações visuais pela definição/indefinição dos objetos, com síntese das informações, marca da arte
moderna.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A PARTIR DOS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS SOBRE O CONCEITO DE
ESTÉTICA, JULGUE CADA AFIRMATIVA A SEGUIR COMO VERDADEIRA (V) OU
FALSA (F), E EM SEGUIDA ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) V-V-V-F
B) V-V-F-V
C) F-V-F-V
D) V-F-F-V
E) F-V- F- F
2. CESPE (SEDUC/AL) 2018 – ADAPTADO. A PARTIR DOS CONHECIMENTOS
ADQUIRIDOS SOBRE O CONCEITO DE ESTÉTICA COMO A NATUREZA DO BELO
E EXPRESSÃO DA ARTE, JULGUE CADA AFIRMATIVA A SEGUIR COMO
VERDADEIRA (V) OU FALSA (F), E EM SEGUIDA ASSINALE A ALTERNATIVA
CORRETA:
A) F-V-V-F
B) V-V-F-V
C) F-V-V-V
D) F-F-F-V
E) F-F-V-F
GABARITO
1. A partir dos conhecimentos adquiridos sobre o conceito de estética, julgue cada afirmativa a
seguir como verdadeira (V) ou falsa (F), e em seguida assinale a alternativa correta:
Do grego aisthésis , a palavra “estética” é definida etimologicamente também como
“sensibilidade”, “percepção” e “sensação”.
Foi utilizado pela primeira vez em meados do século XVIII pelo filósofo alemão Alexander
Gottlieb Baumgarten (1714-1762).
No estudo das artes, restringe-se aos aspectos materiais e perceptíveis das obras a partir
da harmonia das formas, e o equilíbrio da paleta de cores.
Conforme Chilvers (2001), o objeto da estética é mais abrangente, contemplando a beleza “não
perceptível”, entendida em seu trabalho como a beleza moral e intelectual. Por conseguinte, no estudo
das artes, a estética considera não só as questões formais das obras, como também os contextos
socioculturais.
2. CESPE (SEDUC/AL) 2018 – Adaptado. A partir dos conhecimentos adquiridos sobre o conceito
de estética como a natureza do belo e expressão da arte, julgue cada afirmativa a seguir como
verdadeira (V) ou falsa (F), e em seguida assinale a alternativa correta:
Filosofia do belo na arte compreende o estudo das obras de arte e o conhecimento dos
aspectos da realidade sensorial classificável em termos de belo ou feio, bom ou ruim.
A um objeto ou fenômeno que instiga a sensação de prazer damos os nomes de belo, bonito
e beleza.
MÓDULO 2
Analisar a produção artística e sua relação com a estética ao longo do tempo
Neste módulo veremos pequenas sínteses históricas e artísticas sobre a produção de imagens,
esculturas, pinturas e desenhos, como instrumentos importantes para a consolidação do campo de
estudo da estética, especialmente por tratar-se de objetos de estudo inerentes a essa área.
É importante notar que é um exercício de visualidade estética e não efetivamente o local para o
conhecimento dessas manifestações artísticas. Então, temos um trinômio pelo qual precisamos que
você navegue: Identidade – Poder – Valor. Esteja sempre atento a esse trinômio!
Em algumas regiões do mundo, às margens de rios como o Nilo (Egito), o Tigre, o Eufrates, por volta de
4.000 a.C., que não tinham ligação entre si, apareceu a escrita, dando início ao chamado período
Histórico (civilização histórica).
PERÍODO HISTÓRICO
Mesmo sendo o mais longo período da história da humanidade, pouco sabemos como a produção
dessas imagens começou, bem como as motivações que levaram os homens a registrar figuras e
grafismos, especialmente em grutas e cavernas onde habitavam. O que temos são datações —
relativamente seguras — a partir de restos materiais e pictóricos (arte rupestre, ossos, madeiras,
pigmentos) realizados por meio do uso de radiocarbono.
A descoberta dessas cavernas ocorreu somente em 1940, porém em um momento em que essas
pinturas passaram a ser de interesse de grande parte dos arqueólogos e pesquisadores da Pré-história
pelo mundo todo. O local foi encontrado pelos jovens Marcel Ravidat, Jacques Marsal, Georges Agnel e
Simon Coencas, sendo mais tarde visitado pelo arqueólogo francês Henri Breuil, juntamente com outros
especialistas.
Fonte: thipjang/Shutterstock.com
Figura 10: Vista interna de Lascaux IV.
Fonte: Shutterstock.com
Figuras 11: Touro da “Sala dos Touros”.
Fonte: Ministério da Cultura da França
Figuras 12: Cavalo chinês.
Outro exemplo desse período é a primeira estatueta (Figura 13), um artefato pré-histórico que foi achado
na Gruta de Pape, em Brassempouy, no sul da França, em 1984. Trata-se de uma miniatura de busto
feminino, esculpida em marfim de mamute, embora seja classificada museologicamente como uma
miniestátua de Vênus. Atualmente pertence ao acervo do Museu de Antiguidades Nacionais da França.
Sobre a Antiguidade, que pode ser entendida pela arte oriental — arte egípcia — e clássica — grega e
romana , se lhe fosse perguntado como você poderia definir a arte desse período, uma boa definição
seria: “a arte existia para garantir a continuidade da vida.” Isso justifica a expressão “arte para a
eternidade” utilizada por Gombrich, já destacada.
Podemos dizer que esses suportes materiais, tais como pedras, terra, ferro etc. eram utilizados na
produção de arte egípcia como uma forma de continuidade da vida, especialmente após a morte. Trata-
se, portanto, de uma arte bastante “memorial”, “religiosa” e “ritualística”, ligada às convicções sagradas
daquelas sociedades e basicamente divididas em três períodos históricos: o Antigo Império, o Médio
Império e o Novo Império. “Uma civilização que se estendeu por três milênios, liderada por trinta
dinastias de faraós” (FAURE, 2017).
Se anteriormente, na arte pré-histórica, vimos propósitos — ainda que em termos de conjectura, uma
vez que sabemos pouco sobre as motivações das criações artísticas das sociedades pré-históricas —
de transmitir uma ideia, capturar a aparência “real” de um cotidiano — como a representação e
modelação de quadrúpedes em grandes dimensões —, na arte egípcia veremos que a função dos
objetos artísticos estava ligada à manutenção da força vital.
IMPORTANTE
IMPORTANTE:
Não confundir com o termo Realismo, que foi um movimento artístico e literário do século XIX,
utilizado pela História da Arte para “classificar” a produção pictórica desse período, especialmente
aquela dedicada a retratar a vida, o cotidiano dos interiores, as críticas sociais, entre outros temas
que haviam sido pouco ou quase nada utilizados em modelos do passado.
Os egípcios acreditavam que, além do corpo visível, existia uma força vital — uma espécie de duplo, de
alma, que eles chamavam de Ka — que existia nos homens e nos deuses e que, por isso, era preciso
manter uma “residência” para ele, como conservar corpos, reproduzir imagens em esculturas ou
afrescos.
Na Figura 14, vemos a representação de duas mãos fixadas em cima da cabeça do faraó Hórus, que é o
símbolo da representação do Ka . Os braços, com as mãos elevadas para o alto, um ao lado do outro, é
a maneira como o Ka é representado no hieróglifo egípcio e que vemos em muitas esculturas, gravuras
e pinturas.
Esse e tantos outros enigmas foram considerados mais tarde, pelos gregos, o grande conhecimento, ou
seja, na Grécia tinha-se a crença de que quem decifrasse o enigma do Egito teria o conhecimento
universal. Foi em regiões em torno da bacia do mar Mediterrâneo que as atividades comerciais se
iniciaram, assim como as políticas de conquista impulsionaram o diálogo entre essas civilizações, como
dos egípcios com os gregos.
Podemos dizer que, se o rio Nilo não existisse, possivelmente não teríamos o Egito. Ainda nessas
regiões e em tantas outras, às margens de rios como o Tigre e o Eufrates, vimos o surgimento da
escrita, por volta de 4.000 a.C., dado o desenvolvimento da economia e da sociedade que ocorria no
Oriente Médio. Deve-se, portanto, aos sumérios, na Mesopotâmia, o desenvolvimento da escrita silábica
para representar a língua falada daqueles povos.
Paralelamente temos também o surgimento da escrita por hieróglifo no Egito Antigo, como o caso do
símbolo do Ka e sua relação com a vida “artística e espiritual” egípcia. Sabe-se que grande parte da
história do Egito é conhecida (ou ficou amplamente conhecida) pelas construções de pirâmides. A maior
e mais conhecida é a pirâmide de Quéops, ou Grande Pirâmide de Gizé (Figura 15).
A pirâmide de Quéops, até o século XIX, era considerada o maior e mais alto monumento construído
pelo homem, isso porque perdeu seu posto com a construção da Torre Eiffel, em Paris, entre 1887 e
1889.
Na escultura do escriba sentado — pessoa que tinha conhecimento da escrita em hieróglifo e hierático
— (Figura 16), outro exemplo egípcio, vemos o uso da lei da frontalidade e do complemento — embora
este último seja um preceito mais usado na pintura de afrescos. A maneira como a saia do escriba está
esculpida nos informa sobre a totalidade da peça, ou seja, não é preciso circulá-la para entendê-la.
A proporcionalidade também se faz presente, uma vez que, embora apresente por completo cabeça e
tronco, o ângulo das pernas “conduz nossa visão” a uma leitura proporcional do conjunto. É como se
fosse possível “saber” o tamanho dele, mesmo com as pernas cruzadas, com apenas a parte de um dos
pés. As cores também correspondem aos preceitos canônicos da arte egípcia, como o uso de branco
para vestes de sacerdotes, a pele em tom de vermelho/ocre mais escuro, o preto nos olhos e no cabelo.
A arte grega conta com preceitos que justificam/orientam a sua produção, dependendo do período e das
condições sociopolíticas. Contudo, ao contrário da arte egípcia, era mais flexível na construção plástica
da obra, mas mantinha os mesmos repertórios (temas/motivos), como veremos em todos os períodos:
divindades como Atenas, Zeus etc.
A busca pela mutabilidade estava na forma, não no tema, ou seja, “uma mutabilidade dentro de um
quadro de permanência”. A produção artística da Antiguidade Grega, portanto, pode ser dividida em três
períodos:
Apresenta uma arte muito próxima à produção dos egípcios. Nesse período veremos uma produção de
escultura mais monumental, isso em termos de escala (dimensão), grande parte feita em calcário para
ornar os templos, construídos em pedras. Serão usuais as esculturas votivas — oferendas religiosas —
femininas, conhecidas por kore (Korai no plural) (jovens vestidas, quando a “regra” é a túnica), e as
masculinas, chamadas de kouros (Kouroi no plural) (jovens desnudos, quando a “regra” é a nudez).
2. CLÁSSICO (450 A.C-323 A.C)
Conhecido também como “síntese grega”. Uma data importante para definição desse período na arte
será a morte de Alexandre Magno e a incorporação pelo Império Romano. Veremos uma arte em um
“alto estágio de mimese”, com estudo maior da musculatura, atenção especial aos mantos e
panejamentos, perda definitiva do cânone da frontalidade, com movimentos e acabamentos por toda
parte da escultura, para que a obra pudesse ser apreciada de todos os ângulos. Também será o início
de uma arte mais retratista ou “realista”
Fonte: Adrian Pingstone/Wikimedia Commons/Domínio Público
FRONTALIDADE
As esculturas Cleobis e Bitão (Figura 5), em grego Kléobi kai Bítona , dois Kouroi votivos, jovens
gêmeos que se sacrificaram pela deusa Hera, encontram-se atualmente no Museu Arqueológico de
Delfos, região onde foram encontradas durante as escavações arqueológicas de 1893 e 1894. Possuem
identificação na base que remetem à escola arcaica, contudo é possível claramente associá-las a esse
período, dado o uso da regra de composição da frontalidade, dos braços alinhados ao corpo e dos pés
— “um de apoio e outro de descanso” — como será recorrente na produção escultórica desse período.
A arte romana, por sua vez, é herdeira da arte grega, embora ambas guardem concepções diferentes,
especialmente na representação do corpo humano — que, para os gregos, deve ser espaço dos ideais
de beleza, e, para os romanos, aquilo que nos identifica com o realismo. Trata-se de arte centrada em
uma “realidade retratista”, como a concepção dos deuses Lares, das obras de engenharias e militares,
além da constituição das primeiras coleções de arte grega pelos romanos.
Outro exemplo importante que guarda as “marcas dos empreendimentos romanos” é o Arco de
Constantino (Figura 6) e todos os outros arcos feitos nesse período. Deve-se a eles a incorporação
desse monumento no contexto das cidades, como em Roma, onde existem cinco: Druso, Tito, Septímio
Severo, Galiano e Constantino. Eles foram construídos para representar os triunfos das batalhas e para
homenagear o exército romano diante das conquistas territoriais.
Fonte: Wknight94/Wikimedia Commons/Licença CC BY-SA 3.0
Figura 6: Arco de Constantino .
SAIBA MAIS
A arte do período que compreende aproximadamente 13 séculos, entre o I ao XIII d.C, considerando
suas especificidades e funcionalidades que marcaram, sobretudo, a Igreja Católica e seu papel de
“mecenas” nesse contexto — uma vez que a partir de 380 d.C. o Cristianismo tornou-se a religião oficial
do Império —, chama-se Idade Média. As produções em que “o centro de gravidade da civilização
europeia desviara-se para o que havia sido os limites do norte do mundo romano” (JANSON, 2001).
Não que a estética deste período não seja importante, mas a construção de pensamento da estética
ocidental passará pela necessária recuperação dos elementos estéticos da Grécia e de Roma.
RENASCIMENTO
No Renascimento, ao contrário do que vimos até aqui, dois componentes foram determinantes para os
rumos das artes a partir de agora, a saber:
Individualismo
Humanismo
Crê na importância e na busca do aprendizado em línguas e letras, como história e filosofia, ou seja,
uma “era dos eruditos, dos líderes intelectuais”.
Não por acaso, os humanistas foram os responsáveis por essa importante transformação na área
cultural, que ficou conhecida como Renascimento.
[...] APESAR DA IDEIA DE RETORNO AO PASSADO, O
MOVIMENTO CONHECIDO POR ESSE NOME NADA POSSUÍA
DE NOSTÁLGICO. ERA, NA VERDADE, PORTADOR DE UM
ACENTUADO SENTIMENTO DE SUPERIORIDADE EM
RELAÇÃO AOS SÉCULOS PRECEDENTES, ACOMPANHADO
DE ATITUDE DE SUBSTANCIAL OTIMISMO DIANTE DO
PRESENTE DO FUTURO.
(BYINGTON, 2009)
Ou seja, um passado não para ser copiado/imitado, mas para servir de fonte de inspiração para a busca
por novas formas, especialmente na compreensão e no estudo de como “buscá-las”.
O retrato de Luca Pacioli (figura 7) – um frade matemático —, feito por Jacopo de Barbari — pintor
italiano, que ganhou notoriedade na Alemanha, por volta de 1500 —, ilustra bem os esclarecimentos
feitos por Byington, especialmente nos destaques que diz sobre a mudança cultural ocorrida nesse
momento, com a promoção social das artes, especialmente dos artistas, e a “busca pelo conhecimento”,
que não será apenas retratada/demonstrada amplamente na pintura, como também colocada em
prática.
A imagem será instrumento importante dessa nova conquista social, especialmente territorial e de
demonstração de um novo momento. Como veremos, a partir do Renascimento surge a apresentação
de cartas náuticas — vide a realização de grandes expedições, como o mapa do mundo feito por
Cantino, em 1502 (Figura 8).
Fonte: Uffizi/Wikimedia Commons/Domínio Público
Figura 9: Madonna com pescoço longo, por Parmigianino Mazzola
Do ponto de vista de duração desse movimento histórico e cultural, podemos utilizar como referência o
final do século XIV — com o gótico tardio internacional — até meados do século XVI — início do
Maneirismo, que culminaria no Barroco (Figura 9) —, período relativamente pequeno — isso se
compararmos a outros. Porém, extremamente rico em termos de soluções visuais, especialmente no
campo da pintura e da escultura, e de inovações técnicas e tecnológicas.
ESTÉTICA DO NEOCLASSICISMO AO
IMPRESSIONISMO
NEOCLASSICISMO
É um movimento originado na Itália, no século XVIII, e destinado a combater o “mau gosto” barroco.
Visava substituir o rebuscamento e a exuberância da produção artística seiscentista pela simplicidade
estilística e pela imitação da natureza.
Assim, a produção artística do período buscava a objetividade, o que implicava, primeiro, a neutralização
da individualidade do artista, que passa a recorrer a situações e emoções genéricas nas quais sua
emoção se dissolva. Segundo, o equilíbrio e a simetria da obra, cuja inspiração passa a ser a própria
natureza, concebida como cosmos, ou seja, como a relação harmônica de todos os elementos, modelo
de equilíbrio que a arte deve reproduzir.
Fonte: Museus Reais de Belas-Artes da Bélgica/Wikimedia Commons/Domínio Público
A Morte de Marat , Jacques-Louis David, 1793.
COMENTÁRIO
A originalidade, tão apreciada e valorizada para os artistas românticos, não tem valor para os
neoclássicos, para os quais a conformidade com o modelo antigo constitui motivo de avaliação de mérito
e juízo de valor. Portanto, a Antiguidade fornece aos neoclássicos a solução para o problema da forma.
A recepção é assegurada pelo uso de temas clássicos, mitos e histórias antigas que constituíam, na
época, uma linguagem universal, com ressonância assegurada por parte de um público leitor versado
em educação humanística constituída por elementos da cultura greco-latina.
A tônica da obra neoclássica a ser atingida é a ordem, a clareza e a lógica. São características:
PREDOMÍNIO DA RAZÃO
BUSCA DE OBJETIVIDADE
CULTO À NATUREZA
ROMANTISMO
Com o Romantismo, por sua vez, na segunda metade do século XVIII, ocorreu uma extraordinária
transformação na vida sociocultural do Ocidente, com o surgimento da burguesia moderna e, com ela, a
defesa do individualismo e da valorização da originalidade. A repercussão do Romantismo só pode ser
compreendida considerando que, nesse momento, surge, um público leitor e um mercado artístico mais
amplo. Além disso, a educação da mulher como leitora só se iniciaria no século XVIII. Por essa razão, o
Romantismo conta com um público novo para uma arte nova, produzida por uma classe em ascensão
que se assume como sentimental e exaltada, em oposição a uma aristocracia reservada e contida.
A ascensão da burguesia é acompanhada de um padrão estético próprio, por meio do qual ela se opõe
aos padrões da arte neoclássica e afirma sua própria linguagem artística. À razão e ao decoro,
contrapõem-se a emoção e o sentimento; à submissão rigorosa das regras artísticas, opõe-se a
insubordinação do gênio criador. O surgimento da burguesia como classe ascendente e a manifestação
do espírito romântico constituem fenômenos inseparáveis.
INDIVIDUALISMO
MELANCOLIA
VALORIZAÇÃO DA IMAGINAÇÃO
CULTO À NATUREZA
NACIONALISMO
REALISMO E NATURALISMO
Na segunda metade do século XIX, com o Realismo, a burguesia consolidava plenamente seu poder
político. O triunfo do progressivo domínio do homem sobre a técnica conduziu a um avanço científico
inigualável. A expansão da industrialização na Europa promove o surgimento da classe operária, o
proletariado, que passa a reivindicar seus próprios interesses.
Sendo a Ciência considerada o único meio legítimo de conhecimento, não há, nesse momento da
História da Arte, lugar para a metafísica. A realidade, segundo a mesma concepção, subordina-se às leis
orgânicas válidas para todos os seres viventes. A produção artística realista prima por objetividade e
exatidão, rejeitando quaisquer resquícios de subjetividade, imaginação ou evasão.
Seus adeptos, à maneira dos cientistas, deveriam manter-se distantes dos resultados alcançados por
suas obras, tornando-as artefatos impessoais. O que caracteriza o período é a vitória da concepção de
mundo própria das Ciências Naturais e do pensamento racionalista e tecnológico sobre o idealismo e a
tradição romântica. Busca-se retratar a estrutura da sociedade contemporânea e os tipos sociais que a
povoam em todas as suas peculiaridades.
As obras realistas descrevem a vida contemporânea das grandes cidades da Europa, o cotidiano da
família burguesa, a faina dos trabalhadores do campo e da cidade, juntamente com os problemas
sociais das transformações decorrentes da intensa urbanização e industrialização das principais
potências europeias.
Como extensão ou desdobramento da proposta estética realista, surge no mesmo período o
Naturalismo, que intensifica certos atributos daquela e tende à apresentação patológica do homem. É
frequente, no entanto, que os termos “Realismo” e “Naturalismo” se confundam, sendo que alguns
autores fazem referência ao “Realismo-Naturalismo” como o estilo da segunda metade do século XIX.
São características:
BUSCA DE OBJETIVIDADE
FÉ NA RAZÃO
SIMBOLISMO
Floresceu, na Europa, nos anos 80 e 90 do século XIX. Seus adeptos, nas variadas expressões
artísticas, rejeitavam as maneiras naturalistas e realistas de retratar o mundo, contrapondo a elas o
gosto pelo mistério, o interesse pelo incompreensível e o timbre espiritualista.
A estética simbolista caracteriza-se pela concepção mística do mundo; pelo interesse no particular e no
individual, em lugar do geral que interessava aos realistas e parnasianos; pelo escapismo em que se
aliena da sociedade contemporânea; pelo conhecimento ilógico e intuitivo; pela valorização da arte pela
arte; pela utilização da via associativa como instrumento de realização artística.
SAIBA MAIS
O Simbolismo representa uma reação ao cientificismo que emergiu com a sociedade industrial da
segunda metade do século XIX. A busca desse indefinível toma a expressão indireta e nebulosa. Uma
vez que a expressão direta é considerada inadequada à captação da essência das coisas, proliferam as
sugestões verbais, os símbolos, a metáfora, a associação de ideias, o que permite a evocação de outra
realidade. Nessa via associativa fundem-se literatura, música e pintura.
Ao voltar-se para a beleza ideal e ao êxtase contemplativo, o artista encerra-se dentro de uma “torre de
marfim”, isolando-se da sociedade para fugir às sensações vulgares. Então, é preciso cultivar o belo. Os
simbolistas ficaram caracterizados pela excentricidade, muitas vezes afetada, para acentuar sua
distinção do vulgo, voltado ao que é material e imediato. Ao artista estavam reservados o espiritual, o
místico e o não consciente. São características:
ALIENAÇÃO DO SOCIAL
FLEXIBILIDADE FORMAL
IMPRESSIONISMO
É um movimento pictórico que surgiu na França, entre as décadas de 1860 e 1880. Embora tenha se
espraiado para outros gêneros artísticos, foi na pintura que encontrou seus maiores representantes e
resultados.
O novo sentimento de velocidade e mudança, trazido pelo desenvolvimento da técnica, introduz na vida
um dinamismo sem precedentes. O pintor impressionista registra a experiência contemporânea a partir
da observação do mundo exterior, feita de impressões pessoais e sensações visuais imediatas.
Fonte: Museu Marmottan Monet/wikimedia Commons/Domínio Público
Impressão, nascer do sol , Claude Monet, 1872.
Nas telas, as paisagens e figuras humanas são retratadas sem contornos nítidos em benefício de
pinceladas fragmentadas e justapostas. Além disso, a luminosidade natural é bastante valorizada,
favorecida pela pintura ao ar livre.
A percepção do tempo ganha proeminência, como se observa na obra que marcou o surgimento desse
estilo na ficção: Em busca do tempo perdido , de Marcel Proust (1871-1922). Os escritores realistas
fazem o inventário do mundo exterior; os impressionistas concentram-se na apreensão das sutilezas das
impressões subjetivas das personagens. O simultâneo, o fragmentário, o instável e o subjetivo assumem
a maior importância. São características:
VALORIZAÇÃO DA SUBJETIVIDADE
RESPOSTA
Após realizar sua construção pessoal de leitura das imagens propostas, confira o feedback abaixo:
Representante do Romantismo, O Massacre de Chios (1824), de Eugène Delacroix, elenca alguns temas
que, tipicamente, são utilizados na corrente e unido ao orientalismo, como: a valorização dos sentimentos, a
melancolia e o nacionalismo na construção do “Turco” por meio da alteridade.
Representante do Romantismo, Viajante sobre o mar de névoa (1818), de Caspar David Friedrich, possui
algumas características comuns à corrente, como: o individualismo, o escapismo espacial e temporal e o
culto à natureza.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
C) Aos artistas cabia o dever educacional de criar a imagem da virtude e dos vícios.
E) Sua estética não era definida, uma vez que esse conceito foi fundado posteriormente.
A) III, IV.
B) II, somente.
E) I e II somente.
GABARITO
“[...] Os pintores pegarão no Estado e nos caracteres dos homens, como se fosse uma tábua de
pintura [...] torná-la-ão limpa, coisa que não é muito fácil [...] aperfeiçoando seu trabalho, olharão
frequentemente para a essência da justiça, da beleza, da temperança e das virtudes congêneres,
e para a representação que delas estão a fazer nos seres humanos, compondo e misturando as
cores, segundo as profissões, para obter uma forma humana divina, baseando-se naquilo que
Homero, quando o encontrou nos homens, apelidou de divino e semelhante aos deuses ”
(PLATÃO, A República. trad. e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Calouste
Gulbenkian, 1996).
O conceito de estética não era uma disciplina autônoma na Antiguidade Clássica. No pensamento
platônico, o próprio conceito de belo (como percepção sensorial) não se associava aos objetos de apelo
artístico, pois o belo associava-se à bondade e à lógica; já a arte, por sua vez, era entendida como um
mero caminho para imitação das virtudes, como instrumentos de ilusão.
A figura humana é representada tal como nas artes clássicas, ressaltando a beleza e a
perfeição como ideal e fugindo da representação real e natural.
MÓDULO 3
Relacionar a cultura imagética contemporânea das redes sociais à experiência e percepção
estéticas
EXPERIÊNCIA ESTÉTICA
Esse processo de valoração vai, em diferentes períodos, moldar a nossa compreensão e o nosso
entendimento de arte, assim como vai estimular a circulação, a exposição e a apropriação de imagens
“consagradas”.
Veremos agora a formulação dessa valoração em obras de diferentes períodos e como aparece, na
prática, em museus, instituições culturais e mídias sociais na atualidade.
PRIMEIRO PONTO
A utilidade da arte, ou seja, por trás de toda produção artística há uma intenção, uma intencionalidade.
SEGUNDO PONTO
Passa pelo entendimento da recepção/relevância que muitas obras passaram a adquirir.
Com isso, é importante ter em mente que: estudamos a arte que se encontra conservada até os dias
atuais, seja a que está em seu próprio local de origem, ou as que foram incorporadas a coleções
museológicas e/ou as que se encontram em centros urbanos.
Para melhor compreensão deste tema, vamos analisar dois casos práticos: um da arte pré-histórica e
outro da arte moderna.
ARTE PRÉ-HISTÓRICA
O primeiro caso de que vamos tratar, a Caverna de Altamira, também conhecida como “Capela Sistina”
da Arte Rupestre, foi considerada a primeira caverna do mundo identificada com a presença de arte
rupestre do paleolítico superior.
Em 1875, Marcelino Sanz de Sautuola (1831-1888), arqueólogo espanhol que possuía grande
conhecimento em Ciências Naturais e História, visitou pela primeira vez o lugar. Ele é considerado o
descobridor da Caverna de Altamira, por iniciar os estudos sobre o local. Posteriormente a caverna
também foi estudada por arqueólogos e historiadores de diversas nacionalidades, tais como os
espanhóis Hermilio Alcalde del Río (1866-1947) e Francisco Jordá Cerdá (1914-2004), os franceses
Henri Breuil (1877-1961) e André Leroi-Gourhan (1911-1986), e o alemão Hugo Obermaier (1877-1946).
As imagens descobertas “revolucionaram” o modo de estudar a arte pré-histórica — até então ligada
apenas aos vestígios materiais como objetos e fragmentos dos achados arqueológicos —, por tratar-se
de uma extensa produção de pintura parietal (pintura na parede).
Na Figura 17, podemos observar que “salas pictóricas” compõem essa grande produção do período
paleolítico, na Espanha. Além disso, é importante destacar que a chamada “grande sala”, onde se
encontra o maior número de representações, é a mais emblemática em termos artísticos, pela
composição e pela representação/dimensão do que foi pintado.
Essa “composição” merece destaque quanto aos animais representados e às técnicas utilizadas.
Sabemos que muitas gerações viveram nessas cavernas. “A explicação mais provável para essas
pinturas rupestres ainda é a de que se trata das mais antigas relíquias da crença universal no poder
produzido pelas imagens” (GOMBRICH, 2012).
ATENÇÃO
Não se trata apenas de representações, mas sim da coisa representada — a caça, a captação do
espírito e símbolo do animal —, pelas sociedades que ali viveram. Em Altamira temos bisões, cavalos e
cervos que foram representados em tamanho natural — grande parte deles agrupada no centro da
caverna —, ricos em pigmentos minerais em tons de ocre e vermelho (do óxido de ferro), delimitado pelo
preto (do manganês).
Essas representações (Figuras 18, 19 e 20), muitas gravadas por meio da abertura de sulco nessas
pedras calcárias, com o depósito do pigmento preto e preenchido com pigmentos em tonalidades
avermelhadas, foram pintadas por “sociedades” de coletores e caçadores, o que nos ajuda a interpretá-
las.
SAIBA MAIS
O paradigma de Leroi-Gourhan é uma proposta analítica que entende que a maneira pela qual o homem
se projeta/expressa se dá por meio de um fenômeno técnico ou de uma tecnologia, um fato social total,
e por isso carrega uma historicidade. Neste sentido, Leroi-Gourhan conta que a produção humana parte
de uma noção de “biologia da técnica” para “o lugar epistemológico”. As análises que seguem essa
perspectiva investem em uma dupla intenção: ressituar o fenômeno técnico numa dinâmica vital,
determinando o sentido e as modalidades dela; e tomar em conta as formas sociais de existência nas
quais essa dinâmica realiza-se necessariamente (KARSENTI, 1998).
(GARRABÉ, 2012)
Grande parte de historiadores e teóricos da arte considera que essas imagens foram produzidas não
apenas como modo de representação do cotidiano, mas como um rito de captação, como se a projeção
da imagem nessas paredes pudesse perpetuar a ação — a da caça — ou do espírito desses animais —,
a magia da arte de reconciliar “corpo e alma” nesses espaços, a partir das ações e vivências cotidianas
desses povos.
No desenho da Figura 18, vimos quatro grupos circulados de animais, onde o bisão está no centro da
“fertilidade”. Não por acaso esse teto pintado em Altamira está praticamente no centro da caverna.
Alguns estudiosos atribuem a forma dessas representações à “provável tradição de ritos de fertilidade”,
quer a dos animais ou a da terra. Não por acaso, também, o historiador da arte americano Horst
Waldemar Janson (1913-1982) atribui a essas obras, em seu livro História Geral da Arte (2001), o título
de “a magia e o rito da arte do homem pré-histórico”.
ARTE MODERNA
O segundo caso prático para entendermos a arte e percepção estética são as obras de Pablo Picasso
(1881-1973), pintor espanhol, produzidas nas décadas de 1940 e 1950. Nelas — Touro I, Touro XI,
Touros (estudos) e Françoise Gilot com Paloma e Claude — temos importantes exemplares para
compreensão do que vimos anteriormente sobre os esforços promovidos pelos artistas modernos,
consequentemente com a arte moderna e a necessidade de romper/revisitar os ditos paradigmas da
cultura greco-romana na arte.
PABLO PICASSO
Picasso é considerado um dos artistas mais versáteis e prolíficos do século XX. Em suas obras
vemos composições e temas com a apropriação do Cubismo (do Abstracionismo e
Expressionismo), dos estudos sobre a arte primitiva, como as máscaras africanas, e as pinturas
rupestres da arte pré-histórica.
Nas obras escolhidas, que vão de um primeiro estudo sobre o touro ao desenho final, na versão XI,
vemos que o artista não parte da abstração, mas sim do desenho e da figura — ainda com ricos
detalhes e clara compreensão do tema —, para a síntese/abstração da “coisa” apresentada.
Essa busca pelo rompimento dos paradigmas do clássico, que chegaram tão fortes até o século XIX,
levou muitos artistas a estudarem outras matrizes de referências, como a cultura africana e os povos
primitivos com sua arte rupestre.
O caso exemplar das obras de Picasso torna-se aqui objeto importante para a compreensão da
formulação de juízos de valor, quer pela teoria ou pela prática artística, e para o entendimento das
soluções plástico-visual adotadas em diferentes épocas, entre seus propósitos e a cultura de cada
época.
A obra Françoise Gilot com Paloma e Claude , na Figura 24, é posterior aos desenhos dos touros e nela
vemos incorporados não apenas os esforços de síntese das figuras feitas por Picasso, como também a
composição e o uso de cores.
Fonte: Wikiart
Figura 24: Françoise Gilot com Paloma e Claude , Picasso, 1951.
Uma situação simples para entender a importância e o peso simbólico de uma imagem:
EXEMPLO
Imagine-se rasgando uma fotografia que retrata uma pessoa ou um lugar importante para você. Essa
ação nos provoca diversas sensações e nos faz pensar sobre a função daquela imagem em nossa
vida/memória, inclusive sobre sua importância.
MÉTODO FORMALISTA
MÉTODO SOCIOLÓGICO
MÉTODO ICONOLÓGICO
MÉTODO ESTRUTURALISTA
MÉTODO FORMALISTA
Parte da teoria da “pura visibilidade,” que procura explicar a obra a partir da compreensão de um
conjunto de representações formais que caracteriza a peculiaridade da composição de um artista, bem
como a ocorrência de temas em diferentes épocas, mas com soluções formais distintas. Heinrich Wölfflin
(1864-1945) e Konrad Fiedler (1841-1895) são os dois representantes de peso dessa teoria.
MÉTODO SOCIOLÓGICO
Neste, a obra é produzida em constante contato com a sociedade em que está inserida, assim como seu
artista. Por isso, esse método parte do princípio de que o artista é parte ativa dessa sociedade e que o
resultado de sua produção, a arte, é produto desse contato, sendo avaliada e utilizada. Taine (1828-
1893), Hauser (1892-1978) e Antal (1887-1954) são representantes desse método e justificam uma
História da Arte como uma história da sociedade.
MÉTODO ICONOLÓGICO
“[...] se o método formalista estuda a formação da obra de arte na consciência do artista, e o método
sociológico sua gênese e a sua experiência na realidade social” (ARGAN, 1994), o iconológico considera
que a atividade artística tem ligações profundas com o inconsciente individual e coletivo. Busca-se
compreender os mistérios da imagem na imaginação, os motivos dos usos e da reaparição na memória.
Não se trata de um método para compreender as prescrições iconográficas estabelecidas, mas para
compreender a cultura das imagens, ou seja, dos significados e sentidos.
MÉTODO ESTRUTURALISTA
Esses métodos iluminam a possibilidade de estudos e pesquisas em Arte e História da Arte que vão da
Pré-história à contemporaneidade. Se saíssemos do terreno da produção artística — do entendimento
mais tradicional e processual — para compreendermos o papel e os efeitos da produção de imagens e
informações visuais nas redes e mídias sociais, o que perceberíamos?
Desde a invenção do daguerreótipo — aparelho fotográfico inventado em 1839 pelo físico e pintor
francês Louis Daguerre (1787-1851) —, o progresso científico influenciou diretamente a produção de
imagens. Ao longo dos séculos XIX e XX, o crescente aperfeiçoamento de câmeras fotográficas, assim
como sua comercialização em larga escala, tornou a produção de imagens mais difusa e acessível.
Fonte: Shutterstock.com
Tal situação provoca uma série de indagações: como armazenar esse volume de imagens, uma vez que,
com as câmeras digitais e por meio das redes sociais, fotos são enviadas ou apagadas? Como separar
os domínios da exposição pública das imagens de acervos pessoais, ligados à memória e à experiência
de seus produtores? Como avaliar, do ponto de vista estético, imagens que são produzidas a partir de
um gesto técnico — o apertar de um botão — de imagens produzidas pela habilidade manual de um
artista? Como atribuir valor a um trabalho que resulte em milhares de reproduções?
AUTOPINTURA OU AUTORRETRATO: O PROCESSO
DE CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA
Um caso interessante para refletirmos, diante da proliferação de imagens que nos atinge, é a selfie ,
neologismo com origem no termo inglês self-portrait , que significa autorretrato, consistindo em um
autorretrato compartilhado em uma mídia social. É possível perceber certa relação de continuidade entre
as selfies e os retratos pintados, em termos da construção de uma identidade social que seu portador
quer exibir e ressaltar, para assim dizer sobre si mesmo.
Na pintura, o retrato afirma-se como gênero autônomo no século XIV e passa a ocupar um lugar de
destaque no campo da arte europeia, atravessando diferentes correntes estéticas. Sua importância para
a projeção da imagem do retratado acompanha os anseios da corte e da burguesia urbana por distinção
e prestígio.
Fonte: Shutterstock.com
Jovem mulher como Mona Lisa. Estilo retrô, comparação do conceito de eras.
O esplendor de ambientes domésticos, o luxo das roupas da corte e a composição dos retratados são
expressos com extrema atenção aos detalhes, cores e texturas. Pintores como Jan van Eyck (1390-
1441) — nos Países Baixos —, Piero della Francesca (1415-1492), Rafael (1483-1520) e Leonado Da
Vinci (1452 - 1519) tornam célebres seus retratados das principais cortes da Europa.
No século XX, artistas como Frida Kahlo (1907-1954), Salvador Dalí (1904-1989) e, no Brasil, Tarsila do
Amaral (1886-1973) notabilizaram-se por seus autorretratos, nos quais exibiam ao público não apenas
sua aparência, mas seus estados de ânimo, suas situações particulares, em telas repletas de
referências e significados.
Para termos uma ideia do quanto as imagens são importantes nesse processo de construção identitária,
o primeiro aspecto que chama a atenção é a “imagem do perfil ou da capa”, que o usuário de redes
sociais escolhe para representar a si mesmo. É a primeira impressão que um visitante da página terá
dessa pessoa. Muitas vezes, a facilidade da conectividade e o envio de fotografias ultrapassam o senso
crítico e fazem com que a pessoa avance os sinais do bom senso ou os limites toleráveis entre o público
e o privado.
Fonte: Wikiart
Figuras 25 e 26: Autorretrato , Albrecht Dürer, 1498 (à esquerda) e Autorretrato com a orelha
enfaixada , Vincent van Gogh, 1889 (à direita)
Assim, em sentido geral, a selfie pode ser considerada uma releitura dos autorretratos que os pintores
faziam há séculos. Porém, há algumas diferenças a serem destacadas entre os termos, como as
mudanças nos usos e seus significados para as pessoas. Se, no autorretrato, o artista exprimia a
maneira como ele se via e o que gostaria de legar para a posteridade — e os autorretratos de Vincent
Van Gogh (1853-1890) são um excelente exemplo —, a selfie expressa o modo como seu portador
gostaria de ser visto pelos outros de maneira imediata, por meio do compartilhamento instantâneo.
Fonte: Nuchylee/Shutterstock.com
Outra diferença significativa diz respeito ao suporte em que os autorretratos são realizados. Nas mídias
sociais, a selfie tem como objetivo angariar aprovações e popularidade entre os usuários e estabelecer
relações virtuais em larga escala. Assim, ao publicarem selfies, os usuários constroem suas identidades
e simultaneamente expressam o seu pertencimento à determinada comunidade.
Saindo do universo da prática artística para o da instituição museal, vimos nos últimos anos um
crescente público nesses espaços registrando suas visitas e fazendo selfie com as obras em
exposição. Nessa ideia de “construção social do indivíduo” por intermédio das imagens, registrar visitas
a exposições e feiras que atraem grande público também estimula a produção de memórias visuais por
meio da fotografia.
Fonte: Imagem adaptada de Shutterstock.com; Domínio público/Wikiart
SAIBA MAIS
Apesar de exitosas, há registros “dramáticos e catastróficos”, como a quebra de uma escultura de mais
de 300 anos, um São Miguel, em função de uma tentativa de realização de selfie por um visitante. O
ocorrido deu-se em 2016, por um turista brasileiro no Museu de Arte e Antiguidade de Lisboa, em
Portugal. Veja a indicação da matéria, no Explore+, ao final do tema.
A estratégia do museu levou frases impressas, fixadas na parede logo abaixo de cada obra, com a
sinalização do # como uma referência ao universo de informações de onde partiu a iniciativa
expográfica.
SAIBA MAIS
Para conhecer melhor a exposição “hashtags da arte”, confira a indicação, no Explore+, ao final do
tema.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) São nas obras de arte que encontramos um complexo total de informação da sociedade. Devemos
estar atentos às manipulações.
B) A leitura de uma imagem é a leitura de um texto, de uma trama, de algo tecido com formas, cores,
volumes, texturas... Em nada relaciona-se com as interpretações que se fizer do cotidiano.
C) As imagens presentes no cotidiano possuem caráter representacional das sociedades; por isso, as
relações entre várias formas de cultura visual são aspectos importantes do conhecimento da arte.
D) Uma simples obra de arte pode estar carregada de informações, capazes de influenciar o olhar das
pessoas para uma única direção.
E) Devemos separar o que são imagens rápidas de arte; arte deve representar o máximo do homem,
uma forma de ressignificar o mundo e todo resto como uma ruptura da estética artística.
A) Ambos têm por objetivo legar a imagem de seus produtores para a posteridade.
C) Apesar das técnicas de produção serem diferentes, ambos proporcionam resultados instantâneos.
D) A construção de uma identidade social por meio da projeção da autoimagem é um ponto em comum.
E) É necessário romper a relação possível, uma vez que a estética ou a tecnologia não permite diálogo.
GABARITO
As imagens do cotidiano não só revelam os hábitos sociais como também a arte que é produzida por
determinado grupo — entendendo o conceito de arte como sistema de representação simbólica,
portanto meio de comunicação.
2. A selfie — neologismo com origem no termo inglês self-portrait , que significa autorretrato —
consiste em um autorretrato compartilhado em uma mídia social. Assinale a alternativa cuja
afirmativa estabelece a relação de continuidade entre as selfies e os retratos pintados:
A propagação de uma autoimagem reflete a maneira como o seu produtor gostaria de ser
visto/identificado, sendo este um ponto em comum entre as selfies e os autorretratos pintados.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estética é um conceito complexo, que versa desde a relação do homem sobre como funciona, para que
funciona e para quem funciona a arte. Ela relaciona a construção estrutural com o contexto de sua
produção e as dinâmicas de sua forma, relações de poder, dinâmicas políticas, mas principalmente o
sentido que pode ser transformado ao longo do tempo. O senso estético, então, versa dessa complexa
relação entre o sujeito que produz e os sujeitos que “consomem”.
Neste tema você pode perceber as variações e a estética ao longo do tempo, de maneira exemplificada,
mas para que você perceba como sua dinâmica ganha recorrentemente novos contornos e novas
possibilidades.
Por fim, buscamos as provocações dos novos exercícios estéticos, das novas tecnologias e como a
estética ganha um conjunto de possibilidades que seria certamente inimaginável ao longo do tempo. Por
meio de exercícios, buscamos deixar mais claros as propostas e o entendimento sobre estética.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ARGAN, G. C. Guia de História da Arte. São Paulo: Estampa, 1994.
HUCHET, S. A História da Arte, disciplina luminosa. In: Revista da Universidade Federal de Minas
Gerais, v. 21, n. 1 e 2, 7 abr. 2014.
EXPLORE+
Acesse o website do The Metropolitan Museum of Art, de Nova York, para conhecer o acervo de
obras de todos os períodos retratados neste tema.
Procure na internet matérias sobre a quebra de uma escultura de mais de 300 anos, um São
Miguel, em função de uma tentativa de realização de selfie por um visitante.
Leia a matéria sobre a exposição “hashtags da arte”, disponível no site de notícias da Globo.
CONTEUDISTA
Adriana Sanajotti Nakamuta
CURRÍCULO LATTES