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Esta unidade apresentará em suas duas primeiras aulas o período que ficou
conhecido como Renascimento. Esse período recebeu esse nome porque os artistas e
intelectuais envolvidos nesse processo entendiam que estavam promovendo o
renascer da arte, do conhecimento e da cultura produzidos na Antiguidade clássica.
Por meio do resgate desses elementos greco-romanos, não somente as artes, mas a
própria condição dos artistas passou por um processo que os conduziria à
emancipação social do seu ofício. As mudanças que a sociedade enfrentou nesse
período, principalmente aquelas relacionadas ao surgimento do protestantismo,
contribuíram para que a racionalidade e a clareza da arte produzida no Renascimento
sofressem também com essas mudanças. O período Barroco, principal tema da
terceira aula, vai refletir esse processo. Ao mesmo tempo, a institucionalização
promovida pelas academias de arte vai caracterizar esses novos momentos, em que a
Igreja e a religiosidade começarão gradativamente a dividir os interesses dos artistas
com outros elementos.
Objetivo
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:
Conteúdo Programático
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas:
Por que duas criações tão afastadas no tempo são tão semelhantes?
Tema 1
O Renascimento: o Trecento e o Quattrocento
Saiba Mais
Giotto
Tanto Petrarca quanto Boccaccio, seu discípulo, louvavam Giotto pelo uso da luz e da
sombra, pela imitação da natureza, pela capacidade mimética, critérios usados por
Plínio ao falar de Apeles e outros. Por mais que nos pareçam pouco realistas, ao
serem comparadas com as pinturas da época, as obras de Giotto apresentavam todos
os elementos citados acima (Figura 1). Muito desse realismo, dessa capacidade
mimética, situava-se no fato de que Giotto buscava capturar o sentimento dos
personagens retratados por ele. Ao agir dessa forma, Giotto afastava-se dos modelos
da pintura bizantina, do brilho e do dourado, em busca da solidez da figura humana. A
principal característica do trabalho de Giotto, é, portanto, a humanização das figuras
da santidade. Um detalhe importante que anuncia uma característica central do
renascimento italiano.
Figura 1 – Giotto. Afresco do ciclo de pinturas murais da Capela Scrovegni. Pádua. Itália.
Cerca de 1305.
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Essa mesma busca pode ser percebida no retorno às esculturas monumentais. Se, no
Gótico, já havia sido ensaiada a independência das esculturas em relação à estrutura
arquitetônica às quais estavam vinculadas, nesses novos tempos as esculturas
haviam finalmente encontrado sua liberdade.
Brunelleschi
Figura 4 - Filippo Brunelleschi. Santa Maria dei Fiori. Domo. Florença. Itália.
Figura 6 – Rogier van der Weyden. Retrato de uma dama. Galeria Nacional de Arte.
Washington D.C. Estados Unidos.
O principal preceito das artes nesse período se encontra na ideia de imitação, mas
imitar com invenção nova. “Para a cultura do Humanismo, a imitação era fundamento
de um sistema moral e estético que tinha como referência os valores da Antiguidade,
suas virtudes públicas e suas grandes realizações. O conceito de imitação louvava o
exemplo” (BYINGTON, 2009, p. 15). Nas artes visuais, o conceito de imitação se
referia ao retorno às formas da natureza humana, principalmente no que se refere à
representação dos afetos – atitudes e expressões. O imitar com invenção nova traz a
novidade do naturalismo enquanto inovação renascentista. Esse era o desafio dessa
nova arte, a imitação da natureza, do real, e a imitação do modelo, a Antiguidade
clássica. A natureza é a mais importante fonte de inspiração. A Antiguidade clássica
foi onde os segredos da natureza foram mais bem compreendidos e sintetizados. Os
dois modelos se completam.
Ampliando o Foco
Tema 2
O Renascimento: o Cinquecento e o Maneirismo
Leonardo da Vinci
Figura 9 – Leonardo da Vinci. A última ceia. Convento de Santa Maria delle Grazie.
Milão, Itália.
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Michelangelo Buonarroti
Tão bem preparado como Leonardo, principal antagonista que ele teve em vida,
Michelangelo Buonarroti começou cedo a experimentar a fama. Sua primeira
obra, Pietá (Figura 10), ainda hoje vista como uma das mais perfeitas representações
da dor materna diante da perda do filho amado, foi concluída quando ele contava
apenas 24 anos. O tema não era comum na Itália, e sim na França, mas a qualidade
da execução, a graciosidade da Virgem e a perfeição da representação anatômica do
Cristo deram a ele fama imediata.
Sob as ordens do Papa Júlio II, Michelangelo transferiu-se para a cidade de Roma.
Acreditava que trabalharia no conjunto escultórico da tumba do papa, mas Júlio II lhe
intima a aceitar a incumbência de pintar o teto da capela construída por seu tio, o papa
Sisto IV, que recebeu o nome de Capela Sistina em sua homenagem. Apesar de ser
escultor e de não gostar de pintar, Michelangelo havia aprendido o ofício da pintura em
seu período de formação. O resultado do seu trabalho ainda hoje é admirado como
uma das mais importantes realizações humanas, o trabalho de um gênio, realizado no
curto espaço de quatro anos. Uma sucessão de cenas que vão da criação do mundo à
embriaguez de Noé ocupa a área central. Nas laterais, em falsos nichos, estão
representadas as sibilas – sacerdotisas pagãs que previram o nascimento do Cristo –,
profetas do Antigo Testamento e os antepassados do Cristo. A cena mais conhecida,
situada na área central, junto com a criação de Eva, representa Deus dando seu sopro
criador a Adão.
A tumba de Júlio II ficou em segundo plano e somente foi concluída, com muitas
alterações no grandioso projeto original, após sua morte. A monumental escultura de
Moisés que fazia parte do projeto original acabou se tornando a principal escultura do
conjunto. O domínio que Michelangelo tinha sobre o mármore era tal que quase
podemos sentir o movimento da barba de Moisés, tão real quanto a força que emana
da imagem.
Figura 12 – Michelangelo Buonarroti. Moisés. Basílica de San Pietro in Vincoli. Roma. Itália.
Crédito de atribuição editorial: muratart/Shutterstock.com
Rafael Sânzio
Rafael Sânzio era o artista cortesão por excelência. Transitava pelos melhores círculos
romanos e da cúria e tinha uma escola de seguidores. Assumiu cargos políticos
relacionados à preservação das antiguidades romanas durante o pontificado de Leão
X, apesar de já atuar junto ao papado desde o pontificado de Júlio II, que encarregou
Rafael de pintar o conjunto dos painéis no Vaticano que versavam sobre as quatro
áreas do conhecimento: a filosofia, a poesia, a teologia e o direito. O painel sobre a
filosofia traz o afresco que é considerado a personificação do espírito clássico da
Renascença, a Escola de Atenas (Figura 13).
Acontece que o século XVI atravessou graves situações que contribuiriam para fazer
ruir os alicerces da sociedade sobre a qual o Renascimento havia se estruturado. A
hegemonia da Igreja Católica havia sido quebrada pela Reforma Protestante. As
tropas do imperador Carlos V haviam marchado sobre Roma, saqueando a cidade em
1527. Esse evento marcou simbolicamente o fim do Renascimento, da era de paz e
equilíbrio que ele representava. Além disso, o nível de desenvolvimento que a arte
havia atingido com Leonardo, Michelangelo e Rafael fez com que muitos acreditassem
que nada de novo poderia mais ser criado. Novos artistas buscavam imitar a maniera
dos grandes, o seu estilo. E, em meio à turbulência e instabilidade emocional que se
seguiu, os preceitos de equilíbrio, proporção, simetria e racionalidade da arte
renascentista também foram abalados.
A nova arte produzida nesses tempos turbulentos era antinaturalista, por se opor ao
conceito da arte como imitação da natureza, substituído pelo conceito da arte
enquanto produto intelectual, e anticlássica, por se opor aos conceitos elaborados de
equilíbrio, normatividade, ordem, conciliação entre o homem e a natureza, confiança
humanística na razão, culto da harmonia e da beleza que caracterizaram a filosofia
humanista do Renascimento. Pejorativamente, foi chamada de Maneirismo e somente
no século XX essa produção artística foi reabilitada pela história da arte.
Foi esse estado de tensão e insegurança que se instalou em toda a Europa que
ocasionou a ruptura com as estruturas humanísticas organizadas pelo Renascimento
que vemos em obras como a de El Greco (Figura 16).
Ampliando o Foco
Tema 3
A arte barroca e a neoclássica
Quando Martinho Lutero propôs as 95 teses contra a Igreja Católica, precipitou uma
série de acontecimentos que provocariam uma cisão da religiosidade no Ocidente. Os
excessos de alguns artistas com relação à utilização de temas mitológicos e com o
uso de figuras nuas nas obras religiosas fez com que os teólogos da Igreja se
preocupassem com a normatização do uso da arte. Para que esse uso ocorresse de
forma conveniente, de acordo com os padrões da Igreja, duas sessões do Concílio de
Trento tiveram como tema a necessidade de elaborar regras e normas para os artistas
que trabalhavam com arte sacra.
A intenção dos teólogos do Concílio de Trento era fazer com que fosse desenvolvida
uma forma de arte que integrasse, por meio de sua ação, as diferentes classes,
trazendo-as todas de volta à Igreja. Para que essa ação ocorresse, o público era
dividido em quatro grupos com relação à recepção da obra de arte, recepção essa que
dependia da qualidade do pintor com relação ao poder de satisfazer em conjunto as
A Igreja de Jesus em Roma (Figura 17) faz parte desse projeto contrarreformista. É a
primeira Igreja construída pelos jesuítas. Em sua fachada, já se podem perceber a
utilização controversa dos elementos clássicos. Essa utilização é criticada pelos
neoclássicos por não estar de acordo com o uso padrão dos elementos clássicos. Mas
a duplicação das colunas, as volutas, o duplo frontão circular e triangular produzem
uma sensação de movimento que é bem-vindo nas obras barrocas.
A proposta era que o fiel, ao adentrar as Igrejas, se sentisse transportado ao céu. Para
que isso ocorresse, eles contavam com a teatralidade na construção do ambiente e
das composições artísticas.
A Madona de Loreto (Figura 19), pintada por Caravaggio, é composta de acordo com
esses elementos. A luz incide mais claramente sobre a virgem e o menino, criando
uma diagonal que termina sobre o corpo do peregrino. O clima de fé e piedade
perpassa toda a obra. O autor não pretendia alcançar uma análise clara e racional da
cena. Ao contrário, sua intenção era tocar emocionalmente o observador.
Outro pintor que segue os mesmos princípios, colocando-os ainda mais em cena, é
Rubens. Em sua Natividade (Figura 20), a profusão de imagens em torno da
manjedoura cria um ambiente conturbado, mas a emotividade e o fervor estão
presentes em cada face. A luz, completamente artificial, incide diretamente sobre o
menino Jesus, personagem mais importante da cena e, por isso mesmo, mais
claramente iluminado. É o mesmo processo que vemos nas representações teatrais,
nas quais o personagem mais importante em cena é o que mais recebe luz durante
sua atuação.
Figura 20 – Peter Paul Rubens. Natividade. Igreja de São Paulo. Antuérpia. Bélgica.
Crédito de atribuição editorial: Renata Sedmakova/Shutterstock.com
Nas academias eram formados não somente pintores, escultores e arquitetos, mas
também profissionais que se responsabilizariam pela decoração interna dos palácios.
O palácio de Fontainebleau, na França – cuja riquíssima decoração interior (Figura 21)
apresenta ainda referências à cultura clássica, mas colocados em outro contexto –, é
um exemplo da arte produzida nesses espaços institucionalizados, direcionadas à
nobreza.
Ampliando o Foco
Encerramento
Resumo da Unidade