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TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA,


URBANISMO E PAISAGISMO
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TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA,


URBANISMO E PAISAGISMO

DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES
Segunda a Sexta das 09:00 as 18:00

ATENDIMENTO AO ALUNO
editorafamart@famart.edu.br
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TRATADISTAS DE ARQUITETURA E URBANISMO................................................. 3


MANEIRISMO .......................................................................................................... 13
BARROCO NA ITÁLIA E NA EUROPA .................................................................... 21
NEOCLÁSSICO NA EUROPA ................................................................................. 31
BARROCO E NEOCLÁSSICO NO BRASIL ............................................................. 41
INFLUÊNCIAS DA ARQUITETURA ORIENTAL ....................................................... 50

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TRATADISTAS DE ARQUITETURA E URBANISMO

Renascimento

Os fatos que ocorrem na história nos levam a compreender as soluções e


decisões adotadas no mundo. Na arquitetura isto também ocorre.
Estudiosos em arquitetura também valem-se de estudos e projetos realizados
por outros profissionais para subsidiar soluções em seus projetos. Outros ainda
reúnem os resultados destes estudos proporcionando a outros profissionais o
conhecimento daquilo que já foi produzido.
O Renascimento ocorreu após o final da Idade Média, sendo classificado
como período de manifestações culturais e não apenas um intervalo de tempo ao
longo da história. O Renascimento apresentou contexto humanista: criticava a
autoridade da fé em decisões relativas a aspectos da vida humana. É período
definido pelas apropriações da Antiguidade, redefinindo a cultura cristã que se
consolidou na Idade Média.
O Pré-Renascimernto, denominado Trecento, foi marcado pela pintura dos
artistas: Cimabue e Giotto da Bondoni, considerado um dos principais artistas do
período. Giotto pintou afrescos como aqueles da capela de São Francisco em Assis
(LOBO; PORTELLA, 2017).
Afresco é técnica de pintura em parede executada enquanto o reboco da
parede está molhado. Esta técnica pode ser encontrada em casas de Ponpeia,
tendo sido utilzado por pintores do Renascimento. Michelangelo utilizou esta técnica
para pintar o teto da Capela Sistina.
Giotto é considerado precursor do Renascimento por ter instituído novo estilo
de pintura: sua obra caracterizava-se por inserir personagens em cenas naturalistas
e realistas, havendo também a tentativa da representação em perspectiva (LOBO;
PORTELLA, 2017).
Neste período a literatura contou com: Dante Alighieri (1265-1321), um dos
autores a introduzir o espírito humanístico nas artes; Franceso Petrarca (1304-
1374), estudioso de clássicos da literatura greco-romana, tendo trabalahdo para

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famílias influentes da França e Itália em virtude de seus conhecimento de latim; e


Giovanni Boccaccio (1313- 1375) (LOBO; PORTELLA, 2017).
O século XV, recebeu a denominação de Quattocento, e neste período
ocorreu o ponto alto dos conceitos estéticos na Itália, alcançando também o norte da
Europa, a região de Flandres. No Quattrocento Florença voltou a obter sua
importância cultural e financeira.
De 1434 a 1492 os Médci assumiram a liderança política da cidade e atuaram
como mecenas, contribuindo para desenvolvimento artístico e cultural. Neste
período foi criada a Escola Neoplatônica de Florença, centro cultural humanista de
várias áreas do conhecimento (LOBO; PORTELLA, 2017).
Em Quatttrocento, o pintor e arquiteto Fillipo Brunelleschi (1377-1446) obteve
apoio de mecenas, desligou-se da corporação de ofício à qual era ligado, sendo,
assim, referência a outros artitas e passando a exercer sua “independência criativa”
(LOBO; PORTELLA, 2017, p. 39).
Ainda no Quattrocento, segundo Mendonça (2008, p. 230): A grande novidade
do Renascimento consiste no fato de que a característica humanista da época
conseguiu desenterrar do esquecimento medieval uma concepção que pretendia
que a obra de arte fosse a reprodução fiel da realidade. (MENDONÇA, 2008, p. 230).
A novidade mencionada por Mendonça (2008) refere-se ao artista colocar-se
diante de um modelo e buscar o belo por meio do que vê. A autora afirma que,
segundo Panofsky, percebe-se a busca do belo que extraviou-se do passado grego
por meio de método racional.
No Renascimento houve esforço para elaborar teorias sobre arte; a partir do
século XV o Humanismo consolidou-se, tendo sido produzidos estudos teóricos
sobre arquitetura (LOBO; PORTELLA, 2017; PEREIRA, 2010).
Neste período diferentes intelectuais como Fillipo Brunelleschi. Leon Battista
Alberti, Giovanni Pico Della Mirandola e Giorgio Vasari contribuíram para
composição de teoria sobre arte do século XV, consolidando esta teoria que formou
pensamente teórico e historiográfico sobre as artes.

Alberti, Brunelleschi e Pico della Mirandola

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No Renascimento Marcus Vitruvius Pollio, que efetuou seus estudos no início


da era cristã, no primeiro século depois de Cristo, teve sua obra estudada e criticada
a partir de 1404, teve sua obra impressa em 1485 e tendo sido estudado por
diferentes intelectuais, dentre eles: Alberti, Palladio, Filarete, D. João de Castro
(DZIURA, 2006).
Vitruvius teve sua obra organizada e publicada em dez livros que abordavam
os seguintes temas:
 Livro Primeiro: discute o conceito de arquitetura e as condições
mínimas para o assentamento das cidades e suas defesas (muralhas e
fossos);
 Livro Segundo: estuda a origem da arquitetura, materiais de
construção;
 Livro Terceiro: analisa a construção dos templos e sua adequação às
ordens arquitetônicas;
 Livro Quarto: continua as análises do livro anterior, tratando da origem
e sistematização das ordens, das proporções entre as partes, e em
relação ao todo;
 Livro Quinto: trata de outras construções públicas: praças, basílicas,
tesouros, prisões, assembléias municipais, teatros, termas, ginásios,
portos e obras subaquáticas;
 Livro Sexto: verifica as edificações privadas, urbanas e rurais, para
residências dos cidadãos;
 Livro Sétimo: estuda os acabamentos, a pintura e a decoração das
edificações;
 Livro Oitavo: discursa sobre a hidráulica;
 Livro Nono: verifica a construção de gráficos do movimento solar para
efeito de conforto ambiental;
 Livro Décimo: estuda a mecânica. (DZIURA, 2006, p. 22)

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Leon Batista Alberti (1404-1472) estudou a obra de Vitruvius, no entanto, sua


dificuldade em compreendê-la e sua proximidade com disciplinas intelectuais
levaram- no a escrever o De Re Edificatoria, tratado de arquitetura “Sobre a arte de
edificar” (DZIURA, 2006).
Demonstra-se, assim, que a expressão Renascimento refere-se ao retorno à
verdadeira beleza e saber da Antiguidade por meio de leitura de clássicos gregos e
latinos para recuperar modelos e regras da arte antiga (BYINGTON, 2009). O
Renascimento, caracterizou-se por estimular novas formas e não apenas imitar ou
limitar-se ao passado, como expressou Giorgio Vasari (1511-1574) que definiu os
propósitos deste movimento como “imitar com invenção nova” (BYINGTON, 2009, p.
7).
O conceito de “imitar com invenção nova” expresso por Vasari, envolve
também a ideia de originalidade. Imitar significava assimilar princípios, definindo
oportunidades e limites para a invenção. Esta ideia envolvia tanto seguir determinado
modelo, como igualá-lo e até superá-lo. Isto era relativo à imitação da Antiguidade e
da natureza. Era grande a admiração pelos feitos dos antigos, havendo uma certa
preocupação em não conseguir que o mesmo nível fosse alcançado. Na arquitetura
os então modernos alcançaram conquistas superiores àquelas obtidas pelos antigos,
assim como na escultura e pintura. Este conceito de imitação é entendido como
atitude que institui a arte (BYINGTON, 2009).
Alberti escreveu sua obra que apresenta estrutura similar à obra de Vitruvius,
compondo-a com dez livros organizados em três partes (DZIURA, 2006):
 livros 2 e 3: “utilitas” – funcionalidade;
 livros 4 e 5: “firmitas” – solidez;
 Livros 6 a 9: “venustas” – beleza.

Alberti era estudioso e pensador, tendo sido considerado o primeiro tratadista


depois de Vitruvius. Durante sua formação dedicou-se às lições do trivium e
quadrivium. Esses termos, a partir da Idade Média, referem-se a (STRÖHER, 2006):

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 trivium- artes retóricas (gramática, retórica, dialética);


 quadrivium – designa artes matemáticas: aritmética, geometria, música,
astronomia

De acordo com Ströher (2006), Alberti abordava as disciplinas técnicas como


escultura e pintura sob a ótica intelectual, não do ponto de vista prático; sua
abordagem de todas as disciplinas era sob o ponto de vista literário. O autor ainda
relata que a contribuição de Alberti para escultura e pintura foi teórica: em sua obra
Da Pintura, ao relatar o método da perspectiva houve experimentação prática de
Brunelleschi e Masaccio para a teorização; a obra Della statua refere-se a método
prático de trabalho. Estes dois tratados apresentam como legado mudanças
de atitudes e mentalidade que caracterizaram o humanismo bem como o
pensamento renascentista.
O tratado De re aedificatoria de Alberti demonstra o objetivo de registrar e
organizar a teoria e a prática relativas à arquitetura, fornecendo diretrizes à pratica
profissional.
No De re aedificatoria, Alberti nos apresenta várias fórmulas – a quantificação
das ordens, com recomendação aos copistas sobre a exatidão dos números; a
proporção das médias aritmética, geométrica e harmônica, ou da analogia estrutural
com o corpo animal; os espaçamentos de pórticos; as proporções das peças, e
assim por diante – levantadas tanto de escritos anteriores (e não só de Vitrúvio, ao
que parece) quanto de sua criteriosa observação de ruínas e prédios remanescentes
das civilizações etrusca e romana. Afirmando que a beleza é fácil de detectar, mas
difícil de produzir, e que só alguns poucos especialistas muito atentos, muito
cuidadosos, e principalmente muito hábeis, poderão produzi-la, Alberti nos fornece
algumas regras que supostamente fazem parte de todos aqueles corpos ou
organismos em que a beleza foi detectada. (STRÖHER, 2006, p. 34).
Ströher (2006) ainda ressalta aspectos importantes como:

a) Alberti parecia considerar que as fórmulas seriam um meio para se obter

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harmonia visual (conceito abordado por Alberti e denominado Concinnitas), sendo as


fórmulas entendidas por Alberti como necessárias e suficientes;
b) Alberti apresentava com constância a recomendação para questionamento
e reflexão antes de alguma atitude, o agir com cautela.

O tratadismo também englobou o tema relativo à cidade, a cidade ideal. No


Renascimento os monumentos da Antiguidade podiam ser estudados, medidos
pelos arquitetos, no entanto, com relação às cidades isto já não era possível pois
estas haviam desaparecido, ou eram cidades distantes, havendo apenas algumas
passagens em textos vitruvianos. Surge, assim, no Renascimento, a cidade ideal:
resultado do pensamento utópico, sendo esta criação intelectual (PEREIRA, 2010).
A cidade ideal Renascentista, segundo Pereira (2010, p. 133) é “o corolário
arquitetônico da utopia, e como tal é uma cidade mental”. São aqui apresentados
dois conceitos, a saber: utopia refere-se a conceito de sociedade ou país
imaginários para os quais tudo é organizado de modo superior e perfeito; corolário
refere-se à consequência de verdade estabelecida ou de proposição que já foi
demonstrada (PRIBERAM, 2008-2020).
Alberti propõe a inserção de frações novas em contextos antigos existentes
nas cidades. Isto ocorre porque alguns estudiosos propõem características aos
espaços por meio de estudos, desenhos e pinturas simultaneamente à vida que se
desenvolvem em ambiente medievais. Alguns edifícios são inseridos no ambiente
urbano, reformas em cidades velhas como em Florença, Ferrara, Urbino, Pienza,
Roma, por exemplo, que não modificam a estrutura interna da cidade e em alguns
casos como em Florença, Pienza e Roma foram criadas as respectivas praças
Annunzita, Piccolomini e Capítólio (PEREIRA, 2010)
No Renascimento, houve o surgimento da Teoria da Arte e da perspectiva.
Alberti fundamentou seus estudos em geometria euclidiana para abordar a
perspectiva e Brunelleschi, teórico renascentista desenvolveu estudos sobre a
construção do espaço aplicando a perspectiva linear (MENDONÇA, 2012).
Brunelleschi queria criar um novo método de construção, utilizando as formas
da arquitetura clássica mas num novo modo de harmonia e beleza. Em muitas de

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suas obras Brunelleschi combinou elementos como pilastras e arcos à sua maneira,
a partir de estudos que efetuou de edifícios clássicos, realizando medições de
palácios e de ruínas de templos de Roma e tendo realizado esboços de seus
ornamentos e formas (GOMBRICH, 1978).
Brunelleschi também forneceu aos artistas meios matemáticos para resolver a
perspectiva, representação em que os objetos parecem diminuir de tamanho
conforme se afastam do observador. Brunelleschi atuou em várias atividades até
atuar com arquitetura em Florença e tornar-se teórico da perspectiva linear.
Neste mural da igreja Florentina Santa Maria Novella, denominado “A
Santíssima Trindade”, de Masaccio, a perspectiva foi produzida segundo as regras
matemáticas.
Fonte: Opera per Santa Maria Novella.

Figura – “A Santíssima Trindade”, do pintor Masaccio.

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Gombrich (1978, p. 176) relata: “Os artistas em redor de Brunelleschi


ansiavam com tanta veemência por uma renovação da arte que se voltavam para a
natureza, a ciência e os remanescentes da antiguidade a fim de realizarem seus
novos objetivos”. Ainda, de acordo com o autor, os artistas italianos da Renascença
dominaram o conhecimento da arte clássica e da ciência, mas outros artistas, da
mesma geração do Norte da Europa foram inspirados.
Arquitetos como Brunelleschi, Alberti e Bramante assumem figura moderna:
com papel intelectual, requerendo dignidade pessoal ao mesmo tempo em que a
divisão social do trabalho ocorre revolucionando a execução de uma obra, exigindo
a racionalização de métodos de projeto. Desta maneira, no século XV surgiu o
conceito de projeto (PEREIRA, 2010).
Na arquitetura, Brunelleschi realizou projetos famosos em Florença. Um
destes foi o projeto da Igreja Santa Maria Del Fiori, hoje conhecida como Chapel
Duomo (PEREIRA, 2010).
O pensamento humanista presente nos séculos XIV e XV apresenta
concepção racional a respeito do homem e do mundo, diferindo daquilo que era
apregoada na Idade Média. O texto Discurso sobre a dignidade do homem de Pico
della Mirandola, filósofo (1463-1494) e um dos teóricos do humanismo, apresenta o
homem como “o mais digno dentre todos os seres animados criados por Deus, uma
criação cuja posição na ordem universal deveria ser objeto de inveja tanto dos astros
quanto das bestas e dos espíritos supramundanos, um verdadeiro milagre, de
condição privilegiada e maravilhosa” (LOBO; PORTELLA, 2017, p.23). Seu texto é
considerado manifestação das mais expressivas do pensamento humanisto na Itália,
sendo o humanismo um dos pilares do Reascimento (LOBO; PORTELLA, 2017).
Pico della Mirandola estudou Direito Canônico em Bolonha, depois foi para
Pádua, tendo contato com o pensamento do filósofo Aristóteles (IV a.C.). Tendo
vivido em Paris na França e Florença na Itália, também dedicou-se a estudar as
teorias de Platão (viveu na Grécia entre séc. V e IV), bem como línguas clássicas
antigas e cabala. Com 23 anos convocou estudiosos da Europa para um debate no
qual apresentaria suas 900 teses sobre platonismo e cabala. Algumas destas teses
foram classificadas como heréticas, não ocorrendo o debate. Foi preso, libertado

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recebeu proteção de Lorenzo de Médici banqueiro e estadista em Florença. Em


Florença filiou-se à Academia Platônica, centro de estudos relacionado ao
pensamento de Platão. Morreu com 31 anos, um ano de pois de ter sido absolvido
da acusação de heresia (LOBO; PORTELLA, 2017).

Palladio e Vasari

Assim como Vitruvius e Alberti, Andrea Palladio fundamenta sua obra na


tríade: funcionalidade, construção e estética (DZIURA, 2006).
Palladio discute a idéia da preparação na tríade arquitetônica assim como
Vitruvius: a utilidade ou comodidade, a durabilidade e a beleza. A primeira
relacionada com a função do espaço, que acontece quando estão localizados em
seus próprios lugares, ou seja, todo edifício para ser funcional, deve ter sentido e
método (DZIURA, 2006, p. 21).
Palladio (1508-1580) também citou Vitruvius em sua obra. Este estudou
Alberti, Vitruvius e outros tratadistas e elaborou seu tratado, divulgando seus
desenhos e obras. Palladio visitava Roma para conhecer os antigos monumentos
assim como aquele existentes em locais por onde passava. Estudou tais
monumentos: mediu, efetuou esboços resultando na incorporação da lógica de
construção destes monumentos à sua obra. Discutiu edifícios particulares e casas,
edifícios públicos e depois abordou construções de outros portes e finalidades como:
igrejas, teatros, aquedutos e banhos, prisões e fortificações de cidades, portos,
estradas e praças (DZIURA, 2006).
Estruturou sua obra em quatro livros, a saber: Livro I apresenta a preparação,
a fundação e os materiais necessários a serem observados antes do início do
edifício, procedendo à descrição das ordens de arquitetura, considerando os
diferentes tipos de espaços e as partes do edifício. O Livro II caracteriza o morar,
começando com a casa privada grega e romana. O Livro III concerne os trabalhos
públicos – praças, estradas, pontes e basílicas – e faz um balanço entre exemplares
antigos e seus projetos. O Livro IV descreve à parte o Tempietto de Bramante,
voltando à arquitetura antiga sagrada, e especialmente aos templos de Roma

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(DZIURA, 2006, p. 31).


Em cada livro apresenta detalhadas explicações e fundamentação relativas
às diferentes construções.
Para melhor conhecer o conteúdo dos Livros I e II, Dziura apresenta relato
objetivo em seu artigo: três tratadistas da arquitetura e a ênfase no uso do espaço,
no trecho da página 31 a 33.
No século XVI, Giorgio Vasari (1511-1574) publica sua obra Vidas dos
grandes artistas em 1550, que possibilita a compreensão do fenômeno humanista,
bem como a arquitetura moderna. Vasari efetua uma interpretação “linear” da
história, permitindo que o fenômeno humanista seja compreendido. Nesta obra
VAsari relaciona os profissionais a suas obras (PEREIRA, 2006, p. 145).
Vasari apresentou o ciclo humanista composto por três etapas (PEREIRA,
2006):

 a primeira maneira (prima maniera) que engloba os precursores;


 a segunda maneira (seconda maniera) na qual são tratados os problemas
sem, no entanto, abordar suas consequências, seus efeitos;
 a terceira maneira (terza maniera) etapa em que o exemplo dos
antigos é superado. Após estas etapas ocorreu o Maneirismo.

A estrutura dos estudos de Vasari possibilita demonstrar a sequência


Renascimento – Maneirismo – Barroco (PEREIRA, 2006). Giorgio Vasari conviveu
com vários artistas e estudou outros artistas e teóricos. Sua contribuição se fez por
sua produção relativa à história dos artistas e teóricos do século XV e pelo
reconhecimento do protagonismo do artista no processo artístico.
Os registros dos artistas do Renascimento realizados por Vasari
mostraram o artista como mediador e não como copiador. Com sua obra Vidas
Vasari iniciou a História da Arte e consolidou a Teoria da Arte do Renascimento,
conforme nos apresenta Byington: Nas Vidas, Giorgio Vasari desculpa-se por sua
linguagem não literária. Mas, ao mesmo tempo, justamente por sublinhar tal
característica de sua escrita, classificando-a como especifica das artes e dos

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artistas, ele se coloca na posição de quem requer para si e para a sua matéria outro
tipo de legitimidade. A declaração explicita de não aspirar a glorias literárias abriga,
paradoxalmente, a exigência de um lugar especifico para si, com análoga dignidade
social e intelectual. (BYINGTON, 2004, p. 13).
A obra de Vasari apresentou artistas, exaltou seu status, posicionou-se diante
de doutrinas e conceitos presentes no Renascimento, marcando separação entre
Idade Média e Renascimento por meio do desenvolvimento artístico (BYINGTON,
2004).

MANEIRISMO

Para compreender o Maneirismo, Vasari apresenta o ciclo Humanista como


uma evolução, que se apresenta em três etapas (PEREIRA, 2010):
 “prima maniera”, primeira maneira, que inclui os precursores;
 “seconda maniera”, segunda maneira, na qual os problemas são
apresentados, mas todas suas consequências não são desenvolvidas e
 “terza maniera”, terceira maneira, etapa em que os exemplos antigos são
superados. Na sequência destas etapas surge o Maneirismo.

Devemos observar a sequência das manifestações não nos prender


unicamente ao período em que as mesmas ocorrem.
De acordo com Vasari a sequência que se desenvolve é: Renascimento –
Maneirismo – Barroco. Seguem definições expressas por Pereira, que nos permitem
compreender as futuras explicações: A linguagem é a expressão linguística comum
a espaços e tempos muito diferentes; o estilo concretiza essa expressão em um
tempo mais preciso e a reserva em um espaço mais definido; enquanto a maneira é
uma forma particular de expressão de um artista ou grupo de artistas em um lugar e
momento preciso e de- terminado. Assim, podemos distinguir, dentro da mesma
linguagem clássica da arquitetura, entre o estilo helenístico ou o barroco, e entre a
maneira de Palladio ou de Herrera. (PEREIRA, 2010, p. 146)

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Desde o final da Idade Média têm ocorrido crises na história do Ocidente,


sendo estes períodos descritos como transição. Hauser (1976) afirma que o
Maneirismo, a crise da Renascença, surgiu entre duas fases uniformes para
civilização ocidental: entre a Idade Média Cristã e uma nova era científica, sendo um
período de transição.
O Maneirismo caracterizou-se por revolução na história da arte, criando
padrões de estilo novos, com o fato da arte divergir da natureza. Na Renascença os
homens acreditavam que retornariam à objetividade dos antigos, ao estoicismo
romano, ao culto grego do corpo. Na Renascença interpretava-se a ideia de que
corpo e alma compunham unidade, sem conflito. Com a crise da Renascença adveio
a dúvida: seria possível integrar o físico e o espiritual? A arte maneirista apresenta
como aspecto característico e único: não enfrentar o espiritual como alguma coisa
que possa ser expressa de modo material, por considerar o espiritual irredutível a
alguma forma material mas que pode ser sugerido por distorção de forma, bem
como de rompimento de fronteiras (HAUSER, 1976).
Hauser (1976) apresenta-nos que os trabalhos maneiristas apresentam
qualidade de paradoxo, mencionando que este paradoxo pode ser entendido como
um conflito que vai além da forma porque expressa o conflito da vida, apoia-se na
ambiguidade das coisas, na impossibilidade da haver certeza com relação a
qualquer coisa.
O conceito de paradoxo foi perceptível no protestantismo, como expressou
Lutero, segundo Hauser (1976, p. 22): “Seja um pecador e peque corajosamente...
estamos presos ao pecado enquanto estamos aqui. Tome cuidado para ser tão puro
que não seja afetado por nada... o maior pecado vem em todos os tempos do que é
melhor”. O conceito de paradoxo também era presente em outras áreas como: na
economia por considerar a alienação entre o trabalhador e seu trabalho; na política,
pois considerava um padrão para o “príncipe” e outro para o “súdito”; na literatura,
cujo papel principal era destinado à tragédia.
A arquitetura renascentista, que ocorre na etapa “terceira maneira”, dá lugar
ao Maneirismo, sendo este caracterizado como resultado, revisão interna e
propagação externa da arquitetura humanista que ocorria no Cinquecento. No

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Maneirismo verifica-se a inversão deliberada de normas clássicas por meio de


desejo revisionista de rompimento de modelos e o menosprezo à já alcançada
perfeição clássica. Na arquitetura o Maneirismo atua no problema da escala, tanto
na concepção como no controle tridimensional (PEREIRA, 2010). O Maneirismo
desenvolveu-se ao mesmo tempo que o Renascimento Clássico, no período por volta
de 1520 a 1610.
Na etapa “terceira maneira” Bramante, em Roma, responsável pelo projeto
para São Pedro do Vaticano, foi encarregado por Julio II para desenvolvê-lo. Este
projeto era um grande empreendimento, para substituir a antiga basílica paleocristã,
que foi demolida em 1503 por apresentar risco iminente de desabar.
Esse projeto inicialmente era composto de cúpula sobre duas naves
clássicas abobadas, tendo adotado a planimetria de cruz grega. Os braços desta
eram absides (corredores) semicirculares, com pórticos ao exterior e com quatro
cúpulas menores junto da cúpula central. No entanto, este projeto foi alterado. Com
a morte de Julio II e de Bramante, a obra continua com algumas correções até que
pouco antes de 1550 Paulo III encarrega Michelangelo pela continuação da obra.
Michelangelo efetua alterações no projeto de Bramante: retira as entradas laterais,
assim como as sacristias previstas nas torres, transforma a cúpula fazendo ter 131 m
de altura, tornando-a assim, o elemento mais saliente no perfil da cidade. Na
alteração, Michelangelo também prolonga a base da cruz grega dando maior realce
à fachada principal (PEREIRA, 2010).
A solução de Michelangelo para a Catedral de São Pedro é um exemplo da
arquitetura maneirista porque elementos de escalas diferentes são colocados em
imediata justaposição. Alternam-se saliências pequenas e grandes obtendo-se jogo
entre a escala do conjunto principal de pilastras: gigante e a escala dos nichos e
janelas, mais próximas da escala humana. Este solução tem efeitos na revisão
maneirista e na arquitetura que ocorre em período posterior, segundo Pereira (2010).
A arquitetura de Bramante que ocorre na “terceira etapa” é também
denominada “perfetta maniera” e tem seguidores, que divulgam as ideias de
Bramante para as cidades de Verona e Veneza por volta do segundo quarto do
século XVI, devido à dispersão dos arquitetos do núcleo romano para outros centros

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na Itália, por conta do saque de Roma ocorrido em 1527 (PEREIRA, 2010).


Vemos assim que os seguidores de Bramante se dispersaram pela Itália,
sendo alguns exemplos: Rafael Sanzio, Baldassare Peruzzi e Antonio da Sangallo,
Jacopo Sansovino e Michele Sanmicheli (PEREIRA, 2010).
Em 1527 houve o saque de Roma, comandado pelo exército de Carlos V que
era imperador da Sacro Império Romano-Germânico resultando em paralisação de
todos os projetos papais e, assim, arquitetos e artistas saíram de Roma e se
espalharam pela Itália, de acordo com Jones (2014).
 Jacopo Sansovino, pupilo de Giuliano de Sangallo (1445-1516) foi para
Veneza, tornado-se o arquiteto oficial da República. Teve como responsabilidade os
projetos dos prédios públicos voltados para a Praça de São Marcos;
 Vasari em Florença atuou na renovação da cidade, sob encomenda de
Cosimo de Médici. Vasari realizou o projeto para prédio administrativo destinado à
burocracia estatal: o Uffizi (1560-1581);
 Michelangelo também trabalhou para a família Medici em Florença e,
retornando a Roma, foi incumbido de concluir projetos de Antonio de Sangallo, que
estavam inacabados como: Palazzo Farnese (1534-1546); Basílica de São Pedro
(1539-1546).

Com relação ao Maneirismo Pereira (2010, p. 151) afirma: “As formas e as


maneiras que o Maneirismo adota são ricas e diversas, em função da maneira
particular dos diferentes arquitetos ou grupos de arquitetos”.
Gombrich (1978) apresenta que alguns artistas admiravam as obras de seus
mestres como Michelangelo, Rafael, Ticiano e Leonardo e consideram que tudo o
que poderia ser feito na arte já estava feito e, assim, estudavam o que estes mestres
haviam aprendido para tentar imitar a maneira destes do melhor modo que podiam.
Na arquitetura alguns jovens consideraram que isto seria uma “licença” para
surpreender o público com suas invenções. Um destes exemplos é a janela do
Palácio Zuccari em Roma, que tem a forma de uma face. Já outros arquitetos tinham
intenção de mostrar seu conhecimento, sendo Andrea Palladio um destes.

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Arquitetos do Maneirismo

Vamos, então conhecer alguns arquitetos maneiristas.


O Maneirismo apresenta a continuidade e a revisão da escola romana
ocorrendo conforme atuação de arquitetos em determinadas regiões (PEREIRA,
2010):
 Sebastiano Serlio (1475-1553/1555), com seu tratado “L'architettura”,
publicado entre 1537 e 1551, difundiu o Renascimento pela Europa, apresenta
orientações práticas, mais do que teóricas (PEREIRA, 2010).
Escreveu sobre construir e seus escritos foram publicados em Veneza, Paris
e Lyon, sem obedecer uma ordem; alguns livros só foram publicados depois de sua
morte. Escreveu sobre a obra de Bramante, de Rafael, e de Baldassare Peruzzi, seu
mestre, a quem deve seu conhecimento relativo ao antigo. Serlio foi um dos
arquitetos, que depois do saque de Roma (1527) foi para Veneza. Os livros IV de
1537 e III de 1540 divulgaram o entendimento da arquitetura antiga, bem como da
arquitetura romana de inspiração antiga pelo norte da Italia (COLLECTIF, 2015).
Sua principal obra é o castelo de Ancy-le-Franc em Borgonha, a partir de
1541; no livro II, Serlio aborda a perspectiva apresentando o teatro em madeira de
1539, quando passou em Veneza, integrando a corte do palácio Porto-Colleoni em
Vicenza. A planta deste é combinada à perspectiva do palco, apresentando a
convergência de linhas para um ponto de fuga. Em suas representações , Serlio
sempre procurava utilizar elementos de perspectiva. No livro VII de 1575, Serlio
apresenta o plano de Villa, “com concavidade da parte central”, podendo ser
comparado ao que Palladio fez por volta de 1542 para Villa Pisani em Bagnolo
(COLLECTIF, 2015, p. 65).

 Pirro Ligorio (1510-1583) e sua obra;


Pirro Ligorio atendeu o Papa Julio III, que esteve a frente da igreja de 1550 a
1555, último papa da Renascença (CAMPBELL, 2011). Ligorio prestou serviços a
vários papas, no entanto, não foi incluído na obra de Vasari: Vidas, a princípio,
apenas tardiamente, depois de ter falecido. A exemplo de antecessores como

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Alberti, Ligorio considerava necessário o estudo de ideias e formas clássicas, com o


propósito de corrigir o que ele via como defeito na sociedade e cultura
contemporâneos. Ligorio nunca publicou suas enciclopédias, tendo percebido que
com as frequentes mudanças de papas e seus desejos, sua permanência na
prestação destes serviços era instável (COFFIN, 2004).

 Giulio Romano (1499-1546) e sua obra Palácio do Té de Mântua;


Segundo Jones (2014), Giulio Romano foi pupilo de Raphael mas não
apresentou interesse em integrar a parceria Raphael-Bramante ou seguir a tradição
deste em suas construções. Com o Palácio de Té, Romano apresentou-se mais
“distante” dos ensinamentos de seu mestre: criou um espaço dentro dos limites do
palácio que lhe propiciou experimentos arrojados. Nesta construção adotou: no
revestimento, a rusticidade das pedras e as dimensões destas irregulares entre si.
Colunas próximas demais entre si e o entablamento de frisos que parece deslocado.
Estas soluções parecem apresentar um dúvida: teria Romano tentado substituir o
antigo pelo novo?
 Giacomo Barozzi da Vignola e sua obra Vila Farnese em Caprarola e igreja
de Jesus de Roma, considerada como protótipo de igreja da Contrarreforma e
generalizado na Europa no período que se seguiu. A igreja de Jesus configura-se
sobre a planta de cruz latina (os braços do cruzeiro são pouco profundos, a nave
central se estende devido às laterais, as laterais se configuram em capelas baixas e
escuras).

Vignola produziu um manual: Regra das Cinco Ordens de Arquitetura, com


diretrizes para a construção correta, contribuindo para teoria da arquitetura presente
na representatividade do Barroco. Esta obra tem uma particularidade: é composta
por gravuras com breves comentários, sendo dedicada ao cardeal Alessandro
Farnese, para quem Vignola recuperará o palacio de Caprarola em 1558. Nela
Vignola tem o seguinte objetivo: “desenvolver um cânone universal de proporções
que seja inteligível aos espíritos medianos. As teorias das proporções de seus
antecessores padeciam na verdade de uma deficiente aplicabilidade prática”

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(COLLECTIF, 2015, p. 74). Outro ponto importante entendido como revolução


produzida por Vignola, foi a elevação do módulo para categoria de medida absoluta,
diferentemente do sistema de medida adotado nas distintas regiões.
Vignola teve sua formação como pintor em Bolonha, tendo assim iniciado
seus estudos sobre perspectiva, resultando em sua segunda obra: as duas regras da
perspectiva aplicada de 1573. Também dedicou-se ao estudo da arquitetura romana
e suas leis, por ser membro da academia vitruviana. Depois disso iniciou a atuar
como arquiteto em Bologna, em Fontainebleau e alcanaçando depois
reconhecimento internacional devido às obras: S. Andre em Via Flaminia, a igreja de
Jesus e Santa Anna em Roma, a intervenção e as transformações: da fortaleza
Caprarola em vila, do palácio Farnese em Piacenza (COLLECTIF, 2015).
Em outras regiões da Italia ocorrem as manifestações maneiristas de outros
arquitetos como: Vasari e Palladio, além de outros.
 Giorgio Vasari (1511-1574) com sua obra em Florença;
Vasari é conhecido por seu trabalho Vidas e na arquitetura seu “projeto mais
ambicioso” (JONES, 2014, p.15), Uffizi, prédio administrativo destinado à burocracia
estatal. Este é parte da renovação da cidade sob Cosimo de Médici.
 Andrea Palladio (1508-1580) em Veneza, Vicenza ou Verona, o arquiteto
revisitou a Antiguidade desenvolvendo monumentos urbanos, edifícios públicos,
igrejas, vilas e palácios; sua obra mais representativa foi “a Rotonda” em Vila Capra.
Palladio era um estudioso e depois de ter ilustrado o Vitruvio de Barbaro
pensa num projeto de arquitetura de sua autoria. Obra importante: Os Quatro Livros
de Arquitetura contribuiu para a fama do autor tornado-se referência mundial, por ser
classicisimo de inspiração paladiana, denominado de paladianismo.
Sua experiência de construir como canteiro, aprendida no atelier Pedemuro
em Vicenza terá efeito em ensino de construção e de materiais. A partir de 1530
seus encontros com humanistas do norte da Italia lhe renderam atuar comarquitetura
em Padua. Suas estadas em Roma lhe opssibilitaram aprofundar-se na teoria da
arquitetura (COLLECTIF, 2015).
Em sua obra Os Quatro Livros de Arquitetura Palladio adota o recurso de
ilustração com muitos projetos pessoais. Embora muitas de suas obras estivessem

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inacabadas nas ilustrações de seu tratado, foram completadas sendo que nestas a
axialidade de alguns projetos era mais evidente que a real condição dos terrenos
permitia. Segundo apresentado em Teoria da Arquitetura, no que diz respeito à
organização, apresentação e coerência da argumentação, os Quattro libri de Andrea
Palladio fundaram as normas que continuam a ser valias para todos os manuais de
arquitetura das épocas posteriores. (COLLECTIF, 2015, p. 97).
A vIla Rotonda, perto de Vicenza, obra iniciada em 1566, foi projetada para
ser a propriedade de aposentadoria do prelado papal de Paolo Almerico. Este
projeto apresenta dois eixos simétricos, apresentando uma rotunda no centro, sendo
que as fachadas se retpetima replicando a parte frontal de um templo clássico
(CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019).
Pereira (2010) nos apresenta que a arquitetura paladiana fpassou a ser
considerada cânone da arquitetura civil, projetando-se posteriormente na Inglaterra
no século XVII, na Europa e na América nos séculos XVIII e XIX.

Último período do Maneirismo

O último período do Maneirismo ocorreu depois do Concílio de Trento (1563),


que apresentou aplicação de decretos para a igreja católica. Neste período ocorreu
a denominada Contrarreforma, cuja manifestação foi evidente na Itália por volta de
1600. O estilo trentino e as normas dos concílios presentes no final do século XVI
contribuíram para o fim da manifestação maneirista e conduziram ao Barroco
(PEREIRA, 2010).
O arte trentina apresenta-se como: essencialização das teorias
renascentistas, sua aplicação e eliminação de contaminação naturalista de
suas formas puras e abstratas. No desenvolvimento do período trentino o
homem se prende à rigorosa filosofia artística. De sua arquitetura retira-se todo
suposto estético que não esteja fundamentado na beleza matemática das
proporções e no equilíbrio de sombras e luzes (AZNAR, 1992, p. 122).
A Contrarreforma na Espanha, no fim do período humanista, caracteriza-se
como um “segundo renascimento”, conforme Pereira (2010, p. 153). O convento O

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Escorial (1561-1584), em Madri, Espanha, realização de Felipe II, foi projetado por
Bautista de Toledo (1515-1567) e Juan de Herrera (1530-1597) e teve influência do
Palacio Diocleciano em Split e Ospedale MAggiore em Milão. Estes efeitos sobre a
arquitetura espanhola do século XVI foram exportados para as colônias (JONES,
2014).
Na Inglaterra, Robert Smythson (1536-1614), responsável por “prodigy
houses”, construções para abrigar a Rainha Elizabeth e sua corte, projetou Wollaton
Hall, com características muitos similares aos desenhos do Poggio Reale de Serlio
em Nápoles. Jones (2014) afirma que a solução arquitetônica adotada por Smythson
mostra que o tratado de Serlio obteve sucesso na Europa Setentrional.

BARROCO NA ITÁLIA E NA EUROPA

Barroco

Gombrich, em sua publicação A História da Arte, na 16ª edição, nos


apresenta que a denominação Barroco foi utilizada por críticos que se opunham às
tendências seiscentistas, querendo ridicularizá-las, sendo que a expressão Barroco
“realmente, significa absurdo ou grotesco” (GOMBRICH, 2019, p. 385). Estes críticos
consideravam que as formas das construções clássicas só deveriam ser
empregadas se seguissem a maneira dos gregos ou dos romanos unicamente.
Gombrich (2019) afirma que a igreja de Jesus (Il Gésu), cuja fachada foi
revisada pelo arquiteto Giacomo della Porta (153?-1602) em 1575 apresentou vários
aspectos considerados revolucionários, sendo a primeira construção do estilo
Barroco. Esta construção era da Companhia de Jesus, Ordem que havia sido há
pouco fundada pela igreja católica e sobre a qual esperavam que combatesse a
Reforma na Europa.
No século XVI ocorreram reformas religiosas com início na Alemanha e
propagação para outros países. Depois destas ocorreu o Concílio de Trento que
reafirmou a doutrina católica, que, propondo a reorganização da igreja, negou as
mudanças que foram realizadas pelos reformistas. Assim, a igreja católica confirmou

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os sete mandamentos e cultos a santos e à Virgem Maria. A Itália tornou-se região


de origem do Barroco, tendo este se propagado por países da Europa: Holanda,
Bélgica, França e Espanha (BARROSO; NOGUEIRA, 2018).
A contrarreforma, resposta da igreja católica às reformas religiosas ocorridas
no início do século XVI, contribuiu para o Barroco, a Igreja utiliza o barroco a partir
da contrarreforma, e, ao contrário do que os protestantes ordenavam e aboliram, o
lado católico exaltou. Os protestantes negavam a santidade da Virgem Maria e dos
santos, e apresentavam simplicidade nos templos. Os católicos reagiram,
reforçando o conceito da Imaculada Conceição e enalteceu o papel dos seus santos
e mártires, além de promover a pompa nas cerimônias religiosas, com templos
suntuosos, para exaltação de Deus e dos santos. Isso deu ao barroco um campo
imenso e fértil, onde proliferou e dominou totalmente. (ARAUJO, 2004, p. 163)
As reformas religiosas do início do século XVI ocorreram na Europa,
propagando-se por vários países. Como resposta às reformas religiosas a igreja
católica realizou a Reforma Católica ou Contrarreforma, sendo as estratégias
oriundas do Concílio de Trento, que ocorreu entre 1545 e 1563. Dentre resoluções
do Concílio de Trento houve a criação da Companhia de Jesus, cujos membros
eram os jesuítas, que estavam comprometidos em propagar a religião católica na
Europa e fora desta, tendo isto ocorrida nas Américas nas colônias da Espanha e
Portugal (LOBO; PORTELLA, 2017).
Barroco, como expressa Pereira (2010), contempla aspectos diferentes e
complementares:
a) mundo cósmico, que refere-se à ideia de universo, implicando mecanização
e atomização (redução de um corpo a partículas sólidas);
b) mundo artístico, no qual luz, modelagem de formas e jogo de escalas levam
ao cenário;
c) formas arquitetônicas, que compõem o estilo nomeado “barroco”.

Estes aspectos são assim objetivamente explicados:


Quanto ao mundo cósmico, a percepção de mundo foi alterada com a
revolução de Copérnico; sua teoria, Heliocentrismo, apresenta o sol como centro do

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sistema solar e se opõe à teoria do Geocentrismo na qual a Terra era o centro e Sol,
Lua e outros planetas giravam em torno da Terra. Esta teoria explica a divisão do
tempo entre dia e noite e está relacionada à rotação da Terra (FRANCISCO, 2020);
 A mecanização e atomização do espaço é apresentada por meio de
fenômenos físicos, como o termômetro de Galileu (1593), o barômetro de
Torricelli (1643), por exemplo, pois são recursos que permitem medir
características do espaço, neste exemplos: a temperatura e a pressão
(Pereira, 2010);
 Quanto às formas arquitetônicas no Barroco o conhecimento envolveu o
cálculo diferencial, o cálculo integral, havendo aqueles que conheciam seus
fundamentos como Guarino Guarini e Bernardo Vittone,e aqueles que
estavam envolvidos neste problema cultural, como Borromini (Pereira, 2010);
 O mundo artístico do Barroco fixa-se em: movimento, luz e ilusionismo
cenográfico. Pereira explica o trinômio: O movimento barroco deriva da
interpretação da natureza como vicissitude dinâmica e vem representado pelo
infinito e pela relatividade da percepção; pela força comunicativa da arte; pelo
sentido da história como trajetória contínua; ou pelo papel da técnica e da
mecânica como fatores de autonomia.

A luz é o centro do debate barroco desde Caravaggio. Assim, Bernini ilumina


suas obras com fontes ocultas, ainda que em detrimento da organicidade
arquitetônica. Analogamente, para Borromini, a modelagem dos elementos
arquitetônicos se faz em função das condições da luz, para a qual já não existem
regras de valor universal.
Esse ilusionismo ótico derivado dos binômios forma-luz e forma-cor tem sua
tradução particular no caráter cenográfico da arquitetura barroca ao qual nos
referimos anteriormente. (PEREIRA, 2010, p. 159).
 Nas formas arquitetônicas os elementos arquitetônicos apresentam
“liberdade” em seu tratamento, apresentando movimento,
diferentemente das normas renascentistas. Como características tanto
para edifícios como para áreas urbanas são enumeradas:

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- paredes externas – retas e cruzando-se ortogonalmente;


- os espaços deixam de ser quadrados ou retangulares;
- planos oblíquos, que contribuem para efeito de movimento;
- efeitos de luz produzidos pelos planos oblíquos. Este conjunto de
características são preocupações dos arquitetos nos projetos de espaços urbanos e
de edifícios (PEREIRA, 2010).

O Barroco teve seu centro em Roma, com dois artistas: Bernini e Borromini.
Naquele momento a arquitetura era representada pela cidade e não por um único
edifício. Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), protagonista do Barroco, e Francesco
Borromini (1599- 1667) que destaca-se como antogonista a Borromini, juntamente
com Pietro da Cortona, Carlo Rainaldi e Carlo Fontana, coadjuvantes da escola
romana, definem e constroem a Roma barroca, modelo urbano e arquitetônico
(PEREIRA, 2010).
Um ponto importante relativo ao Barroco é a ocorrência de modificaçãoes de
soluções de arquitetura já existentes, proporcionando-lhes novas figuração e
percepção arquitetônica, sendo isto denominado rifacimento. Desta maneira, no
Barroco são construídas novas igrejas, remodeladas outras, modificando suas
configurações espaciais (PEREIRA, 2010).
Como exemplo de remodelação de construções já existentes, observe as
imagens relativas à Basílica de São João de Latrão, que foi modificada internamente,
tendo sua forma, espacialidade e significado modificados completamente.

Figura – Basílica de São João de Latrão (Roma) planta baixa.

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Fonte: Pereira, 2010, p. 105.

Figura – Basílica de São João de Latrão (Roma) depois de transformações


nos séculos XVI, XVII e XVIII

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Fonte: Pereira, 2010, p. 164.

A Capela Sistina do Vaticano é exemplo da passagem do Renascimento ao


Maneirismo, prefigurando o Barroco. Sua espacialidade foi modificada no que diz
respeito ao uso da luz. Esta é uma capela pontificia oficial, dividida em duas áreas
por uma divisão a meia altura, que determinou a composição de pintura do Juízo
Final de Michelangelo (PEREIRA, 2010).
Pereira observa que a posição da composição de Michelangelo, O Juízo Final,
é análoga em todos os seus efeitos perspectivos e perceptivos à composição urbana
que se estabelecia no Capitólio romano na mesma época. Essa analogia é
imprescindível para entender plasticamente a obra do Juízo final, onde a majestade
julgadora de Cristo se alça diretamente sobre quem entra na capela, enquanto o
corpo inferior do afresco somente é perceptível quando se passa à iconóstase. Esse
exemplo simples e perfeito ao mesmo tempo – que nossa cultura atual parece
desconhecer – não era ignorado por seus contemporâneos, e adquire nova vigência
na época barroca, quando a posição relativa das partes em relação ao todo se
configura como argumento essencial da composição artística. (PEREIRA, 2010, p.
165).
Iconóstase tem como explicação, segundo Priberam (2008-2020): “espécie de
grande biombo ou anteparo, com três portas e carregado de imagens, por detrás do
qual o padre grego faz a consagração”.
Na Capela Sistina é possível, portanto, ao observar o Juízo Final, composição
de Michelangelo.

Barroco na Itália

Guarino Guarini, tido como único teórico italiano do Barroco, padre, conciliou
as teorias italiana e francesa de arquitetura, tendo escrito o tratado “Architettura
civile”. Neste tratado expressou: “A arquiteura tem o direito de corrigir as regras da
Antiguidade e o direito de inventar novas regras” (COLLECTIF, 2015, p. 116),
expressando o orgulho do Barroco. Em seu tratado, sua teoria italiana de arquitetura

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fundamenta-se na importância da matemática, por entender que a matemática é


base do pensamento racional. Guarini ressalta ainda que as regras da arquitetura
antiga devem ser de conhecimento do arquiteto, como referencial, porque não
defende a o arbitrário nem a ausência de regras.
A Guarini é dada importância ao seu sentido de proporções e à sua
experiência prática. Ele considera que o sentido da beleza e das proporções é
estabelecido pelo gosto, que se origina em evolução histórica relacionada a fatores
regionais. E ainda, aquilo que Guarini denomina relativismo estético não ocorre
simultaneamente à ideia de da doutrina das proporções da Antiguidade, tida como
doutrina de validade intemporal. Guarini substitui estas regras fixas por outras que
possibilitam ao arquiteto modificações de regras e formas em determinados limites
definidos pela norma convencional, “a qual encontra a sua expressão no juízo do
gosto do espectador culto” (COLLECTIF, 2015, p.118).
Guarini em seu tratado “Architettura civile” apresenta:
 que o objetivo da arquitetura é o espaço da habitação, confortável
e bem ordenado, aproximando-se de Vitruvio;

 que a missão do arquiteto distingue-se nitidamente entre projeto e


execução, assim como Alberti, sendo o projeto sua tarefa;

Guarini evidencia que as qualidades do projeto são: “firmitas”, “eurythmia”,


“simmetria”, “distribuzione”, quatro das seis categorias evidenciadas por Vitruvio.
Ressalta também que o conforto não pode as afastar da beleza “venustas”, sendo
obtido por equilíbrio de proporções (COLLECTIF, 2015).
Como arquiteto iniciou sua carreira dando continuidade à construção de San
Vicenzo, igreja da Ordem em Modena. Também construiu edifícios em Verona,
Vicenzia, Praga, Paris, Lisboa, Turim. Em Turim construiu a igreja São Lourenço dos
Teatinos, início em 1666. Estes edifícios reúnem influências do Gótico Francês e do
Barroco Romano, apresentando ampliação do efeito de perspectiva das cúpulas por
conta dos efeitos de luz aplicados (COLLECTIF, 2015).
Segundo Gombrich (2019) a Igreja de Jesus (Il Gésu) de Giacomo della Porta

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apresentou novas soluções. diferentes daquelas do Renascimento. A igreja


apresentava formato de cruz com cúpula alta e imponente. No Renascimento a ideia
era que a construção fosse redonda e simétrica, no entanto este formato foi
considerado inadequado para o culto. Esta igreja também propiciava que a
congregação olhasse para o altar-mor, que ficava na extremidade da nave.
Apresenta também várias capelas, havendo em cada uma um altar e duas capelas
maiores que localizam-se nas extremidades dos braços da cruz.
A fachada desta igreja apresenta colunas distribuídas de acordo com
características da arquitetura clássica: grande entrada central, com colunas
emoldurando-a, ao lado duas entradas menores. Gombrich (2019) relata que para
esta igreja o conjunto é o efeito. O arquiteto dedicou atenção à conexão entre os
pavimentos inferior e superior, adotando volutas, que não ocorriam na arquitetura
clássica.
No Barroco a luz é o centro do debate e utilizá-la como estratégia nas artes,
incluindo a arquitetura, é evidente. Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), escultor,
pintor, cenógrafo e arquiteto solucionou o baldaquino acima do altar sobre a tumba
do apóstolo Pedro, no cruzeiro de São Pedro do Vaticano. Esta foi a primeira obra
no Vaticano de uma série que teve a Scala Regia de 1663 (escada do Rei), escada
que dá acesso à Capela Sistina e dependências do papa, um exemplar com efeitos
de perspectiva e luz, utilizando o espaço disponível e escasso (PEREIRA, 2010).
O oratório de Santo André no Quirinale (1659) em Roma é um obra
considerada a melhor da maturidade de Bernini. É uma igreja centralizada, com
planta elíptica, com orientação transversal em relação à entrada, com capelas
menores que se unem ao conjunto unitário (PEREIRA, 2010).
Quanto à espacialidade urbanística barroca, a Praça de São Pedro (1657-
1665), encomendada à Bernini pelo papa Alexandre VII, deveria acomodar multidões
e, para tanto, a solução adotada por Bernini foi conceber a praça como imenso
espaço longitudinal com foco na fachada da igreja, mas que busca ter uma
centralidade própria. Por isso, repetindo parcialmente a ideia de Michelangelo no
Capitólio, Bernini projeta dois corredores retos que partem obliquamente da fachada
da igreja e aproximam esta do espectador (a piazza retta); depois deles um imenso

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espaço ovalado (a piazza obliqua) se abre subitamente, parcialmente delimitado por


dois pórticos formados por uma imensa colunata composta por um total de 280
colunas de 15 metros de altura, agrupadas em quatro camadas, onde Bernini funde
a dignidade da ordem dórica com a elegância do jônico em seu entablamento de
friso contínuo. (PEREIRA, 2010, p. 163).
Francesco Borromini (1599-1667) um dos profissionais que atuou na
construção da Roma Barroca, a exemplo de Bernini, efetua a modelagem de
elementos arquitetônicos considerando as condições de luz. Os binômios forma-luz
e forma-cor são elementos importantes na arquitetura barroco, em seu caráter
cenográfico. Borromini apresenta alternativa experimental ao barroco classicista, por
sua buca: espacial, simbólica e plástica, resumindo-se assim sua experimentação.
Em Santo Ivo alla Sapienza (1650), construção que alterna superfícies curvas
e retas, côncavas e convexas, identifica-se movimento contínuo presente no exterior
que se segue na parte interna da cúpula (Pereira, 2010). Na Igreja de São Carlos
das Quatro Fontes (San Carlino alle Quattro Fontane – 1665) Borromini propõe a
fachada como superfície ondulada, com a parte central avançando de forma
convexa e as laterais se retraindo formando contracurvas, organizando-se em duas
ordens gigantescas e sobrepostas: jônico e coríntio (PEREIRA, 2010).

Barroco na Europa

Na Europa as soluções da arquitetura barroca desenvolvidas na Itália se


fazem presentes em outras regiões. O tabernáculo de Santiago de Compostela
(1655), concebido por José Vega Verdugo, apresenta sua experiência romana
obtida. constituindo-se como ponto central de conjunto de mudanças barrocas na
catedral de Santiago e em seu entorno. Nesta construção Verdugo, em virtude da
largura da igreja, utilizou a soma de peças arquitetônicas independentes,
transformando a catedral em cenário sagrado. As transformações na catedral se
expandem para além do edifício: no entorno da catedral que engloba praças, ruas e
espaços urbanos que compõem o conjunto urbanístico de Compostela (PEREIRA,
2010).

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Este é exemplo que denota que a arquitetura barroca é cenário urbano que
articula todas as edificações, transferindo experiências de obras maiores às
menores e. do mesmo jeito, da arquitetura da cidade para aquela dos edifícios. No
Barroco, a arquitetura centrada inicialmente em palácios e igrejas, amplia seu
domínio para além do componente eclesial nas cidades, desenvolvendo a
arquitetura secular adotada nos edifícios de utilidade pública e residenciais
(PEREIRA, 2010).
A característica cenográfica do Barroco é presente no teatro que,
especializando-se literária e urbanisticamente, exige espaços e soluções
arquitetônicas específicas. DE acordo com Pereora (2010), as soluções
correspondem ao teatro à italiana e ao teatro à espanhola, a saber:
 o teatro à espanhola – a casa de comédias, origina-se de locais
efêmeros para a representação, sendo a cenografia adotada para transformar o
local;
 o teatro à italiana – relaciona-se à ópera, que exige soluções
construtivas para acomodar a apresentação; este tipo de teatro se espalha pela Itália
e pela França.

Edifícios públicos como hospitais, colégios, seminários, casas de correio,


prisões, por exemplo, propagaram-se em várias cidades europeias. Quanto à
arquitetura residencial que envolve de palácios a edificações modestas havia grande
variedade de programas (PEREIRA, 2010).
A arquitetura barroca adotada nos palácios se relaciona com seu entorno
produzindo efeitos na cidade. Pereira (2010, p. 169) afirma que “a construção da
cidade é tanto uma prática edificatória que cria salões fechados, como uma prática
de urbanismo que cria espaços públicos ou salões abertos”. Considerando esta
afirmação, a construção da cidade envolve: vias de circulação (sistema viário),
praças, parques e todos os elementos associados (vegetação, passeio, escadas, por
exemplo). Praça Navona na Espanha ou Praça do Povo em Roma foram concebidos
nos séculos barrocos. A arquitetura vegetal do barroco se contrapõe à arquitetura
pétrea. Os jardins vão se modificando: os jardins renascentistas eram restritos ao

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uso palaciano; o jardim barroco francês abre-se à área urbana e o jardim inglês
constitui-se como modelo para parques na Europa e na América no século XIX
(PEREIRA, 2010).
O Barroco manifestou-se em cidades como Roma, Madri, Paris ou Viena, com
característica governamental e em cidades como Londres, Amsterdã ou Lisboa, que
eram centros comercial e econômico. A manifestação barroca nas diferentes
cidades da Europa ocorreu considerando as diferentes conformações urbanas,
iniciativas e necessidades distintas, de acordo com o contexto socioeconômico e
cultural das cidades (PEREIRA, 2010).
Algumas das manifestações barrocas no continente europeu poderão ser
conhecidas por meio de leitura e estudo de texto a ser indicado.
Como observação, o Barroco também ocorreu em outras regiões fora da
Europa, mas este conteúdo será abordado em outra unidade de estudos.

NEOCLÁSSICO NA EUROPA

Na unidade anterior vimos que o Barroco utilizava elementos antigos na


representação da fé cristã, diferentemente do Renascimento com suas apropriações
helenistas.
No século XVIII ocorreram várias transformações científicas, filosóficas e
sociais e elementos antigos presentes no Barroco começaram a ser questionados,
buscando-se, assim, libertação do formalismo que era fundamentado na
Antiguidade. Em virtude destas transformações o período entre os séculos XVIII e
XIX é bastante agitado.
Vamos então compreender as transformações e seus efeitos para arquitetura,
considerando o contexto da época.

O Neoclassicismo

O Maneirismo estabeleceu um novo “diálogo” com princípios clássicos


tradicionais. Tendo se iniciado na Itália, também se manifestou na Europa e nas

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colônias europeias, sendo que a Antiguidade era inspiração e não modelo


obrigatório. Uma destas manifestações foi o Barroco que, surgindo na Itália,
propagou-se pela Europa e para outras regiões do mundo. A arte e arquitetura
barrocas contribuíram na divulgação da contrarreforma, relacionada à religião
católica. No entanto, ao mesmo tempo que o Barroco enfatizava a igreja, existia um
caráter racional da ciência que opunha a igreja aos cientistas e seus estudos na
Inquisição (RODRIGUES, KAMITA, 2018).
No século XVIII o conhecimento científico relacionado às ciências é renovado
e na arquitetura isto se manifesta interrompendo a tradição clássica. Isto é manifesto
no Iluminismo, que explora e analisa a linguagem clássica, seus componentes e
suas origens, procurando sistematizar os resultados encontrados, como realizado por
Johann Joachim Winckelmamm (1717-1768), tendo assim criado a história da arte
fundamentada em bases científicas (PEREIRA, 2010).
O surgimento do Neoaclassicismo marcou a separação da Idade do
Humanismo e da Idade Contemporânea, a partir de Revolução Francesa (1798)
(SCOPEL; SANTOS, 2019).
O Iluminismo, segundo o filósofo Abbagnano, corresponde à linha filosofia
que se caracteriza por difundir e nortear a razão como crítica às áreas da
experiência humana (ABBAGNANO, 1998).
Achados das descobertas arqueológicas realizadas por volta de 1740 das
cidades romanas de Pompeia e Herculano, soterradas pelas cinzas do vulcão
Vesúvio em 79 d.C., levaram ao interesse pelas artes e modo de vida da cultura
greco-romana. Isto ocorreu devido aos artefatos e relíquias encontrados
promoverem interesse relativos aos aspectos rotineiros da vida dos romanos. A
valorização e influência dos ideais do classicismo greco-romano promoveram o
movimento neoclassicista (BARROSO; NOGUEIRA, 2018). Além destes aspectos, o
neoclassicismo também apresentou influência na política em virtude dos estudos
relativos aos gregos e sua democracia e aos romanos e sua república.
Roma foi um dos centros do movimento neoclassicista e lá morava
Winckelmann, estudioso da arte antiga que analisou a arte grega, comparou-a à arte
Greco-romana, procurando estabelecer fundamentação racional para o julgamento

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de beleza (BARROSO; NOGUEIRA, 2018).


A retomada de cultura greco-romana também constituiu-se de conceitos
básicos relacionados ao ensino das artes academicamente, em instituições mantidas
pelo governo europeu, que tinham também como objetivo promover intercâmbio de
intelectuais, autoridades e ideias europeias com outros países. Barroso e Nogueira
(2018) afirmam que sob a ótica da tendência neoclássica, uma obra de arte só seria
considerada bela se imitasse a natureza, seguindo o que já havia sido criado por
artistas clássicos gregos e renascentistas italianos e para que isto fosse alcançado
os artistas neoclássicos deveriam se capacitar em técnicas ou convenções da arte
clássica, assim estes conteúdos passaram a integrar Academias Imperiais de Belas
Artes.
As características gerais do neoclassicismo nas artes são:

 temas e padrões estéticos da arte clássica antiga; „


 assuntos sobre heróis e seres da antiga mitologia grega; „
 influência filosófica da razão iluminista, cores frias na pintura e opção pelo
branco do mármore na escultura;
 valorização do perspectivismo;
 retomada e a valorização da simplicidade e pureza estética nas artes; „
 clareza e perfeição na arte textual (BARROSO; NOGUEIRA, 2018, p.
129).

A simplicidade e racionalismo são constantes no Neoclassicismo.

O Neoclassicismo manifestou-se nas artes em geral, na arquitetura, na


literatura. Na arquitetura, o neoclassicismo é manifestação artística de novos
arquitetos, que se formaram no contexto cultural do racionalismo iluminista. Tiveram
sua base educacional sendo influenciada pela civilização Clássica, que era
explorada por avanços nas áreas de história e arqueologia. Como já mencionado,
com estas disciplinas procurava-se desvelar os modos de vida da Antiguidade
Clássica. Os arquitetos, então, tinham como modelo construções de templos greco-

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romanos mas, ao mesmo tempo, consideravam que o princípio da era clássica


deveria seguir a realidade moderna, por não considerarem que a concepção de ideal
de beleza fosse eterno e permanente (BARROSO; NOGUEIRA, 2018).
As principais caracterítiscas desta manifestação na arquitetura são
resumidamente expressas (BARROSO; NOGUEIRA, 2018):
 uso de materiais como granito, mármore, pedras e madeira;
 sistema de construção simples;
 adoção de linhas ortogonais;
 formas geométricas simétricas e regulares;
 abóboda de berço (ou abóboda cilíndrica, com a forma de meio
cilindro, apoiada sobre paredes) ou abóboda de aresta (formada pela
intersecção de duas cilíndricas) (ENGENHARIA CIVIL.COM, 2001-
2020);
 cúpulas monumentais;
 pórticos com colunas;
 frontões triangulares;
 relevo em estuque (argamassa produzida com gesso e outros
componentes).

Argan (1993) apresenta que a arte neoclássica manifesta-se criticamente,


condenando o Barroco e o Rococó: condena os excessos porque adota a arte greco-
romana como modelo de clareza, proporção e equilíbrio.
Elucidando: O Rococó foi movimento artístico que surgiu em Paris, no século
XVIII, propagou-se por vários países, chegando à América. Durante o reinado de
Luis XIV, este impunha aos artistas feição clássica. Diferentemente do Barroco,
surgiu o Rococó, estilo que pudesse expressar elegância, graça e delicadeza, além
da preocupação com detalhes decorativos (BARROSO; NOGUEIRA, 2018).

Neoclassicismo na Europa

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O Neoclassicismo fundamentou-se no pensamento racionalista vigente na


época e na exaltação da natureza. Para os estudiosos daquele período: Laugier e
Jean-Jacques Rousseau, a natureza era considerada o ponto inicial da arquitetura e
tendo na geometria das formas sua essência.
A Revolução Francesa 1789 e eventos como a independência dos Estados
Unidos (1775-1783), revoluções na Espanha a partir de 1812 e a emancipação
ibero-americana a partir de 1810 são parte de revolução social que, findando regimes
antigos, geraram movimento social, mais evidente no século XIX. A burguesia
clamava por reformas econômica e política e as mudanças urbana e demográfica
requeriam mudanças na arquitetura com novos sistemas técnicos e de construção
ou programas de edifícios (PEREIRA, 2010).
Com o advento da Revolução Industrial foram criados centros culturais na
Europa, que atuavam em várias áreas do conhecimento, incluindo arquitetura.
Destes estudos surgiram termos e conceitos utilizados até a presente data. Um
deles foi: Tipologia, que identifica os diferentes tipos de edificações, por exemplo:
edificação religiosa ou edificação militar. A partir das diferentes tipologias de
edificações foi, portanto, possível, definir o programa para estas edificações
(SCOPEL; SANTOS, 2019).
Com estudos ainda limitados relativos às tipologias de edificações e seu
programas, Antoine-Chrysostôme Quatremère de Quincy arqueólogo, crítico de arte,
filósofo e político) dedicou-se ao tema definindo sistemas tipológicos, apresentando
a ideia de que o tipo exercia relação entre forma e função. A classificação dos tipos
demonstra como estes são limitados e poucos e insuficientes para abordar a
Revolução Industrial. No entanto a complexidade relativa às tipologias, como
expresso por Pereira (2010), é válida quando a arquitetura já é conhecida porque
refina e aperfeiçoa o conhecimento existente, sem avançar. As funções urbanas
apresentam complexidade que ao longo do século indicam que estudar arquitetura
envolve também fazer referência a soluções tipológicas, mas que nem sempre
possível (PEREIRA, 2010).
Esta dificuldade apontada por Pereira (2010), permitiu que Jean-Nicolas-Louis
Durand, arquiteto e teólogo, abandonasse estudos relativos à tipologia e elaborasse

35
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estudos relativos às metodologias de projeto em arquitetura, por meio de


decomposição e análise, com o propósito que estas fossem válidas em qualquer
situação, tempo e espaço, tendo adotado comparações.

Figura – Tabelas comparativas de teatros europeus, de acordo com Durand.

Fonte: Pereira, 2010, p. 186 e 187.

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Pereira apresenta que, reagindo às insuficiências da tipologia como estrutura


platônica ou idealista para a arquitetura, Durand recorre a ideais aristotélicos como a
busca das causas e a redução dos fenômenos a um pequeno número de princípios
explicativos. (PEREIRA, 2010, p. 189).
Durand foi discípulo de Boullée, pertenceu à geração napoleônica, que
institucionalizou o processo de revolução e, ao dirigir a École Polytechnique
deparou- se com um problema social novo: o ensino da arquitetura. Sua resposta
pedagógica, as “leçons d’architecture” deveria oferecer ao estudante um método de
projeto e de construção para qualquer situação (PEREIRA, 2010).
De acordo com Pereira: Trata-se de um método e não de um tipo, pois a
arquitetura deixa de querer refletir tipos ideais para passar a aplicar o rigor do
método científico aos programas edificatórios; um método baseado na composição
como momento-chave no qual a razão age sem in terferências nem limitações
construtivas. Da composição aditiva da Academia se passa ao novo conceito de
composição arquitetônica mediante um processo metodológico. (PEREIRA, 2010, p.
189).
O vocábulo método apresenta várias explicações, sendo algumas delas
(PRIBERAM INFORMÁTICA, 2020):
 Processo racional para chegar a determinado fim e
 Obra que contém disposta numa ordem de progressão lógica os principais
elementos de uma ciência, de uma arte.

Segue exemplo do método compositivo de Durand.


O processo de composição exige decomposição antecipada para
determinação e conhecimento dos elementos da arquitetura. Veja a explicação :
Entendendo o volume arquitetônico como fundamento e base da arquitetura, esses
elementos serão seus limites físicos (o piso, o telhado ou cobertura, as paredes ou
elementos de fechamento, as colunas ou elementos de sustentação) assim como as
comunicações com outros volumes (as portas, as janelas e as escadas). Com esses
elementos, conhecendo-os e dominando-os, aborda-se a composição arquitetônica.
Os elementos da arquitetura passam a ser os elementos da composição. (PEREIRA,

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2010, p. 189).

Figura – Método compositivo, Durand, de “Précis de leçons


d’architecture”,1802-1805.

Fonte: Pereira, 2010, p. 189.

Observe a numeração das etapas apontadas na imagem, indicando a ordem


de aplicação do método compositivo. Segue outro exemplo que demonstra a
composição por elementos apresentando:
 a adoção de retícula com hierarquia;
 eixos responsáveis pela organização do projeto, fixa a relação entre as
partes, define a posição das áreas, determina o traçado de colunas e paredes;
 estabelecimento de hierarquias de organização e espacial que possibilitem
o travamento de partes e da edificação.

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Figura – Combinações de elementos, Durand, de “Précis de leçons


d’architecture”, 1802-1805.

Fonte: Pereira, 2010, p. 191.

Durante o século XIX as ideias de Durand foram aceitas e seus exemplos de


combinação tornaram-se modelos de traçados de arquitetura.

Arquitetos e suas obras

Os arquitetos franceses como: Étienne-Louis Boullée (1738–1799) ou Claude-


Nicolas Ledoux (1736–1806), com base em princípios iluministas, propuseram
formas e cidades ideais que utilizassem volumes ou formas puras: cubo, esfera,
cilindro e cone.
Dentre as obras de Étienne-Louis Boullée, pode-se mencionar (PEREIRA,
2010; CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019):
O cenotáfio (monumento erigido à pessoa sepultada em outro lugar) para
Isaac Newton de 1784, construção no formato de esfera, representando a Terra,

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com um planetário na parte interna e aberturas representado as constelações.


Bibliothèque Nationale, de 1788, apresenta apenas algumas características
das construções neoclássicas; adota a solução abóboda de berço para acobertura.
Boullée atuou como arquiteto e foi bastante influente na área acadêmica nas
instituições: École Nationale des Ponts et Chaussées e na Académie Royale
d'Architecture.
Claude-Nicolas Ledoux (1736–1806) projetou várias edificações para pedágio
e portais para a Coroa francesa, para marcar os limites da cidade, sendo elas
diferentes entre si (PEREIRA, 2010; CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019):
Uma destas edificações ainda existente é Barriére de la Villette (1785–1789),
que apresenta vocabulário arquitetônico simplificado.
Produziu edifícios para a Salina de Chaux (1775–1779), no leste da França. A
fábrica substituiu instalações precárias, e seu projeto considerou: proximidade de
floreta para obtenção de madeira para aquecimento dos fornos, local para extração
do sal, depósitos, acesso à fábrica com local para a guarda e uma prisão. Neste
projeto Ledoux quis mostrar vantagens com a solução racional e abrangente para
um problema industrial elevado.
Jacques-Germain Soufflot (1709–1780) e a Igreja de Santa Genoveva em
Paris (1757), hoje denominada “Panthéon”, está sobre edifício barroco, com planta
em cruz e centralizada; apresenta frontão neoclássico, com capitéis coríntios a
exemplo daqueles do Panteon romano (CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019).
Jean-Nicolas-Louis Durand (1760-1834) foi discípulo de Étienne-Louis Boullée
e professor da École Polytechnique (fundada em 1794). Sua obra “Précis”, foi
publicada em 1802 pela primeira vez, tornando-se texto de referência utilizado em
toda a Europa por meio século. Durand se opunha ao Classicismo histórico que só
copiava os elementos superficiais, mas que não apresentava racionalidade em
planta. Desta maneira, para Durand, a edificação deveria refletir clareza, ordem e
hierarquia (PEREIRA, 2010; CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019);
Karl Friedrich Schinkel (1781–1841) formou-se como arquiteto em Roma e um
de seus primeiros projetos foi Neue Wache (Nova Casa da Guarda) (1816–1818),
que foi monumento ao novo exército de cidadãos da Prússia. Foi bastante influente

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na Europa e alguns de seus trabalhos são (CHING; JARZOMBEK; PRAKASH,


2019):
 Teatro Schaus-pielhaus (1818–1821);
 Museu Altes em Berlim (1823–1830), museu de arte público, consideada
sua obra mais notável;
 Schloss Glienicke (completado em 1827); e
 Bauakademie (1831–1836).

O período do Neoclassicismo teve como marco acadêmico a Academia de


Belas Artes de São Fernando em Madri (Espanha), que foi fundada em 1744. Juan
de Villanueva (1739-1811), egresso desta academia, foi responsável pelo Museu do
Prado em Madri e o denominado método aditivo de composição arquitetônica
(PEREIRA, 2010).
O texto “Arquitetura de museus” aborda este tipo de edificação, traz um breve
relato do surgimento deste tipo de edificação, apresentando projetos realizados no
período Neoclássico também. Confirma este texto no material de apoio.

BARROCO E NEOCLÁSSICO NO BRASIL

O Barroco no Brasil

Para compreender a manifestação barroca no Brasil vamos inicialmente


verificar o contexto social, cultural e econômico do século XVIII no país. No final do
século XVII ocorreram: a queda do preço do açúcar brasileiro no mercado europeu,
em virtude da produção antilhana e a descoberta do ouro. Tais fatos influenciaram a
civilização brasileira devido a (CURTIS, 1970):
 a transferência do poder político, social e econômico dos aristocratas
de Olinda, devido à queda do preço do açúcar na Europa, para os mercadores
urbanos de Recife, ressaltando o Sobrado sobre a Casa Grande;
 o surgimento das igrejas de confrarias nas cidades, que reuniam pessoas
de hábitos urbanos, assumindo a iniciativa de construções religiosas. Antes destas

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era evidente a igreja conventual que respondia aspirações daqueles que produziam
açúcar, sendo as sacristias oferecidas para contatos sociais.

Em torno de cem anos após a manifestação barroca na Europa, esta “chega”


ao Brasil e nas Américas no século XVII como uma das contribuições das
expedições marítimas da Espanha e Portugal. Também ocorre como manifestação
de artistas que viajavam à Europa (GERIBELLO; SCOPEL; MOURA, 2019).
Curtis (1970) apresenta-nos que exemplos da liderança das construções
religiosas nesta época são:
 a nave e o claustro de São Francisco e a sacristia do Carmo, ambas
em Salvador;
 capela Dourada em Recife e capela dos terceiros franciscanos no Rio
de Janeiro, ambas da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência;
 São Francisco de Assis em Ouro Preto, também da Ordem Terceira.

A criação artística do Brasil foi resultado de variáveis socioeconômicas,


determinantes físicas, aspectos culturais reunidas a decisões políticas havendo uma
separação entre interior e litoral. O litoral recebeu influência direta do barroco
português, sendo a igreja Conceição da Praia de Salvador considerada seu
expoente; no interior, devido ao isolamento geográfico e cultural e associado à
atividade de mineração, incluindo a proibição instalação de ordens religiosas na
região das minas, embora houvesse padres leigos sob autoridade do bispo de
Mariana (Minas Gerais). Surgiram, assim, outros caminhos para evolução artística,
considerando a presença de portugueses em setores de decisão e criativo da
sociedade na época. Na região de mineração a manifestação artística ocorria por
artesãos, escravos alforreados, comerciantes, intelectuais (CURTIS, 1970;
MESGRAVIS, 2015).
Para Curtis, a contribuição destas pessoas para artes e o barroco no Brasil é
assim explicada: É essa gente nova que, isolada pelo corte com as fontes de cultura,
e miscigenada em grau elevado, carcaterizando mesmo um mulatismo regional,
equacionaria seus problemas de arquitetura com programas e materais da região e

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os solucionaria, na segunda metade do século, com a apreciável experiência


acumulada. Tornando, assim, o rococó mineiro uma das páginas mais originais do
barroco brasileiro e mesmo latino-americano. (CURTIS, 1970, p. 22).
Com a mineração surgiram vilas e arraias em Minas Gerais, locais onde se
desenvolvia a vida social de modo mais intenso que em outros locais da colônia e
com a consequente reunião de autoridades, comerciantes, mineradores, artífices,
religiosos, artistas. Nelas localidades, devido a urbanização e ação dos crentes
havia a possibilidade de trabalho para artífices portugueses e seus filhos e para
aprendizes negros em áreas como: carpintaria, mercenária, ourivesaria, pintura,
escultura e arquitetura. A produção destes tornou-se conhecida como barroco
mineiro, que agregou elementos das culturas indígena e africana, e um desses
artistas foi Aleijadinho (1738-1814) (MESGRAVIS, 2015).

Barroco no Brasil

O Barroco iniciou-se na Europa no final do século XVI, quando ocorriam as


reformas religiosas, sendo a Contrarreforma uma delas, caracterizando-se como a
resposta da igreja católica aos protestos. A igreja católica estava em crise, com
perda de prestígio e poder, mas ainda apresentava influência religiosa, política e
econômica na Europa. Desta maneira, patrocinou arquitetura e artes ao redor de
Roma nos séculos XVII e XVIII, que deram origem à manifestação barroca, cujo
objetivo era reafirmar os ensinamentos católicos, visando envolver pessoas e ideais
religiosos. Assim, “o Barroco foi um estilo didático, teatral, dinâmico e exuberante”
(GERIBELLO; SCOPEL; MOURA, 2019, p. 102).
No Brasil a igreja católica se relaciona com as manifestações barrocas da
seguinte maneira, conforme Santos, Fernandes e Santos: Durante o período, a
Igreja teve um importante papel como mecenas na arte colonial. As diversas ordens
religiosas (beneditinos, carmelitas, franciscanos e jesuítas) que se instalam no Brasil
desde meados do século XVI desenvolvem uma arquitetura religiosa sóbria e muitas
vezes monumental, com fachadas e plantas retilíneas de grande simplicidade
ornamental. Com o tempo, as confrarias, irmandades e ordens terceiras começam a

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patrocinar a produção artística no século XVIII e surgem as escolas regionais,


sobretudo no Norte e Sudeste. (FERNANDES; SANTOS, 2017, p. 2)
Os colonizadores portugueses que estavam inicialmente ao longo do litoral
brasileiro, deslocaram-se para o interior devido a descoberta de ouro e diamantes
em Minas Gerais. Como ordens religiosas eram proibidas na região das minas, não
existiam lá colégios ou conventos de ordens religiosas que resultou em cultura não
muito enraizada em tradições religiosas. Ao mesmo tempo ainda ocorriam
dificuldades de importação de materiais e a região das minas ficava distante do
litoral. Por este conjunto de fatores o barroco mineiro apresenta características de
regionalismo, com a utilização da pedra-sabão, disponível na região das minas (VAL;
ROSÁRIO; MARTINS, 2012; GERIBELLO; SCOPEL; MOURA, 2019). Curtis (1970)
afirma que a arquitetura barroca mineira valoriza todo o edifício e não apenas sua
frontaria.
Nas diferentes regiões do Brasil, devido ao contexto sócio, econômico e
cultural de cada região as manifestações barrocas ocorreram apresentando
particularidades: Duas linhas diferentes caracterizam o estilo barroco brasileiro. Nas
regiões enriquecidas pelo comércio de açúcar e pela mineração, encontramos
Igrejas com trabalhos e relevos de madeiras - as telhas recobertas por finas
camadas de ouro, com janelas, cornijas e portadas decoradas com detalhes e
trabalhos de escultura. É o caso das construções barrocas de Minas Gerais, Rio de
Janeiro, Bahia e Pernambuco e a Paraíba especialmente. Já nas regiões onde não
existia nem o açúcar nem o ouro, a arquitetura teve outra feição. Aí as Igrejas
apresentam talhas modestas e trabalhos realizados por artistas menos experientes e
famosos do que os que viviam nas regiões mais ricas da época (SOUZA, 2012).

 as regiões do Brasil com maior economia e produção apresentaram


construções barrocas com mais adornos, tendo isto ocorrido em: Minas Gerais, Rio
de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Nestas regiões havia mineração e comércio de
açúcar. No Rio de Janeiro o principal artista foi Mestre Valentim; em Minas foram
Antônio Francisco Lisboa – Aleijadinho e Manuel da Costa Ataíde – Mestre Ataíde
(GERIBELLO; SCOPEL; MOURA, 2019);

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 em Pernambuco o Barroco recebe o adjetivo litorâneo e utilizou materiais


nobres, seguindo padrões ibéricos daquela época (GERIBELLO; SCOPEL;
MOURA, 2019);

 na Bahia, em especial no interior das igrejas a decoração é efetuada com


elementos exagerados; em Minas Gerais nas igrejas há também excesso de
detalhes e também são produzidas pinturas no forro das edificações (GERIBELLO;
SCOPEL; MOURA, 2019);

As aglomerações que se constituíram devido à extração do ouro


apresentaram capelas simples com grande riqueza em seu acabamento interno.
Como exemplos, segundo os autores Val, Rosário e Martins (2012):
 Capela Nossa Senhora do Ó em Sabará – com conjunto de talhas
(revestimento em madeira esculpida e revestida por película de ouro), painéis
pintados e elementos da cultura chinesa trazidos por padres portugueses, oriundos
de Macau, colônia portuguesa na China;
 Capela Nossa Senhora do Rosário em Ouro Preto – na parte interna o altar-
mor e dois outros altares são entalhados e apresentam policromia;

 Matriz Nossa Senhora do Pilar e Nossa Senhora da Conceição de Antonio


Dias em Ouro Preto apresentam nova solução para os retábulos (aquilo que fica
atrás da mesa do altar): apresentam colunas torsas com arremate de dósseis, com
elementos escultóricos e anjos e meninos; talha dourada e policromia nas cores
branca, vermelha e azul. Esta solução surge a partir de 1730 para atender ao gosto
de D. João V;
 Na segunda metade de 1700, os retábulos deixam de ter os dosséis e neste
período, Aleijadinho apresenta sua obra evidenciando o Rococó;

 São Francisco de Assis em Ouro Preto é outra igreja cujo revestimento


interno, além de obras de Aleijadinho, apresenta pintura ilusionista no teto realizada
por Mestre Ataíde, Manuel da Costa Ataíde – Mestre Ataíde (1762-1837). Esta obra

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teve projeto de 1766, havendo destaque para as torres circulares, com posição
recuada e decoração escultórica em pedra sabão no óculo e portada (GERIBELLO;
SCOPEL; MOURA, 2019).
Nota: óculo refere-se à janela em formato elíptico ou circular que permite
passagem de ar e luz pela mesma (ENGENHRIACIVIL.COM, 2020).
 Igreja do Bom Jesus dos Matosinhos em Congonhas do Campo em Minas
Gerais, construção de 1757, e que apresenta obras de Aleijadinho na parte frontal:
escultura dos doze profetas (GERIBELLO; SCOPEL; MOURA, 2019);

 Vila Rica em Minas centralizava a cultura e reunia acervo arquitetônico


barroco mais importante do país (CURTIS, 1970);

 No Rio de Janeiro a Igreja e Mosteiro de São Bento, construção que durou


mais de 50 anos – de 1633 a 1691, apresenta talhas em madeira e esculturas, tendo
sido considerado o maior empreendimento que ocorreu no século XVII
(GERIBELLO; SCOPEL; MOURA, 2019);
 No Brasil, registros da primeira manifestação barroca no país referem-se à
arte missionária dos Sete Povos das Missões, na região da Bacia do Prata. Nesta
localidade, por 150 anos o processo de síntese artística baseado em modelos
europeus foi produzido por índios guaranis, tendo sido ensinados por padres
missionários. Como exemplo pode-se mencionar as atuais ruínas da missão de São
Miguel no Rio Grande do Sul (ITAÚ CULTURAL, 2017);
Desta maneira, a arquitetura barroca no Brasil auxiliou a divulgar a doutrina
católica no país.

Neoclássico no Brasil

O Neoclássico manifestou-se na Europa marcando a separação entre as


Idades do Humanismo e Contemporânea, a partir da Revolução Francesa (1789),
que como antecedentes teve as revoluções social e cultural. Nesta ocasião,
acontecia revolução urbana e demográfica, conforme Pereira (2010) que requeria

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variação de programas de edificações, bem como novos sistemas construtivos e


técnicos, refletindo-se na arquitetura.
O Neoclássico ou neoclassicismo surgiu de estudos relacionados à arte
antiga, a partir de escavações e explorações arqueológicas que além de provocar
interesse na população pela cultura antiga, contribui para compreensão e educação
sobre o passado (PEREIRA, 2010).
Além disso, o surgimento do neoclassicismo também esteve diretamente
associado aos princípios do Iluminismo, que apresentava como base os ideais do
racionalismo.
Os ideias neoclássicos e princípios, referências e estudos associados
juntamente com a Revolução industrial propiciaram o surgimento de centros culturais
na Europa em diversas áreas do conhecimento, incluindo arquitetura (SCOPEL;
SANTOS, 2019).
O Neoclássico, a exemplo de outras manifestações artísticas, teve início na
Europa e se propagou para outros continentes. No início do século XIX com a
invasão de Portugal pelo exército, D. João VI decidiu vir ao Brasil, colônia na época,
chegando aqui em 1808, e transferiu seu poder para este país. D. João VI queria
inserir cultura neste país e, desta maneira, em 1816, chega no Brasil a Missão
Artística Francesa, com objetivos de: fundar e dirigir a Escola de Artes e Ofícios, que
mais tarde tornou-se Academia Imperial de Belas Artes, e ensinar artes plásticas no
Rio de Janeiro, então capital do reino Unido de Portugal. Com essa Missão,
chegaram no Brasil artistas e materiais para estabelecer a primeira gráfica do país,
Gazeta do Rio de Janeiro, que foi responsável pela impressão de jornais e livros. A
missão foi chefiada por Jacques Le Breton, que dirigia a Academia Francesa de
Belas Artes na França (SCOPEL; SANTOS, 2019).
Um dos artistas da Missão Francesa no Brasil foi o arquiteto Grandjean de
Montigny. No Rio de Janeiro, Grandjean de Montigny foi responsável pelo projeto
edifício da Pontifícia Universidade Católica para o qual adaptou “a estética do estilo
neoclássico ao clima tropical do país”. A casa França-Brasil é o primeiro registro de
obra de arquitetura neoclássica no Brasil (SCOPEL; SANTOS, 2019, p. 24). Outra
obra de Montigny foi o prédio da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de

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Janeiro, edifício construído na Rua do Ouvidor e demolido em 1930. Desta


edificação o frontão foi preservado e transferido para o Jardim Botânico em 1940.
Demonstrando o contato entre Europa e o Brasil, quanto ao neoclássico, em
cidades como Rio de Janeiro, Recife e Belém a arquitetura neoclássica esteve
presente nas edificações, ocorrendo também em outras localidades, de modo mais
tímido. O estilo neoclássico também apresentou influência em outras escalas em
cidades, não apenas nas edificações: em ruas e bairros com a valorização de
vegetação e de espaços abertos.
A chegada de D. João VI e sua comitiva no Brasil em 1808 promoveu
mudanças significativas no Rio de Janeiro como: oferta de serviços e comércio,
mudanças na moda, no mobiliário e na arquitetura, que passaram a seguir padrão
europeu. A burocracia administrativa portuguesa foi instalada no Brasil e D. João VI
estabeleceu várias medidas para impulsionar o desenvolvimento do país como:
cancelamento da lei que autorizava a criação de fábricas no Brasil; estímulo a
empresas se estabelecerem no Brasil; criação de estradas; reforma de portos;
instalação da Junta de Comércio; criação do Banco do Brasil (SCOPEL; SANTOS,
2019).
Na arquitetura a manifestação neoclássica ocorreu sob duas denominações:

 neoclássico oficial que utilizava materiais importados e volta-se para


construções destinadas à corte portuguesa; ocorreu em Rio de Janeiro, Belém e
Recife, cidades litorâneas, que permitiam maior contato com a Europa;

 neoclássico em versão provinciana, bem mais simplificado, executado por


escravos, tendo ocorrido em regiões mais afastadas do litoral.

Com a transferência da nobreza portuguesa para o Brasil, o Brasil colonial


não se mostrava preparado para receber estes e atender suas necessidades,
incluindo a arquitetura. Foram assim construídos edifícios de acordo com o estilo
neoclássico, manifestação que veio para o Brasil juntamente com a corte de
Portugal. As edificações residenciais apresentavam as seguintes soluções:

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alinhamento da edificação sobre a rua e sobre os limites laterais do lote. A parte


frontal das casas destinava-se aos salões e à área social; para dentro ficavam as
alcovas, os quartos e as salas de jantar, e, aos fundos, o serviço. Os porões, que
apareciam sob o térreo, eram utilizados tanto como locais de serviço quanto como
depósito de lenha, liberando o térreo para utilização com os cômodos de
permanência diurna. (SCOPEL; SANTOS, 2019, p. 33).
O Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro é exemplo deste tipo de construção
neoclássica. Segundo Nestor Goulart Reis Filho (2004), as construções residenciais
neoclássicas apresentavam como características:
 paredes de pedra ou tijolo, revestidas e pintadas;
 corpo de entrada saliente com escadarias, frontões, colunatas;
 sobre as platibandas eram dispostos objetos de louça do Porto;
 esquadrias enquadradas e arrematadas em arco pleno com bandeiras com
vidros coloridos e rosáceas.

As residências construídas em fazendas e áreas rurais apresentavam


características similares às das residências urbanas mas de modo mais modesto.
Um desses exemplos é a Fazenda do Secretário, na cidade de Vassouras, Rio de
Janeiro (SCOPEL; SANTOS, 2019).
O Neoclássico no Brasil apresentou as seguintes soluções urbanas: calçadas
e ruas ampliadas; criação de passeio em frentes às construções residenciais; grades
de ferro limitando jardins em frente de edificações; criação de jardins botânicos
(SCOPEL; SANTOS, 2019).
Outro efeito do Neoclássico no país refere-se ao academicismo, que teve
início no Brasil por meio da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, fundada por
Dom João VI em 1816, devido ao incentivo da Missão Artística Francesa, tendo se
desenvolvido neste período, por meio da Academia Imperial de Belas Artes e do
mecenato por parte Dom Pedro II.
No século XIX existia prosperidade econômica e estabilidade política que se
relacionavam à produção do café e assim o imperador promoveu incentivo à ciência,
artes e letras. A Academia Imperial de Belas Artes foi encerrada quando incorporada

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por sua sucessora republicana em 1931: a Escola Nacional de Belas Artes


(Universidade Federal do Rio de Janeiro). Esta instituição atuou na difusão do estudo
e desenvolvimento de cultura e arte no país no período neoclássico, com efeitos
também na arquitetura (SCOPEL; SANTOS, 2019).

INFLUÊNCIAS DA ARQUITETURA ORIENTAL

A cultura, as artes, a arquitetura no Brasil sofreram influência da Europa no


que diz respeito às manifestações barroca e neoclássica. No caso do Barroco, o
Brasil recebeu a contribuição da manifestação barroco europeia, seguindo as
tendências portuguesas. O Neoclássico no Brasil foi impulsionado pela transferência
da corte portuguesa para o país e pela chegada da Missão Francesa, ação de Dom
João VI para atender as necessidades da corte e promover a economia. Da mesma
maneira que o Barroco, o Neoclássico apresentou influências da Europa, contribuiu
para o academicismo no país, tendo se manifestado nas edificações, na cidade, na
paisagem, na cultura.
Da mesma maneira que a Europa influenciou as manifestações barrocas e
neoclássicas no Brasil, objeto de estudo desta unidade, também há influências de
outras culturas na Europa e no Brasil. Desta maneira, continuamos nossos estudos
para compreender influências da cultura oriental.

Influência oriental na arquitetura

Há relatos de aproximação entre China e Europa datados de 1520. Estes


foram redigidos por missionários que foram enviados ao Japão, China, Indonésia,
Índia. Em 1585 o papa Gregório XIII orientou Juan Gonzalez de Mendoza, padre
espanhol, a reunir tudo que era conhecido sobre a China. Este compôs o primeiro
tratado de grande circulação sobre a China, apresentando edifícios e jardins, mas
com poucas informações e com repleto de lendas e mitos (CHING; JARZOMBEK;
PRAKASH, 2019).
Anos mais tarde, em 1655, o livro escrito por Alvarez Semedo apresenta a

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história da monarquia chinesa com conteúdo mais substancial. Outros autores Outro
autor, como Jan Nieuhof, se interessava pela arquitetura chinesa considerando-a
pobre porque os palácios eram construídos em madeira, diferentemente da Europa
que utilizava pedra; Depois disso temas chineses passam a ser incluídos em jardins
das cortes europeias, sendo um destes exemplos, o Trianon de Porcelain,
construído por Luís XIV em 1675, que utilzou telhas em padrões branco e azul ,
que era considerado padrão similar ao da porcelana utilizada no pagode de Nanjing
(CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019).
No século XVII os jesuítas chegaram a regiões da China com o propósito de
educar e fundando missões católicas. Este é o exemplo de Matteo Ricci (1552–
1610), jesuíta italiano, que chegou em Pequim em 1601. A partir de então e por mais
200 anos membros da igreja católica como jesuítas e integrantes de outras ordens
converteram em torno de 250 mil chineses ao cristianismo, como resultado de
vínculos com a corte dos Qing. Os jesuítas relatavam o que viam na China por meio
de textos que foram publicadas em Paris, centro na Europa das atividades dos
jesuítas. Devido ao interesse pela educação pelos jesuítas e sua erudição, muitos
destes missionários tornaram-se membros de confiança da corte Qing, assumindo
posições como a de controle de Conselho de Astronomia (CHING; JARZOMBEK;
PRAKASH, 2019).
Várias publicações relativas à China, sua política, cultura foram produzidas, e
o sistema político chinês foi estudado por pensadores europeus, como: Voltaire
(1694–1778), Francis Quesnay (1694–1774) e Gottfried Leibniz (1646–1716).
Leibniz, filósofo, que havia se especializado em temas chineses afirmava que seria
possível alcançar nova civilização universal se ocorresse fusão dos elementos da
cultura chinesa com aqueles da cultura ocidental. Nesta ocasião os filósofos
europeus se interessavam pela ideia de que na China o imperador governava por
mandato divino que referia-se a se alguma coisa resultasse em erro seria uma sinal
de que o mandato havia sido revogado (CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019).
A China era admirada pelos filósofos europeus, porque: os pensadores do
Iluminismo europeu admiravam a China, em particular, como uma terra onde o
poder governamental não era exercido por meio das tradições de uma aristocracia

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feudal (como na Europa), mas pelos mandarins, um grupo de eruditos muito cultos,
que obtinham seus cargos públicos apenas após serem aprovados em uma série de
provas de concursos públicos. Assim, o objetivo dos iluministas era criar um
“despotismo esclarecido” que beneficiaria todo o povo, e não meramente um
pequeno grupo de privilegiados. Esse conceito era defendido pelos iluministas, em
especial na obra dos economistas conhecidos como fisiocratas, cujo líder, Francis
Quesnay, escreveu O despotismo da China (1767) como um exemplo de despotismo
verdadeiramente iluminado. Quesnay influenciou as ideias de Adam Smith (1723–
1790), o precursor da economia moderna. (CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019,
p. 584).
Os concursos públicos para cargos públicos na Europa e em outras regiões
do mundo foi um legado do sistema chinês. OS primeiros concursos por escrito em
universidades europeias datam de 1702. Depois ocorreram outras ações similares:
na França, a partir de 1791; os britânicos em 1806 (para recrutar funcionários para a
Companhia Britânica das Índias Orientais); nos Estados Unidos a partir de 1855.
Do mesmo modo que aspectos políticos da China foram divulgados para a
Europa, conhecidos e apreciados, assim foram outros relativos à cultura, arte,
arquitetura.

Influências orientais na Europa

A divulgação da China e seus costumes, cultura, política, arte para Europa e


mundo ocorreu também pela ação e navios mercantes, que sempre transportavam
objetos e mercadorias nas viagens de ida como de volta a determinada região. Da
China eram trazidos para Europa objetos de decoração, utensílios como aparelhos
de chá, livros, bem como registros de viagens que incluíam jardins chineses. Como
exemplos, Ching, Jarzombek e Prakash (2019) apresentam:
Sir William Temple, aristocrata britânico, ensaísta: escreveu sobre jardins
de Epicuro em 1685, exaltando o conceito chinês de “sharawadgi” (cenário
paisagístico arranjado e irregular) e criticando simetrias axiais, características dos
jardins europeus na época; é creditado a Temple a criação de passeio britânico do

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século XVIII que apresentava construções fantasiosas e pavilhões distribuídos


criando cenários artificiais com o propósito de criar efeitos visuais.
 William Kent projetou no Campo Elísio o Templo da Virtude Antiga Templo
dos Valorosos Britânicos em 1738 na Casa Stowe em Buckinghamshire, Inglaterra.
Neste projeto havia prédios “neopalladianos” e a continuidade visual entre o jardim
artificial e seu entorno era obtida pelas valas; neste projeto, havia interação entre a
natureza e as proporções das ordens clássicas instaladas; em Campo Elísio, no
Templo dos Valorosos Britânicos de Stowe foram homenageados: Shakespeare,
John Milton e Alexander Pope, Inigo Jones (arquiteto), Thomas Cook (explorador) e
outros. Neste templo não havia clérigos ou santos. Stowe e outros jardins como o de
Cheswick, podiam ser utilizados por seus proprietários e amigos e por outras
pessoas das classes média e alta, sendo que na época, visitar jardins estava se
popularizando, tornando-se um aspecto da vida social das elites.
 O imperador prussiano Frederico II, o grande, construiu o palácio Sans
Souci, no ano 1757 em Potsdam, que era composto por um parque com vários
pavilhões, sendo a Casa de Chá Chinesa um deles. Este palácio era a casa de
verão do imperador, palácio com vários pavilhões, dentre eles pavilhões chineses e
tendas turcas, que estavam se tornando comuns em jardins de lazer da época.
Havia também o fato de porcelana chinesa chegando ao mercado holandês,
promovendo o gosto pela estética chinesa.
Uma explicação sobre o império chinês e sua expansão pode ser obtida numa
redação bastante objetiva na publicação História global da arquitetura de Ching,
Jarzombek e Prakash, 2019, em leitura do trecho da página 588 a 590.
Em 1720, mudanças ainda ocorriam na China e próximo a Pequim o
imperador Qianlong mandou construir seis palácios em estilo barroco europeu para
os missionários jesuítas que habitavam em sua corte (CHING; JARZOMBEK;
PRAKASH, 2019), sendo este fator que demonstra os jesuítas na China e sua
contribuição para divulgação da cultura chinesa pelo mundo.
No Japão, houve uma guerra civil de 10 anos, por volta de 1470, que resultou
na destruição de Kyoto. Depois disso, a reconstrução associada ao período de paz,
consolidação militar e desenvolvimento econômico, possibilitou prosperidade no

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comércio e dos ofícios. Assim, Holanda e Portugal também estabeleceram portos


comerciais no Japão. Com relação aos portos, no Japão, nessa época, os navios
chineses tinham prioridade, devido ao comércio de prata existente com os mercados
europeus, comércio considerado responsável pela instabilidade que ameaçou os
Ming na China.
Tanto a sociedade Qing da China como a visão xogum da sociedade
japonesa mostraram-se contrárias às ambições do mundo mercantil e criaram
limitações por meio do código Bakufu, que estabelecia o lugar de todas as pessoas
no tecido social. Isto resultou num novo desenho da cidade de Kyoto. Antes da
intervenção em Kyoto edificações de usos variados podiam ser encontrados num
mesmo bairro; com a intervenção o sacerdote Maeda Gen’i (1539-1602), xogum da
cidade e nomeado governador, construiu uma via de norte a sul que cruzava antigos
quarteirões, criando novas fachadas para a rua formadas por casas e
estabelecimentos comerciais. A solução da via de norte a sul é também empregada
por Haussmann em Paris no século XIX (CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019).

Influências orientais no Brasil

O Barroco no Brasil manifestou-se de modos diferentes no país, de acordo


com os polos regionais. Nos três primeiros séculos do país houve a expansão e
ocupação territorial, a monocultura do açúcar no nordeste e a mineração nas atuais
regiões centro-oeste e sudeste, sendo a economia baseada em servidão e cativeiro
de índios e negros, com o colonizador português promovendo sociedade patriarcal.
Isto contribuiu para a construção das duas primeiras cidades que foram capitais:
Salvador e Rio de Janeiro, além de arraiais, vilas, freguesias ao longo do litoral, com
a presença rotineira da Igreja junto ao Estado e na arquitetura com edificações
seculares e regulares (MACHADO, 2015).
A arquitetura, como diz Machado (2015, p. 85), “é um eficaz instrumento
cultural de irradiação de ideias e conceitos”. O Barroco no Brasil estava inserido nos
seguintes contextos: expansão mercantilista e a contrarreforma. A arquitetura neste
período Barroco no Brasil assume características específicas, diferentes de Portugal

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e da América espanhola (MACHADO, 2015).


O Barroco brasileiro apresenta exemplos da arte portuguesa no século XVIII,
segundo Germain Bazin (1983), estudioso do barroco no mundo ibérico, em sua
obra “A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil”, apresentando, ainda nesta, a
influência oriental.
Torelly (2019) apresenta-nos que a influência chinesa é presente no país de
várias maneiras e localidades: Identificados em afrescos e desenhos, mobiliário,
cerâmica, quadros, porcelanas, objetos de uso cotidiano, estatuária religiosa,
telhados e detalhes arquitetônicos, os chinesismos ou chinesices, estão presentes
em templos e edifícios religiosos, e até na arquitetura civil, em vários estados
brasileiros, como São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco,
Paraíba, Alagoas, Pará e com maior frequência em Minas Gerais. (TORELLY, 2019).
Nesta citação surge a expressão chinesice, para a qual Torelly (2019) nos
indica possíveis explicações, segundo diferentes autores:
 para os autores Affonso Ávila, João Marcos Machado Gontijo e Reinaldo
Guedes Machado, de acordo com o Glossário de Arquitetura e Ornamentação do
Barroco Mineiro o vocábulo significa: trabalho ornamental, geralmente pintado de
vermelho, azul e ouro, à imitação oriental. Pode-se também falar de chinesices com
relação aos painéis ou portas pintadas com motivos da China, existentes em
algumas igrejas mineiras, a exemplo da Capela do Ó, em Sabará, e da Matriz da
mesma cidade (N. Sr. ª da Conceição). Pintura de charão, verniz da China e do
Japão, feito de laca e outros materiais. (1996, p. 135).

 para Longobardi,
Chinesices (como são chamadas em territórios brasileiro), ou chinoiseries
(termo francês utilizado desde, pelo menos, o século 17) são gêneros artísticos
ornamentais europeus que fazem referência ao repertório visual das artes extremo-
orientais. Esse gênero de ornamentação foi difundido em território luso-brasileiro
entre os séculos 17 e 19, como um desdobramento direto de sua intensa utilização
na Europa Moderna. (2011, p. 9).

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 para José Roberto Teixeira Leite


E note-se que não estamos tratando aqui de chinoiseries ou chinesices,
China de fantasia ou de mentira, invenção de europeus que também tivemos em
dado momento, porém de influência chinesa sobre o Brasil Colonial ou já de tempos
do Império: sob tal aspecto quer-nos parecer que o Brasil constitui caso único no
mundo ocidental. (1999, p. 11).

A influência oriental no Brasil não se restringe às artes e arquitetura, é notada


também nos costumes.
Salvador e Rio de Janeiro eram portos seguros e intermediários na Carreira
da Índia, viagem inaugurada por Vasco da Gama em 1498, unindo Ocidente e
Oriente e tanto as produções de açúcar e fumo da região da Bahia como a extração
de ouro e diamantes fizerem com que o Brasil tivesse posição privilegiada no
comércio ultramarino (TORELLY, 2019).
Em um primeiro momento, o comércio acontecia sem intermediação de outros
países. Em meados do século XVI, depois da fundação de Salvador, houve a
instalação de infraestrutura portuária, que permitiu que as naus que integravam a
Carreira da Índia parassem por aqui por motivos técnicos ou para embarque de
produtos como açúcar e tabaco aceitos na Europa, África e Ásia (TORELLY, 2019).
Em 1672 houve permissão para os produtos brasileiros fossem embarcados
para outros mercados, havendo nesta ocasião mais dois portos que podiam atender
o comércio internacional: Recife e Rio de Janeiro. O comércio legal, o contrabando,
a isenção alfandegária para oficiais e tripulantes de navios permitiram a entrada de
bens no país. Além dos bens, pessoas de várias etnias e culturas, tripulantes de
navios de várias nacionalidades tinham contato com os portos e população brasileira
e traziam consigo hábitos e costumes. Havia produtos que chegavam ao Brasil e
outros que eram levados daqui para África ou Oriente, além de objetos que Portugal
exportava para colônias e feitorias. A administração destes domínios era realizada
por funcionários do chamado império ultramarino, eram nobres, civis, militares que
se revezavam em diferentes colônias e localidades, existindo também a presença
dos jesuítas e de outras ordens religiosas (TORELLY, 2019).

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No Brasil, o jesuíta francês Charles de Belleville, que viveu na China, morou


por 22 anos aqui a partir de 1708, sendo-lhe atribuídas realizações como Igreja do
Seminário Jesuíta de Belém da Cachoeira e da Igreja do Colégio dos Jesuítas em
Salvador (Bahia); a Jacinto Ribeiro é atribuída a pintura do retábulo e de outros
elementos na capela Nossa senhora do Ó em Sabará (Minas Gerais) (TORELLY,
2019).
Na arquitetura Em Minas são localizados: painéis, retábulos, cadeirais, o
órgão da Sé de Mariana, a “porta de Macau” na Igreja Nossa Senhora da Conceição
em Sabará. Na Capela de Nossa Senhora da Expectação do Parto ou na igreja
Nossa Senhora do Ó (Sabará, MG), apresentam configuração arquitetônica que
possibilitam identificar elementos de um pagode chinês (TORELLY, 2019).
Na cidade de cachoeira na Bahia, a ordem terceira carmelita abriga os sete
Cristos Chineses de Cachoeira, relíquias do chinesismo no Brasil. Na Bahia, em
virtude do porto, havia o comércio de mercadorias, a presença de viajantes, de
religiosos – jesuítas principalmente, marinheiros oriundos do oriente e lá, pela
possibilidade de contato permanente ocorreram interações comercial e cultural
(TORELLY, 2019).
Em Belém de Cachoeira, próximo a Cachoeira, existiam igreja, convento e
seminário fundados por Alexandre de Gusmão, padre e educador. O conjunto teve
as obras iniciadas em 1686, durando até 1725. É atribuída ao jesuíta Charles de
Belleville, segundo Serafim Leite (1945), participação na execução da torre da igreja,
com revestimento de pratos de porcelana de Macau, do púlpito e no teto da sacristia
(TORELLY, 2019).
Na cidade de Diamantina, em Minas Gerais, aparecem elementos nas
edificações que lembram soluções construtivas chinesas, como são os casos de
alguns beirais de telhados (TORELLY, 2019).
Os jesuítas atuaram em várias regiões do Brasil, no entanto, não em todas os
locais por onde estiveram há manifestações da influência oriental na arquitetura.
Para a arquitetura produzida pelos jesuítas, Costa afirma: O programa das
construções jesuíticas era relativamente simples. Pode ser dividido em três partes,
correspondendo cada uma destas a uma determinada utilização: para o culto, a

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igreja com o coro e a sacristia; para o trabalho, as aulas e oficinas; para residência,
os “cubículos”, a enfermaria e mais dependências de serviço, além da “cerca”, com
horta e pomar. (COSTA, 2010, p. 130).
Desta maneira, apresentamos alguns exemplos associados aos jesuítas e em
obras nos quais tiveram algum envolvimento.
O Brasil apresenta azulejaria portuguesa em grande quantidade e os azulejos
da Bahia do século XVIII são sinal da presença da Coroa no país, mostrando o
poder desta sobre a colônia, conforme o historiador Paulo Henriques, diretor do
Museu Nacional do Azulejo, de Portugal. Segundo Henriques, a azulejaria era
encomendada a Portugal pelas ordens religiosas instaladas no Brasil. O azulejo era
utilizado tanto na parte interna da edificação quanto na externa, a partir do século
XIX. Como exemplo, o Convento de São Francisco tem em seu claustro o uso
religioso da arte da azulejaria: são 37 painéis que associam imagens e preceitos em
latim, baseados em gravuras de Otto van Veen publicadas no livro “Emblemas de
Horácio” (SEREZA, 1999).
Portugal, por sua atuação no comércio marítimo intercontinental, criou
relações com os países orientais. Sua ligação com a China, tornou-o divulgador da
cultura chinesa, em especial pela comercialização de porcelana chinesa. No início
de 1500 houve iniciativa de aproximação com a China, não muito bem sucedida, no
entanto, os interesses comerciais continuaram e por volta de 1554 os portugueses
apresentaram aos chineses a necessidade de ocupar lugar para secagem de
produtos úmidos para se estabelecerem em Macau. Três anos mais tarde houve a
assinatura de acordo que permitiu instalação e organização de comunidade estável,
fortalecendo a relação entre Portugal e China (DONG, 2017).
A instalação em Macau de Portugal, a colonização portuguesa de Macau por
400 anos, tendo a cidade voltado ao domínio chinês em 1999, contribuiu para troca
de culturas. No caso dos azulejos, em Macau, são muito comuns as produções de
azulejo combinando o elemento português original com o espírito tradicional e
artística da China. O azulejo foi usado na decoração de edifícios e em placas
toponímicas e por isso é tomado como uma das características específicas da
cidade. Acompanha outros aspectos que misturam as duas culturas, como a comida,

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a língua, etc. Macau desempenha até hoje um papel notável nas ligações entre dois
países. (DONG, 2017, p. 45).
Os descobrimentos marítimos portugueses que lhe renderam relação com o
Oriente, propiciaram o comércio de produtos como seda, marfins, porcelanas, entre
outros. Os produtos produzidos no Oriente promoveram gosto europeu pelo
exotismo oriental e, por conta disso, surge a denominada “chinoiserie” que refere-se
a pessoas que produzem um tipo de obra que é feito na Europa e parecendo chinês.
Considerando este contexto, no século XVIII elementos exóticos da China aparecem
nos azulejos portugueses (DONG, 2017).
Um dos aspectos que mostra a influência da China nos azulejos portugueses
é a cor azul, que foi inspirada na porcelana azul e branca da China. A cultura
islâmica influenciou tanto a produção de porcelana chinesa como o azulejo
português. Dong explica: A cultura islâmica, ou seja, a cultura arábico-islâmica, foi
criada por absorção e fusão de culturas diferentes como a chinesa, a romana, a
persa, etc., pelos povos árabes, e ocupou um lugar importantíssimo na história da
cultura mundial. [...]
Em conjunto com o aprofundamento da relação entre a China e os países de
cultura islâmica, a China sofreu influência forte da estética muçulmana, em particular
a cor. Como um símbolo de dignidade, pureza e transparência que correspondeu à
procura de imaculabilidade, o azul foi apreciado e utilizado na decoração dos
implementos e arquiteturas como mesquitas. (DONG, 2017, p. 72).
No final do século XVII em Portugal a sociedade portuguesa presença
desenvolvimento artístico e segundo Meco (1989), com relação à cor dos azulejos
ocorrem as mudanças:
 a policromia exagerada;
 início da pintura utilizando azul e branco e
 pintura inteiramente azul.

Vale observar que Portugal foi responsável por coleta de dados e informações
da realidade chinesa, por conta de:
 a China no século XVI teve sua imagem criada por Portugal e divulgada

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pela Europa pela circulação de cartas e relações; a imagem era fantasiosa e


atendeu às imaginações fantásticas dos europeus de criar situação para fugir da
vida verdadeira;
 a azulejaria portuguesa, que estava na moda, desenvolvida de 1720 até a
segunda metade do século XVIII, produziu painéis que descreviam cenas chinesas,
mostrando a influência da porcelana chinesa, tendo sido base para “chinoiserie”
(DONG, 2017).
O Brasil apresenta azulejaria portuguesa em grande quantidade e os azulejos
do século XVIII na Bahia indicam a então presença da Coroa portuguesa no país,
mostrando o poder desta sobre a colônia. O azulejo português sofreu influência da
China por ter “incorporado” elementos desta cultura e seu uso em outras localidades
fora de Portugal foi um caminho para a influência chinesa se propagar pelo mundo.
No Brasil os azulejos portugueses foram utilizados em construções religiosas do
século XVIII, havendo também sua utilização em outros tipos de construções e em
períodos posteriores.

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REFERÊNCIAS

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