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ARTE NO MUNDO

A arte do Renascimento: influência e principais artistas

PUBLICADO POR VICTORIA LOUISE EM DEZEMBRO 13, 2021 | ATUALIZADO EM AGOSTO 1,


2022

Ao longo da história da arte ocidental, podemos constatar diversas instâncias em que artistas e
estudiosos olharam para as obras do passado em busca de alguma revelação acerca de um
problema cultural de seu presente. Após a Idade Média e o declínio do sistema feudal, o
teocentrismo foi colocado em cheque. A sociedade se modernizava científica e culturalmente,
transformando o pensamento social da crença na centralidade de Deus para a crença no ser
humano enquanto agente de ação e produção de conhecimento. Esta visão, considerada
humanista, leva estes estudiosos e artistas a olharem para as obras das civilizações antigas,
especialmente as greco-romanas, dado que foram produzidas no interior de uma cultura
humanista. Os produtos desta cultura passaram a ser tidos como “clássicos” e serviram de
modelo e inspiração para a arte que se desenvolveu na sociedade dos séculos 15 e 16 na
Europa: a arte do Renascimento.

A Arte do Renascimento

O Renascimento foi um período histórico que seguiu os vários séculos da Idade Média, sendo
esboçado já no final do século 14. O que caracteriza esse período é a revitalização em diversos
países da Europa, mas principalmente na Itália, dos métodos e valores atribuídos aos mestres
da arte greco-romana antiga, ou clássica, a qual artistas e estudiosos do período consideravam
a forma ideal da arte, isto é, a representação fiel e idealizada da realidade visível. Os italianos,
em particular, olharam para a arte da antiguidade romana com o intuito de recuperar a glória
e a beleza para uma cultura que se via estagnada desde a queda do Império Romano no século
6. Tal intuito provocou uma série de transformações na arte italiana a partir do final do século
14, atingindo seu apogeu no século 16, especialmente na pintura e na escultura, linguagens
artísticas que se distanciaram das formas esquemáticas e pouco realistas da arte gótica ou
medieval, e passaram a se dedicar à representação naturalista do espaço tridimensional e dos
corpos humanos, carregando um ideal de beleza tal qual sugerido pelas formas clássicas.

As várias transformações promovidas pela arte italiana do Renascimento acompanharam os


desenvolvimentos intelectuais e científicos do humanismo vigente, e produziram repercussões
significativas até os dias atuais, inclusive reaparecendo com frequência em trabalhos que
fazem releituras de obras de arte famosas, ou que se apropriam da imagem dessas obras para
reformulá-las conceitualmente, como fez Andy Warhol e outros artistas contemporâneos. No
campo da pintura, como um todo, a arte do Renascimento popularizou o uso da perspectiva
geométrica para criar a ilusão de tridimensionalidade na superfície bidimensional, através da
representação de profundidade espacial e de volume proporcional nos corpos, feito que
revolucionou para sempre a linguagem e o seu suporte, abrindo uma discussão histórica sobre
a representação da realidade na arte, a qual culmina nas vanguardas modernistas da primeira
metade do século 20.

Antes desse momento, tal discussão foi institucionalizada pelas Academias de Belas Artes e
pela arte Neoclássica que dominaram os padrões estéticos até, pelo menos, o final do século
19 na Europa. As Academias foram fundadas a partir do século 17, ganhando máxima
autoridade nos séculos seguintes com a realização de Salões e premiações; seus métodos de
ensino e produção, assim como seus critérios para julgar o valor artístico, voltaram-se mais
uma vez para a arte clássica, partindo da noção instaurada no Renascimento de que a
representação de uma natureza bela e ideal – científica e completamente desvendável – é a
vocação máxima da arte. Por esse motivo, os pintores da Academia e seus discípulos
consideravam os artistas renascentistas “mestres” das belas artes.

Parece evidente que, a fim de entendermos os acontecimentos e movimentos que marcaram a


história da arte no Ocidente, é necessário olharmos para a arte produzida no período do
Renascimento, especialmente quando consideramos a influência que ela exerceu sobre a arte
produzida posteriormente. Quando pensamos na arte renascentista, é mais que comum vir à
mente a imagem da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. De fato, trata-se de uma das obras de
arte e um dos artistas mais famosos do período. Mas, para auxiliar tal entendimento, vale
conhecermos alguns outros mestres do Renascimento, e quais são suas obras de arte famosas
que representam bem as formas realistas e belas da arte renascentista.

Portrait of Lisa Gherardini, wife of Francesco del Giocondo, known as "Monna Lisa, la
Gioconda" or "Mona Lisa", 1503-1519 - Leonardo di ser Piero DA VINCI, dit Léonard de Vinci
(1452 -

Leonardo da Vinci, Mona Lisa (1503), óleo sobre madeira. Acervo Musée du Louvre, Paris,
França. Imagem: reprodução da internet, Google Arts & Culture

Giotto di Bondone (c. 1267-1337)

O grande percursor do Renascimento na Itália foi Giotto, um pintor de Florença que ficou
amplamente conhecido por utilizar de modo pioneiro técnicas para criar a ilusão de
tridimensionalidade nos afrescos que realizou no interior de igrejas. Tais técnicas, ainda muito
simples e ligadas ao proto-Renascimento, permitiam ao pintor uma representação mais
parecida com a realidade, e preludiaram as pinturas renascentistas dos séculos seguintes,
quando a semelhança viria a ser tanta que seriam chamadas de “janelas para o mundo”. Ainda
que herdeiro da tradição gótica de contornos e formas suavizadas, Giotto espantou seus
contemporâneos pela tamanha proximidade que suas pinturas de cenas religiosas
aparentavam ter com cenas da vida real, especialmente através da representação realista das
figuras humanas. Até então, não era comum na arte cristã que as figuras fossem representadas
com a expressividade emocional e corporal presente num dos afrescos que Giotto realizou em
uma igrejinha em Pádua, no norte da Itália, em que a comoção das figuras em torno do corpo
de Cristo é palpável, evidente, e até mesmo contagiante.

Lamentation (The Mourning of Christ) Giotto

Giotto di Bondone, A lamentação de Cristo (c. 1305). Pintura afresco na Capela Scrovegni,
Pádua, Itália. Imagem: reprodução da internet, Wikimedia Commons.

Donatello [Donato di Niccolò di Betto Bardi] (1386?-1466)

Com as inovações propostas pela pintura de Giotto, foi no século 15 que artistas, arquitetos e
estudiosos florentinos buscaram, de maneira vigorosa, renovar a tradição da arte italiana em
coerência com a beleza idealizada pelos antigos, distanciando-se definitivamente da arte
gótica. Entre esses artistas estava o escultor Donatello, cuja escultura de São Jorge, uma de
suas primeiras e mais célebres obras, evidencia a atenção ao estudo do corpo humano tal qual
os antigos greco-romanos, ainda que suas linhas sejam mais angulares e resolutas que aquelas
das obras clássicas. De fato, muitos artistas do Renascimento se voltaram para as esculturas
clássicas como objetos de estudo, buscando nos resquícios da arte da antiguidade, assim como
buscavam nas pesquisas científicas e nas observações da natureza, meios de promover o
renascimento humanista da arte.

Donatello, São Jorge (c. 1415-1416), réplica do original em mármore. Imagem: reprodução da
internet, direitos reservados a Zvonimir Atletic/Shutterstock.com

Sandro Botticelli (1446-1510)

O interesse humanista na cultura e mitologia greco-romanas era um traço comum entre a


classe de mecenas da cidade de Florença, que financiavam muitos dos artistas do período com
suas encomendas. Esse é o motivo que originou uma das obras-primas do período, a pintura à
têmpera de Sandro Botticelli, O nascimento de Vênus (1483-1485). A pintura foi encomendada
por um membro da rica e poderosa família Médici, e representa a mitologia romana do
nascimento da deusa da beleza, Vênus. Com os esforços para reviver as antigas glórias de
Roma, a mitologia antiga se popularizou entre os italianos, que acreditavam que as histórias
clássicas tinham de guardar alguma verdade profunda sobre a natureza. Na pintura de
Botticelli, o artista inclusive renuncia a um grau mais elevado de naturalismo na representação
dos corpos humanos ao, por exemplo, alongar artificialmente o pescoço e os braços da Vênus
para obter formas mais graciosas, belas, e condizentes com a natureza harmoniosa
engendrada por sua composição.

Sandro Botticelli, O nascimento de Vênus (1483-1485), têmpera sobre tela. Acervo Gallerie
Uffizi, Florença, Itália. Imagem: reprodução da internet, Wikimedia Commons.

Michelangelo [Buonarroti] (1475-1564)


Um grande e reconhecido nome da arte do Renascimento, Michelangelo foi contemporâneo
de Leonardo da Vinci (1452-1519), ainda que vinte e três anos mais jovem, e ambos
alcançaram grande fama em vida, sendo considerados mestres do Alto Renascimento.
Diferentemente de da Vinci, com quem, dizia-se, rivalizava, Michelangelo mais preferia
trabalhar com a pedra de mármore do que com pincel e tinta. Uma de suas obras mais
conhecidas é a estátua de David, personagem bíblico amplamente representado no período.
Entretanto, a preferência pela escultura não o impediu de realizar uma das mais célebres
pinturas do Cinquecento italiano (termo usado para se referir ao século 16 na Itália): a
abóboda da Capela Sistina, no Vaticano. As paredes da capela já haviam sido pintadas pelos
grandes pintores da geração anterior, como Botticelli, mas a abóboda permanecia em branco;
o papa Júlio II contratou Michelangelo para finalizar o trabalho. Ao longo de quatro anos de
trabalho solitário, Michelangelo realizou uma infinidade de visões sem precedentes,
executando com maestria cada detalhe das imagens pintadas, que vão desde versões
gigantescas dos profetas, até as cenas da Criação e da vida de Noé. Dentre essas pinturas,
encontramos a icônica imagem da criação de Adão, cuja representação da figura de Deus
moldou de maneira definitiva a imaginação ocidental.

Michelangelo's David - right view 2.jpg

Michelangelo, David (1501-1504), mármore. Acervo Galleria dell’Accademia, Florença, Itália.


Imagem: reprodução da internet, Wikimedia Commons.

Michelangelo, detalhe da pintura afresco na abóboda da Capela Sistina, Vaticano (1508-1512).


Imagem: reprodução da internet, Wikimedia Commons.

Rafael [Raffaello Santi] (1483-1520)

Contemporâneo de Leonardo da Vinci e Michelangelo, Rafael também é tido como um mestre


do último século da arte renascentista italiana devido a beleza que alcançou em suas pinturas.
Após diversos feitos dedicados à representação fiel da realidade natural, jovens artistas como
Rafael passaram a adequar a sua forma de representação da natureza a uma ideia de beleza
pré-concebida, uma beleza idealizada através das estátuas clássicas. Pinturas de Rafael como a
Madonna del Granduca (c. 1505) alcançaram o estatuto de obras “clássicas” pois serviram
como parâmetro de beleza e perfeição naturalista para as gerações posteriores, especialmente
para os pintores da arte Neoclássica, de modo similar aos grandes mestres da antiguidade.

Madona del gran duque, por Rafael.jpg

Rafael, Madonna del Granduca (c. 1505), óleo sobre madeira. Acervo Galeria Palatina-Palácio
Pitti, Florença, Itália. Imagem: reprodução da internet, Wikimedia Commons.

Ticiano [Vecelli, ou Vecellio] (c. 1485-1576)

O pintor Ticiano, originário de Veneza, é considerado um dos últimos mestres do


Renascimento italiano, especialmente por ter vivido uma vida bastante longa para o período. A
sua obra foi celebrada em vida pela maestria com que o pintor dominava a tinta e as suas
cores, sendo tal renome principalmente creditado aos retratos que realizou. Um dos maiores
representantes da pintura veneziana renascentista, Ticiano também será admirado pelas
gerações posteriores e pelos artistas neoclássicos, especialmente por seu uso deliberado de
cores e pela representação incontestável de complexas texturas, como no vestido de veludo
da mulher retratada em La Bella (1536).

File:Tizian 034.jpg

Ticiano, La Bella (1536), óleo sobre tela. Acervo Galeria Palatina-Palácio Pitti, Florença, Itália.
Imagem: reprodução da internet, Wikimedia Commons.

A arte do Renascimento fora da Itália

Ainda que tenha alcançado certo apogeu com os mestres italianos, a arte do Renascimento
não se restringiu àquele país. As inovações pictóricas como as que decorreram do uso
compositivo da perspectiva geométrica para causar a ilusão de profundidade não demoraram
para alcançar países mais ao norte da Europa, cujos artistas vinham de uma tradição gótica
muito mais enraizada que na Itália, mas também buscavam uma nova arte que fosse mais fiel à
natureza.

Um dos artistas que revolucionou esses esforços foi o pintor belga Jan Van Eyck (1390?-1441),
a quem é atribuído o uso pioneiro da tinta à óleo. Van Eyck é admirado pela paciência de sua
observação e representação da natureza, buscando reproduzir as minúcias de suas formas com
grande precisão. Foi justamente essa busca por precisão que o teria levado a misturar os
pigmentos de tinta com óleo, que permitia transições mais suaves de cor e retoques mais
demorados do que a tinta têmpera (pigmento em pó misturado com ovos). Uma de suas obras
mais famosas é o retrato dos noivos Arnolfini, onde o caráter realista da representação é tal
que pode ser considerado como um testemunho ou registro visual do noivado, sendo,
inclusive, assinado pelo pintor sobre o pequeno espelho que centraliza a composição e
expande seu espaço para além da própria imagem, pois reflete a figura do artista extraquadro.

Além de Van Eyck, outros artistas célebres da arte renascentista fora da Itália incluem os
alemães Albrecht Dürer (1471-1528) e Hans Holbein (1497 ou 1498-1543), e o grego que serviu
à corte espanhola no Renascimento tardio, El Greco (1541-1614).

Jan Van Eyck, O casal Arnolfini (1434), óleo sobre carvalho. Acervo National Gallery, Londres,
Reino Unido. Imagem: reprodução da internet, DASARTES

Gabriela Gotoda é pesquisadora e crítica de arte, interessada nas relações entre a produção
artística e as transformações político-culturais ao longo da história.

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Um comentário em “A arte do Renascimento: influência e principais artistas”

marina de falco disse:

janeiro 20, 2022 às 5:41 pm

Parabéns pela página do blog.artsoul.com.br …

Maravilhosa reportagem.

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