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Conselho Editorial
Pedro Paulo Poppovic
Rodrigo Naves
Tadeu Chiarelli
Tânia Francisco Rodrigues
Renascença
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deitado no colo da madona. A maestria técnica de Michelangelo pode ser observada no
afresco feito para o forro da Capela Sistina (1508/1512), considerado uma das obras-
primas da arte pictórica.
Leonardo é autor de obra artística e científica, célebre por seus escritos, pelos retratos e
pela invenção da técnica do sfumato, em que se vale da justaposição matizada de tons e
cores diferentes, de modo que se aproximem, "sem limites ou bordas, à maneira da
fumaça", nas palavras do próprio artista. Com isso Leonardo logra suavizar os contornos
característicos da pintura do início do século XV, revelando as potencialidades da tinta a
óleo. No período florentino, entre 1500 e 1506, realiza os célebres Mona Lisa, a pintura
mural da Batalha de Anghiari (Pallazio Vecchio, Florença) destruída e preservada em
cópias feitas por outros artistas - que influenciará os pintores de batalhas até o século XIX
- e A Virgem e o Menino com Sant'Ana, tratando de tema que o fascinava na época.
Rafael sofre influências de Leonardo e Michelangelo. Datam do período florentino,
algumas de suas mais célebres representações da Virgem com o Menino (Madona
Sistina, ca.1512-1514). Nestas imagens, assim como em pinturas da Sagrada Família,
exercita sua maestria de composição e expressão, representando as figuras sagradas
como seres humanos. Os retratos de Rafael são comparados aos de Leonardo, pelo estilo
sutil das caracterizações e aos de Ticiano (ca.1488-1576), em função das cores
empregadas. Os ideais renascentistas encontram seguidores por toda a Europa: Albrecht
Dürer (1471-1528), Lucas van Leyden (ca.1494-1533), Quinten Metsys (1466-1530), Jan
van Scorel (1495-1562), entre outros. A expressão máxima da crise dos valores e
princípios do renascimento, segundo algumas leituras, pode ser encontrada no
maneirismo.
Maneirismo
O termo vem sendo empregado pela crítica moderna para designar a produção artística,
especialmente a italiana, que tem lugar por volta de 1520 a 1600, isto é, entre o final do
chamado Alto Renascimento e o início do barroco. A recuperação da noção como
categoria histórica, referida a um estilo específico - que se observa no período entre-
guerras, sobretudo na década de 1920 - não deve obscurecer sua trajetória tortuosa,
marcada por imprecisões e por uma série de conotações negativas. O termo é
popularizado por Giorgio Vasari (1511-1574) - ele próprio um artista do período - que fala
em maniera como sinônimo de graça, leveza e sofisticação. Nos escritos posteriores de
Giovanni Pietro Bellori (1613-1696) e de Luigi Lanzi (1732-1810), a noção aparece ligada
à elegância artificial e à virtuosidade excessiva. Essa chave crítica de leitura, que irá
reverberar em diversos estudos posteriores, associa maneirismo à decadência em relação
à perfeição clássica representada pelas obras de Michelangelo Buonarroti (1475-1564) e
Rafael (1483-1520). De acordo com essa linhagem crítica, maneirismo aparece como
imitação superficial e distorcida dos grandes mestres do período anterior, como abandono
do equilíbrio, da proporção e racionalidade cultivados pelo classicismo. "Vácuo entre dois
cumes", "momento de cansaço e inércia que seguiu fatalmente, quase por reação ao
esplêndido apogeu das artes na primeira metade do século XVI", ou "fase de crise", a
história do maneirismo, indica Giulio Carlo Argan, é inseparável das avaliações negativas
que rondam a noção.
Despida dos sentidos pejorativos a ela atribuídos pela crítica até o início do século XX, a
arte maneirista passa a ser pensada a partir de então como um desdobramento crítico do
Renascimento. O corte com os modelos clássicos se observa, entre outros, pelo
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rompimento com a perspectiva e com a proporcionalidade; pelo descarte da regularidade
e da harmonia; pela distorção das figuras; pela ênfase na subjetividade e nos efeitos
emocionais; pelo deslocamento do tema central da composição. Criada nos ambientes
palacianos para um público aristocrático, a arte maneirista cultiva o estilo e a elegância
formal, a beleza, a graça e os aspectos ornamentais. Aspectos maneiristas podem ser
encontrados tanto na fase florentina de Michelangelo, quanto no período tardio da
produção de Rafael, indicam alguns comentadores, o que leva a pensar essa produção
como um desdobramento de certos problemas postos pela arte renascentista. À primeira
geração maneirista ligam-se os nomes de Pontormo (1494-1557) e Fiorentino Rosso
(1494-1540), em Florença; o de Domenico Beccafumi (1486-1551) em Siena; e o de
Parmigianino (1503-1540), no norte da Itália. Os murais realizados por Pontormo em
Certosa di Val d'Ema (1522-1523) são emblemáticos das opções maneiristas. Neles não
se nota nenhum recurso à perspectiva. As figuras, de proporções alongadas e modo anti-
natural, encontram-se dissolvidas na composição, cujo movimento é obtido pelos
contrastes acentuados. A falta de harmonia vem acompanhada por forte intensidade
espiritual e expressão emocional, o que leva Erwin Panofsky (1892-1968) a localizar neles
uma influência de certas obras de Albrecht Dürer (1471-1528). Procedimentos e
influências semelhantes podem ser observados em trabalhos de Beccafumi, como
Descent of Christ into Limbo (1528). Uma segunda fase do maneirismo aparece
associada a trabalhos de Vasari (Allegory of the Immaculate Conception) - em que se
notam influências de Michelangelo - e a obras de Agnolo Bronzino (1503-1572), como
Descent into Limbo (1552). Este trabalho, que comenta o anterior de Beccafumi, conhece
nova sistematização: maior firmeza dos contornos e ênfase acentuada nos aspectos
plásticos da composição. Longe da harmonia clássica, a segunda fase maneirista, nos
termos de Panofsky, expõe tensões - por exemplo, as derivadas do jogo entre realidade e
imaginação - que serão exploradas em seguida pelo Barroco.
Barroco
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formas sinuosas e assimétricas pode ser vista como um processo natural de
desenvolvimento do século anterior.
Além das dificuldades com respeito às datas, deve-se considerar aquela relativa à própria
definição estilística da arte barroca. Após seu surgimento na Roma católica, ela se
dissemina fortemente pelo mundo, gerando uma série de variações nacionais. Por isso a
dificuldade de unir num mesmo denominador comum trabalhos de alguns dos grandes
mestres como Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571 - 1610), Peter Paul Rubens
(1577 - 1640), Diego Velázquez (1599 - 1660), Rembrandt van Rijn (1606 - 1669), Gian
Lorenzo Bernini (1598 - 1680), Francesco Borromini (1599 - 1667), Baciccio (1639 - 1709)
e Aleijadinho (1730 - 1814). Estudos mais profundos sobre o período são relativamente
recentes, considerando que só a partir da segunda metade do século XVIII a arte
posterior ao Renascimento começa a ser chamada de forma pejorativa de barroca. Em
contraposição ao ideal clássico, as obras desses artistas mostram certa tendência ao
bizarro, ao assimétrico, ao extravagante, ao apelo emocional, inexistente até então na
arte renascentista.
Deve-se aos teóricos Alois Riegl (1858 - 1905) e Heinrich Wölfflin (1864 - 1945) o início da
revalorização das obras barrocas no fim do século XIX. Para eles, não se trata mais de
hierarquizar momentos radicalmente diversos da história da arte, mas sim de reconhecer
e valorizar os traços distintivos do barroco como expressão de uma outra forma de ver o
mundo. Segundo Wöllflin, além das diferenças individuais e nacionais de cada artista,
pode-se dizer que a arte barroca, tanto na arquitetura e escultura quanto no desenho e na
pintura, tem as seguintes características: apresenta os objetos como manchas ou massas
de cor; enfatiza a profundidade e não o plano; sua forma é aberta, pois as
indeterminações dos limites entre os objetos representados e as perspectivas não
centrais sugerem uma continuidade no espaço e no tempo; a sensação de unidade
prevalece sobre a singularidade de cada parte; as formas têm clareza relativa, ou seja,
não é mais preciso reproduzir as coisas em todos os seus detalhes, basta sugerir ao
espectador alguns pontos de apoio para que a imaginação complete o resto.
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propiciar a flexibilização dos cânones clássicos (dando liberdade ao artista de criar novas
formas de representação) e atribuir à arte uma capacidade de persuasão inédita até
então, o barroco é bem acolhido em diversas partes do mundo, gerando pela primeira vez
na história da arte uma série de nuances nacionais. Encontra, por exemplo, um
desenvolvimento importante na arte ibero-americana. No Brasil, a arte barroca, com base
nos modelos europeus, é adaptada às condições regionais (materiais e técnicas, bem
como espirituais), conquistando características próprias cem anos após sua ocorrência na
Europa, em pleno século XVIII.
Perspectiva
A arte moderna - cujo trajeto no século XIX acompanha a curva definida pelo romantismo,
realismo e impressionismo - se caracteriza por uma atitude crítica em relação às
convenções artísticas, entre elas, a perspectiva. O emprego livre de cores vivas, as
pinceladas expressivas e a nova concepção da luz recusam as normas da arte
acadêmica, o que já se observa em artistas românticos como Eugène Delacroix (1798-
1863). O questionamento com os temas clássicos, defendidos pelas academias de arte,
vem acompanhado na arte moderna pelo abandono das tentativas de representar
ilusionisticamente um espaço tridimensional sobre um suporte plano. A consciência da
tela plana, de seus limites e possibilidades, inaugura o espaço moderno na pintura, o que
se verifica decisivamente na obra de Éduard Manet (1832-1883). É com o impressionismo
que a crise da perspectiva anunciada anteriormente se agudiza.
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Naturalismo
A expressão d’après nature designa toda obra de arte calcada ou mesmo copiada
diretamente da natureza. Por extensão, o naturalismo pode ser definido como "a doutrina
estética que busca inspiração direta na natureza e a reproduz com fidelidade. Não
implica, porém, em cópia fiel da natureza, mas a sua interpretação através da
sensibilidade do artista". Não se deve, também, confundi-lo com realismo. Este se opõe
tanto ao naturalismo quanto ao neoclassicismo, sendo a representação artística das
coisas da natureza tais como se apresentam na realidade, em oposição ao idealismo que
se esforça por apresentá-las como as concebe o espírito ou a imaginação. Com alguma
freqüência, sobretudo na Itália, o termo naturalismo tem um significado próximo ao de
verismo. No Brasil, os principais naturalistas reuniram-se em torno de Grimm, o qual era,
no entanto, mais um realista. Artistas mais destacados: Zeferino da Costa, Castagneto,
Baptista da Costa, Telles Jr. , Pedro Weingartner, Pinto Bandeira, Delfim da Câmara,
Garcia y Vasques, Hipólito Caron, Alfredo Andersen.
Academias de arte
Inspirado nos exemplos italianos, em Paris, em 1648, um grupo de pintores persuade Luís
XIV a fundar a Académie Royale de Peinture et de Sculpture [Real Academia de Pintura e
Escultura]. Dirigida pelo estadista Jean-Baptiste Colbert e pelo pintor e teórico da arte
Charles Le Brun, a academia francesa confere à instituição um caráter renovado. Verifica-
se um estreitamento das relações entre arte e poder político - a academia é financiada
pelo rei - e uma associação mais nítida entre o órgão e uma doutrina particular. Lebrun,
diretor da academia em 1663, impõe sua ortodoxia estética com base no classicismo e na
obra do pintor francês Nicolas Poussin atuante em Roma. A paixão pela Antiguidade -
revelada nos temas mitológicos, nos motivos históricos e associada à clareza expressiva
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e à obediência às regras - define o estilo de Poussin, que se converte no eixo da doutrina
acadêmica. Com Colbert e Lebrun, os termos belas-artes e arte acadêmica entram na
ordem do dia. Presencia-se a crescente importância da França no mundo artístico
europeu, apesar do prestígio de que ainda gozavam os artistas italianos, frequentemente
empregados pela realeza francesa. Sem subestimar a importância de outros grandes
artistas do século XVII, como Diego Velázquez, Rembrandt e Peter Paul Rubens, em
1666, Luís XIV funda a Academia Francesa em Roma, para que os franceses partilhem
com os italianos o estudo das obras-primas do passado.
Pintura sacra
A arte cristã da Idade Média se beneficia da arte grega e romana, misturando processos e
métodos, o que pode ser aferido pelo modo de representação das figuras humanas nos
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manuscritos e nas ilustrações da Bíblia em várias partes da Europa. Mas antes de conferir
verossimilhança à imagem representada, o artista medieval visa transmitir de forma
convincente a mensagem da história sagrada. A busca de clareza na apresentação dos
conteúdos acompanha a arte religiosa desse período: iluminuras, calendários, esculturas,
tapeçarias etc. Se a longa Idade Média é o tempo das catedrais isso quer dizer que a
arquitetura é a arte mais importante de todo o período, prevalecendo na maior parte da
Europa dos séculos XI e XII com o estilo românico e, entre os séculos XII e meados do
XVI, com o gótico. Tendo a França como fonte de irradiação, toda a primeira fase do novo
estilo gótico pode ser definida como a linguagem artística da sólida estrutura monárquica
francesa e do poder da Igreja, que se via como depositária das ciências e das artes, além
de mediadora entre Deus e os homens. A proeminência da Igreja é enfatizada pela
intensificação do culto à Virgem Maria, que assume o primeiro plano na iconografia sacra.
Se é na arquitetura religiosa que o gótico vai predominar ao longo dos séculos XII e XIII -
dialogando de perto com a escultura na decoração das catedrais -, entre os pintores o
nome de Giotto (1266 ou 1267 - 1337) se destaca por lograr traduzir para a pintura as
figuras realistas da escultura gótica. A obra do pintor florentino representa um corte em
relação às convenções da tradição bizantina pela introdução de novos ideais naturalistas
e pelo novo sentido atribuído ao espaço pictórico. Entre os trabalhos a ele atribuídos
estão os afrescos da Capela de Arena, em Pádua (provavelmente concluídos em 1306).
As idéias de Giotto influenciariam pintores como Simone Martini (ca.1284 - 1344) e Lippo
Memmi. O retábulo representando a anunciação é pintado por ambos, em 1333, para a
catedral de Siena. Nota-se a predileção por formas delicadas, corpos esguios, pela graça
de movimentos e harmonia da composição, de acordo com os ensinamentos do gótico.
Leonardo da Vinci (1452 - 1519) é autor de ampla obra artística e científica, célebre por
seus escritos, pelos retratos e pela invenção da técnica do esfumato ("fumo", "fumaça"),
em que se vale da justaposição de tons e cores diferentes, de modo que se misturem
"sem limites ou bordas, à maneira da fumaça". Com isso Leonardo logra suavizar os
contornos característicos da pintura do início do XV, revelando as potencialidades da tinta
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a óleo. Ele é autor de grandes obras da pintura com temas religiosos: Anunciação,
ca.1475, em Uffizi, o retábulo A Adoração dos Magos (encomendado em 1478 e
inacabado), A Virgem dos Rochedos, iniciada em 1483, Última Ceia, ca.1495, entre
outras. As imagens de Rafael (1483 - 1520) dão plena expressão aos valores da arte
renascentista, destacando-se pela beleza projetada segundo os padrões idealizados do
universo clássico. A seu período florentino remontam célebres representações da virgem
com o menino e pinturas da sagrada família, em que os personagens bíblicos são
representados como seres humanos. Datam do período florentino, algumas de suas mais
famosas imagens da Virgem com o Menino [Madona Sistina], ca.1512/1514. As obras de
Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564), exemplificam em várias modalidades mais uma
realização bem-sucedida do modelo clássico. O afresco para o forro da Capela Sistina,
1508/1512, está entre as mais importantes obras da pintura sacra e da arte pictórica em
geral. Executa para Paulo III suas últimas pinturas: a Conversão de S. Paulo e a
Crucificação de S. Pedro, 1542/1550, afrescos na capela Paolina, no Vaticano. Na escola
veneziana, o nome de Ticiano (ca.1488 - 1576) deve ser lembrado pela execução de uma
série de obras-primas da pintura religiosa: a Assunção, 1518, a Virgem Aparecendo a São
Francisco e a Santo Alviso, 1520 e a Apresentação da Virgem no Templo, 1534/1538.
Ainda que seja difícil definir os marcos temporais exatos, é possível verificar o declínio da
pintura sacra a partir do fim do século XVII e início do século XVIII, explicável em função
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da redefinição da sociedade européia, no interior da qual a Igreja - e com ela a arte
religiosa - perde progressivamente a importância. As transformações econômicas,
políticas e sociais em curso se aprofundam nos séculos posteriores, originando uma "era
das revoluções", nos termos empregados pelo historiador inglês Eric Hobsbawn para
fazer referência ao período compreendido entre 1789 e 1848. Assiste-se ao triunfo da
indústria capitalista, da sociedade burguesa liberal e do Estado moderno e, com eles, à
crença na idéia de progresso, de conhecimento científico e à crescente laicização da
sociedade. Nesse contexto transformado, os temas religiosos prevalentes na pintura até
então perdem força, ainda que a pintura sacra se mantenha como um gênero, entre
outros, concorrendo com a pintura histórica, a pintura de gênero, a pintura documental
etc.
Pintura mitológica
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geral. Os frisos dos vasos gregos estão repletos de personagens e cenas mitológicos,
assim como a estatuária, relevos, mosaicos, capitéis, pinturas murais e elementos
decorativos de templos e construções antigos. A obra do escultor grego Fídias (ca.500 -
ca.432 a.C.) é reveladora do interesse por tal repertório: sua estátua de Zeus, no templo
dedicado ao deus em Olímpia, com 12 metros de altura, situa-se entre as grandes
realizações artísticas da época. As obras mitológicas de Praxíteles (Hermes com o Jovem
Dionisio, 350 a.C., e Vênus de Milo, século I a.C.), permitem aferir a liberdade grega nas
representações dos corpos nus (de acordo com a idéia de que "o corpo é o espelho da
alma") e o ideal de beleza, perfeição, harmonia e graça que os artistas procuram atingir
pela simetria e proporção das formas.
Se as expressões do barroco contrariam os ideais renascentistas, isso não quer dizer que
tenham descartado a mitologia. Ela reaparece, por exemplo, em trabalhos do artista
flamengo Peter Paul Rubens (1577 - 1640) - Diana e Suas Ninfas Surpreendidas por
Sátiros, ca.1635/1640, e O Julgamento de Páris, ca.1638/1639 - e do escultor italiano
Gianlorenzo Bernini (1598 - 1680): O Rapto de Prosérpina, 1621/1622, e Apolo e Dafne,
1622/1625. Não há como esquecer, além disso, as célebres obras mitológicas de Diego
Velázquez (1599 - 1660): O Triunfo de Baco, 1629, a Forja de Vulcano, 1630, Vênus e
Cupido, ca.1648, A Fábula de Aracne, ca.1656/1658, entre outras. Mas é no contexto do
neoclassicismo que a pauta clássica e a arte antiga, especialmente greco-romana, são
retomadas, como modelo de equilíbrio, clareza e proporção. A Luta entre Teseu e o
Minotauro, 1781/1783, constitui o tema daquela que é considerada a primeira grande obra
do escultor Antonio Canova (1757 - 1822). O nome de John Flaxman (1755 - 1826) pode
ser lembrado pelas gravuras realizadas para a Ilíada e a Odisséia, 1793, que lhe valem
fama internacional. Se o centro irradiador da escultura neoclássica é Roma, na pintura, o
epicentro do neoclassicismo desloca-se para a França. Aí, diante da Revolução Francesa,
o modelo clássico adquire sentido ético e moral, associando-se a alterações na visão do
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mundo social, flagrantes na vida cotidiana, na simplificação dos padrões decorativos e
nas modas despojadas. Do ponto de vista das temáticas retiradas da mitologia, a obra de
Nicolas Poussin (1594 - 1665) se destaca pelos personagens de Céfalo e Aurora, Midas,
Selene (Diana), além de ninfas e sátiros, que povoam as suas telas. O pintor, gravador e
designer francês François Boucher (1703 - 1770), ligado ao rococó nos primeiros tempos,
adere ao neoclassicismo e aos temas mitológicos no fim da carreira: O Triunfo de Vênus,
1740 e O Descanso de Diana, 1742.
No século XX, temas mitológicos são retrabalhados sobretudo por artistas ligados ao
simbolismo. A "pintura literária" de Gustave Moreau (1826 - 1898), por exemplo, focaliza
civilizações e mitologias antigas (A Galatéia). Odilon Redon (1840 - 1916), que na década
de 1890 se volta para a pintura, explora, vez ou outra, cenas mitológicas (Nascimento de
Vênus, ca.1912). Nas obras metafísicas de Giorgio de Chirico (1888 - 1978), personagens
mitológicos reaparecem em composições irônicas e patéticas, como manequins (Heitor e
Andrômaca, 1917).
Pintura de gênero
Ainda que seja possível pensar, em sentido amplo, nos diversos gêneros da pintura -
retrato, natureza-morta, paisagem etc. - , o termo pintura de gênero faz referência às
representações da vida cotidiana, do mundo do trabalho e dos espaços domésticos, que
tomaram a pintura holandesa do século XVII. Em pleno florescimento do barroco na
Europa católica, desenvolve-se nos Países Baixos, sobretudo na sua porção holandesa
protestante, um estilo sóbrio, realista, comprometido com a descrição de cenas rotineiras,
de temas da vida diária, de homens dedicados a seus ofícios, de mulheres no interior da
casa e de festas comunitárias, no campo e na cidade. As imagens caracterizam-se, em
geral, pela riqueza de detalhes, pela precisão e apuro técnico, numa tentativa de registro
fiel do que o olho humano é capaz de captar. Nada mais distante da exuberância barroca,
dos temas nobres e dos padrões de beleza que orientam a representação dos corpos na
pintura italiana, por exemplo.
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As condições de possibilidade de uma pintura com essas características devem ser
procuradas em diversas frentes. Referem-se ao universo burguês, à vida urbana e à
economia monetária que encontram nos Países Baixos desenvolvimento acelerado. Os
padrões de gosto dos burgueses flamengos articulam-se à realidade do trabalho e do
comércio, no qual não há lugar para desmesuras nem pompas. A vitória do
protestantismo, por sua vez, obriga os pintores a se especializarem em ramos da arte que
não levantem objeções de natureza religiosa. Os retratos, as paisagens e as cenas de
gênero aparecem, assim, como alternativas aos artistas que haviam perdido um
importante filão de trabalho, a pintura religiosa. No que diz respeito à tradição artística
propriamente dita, é possível dizer que a pintura de gênero retoma motivos encontráveis
nas ilustrações feitas nas margens dos manuscritos medievais - com cenas e temas
cotidianos, desvinculados dos textos sagrados - e também dos "Livros das Horas", da
Idade Média, em que os salmos são acompanhados por um calendário ilustrado, com a
descrição das atividades correspondentes aos meses do ano. Por exemplo, no mês de
junho do Livro das Horas do Duque de Berry (1415-1416) vemos homens ceifando e
mulheres arrumando os montes de fenos, com o auxílio do ancinho e do forcado. É
preciso lembrar ainda as feições particulares que tomam a pintura flamenga nos séculos
XV e XVI, afinadas com a descrição de registros triviais do cotidiano, com as
representações minuciosas de animais, plantas e lugares. O célebre Giovanni Arnolfini e
sua Esposa (1434) de Jan van Eyck (ca.1390 - 1441) é revelador dessa orientação
descritiva da pintura holandesa. Basta notarmos o cuidado do pintor com as texturas reais
das faces do casal em primeiro plano e de suas vestimentas, bem como a composição
detalhada do ambiente interior: os móveis, os candelabros, o cão e o espelho ao fundo
em que se encontram refletidos o casal (de costas) e duas outras figuras.
Mas é Pieter Brueghel (ca.1525 - 1569), O Velho, que irá se deter nas cenas de gênero,
no seu caso, nas cenas da vida camponesa: os aldeões no trabalho e em festejos
variados. Um Casamento Aldeão (1565) exemplifica a opção de sua pintura pela riqueza
de detalhes, pelo colorido e técnica precisa. A cena, repleta de personagens e situações,
tem lugar num celeiro, como indica o feno à mostra. Muitas ações ocorrem
simultaneamente: em primeiro plano, os pratos transportados por dois homens de avental
branco; no canto esquerdo, um homem serve cerveja e um menino brinca; à mesa, as
pessoas comem e conversam, enquanto um grupo de músicos toca, de pé; no fundo,
outros tentam entrar pela porta. Um olhar mais detido consegue identificar ainda cada
figura: a noiva e seus pais, um frade, o noivo, um magistrado, entre muitos outros. O filão
aberto por Brueghel vai ser explorado no século XVII nas obras animadas e humorísticas
de Jan Steen (1626 - 1679), popular pelas tavernas e ambientes festivos que registra com
atenção aos coloridos, gestos e poses. Lembremos, entre outros, A Festa de São Nicola
(s.d.), A Festa na Osteria (1674) e A Festa de Batizado (1664).
Grande pintura feita a partir de temas menores e desimportantes, esta parece ter sido a
lição dos pintores holandeses especializados nas cenas de gênero. Dentre eles destaca-
se Jan Vermeer (1632-1675), que se não pintou tantos quadros como Jan Steen, deixou
obras antológicas, como A Leiteira (ca.1660), Mulher Lendo Diante da Janela (ca.1657),
Jarro de Vinho (ca.1658-1660), A Lição de Música (ca.1662-1665), entre outras. Boa parte
de seus quadros registra cenas da vida doméstica, por meio de imagens harmoniosas.
Em foco, uma ou duas figuras, realizando tarefas domésticas ou em momentos de lazer.
A luz entra em geral pelas janelas, à esquerda da composição, em que predominam
amarelos, azuis e tons acinzentados. Não mais o tom efusivo e alegre das cenas de
gênero, mas a sobriedade e concentração da figura retratada na execução de sua tarefa.
Com Vermeer, afirma o historiador E. H. Gombrich, "a pintura de gênero perdeu o último
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vestígio de ilustração bem-humorada. Seus quadros são, na realidade, naturezas-mortas
incluindo seres humanos".
Pintura de retrato
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exemplo -, no período florentino, entre 1500 e 1506 (a Mona Lisa) e também na última
fase de sua carreira (as duas imagens de São João Batista, uma delas convertida em
Baco, ca.1515). O sorriso enigmático, as sombras, o dedo indicador elevado e as fartas
cabeleiras são traços salientes dos retratos de Leonardo, repetidos pelos seguidores.
Natureza-morta
Objetos inanimados são representados na pintura desde a Idade Média, em geral como
fundo de pinturas religiosas de cunho realista. Mas é somente em meados do século XVI
que a natureza-morta emerge como gênero artístico independente em obras de pintores
como Pieter Aertsen (1507 ou 1508 - 1575) e Jacopo Bassano (ca.1510 - 1592), que
articulam os temas religiosos à vida cotidiana e às cenas de gênero. As composições
simbólicas e grotescas de Giuseppe Arcimboldo (ca.1527 - 1593) - com frutas, animais e
objetos compondo figuras - alimentam o desenvolvimento da natureza-morta no período.
Na passagem para o século XVII, a figuração documental exigida pelas ciências naturais
joga papel destacado na valorização de uma arte que almeja representar os objetos e a
natureza tais como empiricamente observados - por exemplo, Jacopo Ligozzi (1547 -
1627). Assim, o processo de paulatina autonomia da natureza-morta acompanha tanto a
pintura naturalista (associada à ilustração científica) quanto a pintura de gênero,
exemplarmente representada pelos artistas holandeses do século XVII e seus temas
domésticos, figurados com riqueza de detalhes. Os objetos freqüentemente escolhidos
para compor as naturezas-mortas são: mesas com comidas e bebidas, louças, flores,
frutas, instrumentos musicais, livros, ferramentas, cachimbo, tabaco etc, todos referidos
ao âmbito privado e à esfera doméstica, às vocações e aos hobbies, à decoração e ao
convívio no interior da casa.
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"stilleben" (vida imóvel, vida em suspensão). Caravaggio (1571 - 1610) é um dos
pioneiros no gênero, exercitado entre 1592 e 1599 (detalhe de Baco, 1593, Cesto de
Frutas, 1596). A opção pela "pintura natural das coisas naturais" (destacando a presença
do corpo e a realidade pormenorizada do objeto reveladas pelos contrastes de luz e
sombra), a escolha de tipos populares para compor cenários religiosos e o gosto por
cenas de gênero marcam as obras do pintor milanês, um dos primeiros a desafiar a
hierarquia imposta pelos teóricos da época, que viam a natureza-morta como tema
menor. "Custa-me tanto trabalho fazer um bom quadro de flores, quanto um quadro de
figuras", afirma ele. Na Espanha, Juan Sánchez Cotán (1560 - 1627) renova o gênero,
valendo-se da abertura de janelas para emoldurar os objetos (Natureza-Morta com
Marmelo, Couve, Melão e Pepino, 1600). No sul do país, o tema é adotado por Francisco
de Zubarán (1598 - 1664), que desenvolve uma obra religiosa naturalista, produzindo
paralelamente uma série de naturezas-mortas e cenas de gênero. Em Madri, Juan van
der Hamen y León (1596 - 1631) confere novos contornos a esse tipo de pintura,
dispondo os objetos em diferentes níveis e reduzindo o número de elementos da cena
(Natureza-Morta com Frutas e Objetos de Cristal, 1626).
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Rococó
Principal estilo de época do século XVIII europeu, o rococó se desenvolve como uma
sutilização à complexidade formal e aos excessos do barroco, apelando para a leveza,
graça e para os coloridos suaves. O termo tem origem na palavra francesa rocaille
[rocalha] - tipo comum de decoração de jardins do século XVIII, com conchas e rochas -
que se populariza por analogia ao termo italiano barocco. Os alemães se antecipam ao
empregar o termo em sua acepção moderna de estilo artístico referido à arquitetura e
artes ornamentais na segunda metade do século XIX, libertando-o assim do sentido
pejorativo que o acompanha, desde a origem até o século XIX. Mas será apenas em
1943, com a obra clássica do historiador Fiske Kimball sobre o assunto, The Creation of
the Rococo, que se fixam as origens do estilo na França em meados do século XVIII. A
partir de então, o rococó deixa de ser visto como uma variante do barroco, passando a ser
considerado um estilo autônomo, irredutível ao barroco e ao clássico.
Os traços mais salientes do estilo rococó relacionam-se ao uso das rocailles, que se
combinam aos arabescos com linhas curvas em "c" ou "s". As composições realizadas
com extrema liberdade e fantasia mesclam a sinuosidade das linhas com motivos tirados
da natureza: pássaros e pequenos animais, plantas e flores delicadas, formações
rochosas, águas em cascata ou brotando do solo. Na arquitetura, sobretudo nos
interiores, predominam os traçados sinuosos, as cores claras, o uso da luz (pelas "janelas
francesas" que descem ao chão) e dos espelhos. O luxo da decoração interna tem o seu
contraponto na simplicidade das fachadas externas dos edifícios. Ao redor de 1760,
assistimos à retomada das tendências e repertórios clássicos, nas pilastras, medalhões e
troféus que tomam conta das decorações. Enraizado culturalmente no século XVIII, o
rococó liga-se à sociabilidade elegante do período, às modas e maneiras cotidianas que
têm nos salões literários e artísticos expressão significativa. A polidez e a performance
social que os salões evidenciam vêm acompanhadas da importância do luxo e
refinamento (do espírito e do corpo). As artes, nesse contexto, ligam-se diretamente ao
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prazer e ao divertimento o que leva os estudiosos a falarem em um fundo hedonista
presente nas mais diversas manifestações do rococó.
O estilo rococó se internacionaliza rapidamente pela Europa Central, mas também pela
Espanha e Portugal, adaptando-se a contextos muito diversos. Chama a atenção nesse
processo a sua penetração na arte religiosa, contrariando uma origem ligada à nobreza e
à vida mundana. A arquitetura religiosa rococó, de fraco desenvolvimento na França, vai
conhecer expressão maior seja na região da Baviera, seja na zona portuguesa do Minho e
logo depois no Brasil. Nessas regiões, o estilo sofre as influências do barroco italiano e
das tradições autóctones, adquirindo feições originais. No caso do Brasil,
especificamente, observa-se a forte penetração do rococó na arquitetura religiosa desde
meados do século XVIII no Rio de Janeiro, em diversas cidades mineiras (Ouro Preto,
São João Del Rey, Congonhas do Campo etc.), em Pernambuco, Paraíba e Belém.
Neoclassicismo
Movimento cultural europeu, do século XVIII e parte do século XIX, que defende a
retomada da arte antiga, especialmente greco-romana, considerada modelo de equilíbrio,
clareza e proporção. O movimento, de grande expressão na escultura, pintura e
arquitetura, recusa a arte imediatamente anterior - o barroco e o rococó, associada ao
excesso, à desmedida e aos detalhes ornamentais. À sinuosidade dos estilos anteriores,
o neoclassicismo opõe a definição e o rigor formal. Contra uma concepção de arte de
atmosfera romântica, apoiada na imaginação e no virtuosismo individual, os neoclássicos
defendem a supremacia da técnica e a necessidade do projeto - leia-se desenho - a
comandar a execução da obra, seja a tela ou o edifício. A isso liga-se a defesa do ensino
da arte por meio de regras comunicáveis, o que se efetiva nas academias de arte,
valorizadas como locus da formação do artista. O entusiasmo pela arte antiga, a
recuperação do espírito heróico e dos padrões decorativos da Grécia e Roma se
beneficiam da pesquisa arqueológica (das descobertas das cidades de Herculano em
1738 e Pompéia em 1748) e da obra dos alemães radicados na Itália, o pintor Anton
Raphael Mengs (1728 - 1779) e o historiador da arte e arqueólogo Joachim Johann
Winckelmann (1717 - 1768), principal teórico do neoclassicismo. A edição em 1758 de
Ruínas dos Mais Belos Monumentos da Grécia, de J.-D. Le Roy e de A Antigüidade de
Atenas (1762), dos ingleses James Stuart e Nicholas Revett, evidenciam a intensidade da
retomada greco-romana.
A escultura neoclássica tem em Roma o seu centro irradiador, nas versões de Antonio
Canova (1757 - 1822), Bertel Thorvaldsen (1770 - 1844) e John Flaxman (1755 - 1826).
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Teseu e o Minotauro (1781 - 1783) é considerada a primeira grande obra de Canova,
seguida pela sepultura do papa Clemente XIV, na Igreja dos Santos Apóstolos (1783 -
1787). Ainda que amparada em modelos semelhantes, a escultura de Thorvaldsen é vista
como oposta a de Canova pelo acento no volume em detrimento do movimento e luz. A
fama internacional de Flaxman advém das gravuras para a Ilíada e a Odisséia (1793). Na
pintura, o epicentro do neoclassicismo desloca-se para a França. Ali, diante da Revolução
Francesa, o modelo clássico adquire sentido ético e moral, associando-se a alterações na
visão do mundo social, flagrantes na vida cotidiana, na simplificação dos padrões
decorativos e na forma despojada dos trajes. A busca de um ideal estético da Antigüidade
vem acompanhada da retomada de ideais de justiça e civismo, como mostram as telas do
pintor Jacques-Louis David (1748 - 1825), que exercita seu estilo a partir de suas estadas
na Itália em 1774 e 1784 e do exemplo dos pintores franceses de Nicolas Poussin (1594 -
1665) e Claude Lorrain (1600-1682). A dicção austera das composições de David - ao
mesmo tempo simples e grandiloqüentes - despidas de ornamentos e detalhes
irrelevantes, nas quais as cores são circunscritas pelos traços firmes do contorno, tornar-
se-á sua marca caraterística. O Juramento dos Horácios (1784) e A Morte de Socrátes
(1787) são exemplos nítidos da gramática neoclássica empregada pelo pintor francês, em
que convivem o equilíbrio e precisão das formas. Pintor da Revolução Francesa (A Morte
de Marat, 1793), David foi também defensor de Napoleão (Coroação de Napoleão, 1805-
1807). Nos dois momentos, a França encena os modelos da Roma Republicana e da
Roma Imperial, tanto na arte quanto na vida social, pela recusa do estilo aristocrático
anterior.
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Romantismo
Tanto o clássico quanto o romântico são teorizados entre a metade do século XVIII e
meados do século XIX. O contexto onde as novas idéias se ancoram é praticamente o
mesmo: as contradições ensejadas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa
que repercutem na redefinição das classes sociais (nobreza, a burguesia em ascensão, o
campesinato e operariado nascente). O neoclassicismo parece coincidir com a Revolução
Francesa e com o império napoleônico, e o romantismo aparece mais diretamente ligado
à ascensão da burguesia e aos movimentos de independência nacional. O clássico é
teorizado pelo pintor e crítico Anton Raphael Mengs (1728 - 1779) e pelo historiador da
arte Johann Joachim Winckelmann (1717 - 1768), que defendem a retomada da arte
antiga, especialmente greco-romana, considerada modelo de equilíbrio, clareza e
proporção. À linha curva e retorcida dos estilos anteriores - o barroco e o rococó -, o
neoclassicismo opõe a retidão e a geometria. O romântico, por sua vez, é sistematizado
histórica e criticamente pelo grupo reunido em torno dos irmãos Schlegel na Alemanha, a
partir de 1797, ao qual se ligam: Novalis, Tieck, Schelling e muitos outros. A filosofia de
Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778) está na base das formulações românticas alemães
e tem forte impacto no pré-romantismo do Sturm und Drang [Tempestade e Ímpeto]. O
que faz de Rousseau um precursor do romantismo é o seu pessimismo em relação à
sociedade e à civilização, evidente no postulado de uma natureza humana pura,
corrompida pela cultura. Disso decorre a exaltação rousseauniana da natureza, da
simplicidade da criação, da nostalgia do primitivo e do culto do gênio original.
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expressiva, nada decorativa. As grandes extensões de mar, montanhas e planícies
cobertas de nuvens e/ou neblina que se estendem ao infinito, as rochas e picos, e o
homem solitário em atitude contemplativa, compõem a imagística do romantismo: a
natureza como locus da experiência espiritual do indivíduo, a postura meditativa do
sujeito, a solidão, a longa espera etc.
O paisagismo inglês de William Turner (1775 - 1851) e John Constable (1776 - 1837)
costuma ser incluído no rol da pintura romântica, a despeito das distâncias em relação à
vertente alemã e das soluções diversas adotadas por cada um deles. Turner realiza telas
de tom dramático, com forte movimento e luminosidade (Naufrágio, 1805, Mar em
Tempestade,1820). As paisagens de Constable, por sua vez, tendem ao acento
naturalista, ao tom poético e ao pitoresco: são ambientes acolhedores, compostos de
casas, águas, nuvens etc. (A Represa e o Moinho de Flatford, 1811, A Carroça de Feno,
1821). Na França, por sua vez, o impacto da revolução e o mito napoleônico se refletem
nos temas históricos e nas cenas de batalhas, amplamente exploradas pelos pintores.
Théodore Géricault (1791 - 1824), admirador de Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564) e
do barroco, retoma o passado e a história em telas como A Jangada da Medusa (1819).
O quadro trata de um naufrágio, ocorrido dois anos antes, e da luta desesperada dos
sobreviventes. O embate entre vida e morte e as relações hostis entre o homem e a
natureza se expressam no movimento dos corpos e da vela, enlaçados num mesmo
drama, que as formas revoltas das ondas e nuvens auxiliam a enfatizar. Eugène Delacroix
(1798 - 1863), maior expoente do romantismo francês, se detém sobre a história política
do seu tempo no célebre A Liberdade Guia o Povo (1850), quando registra a insurreição
de 1830 contra o poder monárquico. A liberdade, representada pela figura feminina que
ergue a bandeira da França sobre as barricadas, é uma alegoria da independência
nacional, tema fundamental para os românticos. A imagem da luta aparece também na
obra de Delacroix associada aos temas bíblicos e religiosos (A Luta de Jacó com o Anjo,
1850-1861).
Realismo
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clássica e romântica, assim como dos temas históricos, mitológicos e religiosos. O
enfrentamento direto e imediato da realidade, com o auxílio das técnicas pictóricas,
descarta qualquer tipo de ilusionismo. O pintor é simpatizante das posições anarquistas
de Proudhon e tem participação decisiva durante a Comuna de Paris, e seria impossível
compreender suas decisões estéticas sem considerar suas escolhas políticas. A pintura,
arte concreta por excelência, se aplica aos objetos reais, às "coisas como elas são".
A cena do funeral na cidade natal do pintor, Ornans, é criticada por sua feiúra e crueza.
As figuras, destituídas de graça, parecem desencontradas nas grandes dimensões da
tela. No primeiro plano, o buraco aberto no chão e o semblante algo caricato do padre. Já
se observam na obra, nota o historiador norte-americano Meyer Schapiro, a simplicidade
e força das imagens ingênuas que povoam a arte popular, com a qual a obra de Courbet
mantém muitas afinidades. Os temas banais, distantes dos padrões de beleza clássica e
romântica, o trabalho nas aldeias, os ofícios - os Amoladores de Faca, o Paneleiro, os
Joeireiros etc. -, a observação direta da natureza, entre outros, afastam Courbet das
construções eruditas ou da pintura filosófica que impõe reflexões. Moças à Margem do
Sena, 1857, explicita a aderência da forma artística ao real, representa um fragmento da
realidade: duas moças da cidade fazendo a sesta à margem do rio, apresentadas sem
idealização ou dramatização. Não há nenhuma pretensão do artista em captar os
sentimentos das mulheres, assim como a paisagem não almeja ser representação da
natureza. Apenas duas figuras, num lugar qualquer. Cenas que Courbet vê e registra.
Como ele bem diz a respeito dos seus quebradores de pedras: "Não inventei nada. Todos
os dias, ao fazer minhas caminhadas, via as pessoas miseráveis desse quadro". O foco
de Courbet na realidade tangível das coisas influencia a pintura de Millet, Daumier e
outros pintores de sua época, repercutindo posteriormente nos cubistas. Como aponta
Apollinaire em 1913, em Os Pintores Cubistas: "Courbet é o pai dos novos pintores". Não
é possível esquecer as relações íntimas da fotografia com a tradição realista na pintura,
no século XIX e no decorrer do século XX, que mereceriam tratamento à parte.
Expressões realistas podem ser percebidas em quase todo grupo ou movimento artístico
com base em Courbet. Convém lembrar que o construtivista russo Naum Gabo (1890 -
1977) denomina o seu manifesto de realista, em 1920; que as telas monocromáticas de
Yves Klein (1928 - 1962) na França dos anos 1960 são apresentadas como um novo
realismo e a nova objetividade, de Otto Dix (1891 - 1969) e George Grosz (1893 - 1959),
na Alemanha, defende uma atitude realista por excelência. Nesse sentido, acompanhar
tendências realistas na arte do século XX obriga a realização de um amplo mapeamento
de obras, bastante diferentes umas das outras do ponto de vista estilístico. Alguns poucos
exemplos parecem suficientes para dar uma visão da disseminação do realismo na arte
ocidental e, ao mesmo tempo, de sua variedade. Na Inglaterra do século XIX, os pré-
rafaelitas - John Everett Millais (1829 - 1896), William Holman Hunt (1827 - 1910) e Dante
Gabriel Rossetti (1828 - 1882) - exercitam uma dicção realista, que, se não tem as
preocupações sociais de Courbet, ambiciona a precisão e o detalhamento em trabalhos
que tocam motivos históricos e psicológicos, como no célebre Ofélia, 1851/1852, de
Millais. Imagens do trabalho e dos trabalhadores, típicas em Millet, aparecem com a
década de 1870, em obras de Luke Fildes (1844 - 1927) como Candidatos à Admissão
numa Enfermaria Improvisada, 1908, e George Clausen (1852 - 1944) em Trabalho de
Inverno, 1883/1884.
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tingem as obras de gerações posteriores como a de Edward John Burra (1905 - 1976) e
William Patrick Roberts (1895 - 1980). Na Europa, o período entreguerras conhece o
realismo sui generis de Kazimir Malevich (1878 - 1935) - que se opunha ao realismo
socialista - e também a obra de Balthus (1908), que tem em Courbet sua referência
primeira. Nos Estados Unidos, a produção de Edward Hopper (1882 - 1967), por exemplo,
Domingo de Manhã bem Cedo, 1930, é emblemática do estilo realista em sua versão
norte-americana. No período pós-1945, é possível chamar a atenção para uma retomada
do realismo com a arte pop britânica e norte-americana, que convive com outras
tendências realistas, como as reveladas nas obras de Lucien Freud (1922). O chamado
hiper-realismo dos anos 1960 retoma as relações de vizinhança entre tradição realista e
fotografia, produzindo, paradoxalmente, efeitos de irrealidade.
Impressionismo
Impressionismo é o termo usado para designar uma corrente pictórica que tem origem na
França, entre as décadas de 1860 e 1880, e constitui um momento inaugural da arte
moderna. A origem do nome remonta a um texto jornalístico que, inspirado na tela
Impressão, Sol Nascente, 1872, de Claude Monet (1840 - 1926), rotula de Exposição dos
Impressionistas a primeira apresentação pública dos novos artistas no estúdio do
fotógrafo Nadar (1820 - 1910), em 1874. A essa exposição seguem-se outras sete, nos
anos de 1876, 1877, 1879, 1880, 1881, 1882 e 1886, que conhecem reações hostis por
parte do público e da crítica, com exceção de algumas leituras favoráveis, como as de
Armand Silvestre, Duranty e Duret, este autor do primeiro estudo analítico sobre a nova
pintura, Os Pintores Impressionistas, 1878. O grupo tem sua formação associada à
Académie Suisse e ao ateliê Gleyre, em Paris, e entre seus principais integrantes estão
Monet, Pierre Auguste Renoir (1841 - 1919), Alfred Sisley (1839 - 1899), Frédéric Bazille
(1841 - 1870), Camille Pissarro (1831 - 1903), Paul Cézanne (1839 - 1906), Edgar Degas
(1834 - 1917), Berthe Morisot (1841 - 1895) e Armand Guillaumin (1841 - 1927).
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A renovação estilística empreendida pelo impressionismo encontra algumas de suas
matrizes nos trabalhos precursores de Joseph Mallord William Turner (1775 - 1851) e
John Constable (1776 - 1837), sobre cujas paisagens luminosas Monet, Sisley e Pissarro
se debruçam em passagem pela Inglaterra em 1870. Na França são sobretudo Eugène
Delacroix (1798 - 1863), e suas pesquisas de cor e luz, os artistas da Escola de Barbizon
e a defesa da pintura ao ar livre, e as paisagens de Jean-Baptiste-Camille Corot (1796 -
1875) e Gustave Courbet (1819 - 1877), partidários de novas formas de registro da
natureza, as principais referências para os jovens impressionistas. Isso sem esquecer o
impacto causado pelas estampas japonesas - suas soluções formais e colorido
particulares - principalmente nos trabalhos de Degas. Éduard Manet (1832 - 1883), por
sua vez, de precursor do grupo passa a seu integrante - embora nunca tenha exposto
com eles -, sobretudo a partir de 1870, quando se volta para a pintura em espaço aberto e
aproxima-se mais diretamente de Monet, na companhia de quem registra cenas de
Argenteuil.
No Brasil, ecos do impressionismo podem ser encontrados nas obras de Arthur Timótheo
da Costa (1882 - 1922), Belmiro de Almeida (1858 - 1935), Almeida Júnior (1850 - 1899),
Castagneto (1851 - 1900), Eliseu Visconti (1866 - 1944) e Antônio Parreiras (1860 - 1937)
entre outros. O clareamento da paleta, a atenção aos efeitos produzidos pelas diferentes
atmosferas luminosas, a incorporação de temas simples e afastados da eloqüência
acadêmica, o uso de pinceladas fragmentadas e descontínuas são incorporados aos
poucos pelos artistas brasileiros. No entanto, o acanhamento do ambiente artístico, a
resistência do público e das instituições às novas tendências estéticas e as limitações
impostas pela Academia Imperial de Belas Artes - Aiba - no ensino por ela ministrado e
nas orientações que imprime ao estudo de brasileiros no exterior - dificultam um diálogo
mais fecundo entre as investigações introduzidas pelos impressionistas e a arte realizada
pelos pintores nacionais, que muitas vezes não vão além de uma incorporação superficial
das técnicas impressionistas, adaptando-as a um olhar ainda comprometido com os
padrões acadêmicos.
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Academicismo
A associação mais nítida da academia com uma doutrina estética específica se verifica na
criação em Paris da Real Academia de Pintura e Escultura em 1648. Dirigida pelo
estadista Jean-Baptiste Colbert (1619 - 1683) e pelo pintor e teórico da arte Charles
Lebrun (1619 - 1690), a academia francesa impõe uma ortodoxia estética com base
principalmente na obra do pintor francês Nicolas Poussin (1594 - 1665), atuante em
Roma. A paixão pela Antigüidade, revelada em temas alegóricos de derivação mitológica
ou histórica - e associada à clareza expressiva e à obediência às regras, define o estilo de
Poussin, que se converte no eixo da doutrina acadêmica, sobretudo a partir de 1663
quando Lebrun assume a direção da academia. Com Colbert e Lebrun, os termos belas-
artes e arte acadêmica entram na ordem do dia, acentuando a distinção entre artes
maiores e menores, arte pura e aplicada.
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modelos da Roma republicana e da Roma imperial, tanto na arte quanto na vida social,
nas modas e nos modos despojados, que recusam as desmedidas do estilo aristocrático
anterior.
Pintura de paisagem
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míticas - provoca uma renovação no gênero paisagístico. Os nomes de John Constable
(1776 - 1837) e Joseph Mallord William Turner (1775 - 1851) são as primeiras referências
para a compreensão do desenvolvimento do gênero. Influenciado pelos paisagistas
holandeses do século XVII, Constable afasta-se das convenções pictóricas do paisagismo
ao representar na tela as mudanças de luz ao ar livre e o movimento das nuvens no céu,
em telas como A Represa e o Moinho de Flatford (1811). Sua pintura capta as variações
da natureza, recusando a idéia de um espaço universal e imutável. As referências de
Turner são outras - a paisagem clássica de C. Lorrain e as perspectivas de Canaletto -
mas em suas telas observa-se interesse idêntico pelo espaço atmosférico e pelo
fenômeno da luz. Só que nos quadros de Turner a luz explode numa espécie de turbilhão,
inundando a tela (Mar em Tempestade, 1840). O grupo de paisagistas franceses reunidos
na Escola de Barbizon, sob a liderança de Théodore Rousseau (1812 - 1867), por sua
vez, explora ao limite os aspectos mutáveis do mundo natural. Jean-Baptiste Camille
Corot (1796 - 1875), embora freqüentemente associado ao grupo, se afasta dele
sobretudo por uma idealização romântica menor e mais realista. A chave realista encontra
em Gustave Courbet (1819 - 1877) outro grande intérprete.
Um marco inicial da pintura de paisagens no Brasil pode ser encontrado nos pintores
estrangeiros que chegaram ao país com Maurício de Nassau, como Albert Eckhout
(ca.1610 - ca.1666) e sobretudo Frans Post (1612 - 1680). A pintura de paisagens
encontra forte enraizamento na arte realizada a partir da Missão Artística Francesa, tendo
sido explorada por Nicolas Taunay (1755 - 1830), Debret (1768 - 1848), Almeida Júnior
(1850 - 1899), entre outros. Nesse contexto, a pintura ao ar livre e o registro realístico da
flora e da fauna nacionais encontram expressão nas obras do pintor alemão Georg Grimm
(1846 - 1887) e, posteriormente, no grupo de artistas ligados a ele, como Antônio
Parreiras (1860 - 1937) e Castagneto (1851 - 1900). Alguns artistas brasileiros são
diretamente associados à pintura de paisagens, como Eliseu Visconti (1866 - 1944),
Benedito Calixto (1853 - 1927), Francisco Rebolo (1902 - 1980) e José Pancetti (1902 -
1958). As paisagens de Minas realizadas por Guignard (1896 - 1962) - com igrejas e
festas de São João - assim como aquelas realizadas por Tarsila do Amaral (1886 - 1973) -
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sejam os desenhos de cidades mineiras, as paisagens do Rio de Janeiro, das regiões
interioranas do país ou as telas de São Paulo - ocupam lugar destacado na tradição
paisagística nacional.
Pintura ao ar livre
O termo faz referência à pintura feita ao ar livre que se populariza no século XIX com o
desenvolvimento de novos equipamentos, como a bisnaga descartável para a embalagem
de tinta, criada em 1841 e logo produzida comercialmente. A disponibilidade de tintas
prontas encoraja os artistas a experimentarem novos tons e a saírem dos ateliês. Prática
comum na segunda metade do século XIX, associada diretamente ao impressionismo - e
aos nomes de Claude Monet, Pierre Auguste Renoir, Alfred Sisley, Frédéric Bazille,
Camille Pissarro, Paul Cézanne, Edgar Degas, Berthe Morisot e Armand Guillaumin -, a
pintura ao ar livre foi realizada anteriormente e suas raízes remontam ao interesse dos
pintores pelas "paisagens reais", mais evidente a partir do século XVII quando a paisagem
firma-se como gênero - ainda que "menor" - na hierarquia acadêmica.
O deslocamento dos artistas por meio de viagens frequentes estimula o registro feito da
observação direta: desenhos, croquis e esboços. Esses estudos servem, no ateliê, para a
composição das paisagens, em que elementos da observação se mesclam à imaginação
e ao gosto do artista. O contato cada vez mais intenso com a paisagem observada de
perto - e o simultâneo desinteresse pelas paisagens alegóricas e míticas - provoca uma
renovação no gênero paisagístico, que se consolida no início do século XIX.
Os nomes de John Constable e Joseph Mallord William Turner são referências primeiras
para a compreensão do desenvolvimento do gênero. Marcado pelos paisagistas
holandeses do século XVII, Constable afasta-se das convenções pictóricas do paisagismo
inglês do século XVIII ao representar na tela as mudanças de luz ao ar livre e o
movimento das nuvens no céu, em telas como A Represa e o Moinho de Flatford, 1811.
Sua pintura capta as variações da natureza, recusando assim a ideia de um espaço
universal e imutável. Em suas palavras: "Não há dois dias iguais, nem mesmo duas horas;
e nunca houve duas folhas iguais desde a criação do mundo". As referências de Turner
são outras - a paisagem clássica de Claude Lorrain e as perspectivas de Canaletto -, mas
em suas telas observa-se interesse idêntico pelo espaço atmosférico e pelo fenômeno da
luz. Porém nos quadros de Turner - influenciado pela idéia de sublime -, a luz explode
numa espécie de turbilhão, inundando a tela, como em Mar em Tempestade, 1840. O
nome de Richard Parkes Bonington merece ser lembrado no paisagismo inglês, renovado
por Constable e Turner, em razão de seu estilo espontâneo e de seus esboços a óleo
feitos rapidamente para o registro dos fenômenos naturais (conhecidos como pochades).
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mais um adepto da pintura ao ar livre, em sua defesa da pintura como arte da verdade,
afastada de qualquer tipo de ilusionismo.
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