Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
[
A publicação de C o m p le x id a d e e c o n tra d iç ã o e m a rq u ite tu ra , e m 1966, por inicia
tiva do M u s e u de A rte M oderna de Nova York, lançou a prim eira tendência im por
ta n te da arquitetura norte-am ericana desde o Estilo Internacional, ta m b é m pro
apresentação
91
Nas últimas páginas do livro, Venturi inicia um a análise do urb anism o norte-americano
a partir da Main Street de cidade pequena. A sua atitu d e c om relação ao "corredor" co
mercial das autoestradas, a Strip, e a seu sim bolism o seria desenvo lvida e m A prendendo
co m Las Vegas (escrito em coautoria com Denise Scott B row n e S te ve n Izenour, em
1972), que insiste na aceitação e adaptação às condições dadas (cap. 6). |
1. Robert Venturi, Complexity and Contradiction in Architecture. Nova York: Museum of Modern Art, 1966
ROBERT VENTURI
A COMPLEXIDADE V E R S U S 0 PITORESCO
A complexidade deve ser uma constante na arquitetura. Ela deve estar tanto na iorma como
na função. A complexidade que se limita exclusivamente ao program a alim enta um forma
lismo de falsa simplicidade; a complexidade que se refere m eram ente à expressão tende a um
formalismo de multiplicidade - de um lado, supersimplificação em vez de simplicidade, de
outro, mero pitoresco em vez de complexidade. Ninguém mais discute se o prim ado cabe à
forma ou à função, mas é impossível ignorar sua interdependência.
Os arquitetos m odernos ortodoxos reconheceram a com plexidade, m as geralm ente
o fizeram de modo insuficiente ou inconsistente. Na tentativa de ro m p er com a tradição
e começar tudo de novo, eles idealizaram o prim itivo e elem entar à custa da diversidade
e da sofisticação. Como participantes de um m ovim ento rev olucionário, aplaudiram
a novidade da função m oderna em detrim ento de sua com plexidade. Na q u alid ad e de
reformadores, trabalharam puritanam ente em prol da separação e exclusão de elem en
tos em vez da inclusão de elementos diversos e de suas justaposições. A com plexidade
92
do program a m uitas vezes coincidiu com um a sim plicidade de form a, tal com o nas
“grandes form as prim árias” de Le C orbusier,“que são nítidas [...] e sem am biguidades”.
A arquitetura m oderna, com raras exceções, evitou a am biguidade. Mais recentem ente,
argum entos de racionalidade em favor da sim plicidade na arquitetura - m ais sutis do
que os argum entos iniciais da arquitetura m oderna - encontram -se entre as diversas
derivações do esplêndido paradoxo de Mies de que “m enos é m ais”. Paul Rudolph falou
recentem ente sobre as implicações do ponto de vista de Mies:
93
implícitas na posição singular dos tríglifos de canto na ponta da arquitrave e no desvio
das colunas em relação ao centro, alargando, em consequência, a métopa final.3A apa
rente simplicidade do templo dórico resultaria de uma complexidade real.
Kenneth Burke referiu-se à supersimplificação como um processo válido na análise-
“Nós supersimplificamos um acontecimento quando o caracterizamos do ponto de vista
de um determinado interesse”.4Mas a arte não procede desse jeito. Os críticos literários
têm destacado a complexidade da linguagem da arte, que, em essência, é tão pouco sim
ples quanto seu conteúdo. Outros caracterizaram a interpretação de uma obra de arte
como um jogo consciente entre a percepção do que ela parece ser e do que ela é. O seu
sentido preciso está nas discrepâncias e contradições de uma justaposição complexa.
Já me referi a algumas justificativas da simplicidade nos prim órdios da arquitetura
moderna - sua clareza exagerada como uma técnica de propaganda sua estreiteza
excludente, quase puritana, como um instrumento de reforma. Mas uma outra razão
é que as coisas eram mais simples naquela época. As soluções eram mais óbvias, se
não mais fáceis de atingir. O obstinado Wright cresceu ouvindo o mote “a verdade
contra o mundo”. Esse lema não mais nos parece adequado e a atitude que adotamos
tem mais a ver com a que August Hecksher assim descreveu:
[
PETER E IS E N M A N ■ 0 PÓ S -FU N C IO N A LIS M O
Neste editorial para a revista O p p o s itio n s , órgão do In s titu te o f A rc h ite c tu re a n d U rba n
S tu d ie s (IAUS), do qual era diretor na época. Peter Eisenman discorda do term o "pos-
apresentação
-m odernism o''. alegando nunca ter havido uma arquitetura moderna e, portanto, tor
nando a arquitetura pós-moderna uma impossibilidade. Eisenman baseia sua inusitada
declaração no argum ento de que a re la çã o entre forma e função é uma característica
definidora da arquitetura desde 0 Renascimento. A arquitetura humanista procurou
estabelecer um equilíbrio entre a distribuição programática e a "articulação formal de
tem as ideais", tam bém chamada de tip o (cap. 5). No entanto, a industrialização introduziu fun
ções novas e de tal complexidade que as soluções tipológicas se tornaram inadequadas para
95