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Marjorie Perloff
∗
Texto coligido no livro Poetry On & Off the Page. Essays for Emergent Occasions,
Evanston Illinois, Northwestern University Press, 1998.
um qualquer tipo de renovação utópica. Em alternativa, ele sugere, em
sintonia com os teóricos sob escrutínio, que aquilo que é necessário de
momento é talvez um melhor conhecimento de como estes espaços
realmente funcionam, de como os edifícios, as ruas e os espaços abertos
se relacionam com o corpo humano.
O livro de Cohen sobre Le Corbusier fornece a Sennett o seu
quadro histórico, pois analisa em detalhe o projecto do grande arquitecto
para o Palácio dos Sovietes em Moscovo, um projecto baseado na
tentativa de integrar interior e exterior, a forma construída no seu espaço
circundante, de modo a esbater o cerimonial e a criar uma arquitectura
verdadeiramente popular. A rejeição do plano pelas autoridades em 1923
“em favor de um monumento padronizado em estilo neo-clássico por
Zhotovsky” é considerado, tanto por Cohen como por Sennettt,
emblemática das dificuldades de tentar inventar uma arquitectura
genuinamente “popular”. Talvez, então, como Robert Harbison e os
colaboradores do volume Sexuality and Space defendem, o mais que os
edifícios podem fazer seja criar o que Harbison chama “ficções de
valor”. Harbison “vê a experiência da ruína industrial como uma
incitação a uma resposta radicalmente inovadora”; no caso do Lloyds
Building, de Richard Rogers, por exemplo, as sofisticadas «falsas-
ruínas» inesperadamente geradas do aço e do vidro têm uma curiosa
maneira de alterar o nosso sentido do tempo. E The Architectural
Uncanny, de Anthony Vidler (um livro que, desde então, se tornou
célebre nas discussões das artes pós-modernas) leva esta noção ainda
mais longe. Para contrariar a apatia dos neutralizados espaços urbanos
contemporâneos, sugere Vidler, temos de nos abrir à “estranheza” dos
cruzamentos, temos de tentar derrubar as fronteiras existentes entre
subúrbio, cintura urbana e centro urbano e ver o que a sua intersecção
produzirá. Perda, deslocação, invasão tornam-se valores positivos.
Um outro resenhador, que não Sennett, poderia ser menos
compreensivo para com os resenhados, mas julgo que a maioria dos
leitores concordará que a sua recensão é interessante, sofisticada,
informada e ajuda-nos a perceber o que se passa na teoria urbanística
recente. E o conhecimento que Sennett tem do contexto social, a sua
própria participação no debate sobre o que fazer com os espaços
urbanos, faz dele um excelente expositor.
Glyn Maxwell vê o seu papel de forma muito diferente. Os
livros que lhe foram atribuídos para recensear são, sejamos justos para
com ele, a mais curiosa misturada que se pode imaginar1. Para começar,
dois estudos críticos de poetas reconhecidos: The Art of Derek Walcott,
uma colecção de ensaios organizada por Stuart Brown (Seren, 1989) e a
monografia de James Booth, Philip Larkin, Writer (Harvester, 1992). Em
seguida, uma biografia, My Proper Ground: A Study of the Work of
Philip Larkin and Its Development (Edinburgh, 1992), de A. T. Tolley.
A estas seguiam-se três obras mais teóricas: Language Poetry: Writing
as Rescue (Louisiana, 1992), de Linda Reinfeld, A Poetics (Harvard,
1992), de Charles Bernstein, e Contemporary Poetry Meets Modern
Theory (Harvester, 1991), de Anthony Easthope e John O. Thompson.
Estes três livros estão relacionados: os manifestos, os poemas de índole
teórica em prosa e as explorações culturais do poeta Charles Bernstein
coligidos em A Poetics são o pano de fundo da história analítica do
movimento da Language Poetry nos Estados Unidos, produzida por
Linda Reinfeld; Easthope e Thompson, por seu lado, reuniram uma série
de críticos que perfilham a posição segundo a qual a mais radical poesia
de hoje tem muito em comum com a teoria pós-estruturalista. Em
qualquer caso, os três nada têm em comum com os estudos sobre
Walcott e Larkin, por um lado, ou com The Long View: Essays on the
Discipline of Hope and Poetic Craft (Massachusetts, 1991), de Robert
Pack, por outro. Pack é um poeta americano, activo há já muito tempo, e
mais conhecido como antologiador. Os seus ensaios são
confessadamente pessoais, impressionistas e informais. Finalmente, a
recensão inclui um estudo da poética emersoniana-jamesiana, Poetry and
Pragmatism (Faber, 1992), por um dos mais distintos críticos
académicos dos Estados Unidos, Richard Poirier.
Ao invés dos quatro livros recenseados por Sennett, que são
intimamente relacionados, quer histórica quer ideologicamente, a lista de
Maxwell não tem qualquer consistência, se exceptuarmos que, de alguma
forma, os oito livros (publicados, já agora, num período de quatro anos)
lidam com a poesia contemporânea, seja lá isso o que for. Deve referir-se
que a Maxwell foram atribuídas quatro colunas para abarcar oito livros,
contra as seis colunas dispensadas a Sennett. Mais importante: enquanto
Sennett está à altura dos autores que recenseia, já que escreveu livros e
ensaios comparáveis como pesquisador dessa área, Maxwell parece ter
sido incumbido desta tarefa não na sua capacidade de crítico, erudito ou
teórico de poesia com obra editada (já que nada disso é) mas como
poeta. De facto, tem-se tornado cada vez mais comum no jornalismo
literário a recensão de estudos teóricos ou históricos de poesia como os
de Reinfeld ou Poirier — isto quando chegam a ser recenseados — por
poetas reconhecidos. (Um poeta reconhecido é alguém que publicou um
livro ou dois de poemas numa das editoras conceituadas e obteve
algumas recensões respeitáveis na imprensa conceituada). O paralelo, no
caso dos livros de arquitectura, consistiria em pôr um arquitecto, talvez o
sócio de uma firma respeitada e especializada em edifícios de escritórios
em Park Avenue ou em residências de subúrbio, a recensear The
Architectural Uncanny, de Anthony Vidler.
Maxwell começa com um série de afirmações: (1) o «grande
poema» induz emoções fortes e conflituantes em cada leitor que o lê no
seu idioma; (2) «é sempre instantaneamente memorizado»; (3) assim que
o seu autor morre, o poema é rapidamente objecto de sobreinterpretação,
são-lhe projectados significados e surge um mito do seu autor que
ameaça deslocar o poeta “autêntico” que o escreveu; (4) “os poetas
sabem aquilo que vale a pena dizer sobre outros poetas”; e (5) o conceito
de “escola” é “especialmente inútil”. Todos estes teoremas são colocados
à nossa frente como se fossem uma simples questão de senso comum,
apesar de a teoria crítica do último meio século ter desmantelado, ponto
por ponto, a noção do autêntico “ur-poema” destruído por posteriores
leituras erróneas [misreadings], o poema como catarse de “emoções
conflituantes” (sombras de I. A Richards), melhor entendido pelos outros
poetas. Quanto ao critério da memorização, que Maxwell adianta como
se se tratasse da segunda lei da termodinâmica, tal critério não admite o
verso livre (difícil de memorizar), a poesia em prosa ou as poesias
visuais – todas elas muito proeminentes e instigantes hoje. A
memorização depende, é claro, da rima e do metro; é muito mais fácil
memorizar Don Juan do que The Prelude, as estâncias dos hinos curtos
de Emily Dickinson do que os poemas longos de Whitman, Robert Frost
do que William Carlos Williams. E como se poderiam memorizar as
composições poéticas de Ian Hamilton Finlay? Ou as de Susan Howe?
Maxwell não se aflige com tão espinhosas questões. Ele sabe do
que gosta, e os livros sobre Walcott e Larkin são considerados valiosos
não porque os seus colaboradores façam algo de especial, mas porque
Walcott e Larkin são valiosos. O resenhador não se preocupa muito com
eles, nem com Pack e Poirier (o último é alvo de um olhar pouco
complacente), reservando os seus comentários ásperos para os chamados
poetas language discutidos por Linda Reinfeld, por alguns dos
colaboradores de Anthony Easthope e pelo próprio Charles Bernstein,
um dos fundadores do movimento. Maxwell não aprecia o conceito de
movimento ou escola que anima a discussão da poesia language em
Reinfeld, mas nunca se preocupa em investigar se os poetas em causa —
Bernstein, Howe, Michael Palmer, Lyn Hejinian, Clark Coolidge, Ron
Silliman — constituem, de facto, um. Não importa: o importante é que
estes evidentemente medíocres poetas, para Maxwell, continuam a
escrever uns sobre os outros “muito depois de a revista que lhes deu o
nome [L=A=N=G=U=A=G=E] ter desaparecido, e bem assim qualquer
vestígio de interesse público nela”. E mais: a sua é uma poesia de
“completa e deliberada impenetrabilidade”, uma poesia que “descarta a
noção de que a linguagem pode comunicar”. Os fins gémeos da poesia
— ensinar e deleitar — são deste modo totalmente violados.
Ao contrário de Richard Sennett, pois, Glyn Maxwell não
manifesta qualquer empenho nas perspectivas adoptadas por aqueles que
analisa. Pelo contrário, ele não demonstra ter alguma vez lido um único
poema de Charles Bernstein ou dos outros poetas que Reinfeld discute; é
na verdade duvidoso que ele tenha sequer olhado para A Poetics, dado
que os argumentos de Bernstein são citados apenas a partir do livro de
Reinfeld, como se a descrição desta, que é afinal uma interpretação da
teoria de Bernstein, lhe fosse simplesmente equivalente. Quanto ao
volume de Easthope-Thompson, posso certificar o facto de que ele não
leu o meu próprio ensaio nessa obra, sobre o qual escreve: “Noutro
lugar, Marjorie Perloff celebra a opacidade da obra de Steve McCaffery
invocando Ezra Pound — estranho, como estes escritores radicais e
desmistificadores engolem por inteiro as máximas (‘Make it new!’) de
um velho apologista do fascismo”. Ponto final. O meu ensaio sobre Lag
de McCaffery nunca menciona o nome de Pound nem digo nele nada
sobre “Make it new!” Mas mesmo que dissesse, a pressuposição de que
um eco de Pound em McCaffery ligaria de algum modo este poeta ao
fascismo é de cortar a respiração. E, já agora, como e por que é que o
poema de McCaffery é “opaco”? Será suficiente dizê-lo apenas?
A recensão de Maxwell ignora pois ostensivamente os factos, já
para não mencionar os princípios poéticos envolvidos. A sua asserção de
que “ninguém” se interessa pelo movimento da poesia language é
desmentida por tantos artigos, livros e colóquios, não apenas nos Estados
Unidos mas também no Reino Unido (como na França, na China, no
Japão e na Austrália), que a afirmação não chega a justificar uma
refutação séria. Na verdade, esta recensão dificilmente justificaria uma
discussão, não fosse ela tão típica. Pois o facto é que enquanto as
recensões do TLS sobre livros de teoria arquitectónica, estudos
feministas, teatro isabelino ou filosofia (o mesmo número incluía um
texto brilhante e cáustico de Arthur Danto sobre Ehics of Authenticity, de
Mark Taylor) são textos largamente responsáveis, escritos por peritos
nos seus vários domínios, o discurso do jornal sobre a poesia
contemporânea (sobre as formas literárias contemporâneas em geral,
provavelmente) é largamente impressionista, desinformado e filisteu. E o
TLS não é, de modo nenhum, o pior caso.
Tomemos, por exemplo, Anthony Libby, um poeta-crítico que
ensina na Ohio State University, falando sobre New and Selected Poems:
1974-94 (Norton, 1994), de Stephen Dunn, e Velocities: New and
Selected Poems, 1966-92 (Viking-Penguin, 1994), de Stephen Dobyns,
no New York Times Book Review de 15 de Janeiro de 1995:
Lições da História
Eram as recensões de poesia melhores nos Bons Velhos
Tempos? Só em anos recentes, graças à crescente comodificação da
nossa cultura, é que a poesia parece não ter um lugar na arena pública?
Os críticos conservadores como Dana Gioia gostariam de nos levar a
pensar que sim3, mas uma pesquisa estatística da efectiva recensão de
livros conduz-nos a outras conclusões. Os meus exemplos são aqui
extraídos daqueles que são geralmente considerados os dois suplementos
de livros de referência nos Estados Unidos: o New York Times Book
Review, no momento em que escrevo com exactamente cem anos de
idade e ainda o suplemento que pode fazer ou desfazer um livro, no que
às vendas diz respeito, e o New York Review of Books, que começou a
ser publicado em 1963 em resposta à longa greve no New York Times e
rapidamente se estabeleceu como o suplemento preferido dos
intelectuais.
A primeira edição do New York Times Book Review (em seguida
referido como NYTBR) apareceu a 10 de Outubro de 1896, chamando-se
então Saturday Book Review Supplement. O seu objectivo declarado, de
acordo com o ensaio introdutório para a Arno Press Reprint (1968) pelo
então editor do suplemento, Francis Brown, era “trazer aos leitores
notícias sobre livros, notícias sobre autores, notícias sobre edição,
notícias literárias de todo o tipo”4. Em 1896, esta última categoria incluía
coisas como “informações sobre o estado de Oscar Wilde em Reading
Gaol”. De facto, há uma continuidade noticiosa, ao longo de 1897, sobre
a situação de Wilde, que é declarada “para lá do humanamente
suportável”, e a sua consequente viragem para a espiritualidade (vide
Rowland Strong na edição do dia 12 de Junho de 1897). As recensões
eram então vistas como uma forma de informação, sendo o seu fim
confesso, nas palavras de Brown, “ajudar o leitor e comprador, não o
escritor ou o editor”. O resenhador, sugere Brown, tinha em mente os
interesses do leitor não-especializado; ele (o pronome é usado
genericamente) funciona como “o guia, filósofo e amigo do seu leitor. A
sua função é a de dizer sobre os novos livros aquilo que neles existe, de
forma tão ponderada que o seu leitor possa perceber se o livro referido
lhe interessará ou não. Conhecimento, equidade e singeleza são os
elementos decisivos no apetrechamento do resenhador”.
Dois pressupostos governam estas afirmações e outras
relacionadas. Em primeiro lugar, pressupôs-se que juízos objectivos
sobre livros podiam ser produzidos por resenhadores profissionais mais
ou menos anónimos. (Nos anos iniciais, o destaque da primeira página
era de facto anónimo). Em segundo lugar, dava-se como adquirido que
uma recensão de “literatura” era apenas isso — uma recensão de
romances, poemas, peças de teatro, talvez belles-lettres, e não, como
prevalece hoje, livros dominantemente sobre temas políticos, históricos,
psicológicos e antropológicos, sobre eventos actuais, ou biografias e
memórias. Recordando os anos da pré-Iª Guerra Mundial, Brown
escreve:
Isto pode ter uma patina mais sofisticada do que uma recensão
análoga no NYTBR, mas o que é que de facto aprendemos sobre Glyn
Maxwell com a recensão de Harris? Acima de tudo, que o livro tem o
imprimatur de Joseph Brodsky, o que provavelmente explica, antes de
mais, a sua publicação pela Bloodaxe. Que mais nos diz Harris? Bom,
que Maxwell usa formas «fixas» (presumivelmente estrofes com versos
rimados) de modo a conter a sua «improvisação desigual». Mas uma vez
que «improvisação» é por definição uma forma de composição
extemporânea, com a intenção de parecer natural e não ensaiada, por que
razão é ela mais bem servida pela «fixidez da forma» do que por,
digamos, o verso livre ou as parole in libertà de Marinetti? Mais ainda:
se Maxwell é, como Harris sugere, complicado e desnecessariamente
obscuro, de que modo e onde é que ele é «engraçado»? Mas a frase mais
gratuita da recensão é a referência à tal «atmosfera de ameaça arbitrária,
urbana ou suburbana», que Maxwell é claramente «tão bom a criar».
Significa isto que ele não é bom a criar uma atmosfera de ameaça rural?
Cordeiros roubados por pérfidos vagabundos? Vacas em correria e a
saltar por cima de vedações? Ou quer ele dizer que Maxwell não se
entusiasma com as ameaças da natureza bravia e sem peias? Do fogo e
do sangue e do tremor de terra? Mas também, qual é o poeta de língua
inglesa de hoje que escreve sobre tais assuntos? Urbano ou suburbano —
isso cobre quase todas as ameaças que a maioria dos leitores de Maxwell
terão sofrido.
A culpa, aqui, não é evidentemente de Maxwell, nem, em rigor,
do seu resenhador, T. J. G. Harris. É a incumbência, a exigência do
parágrafo marcante, que é o problema. O resenhador pura e
simplesmente não tem espaço para definir os seus termos. Mesmo em
recensões mais longas, este vocabulário vago, juntamente com a
necessidade de produzir juízos definitivos, coloca problemas, como
quando Katha Pollit, numa recensão de página inteira a The Figured
Wheel: New and Collected Poems, 1966-1996, de Robert Pinsky, para a
NYTBR (18 de Agosto de 1996, 9), louva o longo poema «Essay on
Psychiatrists» porque ele «é de facto um ensaio, que parte de um retrato
de grupo de psiquiatras enquanto tipo social burguês... para uma
conclusão ampla e inteiramente justificada: “Mas é tudo treta, a falsa /
Ligação entre génio e doença”». Da mesma maneira que com o «urbano
ou suburbano» de Harris, esta afirmação não resiste a um escrutínio. Pois
porque quereremos nós que um poema seja «de facto» um «ensaio»? Já
há por aí ensaios que cheguem, seguramente. E depois, se um ensaio
chega de facto à conclusão, acima citada, de que «é tudo treta», não
acharia a maioria dos leitores esta análise demasiado fácil, se tivermos
em conta a vasta biblioteca de trabalhos que analisaram a relação entre
génio e loucura?
O The New York Review of Books, (NYRB daqui em diante), que
agora analiso, não pratica este tipo de impressionismo vazio. A sua
solução (e a da London Review of Books é similar) consiste em limitar a
lista de poetas a recensear, confinando-se a um círculo muito reduzido e
dedicando então longas recensões individuais aos seus membros. Desde
a sua fundação em 1963, a NYRB limitou-se largamente à poesia de
Robert Lowell (o então marido de Elizabeth Hardwick, uma das editoras
fundadoras da NYRB) e ao círculo de Lowell, que inclui John Berryman,
Elizabeth Bishop, Randall Jarrell, Sylvia Plath e James Merrill. Auden é
uma figura venerável pertencente ao grupo, como o é, no outro extremo
da escala etária, Adrienne Rich. Uns poucos poetas ingleses — Seamus
Heaney, Philip Larkin, Thom Gunn, o James Fenton tardio — foram
convidados a integrar o clube, juntamente com americanos nas zonas
limítrofes do círculo, como Theodore Roethke. W. S. Merwin e Howard
Nemerov. Helen Vendler, uma resenhadora regular no NYRB, tentou
trazer John Ashbery para o redil, mas Ashbery parece não ser levado
muito a sério por outros resenhadores de poesia do NYRB como Denis
Donoghue e Frank Kermode; vários dos seus livros recentes não foram
sequer recenseados no NYRB.
Por muito que este paroquialismo possa ter sido justificado nos
anos 60 e 70, quando, refira-se, a NYRB ignorou os Objectivistas (Louis
Zukofsky, George Oppen, Carl Rakosi, Charles Reznikoff, Lorine
Niedecker), os Beats, os poetas Black Mountain e de São Francisco,
assim como John Cage, Ian Hamilton Finlay, e todos os poetas Dada,
Surrealistas e Fluxus, ele tornou-se, a meio dos anos 90, uma forma de
negar à poesia a sua própria vida. Pois a maioria dos acima referidos está
agora inofensivamente morta, e onde estão os jovens que os deveriam
substituir? Terá o tempo tão simplesmente parado para que «poesia»
possa significar apenas uma recensão da edição póstuma das cartas de
Elizabeth Bishop ou um ensaio necrológico sobre James Merrill? A
maior parte do «jornalismo literário» de hoje gostaria de nos fazer crer
que sim. Num artigo recente no Economist (8 de Julho de 1995, 82), por
exemplo, somos informados de que «a voz poética [da América] reduziu-
se a um sussurro», e «desde a morte de Robert Lowell em 1977, falta um
grande poeta à América. Na verdade, a maior parte das pessoas nem
sequer tem ideia das preocupações dos poetas americanos, nos nossos
dias. Tornou-se uma arte menor, subsidiada principalmente pelas
universidades». A ocasião para estas ruminações é a publicação, pela
prestigiada Faber and Faber, de três jovens poetas americanos (na
verdade, já não tão jovens assim): Charles Simic, Chase Twitchell e
August Kleinzahler. Mas uma vez que se acha (acertadamente, em minha
opinião) que estes não são assim tão notáveis, o anónimo redactor do
Economist sente que o seu argumento foi demonstrado.
O raciocínio é aqui puramente circular. Se Chase Twitchell
«representa» a Nova Poesia Americana, então a Nova Poesia Americana
não pode ser muito boa. E uma vez que muitos de nós argumentariam
que nem Robert Lowell pode representar a grande poesia americana de
um modo tão convincente como o fizeram Walt Whitman ou Emily
Dickinson ou T. S. Eliot, as coisas devem estar mesmo más. Assim,
enquanto a New York Review of Books e o TLS dedicam uma especial
atenção ao New Historicism, ao New Gender Criticism ou aos New
Cultural Studies, não dedicam uma atenção comparável — na verdade,
atenção nenhuma — às Novas Poéticas. Vejamos porquê.
1 A escolha dos livros a recensear, aqui como em todo o lado, cabe, como é evidente, ao
editor. Mas devemos ter presente que, no caso das recensões colectivas [omnibus reviews], o
resenhista reserva-se normalmente o direito de omitir itens específicos (e poderá, em
qualquer caso, declinar a tarefa). Naquilo que se segue, pois, atribuo a responsabilidade a
Maxwell, mais do que ao editor do TLS.
2 New York Times Book Review, 15 de Janeiro de 1995, p. 15.
3 Veja-se Dana Gioia, Can Poetry Matter? (New York: Graywolf Press, 1992). Gioia defende
que, até cerca de 1960, a poesia tinha uma vasta circulação — aparecia em jornais e revistas
populares, ao lado do jornalismo político, do humor, da ficção e das recensões — e era
intensamente recenseada e discutida nos jornais de referência. Mas a qualidade dessa
«poesia» é questionável, como defendo aqui.
4 A introdução de Brown (não paginada) é reimpressa como cabeçalho/a abrir cada um dos
setenta e dois volumes da reimpressão da Arno, seguida de «A Sense of History», de Alfred
Kazin.
5 Ver Pierre Bourdieu, «The Field of Cultural Production; or, The Economic World
Reversed» (1983), trad. Richard Nice, The Field of Cultural Production: Essays on Art and
Literature, ed. Randal Johnson (New York: Columbia University Press, 1993), p. 51, e cf. fig.
2 na p. 49.
6 Jimmy Carter, «Sport», Always a Reckoning (New York: Random House, 1995), p. 23.
7 T. J. G. Harris, «In the Labyrinth», PN Review 80 (Julho/Agosto 1991): p. 71.
8 Eavan Boland, «Identities and Disguises» (recensão de Poems 1963-1983, de Michael
Longley, e de Living in Disguise, de E. A. Markham), PN Review 55 (1987): p. 95.
9 Para um excelente balanço sociológico de como e porquê a poesia ocupa ainda esta
prosição de privilégio, nominalmente se não de facto, ver Pierre Bourdieu, The Field of
Cultural Production: Essays on Art and Literature, ed. Randal Johnson (New York: Columbia
University Press, 1993), cap. 6, «Principles for a Sociology of Cultural Works», pp. 176-91.
10 Uma versão anterior desta discussão de Exact Change pode ser encontrada em Sulfur 37
(Outono 1995): pp. 236-50, e comparo o Yearbook com várias antologias de poesia pós-
moderna em «Whose New American Poetry? Anthologizing in the Nineties», Diacritics 26, nº
3-4 (1997): 119-22.
11 O CD é decepcionante, não havendo explicação alguma da mistura ecléctica de poetas
representados, muitos dos quais (e.g., Alice Notley, Kenward Elmslie) não estão sequer no
livro; algumas leituras, como a que Jack Spicer faz de «Imaginary Elegies» (1957) e John
Ashbery de «They Dream Only of America» (1962), provêm de décadas anteriores. Poder-
se-ia argumentar que o objectivo aqui, como no livro, é o de produzir justaposições
marcantes, mas na prática a sequência de Michael Palmer a Ted Berrigan confunde mais do
que esclarece.
12 Ming-Qian Ma, uma estudante chinesa de doutoramento em Stanford que publicou
ensaios sobre Carl Rakosi, George Oppen, Susan Howe e Lyn Hejinian, e que está a
trabalhar em novas traduções dos poetas Originais com Jeff Twitchell, diz-me que em
Mandarim os poemas em questão são muito mais não-sintácticos e disjuntivos do que nestas
traduções.
13 Devemos ter presente que nos Estados Unidos quase 50% da população em causa
frequenta a universidade e que o campus universitário atrai também um público mais vasto
que partilha as preocupações de departamentos específicos, frequenta conferências e leituras,
etc. Mas este público, embora surpreendentemente vasto, não é de modo nenhum
equivalente ao leitor geral do TLS ou do NYTBR.
14Até esta data, nos Estados Unidos, A Poetics foi recenseado no seguinte conjunto de
revistas académicas e revistas literárias: Agni Review, American Literature, College Literature,
Common Knowledge, Comparative Literature Studies, Contemporary Literature, Harvard Review,
Modernism/Modernity, Sulfur, Virginia Quarterly Review, West coast Line, World Literature Today.