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Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Letras
Câmara de Ensino

FORMULÁRIO PARA PREENCHIMENTO DE DISCIPLINAS DE ESTUDOS TEMÁTICOS

Disciplina: Código:
Estudos Temáticos de Teoria da Literatura e Literatura Comparada LET3666 NS50
Título:

Do “Absoluto Literário” às relações rizomáticas: inflexões poéticas da modernidade ao


contemporâneo

Professor: Ano: Semestre:


Davidson de Oliveira Diniz 2023 1º

Pré-requisito:

Carga horária teórica: 60 h Carga horária prática: Total: 60 h Nº créditos: 04

Ementa:

Leituras e debates criticamente fundamentados por meio de aulas expositivas e apresentações de seminários temáticos relacionados
à conceituação da modernidade literária, bem como a inflexões poéticas na contemporaneidade quanto aos sistemas classificatórios
e organizadores da produção intelectual e estética entre os sécs. XIX e XX. Em seu conjunto de discussões bibliográficas, o curso
se aterá à passagem de um modelo textual de clivagem ainda aristotélica – que desde a Poética (apróx. 335 a. C.) prescreveu a
unidade narrativa na composição de peças literárias – para um novo modelo autolegitimador e emergente com a modernidade
literária, levando a outros ajustes críticos na contemporaneidade sobretudo a partir do final dos anos 1960. Para acompanhar essas
inflexões, partiremos da ruptura com a mimesis aristotélica operada pelo Romantismo Alemão trazido à cena literária por meio dos
poetas e críticos radicados em Jena a fins do séc. XVIII, a exemplo de Novalis (1872-1801) e os irmãos Fr. Schlegel (1872-1829) e
A.W. Schlegel (1867-1845). Prescrevendo valores estéticos parcialmente à revelia de uma unidade poética à maneira aristotélica –
por exemplo, a teorização romântica do fragmento, do “absoluto literário” e, ainda, a noção de “órganon” –, o Romantismo de Jena
conseguiu abrir campo para uma ruptura que levaria à outra teorização do objeto literário no auge da modernidade. E a partir da
difusão de tais princípios autolegitimadores a República Mundial das Letras viria a dar início a uma nova organização de valores e
postulados acerca da criação poética. Os desdobramentos dessa passagem entre o declínio do fundamento aristotélico totalizante e
a ascensão de novas poéticas da fragmentação elaboradas com o romantismo na virada dos sécs. XVIII para o XIX poderão ser
visualizados em nosso curso mediante a conceitualização do objeto livro (bem como de sua sintaxe constelar) na obra de Stéphane
Mallarmé (1842-1898) a partir da publicação do poema Um lance de dados (1897) e das precedentes teorizações para O Livro
mallarmaico. E já no contexto do século XX as ideias de narrativas e sintaxes não estruturalizantes viriam a se tornar um
legitimador das poéticas estilhaçadas e heterogêneas típicas das saturações imagéticas e discursivas do mundo contemporâneo.
Para acompanharmos essa última linhagem de ruptura modernizante, analisaremos de perto três obras e fundamentações teóricas
nelas inseridas a propósito da concepção do livro, bem como da insuficiência da unidade narrativa (preferências pela estruturação
assistemática) enquanto legitimação do pensamento contemporâneo ao longo do séc. XX: Walter Benjamin, em especial sua
categoria ensaística de “constelações” e a montagem arquivística do livro Passagens; Jorge Luis Borges e suas múltiplas acepções
de livro e a noção de “multiverso”; e, por fim, os princípios da composição rizomática que Gilles Deleuze e Félix Guattari
experimentaram na composição da obra Mil platôs, com isso abrindo campo para uma teorização que ainda hoje dialoga com as
sintaxes que nos permitem processar a passagem do mundo analógico para o mundo digitalizado. Por fim, cabe dizer que diante
desse quadro bibliográfico de teorizações e experimentações poéticas cuidaremos de pontuar como a característica
autolegitimadora da literatura na modernidade – pretensão de uma época que não retira mais de outras épocas elementos por meio
dos quais elaborará sua legitimação no tempo – estabeleceu critérios que destoam da regra aristotélica de uniformização da ação
dramática e estética para dar gradualmente vazão e valor a outros processos de composição do objeto literário no tempo.
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Conteúdo Programático (unidades e subunidades)

1 – Unidade Primeira: introdução ao problema

1.1. Preceitos da unidade narrativa na composição dramática segundo a Poética de Aristóteles; Leituras e comentários da Poética,
de Aristóteles; e do livro Antiga musa. Arqueologia da ficção, de Jacyntho Lins Brandão;

1.2. Os primeiros sinais de uma ruptura trazida com a Época Moderna e seus pretextos para a ruptura com os princípios
aristotélicos ainda vigentes na modernidade literária: Dom Quixote (1605) e a tomada de consciência da imitatio errante entre
a linguagem e as coisas; Lope de Vega e “El arte nuevo de hacer comedias en este tiempo” (1609);

1.3. Teorizações da modernidade estética e do novo ganho de consciência histórica. Leituras de Jürgen Habermas, O discurso
filosófico da modernidade (1985); e de Reinhart Kosselleck, Futuro Passado. Contribuição à semântica dos tempos
históricos (1979);

1.4. Dois tópicos para a classificação do mundo moderno: Alexander von Humboldt e a “Moldura/Pintura da Natureza”
(Naturgemälde); Goethe e a noção de “Literatura-Mundo” (Weltliteratur);

2 – Unidade Segunda: fundamentação do problema

2.1. A episteme da modernidade e seus novos sistemas classificatórios. Leituras e comentários da obra de Michel Foucault, As
palavras e as coisas (1966);

2.2. O romantismo de Jena e a revista Athenaeum (1798-1800): fundamentos e desdobramentos da teoria romântica do fragmento,
da noção de “órganon”, da “enciclopedística” e da categoria de “absoluto literário. Leituras de textos poéticos e filosóficos de
Novalis e dos irmãos Schlegel; e dos comentadores Ph. Lacoue-Labarthe e Jean-Luc Nancy no livro O Absoluto literário. Teoria
da literatura do romantismo Alemão (1978);

3 – Unidade Terceira: desdobramentos do problema

3.1. Mallarmé: a sintaxe das constelações e a absolutização literária por meio do poema Um lance de dados (1897) e dos
experimentos estéticos para a composição de O Livro;

3.2. Interlúdio: A terra devastada (1922), de T. S. Eliot, como irradiação da montagem e colagem literárias mediante o trabalho
com camadas históricas na modernidade. Eliot como precursor de Ch. Baudelaire;

3.3. Walter Benjamin e uma escrita das constelações: o método da montagem literária nos experimentos para a composição do
livro das Passagens (apróx. 1927-1940). Benjamin como precursor da arquivística de Aby Warburg, da poética de Baudelaire e da
montagem literária de T.S. Eliot.

3.4. Jorge Luis Borges e as múltiplas facetas do livro. O “Aleph” e o “multiverso” borgeano: o problema narrativo das taxonomias
na modernidade tardia;

3.5. Interlúdio: Maio de 1968 como institucionalização da crise do pensamento ocidental – o declínio das grandes narrativas, dos
significantes mestres, e a ascensão das microssingularidades características do mundo contemporâneo;

3.6. Gilles Deleuze e Félix Guattari: as oposições entre o “livro-árvore” e o “livro-rizoma” e os problemas dos sistemas
classificatórias no pensamento contemporâneo e na composição da obra Mil platôs (1980);
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Bibliografia básica (listar no mínimo 4 e no máximo 6 livros, informando se o livro é encontrado nas bibliotecas da
UFMG):

BENJAMIN, Walter. Passagens. Tradução de Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte & São Paulo: Editora
UFMG & Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006. (OBS.: Exemplar disponível nas BBTs da UFMG.).

BORGES, Jorge Luis. Obras completas (4 vols.). Buenos Aires: Emecé editores, 2007. (OBS.: Exemplar disponível nas BBTs da
UFMG).

DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Mil Platôs. Capitalismo e esquizofrenia. Vol.1. Tradução de Aurélio Guerra Neto e Celia
Pinto Costa. Coord. de tradução de Ana Lúcia de Oliveira. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995. (OBS.: Exemplar disponível nas
BBTs da UFMG).

FOUCAUL, Michel. As palavras e as coisas. Uma arqueologia das ciências humanas. Tradução de Salma Tannus Muchail. São
Paulo: Martins Fontes, 2007. (OBS.: Exemplar disponível nas BBTs da UFMG).

LACOUE-LABARTHE, Philipe & NANCY, Jean-Luc. O absoluto literário. Teoria da literatura do romantismo alemão. (Contém
textos de Novalis, Fr. Schlegel e A. W. Schlegel, bem como apresentação e estudos críticos de Lacoue-Labarthe & Nancy).
Coordenação da tradução: Marcelo Jacques de Moraes e Maurício Mendonça Cardozo. Brasília: Editora UnB, 2022. (OBS.:
Exemplar NÃO disponível nas BBTs da UFMG).

LOPES, Silvina Rodrigues Lopes. A legitimação em literatura. Lisboa: Edições Cosmos, 1994. (OBS.: Exemplar NÃO disponível
nas BBTs da UFMG).

MALLARMÉ, Stéphane. Mallarmé. (Contém poesias de Mallarmé, com texto em francês, traduções e estudos críticos por
Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos). São Paulo: Editora Perspectiva, 1974. (OBS.: Exemplar disponível
nas BBTs da UFMG).

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