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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Aluno:João Gabriel Farias Santos


Matrícula:202310171711
Professor: Guilherme Gomes Moerbeck

Com a ascensão de um mundo cientificizado, principalmente pautado no desabrochar


das ciências naturais, muito se entende sobre o método científico adotado por essas
vertentes científicas que se baseiam na busca de leis universais que regem o mundo.
Contudo, a forma de obter conhecimento das ciências do espírito, aquelas denominadas
como humanas, adotaram formas de fazer conhecimento distintas das naturais, e até
mesmo dentro das humanas diferentes métodos se criaram, nessa redação proponho um
debate sobre os métodos históricos, o historicismo.

Diferentes historiadores tentaram definir o que seria o historicismo, segundo Fontana


(2004,pg. 223), o historicismo seria o método histórico que rejeita toda forma de
universalização histórica, ou seja, nega a busca de leis gerais que regem o mundo
entendendo que cada território tem suas especificidades sendo restritas a elas próprias.
Conjuntamente, entendia que a única forma legítima de fazer história era o
encadeamento de fatos de forma cronológica, pois somente dessa maneira se entenderia
o conjunto histórico de um povo. (FONTANA, 2004, p. 241)

Contudo, é importante visar que uma história que se baseia somente no contexto
nacional e nas suas especificidades ainda não é uma realidade para os países não
europeus, uma vez que ainda usa-se periodizações e denominações europeias como se o
contexto histórico europeu fosse universal. Dessa forma, Francisco argumenta como a
periodização denominada como história antiga vai em contramão a um historicismo
baseado no contexto e nas especificidades nacionais:

“Por exemplo, a História Antiga tradicional, que vem passando por um amplo
processo de reorganização, passa, inclusive, a ser chamada cada vez mais de
“História do Mediterrâneo Antigo”, acrescentando a ela uma especificidade
importante: ela não é mais uma história absolutamente generalista, em termos
universais ou civilizatórios, e nem necessariamente clássica” (FRANCISCO,
2017, p. 55)
Em contraponto, Caldas (2007, p. 54) entende o método histórico não só restrito ao seu
papel metodológico, mas também pelo seu âmbito filosófico, sendo para ele um dos
cernes do historicismo o “rompimento com a metafísica" que se baseia no Zeitgeist
,“espírito de uma época”, além disso entende que a história não deve buscar as causas e
os fins dos eventos históricos e nem se encadear de forma compulsória em ordens
cronológicas.

“Se a soma das partes não configura plenitude, por outro lado, não será
procurando a origem de um fenômeno em um encadeamento retrospectivo
que poder-se-á compreender o que é história”(CALDAS, 2007, pg. 56)

Com isso, entende-se as diferentes concepções atreladas ao conceito de historicismo,


dessa forma, diversos países criaram suas correntes historicistas próprias com seus
métodos e objetivos. De acordo com Fontana (2004, pg. 221) o historicismo alemão
tinha como objetivo justificar uma unidade nacional, ou seja, formar uma identidade,
por isso deveria ser necessariamente nacionalista como principio. Esse caráter assumido
pelos historicistas alemães foi necessário por causa do contexto político alemão, uma
vez que a Alemanha era “um caos de estados, cidades livres e feudos”.

Outra característica adotada por esses historicistas era a busca de domar a sociedade
através da história, dessa maneira, o fazer histórico ia em contraponto a qualquer
resquício de uma histórica critica “O historiador preparava, assim, o caminho em
direção à submissão absoluta dos cidadãos ao poder, sem discussões nem
crítica”(FONTANA, 2004, p. 228)

Ao analisar a corrente historicista francesa Prost (2008, p. 16) entende que o


historicismo francês também tem como objetivo o de criar uma identidade francesa,
assim como a alemã, porém, os historiadores franceses tinham uma visão diferente em
relação às revoluções.
“ Por um desvio reflexivo, a mediação da história permitiu assimilar e
integrar o acontecimento revolucionário, além de reordenar o passado da
nação em função de tal evento (JOUTARD, 1993, p. 543-546). Pela história,
a sociedade francesa representou-se a si mesma, procurou sua própria
compreensão e refletiu sobre si mesma; neste sentido, é profundamente exato
que a história serve de fundamento à identidade nacional.“(PROST, 2008,
p.23)

Dessa forma, a visão de uma história acrítica que negava qualquer levante contra o
sistema vigente que predominava no historicismo alemão não se encaixava no ideal
francês de história, uma vez que eram eles os protagonistas da maior revolução do
século XVIII. Outro fato importante importante relacionado ao historicismo francês era
que o seu método não era baseado simplesmente em uma organização cronológica dos
fatos, uma vez que o objetivo principal era o de compreender a realidade e não os fatos
isoladamente, indo em contraponto ao historicismo alemão.

Bibliografia:

FRANCISCO, Gilberto Da Silva. O Lugar da História Antiga no Brasil. Mare


Nostrum (São Paulo), v. 8, n. 8, p. 30–61, 9 Out 2017.

FONTANA, Josep. A história dos homens. Bauru: EDUSC, 2004, p. 221-241.

CALDAS, Pedro Spinola Pereira. As dimensões do historicismo: Um estudo dos casos


alemães. OPSIS, 9. v. 7, p. 47–66, 2007.

PROST, A. Doze lições sobre a história. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. p. 13-31.

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