DISCIPLINA: TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA IV
PROFESSORA: PATRÍCIA CARLA MELO MARTINS
Fichamento de conteúdo – Livro Teoria da História (FUNARI; SILVA)
Capítulos: III, IV, V, VI e VII
FUNARI, P. P. A.; SILVA, G. J. . Teoria da História. São Paulo: Brasiliense,
2008. v. 1. 105p . III – A escola metódica Seu contexto de formação se dá pela derrota na guerra franco-prussiana (1870) e tem influência na pesquisa histórica alemã, o fato da derrota dos franceses na guerra faz com que a nação busque uma nova origem que superasse tal acontecimento e também novas modos de pensar a história nacional (p. 34). Como já em seu nome -metódico- remete a metodologia, essa historiográfica busca trazer os significados da história através do uso de documentos, principalmente escritos, tendo uma rigorosidade ao trabalhar com eles. Esses documentos escritos seriam capaz de reconstruir uma história, agora visando o meio nacional, para a construção identitária (p. 35). A produção metódica traz suas preocupações científicas, os trabalhos produzidos tinham sua originalidade, constituídos através da imparcialidade de espírito, manifestação de uma história como fim em si mesmo, ou seja, trabalhos com comprovação, com provas. Distancia-se da literatura, da especulação e não objetividade, o rigor metódico como a única maneira de obter o conhecimento histórico (p. 36-37). Outro fator a destacar em relação aos documentos é que se tem uma organização, gestão e conservação, ressaltando os documentos escritos e oficiais (p. 38). O estudo imparcial e simpático do passado estaria elencado então para uma criação de uma unidade nacional, a escola metódica tem uma importante difusão na educação da época, com o pretexto de nutrir um sentimento nacional e pátrio (p. 40-41). Por fim, a escola metódica volta a ser discutida pelos Annales, os quais realizam suas críticas (p. 41-42). IV – A concepção histórica em Marx Marx em Berlim tem seu primeiro contato com a filosofia hegeliana, fazendo parte do grupo hegelianos de esquerda/jovens hegelianos, tal pensamento se contrapõe aos hegelianos de direita. Com a inspiração no idealismo e a ideia de que o Estado é a mais alta realização do Espírito, os hegelianos de direita se voltavam para o conservadorismo. Já os jovens hegelianos tinham uma visão totalmente diferente sobre a essa concepção, pautados na interpretação matéria, negando a ideia de um Espírito absoluto (p. 44). Outra diferença entre essas duas vertentes hegelianas, é que a direita tinha uma proximidade e adesão maior aos dogmas católicos, enquanto a esquerda realizava a crítica a esses dogmas e das explicações espirituais, já que eles convertiam o idealismo em materialismo (p. 45). Para Hegel, o mundo é o vir a ser do Espírito, onde o desconhecimento do homem é o ponto de partida para seu desenvolvimento racional, a ideia do mundo espiritual é que tudo se origina nele e que tudo volta para ele. Hegel utiliza do princípio das contradições – TESE (afirmação) – ANTÍTESE (negação) – SÍNTESE (negação da negação (P. 46). A articulação de Hegel é na história universal, a ideia de que o homem domina e muda a natureza e isso faz parte do ciclo dialético e da lógica do espírito. Marx contraria-o, já que para ele a lógica está invertida, o ponto de partida deveria ser o mundo físico e não o Espírito e a compreensão do mundo deveriam ser na matéria (p. 46-47). A concepção histórica em Marx se dá também na consciência histórica da opressão por meio dos iguais, de um trabalho que antes dignificava para um trabalho que divide, temos então a divisão social do trabalho, propriedade privada dos meios de produção e a divisão em classes sociais (p. 47). As obras de Marx visam pensar como é possível agir e intervir na realidade, busca a emancipação humana, para que os homens se libertassem das desigualdades vigentes, ou seja: a consciência e transformação social. Na obra da ideologia alemã, Marx demonstra que a compreensão do mundo deve partir dos homens vivos na realidade, da ideia de que a história é um progresso, o proletariado atuante e transformador da realidade social e que a história de toda a sociedade é a história de luta de classes. A contribuição marxista é de uma teoria social que se volta para diferentes grupos humanos (p. 48-51). V – A Escola dos Annales Para compreender os ideais da Escola dos Annales, devemos primeiramente entender o contexto da época, Estrasburgo se torna território francês após o fim da primeira guerra mundial, é algo significativo na historiografia francesa. No campo das universidades tem-se a seleção de importantes intelectuais, em 1929, Marc Bloch e Lucien Febvre criam a revista Annales d’Histoire Économique et Sociale, com um novo paradigma e também para encerrar a tradição historiográfica que os procedera (p. 56). O contexto da mudança nas ciências humanas também é necessário ressaltar, a importância de se analisar para se confirmar um fato, da ligação da sociologia com o meio histórico (p. 58). A seguir, será discutidos as 3 gerações dos Annales 1ª Geração – (1929 a 1945) Marc Bloch e Lucien Febvre Temos aqui a criação da História problema, uma história que formula hipóteses pelo meio científico, já se tem uma base também para a interdisciplinaridade – recorrer a outras áreas para a análise documental, que se mostrou bem importante nesse período, a constituição de um corpus documental, para alcançar o homem (p. 59). A história aqui vista como uma ciência que estuda o passado humano e a partir dos documentos (não só os arquivos), extrair deles um nome, lugar, data... Vale ressaltar um fato importante sobre essa historiografia, o fato do homem ser o objeto da história (p. 60).
A história é o estudo do "passado", mas não o passado em si; presente
e passado são construções dos historiadores. O presente é o lugar temporal a partir do qual a prática histórica é realizada ponto e, é o lugar das problematizações que orientam essa prática. O passado é, definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado, como observa Bloch (2001), é uma coisa em progresso que incessantemente se transforma e aperfeiçoa (p. 61). Se tem na Escola dos Annales a criação dos objetos, se tem também a criação dos fatos, para a compreensão deles, é necessário entender a dimensão humana presente no documento e também na interpretação, é o historiador que deve então questionar, buscar respostas para seu objeto. A análise dos Annales traz o meio político, social, moral e econômico, rejeitam o historicismo e enfatizam o presente, para uma história que agora rompe com o meio tradicional (p. 61-63). 2ª Geração – (1945-1968) Fernand Braudel Enfoque na geografia e aspectos econômicos. O Mediterrâneo é o trabalho mais relevante dessa geração, se tem nele a união entre a Geografia e a História, é dividido em 3 partes: a história dos homens e suas relações com que o rodeia, a história do grupo e os agrupamentos e a história tradicional. Cada parte possuí uma ordem temporal e partem de um modo de explicar o passado (p. 63-65). Temos aqui uma amplitude nas temporalidades, o tempo histórico, o tempo geográfico, o tempo social e o tempo individual. Ou seja, uma história composta por diferentes perspectivas, do meio econômico, social, dos indivíduos e da localidade, se tem nessa geração a noção de tempo e espaço na história (p. 66). VI – A História Nova e outras historiografias A História Nova corresponde a terceira geração da Escola dos Annales, se tem a reavaliação dos pressupostos teórico-metodológicos das gerações anteriores, dois trabalhos são importantes nessa geração: Faire de I’historie (1974) trazendo novos problemas, abordagens e objetos, e também o dicionário A história nova (1978) trazendo ideias gerais do que se trata da história nova (p. 69-70). A História nova traz então o aprofundamento da nova história econômica e social, temporalidades, a história vista de baixo, das mentalidades, do imaginário, da antropologia histórica e também da crise vista como a “morte das ideologias”. O campo emerge com as seguintes preocupações: a afirmação das ciências, sua renovação e a interdisciplinaridade, se tem então uma ampliação dos temas e o contato maior com outras áreas (p. 70-71). Traz também o conceito de Georges Duby intitulado como anacronismo psicológico, o estabelecimento de práticas e condutas atuais como se tivessem existido, não levando em consideração que são mentalidades diferentes. A mentalidade é algo comum a um conjunto de uma sociedade, de uma época, estudando essa vertente, o historiador vê as mudanças das estruturas mentais das sociedades, comportamentos, de maneira lenta mas com maior compreensão (p. 73). Le Goff traz algumas possibilidades para a Nova História:
absorção das ciências humanas transformando-se numa pan- história,
fusão entre história, antropologia e sociologia, tornando-se “história sociológica” ou “antropologia histórica”; ou, sem Fronteiras e sem interdisciplinaridade a história operaria um novo “corte epistemológico”, com “uma nova dialética do tempo curto e do tempo longo” (p. 74). Sobre as outras historiografias, no geral se opõem ao modelo positivista: uma história neutra, conhecimento objetivo e verdadeiro. As outras historiografias trazem a ideia de que não há conhecimento sem um sujeito de conhecimento, Koselleck diz que os conceitos não são naturais, possuem historicidade; Croce diz que o passado não volta mais; Collinwood ressalta a impossibilidade de descrever objetivamente o passado e Walter Benjamin nos aponta que toda interpretação se passa no presente mas tira daí uma conclusão sobre o futuro: a história serve para mudar o mundo. Devemos deixar enfatizado que o tempo do historiador é carregado de presente e perene de futuro (p. 75- 78). VII – O Pós-Modernismo David Harley aponta que o pós-modernismo reage ao modernismo afastando-se dele. Perry Anderson nos diz que essa ideia tem seu surgimento pela primeira vez no mundo hispânico na década de 30, com o intuito de descrever um refluxo conservador no modernismo. Lyotard em 1979 informa que a corrente pós-moderna começa a ganhar força nas Ciências humanas. A mudança trazida dessa corrente historiográfica é a presença de novos paradigmas de -compreensão dos homens, culturas e mundo (p. 81-82). A condição pós-moderna se dá por dois aspectos: A incredulidade em relação as metanarrativas; A morte dos centros (p. 82). A corrente pós-moderna faz a crítica ao modernismo, este último defendia a crença no racionalismo, otimismo na ciência e técnica. No século XX com os avanços científicos nos mostra como se dá o fracasso dos ideais iluministas (de que a ciência seria um avanço bom para a humanidade), a ciência que foi capaz de produzir as grandes guerras, armas atômicas, autocracias, colonialismos, imperialismos, conflitos étnicos, religiosos, econômicos e sexuais, desemprego, violência, entre outros (p. 83-84). O pós-modernismo nos traz o rompimento com o tradicional saber positivo, enfatiza a pluralidade dos modos de pensar e agir no mundo, faz a crítica à busca pelas origens, ao desejo de verdade histórica e todos essencialismos. A corrente pós-modernista traz uma problematização maior na ideia de “verdade”, se tem um olhar mais amplo nos indivíduos e nas práticas – na produção, recepção e interpretação. A linguagem tem um papel fundamental para a descentralização dos sujeitos para se fazer uma história mais democrática, includente e revisionista (p. 85-87). Se tem a inserção de novos grupos no discurso histórico, novas problemáticas trazidas para a reflexão diante esses grupos, não podemos desconsiderar que o pós-modernismo não assume uma característica uniforme, mas que se tem uma ampla reavaliação nos discursos (p. 88).