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DISCIPLINA: HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE

PROF.ª DR.ª ELIANE CRISTINA SOARES CHARLET

ALUNA: MARIA EDUARDA GÓES B. DA SILVA

TEMA: HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE: HISTORIOGRAFIA E DESAFIOS

Entre os anos de 1978 e 1980, a história do tempo presente emergiu como um campo
do conhecimento em ascensão na França, com o objetivo de estudar os eventos em curso para
o historiador, destacando-se duas questões centrais para a reflexão: o “marco cronológico que
delimitasse o campo de estudo da História do Tempo Presente e um corpus documental com o
qual iria trabalhar os historiadores” (ELÍBIO JÚNIOR, 2007). O retorno da história política é
um aspecto relacionado ao tempo presente, como consequências do “impacto dos
acontecimentos políticos do final do século XX, tais como a dissolução da União Soviética
ou a queda do Muro de Berlim” (ELÍBIO JÚNIOR, 2007). O IHTP (Instituto de História do
Tempo Presente), surge em meio a chamada crise dos paradigmas das ciências sociais, e
eventos iminentes como ameaças atômicas da Guerra Fria e golpes de Estado na periferia
global.
De acordo com François Dosse (2012), o tempo presente não é somente um período
adicional da história contemporânea, mas “uma nova concepção da operação historiográfica”
(p. 7). Nesse sentido, o referido autor acredita que a história do tempo presente se encontra na
interseção do presente e da longa duração, a partir da compreensão de como o presente se
constrói dentro da dimensão temporal. Com base nas reflexões de Pierre Nora, Dosse (2012)
defende que há uma singularidade na concepção de história do tempo presente que se está
relacionada com a “contemporaneidade do não contemporâneo, na espessura temporal do
«espaço de experiência» e no presente do passado incorporado” (p. 6),
Segundo Dosse (2012), Pierre Nora propõe uma nova forma de pensar o tempo que
transcende a divisão tradicional da história em quatro períodos – a Antiguidade, a Idade
Média, a Modernidade e a Idade Contemporânea, no sentido que quando o historiador
pesquisa história, em quaisquer periodicidade, ele acaba também fazendo história
contemporânea. Nessa lógica, Dosse observa que a ideia de uma história que trabalha com a
ideia de presente não é exatamente uma novidade, como exemplo a escola dos Annales, que
pode ser observada na concepção de Lucien Febvre, cujo afirma que o homem não se lembra
do passado, mas o reconstrói partindo do presente.
Contudo, observa-se que a História Nova não deu tanta atenção aos temas
contemporâneos em detrimento da Idade Média e da Modernidade, o que ocasionou uma
certa marginalização da pesquisa dos eventos presentes nesse contexto, que estava mais
interessado em analisar as estruturas sociais e permanências do que as conjunturas. É por
volta dos anos de 1980 que os interesses se voltam para as mentalidades, a cultura e a política
que a história do tempo presente se estabelece como um campo em ascensão (ELÍBIO
JÚNIOR, 2007).
Na contemporaneidade, Dosse (2012) afirma que passamos por uma crise da noção de
futuro (p. 6), levantando indagações sobre o conceito “presentismo” como um fator
constituinte do novo regime de historicidade nesse contexto em desintegração. Hartog (1996)
conceitua como regime de historicidade como diferente da “época”, que apenas delimita um
recorte temporal; o regime seria uma forma de organizar o passado como uma sequência de
estruturas. François Hartog (1996) explica que, no âmbito da historiografia, “a expressão
moderno regime significa um período em que o ponto de vista do futuro domina” (p.1), ou
seja, a história caminharia para uma progressão evolutiva. Porém, Hartog (1996) constata
que, desde 1989, esse modelo explicativo tem sido questionado e há uma falta de orientações
acerca do que deverá substituí-lo, o que o autor descreve como uma crise do regime de
historicidade moderno.
Em relação aos desafios da história do tempo presente, Dosse (2012) aponta para
alguns fatores que podem ser considerados deficiências desse campo. Uma delas é a
impossibilidade de retrospecção, haja vista que não é possível calcular as consequências dos
acontecimentos devido à indeterminação do futuro. Além disso, devido a grande quantidade
de documentos e informações com a hipermidiatização, também há a dificuldade em
determinar quais arquivos serão de fato importantes para analisar a temática escolhida.
Quanto aos pontos interessantes que a história do tempo presente vem desenvolvendo,
pode-se destacar o intercâmbio com outras áreas do conhecimento, como a sociologia, ciência
política, jornalismo, psicanálise, antropologia entre outros. Em relação aos documentos e
acervos, a história do tempo presente demonstra abertura maior para uma variedade de fontes
escritas, orais e visuais, porém um desafio latente é o manuseio de “documentos sensíveis”
relativos a processos recentes e traumáticos ou sob guarda judicial (ELÍBIO JÚNIOR, 2007,
p. 3).
Outro aspecto particular é a presença de “testemunhas vivas” da história que está
sendo construída, que podem confrontar os escritos e atuar como uma espécie de vigilantes
do ofício do historiador. Essa peculiaridade também é ressaltada por Carlos Fico, quando cita
a pressão dos contemporâneos pela verdade, além do próprio historiador também ser um
testemunho marcado por seu envolvimento afetivo. Nesse contexto, Ansart propõe ao
historiador do tempo presente “retomar o estudo dos sentimentos políticos, localizar os
agentes produtores das comunicações comoventes e dos bens simbólicos”, não ignorando a
existência de paixões políticas, mas se dedicando à análise do processo de “persuasão
emocional, os discursos, falados ou escritos, difundidos pelos meios audiovisuais” (ELÍBIO
JÚNIOR, 2007, p. 6).

Referências:

DOSSE, François. HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE E HISTORIOGRAFIA. Disponível


em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180304012012005

JÚNIOR, Antônio Manoel Elíbio. A História do Tempo Presente. Cadernos do Tempo


Presente, v. 12, n. 01, p. 13-27, 2007.

HARTOG, Francois. Regime de Historicidade. 95-113. 1996. Disponível em:


http://www.fflch.usp.br/dh/heros/excerpta/hartog/hartog.html

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