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História:
n\
TVadução
Luiz Rpncari
Revisão Técnica
Fernando Novais
O EDUSC
©EDUSC
-i, ' ' - V ■v" _ ' --
. . V - " ■ CD D 901
'v sumário ■
- 7 : Prefácio
; .N. .
9 Breve, e Necessáí ia,. Expiicação Inicial
j^ p ítu lo 1 . ’ T-• ■
As Orige.ns i.
: 59 Capítulo^ / -
v - '. A Ilustração . - V; • "
\
7 9 . __ Capítulo 4 . .
Capitalismo e Hisltóría: Á Escola Escocesa
99 Capítulo-5 - - '
O Pensamento Histórico da Revoluçãc» Francesa
1 1 7 Capítulo 6
História e Contra-revolução: 1814-1917 ; " -
1 3 ' 7 Capítulo 7 . ■ • ■
O Materialismo Histórico e a Crítica d o Capitalismo "\
1 3 5 Capítulo 8 i ... -
, ■ . ' A Destruição da Ciência Histórica "r
1 8 7 Capítulo 10 . :•
A Reconstrução. II: A Nova Hisfória Eoonômica ' ;_y.. •• -
...
-
v,- V
'■ * •
prefácio . .: ;v.r.
1*5
MÍ
Fontana estabelece um miétodo de análise para; desvendar o modo ;
co m o os historiadores constroem o passado. Ele não-se detém
excl usivamente na postu ra teórica dos autores analisados, mas os
ilumina a-partir da posiclio em que eles.se colocam para olhar os
conflitos sõciais do seu tem po. : . .• -
Para Josep Fontan a, falar do passado de uma sociedade é
-posi.cionar-se em relação ao tempo presente, suas mazelas e
grar idezas. ~É_ definir-se e m relação às lutas e aos proietos sociais
em confronto na sociedade em que vive o historiador. É posi-
domar-se em relação à coricentracãO-da_riaueza. producâ_o_das .
desigualdades, e, na conjuntura atual, ao créscente__desemprego
que aflige a população j ovem, . . ,t ■. ;
Calar-se em relaçãio a estes assuntos é uma atitude éxecra-
da pelo autor. ^
"História: análise do passado e projeto social” hão é uma
obra apenas para especi; ilistas. Sua linguagem é clara, seu aparato
conceituai é fadlmentr; Compreendido pelos estudiosos dás
*■-. . •'* ’ . ‘ i. Sr.. .. 1 ■ ■ ■.
c ■■
humanidades, e o especialista, sc quiser, pode se fartar com as.
minúcia* ;as, eruditasjí; por vezes, irreverentes notas dè. final de
capítulo. . •>. . . . i 'V . • \ ^ '
É obra de denúncia, sim, de engajamento numa construção
históriog .ráfica comprometida com as dores do nosso tempo, mas
escorada, em sólida erudição. E não hã como negar; na obra de
Jòsep Fontana existe muniçãorpara detonar muitas das histo
riografia;; da moda. / ' ...V . " ... . . ’ . '• .. .
Vitor Biasóli
Outono.de 1998
Uhivérsidade- Federal.
dè Santa.Mãria
breve, e necessária,
explicação inicial - -
10
bre’ire-, e necessária, explicação inicial
12
bre ve, e necessária, explicação inicial
Josep Fontana
Barcelona, dezembro de 1981
a « o r i g e n s
!-ó'V
V\ ..
16
muifó uniforme no referente "às coisas humanas", e podéin muito
beirt ter sido. estas, reflexões as que inspiraram a parfe do seu texto
em que se entrelaçam as fornias de organização social, a regulação
do <:ntomo físico c a sUc.essâo das dinastias a partir de Menés, em
cujo tempo o Egito éra uin "terreno pantanoso" e ele mandou secar
as torras alagadas pelo ri'o, fundou Mênfls sobre elas e mandou es-
cavi ui um lago junto à cic iade* Se é lícito pensar que o saber histó-
rico deries povos pode t er ido mais além dò que revelam hoie os
tèstomunhos arqueológicos, resulta plausível supor que puderam -
infliiir neste terreno sobrè õs gregos, comõ o fizeram em tantos ou-
trõs da ciêncja e da arte7'___- . ,
—r - •Um consenscTqua se universal faz a historiografia grega-nas
cer com os "logógiafOs'' <da Ásia Menor, que tinham recolhido a in
formação dos manuais em que os marinheiros anotavam os portos
e pc jvos das costas meditierfârieas, com observações sobre seus cos
tumes e sobre a história ilocal.A mesma palavra "história" deriva-de
um verbo" que significa ' 'explorar, descobrir", o que viria a cófres-
pon derao fato de qüe a primitiva historiografia grega era, antes dc
tudi 3, uma exposição de '"descobrimentosilsobre terras e povos es-
tran hos A figura mais d a itacada entre estes logógrafos é a de Heca-
teu de Mileto (c. 500 A O , cuias obras se referem à descrição da ter
ra e à história, e de quem i se destaca,a.yontade expressa de analisar
racl onalmente os mitos d o passado, "porque as tradições dos gregos
são contraditórias e, em niünha opinião, ridículas", se bem que é acu-
sado de ter querido fazê-lo com a simples^aolicaçâo do senso co-
18
as c >rigens
21
capítulo 1
22
as oingetis
capítulo 1
24
as o ngens
* "Que homem será tão néscio ou negligente que não queira conhecer
„com o c mediante que ti po de organização política quase todo o mundo
] labitado, dominado em e inquçnta e três anos nãocompletos, caiu sob um
Liiiico império, o dos romanos? (...) Assim como, com vistas a este domínio,
s erá possível, através da r íossa história, compreender daramente todos os
a contecimentos, do mesn 10 modo, também, quantas e quão grandes vanta-
g;ens propordona aos estudiosos o tipo de história pragmática" (Políbio,
Historias, c ' .
25
_ capítulo.l
26
asoriigens _ - . - - ■
, ; , capítulo!
28
asinigens
29
capítulo 1
* Convém insistir em que não se fala aqui da história e scrita durante a Ida-
A - MéHr« m a s sim apenas da mue corresponde ao mui ido feudal europeu,
Não nos referimos nem à rica literatura histórica do Império .bizantino,
nem à historiografia realizada no âmbito cultural islâmí ico, com um concei
to mais amplo do universo e t ima visãò social mais rica . Seguir, como se faz
neste livro,o fio condutor que leva até as nossas concepções, obriga a pres
cindir de tendências e figuras que ficam à margem dest a linha genética, por
maig valiosas que sejam, O ex cmplo mals notável é.o de Ibn Jájdún (1332
- 1382), historiador norté-a£ti< an o de ascendência sev ilhana. que nos seus
Mukaddima nos ofereceii un ia introdução- à metodoli agia da história, con
cebida como “informação ace :rca da organização soda 1", c que acertou em
estabelecer um vasto esquen ia cíclico, que trata de e splicar como os po
vos das estepes e dos deserto:; conquistam as terras aiá Lveis dos sedentários
e fundam vastos impérios, qu e são, por sua vez, destra lidos por novas inva
sões nômades, procedentes d e suas mesmas terras de origeõl, ao fim de al
gumas gerações, quando os n ovos réinos'"bárbaros" pi trderam já a sua vita
lidade. De todo modo, Ibn Ja ldún é uma figura solitáiria, sem precedentes
na cultura islâmica nem influ ênda considerável nela.: Descoberto em mea
dos do século XIX, foi uni pr<rdccessor genialj-porém: ma importância para
a história da História é escas:;a. (Há uma tradúção de Ibn Jaldúh publicada
recentemente pelo Fondo de: Cultura Econômica, Mérsico, com o título de
Introducdón a la bistortà u niversal Veja também .V ves Lacostc, Él naci-
miento dei tercer mundorlhm Jaldún, Península, Bar celona, 1971).
30
I
a s ongens
32
as origens
33
capítulo 1
34
as origens . "
"' (O primeS^idos três períodos de que Êdamos foi em tempos da Lei, quan
d o o povo dõ Senhor serviu como um menino p o r um tempo sob os ele-
i nentos do mundo. Não estavam capacitados para j ilcançar a liberdade do
1 '.spírito. ate que veio o que disse: 'Se o Filho os Hf >era sereis certamente H-
t Tes’(João, 8,66). Çi segunde) período foi sob o Evs ingelho e dura até o pre-
sienté, com liberdade em comparação com o pas:;ado, porém sem ela em
c lomparação com 6 futuro (...) ^"tcrceirõjpériodo virá até o flm do mundo,'
£ ’í 4 i ' '
m s * •::
• • -
.35
capítulo 1 v.
já não sob o véu da letra, mas em plena Uberdade do Esp írito, quando, de-
■pois da destruição e cancelamento do falso evangelho d o Filho de Perdi
ção e die seus profetas, os que ensinam a muitos acercai da justiça serão
conto o esplendor do firmamento e como as estrelas pa rã sempre/O pri-j
liteiro? pieriodo, que floresceu sob' a Lei c a circuncisão, começou com
Adão. Ç) segui idOpque floresceu sob o Evangellio, começ :pu com O zias^?
:/tercêirq, no que se pode entender a partir do número da s gerações, come
çou em tempos de São Bento. (...)Alétra do Antigo Testanriento parece, por
uma c a ,1 a propriedade de semelhança, pertencer ao Pai .A letra do Novo
Testameinto pertence ao Filho. Assim, a compreensão esp iritual que proce
de de ai nbos pertence ap Espírito Santo. De maneira sen lelhante, a ordem
dos cas: idos que florçsceü no primeiro tempo parece per tencer ão Pai, por
uma propriedade-de semelhança, a ordém dos que pred icam no segundo
tempo, ao Filho, e assim a ordem dos monges, a quem o s últimos grandes
tempos tem sido concedidos, pertence ao Espírito Santo'" (da Expositio in
Apocítl') psim, f, 5 r-v, tomado da tradução publicada ia Be màrd McGinn, Vi
sions oj rtbe End, Columbia University Press, Nova York, l 979, PP- Í33-13ÍK
36
ás origens
37
capítulo 1
7 " tar sua estreita visão hist órica,' entrando em s«;ú jogode sobrevaio-
rização dó proto-burguê.‘>e de. desqualificação simplista de tudo q
;-C . . mais..É necessário tratar 'de desvelar a lógica Lnerentè a alguns pro-
: jetos sociais, que não podemos contentar-nos com adjetivar como
milenaristas.o que equivale a situá-los fora d a ordem "naturai” da
evolução históricã-29 . _
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39
a , • r ' .
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capítulo 2
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do renascimento
mg à ilustração .g .
ÜÉ Ü
I:
j
capítulo 2
42
as ações de outros horm ens. "Chanceleres da i epública, pesquisaras n
45
capítulo 2
Que aqueles que tinham ; iversão por essas idé ias republica
nas conseguissem convencer o mundo de que esse hotnfc.m era um
defensor da tirania e que se tenl ia identificado o adjetivo "maquia
vélico" comi conceitos que não têm nada a ver coni o seu pensa
mento diret o, claro e lívre, é algo •que deve fazer-nos t nedítar sobre
, a mentira d o saber acadêmico que .propicia tais enganos.5
Frant:Ísco'Guicdardim (1483-1540), nascido ^d<: boa família,
foi um' advogado de êxito, até que se incorporou ãi política,.em.
1511, ao ser designado embalxad or ante Fernando, o C atólico, na Es
panha, onde o surpreendeu ò regresso dos Medieis ao poder.
Durante o novo regime desemp enhou cargos de considerável im-
■portância, c omo os de governador de Módeha, de Re ggio c da Ro-
magna. Tm! ia fama de bom adm Jnistrador e de sabe r opor-se aos
abusos da j obreza, porém a crise: de 1527, com,a volta à repúbiica,_
significou piara ele um diiro revés. Odiado, pelos floirentínos, teve
gue defender-se de ser "ladrão tio dinheiro público,:saqueador de
nossa terra, homem de_qdjosa;vic la prjvada.desejoso d o retom o dos
MédicSTam ante'da tirania l f i n imjgojfa.liberdade, çj amutn"•O fra
casso o lev a, como a Tucídides , a escrever a históriia como uma
forma de refletir sobre a política ou, melhor,sobre a suia própria sor
te. As difere nças entre Guicciardini e Maquiaveí - de quem foi ami
go e a quen >teve por colaborado r - são consideráveis. Discordavam,
para comeqar, na ótica política. Aò republicanismo de Maquiaveí
opõe-se" ã aimbigüidade de Gtfic ciardini, desconfiado com relação
aos "que pi edicam tão eficazme! nte,a Uber^de", port kn têm como
objetivo real "seus'interesses pajticulares11.Não é partidário da tira-,
nla, mas de uma liberdade moderada, que era o que os Médlcis ti
nham tenta- do estabelecer. "Não,<: q futuro das liberdac lés, nem o fijth
para o qual fiaram criadas, que to dos governem, porque não devem
governará ] não ser bs que são apt os a isso e o mereçan i, mas a obser-
do renascimento à_ilustra ição
vância das boas leis e das boas ordens, que são mais seguras viveri-
". ~do'cm liberdade do que sob o poder de um o >u de poucos'1. Ou sejt i:
. uma aparência de dem ocracia, com um cor ítrole oligárquico. Po r
trás dessa atitude está tun medo evidente do povo, aprendido hás
comoções da sua própri ia cidade: "Quem diz i am povo, diz vetdade L-
ramentc um animal louc:o,cheio de mil erros,, de mil confusões,(...)
' sem estabilidade".10__ : ' ..
.. Porém, as diferem ças que mais rios imp.ortam são as qúe se re
ferem a sua distinta con cepgão da história, és treitaménte relaciona i-
das com-seus respectivo s princípios pofíticos. Dfentedk: Màquiavel.,
Guicciardini nega-se a o rer nas interpretaçõeis globais do passado o
na possibilidade de usai>se o conhecimento da sociedade, adquiri .-
dõ.átravés delas, para sé: predizer o futuro. O' tema da importahei; i
do'contingente reaparece urna vez ou outra, numa negativa a qual
quer possibilidade de ui na ciência política: sç ibrevalorização do. pa r
pel dá fortuna - "nas còií ;as humanas, a fortün a tem um enorme po -
. dei; porque se vê que a i toda hora recebem grandíssimos tnovirnen -
ftos dé acontecimentos Jfortuitos, e que não í:stá no poder dos h o
mens preveni-los ou evifc á-los" -, impossibilidad le da previsão - "as coi -
sas futuras são felazes e : submetidas a tantos aicid en tes,.- e, cpnse -
quentemente, recusa de, qualquer tratamento global dos fetos polí
ticos - "e um grande erro ■felar dascoisas do m undo indistintamente:
e absolutamente e, por : assim dizer, por regra; porque quase todas
têm distinções e exceçõi es, dada a variedade d as circunstâncias, que:
não se pòdem avaliar coim uma mesma medida". Assim,quando cri
tica os Discursos sobre a p rim eira década d e Tito Lívio, de Maquia -
vcl, o fez opòndo as "distinções" às afirmações globais deste. Suas
obra histórica máxima, a . História da Itália, r epresenta uma minu
ciosa descrição dos acot itecimentos que tiveiam lugar desde a cri--
sede I494,própriade qi iem tem uma concepção miúda e posítivis- ■
ta da história c atribui a o acaso, a fetores imp íevisíveis e pontuais,
os grandes acónteciment os - o que é uma form ia de justificar os seus
propnos fracassos -, até a ,o ponto de que uma narração histórica se-
meihante serve, antes de tudo, paira i^ s f ^ ^ T q iu e '^ n d e instabili
dade, à maneira de um n iar revolto pelos vem os^sejanTsubmetidas
as coisas humanas".11 ""
Porém ocorre que esse homem - escrito r muito inferior a Ma-
quiavel, que não fez nenhuma contribuição' valiosa à teoria da
história - tem sido elogiai do desmedidamente iportódos os historia
dores acadêmicos contei nporâneos, que o co ntrapõem sempre, ao
capítulo 2
48
do renascimento à ilustrac ;ão .y -
din divide a história em ■três campos: a "natur al", que estuda ás cau -
sas que trahalhamjna ria tureza; a "sagrada", que se ocupa das mani-
f / i
festações divinas; e, fina]mente, "a história humana", que "expõe as;
acõesdo homem nas sociedades". Com isso s e limpa o terreno dasi °v
intromissões de filósofos da natureza e de.teó logos, é se fundameri • _
ta a crença, expressa iá u o r Pasauier na poss ibilidade de construir r -
uma_ciência histórica can a? de nrplirar raHonalmente a ascensão e:
. á quedá dos impérios e idas civilizações:Essa corrente não chegara
a sobreviver durante o stículo XVÜ, procurara o identificar seus cul- -
* "Deus sustém desde o n íals alto dó céu as rédea; i de todos os reinos; tem
todos os corações cm su; is mãos: tanto contém as: paixões, como lhes sol
ta o freio, e com isso m ere tddo o gênero human 10. Quer fazer conquista:
dores? Faz marchar o esp anto diante deles ê inspira em seus homens um
valor invencível. Quer. x r legisladores? Lhes en via seu espírito de sabe- ■
doria e previsão". (Jacque; v-Bénigne Bossuet.üfrcoi trssttr Vbistoire univer-
se//e,Gamicr-Elammarion.Paris, 1966,p .427).; , . . . . •
; Bcmal Diaz d e!Castillo, por exemplo, nos deixe iu uma admirável descri- ■
capítulo 2
50
L.
dão notícias das coi sas feitas, pelo que se c >rdenam as-vindouras, e
assim para as consultas são utilíssimas. O que olha a história dos
tempos antigos atentamente e guarda oque ensinam;tem luz para
as coisas futuras, pois uma mesma maneira de mundo é_toda. As
que foram voltam, ai inda que debaixo de outtros nomes, figuras e co
res que os sábios conhecem.
51
capítulo 2
52
dor enasdrnento àUustraç ão • ■ _ ■- ■
•' ‘ i . *. „• ’ . .1 ;
relií dosas aguçaram o eni ^enho dos partidário?; da reforma e obriga
ram ~a Igreja católica a deipunir seus textos da carga de mitos que a
eles iain se agregando, forçando uma atividade, .cujos bons exemplos
são, os bolandistas - osje siiítas que estabeject;riam ;is. atas dos san-
tós, com o fim de rélviad icaf Um núcleo de vcirdade histórica debai-
x o j j a canga das fábulas - e os beneditinos ma urinos. eem especial
Mafc liUon (1632-1707), qme elaborõu um corpo) de métodos e regras
para o estúdo~gõsdocmiaentos na sua D e te iiiplom atíca (1 6 8 1, o
. mes imo ano-da.nublicacã< a do Discurso de Bossuet). Não se deve, en-
- tretanto, sobrevalorizar ai importância-dèstes avanços metodológi-
• cos; ê menos ainda apresentá-los como o nascimento da historiogra
fia i nodema. ym a coisa isãb á$ ferramentas cc >m que o historiador
atuai sobre seus material« s e outra muito distirita a teoria que deve
dar-lhe cr plano Reral de isuas investigações. No primeiro terreno, o
• trab alho dos bolandistas ie matiirinos' tem sidõ i iecundoinò segundo,
; . hó (Jue corresponde mai s^propriamente à tfc itória. não trouxeram
■nad a^ Mahillon ~e Bossue t não só são contem' borânèos: como tam-
y bén i pérfeitanicnte comnatíveis.13 ' . ”
' Nem pelos caminhos da ars histórica dio humanismo tardio,
nem pelos da crítica das fontes transmitiu-se o impulso renovador
do. 1Renascimento, asfixiado pela intolerância da reação. Isso não
que r dizer, entretanto, que o caudal secara pior completo e que a
Ilustração tivera^que inv entar de. ndvo o pro jeto de uma História
corr io instrumento de an lálise dã sociedade. Mão há uma evolução
regt ilar que conduza de í -laquiavel a Montesqi deu pelo caminho da
histi ortografia; porém há tiima série de corrent e ; subterrâneas que os
enla çam, e a influência d o florentiho no flane :ês - comõ em Bacon
ou r ios_pensadores da rev olucão inglesa do século XVP - é inegável.
O qi je acontece, é que as idéias sociais do repu blicanjsmo renascen
tista e suas concepções I íistóricas aparecem e ntrecruzadas com os
avanços em outros campos da ciência. Não se pode entender o
cam inho oue vai de Maai riavel a Viço, por exemplo, se não se passa
por Gassendi. Galileu ou 1Descartes: ciência da natureza e ciência so-
, ciai avancanLContuntame:nte.— - • t
Porém, ao falar de "ciência da natureza " convém recusar qs
tern tos com que nos pinta habitualmente o seu desenvolvimento o
- ácaclemiçismp, como- urn ininterrupto avanço do erro à verdade
através de um contínuo ;acréscimo de conhecimentos. Quando os
espí ritos científicos do renascimento começa ram a demolir a cos-
53
capítulo 2.
54 í
do re jiascim ento à ilustraçã ío
* "O mundo natural Intelfo, que consiste nos céu s e na'terra, significa <S
- mundo político inteiro, q u e consiste nos tronos c no povo (...). Os céus,
com o que há neles, significam os tronos e dignidades c aqueles que ps
gi azam; á tena, com o que há nela, a pente inferior e as partes mais hal*as
d;i terra, chamadas Hades ou Inferno, a majsJaaixa e miserável noreão do
Jjiovo" (texto de Newton citado in M.C.Jacob, The newtonians and the
Englisb Revolution, 168‘ >-I720, Harvester Press, Hassocks, 1976, p. 14).
C omo Margaret C. Jacob explicou num'livro recente, a universo de New-
tem, onde "as forças espiri tuals controlavam á nati ireza, como os reis e os
òl ligarcas os seus estados", correspòndia à sociedat ie monárquica da Ingla-
te:rra dos Hannover. Diamte dessa imagem cosmo lógico-política. os radi-.
c tis, que conservavam a t radição da magia natura 1, sustentavam a de tim
v "tianteisnio" queTpêlÕcãnlinho.da divinização da natureza, conduziria ao,
materialismo ateu de Hol bach (M.C. Jacob, The radical enUghtenmenC
pcxhtheists, freemasons tin d republicans, Allen and Uriwin, Londres,
lí)81,p p , 21-23). .' . j- - 1 •• . * -
capítulo 2
I p p íM :
i&ví. -V-; .
M ÊZ' :
‘1
•: i
57
c a p ítu lo 3
a jilustração
59
capítulo 3
* lncor re-se com demasiada frei pêncLr no erro de supo: r-se que um pensa-
- mento radical no sentido religioso - como o materialisiro o ateu de Holbach,
por cx emplo - hí~de correspon der a atitudes políticas lf jualmente radicais.
Margaj ret C.Jacob rios ensinou recentemente que a pe nsamento do ''pan
teísmo'' britânico, que na sua versão original ia ligado ;io republicanismo,
foi ass tmiiado por Holbach e sou grupo, sem a carga po lítíça que levava na
sua or igem, como correspondi a às pessoas com fortes laços de interesses
financ eiros e sociais, que osiiigavam ao_ancigo regime, e que não podiam
js p S ã r. em conseqtiéncia’ mais que a uma monarquia ilu istrada (Maigaret C.
Jacob,, The radical enlighteiv nent; pantheists, freemnsorts and republi
cam, .Allen and Unwin, iondre s, 1981, pp: 262-263). Co: mo já se viu, a inter
preta: ;ão da Ilustração que se dá nestas páginas tem m uito pouco que ver
r*r\
aüiüstração
dom a que FrancoVcnturi atribui em'bloco aos *m araástas", para quém, sc-
gi ando sua’ maneira pessoa J de ver as coisas, o fund ameutai seria ver a Hus-
ti ação como "a ideologia <la burguesia em desenvt olviiucnto” (Franco Vcn
turi, Utopia e riform a neIViüuminismo, Einaudi/Torino, 1970, p. 20). Os
h: istoriadores marxistas pt idemjtènder, cm alguma s ocasiões, à simplifica-
çiio, porém sempre costûinam ser superados por : iimplificadores críticos,
a<tostumados a iabricar vc irsões caricaturais do nu tnxlsmo para demoli-las
d' enois vitoriosamente. Nã o. custa muito compreen der que a Ilustração, dê-
fij nida do modo que'aqui s e propõe, tenha recebidc i a adesão da burguesia,
n>os' anos que expressava as aspirações de refont ia da sociedade feudal,
o jmpartilhadas com amp los setores da própria ; aristociaciaj porciii, foi
.st ibstituída por outras fort nas ideológicas, onde ou quando os objetivos dá
burguesia c da. aristòciaci; » deixaram de ser compatíveis c a primeira pasr
' sj )ti a expressar.suas aspiu içãs.nosAÇ-US-prQpnflS. tejm os
—5
Vï '
m
■:V-
capítulo 3
V* ------------i----
i ' ' . ■
.
*; 3]
Não é difícil identificar o s antecedentes'do pensamento his ' ífl '
tórico da I lustração francesa, po rém importa compreender que este
não pode ireduzir-se ao resultad o da soma de tais influências, senão "... v -? ï
que. ainda que recolha sua linguagem e adote parte das suas idéias,
integra est es elementos num.eí iquertía novo e original, com o qual
-propõe-se a enfrentar os problemas específicos da sociedade fran •
■m
cesa do séiculo XVm.* Devémõis buscar o primeiro desses antece
dentes no renovado intéresse p<rias ciências dá natureza e. em esõe-
t víí
cial, pela física newtortiana, qu<; leva os ilustrados a transportar os
esquemas destas disciplinas paira o campo das ciências sòciais, tra
tando de t :stabelecer uma espé cie de física da sociedade. O segun
d a é ajier ança do libertinismo, por onde se transmite boa parte do
caudal critico iluminado pelo Renascimento. No século XVm conti v, :
nuará a difusão manuscrita dessas obras que integram o que Spink
chamou "ais ciências humanas c landcstinas". Essa tradição de anoni
mato se estenderá em bbã meclida à obra impressa dos ilustrados,
que publicavam seus livros sem a indicação do nome do aqtor, ou
se ampara1vam nos mais diverso s pseudônimos, além de buscar para
a sua edição os lugares com maiores garantias de liberdade, como
as imprensas das cidades dê Anisterdam ou de Genebra. O terceiro
fatoq.tay« : o mais visível e apai repte na etapa inicial do pénsamen-
t
62
to ili jstrado, será a influêr teia do chamado "pinonismo histórico11'*,
jfrutç) de ter estendido á t eflexão crítica aò terreno da história, po
rém nãó limitada à discussão dá validade das fontes, que era o má-
ximc) a que tinha chegado (a historiografia'ortodoxa, mas sim aplica-
da at js próprios' conteúdo s: aos fatos, às idéias, às valoracões. Os mé
todo s d&Mabilloti, ideado s pára depurar e revitàlizar a história ecle
siástica, serâo empregado: 5 copitra ela por homens como Richard Si-
niòn na sua História críti ca do Antigo Testamento (1678), enquan
to a dúvida começará .a penetrar em terrenos até então imunes a
ela, <:òm obras como a H istória dos oráculos, de Fontenelle, ou Da
debi lidade do espírito h u m a n o , do bispo Huet.<
' O máximo representante do pirronismo será Pierre Bayle
(164 7:1706)’ protestante convertido ab catolicismo aos vinte e dois
anos e retomado ao prote stãntismo aos vinte e três. Em 1681,escan
dalizou a'Europa com seus Pensam entos diversos sobre o com eta,
onde, além de insistir êm que "a antiguidade e a universalidade de
uma opinião não e râ u m :sinal, de verdade", sustentava què "o ateís
mo i iãô conduz necessar iamente à corrupção dos costumes", afir-
madio que iria desencadear um tremendo debate. Sua obra funda-
men tal é o D icionário histórico e crítico (1687), onde.fez umaapli
cação sistemática dos mét odos críticos ao conteúdo da história. Bav-
JèjM irtia de uma cohcepçi lo da crítica que até então havia se limita
do a pouco mais que à análise dos textos e propunha estendê-la a
todo s os campos do saber. s.em outras exceções que as referentes ao
* Sabemos por unia carta c leVòltaire a Jacób Vemet,, o editor génebrino, que
esse texto estava redigido iriiciaimentc em forma dlisünta: "Olho a cronolo
gia e as sucessões dos reis como meus guias, c não <íomo o objetivo de meu
ti -aballio. Este trabalho ser ia bem ingrato se Umitasi ie-me a querer aprender
e m que ano um príncipe Indigno de sê-lo sucedeu a um príncipe bárbaro.
P; arece-me, lendo as histór ias, que a teria não foi fei Ita mais que para alguns
soberanos e para aqueles -que serviram as suas paisões;quase tudo o mais
fi ca abandonado. Os historiadores assemdham-se.misto, a alguns tiranos da-
q ueles que nos falam; sacrificam o gênero humano a um só homem” (Vol
ta lire, Oeuvivs complèles. Fume, Paris, 1835-1838,XI,pp. 448-449).R-Navez
n os conta que Néaulme piublicou esse texto, crá 11735, com deformações
cismo a de converter a úl tima frase em: "Os histoi dadores, nisto igual-aos
reis, sacrificam o gênero h umano a um só homem". Leitura abusiva - conio
Violtaire fez constar diante: de um notário - porém não de toda injustifica-
d: i, que moveu o autor a el iihinar todo o argumento., como as dúvidas (nota
ei n Voltaire,/.eírívs chotsins, Garnier, Paris, 1963, p. 582).
capítulo 3
j * René Po mcau observa a freqüên< :1a com que Voltaire recorre a pseudôni-
mos ecleí iiásücos; "A filosofia da bistóría, por exemplo, todo o mundo
sabe que se deve à pluma do abadie Bazin;a Defesa desta Filosofia foi es
crita pelo sobrinho desse abade. É a um "bacharel em tcologianjt quem de
vemos o jPtrronismo da história, enquanto que as Carias chinesas a de
vemos a "um beneditino", etc. (\ roltaire segiin Voltais, Laia, Barcelona,
1973, pp, 1>16). Porém não se trata de um traço de humoi; sqmcnferHá
um_ay£ên JigQtemqjiiiiXVoltaire q u e ji c g k _ a _ D l A l c g a t e r m d a d e ^
- D icionât io filosófico, queixando^ ;e de que haia "cristãos tão indignos des--
se nomC ' como para suspeitar que sou o autor
tin Õeuvirefcõmplètes, X, p .6 Í7 ),.o que diz aVemct, que pode Interessar-
lhe em puiblicar as suas obras em Genebra, “porém c uma empresa que eu
gostaria (jue fosse muito secreta, cm atenção às medidas que devo obser
var na Fr, ança" ( in Í(L, XI, p. 449)- -.
** "Eu gostaria de começar um e;studo sério da história,no momento em
que esta se toma interessante par a nós: parccc-mc que isso ocorre até o fi-
. nai do sé:culo XV". Quais seriàm ios acontecimentos "interessantes", ficara
logo claro: a imprensa, o Renascimento, os descobrimentos (e em especial
o da America), a reforma,..Graça; s a isso fbrmou-se um mundo unificado,
por onde: circulam mercadorias, c:ostumes e idéias. "T\ido.nos fez recordar
cada dia que (...) todas as.partes do mundo estão reunidas há uns dois sé:
culos péla indústria de nossos p:tis. Nao podemos dar um passo que não
nos le m b re i mudança que tem ocorrido no mundo desde então" ("Frag-
66
a il ustração
fiR
a ü ustração
'' "Não é a fortuna que dc imina o mundo: isto se p ode-perguntar aos roma-
itos,que tiveram uma série contínua de prospericltàdes, enquanto góvema-
i am dentro de certo plano, e outra ininterrupta dc adversidades, quando se
<:onduziram dentro de ouitro plano distinto. Há ca'usas gerais, sejam morais
c ju físicas, que vigoram eim cada monarquia: a elei /am, a mantém ou a pre
cipitam. Todos os acidem tes estão sujeitos a essas causas, e se o acaso de
i ima Batalha, isto é, uma <iausa particular, arruinou i algum Estado, havia ou-
t ra causa geral que fazia com que esse Estado devesse perecer por uma só
1 latalha: cm uma palavra, c >impulso principal afiasi ta consigo a todos os aci-
c lentes particulares" ("Coiudldératíons su les cause :s de la grandeur des ro- ■
inains et de leur decadrnce", irt Qeuvres Coihpiètes, Seuil, Paris, 1964,'
JCVlH.p. 472.A tradução castelhana foi feita dápublicada cm 1776 em Ma-
clri - pp. 239-240 A obra havia chegado muito íintes na Espanha.Tenho
t im exemplar, provavelmc :nté o primeiro qué d ic ulou por Barcelona, què
trás a aprovação 1nquisitO'rial de 28 de outubro de: 1739).
69
capítulo 3
* "O trig o da África não é para os africanos; o do noite da Europa não é para
os povo s setentrionais: é paia todos aqueles que querem trocá-lo com o
produto i de suas artes. Quanto mais trabalhadores houver na França, mais
lavradores haverá na Beibetia. P orem um lavrador alimentará a dez traba-
. thadore; s: O mar tem peixes em iquantidade inesgotável; só faltam pescado-
- res, frot as, negociantes. Se os bo sques se esgotam; abri a terra' e tereis ma
térias ct ambustíveis. Quantos filó sofbs e viajantes tem feito descobrimentos
que res ultaram inúteis, porque, oa situação presente, a indústria ordinária
basta p: ira as necessidades! Os f ilósofos hão encontraram essas coisas para
nós, ma s sim que resultarão boa s quando houver sobre a terra ura grande
povo" ("Meus pensamento", 366; in Oeuvres completes, pp.892-893).
70
ailustráção ~ '■ '■• .'
.. 71
capítulo 3 .
72
a ilustração ' . ' ■_
cití ido nos ilustrados, scms contemporâneos, respostas que vão des
de o sarcasmo dc Voltaire, negandòrse a "andar de'quatro patas", até
o d esprezo dé Diderot, O que se pode assinai iar, é que, se Rousseau
' infituiu muito sobre a sensibilidade, assim còtno sobre as idéias po
líticas, as suas idéias sociais,jqúe têm um lugar fundamental no seu
pei isamento,não deixara un o menor rastro. Nci desenvolvimento das
idé ias ilustradas sobre ã história, ò pensador genebrino representa
mais um desvio que um;ietapa.1S . • •" ^
O marco teórico ] jroposto por Montesi qiiieu será ò dominan
te n a maior parte das reflexões históricas do;s ilustrados franceses,
inclusive daqueles que conservaram a linguagem e algumas das
pre ocupações de Voltair e. Ãos "séculos" da h istória do espírito, de
fini dos por. critérios cul turais, sucedera a pe rcepção das relações^
qüc; existem entre as eta pas do desenvblvime nto social e as formas
d e ; subsistência. À prime ira dessas conçepçõe s correspondia o pro
pósito de modificar o nmndo atuando sobre sua consciência me-
diáiite a çrítiça; à segúndla, a convicção de quts tal objetivo só pòde
- logirar-se no terreno da reforma política. O homem que expôs essa
concepção da sociedade c da história, e que, ;*o mesmo tpmpo, tra
tou de levar à prática o programa que deveria realizar a aspiração
proposta por Montesquieu,-e mais datamente exposta pelos fisio-
cratias - conseguir um de senvolvimento economico capitalista, pre
servando a propriedade da terra para a classe feudal foi Turgot.
Não é este o lugair adequado para analiisar o pensamento da
fisiocracia, ainda que conviria insistir na necessidade de não isolá-la
exc essivamente dos intentos reformistas, que se estavam produzin
do ;simultaneamente em outros estados feudais europeus. Mxux fez
jiist iça aos seus méritos, <; às suas limitações, ai i defini-la como "uma
reprodução burguesa do sistema feudal, do im pério da propriedade
da t erra". Do que se trata’ra,era de tomar possi :vef o desenvolvimen
to cio capitalismo na agriícultura, à maneira in glesa, no seio da pró
pria. sociedade feudal, adaptando-a à medida ( jue fosse necessária
sup ressão, com indeniza ção, daqueles direito s qué se mostrassem'
iricc impatíveis com a exj jansão do comércio iinterior; abolição dos
privilégios e monopólios ;.grermãis, etc. -, graça is à férrea direção de
um poder despótico. Flo tence Gauthier defini iu a sua política agra
ria <:omo um intento de ' 'submeter a produçãí y à grande proprieda
de, isto é, integrar aos semhores proprietários cte terras tio desenvol
vimento capitalista".19 '- t . “ V
73
capítulo 3
74
'- a ilustração s
"a história, como pela cri'tica que fez do programa político dos fîsip»-
cra.tasiA História parece -Ihè ser um instrumento indispensável paru
compreender os mecardsmos fundamentais da sociedade c, com
isso, tomar possível um programa político eficaz.A missão do histo
riador não pode ser a d e acumular dados ou entreter os seus leito
res - "coser uns fetos a outros é contá-los com amenidade" -, mas sini
a d e "descobrir as causais dos acontecimentos e a cadeia que os én-
trelIaçamVHá de ser um a História que "feia à razão", que mostra o
marco social - "os costumes e b govemp dá república"-para expli
car as ações dos homem s.21 ~ . < ■ ' - -■ <
Mabiy enfrenta as propostas políticas dos fisiocratas nuni
sen tido claramente proj pussivo. Não aceita o fundamento mesmo
de suas concepções sociais, que é o princípio de que ã proprieda
de privada da terra seja . um. fetq natural e etemo. Como Montes-
qui eu, acredita que nas o rigens dahistóriahumaria nãó existia á p ro -
pricdade privada, e, com o ò Rousseau influenciado por Diderot,
pensa que a apropriação» da terra criou a desigualdade das fortunasi
e, c om ela, "todos ós víci os daTiqúeza, todos os vícios da pobreza, o
embrutecimento dos esj jíritos e todos os preconceitos e paixões",,
cujiis conseqüências serão "governos injustos e tirânicos, leis par
ciais e opressivas e, para dizer tudo em poucas palavras, essa multi
dão» de calamidades sob ;as quais gemem os povos",Não se trata, en
tretanto, de propor um impossível retomo ao estado da natureza - at
pro posta de "andar de q uatro patas", que Voltaire acreditava 1er em:
Rousseau -, mas sim de encontrar soluções aos males criados p or
um:a evolução irreversívid. "Se não é possível obedecer às simples»
leis da natureza, convém estudar, pelo menos, por que meios a in
dus tria humana pode aln da remediar'uma parte dos males'que a de- •
sigualdade de fortunas produziu"!_E õs "remédios" têm de buscar-se
por caminhos semelhantes aos que se tem experimentado naqueles
paíües europeus que abandonaram o absolutismo. Por que felar de
impiérios asiáticos, como fezem os fisiocratas? "Temos na Europa di
vertias monarquias moderadas; este é ò modelo que deve ser-nos
pro posto e não o ridículi o despotismo dos chineses".22
Quando se ocupa do comércio dos grãos, vemos Mabiy racio-
cimtndo em termos capiitalistas mais coerentes que os dos fisiocra
tas. Depois de expor as f épercussões desfavoráveis que a liberdade
de comércio teve para as camadas humildes da sociedade francesa,
nos dirá que, se se pretemdia fezer flòrcccf a agricultura, havia que
con íeçar-se assegurando •o bem-estar de todos aqueles .a quem os fi-
capítulo 3
77
capítulo 4
capitalismo e . a\
V ^
história: ã, escola ■ ; d V ,
escocesa
f . . - ^
>• -
capítulo 4
80
cap italismo e história: a ei scola escocesa >. ' \i
ten'deram què valia a.pe na chegar a ura com promisso; já que, por
cim ia das querelas sobre:as formas de gòvemò, estava a necessidade
comum de defender as :>uas propriedades. Assim foi como se che
gou i à solução pactada d e 1688, a essa "glorios a revolução" incruen
ta, c }ue significava, na res ilidade, o final negod iado da revolução ini
ciada em 1640, da qual todos procurariam escjuecensè a partir des
se momento .Assim foi cc imo, entre 1688 e 17215, alcançou-se uma.si:
tua<;ão de estabilidade piolítica, que iria manucr-se longamente, ao
admitir Uns e outros um a ordenação cm que o rei governaria com
o consentimento dos senis súditos mais impe rtantes, dos "homens
de propriedade", ao mes mo tempo que limita va a participação das
das ses populares na vida.política, impedindo- as de atuar nos julga-
mei ítos na condição, de j iurados ou criava-se i im sistema educativo
desitinado a aumentar as diferenças entre os se tores extremos da so-
ciec lade e a consolidar, c< )m isso; unia Inglaten -a polarizada em duas
classes.’ . : ;
'' i;; Os Whigs, hêrdeir os da revolução, expi ressaram sua concep
ção da sociedade n ateo ria do gbvertio civil d e John Locke (1Ó32-
Í70 4), que partia da idéia de que os homens tinham cedido voiun-
tarií unente a um soberan □ a liberdade de que j çozavam no estado de
nati rreza, porém não só piara que esse soberan o lhes garantisse uma
'prenteção pessoal - como havia-dito Hobbes no Leviathan, refletin
do o medo e a inquietude dos anos da guerra civil mas para que a
sociedade política e õs legisladores cumprissem com a missão fun
damental de "salvagi!ard:u ãs propriedades de: todos".AO sustentar
esse: propósito do contrato social numa interpretação histórica, da
passagem do estado natural ao das sociedades organizadas,podia-se
encobrir o Êito de que a monarquia limitada <era- uma das conquis
tas alcançadas pela revolução, fingindo que-nião se tratava mais do
que uma volta ap passado, a umas antigas tradições de liberdade
pen iida quando a invasã o da ilha impôs aos anglo-saxões_o "jugo
non tiando". A essa conc epção da sociedade civil corresponderia
um: i nova noção de projf >riedade privada, que se definia como um
direito absoluto e exclusivo sobre ás coisas e hão cómo uma' par-
ticij laçâo nos resultados ie sua produção; é qui e se contrapunha tan
to à idéia de propriedade: compartilhada do feudalismo (à multipli-
cida de de direitos sobre t im mesmo bem, e en i especial sobre a ter
ra), <como às aspirações c omunitárias dos radicais. Em estreita asso-
ciaç ão com estas mudanç as estão as experimentadas nas atitudes re
ligic isas e no pensamento científico. Se o universo de Newton refle-
81
capítulo 4
82
capitalismo e história; a escola escocesa
83
capítulo 4
84
. cap italismo e história: a escola escocesa
85
capítulo 4 .
tatão detci -minantes para acelerar a produção. Á atr; içaó dos obje
tos novos levados pelo comércio distante incita ao s poderosos a
consumir mercadorias que seus antepassados des< lonheclairi; os
grandes benefícios desse tráfico incitam a outros comerciantes á en
trar na competição e, finalmente, a indústria locaiprocura imitar es
ses produtos de fora, para os quais há um mercado -vantajoso,.Esse
modelo é usado como padrão que dá conta dò prog resso humano.
Assim, diante daqueles que supunham que o planeta podia ter esta
do mais densamente povoado que no presente, Hum e arguméntava
que, já que o comércio e as manufaturas eram mencis florescentes,
disso haveria que deduzir-se que também estava roais atrasada'a
agricultun i, necessária para a subsistênçia humana ,e condicionante
do tamaribo da população Fectía o raciocínio cóm uim ato de fé rio'
progresso engendrado pelo capitalismo: .’ ^
86 '
capiitalismo e história: a escola escocesa
■os aiutórés latinos e gregos, uma boa parte da literatura histórica do-
seu tempo e os teóricos das ciências sociais, como Lpcke,Montes--
y quhm.Hume eVoltaire.* "Foi em Roma, em 15 de outubro dé Í764,
meditando entre as ruínas do Capitólio, enquanto os Frades descal
ços cantavam as vésperas no templo de Júpiter, quando me veio
pek i primeira vez â imaginação a idéia de esc :rcver a decadência e
. quç da da cidadcVComeçou a tarefa em 1768 ê o primeiro voliime
da 1 Decadência e queda do Im pério rom ano apareceu, como já se
. diss e, oito anõs depois. Seu êxito foi imediato, a ponto de esgotar-se
três edições em pouco tempo. "Meu livro - diiá Gibbon - estava em
tod: is as mesas é em quase todos os toucadon ;s". Os cinco volumes
rest antes iriam aparecendo até 1788, prolon gando o relato até a
que da do Império do Oriente, nos albores dos tempos modernos.A
fort úná do livro se deve em boa medida à mes tría de. Gibbon çomo
esci itor; porém o vajor perduíável em sua obr a tçm-se que buscá-lo
em outras razões. Fól o primeiro qüe acertou i ria reunião das con
cepções teóricas dos "filósofos" com o trábalíio dós investígadorès
eruditos tradicionais: qúe aplicou á mentalidade do século XVm ao
saber do XVII. Úm historiador da antiguidade como Finley afirmou
que seú livro foi "a primeira história moderna de qualquer período
da antiguidade (e provavelmente á primeira história tout cpurí)''.'0
Na obra de Gibbon, a consideração da decadência de Roma
afasi ta-se dos tópicos usuais e se vê confronta) da com uma visão do
projjresso econômico, de clara raiz britânica, que aparece como vx-
gor< )so contraponto. No texto de excepcional:interesse, no capínüo
38, Oibbon detém-se para considerar as causias; da ruína do Império
do <Dcidentc, e nos oferece um esquema, do progresso humano a
part ird o selvagem primitivo, "nu tanto de mei utè còmo dé corpo é
privado de leis,artes,idéias e quase sem linguíigem", numa situação
que deve ser "o estado primeiro é universal do homem"! A partir
dessie ponto, acompanhamos a sua ascensão "mandando nos ani
mal'>, fertilizando a terra, atravessando o-ocean o e medindo os
céu!s’\Tal progresso foi irregular e variado, e e m muitos momentos
tem -se visto fases dq queda que pareciam pô-lo êm perigo. Porém, a
88
ca pitalisnio e história; a escola escocesa
' 8Si
capítulo 4
* Gomo disse Hobsbawm: "A.riqu eza das nações deAdani Smith deve ser
lida antes de tudo - como fizeram seus contemporâneos - c omo um manual
de economia do desenvolvimento >,escrito numa época em que o desenvol- :
vimento só poderia ser capitalists! O que o autor tratava d e fizer, era iden
tificar a natureza do processo histórico que conduz ao des envolvimento, ò 4
:
90
capitalismo e história; a escola escocesa
* "De acordo com a ordem natural das coisas', porta nto, a maior parte do ca-
p ital de cada sociedade em crescimento é dirigidt >, primeiramente, para a
aj incultura c, finalmcnte, ao- comércio exterior Ess a òrdemde coisas é tão
n aturai que foi observada em certa medida, segucu do eu creio, em cada so
ciedade e cm cada país. Algumas de suas, terras dc-.vem ter sido cultivadas
at ates de que pudessem estabclecer-sc cidades cor isideráveis, e alguma cs-
— p écie de manufatura de tipo primitivo deve tpr-sic: desenvolvido antes de
q ue se pudesse pensar em empregar-se no comei cio exterior" (A Smith,
A n inquiry intó the nature anda causes o f the W'eaítb o f natíons, m , 1).
capítulo 4
92
história:-a escola escocesa ; \ v
94
eapi talismo e história; a escola escocesa ^ -
~ *— — 7 ...............' ~ — ----- r :— i..................... ........... .................. i . . ’ ' • - • -
mes tua ilustração que havià admirado nos seu s anos de juventude,
qüaiido ainda nâo previa ondepodla chegar. Ò próprio Burke não é
-senâip um político w big, tãó próximo a Gibbo a, que rechaça o "gq-
vermo democrático", como Adam Smith que condenava "às desor-
. den: > da revolução". Por fim, o pior do que lainçavam na cara dos
frãri' ceses era de que .estavam pondo em perig< o a inviolabilidade da
propriedade burguesa. :
Edmuhd Biirke (1729-1797) èra «im poli tico irlandês mais ou
men,os liberal, cujas opiniões sobre a economia eram muito próxi:
mas das de Smith - segundo ele próprio, Sraitlr reconheceria -, ain
da q ue convertesse a "mão invisível", que harm onizava os interessès
indrriduais para maximizar o bem comum, na nnãp de Deus. Suas Re-
1 flexi Jes sobi-e a Revolução da França (1790) d>eram-lhe fama np seu
tempo e voltaram a dar-lhe na segunda metade: do século XX, quan-
; do õ s ideólogos clã "guerra fria" acreditaram vé r héie um precursor,
f a quem Se podia usar em apoio da cruzada antti-bolchcvique, o que
deu lugar a uma extensa literatura sobre a sua obra, dé escasso inte
resse histórico, porém muito reveladora, quahidò põe a descoberto
as raízes de tanta erudição acadêmica, neutra c: desapaixonada;13
Burke,admitia que a organização sòcial fi ancesa tinha defeitos
- corno o de não dar o valor devido aõs "proprietários" -,pprcm pen
sava que isso poderia corrigir-se com uma série dejeformas, como
í havii am feito os ingleses em _l688.0 mal era qúe: do outro lado do ca
nal mão se havia seguido essa estratégia e as coisas estavam sendo le
vada s de tal modo, que talvez resultasse difícil c letê-las a tempo, para
pôr a propriedade privada da terra protegida i das aspirações dos
camponeses (o que poderia despertar na Inglaterra os ecos emude
cido: s das demandas radicais "da sua revolução), j Mais da- métad.e do li- •
vró dedica-se a dar voltas em-tomo desse problema.Tíida começou
com o confisco da propriedade eclesiástica, depreciando "a doutrina
da p rescrição"1,que sustenta que o simples desjfrute da propriedade
por :um tempo suficiente deve pô-la protegida das disputas sobre a
sua 1 egitimidade. Se se põe em dúvida a prescrii;ão, "nenhuma classe
de p ropriedade estará segura, enquanto se con verte em objeto sufi-
. cieni te,para tentar a avidez do pobre indigente". Os camponeses ne
garão os direitos dos donos das terras que cülth'am e lhes dirão "que
a suc :essão dos que têm cultivado a terra é a aul .êntica genealogia da
propriedade, e não uns pergaminhos podres".13
Com essa defesa da propriedade privada contra azevólução,-
n ão! saímos do âmbito fixado por Locke - para c artiipar tocia basç de
capítulo 4 í-
96
e história: a escola escocesa
ol pensamento
Mstórico
da revolução
francesa
V? ... ^
* a medida em que a Ilustraçãó era. um programa para a V - ■■ 1
reforma da ordemféudaí,encontxqu-se diante de um dilema, quan-
dò demonstrou que as reformas possfvels'eraim msuficientes,-e que:
as mais-ambiciosas não ]podiam vencer as resistências internas doíi
privilegiados, como se vi u com o intento por jparte deTurgot de im
plantar o programa fisioerático. Tinha qtie escolher entre renunciai*
,à refòrma.e voltar à sustentação pura e simples da ordem estabele-•
dda - que é o que farão o s ilustrados de muito: 3 países europeus, ins •
truídos. pelo ocorrido n a. França.-; oú tocar em frente, vencendo
toda oposição, o que sign lificava entrar pela via 1revolucionária.Ap fe- •
lar dos ilustrados, mostiamos já que muitos deles, desenganados
ante os resultados do despotismo, acabaram por-radicalizar suas
propostas. Dessa forma preparava-se seu trânsito para posições re
volucionárias. " ' ' •*:
Da experiência da s resistências interna s à reforma nasce um
dos tiaços mkis originais da historiografia da rr :volução. que á distin
gue claramente das concepções da escola escocesa. Esses homens
admitem também que a um grau de desenvo lvimento econômico
j c, . ■ correspondem determinadas formas de organdzaçãó da sociedade,
de leis e depolíticajporé m.diferentemente do is teóricos escoceses,
não acreditam que baste o crescimento econô:mico para engendrar,
numa evolução paralela, as mudanças sóciais.Também dão-se conta .
de que as forças ligadas às formas de organizaição caducas.resistefti
ao séu desalojamento do> poder e tratam ide conservar a velhá or
dem', ainda que seja à custa do crescimento ecòhôtnico.De modo
que chega um momento em que só a ação política - a revolução -
99
capítulo 5
pode desbloquear o caminho e íat :ilitar, com isso, o pró] prio progres
so econômico. De simples epifch' ômeno da economia, como ha es-
. cola escocesa, a política converte-se no terreno da açã ò mais trans-
- 1. ' cendente dos homens.Assim é com o os historiadores ida revolução
\ chegaram a descobrir os conceitos de classe e de luta de classes.
Há um outro traço importa nte que separa estes 1historiadores
dos seuã colegas insulares. Com o'a sua reflexão iniciou-se no seio.
de uma.sociedade que não era ainda capitalista, que nãojiayia en
trado pelo caminho irreversível que estava seguindo a economia
britânica do século XVin, são colc jcadas a eles duas saí<las possíveis.
Uma - a mais "normal" t extensa - consistirá em buscar a repetição
do esquema inglês, limpando o cí iminho para o capita lismp. Porém
haverá também os que pensam que existem outras possibilidades
de desenvolvimento econômico >e organização social, que não pas
sam pela expropriação dos pequt mos camponeses, mas pelo seu re-
■ ~ "forço. Como esse programa alterniativo não conseguiu se impor, cos-
"" ■ rumamos còlocar nos que o defemderam.a etiqueta d e fabricantes ■
de utopias, e nem sequer nos colocamos de acordo se eram ou nãò -
retrógrados (como sustenta a ma ior parte dos que crê em que o ca
pitalismo e a industrialização são etapas inevitáveis numa linha úni-
ca de progresso), se buscavam o mesmo que os outros por cami
nhos distintos, ou se propunham, fórmulas que tivessem permitido
ir mais além do que as b r i t â n i c a s -' •_ ■ " .
. Na base desses projetos alternativos estava a id éia de apoiar-
se nas massas camponesas para construir uma socledside igualitária
ou que, pelo menos, preservasse, na medida do possível, as formas
de trabalho e de apropriação em comum. Uma possibiilidade como
essa era plenamente rechaçada jaelos membros da escola histórica
- escocesa, pára quem, a desigualdade econômica e a propriedade
privada eram características necessárias do próprio p rocesso civili
zador. Porém, numa sociedade com o a francesa do século XVTO,
onde os elementos de vida agrícola comunitária eram ainda muito
importantes, resultava difícil sustentar semelhante pro posição. Mon
tesquieu havia dito:
' / \ 'í
100
p i pensamento histórico da revolução francesa
PC
r as artes pelas mútuas necessidades dos r icos e dos pobres
igual repartição da terra foi que tornou R oma, cedo, capaz do se u
engrandecimento.
101
capítulo 5
1
suas forças, tí dento e idade". Que i déias desse gênero nãò eram es
tranhas ao campesinato francês, mostrá-lo-á Charles-Roibert Gosse-
lin, homem d<e extração camponês; a, que, em 1787, suste nta que a fe
licidade do. liomem não exige o retorno ao estado cie natureza,
como supunlãa Rousseau. Que a vinica coisa de que se necessita é
que os campios "sejam repartidos de tal modo qiie todos possam,
trabalhando, encontrar assegurada a sua existência". Rara isso não
são precisos complexos planos e:conômiço-polítiços:'"O caminho
mais curto p ara destruir a desigutddade séria voltar a p ô r todos-os 1
bens em comum, para fazer uma jrepartição igual, a ex< ímpio do le
gislador de E Isparta. Cada um vivei ria feliz com a sua pa rte" .3
-Æ
Es.sas idéias, como já se disise, apóiam-se na real idade da co
munidade agrária de meados dosdculo XVIII: uma com unidade que
se definia "p or uma certa estrutura religiosa e adminií.tratiya e, so
bretudo, por' um.sistema econômico e social fundado no jogo das
obrigações c xmnmitárias, na limitação dos direitos de- propriedade ' ■
privada e na existência de umá teirra de exploração colistiva". A pró . '-t
. »'•’•
pria reação senhorial contribuiu para unir os camporu ;ses contraio
feudalismo, ■encobrindo as difere hças que pudessem existir entre
eles. Diferen ças que reapareceriam quando, uma vez conseguida a
abolição das obrigações feudais, as camadas rurais niio ligadas ao
processo d o desenvolvimento capitalista reivindicassem ir mais
além, como os homens da aldeia de Seyne, que, na primavera de
1793, diziam que, uma vez liquidados o rel,o clerò e a nobreza, "fal
ta suprimir o s grandes proprietários".* Pouco importa como defina
mos essa so lução alternativa que: não conseguiu impl antar-se: pro
cesso de co ntenção do desenvollvimento capitalista, i ria revolucio
nária ou via norte-americana. O interessante é que tampouco foi
deixada no >esquecimento. Soboul opina que a eliminação do feuda
lismo debili tou os laços internos que haviam unido o campesinato.
É certo que isso bastou para sepiirar da luta comum a burguesia ru
ral, porém esta era ainda minoritária. Penso que a crisie agrária que
* se seguiu às; guerras napoieônicas - quando os preços dos cereais e
* O que ' é justamente o contrário do que diria ura bom burguês, como
Louis-Séb astien Mercier, cinco anos niais tarde: "Depois de ter destruído o
feudalism io, a nobreza, os pariamer itos, e o clero; depois de t :_ervarrido a Sor
bonne, õíi frades e as monjas, c reformado o código político, civil e crimi
nal, creio que já foi feito bastante1' (citado por Jeffry Kaplow na sua intro-
tfução à e :dição abreviada de Louis-Sébastien Mercier,Xe tableau de Paris,
.Maspero, Pans, 1979,p .7) - ... ___
\
102
o pensamento ídstóricoúi ia revolução francesa
104
o pensamento histórico da revolução francesa '
- ■ . i:
105 ‘
capítülQ 5
cm que uma classe socii d,â que controla o se tor dominante da ecc>-
nomia e beneficia-se da s regras de propriccL ade existentes, cxcrç; i
uma hegemonia no plan o político e ofereça r csistência ao seu alija.-
mento do poder. Com o que impede que o m arco jurídico e institu -
donal possa adaptar-se ; is mudanças que se experimentam na eco
nomia e deve acabar sei ado deslocada ou dei -rubàda por uma açãc)
política.* Essa çoncepçi iq da "revolução política": como condição
que permite abrir camir lho à mudança econômica é ilustrada com
rim exemplo bastante el oqúerite: .. . *’ ' _
-. v ,
* "Os que estão em posse :ssão do poder, pela natu ireza das coisas,'íàzem as
i
leis para exercê-lo e para conservá-lo em é
suas mi ios; assim como os iiji-
périos se organizam e se constituem. Pouco a pouco, os progressos do cs-
tado social criam novas ft irmas de podei; alteram a s antigas e mudam a pro-
porção das forças.As ant igas leis hão podem còn tinuar subsistindo então
por muito tempo; como i rxistem, dc fato, novasai ítoridades, é preciso que
se estabeleçam novas le ís paia fazê-las fonciona r e reduzi-las a sistema,
Assim os governos muda m de forma, algumas ve zes por uma progressão
doce e insensível; outras, por comoções violentas" (Barnave, Introduction
à la révotution fmnçaist ?, Armand C oIin,Paris,lí)71,p.3j:
107
/ .
capítulo 5
108
o pensamento histórico d; a revolução francesa
• Ç-
Falando deThierss e de Mígnet, Letebvre dirá que 'eram jor^ >
nalistas, ocupados em cltieio na luta que a bi trguesiá levava contni
os antigos privilegiados para salvar a obra soicial da Revolução, tal
como a havia consagrad o a Caíta de 1814. Fsizlam obra política ao .
defender a Revolução de: 1789, a revolução 'burguesa", liberal e cen -
sitária,e legitimavam p or antecipação a de Í 830".AugustinThierry
r\ -
(1795-1856) confessa, n o prefácio as suas Ca rtas sobre a história
da França, qiie "em 181.7, preocupado pelo ’ vivo desejo de contri -
buir pela minha parte, cc im o triunfo das.idéiã s constitucionais, pus - -
me a buscar nos livros d é história provas e argumentos para apoiai ■
iltíQC :
as minhas crenças políticas". Por esse camihh o chegou a descobrii•
: $rzr' Hume è interessou-se p e la revolução inglesa, à. qual dedicou uma sé -
rie de escritos, publicados entre 1817 e 1820, surpreendentes pelat
sM.jY sua profundidade e luck iez. Porém, além dess a- preocupação políti ■
ca imediata,Thiérry soube propor os fundam cntos de uma renova
ção da história da França ç segundo as mudanç as que haviam se pro--
..duzido em sua sociedado.Thiértyápercebia-se de que haviam h e r
dado uma história composta para legitimar o aintigo regime e qudti-
nham que refaze-la por completo, se se qut:ria'que cumprisse a.
mesma função com respeito à sociedade burguesa. Denunciava a.
sua redução a uma sucessão de biografias de monarcas - a maioria
dos quais era qualificada abusivamente de re is de França, quando ’
não eram mais que chefe :s de povos germânic os, como esse Clovis, -
a quem propunha que liòssc chamado, mais apropriadamente, de
Chlodowig - agrupadas pior dinastias. À históri a dos reis e aristocra
tas que até então se havií i escrito - e que não p lodia considerar-se le
gitimamente como histói ia da nação francesa - ,* havia qüe acrescen-
de l’histoire du protestai itisme fiançais, Paris, 19‘ 76, p. 301). Essa superva-
lorizaçào da influência d os historiadores da Restauração sobre o maras
mo parte, entretanto, de Plekanov, que lhes dedi cou o segundo capítulo
do seu Ensaj'o sobre a desenvolvimento da concepção mohlsta da
história (1895). O que não significa que esses h nmens não tenhãm .sido
importantes como transmissores das idéias que estavam se elaborando de
um e outro lado do canal da Mancha, como demo nstram as cartas e as no
tas de leitura de Marx e i i c Engels. " ' 1
. ** "A história da França, tí ü como a tem feito os és<critores modernos, não é
a verdadeira história do país; a história' riãcional, a história popular: esta
história jaz ainda sepuitnda sob o pç das crônicas contemporâneas, de
onde nossos acadêmicos elegantes não cuidaram de tirá-la.A melhor-parte
dos nossos anais, a mais séria e instrutiva, está por ser escrita; nos fãlta a
-V
109
capítulo 5
história d<as cidadãos, dos súditos, ; i história do povo. Essa hi Istória nós apre-'
sentaria, a .o mesmo tempo, exemp 'los de conduta e o intei esse e simpatia
que busaunos em vão nas aventuras desse pequeno número de persona
gens privi tlegiados que ocupam is oladamente a cena histt irica. Nossas al
mas se se: ntiram atraídas pelo dest Ino das massas de home ns que viveram
e sentiram como nós (...); o progresso das massas populares até a liberda
de e o bei n-estar nos pareceria mai is imponente que a marc ha dos conquis
tadores c as suas misérias, mais co movedoras que as dos reis destronados'1
CA.Thierrj /,"Première lettre sur l’hi stoire de France", 1820, it îD Ix ans d'étu
des bistoi iques, Paris, 1846,pp. 2'>726Z),
• . : / ; '
o i lensamento histórico c la revolução francesa - . í"
111
capítulo 5
por exemplo, que será reprimi ida porThicrs Marx: e Engels reco
nheceram essa filiação, ao escrever, em 1844:
j * "A revolução francesa não é mais que o sinal de outra irevolução maiòr,
que será a última (,..).A lei agrári a ou a partilha dos campos foi a vontade
imediata de alguns .soldados sem princípios, dc algumas povoações movi--
das por Sieu instinto mais que pel]a razão, Nós tendemos a. algo mais subli-
i me e mai s equitativoVo bem comt, un ou a comunidade do. t bensl Não mais
propried ade individual das terrãs, a terra não é de ninguéin. Reclamamos,
queremo s o desfrute em comum dos frutos da tena: os fru tos são de to
dos, Ded aramos não poder continuar sofrendo que a imensa maioria dos
homens itrabalhe e se esforce no serviço para o prazer da; pequena mino
ria (...). Desaparecei de uma vez, distinções indignantes entre ricos e po
bres, entr e grandes c pequenos, ei atre amos c criados, entr e governantes e
governados. Que não. haja mais d íferenças entre os homens que as da ida
de e do sicxo. Posto que todos teiiham as mesmas hecessiidades e as mes-,
más iaculldades, que não haja pana todos mais que uma s ó educação, que
uma só dasse de alimentos Povo de França, abra os olhos e o coração
• à plenitui Je da fclicidadei reconhe ça e proclame conosco: a República dos
Iguais" (1 isse texto, cujo autor é S; plvain Marechal, é citado pela versão pu
blicada im Buonarroti, Conspiration p o itr Végalüe dite.de Babeuf, Éd. So-
ciales.Paiis, 1 9 5 7 ,0 ,PR94-98). - - ' . .
o pensamento histórico da . revolução francesa _ .
‘ -\ '! r'
lico, nem um intento dei ítro da revolução, mais sim o programa de
mm nova revolução "qut: será a última".1' . - . .
—~ Paralelamente aos dessa trajetória, encontraremos òs repre-
serilantes de um certo "socialismo francês", como Louis Blanc
(1811-1882). Na sua His tóría de d ez anos, pareceu por uns mo-
. mestos compreender a ; armação social da ev olução Histórica, po
rém acabou demonstran do que.entendia tão mal as coisas nef ter
reno do estudo da históri ia,* como nó da liita |jolítica, já que foi um
dos maiores responsãvéi is de que as forças p opulares e operárias
que participaram da revi olução francesa de 11348, fossem conduzi
das áo fracasso por um; i via morta. Em cam inhos paralelos tam
bém, talvez mais próxim os, encontramos os ] pensadores do socia
lismo chamado utópico - que socialismo n ão' mereceu até agora
essa qualificação? com p Saiiit Simon (1760 -1825),'que antecipa
- a plenitude do capifaÜ! smo industrial, porém trata, ao mesmo
tempo, dê atenuar os ma les corn os princípióis de um novo cristia
nismo. Ou como o Fouri er (1772-1837) que item antecipações de
surpreendente lucidez si obre.a família ou sobre a necessidade de
evitar as destruições de recursos naturais a que conduz a expan
são capitalista. O caminf io mais direto, entre carito, é o que, nasci
do de Babeuf, conduz p< ir Buonarroti (1761-1837) à ação revolu
cionária européia da prir neira metade do séci lio XIX. É o cantinho
em que acharemos Augu sto Blanqui (1805-lí 181), que sabe ler na
evokiçâõ histórica a.prof ecia de que o futuro será do comunismo:
"O estudo atento da geol ogia e da história re\ ela que a humanida
de començou pelo isol; unento, pelo Individ lualismo absoluto, e
que, através de uma larg; t série de aperfeiçoa] méritos, deve chegar
• *Blanc vê muito daramei ate, por exemplo, que "n a mágica história de Na-
poleão e o povo armado,: i boiirgeoisie se desvane- ce, digamo-lo assim: mas,
olhando com atenção, per cebc-sc quc-Napoleão co; ntinuou a obra da Assem
bléia constituinte em mar éria de comércio, de indi ístriae de crédito públi-
a>; conservou e favorecei u a tirania oculta sòb o princípio da divisão das
propriedades deu, em luma palavra, vigor a qua ntó forma hoje a base da
dominação que exerce a t bourgeolsle" (L Blanc, H. ístória de dez anos, Ob
teres, Barcelona, 1845,1, p ■.4). Porém logo emenda tudo, quando, depois de
haver mostrado.o enfrcnt amento do partido feudal e do burguês nos anos
di Restauração, nos diz: "a luta não existia, pois, mai s que entre as idéias feu
dais e os interesses boui%;eois" (ibid., p p ,55-56). Siua vida política é seme-
Utante nesse alternar de ir tomentos de lucidez e erros desastrosos:
113
capítulo 5
* Uma forr na muito mais trivial de utilização da história cc imo apoio das
idéias com unistas é a que pratica C abet, usando uma lista d e supostos co
munistas ilustres - com erros monstruosos - como argume nto de autori
dade: "E se te disser que todos os homens que são a honr.t e a tocha da
humanidac le, Socrates, Platão, os reis Lieurgo,Agis, Ceomen o,Jesus Cristo
mesmo, todos os padres da Igreja, o chanceler da Inglaterri i Tomas More,
Campanell a, Locke, Montesquieu, Rousseau, Helvétius, Fé nelon, Fleury,
Morelly, M: ibly, Condorcet, etc., eram comunistas? - De verdade? - Que po
pulações li tteiras, todos os cristãos dos primeiros séculos, i nilhares de al-
bigcnsçs e valdenses na França,milhares de lolardos ha Inglaterra, exérci
tos de anal oatistas e irmãos morâvi'OS na Alemanha eram co munistas?'' (H.
Cahet, Dot txe lettres d'un commu niste à un réformiste si ur la commu
nauté Pre, mière lettre. Ddanchy, P; iris, 1841, p. 2)
fc-
o pensamento histórico da revolução francesa
'v.
hi stória e
eo»ntra-rév<olução:
1814-1917
118
histó ria e contra-revolução: 1814-1917
entre 1848 e 1861, que não deixa de ser uma história da revolução
de 1688 e do reinado de Guilherme Dl (não abrange; mais que de
1685 a 170 2), por mais que, em :>ua intenção original, tenha sido d e-,
prosseguir até a reforma eleitoral de 1832, completam do o ciclo que
la "desde ã revolução que trouxrí a harmonia entre a coroa e o par
lamento à i evolução que trouxe a harmonia entre o piarlamentoe a
nação". O { jonto de partida era perfeitamente; coerente com o seu
propósito: mostrar que p acordo estabelecido entre a monarquia e
o parlamer íto, em 1688, havia p ermitido evitar os gn ivés riscos do
radicalisme >e da anarquia - uma das passagens mais v ivas da obra é
aquela em que descreve a sitiiaqão 3a cidade de Londres entregue
ao "selvage :m e ignorante populacho", nos momento s entre a fuga
de Jacques Q e i chegada do novo rei, Guilherme UI - é, ao mesmo
tempo, ton iou possível a constri ição de uin sistema p>alítico estável,
condição cio progresso britânico: "Sob os auspícios 'de aliança tão
estreita eni re a liberdade e a pre lem, cresceram de tal modo a pros
peridade, a . riqueza e o bem-estar, que não há exértip Io de progres
so parecid'O nos-anais da espéc ie humana". Assim Mácaulay podia
acabar a p rime ira parte da suá obra,'aparecida, em 11848, com um
canto à est abilidadè social britânica em meió de uma Europa sacu
dida pelas revoluções, ainda qu< ; fosse fechando os o lhos à ameaça
potencial tio cartisnio* Esse ho mem»-d£fensor do liberalismo e da
industrial« ação, bom escritor qme admirava os romances de Scott -
uma admiração que compartilhava com ò historiador fiancés
Thierry -, o ferecia à sociedade b ritânica de meados d o século XIX o
J
parc ialidade é a caracteri stica da Historiografia i légitima, comotam- &
bémi o trabalho é realizad o por homens que se reuniram com o uni- \->r
f
co objetivo de aumentar o conhecimento éxato". A felácia acadêmi- ’ -jt ■
ca d a imparcialidade foi prodamadasolenemerite. O passado está aí, tT
nos documentos, esperan do que os historiador es recolham os fetos,
. •os la pidetfl - dando-lhes fó rma narrativa - e os sir vam ao públicoA es-
tes 1 lomens nem sequer s e lhes ocorre pensar que a sua concepção
da st nciedade condiciona £i sua prática de histor iadores, desde a esco-
■lha dos "fetos rélevantes", até a forma de apresi :ntà-los, êncadeando-
os d e modo que Conduzam "espontaneamente" à ordem social pré
sent! ejggitimada assim pe la "iustória".6 f rv -
A assepsia acadêmica explica porque n;i historiografia britâ
nica desaparece quase po>r completo aquele gtinerõ de reflexão so
cial, sustentado entre a e conomia e a história, que foi próprio de
Hume e de Smith, e que não feltava nem em Wlacaulay* Quando al
guém alheio ao sacerdócio acadêmico dos.historiadores profissio
nais o tente, como sucederá com Bückle (18211-1862) em meados
do siéculo, o estamento inteiro se lançará sobne o intruso para des-
122
histó ria e contra-revolução:: 1814-1917
* "Nesses dias memorãvei:; fez-se uma grande luz <:•divisei a França. Tinha
ai tais e não uma história. .Homens eminentes a tinham estudado, sobretu
d o , desde aponto de vista político. Nenhum havia penetrado nos infinitos
di; talhes dos desenvolvimentos diversos da sua ath /idade (religiosa, econô-
rt lica, artística, etc.). Nenh um a havia abraçado coi n a atenção na unidade
vi va dos elementos naturais e geográficos que a'constituíam. Eu fu io p ri-
n: íeiro a vê-la como um ah na c como uma pessoa" Q, Michelet, Histoire de
Fi <nnce, A Lacrobc, Paris, H876,1, p.-l). - .- _ V-
capítulo 6
124
histó ria e contra-revolução:: 1814-1917
cia às formas dc organiza ção social, para deixar só "a marcha pro-
- gress iiva do espírito huma nó", como álgo autor íomo que basta para
explicar a mudança lústóirica. Essa evolução iri dependente do pen
samento ilustra-se com "u ma grande lei fimdarnental" do desenvõl-
vimé nto intelectual da humanidade, que cons iste em afirmar que
,cada ramò do conhecime nto passou_sucessiva mente por três esta-
dõs 1Teóricos" diferentes: "o-estado teológico ou fictício, o estado
metafísico ou abstrato e o estado científico ou ]positivo". No primei-
rõ7bl uscam-se as explicações na "açãò direta e contínua deagentes
‘sobrt maturais"; no metafís ico - plenamenté idei itificado" com a Eus-
tração - os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstra--
tas, S ó o terceiro é autenticamente científico: o espírito humano re-
nunc ia erido a 'co nhecei: as causas. íntimas d<asJenômenos" òu a
tratai: de averiguar "a, orig em e-destino do iinfr verso", para concen-
trar-s e "em descobrir,.pejo. jisQ.bõm,cpmbinadá dá jazão e da obser-
v a ç ã t a s suas leis efetivas Claro que esta êxpi asição, de aparência
• tão nrcionalista, acabaria incompleta seorhitíssomos as suas contra-
■ partidas: como.que "as mulheres e os proletários. (...) não podem
- nem devem converter-se e:m doutores", mas sirti que a boa nova en-
sina-1 hes nã forma de catec :ismo de uma religião nova, com o seu ca-
lendáirio, os seus santos e o seu sacerdócio. O que tampouco deve
surpreender tanto num homem para quem o soberano mais ilustre
do se u tempo, notável por1seu "judicioso empirismo", era o czar de
todas as Russias, defensoir de um sistema social que conservava
comc) peça fundamental a servidão camponesa.“ —
Sc aceitamos a construção de Comte, e a sua hierarquização
das c iências, temos outro jiogo de regras - seme lhante ao da econo
mia smithiana, porém nrais diretamente preocupado com a ação
cpiiti a-revolucionária - p aia fazer-funcionar á r nãquina da socieda
de, se:m nos metermos em maiores profundidaidês. Ao historiador. -
uma 'vez que lhe tenham sàdo dadas as leis da «solu ção.social, não
lhe n.-sta mais que ãplicá-üis à investigação con creta, usando meto-
. dos "icientíficos" - pelo qu<e se entende "semelf lantes aos das ciên-
çiasmaturais".A história po sitivista dara, por isso mesmo, pouco que
~resen har. O melhor reside nas intenções de liga: r os fenômenos cul
turais ao conjunto da sociedade, como faraTaiine (1828-1893)- Po*
rém a. obra mais ambiciosa deste, As origens da França contempo-
rârieci, aparecida entre 1876 è 1893, é pouco mais que uma.reação
de teirror ante os acontecimentos da Comuna, que o leva a um in-
tento de desmontar a história da Revolução fra tricèsa, antecedente
125
capítulo 6
126
históma e contra-revolução: .1814-1917 . .
127
-capítulo 6
128
Yyt-a -
CrO4 j. - w
çu s& x -
história e contra-revolução: 1814-19X7
129
J
capítulo 6
* "A atenç ão do historiador deverá dirigir-se (...) aos povos jmesmos que re
presentai) 1 um papel ativo na cenai da história, às influências quê exercem
um sobre o outrò, às lutas que susi tentam entre si, âs trájetc irias que desen
volvem d<;ntro dessas relações pac íficas ou guerreiras" (L. v'on Ranke, Pue-
blósy estudos ert la biitórla m od erna, Fondo de Cultura 1Econômica, Mé
xico, 197í>,pp. 518-319). •■
130
-C >
131
0- v: 5. ! . X •Y '< S c í v ú k ^ . 1&&Z- É7r\L* ■-\íu~^Lçç^>
A guen á não é só uma necessi idade prática: é tam bém uma 'neces
sidade i teórica, uma exigência da lógica. O conceito c le Estado im
L plica o conceito de guerra,poisto que a essência do Estado c a po
tência. O Estado é o povo organizado em potência soberana.Tem
com o prim eira missão a de ansegurar-se a sua própriia existência,
de prot :eger-se contra os Inimigos interiores e exteriores,22
* "O poder por si não é outra coisa quê a forma dc manifesi iar-se üm ente
espiritual; 1 im gênio próprio dotado de vida própria, que se 1ajusta a condi
ções m'ais c >umenós peculiares e qi ie cria a sua órbita própr ia de ação” (L
von Ranke, Publos.y estados, p. 520). .. -
132
história é contra-revolução: 1814-1917“ - ^ *. ü ,-r-, . i U
-—,—, ............................................. .................. ... ^ Urt-VL£t'V-t-C--i_ 0jLf''Ai q\_
■>L-vj -y ^a - ip--j
direito do Estado desproteger-se contra os inimigos interiores", do
_Tã tAc>^c^*,s
qtie os governos alemães fariam - e continuam fazendo na atualida
(j>Uj
de - um amplo, porém mttito discriminado, em prego. v ■"
No começo do séc ifio XX, a crise dio historicismo era eviden- p|
te, o quéexplica que surçfissem uma.série de tentativas.de superar £
suas limitações'no terren o concreto dá histótiia.áo mesmo tempo
que resultava completam'enté escanteado ãò~c la teoria econômica,
depois de uma "disputa dle métodos", que conduziu a reivindicar a '
primiazia do teórico.” As correntes filosóficas que propunham a rc-
- visão do historicismo, o f áziam com o fim de legitimá-lo, c omo se
perc ebe no fato de que ní io se interessavam en 1 absoluto pelos pro
blemas concretos da investigação - nos quais atceitavam as propôs-
tas hiistoricistas -, mas sim úniça_e. exclusivarm ;nte pelos da funda
m entação filosófica dos métodos. Devolviam, assim, a sua abalada
confiança ao historiador acadêmico, que se limitava a desempoeirar -
■; e reruiir "fatos históricos", éxplicando-lhe qúc o que rsfiívá fiiTcnHn
. não só era "científicoli.aj inda que fosse dentro de uma ciência de
orde tn inferior ^ como tar nbém a única forma 1ícita de"trabalhar no '
camjjo da História. Porém -o resultado final, dif icílmente previsível,
foi q ue minaratffós cimen tos mesmos do histoi -icismo e ajudaram a .
abrir o caminho pelo quál se imporiam novas tendências nas ciên
cias ;soeials -o complexo integrado.pelo marginalismo,funcionalis
mo «e estruturaiismo que agibariam transformando a própria
histó ria acadêmica.
Nessa linha se situ a o neo-kantismo da escola de Marburg,
cujo teórico mais representativo, é Heinrich f Ückcrt (1863-1936).
Para ltickcrt, a realidade empírica é múltipla e inabarcável na sua to
V; talidí ide.A forma na qual a; »diversas ciências eni rèntam-na é difêren-
te.As ciências da natureza o fàzém.còm um mét òdo "generalizador",
que usa os conceitos de lei, gênero e espécie, com o que conse
guem um conhecimento f;eral da realidade, enquanto que o indiví
duo, com tudo o que tem de único e de irrepe tívei, deles se afasta.
Isto lé, em contrapartida, 'O qtie recolhem na cua conceituação as
ciências da cultura, entre tis quais figura a História, auè incorporam .
além disso a noção de "valòr",ausenteinas ciências da natureza, fsso
hãcTqiier dizer que a Hisitória prescinda totalr ndnte dp geral, que
reaptirece de duas maneiras distintas: situando o individual em seu
meio (no seu complexo liiistórico) ou estruturando-o no tempò (nó •>
seu desenvolvimento). Só que,nume noutro caiso, "meio" e "desen-
! volvi mento" são examinac los de forma individittãl; não há "leis" na
133
, capítulo 6
134
história e contra-revolução: 1814-1917
capíítulo7
__*
o materialismo
. - '
histórico e a
; ■ __ - - ' . criítica do -
capitalismo
137
A capítulo 7
>■ .
capítulo 7
* Pelo que s e refere aos estudos sobr e uma suposta "teoria da história" - que
: nunca foi ft irmulada isoladamente o amo tal a reprovação va üe para todos,
desde o Ensaio sobre o desenvolvimento da concepção monista da
história, de: Plekanov, publicado em 1895, até as recentes e c :stimávcis ten
tativas, com io sãoWilliam H. Shaw, M ãrx‘s'theory ofbistory, S tanford, 1978,
onde a com cepção mandana da histi ária nos é apresentada cc imo um deter
minismo que foz o progresso hum ano depender da evolução das forças
produtivas, ou GA. Cohen, Karl Me irx ‘s tbcory o f histoiy. A, defence, Cla-
rendon Pre ss, Oxford, 1978, que fo;: um meritório esforço para analisar e
definir cads i elemento da terminolof ;ia marxista, sem que ess a operação de
dissecação complete-se com a adeq uada visão dinâmica do conjunto (por
mais que uj m cidadão norueguês,}. I iister, tenha se revelado dlizendo que “é
sem dúvida 4 o melhor livro jamais e scrito sobre o materialis: mo histórico",
in Annales,, 3 6 ,198T, no. 5, p. 746). , . .
- .’ , , ^vssaieu
144
o rruiterialismo histórico e a critica do capitaUsih o
O resu Itado geral a que chegue ri e que, uma vez obtido , serviu-me de
guia p:ara os meus estudos, pode formular-se brevemisnte assim: na
produição social da sua existência os homens entram em relações
determinadas, necessárias, ind ependentes da sua von tade; essas re
lações de produção correspondem a um grau determiimdo de de
senvolvimento das. suas forças produtivas materiais. O conjunto des
sas relações de produção constituem a estrutura eco nômica da sò-
ciedad e, a base real sobre a quial se eleva uma superes trutura jurídi
ca e pt >lítica, e à qual còrrespo ndem formas socials dei :erminadas de
consci ência. O modo de produção da vida material condiciona o_
proccj an da vida social, politic a e intelectual em gerai. Não é a cons-'
cienci: i dos homens a que det :ennina o seu ser pelo icontrario, seu
ser social é o que determina a sua consciência. Durante o curso do
146
o mi iterialismo.histórico e a crítica do capitalism o •■ ■- -
149
capítulo 7
150
o ma terialismo liistórico e a critica do capitalismo
tempo, na França c na Alemanha mas sim que pode te r efeitos de- "
' f -
/
/ • '
153
capítulo 8 ' . ■ .
^destruição da
ciência histórica
155
capítulo 8
156
por conseguinte, áperfeiçç lávcis - oferece-lhe ui na saída para o seu
trabai ho cotidiano, fecilitar ido-lhe o emprego do corpo doutrinal de
outra: 5 disciplinas sociais "adjacentes", mais face is de Controlar, e de
yôo n íais curto, como são í i economia neo-clássi ca, a Sodologia 'fiiii?
cionalista ou a antropologia estrutural. ’ *y.,“ ••
Ter-se-á que acõmp: anilar, ainda que seja superficialmentè, a .
dessas outras dis çiplinas, 6 que permi itirá perceber que
elas iniciaram, em fiiüsido século XIX, unia-reação contra os
"excessos" do evolucionisrnq - e, no caso da economiaialém disso,
contr.a concepções do valor potendalmente perigosas. É possível
i
que n as mentes dós homens que iniciaram essa viragem - os Walras,
Durkheím - as coisas se apresentassem com o determinadas
necessidades analíticas das suas próprias disciplinas, e que ne
nhum i deles tivesse ò propt Ssito consciente de ol "erecer às classes di
rigem íes um jogo de.instrtunentps ideológicos para a conservação
do se u domínio. Porèife àoohtecia que os seus delineamentos coin-
cidiarn em "apresentar a sociedade em quevivimn comoum^sistema
em êc jüilíbrid estático, e qi ie todos cónsideravai n que q objeto legí
timo (da ciência era o de in vestigar as regras des se equilíbrio, o qüe --
resultava ser a condição necessária para achar ois métodos com que
restai:lelecê-lq, se fosse perturbado.1
Neste capítulo se J"alará exclusivamente da destruição da.
dêncíik histórica, para passiãr mais adiante a eoinsiderar as diversas
formas, porém paralelas, d e reconstrução, ácrat>rigo da sodologia,
da ani tropologia e da economia, ou de combinaç ões edéticas dessas
influê ncias, como a que nc presenta a escola dos A nnales.K ç consi
derar as, correntes e os autores do século XX, o panorama resultará
mais (detalhado e menos d aro do que até agòra, É uma conseqüéri- 1
157
capítulo 8
158
a destnúção da ciência histórica __ ■ ■' > .,>■
■■■ - ’. r i v _ . : - .. -
A to isa é tão grosseira e os engodos tão visívei is, que não re
quer comei ítãrios. Porém se requer tentar compreend iér ò significa
do real de sse esquema: seu fundo, político e idéol lógico. E é o
próprio Po] pper quem nos esclarece; na sua Autobio, grafia. Póúco
antes de faaer dezessete anos de idade, numa Viena conturbada pe-
r las-comoçõ es sociais que se produziram no fim da primeira, guerra
mundial, Po pper aproximou-se do marxismo e até, seg undo nos diz,
que "duram :e dois ou três meses considerei-me a mim mesmo como
um comunista".Porém um dia participava numa manifestação de jó-
- vens sociali stas e comunistas, quando a polícia disparou e matou vá
rios deles. I sso suscitou suã reflexão: por que tinham matado? Por
que o mnrx lismo afirmava que a luta de classes era necessária para
trazer o. quanto antes o socialismo e-qüe não importava que a revo
lução custasse algumas vítimas, porque o capitalismo causava mais
ainda. Ou sieja, que haviam morrido por acreditar nurn jogo de leis
da história. E agora se dá conta de qúe ele mesmo estava aceitando
esse "credo" sem crítica. Daí passou imediatamente, co m os seus de
zessete aniiihos recém-cumpridos, a converter-se num anticomu
nista. Porén i eram tempos em que manifestar tais idéi as significava
coincidir com os nazistas, o que não parecia demasiad o lógico num .
judeu com o Popper, de modo que calou èssaS reflexiões até 1935,
quando piilblicou A m iséria do historicismo, a que seguiria, em
1-943, A sociedade aberia e os seus inimigos, seus dois livros "so;
bre a filosoifia da política", que nos descreve ele mesimo como "mi
nha contribuição à guerra", ante a perspectiva de qut: "a liberdade
pudesse volltar a converter-se mim problema central dle novo, espe-
cialménte sub' a renovada influência do marxismo e d a idéia de pia-
* Essa mesma ambiguidade, esse jogo de prestldigi tação para misturar pré-
ji 1Í20 político c dedução filosófica, pretendidamen te neutra, pratica-o' Pop-
p er com muita frequência. Veja-se que não nos exj ulica a lógica que reúne
o medo experimentado ao ver morrer aiguns manií estantes com a compro-
vação de que o marxismo é "falso". Noutro lugar ti ios diz que lhe encanta-
rí a viver numa sociedade igualitária, não marxista,: se isso fosse compatível
dom a liberdade, porém que “ã liberdade é mais irr iportante que a igualda-
; d e; o intento de implantai "a igualdade põe em pei rigò a Uberdade,e, se sê
p erde a Uberdade, não haverá sequer igualdade e ntrc os que não são U-
vi res”. Só que esquece-se de dizer-nos a que ciasse de liberdade se refere.
A té que em outro lugar nos explica porque não ci c em sociedades pacífi-
c í i s e igualitárias: “Não pode haver sociedade hum: ana sem conflito: tal so
161
capítulo.8
162
a deistruiçâo da ciência hísitórica
164
a de: struição da ciência histórica
* Um jogo semelhante 'ao de. Brintdn os'soviéticos 1inharri praticado, que fa-
z iam comparações entre as etapas’da sua revolução <t as da.francesa, de 1789,
e o prosseguiram os comunistas espanhóis dos ano s trinta, entregues ao ob-
5' essivo exercício de discernir a repetição na Espar iha das diversas fases da
n evolução russa de 1917, convencidos de que tudo t inha de reproduzir-se pe
los mesmos passos, Não menos singular resulta a m orfblogiá inventada pelo
g encral Franco em 1943, e a qual deu o nome de "p .rotótipo bienal teórico":
b avia descoberto que as potências do Eixo haviam: se impostona segunda
g uçrta mundial durante os anos de l939-1940, e qu>e os aliados o tinham fei
to em 1941-1942; agora tocava um novo eido de 'dois anos- de vitórias do
E ixo, que conduziria as potências fascistas ao triunft >final <JJVL Gil Robles, La
nnònarqúia por Ia que yo luché,Taurus, Madrid, 197 6, p. 70); a tal ponto po-
' d iam chegar os estragos da leitura de SpengleeClai-o que a forma com que
a Igtins historiadores jogam com ritmos inexplicado s na história, induindo o
n listeriosp.cido Kondratieí tampouco resulta, muito mais séria. < -
capítulo 8
mau é que o forno não esta hoje para bolos morfologia ds, e é de te
mer que nin^^iém os tome demasiado a sério. _ t.
Se çorm ãs morfologias chegamos a sair quase p o r completo
do terreno d a racionalidade, e alcançamos o extremo no processo
de destruição de qualquer coisa que se possa Interpretar seriamen
te como uma teoria própria ã ciência histórica, convém agora que
voltemos atrá s: até o estabelecimento de còrpos teórico s renovados
em outras disciplinas sociais que se ofereceram ao historiador
çomo soluções para a sua própria miséria; ■' .
Uma it liséria do que dá boa idéia a vacuidade e o ■desconcer
to da outra hi stória acadêmica: a que nem sequer preoc upou-se em'
buscar algo q[ue possa fazer o papel de instrumental tuórico.Aí se
encontrará qmem, como Elton, que se contenta com tlima história
que possa atrair.o público porque é de fãcil aprendizagem - não re
quer especial izaçâo -. e resultã divertida. Quem, como A. R. Bridbury,
confessa que a história "não tem nenhuma função soei ial útil" ja ce
ãos problema ts dó homeni do nosso tempo. Ha quem afirma que
Hempelfoio seu Euclides e quem reduz os problemas fiJiosõficos do
historiador às: mais elementares regras lógicas, erisinando-Ihe a,evi
tar as "falácias". Pode-se encontrar mostias do mais irracional dos
ecletismos, como-sucede com Higham, que afirma séri:mientè que
há. historiadores que pensam que o único modelo possível de expli
cação históriica é "a verificação de leis gerais por sua aplicação a.
açònteciment os específicos", enquanto que outros crêem "que o his
toriador é ess' encialmente um dramaturgo, cuja lógica na rràtiva nun
ca pode ser simplificada por teorias gerais de qualquer gênero que
sejam";* poréim que "a maioria dos historiadores ocupara uma posi
ção em algum ponto no meio desses extremos", o que custa um tan
to imaginar. O' nervosismo resulta especialmente visível i ios historia
dores políticas, que, para dissimulá-lo, lançam-se a quan tificar qual
quer coisa, o que tem a vantagem de parecer científico, é a adicio
nal, assinalada i por Andreski, de "encontrar um pretexto para omitir
todos os tem; ts desagradáveis ou perigosos" - que dá a casualidade
* Rêcentemi ente, Lawrence Stone acreditou descobrir que és ãste uma ten
dência a vo! tar de uma história "analítica" a outra simplesmen te "narrativa",
que se limit: i a contar' coisas na ordem cronológica - "nanativ a significa or
ganização d o material numa ordem cronológica seqücncia], centrando o
conteúdo m im só história coerente, ainda que possa ter deriv; tções"- c pen
sa que isso s:e deve à quebra dós outros tipos de história, que 1tentavam "cx-
pUcar'1as cc lisas. "Se acerto no meu diagnóstico, o movimento ate a narra
tiva por parte dos "novos historiadores" marca o fim de uma era: o fim das
166
a. de; Btmiçâo da ciência hisl ;órica
167
capítulo 9 . W Í .' . :
ajréconstrução.
- -ff1 ■■ ‘ . • J. -C I: h is tó ria , ,• • •
sociologia <e ^
•: ' • j ‘ .
antropologia
- :■i -
169
'
J- "r. capítulo 9
* I --------
- 1 . ' \ ■«.
- ■ mente, de Max W eber(1864-1920). Durkheim proclamou que a pri -
mè ira regra do método Síociológico era a de "considerar ,os flatos sò -
ciai is como coisas", que devem estudar-se ispladamênte "das suais
manifestações individuais",e estabeleceu a necessidade de se e x a
m in ara função que cum pre cada fato social np sèu próprio meio .
Tõi mies destacou a dicoi tomia entre "comunidade" é "sociedade" ou i
"associação" - G em etriscbaft e Geselíscbaft -, que iria dar origem a
tod o um jogo de dicoton nias - "tradicional" e "moderno", etc.: e. abri- -
ria ■os caminhos de análi! ;e das comunidades. Maior seria, ainda, a iti -
fluímeia exercida por M ax Weber, professor de>economià, liberai I
pre ocupado cm encontrar para a política alemã um caminho inter-
- mei diário entre os extremos do conservadorismo prussiano é o re -
volmeiónarismo marxista i. Para enfrentar a crítica neo-kantiaha, que:
- pre tendia reduzir as ciências sociais a um estudo do individual e dc i
cor içreto, Weber propugi iou ó método dos "tipos ideais": os fenôriié -
nòs têm uma multiplicid ade de significados - multiplicidqde.de rela -
. çõ es possíveis entre sl -, dós quais só podemos manejar uns poucos,,
aqueles quê abstraímos da totalidade, de acordo com as nossas;
preocupações e com as necessidade da investigação. Os "tipos;
ide: lis" são conceitòs lim itados que fabricamos nós mesmos, sinteti- •
zàn do traços que extraímos da realidade: de fenômenos individuais;
que; acentuamos unilateralmente. O resultado não é uma simplifica- ■
ção "objetiva" do real, m as sim um instrumento artificial para a in- •
vesitigação. Weber não p ropõe a formação de "tipos ideais" como
um método novo de trab alho, mas o apresenta como a prática habi
tual! e inconsciente dos c ientistas sociais, e nos diz que são dessa na
tureza todas as categorias econômicas com que trabalhamos habi
tua]riiente. Por outra parte, o estabelecimento de "tipos ideais" não
é o fim da investigação, mas sim a mera elaboração de alguns instru
mentos necessários para realizá-la. A sua própria obra de investiga-
ção centrou-se numa pre iposta de método comparativo que isolaria
os «Mementos mais importantes c estudaria a.sua atuação em distin
tos contextos para poder emitir conclusões acerca dq seu significa
do izausal: Q elemento,que escolheu foi o papel da "ética religiosa"
no idesenvolvimento eco nôínico, cuja investigação começou a par
tir c la ação da ética protestante no nascimento do capitalismo, para
-proceder a algo como uima sociologia comparada das religiões.A
verdade é, entretanto, qut: Weber não chegou a formular um"sistema
completo de idéias sobre: a pesquisa social. Na sua obra magna ina-
cab ada, Econom ia e Sociedade, propunha como ponto de partida
171
\
capítulo'9
uma sociologi a definida como "a ciência que tenta a CO: mpreensão
interpretativa da ação social, para chegar a uma explicr ição causai
do seu curso t: dos seus efeitos". Daí partiria o fúncionali sino deTal-
çott Parsons, còm a sua teoria da ação social, que se imporia nas
universidades nòrte-americanas dos anos trinta. Numa sociedade
que enfrentava a dupla crise da grande depressão econ ômica e dò
desafio soviét ico, e à qual os sociólogos académicos tinh iam qúe de-
' volver a confiánça na racionalidade dos mecanismos fundamentais
da süa organirtação, que tinham.de ser reparados para as segurar sua
sobrevivência.1 ■ " ' •.
No tenreno da antropologia, a ruptura com o. evo ilucionismo
costuma datar-se em 189ó, quando Franz Boas (1858-15)42) atacou
. os métodos c omparativos e iniciou o caminho de um positivismo_
sem generalú ações, fôrtemente influenciado por Dilti íey e pelos .
neo-kanfianoíi, que receberia o.riomé de "particulárismc) histórico",
' porém que nsitf rechaçaria também a denominação de " funcionalis
mo". Para’completar essa: reação viriam os antropólogos da escola
britânica, com o Radcliffe-Brown (1881-1955), qúe parte da influên
cia de Durkheim para afirmar que o presente não deve se r interpre
tado pela sua gênese, mas sim pelo sua própria estrutun i, pela inter
dependência orgânica das partes "funcionando" der itro de um
grande todo,-ou como Bronislaw Malinowski (1884-194 2), que trará
alguns esque mas organizativosfjue devem impedir qu<; o trabalho
do antopólog;o converta-se numa mera compilação de nrdnúcias iso
ladas, e que ;>e justificam com uma teoria das necessidades huma
nas. Com a sua sistematização dos aspectos culturais, Malinowski
pretendia combater a influência que tinham exercido st abre a antro
pologia o evolucionismo, o difúsionismo e "a chamada i concepção
■■materialista dla história". Para ele a teonomiá estava engl obada numa
visão do mundo e "o que verdadeiramente me import a ao estudar
os indígenas é a sua visão das coisas, a sua Weltanschai tung, o alen
to de vida e 'de realidade que respiram e pelo que vive m". Na Fran
ça; por outro i lado, a influência de Durkheim conduzia;, pela media-
. ção de Marct :í Mauss (1872-1950); à antropologia estrut Ural de Clau
de Lévi-Strau ss, para quem o objeto de. análise é o estai belecimento
de um mode lq: de um conjunto formal de relações que permita cal
cular com exatidão as regras de funcionamento do s isteína. Estu
dam-se, portanto, sistemas de relações estáticos e busc am-se as "re
gras de transifomiãção" que permitam .passar de um a outro, igual
mente estáti co‘. Só que os supostos modelos não pass: im de claves
175
capítulo 9-
176
a re construção. I: história, sociologia e antropolc >gla
178
a rec onstrução. I: história, sociologia è antropoloj ÿa
179
càpftulo 9
st-
capítulo 9
182
-a reconstrução I: história, sociologia e antropologi ia
183
capítulo 9
184
•' a reconstrução. I: história, s oriologia eantropologja
'
a rêconstmção.
II: a nova historia
econômica
187
capítulo 10
* Num lív To.publlcado pela primeli ta vez ém 1911, porém qi ie se divugou so
bretudo ai partir da sua tradução ic tglesa, cm 1934, Joseph A Schumpeter ha
via dito: "iO desenvolvimento econi 5mico constitui simplesm eiite o objeto da
História Hconônüca, que, por sua wez, não é mais que uma parte da história
geral, sep arada do resto por mero s propósitos de exposiçã o. Devido a essa
fimdamei itaf dependência do aspi reto econômico das cois as em relação a
tudo o m ais, não é possível explic ar a mudança econômia i limitando-se às .
condiçõe s econômicas prévias. Poi rque o estado econômico de um povo não
surge simplesmente das condições; econômicas anteriores,i m s sim da situa-1
ção globa 1 anterior" QJc Schumpet :er, The theoiy o f ecQiiom ic developnient,
Oxford 11 niversity Prcss-Galaxy, Nc >vaYotk, 1961, pp. 58-59)- •.
** Na qua I caberia também incluir um livro como o de SirJ< ahn Hicks, Uma
teoria dei história econômica, qu:e representa antes de tudo, como assina
lou Alfon s Barceló, uma tentativa de "verificar no campo c la História o po
tencial da teoria econômica con vencionai" (A. Barceló, " História i teoria
cconòmi' ca”, in Recerques, 4,1974 í, p. 94).
188
a reconstrução. H a nova his ítória económica
189
capítulo 10
190
a reconstrução. TI: a nova hi ístória econômica
192
a reconstrução. II: a nova 1.listória econômica
* Fogel expressava a ccon omia social para o ano e legido, 1890, numa cifra
equivalente a 4,7 por cent :o do PN8. Como essa ma gnitude equivalia à raxa
de crescimento anual do PNB nesses’anos, poderi á supor-se que o atraso
<
produzido pela ausência <la ferrovia teria feito cor n que as cifras, de 1890
se alcançassem em l8 9 1 .1 mtretanto, semelhante m edição é bastante discu
tível, como o será a condi ísãqa que chega VonTOnzelrrian, de que a inexis
tência da máquina a vapor - de Watt teria significado \em 1800 - quando Ros-
. tow supunha que o "impu Iso"-industrial britânico catava já a ponto de con
cluir-se - um atraso equhn lente a 0;11 por cento d lo PNB, o que terja fica
do a industrialização britar lica cm um mês.É difícil tomar-se a sério ésse gê
nero de medições, que não é o realmente valioso d<rs trabalhos dePogclou
VonTunzelman. Porém, aio ida é mais lamentável tmi tar tais investigações no
que têm de mais trivial, rc petíndo medições seme lhante.s para outros paí
ses, no lugar de empregar a esforço em algo mais sensato, como seria tra
tar dc compreender melhr >r as "repercussões adiáni te” da ferrovia, seus efei
tos reais na tiansibmiaçãc i da economia, qüe São vun dos aspectos menos
satisfatoriamente analisad os pela nova História c conômica. (Sobre isso,
veja-se Patrick O’Brien, Tb< ? new economic History o f the railways, Croom.
Helm, Londies, 1977, pp. 7'2-76). . . Ú ■
<• capítulo 10
194
a reconstrução. II: a nova ■história econômica
' 196
a reconstrução. H: a nova, história econômica
quer dizer que nló tenJia que ter emi conta as suas.contribuições!.
Nó ^fundamental, trata-se: de uma coleção de princípios metodológi
co!? - não de um corpo cie teoria - ou, se se quer dizer com palavras
mais simples, de uma caixa de ferramentas. í ; nã<? é certo que essa
caixa tenha sido feita para funcionar exclusi vamente hum contes:-
to da teoria econômica neo-clássica. Reduzir ido as coisas aos seu s
termos mais simples.poideriá dizer-se que se trata, da aplicação dü
madelos econométricos; à investigação histórico-económica, e esse
é mm desafio que se có loca ao historiador, s eja qual for a Sua ori
entação teórica. Não seria lícito negar, p o r outro lado, que, ao
serem aplicados proced imentos da nova história econômica a pro -
blemas concretos, qué possam ser abarcados satisfatoriamente:
corn um modelo econométrico, as respostas: alcançadas têm sidçi
interessantes,como sucedeu com a investigação de Cohrad e Meyeir
sotire ãescrayidão,em çiuê pese ter-se baseado num;aparato teóri
co discutível e usar uni conceito tão cóntirpvértido como o~d<:
fun ção de produção.17 - ■V- -
O maior próÉlenia se apresenta, pre dsamente, quando o
"cli ômctra" não se resigna a investigar setore:s limitados da realida
de, mas sim que pfetencle aplicar os seus mé todos, sem mals'equi -
pannento teórico que o d a economia nèo-clás sica, a uma sociedade:
intenra, para oferecer-no:? explicações globais. Isso se tem tentado>
pelo caminho do estudo das instituições e das direitos de proprie
dade, no qual Hartwell denominou a "novíssima" história econômi
ca, para distingui-la da simplesmente "nova". Distinção necessária,
porque boa parte dos cudtuadores desta rechaçam o empenho dos.
"novíssimos".16
Os seus fundamentos podem resumir- se nas seguintes afir
mai ;ões metodológicas d e Douglass C. North: ' ^
197
capítulo 10
■' * O texto de Hartwcll que transen rvemos abaixo não requ er nem comen
tários: ™At >ase do enfoque econõm icb da lei é a razoável su posição de que
os indivídiuos envoltos no sistema. legai atuam como maxiniizadores racio
nais. Uma vez que se tenha reconhecido que todos os participantes em
processos legais - criminosos, litig; antes, advogados e juize:; - atuam comó
maximizar iores racionais, consome ra mais ou menos lei segmndo o seu pre
ço, nos encontramos num modo e:m que a ação legal podle ser analizada
com os m<ttodos formais da econor nia. E assim o sistema leg ai, em qualquer -
situação e para qualquer indivíduo, pode ser tratado como aIgodado.com
custos c b enefídos particulares, e com alguns incentivos d iante dos quais—
reacionará i radonalmcnte; se a lei muda, o conjunto de incentivos múda
também e o sujeito atuará de mam eira diferente.Assim, por exemplo, a ati
vidade criminal pode ser analizada como um problema not mal de escolha -
de ofiao, com taxas de participaç ão criminal qúe mudam na medida em
que o" faz em gs incentivos e os custos" (R.M. Hartwell, "Iaw, Propérty
198
a reconstrução. II: a no va história econômica
1919
capítulo 10 Tt
2Õ 0
f
a n sconstrução: IL a nova história econômica
203
capítulo Í1
206
a reconstrução. Ill: a escola dos annates
* "Indubitavelmente a His tória se faz com documei atos escritos. Porém tam
bém pode fazer-se, deve-se fazer, sem documentos escritos se estes não
existem. Com tudo o que o engenho do historiador possa-permiür-lhe uti-
1 izar para fabricar o seu nnel, ha feita das flores us uais. Portanto, com pala
vras. Com signos. Com p aisagens e com telhas.Com formas de campo e
f leivas daninhas. Com ec lipses da lua e cabresto:;. Com exames periciais
cias pedras realizados por' geólogos e análises de espadas de metái realiza-
clos por químicos. Em umia palavra: com tudo o que sendo do homem, de-
f >ctidé do homem, serve ao homem, expressa o homem, significa á pre-
s ença, a atividade, os gosn ds e as formas do ser dó homem" (Lúcien Febvre,
C.ombats po ur bbistotre,Ànxinnd Colin, Paris, 195:3, p. 428). <■-
capítulo 11
208
a r>ecoas trução. HL a escola dos annales
209
capítulo 11
210
a reconstrução. Ht a escoba dos annales
v e,[ jorém, que "o capital! smo como sistema te m todas as oportuni-
dad< :s dé sobreviver. Ecoi îomicamente (não di go ideologicamente)
; : •pode inclusive sair reforçado"." : \ ".
.•. Braudel representou uma tentativa fruistrada de introduzir
■' coèiênciã nesse funciona Iismo sem base teóric:á própria que é-a es
cola dos A nnales. Frustra'do, porque foi incapaz de criar uma arma
ção que pudesse dar sent ido às múltiplas inves tigações parciais dos
- "membros dã escola. As razões desse fracasso se compreendem
quai ido se observa que, e m I960, reivindicarid o para si o mçrito de
ter introduzido nos Antuales o conceito’de estrutura - do que dá
uma definição tão trivial com o "a estrutura é o> que.durá através do
tempo, é a continuidade, ;a permanência"-, rechiaça p cstruturalismo
de Lévi-Strausá porquê’ pretende erigir um método de investigação
soei; ü baseado na análise de estruturas estável s e por causa das re
gras pelas quais se passa dê umas a outras (ou;, dito à Braudel, por- .
que pensa "que no jogo éísõiro de umä socieda de há relações de or
dem matemática-pelas qiuais uma situação ccutduz a outra"). Para
Braudel, em troca, as éstiníturas são’, simplesmente, permanências
isoladas como esta; "não h á uma capital sem um arquipélago de ci
dade :s, não há cidade sem povoados, não há po\ 'oados sem campos".
É evi dente que com essa dissolução do conceit o de estrutura não se
.■podt; construir um esquema interpretativo que chegue a dar uma
expliçação.global da evoliução das sociedadês Itiumánas.12. .
Não se estranhará, por conseguinte, que a escola haja caído
por íuns dois anos - depois que Braudel abandonou a direção efeti
v ad a revista, fato esse, coi no já se disse, se refle a iria muna queda do
mínimo rigor que se tinha mantido até então - sob o feitiço do es-
truti: iralismo levistraussian 10, que, pelo menos, o ferecia pautas para a
construção dè explicações globais. Nela se publicaram coiSãs tão
incrí veis, como um artigo intitulado- "Realeza; ê ambigüidadê se
xual' onde se tentava lan<;ar luz sobre a nature za da monarquia em
Bizâncio, explicando-nos que o monarca era ui n personagem ambí
guo idò ponto d é vista sex ual, que o elemento 1feminino está simbo-
üzad o pelos ritos -de’ coro; ição, que cobrem e e nvolvem, e o mascu
lino ]pelo ato de levantar-s e no tròno,pela ereção,com frascs como:
"sobi e o trono,o rei-imperador concentra os pa péis masculinos e fe
mininos numa tensão drainática".’Ou que tenfm.aconipanhado com
I a uruitação mais superficial dos métodos antropológicos, como no
caso do M oniaillóu, village occitan, .dé Emmanuel Lé Roy Ladürié, 1
nm livro picar ite e vazio,* onde tud o se reduz a sexo e rc iligião, com
o que se consc :guiu o feliz resultado >de eliminar da vida dios homens
o trabalho e a exploração, de modo que o lugar que num a monogra
fia histórica nizoãvel está destinada à análise do funcion amento do
sistema feudal em que esses camponeses viviam, é ocupado aqui.
pela descrição da forma em que se tiram os piolhos uns aos outros
ou pelo relatoi das aventuras amorosas do padre do lugar.15
G seu $ josto pela modernizai ;ão metodológica e a' sua preten
são globalizad.ora, que se ofereciam como tuna alternativa ao mate
rialismo histõifico,** fizeram com que, nos últimos anos, 21 escola An-
nales tenha tido uma irradiação considerável no mundo; acadêmico,
em especial n os Estados Unidos. Porém esse florescime nto não fez
mais que pôr em relevo as suas delbilidades: a ausência d e um pen
samento coerente, que a obriga a contentar-se cóm apiroximações
parciais dos problemas estudados; a insistência no instrumental,
com uma atenção exclusiva no mtitodo, para suprir a fiilta de unia
teoria; a adoçl ío fifvóla e pouco mè ditada de princípios 1lomados de ;
Outras disciplinas; até lazer a revista aparecer como um simples re
flexo das modas intelectuais vigenrcs na França, adotadíis sem críti-
ca alguma.“
212
arec:onstruçâo. HI: aescobidosoïiTio/es • .•
213
capítulo 1 1 "
parte em destn iir também "o mito d r Rèvqlução nissa". Sc i qué nes
se caso o empisnho. vai maiç alétn, jporque se trata de d«-struir, aò
mesmo tempo, qualquer concepção, em especial o marxismo, que
tenha participa do da crença no "mi.to do progresso". Não há pro
gresso mais que; no terreno científico; não nos domínios d o político
ou do social: D essa postura de Ferro custa pouco para p: issar à de
um Braudel, paj ra quem uma das estruturas permanentes clã história
é que toda a so ciedadé é hierarquiza da, e que, depois de rim discur
so pouco coénmte sobre a .resistência "anti-capitalistá"-d as econo
mias "submerst is" - depois de uma a|pologia do trabalho negro e da
fraude fiscal a ícaba afirmando qué o capitalismcTé inevit ável.16
No cená rio da reconstrução d a história, a escola do s Anríales
não assumiu o papel de defender explicitamente as excellências do "
capitalismo, co mo o têm feito certos setores da "novíssima história ,.
econômica". Propôs um funcionalis mo: eclético como formula de
troca a qualqórr interpretação evolutiva (ou a funcionalismos de
masiado limita« ios, por sua dependência do corpò teóric o de uma
só disciplina) c: trabalhou para dissipar as ilusões sobre o s concei
tos de evolução e progresso.Sua taroía principal tem sido ã de lim
par o terreno dle soluções altematrvias, demonstrar a inuti Iidade das
Inglaterra no século XVIII (Aimales, SEI, 1966, n”. 2, pp. 254-291), onde se
sustentava qm eo ritmo de progresso c las.duas economias tinha i sido muito
semelhante n o século XVIII e que o al íraso francês do século X 3X só pode
ria dever-se à "catástrofe nacional" da revolução e aos vinte ar ios de guer
ra subseqücn tes. Crouzet colocava entre aspas "catástrofe nacional" e o ci
tava como to: «nado de um Livro de Lév y-Lcboycr (que, por sua vez, remeda
a um artigos Ulterior de Crouzet, dev olvendo-lhe assim uma paternidade
que ainda dei Teria resultar incômoda). Nos últimos anos, entret anto, não há
nem sequer ]preocupação pór guardar as formalidades, e Anraales acolhe
,, qualquer ata« pie anti-rêvolucionário c [ue se .apresente. Um do s seus cére
bros, Le Roy Laduric,que tem aponta do faz alguns anos esta causa como
sua.fezendo I íonra a uma trajetória política pessoal dá mais equívoca, apre
senta um pro grama que já nem sequei: ataca frontalmente a rei mlução, mas
que praticatt iente a fez desaparecer. Referindo-se ao campo francês .nos
fins do séculi o XVm, Lc Roy assegura que a contradição entre capitalismo
e feudalismo era um entre muitos out ros conflitos - de modo ; dgum o fún- ■
damehtal -, c que, se a sociedade rural. francesa chegou a ser a íomentaneá-
mente revolu icionária, isso se deve a q ue o seu mesmo crcscira ento a havia
convertido ei «ri "disfúncional" ou "desi equilibrada".A revolução "inscreve-se
na linha dos crescimento do século" e é, ao mesmo tempo, "ruptura" c
"continuidadi e": pouco mais que um Incidente (E.Le Roy Laduri lc in G.Duby
eA.Wallon,F.Hstoire de Ia France rurale, II - de 1340 a 1789 - , Scuil, Paris,
1975, p- 591).
i- f
214 l
a reco nstruçao. EL' a escola dos annales
- revolc ições e desviar a atem jão dos grandes prób lemas ao "jogo obs
curo" das sociedades. Como nãò há segurança d e progresso a não
ser na ciência, dediquemo-nos â lazer avançar a c riência, a jogar com
microscópios eletrônicos v. computadores, com l pesos atômicos e
, análise ;s de pólen, e desban querriosos velhos mi iíos desacreditados
. . do progresso social, de orij;em irracional e religioso - "a idéia socia
lista nasceu no seio do idea J religioso0, disse Ferro. Que nó terreno,
de onde o grupo dos Ann^ ües arrancou os "mat os" de mitos e uto
pias, n ão possa crescer outi a planto que a dó capitalismo não é cul
pa sua . Esses "homens de esquerda sem empehh q riem pelos spcia-
listás nem. pelos comunistas" - que é como se arito-define Braudel -
limitar-se-ão a recolher a sua modesta participaçíio nos benefícios e
a acormpanliar com a sua trreJa de conduzir os jovens pelos cami-
inhos l uminosos da ciência, onde a palavra "exploração" não tem
"'sentido, porque não é sèniio uma dessas estruturas permaíierites,
. "natupü" e inevitável como a sucessão da chuva e da seca.
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CaDÍtlÜO 12. - r
217
capítulo 12
218
o manrismo no' século XX..I: desnaturalização c do;gmatismo -
■ ------------"■
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■ G actano Arfé nos explica que nina'das razoes fundamentais que levaram
os socialistas italianos a op orem-se ao revisionismo de Bernstein - pese a
qui: nesses momentos a sua1 prática política não podl a ser mais reformista e
me nos revolucionária - foi a . de evitar o desconcerto dos fiiiados.."Uma cer-
. ta i ortodoxia formal tem as suas razões de ser, num partido áindà joveni e
ide otogicamente muito diverso". Úma coisa era ir atóalizarido e adaptandoJ
o r narxismó às dreunstânei as contemporâneas - é', e ntre elas, à política de -
um iTUrati, coerente com os seus postulados de "um; i lenta e gradual trans
fer mação" da sociedade - "p< jrém proclamar dc’imprc iviso a crise, aceitar ofi
cia Imente a superação do marxismo, equivaleria a albrir no partido um va
zio perigoso e destruiria aq uclc vínculo fideístico q ue ajuda, mais que ne- ,
nhi um outro, a manter uriid; i a armação organizativá ’ (Gaetano Arfé, Storia
del ' socialismo italiano, 1 8 . 9 2 - Eihaudi,TUrim,’ 1965, pp. 98-99). -
capítulo 12
* ' 'O conformismo, que de: sdc o princípio achou a- sua comodidade na so
ei al-democracia, não se refere só às suas táticas políticas, como também às
sinas'idéias econômicas. Esta é uma das razões d o seu fracasso ulterior.
Nada corrompeu tanto à classe trabalhadora alemã como a idéia de nadar
a favor «la corrente. O des< rnvolvimento técnico em o sentido da corrente
com ò qual ele acreditava ifcstar nadando.A partir di isso não havia mais que
«lí ir um passo paia cair na ilusão de que o trabalho nas fábricas, por achar-
se: na direção do progresso técnico, constituia p o r si'uma ação política"
(\ Çalter Benjamin, Teses d e filosofia «la história", in Para una crítica de la
violência, Premiá, México, 1978, p. 126).'
220
o marxismo no século XX, I: desnaturalizaçiãõe dogmatismo
221
capítulo 12
222
o maiodsmo no século XX. I : desnaturalização e dogmatismo
224
" o ni; irxismo no século XX. I: desnaturalização e dogmatismo ,
sign ados como outras tan tas épocas progressivas da formação social
ccomômica”. Se a isso sé acrescenta, por um extremo, o comunismo .
primitivo e, por outro, o socialismo, teremos um conjunto de seis
etapas; porém, enquanto cinco delas podem enlaçar-se numa se
quência (e podem conve rter-se em pauta intàpretativa da história
unit "erial), a sexta, o modi o de produção asiático, fica deslocada, sem
que se veja como encaix ar, por exemplo, na história euíopéia umá
: fase que se tenha cónstrii ído sobre o mpdelo das sociedades hidráu
licas i dã Ásia. O problema , adquiriu haturçza política com as discus-,
sões; sobre a política a se; pair na China.' Os que interpretavam que a
soei cdade chinesa se enc ontrava numa íase feudal, propugnavam a
aliança dos comunistas co m a burguesia nacional; caso se pensasse
que aquilo que dominava lna China eram já asrelações capitalistas,
com o pensava Trotski; havia então que buscar-se a hegenionia dò-
prol etariado. Pensar em a Igo assim como qué se éstivesse natransi-
■, ção dó modo de prodüçã o-asiático aò capitalismo, em troca, deixa
va aos fabricantes de receitas teóricas sém argumentos para propor
Uma linha política. O resi dtado, como é bem sabido, é que a políti
ca clhinésa resultou num itremendo desastre, pígo às custas de mui
tas vidas humanas.Nas reuniões celebradas emTifilis e Léningrado,
entn s 1930 é 193.1, os hist oriadores russos decidiram desembaraçar-
se di o modo de produção i asiático, * considerado por alguns como
uma forma peculiar, do fei adalismo no Oriente, com o que se desim
pedi u o caminho para constrüir um esquema fechado de cinco eta
pas, que foi consagrado p o r Stalin em 1938: "A história conhece dn-
. co ti pos fundamentais de relações de produção: a comunidade pri
mitiva, acscravidão, o regime feudal, o regime capitalista e o regime
socií dista". Com isso tem< js um "esquema único e necessário pelo
qual passarão todas as sociedades": uma armado qué o historiador
* Uma vítima desse debate: foi, de certo modo, Kari A. Wittfogel, expert em
a: ísuntos asiáticos da Inter nacional comunista, defensor de uma interpreta
ção baseada na existência de um modo de produção asiático na China, que
ai abo u rompendo com o comunismo e metamorfoseando a sua tese no II-
vj ro,' Ò despotismo orienti tf, aparecido nos Estados Unidos epj 1957, onde
a análise das sociedades as iáticas antigas lhe servia,agora, para fazer um pa
re delo entre o despotismo oriental das sociedades hidráulicas c p do socia
lismo atual (caracterizado como um sistema escravista de base industriai),
Vi üttfogcl não se contentou com essa surpreendente utilização das suas vc-
lh ias análises marxistas, c omo também colaborou entusiasticamente na
C aça às bruxas" do hiacca rtismo, até extremos, que os seus próprios,cole
gas acadêmicos considerai ram excessivos.
\ - 225
capítulo 12
227
capítulo 12
228
om arasm o no século XXL I: desnaturalização e dogmatismo
— :..................................- —— ------ ---- -—........................-1—w
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capítulo 12
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. o marxismo no século XX-1: desnaturalização e dogmatismo
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.cápitulo_13_.
o marxismo no
século XX.
II: desenvolvimento
e renovação
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(• ,
V ^on tra o que piretendem certas interpretações simplistas,
susitcntar-se-á aqui a tese de que a renovação do marxismo não é-
algo que se inicia num p íomento - no fim da segunda guerra mun
dial, por ocasião dá mortie de Stalih.etc.-, depois de um longo perío
do 'de fossilização, mas sím que as tendências que haviam de enri
quecer è de empobrecer, réspectivamente,o marxismo coexistiram
nele desde a morte de Ei ágeis. O terreno da história permite perce
ber perfeitamente esse É ito.
As duas primeiras obras que abrem perspectivas de renova
ção na historiografia msirxista aparecem muito cedo, concebidas
pouico depois da morte cie Engels.As duas são de certa maneira atí
picas - a primeira por te r sido pensada mais como investigação de
economia que de históriia; a segunda por conceber-se nas frontei
ras <do materialismo histórico porém, deve-se falar aqui das duas,
peb is consequências que terão. A primeira é O desenvolvim ento
do i:apitalism o na R ússia, déLênin (1870-1923), escrita'no dester
ro d a Sibéria e publicada em 1899, como um argumento para a luta
polí tica contra o popuiis mo.Ainda que não seja exatamente um li
vro de história, o modo com o Lênin analisava os processos,-como
a de sintegração do camp esinato tradicional ou a formação do mer
cado nacional, serviram de lição para os historiadores marxistas
positeriores,1
A segunda pertence ao socialista francês Jean Jaurès (1859-
191-4), professor de fUosioffa e bom conhecedor do pensamento,
aleinão, que chegaria áo socialismo moderado a partir do republi
cam smo burguês. Enfrenitaria os grupos mais radicais e manteria-
capitulo 13
234
o imandsmo no século XX. H: desenvolvimento e renovação
j * "O esboço do movimei íto dos lucros no século! XYEH apresenta-se em seu •
conjunto com as seguintes características: alta dc longa duração do salário,
acumulação da renda num setor da sociedade, com maior intensidade no
feudal,porém também e m mãos dos outros prop ríctários vendedores, pau-
perização da massa da n ação (...) A grande aristoi irada proprietária (.:.) sa
boreia as suas últimas h<oras ignorante c aptazívi :1. Muito próximo, dela, os
proprietários burgueses e uma pequena parte do >sproprietários campone- •
ses beneficiam-se, ainda •que em menor medida, d a mesma corrente. Porém
uma corrente oposta dis tancia cada dia mais des: ias margens afortunadas à
massa dos cultivadores, Í1 massa dos trabalhadore: s.Tormentas cíclicas, cada
vez mais violentas, os assaltam. É por.ocasiãó dc uina delas, quando o mo
vimento de longa duração dos preços dos cereais alcança o seu máximo
(...);quando eclode a revolução" (E. Labrousse,Flutuaciones económicas.
e bistoiia social,Tecnos .Madrid, 1 9 6 2 ,pp. 318-3 19).
•' . 235
capítulo 13
236
o marxismo no século XX. II:-desenvolvimento e renovação
237
capítulo 13
238
o marxismo no século XIS. II: desenvolvimento e reqpvaçao
c que no Ocidente não houve grande coisa ináis que aquilo de quê
fel amos: a escola de Fraj ikfurt, Lukács, Korschi e Gramsci.Tal atitude,
quie deriva de uma in justificada identificarão entre pensamento
m;indsta e filosofia (no sentido mais especializado e acadêmico do
teirmo), chega a ser taci onalizada por Perryájiderson, que assegura
qu e a burocracia dos partidos comunistas reservou-se o direito de.
- opinar sobre os grande s problemas político: 3 e econômicos, e que
iss o explica porque o m larxismo "ocidental" a bandonou nesses anos
tai s problemas, para coi ncentrar-se na filbsofi a. Essa interpretação c
inadimissível. Não se pode, na União Soviétiea, reduzir o panorama
ao dogmatismo dos catecismos teóricos e ao oportunismo das his-
tónas dá revolução e do >partido. De outro modo não há maneira de
explicar .obras, de tan ta valiá, como as . die Victor Dalin, Boris
Pórshnev, Lublinskaya ou Ado, para ditar alguns exemplos. E, pelo
' que se refere ao marxis mó chamado "ocideh tal", é impossível fazer
a s;ua história omitindo a. referência a economistas de tanto valor,
com o Michat Kaleçki (1899-1976), Oskar1 Lange (Í904-1965),
Maiurice Dobb (1900-1'976) e Joan Robinson, ou a historiadores
coimo Gordon Childe,7
Vere Gordon Chillde (1892-1957) tratom de pôr sentido núma
arqueologia reduzida a um positivismo vergo nhoso. Diz-se dele que
"pode considerar-se coimo o primeiro arqueólogo que empregou
■ comjuntamente uma me todologia explícita e uma teoria histórica e
Social claramente definida!', e ele mesmo reconheceria, pòuco antes
da sua morte, que a sua maior contribuição ti arqueologia não resi
dia nos dados novos ou nos esquemas cronol ógicos que tivesse, po
dido trazei; ''mas sim-solbretudo nos-conceitcis intepretativos e mé-,
todos dé explicação". Cl tilde propôs uma imagem global do desen-
!. ■ - volvimento da humanidade primitiva^ considerado como uma as
censão até a revolução neolítica, um estágio que via como "muito
diferente em cada caso",, porém, com alguns t raços comuns: "em to
das; as partes significou a aglomeração de gr andes populações em
cidades; a diferenciação no seio destas de produtores primários
(pescadores, agricultores etc.), artesãos especialistas com plena
det iicação, mercadores, f uncionártos, sacerdot es e governantes; uma
' concentração efetiva de poder econômico e jpolítico; o uso de sím-
bol os convencicfnais (a e scrita) para registrar e transmitir a informa- ~
rí> çãc» e igualmente de padlrões convencionais cie pesos e medidas de
ten ípo e espaço que con duziram à ciência ma temática". Deu-nos, as-
i " . sinn, uma imagem rica e sugestiva da forma ma qual produziu-se a
‘ . - - 239 ‘
capítulo 13
-: pro< iução, porém, hão que hajam de ser um 014 outro em particular,
nem talvez tampouco, predeterminados nã orrlèm de sucessão" - ò
que conduziu a iniciar uma série de fecundas c liscussões, que foram
muilro mais além de livrar ò marxismo dõ cint o de ferro dós cinco
modlos de produção. Aplicam-se,nesse contexto,fetos como a reto
mada do dcbatnsobre o modo de produção aj;iático, ao qual já-nos
refei imos anteriormente, a proposta de fimdatn entar uma antropolo
gia r aarxista ou a discussão sobre o conceito de: "formado "econômi
c o * jcial", com o propósito de recuperar uma <rategoria teórica qué
liberasse o materialismo histórico da sua dependência desses mode
los abstratos que representam os modos de produção.9
Entretanto, um dos efeitos mais estimulantes da publicação
dos >Grundiisse foi ò de-colocar os marxistas ãínte um pensamento
em- jpleho .fezer-se, não cristalizado, com dúvidas e contradições,
ondí* os termos são empregados-em certas ocasiões coiq impreci
s ã o .^ que se tinha convertido nurnarevelaçãa> indiscutível, voltava
a ser agora, como quis Marx, num método para investigar o passado
- e o pirésenté, onde nada estava resolvido' de antemão pela mera ope
ração da teoria, e nenhum resultado era definiiJvo. Os efeitos dessa
libertação do dogma estenderam-se também à investigação que se
realizava naqueles países que tinham 0 marxismo como ideologia
ofieii ai do Estado, como pode ver-se no caso de alguns historiadores
sovit íticos, ou na forma em que, por exemplo, í;e produzia a investi-
gaçã'0 em tomo das revoluções burguesas na República Democráti-
ca Alemã.10 ■ -
Desde 1945, os grandes avanços metod ológicos no terreno
da hiistória marxista surgem em tomo dos det iates coletivos sobre
temas fundamentais, muitp m^is que como eonseqiiência da çlabo-
ração abstrata de alguns princípios, são um re sultado da investiga
ção Jiistórica concretá e não da especulação f ilosófiça. O mais im
portante desses debates é, seguramente, o que se refere ao trânsito
do feudalismo ao capitalismo, recolocado, em 1946, por Maurice
Dobb, nos seus Estudos sobre o desenvolvim ento do capitalismo.
Dobb justificava a süa incursão nesse terreno pela sua crença de
. que a "analise econômica só tem sentido, e só pode fender frutos,
se va i unida a um estudo dó desenvolvimento 1 íistórico'’: era heces-
.. sário estudar as origens do capitalismo para compreender melhor a
"V, sua natureza ieaLe poder atuar sobre ele. Combatia a interpretação
habit uai que via o feudalismo como um sisténui de economia nátu-
, ral, fc :chado e estável, que se trincava como co nsequencia do .cres-
capítulo 13
242
o ma rxismo no século XX. D: desenvolvimento e renovação -.. __
■ ' . .................. ' 1 -r ■' i ... —----- . . ' ...... ‘ ' ' * r .
deve: ser vista como o cenário da luta entre duas formações sociais
pura s, feudalismo e capita dismó, mas sim como uma etapa cofn ca
racterísticas próprias, no curso dá qual, ao mesmò.tempo ein que o
capitalismo cresce n o'seio da velha sociedade, produzem-sé uns
conflitos sociais quê alimicntam a formação de. algumas consciên
cias d e classe é preparam o terreno para o triunfo dá nová socieda
de. "A revolução burguesa e o grau de maturidade de classe próprio
dela não surgem db nada: vêm-se preparando durante séculos".13
O debate estendeu-se também à crise do scçulò XIY às. con
sequências dela (transfon nação do feudalismo no Ocidente euro
peu, reféudalização. do Le!3te) 'e à expansão de fins do século XV e
com< ;ços do século -XVI. A. historiografia acadêmica" - Postan, Le Roy
Ladurie etc. - útUizava expilicáções malthusianas triviais -.cresdinen-'
. to da população, esgotamt :ntd dos,tedursos, peste etCr-,ou aplicava
recei tas do manual rieo-cLássico de economia - Miskimin, Abel -, es-
pecu laudo,com a evolução dos preços e os movimentos da procu
ra e tia oferta. O mesmo ei;quema,por conta da demanda crescente
da Europa ocidental, pretiendía explicar a reféudalização do teste
com o uma simples conseq üência dc uma maior comercialização do
trigo exportado pelo Báltico. Os-que primeiro-se opuseram a esses
. esquemas de um economicismo vulgar foram seguramente os histo
riado res checos - Graus, Kalivoda, Macek. -, a quem a .complexa
experiência da revolução hussita ensinou a colocar a questão em
termos dc "primeira crise do feudalismo". Porém os seus trabalhos ~
não foram divulgados sufle :icntemente, e o tópico malthusiano con
tinua em plena vigência. Em 1976, Guy Bois limita-se a modificá-lo
dando um papel predominante à produtividade - no lugar do volu
me d<; produção - e preteri de "socializar1! o esquema, introduzindo a
"taxa de desvio" do produ to camponês por parte da classe feudal.
Numa fase de expansão ammeiita a população, também o 'produto,
abaixa a produtividade, aui nenta o volume de desvio, porém abaixa
a suá taxa; quando a produitividade chega a um ponto ião baixo que
não p ermite a reprodução simples' inicia-se uma fase de contração
e o se ntido de todos esies í ridices se Inverte. Mais interessante é um
artigo deRobert Brenner,publicado no mesmo ano,sobre a.estrutu-
- ra da iclasse agrária e o desc :riVòlvimento econômico na Europa pre-
." indusurial, onde se propõe uma reinterpretação de tódo o processo,
incluindo as duas crises do s séculos XTV e XVn,a reféudalização da
Eürop a oriental e os distin tos ritmos de avanço ao capitalismo em
divers os países CFrança e Inglaterra), situando num lugar central a
243
gS
capítulo 13
* Um editor ial da revista History Worksbop ("H ataque", n°.4,- outono 1977,
pp. l^í) dava notícias da campanha desencadeada cm prínc ípio por uma
instituição dirigida por Brian Crozier (biógrafo de Franco e: acusado em
mais dc une i ocasião de ser um assalariado da CIA norté-amer icana) contra
os intelectu ais "marxistas radicais" e. o seti trabalho no ensin o superior. O ■V
ataque foi aclamado pela imprensa "respeitável“ e secundado i por insignes ■r 'í
mediocridat ies acadêmicas, como Hexteg com violentas inve :ctivas contra
historiádore s como Christopher Hill ou Rodney Hilton, a que m se acusava
de “trair" a dlignidade do ofício, ao tomar explícitas algumas te leias políticas
contrárias às da ordem estabelecida. EIton chegou a desentér rar o cadáver
intelectual cleTawncy, sem respeito pelos serviços que este h avia prestado J
1
244
o marxismo no século XX D: desenvolvimento e renovação
245
capítulo 13
246
o marxismo no século XX. )!L desenvolvimento érenovação
*\ como exemplo da v isão global.da. história que propõe Vilar esta defi
ni' ção sua; "O objeto da dên cia histórica é a dinâmica das sociedades huma
nas.A matéria histórica a 'Constituem os tipos defatos que é necessário es-
tu dar paca dominar cientific amente esse objeto. Classifiquemo-los rapidamen
te:: 1) Os fatos de massas: i nassa dos homens (demografia), massa dos bens
r v (economia), massa dos pensamentos e das c/enças (fenômenos dc "rnentali-
da des", lentos e pesados; fei aômenos de "opinião", mais fugazes). 2) Os fatos
instituciOruiis,a\z\s superficiais, porém mais rígidos, que tendem a jlr a r as re
lações humanas dentro dos marcos existentes: direito civil, constituições po-
líti icas, tratados intemadona iséte.; feros importantes porém não'eternos, sub
metidos ao dcsgaste.c aõ ata que das contradições sociais internas. 3) Os acon
tecimentos: aparição e desa parecimento de personalidades, de grupos (eco
nómicos, políticos), que tornam mcdídas. dccisões, desencadeiam ações, m o
" - capítulo 13
vimentos de: opinião, que ocasionam "fatos precisos": modificaç ões dos gover
nos, a diploi nada, mudanças pacíficas ou violentas,profundas o u superficiais.
A história não pode ser um simples retábulo das instituições, nem um sim
ples relato c los acontecimentos, porém não pode desinteressar“ se desses fatos
que vinculam a vida cotidiana dos homens à dinâmica das sociedades de que
formam pan te"A esses fatos correspondem algumas técnicas e e stas "só adqui
rem sentido dentro do marco de uma teoria globar (Picnc Vilai; iniciación al
uocabularic i dei anâlisis histórico, Critica, Barcelona, 1980, pp. 43-44).
* Em Harich , por exemplo, não é difícil perceber a incoerência dlc algumas po
sições histói ricas que vão desde ecos dos piores mecanidsma s reformistas -
os condidoí íamêntos materiais ecológicos e econômicos que ei npurram para
a América d<s Norte õs Estados da CEE e o Jápão em direção a sc tluções comu
nistas" (p. 1( 53) - a mostras de idealismos tão desconcertantes o omo: "Ò senti
do da histói 1a mundial, caso tenha algum, consiste na realizaç? to progressiva
do princípio da igualdade de todos os homens" (p. 193). (Citar joes de W Ha
rich, Comur. listno sein crescimento}, Materiales,Barcelona, 19713). Custa com
preender com o se pretende estabelecer previsões de futuro sçibre a base de
uma visão' d o passado tão caicnte de rigor. t . . ' i,-
248
■o mai-xismo no Século XX. II: desenvolvimento e renovação
1- f:
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capítulo 14
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repei nsar a história para rè[ >rojetar o futuro .'A,
de.E não se cneia que esse ceticismo procede dos críticos do mode-,
lo de desenvolvimento irídústrial-capitalista, mas sim que o expres
sam hoje os próprios dirigentes do !sistema. Não faz muito que Otto
Schoeppler, presidente do Chase Merchant Banking Group,dizia:
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capítulo 14
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"Num senti do marxista, a essência do modo de produção feu dal reside na
rclação-de exploração que se dá entre os proprietários da tetra c os çam-
. poneses subordinadosa eles c através dá qual aqueles obtêiurpor coação
o produto ea cedente do trabalho destes, uma vez satisfeitas ai s suas necés-
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repi snsar'a história para rí iprojctar o futuro
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capítulo 14
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. repens ar a história para reprojetar o futuro
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capítulo 14.
pante a mais ni una tareia comum, a que acode com a sua própria
ferramenta. ' - ?"
Não há; no final deste livro, uima proposta de novas receitas
em substituição das velhas. O seu proipósito fundamental tem sido o
de chamar a ate nção sobre.um problema e ajudar a assentar as bases
para a sua solução. Nãò é este o momento de oferecer um novo es
quema para pre encher o das etapas e jcalònadas do progresso - da re
volução neolítica à industrialização, do comunismo primitivo ao so
cialismo nem c le substituir com outr as novas, porém do mesmo sig
no que as velhíis, as esperanças evol ütivas que nos consolavam, fe-
zendo-nos acreditar que estávamos d o lado do irrefreável avanço da
história e que o futuro seria nosso, ainda que fizéssemos mal as coi
sas òu não fizéssemos nada. A tarefe imediata parece ser antes a de
retirar a história dos esquemas em q ue foi apresada e utilizá-la para
aprender como se formaram os mec;lhismos de exploração e como
organizaram-sc os homens paracombatê-los, buscando novas escalas
que não se estabeleçam em função dos avanços da tecnologia indus
trial, mas sim d os alcançados na sati sfeção das neces'sidâdes coleti
vas, incluindo n elas a da liberação de; toda forma de opressão; recu
perando caminbos cortados - programas fracassados, derrotas e uto
pias -.porque nada nos garante que o que triunfou foi sempre-o me-
> lhor, o que conduzia na direção do futuro desejável (não,é seguro,
por exemplo, q;ue o melhor que poderia suceder àssociedades da
América pfé-colombiana, ou às africítnas, fosse a sua inclusão força
da num sistema, capitalista mundial). Só quando tenhamos destruído
o veiho mecani smo de relojoaria poderemos voltar a situar as peças
de outro modo,, explicando a evoluçâio das sociedades humanas sem
fazer de tal expJIrcação um sortilégio sidormecedõr: uma profecia des-
mobÚizadorá.A mais urgente das tarifes parciais, hoje, é a de refazer
a história do capitalismo, não como uma .fase no desenvolvimento
Has forças prod utivas, mas sim como uma etapa no dás formas de ex
ploração, de modo que nos ajude a r:ntendê-io melhor e a combatê-
lo mais eficazmiente, para substituí-k» por formas de organização so
cial mais justas >e mais livres, que gara ntam uma melhor satisfação das
necessidades ooletrvas dos homens. Assim a história deixará de ser
conhecimento livresco para recuperar a sua" Legítima função de ins
trumento para a construção do futur :ò.
' ■1. ‘ r _"'
re:flexões sobre a
história, do além
do fím da história
268
refle xões sobre a história, do além do fim da história'
269
epílogo
2 70 .
reflexões sobre a hisÈória, cio.alem dó fim da história
epílogo
272
reflexões sobre a história, do além do fim da história .
275
quëcimento do nosso horizonte, da resignação a que pretf -nde çon-_
denar-nos o disc :urso atual da mundialização, filho legítimo do velho
discurso do pro gresso, ainda que tenha renegado á seu pai.
Durante a guerra civil espanhola, Antonio Machado escreveu
■qué ao examina ir o passado para ver o que levava dentro , era fácil
encontrar nele um acúmulo de esperanças, nem alcançada s nëïn fa
lidas, isto é, um futuro.19 O tipo de história qiie escrevemos e ensi
namos hà duzentos anos eliminou este núcleo de esperam ças laten
tes do seu relato, onde tudo se produz fetalmente, mecani camehte,
numa ascensão ininterrupta que leva o homem das cave
históricas até a g;lória da pós-modemidade. Tudo o que fica fora des
se esquema é menosprezado como uma aberração'que nãc ) poderia
manter-se ante a marcha irresistível das forças- dp progresso òu
como uma utopia inviável. ~ : 7
Outro fugfitivo do fascismo como Machado Walter B efíjàmin,
que morreu um ano depois, muito próximo do lugar
tíriguiu o poeta andaluz, chamoü-nos a
produzia essa vi: são linear e -os ilustrou com o
que se tendia a ver como uma aberração retrógrada ou c<
excepcional, e, pior isso, de sobrevivência difícil, em vez de entendêr
lo como um fruto lógico e natural de um tempo e de algiumas cir
cunstâncias (com o podemos ver hoje, quando renasce sei n produ
zir muito escândalo).E completava o quadro denunciando aquele
outro erro paralelo em que haviam caído a esquerda e o n íoyimen-
to operário: o die acreditar que tinham as forças da históriia ao seu
lado, o que acab: iria dando-lhes a vitória. E assim estão agon i os dois.
Parece insensato manter hoje semelhantes erros. O p »rograma
módemizador que iniciou-se há duzentos e cinquenta anò s,no “sé
culo' das luzes", está' esgotado hoje, não só no que se refe re a suas
promessas de crescimento econômico, cómo também emquanto
projeto de civilização, ou, pelo menos, assim parece no fü ial deste
nosso século, de não muitas luzes, que, viu produzir-se mai s mortes
por guerra, pers eguição e genóddiõ que em toda a histór ia huma
na anterior (e qme parece disposto.a continuar na tarefe.no: 5 poucos
anos que lhe feltiam). . > ■ .
Còntra a Ihistória que pretendia explicar as coisas '1tal como
se passaram1- isto é, da única maneira em que podiam pas: sar^Wal
ter-Benjamin pr opunha ao historiador que trabalhasse cc imo o fí
sico na desintegração dó átomo, com o fim deliberar as 1snormes
forças que ficaram presas na explicação linear da histí iria, quê
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refle? :ões sobre a historia, do além do fim da histe ria
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reflexões sobre a história, do além do fim da-história
Josep Fontana
■Outubro de 1997
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