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A ESCRITA DA
HISTÓRIA
A escrita da História
Historiografia
Foi o político romano Marco Túlio Cícero (106 a.C - 43 a.C) que atribuiu a Heródoto (485 a.C -
425 a.C) o epíteto de "Pai da História". Heródoto é assim chamado por ser o primeiro de
que se tem notícia, a produzir uma investigação consciente sobre o passado humano em
registros escritos.
De acordo com o historiador alemão Leopold Von Ranke (1795-1886), Heródoto, apesar de
não ter vivenciado, tinha fresco na memória a invasão persa na Grécia antiga, as grandes
batalhas já haviam sido travadas e vivia-se as suas consequências, e foi assim que
tivemos a primeira verdadeira história escrita.
A escrita da História
Heródoto
Podemos afirmar, dessa forma, que temos nos gregos a primeira preocupação efetiva em
escrever sobre o passado de forma cuidadosa, visando separar mitos e relatos orais de
forma a aproveitar a profundidade de algo concreto e substancial a respeito do passado.
Esse método desenvolvido na Grécia clássica, implicava a escrita da história numa busca
de concretude dos acontecimentos. Escrevia-se agora com enfoque sobre os homens, e
não nas divindades mitológicas.
A partir daí, o século XIX travará uma disputa entre França e Prússia para o
estabelecimento do campo conceitual da História. A França nesse período, era um país já
constituído politicamente e unificado em seus territórios geográficos. Lá, os historiadores
possuíam amplas liberdades.
O método instituído a partir de Ranke, amparado pela escola positivista, privilegiou a história
baseada em documentos oficiais. Isso implica que, a história foi escrita a partir da perspectiva dos
vencedores, estabelecendo os grandes personagens, ou heróis, como únicos responsáveis pelo
eclodir de grandes eventos.
Essa perspectiva, descaracteriza o papel da sociedade e dos indivíduos que a compõem. Pois
sabemos a importância que todos temos na composição de movimentos históricos, fazendo parte e
atuando de forma direta ou indireta. Além disso, os testemunhos que se recolhem para a redação
da História, devem ser verídicos e não partidários. Quando se coloca em primeiro plano a história
dos vencedores, isso se torna controverso, pois a palavra final que conta é da autoridade.
A escrita da História
As fontes históricas
Um dos grandes responsáveis por essa virada no fazer História, ao considerar e valorizar
as diversas fontes possíveis, foi o historiador francês Marc Bloch (1886 - 1944), que junto
com Lucien Febvre (1878 - 1956), fundou a Escola dos Annales.
A escrita da História
Marc Bloch – “História problema”
De acordo com Febvre, a "história era filha de seu tempo", o que demonstrou a intenção do
grupo dos Annales em problematizar o próprio "fazer histórico" e sua capacidade de
observação. Tal postura crítica, estendeu-se também a análise dos documentos. Ao contrário da
versão positivista de então, na visão dos Annales, a fonte não era mais considerada como um
documento imaculado, inalterável, com fim em si mesmo. Assim, o passado não era mais rígido,
e sim passível de modificação. De acordo com Bloch, “mesmo o mais claro e complacente dos
documentos não fala senão quando se sabe interrogá-lo. É a pergunta que fazemos que
condiciona a análise e, no limite, eleva ou diminui a importância de um texto retirado de um
momento afastado” (BLOCH, 2001, p.8).
A escrita da História
Ampliação das fontes
Agora, tinha-se a visão da História como uma disciplina interdisciplinar, ou seja, ativa na
comunicação com outras matérias, como a geografia, sociologia, filosofia, demais ciências
humanas, e por que não, exatas. Afinal, a arte do “fazer história”, nos permite diversas técnicas
e maneiras de pesquisa, uma vez dito que a pesquisa bibliográfica é privilegiada, há também
outras maneiras de se fazer pesquisa histórica, como a utilização de gráficos e números, ao que
chamamos de enfoque qualitativo. No campo da educação, por exemplo, os índices de
desenvolvimento, entre outros dados numéricos, nos possibilitam debruçar em temas de
orçamentos governamentais e com o auxílio de outras fontes, investigar a qualidade
educacional de nosso país.
A escrita da História
Annales e as fontes históricas
É certo dizer que a perspectiva dos Annales, nos deu abertura para pensar
nas diversas possibilidades de fontes históricas. É a partir de então que, não
mais apenas os documentos oficiais podem ser utilizados para a análise e
composição do saber histórico, como também fotografias, textos literários,
filmes - ao demonstrar o contexto que se narra de uma obra, por exemplo -,
músicas, e é claro, fontes não oficiais
Fonte Histórica é tudo aquilo que, por ter sido produzido pelos seres humanos
ou por trazer vestígios de suas ações e interferência, pode nos proporcionar um
acesso significativo à compreensão do passado humano e de seus
desdobramentos no presente. As fontes históricas são as marcas da história.
Quando um indivíduo escreve um texto, ou retorce um galho de árvore de modo
a que este sirva de sinalização aos caminhantes em certa trilha; quando um
povo constrói seus instrumentos e utensílios, mas também nos momentos em
que modifica a paisagem e o meio ambiente à sua volta – em todos estes
momentos, e em muitos outros, os homens e mulheres deixam vestígios,
resíduos ou registros de suas ações no mundo social e natural. (BARROS,
2019, p.1)
A escrita da História
O compromisso do historiador
Cada época elenca novos temas, que no fundo falam mais de suas próprias inquietações e
convicções que de tempos memoráveis. Dito isso, é preciso ter em mente que a escolha do
historiador, apesar de atrelada com sua visão de mundo, deve ter acima de tudo o compromisso
com as evidências, pretendemos também, uma compreensão das mudanças e permanências
nos períodos estudados, bem como o desenvolvimento de conceitos e alterações na sociedade
que influem na formação dos indivíduos.
A escrita da História
O compromisso do historiador
Trabalhar com o passado ao compor uma narrativa histórica, exige para além do rigor metodológico, o
compromisso acima de tudo, com a verdade. Independente do ponto de vista que se assume, deve estar no
horizonte do historiador a tão almejada imparcialidade dos fatos. A memória é o fundamental nesse
processo, que permeia o campo do individual e do coletivo.
Como indivíduos diferentes, e variadas vivências, nossa percepção de mundo também se compõe de
maneira diversa. Isso ocorre em escala particular e também em contexto coletivo, de pequenos grupos,
sociedades, e contextos que atravessam a História, e é por isso que ao longo do tempo surgiram diferentes
teorias que aplicam-se na composição historiográfica. Mas, mesmo assumindo tais divergências, é
necessário um compromisso com a ética social, ou seja, um espírito de pesquisador que esteja consciente
com o significado e impacto da construção dos saberes que se dão na tessitura da História.
Ao elaborar uma escrita sobre o passado, o historiador serve-se de uma série
de ferramentas teóricas e metodológicas criteriosamente reconhecidas pela
academia e com um forte viés científico. O historiador não possui o monopólio
na elaboração do conhecimento sobre o passado, mas com certeza atribui-se a
ele um elevado status de autoridade. Essa autoridade, logo, deve ser
administrada de maneira consciente, responsável e ética, pois o lugar último de
uma historiografia é o público. Nunca se atua com memórias alheias de
maneira completamente impune: o público, especializado ou não, pode querer
resguardar, reivindicar ou criticar a maneira como as memórias são trabalhadas
e apresentadas. (BARRONCAS, 2012, p.135)
A escrita da História
O compromisso do historiador
Sabemos que, tais dificuldades apresentadas, se tornam ainda mais vívidas quando estamos lidando com uma
história do tempo presente, a qual estamos ligados. É difícil, por vezes, nos desvincularmos daquilo que
pertencemos e vivenciamos cotidianamente. Mas, independente do tempo histórico que se estuda, ao fazer
História, devemos ter em mente seus pressupostos, e o seu fio condutor indispensável, deve ser a veracidade.
No âmbito profissional, é fundamental que um pesquisador tenha essa distinção de afastar-se do senso comum
para compreender verdadeiramente os fatos. Mais que isso, além do comprometimento da pesquisa, há também a
responsabilidade do professor em sala de aula, em comprometer-se para que seus alunos saibam a importância
de disseminar apenas fatos embasados em conhecimento averiguado, não prejudicando assim a percepção dos
demais membros da sociedade. A educação e a História devem ser referenciais criteriosos de parâmetros
fundamentados e comprometidos com o bem comum da sociedade.
A escrita da História
Referências Bibliográficas
BARROS, JOSÉ D’ASSUNÇÃO. Fontes Históricas - Uma introdução aos seus usos
Historiográficos. Rio de Janeiro: ANPUH, 2019.
BLOCH, Marc. Apologia da história ou do ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed,
2001